Vale Livro Nossa Historia
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Nossa História
2012
Vale S.A. Verso Brasil Editora Assessoria Jurídica Tratamento Especial de Imagens
Ana Chafir Retina 78
Departamento de Comunicação Corporativa (DICI) Edição e Criação
Sérgio Giacomo Verso Brasil Editora Revisão Tratamento de Imagens e Digitalização
Beth Cobra Trio Studio
Gerência Geral de Relacionamento com a Coordenação Editorial Débora de Castro Barros
Imprensa, Mídias Digitais e Conteúdo Estratégico Valéria Lamego Frederico Hartje Produção Gráfica
Mônica Ferreira Mariana de Oliveira Roseana Franco
Redação Raquel Fabio
Coordenação Geral Renato Lemos Agradecimentos especiais
Pesquisa Histórica A toda a equipe que realizou a obra
Gerência de Conteúdo Estratégico Produção e Fabrício Augusto Souza Gomes Companhia Vale do Rio Doce: 50 anos de história (1992)
Ciça Guedes Pesquisa Iconográfica
Janaina Rezende Priscila Serejo Pesquisa Contemporânea Agradecimentos
Luciana Brum Ricardo Monteiro Senra Adonias Dias de Abreu
Projeto Gráfico Ana Letícia Daflon
Consultoria de Conteúdo e Diagramação Reportagem Antonio Venâncio
Paulo Haddad Retina 78 Bruno de Freitas Biblioteca Valer
João Furtado Ivan Kasahara Breno dos Santos
Designer Assistente Juliana Rangel Carlos Dufriche
Consultoria de Conteúdo da Vale Guilherme Costa Luiza Machado Toschi Elisabeth Neves
Antonio Franco – Gerente Geral Jurídico de Contencioso Marcos Leite Érica Rabelo
Luiz Eduardo Lopes – Diretor de Orçamento Global de Produção Editorial Nelson Vasconcelos Fernanda Marques
Investimentos de Capital (Capítulos 6 a 10) Valéria Lamego Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Roberto Castello Branco – Diretor de Relações com Priscila Serejo Índice Izabel Eugênia Ditzel
Investidores (Capítulos 9 e 10) Gabriella Russano José Clóvis
Preparação de Originais Marcio Loures Penna
Pesquisa Iconográfica Complementar Marlon Magno Abreu de Carvalho Assistente de Produção Marcone Andrade
Banco de Imagens da Vale Sabrina Barbosa Marta Moreira
Eline Oliveira Editor Assistente Fernanda Franco Museu de Valores do Banco Central
Sésiom França Maurício Barros de Castro Museu Vale
Ricardo Monteiro Senra Reprodução Fotográfica Paulo Arumaa
Assessoria Jurídica Cláudio de Carvalho Xavier Pedro Miranda
Juliana Vidal Redação Complementar Jaime Acioli Revista Portos e Navios
Departamento Jurídico de Operações Brasil da Vale Claudia Guimarães dos Santos Solange Tonelotto
Virginio Xavier
12 No dia 3 de junho de 1942, as páginas dos principais jornais oportunidades que começavam a aparecer na China; enfrentou 13
brasileiros estavam ocupadas com notícias sobre a Segunda e venceu crises; atingiu recordes sucessivos e, por tudo isso, tem
Guerra Mundial: ataques de submarinos alemães a navios bra- suas ações negociadas nas bolsas de valores de diversos países.
sileiros, pressões para o presidente Getúlio Vargas decidir pela A história que será contada a seguir – uma história de minério,
entrada do Brasil no conflito, estratégias dos países aliados de negócios, de sucessos e, sobretudo, de gente – é um pouco a
para conter o avanço das tropas de Hitler... Havia, no entanto, história do Brasil nos últimos 70 anos. As mudanças políticas, as
em cada uma das publicações, um pequeno espaço dedicado à trocas de moedas, os sucessivos presidentes, a variação no preço
notícia da criação, no dia anterior, de uma nova mineradora no do minério de ferro, a aventura de descobrir e redescobrir o país.
país. O Jornal do Brasil, por exemplo, reservara ao fato um espaço Parte dessas histórias, do Brasil e da Vale, já vinha escrita no livro
no miolo da página 5. O título não era muito atraente: “Encam- comemorativo dos 50 anos da empresa, lançado em 1992. É um
padas a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e a da documento valioso que recebe agora atualizações. Seria impossí-
Itabira [sic].” Assim nascia a Companhia Vale do Rio Doce, com vel remontar esta história sem aquela contribuição.
um capital de 200 mil contos de réis. Os últimos 20 anos são um relato original, escrito com
Passados 70 anos, muita coisa mudou. Os 200 mil contos de réis base em registros do antigo Jornal da Vale, relatórios anuais,
se transformaram em um lucro líquido de 22,9 bilhões de dóla- relatos pessoais, notícias de jornais, propagandas, “causos”,
res em 2011, a Estrada de Ferro Vitória a Minas multiplicou-se vibração e memórias de empregados que trabalham ou traba-
por novos caminhos, a antiga CVRD partiu de Itabira, conquis- lharam na empresa.
tou Carajás e ganhou o mundo. Hoje é simplesmente Vale – ou Os grandes marcos da história da Vale – como a construção
“simplesmente” a segunda maior mineradora do planeta. do Complexo de Tubarão, a descoberta de Carajás, a privati-
A empresa, cujo objetivo inicial era produzir 1,5 milhão de zação, a compra da canadense Inco, o investimento pioneiro
toneladas de minério de ferro, ultrapassou, pouco antes de seu na África, os negócios na China, a mudança da marca e a con-
aniversário, em 2012, a marca de 5 bilhões de toneladas de mi- quista de uma posição de destaque nas bolsas do mundo in-
nério de ferro produzidos, o que daria para sustentar mais de teiro – estão presentes aqui. É uma obra de referência baseada
dois anos de produção siderúrgica no mundo ao ritmo atual também em pesquisa iconográfica que ilustra a passagem do
de 1,5 bilhão de toneladas de aço bruto. tempo e dá suporte a cada um desses acontecimentos.
Com 139 mil empregados atuando em 37 países, a Vale pro- Misturados à cronologia dos fatos estão detalhes, perfis dos
duz ferro, cobre, níquel, carvão, fertilizantes e mais uma deze- presidentes da empresa, números, curiosidades, personagens,
na de produtos; trabalha em conjunto com as comunidades; histórias que marcaram a trajetória da Vale. Um caminho que vai
incentiva a cultura e fomenta a educação; aprendeu o signifi- da pequena notícia que anunciava a sua criação às principais
cado da palavra sustentabilidade; preserva florestas; constrói manchetes dos jornais; da condição de coadjuvante ao papel de
seus navios e seus portos; investe em tecnologia e inovação; protagonista na economia nacional. É o retrato de uma empresa
apoia e faz pesquisa científica com o Instituto Tecnológico Vale global, viva, virtuosa, que se reinventa a cada momento. Uma
(ITV); apostou em Carajás; teve a inteligência de perceber as Vale que fez e faz acontecer.
14
CAPÍTULO 1
A Mineração na Primeira República
1.1 Nem tudo que reluz é ouro mentos de cunho nacionalista. Os trabalhadores de Itabira chega- 0217
ram a criar um dialeto próprio, a guinlagem de camaco (ou linguagem
No final do século XIX – quando os garimpeiros já haviam de- de macaco)2 para driblar as ordens dos estrangeiros. Com o passar
sistido da busca pelo ouro nas Minas Gerais e abandonavam os do tempo, a Itabira Iron Ore Co., montada em torno do funciona-
vilarejos na serra para procurar trabalho à beira-mar –, a cidade de mento da Estrada de Ferro Vitória a Minas, adquiriu o perfil dos
Itabira era, fundamentalmente, o Pico do Cauê. O Cauê é um da- homens que a comandavam. Percival Farquhar – que, diziam, tinha
queles lugares em que a natureza parece ter sido moldada à mão: a primeira nota de dólar que ganhou em uma moldura, à cabeceira
um monte que se eleva, a partir da planície, formando um relevo da cama, ao lado da fotografia dos pais – era um deles.
incomum. Dizem que, nas noites de luar, o monte brilhava como se Farquhar era uma daquelas figuras lendárias, que parecem ter
estivesse iluminado por refletores pendurados no céu. Mas, como uma vida de invenção. Alguns o consideraram um gênio capitalis-
se sabe, nem tudo que reluz é ouro. ta; outros, um oportunista. Americano da cidade de York, na Pen-
Itabira é uma palavra de origem tupi que significa pedra (ita) que silvânia, chegou ao Brasil com um passado ligado à construção de
brilha (bira).1 Ao contrário do que supunham os aventureiros ferrovias na América Latina (inclusive a malsucedida aventura da
que chegaram a cavar o sopé do Pico do Cauê (a tal pedra bri- Madeira-Mamoré, no Acre) e adquiriu a Itabira Iron Ore Co. em
lhante) em busca do ouro, o que dava brilho à montanha era a sua 1919. Os caminhos percorridos pela empresa – especialmente
enorme quantidade de ferro. Tratava-se de um ferro avermelhado, aqueles que, pela ferrovia, levariam o minério para o mar e para
que espalhava sua cor pelo relevo, pelas picadas de barro e pelos a fortuna – sempre estiveram intimamente ligados à trajetória
rios das redondezas. Entrava pela casa das famílias e ficava por lá, e à personalidade de Farquhar. O empresário foi o protagonista de
entranhado. Na virada do século XIX para o XX, o Pico do Cauê foi vio lentas batalhas políticas e, para o bem ou para o mal, alvo
mapeado como a maior jazida de ferro do mundo. A notícia ganhou de campanhas nacionalistas pelo direito de exploração de miné-
o planeta. Se os garimpeiros de ouro desapareciam de Itabira, co- rio no Brasil.
meçavam a aparecer as mineradoras estrangeiras. A história da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), criada em 1942
A Itabira Iron Ore Company foi a primeira empresa autorizada a partir da Itabira Iron Ore Co. de Farquhar, começou um pouco antes
a explorar o ferro na região. Era a sucessora da Brazilian Hematite e se confunde com a história da mineração no Brasil. Uma história de
Syndicate e, durante toda a sua existência, conviveu com as revi- sonho, aventura, política, riqueza, guerras, leis e homens. Uma histó-
ravoltas políticas, com o sobe e desce da economia internacional, ria que, como se verá, nasceu nas pedras brilhantes do Pico do Cauê.
com as mudanças na legislação e, principalmente, com os movi-
1 - O nome Itabira tem duas interpretações diferentes. Para o linguista Theodoro Sampaio,
significa pedra que se levanta. Já no livro Voyages dans les provinces de Rio de Janeiro et de
Minas Gerais (Paris: Gibret et Darez, 1830, vol. 1, p. 270), de Auguste de Saint-Hilaire, o
nome Itabira vem das palavras indígenas “yta” e “bera”, ou seja, pedra que brilha. Segundo
Saint-Hilaire, “Itabira não quer dizer, portanto, como tem sido sugerido, a pedra superior
e aguda”. Ver: Sampaio, Theodoro. O Tupi na geographia nacional. Memoria lida no Instituto 2 - O léxico da “guinlagem de camaco” se constrói a partir da troca da primeira consoante
Historico e Geographico de S. Paulo. São Paulo: Typ. da Casa Eclectica, 1901. Disponível em: ou grupo consonantal da segunda sílaba pela primeira letra da primeira sílaba. Assim,
<http://biblio.wdfiles.com/local--files/sampaio-1901-tupi/sampaio_1901_tupi.pdf>. “linguagem” se torna “guinlagem” (ou “guilagem”) e “macaco” se transforma em “camaco”.
Vale Nossa
70 anosHistória Vale Nossa História
18 19
1.2 Os códigos de minas e os códigos de honra pressa no artigo 72, parágrafo 17 da Carta constitucional, buscava es-
timular a livre exploração de minérios pelos proprietários de terras.5
20 Entender a história da exploração do subsolo brasileiro é, antes Os minérios procurados já não eram mais o ouro e as pedras 21
de tudo, entender a evolução da legislação que regulava o setor. preciosas. Por todo o Brasil – e especialmente no Estado de Minas
Ainda que a atividade mineradora faça parte da história do Brasil Gerais – havia sinais claros de que a chamada “era do ouro” che-
“desde sempre”, as leis exclusivas para a área são relativamente gara ao fim. A produção do metal, que em meados do século XVIII
recentes. As mudanças começaram a ter real influência na socie- chegou a 300 toneladas, estava reduzida à terça parte disto menos
dade no final do século XIX, com a proclamação da República. Foi a de 100 anos depois. A população em torno das antigas minas de
primeira Constituição republicana, promulgada em 24 de fevereiro ouro minguava.6 Havia ainda, porém, muita riqueza a ser explora-
de 1891, que alterou profundamente o regime de propriedade do da no subsolo. O progresso técnico-científico que marcou o fim do
subsolo. Até então, o Brasil convivia com leis criadas, em sua maio- século XIX, inaugurando o que alguns historiadores chamaram de
ria, logo após a chegada dos portugueses ao país. a Segunda Revolução Industrial,7 abriu novas perspectivas para a
No início do período colonial, em 1521, foram editadas as Orde- extração e a utilização de diversos minerais.8
nações Manuelinas, que reservavam à Coroa portuguesa a posse A descoberta de novos processos para a transformação do ferro
dos “veeiros de ouro ou qualquer outro metal”, assegurando ao des- em aço teve consequências imediatas. O aço, uma liga de ferro e car-
cobridor o direito à lavra mediante o pagamento do quinto (a quinta bono mais maleável que o ferro fundido, era essencial na produção de
parte dos metais extraídos), “salvo de todos os custos”. A partir de máquinas para as novas fábricas e vigas para a construção civil. Jazi-
1603, entretanto, as Ordenações Manuelinas foram substituídas pe- das de ferro até então abandonadas por serem antieconômicas come-
las Ordenações Filipinas, as quais, igualmente, atribuiam ao Rei a çaram a ser exploradas na Europa e nos Estados Unidos, e a produção
propriedade das riquezas minerais (Liv. II, Tit. XXVI, § 16).3 de aço registrou aumentos extraordinários. Empregado em trilhos
Logo após a Independência (mas ainda antes da Constituição de ferroviários, em estruturas de grandes edificações, em túneis e pontes
1824), o Governo Imperial editou uma lei, em 20 de outubro de 1823, e em máquinas variadas, o aço – principal produto da transformação
por meio da qual validava “toda a legislação portuguesa anterior a 21 siderúrgica do ferro – tornava-se um insumo industrial básico.9
de abril de 1821, inclusive o disposto no Liv. II, Tit. 26, § 16, Tit. 28 e Tit. Os avanços técnicos na siderurgia estimularam, por sua vez, a
34, § 10 das Ordenações Filipinas, segundo o que se estipulava, entre extração do carvão mineral para a obtenção do coque, muito utili-
outras coisas, pertencerem ao Rei as riquezas minerais do subsolo.
Houve assim, no período imperial, o predomínio do sistema de pro- 5 - A esse respeito, ver Vivacqua, Attílio, A nova política do sub-solo e o regime legal das minas.
priedade adotado nos tempos da Colônia, através das Ordenações e 6 - Para consultar os censos, ver Biblioteca do IBGE, disponível em: <http://biblioteca.
outros monumentos legislativos mandados observar em todo o país ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/Recenseamento_do_Brazil_1872/
pela Lei de 1823, com a diferença de que as minas e quaisquer outras Provincia%20de%20Minas%20Geraes%201%20Parte.pdf>. No primeiro recenseamento do
país, realizado em 1872, a população total de Ouro Preto era de 17.701 pessoas.
riquezas do subsolo passaram a constituir domínio da nação”.4
7 - Sobre esse assunto, ver Hobsbawn, Eric. As origens da Revolução Industrial. São Paulo:
A inovação trazida pela Constituição de 1891 foi a adoção do sis- Global Editora, 1979./ A Era do Capital, 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996./ Da
tema norte-americano da acessão. Por esse sistema, o dono da mina Revolução Industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003; Lima,
era o dono da terra sob a qual ela se encontrava. Essa alteração, ex- Alceu Amoroso. A segunda Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Agir, 1960.
8 - Ver Guimarães, José Epitácio Passos. Epítome da história da mineração. São Paulo: Art Primeiro registro de homens
Editora, 1981, pp. 102-120. trabalhando no interior de
3 - “O regime jurídico da mineração no Brasil.” Ver em: <www.ufpa.br/naea/pdf.php?id=147>. 9 - Ver Burns, Edward McNall. História da civilização ocidental. O drama da raça humana. Porto uma mina de ouro, em 1888,
4 - Idem. Alegre: Editora Globo, 1948, vol. 2, pp. 674-675. feito por Marc Ferrez.
zado na redução dos minérios de ferro nos altos-fornos. O aperfei- ras; a região central, conhecida desde o século XVIII pela explora-
çoamento dos processos e técnicas de extração do carvão de pedra ção do ouro; e a região norte, cujo potencial era praticamente des-
possibilitou o aproveitamento de veios mais profundos e o aumen- conhecido. As três regiões ficaram sob a direção, respectivamente,
to da produção. Outros minerais, como o cobre, o chumbo, o zinco, dos geólogos Francisco de Paula Oliveira, Gonzaga de Campos e An-
22 a bauxita e o manganês, tiveram suas aplicações diversificadas e tônio Olynto dos Santos Pires, todos ex-alunos da Escola de Minas.12 23
sua produção aumentada.10 Os resultados dos trabalhos da comissão – que transformavam
Também no Brasil, em vários estados ocorreram importantes em números concretos o que até então era apenas especulação –
avanços na área da pesquisa e do reconhecimento geológico, o que modificaram a forma de fazer política mineral no país. Gonzaga de
possibilitou um aumento significativo do número de descobertas de Campos, por exemplo, avaliou em cerca de 3 bilhões de toneladas as
ocorrências minerais. E é nesse contexto novo – em que a pesquisa reservas de minério de ferro existentes no Estado de Minas Gerais. Em
científica está cada vez mais atrelada ao avanço econômico – que relação ao carvão mineral, foram confirmadas as avaliações sobre a
surge a Escola de Minas de Ouro Preto.11 conveniência da sua explotação, o que incentivou a formação de
Fundada em 1876, a escola influenciou diretamente a formula- companhias interessadas em explotar jazidas carboníferas no Sul
ção da política mineral brasileira no início do período republicano. do Brasil.
Dali saíram as primeiras gerações de geólogos, projetistas de altos- A evolução do interesse pelas reservas minerais tomou forma na
-fornos e industriais de siderurgia brasileiros. Era o momento cer- criação, pelo Decreto no 6.323, de janeiro de 1907, do Serviço Geológico
to. O Brasil necessitava de pesquisa e informação na área, dados e Mineralógico do Brasil (SGMB), que daria lugar, em 1934, ao Depar-
que passaram a ser fornecidos por professores e ex-alunos da es- tamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). O órgão teve como
cola. Eles também prestavam assistência aos pequenos explorado- primeiro diretor Orville Derby e viria a se constituir no principal ins-
res de ferro e mineradores interessados em introduzir modifica- trumento de estudo da estrutura geológica e mineralógica do país.13
ções tecnológicas que melhorassem a produtividade. O foco de pesquisa do SGMB, já em suas primeiras ações, foi o ferro.
Inicialmente, as atenções da Escola de Minas voltaram-se, sobre- O SGMB, ainda em 1907, foi incumbido de realizar estudos
tudo, para o carvão de pedra. Sob a direção do geólogo Luiz Felipe prospectivos e econômicos, voltados fundamentalmente para o mi-
Gonzaga de Campos, a partir de 1892 foram avaliadas as potencia- nério de ferro, nos municípios mineiros de Conselheiro Lafaiete,
lidades da bacia carbonífera de Santa Catarina. Em 1906, o ministro Mariana, Itabira e Sabará. Desses estudos resultaram dois mapas
da Viação e Obras Públicas, Miguel Calmon, organizou a Comissão sobre a distribuição das jazidas de ferro e manganês no Quadriláte-
Geológica do Brasil. A ideia era dar continuidade às pesquisas já ro Ferrífero. Mais que tudo, o estudo revelou ainda a existência de
iniciadas e, especialmente, desenvolver estudos com minerais ain- imensas reservas de ferro, de excepcional qualidade, em Itabira.
da não explorados. A pequena cidade mineira começava ali a entrar no mapa geológico
Presidida por Orville Derby, essa comissão dividiu o país em três e econômico do Brasil.
distritos: a região sul, na qual se destacavam as reservas carbonífe-
10 - Idem, ib., p. 677. Ver também Vazquez de Prada, Valentin. História econômica mundial. 12 - Ver Chiarizia, Martha M. de Azevedo. Itabira Iron Ore Company Limited. Tese de mestrado
Porto: Livraria Civilização Editora, 1977/1978, vol. 2, pp. 211-214. em História, Niterói, UFF, 1979, p. 4; e Soares e Silva, Edmundo de Macedo. O ferro na história
O mapa manuscrito acima, desenhado em nanquim, presente 11 - Ver Guimarães, José Epitácio Passos, op. cit., pp. 102-103, que traz uma listagem das e na economia do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Sesquicentenário, no 9, 1972, p. 49.
do engenheiro João Victor Magalhães Gomes para o imperador jazidas minerais existentes nas várias regiões do Brasil, feita por Itagyba Barçante, autor 13 - Para mais informações, ver Senado Federal, O governo presidencial do Brasil 1889-1930.
d. Pedro II, em 1881, revela um itinerário que indica as de Economia rural brasileira. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946. Ver também Carvalho, Guia administrativo do Poder Executivo no período da República Velha, p. 50. A título
lavras de ouro e topázio, jazidas minerais e fábricas de ferro José Murilo de. A Escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória. Rio de Janeiro: Finep/Cia. de comparação, o Serviço Geológico dos Estados Unidos foi criado em 1879. E o Serviço
localizadas nos arredores de Ouro Preto (MG). Editora Nacional, 1978. Geológico Britânico (BGS) foi fundado em 1835.
Vale Nossa
70 anosHistória 70 anos Vale
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Da esquerda para a direita,
detalhes da Fábrica de Ferro São
João de Ipanema (registrada,
respectivamente, por Jean-Baptiste
Debret em 1827 e um autor
desconhecido), de um forno da
Usina Esperança e anúncio da
importadora de carvão Francisco
Leal retirado do Almanak
Laemmert, em 1913.
26 Santa Bárbara, Itabira, Conceição e Minas Nova.16 E quase tudo que A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também teria um papel Derby foi ao congresso disposto a mostrar ao restante do mun- 27
1.3 Impasses na produção do ferro ali se produzia destinava-se ao “uso doméstico”. importante na reflexão sobre a questão siderúrgica nacional. O con- do o potencial mineral brasileiro. Ele apresentou um relatório do
Parte do ferro era empregada na fabricação de ferraduras, en- flito dificultou a importação de ferro e aço, gerando escassez dos Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro, elaborado por Gonzaga
Embora diversos estudos e levantamentos revelassem ou confir- xadas, foices e machados, e parte era vendida em barras aos mu- produtos, o que explicitou a necessidade de o país aproveitar seus de Campos, no qual as jazidas brasileiras eram nominalmente ci-
massem a existência de grandes depósitos de minério de ferro no nicípios vizinhos. Havia também um grande número de fundições abundantes recursos minerais – expondo a fragilidade e a depen- tadas, potencialmente avaliadas e cuidadosamente localizadas
Brasil, sua exploração não representou, de imediato, avanço signi- espalhadas em vários pontos do país. Uma característica comum à dência de nossa economia. no mapa de Minas Gerais. O relatório informava ainda sobre a exis-
ficativo. São vários os fatores que explicam o pequeno desenvolvi- grande maioria desses estabelecimentos era a utilização de maté- A preocupação do Governo Federal em encorajar a produção inter- tência de minério de ferro na Bahia, em Goiás, São Paulo, Paraná,
mento da exploração do minério de ferro e o tardio estabelecimento ria-prima importada.17 As duas únicas empresas que produziram na de ferro e aço foi expressa pela primeira vez na mensagem envia- Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso. Nesses
da siderurgia em escala industrial no país. ferro-gusa em escala industrial antes da década de 1920 foram a da pelo presidente Nilo Peçanha, em 1909, ao Congresso Nacional: estados, porém, não havia informações seguras sobre a potenciali-
As reservas conhecidas do minério – localizadas principalmente Usina Esperança e a Companhia Siderúrgica Mineira, constituídas, “Nenhum outro melhor poderia satisfazer a essa necessidade do que dade das jazidas de ferro.21
no Estado de Minas Gerais e, em segundo plano, no de Mato Grosso respectivamente, em 1888 e 1917.18 o ferro. Nacionalizar o produto desse metal é, além disso, condição A partir do XI Congresso, então, grandes empresas da Inglaterra,
– encontravam-se a grande distância não apenas dos depósitos de Na década de 1910, a siderurgia passou a contar com alguns necessária de crescimento e de consolidação do poder militar, não dos Estados Unidos, da Alemanha, da Bélgica e da França, princi-
carvão de pedra, situados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, elementos favoráveis ao seu desenvolvimento. Estudos e pesquisas menos que da expansão da indústria de paz.”19 palmente, tomaram conhecimento oficial das reservas do Brasil,
como também dos mercados potenciais de consumo de ferro e aço feitos por alunos e professores da Escola de Minas confirmaram a Pouco depois, o Decreto no 8.019, de 19 de maio de 1910, conce- calculadas em 10 bilhões de toneladas, e desencadearam a corrida
(Rio de Janeiro, São Paulo, Nordeste). O alto custo do transporte fer- existência no país de grandes reservas de minério de ferro de alta deria favores e privilégios a empresas ou indivíduos, nacionais ou ao minério de ferro nacional. Aproveitando-se das brechas existen-
roviário e a baixa qualidade do carvão nacional para a coqueificação qualidade. Por sua vez, a intensificação do ritmo de construção de estrangeiros, que se propusessem a instalar estabelecimentos side- tes na primeira Constituição republicana, esses poderosos syndicates
(transformação do carvão em coque, combustível essencial para uso estradas de ferro e instalações portuárias, a ampliação da infraes- rúrgicos no Brasil. Entre os favores estavam o direito de construir, adquiriram todas as jazidas identificadas, aguardando o momento
nos altos-fornos da siderurgia) constituíam outras dificuldades im- trutura urbana das principais cidades brasileiras e o aumento da aparelhar e operar cais, pontes, docas, e a permissão para ligar as que julgassem mais conveniente para aproveitá-las. Os proprietá-
portantes. Além desses problemas, havia ainda aqueles relacionados produção agrícola (que necessitava de ferramentas, implementos jazidas e usinas a estradas de ferro e portos por meio de ramais. rios das terras, desconhecendo o valor do seu subsolo, vendiam-
ao tamanho limitado do mercado interno, à falta de capital e à ine- e máquinas) exigiam importações crescentes de ferro, aço e arte- O governo também concedia isenção de impostos e redução nos -nas a preço irrisório.22
xistência de uma política tarifária adequada. O ferro importado da fatos de metal. custos de cargas e descargas dos minérios em portos federais.20 Uma dessas empresas foi a Itabira Iron Ore Company, objeto
Europa, por exemplo, gozava de uma tarifa preferencial, privilégio Outro fato marcante ocorrido nesse período foi o XI Congresso de longa disputa legal e ideológica que se estendeu da década de 1910
que vinha desde a década de 1810.14 Internacional de Geologia, realizado em setembro de 1910, na ca- aos anos 1930.
16 - Ver IBGE, Séries estatísticas retrospectivas, vol. 2, tomo 1, p. 463. pital sueca. O Congresso de Estocolmo foi convocado pelas grandes
Por tudo isso, até o início da década de 1920, a siderurgia no
17 - Para mais informações, ver Suzigan, Wilson, op. cit., pp. 232-245. empresas siderúrgicas europeias e norte-americanas com o objeti-
Brasil limitou-se praticamente à fundição do ferro em pequenos
18 - A Usina Esperança foi constituída em 1888, por iniciativa do metalurgista suíço vo de fazer um balanço detalhado das reservas de ferro em escala
fornos alimentados por carvão vegetal, geralmente situados perto Alberto Gerspacher e dos brasileiros Amaro da Silveira e Carlos da Costa Wigg, próxima à
das jazidas do minério e das florestas de onde se extraía a madeira cidade de Itabirito (MG). Seu alto-forno, à base de carvão vegetal, entrou em operação em mundial. Vários países compareceram ao evento, entre os quais o
para fabricar o carvão.15 Essas instalações localizavam-se princi- 1891, e podia produzir de quatro a cinco toneladas diárias de ferro-gusa. Propriedade da Brasil, representado por Orville Derby.
Companhia Forjas e Estaleiros entre 1892 e 1897, e da firma Leandro Queiroz entre 1897 e
palmente em Minas Gerais, nos municípios de Ouro Preto, Mariana, 1899, a Usina Esperança foi adquirida neste último ano pelo engenheiro J. J. Queiroz Júnior.
Em 1916, com a morte de seu proprietário, a usina passou a denominar-se Usina Queiroz
Júnior. Ver Suzigan, Wilson, op. cit., cap. 4, e Chiarizia, Martha M. de Azevedo, op. cit., cap. 1.
A Companhia Siderúrgica Mineira foi criada em 1917, em Sabará, por Amaro Lanari, Cris-
14 - Ver Paiva, Glycon de. “O Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (1907-1933) tiano Guimarães e Gil Guatimosin, ex-alunos da Escola de Minas de Ouro Preto. A produ-
como antecessor do DNPM” (discurso pronunciado no jantar da SEMOP por ocasião do ção, iniciada em 1920, era de 10 toneladas de ferro-gusa por dia. O minério de ferro era 19 - Bandeira, Luiz Alberto Moniz. “A ideia de nação no Brasil.” In: Bresser-Pereira, Luiz
cinquentenário do DNPM), mimeo, n.p. extraído da jazida de Andrade, próxima à usina, de onde era transportado pelos vagões da Carlos (org.). Nação, câmbio e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. p. 46.
15 - Ver Suzigan, Wilson. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense, Estrada de Ferro Central do Brasil. O carvão de madeira era obtido nas matas da região. 20 - Ver Luz, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo: Difusão Europeia do 21 - Ver Chiarizia, Martha M. de Azevedo, op. cit., cap. 1.
1986, p. 257. Ver Soares e Silva, Edmundo de Macedo, op. cit., pp. 61-62. Livro, 1961, pp. 188-189, e Barçante, Itagyba, op. cit., vol. 1, p. 105. 22 - Idem, ib.
Arthur Bernardes tinha 45 anos, formação de advogado e era um Logo no início de sua atuação à frente da Itabira Ore Co., Farquhar
32 político carismático. Começava seus discursos fazendo sempre alusão propôs ao governo brasileiro, em troca da autorização para exportar 33
à sua cidade natal (Viçosa), à sua família e ao valoroso povo mineiro. 4 milhões de toneladas anuais de ferro, construir uma usina side-
Antes de chegar ao governo, fora duas vezes eleito deputado federal, rúrgica sem ônus para os cofres públicos. A proposta foi bem rece-
sempre com bandeiras nacionalistas. À frente do Governo do Estado bida pelo presidente da República, Epitácio Pessoa, que assumira
de Minas Gerais, ele contou com a colaboração de Clodomiro de Oliveira, em 1919, e por seu ministro da Viação e Obras Públicas, José Pires do
a quem delegou a Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Rio. O presidente também via com bons olhos o ingresso de capital
Obras Públicas. Juntos, os dois formularam as regras para a exploração estrangeiro no país. Estimava-se que a Itabira Ore Co. empregaria
do ferro em Minas Gerais. Com ou sem a Itabira Iron Ore Co.28 cerca de 60 milhões de dólares no projeto.32
Em 1919, Bernardes promulgou a Lei no 750, que majorava o im- Assim, em 29 de maio de 1920, foi assinado um contrato em que
posto de exportação do minério de ferro para 3 mil réis por tonela- a União autorizava a Itabira Iron Ore Co. a construir e explorar al-
da para as companhias que visavam apenas à exportação. Em com- tos-fornos de coque, fábricas de aço e trens de laminação, um por-
pensação, a lei fixava o imposto em 300 réis, durante 20 anos, se a to exclusivamente para minérios em Santa Cruz (atual Aracruz),
empresa exportadora instalasse no estado uma usina siderúrgica ao norte de Vitória, e dois ramais ferroviários partindo da linha
que transformasse pelo menos 5% do minério exportado.29 Os ter- Vitória a Minas: um em direção a Itabira e o outro ao Porto de Santa
mos da Lei no 750 evidentemente não agradaram a Itabira Iron Ore Cruz. Tanto os ramais quanto o porto seriam privativos da empre-
Co., sobretudo porque antes ela conseguira obter do Governo Fede- sa, o que lhe assegurava o direito irrestrito da exportação do miné-
ral, pelo Decreto no 12.094, de 7 de junho de 1916, o fim da obrigato- rio de ferro brasileiro. O minério exportado seria transportado em
riedade da construção da usina siderúrgica.30 navios da própria Itabira, os quais, na viagem de volta, trariam car-
Também em 1919, a Itabira Iron Ore Co. mudou de mãos: foi com- vão de pedra como carga de retorno para alimentar os empreendi-
prada pelo empresário norte-americano Percival Farquhar, ex-represen- mentos siderúrgicos.
tante da empresa no Brasil. Farquhar havia chegado ao Brasil 15 anos Em linhas gerais, o contrato concedia 24 meses para início do
antes e se especializara em negócios envolvendo empresas estrangeiras trabalho e 48 meses para que as instalações entrassem em opera-
e o poder público. Em 1905, trabalhou na instalação da canadense Rio ção. Se ao final do prazo as exigências não fossem cumpridas, o go-
de Janeiro Tramways, Light and Power, que mais tarde seria conhecida verno poderia decretar a caducidade e extinguir o contrato, ficando
simplesmente por Light. Farquhar também se envolvera em projetos a empresa obrigada ao pagamento de multa. Ainda pelo contrato,
polêmicos, como a venda de madeira e borracha na Amazônia.31 as obras do Porto de Santa Cruz se reverteriam à União ao fim de 90
anos e, após 45 anos, o governo brasileiro poderia encampar o con-
28 - Os discursos podem ser lidos em Discursos selecionados do Presidente Arthur Bernardes 3, junto de propriedades da Itabira Iron Ore Co. Por fim, outra cláusula
organização de Izabela Medeiros de Souza, Fundação Alexandre de Gusmão, Brasília, contratual previa que, para ser colocada em execução, a empresa
Ministério das Relações Exteriores, 2010. Os dados biográficos podem ser consultados em deveria assinar um segundo contrato, dessa vez com o governo de
Koifman, Fábio (org.). Presidentes do Brasil. Editora Rio, 2001.
Minas Gerais.33
29 - Ver Diniz, Clélio Campolina. Estado e capital estrangeiro na industrialização mineira. Belo
Horizonte: UFMG/PROED, 1981, p. 46.
30 - Ver Suzigan, Wilson, op. cit., p. 262.
31 - Para mais informações, ver o verbete “Farquhar, Percival”, DHBB, disponível em: 32 - Ver Chiarizia, Martha M. de Azevedo, op. cit., pp. 27-28, 33. Carta das jazidas minerais
<http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx>. 33 - Idem, ib., pp. 35-37, e Abreu, Alzira Alves de, op. cit., p. 1.629. do Brasil, de 1929.
1 - Carone, Edgard. A República Velha. São Paulo: Editora Bertrand Brasil, 1974.
Moraes, Fernando. Chatô, o Rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
36 1.5 A reação nacionalista a exportação do minério de ferro à instalação no estado, pela Itabira, 37
de uma usina com capacidade para produzir, no mínimo, 150 mil
O poder monopolista conquistado pela Itabira com a assinatura toneladas anuais de produtos siderúrgicos. Além disso, o decreto
do contrato provocou uma escalada da oposição nacionalista. Após ampliou de 20 para 30 anos a vigência das vantagens fiscais para
ser firmado, o contrato, obedecendo aos preceitos vigentes, foi en- quem produzisse aço.36
viado ao Tribunal de Contas da União, que se recusou a registrá-lo, No âmbito do Governo Federal, os ventos também começa-
alegando desrespeito às normas legislativas. Epitácio Pessoa pres- ram a soprar desfavoravelmente para a Itabira após a saída de
sionou o tribunal e o contrato acabou sendo registrado sob protes- Epitácio Pessoa da Presidência da República. Seu sucessor foi o
tos. Mas a intervenção de Pessoa tornou necessária a devolução do próprio Arthur Bernardes, que, assumindo o poder em março de
contrato para aprovação do Congresso Nacional, onde foi examina- 1922, procurou oferecer uma alternativa nacionalista ao proje-
do por diversas comissões, sem que se chegasse a uma conclusão to da companhia estrangeira. Para isso, designou uma comissão,
definitiva sobre sua validade.34 formada por parlamentares, técnicos e industriais, que, em 1923,
Os planos de Farquhar atingiam numerosos interesses. Os pro- apresentou o primeiro esboço de um plano siderúrgico nacional.
prietários das pequenas metalúrgicas de Minas Gerais temiam que a À frente dos trabalhos estava seu braço direito e ex-secretário
exclusividade pretendida pela Itabira Iron Ore Co. sufocasse seus Clodomiro de Oliveira.
empreendimentos. As companhias estrangeiras, que haviam com- O trabalho da comissão forneceu as bases para o Decreto no 4.801,
prado extensas áreas para a extração do minério de ferro, também se promulgado em 9 de janeiro de 1924. Confirmando a orientação
mostravam apreensivas quanto à exclusividade dos meios de trans- nacionalista do governo Bernardes, o decreto previa a concessão
porte alcançada por Farquhar. As empresas carboníferas do Rio de empréstimos, pela União, exclusivamente às empresas nacio-
Grande do Sul e de Santa Catarina temiam a concorrência do carvão nais organizadas com o objetivo de instalar usinas.37 Essa orienta-
de pedra estrangeiro, que chegaria ao Brasil nos navios da Itabira. ção iria se acentuar ainda mais na reforma constitucional levada
O projeto ainda uniu contra si todos os fornecedores de máquinas e a cabo por Bernardes em 1926, proibindo a transferência, a es-
ferragens alemães, ingleses, franceses e norte-americanos, que rece- trangeiros, das minas e jazidas necessárias à segurança e defesa
avam a concorrência da siderúrgica a ser instalada pela Itabira do país.
quanto ao fornecimento do aço.35 Em Minas Gerais, a política adotada por Arthur Bernardes no
Minas Gerais, por ser o estado onde se encontravam as maiores ja- tocante à extração mineral e, sobretudo, à Itabira Iron Ore Co. foi
zidas, tornou-se o reduto de resistência a Farquhar e aos políticos que seguida à risca por seu sucessor na presidência do estado, Raul
a ele se aliaram. Ao assinar o segundo contrato, Arthur Bernardes, sob Soares (1922-1924), e pelo sucessor deste, Fernando de Melo Viana
a pressão de ter que ratificar aquele já firmado pela Itabira Iron Ore Co. (1924-1926). O impasse criado para a assinatura do contrato esta-
com o Governo Federal, promulgou, em 21 de setembro de 1920, dual com a Itabira só seria superado na administração de Antônio
a Lei no 793. Ela reafirmava os termos da Lei no 750 e condicionava Carlos Ribeiro de Andrada (1926-1930). Em 7 de dezembro de 1927,
38 39
foi finalmente celebrado o segundo contrato, pelo qual a Itabira va a legalização do contrato pelo Congresso Nacional, e do Decreto
Iron Ore Co. só poderia começar a exportar minério de ferro quando Estadual no 8.045, de 8 de dezembro de 1928, pelo qual o governo
entrasse em funcionamento uma indústria siderúrgica.38 mineiro autorizava a Itabira a iniciar suas atividades.39
Na tentativa de viabilizar a aprovação dos projetos da empresa Em setembro de 1930, a Itabira obteve, mais uma vez, a dispensa
e de aplacar os violentos ataques aos aspectos monopolísticos do da construção da usina, aproveitando-se do descontentamento e da
seu contrato, o presidente do Estado de Minas Gerais, Antônio Carlos, força política dos pequenos fabricantes de ferro-gusa, temerosos
condicionou a aprovação dos planos da Itabira à retirada do mono- com a possibilidade de a empresa instalar uma siderúrgica.40
pólio sobre os transportes da Estrada de Ferro Vitória a Minas, as- Devidamente legalizada para desenvolver seus planos no Brasil,
segurada pelo contrato de 1920. Assim, em 10 de novembro de a Itabira buscou financiamento junto a bancos europeus e norte-
1928, a Itabira assinou um termo de renúncia, pelo qual não só -americanos. Entretanto, a crise econômica mundial de 1929 e a
desistia de transportar exclusivamente seus minérios, concordan- subsequente retração dos mercados financeiros, aliadas às trans-
do em transportar minérios pertencentes a terceiros, como tam- formações políticas e institucionais trazidas pela Revolução de
bém aceitava transportar passageiros e escoar a produção agrícola 1930, abriram uma nova etapa na luta da Itabira Iron Ore Co. para
da região por onde passariam suas linhas. a implantação de seus projetos.
A assinatura do termo de renúncia abriu caminho para a pro-
mulgação, dois dias depois, do Decreto Federal no 5.568, que atesta- Homens trabalhando na
sondagem da Mina do
39 - Idem, ib., p. 67. Cauê, em Itabira (MG),
38 - Ver Chiarizia, Martha M. de Azevedo, op. cit., p. 66. 40 - Idem, ib., p. 68. na década de 1920.
CAPÍTULO 2
A Criação da Companhia Vale do Rio Doce
2.1 Nascimento com prazo de validade bilidade econômica resultaria também na criação de uma nova 41
moeda, o cruzeiro, em outubro do mesmo ano. Seria a primeira mo-
No momento em que o presidente Getúlio Vargas empunhou a dificação na moeda brasileira desde a Independência, em 1822.
caneta para assinar o Decreto-Lei no 4.352,1 que criava a Companhia Em 1942, o Brasil – que transformara “Ai que saudades da Amé-
Vale do Rio Doce, em 1o de junho de 1942, é possível que não tenha lia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, num sucesso instantâneo – preci-
se dado conta da real importância que este ato teria para a história sava encontrar seu rumo. O país precisava de dinheiro, precisava na-
do Brasil – especificamente para o futuro da mineração. A Vale – ao cionalizar seu minério e, diziam os parceiros comerciais americanos,
lado da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criada um ano antes precisava entrar na guerra. A Companhia Vale do Rio Doce, empresa
– era mais que uma peça no tabuleiro das relações internacionais em capaz de alavancar o fornecimento de ferro para a indústria bélica
tempos de guerra. Em breve, teria vida própria e se transformaria em americana, era fundamental.
uma das maiores empresas do país. Criada a partir da incorporação da Companhia Brasileira de Mi-
Em 1o de junho de 1942, o Brasil estava imerso em uma crise ins- neração e Siderurgia S. A. e da Itabira de Mineração S. A., trazia, no
titucional que tinha como ponto central a decisão sobre a entrada do pacote de sua fundação, a manutenção, a exploração e a ampliação
país na Segunda Guerra Mundial. Vinte dias antes, o navio mercante da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). No pacote viria também
Comandante Lira fora torpedeado em águas brasileiras, entre o Ceará a Mina do Cauê – minimamente explorada durante a passagem de
e o Rio Grande do Norte, em atentado atribuído a submarinos alemães. Percival Farquhar pela presidência da Itabira Iron Ore Company
Nos dias que se seguiram, outros três navios brasileiros tiveram o –, que se transformaria em uma espécie de símbolo dos primeiros
mesmo destino – o último deles, Alegrete, exatamente em 1o de junho.2 tempos da Vale.
Pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital da República, a popula- No artigo “O Brasil e seu minério de ferro”, publicado no Observa-
ção começava a perseguir imigrantes alemães, pichando suas resi- dor Econômico e Financeiro, em 1945, logo após o início das explorações,
dências e apedrejando seus estabelecimentos comerciais.3 A insta- Cauê é avaliada como uma mina de alta produtividade. “Sabe-se que
o minério de Cauê acha-se à flor da terra e cada tiro de explosivo faz
com que se desprendam 4 mil toneladas.”
1 - Nesse decreto, são encampadas as empresas Companhia Brasileira de Mineração e O primeiro bloco de pedra foi retirado pela Vale em 24 de outubro
Siderurgia S. A., a Itabira de Mineração S. A., bem como a Estrada de Ferro Vitória a
Minas e todas as suas linhas, edifícios e material rodante. Também nesse decreto são de 1944. Era o marco inicial de um projeto que iria além da mina em
assinados e lavrados os estatutos da nova empresa, a Companhia Vale do Rio Doce S. A. si e começaria a traçar a própria história da mineração no Brasil.
O decreto é assinado pelo presidente Getúlio Vargas e os ministros Artur de Souza Conforme se verá a seguir, a CVRD era fruto dos chamados Acor-
Costa, Vasco Leitão da Cunha, João de Mendonça Lima, Oswaldo Aranha e Alexandre
Marcondes Filho (Disponível em: <http://www.camara.gov.br/internet/InfDoc/novocon- dos de Washington, em que estava prevista a participação, em cargos
teudo/legislacao/republica/Leis1942vIIp245/pdf19.pdf>). A assembleia de constituição estratégicos, de estrangeiros no comando da Companhia. O primeiro
definitiva da CVRD ocorreu em 11 de janeiro de 1943. Ver Pimenta, Dermeval, A Vale do
superintendente nomeado, Israel Pinheiro, estivera em Washington
Rio Doce e sua história. Belo Horizonte: Editora Vega, 1981, p. 111 .
na assinatura dos acordos. Em seu primeiro ato, em diligência na
2 - Ver Ferraz, Francisco César. Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor Ltda., 2005. Ver também Sander, Roberto. O Brasil na mira de Hitler: a história do Vitória a Minas, Pinheiro pediu uma tesoura emprestada, cortou a
afundamento de navios brasileiros pelos nazistas. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2007. manga da camisa e disse: “Agora, mãos à obra.” A frase estaria pre-
3 - Ver Ferreira, Jorge & Delgado, Lucília de Almeida Neves (org.). O Brasil Republicano. sente nos folhetos que vendiam as ações da Companhia e explica,
O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, vol. 2.
em parte, a trajetória da empresa desde então.
52
54 55
56 A CVRD seria constituída como uma sociedade anônima, de disposição do público (ações preferenciais). Na ocasião, os bens patri-
economia mista, com capital inicial de 200 mil contos de réis. Sua moniais da Companhia foram estimados em 739 mil contos de réis.
diretoria seria composta por cinco membros: um presidente e dois Em 11 de janeiro de 1943, foi realizada, no Rio de Janeiro, a Assem-
diretores de nacionalidade brasileira e mais dois diretores norte- bleia de Constituição definitiva da Companhia Vale do Rio Doce.31 Ali,
-americanos. A Companhia seria organizada em dois departamen- foram aprovados seus estatutos e a transferência ao seu patrimônio
tos básicos: o da Estrada de Ferro Vitória a Minas, a ser adminis- das minas de Itabira, “tal como a União as recebeu”, além da EFVM e
trado por diretores brasileiros, e o das Minas de Itabira, dirigido de todos os bens que haviam pertencido à Companhia Brasileira de
conjuntamente por brasileiros e norte-americanos. Mineração e Siderurgia S.A. e à Itabira de Mineração S.A. O valor total
Israel Pinheiro manteve o status provisório de superintendente du- do negócio chegava a 80 milhões de cruzeiros.32 Ficou determinado
rante seis meses – entre junho de 1942 e janeiro de 1943 –, período que que a sede administrativa da CVRD ficaria localizada na cidade de
antecedeu a constituição, de fato, da Companhia. O tempo era curto e Itabira e que o domicílio para todos os efeitos jurídicos seria no mu-
a tarefa, das mais complicadas. Pinheiro teria que administrar os bens nicípio do Rio de Janeiro.
incorporados ao patrimônio da União e à EFVM, dar prosseguimento A diretoria da Companhia seria composta por um diretor-presi-
às obras de prolongamento da ferrovia no trecho entre Desembarga- dente, de livre escolha pelo presidente da República, e por quatro
dor Drumond e Itabira, explotar as minas itabiranas de ferro, construir diretores escolhidos pela assembleia geral. Depois de seis meses
um embarcadouro especial e ampliar o Porto de Vitória. como superintendente, Israel Pinheiro foi indicado para ocupar a
Ao longo desses meses, importantes iniciativas foram tomadas. presidência, continuando, assim, à frente da CVRD. Os diretores elei-
Abriram-se as negociações com o Eximbank para a concessão de tos foram os norte-americanos Robert K. West e C. Alvin Lawrenson,33
um empréstimo de US$ 14 milhões e contratou-se a firma de con- representantes do próprio Eximbank, e os brasileiros general Denis
sultoria norte-americana Parsons, Klapp, Brinckerhoff & Douglas Desiderato Horta Barbosa, a quem coube a vice-presidência, e o ma-
(PKBD) para realizar os estudos técnicos e os projetos necessários jor João Punaro Bley, interventor no Espírito Santo. A presença de
à exploração das minas e ao reaparelhamento e remodelação da Israel Pinheiro e Punaro Bley, figuras destacadas das políticas minei-
EFVM. A PKBD deveria também adquirir equipamentos e materiais ra e capixaba, revela a preocupação do Governo Federal em compor
a serem usados na execução do programa. No período, foram en- a diretoria com as forças políticas daqueles estados, os mais direta-
viadas dos EUA cerca de 8 mil toneladas de material, em sua maio- mente envolvidos com a atuação da CVRD.
ria trilhos e acessórios.
