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Ciências Humanas E Sociais Aplicadas: História

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CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS

Zumbi é senhor das guerras HISTÓRIA


É senhor das demandas
Quando Zumbi chega
É Zumbi é quem manda HABILIDADES DA BNCC: (EM13CHS201)Analisar e
Zumbi é senhor das guerras caracterizar as dinâmicas das populações, das mer-
É senhor das demandas cadorias e do capital nos diversos continentes, com
Quando Zumbi chega destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas,
É Zumbi é quem manda grupos humanos e povos, em função de eventos
Eu quero ver naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos
Eu quero ver e culturais, de modo a compreender e posicionar-
Eu quero ver -se criticamente em relação a esses processos e às
Eu quero ver possíveis relações entre eles.
Angola, Congo, Cabinda, Monjolo e
Quíloa, Quíloa, Rebolo Objetivo de aprendizagem: (GO-EMCHS201B)
Ê-ê-ê-eu Identificar o conceito e o papel político do Estado
Eu quero ver Moderno avaliando os eventos de cunho político,
Eu quero ver espaciais e econômicos entre os séculos XVIII a XXI
Eu quero ver, eu quero ver Angola que permitem a construção histórica do Capitalis-
Zumbi mo para posicionar-se de modo crítico diante das
Eu quero ver, ê-ê-eu transformações populacionais e as desigualdades
Eu quero ver, eu quero ver resultantes desse processo.
Ai, ai, ai, êh!
Angola, Angola Objeto de conhecimento: Estado Moderno E Ori-
Eu quero ver gens do Capitalismo.
Zumbi

Fonte: Musixmatch A formação do Estado moderno


Compositores: Jorge Ben
Letra de Zumbi © Musisom Ed. Musical Ltda.

Você já imaginou qual a origem dos poderes dos


reis?

Na Europa Ocidental, durante a Idade Média, o


poder estava dividido entre o rei, a Igreja e os se-
nhores feudais, os quais exerciam o poder sobre seus
feudos de forma autônoma e descentralizada. Quem
concedia a terra (feudo) era denominado de suserano;
o que recebia a terra (feudo) era denominado vassalo
e quem trabalhava na terra eram os servos.
No final da Idade Média, ocorreram algumas re-
voltas sociais, entre elas, as revoltas dos camponeses,
como as Jacqueries, na França (1358). Além das revol-
tas sociais, houve conflitos religiosos, como as reformas
protestantes: luterana, anglicana, calvinista, as quais
ocorreram no início do século XVI, na Europa Ocidental.