A compra (ou arrendamento) de 90 vagões e nove locomotivas
permitiu o transporte, naqueles meses, de 41 mil toneladas de miné- 31 - Os atos constitutivos da CVRD foram arquivados no Departamento Nacional de
rio de ferro. Além disso, foram iniciadas as obras de construção do Indústria e Comércio, sob o no 18.689, em 27 de janeiro de 1943, e publicados no Diário
Oficial (Seção I) do dia seguinte, p. 1.282.
ramal entre Itabira e as jazidas do Cauê. Por fim, foram colocados os
32 - Portaria no 5 do Ministério da Fazenda, citada em Pimenta, Dermeval, op. cit., p. 111. O
primeiros trilhos do trecho entre Capoeirana e Itabira. As obras do
Decreto-Lei no 7.491, de 5 de outubro de 1942, instituiu como unidade monetária o cruzeiro No alto da página, depósito da
cais de minério, em Vitória, tiveram prosseguimento. em substituição ao mil-réis. Explica-se assim a expressão em cruzeiros dos valores da Mina do Areão, em Itabira (MG).
No final de 1942, o superintendente divulgou manifesto referente transação financeira efetuada. Abaixo, a Estrada de Ferro
à subscrição das ações da CVRD: 110 mil contos de réis seriam subs- 33 - Embora o artigo 15 dos estatutos não se referisse à nacionalidade dos diretores, o Vitória a Minas e o transporte de
Decreto-Lei no 4.352, em seu art. 5o, § 4o, determinava que dois dos cinco diretores da CVRD minério realizado no início das
critos pelo Tesouro Nacional (ações ordinárias) e 90 mil ficariam à deveriam ser norte-americanos. Ver Pimenta, Dermeval, op. cit., p. 112. atividades da Companhia.
58 2.6 Os primeiros anos da CVRD estado da linha. A Companhia também enfrentava problemas para 59
contratar mão de obra, uma vez que a estrada, com quase 600 quilô-
Preocupada em atingir a meta de exportação de 1,5 milhão de to- metros, atravessava municípios sem estrutura.35
neladas de minério de ferro acertada nos Acordos de Washington, a Mesmo com todas as adversidades, em agosto de 1943 – quatro
primeira diretoria da CVRD concentrou seus esforços na melhoria das décadas após o começo da construção da ferrovia –, os trilhos da
condições de funcionamento do complexo mina-ferrovia-porto. Para EFVM chegaram finalmente até Itabira, iniciando o carregamento re-
que esse objetivo pudesse ser atingido satisfatoriamente era impres- gular de minério na recém-inaugurada estação da cidade. Em outu-
cindível a liberação dos recursos do Eximbank, acertados nos acordos. bro seguinte, a firma norte-americana Raymond-Morrison Knudsen
Em 18 de março de 1943, foi firmado o acordo financeiro entre o do Brasil S.A. foi contratada para administrar os trabalhos na via
governo brasileiro, a CVRD e o Eximbank, para concessão, pelo ban- férrea. Diversas empreiteiras brasileiras foram convocadas para os
co americano, do empréstimo de US$ 14 milhões. O dinheiro estava serviços de terraplenagem.
destinado ao financiamento das obras de ampliação da capacidade No plano administrativo, devido à inexistência de prédios e meios
de produção das minas de Itabira, à reconstrução e ao reaparelha- de comunicação apropriados em Itabira, a sede permaneceu, duran-
mento da Estrada de Ferro Vitória a Minas e à construção do cais te alguns meses, em Belo Horizonte, nos escritórios da antiga Su-
de minério em Vitória. O empréstimo seria efetuado mediante notas perintendência das Minas. Por conta dessa situação, a Companhia
promissórias emitidas pela CVRD, pagáveis em 20 anos a partir da foi autorizada a transferir provisoriamente sua sede administrativa
data de emissão, com juros à taxa de 4% ao ano.34 Posteriormente, o para o Rio de Janeiro.36
prazo de vencimento foi ampliado para 25 anos. Garantidos os recur- Decorrido o primeiro ano de funcionamento da Vale do Rio Doce,
sos externos, a CVRD deu continuidade, em ritmo mais intenso, às as obras de infraestrutura já tinham consumido todo o seu capital.
obras desenvolvidas pela Superintendência das Minas de Itabira, que Assim, em assembleia geral extraordinária, realizada em 15 de julho
chegaram a empregar, no ano de 1944, cerca de 6 mil trabalhadores. de 1944, os acionistas autorizaram o aumento do capital de 200 para
Apesar disso, nas minas de Itabira, a lavra recém-iniciada se dava 300 milhões de cruzeiros. Nessa mesma assembleia, a diretoria foi
por processos rudimentares, sem nenhuma aparelhagem mecânica. autorizada a lançar 300 milhões de cruzeiros em debêntures.
O minério ainda era transportado em caminhões até a ponta dos Da mesma forma, o empréstimo feito junto ao Eximbank (US$ 14
trilhos da EFVM, em Oliveira Castro, a 22 quilômetros da jazida do milhões) já se mostrava insuficiente. Necessitando, com urgência, de
Cauê. As condições da Vitória a Minas também eram muito precá- material ferroviário destinado a reaparelhar a Vitória a Minas devido
rias; com trilhos desgastados e dormentes praticamente imprestá- ao aumento da carga transportada pela ferrovia, a diretoria da CVRD
veis, a ferrovia não oferecia segurança de tráfego para os trens de
mercadorias e de passageiros, tampouco para as composições que
carregavam minério de ferro. 35 - Ver Kury, Mário da Gama. Companhia Vale do Rio Doce – 40 anos. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982, pp. 27-28. Para mais informações sobre as condições de trabalho nos
O relatório da CVRD de 1943 menciona a ocorrência, naquele ano, primeiros anos da Companhia Vale do Rio Doce, ver Minayo, Maria Cecília de Souza. Os
de cerca de 100 descarrilamentos mensais, provocados pelo péssimo homens de ferro: estudo sobre os trabalhadores do Vale do Rio Doce, em Itabira. Rio de Janeiro: Dois
Pontos, 1986, especialmente o capítulo 1, “A época do muque”, pp. 35-68. No plano social,
a CVRD concentrou suas iniciativas no combate à malária e na melhoria das condições
sanitárias em geral. Ver Pimenta, Dermeval, op. cit., p. 121.
34 - Idem, ib., p. 114. 36 - Ver Pimenta, Dermeval, op. cit., p. 118.
60 61
Dermeval Pimenta
Dermeval Pimenta (São João Evangelista, MG, 1893 -
Belo Horizonte, MG, 1991) 1 assumiu a presidência da
Companhia Vale do Rio Doce em 1946. Tinha 50 anos, um
diploma da Escola de Minas de Ouro Preto e experiência
em administração pública. Estava pronto para o cargo.
Com o fim da Segunda Guerra e a queda de investimentos
americanos na indústria bélica, o minério de ferro tinha
poucos compradores no mercado. Depois de três anos em
busca de empréstimos, Dermeval viu o mundo do pós-
-guerra começar a se reerguer, o preço do ferro subir e a
Vale voltar a crescer. Quando deixou a presidência da em-
presa, em 1951, a Estrada de Ferro Vitória a Minas se mo-
dernizara e as exportações quadruplicaram. Sempre foi
um entusiasta da Vale. Escreveu o livro comemorativo dos
40 anos da empresa, em 1982, um precioso documento de
memória. Dermeval Pimenta teve ainda passagens de su-
cesso na Usiminas, Belgo-Mineira e Acesita. Vista do
Rio Doce,
em 1944.
1 - Ver Pimenta, Dermeval, DHBB, vol. 4, pp. 4.617-4.618 e “Conheça todos os
presidentes da história da Vale”, revista Exame, 05/04/2011.
Vale Nossa História Vale Nossa História
negociou com o banco norte-americano um empréstimo adicional minério de ferro permaneceu baixa e os preços, consequentemente,
no valor de US$ 5 milhões. Esse montante foi liberado em 1o de mar- pouco compensadores.39
ço de 1945, depois que o Eximbank viu atendida sua reivindicação de As dificuldades enfrentadas pela CVRD foram agravadas pelos
que o Tesouro Nacional brasileiro avalizasse a operação.37 altos custos dos fretes marítimos – o Brasil competia com países
Ainda que tenha enfrentado diversos contratempos, os avanços situados a menor distância (como Canadá e Venezuela) dos prin-
registrados pela CVRD nesses primeiros anos foram significativos. A cipais mercados consumidores (Estados Unidos e Europa). A falta
importação de equipamentos, apesar de ter sofrido atrasos, assegu- de uma estrutura de comercialização adequada levou a CVRD a se
rou certa continuidade operacional. Em meados de 1944, quando foi submeter a um grande número de intermediários, que lhe pagavam
encerrado o contrato entre a CVRD e a PKBD, os projetos das minas e preços bem inferiores àqueles em vigência no mercado internacio-
da ferrovia encontravam-se praticamente prontos, ficando a sua con- nal. O mercado mundial havia mudado e era imperativo reduzir o
clusão a cargo da própria diretoria técnica da Vale. O investimento nas custo do minério.
obras da EFVM permitiu que, em abril de 1944, o carregamento dos Ao lado dessa difícil situação econômico-financeira, a Companhia
vagões passasse a ser feito junto às minas, aumentando a eficiência passou, no início de 1946, pela sua primeira mudança de diretoria.
62 do transporte ferroviário e, como consequência, as exportações de mi- Eleito deputado federal por Minas Gerais em dezembro de 1945, 63
nério. Embora muito abaixo da meta prevista de 1,5 milhão de tonela- Israel Pinheiro deixou a presidência da CVRD em fevereiro do ano
das anuais, as exportações destinadas à Inglaterra, por exemplo, sal- seguinte, sendo substituído pelo engenheiro Dermeval José Pimenta,
taram de 35.406 toneladas, em 1942, para 62.928, em 1943, e 127.194, nomeado pelo presidente da República, general Eurico Gaspar Dutra.
em 1944. Com o término da Segunda Guerra Mundial e a redução da João Punaro Bley e Robert West foram mantidos na nova diretoria,
produção internacional de aço, os embarques de minério diminuíram ocupando, respectivamente, os cargos de diretor comercial e de dire-
sensivelmente, e a exportação caiu, em 1945, para 101.694 toneladas.38 tor de negócios americanos. A diretoria financeira foi confiada a ou-
Se os números da balança comercial oscilavam, os projetos de tro norte-americano, Bernard A. Blanchard. Naquela ocasião, a vaga
desenvolvimento na região do Vale do Rio Doce prosseguiam em as- de vice-presidente não foi preenchida. A Superintendência das Mi-
censão. A presença da Companhia na área foi de grande importância, nas de Itabira foi entregue ao engenheiro norte-americano Gilbert
atraindo novos investimentos. No final de 1945, diversas empresas já Whitehead, e a da Estrada de Ferro Vitória a Minas, ao engenheiro
estavam instaladas no vale, destacando-se a Companhia Ferro e Aço Delecarliense Alencar Araripe.40
de Vitória, a Companhia Ferro e Aço de Itabira, a Companhia Agro- Dermeval Pimenta – um homem com um perfil mais técnico do
-Pastoril e a Companhia Açucareira do Rio Doce, as duas últimas no que político – e seus diretores tinham plena consciência dos proble-
município de Governador Valadares (MG). mas que a Companhia enfrentava, como demonstra o relatório de
1946.41 Naquele ano, a CVRD registrou seus níveis de vendas mais
baixos desde 1943, caindo as exportações para 40.962 toneladas, ao
preço médio de US$ 5,30 por tonelada FOB (Free on board, que significa
2.7 Situação financeira no pós-guerra que os custos a partir do embarque da mercadoria são encargo do
comprador).42 Para reverter esse quadro desfavorável, eram necessá-
Voltada, desde o início de suas atividades, para o mercado ex- rios novos aportes financeiros, destinados às obras de mecanização
terno, a Companhia Vale do Rio Doce foi afetada pela instabilida-
de na economia internacional. Com o término da Segunda Guerra
Mundial, em 1945, a exclusividade de venda do minério de ferro 39 - Ver Abranches, Sérgio; Dain, Sulamis. A empresa estatal no Brasil: padrões estruturais e
para a Inglaterra e os Estados Unidos chegou ao fim – os dois países estratégias. Rio de Janeiro: Finep, 1978, mimeo, p. 44.
renunciaram à opção de renovação dos contratos. Se, por um lado, 40 - Ver Pimenta, Dermeval, op. cit., pp. 132, 140. Após deixar a presidência da CVRD, Der-
essa decisão reduzia a premência de exportação de minério, por meval Pimenta tornou-se diretor da Rede Mineira de Viação, em abril de 1951. No ano
seguinte, foi um dos fundadores da Usiminas. Mais tarde, foi diretor da Acesita. Ao longo
outro deixava a CVRD sem mercados garantidos a curto e médio de sua vida pública, exerceu outros cargos, entre os quais o de prefeito de São João Evan-
prazos. O fim do conflito mundial provocou uma redução, em âm- gelista, sua cidade natal, e de Secretário de Viação e Obras Públicas de Minas Gerais. Na
década de 1980 foi membro do Conselho de Administração de Cultura de Minas Gerais e
bito global, na produção siderúrgica e, até que se fizessem sentir
do Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Publicou
os efeitos da reconstrução da economia europeia, a demanda por 19 obras, em sua maioria técnicas, destacando-se A Vale do Rio Doce e sua história; O parque
ferroviário de Minas Gerais; O transporte de matérias-primas e produtos siderúrgicos; e Aspectos do
povoamento do Leste Mineiro (c/Jornal da Vale, ago. 1991, p. 4).
Homens trabalham desmontando 37 - Idem, ib., pp. 117-118. 41 - Companhia Vale do Rio Doce, Relatório correspondente ao ano de 1946, n. p.
uma rocha, no ano de 1944. 38 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., pp. 29-30. 42 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., p. 31.
66 das minas, de reparo da ferrovia e de modernização das instalações com vencimento até 1o de setembro de 1948 importava em US$ 2,64 cargo de superintendente-geral e de um conselho técnico para asses- uma posição liberal no trato da política da mineração no Brasil. Isso 67
do Cais do Atalaia no Porto de Vitória (ES). Durante o ano de 1946, a milhões, e o valor efetivamente pago somava apenas US$ 548.016,23, o sorar a diretoria e o presidente não correspondeu à expectativa do se refletiu nos novos estatutos da CVRD.
CVRD lançou o terceiro e último grupo de debêntures previsto em que desobrigava a CVRD, segundo o contrato de 1943 (que já fora de- banco; a pretensão de inclusão de dirigentes do banco no conselho As alterações estatutárias aprovadas na assembleia geral extra-
1944, no valor de 100 milhões de cruzeiros, e obteve um empréstimo nunciado pelo Eximbank por não estar assinado pela presidência da diretor foi rechaçada, e o presidente da CVRD manteve a prerrogativa ordinária de 7 de fevereiro de 195049 estabeleceram que a Companhia
de 30 milhões de cruzeiros do Banco do Brasil,43 visando, com esses empresa), do pagamento dos US$ 2.091.983,77 de diferença.46 de determinar os rumos da empresa. seria dirigida por um órgão coletivo de planejamento, orientação,
recursos adicionais, dar continuidade a obras essenciais. O Eximbank continuou insistindo na redução das funções do pre- controle dos resultados e prestação de contas, constituído pelo pró-
Outro grande problema vivido na segunda metade da década de Sobre o empréstimo do Eximbank sidente às de um mero supervisor. Essa pretensão foi definitivamente prio presidente da CVRD e por mais quatro diretores, domiciliados
1940 foi a crescente ingerência dos diretores norte-americanos na Enquanto as negociações prosseguiam em ritmo lento, a situação da negada em janeiro de 1950, por meio das alterações determinadas e residentes no Brasil, eleitos em assembleia geral dos acionistas.
administração da Companhia. Ainda em 1946, Dermeval Pimenta Companhia Vale do Rio Doce se deteriorava rapidamente. No início pelo presidente Eurico Gaspar Dutra à proposta de reforma dos esta- O novo estatuto estabeleceu também que a Companhia passaria
tentou um novo empréstimo de US$ 7,5 milhões com o Eximbank de 1948, seus recursos financeiros estavam esgotados e as obras fo- tutos da Companhia47 que, confirmando as atribuições do presidente, a contar com uma Divisão Administrativa e uma Divisão Financeira,
e um aumento do capital. As negociações em torno do empréstimo ram praticamente suspensas. Diante desse quadro crítico, o Gover- preservaram a autonomia da CVRD. órgãos centrais de execução. Os diretores dessas divisões seriam no-
se estenderam até 1948, uma vez que o Eximbank exigia em con- no Federal subscreveu novas ações da mineradora, que permitiram meados pelo presidente da Companhia, entre os membros da direto-
trapartida não só a redução dos poderes do presidente da CVRD, de o aumento de seu capital para 650 milhões de cruzeiros, e deu ga- Guerra Fria, anticomunismo e “o petróleo é nosso” ria ou não, e a ele ficariam subordinados diretamente. Manteve-se o
forma que os diretores norte-americanos tivessem mais autonomia rantias para o pedido de empréstimo ao Eximbank. Essas providên- Eurico Gaspar Dutra era um militar de carreira, fora ministro da cargo de superintendente-geral, vinculado ao presidente.
de ação, como também a redefinição da modalidade de pagamento cias foram aprovadas pelo Congresso Nacional em 17 de fevereiro Guerra entre 1936 e 1945, e chegou à Presidência da República por Diante da nova estrutura – em que perdia poder nas decisões fi-
do empréstimo inicial de US$ 14 milhões, já parcialmente quitado.44 de 1948. Nessa ocasião, foi criada uma comissão parlamentar para eleição direta, após 15 anos de governo Vargas. Era um momento-cha- nais –, o Eximbank não só retirou seus representantes da diretoria da
O Eximbank, na realidade, denunciava os termos do contrato de promover um controle rigoroso da aplicação dos novos recursos a se- ve para o país. Dutra foi eleito pela coligação PSD/PTB (Partido Social CVRD, como declarou a intenção de não mais se fazer representar
18 de março de 1943, celebrado sem o aval do Tesouro Nacional, pelo rem fornecidos à CVRD e averiguar a possibilidade de conclusão das Democrático/Partido Trabalhista Brasileiro), com mais de 3,2 milhões nela. Essa decisão viabilizou, ainda em 1950, a nomeação de direto-
qual os juros e o capital só seriam pagos com os recursos gerados pe- obras projetadas e as condições de execução do programa previsto. de votos (54,16% do total). Assumiu em 1946, mesmo ano em que, no res brasileiros indicados pelo presidente da empresa, Dermeval
las exportações do minério de ferro. Somente 15% do valor das expor- Mesmo com o progresso das negociações, duas questões principais Congresso, seria promulgada a nova Constituição brasileira. Depois Pimenta, para ocupar as vagas deixadas em aberto.
tações seriam destinados ao pagamento das notas promissórias refe- continuavam pendentes: a forma de pagamento das promissórias re- do fim da Segunda Guerra e dos anos de totalitarismo no Estado Novo, Com os recursos obtidos no final da década de 1940, a Companhia
rentes ao empréstimo concedido. Após 25 anos, as notas promissórias lativas ao empréstimo de US$ 14 milhões e as alterações na adminis- o país aguardava por tempos de democracia, paz e progresso.48 reuniu condições para intensificar o programa de obras indispensá-
seriam devolvidas à CVRD como resgatadas, mesmo que os fundos tração da Companhia. No dia 5 de julho de 1948, durante a assembleia Após o início político da Guerra Fria, em março de 1946, o alinha- veis à operação da estrada de ferro, à extração e à exportação de mi-
provenientes das taxas de 15% não fossem suficientes para saldá-las. geral dos acionistas, os dois temas seriam o centro das discussões. mento brasileiro com os EUA e a pressão anticomunista culminaram nério. Em 1948, obteve, pela primeira vez, um saldo positivo de
Essas condições de pagamento haviam se baseado na previsão de De acordo com a resolução da assembleia, foi aprovada a modifi- no rompimento das relações diplomáticas com a União Soviética (o 4.214.592,63 cruzeiros. 50 Na verdade, o lucro desse ano foi sensi-
que dois anos após a assinatura do contrato, ou seja, a partir de 1945, a cação das condições do empréstimo inicial, exigência do Eximbank que perduraria até 1962). Dutra estava à frente do país em um mo- velmente influenciado pela recuperação dos preços internacio-
CVRD já estaria exportando o total fixado de 1,5 milhão de toneladas para conceder o novo financiamento. A CVRD assumiu a obrigação mento histórico, mas talvez tenha ficado mais conhecido por – dizem nais do minério de ferro. O preço médio por tonelada FOB passou
anuais de minério de ferro. Como isso não aconteceu, o Eximbank ar- de pagar integralmente todas as promissórias emitidas em 18 de que aconselhado por sua esposa, Carmela Dutra, a dona Santinha de US$ 5,22, em 1947, para US$ 6,67, em 1948.51
gumentava que teria prejuízos, caso a administração da Companhia março de 1943, não só aquelas ainda não vencidas, como também – ter proibido os jogos de azar no Brasil. Também colocou o Partido As crescentes exportações de minério do tipo lump dirigiam-se,
não fosse eficiente e satisfatória.45 Na verdade, o valor das promissórias aquelas pagas parcialmente, e por ela já resgatadas e consideradas Comunista Brasileiro na ilegalidade. Viveu, de ponta a ponta, toda a em sua maior parte, para os Estados Unidos. Porém, num ensaio de
como quitadas pelo Eximbank. Atendido em suas pretensões quanto campanha “o petróleo é nosso”, mas, ao contrário de Vargas, manteve
ao pagamento do empréstimo, o Eximbank não teve o mesmo suces-
43 - Idem, ib., p. 32, e Pimenta, Dermeval, op. cit., pp. 117-118. 49 - As informações sobre a reforma dos estatutos da CVRD foram retiradas do Diário
so no que diz respeito às mudanças administrativas. A criação do Oficial, de 8 de março de 1950, pp. 3.330-3.332.
44 - Para mais informações a esse respeito, ver Fernandes, Francisco do Rego (org.), op. cit., 47 - Ver os termos do despacho presidencial no Diário Oficial de 24 de janeiro de 1950, p. 1.179.
v. 1, pp. 18-26, e Pimenta, Dermeval, op. cit., pp. 149-150, 170-173, 217-228, 237-238, 260-267. 48 - Malin, Mauro. Verbete “Eurico Gaspar Dutra”. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro Pós-1930. 50 - Ver Pimenta, Dermeval, op. cit., p. 273.
45 - Ver Fernandes, Francisco do Rego (org.), op. cit., p. 20, e Pimenta, Dermeval, op. cit., p. 284. 46 - Ver Pimenta, Dermeval, op. cit., p. 285. CPDOC/FGV. Disponível em: <http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx>. 51 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., p. 35.
Panorâmica
do Porto de
Vitória (ES).
TABELA 1
CVRD – EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO SEGUNDO OS PAÍSES COMPRADORES - 1942-1950 (EM TONELADAS) (1)
70 71
PAÍSES ANOS
1942 1943 1944 1945 1946(2) 1947(2) 1948 1949 1950
França - - - - - 29.020 -
% - - - - - 6,15 -
Alemanha
- - - - - - 10.013
Ocidental
% - - - - - - 1,39
TOTAL 35.407 62.928 127.194 101.694 40.962 174.290 385.252 471.747 721.765
TABELA 2
PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO DA CVRD NO TOTAL NACIONAL
CAPÍTULO 3
Década de 1950:
a Conquista da Identidade Empresarial
Quatro nomes ocuparam a Presidência da República no período: nova Constituição, com a realização no país da Copa do Mundo de
Eurico Gaspar Dutra (até 1951), Getúlio Vargas (1951-1954), João 1950 e (por que não?) com a eleição de Marlene como a Rainha do
Café Filho (1954-1955) e Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956- Rádio – era outro. Mas o retrato do velho, como dizia a marchinha
1961). Cada um deles percebia de forma distinta a participação do de Carnaval que serviu de slogan, em 1951, à campanha de Vargas,
capital privado nas empresas públicas consideradas estratégicas, havia voltado para o mesmo lugar.
como a CSN e a CVRD. A euforia dos tempos iniciais foi aos poucos dando lugar ao des-
Durante todo esse período vigorou a Constituição de 1946, que crédito. Bombardeado por denúncias de corrupção, o presidente se
determinou um recuo no controle do Estado sobre a atividade eco- isolava no Palácio do Catete. Mesmo medidas populistas, como o
nômica. Em relação ao regime de minas, por exemplo, a Carta de aumento de 100% no salário mínimo, anunciado em 1954, já não
1946 restaurou o princípio da Constituição de 1934, segundo o qual causavam tanto frenesi. No campo da política mineral, na dura
as concessões para exploração das jazidas minerais seriam dadas queda de braço contra a participação de empresas privadas, Vargas
exclusivamente a brasileiros ou a sociedades organizadas no país, começava a ceder. Após seu suicídio, em 24 de agosto de 1954, o
assegurando a preferência para o proprietário do solo. A expressão estímulo à presença de capital estrangeiro nas empresas minerado-
“sociedades organizadas no país”, usada no artigo 153, § 3o, era am- ras nacionais ganhou ainda mais força. A situação se cristalizou no
pla o suficiente para permitir a inclusão de empresas estrangeiras. governo Café Filho e foi acentuada com Juscelino Kubitschek.
A orientação da Constituição de 1946 correspondia à tendência
liberal do governo Dutra (1946-1951) em favor das empresas privadas
e que via na associação com o capital estrangeiro a melhor forma de
promover a modernização da economia brasileira. Isso se refletia 3.3 Mais exportações e novos mercados
de forma cristalina na condução dos rumos da CVRD no mercado
internacional, pelo menos até 1951 – quando as eleições presiden- No início dos anos 1950, o mercado mundial do minério de ferro
ciais levaram Getúlio Vargas novamente ao Palácio do Catete. voltou a se aquecer. A partir de 1947, a Europa começou a superar
No alto da página, pilha
de minério de ferro Vargas voltou ao poder em 1951 a bordo de 3.849.040 votos – ou a grave depressão do imediato pós-guerra. Ajudada pela injeção de
proveniente de Itabira 48,7% do eleitorado. Era quase maioria absoluta. Se em seu primei- dinheiro vinda dos Estados Unidos, a economia europeia, sobretudo
no Porto de Ijmuiden ro período na presidência Vargas recorreu à força para impor sua a alemã, recuperava seu parque industrial e, portanto, a produção
(Holanda) e, abaixo,
política, agora ele tinha o apoio popular – e o populismo como prá- siderúrgica. Ao mesmo tempo, a Guerra da Coreia (1950-1953) – que
uma descarga de minério
no pátio ferroviário tica de governo. Campanhas como “o petróleo é nosso” levavam o antagonizou Estados Unidos, que apoiavam a Coreia do Sul, e a en-
de Itabira (MG). povo às ruas. O Brasil – com o fim da Segunda Guerra, com uma tão União Soviética, que apoiava a Coreia do Norte – fez disparar a
corrida armamentista, aumentando a procura por minério de ferro, Na realidade, o maior problema que a CVRD enfrentava naquele
matéria-prima fundamental para a indústria bélica americana. momento era a concorrência, cada vez mais acirrada, no merca-
Embora a Europa estivesse em um momento econômico promis- do mundial do ferro. A crescente produção de aço, que servia fun- 79
sor, os Estados Unidos continuavam sendo o principal cliente das damentalmente à reconstrução da Europa pós-guerra, obrigou as
exportações de minério de ferro do Brasil. Em 1950, mais de 80% grandes siderúrgicas a buscarem novas fontes de suprimento fora
do ferro vendido pelo país foram absorvidos pelo mercado norte- de seus países de origem. Estados Unidos, Alemanha Ocidental,
-americano. A concentração das vendas do ferro brasileiro para os França, Inglaterra e também o Japão9 fizeram pesados investimen-
EUA provocou a reação de setores nacionalistas da imprensa e do tos em áreas periféricas, contribuindo para o aumento da oferta de
Congresso Nacional, que viam nisso mais um indício do crescen- minério de ferro e de outras matérias-primas siderúrgicas.
te alinhamento do Brasil à política externa norte-americana. Esse Os novos países produtores de ferro estavam localizados, na
ponto de vista era sustentado, entre outras argumentações, pela grande maioria dos casos, mais próximos aos principais centros
efetiva dependência financeira da CVRD em relação ao Eximbank. consumidores (EUA e Europa Ocidental) do que o Brasil, o que
Colocada no centro das discussões, a Companhia reagiu às crí- acarretava o barateamento dos fretes e a redução do preço final do
ticas. Em seu relatório de 1951, a direção afirmava que, embora minério. O clube mundial dos produtores de ferro estava admitin-
naquele ano os Estados Unidos tivessem figurado, uma vez mais, do novos sócios. Ao lado de importantes e já conhecidos exporta-
como o maior mercado para a sua produção, “o minério de ferro dores, como a Suécia e o Canadá – cujas produções elevaram-se,
era vendido livremente a qualquer país, já tendo a Empresa feito respectivamente, de 13,6 milhões de toneladas (1950) para 17 milhões
negócios também com o Canadá, a Alemanha, a França, a Holanda (1953) e de 3,8 milhões de toneladas (1950) para 14,5 milhões (1955)
e a Bélgica”.7 –, entraram em cena países da América Latina, da África e da Ásia.
Outra tese defendida pelos nacionalistas era a de que as reservas A produção da Venezuela, em 1950, era de apenas 200 mil tonela-
de minério de ferro, calculadas à época em 15 bilhões de toneladas, das, mas já em 1953 produziu 2,2 milhões, e chegaria a 19,5 milhões
deveriam atender, prioritariamente, ao consumo doméstico, e não às em 1960. O Peru, cuja produção, até 1952, não constava das estatís-
exportações. Essa posição foi contestada pelo presidente da CVRD ticas, em 1953 já produzia 1 milhão de toneladas, atingindo 7 milhões
do Rio Doce, Juracy Magalhães, com o argumento de que não havia em 1960. A Libéria partiu do zero, em 1950, para 1,5 milhão de to-
demanda, dentro do Brasil, para todo o minério de ferro extraído. neladas em 1953, e, em 1964, alcançaria 12,5 milhões. A Índia, por
Segundo ele, mesmo dobrando o ritmo de crescimento da produção sua vez, que contribuía com 3 milhões de toneladas em 1950, ultra-
interna de aço (que se expandira 341% nos anos anteriores), em 1961 passaria a casa dos 10 milhões em 1960.10
– ou nos 10 anos seguintes – o Brasil estaria consumindo 6,8 milhões Atenta à situação do mercado do ferro, a CVRD procurou, desde
de toneladas de minério.8 Era uma quantidade sensivelmente infe- 1951, modernizar as operações do complexo mina-ferrovia-porto e
rior à produção nacional estimada para aquele ano. do sistema de transporte marítimo. A meta de exportar 1,5 milhão
7 - Ver Companhia Vale do Rio Doce, Relatório de Diretoria correspondente ao ano de 1951, p. 7
(doravante Relatório de Diretoria). Segundo Sérgio Abranches e Sulamis Dain, op. cit., p. 47, a 9 - Para o Japão, o fim da Segunda Guerra Mundial significou a perda definitiva de suas
diretoria da CVRD, para acalmar os ânimos nacionalistas, preocupava-se em demonstrar colônias no continente asiático, e desde então o país passou a buscar fontes de aprovisio-
independência em relação ao mercado norte-americano, mas, na verdade, durante alguns namento de matérias-primas. O primeiro desses investimentos foi no Alasca, em busca de
Panorâmica da cidade anos, a política comercial da empresa foi marcada pelo esforço em manter, e mesmo recursos florestais. Terutomo Ozawa, Multinationalism, Japanese style: The political economy of
de Itabira (MG) na ampliar, sua posição nos Estados Unidos. outward dependency. Princeton: Princeton University Press, 1982.
década de 1950. 8 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., p. 41. 10 - Idem, ib., pp. 45-46.
PAÍSES 1951 1952 1953* 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960
Estados Unidos 1.051.998 1.054.181 448.305 555.880 1.022.035 1.024.563 1.158.695 702.367 994.661 1.234.421
% 81,28 68,85 31,88 35,02 44,47 44,42 39,06 31,25 30,50 28,91
Canadá 124.268 124.705 37.837 60.204 30.046 61.231 147.525 35.770 85.627 152.501
% 9,60 8,14 4,11 3,79 1,31 2,66 4,97 1,59 2,63 9,57
Inglaterra 93.432 91.340 - 467.616 552.944 562.807 710.563 571.143 565.941 677.769
Os Estados Unidos, consumidores tradicionais, foram gradativa- assinado ao preço recorde de US$ 18,50 por tonelada FOB. Em meio
% - - - 7,15 4,24 1,51 3,33 13,94 9,05 6,82
mente perdendo terreno para os clientes europeus, que, em 1953, já ao fogo cruzado ideológico, a direção da Companhia alegava que se
absorviam juntos 63,6% das exportações da CVRD, enquanto os nor- tratava de uma transação comercial, sem implicações políticas.13 Itália - - - 10.160 46.707 49.910 52.273 16.954 28.814 51.167
te-americanos reduziram sua participação para aproximadamente A condição de empresa estatal facilitou a atuação da CVRD no
% - - - 0,64 2,03 2,17 1,76 0,76 0,88 1,20
32%. A queda da participação dos EUA pode ser explicada por alguns Leste Europeu, pois era praxe naqueles países os negócios de gover-
elementos. O aproveitamento em escala industrial da taconita, mi- no para governo. Assim, em 1954, além das já regulares exportações Hungria - - - - - - 17.374 21.480 13.411 -
nério de ferro de baixo teor, por meio do processo da pelotização, para a Polônia, ocorreu o primeiro embarque de minério de ferro da
% - - - - - - 0,59 0,96 0,41 -
permitiu que os Estados Unidos passassem a utilizar mais inten- Companhia para a Tchecoslováquia,14 e, em 1957, a Hungria apare-
samente as suas próprias reservas do minério, até então conside- ceu pela primeira vez como compradora de ferro brasileiro. Nesse Suíça - - - - - - 1.524 2.033 - 2.540
rado de má qualidade (ou de difícil aproveitamento). O fim da ano, a CVRD praticamente atingiu a meta de exportação de 3 milhões
de toneladas/ano (2.996.261 toneladas, em números exatos). % - - - - - - 0,05 0,09 - 0,06
Guerra da Coreia (1953) e a prioridade conferida pelas siderúrgi-
cas norte-americanas ao minério proveniente de suas minas cati- Finlândia - - - - - - 1.016 - - -
vas na Libéria, no Canadá e na Venezuela também concorreram
11 - Idem, ib., pp. 46 e 51. % - - - - - - 0,03 - - -
para diminuir sensivelmente a demanda dos Estados Unidos por
12 - Os acordos assinados entre os dois países compreendiam a Comissão Mista Brasil-
minério de ferro brasileiro. -Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico, resultado das negociações iniciadas
Japão - - 10.114 - 9.154 40.403 131.866 46.532 195.495 383.474
A crise para a mineração brasileira, originada pela multiplica- no final de 1950, durante o governo Dutra, visando ao financiamento de um programa
de reaparelhamento dos setores de infraestrutura da economia brasileira. A comissão foi % - - 0,72 - 0,40 2,10 4,46 2,07 6,00 8,98
ção de produtores de ferro no mundo, se aproximava. Diante desse
criada oficialmente em 19 de julho de 1951 e encerrou seus trabalhos em 31 de julho de
quadro, agravado por uma queda dos preços que levou à suspen- 1953. Ver Calicchio, Vera, “Comissão Mista Brasil-Estados Unidos”, DHBB, Disponível em: TOTAL 1.294.361 1.531.125 1.406.245 1.587.185 2.298.505 2.306.160 2.966.261 2.247.550 3.261.453 4.269.613
são temporária das vendas ainda em 1953, a CVRD intensificou sua <http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx>.
política de diversificação de mercados. Em 1955, o Japão adquiria, 13 - Ver Abranches, Sérgio e Dain, Sulamis, op. cit., p. 62. * As exportações para os países europeus no ano de 1953 não aparecem discriminadas nas fontes. Elas somaram, no conjunto, 889.989 toneladas, o equivalente a 63,29% do total das vendas
de minério de ferro da CVRD. Fonte: Relatórios de Diretoria, 1951-1960.
pela primeira vez, o minério de ferro da Companhia. Naquele ano, 14 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., p. 49.
82 Ao término dos anos 1950, a Companhia Vale do Rio Doce – ao Paralelamente à diversificação dos mercados e ao aumento Apesar de destinar a imensa maioria de sua produção ao merca- O Relatório Anual 1950 relacionava as obras já concluídas. Junto 83
contrário do observado no começo da década – encontrava-se soli- das vendas para o exterior, o peso da CVRD no total das exporta- do internacional, a CVRD não deixou o mercado doméstico de lado. à Mina do Cauê, entraram em funcionamento duas perfuratrizes
damente instalada em diferentes mercados, e já não dependia mais ções de minério de ferro do Brasil aumentou significativamente Preocupada em reduzir sua dependência das exportações e, conse- elétricas a percussão, foram montados dois compressores de ar elé-
de um único consumidor. Em 1960, os Estados Unidos continuavam na década de 1950, sobretudo nos cinco primeiros anos, se com- quentemente, ficar menos sujeita às oscilações da economia mun- tricos e uma escavadeira elétrica para desmonte e carregamento
sendo o seu primeiro cliente, mas sua participação caíra para apro- parado com a situação do decênio anterior. O gráfico a seguir reúne dial, a Companhia procurou participar da expansão da siderurgia direto de grandes blocos de hematita. Os edifícios e estruturas para
ximadamente 29%, seguidos por Alemanha Ocidental (21%), Ingla- esses dados. brasileira. Em 1959, era acionista de quatro empresas siderúrgicas: britagem, peneiramento e transporte mecânico (correia transpor-
terra (16%), Japão (9%) e Tchecoslováquia (8%). a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), a Companhia Si- tadora) até o pátio ferroviário ficaram prontos, bem como a oficina
derúrgica Nacional (CSN), a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosi- de recondicionamento de brocas. Esse conjunto de melhoramentos
pa) e a Companhia Ferro e Aço de Vitória (Cofavi).15 permitiu a produção de mil toneladas de minério por hora.17
A CVRD era a terceira maior acionista da Usiminas, empresa No âmbito da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), o cresci-
GRÁFICO 1 constituída em 1956, com 60% de capitais nacionais e 40% japone- mento de sua produtividade operacional foi alcançado por meio da
PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO DA CVRD NO TOTAL NACIONAL (EM TONELADAS MÉTRICAS) ses. A Companhia era responsável pelo “fornecimento de minério conclusão de um túnel, de 21 pontes de estrutura metálica, de mais
fino de Itabira a preço reduzido; concessão de facilidades de trans- de 10 mil metros de desvios e do assentamento de bueiros. Mas
porte entre Itabira e Acesita; concessão de descontos máximos pos- alguns problemas sérios permaneciam. Como o leito da ferrovia
EXPORTAÇÕES EXPORTAÇÕES CVRD/BRASIL síveis [na Estrada de Ferro Vitória a Minas] para o transporte de car- assentava-se sobre a areia, os acidentes eram constantes, principal-
ANOS
DA CVRD DO BRASIL (%) vão e de materiais; colaboração no transporte de material de mente no período das chuvas. Embora o empedramento de 200 qui-
1951 1.294.361 1.320.007 98,1 construção e de equipamento para a usina”.16 A construção da usi- lômetros tivesse sido iniciado em 1950, havia muita coisa por fazer
na, situada em Ipatinga (MG), começou em agosto de 1958 e, quando em 1952. No relatório desse último ano, a diretoria informava que,
1952 1.531.125 1.560.814 98,1 pronta, deveria produzir 500 mil toneladas de aço por ano. devido “à incidência exagerada de chuvas [...], os trechos da linha
ainda em consolidação sofreram demasiadamente, favorecendo a
1953 1.406.245 1.526.494 92,1 ocorrência de acidentes”.18
1954 1.587.185 1.678.445 94,6 Na área do porto também houve obras importantes. Em 1950 fi-
3.4 A modernização do complexo cou pronto o Cais do Atalaia, aparelhado com uma transportadora de
1955 2.298.505 2.564.600 89,6 mina-ferrovia-porto minério que ia do silo até o porão do navio. Foi construído também
um depósito com capacidade para armazenar 90 mil toneladas de
1956 2.306.160 2.744.882 84,0 É impossível pensar em expansão das exportações sem associá- minério de ferro, quantidade suficiente para carregar nove navios.19
1957 2.966.261 3.536.728 83,9 -la à modernização dos portos. Os maciços investimentos realiza- Alcançada a meta de 1,5 milhão de toneladas, a direção da CVRD,
dos pela CVRD para melhorar as condições de funcionamento do entusiasmada com os números, decidiu se lançar a novos empreen-
1958 2.247.550 2.823.195 79,6 complexo mina-ferrovia-porto foram fundamentais para que se dimentos e fixar a meta de exportação de 3 milhões de toneladas/
atingisse a meta de exportação em 1952: 1,5 milhão de toneladas. ano para 1957. A logística integrada – mina-ferrovia-porto – era a
1959 3.261.453 3.957.570 82,4 peça-chave do projeto.
1960 4.269.613 5.160.266 82,7
15 - Idem, ib., p. 55. 17 - Ver Relatório de Diretoria 1950, pp. 5-7.
Fontes: Relatórios de Diretoria, 1951-1960 (para as exportações da CVRD); Anuário Estatístico do Brasil 1953, p. 280; 1955, p. 295; 1958, p. 295; 1961, p. 225 (para as exportações do Brasil). 18 - Ver Relatório de Diretoria 1950, p. 7.
16 - Ver Gomes, Francisco de Magalhães. História da siderurgia no Brasil. Belo Horizonte/São
Paulo: Itatiaia/USP, 1983, p. 335. 19 - Idem, ib., p. 7.
84 Para mecanizar a extração, o beneficiamento e o transporte20 de ção das matas da região, decorrente da exploração intensiva das 85
minério das minas de Conceição e Dois Córregos (até então, apenas reservas florestais por parte das indústrias madeireira e carvoeira,
na Mina do Cauê esses serviços eram mecanizados), foi projetada a era preocupante.
instalação de cabos aéreos que tinham por finalidade transportar Em 1954, a CVRD decidiu investir no plantio de florestas para a
o minério das minas até o silo de estocagem e carregamento dos produção de dormentes. Por sugestão do superintendente da EFVM,
vagões. Além das estações de carregamento, localizadas junto às Eliezer Batista, a Companhia começou a comprar terras que viriam
minas, seria construída uma estação que conduziria o minério até a formar, em meados da década de 1960, o que se conhece atual-
o silo de embarque. Outra iniciativa de extrema importância foi a mente como Reserva Natural Vale, em Linhares, no Espírito Santo.
passagem das minas de Conceição e Dois Córregos – até aquele Mas Eliezer admitiu, anos depois, que sua ideia era preservar as
momento trabalhadas por empreiteiras que empregavam métodos matas da região.
manuais, de baixa produtividade – à operação da própria Compa- “Para obter a aprovação da diretoria da Vale do Rio Doce, preci-
nhia, que, mais uma vez, se encarregou de mecanizar o processo samos dizer que as árvores se destinariam à produção de dormen-
de trabalho. Na Mina do Cauê, novos equipamentos de mineração tes para estradas de ferro. Fiquei na Vale do Rio Doce por um longo
e de transporte foram instalados, permitindo o aumento da produ- tempo e nunca se tirou um dormente sequer daquela floresta.”21
ção. Estava prevista ainda a construção de uma pequena usina hi- Essa iniciativa22 pode ser considerada a primeira atividade em-
drelétrica, a ser concluída em 1958, alternativa encontrada para presarial fora do setor de mineração e um marco da preservação
resolver os problemas causados pela falta de energia no local. ambiental. Anos depois, no século XXI, a Unesco decretaria a área
Ligando as minas ao mar, havia a EFVM. Em meados dos anos Reserva da Biosfera.
1950, ela ainda apresentava uma série de problemas capazes de fa- No porto, devido à pequena capacidade de estocagem de Atalaia,
zer descarrilar qualquer grande projeto de exportação. Para mudar estava prevista a construção de um novo silo para armazenar 110 mil
o quadro, a CVRD investiu pesado em infraestrutura. A estratégia toneladas de minério. Os vagões seriam descarregados em um vira-
previa a remodelação da linha férrea até a localidade de Ana Matos dor de vagões instalado na encosta a oeste do Morro do Atalaia.
– atual estação Mário Carvalho, em Timóteo (MG) –, a substituição Depois de descarregado, o minério seria levado por correias trans-
de trilhos por outros, mais pesados, encomendados em 1955 à CSN, portadoras até o silo auxiliar e, então, ainda por correias, até o silo
e a aquisição de novos vagões para o transporte de minério (perfa- de embarque do Atalaia.
zendo um total de 650) e de cinco locomotivas diesel-elétricas. A meta de 3 milhões de toneladas, estipulada em 1953, foi cum-
prida em 1957, embora nem todas as obras previstas tenham sido
Linhares: de dormentes de madeira à preservação ambiental concluídas. Ainda nesse ano, o Governo Federal, dentro do Pro-
Os trabalhos na EFVM obrigaram a CVRD a adquirir grandes quan- grama de Metas do presidente Kubitschek, estabeleceu um novo
tidades de dormentes de madeira. Porém, a progressiva devasta- patamar de exportação para a Companhia, a ser alcançado em
1960-1961: 6 milhões de toneladas/ano.
20 - As informações sobre as obras a serem realizadas nas minas, bem como na ferrovia
e no porto, foram retiradas de Companhia Vale do Rio Doce, Presidência, Subsídios para 21 - “Conversas com Eliezer”, Luis Cesar Faro, Carlos Pousa, Claudio Fernandez. Ed. Insight
o comparecimento do presidente da CVRD à CPI do caso Hanna, pp. 8-11 (doravante Subsídios Engenharia de Comunicação, 2005.
caso Hanna). 22 - Ver, a esse respeito, Cury, Mário da Gama, op. cit., p. 50.
especiais. O Plano n o 2, referente à Estrada de Ferro Central do Hanna era o fato de a companhia inglesa ser também detentora de
Brasil e ao Porto do Rio de Janeiro, incluía a aquisição de 25 lo- extensas jazidas de minério de ferro no Quadrilátero Ferrífero, mais
comotivas, a ampliação do cais, obras de dragagem, compra de exatamente no Vale do Rio Paraopeba – região com beneficiamentos
equipamentos de carga e descarga etc. a um custo de 730 milhões previstos no Documento 18.
de cruzeiros. O projeto para viabilizar as metas de exportação de 6 milhões de
O Documento 18 recomendava ainda a revisão da legislação de toneladas/ano passava, necessariamente, pela dragagem do Porto
90 minas, para que fossem criados incentivos à exportação em grande de Vitória. Estudos mostraram que, após a dragagem – com águas 91
escala de minério. Contemplava também a definição das condições mais profundas –, o porto poderia receber navios de até 40 mil to-
e dos limites com base nos quais deveriam ser buscados os finan- neladas – enquanto o que se tinha até então era uma capacidade de
ciamentos e/ou a participação direta de capitais internacionais. Em até 10 mil toneladas.27
síntese, o que se pretendia era que – resguardando os interesses da
segurança nacional, sobretudo no tocante aos meios de transporte
e às vias de acesso – fossem ampliadas as formas de entrada de ca-
pital estrangeiro. O texto era expresso: “É indiscutível a necessidade 3.6 Os avanços no beneficiamento
de recursos financeiros externos, em face do elevado montante de
do minério de ferro
investimentos necessários à exportação maciça.” E depois comple-
tava: “É necessária uma política que garanta aos capitais estrangei-
Ao lado das obras no complexo mina-ferrovia-porto, a CVRD
ros uma justa remuneração e uma segurança satisfatória de juros
preocupou-se também em diversificar os tipos de minérios de ferro
razoáveis e reembolso.”25
que produzia e em desenvolver pesquisas para o aproveitamento
Endossando uma sugestão contida no Documento 18, o presidente
dos chamados finos e ultrafinos que se acumulavam nas minas.
Kubitschek criou o Grupo de Exportação de Minério de Ferro (GEMF).
A Mina do Cauê produzia uma hematita compacta de excelente
Constituído praticamente pelos mesmos nomes que integravam a
qualidade. Suas características químicas e físicas e sua dureza –
comissão de estudos do Conselho do Desenvolvimento e coordena-
que favorecia a britagem em lumps (granulados), pedaços de miné-
do pelo representante do BNDE, João Batista Pinheiro, o GEMF tinha
rio de 6,35 mm a 50 mm – eram ideais para o emprego direto nos
como tarefa central implementar as resoluções do Documento 18.
altos-fornos Siemens-Martin ou open-hearth.28 A operação de brita-
Por sua orientação nitidamente liberal, com forte apelo ao ca-
gem, contudo, criava o problema dos rejeitos, pedaços inferiores a
pital estrangeiro, o Documento 18 suscitou intensa polêmica na
meia polegada, denominados finos e ultrafinos, que, além de alte-
imprensa e no Congresso Nacional, que chegou a rotulá-lo de “es-
rarem as características granulométricas do lump, não podiam ser
candaloso e intolerável”.26 Outro caso rumoroso iria emergir no
diretamente aplicados na indústria siderúrgica porque tornavam a
início de 1958, quando, em virtude das perspectivas favoráveis do
carga pouco permeável à passagem dos gases ascendentes, dificul-
mercado internacional do ferro e das novas possibilidades abertas
tando a operação nos altos-fornos.
ao capital estrangeiro pela política desenvolvimentista do governo
O acúmulo de finos e ultrafinos em Cauê era uma decorrência da
JK, a Hanna Mining Company deu seu primeiro passo no Brasil, ad-
exploração intensiva da mina. Assim, com o passar do tempo, o mi-
quirindo, na Bolsa de Londres, 52% das ações da St. John d’El Rey
nério mais duro – a hematita – foi se tornando escasso, despontando
Mining Company.
A St. John extraía ouro em Minas Gerais desde 1830, principal-
mente na famosa Mina de Morro Velho, mas o que interessava à
25 - Ver Documento 18 (Parte II), p. 8. 27 - As informações sobre o que a Companhia deveria empreender para atingir a meta dos
26 - Ver Pereira, Osny Duarte, Ferro e independência: um desafio à dignidade nacional. Rio de seis milhões de toneladas foram obtidas em Subsídios caso Hanna, p. 12.
Janeiro: Civilização Brasileira, 1967, p. 130. 28 - Ver Relatório de Diretoria 1951, p. 9.
96 97
Ao lado, a Estrada de
Ferro Vitória a Minas.
Na página seguinte,
embarque de minério no
Cais do Paul, Vitória (ES),
em setembro de 1959.
US$ 14 por tonelada, com a Republic Steel (EUA). A venda, a esse indispensável para atuação no mercado internacional: a mudança
preço, de 300 mil toneladas de ferro, rendeu à Companhia uma re- radical na política de vendas.
ceita de US$ 4,2 milhões, o que lhe tornou possível o pagamento das Até essa época, as vendas eram realizadas no escritório do Rio
dívidas e a aplicação em projetos necessários ao seu crescimento. de Janeiro por um grande número de importadores e corretores
Ainda em 1952, a CVRD acertou com o Banco do Brasil o pa- (traders), alguns de reputação duvidosa, e confundiam os consumi-
gamento de um empréstimo contraído em meados da década de 1940, dores em virtude da disparidade de preços. As ofertas eram apenas
98 comprometendo-se a quitá-lo em 102 prestações mensais de 4 milhões truques da concorrência para baixar os preços, na maioria das ve- 99
de cruzeiros. A Companhia pagou, em 1956, o empréstimo de US$ zes não se confirmando na hora da assinatura dos contratos. Isso
14 milhões ao Eximbank, com 13 anos de antecedência. Outro em- comprometia o prestígio da CVRD e provocava a retração dos clien-
préstimo, de US$ 900 mil, logo elevado para US$ 1,5 milhão, tam- tes, que, informados sobre o oferecimento do minério por vários
bém contratado junto ao Eximbank para a compra de locomotivas traders, ficavam à espera de uma redução substancial do preço.
a diesel, foi saldado seis meses antes do vencimento do prazo.40 Preocupada com a questão, a Companhia passou, a partir de
A recuperação econômico-financeira da CVRD ampliou suas mar- 1954, a estabelecer contatos diretos com as siderúrgicas que consu-
gens de negociação. Os empréstimos recebidos do Eximbank – de miam seu minério. Os agentes eram exclusivos, eliminando a inter-
US$ 4 milhões e de US$ 12,5 milhões para a viabilização dos progra- mediação de numerosos corretores que concorriam entre si. Foram
mas de expansão da Companhia de 1953 e 1957 – foram acordados escolhidas as seguintes agências para a realização das vendas da Francisco de Sá Lessa
em novas bases.41 Ficou acertado que a amortização dos débitos pas- Companhia: a British & European Sales Ltd., sediada em Londres,
saria a ter por princípio o comprometimento de 15% do valor da pro- para o Canadá, a Grã-Bretanha e a Bélgica; a Société Anonyme Francisco de Sá Lessa (Diamantina, MG, 1887 - Rio
dução exportada.42 d’Importation (Sadi), com sede em Lausanne (Suíça), para a Europa de Janeiro, RJ, 1977), 1 quando assumiu a presidência da
Havia outros sinais da melhoria do quadro financeiro da CVRD. continental (excluindo a Bélgica); e a Cleveland Cliffs Iron Com- Companhia, estava com 65 anos, e, nos primeiros anos da
Em 1951, foi efetuada a primeira distribuição de dividendos da sua pany, com sede em Cleveland, para os Estados Unidos. As vendas empresa, foi o presidente que mais tempo ficou no posto:
história, na razão de 6% – embora restritos às ações preferenciais. para o Japão e a América do Sul continuaram a ser feitas pela CVRD
de dezembro de 1952 a março de 1961. Lessa era enge-
Dois anos depois, foi paga, pela primeira vez, gratificação a todos os diretamente no escritório do Rio de Janeiro. No caso japonês, por
empregados. E em 1954, foi efetuada a distribuição de dividendos exigência dos compradores, os negócios se processavam por inter- nheiro civil, com pós-graduação em Química Industrial
também aos portadores de ações ordinárias. A Companhia ganhava médio de trading companies daquele país.44 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, e sua formação
mais nome, credibilidade e ficava cada vez mais forte no mercado. Outra melhoria substancial introduzida pela nova política comer- se refletiu muito no perfil de sua gestão. Em seu período
No ano seguinte, cumprindo determinação estatutária que obri- cial foi uma melhor disciplina na utilização do cais de minério. Os na presidência, a CVRD passou por três presidentes da
gava a CVRD a alocar parte de seus lucros no desenvolvimento eco- antigos traders não se preocupavam em adequar as vendas às condi- República, entrou e saiu de crises, iniciou a moderniza-
nômico da sua área de atuação (70% em Minas Gerais e 30% no Espí- ções de operação do porto, ocorrendo frequentemente a superposi- ção de seus portos, investiu em tratamento do minério de
rito Santo), foi iniciada a aplicação de verbas na conta do Fundo de ção de chegadas de navios – em contrapartida, em outros momentos,
ferro, conquistou novos mercados (especialmente na Ale-
Melhoramentos e Desenvolvimento da Zona do Rio Doce (FMDZRD).43 o cais ficava completamente ocioso. Essa ausência de planejamento
Entre os fatores de transformação da CVRD, um deve ser desta- acarretava constantes reclamações dos clientes. Com os atrasos, a manha e no Leste Europeu) e, numa atitude ousada para
cado como fundamental por emprestar a transparência comercial Companhia estava sempre sujeita ao pagamento de multas.45 a época, inaugurou os primeiros escritórios da empresa
no exterior. Ao deixar a presidência, a Companhia já ti-
nha seu nome consolidado no mercado internacional.
40 - Ver Abranches, Sérgio e Dain, Sulamis, op. cit., pp. 57-79. Entre novembro de 1955 e março de 1956, concomitan-
41 - Na realidade, o empréstimo solicitado pela Companhia ao Eximbank em 1957 era de 44 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., p. 48. Cabe notar que a eliminação, nos Estados temente ao cargo na CVRD, Sá Lessa assumiu como inte-
US$ 24 milhões. Foram liberados apenas US$ 12,5 milhões em 1959. Unidos e na Europa, dos intermediários “significou também a concessão do controle
42 - Ver Abranches, Sérgio e Dain, Sulamis, op. cit., p. 59. de comercialização de seu [da CVRD] minério nas mãos de apenas três empresas que
rino a Prefeitura do Rio de Janeiro, então Distrito Federal,
43 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., p. 43 e CVRD, Serviço de Relações Públicas, Companhia monopolizaram suas vendas nos locais referidos”. Ver Fernandes, Francisco do Rego (org.), por indicação do presidente da República, Nereu Ramos.
Vale do Rio Doce 1942-1967, n. p. Entre 1955 e 1965, as inversões da Companhia somaram op. cit., p. 29.
mais 1,2 bilhão de cruzeiros. 45 - Ver Kury, Mário da Gama, op. cit., pp. 48-49.
1 - Ver “Lessa, Sá”, DHBB, vol. 3, p. 3.102, e “Conheça todos os presidentes da
história da Vale”, revista Exame, 05/04/2011.
1 - Para saber mais sobre o tema, ver Reserva Natural Vale (disponível em: <http://www.vale.com/pt-br/sustentabilidade/biodiversidade/reserva-natural-
vale/paginas/default.aspx>) e Reserva Natural Vale: modelo de gestão de áreas protegidas (disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/hotsite/
sustentabilidade/reserva_leiamais.asp>).
2 - Dados disponíveis no portal Vale.com – acesso em 01/11/2011.
3 - “Reserva da Vale forma um catálogo vivo da flora na Mata Atlântica”, The Wall Street Journal, 08/06/2005. Disponível em: <http://online.wsj.com/article_
email/SB111818543435653453-lMyQjAxMTExMTA4MTEwODE1Wj.html?mod=wsj_share_email>.
CAPÍTULO 4
A CVRD como Empresa
Exportadora de Padrão Internacional
4.1 Todos os caminhos levam ao mar – ainda que a maioria da frota mundial não passasse de 60 mil 103
toneladas. Tubarão foi construído em parceria com empresários
É uma daquelas histórias surpreendentes e que valorizam ainda da indústria siderúrgica japonesa e marcou definitivamente a
mais a trajetória da CVRD. Às vésperas da inauguração do Termi- mudança de estratégia de exportação da Vale. Longas distâncias,
nal Marítimo de Tubarão (ES), em 1966, uma das engrenagens que grandes navios, contratos de longo prazo, enormes quantidades
servem para fazer girar os vagões do trem – o virador de vagões – e de minério. Era uma visão superlativa do que viria pela frente. Por
despejam o minério nas correias transportadoras que levam o ma- um atracadouro que avança quase quatro quilômetros mar aden-
terial até o navio havia enguiçado. O fabricante do sistema proibia tro, a Vale apontava para o seu futuro.
que pessoas não autorizadas colocassem as mãos nas máquinas, e, As obras compreenderam a construção de um quebra-mar, um
pior, um técnico teria que vir do Canadá para resolver a falha. Um cais de atracação com profundidade livre de 16 metros, enroca-
problema. Em pouco menos de 24 horas, o presidente da República, mento de ligação com o continente, no qual foram localizadas as
marechal Castelo Branco, pessoalmente, acionaria os mecanismos instalações para movimentação e estocagem de minério e carvão,
para a primeira operação oficial do terminal, que começara a ser pátio ferroviário e instalações de manutenção de material rodan-
construído ainda no governo João Goulart, em 1962. Era 1o de abril. te. As instalações mecanizadas para a movimentação de minérios
O palanque – enfeitado com bandeiras do Brasil e símbolos da Com- e carvão foram dotadas de modernos aparatos tecnológicos. A
panhia – já estava montado. descarga do minério das composições ferroviárias (com até 150
A saída foi recorrer à sabedoria de um eletricista espanhol – tí- vagões) passou a ser feita pelo virador de vagão (car dumper),
mido, mas competente – que disse que poderia colocar a máquina numa operação totalmente automatizada. E o minério era trans-
para funcionar. Foi o que aconteceu. Autorizado a tentar resol- portado por correias de 60 polegadas de largura diretamente para
ver o problema, ele conseguiu consertar a engrenagem tempora- o “carregador de navios” (ship loader) ou para o pátio de esto-
riamente e a carga transportada pelo trem foi reduzida. Na hora cagem, que dispunha de uma capacidade de armazenamento
exata, os vagões finalmente foram girados, como num basculante, de 1 milhão de to neladas de diversos tipos de minério. Além dis-
fazendo o minério rolar pela correia para o interior do navio sueco so, uma central de peneiramento foi instalada entre o virador e o
Lapplang, o primeiro a atracar em Tubarão. A banda tocou o hino depósito para permitir a separação do minério nas diversas gra-
nacional. O presidente Castelo Branco bateu palmas satisfeito. nulometrias comercializadas. A recuperação do minério do pátio
Tubarão estava inaugurado. 1 de estocagem para o navio era feita por quatro escavadeiras e o
O Terminal Marítimo de Tubarão foi construído em uma ponta ritmo das operações era de 6 mil toneladas/hora.2
a cerca de 12 quilômetros do centro de Vitória. O antigo nome do
lugar, Tubarão, era perfeito para demonstrar a agressividade dos
novos planos da Companhia. Idealizado por Eliezer Batista, qua-
tro anos antes da inauguração, o Terminal poderia receber navios
com capacidade de transportar até 150 mil toneladas de minério
1 - Ver depoimento de José Clovis Ditzel, ex-presidente da Rio Doce Internacional, em 2 - Ver Rangel, Orlando. A Companhia Vale do Rio Doce e o mercado de minério de ferro, 1966,
Histórias da Vale, 2002, p. 87. p. 15.
PAÍSES 1961 1962 1963 1964* 1965 1966 1967 Inglaterra 541.184 536.179 753.951 501.026 634.336 718.512 770.374
108 Alemanha Ocid. 1.870.746 2.126.361 1.601.816 2.431.572 2.497.417 2.651.623 3.278.140 % 10,80 8,73 11,98 7,06 7,15 7,88 7,72 109
% 37,35 34,64 25,45 34,27 28,16 29,09 32,85 Itália 293.749 674.364 777.737 1.006.781 1.325.063 771.417 1.020.089
Argentina - 113.493 198.146 393.392 436.986 292.530 120.457 % 5,86 10,99 12,36 14,19 14,94 8,64 10,22
% - 1,85 3,14 5,54 4,92 3,20 1,20 Iugoslávia 38.126 83.123 30.328 - - - -
% - - 2,65 3,60 3,95 3,46 3,30 Japão 399.079 329.813 358.067 489.116 838.429 1.768.869 2.271.265
Bélgica - - - - - 318.089 95.288 % 7,97 5,37 5,69 6,89 9,45 19,40 22,76
Canadá 120.532 68.260 241.251 269.159 174.749 198.182 14.871 % - 1,83 - - - 1,30 -
Estados Unidos 727.783 939.714 588.247 651.018 1.090.459 1.451.263 512.313 % 5,92 5,09 5,60 2,23 1,02 2,76 1,27
% 14,53 15,31 9,34 9,17 12,29 15,92 5,13 Portugal - - - - 32.266 54.488 42.573
França 105.529 196.948 585.466 325.768 469.993 515.807 938.876 % 0,97 2,21 1,69 1,35 3,61 - -
% 2,17 3,21 9,30 4,59 5,29 5,76 9,41 Tchecoslováquia 459.988 450.286 451.833 302.293 302.922 335.206 205.883
Holanda 103.949 45.766 52.159 204.738 287.658 131.451 1.036.962 % 9,18 7,34 7,18 4,26 3,41 3,67 2,06
% 2,08 0,75 0,82 2,88 3,24 1,44 10,39 TOTAL 5.008.589 6.138.902 6.293.363 7.095.448 8.868.295 9.113.692 9.976.337
% - - 0,32 - - - -
* Optou-se por incluir em 1961 as 726.037 toneladas comercializadas pela Samitri. Tomou-se essa decisão porque, como as fontes não discriminam os mercados destinatários da em-
presa estrangeira, seria impossível determinar, com precisão, os percentuais relativos à participação de cada país na tabela, excluindo a quantidade exportada pela Samitri.
Fontes: Relatórios de Diretoria, 1961-1967.
A Tabela 1 reúne dados relativos às exportações de minério de participação no total de exportações de minério de ferro no Brasil.
ferro da CVRD entre 1961 e 1967, especificando os países comprado- Esse fato pode ser explicado pelo aumento das exportações de impor-
res, a quantidade adquirida a cada ano e sua participação percen- tantes mineradoras privadas, controladas por capital estrangeiro,
tual no total das vendas. como a MBR, e pelo início das vendas para o exterior da Samitri e da
As exportações da mineradora continuavam a crescer, mas, em com- Ferteco. A Tabela 2 revela o peso efetivo da Vale do Rio Doce no conjun-
paração à década de 1950, houve uma pequena diminuição em sua to das vendas brasileiras de ferro para o mercado mundial.
110
TABELA 2
PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO DA CVRD NO TOTAL NACIONAL (EM TONELADAS MÉTRICAS)
Fontes: Relatórios de Diretoria, 1961-1967 (para as exportações da CVRD); Anuário Estatístico do Brasil 1964, p. 161; 1967, p. 226; 1968, p. 261 (para as exportações do Brasil).
Com a entrada em operação, no ano de 1963, de duas usinas para a Usiminas.16 Ao mesmo tempo que investia nas parcerias in-
siderúrgicas das quais participava acionariamente – a Usiminas14 ternas, a Companhia buscava meios de incrementar exportações e
e a Ferro e Aço de Vitória –, a Companhia aumentou as vendas de importações. A entrada da Docenave no circuito serviu para acertar
minério de ferro para os consumidores domésticos.15 Entre o início melhor as contas, como se perceberá a seguir.
das obras, em 1958, e o pleno funcionamento da Usiminas, foram Criada em outubro de 1962, a Vale do Rio Doce Navegação S.A.
cinco anos e um pesado investimento – mas em pouco tempo as (Docenave) tornou possível à Companhia fazer o transporte do mi-
respostas começaram a aparecer. Em 1967, a CVRD vendeu 878.869 nério de ferro, sob comando único, desde a mina até o porto de
toneladas métricas ao mercado interno, sendo 875.628 toneladas destino. 17 A subsidiária negociava diretamente com os consumido-
116 4.5 O MME e as diretrizes nacionalistas de Getúlio Vargas, pavio curto e ideias nacionalistas sobre como 117
tratar as reservas nacionais, especialmente os minérios. O Minis-
do governo
tério de Minas e Energia – desde Jânio, diga-se – era um reflexo
dessas ideias. 32
O Ministério de Minas e Energia (MME), criado em 1960, teria
Em pouco mais de três anos de governo, o MME teve cinco minis-
um papel decisivo no traçado das diretrizes da economia brasilei-
tros: João Agripino, Gabriel Passos, João Mangabeira, Eliezer Batista
ra, sempre ligado às tendências de quem ocupasse a Presidência da
e Oliveira Brito – todos, em maior ou menor escala, influenciados
República. O período JK combinou a aposta firme na atração do ca-
fortemente pelas decisões vindas da recém-inaugurada Brasília.
pital estrangeiro com a intervenção estatal no planejamento (as me-
Quando Jango começou a governar, a questão principal do Minis-
tas e os grupos executivos), criando uma expansão que gerou gran-
tério de Minas e Energia era restringir a ação do capital estrangei-
des espaços para a empresa privada nacional e para o florescimento
ro, particularmente o norte-americano, no comando das empresas
de maior dinamismo nos mercados. E depois de Juscelino veio Jânio
consideradas estratégicas, entre elas as mineradoras.
Quadros. E depois da renúncia de Jânio veio João Goulart, o Jango.
João Agripino concentrou, desde o início, suas atenções na atua-
João Goulart já tinha sido o deputado federal mais votado do Rio
ção das companhias internacionais. O ministro determinou o exa-
Grande do Sul quando foi vice-presidente no governo Juscelino. Na-
me cuidadoso da situação jurídica das jazidas de minérios e re-
quela época, as eleições para presidente e vice eram independentes,
cursos naturais em geral, com a intenção de decretar a prescrição
e este último tinha votação própria. Em 1955, Juscelino Kubitschek
das concessões a empresas estrangeiras que permanecessem inex-
foi eleito pelo Partido Social Democrata (PSD) e João Goulart pelo
ploradas.33 Entre essas companhias, encontrava-se a Hanna Mining
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Cinco anos depois, a dose se
Company, que, como já se viu, em 1958 comprara a St. John d’El Rey
repetiu, só que com Jânio Quadros, do Partido Democrata Cristão
Mining Company34 para explorar as jazidas de ferro situadas em
(PDC), como presidente da República.
suas terras no Vale do Rio Paraopeba, nos limites do Quadrilátero
Jânio foi eleito prometendo uma varredura moral na política na-
Ferrífero. No entanto, o direito da St. John de explorar essas jazidas
cional. Seu símbolo de campanha era uma vassoura, com a qual
não era líquido e certo.
varreria a corrupção para fora do país. Obteve 5,6 milhões de vo-
A companhia inglesa – que representava para o governo mais
tos, na maior votação absoluta da história brasileira até então. Era
ou menos o que a Itabira Iron Ore Company representara no início
um governo de contradições. Ao mesmo tempo que proibia a briga
do século – localizara as jazidas na década de 1920, mas não se
de galo e ameaçava o uso do biquíni nas praias, condecorava Che
interessara em dar início à exploração em escala industrial. Com
Guevara, um dos líderes da revolução em Cuba, recém-chegada ao
as alterações no direito trazidas pelo Código de Minas de 1934, a
poder. Em agosto de 1961, menos de sete meses depois de assumir,
Jânio, alegando estar sendo perseguido por “forças ocultas”, renun-
ciou à Presidência da República.
Nada era mais diferente de Jânio do que João Goulart. O vice 32 - Portal CPDOC-FGV/PresidentesdoBrasil/Janio. Almanaque Folha on-line (1961-1962).
tinha uma forte ligação com os sindicatos, um repertório de dis- 33 - Ver Comissão Parlamentar de Inquérito para estudar o problema do minério de ferro, sua explo-
ração, transporte e exportação, bem como as atividades do Grupo Hanna no Brasil através de suas
cursos inflamados e uma posição muito pouco amistosa em rela- subsidiárias, pp. 508-509 (doravante CPI do ferro).
ção à interferência de empresários americanos na economia na- 34 - As informações relativas a St. John foram retiradas da CPI do ferro, p. 510, e de Pereira,
cional. Jango também tinha uma carreira ligada ao trabalhismo Osny Duarte, op. cit., pp. 68-77.
Viaduto da ligação
ferroviária Fazenda
Alegria-Fábrica (MG),
trecho mineiro da Estrada
de Ferro Vitória a Minas.
120 St. John ficou impossibilitada de extrair o minério de ferro, uma Mineração Águas Claras, empresa organizada em 1958 pelo grupo Em janeiro de 1963, o Conselho de Ministros aprovou a Exposição A situação ficou patente, em 25 de janeiro, no Congresso Latino- 121
vez que só manifestara a posse das minas de ouro. Os depósitos de norte-americano no Quadrilátero Ferrífero. A Hanna foi ao Tribu- de Motivos no 3 do MME, cujo titular à época, Eliezer Batista, acu- -Americano de Mineradores, realizado durante a Semana Popular
ferro, manganês etc. foram considerados jazidas, por se referirem nal Federal de Recursos e obteve a reintegração de suas concessões, mulava a pasta com a presidência da CVRD. O documento apontava em Minas, que contou com a presença de delegados do Chile, do
a ocorrências minerais não explotadas. Para haver explotação era sem, contudo, ter condições para desenvolver programas de explo- as seguintes tarefas para a futura Companhia do Vale do Parao- Peru e da Bolívia. A carta de princípios do encontro misturava pa-
necessário autorização expressa do Governo Federal. ração mais duradouros.36 peba: “1 – Construir e operar terminais marítimos para embarque lavras de ordem com artigos do Código de Minas. Defendia o esta-
No final de 1934, depois de ter constituído a Companhia de Mine- O impasse entre o governo e os americanos serviu também para de minérios e descarga de matérias-primas em geral; 2 – Contratar belecimento do monopólio da exploração de ferro pelo Estado e seu
ração Novalimense, a St. John solicitou ao Ministério da Agricultura que o MME, já na gestão Oliveira Brito, determinasse que o DNPM pro- à Rede Ferroviária Federal o transporte ferroviário do minério a ser controle pela CVRD. Por fim, o documento falava em “dilapidação de
alteração no manifesto anterior, sob a alegação de que dera início à cedesse ao levantamento do estado em que se encontravam as jazi- exportado; 3 – Financiar, se preciso, a Estrada de Ferro Central do nossos depósitos minerais” e “exigia” que o direito à exploração das
exploração daqueles depósitos antes da promulgação do Código de das da Hanna e as repercussões sociais que a paralisação das ativida- Brasil para a execução dos melhoramentos e ramais necessários, jazidas fosse exclusivo dos brasileiros.42
Minas e, por isso, eles deveriam ser considerados minas. O ministé- des poderia acarretar. Foi cogitada também a hipótese de entregar as bem como a compra de materiais de tração e rodantes.”39
rio deu parecer favorável, opinando que as jazidas já haviam sido minas da Hanna para a CVRD. A alternativa foi descartada quando se O principal acionista da nova companhia seria a CVRD, que te-
efetivamente lavradas em pequena escala. Uma averbação, à mar- verificou que as minas da Hanna estavam situadas em local afastado ria a prerrogativa de indicar o presidente e o diretor comercial. A
gem do registro, forneceu a base legal para que em 1939 a St. John dos trilhos da Estrada de Ferro Vitória a Minas, o que inviabilizaria companhia seria transportadora e exportadora de minério de ferro, 4.6 O regime militar e a abertura
fosse autorizada a explorar as reservas em questão. Foi exatamente economicamente o empreendimento. Oliveira Brito, então, limitou- adquirindo-o de seus acionistas e de pequenos mineradores, inde-
ao capital estrangeiro
essa averbação, transformando em minas as jazidas manifestadas, -se a ordenar a execução de sentença proferida anteriormente pelo pendentemente de sua participação acionária.40
que se tornou objeto de longa disputa judicial a partir de 1961. Tribunal Federal de Recursos, que colocava as jazidas da Hanna em Ainda em dezembro, o decreto assinado pelo presidente João
João Goulart foi deposto em abril de 1964; uma Junta Militar to-
O ministro João Agripino constituiu uma comissão para estu- disponibilidade. Em consequência dessa decisão, a União e a compa- Goulart determinava a revisão completa de todas as concessões go-
mou o poder e a vida política e econômica do país tomou novos ru-
dar, sob diversos ângulos (geológico, pedológico, florestal, econô- nhia estrangeira recorreram ao Supremo Tribunal Federal.37 vernamentais das jazidas minerais, bem como o cancelamento das
mos. O setor de mineração também foi afetado pelas mudanças na
mico, social e jurídico), as minas e jazidas do Vale do Paraopeba, Paralelamente à batalha judicial entre o Governo Federal e a concessões não exploradas nos 20 anos anteriores, entre as quais
área econômica, que passaram a promover “um tipo de desenvol-
incluindo as da Hanna. O relatório final da comissão foi encami- Hanna, ganhava terreno, nos meios governamentais, a ideia de cria- se encontravam as da Hanna Co. No mesmo mês, o Governo Fe-
vimento intimamente vinculado aos investimentos estrangeiros”.43
nhado ao presidente Jânio Quadros, que, com base nesse trabalho, ção de uma companhia estatal, nos moldes da CVRD, para explorar deral tabelou os óleos lubrificantes comercializados por empresas
Logo após a posse do marechal Humberto Castelo Branco na
assinou uma resolução anulando as autorizações ilegais dadas em o minério de ferro do Vale do Paraopeba, orientação que já constara como Esso, Texaco e Shell, abalando o domínio das distribuidoras
Presidência da República, foi constituída uma comissão interminis-
favor da Hanna e restituindo as jazidas de ferro à reserva nacional. do Documento no 18. A organização de uma companhia estatal no estrangeiras sobre o mercado brasileiro, e concedeu à Petrobras o
terial integrada por Octávio Gouvêa de Bulhões (Fazenda), Rober-
O despacho do presidente determinava que o MME procedesse aos Vale do Paraopeba fazia parte da estratégia dos setores naciona- monopólio das importações de petróleo.41
to Campos (Planejamento e Coordenação Econômica, pasta criada
processos administrativos necessários para anular as autorizações listas, preocupados em conter os avanços da Hanna na área, im- A essa altura, a oposição entre nacionalistas e liberais ganha-
pelo novo governo), Mauro Thibau (Minas e Energia), Daniel Faraco
feitas irregularmente e declarar a caducidade daquelas que vinham pedindo-a de obter o monopólio da extração e da comercialização va as ruas. Em janeiro de 1964, setores nacionalistas organizaram
(Indústria e Comércio), Juarez Távora (Viação e Obras Públicas) e Er-
infringindo o Código de Minas na sua exploração.35 do minério de ferro, o que certamente criaria sérios embaraços às em Minas Gerais a Semana Popular em Defesa do Minério, com a
nesto Geisel (chefe do Gabinete Militar), incumbida de elaborar di-
Gabriel Passos, ministro de Minas e Energia do primeiro gabinete atividades dos pequenos e médios mineradores do Paraopeba.38 finalidade de esclarecer a opinião pública sobre a importância da
retrizes para o setor de mineração. A comissão deveria tratar, entre
parlamentarista do governo Goulart, deu prosseguimento aos ru- mineração no país e dar apoio aos atos governamentais em defesa
outros pontos, do aproveitamento imediato dos recursos minerais,
mos traçados por João Agripino à frente da pasta. Em junho de 1962, da soberania e das riquezas do subsolo. A questão da mineração ga-
36 - Em 1964, segundo a CPI do ferro, pp. 514-515, as reservas totais do Quadrilátero Ferrífero da regulamentação dos dispositivos legais imprecisos ou inoperan-
chegou mesmo a determinar a paralisação das atividades da Hanna giravam em torno de 4 bilhões de toneladas de minério de hematita. As empresas que nhava, outra vez – e cada vez mais –, contornos de embate político.
tes da revisão do Código de Minas e, acima de tudo, do papel do
no Brasil, ao ordenar a desapropriação das jazidas de propriedade de detinham maiores reservas eram o grupo Hanna, com 770 milhões de toneladas, o grupo
Azevedo Antunes, com 440 milhões, a Ferteco, com 240 milhões, a Samitri-Belgo-Mineira,
diversos mineradores, entre os quais a Companhia Novalimense e a com 225 milhões, e a Companhia Vale do Rio Doce, com 110 milhões. 39 - Ibidem.
37 - Ver Fernandes, Francisco do Rego, op. cit., vol. 2, p. 359. 40 - Ibidem. 42 - Ver Pereira, Osny Duarte, op. cit., p. 204.
35 - Ver Pereira, Osny Duarte, op. cit., p. 149. 38 - Ver CPI do ferro, p. 537. 41 - Ver Ferreira, Marieta de Moraes. Verbete “Goulart, João”, DHBB, vol. 2, p. 1.518. 43 - Ver Dias, Maurício. Verbete “Revolução de 1964”. DHBB, vol. 4, p. 2.955.
Estado no setor.44 A Companhia Vale do Rio Doce – em toda a sua prévias. Isso significaria um retrocesso em relação aos contratos Nacional de Estradas de Ferro, autorizava a Companhia a concluir e
estrutura, desde a exploração das minas ao comércio do minério no vantajosos firmados com a Samitri e a Ferteco, uma vez que esses explorar uma linha férrea ligando Itabira a Belo Horizonte.49
exterior – estava no centro da discussão. grupos internacionais tinham se comprometido a não interferir nos A autorização para que as empresas privadas construíssem ter-
Os pontos de vista dessa comissão certamente constaram da mercados da CVRD. Ao contrário, eles se mostraram dispostos a fa- minais de embarque e ramais ferroviários teve grande repercussão
Exposição de Motivos n o 391/64, datada de 25 de junho de 1964, na cilitar a entrada da empresa em novos mercados e obrigados a rein- na imprensa e no Congresso Nacional. Alegava-se que, com essa
qual Mauro Thibau apresentou as linhas-mestras de sua gestão. vestir no Brasil, de preferência em empreendimentos siderúrgicos, determinação, o governo privilegiava, na prática, as empresas do
Denunciando o caráter estatizante do governo anterior, que inibia os recursos obtidos com as exportações de minério de ferro. grupo Hanna, o que constituía um grave erro, uma vez que os norte-
a participação das empresas privadas, Thibau informava que, ao Do ponto de vista da Companhia, a competição que poderia se -americanos ainda não tinham direito estabelecido por lei para a
assumir a pasta de Minas e Energia, “estavam pendentes de solu- estabelecer colocaria de um lado o governo – representado pela exploração das jazidas e lavras.50
122 ção cerca de 1.400 processos de autorização de pesquisa e de con- Vale do Rio Doce – e, de outro, grupos privados apoiados em estru- As reações não se limitaram aos setores oposicionistas. Os go- 123
cessão de lavra. Sobretudo no que diz respeito ao minério de fer- turas oferecidas pelo próprio governo, ou seja, em suas ferrovias e vernadores Carlos Lacerda, da Guanabara (hoje, Estado do Rio de
ro, predominava a orientação de entravar as atividades das em- instalações portuárias. Mais ainda: “Enquanto a CVRD teria todos Janeiro), e Magalhães Pinto, de Minas Gerais – importantes articula-
presas privadas, o que ocasionava a perda do mercado que as os ônus de construir, manter e equipar sua ferrovia e porto, seus dores civis do movimento que derrubou João Goulart –, também se
mesmas poderiam proporcionar, com a consequente redução de competidores teriam as vantagens preconizadas pela política suge- manifestaram contra os termos do decreto. Em 23 de dezembro de
nossas exportações”. rida, consubstanciadas no setor ferroviário e [...] no setor portuá- 1964, Lacerda divulgou nota oficial classificando de “inconstitucio-
Paulo José de Lima Vieira No texto, o ministro criticava o “conhecimento insuficiente rio.” O alvo, mais uma vez, era o grupo Hanna.47 nal e ilegal” o decreto que fixava a nova política de minérios.
do subsolo nacional” e “o aproveitamento insatisfatório das re- Os princípios gerais da política de mineração foram confirmados Em carta ao presidente Castelo Branco, Magalhães Pinto ad-
Em abril de 1964, no momento em que Paulo José servas conhecidas”, fatores que contribuíam “para aumentar a no Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que definiu a vertia que a concessão à Hanna de um porto privativo na Baía de
taxa de erro na programação do desenvolvimento, acarretavam estratégia da administração Castelo Branco. Elaborado pelo Minis- Sepetiba levaria o Brasil a permanecer na condição de mero for-
de Lima Vieira (Ouro Preto, MG, 1916-2010) 1 assumia a
encargos exagerados sobre o balanço de pagamentos e revela- tério do Planejamento e Coordenação Econômica, cujo titular era necedor de matéria-prima.51 Também na CVRD as repercussões
presidência da Vale, era impossível distinguir a política vam a subutilização da mineração como instrumento para o Roberto Campos, o PAEG recomendava ao governo, para estimular foram sérias. Em virtude das divergências com a orientação gover-
empresarial do que acontecia no resto do país. O golpe progresso nacional”. 45 as vendas brasileiras no mercado mundial, “autorizar entidades namental, o presidente da Companhia, Paulo José de Lima Vieira,
militar que tirara João Goulart da Presidência da Repú- A diretoria da CVRD não escondeu seu descontentamento com a privadas a construírem terminais de embarque e respectivos ra- renunciou em janeiro de 1965. No mesmo mês, Oscar de Oliveira
blica acabara de acontecer e as funções gerenciais – es- política governamental para o setor mineral proposta pelo ministro mais de estradas de ferro até as linhas-tronco, para o escoamento substituiu-o no cargo.
pecialmente aquelas ligadas às empresas estatais – eram Thibau, que relegava ao Estado um papel supletivo. Discordando do minério de ferro do Vale do Paraopeba, desde que tais projetos Antes mesmo da edição do Decreto no 55.383, a abertura ao ca-
fundamentais às estratégias do novo governo. Vieira já frontalmente dessa orientação, a diretoria da Vale, tendo à frente o não impliquem solicitação de recursos financeiros às entidades go- pital estrangeiro nas atividades de mineração havia suscitado a
presidente Paulo José de Lima Vieira, enviou ao ministro documento vernamentais. As instalações portuárias existentes seriam predo- instalação, em novembro de 1964, de uma Comissão Parlamentar
havia sido presidente da Companhia Siderúrgica Nacio-
datado de 16 de julho de 1964 traçando um quadro das dificuldades minantemente utilizadas pelos pequenos e médios mineradores”.48 de Inquérito, cujo objetivo era estudar o problema do minério de
nal (CSN) antes de ser nomeado presidente da Vale. Sua que poderiam surgir com a instalação de empresas de mineração A nova política do Governo Federal para o setor de mineração foi ferro, sua explotação, transporte e exportação, bem como as ativi-
gestão foi marcada pela consolidação dos primeiros con- estrangeiras no país, principalmente a Hanna Co.46 Na realidade, a sintetizada no Decreto no 55.282, de dezembro de 1964, que autori- dades do grupo Hanna por intermédio de suas subsidiárias.52 A CPI
tratos de longo prazo de venda de minério para o Japão Companhia estava preocupada com o papel secundário conferido zava a participação de capitais privados na exploração do subsolo e teve como relator o deputado fluminense Roberto Saturnino Braga e
– assinados anteriormente. Ele deu prosseguimento às aos empreendimentos estatais (e com as facilidades oferecidas pelo estendia ao capital estrangeiro o direito de participar de sociedades seus trabalhos se estenderam até outubro de 1965. O relatório final
obras no Terminal Marítimo de Tubarão (ES) e manteve governo aos empreendimentos estrangeiros), o que poderia com- brasileiras que atuassem no setor. Ficavam de fora da iniciativa a expressava a preocupação dos parlamentares com a possibilidade
os compromissos assumidos com as mineradoras Samitri prometer seriamente seus planos de expansão. extração petrolífera, o carvão e os minerais empregados na área de a empresa norte-americana, além de fazer concorrência aos pe-
Para a Vale, a nova política mineral poderia induzir o governo nuclear. O documento estabelecia ainda medidas para o incremen- quenos e médios mineradores do Paraopeba, inibir o desenvolvi-
e Ferteco, que necessitavam da ligação ferroviária Costa
brasileiro a aprovar projetos sem qualquer exigência ou condições to da exportação do minério de ferro, entre as quais a construção de
Lacerda-Fábrica para exportar o seu produto. Em janeiro terminais privados de embarque na Baía de Sepetiba. Assegurava à
de 1965, Vieira afastou-se do cargo por discordar da polí- CVRD a exportação de minério do Vale do Rio Doce, diretamente ou 49 - Os dados referentes ao Decreto no 55.282 foram obtidos no DHBB, nos verbetes “Castelo
tica governamental para o setor de mineração anunciada 44 - Ver Keller, Vilma. Verbete “Bulhões, Otávio Gouvêa de”, DHBB, vol. 1, p. 505. mediante contrato com os mineradores privados da região, e, por Branco, Humberto”, de Monica Kornis (vol. 1, p. 716) e “Thibau, Mauro” (da mesma autora),
(vol. 4, p. 3.348), e em Três anos de revolução do MME, pp. 85-86.
pelo então presidente Castelo Branco. 45 - Ver Três anos de revolução do MME, op. cit., pp. 80-81. meio de convênio com a Rede Ferroviária Federal e o Departamento
50 - Ver Pereira, Osny Duarte, op. cit., p. 231.
46 - As informações sobre a posição da Vale do Rio Doce frente à política governamental
foram retiradas do próprio documento enviado ao ministro de Minas e Energia, intitulado 51 - Ver “Thibau, Mauro”, DHBB, vol. 4, p. 3.348. Essa mesma fonte informa que Lacerda
Comentários sobre a nova política mineral contida na Exposição de Motivos no 391/64, de 26 de acusou Thibau de ter sido um dos técnicos contratados, anos antes, pela Consultec para
1 - Ver “Vieira, Paulo José de Lima”, DHBB, vol. 5, p. 6.078-6.079, e “Conheça todos junho de 1964, do Ministério de Minas e Energia, face aos interesses da Companhia Vale 47 - Ibidem. avaliar o acervo da St. John, pertencente à Hanna.
os presidentes da história da Vale”, revista Exame, 05/04/2011. do Rio Doce, n. p. 48 - Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), p. 201. 52 - Ver a esse respeito Pereira, Osny Duarte, op. cit., pp. 456-487.
124 mento da siderurgia regional. O fato de a Hanna ter condições de vão mineral, terá condições excelentes para sobrepujar a Vale do 125
passar a dominar o minério de ferro extraído no Vale do Paraopeba Rio Doce no mercado internacional [...] Jogando com dois produtos,
poderia obrigar siderúrgicas estatais – como a Companhia Siderúr- manobrando com mais de uma empresa, poderá baixar o preço de
gica Nacional (CSN), a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) e a um e elevar o do outro, desde que o mercado ou seus reais objetivos
Companhia Siderúrgica da Guanabara (Cosigua), ainda em fase de o exijam, tirando um bom resultado final para a empresa”.54
estudos – a adquirir a matéria-prima de uma empresa estrangeira, O relator da CPI ressaltou o fato de a empresa norte-americana
o que era visto como uma forma de controle da siderurgia nacional. atuar em mercados também frequentados pela Vale na Europa Oci-
O governador Carlos Lacerda mostrava-se particularmente preo- dental e no Japão. “Na Europa chega mesmo a operar grandes e mo-
cupado com essa questão. A instalação da Cosigua envolvia inves- dernas instalações de desembarque de minério no porto de Rotter-
timentos que chegavam a US$ 250 milhões, financiados, entre ou- dam, um dos principais terminais por onde entra também o produ-
tros, pela Krupp (Alemanha Ocidental), pela Sybetra (Bélgica) e pela to da CVRD.”55
CAFL (França). A estimativa inicial de produção girava em torno de As diversas opiniões contrárias à orientação governamental
500 mil toneladas anuais de lingotes de aço. O empréstimo contraí- não impediram que, em junho de 1966, o Supremo Tribunal Fede-
do junto às firmas estrangeiras deveria ser saldado, em parte, “com ral proferisse acórdão transferindo para o Poder Executivo o pro-
1,5 a 2 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, durante 18 cesso administrativo relativo à Hanna, instaurado junto ao MME,
a 20 anos, a serem extraídos do Vale do Paraopeba”.53 Entre outras permanecendo em aberto a questão judicial. Na prática, isso sig-
instalações, a siderúrgica deveria contar com um porto na Baía de nificava deixar ao presidente da República a decisão final sobre a
Sepetiba que permitisse a atracação de navios de até 23 mil tonela- matéria. Em 13 de março de 1967, dois dias antes de deixar o go-
das. Lacerda temia que se a Hanna passasse a controlar as jazidas, verno, Castelo Branco, baseado em parecer técnico do DNPM e em
bem como o transporte e o embarque de minério, a Cosigua pudes- exposição de motivos dos ministros Mauro Thibau, Roberto Cam-
se vir a se transformar, na prática, numa subsidiária da empresa pos, Octávio Gouvêa de Bulhões e Juarez Távora, devolveu à Hanna
norte-americana. as antigas concessões. 56
Antes mesmo de a pendência judicial ter chegado ao fim, o gru-
A posição da CVRD na CPI po norte-americano associou-se, em 1965, ao grupo brasileiro Com-
Quanto à concorrência com a Companhia Vale do Rio Doce, a CPI panhia Auxiliar de Empresas de Mineração (Caemi), controlado por
considerou que esse problema era menos sério do que se poderia Augusto Trajano de Azevedo Antunes, como forma de contornar a
supor. De acordo com a maioria dos depoentes reunidos pela CPI, ação judicial e, ao mesmo tempo, de melhorar sua imagem junto
a companhia estatal já havia adquirido maturidade empresarial e à opinião pública. A associação com a Caemi avalizava política e
experiência internacional que a habilitavam a não temer a compe- juridicamente a participação da multinacional no Quadrilátero Fer-
tição com a Hanna. Ainda que a CPI tenha concluído que a Hanna rífero e fortalecia empresarialmente o grupo brasileiro.
pouco interferiu nos negócios da CVRD, surgiram vozes discordan-
tes. O senador João Agripino lembrou que “tendo a Hanna jazidas
54 - Ver CPI do ferro, p. 505.
em outras partes do mundo e sendo também comerciante de car-
55 - Ibidem, p. 504.
O arquivo de testemunhos de minério 56 - Essas e as demais informações sobre a evolução do caso Hanna foram retiradas de
da Mina do Cauê (MG), em 1963. 53 - Idem, ib., p. 227. Fernandes, Francisco do Rego, op. cit., vol. 2, pp. 359-360.
No setor de transportes, havia uma previsão de investimentos da empréstimo de US$ 28,8 milhões que seriam alocados da seguinte Reforma administrativa
Oscar de Oliveira (Rio de Janeiro, RJ, 1915) 1 tomou pos- ordem de US$ 29 milhões a serem aplicados em melhoramentos na forma: usina de pellets de Tubarão – US$ 16,5 milhões; Terminal Ainda em 1962 foram reformuladas as normas e as técnicas de se-
se na presidência da CVRD em janeiro de 1965. A po lítica Estrada de Ferro Vitória a Minas e na construção de novos ramais, Marítimo de Tubarão – US$ 1,5 milhão; equipamentos ferroviários leção de pessoal. A contratação dos novos empregados passou a se
da mineração estava atrelada a uma economia voltada que garantiriam o acesso às jazidas situadas no Vale do Rio Piraci- – US$ 4,9 milhões; equipamentos para a nova instalação de mine- basear exclusivamente nos méritos dos candidatos, submetidos a
caba. Foram programadas as seguintes obras: retificação do trecho ração – US$ 5,6 milhões; e controle do BID – US$ 300 mil.66 provas de habilitação e testes psicotécnicos. A etapa foi sendo pro-
para a produção dos insumos estratégicos e financia-
da Estrada de Ferro Central do Brasil entre Desembargador Dru- A melhoria da situação financeira da Companhia permitiu au- gressivamente implementada ao longo da década de 1960.
mentos internos. Oscar já era funcionário da Companhia
mond e Costa Lacerda, operado pela CVRD, mediante convênio com mentar gradativamente os investimentos no desenvolvimento da Um balanço da reforma administrativa da Vale nos anos 1960
quando foi nomeado e contava com o apoio da Presidência a Rede Ferroviária Federal; construção da ligação Costa Lacerda- região do Rio Doce. Entre 1961 e 1967, os recursos da CVRD aplica- revela uma grande preocupação de seus dirigentes com a manuten-
da República. A maior marca de sua administração foi a -Fazenda Alegria, a fim de escoar a produção das minas da Samitri; dos no Fundo do Melhoramento e Desenvolvimento da Zona do Rio ção da autonomia empresarial em relação ao seu acionista majori-
inauguração, em 1966, do Terminal Marítimo de Tubarão, e a construção da ligação ferroviária Fazenda Alegria-Fábrica, para Doce destinaram-se, em ordem decrescente de grandeza, à agrope- tário – o Estado. De acordo com os termos do Decreto-Lei no 2.627,
projeto iniciado quatro anos antes, ainda durante o go- permitir o acesso às minas da Ferteco. cuária/indústria, a estudos e projetos, à infraestrutura (eletrifica- de 26 de setembro de 1940, base da legislação societária em vigor à
verno de João Goulart, com Eliezer Batista na presidência A construção desses ramais permitiu à CVRD dar continuidade ção, transporte, abastecimento e tratamento de água, serviços de época, os diretores eram eleitos pela Assembleia Geral de Acionis-
a uma política de expansão de reservas de minério de ferro, inicia- esgoto) e à educação/saúde/obras assistenciais.67 tas, respeitando procedimentos rigidamente normalizados.
da Vale. Com Tubarão – que permitia o atracamento de
da em junho de 1961, com a assinatura de contrato com a Acesita, Além de deter o controle acionário da Docenave, da Vatu, da Na condição de principal acionista, o Estado podia nomear ou
navios de grandes dimensões –, a Companhia quadrupli-
que previa o arrendamento, por 10 anos, das jazidas de Periquito e Benita e da Itabira Eisenerz, suas subsidiárias, em 1967 a Vale do substituir livremente os diretores, o que ameaçava a continuidade
cava suas exportações e preparava o terreno para mais Chacrinha. Localizadas em Itabira, as duas jazidas possuíam 110 Rio Doce tinha participação acionária em diversas empresas, públi- das políticas em execução. O aumento do número de divisões, o
conquistas no mercado internacional, que marcariam as milhões de toneladas de minério de ferro, com cerca de 30% de fácil cas e privadas, entre as quais a CSN, a Cosipa, a Usiminas, a Usina estreitamento das relações entre os superintendentes-gerais des-
duas décadas seguintes. Ainda na administração de extração.64 Em 1967, a Companhia adquiriu duas novas jazidas, já Siderúrgica da Bahia (Usiba), a Centrais Elétricas de Minas Gerais ses órgãos e o presidente e a extinção do cargo de superintenden-
Oscar de Oliveira, foram inaugurados o ramal Costa prospectadas, acusando reservas na ordem de 70 milhões de tone- (Cemig), a Espírito Santo Centrais Elétricas S. A. (Escelsa), a Compa- te-geral da Companhia, bem como sua substituição, na prática,
Lacerda-Desembargador Drumond, da Estrada de Ferro ladas de minério rico: a primeira, Timbopeba, situada à margem nhia Pernambucana de Borracha Sintética (Coperbo), a Companhia pela Junta de Programação e Coordenação podem ser interpreta-
do ramal Costa Lacerda-Fábrica, e a segunda, Piçarrão, localizada a Agrícola de Minas Gerais (Camig) e a Frigorífico Mucuri S. A.68 dos como uma prova de que a Vale do Rio Doce pretendia garantir
Central do Brasil (EFCB); a subsidiária Itabira Internacional;
17 quilômetros de Desembargador Drumond, na linha principal da Todo esse processo de expansão foi propiciado por uma ampla sua unidade orgânica e a normalidade no seu fluxo decisório.
e a Seamar, Companhia de Navegação, na Libéria. Oliveira
Vitória a Minas.65 reforma administrativa, desencadeada logo no início da década.
deixou a presidência da CVRD em março de 1967, ao fim
do governo Castelo Branco.