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Estes fatos, representativos de um processo his- povo e pelo rei distribuidor de �tulos e de bens
tórico, criaram uma situação de insegurança para as da coroa. Dava-se, porém, uma reação da nobre-
classes dirigentes (clero e nobreza), o que possibilitou za tradicional, chefiada em parte pelo duque de
o fortalecimento do poder político central (do rei), na Bragança; era visado principalmente o infante D.
Idade Moderna. Outro fator determinante em rela- Pedro (que foi mais tarde regente no período de
ção à formação do Estado moderno foi o interesse da menoridade de D. Afonso V). Por sua vez, a nova
burguesia em diminuir o poder da nobreza, pois esta nobreza, ou alta burguesia, reivindicava e obtinha
visava ao desenvolvimento do comércio. Para isso, a a administração das cidades mais importantes e do
burguesia passou a apoiar financeiramente a política próprio Estado. Dom João I reuniu as Cortes vinte
de centralização dos poderes do rei. Desta forma, al- e três vezes, salvaguardando sempre, entretanto,
gumas monarquias da Europa Ocidental aumentaram a sua autoridade real.
suas atribuições políticas, reduzindo a participação do Sob o ponto de vista da política exterior, a di-
clero e da nobreza nos governos. nastia de Aviz estava ligada à Inglaterra desde 1373
Em alguns lugares, como em Castela, a monarquia por um tratado de amizade ofensiva e defensiva,
conseguiu debilitar o poder das cortes, passando a renovado em Windsor em 1386, quando o duque
legislar de forma direta, fazendo algumas conces- de Lancaster veio reivindicar a coroa de Castela e
sões para obtenção de tributos. Em outros, como na casou sua filha Filipa de Lancaster com o rei D. João
França, o rei impôs sua administração direta sobre I. Quanto à paz com os castelhanos só foi restabe-
algumas províncias, porém tolerou a continuidade das lecida oficialmente em 1411.
cortes com seus privilégios. Na Inglaterra, no século Coube ao reinado do primeiro Aviz inaugurar
XVII, foram estabelecidos princípios de um governo o período de conquistas e descobrimentos que
representativo, em que os grupos dominantes (clero, fizeram a glória da dinastia. Razões de ordem
nobreza e burguesia) negociavam seus problemas com econômica, social, religiosa e política levaram os
o parlamento, o que favoreceu o crescimento econô- conselheiros de Dom João I a persuadi-lo a que
mico moderno do país. No decorrer do processo de empreendessem os portugueses uma cruzada con-
formação do Estado moderno, destacaram-se algu- tra os infiéis de além-mar. Era um pretexto para
mas monarquias nacionais, como: Portugal (D. João I dar vazão ao ardor combativo ainda reinante no
[1357-1433], dinastia de Aviz, início no ano de 1385); espírito cavalheiresco da nobreza. Em realidade,
França (Carlos VIII [1470-1498], de 1483- 1498); Es- era visado o objetivo militar de ocupar Ceuta para
panha (do casamento do rei de Aragão, Fernando II reprimir os ataques mouros na zona do Estreito de
[1452- 1516], com a rainha de Castela, Isabel [1451- Gibraltar e livrar as galés dos tributos e da pirataria.
1504], em 1469). (CARVALHO, 1974, p. 159)
Destes Estados modernos, deu-se a origem das
monarquias absolutistas, que aos poucos constituíram Texto 2
um governo centralizado, onde a autoridade do rei, Espanha
dentro dos limites de um território, exercia o mono-
pólio da justiça e da arrecadação de impostos, além Fernando e Isabel optaram pelo estabelecimen-
de possuir exército próprio. to de um poder real inquebrantável em Castela,
Este processo não foi uniforme em toda a Europa, onde as condições eram mais propícias. Aragão
pois Estados como a Alemanha e a Itália tiveram sua apresentava obstáculos políticos muito mais formi-
unificação territorial e política somente no século XIX. dáveis para a construção de um Estado centraliza-
Os relatos de alguns historiadores poderão ajudá-lo do. Castela tinha uma população cinco ou seis vezes
a compreender melhor a formação dos Estados mo- maior e a sua riqueza mais ampla não era protegida
dernos na Europa: por barreiras constitucionais comparáveis. Assim foi
posto pelos dois monarcas um programa metódico
Texto 1 de reorganização administrativa. As ordens milita-
Portugal res foram decapitadas e anexados os seus vastos
territórios e rendimentos. Castelos baroniais foram
Com o advento de D. João I, a dinastia de Aviz demolidos, expulsos os senhores das zonas de fron-
inicia os seus dois séculos de monarquia portugue- teira e proibidas as guerras privadas. A autonomia
sa (1385 -1580). São rápidas as transformações so- municipal das cidades foi quebrada com a instala-
ciais e políticas que então se efetuam. A derrota ção de corregedores oficiais para administrá-las;
do partido castelhano determinou numerosa imi- a justiça real foi fortalecida e ampliada. O Estado
gração de nobres cujos �tulos e bens foram distri- tomou a si o controle dos bene�cios eclesiásticos,
buídos a uma nova burguesia. Esta sustentava a separando o aparelho local da Igreja da alçada do
nova situação política, achando-se amparada pelo papado. As cortes foram progressivamente domes-

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CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
ticadas pela omissão efetiva da nobreza e do clero HABILIDADES DA BNCC: (EM13CHS201)Analisar e
de suas reuniões, depois de 1480; uma vez que o caracterizar as dinâmicas das populações, das mer-
principal propósito para convocá-las era o aumento cadorias e do capital nos diversos continentes, com
dos impostos para financiar os gastos militares (nas destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas,
guerras de Granada e da Itália). Os rendimentos grupos humanos e povos, em função de eventos
fiscais elevaram-se, a receita de Castela cresceu naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos
de 900 mil reales, em 1474, para 26 milhões, em e culturais, de modo a compreender e posicionar-
1504. O Conselho Real foi reformado e dele excluída -se criticamente em relação a esses processos e às
a influência dos grandes do reino; o novo corpo possíveis relações entre eles.
consultivo foi provido com funcionários bacharéis
ou letrados, recrutados na pequena nobreza. Secre- Objetivo de aprendizagem: (GO-EMCHS201C)
tários profissionais trabalhavam diretamente sob Compreender o pensamento Iluminista do século
as ordens dos soberanos. XVIII, utilizando textos filosóficos do período e as
Fernando instalou vice-reis nas três provín- correntes de pensamento da época para entender
cias (Catalunha, Valência e Aragão) a fim de que os/as influenciadores/as dos movimentos sociais e
exercessem a autoridade em seu nome e criou o políticos que surgiram posteriormente.
Conselho de Aragão, quase sempre estabelecido
em Castela. Objeto de conhecimento: Mundo Moderno e Ilu-
(Adaptado de ANDERSON, 1985, pp. 63-65). minismo

ATIVIDADES
ILUMINISMO
1. Após analisar os textos 1 e 2, relacionados com
a formação dos Estados modernos de Portugal
e Espanha, organize suas ideias fazendo uma
síntese. Registre no caderno e apresente à tur-
ma suas conclusões.

2. Discuta com seus colegas as semelhanças na


organização destes Estados.

3. Para finalizar, escreva uma narrativa histórica


conceituando o Estado moderno.

Fonte: História / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006.


– p.400 ISBN: 85-85380-36-5. Secretaria de Estado da
Educação. Superintendência da Educação. Disponível em:
<h�p://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/
livro_didatico/historia.pdf> Acesso mar. 2023.

O Iluminismo se iniciou como um movimento cul-


tural europeu do século XVII e XVIII que buscava gerar
mudanças políticas, econômicas e sociais na socie-
dade da época. Para isso, os iluministas acreditavam
na disseminação do conhecimento, para enaltecer a
razão em detrimento do pensamento religioso. Vale
ressaltar que os iluministas não eram ateus, porém,
eles acreditavam que o homem chegaria a Deus por
meio da razão.
Grandes pensadores, de diversas áreas, fizeram
parte dessa corrente com o intuito de acelerar o pro-
gresso da humanidade. O precursor do iluminismo
René Descartes (1596 – 1650), considerado o pai do
racionalismo, dissertou em sua obra “Discurso do Mé-
todo”, que para se compreender o mundo, deve-se
questionar tudo. Essa nova forma pensar se opunha
ao raciocínio da época, já que naquele período histó-