63 - Embora já tivesse sido prevista nos anos 1950, a mecanização das minas de Conceição
e Dois Córregos acabou não acontecendo naquele período. 66 - Ver Relatório de Diretoria 1964, p. 6.
64 - Ver Relatório de Diretoria 1961, p. 12. 67 - Ver Companhia Vale do Rio Doce. 1942-1967. n. p.
1 - Ver “Oliveira, Oscar de”, DHBB, vol. 4, pp. 4.173-4.174, e “Conheça todos os
presidentes da história da Vale”, revista Exame, 05/04/2011. 65 - Ver Relatório de Diretoria 1967, pp. 7-8. 68 - Ver Relatório de Diretoria 1967, p. 45. 69 - Ver Relatório de Diretoria 1962, p. 37.
132 133
1 - Ver: Histórias da Vale. Museu da Pessoa, 2002, p. 44; Valeriodoce Esporte Clube <www.clubevaleriodoce.com.br>; Nilo Dias Repórter <http://nilodiasre-
porter.blogspot.com.br/2011/06/os-orfaos-da-mineradora.html>.
CAPÍTULO 5
A Maior Exportadora de Minério de Ferro no Mundo
5.1 Uma aventura na Amazônia muitos geólogos por perto. Os índios Assurini2 e Xikrin3 não eram 137
muito amistosos e, pior, vira e mexe Breno era obrigado a sobrevoar
“Pode mandar o soro antiofídico.” a mata em helicópteros muito pouco confiáveis.
O telegrama na mesa do geólogo americano Gene Tolbert,1 no Foi em um desses voos, no dia 11 de julho de 1967, a bordo de um
Rio de Janeiro, era curto e incrivelmente promissor. Soro antiofídico, helicóptero vermelho com capacidade para dois passageiros, que a
no caso, não tinha nada a ver com cobras – era o código usado entre história da mineração no país (e no mundo) começou a mudar. Desde
os geólogos da Companhia Meridional de Mineração, braço brasi- então, Carajás4 – nome tirado da tribo que ocupava as margens do
leiro da gigante americana US Steel, para anunciar a descoberta de Rio Araguaia – passaria a ser sinônimo de minério.
uma grande jazida. O telegrama foi enviado de Belém pelo também No meio da década de 1960, a região da Amazônia estava sendo
geólogo Breno dos Santos e servia para driblar a espionagem entre mapeada por grandes empresas americanas em busca do manga-
as mineradoras que vasculhavam o Norte do Brasil em busca de nês eletrolítico, essencial para a fabricação de pilhas e baterias.
riqueza. Não havia cobra alguma – mas havia manganês e, princi- O lugar indicado era a Serra do Sereno, conhecida como “Serra
palmente, uma quantidade espetacular de ferro. Ouro, prata, cobre, Rica”. Há, no jargão da geologia, um ditado que diz mais ou menos
bauxita e zinco, além de níquel, cromo, estanho e tungstênio, que assim: “Só se procura elefante onde há elefante.” O Pará – que já
também viriam mais tarde. registrara a presença de enormes jazidas de manganês próximas a
Breno tinha 27 anos, era um geólogo recém-saído da universi- Marabá – era o “elefante” da vez.
dade e que aceitara – mais por falta de opção do que por idealismo A estratégia das mineradoras era traçar rotas a partir de Belém, cru-
– um emprego na Companhia Meridional de Mineração, que pes- zando até Santarém e Altamira. Inicialmente, a equipe de Breno, chefia-
quisava manganês na Amazônia. Uma aventura, em todos os sen- da por Gene Tolbert, iria se fixar em Altamira, mas a Union Carbide,
tidos. Não era um emprego fácil: o salário não era lá essas coisas, a principal concorrente, descobriu os planos e se instalou antes. A saída
comida era ruim, os mosquitos estavam em toda parte e não havia foi criar uma via alternativa por Marabá, onde foram montados
1 - Gene Edward Tolbert nasceu no Kansas, em 1925, e morreu em outubro de 1989, na 3 - Os Xikrin do Cateté pertencem ao grupo Kayapó – este é também seu idioma – e
Virginia, também nos EUA. Serviu na Força Aérea americana durante a Segunda Guerra vivem às margens do Rio Cateté, afluente do Rio Itacaiunas, entre Água Azul do Norte
Mundial. Mudou-se para Washington em 1949 para trabalhar no United States Geological e Parauapebas, na Serra dos Carajás (PA). Veja em: Enciclopédia Povos Indígenas do Brasil.
Survey (USGS). Chegou ao Brasil no início dos anos 1950, onde concluiu sua tese de dou- Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xikrin-kayapo/1630>.
toramento, Geologia da Mina de Ouro de Raposos, Nova Lima, apresentada na Universidade 4 - Carajá ou Karajá é o nome do grupo indígena que ocupa a extensa faixa entre o vale do
de Harvard, em 1956. No país, trabalhou no projeto dos minérios de zircônio e urânio de Rio Araguaia e a Ilha do Bananal, no atual Estado do Tocantins, próximo às fronteiras com
Poços de Caldas (MG). Foi convidado pelo USGS para ser professor de Geologia Econômica Pará, Goiás e Mato Grosso. O termo karajá se aproxima, em tupi, do significado de “macaco
na USP, onde lecionou entre 1957-1961. Esteve à frente do escritório brasileiro da US Steel grande”. Em sua língua própria, esse povo se chama iny (“nós”). A família Karajá pertence
quando foram descobertas as jazidas de Carajás. Ver Gomes, Celso de Barros. Geologia Usp: ao tronco linguístico Macro-Jê e se divide em três línguas: karajá, javaé e xambioá. Veja
50 Anos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/Instituto de Geociências da USP, Enciclopédia Povos Indígenas do Brasil. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/
2007, pp. 67, 181-182. povo/karaja/364>.
138 139
acampamentos nas imediações da cidade, em lugares com precárias 5.2 A Vale na liderança mundial
140 pistas de pouso abertas junto a plantações de castanhas e seringais.
de minério de ferro 141
Do acampamento, Breno e os demais participantes da equipe
partiam para breves voos de reconhecimento.5 O geólogo costuma
Nos últimos anos da década de 1960,6 as perspectivas comer-
chamar a equipe de “o incrível exército de Brancaleone”, em refe-
ciais da Vale do Rio Doce eram excelentes. Em 1968, a Companhia
rência ao filme de Mário Monicelli, que narra a saga de um atrapa-
assinou os primeiros contratos para o fornecimento de minério, a
lhado grupo de soldados que tenta conquistar o reino dos sonhos
longo e a médio prazos, com a Usinor, a estatal francesa do aço
na Europa medieval. Fazia sentido. O reino idealizado dos Branca-
(por 10 anos), e com siderúrgicas italianas (por três anos). Ainda em
leone da Amazônia foi, inicialmente, uma clareira esbranquiçada,
1968, foi celebrado seu terceiro contrato com sete usinas do Japão,
coberta por plantas raquíticas, conhecidas pelo povo do lugar como
envolvendo o fornecimento, por oito anos, de 2,8 milhões de tone-
“canelas de ema”– o lugar era um Eldorado do ferro.
ladas anuais a partir de 1971, passo decisivo para consolidar sua
“A clareira era enorme e a vegetação, rasteira, o que normalmen-
presença no mercado japonês. Foi um choque para o mercado de
te caracteriza uma ‘canga’, que é a região rica em minério muito pró-
ferro australiano, que, em função da proximidade geográfica, tinha
xima da superfície, o que impede o crescimento das árvores. Quan-
sua posição assegurada no Japão.
do bati o martelo, saiu um negócio avermelhado, e vi que não era
Favorecida pelo boom siderúrgico mundial iniciado em 1969, a
manganês, era ferro. Pensei ‘caramba, isso tudo aqui é ferro’”, conta
CVRD exportou 21,8 milhões de toneladas de minério em 1970 (um
Breno. O geólogo já tinha visto, em outros voos, clareiras semelhan-
aumento de quase 100% em relação a 1968), proporcionando cerca
tes àquela e começou a achar que tudo fazia parte de uma imensa
de US$ 160 milhões em divisas para o país. O Japão comprou prati-
reserva mineral, algo de que jamais se tivera notícia no planeta.
camente 1/3 do total – que incluía, pela primeira vez, 750 mil tone-
“Eu era um geólogo com pouco tempo de profissão, estava entu-
ladas de pellets –, ultrapassando a Alemanha Ocidental e tornando-
siasmado com minha descoberta, mas ao mesmo tempo tinha medo
-se, a partir de 1969, o maior cliente da CVRD.
de estar pagando um mico sem tamanho.” O “mico” de Breno tinha
Até o final de 1970, os compromissos da Companhia com a ven-
o peso de 17 bilhões de toneladas de ferro de alto teor – e a partir
da a longo prazo já totalizavam 324 milhões de toneladas de miné-
de 1984 (após muita pesquisa, lutas judiciais, aventuras tecnológi-
rio in natura e pellets, destinados a consumidores de vários países.
cas, heroísmo, batalhas políticas e empreendedorismo), resultaria na
Ainda naquele ano a Vale renovou os convênios, firmados em 1962
criação de uma nova etapa na história da Vale. O estopim foi Carajás.
e 1964 com a Samitri e a Ferteco, respectivamente, envolvendo a
utilização de sua ferrovia e suas instalações portuárias para o es-
coamento do minério de ferro produzido por estas duas empresas
5 - A equipe que descobriu Carajás foi organizada em quatro núcleos. O primeiro, da estrangeiras no Quadrilátero Ferrífero.
Meridional, era composto pelo geólogo-chefe Gene E. Tolbert, os geólogos E. C. Ferreira,
G. C. Machamer, R. Strong e C. D. Reynolds. O segundo acompanhava as pesquisas no
A gangorra da produção mundial de aço, no entanto, prosse-
Rio de Janeiro: Francisco Sayão Lobato, engenheiro de minas e consultor, e Jean Robert guia em seu sobe e desce. Depois do salto de 1969-1970, o cenário
Maligo, assessor administrativo. No terceiro, a equipe de campo: Breno A. dos Santos,
geólogo e chefe de equipe; João E. Ritter, geólogo; Erasto B. de Almeida, geólogo; Noé D. dos
Santos, administrador de campo; C. Marbus, desenhista; Feliciano T. Tenório, encarregado; 6 - A redação desse item baseou-se em Fernandes, Francisco do Rego (org.), Os maiores
Francisco Gadelha e Francisco Braga, capatazes, além de 10 outros empregados. Por fim, no mineradores do Brasil: perfil empresarial do setor mineral brasileiro, vol. 1, pp. 3-7, 32-33, 60-62 Navio sendo carregado
apoio aéreo estavam Adão Coelho de Barros, piloto autônomo; e José M. de Aguiar, Carlos e 93-96: Relatórios de Diretoria, 1968-1978, e Kury, Mário da Gama, A Companhia Vale do Rio com minério no Terminal
A. A. Ratto e Leno A. Compasso, pilotos de helicóptero (Helitec). Doce: 40 anos, op. cit., pp. 70-96. Marítimo de Tubarão (ES).
cerne ao valor, em virtude da elevação do preço do minério (de venceriam em 1978, foram renovados, envolvendo o fornecimento
US$ 9,74 para US$ 12,92 por tonelada). A Vale do Rio Doce tornava- de 5,7 milhões de toneladas anuais de minério de ferro durante 15
-se, então, a maior exportadora de minério de ferro do mundo, res- anos. Além desses contratos, foram negociadas com os japoneses
pondendo por 16% do comércio transoceânico do produto.8 vendas adicionais de 6,5 milhões de toneladas de minério de ferro
Um balanço sucinto do desempenho da CVRD na primeira metade (era o quinto contrato) e de 6 milhões de toneladas anuais de pelo-
da década de 1970 traz dados bastante reveladores da importância tas por um período de 15 anos.
desses anos para a história da Companhia. Entre 1970 e 1975, o vo- Se o futuro parecia garantido – graças aos contratos de longo
lume de minério exportado cresceu 116% e o preço médio da tone- prazo mantidos com as siderúrgicas japonesas –, o presente ain-
lada de minério subiu 77%, 9 o que implicou um aumento da recei- da não estava assegurado. Em 1977, pela primeira vez desde 1948
ta de exportação na ordem de 285%, ou seja, de US$ 160 milhões (no auge da crise do pós-guerra), a Vale registrou um desempenho
para US$ 615 milhões. No início dos anos 1970, avançava o proces- negativo. As exportações sofreram uma queda de 14% em relação
so da divisão internacional do trabalho, pelo qual os países desen- ao ano anterior, passando de 47,3 milhões de toneladas para 39,8
dos dois anos seguintes era de retração. Ainda assim, em 1972, a volvidos destinavam a países emergentes, como o Brasil, grandes milhões. Além da redução do volume e da receita de exportação,
Raymundo Mascarenhas Companhia comercializou no exterior 26,1 milhões de toneladas
de minério de ferro e pelotas. No ano seguinte, em virtude do rea-
projetos de investimento em setores intensivos direta ou indireta-
mente de recursos naturais. Estavam incluídas atividades que
mesmo levando-se em conta que o preço médio da tonelada do
minério chegou a US$ 15,51, o aumento dos custos operacionais
142 143
quecimento das atividades siderúrgicas, suas vendas no mercado apresentavam elevados níveis de consumo energético, sobretudo e a supervalorização do cruzeiro foram determinantes para a sig-
Raymundo Mascarenhas (Prado, BA, 1928 - Linhares, ES,
internacional dispararam, atingindo um total de 37,5 milhões de em setores com índices mais elevados de impacto ambiental, nificativa queda dos lucros da Companhia. Esse evento da moeda
1987) 1 entrou na Companhia em 1957 e, 12 anos depois, toneladas. Prosseguindo na sua política de abertura de novos mer- como a mineração e a celulose. nacional valorizada associado à queda no preço médio da tonelada
tornou-se presidente – ele foi o segundo empregado a ocu- cados, a CVRD passou a fornecer minério de ferro também de minério estará presente em vários momentos, com efeitos ad-
par seu mais alto posto. Em seu histórico, destacavam- para China, Escócia e Alemanha Oriental e restabeleceu as ven- Em ritmo de “Pra frente, Brasil!” versos na vida financeira da Companhia.
-se a direção da Docenave e a superintendência geral de das para a Romênia e a Iugoslávia. Os compromissos da Companhia Em 1976, as exportações da Vale se mantiveram praticamente no Diante do quadro de crise da siderurgia nas principais economias
vendas. A experiência na última função viria a se tornar para o fornecimento de minério a longo prazo somavam, em 1973, mesmo nível de 1975. Porém, graças a novo aumento no preço capitalistas, a CVRD buscou novos consumidores nos países em de-
402 milhões de toneladas, destinados a consumidores de Alema- médio do minério, que atingiu US$ 15,15 por tonelada, a CVRD senvolvimento que apresentavam algum crescimento na produção
a marca de sua administração. No primeiro ano de sua
nha Ocidental, Argentina, Áustria, Espanha, EUA, França, Holanda, registrou um faturamento externo de cerca de US$ 717 milhões. de aço. Ainda em 1977, assinou seus primeiros contratos de longo
gestão, a exportação da CVRD passou de 11.550 milhões Inglaterra, Itália, Japão, Polônia e Turquia. A Companhia já era, então, a maior geradora de divisas para o prazo com usinas do Iraque, do Qatar, da Coreia do Sul, da Indoné-
de toneladas embarcadas em 1968 para 16.056 milhões. 2 Ao final de 1974, mesmo com os primeiros sinais de nova retra- país. E para manter a posição, era necessário, cada vez mais, que sia e das Filipinas. Ao final daquele ano, seus contratos de supri-
Esse aumento nas vendas estava atrelado também ao sur- ção na siderurgia mundial, decorrente do choque de petróleo do o governo entrasse em ação. mento já atingiam 609 milhões de toneladas – mais da metade para
gimento do novo produto de exportação da CVRD: o ferro- ano anterior,7 a CVRD comemorou um novo recorde de exportações: O general Ernesto Geisel assumira a Presidência da República em o mercado asiático (316 milhões) e o restante para a Europa Ociden-
-gusa produzido em Minas Gerais. 46,2 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas – o equiva- março de 1974, sucedendo ao general Emílio Garrastazu Médici, co- tal (200 milhões), a Europa Oriental (55,5 milhões) e as Américas
Em 1974, último ano de sua primeira gestão, fundou a lente a 81% das exportações minerais brasileiras e a 5,5% da pauta nhecido pelo controle geral nos gastos e pela intolerância política. O (38,2 milhões). Seu mercado incluía 63 clientes em 26 países.
de exportações do país. governo Geisel, que durou até 1979, ficou marcado pelo início do Em 1978, houve uma ligeira recuperação das vendas da Vale no
Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra), em parceria com inves-
Um fato novo no período foi o reaquecimento das vendas para processo de abertura política no país. No campo econômico, o presi- mercado internacional (41,9 milhões de toneladas). Novos contra-
tidores japoneses. Naquele mesmo ano, a Vale se transfor- os Estados Unidos, 88% a mais do que em 1973. Isso se deu porque dente investiu na infraestrutura, tendo assinado o controverso acor- tos foram firmados com China (fornecimento de 250 mil toneladas
maria na maior exportadora de minério de ferro do planeta. o governo americano havia suspendido as atividades no complexo do nuclear com a Alemanha e direcionado vultosas quantias para a de carga experimental e acerto de venda de 4 milhões de tonela-
Depois de deixar a presidência, Mascarenhas – um en- de pelotização da Reserve Mining devido aos seus efeitos poluentes. construção da hidrelétrica de Itaipu. Durante sua passagem pela das entre 1979 e 1980), 10 Polônia, Argentina (venda de pelotas por
genheiro formado pela Escola Politécnica da Bahia – assu- Ainda em 1974 foram firmados contratos de longo prazo com EUA, Presidência da República – e especialmente junto ao ministro de Minas cinco anos), Tchecoslováquia, Portugal (prorrogação por mais cin-
miu a direção da Companhia Bozano, Simonsen Comércio Romênia, Polônia e Alemanha Oriental, envolvendo cerca de 70 mi- e Energia, Shigeaki Ueki –, a questão da mineração foi tratada como co anos de contrato de venda de minério de ferro) e França (pror-
e Indústria, onde ficou até 1983. No ano seguinte, retornou lhões de toneladas de minério. negócio de Estado, o que se perceberia no desfecho da pendenga rogação do contrato com a Usinor, também por mais cinco anos).
Mesmo com as condições adversas no mercado mundial, agra- judicial da CVRD com a US Steel em torno do Projeto Ferro Carajás, No mesmo ano de 1978, o Japão, embora mantendo uma capa-
à Companhia Vale do Rio Doce como seu diretor comercial.
vadas pelo aprofundamento da crise siderúrgica, a CVRD encerrou em 1976, e no trato do comércio exterior do minério de ferro. cidade ociosa de 30% no seu parque siderúrgico, retomou seu tra-
Em maio de 1985, tornou-se vice-presidente de Eliezer Ba- o ano de 1975 com resultados bastante positivos. O modesto cresci- A visita do presidente Geisel ao Japão, em meados de 1976, rea- dicional ritmo de compras junto à CVRD. A novidade era a inclusão
tista e, em abril do ano seguinte, foi novamente empossado mento no volume físico das exportações (3,5% em relação ao ano nimou as perspectivas comerciais da CVRD. O segundo e o tercei- de uma “cláusula de flexibilidade”, concedendo às siderúrgicas ja-
como presidente. anterior) foi contrabalançado por um aumento de 36% no que con- ro contratos de vendas a longo prazo com usinas japonesas, que ponesas mais liberdade para modificar o volume de importações
acordado para além da margem, já consagrada, de 10%.
7 - A crise siderúrgica não foi um mero reflexo da recessão econômica mundial. Excesso
de capacidade, pressões de custos e protecionismo foram outros fatores que contribuí- 8 - Em 1975, Brasil, Austrália, Suécia e Canadá, juntos, eram responsáveis por 64% do 10 - Diante da pequena capacidade dos portos da China, a CVRD entrou em acordo com
1 - Sobre o tema, ver “Mascarenhas, Raimundo”, DHBB, vol. 3, pp. 3.625-3.626 e ram decisivamente para o fraco desempenho das potências siderúrgicas e para o deslo- comércio transoceânico de minério de ferro. a Kawasaki Steel, que permitiu que o minério brasileiro transportado em grandes navios
revista Exame – “Conheça todos os presidentes da história da Vale”. Publicado em camento geográfico da produção de aço para países emergentes, entre os quais o próprio 9 - Em 1970, o preço médio da tonelada de minério de ferro era de US$ 7,3, chegando aos da Docenave fosse desembarcado nas suas instalações portuárias da Ilha de Mindanao
05/04/2011. Brasil, mais Argentina, México, Irã, Iraque, Coreia do Sul e Filipinas. Ver Relatório de US$ 8,08 em 1973, US$ 9,74 em 1974 e US$ 12,92 em 1975. Ver Abranches, Sérgio e Dain, (Filipinas), onde os chineses poderiam carregar seus pequenos navios. A contrapartida
2 - Ver Tabela no 1 Diretoria 1977, n. p. Sulamis, A empresa estatal no Brasil, 1978, p. 71. dessa negociação foi a importação, pela Petrobras, de petróleo chinês.
146 Além da exportação de sua própria produção, a Vale do Rio Doce, Foram fundamentais os investimentos na constituição de frota pró-
por meio da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e de suas ins- pria da Docenave, a subsidiária de navegação da CVRD. A inexis-
talações portuárias, escoou a produção da Ferteco e da Samitri, tência de sistemas logísticos eficientes e coordenados resultava em
conforme detalhado no capítulo 4. A expansão proporcionada pe- uma elevação de custos operacionais que reduziam a competitivi-
los acordos de quase uma década atrás com essas empresas gerou dade das empresas. As cadeias mundiais de suprimento apostavam
bons resultados. Os números disponíveis para os anos 1974-1978, em sistemas logísticos que potencializassem o posicionamento
englobando as exportações das duas empresas, somaram 33,1 mi- geoestratégico, ultrapassando o efeito periférico da logística do-
lhões de toneladas. Os mercados atendidos pela Samitri foram a méstica. Nesses sistemas, a liderança era entregue aos países que
Europa Ocidental (França, Bélgica, Alemanha Ocidental e Luxem- possuíssem uma estrutura de planejamento, regulamentação e in-
burgo) e a América do Norte (Estados Unidos e Canadá). O miné- vestimentos que efetivasse uma rede estratégica de infraestrutura
rio da Ferteco foi comercializado basicamente para a Alemanha logística, a partir dos centros de produção com adição permanente
Ocidental. Em 1977, a CVRD deu início também à exportação de de valor na direção dos mercados de consumo.
pellets produzidas por suas coligadas, embarcando cerca de 500 Consciente dessa estratégia competitiva, já em 1970 a Docenave
mil toneladas. No ano seguinte, essas vendas atingiram um total recebeu seus primeiros nove navios, com capacidade total de trans-
de 1,9 milhão de toneladas. porte de 570 mil TPB (tonelagem por porte bruto). Essa frota, cons-
O peso médio das vendas da CVRD no total do minério de ferro tituída por graneleiros e navios do tipo ore-oil, foi ampliada nos
e pelotas comercializado pelo Brasil entre 1968 e 1978 foi ligeira- anos seguintes, atingindo, em 1976, um total de 15 navios, com uma
mente superior ao observado no período 1961-1967, passando de capacidade de carga de 1,261 milhão TPB, incluindo o ore-oil carrier
73,5% para 74,9%. Não foi apenas a Vale – de longe a maior expor- Docecanyon – capaz de transportar 269,5 mil TPB –, entregue pelo
tadora brasileira de ferro – que registrou um enorme incremento estaleiro japonês Nippon Kokkan, em 1973.
no volume do seu comércio externo. As três maiores mineradoras Outra medida importante foi a renovação, em 1968, do convênio
de ferro estrangeiras em operação no Brasil – a MBR, a Samitri e firmado com a Petrobras, em que a Docenave se comprometia a
a Ferteco – também apresentaram um crescimento extraordinário transportar, em seus navios que retornavam do Japão, grandes to-
em suas vendas para o exterior em decorrência da nova divisão nelagens de petróleo importado do Oriente Médio, assegurando
das especializações produtivas entre países desenvolvidos e países fretes favoráveis nos dois sentidos. Da mesma forma, foi assinado
emergentes. A primeira respondeu por aproximadamente 12% do convênio com a Usiminas, em que a Docenave se responsabilizava
minério de ferro exportado pelo país no período, cabendo às outras pelo transporte do carvão metalúrgico importado pela siderúrgica.
duas pouco mais de 5% cada uma. A prática do freight sbaring (transporte combinado de diferentes ti-
pos de carga, de acordo com o itinerário) seria intensificada nos
A frota de navios e o comércio internacional anos seguintes. A Companhia aumentava sua competitividade e
O excelente desempenho comercial da Vale do Rio Doce no mer- ajudava a desenvolver o sistema industrial brasileiro.
cado externo no período 1968-1978, sobretudo nos primeiros anos A estrutura de comercialização montada no exterior estava ba-
da década de 1970, pode ser atribuído, em grande medida, ao es- seada em três pontos principais: a Itabira Eisenerz – subsidiária su-
forço da Companhia na adequação da infraestrutura de transpor- cedida pela Rio Doce Europa (RDE), criada em janeiro de 1974, com
Vista aérea do Terminal
te marítimo às metas de exportação, cada vez mais ambiciosas. sede em Bruxelas, responsável pela comercialização da produção Marítimo de Tubarão (ES).
Navio Docecanyon
no Terminal Marítimo
de Tubarão (ES).
Entre 1942 e 1949, a Companhia retiraria da mina aproximada- Essa preocupação levou a CVRD a intensificar, ao longo da déca-
mente 1 milhão de toneladas de hematita compacta.18 Durante as da, suas compras de minério dos pequenos produtores da região de
décadas que se seguiram, a região de Itabira continuaria a ser a Itabira19 e a buscar ampliar seus direitos minerários dentro e fora
principal fornecedora de minério de ferro de alto teor da CVRD. Mas do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, ou mediante a solicita-
havia os resíduos, a possibilidade de esgotamento das jazidas e os ção de novas concessões ao Departamento Nacional de Produção
depósitos de itabirito, cujo teor de ferro era menor – a mineradora Mineral (DNPM), ou por meio da incorporação de reservas de tercei-
teria que ir ainda mais fundo em Cauê. ros. Em 1970, a CVRD adquiriu 520 mil toneladas dos pequenos mi-
As novas instalações da Mina do Cauê foram inauguradas em neradores de Itabira, volume que foi progressivamente se amplian-
5.4 Cauê: a maior mina do Ocidente 1973 e já neste ano a CVRD iniciou a comercialização de sua produ- do até chegar a 6,9 milhões de toneladas em 1975, o equivalente a
ção de concentrados (3,7 milhões de toneladas), cuja maior parte foi 13,2% de sua própria produção.
na década de 1970
exportada. A Mina do Cauê – espécie de símbolo de desenvolvimento Dessa política resultou a implantação do Projeto Guanhães, para
da CVRD – tornou-se, então, a maior mina do Ocidente. prospecção e pesquisa dos depósitos ferríferos da região de Itama-
No outro extremo do complexo – as minas –, a produção também
O ano de 1973 marcou também a implantação do Projeto Conceição, randiba (MG); do Projeto Porteirinha, para a avaliação e eventual
exigia novas tecnologias, especialmente para o aproveitamento dos
para o aproveitamento integral dos depósitos ferríferos das minas aproveitamento dos jazimentos localizados na região do Rio Pardo,
minérios de baixo teor. Em 1969, a Companhia iniciou a construção
156 de Conceição e Dois Córregos. O empreendimento compreendia a ao norte de Minas Gerais; e do Projeto Piçarrão, para a exploração 157
de uma usina para a recuperação dos depósitos de itabirito da Mina
construção de novas instalações mecanizadas de tratamento do da mina de mesmo nome adquirida pela Companhia em 1967, no
do Cauê, que permaneciam até então inexplorados devido a seus
minério nas duas minas, de um sistema único de britagem terciá- município de Nova Era (MG), com reservas avaliadas em 20 milhões
menores teores de ferro. A nova Usina do Cauê foi projetada para
ria e peneiramento junto à Mina de Conceição, além de uma planta de toneladas de minério lavrável. O Projeto Piçarrão compreendia
produzir 9 milhões de toneladas anuais de sinter feed e pellet feed
de classificação a seco e a úmido dos finos de hematita, e de uma ainda a instalação de uma usina para a fabricação de sinter feed.
(concentrados de alto teor) a partir da concentração eletromagné-
usina para concentração dos finos de itabirito, ambas na boca da Para viabilizar o escoamento de sua produção, foi construído um
tica das frações de minérios inferiores a 1 mm. Visando ao aprovei-
mina. O Complexo de Conceição, com capacidade para processar ramal ferroviário de 17 quilômetros de extensão, ligando a mina à
tamento total da lavra, foram iniciadas, simultaneamente, as obras
28 milhões de toneladas anuais de itabirito e hematita, e gerar 24,2 estação da EFVM de Desembargador Drumond.20
para a instalação, junto à mina, de uma estação de britagem, penei-
milhões de toneladas por ano de produtos como blue dust, pellet Novas frentes foram abertas pela Companhia com a aquisição,
ramento e classificação dos finos de hematita, alimentada também
feed, sinter feed e granulados, seria inaugurado no início de 1979, em 1976, do controle acionário das mineradoras Caraça Ferro e
pelas frações granuladas de itabirito.
com investimentos da ordem de US$ 240 milhões. Aço S. A. (99%), proprietária da Mina do Caraça, na região de Santa
A Mina do Cauê vem sendo lavrada desde a fundação da CVRD,
Sabia-se que o grande diferencial estava no aproveitamento dos Bárbara (MG), com reservas estimadas em 42 milhões de tonela-
em 1942 – ainda que sondagens tenham sido feitas na década de
ultrafinos (até então considerados rejeitos) pela pelotização, e, assim, das, e Minas d’El Rey Dom Pedro (51%), detentora dos direitos de
1920, sob a orientação de Percival Farquhar. O projeto da lavra,
a Companhia decidiu pela implantação, junto ao Porto de Tubarão, exploração das reservas de ferro e ouro de Mariana (MG), tendo
prioridade nos tempos iniciais da Companhia, foi detalhadamen-
de duas unidades industriais para a fabricação de pelotas. como sócios, nessa empresa, o grupo sul-africano Gold Fields of
te exposto pelo primeiro presidente da CVRD, Israel Pinheiro, em
A primeira usina de pelotização da CVRD, com capacidade nomi- South Africa (30%) e o grupo nacional privado Hugo Gouthier (19%).
palestra no Clube de Engenharia em agosto de 1943: “As instala-
nal de produção de 2 milhões de toneladas de pelotas por ano, foi No mesmo ano, a CVRD obteve os direitos minerários sobre as jazi-
ções projetadas para extração, britamento, transporte e embar-
inaugurada em 1969. Nesse mesmo ano, baseando-se em pesquisas das de São Luís, Tamanduá e Almas, localizadas nas proximidades
que do minério nos vagões de Vitória a Minas serão modernas e
que apontavam para o crescimento da demanda mundial do produto, de Fazendão (MG), pátio ferroviário da EFVM.
perfeitas. A instalação inicial ficará na cota de 1.200 metros, isto
dado o seu melhor rendimento nos altos-fornos e graças à difusão de A Mina do Caraça iniciou suas operações, ainda em 1976, com
é, 170 metros abaixo do ponto culminante do Pico do Cauê. Nessa
novos processos siderúrgicos baseados na redução direta do minério, 1,2 milhão de toneladas. A produção subiu para 1,5 milhão de to-
cota será feito o primeiro ataque, estimando-se em 80 milhões de
a Vale iniciou a construção de sua segunda unidade, dimensionada neladas em 1977 e para 2 milhões em 1978. A Minas d’El Rey come-
toneladas o depósito compreendido entre as cotas 1.370 e 1.200.
para produzir 3 milhões de toneladas anuais, inaugurada em 1973. çou a produzir em 1977 (800 mil toneladas). Diante da inexistência
Na cota 1.200 será feita uma plataforma suficientemente ampla
de ligação ferroviária entre a mina e a linha da CVRD, sua produ-
para a instalação do aparelhamento inicial e praça para a mano-
Esgotamento de jazidas ção era escoada pelo Porto do Rio de Janeiro. Ao final da década, no
bra dos caminhões. Dessa plataforma partirá uma estrada que
Todas essas iniciativas para otimizar a produção das minas de Itabira entanto, tendo em vista o constante aumento dos custos do frete
contornará o pico, possibilitando os ataques que serão realizados
esbarravam, porém, em uma séria limitação. Se fosse mantido o (que em 1977 já representavam 70% do valor das exportações), a
por meio de túneis ou diretamente nas frentes estabelecidas [...]
ritmo das operações extrativas, as reservas de alto teor dessas jazi- CVRD decidiu paralisar as atividades da empresa, consideradas
Na zona em que foram feitas as galerias, os cálculos deram uma
das estariam totalmente esgotadas ao final do século. Era funda- antieconômicas, mantendo as jazidas como reserva estratégica.
cubação de 173 milhões de toneladas de minério exportável, isto
mental que a CVRD buscasse, a curto prazo, novas fontes de forne-
é, hematita compacta com teor de ferro metálico que oscila entre
cimento de minério.
68 e 70 por cento.” 17
19 - Para um acompanhamento ano a ano das aquisições de minério da CVRD, ver Relató-
18 - Pimenta, Dermeval. Exportação de minério de ferro pelo Vale do Rio Doce. Universidade de rios de Diretoria, 1968-1978.
17 - Ver “O Brasil e seu minério de ferro”. O Observador Econômico e Financeiro, no 117, out., São Paulo. Escola Politécnica. Geologia e Metalurgia. Boletim no 7. Publicação do Centro 20 - Sobre os novos projetos da CVRD para exploração de minério de ferro, ver Fernandes,
1945, pp. 50, 64. Moraes Rego, out. 1949, p. 66. Francisco do Rego (org.), op. cit., vol. 1, pp. 64-73.
Vale Nossa
70 anosHistória Vale Nossa História
Em agosto de 1974, depois de 13 anos de negociações entre a Corporation (EDC), o The Chase Manhattan Bank, o Chemical Bank,
CVRD e a Acesita – Aços Especiais de Itabira, foi constituída a Itavale o Commerzbank AG, o grupo austríaco Vereinigte Oesterreichische
Ltda., joint venture controlada pela CVRD (51%) para viabilizar a ex- Eisin-und Stahlwerke Ag (VOEST), o The Mitsubishi Bank Ltd., o
ploração das jazidas de Periquito e Chacrinha, na região de Itabira Nissho-Iwai Co. Ltd., a Mitsui & Co. Ltd. e o Banco Interamericano
(MG), pertencentes à Acesita. Pelo acordo de acionistas, ficou esta- de Desenvolvimento (BID). Entre as agências de financiamento na-
belecido que a CVRD deveria iniciar imediatamente a lavra da Mina cionais, incluem-se o então Banco Nacional de Desenvolvimento
de Periquito, mediante um contrato de arrendamento, ficando res- Econômico (BNDE),22 o Banco do Brasil e o Banco de Desenvolvi-
ponsável também pela comercialização do minério. Esse contrato mento de Minas Gerais.
tinha validade de três anos, podendo ser prorrogado no caso de ser
necessário mais tempo para que a Itavale completasse os estudos
de suas reservas e concluísse o plano definitivo de seu aproveita-
mento. As atividades mineratórias na jazida de Periquito foram ini- TABELA 4
ciadas em 1976, com a extração de 3,6 milhões de toneladas de mi- PRODUÇÃO DA CVRD E SUA PARTICIPAÇÃO NA
nério de ferro, produção que se elevaria para 3,8 milhões em 1977 e PRODUÇÃO NACIONAL DE MINÉRIO DE FERRO
158 5,9 milhões em 1978. (EM MILHÕES DE TONELADAS MÉTRICAS) 159
O segundo projeto buscava o aproveitamento da Mina de Capanema,
no município de Ouro Preto (MG), cujos direitos de exploração per- PRODUÇÃO PRODUÇÃO CVRD/BRASIL
tenciam à Kawasaki Steel Corporation. Para levar a cabo o empre- ANOS
CVRD BRASIL %
endimento, foi constituída, em outubro de 1976, a Mineração Serra
1968 11.830 25.123 47,1
Geral (MSG), resultado da associação da CVRD (51%) com um grupo
de empresas japonesas liderado pela Kawasaki Steel.21 1969* 14.875 27.157 54,8
Para o tratamento do minério de Capanema, a CVRD deu início,
1970* 20.654 36.381 56,8
em 1977, ao Projeto Timbopeba, responsável também pela lavra e
pelo beneficiamento da produção da jazida vizinha de Timbopeba, 1971* 19.749 37.486 52,7
em Ouro Preto, com reservas estimadas em 110 milhões de tonela- 1972* 25.043 46.471 53,8
das de hematita e 50 milhões de itabirito, adquirida pela Companhia
em 1967. 1973* 30.304 55.020 55,1
As minas tradicionais do Cauê, de Conceição e de Dois Córre- 1974* 42.675 91.488 46,6
gos, somadas à abertura de novas frentes de mineração no estado,
1975 52.227 108.162 48,3
possibilitaram um crescimento acelerado da produção no decorrer
dos anos 1970. Do conjunto das unidades de mineração da Com- 1976 49.883 107.395 46,4
panhia no Quadrilátero Ferrífero foram extraídas, na década, 390 1977 42.796 100.817 42,5
milhões de toneladas de minério, que deram origem a vários tipos
de produtos. Com a expansão de sua produção, pellet feed e sinter 1978 45.000 103.896 43,3
feed já representavam, em 1977, 13,8% e 36%, respectivamente, do
total da produção da Vale do Rio Doce. Relativamente à produção * De 1969 a 1974, o volume de exportações da CVRD foi superior ao nível de produção
nacional de minério de ferro, observava-se, porém, um decréscimo alcançado, o que se explica pelo aumento da utilização dos estoques de finos acumu-
lados pela Companhia. Fontes: Fernandes, Francisco Rego (org.), op. cit., vol. 1, p. 176;
da participação relativa da CVRD, que, após alcançar uma propor-
AEB 1978, p. 418.
ção de 56,8% em 1970, chegaria a 48,3% em 1975 e 43,3% em 1978,
conforme se pode verificar na Tabela 4.
Os investimentos feitos pela CVRD para expandir seu complexo
mina-ferrovia-porto foram viabilizados, em grande medida, por fi-
nanciamentos e empréstimos levantados junto a várias entidades
internacionais, notadamente o Eximbank, a Export Development
160 5.5 A chegada a Carajás sedimentares apresentam potencialidade para uma grande varieda- rás de pesquisa para a qualificação do minério paraense. As serras de 161
de de depósitos minerais. Esse tipo de formação é propício ao apare- Carajás começavam a ser definitivamente mapeadas – ou divididas.
Reza a lenda que, durante visita à Serra dos Carajás (PA), Zhao cimento e à concentração de ferro, manganês, alumínio, cobre, zin- Embora a US Steel detivesse legalmente o direito preferencial para
Ziyang,23 primeiro-ministro da China, após dois pulos sobre um co, níquel, cromo, titânio, fosfato, ouro, prata, platina, paládio, ródio, pesquisas nas jazidas descobertas, suas pretensões de explorar sozi-
monte de minério de ferro aflorando na superfície, teria dito aos estanho, tungstênio, nióbio, tântalo, zircônio, terras-raras, urânio e nha as riquezas minerais de Carajás não foram bem-vistas pelo go-
geólogos da CVRD: “Seus antepassados devem ter agradado a Deus diamante. Um autêntico El Dorado do século XX. verno brasileiro. Amparando-se nas restrições estabelecidas pelo Có-
para que Ele lhes tenha dado tanto. Tenho inveja de vocês.” Ziyang, Em Carajás – e isso continua a ser descoberto no decorrer dos digo de Mineração quanto ao número de autorizações de pesquisas
que esteve no Brasil entre 30 de outubro e 4 de novembro de 1985,24 anos –, essa concentração e essa variedade de depósitos minerais permitidas a uma mesma empresa, o DNPM manteve paralisado até
era o segundo homem na hierarquia do governo chinês e o respon- se dá em níveis jamais imaginados. Coisa de quem, como definiu o meados de 1969 o processo de concessão de alvarás na região. Foi
sável pela internacionalização econômica do país. primeiro-ministro chinês, “agradou os deuses”.25 quando o governo conseguiu negociar com a companhia norte-ame-
A Serra dos Carajás é um complexo de cristas e chapadas que A CVRD chegara ao Pará algum tempo depois que o geólogo Breno ricana a participação da CVRD, na condição de sócia majoritária, em
se elevam de 300 a 400 metros acima do terreno, a uma altitude de dos Santos deu as primeiras marteladas no alto da Serra dos Carajás, um projeto unificado de pesquisa mineral abrangendo uma área de
cerca de 660 metros do nível do mar. Localizada entre os rios Ita- revelando ao mundo todo o potencial da região. Ainda que tivesse 160 milhões de hectares. O acordo foi selado em abril de 1970, com a
caiunas e Parauapebas, afluentes do Tocantins, é coberta por flores- feito a descoberta, e já passados três anos, a Companhia Meridional constituição da joint venture Amazônia Mineração S. A. (AMZA), inte-
tas equatoriais em quase toda a sua extensão. Na região do alto da de Mineração, subsidiária da US Steel, por motivos diversos, ainda grada por capitais da CVRD (51%) e da Companhia Meridional de Mi-
serra são encontradas pequenas lagoas que, à primeira vista, pode- não havia começado a comercialização dos minérios da área. A dispu- neração (49%). A AMZA implantaria o Projeto Ferro Carajás.
riam indicar a presença de calcário, mas que na formação geológica ta pelo controle das reservas de minério de ferro de Carajás entre a Ainda em 1970, a AMZA iniciou o levantamento geológico de suas
do lugar estão ligadas a reservas de ferro. E ainda há manganês, estatal brasileira e a empresa descobridora norte-americana consti- reservas, concluído em 1972, que iria revelar a existência de cer-
cobre, ouro, níquel e muito mais. tui um capítulo importante da história da CVRD nos anos 1970. ca de 17,9 bilhões de toneladas de minério com teores médios de
No mundo, a maioria dos depósitos minerais metálicos está si- Como já se viu, as pesquisas conduzidas pela Companhia Meri- 66,1% de ferro. Diante de tais resultados, foram iniciados imedia-
tuada em terrenos pré-cambrianos, pertencentes ao mais longo pe- dional na Serra dos Carajás, que resultaram na descoberta do poten- tamente os estudos de viabilidade técnico-econômica de explora-
ríodo de formação da crosta terrestre, do início da solidificação do cial ferrífero da região, tiveram como objetivo original a descoberta ção das jazidas, a cargo da Valuec Serviços Técnicos Ltda., 26 assim
planeta até 570 milhões de anos atrás. As condições físico-químicas de novas jazidas de manganês. Antes da Meridional, a Union Carbide, como as negociações junto ao DNPM para a obtenção do direito de
nesse período eram bastante diferentes das de hoje, com a crosta em 1966, descobrira depósitos de manganês na Serra do Sereno (PA). lavra na região.
bem menos espessa, o que propiciava a ascensão de metais das zo- A princípio, a Meridional não demonstrou interesse na descoberta do As conclusões desses estudos foram apresentadas em maio de
nas mais profundas da Terra. ferro, já que seu objetivo era o manganês. Breno dos Santos conta 1974 e, neste mesmo ano, o DNPM autorizou a lavra das jazidas.
Na Amazônia, as áreas de pré-cambriano correspondem a cer- que teve de levar seu chefe, Gene Tolbert, pessoalmente até o local O Projeto Ferro Carajás, orçado em US$ 930 milhões, propunha-se a
ca de 40% do seu território. Suas sequências vulcano-sedimentares, de sua descoberta para que ele levasse fé. Aí a coisa mudou. extrair 12 milhões de toneladas anuais de minério de ferro a partir
intrusões graníticas, derrames vulcânicos ácidos e intermediários, Não tardou a requisitar da matriz americana o envio de técnicos de 1979 e alcançar uma produção de 50 milhões de toneladas por
complexos alcalino-ultrabásicos e básico-ultrabásicos, e coberturas especialistas em ferro para avaliar a capacidade da região. De um ho- ano até 1985. O destino do minério seria, prioritariamente, os mer-
tel na Zona Sul do Rio de Janeiro, transformado em escritório central cados norte-americano, europeu e japonês. Para o escoamento do
da empresa, foram encaminhados ao DNPM vários pedidos de alva-
23 - Zhao Ziyang foi primeiro-ministro da China entre 1980 e 1987 e secretário-geral do
Partido Comunista de 1987 a 1989. 26 - Essa empresa de engenharia e planejamento foi constituída como subsidiária da
24 - Ver revista Veja. “Visita pioneira”, edição 896, 6/11/1985, pp. 48-53. Jornal da Vale. “Vale 25 - Veja Santos, Breno Augusto dos. “Recursos minerais da Amazônia”. Estudos Avançados, Rio Doce Engenharia e Planejamento (RDEP), empresa controlada pela CVRD, e da USS
negocia com China e URSS”, no 86, nov. 1985, pp. 3, 5. vol. 16, no 45, maio-agosto, São Paulo, 2002. Engineers and Consultants, subsidiária da US Steel.