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CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
rico, os governos autoritários e a igreja católica não fato incompa�vel com a sociedade civil e que ela não
permitiam questionamentos. pode mesmo, por consequência, constituir uma forma
O pensamento iluminista foi importante para o de poder civil. O grande fim para o qual os homens
desenvolvimento da ciência e do humanismo – que entram em sociedade é gozar dos seus bens na paz e
pregava a centralidade e racionalidade humana. Vá- na segurança. Ora, estabelecer leis nesta sociedade
rias obras foram desenvolvidas nesse período, e uma constitui o melhor meio para realizar esse fim. Portan-
em especial sintetizava a ideia de disseminação do to, em todos os Estados, a primeira e fundamental lei
conhecimento pregada pelos iluministas: a Enciclopé- positiva é aquela que estabelece o poder legislativo;
dia. A Enciclopédia, editada por Denis Diderot (1713 do mesmo modo que a primeira e fundamental lei
– 1784), continha milhares de artigos e ilustrações natural que deve reger o próprio poder legislativo é a
de diversos cientistas, filósofos e pesquisadores de salvaguarda da sociedade e (enquanto seja compa�vel
campos de conhecimentos distintos. Essa obra teve com o bem público) a de cada um dos seus membros.
35 volumes e foi muito importante na exposição dos Este poder legislativo constitui não somente o poder
conhecimentos humanos em um formato ordenado e supremo do Estado, mas permanece sagrado e imu-
metódico, com o intuito de apresentar uma alternativa tável nas mãos daqueles a quem a comunidade uma
aos ensinamentos impostos pela religião. vez o entregou. E nenhum edito, seja qual for a sua
Os iluministas também questionavam os poderes forma, ou o poder que o apoie, tem a força obrigatória
absolutistas dos governos, pregando assim maiores de uma lei, se não for aprovado pelo poder legislativo,
liberdades individuais e políticas. Na economia, não escolhido e designado pelo povo. Sem isso, a lei não
diferiu, nesse período, as ideias desenvolvidas por comportaria aquilo que é necessário para constituir
Adam Smith (1723 – 1790) foram aceitas como uma uma lei: o consentimento da sociedade. Com efeito,
forma de substituir o modelo mercantilista, pois os ninguém consegue impor leis à sociedade sem o seu
iluministas tinham uma crença em que esse novo meio próprio consentimento e sem ter recebido dela a in-
econômico seria ideal para um maior progresso, liber- vestidura.
dade e justiça social. (Adaptado de LOCKE, Ensaio sobre o poder civil, 1690,
Fonte:h�ps://www.politize.com.br/ apud: FREITAS, 1976, p. 202-203).
iluminismo/#:~:text=O%20Iluminismo%20se%20
iniciou%20como,em%20detrimento%20do%20
pensamento%20religioso. Documento 2
Da constituição da Inglaterra
Teóricos do Estado-nação
Há, em cada Estado, três espécies de poderes: o
A partir das ideias do filósofo e político inglês Jonh poder legislativo, o poder executivo das coisas que
Locke (1632- 1704), foi possível construir as bases do dependem do direito das gentes, e o executivo das
Estado-nação na Inglaterra. Entre suas obras desta- que dependem do direito civil.
caram-se: ensaio sobre o entendimento humano e o Pelo primeiro, o príncipe ou magistrado faz leis por
Segundo tratado sobre o governo civil, as quais ser- certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-roga as
viram de embasamento para as transformações das que estão feitas. Pelo segundo, faz a paz ou a guerra,
instituições políticas daquele país, com a participação envia ou recebe embaixadas, estabelece a segurança,
da classe social burguesa. previne as invasões. Pelo terceiro, pune os crimes ou
Outras ideias também serviram de referência para julga as querelas dos indivíduos. Chamaremos este
a constituição do Estado-nação, entre elas, a dos pen- último o poder de julgar e, o outro, simplesmente o
sadores: Charles-Louis Secondat, o barão de Montes- poder executivo do Estado.
quieu (1689-1755), que escreveu O espírito das leis A liberdade política, num cidadão, é esta tranqui-
(1748), onde criticava as monarquias absolutistas e lidade de espírito que provém da opinião que cada
defendia a separação dos três poderes: executivo, le- um possui de sua segurança; e, para que se tenha esta
gislativo e judiciário; e Jean-Jacques Rousseau (1712- liberdade, cumpre que o governo seja de tal modo que
1778), que em seu livro Do contrato social (1762), um cidadão não possa temer outro cidadão.
sustentava uma sociedade democrática, baseada na Quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de
igualdade entre os indivíduos, “a vontade geral”. magistratura o poder legislativo está reunido ao poder
Para ampliar seus conhecimentos, você pode ana- executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer
lisar alguns documentos destes pensadores. que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas
estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranica-
Documento 1 mente. Não haverá também liberdade se o poder de
Jonh Locke defende o parlamentarismo julgar não estiver separado do poder legislativo e do
executivo. Se estivesse ligado ao poder legislativo, o
É claro que a monarquia absoluta, considerada poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria
por alguns como o único governo no mundo, é de arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse li-