166 Apesar desses obstáculos, a CVRD insistiu na viabilidade econô- mostravam a necessidade de atuação do governo brasileiro junto às 167
mica do projeto e na necessidade de sua implementação imediata, comunidades indígenas, contribuindo para que o Banco Mundial –
com base em dois argumentos. Em primeiro lugar, a impossibilidade um dos principais financiadores do Projeto Grande Carajás31 – con-
de atender às crescentes demandas das siderúrgicas por finos de dicionasse a concessão de novos recursos para a continuidade do
alto teor (sinter feed) a partir exclusivamente da produção do Quadri- Projeto. Com isso, o Banco Mundial assumia indiretamente a sua
látero Ferrífero, cujas reservas mais ricas se encontravam em fase supervisão, representando os interesses dos demais credores – sua
de exaustão. O aproveitamento das reservas de menores teores, por chancela era a garantia do sucesso da implantação do empreendi-
sua vez, exigiria novos e crescentes investimentos no beneficiamen- mento.32 Desde então, o financiamento ao governo brasileiro estaria
to. Já o minério de Carajás, de alto teor de ferro, teria colocação cer- dependente das ações governamentais que garantiriam a sustenta-
ta no mercado internacional. bilidade dos povos indígenas.33
Em segundo lugar, a CVRD fazia um diagnóstico otimista das pers- Ocupar a região – com moradia, gente, comércio e infraestrutura
pectivas do mercado, prevendo o reaquecimento das vendas a partir básica – era fundamental para o sucesso do projeto. A Amazônia
de 1985. Naquela época, pensava-se que a produção de Carajás, por oriental era considerada uma região de difícil integração, quase im-
sua excelente qualidade, permitiria atender às novas demandas e penetrável. Por essa época, já haviam sido descobertas na região
aos mercados já abastecidos pelas minas do Sistema Rio Doce, pre- importantes reservas de bauxita, manganês, cassiterita, cobre, ní-
servando-se as jazidas de Minas Gerais para o abastecimento prefe- quel e ouro, cujo aproveitamento poderia ser viabilizado conjunta-
rencial do parque siderúrgico brasileiro. mente, utilizando-se a infraestrutura do Projeto Ferro Carajás.
Em fevereiro de 1978, convencido da relevância do empreendimen-
A Província Mineral de Carajás to, o Conselho de Desenvolvimento Econômico autorizou as obras da
Para tirar do papel o Projeto Ferro Carajás, Eliezer Batista, então pre- Estrada de Ferro Carajás, iniciadas em julho seguinte, com a constru-
sidente da Vale, precisava do apoio, entre outros, do Banco Mundial, ção de 82 quilômetros. A implantação do projeto, contudo, só adqui-
na época presidido por Robert McNamara, ex-secretário de Estado riria ritmo mais intenso a partir de 1979, no governo João Figueiredo.
do governo de John Kennedy. Eliezer definia McNamara como um Carajás, a partir daí, passaria a ser o projeto prioritário da Vale
dos sujeitos mais inteligentes e fascinantes que conheceu. “Nin- do Rio Doce.
guém o convencia com uma conversa de vendedor de tapetes”, diz
ele. “Como banqueiro ele queria retorno do investimento.” Eliezer
pessoalmente checava cada ponto, cada dado do projeto e foram
31 - Além do Banco Mundial, com US$ 305 bilhões, participaram também do financia-
necessários quatro anos antes de apresentá-lo. Mas em três reuni- mento do Projeto Ferro Carajás o BNDE, a Comunidade Econômica Europeia, o Japão e,
ões com o americano veio o sinal verde. No entanto, era insuficiente mais tarde, bancos comerciais americanos e a URSS. Ver mais sobre o tema em Antonini,
Giorgio de. “O Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7) e a
para fazer o projeto seguir em frente.30
globalização da Amazônia”. Revista Ambiente & Sociedade, vol. XIII, no 2, pp. 299-313, jul.-dez.
Notícias veiculadas tanto pela imprensa brasileira quanto pela 2010 (Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/asoc/v13n2/v13n2a06.pdf>).
estrangeira, provenientes de pesquisadores e organizações não go- 32 - Sobre esse aspecto, ver Marguilis, Sérgio. “O desempenho do governo brasileiro e do
vernamentais engajados na defesa dos direitos dos povos indígenas, Banco Mundial com relação à questão ambiental do Projeto Ferro Carajás”. IPEA, agosto de
1990. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/td_0193.pdf>.
33 - Ver CETEM – Centro de Tecnologia Mineral.
ineral.. Parauapebas (PA): a mão de ferro do Brasil
30 - ISTOÉ Dinheiro, “As 7 lições de Eliezer”, edição 350, de 19 de abril de 2004. na implantação do Programa Grande Carajás.
170 contratação de geólogos, geoquímicos e geofísicos estrangeiros, a pecção, definidos em função dos projetos programados: Amazô- Entre as principais realizações desse distrito no período, destacam- Entre as principais realizações do Deteg nos anos 1970 destacam- 171
fim de dar treinamento à equipe brasileira. nia, com jurisdição sobre a Região Norte, e o Maranhão, com sede -se a descoberta, em 1972 e 1973, de importantes jazidas de bauxita -se, além dos projetos de capacitação tecnológica para o aproveita-
Seus objetivos iniciais foram definidos em seu I Plano Trienal de em Belém; Centro-Oeste, abarcando os estados de Goiás, Mato em Paragominas, Almeirim e Serra do Jutaí, no Pará, ampliando as mento integral das reservas ferríferas da Companhia no Quadrilá-
Prospecção Geológica (1972-1975), que estabeleceu como priorida- Grosso e Piauí, sediado em Goiânia; Centro-Leste, cobrindo Minas perspectivas da CVRD para a implantação de um polo de produção tero Ferrífero, o desenvolvimento de processos para a concentração
de o trabalho com 14 minerais: bauxita, berilo, cassiterita, chum- Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, com sede em Belo Horizon- de alumínio no Norte do país; a localização, em 1974 e 1975, de da rocha fosfática e do minério de anatásio das jazidas de Tapira e
bo, cobre, cromita, fluorita, fosfato, manganês, níquel, ouro, titânio, te; e Leste, com sede em Salvador, para atuar na Região Nordeste. depósitos de cassiterita em Antônio Vicente, próximo a São Fidélis Salitre, e para o beneficiamento mecânico, metalúrgico e químico
tungstênio e zinco. A Vale queria mais do que a liderança mundial Além desses distritos, foram criados também escritórios em Ara- do Xingu (PA); os trabalhos de prospecção geológica realizados na dos depósitos de bauxita, níquel, manganês, cobre e ouro descober-
na produção de minério de ferro. xá (MG) e Cachoeiro do Itapemirim (ES). Em 1976, era instalado faixa Araguaia-Xingu (PA), onde foram detectadas ocorrências de tos na região de Carajás.
Eram pesados os investimentos na nova empresa. Na primeira me- em São Paulo o Distrito Regional do Sudeste, estendendo as ati- cobre, chumbo e zinco; o projeto de lavra experimental das jazidas Entre 1969 e 1973, a CVRD criou cerca de 30 subsidiárias, de capi-
tade dos anos 1970, a Docegeo congregava um total de 2 mil funcioná- vidades para o Sul do país. Esse distrito seria, no entanto, extinto auríferas encontradas em 1976 na Serra das Andorinhas, ao sul da tal bastante reduzido. Ao final da década, o grupo CVRD, incluindo a
rios. Apenas em Belém, durante os trabalhos em Serra Pelada (PA), na dois anos depois. Serra dos Carajás; além da comercialização do ouro extraído por AMZA, a Docegeo e esse conjunto de subsidiárias, havia conseguido
segunda metade dos anos 1970, a subsidiária reunia 1.200 empre- Ainda em 1973, segundo as recomendações do I Plano Nacional garimpeiros na região de Serra Pelada, vendido à Caixa Econômica ampliar significativamente seus direitos minerários, detendo 1.151
gados. Além de geólogos e cientistas, a companhia empregava pro- de Desenvolvimento (PND), foi aprovado o Plano Básico de Desen- Federal e ao Banco Central do Brasil.39 A partir de 1977, o Distrito alvarás de pesquisa de minerais metálicos e não metálicos em 13
fissionais ligados aos transportes aéreo, fluvial e terrestre (jipe, pi- volvimento Científico e Tecnológico do governo, que deu prioridade, Amazônia assumiu também os trabalhos de avaliação das jazidas estados, num total de 3.914 hectares.
cape ou caminhão). no âmbito do Ministério das Minas e Energia, a três projetos refe- de manganês e cobre, recém-descobertas na região de Carajás, exe- Como se perceberá nos próximos capítulos, a Docegeo seria, até
Os equipamentos geológicos produzidos no Brasil – sondas e rentes à mineração: a implantação do Centro de Pesquisas Tecnoló- cutados até então pela AMZA. 2003, a principal unidade de pesquisa da Companhia. A partir daí,
perfuradoras, por exemplo – tornavam-se obsoletos. A indústria gicas da CVRD, para dar apoio ao programa de prospecção geológica As atividades do Distrito Centro-Leste centraram-se na avaliação novos projetos e institutos tecnológicos seriam construídos, refor-
nacional ainda não acompanhava as inovações em maquinário de- da Docegeo; o estímulo ao programa de pesquisas do CPM da CVRD; das reservas de fosfato e titânio de Tapira e Salitre (MG) e na identi- çando e dando continuidade à semente plantada pelos geólogos no
senvolvidas em países como Canadá e Austrália. A Docegeo, então, e a implantação, na Ilha do Fundão (RJ), durante o biênio 1973-1974, ficação dos depósitos de calcário de Cachoeiro do Itapemirim (ES). fim dos anos 1960.
realizou um programa de aproximação entre essas empresas na- do Centro de Pesquisas da CPRM.38 Todos esses projetos buscavam O Distrito Sudeste, nos seus dois anos de existência, contribuiu com
cionais e o BNDE, que, por sua vez, criou, a partir dessa demanda, contribuir para a solução de um dos maiores entraves ao aumento a descoberta de algumas ocorrências promissoras de chumbo e zin-
um programa de financiamento para a atualização tecnológica da da produção mineral do país: a falta de domínio da tecnologia de co, as quais foram transferidas para os grupos Votorantim e Banespa,
maquinaria geológica brasileira.37 tratamento do minério. e com a avaliação das jazidas de cobre e molibdênio, detectadas em 5.7 Além do mundo de ferro
A estratégia de prospecção adotada era bastante abrangente, co- Em junho de 1976, em razão da necessidade de a CVRD centra- Caçapava do Sul (RS).
brindo a pesquisa de ocorrências ou depósitos já conhecidos, a par- lizar suas atividades de pesquisa mineral, até então desenvolvidas Em seu conjunto, o trabalho desenvolvido pela Docegeo ao longo Já no final dos anos 196040 havia na Vale o interesse em ampliar
tir de negociações com os titulares das concessões, da prospecção independentemente pelo CPM e pela Docegeo, foi constituída a dos anos 1970 permitiu à CVRD acrescentar ao seu patrimônio mi- e, principalmente, diversificar suas atividades para além da explo-
de novos depósitos próximos a jazidas conhecidas e da busca de Superintendência de Pesquisas Minerais (Supem), vinculada à es- neral mais de 35 novos depósitos, envolvendo 11 bens minerais em ração do minério de ferro. Seus dirigentes acreditavam, naquele
novas ocorrências em áreas virgens. A orientação, no entanto, era trutura administrativa da Companhia, incorporada como órgão 15 diferentes pontos do país. Finalmente, cabe registrar o importan- momento, que o caminho para o crescimento da Companhia não
priorizar os projetos dirigidos não apenas à procura de um deter- responsável pela pesquisa geológica e mineral em todos os seg- te trabalho desenvolvido pelo Departamento de Pesquisas Tecnoló- poderia se basear exclusivamente na venda do minério. A imple-
minado bem mineral, mas, de preferência, a uma associação deles. mentos, exceto o de minério de ferro. gicas (Deteg) da CVRD, instalado no Km 14 da BR-262, a 25 quilôme- mentação dessa política, no entanto, foi adiada até o final da
Para viabilizar sua atuação em âmbito nacional, a Docegeo Entre 1971 e 1978, a CVRD destinou à Docegeo cerca de US$ 82 tros de Belo Horizonte, que possibilitou o aproveitamento econômi-
constituiu, entre 1971 e 1972, quatro distritos regionais de pros- milhões, a maior parte dos quais foi aplicada no Distrito Amazônia. co dos depósitos minerais descobertos e estudados pela Docegeo.
40 - As fontes básicas utilizadas nesse estudo sobre a política de diversificação
diversificação de ativi-
dades da CVRD foram as seguintes: Fernandes, Francisco do Rego (org.), op. cit., vol. 1, pp.
37 - Luiz Antonio Godoy,, advogado, ex-diretor da Docegeo e da Fundação Vale, em 38 - Ver Presidência da República, Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, 39 - A autorização para a comercialização do ouro de Serra Pelada foi concedida 32-38; Abranches, Sérgio e Dain, Sulamis, op. cit., pp. 69-95; Relatórios de Diretoria, 1969-1978;
entrevista exclusiva à Vale. 1973/1974, pp. 75-76. exclusivamente à Docegeo pelo Governo Federal. Kury, Mário da Gama, op. cit., pp. 70-120.
174 175
Assim se explica a parceria da CVRD com grupos empresa- para esses projetos, 32,7% do total dos investimentos programa-
riais do Japão, seu principal consumidor de minério de ferro, dos para o ano de 1976. Em 1978, estes já contavam com recur-
para o desenvolvimento conjunto de projetos diretamente rela- sos superiores aos destinados à expansão da produção de miné-
cionados às necessidades da economia japonesa (alumínio, pe- rio de ferro. O setor mais privilegiado foi o de alumínio, que
lotas e celulose). recebeu 30% dos investimentos do programa de diversificação
Finalmente, a política de diversificação da CVRD vinha atender a em 1976 e 1978, pouco mais do que o Projeto Ferro Carajás.
interesses governamentais. Para o governo brasileiro, a experiência Essa tendência seria revertida, no final da década, em função
adquirida pela Companhia em mineração, transporte e comerciali- de fatores internos e externos. De um lado, a diminuição dos lu-
zação externa bem como seu elevado conceito empresarial fora do cros da CVRD com a venda de minério de ferro, decorrente da re-
país deveriam ser aplicados para captar investimentos estrangeiros tração da indústria siderúrgica mundial, reduziu a sua capacidade
e aumentar as exportações. de investimentos. De outro, o aprofundamento da crise econômica
Dessa forma, paralelamente à sua face de empresa voltada pri- internacional limitou a possibilidade de aporte de novos recursos
mordialmente para o lucro, a CVRD assumiu um papel estratégico do exterior, agravando a situação financeira da Companhia e com-
na implantação dos planos de desenvolvimento nacional e na exe- prometendo o desenvolvimento dos projetos de diversificação.
cução da política mineral brasileira.43 Diante dessa situação, a CVRD seria pressionada pelo governo, a
A partir de 1974, os projetos de diversificação adquiriram um partir de 1979, já no mandato do general João Figueiredo, a rever
peso crescente na programação de investimentos da Companhia. seu programa de investimentos, concentrando os recursos nos
Em seu orçamento para o quinquênio 1976-1980, foram previstos, empreendimentos de extração mineral (principalmente no Projeto
Ferro Carajás) e transferindo para o setor privado o controle de
43 - Ver Mascarenhas, Raymundo Pereira, “Conferência na ESG”, set. 1970, citado por parte de seus projetos. Visita de técnicos da Nippon Steel ao arquivo de
Abranches, Sérgio e Dain, Sulamis, op. cit., p. 84. testemunhos de minério da Mina do Cauê (MG).
CAPÍTULO 6
Tempos de Redefinição: Anos 1980
6.1 Os Sistemas Norte e Sul O novo presidente assumiu em março de 1985, com o país intei- 177
ro lutando contra uma inflação que, ao final do ano, tinha seu índi-
Carajás reinventou a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) a par- ce acumulado em 235,11%. Em fevereiro de 1986, Sarney, ao lado do
tir dos anos 1980. Mais: a descoberta das imensas jazidas minerais ministro da Fazenda, Dilson Funaro, anunciou o Plano Cruzado.
no Pará proporcionou um deslocamento no eixo da exploração do A medida alterava o nome da moeda nacional de cruzeiro para cru-
minério no Brasil. Desde então, toda a produção da Companhia – das zado e cortava-lhe três zeros. Atrelado à mudança da moeda, veio o
minas ao porto, passando pelas ferrovias – se apoiaria nos Sistemas congelamento dos preços. Donas de casa de todo o Brasil, transfor-
Norte e Sul. madas em “fiscais do Sarney”, passavam os dias nos supermercados
A produção cresceu, as exportações acompanharam seu ritmo, para coibir qualquer aumento no preço das mercadorias. Tanto Fi-
a diversificação era uma opção necessária e a palavra sustentabi- gueiredo quanto Sarney, por meio do III e do IV Plano Nacional de
lidade (traduzida, na época, em expressões como “defesa do meio Desenvolvimento,1 de 1979 e 1985, respectivamente, reservavam ao
ambiente” ou simplesmente “ecologia”) entrou de uma vez por to- Estado apenas a prestação dos serviços essenciais, destinando à ini-
das no vocabulário da mineradora. Havia trabalho, minério de ferro ciativa privada o papel central na retomada do crescimento econô-
em abundância e um mundo inteiro necessitando de mais aço. Se a mico. Nesse contexto, a Companhia, à época estatal, era uma exce-
CVRD trilhava uma trajetória de sucesso, os caminhos percorridos ção. Graças à descoberta do minério de Carajás, a Companhia pos-
pelo restante da economia do Brasil eram bem diferentes. suía um lastro estimado em pelo menos 18 bilhões de toneladas de
Os anos 1980 foram marcados por uma crise sem precedentes minério de ferro. E os empréstimos contraídos junto ao Banco Mun-
na economia brasileira. O país viu seu Produto Interno Bruto (PIB) dial, em 1979, indispensáveis para o início do projeto, tinham como
cair, principalmente nos anos de 1981 e 1983 – até então, as taxas garantia o minério encontrado ali. A CVRD redesenhava o mapa
de crescimento variavam de 6% a 7% ao ano. Em contrapartida, a mineralógico do mundo e ampliava – com a inauguração do Sistema
inflação atingiu índices estratosféricos. Ao mesmo tempo, a insta- Norte – uma nova via de exploração e exportação.
bilidade política – que culminou, em 1984, com a rejeição da pro-
posta, no Congresso Nacional, de eleições diretas para presidente O Sistema Norte
da República – afastava o investimento estrangeiro. Os números da Em 28 de fevereiro de 1985, 18 meses antes do prazo previsto, a
dívida externa extrapolavam a capacidade de armazenar zeros das Estrada de Ferro Carajás (EFC) entrou em funcionamento. A ferro-
calculadoras. via foi o caminho escolhido para escoar a produção do sudeste do
A saída de Figueiredo do governo, ao mesmo tempo que repre- Pará em direção ao mar, em São Luís (MA), por meio do Terminal
sentava o fim do governo militar que durara 21 anos, não traduzia Marítimo de Ponta da Madeira. Era o equivalente, na parte de cima
uma imediata retomada da democracia. Tancredo Neves, levado à do país, ao complexo que retirava o minério das minas de Itabira e
Presidência da República em eleição indireta por um Colégio Eleito- o levava ao mar, pelo Terminal de Tubarão, no Espírito Santo.
ral, em janeiro de 1985, faleceu antes mesmo de tomar posse.
Em seu lugar, assumiu José Sarney, oriundo da Aliança Renovadora
Nacional (Arena), que se transformou no Partido Democrático 1 - O IV PND também foi chamado de I PND da Nova República. Ver República Federativa
Social (PDS), em 1980 – partido que dera sustentação ao governo do Brasil, I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República. Este Plano nunca chegou a
ser implementado nem debatido pela sociedade. Curiosamente, foi aprovado no Congresso
militar durante todo o período. Nacional por decurso de prazo.
180 O projeto integrado (reunindo mina, usina, ferrovia e porto) ti- O projeto da mina era integrado ainda pelas instalações auxilia- 181
nha como objetivo uma produção global de 35 milhões de toneladas res – centro de manutenção, laboratório físico e químico, depósitos
anuais, a ser atingida em três etapas: a primeira, de 15 milhões, a de explosivos e de suprimento de água, energia e óleo – e pelo nú-
partir de 1986; a segunda, de 25 milhões, no ano seguinte; e a ter- cleo urbano de Carajás.
ceira, de 35 milhões, em 1987. O método de lavra a ser utilizado era Em 1983, estavam concluídas as obras das usinas de britagem
o a céu aberto, em bancadas de 15 metros de altura. O desmonte primária e secundária, bem como as instalações industriais e os
de minérios mais duros seria feito pela utilização de explosivos, e o equipamentos de lavra, beneficiamento e manuseio do minério.
dos mais moles e pulverulentos, por meio de escavação. O projeto Em dezembro de 1985, entrou em operação todo o complexo de
começava a avançar. beneficiamento de minério de ferro na mina N4E, com capacidade
Caminhões gigantes, que pesavam 154 toneladas, seriam em- de produção de 15 milhões de toneladas anuais. Um ano depois, a
pregados para o transporte do material do desmonte até a usina mina já operava a uma capacidade de 20 milhões de toneladas
de beneficiamento. O minério de Carajás seria beneficiado com anuais; as obras de engenharia civil haviam sido totalmente con-
operações de britagens primária e secundária, peneiramento se- cluídas e as correias transportadoras, as empilhadeiras e as recu-
cundário, britagem terciária, moagem e peneiramento terciário. peradoras já se encontravam montadas.
Dessas operações resultariam dois produtos: o minério granula-
do, com faixa granulométrica de 6,35 mm a 50 mm, 5 e o minério Estrada de Ferro Carajás: início
fino, denominado sinter feed, na faixa granulométrica entre 6,35 mm A Estrada de Ferro Carajás (EFC),7 dimensionada na época para o
e 0,15 mm. 6 Após o beneficiamento, o minério seria transportado transporte de 35 milhões de toneladas de minério de ferro por ano,
para o pátio de estocagem, com capacidade para 1,6 milhão de teria 892 quilômetros de extensão. Grandes obras de arte – como
toneladas, por duas linhas transportadoras em correias. Já no pá- pontes espetaculares – seriam construídas em número relativa-
tio, seria estocado por duas empilhadeiras com capacidade para mente reduzido, somando 62 pontes com um total de 11,3 quilôme-
10 mil toneladas por hora. O controle da qualidade e da quanti- tros de extensão (só a ponte sobre o Rio Tocantins tem 2,34 quilô-
dade do minério na fase de beneficiamento e estocagem seria metros). Havia pressa e necessidade de baratear a obra.
realizado por balanças de precisão localizadas nos principais O projeto incluía a instalação de 43 pátios de cruzamento.
transportadores de correias e por cinco estações automáticas de Os mais importantes estavam localizados no terminal ferroviário
amostragem. de Ponta da Madeira (situado no Km 0 da ferrovia) e no terminal
ferroviário de Carajás, onde os vagões seriam carregados com o mi-
nério. O terminal ferroviário de Ponta da Madeira serviria também
como centro de coordenação de todas as operações ferroviárias.
5 - Curso de mineração básico, Valer – Educação Vale, Módulo III, p. 15. Além de atender ao tráfego de trens de minério, a ferrovia faria o
6 - As análises do minério de ferro de Carajás foram feitas em laboratórios nacionais (Deteg transporte de passageiros, carga geral e dos trens de manutenção,
e Usiminas) e em laboratórios de grandes siderúrgicas japonesas, europeias e norte-ameri-
adquiridos para operação futura.
canas. Os testes constataram que o minério sinter feed apresentava altas taxas de produti-
vidade, necessitando de baixo consumo de combustível para o seu processamento. Quanto
ao minério granulado, concluiu-se pela sua adequação ao uso em redução direta nos altos-
-fornos. Ver a esse respeito Brasil Mineral, junho de 1989, p. 24. Sobre granulometria, Curso de 7 - O texto sobre a ferrovia foi baseado em Barros, José Raymundo Mendes, O Projeto Ferro
Mineração Básico, Valer – Educação Vale, Módulo III, p. 15. Carajás e outros bens minerais na área, p. 34.
182 O trem a ser utilizado na ferrovia seria composto por três fundamento de navios graneleiros de até 280 mil TPB e um canal 183
locomotivas diesel-elétricas de 3 mil hp e 160 vagões de miné- de acesso natural que permitiria o tráfego simultâneo, em ambos
rio, pesando cada um 120 toneladas e podendo carregar até 98 os sentidos, dos navios de grande porte. Além de ser dotada de boa
toneladas de minério de ferro. Para o transporte de 35 milhões visibilidade, a região encontrava-se fora de qualquer rota de tem-
de toneladas anuais, seriam necessários 68 locomotivas e 2.876 pestades. O terminal poderia ainda operar livre da ação das on-
vagões. Aquele era apenas o primeiro de uma coleção de trens. das praticamente durante todo o ano. Para proteger os atracado-
Em 2008, seria conhecido o maior do mundo, com 330 vagões e res das correntes das marés, seriam construídos dois molhes
3,5 quilômetros de extensão, com capacidade para transportar (espécie de quebra-mar), perpendiculares à linha de atracação.
40 mil toneladas de carga. Todas as operações do porto foram testadas em um modelo redu-
A exemplo da Estrada de Ferro Vitória a Minas, a Estrada de zido que até hoje apoia estudos da Companhia, sendo um dos
Ferro Carajás ganhou um importante papel de integração, trans- mais antigos em operação no mundo.
portando, além de minérios, produtos agrícolas, remédios e pas- Em 1985, iniciaram-se os testes de carregamento com o navio
sageiros. Cerca de 1.100 pessoas transitam, a cada viagem, por 25 Docepolo, envolvendo 127 mil toneladas de minério. O Terminal
municípios entre os estados do Pará e do Maranhão. Uma viagem Marítimo de Ponta da Madeira entrou em operação regular em ja-
completa demora aproximadamente 12 horas. O trem de passa- neiro de 1986. Nesse ano, foram embarcados 11,6 milhões de tone-
geiros começou a operar em 1986. ladas de minério de ferro.9
Em 1982 já estavam praticamente concluídas as obras de in- A implantação do Projeto Ferro Carajás absorveu milhares de
fraestrutura nos 892 quilômetros da estrada. Em novembro de trabalhadores contratados na própria região e em outras partes do
1983 foram entregues os primeiros 213 quilômetros da ferrovia, país. Em 1982, no auge das obras, havia 27.483 pessoas envolvidas
ligando Santa Inês a São Luís (ambas no Maranhão). Finalmen- no desenvolvimento do empreendimento. A operacionalização do
te, em fevereiro de 1985, com a presença do presidente João projeto, quando este atingisse a meta de 35 milhões de toneladas
Figueiredo, foi oficialmente inaugurada a EFC. A cerimônia teve por ano, deveria gerar, segundo estimativas feitas em 1984, 5.683
participação de cerca de 150 empresários estrangeiros, em sua empregos, distribuídos conforme a Tabela 1.
maioria clientes da CVRD ou investidores potenciais de empre-
endimentos planejados para o Projeto Ferro Carajás.
Para satisfazer às necessidades básicas de seus empregados e para a EFC, que saía dali para terminar no mar do Maranhão. Por
familiares em termos de habitação, saúde, educação, abastecimen- fim, era a chegada da rodovia PA-275, que unia o vilarejo a Marabá
to alimentar, lazer e recreação, a CVRD construiu núcleos urbanos – do qual Parauapebas veio a se emancipar em 1988 –, um dos
na Serra dos Carajás e ao longo da EFC. Em 1989, Carajás já era importantes centros comerciais da região. Nos primeiros anos, a
habitada por cerca de 7.500 pessoas, incluindo funcionários da avalanche de migrantes e a ocupação desordenada do município
CVRD e das empresas prestadoras de serviços de apoio às instala- davam a Parauapebas a imagem de um caos urbano com muitos
ções industriais e ao núcleo residencial, além dos empregados em bolsões de pobreza.
atividades desenvolvidas por terceiros sem vinculação direta com a No entanto, com o tempo, Parauapebas tornou-se uma das maio-
Companhia e todos os seus dependentes.10 res cidades do estado em população e renda per capita: seu Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) passou de 0,657, em
Cidadela em Carajás 1991, para 0,741, em 2000.11 A CVRD construiu no local a Escola Eucli-
O núcleo urbano de Carajás é um capítulo à parte na história da des Figueiredo (nome do irmão do presidente da República à época,
Companhia. Desde que foi anunciada a descoberta do minério na João Figueiredo), uma delegacia de polícia, o hospital municipal, o
região, boa parte do sudeste do Pará foi gradativamente ocupada prédio da prefeitura e a instalação de rede elétrica. Sua autonomia
por interessados em explorar, de alguma forma, o novo negócio. político-administrativa, entretanto, só foi conquistada em 1988, jun-
As minas abriam a oportunidade não apenas para os habilitados no to com a vizinha Curionópolis, onde se localiza Serra Pelada.
trabalho de extração do minério, mas para uma enorme variedade Parte do território – 32% ou 440 mil hectares – foi incorporada
de atividades nas vizinhanças. a unidades de conservação ambiental e à reserva indígena do povo
Aos poucos, foram chegando garimpeiros, comerciantes, enge- Xikrin do Cateté. Os índios dominavam o lugar quando os primei-
nheiros civis, operários, profissionais liberais e aventureiros em bus- ros novos habitantes chegaram, no fim dos anos 1970, ocupando os
ca de riqueza. A ocupação foi iniciada na cidade de Parauapebas, bairros conhecidos como Rio Verde e Cidade Nova. O núcleo urbano
em 1981, que em tupi-guarani significa “rio das águas”. Era compli- conta com uma infraestrutura completa, incluindo aeroporto, es-
cado dizer Parauapebas para os que chegavam. Uns a chamavam cola, cineteatro, área específica para comércio, centro esportivo e
de “Paraopebas”, outros de “Piropebas”, atualmente transformou- até zoológico. As ruas são asfaltadas, arborizadas, e as residências
-se em “Peba”. Não importa. Em pouco tempo, o que era uma pe- obedecem a um padrão de conforto e arquitetura. A área é cercada Acima, obras do núcleo
urbano de Parauapebas (PA).
quena vila já ganhava ares de cidade. Sua localização era estraté- por uma tela de 5 metros de altura para evitar a entrada de gran- Abaixo, o príncipe Charles
gica: ficava às margens do rio que lhe dava o nome, logo na des felinos. Foi lá que, durante visita ao Brasil, o casal real inglês planta a muda de uma árvore
entrada da Floresta Nacional de Carajás. Era o ponto de partida durante visita a Carajás (PA),
observado pela princesa Diana
11 - Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Disponível e pelo então presidente da Vale,
10 - Ver Brasil Mineral, junho de 1989, p. 26. em: <http://www.pnud.org.br/atlas/tabelas/index.php>. Wilson Brumer, em 1991.
Na estrada
1 - Sobre o tema, ver “Viana, Agripino Abranches”, DHBB, vol. 5, p. 6.027, e
revista Exame – “Conheça todos os presidentes da história da Vale”. Publicado 12 - As informações sobre a produção de minério de ferro pela CVRD no Sistema Sul foram 13 - Entre 1982 e 1990, a MSG produziu aproximadamente 80 milhões de toneladas de Além de viabilizar o escoamento da produção de minério de fer-
em 5/4/2011. retiradas dos Relatórios de Diretoria, 1979-1990. minério bruto, a maior parte das quais (mais de 80%) foi vendida à CVRD. ro da CVRD, da Ferteco e da Samitri, a Estrada de Ferro Vitória a
TABELA 3
PRODUTOS TRANSPORTADOS PELA EFVM – 1979-1990 (EM MILHÕES DE TONELADAS)
1979* 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
MINÉRIO DE FERRO E PELOTAS 67,8 75,9 67,9 63,7 61,1 80,1 84,9 71,7 65,8 72,3 79,0 74,4
Produção própria (66,5) (57,6) (53,4) (51,5) (69,6) (74,8) (62,0) (57,2) (62,0) (64,1) (58,7)
Produção de terceiros (9,4) (10,3) (10,3) (9,6) (10,5) (10,1) (9,7) (8,6) (10,3) (14,9) (15,7)
OUTROS PRODUTOS 8,8 13,0 11,0 12,1 12,3 16,4 18,2 19,4 21,2 24,8 21,3 21,2
Produção própria (0,9) (1,2) (2,0) (2,1) (1,9) (1,3) (1,3) (1,1) (1,1) (1,0) (0,8)
Produção de terceiros (12,1) (9,8) (10,1) (10,2) (14,5) (16,9) (18,1) (20,1) (23,7) (20,3) (20,4)
TOTAL
Produção própria 67,4 58,8 55,4 53,6 71,5 76,1 63,3 58,3 63,1 65,1 59,5
Produção de terceiros 21,5 20,1 20,4 19,8 25,0 27,0 27,8 28,7 34,0 35,2 36,1
TOTAL GERAL 76,6 88,9 78,9 75,8 73,4 96,5 103,1 91,1 87,0 97,1 100,3 95,6
* A fonte não especifica o que é produção própria e o que é produção de terceiros. Fontes: Relatórios de Diretoria, 1979-1990.
Empregados da Vale
trabalham nas obras de
conclusão da variante
Capitão Eduardo-Costa No porto principalmente, Tubarão, o maior porto especializado na exporta-
Lacerda, da Estrada de Ferro
A produção de minério de ferro e pelotas do Sistema Sul desti- ção de minério de ferro do mundo, com capacidade para receber
Vitória a Minas, próximo
ao Túnel de Sabará (MG), nada ao mercado externo era escoada pelos terminais marítimos navios de mais de 300 mil toneladas de porte bruto (TPB). Inau-
em novembro de 1991. operados pela CVRD no litoral do Espírito Santo – Atalaia, Paul e, gurado em 1966, o Terminal Marítimo de Tubarão respondia pelo
190
embarque da maior parte da produção ferrífera da Companhia, de produtos siderúrgicos e de outro para desembarque do carvão
além de viabilizar as exportações de pelotas das coligadas Ita- mineral importado.
brasco, Nibrasco e Hispanobras, e a produção de minério de ferro O terminal de carvão foi inaugurado em 1983, com capacida-
da Samitri e da Ferteco. de inicial de desembarque de 8 milhões de toneladas anuais, ten-
Desde os anos 1970, a CVRD se destacava também como expor- do consumido investimentos de US$ 230 milhões. Além do carvão
tadora dos produtos siderúrgicos produzidos pelas usinas de Minas metalúrgico destinado ao abastecimento da CST, da Usiminas e da Na imagem acima, vista
Gerais e importadora do carvão mineral utilizado por essas mesmas Açominas, o terminal de carvão de Praia Mole, operado diretamente aérea do navio Docecanyon
siderúrgicas. Para atender às crescentes necessidades desse setor, pela CVRD, respondia também pelo suprimento de carvão energé- no Complexo de Tubarão,
em Vitória (ES). Abaixo,
a CVRD, associada à Siderbras e à Portobras, iniciou, em 1980, a tico das indústrias de celulose e pelotização da Companhia. O ter-
pelotas sendo encaminhadas
implantação do Projeto Praia Mole, para a construção, no Terminal minal de produtos siderúrgicos iniciou suas operações em julho de para os fornos das usinas
Marítimo de Tubarão, de um terminal especializado no embarque 1984, administrado pela Siderbras. do Complexo de Tubarão.
192 6.2 Uma década de capitalização ingressou ainda em dois novos segmentos minerometalúrgicos, li- 193
gados ao ferro-silício e ao pó de quartzo (muito utilizado na cons-
Em 1980, a CVRD tornou público o documento “Amazônia Orien- trução civil, em revestimentos, associado à cerâmica), que começa-
tal – Plano Preliminar de Desenvolvimento”, no qual demonstrava ram a produzir em 1986 e 1989, respectivamente. Nessa estratégia
que a operacionalização do Projeto Ferro Carajás, já em andamento, de diversificação, o ouro revelou-se uma opção vitoriosa e também
ofereceria uma infraestrutura capaz de viabilizar outros projetos, permitiu fazer caixa rapidamente.
voltados para um aproveitamento mais completo da região, tanto
do ponto de vista minerometalúrgico quanto florestal e pastoril. Ouro16
A aprovação desse plano pelo Governo Federal deu origem ao Programa As primeiras iniciativas da CVRD no setor aurífero são dos anos
Grande Carajás, gerenciado por um Conselho Interministerial liga- 1970, quando foram empreendidos estudos para o aproveitamento
do à Secretaria de Planejamento da Presidência da República (Se- do ouro encontrado em associação com o minério de ferro de suas
plan). O Programa Grande Carajás seria a principal iniciativa toma- reservas em Itabira. Na década de 1980, com os primeiros resultados
da na década pelo governo brasileiro no setor de mineração.15 das pesquisas feitas pela Docegeo nos depósitos descobertos em
Em 1980, a CVRD já atuava na mineração da bauxita e do man- 1978 no nordeste da Bahia (na chamada faixa Weber, entre os mu-
ganês, por meio das coligadas Mineração Rio do Norte e Urucum nicípios de Araci e Teofilândia), o ouro mostrou-se uma alternativa
Mineração S. A., respectivamente. Havia ainda a produção de ce- atraente de investimento para a Companhia.
lulose, com a Cenibra e duas usinas de pelotização – fora a parti- Em 1984, já com o Projeto Ouro Itabira em curso, a CVRD passou
cipação, associada ao capital estrangeiro, em três outros empreen- a lavrar, a céu aberto, a Mina Fazenda Brasileiro, com capacidade
dimentos para a fabricação de pelotas. Em 1982, com a inaugura- de produção anual de 500 quilos de ouro. Ao final de 1985, o total
ção da Valesul, a Companhia ingressava no segmento de alumínio, acumulado da produção bruta de ouro da Companhia somava 772
contribuindo para reduzir as importações brasileiras deste metal. quilos, incluindo os 117 produzidos em Itabira.
A diversificação, que na virada da década parecia uma alternativa Naquele ano, foi criada a Superintendência de Metais Nobres
distante, transformou-se em realidade. (Sumen), para coordenar as atividades no novo segmento. Entre
Nos dois anos seguintes, no Pará, foram desenvolvidas atividades outras iniciativas, estava a segunda fase da Mina Fazenda Brasi-
ligadas ao manganês e, em 1985, além do início das operações do Pro- leiro, com lavra subterrânea, e uma segunda planta de recupera-
jeto Ferro Carajás, começava o Projeto Albras, para a produção de alu- ção do metal. Previa-se chegar a seis toneladas em 1994. Dada a
mínio em Barcarena (PA), um importante marco na história da CVRD. inexperiência da CVRD em mineração desse tipo, foi preciso desen-
Atendendo à orientação governamental de intensificar a integra- volver tecnologia, e formar e treinar equipes.
ção com a iniciativa privada nacional e estrangeira, a Companhia Em 1987, com o aumento do preço do ouro no mercado inter-
nacional e a necessidade premente de gerar recursos a curto prazo
Acima, manganês da Mina de 15 - Sobre o Programa Grande Carajás, ver Fernandes, Francisco do Rego (org.), Os maiores
Urucum, em Corumbá (MS), no mineradores, vol. 1, pp. 112-115, 132-144; Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômi- 16 - Sobre a atuação da CVRD no setor aurífero foram consultados os Relatórios de Diretoria,
ano de 2003. Abaixo, geólogos cas – Ibase, Carajás: o Brasil hipoteca o seu futuro, pp. 85-137; Brasil, Secretaria de Planeja- 1984-1990, Brasil Mineral, abril de 1987, p. 30; julho de 1987, pp. 20 e 30-31; maio de 1988,
trabalham numa mina de ouro mento – Seplan, Programa Grande Carajás; Brasil, Ministério de Minas e Energia, Programa pp. 32-33; setembro de 1989, pp. 50-59; dezembro de 1989, pp. 18-20; setembro de 1990,
em Mariana (MG), em 1987. Grande Carajás; e Companhia Vale do Rio Doce, Projeto Ferro Carajás. pp. 20-22; e Mineração Metalurgia, março de 1989, p. 10.
– sobretudo para o pagamento das primeiras parcelas dos emprés- a CVRD destacou-se nesse período pela implantação de uma política
timos contraídos para a implantação do Projeto Ferro Carajás –, a de preservação ambiental em suas áreas de atuação.
Companhia decidiu intensificar seus investimentos no setor aurí- As questões ecológicas, que durante décadas foram tratadas
fero. A expectativa era produzir cerca de 20 quilos de ouro por mês como assuntos secundários (muitas vezes nem isso), ganhavam
em Minas Gerais, a partir de 1988, com uma pequena planta para cada vez mais destaque, tanto na Companhia quanto em todo o
o tratamento do itabirito aurífero de alto teor das minas de Itabira mundo. Foi então criado um conjunto significativo de leis e reso-
194 (um grama de ouro por tonelada), a ser obtido por lavra seletiva, e luções específicas para a área, com destaque para a exigência de
a recuperação do ouro dos 15 milhões de toneladas de rejeitos de um Relatório de Impacto Ambiental (Rima) em diversas atividades,
beneficiamento do minério de ferro acumulados desde 1971. inclusive a mineração.17
Ainda em Minas Gerais, a CVRD iniciou, em 1988, a lavra subter- Ao longo da década de 1980, a CVRD também deu ênfase espe-
rânea da jazida de Caetés e a implantação do Projeto Riacho do Ma- cial ao desenvolvimento de novos processos tecnológicos. A equa-
chado para a exploração da jazida de Ouro Fino. A Companhia inau- ção era conciliar produtividade e qualidade do que era produzido
gurou ainda o Projeto Maria Preta, na Bahia, com lavra a céu aberto, nas minas. Ao mesmo tempo, foram intensificados os esforços para TABELA 4
em julho de 1990. A última frente foi o Projeto Igarapé Bahia, para a reduzir seu consumo de energia oriunda de derivados de petróleo DIVISAS GERADAS PELA CVRD (INCLUINDO CONTROLADAS E COLIGADAS) 1985-1990 (EM MILHÕES DE DÓLARES)
extração do ouro encontrado na região de Carajás. Já em 1988 foram ou mesmo substituir esse tipo de combustível por fontes energéti-
produzidos, em escala experimental, cem quilos de ouro. A planta cas alternativas. A dependência da CVRD da energia gerada por ou- 1985 1986 1987 1988 1989 1990
industrial, com capacidade para produzir duas toneladas anuais, tras empresas era um assunto que merecia, a cada dia, mais aten-
Minério de ferro e pelotas 1.089,6 1.069,9 1.127,2 1.188,3 1.465,3 1.627,2
iniciou sua operação em 1992. Igarapé Bahia se tornaria uma das ção, o que, na década seguinte, foi resolvido com a construção de
minas de ouro mais rentáveis do mundo. hidrelétricas próprias. Bauxita 147,2 260,1 399,2 522,4 485,9 500,5
Com todos esses projetos, a CVRD esperava atingir uma produ- Tendo sua produção voltada basicamente para o mercado exter-
ção total de 13 toneladas anuais de ouro a partir de 1992 e tornar- no, o desempenho comercial e financeiro do sistema CVRD na pri- Frete transoceânico 171,6 123,0 131,4 188,2 168,9 170,6
-se a segunda maior produtora do metal do país, após a Mineração meira metade da década de 1980 foi fortemente afetado pela crise Celulose 72,3 86,4 127,1 178,0 185,4 143,3
Morro Velho. econômica mundial que se seguiu ao choque do petróleo de 1979,
levando a uma redução na demanda e nos preços dos insumos Manganês 2,9 7,3 9,1 14,6 35,5 39,6
Meio ambiente e novos processos tecnológicos industriais. Mesmo assim, as receitas de exportação geradas pela Outros 16,4 1,0 9,3 17,3 9,5 17,0
Para viabilizar a implementação simultânea de todos esses proje- CVRD, suas controladas e coligadas, entre 1980 e 1985, atingiram
tos, a CVRD promoveu, ao longo da década, constantes ampliações uma média anual de US$ 1,5 bilhão, excluídas as receitas obtidas TOTAL 1.500,0 1.547,7 1.803,3 2.108,8 2.344,5 2.498,2
de seu patrimônio, fosse pelo ingresso de capitais por subscrição, com a venda de produtos no mercado interno e com as atividades
fosse principalmente pela emissão de debêntures no mercado in- de transporte ferroviário e embarque e desembarque nos terminais Fontes: Relatórios de Diretoria, 1985-1990.
ternacional. Para atender às necessidades de Carajás, foram tam- marítimos operados pela Companhia. Responsável por 13,23% da
bém lançadas no mercado interno várias séries de debêntures ao produção mineral bruta brasileira de 1985, a CVRD se destacava,
portador conversíveis em ações. Ao mesmo tempo, a Companhia então, como uma das empresas mais lucrativas do país. Mesmo com o destacado desempenho comercial, as sucessivas Por fim, já em 1988, com a relativa estabilização do dólar e o in-
contraiu sucessivos empréstimos e financiamentos junto a insti- Em virtude do crescimento do volume de suas exportações de mi- desvalorizações do dólar norte-americano ocorridas entre 1985 e cremento das vendas nos mercados interno e externo, a Companhia
tuições de crédito do país e do exterior, notadamente do Japão e nério de ferro, pelotas, celulose, alumínio e bauxita, a partir de 1985, 1987 afetaram drasticamente os resultados econômico-financeiros. conseguiu reverter esse processo, concluindo o exercício com um
da Alemanha. com a elevação dos preços desses produtos no mercado internacio- Financiamentos foram contraídos em ienes japoneses e marcos ale- lucro líquido de US$ 210,5 milhões. No ano seguinte, sua margem
A nova configuração empresarial proporcionou também sucessi- nal, bem como das receitas obtidas com o transporte transoceânico, mães, moedas que alcançaram cotações mais elevadas que o dólar. de lucro se ampliou ainda mais, somando cerca de US$ 734,5 mi-
vas reformas em sua estrutura administrativa. Foram criadas novas o Sistema CVRD trouxe um volume cada vez maior de divisas para o Em 1986, o lucro líquido da CVRD foi 25% inferior ao de 1985, que, lhões. Em virtude das medidas de estabilização da economia apro-
superintendências e departamentos. Presidida, uma vez mais, por Brasil, conforme mostra a Tabela 4. por sua vez, havia caído 34% em relação aos resultados obtidos em vadas pelo governo no início de 1990, o desempenho financeiro da
Eliezer Batista (1961-1964 e 1979-1986) e por Raymundo Mascarenhas 1984. A persistência dessa situação levou a empresa a encerrar o CVRD naquele ano foi significativamente inferior ao de 1989, apre-
(1969-1974 e 1986-1987), seguidos por Agripino Abranches Viana ano de 1987 com um prejuízo de US$ 170 milhões. Sua dívida acu- sentando um lucro líquido de US$ 106 milhões.
(1987-1990) e, a partir de 1990, por Wilson Nélio Brumer (1990-1992), 17 - Ver Brasil Mineral (número especial sobre meio ambiente), outubro de 1991, s. p. mulava então o equivalente a cerca de US$ 3 bilhões.
TABELA 5
PRODUÇÃO DAS COLIGADAS DE PELOTIZAÇÃO 1979-1990 (EM MILHÕES DE TONELADAS MÉTRICAS)
Cerca de 80% das pelotas produzidas pelas três coligadas no etc.), sendo uma pequena parte reservada ao mercado doméstico Já em 1979, apesar das dificuldades enfrentadas nos primeiros me-
período entre 1979 e 1990 foram destinadas ao mercado externo, (Usiminas, CSN e Usiba).19 ses – quando suas atividades foram paralisadas por vários dias em
notadamente aos acionistas estrangeiros, e embarcadas nos ter- A Tabela 6 apresenta o desempenho comercial das coligadas de virtude dos estragos provocados nas instalações minerárias e
minais marítimos da CVRD. Assim, a quase totalidade das expor- pelotização no período de 1979 a 1990, discriminando o volume ab- em trechos da EFVM pelas fortes enchentes que atingiram Minas
tações da Itabrasco foi absorvida pelo grupo italiano Finsider; a da sorvido pela CVRD e aquele destinado ao mercado externo, assim Gerais e Espírito Santo –, a CVRD registrou, ao final do exercício,
Nibrasco, pelos sócios japoneses; e a da Hispanobras, pela Enside- como as receitas de exportação das três empresas. um expressivo incremento em seus níveis de produção e vendas.
sa, do Principado de Astúrias, comunidade autônoma da Espanha. Favorecidas pela expansão das atividades siderúrgicas nos prin-
Os 20% restantes foram adquiridos pela CVRD e comercializados cipais países industrializados, as exportações de minério de ferro e
19 - A cota de pelotas adquirida pela CVRD das coligadas de pelotização foi comercializada
no mercado externo (Argentina, Qatar, Iraque, EUA, Inglaterra juntamente com a produção de suas próprias usinas, estando incluída nos resultados pellets produzidos pela Companhia superaram em 14% o volume
comerciais da Companhia no setor de minério de ferro e pelotas. embarcado em 1978, atingindo um total de 47,8 milhões de tonela-
das. Mantendo-se como principais clientes, Japão e Alemanha ab-
sorveram praticamente a metade do volume exportado (35% e 13%,
TABELA 6 respectivamente), seguidos de França (7%), Polônia (5%), EUA (5%),
VENDAS DAS COLIGADAS DE PELOTIZAÇÃO 1979-1990 (EM MILHÕES DE TONELADAS MÉTRICAS) Itália (4%) e Filipinas (3%). O aumento das quantidades exportadas
198 e do preço do minério no mercado internacional (elevado para 199
COLIGADAS 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 US$ 15,77 a tonelada FOB) propiciou à CVRD uma receita de expor-
tação de US$ 753,6 milhões, 20% superior à obtida em 1978.