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CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
gado ao poder executivo, o juiz poderia ter a força ATIVIDADES
de um opressor.
Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o 1. Organize em um quadro as principais ideias de-
mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do fendidas por: Locke, Montesquieu e Rousseau.
povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o Compare as diferenças e semelhanças.
de executar as resoluções públicas, e o de julgar os
crimes ou as divergências dos indivíduos. 2. Leia o texto e comente: Por que a formação
(MONTESQUIEU, 1982 [1748], p.187) do Estado-nação espanhol ocorreu tardiamente
em relação à França e à Inglaterra?
Documento 3
Da democracia 3. Em grupo, discuta com seus colegas essas
ideias, depois retome a leitura dos textos e
Parece que não se poderia ter uma constituição escreva uma narrativa histórica explicando o
melhor do que aquela em que o poder executivo porquê destes pensadores defenderem um
estivesse junto ao legislativo. Isso torna o governo Estado democrático.
insuficiente em certos aspectos, porque as coisas
que devem ser distinguidas não o são, o príncipe e o Fonte: História / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006.
– p.400 ISBN: 85-85380-36-5. Secretaria de Estado da
soberano não sendo senão a mesma pessoa, formam
Educação. Superintendência da Educação. Disponível em:
um governo sem governo. <h�p://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/
Não será bom que aquele que faz as leis as exe- livro_didatico/historia.pdf> Acesso mar. 2023.
cute, nem que o corpo do povo desvie sua atenção
dos desígnios gerais para emprestá-la aos objetivos
particulares. Nada mais perigoso que a influência dos
interesses privados nos negócios públicos; o abuso da
lei pelo governo é mal menor do que a corrupção do
Legislador, consequência infalível dos desígnios parti-
culares. Então, o Estado alterado em sua substância,
torna-se impossível qualquer reforma. Um povo que
jamais abusasse do governo, também não abusaria
da independência; um povo que sempre governasse
bem, não teria necessidade de ser governado.
A rigor, jamais existiu e jamais existirá uma demo-
cracia verdadeira. É contra a ordem natural governar
o grande número e ser o menor número governado.
Não se pode imaginar que permaneça o povo continu-
amente em assembleia para ocupar-se dos negócios
públicos.
Quantas coisas di�ceis de reunir, supõe esse gover-
no? Em primeiro lugar, num Estado muito pequeno é
fácil reunir o povo, onde cada cidadão passa conhecer
todos os demais; segundo, uma simplicidade de costu-
mes que evite a acumulação de questões e as discus-
sões espinhosas, com igualdade entre as classes e as
fortunas, pouco ou nada de luxo. A virtude por princípio
da república, pois todas essas condições não poderiam
subsistir sem ela. Não há forma de governo tão sujeita
às guerras civis, às agitações intestinais quanto a forma
democrática ou popular, porque não existe outra que
tenda tão forte e continuamente a mudar de forma,
nem que exija mais vigilância e coragem para ser man-
tida na forma original. É sobretudo nessa constituição
que o cidadão deve armar-se de força e constância, e
ter presente no coração, todos os dias da vida, o que
dizia um palatino virtuoso na dieta da Polônia: prefiro
a liberdade perigosa à tranquila servidão.
(ROUSSEAU, 2005 [1762], p.149-151).

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