ITABRASCO
Ainda em 1979, dando prosseguimento à sua política de con-
CVRD 0,4 0,6 0,5 - - 0,4 0,5 0,2 0,1 0,1 0,2 0,5 servar mercados cativos e conquistar novos clientes nos países em
desenvolvimento (que buscavam implantar ou consolidar seus par-
Mercado externo 1,6 1,8 2,1 2,4 2,0 2,4 2,6 2,8 2,5 2,8 3,1 2,6 ques siderúrgicos), a CVRD firmou importantes contratos de ven-
Receita de exportação da de minério em longo prazo: Romênia, 34 milhões de toneladas;
40,3 53,0 61,0 74,0 53,1 55,1 59,7 62,6 * 68,9 89,5 82,8 Tchecoslováquia, cerca de 15 milhões de toneladas entre 1980 e
(em milhões de dólares)
1990; Pohang Steel, da Coreia do Sul, para a entrega de 20,6 milhões
NIBRASCO de toneladas até 1983; Kawasaki Steel, do Japão, para suprimen-
CVRD 0,7 0,2 0,8 - - 1,1 1,3 2,6 2,3 2,0 1,8 1,8 to de sua usina nas Filipinas. Foram também celebrados contratos
para o fornecimento de 2,5 milhões de toneladas de pelotas à Kai-
Mercado externo 3,8 5,2 4,1 4,4 3,9 4,3 4,1 3,7 3,9 4,4 4,7 5,1 ser Steel, dos EUA, ao longo de 10 anos, e de 480 mil toneladas de
concentrados para a Tubos de Acero de México (Tamsa).
Receita de exportação
110,2 167,0 146,0 152,0 115,4 109,0 96,3 84,9 * 100,9 134,7 167,6 As expectativas de crescimento da economia mundial foram,
(em milhões de dólares)
contudo, revertidas em 1980. Como resultado do segundo choque
HISPANOBRAS do petróleo e da crise da economia norte-americana que se seguiu,
observou-se uma nova retração da atividade siderúrgica, levando
CVRD 1,3 0,9 0,9 0,5 0,4 0,5 0,7 1,2 1,4 1,5 0,2 0,8
os principais produtores de aço a reduzir significativamente suas
Mercado externo 0,9 1,9 1,9 2,1 1,3 2,4 2,4 1,8 1,8 1,9 3,0 2,5 compras de minério de ferro e pelotas. Por outro lado, a elevação
súbita dos preços do petróleo aumentou ainda mais o peso do frete
Receita de exportação
23,8 54,0 53,0 63,0 34,7 54,5 54,3 40,5 * 49,5 88,4 80,0 marítimo nos custos finais do minério. Os preços no mercado inter-
(em milhões de dólares)
nacional, no entanto, permaneceram inalterados.
Como reflexo dessa situação, a CVRD registrou, em 1980, uma
* Dados não disponíveis.
redução de 7% no volume de suas exportações. Favorecida, porém,
Fontes: Relatórios de Diretoria, 1979-1990.
pela desvalorização do cruzeiro (decretada pelo Governo Federal
em dezembro de 1979), a receita de exportação obtida foi 5% supe-
rior à de 1979, atingindo US$ 792 milhões.
Comercialização ferro e pelotas da CVRD permaneceu destinada ao mercado exter- Em 1981, apesar das condições desfavoráveis do mercado, as
Ao longo dos anos 1980, mesmo com o crescimento significativo no. O desempenho comercial da Companhia nesse segmento foi exportações de minério de ferro e pelotas somaram 45,9 milhões
do mercado interno, 20 a maior parte da produção de minério de fortemente influenciado pelo comportamento da indústria side- de toneladas, 3% a mais que em 1980, gerando cerca de US$ 844
rúrgica mundial. Como já foi visto, após a grave crise de 1977, a milhões. Responsável por 15,6% do comércio transoceânico dessas
siderurgia mundial apresentou, em 1978, uma lenta recuperação, matérias-primas, contra 14,6% em 1980, a CVRD consolidava a sua
20 - A redação deste item foi baseada na leitura dos Relatórios de Diretoria, 1979-1990. ampliando as perspectivas da Companhia para a década de 1980. posição de maior exportadora mundial de minério de ferro.
Nos dois anos seguintes, com o aprofundamento da crise side- do total de 51,7 milhões de toneladas exportadas naquele ano),
rúrgica, verificou-se uma queda brusca no volume de exportações, escoada pelo Terminal Marítimo de Ponta da Madeira. Desde então,
reduzido para 38,2 milhões de toneladas, em 1982, e 37,9 milhões, o Sistema Norte ganhou participação crescente no suprimento do
em 1983. O mercado asiático, com o Japão à frente, manteve-se mercado externo, preservando-se as reservas de Itabira (Sistema
como o principal cliente da Companhia. Contudo, sua participação Sul) para o abastecimento preferencial do parque siderúrgico bra-
relativa, que vinha crescendo nos últimos anos e atingira 54% em sileiro, em crescente expansão.
1982, caiu para 48% em 1983, mantendo-se estável nesse patamar As exportações de minério de ferro e pelotas produzidas pela
até o final da década. Também se observou, nesses anos, o cresci- CVRD e a participação relativa dos diversos mercados consumido-
mento das vendas para os EUA, decorrente da recuperação da side- res são apresentadas nas Tabelas 7 e 8.
rurgia norte-americana.
200 No transcurso de 1984, impulsionados pela retomada do cres- 201
cimento da economia norte-americana, os principais países indus-
trializados registraram um desempenho significativamente supe- TABELA 7
rior, com reflexos positivos sobre a produção siderúrgica mundial e EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO E PELOTAS PRODUZIDAS
o comércio transoceânico de minérios. As novas condições do mer- PELA CVRD (SISTEMAS SUL E NORTE) 1979-1990
cado possibilitaram à CVRD viabilizar, naquele ano, a exportação (EM MILHÕES DE TONELADAS MÉTRICAS)
de 49 milhões de toneladas de sua produção de minério de ferro
e pelotas, das quais 48% foram absorvidas pelo mercado asiático,
MINÉRIO
43% pelo europeu, 7% pelo americano (incluindo Estados Unidos, PELOTAS* TOTAL
DE FERRO
Canadá e América Latina) e 2% por países do Oriente Médio e da
África. Apesar da redução no preço médio do minério de ferro (de 1979 42,3 5,5 47,8
US$ 19,17, em 1983, para US$ 16,91 a tonelada, em 1984), o aumen-
1980 41,4 3,1 44,5
to de 29% no volume embarcado garantiu à Companhia uma recei-
ta de exportação de US$ 828,8 milhões, contra os US$ 721 milhões 1981 43,2 2,7 45,9
obtidos em 1983.
1982 36,5 1,7 38,2
Contrariando, porém, as previsões otimistas, o desempenho da
economia mundial na segunda metade da década ficou bem aquém 1983 34,9 3,0 37,9
do esperado. A produção siderúrgica mundial estabilizou-se em tor-
no de 750 milhões de toneladas anuais, apresentando baixo cresci- 1984 34,8 5,2 40,0
mento ao longo do período. 1985 46,1 5,8 51,9
Ainda que operasse em condições adversas, a Companhia apre-
sentou, nos últimos cinco anos da década, um crescimento cons- 1986** 44,6 7,1 51,7
tante, embora modesto, de suas exportações de minério de ferro 1987 50,1 8,1 58,2
e pelotas, ampliando seus mercados.21 Mesmo com as sucessivas
reduções nos preços internacionais do minério de ferro, os resul- 1988 56,5 6,2 62,7
tados financeiros vinham se apresentando compensadores. Foram
1989 62,2 5,1 67,3
fundamentais os esforços para reduzir os custos do frete marítimo,
mediante a intensificação da prática de transporte combinado de 1990 61,5 5,3 66,8
cargas em seus navios.
A partir de 1986, o minério exportado pela CVRD passou a in- Fontes: Relatórios de Diretoria, 1979-1990.
cluir também a produção de Carajás (11,4 milhões de toneladas, * Inclui cota de pelotas adquirida pela CVRD das coligadas de pelotização.
** A partir de 1986, as exportações de minério de ferro da Companhia incluem também
a produção de Carajás. Do total exportado em 1986, o Sistema Norte contribuiu com
21 - Segundo Brasil Mineral, janeiro de 1987, p. 8, a CVRD havia fechado nesse mês um
contrato para venda de 1,2 milhão de toneladas de pelotas a uma nova siderúrgica da 11,5 milhões. Sua participação elevou-se para 23,4 milhões em 1987, 29,7 milhões em
Arábia Saudita. 1988, 31,3 milhões em 1989 e 31,5 milhões em 1990.
TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100
* Os relatórios dos anos de 1988, 1989 e 1990 não informam a participação percentual dos vários mercados.
Fontes: Relatórios de Diretoria, 1979-1987.
Além de sua produção própria, a CVRD continuou escoando, pela as coligadas de pelotização. A partir de 1985, porém, essa propor-
EFVM e suas instalações portuárias no Espírito Santo, o minério de ção foi sendo reduzida, tendo em vista o incremento das vendas às
ferro extraído pelas empresas Samitri e Ferteco e a produção das indústrias siderúrgicas e guseiras nacionais, que experimentaram,
coligadas de pelotização destinada ao mercado externo. A comer- então, uma relevante expansão.
cialização da produção da Companhia nos mercados europeu, asiá- Em 1987, a CVRD já abastecia 100% das necessidades da Usi-
tico e norte-americano era viabilizada pelas subsidiárias Rio Doce minas e da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), e fornecia a
América e Rio Doce International S. A. As exportações para Oriente maior parte do minério empregado pela Açominas, pela Cosipa e
Médio, África e América Latina eram realizadas diretamente pela pelas demais empresas do grupo Siderbras. Além dessas, o minério
Acima, o Terminal Marítimo Superintendência Comercial da Companhia, responsável também da Companhia abastecia também as usinas privadas Acesita, Usiba,
de Praia Mole, parte do
Complexo de Tubarão (ES), pelas vendas no mercado interno. Aços Finos Piratini e várias guseiras estabelecidas em Minas Gerais
em 9 de janeiro de 1984. No decorrer dos anos 1980, a CVRD ampliou, consideravelmente, e ao longo da EFC.
Abaixo, trem partindo do o mercado interno para sua produção de minério de ferro e pelotas. O volume de minério de ferro e de pelotas comercializado
terminal de carregamento Até meados da década, cerca de 2/3 da produção comercializada pela CVRD no mercado interno nos anos de 1979 a 1990 está na
em Carajás (PA), em
março de 1986. no mercado doméstico corresponderam a vendas de pellet feed para Tabela 9.
pírito Santo. Esse conselho deu origem, ainda em 1980,26 ao Grupo 28 - As CIMAs foram criadas pela Portaria Interna da CVRD no 39, de 1o de outubro de 1981,
com base em decisão tomada na segunda reunião do Geamam, realizada entre 27 de abril
e 2 de março de 1981. Ver Companhia Vale do Rio Doce, Meio ambiente e desenvolvimento
econômico, op. cit., p. 18.
29 - Idem, p. 19.
25 - Ver Brasil Mineral, outubro de 1989 (número especial sobre meio ambiente), p. 14. uman.. Organogramas.
30 - Ver Companhia Vale do Rio Doce, Suman.
A floresta da Reserva 26 - O Geamam
eamam foi criado pela Portaria Interna
nterna da CVRD no 54-80. A primeira reunião do 31 - Ver Freitas, Maria de Lourdes Davies de,, A propósito de meio ambiente: a estratégia
Natural Vale, localizada grupo ocorreu em 14 de janeiro de 1981. Ver, a esse respeito, Companhia Vale do Rio Doce, ambiental da CVRD (Conferência proferida para a Câmara do Comércio Brasil-Alemanha
em Linhares (ES). Meio ambiente e desenvolvimento econômico, p. 17. em 3 de março de 1990), p. 11.
meio de práticas de semeadura nas áreas mineradoras e de hidrosse- Dois contratos envolvendo transferência de tecnologia foram fir-
ACUMULADO ATÉ 1989 US$ 1.000
meadura em taludes (em que são usados jatos de água misturada mados pela CVRD: um com a Nippon Steel, voltado para o controle
CUSTEIO INVESTIMENTO TOTAL com adubo e semente), e regiões acidentadas. O plantio de árvores ambiental, e outro com a Companhia Estadual de Tecnologia de Sa-
frutíferas e hortas para operários somado a ações de educação am- neamento Básico e de Defesa do Meio Ambiente (Cetesb),32 destina-
Sumin** 13.000,00 124.800,00 137.800,00 biental e fomento à pesquisa enfim se tornavam uma práxis. do ao monitoramento ambiental. Essas iniciativas criaram a base
Em 1986, a CVRD criou o Plano Diretor do Meio Ambiente para para a maturidade ambiental da CVRD, atingida a partir da década
Suest** 643,00 643,00 Itabira. Esse plano propôs, na prática, uma verdadeira política de de 1990, com práticas de recomposição florestal, plantio de cintu-
atuação no que diz respeito ao controle do meio ambiente e à recu- rões verdes e rígidos controles da emissão de particulados.
Supel** 3.230,00 14.981,00 18.211,00
peração de áreas degradadas.
SISTEMA SUL Supot** Com base nesse plano e nas propostas das CIMAs, a CVRD pas- Plantando sementes no Sistema Norte
sou a se dedicar a questões ligadas ao uso da água, a partir da iden- Na época da instalação do Projeto Ferro Carajás no Norte do país,
Sutec** 117,00 117,00 tificação e correção de processos erosivos, da reestruturação de sis- havia um grande desconhecimento dos ecossistemas da região e
temas de drenagem nas minas e do desassoreamento de bacias de um escasso interesse científico pelas áreas de implantação do pro-
Sutan** sedimentos, bem como da reutilização de água de processo. jeto. Preocupada com a repercussão ambiental que o início da ex-
208 O paisagismo, com o ajardinamento de praças, contornos de es- ploração mineral poderia provocar na região, a CVRD desenvolveu 209
Sumen** 60,00 4.933,00 4.993,00
critórios e prédios industriais, somava-se a esforços de manutenção estudos paralelamente aos trabalhos de implantação do Projeto
Sumic** 32.800,00 32.800,00 e controle de maciços florestais em áreas de servidão da mineração. Ferro Carajás, como o zoneamento ecológico da área de 412 mil
Dentro e fora da Companhia ganhavam força as primeiras discus- hectares da Província Mineral de Carajás para a criação de uma
SISTEMA NORTE Sufec** 28.417,00 28.417,00 sões sobre neutralização das emissões de partículas em fornos e estação ambiental.
chaminés e melhoria da qualidade do ar. Dando continuidade a esse trabalho, em 1983, o Geamam e as
Supoc** 4.700,00 4.700,00 CIMAs selecionaram três áreas próximas às minas, perfazendo um
Tubarão e as partículas de ferro total de 39 mil hectares, para a preservação de espécies ameaça-
GERAL Sumei** 1.403,00 3.629,00 5.032,00
No que diz respeito ao Terminal Marítimo de Tubarão, situado em das de extinção. A criação do Parque Zoobotânico de Carajás para
Docenave uma área de 20 quilômetros quadrados, 10 quilômetros a nordeste estudo da flora e da fauna regional contribuiu para esse trabalho,
CONTROLADAS da Ilha de Vitória, o manuseio e o estoque dos minerais provocam produzindo sementes e desenvolvendo pesquisas sobre reprodução,
FRDSA 6.897,00 28.420,00 35.317,00 a emissão de material em partículas, predominando a poeira sedi- crescimento e nutrição de macacos, felinos e aves.
mentável. As chaminés das usinas de pelotização eram outra fonte Desde o início da década de 1980, a CVRD controlava a qualidade
Albras de emissão de poeira em suspensão, e a queima de óleo combustí- do ar e da água em todo o Complexo de Carajás. A Companhia sem-
vel emite dióxido de enxofre (SO2). No processo de pelotização e na pre esteve ciente dos riscos e das consequências trazidas pela lavra
Valesul 6.897,00 28.420,00 35.317,00
COLIGADAS drenagem das áreas de estocagem, eram gerados efluentes líquidos de minério. A utilização de “caixas coletoras”, funcionando como
Cenibra 813,10 13.862,80 14.675,00 que carregam quantidades de partículas sólidas. barragens para evitar o contato de metais com as águas que cercam
Num primeiro momento, buscou-se controlar as emissões mais o complexo de minas, foi o primeiro passo para evitar a contami-
MRN críticas com pavimentação, recapeamento e asfaltamento das nação da bacia hidrográfica da região, que inclui os rios Itajucu e
vias. Houve também pavimentação nas imediações das usinas; Parauapebas (afluente do Itacaiunas e subafluente do Tocantins).33
SUBTOTAL 25.403,10 268.202,80 293.605,90
restabelecimento da cobertura vegetal pela criação de um horto Foram firmados também diversos convênios com instituições de
REALIZADO florestal; utilização de água nas operações de limpeza industrial pesquisa da região. O mais importante deles foi assinado com o Mu-
10.838,20 9.906,30 20.744,50 das usinas; controle rigoroso das áreas destinadas à construção; seu Emílio Goeldi, de Belém (PA), e tinha por objetivo preservar a ar-
EM 1989
revisão de sistemas de despoeiramento das usinas; e mais rigor no queologia da área, traçar um inventário zoológico dos vertebrados
TOTAL 36.241,30 278.109,10 314.350,40 processo de aspersão de águas nas correias transportadoras das terrestres, identificar os insetos florestais, os peixes, e ainda realizar
usinas de pellets. um inventário botânico. Para a realização de pesquisas de doenças
* Valores aproximados. Essas medidas tiveram efeitos satisfatórios, reduzindo consi- tropicais, foi firmado um convênio com o Instituto Evandro Chagas,
** Sumin (Superintendência de Minas/Sistema Sul); Suest (Superintendência de Estradas/Sistema Sul); Supel (Superintendência de Pelotização); Sutec (Superintendência de Tecnologia); deravelmente a poluição na área do terminal. Mas não eram sufi-
Supot (Superintendência do Porto/Sistema Sul); Sutan (Superintendência do Projeto Titânio); Sumen (Superintendência de Metais Nobres); Sumic (Superintendência de Minas/Sistema
Norte); Sufec (Superintendência de Estradas/Sistema Norte); Supoc (Superintendência do Porto/Sistema Norte); Sumei (Superintendência de Meio Ambiente). cientes. Em médio e longo prazos, a Companhia buscou estabele-
Fonte: Coordenadores das CIMAs e gerentes das áreas operacionais (abril/1990) – informação parcial (ATME). cer normas e procedimentos, visando à diminuição de danos eco- 32 - Atualmente, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. A Cetesb é a agência do
Governo do Estado de São Paulo responsável por controle, fiscalização, monitoramento e
lógicos potenciais, com a instalação de equipamentos de controle
licenciamento de atividades geradoras de poluição das águas, do ar e do solo.
Plantando sementes no Sistema Sul anos mais tarde. A política da Companhia para a manipulação e con- ou redução da poluição e melhoria do funcionamento de equipa-
33 - Foi feito um estudo das vertentes influenciadas por poluição. Nelas foram construídas
Numa época em que a sustentabilidade ainda não fazia parte da tenção de rejeitos foi intensificada com a construção de novas barra- mentos já existentes. Foram adotadas novas rotinas operacionais barragens de forma a não permitir a saída de qualquer água da área da mina sem que
agenda das empresas, algumas das iniciativas da CVRD na década de gens e recomposição das áreas de depósitos. O entorno das zonas de com o objetivo de reduzir o impacto sobre as zonas urbanas sob antes tenha havido sedimentação do material sólido e o controle da qualidade dessa água,
que é utilizada para o abastecimento de toda a infraestrutura de Carajás. Ver Brasil Mineral,
1980 foram pequenas sementes lançadas que vieram a frutificar atividade da CVRD ganhou gradativamente um novo desenho, por influência do terminal. junho de 1989, p. 24.
210 centro de referência da Organização Mundial da Saúde (OMS) na ecológico dos projetos econômicos implantados na Amazônia bra- flúor (principal poluente da indústria do alumínio, emitido pelas empreendimento, incluindo a área da EFC.38 Apesar dos muitos elo- 211
América Latina.34 sileira. O objetivo era avaliar o nível de vida das populações resi- chaminés). A diretriz de instalação da planta foi cumprida à risca, gios recebidos pela Companhia nas décadas de 1980 e 1990 devido
Ainda na área de pesquisa ambiental, a CVRD firmou, em 1985, dentes nas áreas dos projetos, com base em critérios quantitativos investindo no controle ambiental 10% dos custos totais da obra. às suas recém-implantadas políticas de meio ambiente, sobretudo
dois acordos internacionais: o primeiro, com a International Water- e qualitativos. Os recursos foram usados também no tratamento dos efluentes lí- àquelas voltadas para a relação com as comunidades indígenas,39
fowl Research Bureau, para pesquisa da avifauna na Floresta Tropi- Em 1989, a Companhia mantinha três unidades de conservação quidos e dos rejeitos sólidos, na instalação de quatro unidades mo- entre as cláusulas do contrato o banco exigia expressamente que
cal Amazônica e na Mata Atlântica; o segundo, com o Programa das ambiental em Carajás – Igarapé Gelado (22 mil ha), Reserva Biológi- nitoradoras de poluentes, no reflorestamento de áreas devastadas e a CVRD criasse meios para garantir a demarcação das terras dos
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), para o desenvolvi- ca de Tapirapé (103 mil ha) e Floresta Nacional de Tapirapé (190 mil na manutenção de uma reserva de mata nativa que circunda a área índios, constantemente ameaçadas, e incluísse em suas políticas
mento de projetos e política ambiental.35 Em 1986, a Companhia ha) – e deu prosseguimento ao projeto de cinturão verde na área do industrial, dentro de 3,5 mil hectares ocupados.36 investimentos na saúde, na educação e em atividades produtivas
promoveu o Seminário sobre Desenvolvimento Econômico e Meio Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, com o plantio de 60 mil A Florestas Rio Doce S. A. possuía e administrava mais de 500 direcionadas aos povos indígenas. A soma devia ser aplicada du-
Ambiente, em conjunto com o International Waterfowl Research mudas. Na área de engenharia ambiental, tiveram início as ativida- mil hectares de terras aptas à implantação de projetos florestais. rante cinco anos ou até os recursos se esgotarem e previa alcançar
Bureau. O evento foi realizado em Belém, entre 29 de setembro e 1o des de coordenação, apoio técnico e monitoramento do projeto de Desse total, cerca de 170 mil foram reflorestados e 30 mil recebe- 6.050 indígenas de 14 comunidades espalhadas em 22.530 km2 no
de outubro. A engenharia ambiental – especialmente no tocante à cobre Salobo. Em 1990, a CVRD elaborou um projeto para a preser- ram cobertura de floresta natural.37 Estado do Pará.40
reutilização dos recursos ambientais – começou a ocupar espaço na vação e a recuperação de trechos devastados da Região Amazônica, Em 1989, com o término do primeiro convênio, a CVRD firmou
CVRD a partir do fim da década de 1980. especificamente na área de influência da EFC, nos estados do Pará, novo compromisso, dessa vez específico para apoio aos Xikrin da
Em 1988, foram plantadas 15 mil mudas de árvores ao longo do Maranhão e de Tocantins. A proposta previa a implantação de Terra Indígena Cateté. A gestão dos recursos era feita pela Funda-
da EFC e 20 mil mudas na área do Terminal Marítimo de Ponta da polos de reflorestamento para exploração econômica de parte da 6.6 Diante das comunidades indígenas ção Nacional do Índio (Funai), para desenvolvimento de ações de
Madeira. No mesmo período, a CVRD investiu na análise das fontes madeira plantada, envolvendo investimentos da ordem de US$ 1 bi- saúde, educação, atividades produtivas, vigilância da terra indígena
poluidoras na região das minas e nas indústrias de beneficiamento lhão, obtidos parte no exterior e parte internamente, com recursos Desde que as primeiras levas de profissionais – geólogos, enge- e administração. No ano seguinte, em 1990, novo acordo era feito,
de minérios. Foi instalado um filtro ascendente para tratamento da de um fundo a ser criado pelo Governo Federal, após aprovação do nheiros, operários – chegaram a Carajás, a questão do relaciona- agora com o Povo Gavião da Terra Indígena Mãe Maria, com o mes-
água no núcleo urbano de Carajás, somado à análise de mercúrio Congresso, e gerido por um órgão como o BNDES. mento da CVRD com povos indígenas se mostrou prioritária. A pre- mo escopo do Programa Xikrin. Anos depois, a Companhia firmou
nos rios que bordejam a Mina de Carajás (em prosseguimento ao Esse e outros projetos deram origem ao Sistema de Gestão Am- sença dos Kayapó e, especialmente, dos Xikrin na região conferia acordo de cooperação com os povos indígenas do Maranhão – em
plano de construção de barragens coletoras na região, como visto biental (SGA) da Companhia e a ações como o Vale Florestar, que, àquela localidade uma identidade que haveria de ser respeitada, 2003, os índios Guajajara, Guajá e Urubu Ka’apor, localizados nas
anteriormente). Tornou-se praxe o monitoramento e a análise dos como veremos adiante, é um dos maiores fundos de reflorestamen- preservada e cultivada com o passar dos anos. Os Xikrin, como to- terras indígenas Caru, Rio Pindaré, Awá e Alto Turiaçu, receberam
efluentes líquidos da planta-piloto de titânio e das plantas de tra- to do Brasil. O fundo atua em áreas de consolidação e expansão de dos os Kayapó, se autodenominam mebengokré, que significa, na apoio em projetos voltados para suas atividades produtivas.41
tamento de dormentes. atividades produtivas da Região Amazônica, em que o território já língua Jê, “gente do buraco d’água” ou “gente da água grande”. E era Os esforços desenvolvidos pela CVRD na área ambiental na dé-
Um convênio com o Governo do Maranhão permitiu o estudo apresenta grandes níveis de desmatamento. O objetivo é incentivar lá, no vasto território entre as águas dos rios Tocantins e Araguaia, cada de 1980 foram bem-recebidos pelo Banco Mundial. Nos anos
das consequências para o meio ambiente da industrialização cres- empreendimentos florestais de longo prazo. Em um efeito multipli- que eles se encontravam. 1990, foram criadas alternativas sustentáveis para a exploração,
cente de São Luís. No Pará, a Vale do Rio Doce procurou regularizar cador, esses empreendimentos disseminariam a cultura de ativida- Em janeiro de 1982, quando a CVRD ainda buscava viabilizar pelos próprios índios, das riquezas florestais de suas reservas. Esse
a licença ambiental para desenvolvimento dos projetos de ferro e des com bases sustentáveis, colaborando para minimizar os danos financeiramente o Projeto Ferro Carajás, o Banco Mundial impôs tipo de apoio inibia a retirada predatória de madeira, como o mog-
manganês, com a criação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). à mata nativa. como condição para concessão do empréstimo que a Companhia no, estimulando a geração de renda por meio de práticas como o
A CVRD iniciou ainda pesquisas de mais longo prazo, entre as As atividades de controle ambiental eram desenvolvidas também investisse no apoio aos indígenas que ocupavam as cercanias do
quais a que visava estudar a relação custo-benefício e o impacto pelas empresas controladas e coligadas do grupo CVRD. A Albras ins- 38 - Informações provenientes da Gerência de Relações com Povos Tradicionais.
talou, em cada uma de suas quatro linhas de cubas e nas duas fá- 39 - CVRD: 50 anos de história, CVRD, p. 284.
34 - Ver Brasil Mineral (especial meio ambiente), outubro de 1989, p. 9.
bricas de anodo, um sistema de última geração, com tecnologia 36 - Ver Brasil Mineral, no 94, novembro de 1991, p. 23. 40 - Idem.
35 - Ver CVRD, Relatórios de Diretoria 1985.
francesa e norueguesa, para coleta e tratamento dos gases com 37 - Ver Companhia Vale do Rio Doce, Meio ambiente e desenvolvimento econômico, op. cit., pp. 36-37. 41 - Informações dadas por Antonio Venâncio em entrevista à Companhia.
CAPÍTULO 7
Meio Ambiente, Crise e
Diversificação: os Anos 1990
7.1 Soluções em tempos de crise Um dia depois da posse, ocorrida em 15 de março de 1990, Fer- 215
nando Collor divulgou um novo pacote econômico na tentativa de
Os anos 1990 não seriam fáceis para a indústria nacional. No conter a hiperinflação. Mais tarde apelidado de Plano Collor, o con-
cenário econômico do início da década, somavam-se a ruptura junto de medidas determinava, entre outros pontos polêmicos, o
com o protecionismo econômico do regime militar, a abertura co- confisco, por 18 meses, dos saldos de contas-correntes, poupanças
mercial e financeira para o capital estrangeiro e uma profunda re- e outros investimentos superiores a 50 mil cruzados novos prove-
cessão. 1 Os números eram contundentes: “De 1980 a 1993, o Brasil nientes de pessoas físicas. Criou-se uma nova moeda com um nome
teve quatro moedas, cinco congelamentos de preços, nove planos antigo: estava de volta o Cruzeiro, velho conhecido dos brasileiros
de estabilização, 11 índices para medir a inflação, 16 políticas sa- nos anos 1940 e 1970.5 Todas essas medidas resultaram em uma
lariais, 21 propostas de pagamento da dívida externa e 54 mudan- forte redução da atividade comercial e da produção industrial. A
ças na política de preços.” 2 inflação acumulada em 1990 foi de 1.476,56%. Collor renunciou em
Entre 1985 e 1989, período do governo Sarney, sucederam-se 1992 após um processo de impeachment6 e, depois disso, a taxa anual
quatro planos econômicos: Cruzado, Cruzado II, Bresser e Verão. de inflação atingiu, em 1993, a maior média histórica do período de
A tônica era o congelamento de preços seguido de cortes de ze- 1989 a 1996, conforme mostra a Tabela 1.
ros na moeda, estratégia que afetava diretamente o livre-comércio
aspirado pelo empresariado.3 Seus efeitos foram devastadores: de
acordo com dados do IBGE, a inflação de dezembro de 1989 chegou
a 53,55%. O índice acumulado no ano atingiu 1.764,87%. No balan-
ço final dos anos 1980, o aumento dos preços chegou a mais de 39
milhões por cento.4
Fernando Collor de Mello assumiu a Presidência da República
no olho do furacão, em março de 1990, após uma acirrada disputa
com Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. Eram as primeiras
eleições diretas para presidente da República em 30 anos. As ex-
pectativas em torno das medidas que seriam tomadas pelo jovem
presidente eleito não eram poucas.
5 - Em 1o de novembro de 1942, em substituição ao Real (réis, no plural), o Cruzeiro (Cr$)
começou a circular como unidade monetária nacional. No lançamento da moeda, um
1 - Ver mais em Haguenauer, Lia et al. Evolução das cadeias produtivas brasileiras na década de cruzeiro equivalia a mil réis. Na ocasião, foi criado também o centavo. A moeda circulou
90. Brasília: Ipea, 2001. até 13 de fevereiro de 1967, quando se instituiu o Cruzeiro Novo. Três anos depois, em 15
de maio de 1970, a moeda brasileira voltou a se chamar Cruzeiro (Cr$). Dessa vez, duraria
2 - Para mais dados sobre inflação, ver revista Veja, Coleção Inflação. São Paulo. Disponível até fevereiro de 1986, com a criação do Cruzado Novo (NCz$). Ver mais em Folha de S. Paulo,
em: <http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/inflacao-economia-planos-pacotes-real.shtml>. Almanaque da Folha, Dinheiro, anos 40. Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.com.br/
3 - Ver Azevedo, Elisabeth e Gorayeb, José. BNDES 50 anos de desenvolvimento. São Paulo: DBA dinheiro40.htm>.
Artes Gráficas, 2002. 6 - A Câmara dos Deputados aprovou o impeachment em 29 de setembro. Collor foi afastado
4 - Para mais dados sobre a inflação no período, ver Folha de S. Paulo, “Ano acaba com supe- da Presidência da República em 2 de outubro e renunciou em 29 de dezembro de 1992,
rinflação de 1.764%”. São Paulo, 29 de dezembro de 1989, e Haguenauer, Lia et al., op. cit., s.p. minutos antes de o Senado iniciar a votação de seu processo.
216 TABELA 1 – teriam papel determinante na reestruturação econômica preten- quadro teria início com o lançamento do Programa Nacional de De- progressiva sobrevalorização cambial, segundo análise do Instituto 217
dida pelo Governo Federal. sestatização, instituído em abril de 1990, e atingiria o seu ápice em de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).15
1989 1.764% O economista Paulo Haddad, em artigo publicado no jornal O 1997, com a privatização de setores das telecomunicações e da Com- Nesse quadro, com a necessidade de aumentar o fluxo de capital
Estado de S. Paulo, mostrou como a crise econômica brasileira dos panhia Vale do Rio Doce.12 no mercado e amortizar os efeitos das dívidas externa e interna, o
1990 1.476%
anos 1980 afetou profundamente as estatais, especialmente os gru- Quando Itamar Franco chegou ao poder, em dezembro de 1992, programa de desestatização instituído cinco anos antes por Fernan-
1991 480% pos que estavam executando grandes projetos de investimento. “A já havia se desligado do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), do Collor ganhou ainda mais força. A partir de 1997, a discussão
interrupção dos fluxos de capitais externos para o Brasil suprimiu pelo qual fora eleito vice-presidente na chapa de Fernando Collor. sobre a privatização de diversas áreas da economia nacional – in-
1992 1.158% a principal fonte de financiamento destas empresas, prorrogando Itamar era um político oriundo dos quadros do antigo Movimento cluindo a mineração – entraria na ordem do dia do brasileiro, em-
1993 2.780% os cronogramas físicos dos projetos, aumentando os seus custos e Democrático Brasileiro (MDB) mineiro (principal partido de oposi- bora algumas privatizações já viessem ocorrendo desde o começo
adiando a entrada das receitas esperadas nos seus fluxos de caixa. ção ao governo militar), que se aliou a Collor durante a campanha. da década.
1994 1.093% Assim, as perspectivas de expansão eram desfavoráveis pelo lado Com a renúncia do primeiro presidente da República eleito dire-
1995 14,7% de suas fontes de financiamento, uma vez que, no início dos anos tamente pelo voto desde Jânio Quadros – que, por sinal, também A Vale de frente para a crise
1990, havia também se esgotado a poupança pública, ou seja, a ca- renunciou, em 1961 –, Itamar assumiu.13 Os anos 1980 desenharam um futuro de crise, que se concretizaria
1996 9,3% pacidade de autofinanciamento do seu controlador.”10 Depois de promover um plebiscito sobre o regime de governo definitivamente no início da década seguinte. Diante do quadro de
Em seu artigo, Haddad destaca as dificuldades das empresas pú- que deveria vigorar no Brasil – se presidencialismo (que saiu vito- depressão econômica, a Companhia Vale do Rio Doce preparava-se
Fonte: IBGE.7 blicas para desenvolver, a partir da segunda metade dos anos 1980, rioso, com 55,58% dos votos válidos)14 ou parlamentarismo –, Ita- para tempos difíceis, priorizando os investimentos em infraestrutura.
uma gestão eficiente. “[...] as empresas estatais sempre desempe- mar se dedicou ao combate à inflação. Experimentou mudanças Os primeiros anos da década de 1990 foram marcados pela am-
As empresas se protegiam como podiam. Os investimentos prio- nharam funções múltiplas no Brasil: de um lado, eram unidades pro- nos ministérios até chegar ao nome de Fernando Henrique Cardoso pliação da malha ferroviária e modernização dos terminais portuários.
rizavam o aumento de produtividade por meio da introdução de ino- dutivas que exigiam resultados financeiros positivos; do outro lado, (então ministro das Relações Exteriores) para o cargo de ministro Além disso, a Companhia buscou diversificar a sua produção de mi-
vações organizacionais e melhoria dos sistemas de qualidade.8 Para- eram unidades organizacionais às quais o Estado atribuía papéis na da Fazenda. FHC era um sociólogo e político de longa tradição na nérios, ante a instabilidade do preço do ferro, o que trouxe ótimos
lelamente, a abertura econômica promovida pelo governo se execução das políticas públicas. Entre estes papéis se destacam: o esquerda brasileira, pertencente aos quadros do Partido da Social resultados e sucessivos recordes. Por fim, os anos 1990 – que teriam
consolidava. Reduções na estrutura tarifária brasileira já haviam controle de tarifas e preços para reduzir as taxas inflacionárias; a Democracia Brasileira (PSDB) paulista. Com FHC no ministério, o na Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambien-
sido implementadas. Entre 1988 e 1993, a tarifação média aplicada participação acionária em projetos pioneiros; a localização em áre- Brasil viria a conhecer o Plano Real – conjunto de medidas que obti- te e o Desenvolvimento), realizada no Rio de Janeiro, um de seus
sobre a indústria caiu de níveis superiores a 50% para 13,2%,9 facili- as deprimidas para atenuar desequilíbrios regionais de desenvolvi- veram êxito no combate à inflação e que criariam uma nova moeda, grandes momentos – trariam a CVRD no importante papel de di-
tando a troca de bens e serviços com outros países. Nesse contexto, mento; etc. Isso resultava, em geral, na redução da lucratividade o Real, desde então em vigor. fusora de uma prática que aliava ações ambientais a iniciativas de
as empresas estatais – ou melhor, a desestatização dessas empresas financeira necessária para suas reinversões. Assim, esse fraco de- O sucesso do Plano Real seria fundamental para que Fernando cunho social. Em junho de 1992, a Companhia chegava aos 50 anos
sempenho econômico das empresas estatais e a impossibilidade de Henrique Cardoso fosse eleito presidente da República, em outu- e, mesmo diante dos reveses econômicos, encontrava motivos para
7 - Todos os números relativos ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, medida maiores transferências de recursos pelo governo, por causa de sua bro de 1994, mas não significou – ao menos de imediato – cresci- celebrar.
oficial de inflação) estão em IBGE, Séries Históricas de Números e Índices – IPCA. própria fragilidade financeira, trouxeram a necessidade de se iniciar mento da economia. Já em 1995, a balança comercial brasileira re- Em dezembro de 1991, houve o anúncio do volume acumulado
8 - Essas informações foram retiradas de Haguenauer, Lia et al., op. cit. um processo de privatização, acompanhando a tendência mundial gistrava déficit, situação que se agravou ao longo da década com a de minério de ferro extraído no município de Itabira (MG) desde o
9 - Além da redução tarifária, outras barreiras comerciais caíram no início da década de de menor intervenção governamental na economia.”11 No Brasil, esse início das atividades de mineração, em 1942.16 Das minas do Cauê,
1990, com destaque para a obrigatoriedade de programas de importação por empresas,
a exigência de anuência prévia de órgãos da administração federal para a importação de 12 - Idem.
produtos específicos, entre outras. Mais informações em Markwald, Ricardo. “O impacto
da abertura comercial sobre a indústria brasileira: balanço de uma década.” Revista 10 - Haddad, Paulo. “Sobre as empresas estatais.” O Estado de S. Paulo, 3 de novembro de 13 - Para mais detalhes sobre o período Itamar Franco, ver DHBB, disponível em: <http:// 15 - Bonelli, Régis. “As estratégias dos grandes grupos industriais brasileiros nos anos 90.”
Brasileira de Comércio Exterior. Disponível em: <http://www.funcex.org.br/publicacoes/ 2010, s.p. www.fgv.br/CPDOC/BUSCA>. Texto para Discussão, no 569, Ipea, julho de 1998.
rbce/material/rbce/68-Integra%C3%A7ao-RM.pdf>. 11 - Idem. 14 - Disponível em: <www.tse.jus.br/eleicoes/plebiscitos-e-referendos/plebiscito-de-1993>. 16 - Ver Jornal da Vale, no 148, dezembro de 1991, p. 12.
que por 11 dias, a sensação de ser o centro do poder do Brasil. Du- 27 - A Sema foi criada pelo Decreto no 73.030, de 30 de outubro de 1973, e substituída pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pela
rante o evento, o então presidente da República, Fernando Collor Lei no 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, órgão vinculado à Secretaria do Meio Ambiente da
de Mello, transferiu a capital para o Rio de Janeiro, a fim de receber Presidência da República. O Ibama foi constituído pela fusão de quatros órgãos brasileiros
que executavam isoladamente as seguintes políticas: Pesca (Superintendência do Desen-
autoridades e convidados da conferência na sede do governo.
volvimento da Pesca – Sudepe); Florestal (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
– IBDF); Borracha (Superintendência da Borracha – Sudhevea); e a própria Sema. Ver mais
em Grigato, Rosemay B. e Ribeiro, Luiz C. M. “Política ambiental e responsabilidade social
23 - Ver Jornal da Vale, no 171, fevereiro de 1994, p. 3. empresarial da CVRD.” Ágora, Vitória, no 4, 2006.
Viveiro de mudas na 24 - Ver Jornal da Vale, no 178, setembro de 1994, p. 3, e Relatório Anual 1994, pp. 8-9. 28 - Ver Castro, Maurício Barros de. A reciclagem do alumínio no Brasil. Rio de Janeiro: Editora
Bahia Sul Celulose S.A. 25 - Ver Relatório Anual 1993, p. 15. Desiderata, 2006.
222 tuirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode biental (atuação social dentro das áreas de influência); e pesquisa e O verde da Vale chegaria também a Belo Horizonte no momen- 223
ser considerada isoladamente deste.”29 Foram também produtos da tecnologia. Já em 1992, na Ecotech, a Vale apontava o uso da tecno- to em que a prefeitura realizava a segunda grande obra de reforma
reunião a Declaração sobre Florestas, a Convenção das Nações Uni- logia como importante aliada para o desenvolvimento sustentável do seu Parque Municipal. Era um projeto arquitetônico com ins-
das sobre Diversidade Biológica, a Convenção-Quadro das Nações e a preservação ambiental.33 piração romântica, que consistia na implantação de um sistema
Unidas sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21.30 Naquele ano, a Vale tornou-se a primeira empresa brasileira a de irrigação, repavimentação de alamedas e construção de novos
ter uma auditoria ambiental própria. Durante a Rio-92 e ao longo portões e pistas. Em outubro de 1991, a Vale doou 60 mil mudas de
A Vale e o meio ambiente de todo o ano, as instalações da CVRD em Carajás receberam mui- árvores para a cidade, todas de espécies nativas da Mata Atlântica.
O programa ambiental da CVRD foi um dos principais destaques tas visitas oficiais. Entre os visitantes ilustres, destacaram-se o O plantio teve orientação técnica da Florestas Rio Doce, responsá-
apresentados pelo governo brasileiro na convenção. O projeto “Polos príncipe Charles e a princesa Diana, da Inglaterra, a Missão Keidanren vel pela produção das mudas da então Reserva Florestal de Linha-
Florestais” – que sugeria o reaproveitamento de áreas desmatadas – Federação das Organizações Econômicas do Japão, órgão similar res (ES). A recuperação do Parque Municipal – a maior área verde
com plantio sustentável – foi um dos 50 casos de sucesso escolhi- à Confederação Nacional da Indústria (CNI) no Brasil – e grupos da cidade, com cerca de 180 mil metros quadrados – foi realizada
dos pela organização da Rio-92 para o evento “Expo Brasil”, que reu- de cientistas da Unesco. 34 com recursos da CVRD, da Florestas Rio Doce e da Celulose Nipo-
nia projetos bem-sucedidos relacionados com o desenvolvimento -Brasileira S. A. (Cenibra). 37
sustentável e proteção ambiental na sede da conferência.31 A Vale Em se plantando tudo muda
montou ainda dois estandes na Rio-92. O primeiro foi aberto ao pú- Em janeiro de 1992, a Superintendência de Minas de Itabira (Sumin), A realidade após a Eco-92
blico durante a Ecotech. Esse evento, que fazia parte da convenção, em Minas Gerais, por meio da Florestas Rio Doce, celebrou o plantio As recomendações aprovadas na Eco-92 foram, aos poucos, tornan-
tinha como meta discutir a interseção de ciência, tecnologia e de- de 270 mil mudas nas regiões de Pico do Amor, Cambucal, Barragem do-se realidade. Em 1993, por meio da Portaria 773/93, o Ministério
senvolvimento sustentável, principalmente nos países em desen- do Rio do Peixe – todas no município mineiro –, além de avenidas e da Educação e Cultura (MEC) instituiu, em caráter permanente, um
volvimento. O outro estande foi montado no Fórum Global, evento ruas da cidade. Essa recomposição florestal nas áreas da periferia grupo de trabalho com o objetivo de coordenar, apoiar, acompanhar,
paralelo à Rio-92, realizado no Aterro do Flamengo, reunindo Orga- atingia trechos de encostas e campos, áreas dentro da zona urbana avaliar e orientar as ações, metas e estratégias para a implemen-
nizações Não Governamentais de todo o mundo.32 – como o Pico do Amor – às margens da Estrada de Ferro Vitória a tação da educação ambiental nos sistemas de ensino em todos os
Em ambos os eventos foram apresentadas as principais ativida- Minas (EFVM), além de cuidar da proteção das nascentes.35 níveis e modalidades.38 Também foram criados os Centros de Edu-
des do programa de meio ambiente da CVRD, organizadas em qua- Essas mudas, somadas às demais, davam à Divisão de Meio cação Ambiental do MEC, com a finalidade de difundir no ensino
tro linhas mestras de trabalho: controle ambiental (meio ambiente Ambiente da Sumin a marca de 1,1 milhão de árvores plantadas metodologias de preservação de meio ambiente.
dentro das áreas operacionais); recursos naturais (manutenção das em Itabira. A recomposição florestal na cidade foi feita em parce- A Vale se antecipava e já aplicava esses conceitos. Em 1989, a
áreas de conservação e produção de mudas de espécies nativas da ria com a prefeitura municipal, a partir de mais de 200 espécies Companhia iniciou a plantação de um cinturão verde nas áreas do
Mata Atlântica e Floresta Amazônica); desenvolvimento socioam- nativas e exóticas, todas produzidas no Parque Ecológico do Ita- entorno da Valesul, sua fábrica de alumínio em Santa Cruz, uma
biruçu – uma reserva de 1,2 mil hectares – e na Reserva Florestal das regiões mais quentes do Estado do Rio de Janeiro. Na época,
de Linhares (ES), atualmente Reserva Natural Vale, ambas de pro- para amenizar a poluição e o calor, cerca de 20 mil mudas eram
29 - Mais informações sobre a Rio-92 em Milaré, Édis. Direito do ambiente. 3a ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004. priedade da CVRD. 36
30 - Mais informações sobre a Agenda 21, um documento de 800 páginas, podem ser
encontradas em Lemos, Haroldo Mattos de. A Agenda 21 no Brasil. 2006. Instituto Brasil 37 - As informações foram retiradas de Companhia Vale do Rio Doce. Parque Municipal: crônica
PNUMA. Disponível em: <http://www.brasilpnuma.org.br/2010/03/empresas-e-sustenta- 33 - Idem.
de um século. Belo Horizonte: CVRD, 1992.
bilidade.html>. 34 - Ver mais em Relatório Anual 1992.
38 - Ver mais em Ministério da Educação. Um pouco da história ambiental. Secretaria de Edu-
31 - Ver Jornal da Vale, no 153, maio de 1992, p. 7. 35 - Jornal da Vale, no 149, janeiro de 1992, p. 9. cação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Disponível em: <http://portal.
32 - Idem. 36 - Idem. mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/historia.pdf>.
plantadas a cada 45 dias. Quatro anos depois, em 1993, 250 mil ár- processo de pelotização. “Operar a usina e proteger o meio ambien- culação, dezenas de caminhões passaram a percorrer diariamente
vores já formavam o cinturão verde da Valesul,39 contabilizando 125 te têm o mesmo peso”, registrava o Jornal da Vale em reportagem as estradas e ruas da região irrigando-as, como forma de assentar
espécies nativas da Mata Atlântica, que cobrem mais de 30 dos 80 sobre a inauguração.42 e diluir o pó fino.45
hectares que abrigam os fornos, a área de redução, os depósitos e O Relatório Anual 1994 destaca que a Vale assumira uma posição A Vale preocupava-se, também, com a qualidade da água e do
224 225
as instalações de produção de alumínio da empresa. Esses núme- de vanguarda nos cenários nacional e internacional graças às suas solo dos locais próximos à mineração. Em Itabira, foi inaugurada,
ros reiteravam o pioneirismo da Companhia no reflorestamento de políticas ambientais. A Companhia ocupou a coordenação geral do em janeiro de 1995, uma caixa de concreto para impedir que os
áreas próximas às fábricas. As novas árvores proporcionavam con- Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (Gana),43 responsável resíduos da Mina de Conceição poluíssem o córrego da região e a
forto térmico aos empregados, além da recomposição paisagística pela formulação das normas do Certificado Internacional de Qua- Barragem do Rio do Peixe, onde ele deságua. Essa era a primeira
e do confinamento de agentes poluidores, como poeira e barulho. lidade Ambiental ISO 14000. Entre as outras iniciativas destacadas fase do projeto Resíduo Zero, que pretendia eliminar por com-
As plantas, praticamente coladas às paredes da fundição, tinham no documento está o diagnóstico socioambiental de Curionópolis pleto o transporte de material explorado da mina por meio do
como função reter o som e amenizar o calor durante o trabalho. O (PA), produzido para a elaboração de um Plano de Impacto Ambien- Córrego de Conceição.46
pó de alumina, matéria-prima para a produção de alumínio, ficava tal, tendo em vista a retomada das pesquisas minerais para a ex- Junto às comemorações do aniversário da cidade de Vitória (ES),
retido junto ao vapor de fluoreto nas folhas da mata reflorestada, ploração de ouro em Serra Pelada. em setembro de 1995, foi inaugurado um importante espaço verde:
evitando a circulação de partículas de poeira nas dependências in- A preocupação de garantir plena harmonia entre a produção de o Parque Municipal Augusto Ruschi, no local do antigo Horto de Ma-
dustriais da Valesul e na área circundante.40 minério e a conservação do meio ambiente prosseguiria em alta em ruípe, construído em 1938. Com recursos da Vale – cerca de US$ 500
No fim de 1993, a Companhia era proprietária e responsável pela 1995. A Companhia investiu pesado contra a poeira que escapava mil –, os 68 mil metros quadrados foram entregues de volta à cida-
manutenção de 22 mil hectares no Espírito Santo, com a Reserva das unidades operacionais em direção à cidade de Itabira (MG). A de com novas instalações elétricas, hidráulicas e de irrigação, jar-
de Linhares; 17 mil hectares no Pará, com a Reserva de Marabá; e Vale percebeu que as principais fontes de “poeira fugitiva” – como é dineiras, bromeliário e pequenos lagos formados por diques de um
10 mil hectares no Maranhão, com a Reserva de Buriticupu. A Vale conhecido o problema – são o processo de extração de minério e o córrego da região. A Companhia ainda destinou ao empreendimen-
ainda destacava a conservação da área de direito real de uso de Ca- tráfego de automóveis e caminhões pesados nas vias de circulação to 7 mil mudas da Reserva de Linhares para compor a paisagem.
rajás, com mais de 411.948,87 hectares de floresta amazônica nati- interna da área sob jurisdição da então Superintendência de Minas Mas foi em Washington, em 1995, que se celebrou um dos prin-
va, e as atividades de vigilância das áreas de proteção ambiental do (Sumin) e nas áreas de depósitos de rejeitos. O principal projeto cipais acontecimentos relativos ao meio ambiente do quinquênio
Ibama, também no Pará, com 726 mil hectares de matas.41 anunciado foi o nebulizador Cauê, para a mina de mesmo nome, 1992-1996: o então vice-presidente da Vale, Anastácio Fernandes
cuja função é formar uma cortina de neblina a 30 metros de altura, Filho, assinou em setembro um contrato de empréstimo com o
Operar uma usina e proteger o meio ambiente por meio de 412 metros de tubulações lineares, para conter a dis- Banco Mundial no valor de US$ 50 milhões para financiar parte
Da terra para o ar, a Vale inaugurou, em março de 1994, o quinto persão de resíduos. A proposta foi pioneira no país.44 dos mais de 70 projetos do Programa Ambiental da CVRD.47 Todas
precipitador eletrostático (de uma série de seis) da usina CVRD I, Outra estratégia de contenção de poeira, divulgada no início de as áreas operacionais da Companhia estavam contempladas no
em Vitória (ES). O aparelho custou à Vale cerca de US$ 3,5 milhões 1995, foi a irrigação da pista de rolamento da Mina do Chacrinha, programa, que abrangia atividades de gerenciamento e controle
e impediria a fuga de 99% de partículas sólidas que até então eram a mais próxima da cidade de Itabira: 25 mil metros quadrados de ambiental das atividades produtivas, de recuperação de áreas de-
lançadas pela chaminé principal da usina para a atmosfera. As par- estrada passaram a ser irrigados, na época, por um sistema auto- gradadas, manutenção de ecossistemas, estudos e pesquisas, além
tículas dessa poeira são atraídas por placas de aço e deslocadas mático de aspersão. Além disso, para conter a poeira das vias de cir- de investimentos conjuntos com os municípios de Itabira (MG) e
mecanicamente por vibração, para em seguida serem utilizadas no Parauapebas (PA).
42 - Jornal da Vale, no 172, março de 1994, p. 12.
39 - Em 22 de janeiro de 2010, a Vale anunciava a venda de seus ativos da Valesul, no Rio de 43 - Mais informações sobre o Gana em: Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Janeiro, para a Alumínio Nordeste S.A., uma empresa do grupo Metalis, por US$ 31,2 milhões. Desenvolvimento. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1991;
Ver mais em “Vale vende ativos da Valesul”. Sala de Imprensa, disponível em: <www.vale. Cajazeira, Jorge Emanuel Reis e Barbieri, José Carlos. “A nova versão da Norma ISO 14001:
com/pt-br/investidores/press-releases/Paginas/vale-vende-ativos-da-valesul.aspx>. as influências presentes no primeiro ciclo revisional e as mudanças efetuadas.” REAd, São 45 - Idem.
40 - As informações vêm do Jornal da Vale, no 164, julho de 1993, p. 24. Paulo, vol. 11, no 6, novembro-dezembro, 2005. 46 - Jornal da Vale, no 182, fevereiro de 1995, p. 8.
41 - Ver mais em Relatório Anual 1993. 44 - Jornal da Vale, no 182, fevereiro de 1995, p. 4. 47 - As informações sobre o Programa Ambiental da CVRD estão no Relatório Anual 1995.
230 7.4 Cinco anos de inaugurações na logística modernização das vias de transporte e a abertura de opções de -cegonheiros para transporte de carros da Fiat (presente desde 231
tráfego e produtores”. 61 Essa modernização ficaria patente nos 1974, em Betim) e oito vagões com ar-condicionado para passagei-
A conquista dos mercados internacionais vinha acompanhada anos seguintes. ros. Para completar o aumento do conforto, 10 novas locomotivas
da necessidade de melhoria da logística interna. A CVRD, desde o A inauguração do novo Terminal de Grãos do Complexo de Tuba- também foram adquiridas.64 Uma frota que, com a expansão da ma-
início da década de 1990, investia em maior integração dos Sistemas rão, em abril de 1993, significaria, também, a ampliação da logística lha ferroviária pertencente à Vale, continuaria recebendo o reforço
Norte e Sul, com ferrovias e terminais marítimos – o que possibili- de exportação da Companhia no Sistema Sul. Batizado de Terminal de novos trilhos.
taria uma facilitação do fluxo do minério das minas ao mar – e em de Produtos Diversos – e conectado à EFVM e às rodovias BR-262 A oportunidade para ampliar a malha ferroviária da Vale surgiu
um melhor aproveitamento das usinas de pelotização – que, obri- e BR-101 –, o novo terminal reforçava a presença da Companhia com a inclusão de diversos trechos pertencentes à Rede Ferroviá-
gatoriamente, teriam que ficar situadas próximas ao porto de onde
deveriam ser exportadas.59 Curiosamente, a primeira das grandes
no transporte de cargas gerais e também transformava o Corredor
Centro-Leste na mais barata e eficiente saída da soja e de outros
ria Federal (RFFSA) no programa de privatizações implementado
pelo Governo Federal. Em 1996, a Mineração Tacumã, controlada
Wilson Nélio Brumer
novidades no período viria de uma velha conhecida da Vale, a Es- produtos agrícolas brasileiros para a Europa e o Japão.62 pela Vale, arrematava por US$ 316,9 milhões a Malha Centro-Leste,
As obras incluíram a instalação de correias transportadoras, ba- a maior da RFFSA. Essa malha viria a integrar a Ferrovia Centro- A carreira de Wilson Brumer (Belo Horizonte, MG,
trada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), que, naquele momento, já
lanças e moegas, estas últimas aproveitadas do antigo sistema de -Atlântica (FCA), que em 2010 somaria 8.023 quilômetros de trilhos, 1948) 1 na Companhia Vale do Rio Doce teve início nos anos
carregava mais de 80 anos de história em seus trilhos.
O ano de 1992 começaria com uma notícia que estava para ser descarga de ferro-gusa, transferido para o Porto de Paul, na Baía de estendendo-se pelos estados brasileiros de Sergipe, Bahia, Espírito 1980, já como diretor financeiro. Em 1990, no governo de
dada desde 1904, quando foi traçado o primeiro trecho da Vitó- Vitória. Dos US$ 12,5 milhões investidos, 50% couberam à Vale, que Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás e Brasília. Fernando Collor, foi nomeado presidente da Companhia.
ria a Minas: a inclusão de Belo Horizonte na malha ferroviária do administrava o Porto de Tubarão. Os esforços para a melhoria da A aquisição representava a possibilidade de escoamento da pro- Formado em Administração de Empresas pela Fundação
país, uma variante ferroviária construída e inaugurada em 14 de logística, no Sistema Sul, resultariam na marca histórica, quando dução da região central do país (soja inclusive) pelo Espírito Santo. Mineira de Educação e Cultura (Fumec-MG), Brumer as-
fevereiro de 1992. O trecho de Capitão Eduardo a Costa Lacerda Tubarão atingiria 2 bilhões de toneladas de minério transportadas Eram várias “retas” que chegavam ao mesmo destino. E todo o in-
sumiu a CVRD com a missão de promover, ainda que de
foi um enorme desafio de engenharia: a topografia exigia pontes sobre os trilhos da EFVM desde sua inauguração.63 vestimento da Companhia no setor de logística estaria, de alguma
Mais de 500 pessoas, incluindo um coral convidado especial- forma, presente no Complexo de Tubarão, que naquele ano de 1996 maneira embrionária, uma reforma administrativa que
muito altas, e uma delas é, até hoje, a ponte ferroviária mais alta
do Brasil. A obra – 47 quilômetros em uma ferrovia de mais de 600 mente para a ocasião e 15 mil tiros de foguete, receberam a locomo- completava 30 anos. preparasse a Companhia para uma futura privatização.
quilômetros de extensão – mostrou-se fundamental para o desen- tiva que trazia os 120 vagões carregados com a carga especial. Na O mais antigo sistema portuário da Vale comemorou seu trigé- Seu trabalho ficou marcado pelo fortalecimento da pre-
volvimento econômico e social de toda a região. Inaugurada em ocasião, os Correios e Telégrafos lançaram um selo comemorativo simo aniversário, em 1o de abril de 1996, a pleno vapor. O Complexo sença da Vale no mercado de ações e pelo retorno dos
18 de maio de 1904 e incorporada ao sistema logístico da Vale na pela grandiosidade do feito. Em seu discurso, o presidente da CVRD de Tubarão deu a largada para a estratégia do tripé mina-ferrovia- investimentos a Itabira. Com a renúncia de Collor à Presi-
década de 1940, a Vitória a Minas era um reforço importante para afirmou que, se os 2 bilhões de toneladas fossem transportados em -porto como espinha dorsal da CVRD ao longo da história. Foi ele o
dência da República, em 1992, Brumer também deixou a
a Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que na época também era uma um único trem, seriam necessários 40 milhões de vagões, totalizan- responsável pelo grande impulso das atividades da Vale no Espírito
presidência da Vale. Foi, posteriormente, secretário esta-
ferrovia estatal. 60 do 400 mil quilômetros. Santo e o trampolim para que o estado, cuja economia até o mo-
Nessa época, a Companhia contava com uma frota de 7.400 va- mento se dedicava ao café, experimentasse os caminhos da diversi- dual de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas
Na ocasião, Wilson Brumer, presidente da CVRD, pontuou os
benefícios da parceria entre as duas ferrovias como “natural e gões para minério, 5.700 para cargas gerais, 60 para passageiros e ficação industrial e comercial. Gerais e ocupou cargos gerenciais em importantes em-
indispensável para o deslanche do programa de crescimento de 209 locomotivas. Na cerimônia, foram anunciados mais 70 vagões- A comemoração da data foi também o ponto de partida para no- presas ligadas à mineração e à siderurgia, como a Acesita
vastas regiões nacionais, cujo potencial só se efetivaria com a vas obras de ampliação portuária. Foram anunciados três novos ber- e a Usiminas.
ços, dois exclusivos para grãos e granéis líquidos, e outro para fertili-
61 - Idem.
zantes. O objetivo era intensificar o manuseio de cargas diversas.
59 - Ver Relatório Anual 1995. 62 - Ver Relatório Anual CVRD, 1993, e Jornal da Vale, no 161, fevereiro-março de 1993, p. 3.
60 - “Trilhos da EFVM e Rede unem-se em BH.” Jornal da Vale, no 150, Reportagem especial, 63 - “Emoção na festa dos 2 bilhões da Vitória a Minas.” Jornal da Vale, no 177, Reportagem 1 - Ver “Brumer, Wilson”, DHBB, v. 1, pp. 861-862, e “Conheça todos os presidentes
fevereiro de 1992. especial, agosto de 1994. 64 - Idem. da história da Vale”, Exame, 5/4/2011
O orçamento das obras era de R$ 48 milhões, que permitiriam uma seriam recompensados menos de um ano depois, com a inau- Naquele mesmo ano de 1994, as ferrovias Vitória a Minas e Ca- 233
capacidade adicional de movimentação de cargas da ordem de 5,5 guração do Píer 2 no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira rajás transportaram 2,2 milhões de passageiros e 141 milhões de
milhões de toneladas anuais (mais do que a movimentação anual (TMPM), em São Luís (MA). toneladas de produtos. Paralelamente, a Vale realizava atividades
dos portos de Vitória e Capuaba – localizados em Vila Velha, também Inaugurado em março de 1994, o Píer do TMPM plantaria ali de navegação transoceânica por meio dos 50 navios da Docenave,
no Espírito Santo – juntos).65 um dos maiores complexos portuários do país. Chamada de Se- que transportavam 30 milhões de toneladas por ano. O investimen-
gundo Sistema de Carregamento de Granéis Sólidos, a construção to em infraestrutura alicerçava também as ações da Companhia
O Sistema Norte emergia para garantir flexibilidade às operações da Companhia nas áreas de pelotização, siderurgia, ferroliga e alumínio. Era uma
Francisco José Schettino O Sistema Norte, localizado nos estados brasileiros do Pará e do no Sistema Norte, encerradas em 1993 com mais de 35 milhões rede de logística que ia da plataforma de embarque de minérios aos
Maranhão, a partir dos anos 1990, mostrou-se fundamental para de toneladas de cargas diversas movimentadas até então em um terminais de desembarque em todo o mundo.
Francisco Schettino (Belo Horizonte, MG, 1936) 1 esteve a conciliação dos resultados econômicos com integração social único cais. 69 A CVRD chegou à metade da década de 1990 operando, em de-
à frente da Vale no período que antecedeu a privatização buscados pela CVRD. Não era só o minério. A partir de Carajás, a Na solenidade de inauguração do novo píer, estiveram presen- zembro de 1994, mais um terminal marítimo, desta vez no Estado
da Companhia. Engenheiro de formação, foi indicado pelo Companhia criava condições para o desenvolvimento – da agri- tes grupos de empresários japoneses, coreanos e norte-america- de Sergipe: o Terminal Marítimo Inácio Barbosa, que viria a corro-
cultura à educação – de boa parte da região que se estendia do nos parceiros do projeto. A trading japonesa Nissho Iwai finan- borar a sequência de investimentos em infraestrutura e logística.
presidente Itamar Franco e mantido no cargo por seu su-
Pará até São Luís, no Maranhão. ciou US$ 25 milhões gastos na construção. Segundo o diretor da O terminal tinha capacidade máxima de carregamento de granéis
cessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua posse O último trimestre de 1993 revelaria um volume inédito de ma- Nippon Steel, Yoshihide Adachi, “a CVRD tornava-se um ponto de 3 milhões de toneladas anuais, enquanto a movimentação de
ocorreu logo após o encerramento da Rio-92 (Conferência terial transportado pela Estrada de Ferro Carajás (EFC). O maior de sus tentação da indústria siderúrgica mundial”. O governa- carga geral foi projetada para 500 mil toneladas por ano. Na oca-
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi- ritmo da história da linha férrea garantiu um balanço final de 35 dor do Maranhão (que anos mais tarde seria ministro de Minas e sião, estiveram presentes o governador de Sergipe, João Alves Fi-
mento), sediada no Rio de Janeiro. Isso seria determinante milhões de toneladas de minério de ferro transportadas, 10% a Energia), Edison Lobão, afirmou na cerimônia que os empregados lho, o ministro de Minas e Energia, Delcídio Gomez, e o presidente
em sua trajetória como presidente da CVRD. mais do que no ano anterior, além das cargas gerais – princi- da CVRD – presentes e uniformizados na inauguração – seriam da Petrobras, Joel Rennó, além de diretores e superintendentes da
Schettino montou sua linha de atuação em duas ver- palmente calcário, bebidas, combustíveis, madeiras, veículos, in- “um exército que não promove a segurança, mas a economia do Companhia. 72
sumos industriais e agrícolas, assim como grãos. O trem diário de Estado brasileiro”. 70 E o ritmo só aumentava. Em maio de 1995, a Superintendência
tentes fundamentais: mais investimento da Companhia
passageiros da EFC era – e ainda é – o mais utilizado sistema A inauguração do Píer 2 do Terminal Marítimo de Ponta da Ma- de Pelotização (Supel) registrou recordes em suas usinas Nibrasco,
nas políticas de preservação do meio ambiente e o rea- de transporte interurbano da Amazônia Oriental Paraense: na- deira foi um impulso determinante para novos recordes de desem- inauguradas em 1978 no Complexo de Tubarão, em Vitória (ES), e
parelhamento da logística da Vale, como o novo Terminal quele ano, viajaram cerca de 500 mil pessoas. 66 Um fator impor- penho do Sistema Norte. O terminal passava a movimentar 15 tipos na Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização (Itabrasco), criada em
Marítimo de Ponta da Madeira, no Maranhão. Na sua ges- tante, no período, foi a receita obtida a partir do transporte de diferentes de cargas, incluindo vários produtos de minério de ferro 1977 no mesmo local. Ambas atingiram, respectivamente, as mar-
tão, a Companhia já era uma gigante: contava com 15.700 cargas gerais, favorecendo a ampliação do polo agrícola do sul e granulados, até gusa em pães e soja em grãos. O Píer 2 alavancou cas de 100 milhões e 50 milhões de pelotas produzidas. Apenas em
empregados e fechou o ano de 1995 com lucro de US$ 329 do Maranhão. O escoamento de soja, madeira, calcário, bebidas, o potencial local de escoamento, permitindo a ampliação da capa- 1994, as usinas produziram, juntas, um total de 18,7 milhões de
milhões. Participou da transição após a privatização, com combustíveis e veículos cobria 24% do custeio de Carajás. 67 “É só cidade de produção das minas, além de garantir maior rapidez e toneladas de pelotas, apesar de sua capacidade nominal instalada
vender que nós transportamos”, avisava, empolgado, o gerente ge- segurança nas exportações por meio do TMPM.71 ser de 18 milhões.73
cargo no Conselho Administrativo da Vale.
ral de Transporte da EFC, Luís Elesbão. 68 Os esforços da Companhia
65 - “Tubarão, 30 anos.” Jornal da Vale, no 195, Reportagem especial, março de 1996. 69 - “Píer 2 marca início de nova fase no Porto de Ponta da Madeira.” Jornal da Vale, no 172,
66 - Relatório Anual 1993, p. 31. Reportagem especial, março de 1994.
1 - Ver “Schettino, Francisco José”, DHBB, v. 5, pp. 5328-5329, e “Conheça todos os 67 - Jornal da Vale, no 170, janeiro de 1994, p. 3. 70 - Idem. 72 - Jornal da Vale, no 181, janeiro de 1995, p. 3.
presidentes da história da Vale”, Exame, 5/4/2011 68 - Idem. 71 - Idem. 73 - Jornal da Vale, no 186, junho de 1995, p. 9.
O Sistema Norte completou 10 anos em 1995, confirmando A CVRD diversificou os seus mercados de destino e, com isso,
Carajás como a maior província mineral do mundo. 74 Além de ampliou sua clientela e criou novas oportunidades de negócios.
trabalhadores ligados diretamente à mineração, Carajás atraíra Gradativamente, a Companhia incorporou novos produtos e negó-
para a região professores, comerciantes, corretores e outros pro- cios, sem, contudo, perder o seu foco principal e o controle dos seus
fissionais que viram na região a possibilidade de ascenção social. processos – e processos, para a Vale, são também sinônimo de lo-
A vida social e econômica das comunidades espalhadas ao longo gística, de grandes distâncias, de ferrovias, portos e navios. O cres-
do percurso dos trens cada vez mais integrava a Estrada de Ferro cente domínio logístico é uma forma de diversificação de ativos, de
Carajás (EFC), o que se tornou evidente quando os trilhos chega- competências, de fontes de produtividade, de economias de escala,
ram a São Luís. 75 de escopo e de integração.
Em fevereiro de 1995, a comitiva da Companhia encontrou-se O crescimento da CVRD está associado à capacidade de desen-
com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, para a inaugu- volver novas tecnologias para um melhor aproveitamento dos re-
ração da Estação Ferroviária de São Luís, a última construída pela cursos minerais de que a Companhia dispõe. Nem sempre essas
EFC, cujo trem de passageiros já beneficiara 500 mil usuários so- tecnologias estão disponíveis ou nem sempre as técnicas conheci-
mente em 1994. Logo após a solenidade, ainda na estação, a Vale das podem ser aplicadas em outros ambientes, outras jazidas, ou-
assinou um convênio com a Companhia Telefônica do Maranhão, tras ocorrências minerais. A diversificação tornou possível trans-
com o objetivo de implantar um sistema de telecomunicações por formar recursos não aproveitáveis em outros com valor econômico.
meio de fibra ótica ao longo da EFC. Os processos de produção mineral também envolvem a pos-
Carajás, aos 10 anos, registrava a melhoria gradativa no rela- sibilidade de encontrar e aproveitar outros minérios – além do
cionamento com as comunidades indígenas, o acerto nas políticas minério de ferro. Essa diversificação cumpre variadas funções,
ambientais e a diversificação de investimentos. No sudeste do Pará, como a de estimular o desenvolvimento tecnológico da Vale. Ao
a maior província mineral do mundo se fortalecia como um labora- ferro somaram-se, ao longo dos anos, o manganês, o ouro, o co-
tório no qual se moldava o perfil da CVRD. bre e o alumínio. A CVRD foi, assim, tornando-se uma minerado-
ra diversificada, construindo novas oportunidades e um futuro
mais promissor.
O navio Doceangra,
da Vale do Rio Doce
Navegação S.A.,
ancorado no Arsenal
da Marinha do Rio de
Janeiro, em 1990.
238 siderurgia: sua presença inibe a ação de impurezas e fortalece tintorial extraída da árvore homônima. Os melhores resultados da timo de Ponta da Madeira atingiu a marca de 300 milhões de Companhia Vale do Rio Doce tornou-se a maior produtora de ouro 239
as ligas de ferro, aumentando sua maleabilidade e sua durabili- mina foram no ano de 1995: um total de 234,9 mt de manganês fo- toneladas de minério de ferro embarcados para o exterior desde da América Latina.89 Em 1994, a retirada do metal chegou a um vo-
dade. O manganês é o quarto metal mais utilizado do mundo e ram vendidas, representando um crescimento de 20,5% em relação sua inauguração. 85 lume de 12,8 toneladas, consolidando sua posição.90
foi, desde o início, um dos produtos fundamentais na estratégia ao ano de sua aquisição total.81 O ano de 1995, que consolidaria a exploração do manganês Dois anos depois, em junho de 1996, o ouro ganharia desta-
de diversificação da Vale, 76 o que justificaria, em 1994, a compra Ainda que, a princípio, tenha sido o manganês o alvo principal em Urucum, marcaria também o aniversário de 10 anos da Mina que na pauta da CVRD. Em Caeté (MG), inaugurava-se a sétima
de 100% das ações da Urucum Mineração, com sede no Estado do da mineração no local, a exploração de minério de ferro em Uru- do Azul, importante produtora deste minério no Sistema Norte. mina de ouro da Companhia, e a capacidade de produção total
Mato Grosso do Sul. cum, rea lizada a céu aberto desde sua aquisição, tem cada vez Em outubro daquele ano, graças a uma política comercial agres- subiria para 750 quilos anuais. A chegada da Vale ao município
A Urucum Mineração S. A. foi criada em 1976, a partir da associa- mais destaque, tornando-se, no final da primeira década dos anos siva, a mina bateu seu recorde de produção, atingindo 130 mil retomava uma atividade iniciada na região 280 anos antes, com
ção da CVRD (33,3%) com a Companhia Matogrossense de Mineração 2000, essencial para o êxito do empreendimento. Só em 2010, foi toneladas no mês. O mérito vinha, em grande parte, da diversi- a fundação da cidade por bandeirantes do ciclo mineiro do ouro.
(Metamat), pertencente ao Governo de Mato Grosso (33,3%), e a retirado 1,4 milhão de toneladas métricas de minério de ferro da ficação dos produtos, com o lançamento do sinter feed Seas, que Os investimentos somaram, apenas naquele período, cerca de US$
Convap S. A., empresa do grupo privado nacional Alcindo Vieira Mina de Urucum. 82 se tornou na época o produto do manganês mais comercializado 35 milhões para descobertas de novas reservas, e a implantação
(33,3%). A finalidade era a exploração das reservas de manganês pela Companhia. 86 da mina aconteceu em prazo recorde de 11 meses. Esse feito, en-
das serras de Urucum e Jacadigo, no município de Corumbá (MS), Manganês e o mercado externo Junto ao manganês, outro trunfo da Vale, no final de 1995, era tretanto, não aconteceu de uma hora para outra: a Docegeo havia
estimadas em 60 milhões de toneladas brutas de minério.77 No final de 1995, a Vale deu um passo decisivo para consolidar o aproveitamento de minérios de baixo teor. Em outubro, entrou iniciado pesquisas na região décadas antes, em 1972. 91 No período,
Na ocasião, o presidente da Vale, Francisco José Schettino, res- a verticalização da produção do manganês, ao assumir 65% das em operação a nova usina de concentração de itabirito, na Mina a Vale também inaugurou, no então recém-criado Estado de To-
saltou a oportunidade das novas aquisições: “As reservas mundiais ações da Société Européenne d’Alliages pour la Sidérurgie de Timbopeba, em Ouro Preto (MG). Com ela, o itabirito, até então cantins, a Mina das Almas, com capacidade para produzir 1 tone-
de manganês são limitadas. Elas existem na Austrália, África do (Seas), ou Sociedade Europeia de Ligas para a Siderurgia, segun- considerado um minério de pouco valor, ganhou um novo status. O lada de ouro por ano.92
Sul, Brasil e Gabão. Também de grande importância é a reserva de da maior empresa europeia e francesa para a produção de fer- investimento da CVRD na usina foi de US$ 30,7 milhões, feito ex- Além das duas minas de ouro recém-inauguradas pela Vale,
minério de ferro do tipo granulado. São mais de 100 milhões de to- roligas de manganês – uma conquista de peso, pois era a clusivamente com recursos próprios. Com 97% de equipamentos de uma nova empresa surgiria em novembro de 1996, a Salobo Me-
neladas, que complementam nossas reservas de sinter feed e pellet primeira vez que passava a controlar uma empresa operacional fabricação nacional, o impulso garantia um aumento da reserva la- tais S.A., a partir de um acordo firmado entre a CVRD, a Mineração
feed. O granulado é utilizado em larga escala em altos-fornos para no exterior. 83 A Companhia pôde, assim, garantir seu ingresso vrável de hematita em mais de 16 milhões de toneladas, cuja maior Morro Velho e o BNDES. Localizada em Marabá, a 77 quilômetros de
redução direta”, afirmou.78 A redução direta é feita em fornos que permanente no mercado europeu de ligas, bem como o consu- parte seria destinada à exportação.87 Carajás, sul do Pará, a Mina de Salobo foi descoberta em 1977 pela
utilizam gás natural.79 mo de todas as suas necessidades de manganês a partir de finos Docegeo. A empresa tinha como meta ajudar o Brasil a se tornar
Com a aquisição de 100% da Mina de Urucum, situada em de Carajás, passando a ser a primeira empresa no mundo a ope- O ouro e o cobre autossuficiente em cobre.93
Corumbá, a Vale agregou reservas de manganês da ordem de 67 rar com 100% de sinter feito com 100% de minério CVRD. A CVRD foi consolidando sua política de diversificação, na qual A Mina de Salobo, cuja inauguração estava prevista para o se-
milhões de toneladas, que, somadas às reservas de Carajás, tota- O contrato com a empresa francesa, assinado em dezembro o ouro e o cobre desempenharam um papel importante durante gundo semestre de 2012, teve produção estimada de 100 mil to-
lizaram 131 milhões, ampliando consideravelmente o total de pro- de 1995 pelo diretor de metalurgia da Vale, Guilherme Almeida os anos 1990. Logo no início da década, em 1992, a Vale torna-se neladas anuais de cobre na primeira fase e 200 mil toneladas na
dução para 2,3 milhões de toneladas ao ano.80 A mina recebeu esse Gazolla, dava à CVRD acesso ao mercado europeu de ligas. 84 Tal a maior produtora aurífera do Brasil, com uma produção de 11,3 segunda. Também está prevista a produção de 8 toneladas de ouro
nome pela tonalidade avermelhada do solo, tal como a substância acordo era coerente com o recorde de exportação alcançado pela toneladas/ano.88 No mesmo ano, como fruto dos esforços para ex-
Companhia nesse mesmo mês e ano, quando o Terminal Marí- tração, beneficiamento, comercialização e pesquisas geológicas, a
89 - Ver Relatório Anual 1993.
76 - Ver Jornal da Vale, no 178, setembro de 1994, p. 3. 90 - Ver Relatório Anual 1994.
77 - Companhia Vale do Rio Doce – 50 anos de história, p. 192. 81 - Ver Relatório Anual 1995, p. 24. 85 - Jornal da Vale, no 192, dezembro de 1995, p. 8. 91 - Ver Jornal da Vale, no 191, dezembro de 1995, p. 16, e Jornal da Vale, no 198, junho de 1996,
78 - Ver Jornal da Vale, no 178, setembro de 1994, p. 3. 82 - Idem. 86 - Jornal da Vale, no 190, outubro de 1995, p. 7. Reportagem especial, s.p.
79 - Curso de Mineração Básico, Valer – Educação Vale. Mod. IV, p. 19. 83 - Jornal da Vale, no 192, dezembro de 1995, p. 5. 87 - Ver Jornal da Vale, no 191, novembro de 1995, p. 6. 92 - Ver Jornal da Vale, no 197, maio de 1996, Reportagem especial, s.p.
80 - Ver Relatório Anual 1994, p. 21. 84 - Idem. 88 - Ver Relatório Anual 1992. 93 - Ver Jornal da Vale, no 203, novembro de 1996, p. 3.
1 - Ver “Dauster, Jório”, DHBB, v. 2, pp. 1800-1801, e “Conheça todos os presidentes 96 - Ver mais em: <www.alunorte.net/processo>. 98 - Idem. 101 - Idem.
da história da Vale”, Exame, 5/4/2011 97 - Ver Siqueira, Victorio, op. cit., p. 9. 99 - Idem, p. 12. 102 - Idem, p. 114.
CAPÍTULO 8
Anos de Transformações
8.1 Novos horizontes na economia Os mercados internacionais reagiram à crise asiática compran- 249
do menos, e os preços das commodities despencaram em todo o
Em 23 de outubro de 1997, a Bolsa de Valores de Hong Kong caiu mundo. Petróleo, gás e minérios tinham menos compradores e co-
10,4% e levou consigo os demais mercados. O vendaval atingiu em tações mais baixas. Com o choque na demanda, os preços do miné-
cheio a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que registrou uma rio de ferro teriam queda de 11% no período entre 1998 e 1999, com
queda de 8,15%, a segunda maior do planeta naquele dia.1 Porém, decréscimo de 12% para as pelotas e de 11% e 13% para os finos e
a economia brasileira atravessou a chamada crise asiática2 melhor granulados, respectivamente.4
do que muitos poderiam imaginar. Aos produtores de minério de ferro, entre os quais a CVRD, ca-
Um alicerce fundamental, que permitiria ao país se manter fir- beriam ações emergenciais, como a redução de custos, a elevação
me economicamente, apesar da crise asiática, havia sido construí- dos níveis de eficiência e o aumento da produtividade. Nesse con-
do três anos antes. O Plano Real, criado em 1994, foi a experiência texto aconteceria a crise da Rússia, em 1998. Tradicional expor-
que obteve sucesso após várias tentativas de enfrentar a inflação tador de commodities como petróleo e gás, o país foi vítima de um
brasileira, que desde a década de 1980 vinha em escalada, exigindo ataque especulativo contra sua moeda, como ocorrera pouco antes
sucessivos planos que até então não haviam conseguido conter o na Ásia, e declarou moratória de 90 dias, até que sua dívida externa
aumento constante dos preços. fosse renegociada.5
Entre 1997 e 2001, o Brasil habituou-se à moeda estável e a ta- A desconfiança internacional gerada pelas crises asiática e rus-
xas mais baixas de inflação. O novo momento econômico propor- sa atingiria o Brasil. Os investimentos externos deixavam o país, e o
cionaria experiências inéditas – os brasileiros, que viram os pre- real segurava-se como podia no regime com taxa de câmbio estável,
ços subirem 2.477% em 1993, terminariam 1997 com uma inflação com cotações próximas ao valor do dólar.6 Mas enquanto os dólares
acumulada de 5,22%.3 saíam do país, a moeda mantinha sua estabilidade à custa de juros
O crescimento econômico propiciado pelo sucesso do Plano Real que superariam 40% em outubro de 1998.7
suscitou um movimento de recuperação dos fluxos de capital, e a A sobrevalorização do real nesse período foi uma opção do go-
convergência da economia brasileira para padrões globais acelerou verno para conter a volta da inflação, mas não seria possível sus-
o interesse das grandes empresas internacionais. O cenário favorá- tentar essa política cambial durante muito tempo. A partir de 1999,
vel para o Brasil no mercado exterior seria abalado pelas crises que
se sucederiam a partir de 1997, mas o país encontraria soluções
para enfrentá-las. 4 - Ver mais em “Minério de Ferro no mundo: retomada de crescimento”. Revista Mineração e
Metalurgia no 36, setembro de 2000. Disponível em: <www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/
sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/setorial/is_g3_36.pdf>.
5 - Ver “Rússia ainda discute dívida de US$ 16 bi”, Folha de S. Paulo, 21/11/98; e BNDES,
“Crise na Siderurgia Mundial: a Visão da OCDE”. Informe Setorial Mineração e Metalurgia,
1 - “Bolsas desabam em todo o planeta”, Folha de S. Paulo, 24 de outubro de 1997. no 22, dezembro de 1998.
2 - Os países asiáticos atingidos foram: Tailândia, Malásia, Coreia do Sul, Hong Kong, Indo- 6 - Pinheiro, Armando Castelar; Giambiagi, Fábio e Moreira, Maurício Mesquita. “O Brasil
nésia e Filipinas. na década de 90: uma transição bem-sucedida?” Texto para Discussão no 91, BNDES, Rio de
3 - Ver Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE. O IPCA, índice oficial do Governo Janeiro, novembro de 2001.
Federal para a medição das metas inflacionárias, é calculado pelo IBGE desde 1979. A série 7 - A série histórica da taxa de juros (SELIC) medida pelo Banco Central está disponível em:
histórica pode ser encontrada em: <www.portalbrasil.net/ipca.htm>. <www.bcb.gov.br/?COPOMJUROS>.
252 A segunda etapa consistiu na venda, aos empregados, de parte O prêmio era reflexo da política de investimentos adotada na Vale para a otimização do negócio, levando cada área a buscar formas um conjunto de investidores nacionais e estrangeiros que assumiu 253
do capital da Companhia, e ocorreu concomitantemente à venda do década de 1990 para enfrentar a crise do período. A Vale, cada vez de inserção no mercado global. Foram criadas as unidades de negócios o controle da Vale – possuíam antes do leilão também foram in-
controle acionário do setor privado, também em 1997. A terceira mais internacional, contava com uma logística eficiente e diversifi- (celulose e papel, minério de ferro e alumínio) e um Centro Corporativo, corporadas. A participação da Valepar na CVRD chegou a 52,29%
etapa, já no início dos anos 2000, completou o procedimento de cou seus investimentos. Além disso, a Companhia passou a adotar a fim de fomentar a produção.26 do capital votante.30 De acordo com o Edital de Privatização, foi
alienação das ações que eram detidas pela União – essa alienação rígidos padrões de eficiência e qualidade em sua produção. O Centro Corporativo nascia com o objetivo de apoiar cada estabelecido que nos primeiros cinco anos como empresa privada
possibilitou que milhares de pessoas no país inteiro pudessem uti- Menos de um ano após a privatização, a Vale já mostrava resulta- área na viabilização dos negócios, nos investimentos, nos desin- nenhum acionista poderia possuir mais de 45% do capital votante.
lizar parte dos recursos do FGTS para adquirir ações da Vale. O site dos que comprovavam o acerto dos novos procedimentos adotados. vestimentos e na reestruturação de cada setor. Em sua composi- Além disso, grandes produtores de minério de ferro, siderúrgicas ou
da Caixa Econômica Federal19 informa que, desde a criação do Fun- A Companhia crescera e, ao mesmo tempo, apresentava uma rees- ção, o Centro reunia as diretorias de Finanças, Recursos Humanos trading companies não poderiam contar com mais de 10% individual-
do, a rentabilidade acumulada sobre o valor aplicado importava, truturação interna que permitiria mais investimentos em setores e Administração, Jurídica, Planejamento e Controle.27 O Centro mente, ou 45% em grupo.31
em fevereiro de 2012, em 918,3%; em outras palavras, para cada mil como pesquisa, relações com as comunidades, meio ambiente e, so- Corporativo surgia no momento em que a direção da Companhia No decorrer dos dois primeiros anos, as vendas de ações da
reais aplicados, a rentabilidade era de R$ 9.183. Nesse período, se o bretudo, tecnologia. “Por ter sido uma Companhia vitoriosa na gestão colocava em prática uma nova política de distribuição de pessoal. CVRD detidas pela Valepar seriam permitidas somente para o gru-
montante estivesse apenas na aplicação do FGTS, o rendimento do governo, a tarefa de conduzir a nova CVRD sob controle privado Um processo de reorganização da estrutura de recursos hu- po controlador. O Governo Federal manteria, ao mesmo tempo e
acumulado seria algo em torno de 30%. nos impôs o dever de não perder dinamismo nem rentabilidade, manos eliminou antigas funções exigidas pela condição anterior por prazo indeterminado, uma classe especial de ação preferen-
Apesar do cenário de crise, o ano de 1996 foi surpreendentemen- mesmo tendo de realizar mudanças profundas para agregar-lhe mais de estatal. Seu efeito direto foi a redução do efetivo de emprega- cial (golden share) na Vale. Com isso, estaria garantido ao presi-
te positivo para a Companhia, que, pelo conjunto das realizações, eficiência e produtividade”, escreveu Benjamin Steinbruch, presiden- dos – de 15.483, em 1996, para 10.865, em 1997. A maior parte dos dente da República o poder de veto sobre questões específicas re-
ganhou pela terceira vez o prêmio “Empresa do Ano do Setor Mineral”, te do Conselho Administrativo da Companhia, em mensagem dirigi- desliga mentos aconteceu no âmbito do Programa de Demissão lacionadas aos objetivos da Companhia, tais como a alteração da
oferecido pela revista especializada Brasil Mineral.20 A premiação da aos acionistas no final de 1997.22 Incentivada, criado a partir de setembro de 1997 para atenuar o denominação social, a mudança do objeto social no que se refere
aconteceu em São Paulo e reuniu o então presidente da Vale, No organograma da Vale, estabelecido após a privatização, a presidên- impacto da reestruturação. 28 à exploração mineral, quaisquer modificações nos direitos atri-
Francisco Schettino, diretores e dirigentes de empresas do grupo cia passou a ser exercida por um Conselho de Administração que contava Foi realizada uma oferta de ações aos empregados na ocasião – buídos às ações que compõem o capital social da CVRD ou sua
CVRD. A escolha da Vale como destaque do ano levava em conside- com atuação e influência dos sócios controladores. Com Steinbruch – que eles adquiriram 4,45% das ações ordinárias e 6,31% das prefe- própria liquidação. 32
ração uma lista de bons resultados. Entre eles, destacavam-se o au- acumulava o mesmo cargo na CSN – à frente, o Conselho de Administração renciais, por meio do Clube de Investimento dos Empregados da
mento da produtividade no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, era formado por mais oito integrantes.23 Também foram nomeados di- Companhia Vale do Rio Doce (InvestVale). Em seguida, exerceram Contratos revistos e outros resultados
e na Mina de Carajás, no Pará; a descoberta de novas jazidas de retores-presidentes responsáveis por áreas de negócios.24 Essa reorgani- seu direito de participar do Conselho de Administração da Valepar, Os contratos com fornecedores e prestadoras de serviços foram re-
ouro, também no Pará; as parcerias internacionais para explora- zação fazia parte das mudanças estruturais que, em sua diretriz básica, grupo de acionistas majoritários controladores da CVRD. Assim, os vistos a partir da nova estrutura montada – que otimizava as ope-
ção do ouro; o desenvolvimento tecnológico e a verticalização da previam a administração compartilhada da CVRD.25 O novo modelo co- empregados, além de fazer parte do Conselho de Administração da rações no sistema mina-ferrovia-porto.33 Assim, os custos por tone-
produção de minério de ferro mediante participação acionária meçaria a ser posto em prática a partir de um reordenamento financei- Vale, asseguravam também sua participação no grupo controlador.29 lada de minério de ferro caíram na ordem de 15% em 1997. Além do
em empresas siderúrgicas (CST, Usiminas e CSN); e, por fim, a ro. O Relatório Anual 1997 mostra que a nova orientação trouxe o foco da Uma reorganização societária foi realizada a seguir, na Valepar, Complexo de Tubarão (ES), que produziu 21,4 Mt de pelotas, foram
política de gerenciamento ambiental de todo o sistema CVRD, com a entrada do InvestVale e do BNDESpar, braço do BNDES que alcançados recordes de produção de minério em Carajás (PA), com
dentro das normas e parâmetros estabelecidos pela ISO 14001 – administra a participação do banco em empresas. Ações que sócios um total de 43,8 Mt no ano. As exportações totais de minério de
22 - Relatório Anual 1997, p. 3.
Sistema de Gestão Ambiental. 21 do Consórcio Brasil – representado pela Valepar S. A. e formado por ferro também ultrapassaram os anos anteriores, com a marca de
23 - O Conselho de Administração era formado por: Benjamin Steinbruch, Jair Antonio
Bilachi, Francisco Gonzaga de Oliveira, Francisco Valadares Póvoa, Humberto Eude Vieira
Diniz, José Fernando de Almeida, Luiz Xavier, Maria Silvia Bastos Marques e Pérsio Arida.
19 - Ver: <http://www.caixa.gov.br/Voce/Investimentos/Fundos/Fundos_Mutuos_de_Privati- 26 - Idem. 30 - Idem.
24 - Gabriel Stoliar (área de relações com o mercado e Centro Corporativo), Manoel Horácio
zacao/Vale_do_Rio_Doce/CAIXA_FMP_FGTS_Vale_do_Rio_Doce_I/rentabilidade_mensal.asp>. Francisco da Silva (área de celulose e papel), Mozart Kraemer Litwinski (área de minério) e 27 - Idem, p. 65. 31 - Idem.
20 - Ver Relatório Anual 1996, p. 8. Luiz Paulo Marinho Nunes (área de alumínio). 28 - Idem, p. 14. 32 - Idem.
21 - Jornal da Vale, abril/maio de 1997, no 208, p. 9. 25 - Relatório Anual 1997, p. 5. 29 - Idem, p. 10. 33 - Relatório Anual 1997, p. 15.
80 Mt, impulsionadas por novos contratos de fornecimento firma- Os temores de que a privatização pudesse retirar da CVRD suas mentava e, no fim desse mesmo período, a Companhia registrou 255
dos com clientes na Austrália e na China.34 obrigações socioambientais foram prontamente afastados. Em 17 um lucro recorde – houve um impressionante aumento de 46%
O transporte de cargas nas ferrovias bateu os números da Vale de abril de 1997, o Bureau Veritas Quality International (BVQI) audi- em relação ao ano anterior. 42 Esse índice não pararia de crescer
até então. A Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) carregou 107 Mt tou e atestou o funcionamento do Sistema de Gestão da Qualidade nos anos seguintes.
em 1997, enquanto a Estrada de Ferro Carajás (EFC) transportou Ambiental da Superintendência de Tecnologia (Sutec), que assim
49,4 Mt no mesmo ano. Além disso, a CVRD adquiriu participação obteve seu primeiro certificado ISO 14001. No decorrer do ano,
de 20% no capital da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN). US$ 30 milhões foram investidos no aprimoramento dos proces-
Os terminais portuários, por sua vez, alcançaram uma produção sos produtivos. Os valores alocados faziam parte do Programa 8.3 Diante do futuro
maior do que nos anos anteriores, atingindo recordes como no Ambiental da Vale, criado em 1994, que previa um investimento de
Terminal de Praia Mole (ES), com 10,3 Mt descarregadas de carvão, US$ 125 milhões em cinco anos, sendo US$ 50 milhões de emprés- Ainda que o mundo – principalmente o Brasil – passasse por um
e no Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB), em Sergipe, que mo- timos do Banco Mundial.39 momento de fragilidade econômica, no final de 1997 a Vale con-
vimentou inéditas 819 Mt de cargas.35 As relações com as comunidades seguiriam prioritárias na es- quistaria recordes inéditos em seus 55 anos. Era um novo tempo,
Os novos tempos serviram também para dinamizar a política de trutura da Vale. No ano de sua privatização, a Companhia desti- que vinha acompanhado de novas ideias e práticas. Com mais de
diversificação implementada pela Vale. A Alunorte teve recorde na nou R$ 26,2 milhões para projetos de infraestrutura social e eco- meio século de história, a Companhia, no início de 1998, se reinven-
produção de alumínio, atingindo 1.186 Mt de alumina calcinada e nômica, voltados para as comunidades em que atua, por meio do tava, antecipava conceitos, arregimentava parceiros e se mostrava
1.197 Mt de hidrato, 100 Mt acima da capacidade nominal instala- Programa Integração Vale & Comunidades.40 Esses recursos faziam pronta para o que viria, acumulando estratégias de diversificação,
da. A Valesul também teve recordes, em 1997, com a produção de parte da Reserva para o Desenvolvimento das Regiões sob a Influência ousadia e participação. A oferta de ações aos empregados foi fun-
105,7 Mt de metal frio e 92,3 Mt de metal quente.36 da CVRD (RDRI), que foi extinta naquele mesmo ano. Em con- damental para a criação de um elo de confiança e integração com
A Cenibra teve produção acima da capacidade nominal, atin- trapartida – e atendendo à medida compensatória prevista no Edi- toda a empresa.
gindo, no mesmo ano, 719,6 Mt de celulose produzidos. A Bahia Sul tal de Privatização –, foi criado o Fundo para o Desenvolvimento O ano de 1998, seguinte à privatização, terminaria com um lu-
também teve recordes no segmento de papel, produzindo 205,5 Mt Regional com Recursos da Desestatização (FRD), no valor de cro de R$ 1,02 bilhão, recorde absoluto entre as empresas privadas
e vendendo 204,5 Mt também em 1997.37 O mesmo aconteceria com R$ 85,6 milhões, em prol das áreas sob influência da Companhia, nacionais.43 A experiência que a nova CVRD trazia, acumulada ao
a Florestas Rio Doce – uma controlada que atua nas atividades de que contaria, dali em diante, com recursos provenientes do BNDES longo de toda a sua trajetória como sociedade de economia mista
reflorestamento, produção de madeira e pesquisa florestal –, que e teria a gestão compartilhada entre o banco e a Vale. A partir de (sociedade entre capitais públicos e privados, com predominância
comercializaria 11 mil metros cúbicos de madeira serrada e 4,5 mi- 1998, a Fundação Vale do Rio Doce de Habitação e Desenvolvimento do primeiro), seria fundamental para que os objetivos fossem al-
lhões de mudas. As receitas líquidas das empresas da Vale na área Social se encarregaria da gestão dos programas voltados para cançados. A Vale aprendera que não bastava ter grandes jazidas:
de celulose, papel e madeira atingiram um total de R$ 668 milhões, as comunidades.41 era essencial também abrir caminhos para escoar a produção em
superando em 26% o ano anterior, 1996.38 Assim, no final de 1997, com todas as modificações advindas menor tempo e custo. Com o preço do minério de ferro padroniza-
do processo de privatização, a Vale tinha atingido um lucro líqui- do e uma oferta (principalmente de reservas) razoável no mercado,
do de R$ 756 milhões. Vendia-se mais, a carteira de clientes au- lucraria mais quem conseguisse colocar o produto na praça gas-
34 - Idem, pp. 16-17.
tando menos.
35 - Idem, p. 17. 39 - Idem, p. 68.
36 - Idem. 40 - Idem, pp. 17, 69.
37 - Idem. 41 - Idem, p. 69. Com essa mudança de foco – anteriormente voltado para habitação e redefi
redefi-- 42 - Idem, pp. 3, 13.
38 - Idem, pp. 47-48. nido para o trabalho com comunidades –, a instituição passaria a se chamar Fundação Vale. 43 - Ver Relatório Anual 1998.
256 257
Proprietária da mais extensa malha ferroviária do Brasil, com Em 9 de julho do mesmo ano, a Nibrasco – usina de pelotas em dial. O embaixador Jório Dauster substituiu Benjamin Steinbruch
cerca de 1.800 quilômetros – dos quais 892 quilômetros pertencen- atividade por 20 anos, vinculada à Diretoria de Pelotização e Metálicos no posto mais importante da Companhia. Era a primeira mudança
tes à Estrada de Ferro Carajás e 905 quilômetros à Estrada de Ferro da Vale e considerada pela Fundação Getulio Vargas (FGV)47 uma desde a privatização, ocorrida em maio de 1997. Dauster chegava Roger Agnelli
Vitória a Minas –, a CVRD, no fim da década de 1990, era também a das dez empresas mais competitivas do Brasil – batia o recorde de trazendo consigo uma longa experiência em relações internacio-
maior operadora de logística do país. produção diária: 14.220 toneladas de pelotas. Esse resultado era nais – ele fora o negociador da dívida externa brasileira entre 1990 Quando chegou à Vale em 2001, Roger Agnelli (São Paulo,
Inicialmente, essa infraestrutura foi utilizada para atender às uma resposta aos novos contratos firmados pela Vale já no fim de e 1991.51 Menos de um ano após assumir a presidência da CVRD, a SP, 1959) já tinha sido o mais jovem diretor-executivo do
suas próprias atividades, mas com o tempo a Companhia passou 1997 e que atendiam a clientes da Austrália e na China.48 política de abertura ao mercado externo, implementada pela nova
Bradesco, com 39 anos, em 1998. 1 Formado em Economia,
a buscar o apoio dos parceiros na realização de transporte para A expansão dos negócios se refletia também nos terminais de gestão, já mostraria seus resultados.
trouxe um estilo agressivo e o plano de diversificar as áreas
terceiros. 44 Deu resultado. A receita bruta da CVRD, em 1998, com grãos do Complexo de Tubarão. No segundo semestre de 1998, fica- A Vale encerraria 1999 com 80 clientes internacionais: a Posco
o transporte ferroviário e as operações portuárias para outras em- ria pronto o terceiro berço de atracação do Terminal de Produtos (Coreia do Sul), maior produtora mundial de aço; a Nippon Steel de atuação. Na sua gestão, os lucros pularam de R$ 3 bilhões
presas, chegou a R$ 750 milhões, um aumento de 15,9% em rela- Diversos (TPD). O Píer III teria um investimento de US$ 29,8 mi- (Ja pão); a Usinor (França); a Corus (fusão da inglesa British ao ano para R$ 30,1 bilhões.
ção a 1997.45 lhões. O objetivo era receber navios com capacidade de até 125 mil Steel com a holandesa Hoogovens); a italiana Ilva; a ThyssenKrupp O grande salto veio com a aquisição de minas e com-
Todo o investimento na logística veio acompanhado de um efe- toneladas e “ampliar as exportações de grãos para cerca de 3 mi- Stahl (Alemanha); a NKK (Japão); a US Steel (EUA); a Baoshan panhias mineradoras no exterior, especialmente a cana-
tivo aumento na receita, proveniente de circunstâncias externas e lhões de toneladas anuais”.49 Os navios que saíam do TPD tinham (China); a Arbed Group (Luxemburgo); a Sumitomo Metal (Japão); dense Inco, produtora de níquel, em 2006. 2 O sucesso
internas. Em 1998, entre os fatores que impactaram positivamente como destino principal o mercado japonês. entre outras. 52 A expansão de mercado se refletiria diretamente
comercial era acompanhado pela preocupação com o de-
no desempenho, teriam destaque a melhoria dos preços médios Se no Sistema Sul as novas instalações do Complexo de Tubarão nos montantes comercializados.
praticados na venda de minério de ferro nos mercados nacional mostravam seus resultados positivos, no Norte do país Carajás co- O total de vendas da Vale em 1999 – incluindo os valores comer- senvolvimento sustentável. Em 2009, Agnelli assinou, pela
e internacional – aumento médio de 2,82% para os finos e 2,80% lecionava um recorde após o outro. Em 1998, a produção de minério cializados pelas usinas de pelotização em parceria com clientes Vale, o Pacto Global da ONU, programa de 10 princípios
para as pelotas; o efeito da desvalorização média do real frente de ferro na Mina de Carajás chegaria a 45,8 milhões de toneladas. japoneses, espanhóis, italianos e coreanos – seria distribuído da nas áreas de meio ambiente, direitos humanos e combate
ao dólar no exercício (7,7%); e o aumento da receita de vendas Não eram resultados aleatórios. No mesmo período, por todo o país, seguinte forma: 43% para a Ásia (China, Japão e Coreia) e Oceania; à corrupção. 3
de serviços ferroviários e portuários (15,9%).46 O bom desempenho foram obtidos desempenhos inéditos no transporte de cargas pela 30% para a Europa; 21% para as Américas; 6% para África, Oriente Roger Agnelli foi presidente da Vale por 10 anos, entre
no mercado seria fundamental para garantir a expansão da CVRD Estrada de Ferro Carajás (50,1 milhões de toneladas), na produção da Médio e Índia.53 A Ásia saía na frente porque, na época, concentra- 2001 e 2011, e durante esse período as ações da empre-
naquele período. Alunorte (1,43 mil toneladas de alumina), na Valesul (92,85 mil tone- va o maior percentual de importação de minério de ferro. A produ-
sa valorizaram 834%. 4 Também foi com Agnelli que houve
Importante destacar ainda que, em novembro de 1998, foi inau- ladas de alumínio), na Mineração Rio Norte (10,102 mil toneladas de ção de aço naquela região chegava a 40% do total mundial. Além
gurada a sétima usina de pelotização no Complexo de Tubarão (ES), bauxita) e na Cenibra (741,5 mil toneladas de celulose).50 disso, a China havia se tornado o país que mais produzia esse me- a mudança da marca, em 2007: dali por diante, a antiga
batizada de Companhia Coreano-Brasileira de Pelotização (Kobrasco), Com a posse do novo presidente, em abril de 1999, a Vale defini- tal no mundo, além de ser o mercado que mais crescia após des- CVRD seria simplesmente Vale.
uma joint venture com a Pohang Iron & Steel Company, da Coreia do ria outras estratégias para melhorar sua posição no mercado mun- bancar o Japão.54
Sul, com capacidade de produção anual de 4 milhões de tonela-
das de pelotas. 1 - Disponível em: <http://people.forbes.com/profile/roger-agnelli/469>.
47 - Instituição privada brasileira, fundada em 1944, sem fins lucrativos, que se dedica ao 2 - Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/o-que-fazemos/mineracao/
ensino e à pesquisa em ciências sociais. 51 - Verbete – Jório Dauster,, in CPDOC-FGV – Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. niquel/paginas/default.aspx>.
44 - Ver Relatório Anual 1998. 48 - Ver Relatório Anual 1997, pp. 16-17. 52 - Ver Relatório Anual 1999. 3 - Vale – Relatório de Sustentabilidade 2010.
45 - Idem. 49 - Jornal da Vale, setembro/outubro de 1998, n° 211, p. 10. 53 - Idem. 4 - Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2011/04/
46 - Idem. 50 - Ver Relatório Anual 1998. 54 - Idem. em-10-anos-valorizacao-das-acoes-da-vale-foi-tres-vezes-da-petrobras.htm>.
Correia transportadora de
grãos de soja no Terminal
Marítimo de Praia Mole, no
Complexo de Tubarão (ES).
Ao longo de 2001, a Vale – por intermédio da FVRD – investiu Companhia. O documento apresentava resultados do Programa vistos no Plano Diretor – a premissa era o zelo pela integridade
R$ 20 milhões 77 em projetos comunitários, a maioria ligada à edu- de Meio Ambiente 1994-1999, que previa investimentos de cerca da reserva. Preservar, para a Vale, também era um bom negócio. 88
cação e ao resgate social. A Companhia angariou vários prêmios, de US$ 120 milhões, com a participação do Banco Mundial. O em- Com a presença do presidente da Vale, Jório Dauster, do ministro
que legitimaram o papel da Fundação Vale do Rio Doce no desen- préstimo firmado entre a mineradora e o órgão internacional che- do Meio Ambiente, José Sarney Filho, e do governador do Espírito
volvimento das comunidades em que a Vale atua. 78 gava a US$ 50 milhões. 83 Santo, José Inácio Ferreira, foi lançado oficialmente, em 2 de junho
264 Entre os destaques estariam o Trem da Cidadania, que só em Com o lançamento do programa, diversos projetos de aprimora- de 1999, o Plano Diretor de Uso (PDU) da Reserva Florestal de Linha-
2001 realizou 118.684 atendimentos.79 Com seus três vagões refrige- mento dos controles ambientais das atividades produtivas foram im- res. Na ocasião, foi também assinado um convênio entre a CVRD e o
rados, levaria até as populações carentes, ao longo das ferrovias ad- plementados, como a instalação de precipitadores eletrostáticos nas Ibama para a preservação da Reserva Biológica de Sooretama (ES).
ministradas pela CVRD, diversos serviços de inclusão social, como chaminés secundárias das usinas de pelotização, no Complexo de O objetivo era garantir a preservação da já escassa porção de Mata
expedição de documentos (CPF e identidade), consultório dentário, Tubarão (ES). Após investimentos superiores a US$ 30 milhões, as emis- Atlântica original naquele estado.89
exames preventivos e vacinação.80 sões de resíduos das usinas caíram 85%.84 Ao mesmo tempo, as preo- Juntas, as reservas contíguas de Linhares e Sooretama, que pos-
Educação, saúde e arte. Enquanto investia na formação da ci- cupações da Vale com o manejo florestal, o reflorestamento e a mul- suem respectivamente 22 mil e 24 mil hectares, formam a maior
dadania, a Fundação também buscava promover eventos que con- tiplicação de mudas tornaram-se prioridade. Ainda em 1998, foi lan- área remanescente de Mata Atlântica nativa do território brasi-
vidavam os cidadãos a vivenciar a cultura local. Em Itabira, foi çado o Plano Diretor da Reserva Florestal de Linhares, no Espírito leiro. O convênio garantia o repasse de US$ 149 mil pelo Governo
realizado o Fórum Drummond, que reuniu cerca de 30 mil pessoas Santo. “Com o Plano, ficam garantidas todas as premissas de preser- Federal à Reserva Biológica de Sooretama. Dessa quantia, US$ 49
em oficinas, exposições e outras atividades, com o objetivo de de- vação, conservação e pesquisa construídas ao longo dos anos no lo- mil anuais foram investidos na sua preservação, na construção
senvolver o potencial turístico da cidade e celebrar o centenário cal”, explicaria Renato de Jesus, diretor da reserva na época.85 Pelo de aceiros e cercas vivas, na reforma da casa dos funcionários e
do poeta itabirano. 81 seu estado de preservação e conservação das características ecossis- na compra de equipamentos de rádio. Os US$ 100 mil restantes
Os três primeiros anos de existência da Fundação Vale do Rio têmicas, a Reserva recebeu em dezembro de 1999, da Unesco (Órgão seriam investidos pela Vale no pagamento de guardas-florestais,
Doce (1998-2001) demonstrariam o acerto de sua criação e aponta- das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o reconheci- treinamento de pessoal e na aquisição de motos e camionetas
vam com clareza os caminhos que seriam percorridos dali por dian- mento como Sítio do Patrimônio Mundial Natural da Costa do Desco- para fiscalização. 90
te. Os projetos de educação, fomento cultural, desenvolvimento de brimento. É considerada uma das Áreas de Conservação mais bem “Naquela época começamos a adotar outro olhar sobre a questão
comunidades carentes e cidadania seriam fundamentais para dar protegidas da América do Sul e um dos 14 centros de alta diversidade ambiental”, lembra a arquiteta e urbanista Vânia Velloso, especia-
uma nova feição à CVRD, agora privatizada. e endemismo do Brasil. A Reserva Florestal de Linhares – hoje cha- lista em gestão ambiental que trabalhou na Vale entre as décadas
mada Reserva Natural Vale – iria se tornar “autossustentável”, enfa- de 1980 e 2000. O grande salto foi aliar a questão do meio ambien-
O meio ambiente tizando o uso controlado dos recursos naturais e o desenvolvimento te à área de negócios: “Saímos de uma visão muito importante de
Em 1998, a CVRD era uma das 185 integrantes do Conselho Mundial de novas tecnologias para a recuperação de áreas degradadas.86 preservação e conservação dos recursos naturais e entramos num
de Empresários para o Desenvolvimento Sustentável.82 E foi a partir A preservação de seus 22 mil hectares de Mata Atlântica es- novo modelo mais avançado de governança e gestão.”91
do final dos anos 1990 que as políticas internas de controle sobre o tava, enfim, garantida – e não parava por aí. A partir dos resul- Esse foi um dos grandes passos da Companhia na área de sus-
impacto das atividades da Companhia ganharam mais força. tados obtidos com essas iniciativas, o status do lugar mudaria tentabilidade. Desde então, a Vale começou não só a preservar,
A Vale anunciaria no seu Relatório Anual 1998 o meio ambiente de Unidade de Conservação Privada para Unidade de Negócios. 87 mas também a investir fortemente na recuperação das áreas de-
como “componente estratégico que afeta a competitividade” da Programas de educação ambiental, planos de pesquisa, turismo gradadas e a pesquisar tecnologias verdes na busca por soluções
responsável e venda de produtos e serviços também estavam pre- menos agressivas.
Vegetação recuperada
na Mina de Timbopeba,
em Ouro Preto (MG),
no ano de 1999.
270 De 1995 a 1999, a política ambiental implementada no Complexo longo do eixo ferroviário das duas ferrovias. A meta era a conse- tais resultados. A comemoração foi coroada pela inauguração da 271
de Tubarão visava à melhoria das condições na Grande Vitória. Gra- quente melhoria da qualidade da água dos corpos receptores (está- escultura Flor de Carajás, de Franz Weissmann. Austríaco naturali-
ças ao sistema de coleta de partículas, foi registrada uma diminui- gio final da utilização da água em qualquer processo industrial), do zado brasileiro, o escultor, que trabalha basicamente com chapas
ção de 62% na emissão total de resíduos.101 Era um avanço notável e solo e das condições gerais de higiene e limpeza das instalações.105 de ferro, é um dos principais expoentes da arte geométrica no país
um auxílio na redução da poluição registrada na região. Todo o investimento da CVRD em sustentabilidade receberia desde os anos 1960.108
Em 5 de junho de 2000 (Dia Mundial do Meio Ambiente), entraria atestado de competência por meio da Certificação Ambiental ISO Nos anos seguintes, seria a vez do setor de pelotização buscar
em operação a Rede Automática de Monitoramento da Qualidade 14001 conquistada pela Companhia, no fim da década de 1990 e no seus atestados. A Diretoria de Pelotização e Metálicos (DIPE) garan-
do Ar na Grande Vitória. Com a utilização da tecnologia mais avan- início dos anos 2000. tiu à Vale, em julho de 1999, o título de primeira empresa brasileira
çada da época, começavam a ser identificadas as principais fontes de extração de minério de ferro a receber a certificação ISO 9001
de poluição pelos órgãos ambientais locais e pela comunidade. As certificações – após auditoria do órgão certificador DNV. Dessa vez, a conquista
A rede foi doada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, cabendo Profissionalizar a gestão ambiental de todas as unidades de negócio do certificado ocorreu de maneira diferente, sobretudo por dois as-
à CVRD metade do valor do investimento e dos custos de operação era, a partir de meados da década de 1990, uma condição estraté- pectos: a inclusão da Kobrasco na lista das usinas certificadas e a
e manutenção no primeiro ano de uso.102 gica para a CVRD. No entorno de minas, usinas, ferrovias e portos, comprovação da capacidade da pelotização em desenvolver e pro-
Os resultados, constantes do Inventário de Fontes da Região da a Companhia se preocupava, cada vez mais, em construir e manter jetar novos produtos com qualidade assegurada.109
Grande Vitória (2010), demonstram que a Vale contribui com uma cinturões verdes. E o controle de emissões passou a ser adotado em Por fim, em 22 de junho de 2001, um dos eventos relevantes,
parcela relativamente pequena entre os poluidores da região. Do todas as operações, de Norte a Sul.106 segundo o relatório de desempenho da CVRD no segundo
material colhido, 15,7% eram provenientes da Companhia, enquan- Em 1998, as áreas de Tecnologia e Suporte da Diretoria de Não trimestre,110 foi a inclusão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) na cer-
to 68,2% vinham de veículos que circulam pelas ruas. Situação pa- Ferrosos (DENF) asseguraram, pela segunda vez, a certificação na tificação ISO 9002. No acumulado do ano de 2001, a carga trans-
recida se verifica na emissão de monóxido de carbono, quando ape- norma ISO 14001. A auditoria foi realizada pelo Bureau Veritas Qua- portada pela EFC, somada ao volume da EFVM, atingiu 167,4 mi-
nas 4,4% do material recolhido tinha origem na Vale, enquanto os lity International (BVQI), nos dias 18 e 19 de junho, e registrou zero lhões de toneladas, contra o recorde anterior de 164 milhões de
veículos (escapamento e pneus) eram responsáveis por 49,7%. de “não conformidade”. A unidade da Vale em Santa Luzia (MG) toneladas, alcançado em 2000. O transporte de carga geral pela
Preocupada também com a qualidade da água, a Companhia inves- fora a primeira da Companhia a receber a certificação, em abril de EFC e pela EFVM foi de 12,9 bilhões de toneladas por quilômetro
tiu no projeto Coleta e Tratamento de Efluentes na Área do Comple- 1997.107 O endosso internacional da série ISO 14001 comprovava o útil (tku) – 4% maior do que o recorde atingido em 2000, de 12,4
xo de Tubarão. Os principais objetivos eram a redução da carga po- equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do im- bilhões de tku.111 Conseguir transportar grandes quantidades com
luidora sobre os corpos receptores dos efluentes finais103 e a dimi- pacto ambiental promovido pela Vale ao longo dos anos. qualidade seria, dali em diante, o desafio a ser enfrentado.
nuição do consumo de água industrial.104 O grande feito em 1998 foi a conquista da certificação ISO
A coleta e o tratamento de efluentes chegavam também à Es- 14001 para as minas de ferro e manganês de Carajás, com audito-
trada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e à Estrada de Ferro Carajás ria empreendida pela Det Norske Veritas (DNV). O novo certifica-
(EFC). O foco era o tratamento dos resíduos gerados pela manuten- do – somado à série de certificações da categoria ISO na segunda
ção e lavagem de locomotivas e vagões nas oficinas localizadas ao metade dos anos 1990 – fortalecia a competitividade e a imagem
da Vale, que se tornava a primeira mineradora do planeta a obter 108 - Jornal da Vale, janeiro/fevereiro de 1999, no 213.
109 - Jornal da Vale, julho/agosto de 1999, no 216, p. 11.
101 - Idem.
110 - Ver em: <http://www.vale.com/pt-br/investidores/resultados-e-informacoes-finan-
102 - Jornal da Vale, junho de 2000, no 223, p. 9. 105 - Idem. ceiras/resultados-trimestrais/Documents/2001/2%C2%B0%20Trimestre/Press%20Relea-
103 - Disponível em: <http://www.cepuerj.uerj.br/insc_online/itaguai_2011.aspx>.
http://www.cepuerj.uerj.br/insc_online/itaguai_2011.aspx>. 106 - Ver Relatório Anual 1997. ses/cvrd201p.pdf>.
104 - Ver Relatório Anual 1999. 107 - Jornal da Vale, julho/agosto de 1998, no 210, p. 5. 111 - Ver Relatório Anual 2001.
CAPÍTULO 9
Mundo Novo
9.1 Internacionalização da Vale A compra da Inco, uma operação de US$ 18 bilhões, consolidou a 279
internacionalização da Vale, visto que a mineradora canadense
De 2002 a 2006, a expansão da economia global impulsionou os ainda detinha operações na Indonésia, no Reino Unido, na Coreia
negócios no Brasil. O mundo acelerou e a CVRD não ficou para trás. do Sul, em Taiwan, no Japão e um projeto na Nova Caledônia, na
Em seu horizonte, o Oriente. Paralelamente à comemoração dos Oceania.
50 anos de sua parceria com o Japão, que teve até bate-bola Em julho de 2005, outro fato relevante para a história da Vale:
dos executivos da mineradora com o craque Zico, 1 a Vale fincava a obtenção do grau de investimento pelas agências de classificação
um pé na China. Uma jogada de craque, pois a China era a econo- de risco. Foi a primeira empresa brasileira a receber o chamado
mia emergente que mais crescia no mundo – a expansão do investment grade, sinal, para o mercado, de que uma empresa é só-
Produto Interno Bruto (PIB) 2 chinês atingiria surpreendentes 13% lida e segura para se investir, sem risco de haver calote em seus
em 2007, mais que o dobro da economia global naquele período, títulos. E a Vale obteve essa classificação antes mesmo de o Brasil
que foi de 5,2%. 3 recebê-la – as agências também estabelecem notas para a econo-
A Vale se tornaria uma das primeiras empresas brasileiras a en- mia de um país –, o que ocorreu somente em abril de 2008.
trar na China, ao formar uma joint venture com o Yankuang Group, Para assegurar o crescimento, a Vale ampliou seus investimen-
com a participação da japonesa Itochu, para a produção de carvão. tos em logística e produção própria de energia, a fim de evitar
Em dezembro de 2004, o governo chinês aprovou a incorporação da problemas como os experimentados durante o chamado “apagão”,
joint venture Shandong Yankuang International Coking Company ocorrido em 2001 no Brasil. Foram construídas usinas hidrelétricas
Limited, e a Vale fez uma contribuição inicial de US$ 10,6 milhões.4 em vários estados, como Minas Gerais e Tocantins, que garanti-
Mas lá não era o único lugar do mundo onde a Vale aportaria: ou- riam energia para as operações da Vale. Na área de logística, além
tros nortes guiaram o rumo da mineradora, que no período chegou da ampliação da malha ferroviária para dar vazão ao transporte
também a Moçambique e ao Canadá. No país africano, venceu a do minério a ser exportado, a Companhia investiu nos chamados
licitação para explorar carvão em Moatize, considerada a maior supercaminhões – com aproximadamente seis metros de altura
província carbonífera não explorada do mundo. No Canadá, reali- (cerca de dois metros a mais que os veículos utilizados até então)
zou a mais importante compra, no mercado global, por parte de por sete de largura e rodas de até cinco metros de diâmetro, com
uma empresa latino-americana: em 2006, a Vale se tornou a dona faróis de neon que dão visibilidade noturna – usados no Complexo
da Inco Ltd., a segunda maior produtora de níquel do planeta. de Carajás.
A forte presença da Vale na vida e no imaginário dos brasileiros
ainda foi ratificada na Passarela do Samba, no Rio de Janeiro. Em
1 - Arthur Antunes Coimbra, o Zico, foi jogador de futebol e brilhou com a camisa do
2003, a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio contou a his-
Clube de Regatas do Flamengo entre os anos 1970 e 1980, e do Kashima Antlers F. C., no
Japão, entre 1991 e 1994. Participou das copas de 1978, 1982 e 1986. Na época, Zico era tória da mineração e os 60 anos da CVRD. O momento de glória foi
treinador da seleção japonesa (2002-2006) e vivia no país quando a Vale comemorou reforçado pelo fato de o enredo ter sido montado sob a batuta do
seus 50 anos.
genial carnavalesco Joãosinho Trinta.
2 - Conjunto de bens e serviços produzidos em um país.
3 - Ver Relatório Panorama Econômico Mundial 2009 do Fundo Monetário Internacional.
Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2009/update/01/>.
4 - Ver Relatório Anual 2005.
9.2 A economia que veio de longe mundo.11 Os contatos da Companhia com o governo moçambicano US$ 9,2 bilhões alcançados em 2001. A Vale completava 60 anos.
haviam se iniciado em 1987, mas só em 2004 a CVRD venceu a con- O então presidente da CVRD, Roger Agnelli, fez um balanço do pe-
O início do ano de 2002 foi promissor para o cenário econômico cessão para a exploração da reserva de Moatize.12 Os investimentos ríodo: “Em um ano marcado pelo lento crescimento da economia
global. A entrada da China na Organização Mundial do Comércio da Vale, entre outras empresas, contribuíram para que, em 2005 e mundial, pela inviabilidade dos mercados financeiros internacio-
(OMC), formalizada em dezembro de 2001, intensificou as trocas co- 2006, a economia de Moçambique crescesse mais de 8% ao ano.13 nais e pela natural volatilidade da economia brasileira devido às
merciais daquele país – que no ano anterior havia registrado expan- Em março de 2002, durante as privatizações do governo Fernando eleições presidenciais, a Vale obteve vendas recordes e um dos
são de 8,3%5 – com o resto do mundo. Em 2002, a China tornou-se Henrique Cardoso, o Tesouro Nacional e o Banco Nacional de três maiores lucros de sua história, atingindo R$ 2,04 bilhões.”17
a quarta maior economia a operar no comércio internacional; em Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) alienaram 33% Entre 2001 e 2004, o valor de mercado da CVRD saltou de US$ 9,2
apenas dois anos, suas trocas comerciais deram um salto de 30%, do capital ordinário da Companhia. Investidores de 17 países e bilhões para US$ 39,9 bilhões.18 Nesses quatro anos, a Companhia
enquanto globalmente havia estagnação.6 584.588 brasileiros tornaram-se sócios da Vale. Os trabalhadores exportou US$ 16,2 bilhões, sendo a maior exportadora líquida do
280 A urgência do país asiático em renovar sua infraestrutura para puderam aplicar parte dos recursos depositados em suas contas do Brasil, responsável por 18,4%19 do superávit acumulado da balança 281
os Jogos Olímpicos de 2008 foi mais um fator para ampliar sua pre- Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Vale, comercial do país no período. Os crescentes saldos comerciais aju-
sença no comércio internacional e expandir sua economia. Em por meio do chamado FGTS-Vale. A Companhia tornou-se, em todos daram a melhorar os indicadores da dívida externa brasileira, o que
2003, a expansão da economia chinesa atingiu os 10%, chegando a os sentidos, um patrimônio dos brasileiros. permitiu, em 2005, que o Brasil dispensasse a tutela do FMI. Entre
10,7% em 2006.7 De acordo com a OMC, um dos principais desta- A conquista do grau de investimento foi outro grande marco dos 2000 e 2009, os superávits da Vale corresponderam ao pagamento
ques de 2004 foi a contínua ascensão da China no comércio inter- novos tempos e ainda mais significativo quando se considera o fato de aproximadamente 25% da dívida externa brasileira.20
nacional.8 O apetite chinês por commodities beneficiou os exportado- de que, pouco antes, a economia brasileira havia passado por uma Somente as vendas externas da Vale superaram, em muitos ca-
res desses produtos, entre os quais o Brasil – e, consequentemente, severa turbulência, às vésperas da eleição de Luiz Inácio Lula da Sil- sos, alguns dos principais produtos da pauta de exportações brasi-
a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). va para presidente da República. No dia 27 de setembro de 2002, o leira.21 Em 2006, por exemplo, a Companhia exportou US$ 9,65 bi-
Devido à forte demanda, a porcentagem das receitas brutas to- dólar atingiu a cotação recorde de R$ 3,88, enquanto o risco-Brasil (a lhões, enquanto as vendas do complexo soja (grão, farelo e outros)
tais da Vale atribuíveis a clientes da China ficou em 15%, em 2005, diferença entre a taxa de rendimento14 dos títulos brasileiros e a do ficaram em US$ 8,91 bilhões.22
subindo para 16,7%, em 2006. Para efeito de comparação, a porcenta- Tesouro americano, considerados risco zero de calote) atingiu 2.440 No primeiro quinquênio deste século, a Vale fez várias aquisi-
gem das receitas brutas totais atribuíveis a clientes da Ásia, excluin- pontos centesimais, o maior patamar em sete anos.15 ções importantes. No Brasil, uma das principais foi a da concor-
do as empresas chinesas, foi de 14,9%, em 2005, e 22,7%, em 2006.9 Contudo, o pessimismo do mercado se provou errado. Depois rente Caemi, em 2003; no exterior, o caso mais emblemático é o da
Os preços do minério de ferro também não deram trégua. Segundo de crescer apenas 1,1% em 2003, a economia brasileira registrou canadense Inco, em 2006. A compra da Canico, também do Canadá,
dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desen- expansão de 5,7% em 2004, chegando a 6,1% em 2007.16 A CVRD em 2005, garantiu à Vale o controle do projeto de produção de ní-
volvimento (UNCTAD), estes passaram de US$ 27,67 a tonelada mé- aproveitou o bom momento das economias brasileira e global – que quel Onça Puma, no Estado do Pará. Além disso, o ano de 2004 mar-
trica, em 2000, para US$ 74,39, em 2006,10 um salto de 169%. se recuperava do trauma pós-11 de setembro e entrava em fase de cou o ingresso da Vale no mercado de cobre, quando se iniciaram
Como o carvão mineral é essencial para fabricar aço, a Vale expansão – para crescer, tanto no país quanto no exterior. Com a as operações do Complexo de Sossego, em Canaã dos Carajás (PA).23
rapidamente viu oportunidades em Moçambique, no continente alavancagem da economia global, os preços das commodities regis-
africano, onde se localiza uma das maiores reservas de carvão do travam recordes sucessivos. 17 - Ver Relatório Anual 2002. Naquele ano, houve a crise político-econômica da Argentina,
No fim de 2002, o valor de mercado da Companhia atingiu a mas mesmo assim a Vale registrou o terceiro maior lucro líquido de sua história.
marca dos US$ 11 bilhões, um crescimento de 20,3% em relação aos 18 - Ver Relatório Anual 2004.
19 - Idem.
5 - Ver base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Data and Statistics. 11 - The Economist, “Mozambique’s recovery”, 8/7/2010. Disponível em: <http://www. 20 - Entrevista de José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio
Disponível em: <http://www.imf.org>. economist.com/node/16542671>. Exterior do Brasil (AEB), concedida à Vale. De acordo com o economista: “Ao longo dos
anos [...] o superávit comercial produzido pela Vale contribuiu para reduzir e eliminar a
6 - Ver Relatório 2003 da Organização Mundial do Comércio (OMC). Documents and resources, 12 - Ver Relatório Anual 2004. vulnerabilidade externa brasileira. Os US$ 49,712 bilhões de superávit comercial gerados
WTO publications. Disponível em: <http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2003_e/ 13 - Ver base de dados do FMI. Data and Statistics. Disponível em: <http://
<http://www.imf.org>. pela Vale entre 2000 e 2009 equivalem a cerca de 25% da dívida externa do Brasil, de
its03_general_overview_e.pdf>. US$ 250 bilhões, que era, até um período recente, uma imensa preocupação. É uma
14 - Em 2002, o título de 10 anos do Tesouro americano oscilava entre 4% e 5%. Ver:
7 - Ver base de dados do FMI. Data and Statistics. Disponível em: <http://www.imf.org/ <http://www.treasury.gov/resource-center/data-chart-center/interest-rates/Pages/Tex- contribuição fundamental para a estabilidade econômica que tanto procurávamos.”
external/pubs/ft/weo/2007/01/pdf/c1.pdf>. tView.aspx?data=yieldYear&year=2002> e <http://g1.globo.com/Noticias/Economia_ 21 - Ver Relatório Anual 2004 e Relatório Anual 2005.
8 - Relatório 2005 da OMC. Negocios/0,,MUL19707-9356,00.html>. 22 - Dados da Vale, Banco Central do Brasil e Ministério do Desenvolvimento, Indústria
9 - Ver Relatório Form 20-F 2006. 15 - “Tensão leva dólar a novo recorde”, O Globo, 28/9/2002. e Comércio Exterior (MDIC).
10 - Ver base estatística da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e 16 - Ver base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dispo- 23 - Sala de Imprensa, “CVRD Adquire Participação da Phelps Dodge no Projeto Sos-
Desenvolvimento (UNCTAD). Disponível em: <http://unctadstat.unctad.org/TableViewer/ nível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Fasci- sego”, 24/10/2001. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.
tableView.aspx?ReportId=104>. culo_Indicadores_IBGE>. asp?id=11239>.
Fachada da refinaria de
níquel da Vale, em Dalian,
na China, em 2010.
Em 2010, a Ásia ficou com 60,7% dos embarques da navio chinês no Complexo de Tubarão, Espírito Santo (ES), em 2004.
25 - Ver Puga, Fernando et al. “O comércio Brasil-China: situação atual e potencialidades 30 - Idem. 36 - Ver Relatório Anual 2005.
de crescimento”. BNDES, Textos para Discussão 104, abril de 2004. 31 - Idem. 37 - Ver Resultado US GAAP 4T06, “Superando desafios: o desafio da CVRD em 2006”, e
26 - Idem. Relatório de Sustentabilidade 2006.
32 - Idem.
27 - Ver site da Organização Mundial do Comércio (OMC). Disponível em: <http://www.
http://www. 38 - Ver Relatório Anual 2005 e Relatório de Sustentabilidade 2006.
33 - Ver Relatório de Sustentabilidade 2006.
wto.org/english/res_e/res_e.htm>. 39 - Ver Relatório Form 20-F 2010.
34 - Ver Pereira, Lia Valls e Ferraz Filho, Galeno Tinoco. “O acesso da China à OMC:
28 - Ver Puga, Fernando et al., op. cit. implicações para os interesses brasileiros”, Estudos CNI, 5, dezembro de 2005, e Relatório 40 - Idem.
29 - Ver Relatório Anual 2002. Anual 2003. 41 - China’s Steel Industry, Banco Central da Austrália, dezembro de 2010.
TABELA 1
EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE MINÉRIO DE FERRO PARA A CHINA
na melhoria de suas instalações e na expansão de sua capacidade Em 2008, a Vale decidiu ser necessário fincar o pé na Ásia. O mo- 2005 118.308.269.477 7.296.631.290 6,17 1.784.631.125 1,51
produtiva.42 Nas décadas de 1980 e 1990, a produção do segmento tivo era simples: um navio carregado com minério de ferro leva em 2006 137.807.469.531 8.948.871.317 6,49 2.629.457.745 1,91
286 foi beneficiada também pela abertura do mercado chinês para as média 45 dias para fazer o trajeto entre o Brasil e a China, enquan- 287
exportações e para os investimentos externos, o que permitiu às to as concorrentes australianas e indianas levam, em média, ape- 2007 160.649.072.830 10.557.911.454 6,57 3.710.286.660 2,31
siderúrgicas locais acesso a tecnologias mais avançadas.43 nas 10 dias.48 A Companhia pretendia ficar menos exposta a riscos, 2008 197.942.442.909 16.538.542.577 8,36 4.886.119.931 2,47
Foi assim que a produção de aço na China disparou, crescendo minimizando a desvantagem competitiva da distância. Com cen-
a um ritmo médio de 7% na década de 1980, 10% nos anos 1990 e tros de distribuição mais próximos dos clientes, a Vale reduziria seu 2009 152.994.742.805 13.246.903.676 8,66 7.010.659.667 4,58
quase 20% na primeira década do século XXI.44 tempo de entrega e evitaria ainda repetir o cenário de 2007 e 2008, 2010 201.915.285.335 28.911.882.009 14,32 13.338.017.356 6,61
Com esse desempenho, a China tornou-se a maior produtora de antes do estouro da crise, quando a demanda aquecida dobrou o
aço do mundo. Em 1997, quando ainda sentia os efeitos da crise custo do frete, que chegou a US$ 100 a tonelada.49 2011 256.039.574.768 41.817.251.122 16,33 19.797.076.421 7,73
asiática, suas siderúrgicas retiraram dos fornos 108,91 milhões de Além disso, a Companhia continuou aperfeiçoando seus canais
toneladas de aço bruto – o equivalente a 13% da oferta mundial. de venda para as grandes empresas do setor. Ainda em 2007, de- * Sobre exportações totais brasileiras. Fonte: Tabela montada com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Em 2010, a produção do país chegou a 626,65 milhões de toneladas, senvolveu um serviço de transporte dedicado à rota Brasil-China.
contabilizando 45% da oferta global.45 Por meio de um contrato de longo prazo, melhorou sua oferta de produ-
Na China, os principais clientes das mineradoras internacionais, tos para o mercado chinês e conseguiu manter preços competitivos.50 TABELA 2 TABELA 3
até 2008, foram as grandes siderúrgicas, atendidas por meio de con- O minério de ferro ganhou peso na balança de exportações bra- VENDAS TOTAIS DE MINÉRIO DE FERRO E CONCENTRADOS VENDAS DE MINÉRIO DE FERRO E PELOTAS DA VALE PARA A CHINA
tratos de longo prazo, com preços acertados anualmente. Em 2008, sileiras. No ano 2000, o Brasil vendia a outros países 11,5 milhões de PARA A CHINA (EM MILHÕES DE TONELADAS) (EM MILHÕES DE TONELADAS)
as 10 maiores empresas do ramo no país respondiam por quase 42% toneladas de minério de ferro, que equivaliam a 5,53% das vendas
da produção de aço mundial.46 de produtos brasileiros a outros países, em valores. A China era o
ANO VOLUME ANO VOLUME
Essa oferta era voltada prioritariamente para os aços especiais, terceiro maior comprador e ficava com 0,49% das exportações, se-
usados no segmento automotivo, de máquinas e eletrônicos. Mas a guida por Japão e Alemanha.51 2001 28,0 2001 14,9*
crise financeira, iniciada nos Estados Unidos em 2008 com a quebra Em 2006, o minério tornou-se o principal item da pauta de ex- 2002 34,5 2002 17,5*
do banco de investimentos Lehman Brothers, contagiou o mundo e portações brasileira, com peso de 6,49% nas vendas, e a China ha-
2003 50,0 2003 29,4
abalou seriamente as exportações desses setores. via assumido o primeiro lugar no ranking dos compradores, ficando
Em contrapartida, a construção civil na China continuava cres- com 1,91% da oferta ao exterior.52 2004 52,7 2004 41
cendo intensamente, em especial devido a grandes investimentos 2005 59,1 2005 54,1
públicos. É nesse cenário que se destacam as siderúrgicas de
2006 81,3 2006 75,7
pequeno e médio portes – que negociam o minério de ferro à vista,
em contratos de prazo mais curto.47 2007 105,0 2007 94,5
2008 96,3 2008 85,1
42 - Idem. 2009 166,1 2009 140,3
43 - Idem. 48 - Valor Econômico, 22/5/2009, e Relatório Form 20-F 2009. 2010 152,6 2010 126,4
44 - Idem. 49 - Idem.
2011 164,5 2011 131,8
45 - Ver banco
anco de dados da World Steel Association. Disponível em: <http://www.
< 50 - Ver Relatório Form 20-F 2007.
worldsteel.org/statistics/statistics-archive.html>. 51 - Ver: <http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1299&r
46 - Idem. efr=1161>. Fonte: Tabela montada com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Fonte: Resultados US GAAP 4T 2003-2011. * Valores referentes apenas à controladora
Comércio (MDIC, 2001-2011). (Resultados BR GAAP 4T 2001-2002).
47 - China’s Steel Industry, Banco Central da Austrália, dezembro de 2010. 52 - Idem.
9.4 A compra da Inco 1o de abril de 1902, foi criada a International Nickel Co., cujas ações co-
meçaram a ser negociadas na Bolsa de Nova York em setembro de 1915.
A compra da Inco Limited, aprovada pelas autoridades reguladoras Em julho do ano seguinte, a International Nickel Company of Canada
290 do Canadá em outubro de 2006, foi um marco no processo de interna- Limited seria incorporada à americana International Nickel Co. 291
cionalização da Vale.65 A mineradora canadense detinha, na ocasião, O acrônimo Inco foi adotado em 1919.69
as maiores reservas de níquel do mundo e era a segunda maior pro- O rei George VI e a rainha Elizabeth foram os primeiros mem-
dutora global, logo atrás da russa Norilsk Nickel.66 O valor investido bros da família real britânica a visitar as operações de níquel de
na compra foi de US$ 18,24 bilhões. Tratava-se da maior aquisição já Sudbury, em 1939, e a rainha foi a primeira mulher a descer em
realizada na América Latina, financiada “em condições bastante favo- uma das minas. Vinte anos depois, Elizabeth II foi ao mesmo local.
ráveis, que permitiram à Companhia continuar a ter uma dívida com Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Inco entregou
perfil de baixo risco e um balanço altamente saudável”.67 aos países aliados 750 mil toneladas de níquel, 875 mil toneladas de
Com a aquisição, a Vale tornou-se a segunda maior produtora cobre e mais de 56 toneladas de platina.70
global de níquel, além de ampliar seu espaço geográfico e seu por- Uma grande descoberta de níquel foi confirmada em fevereiro
tfólio de produtos. A Inco, em razão de sua excepcional carteira de de 1956, em Thompson, na província canadense de Manitoba. O em-
projetos, possuía o “maior potencial de crescimento entre os seus preendimento de mineração e refino no local seria então inaugura-
concorrentes”.68 do em março de 1961. Ao atingir sua capacidade máxima de opera-
Roberto Castello Branco, diretor de Relações com Investidores da ção, naquele mesmo ano, a Inco se tornaria a segunda maior
Vale, explicou a importância da aquisição da Inco: “A Vale passou a produtora de níquel do mundo.71
ser não só líder global em um negócio diferente do minério de ferro, Concluídas as negociações para a aquisição da empresa canaden-
mas a ser a segunda maior produtora mundial de níquel e a deter o se, foi constituída a CVRD Inco Ltd. (atualmente Vale Canada Limited,
maior volume de reservas e a melhor tecnologia. Mas isso deu origem subsidiária integral) pela incorporação da Inco Ltd. e da Itabira
também à transformação da Vale numa empresa global. Passamos a Canada Inc., subsidiária da Vale.72 Além da produção e da comercia-
ter operações em vários países: no Canadá, na Indonésia, pequenas lização de níquel, a CVRD Inco passou a gerenciar, de sua sede em
operações no Reino Unido, Japão, China, Taiwan, Coreia, e um projeto Toronto, as operações de metais básicos.73
na Nova Caledônia. A Vale se apresenta como uma empresa global, e O minério de ferro permaneceu como produto principal da
isso começa a determinar mudanças culturais.” Companhia após a constituição da CVRD Inco, respondendo por
48% da receita bruta de 2006. No entanto, o níquel ganhou espaço,
Mais de cem anos de história passando a representar 26% dos negócios da Vale naquele ano, jus-
A Inco tinha uma história centenária. O primeiro embarque de miné- tamente “em um momento de forte demanda e preços recordes
rio da Mina Creighton em Sudbury, Ontário, ocorrera em 1901. No dia desse metal”.74
69 - Ver: <http://nickel.vale.com/business/history/#>.
65 - “Vale obtém autorização para comprar a Inco”, O Globo, 20/10/2006.
70 - Idem.
66 - Dados do U.S. Geological Survey. Minerals Information, Commodity, Nickel.
Disponíveis em: <http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/commodity/nickel/myb1- 71 - Idem.
2006-nicke.pdf>. 72 - Ver Relatório Form 20-F 2010.
67 - Ver Relatório de Sustentabilidade 2006, p. 34. 73 - Idem.
68 - Idem. 74 - Idem.
95
85
75
A aquisição da Inco significou ainda trazer para a Companhia 295
a subsidiária PT Inco, que opera na Indonésia, e o projeto de ní- US$ 69 bilhões*
quel-cobalto na Nova Caledônia, um arquipélago na Melanésia 65
(Oceania). 75 A PT International Nickel Indonesia Tbk (PTI) havia
começado a operar naquele país em 1970. Seus ativos se consti- 55
tuem em minas a céu aberto e numa usina de processamento em
Sorowako, na Ilha de Sulawesi, que embarcam níquel em matte
45
para a refinaria da Vale no Japão. 76 Na Nova Caledônia, a subsidi-
ária da Inco, hoje Vale Nouvelle-Calédonie SAS (VNC), foi criada
em 1992. Em 1999, foi delimitada uma zona inicial de mineração 35
de 47 milhões de toneladas métricas de reservas prováveis. Em
2001, a Inco confirmaria a intenção de investir US$ 1,4 bilhão nas 25
operações comerciais da empresa. 77 A capacidade de produção
anual do projeto Vale Nova Caledônia é estimada em 60 mil tone-
15
ladas de níquel.
Com a consolidação da CVRD Inco, em 24 de outubro de 2006,
a Vale assumiu a condição de segunda maior empresa produtora 5
de níquel refinado do mundo, com uma produção de 250,6 mil to-
neladas.78 O níquel refinado resulta do processamento do minério; 2002 2003 2004 2005 2006
são produzidos, ainda, ferro-níquel e níquel matte, um produto
intermediário. O gráfico na página ao lado79 mostra a evolução do Fonte: Relatório Anual 2006.
* em dez/2006
valor de mercado da Vale, de 2002 até o fim de 2006, com a compra
da mineradora canadense.
Outra investida da Vale no Canadá foi a Canico, comprada
em novembro de 2005 por aproximadamente US$ 800 milhões. 80 controle do projeto de produção de níquel Onça Puma, no Pará. O em- milhões de toneladas métricas. O principal motivo desse aumen-
A CVRD concluiu a aquisição em fevereiro de 2006, ficando com 100% preendimento, que abrange as cidades de Ourilândia do Norte, to foi o novo método de modelagem, realizado de acordo com a
do capital da empresa canadense. Essa operação garantiu à Vale o Tucumã e Parauapebas (PA), tem capacidade nominal de produção recomendação de uma auditoria conduzida no ano anterior. 82 O
anual de 53 mil toneladas métricas de níquel.81 empreendimento incluiu, ainda, uma subestação de energia para
Onça Puma viria a ser a primeira operação de ferro-níquel da atender às necessidades da unidade operacional. O investimento
75 - Idem.
Vale no Brasil e é uma das maiores do mundo; o projeto consis- total na implantação foi de US$ 2,297 bilhões. 83
76 - Ver Relatório Form 20-F 2010 e site da Vale, disponível em: <http://nickel.vale.com/
business/history/#>. tia em uma mina e uma usina de processamento. Em 2007, suas
77 - Ver: <http://nickel.vale.com/business/history/#>. reservas foram reavaliadas, passando de 78 milhões para 82,7
78 - Idem.
79 - Ver Relatório Anual 2006. 82 - Ver Relatório Form 20-F 2007.
80 - Ver Relatório Anual 2005. 81 - Ver Relatório Anual 2005. 83 - Ver Relatório Form 20-F 2008.
equivalente a 11,12% do capital total da empresa. À época, a Vale Companhia. Em 2001, a CVRD havia adquirido a parcela da Phelps
classificou a transação como consistente com seu foco em minera- Dodge do Brasil Mineração Ltda. no projeto, por US$ 42,5 milhões.101
ção e logística.95 A implementação do Projeto Sossego teve início em 31 de agosto
300 Já em março de 2005, a Companhia ganhou um processo de lici- de 2003, quando foi aberta a cava do Sequeirinho e movimentado
tação internacional para explorar o depósito de fosfato de Bayóvar, 1,93 milhão de toneladas de minério e estéril. Com isso, foi superada
na região de Piura, no Peru, um dos maiores depósitos de rocha a meta para o ano, cuja expectativa era de 1,8 milhão de toneladas.102
fosfática da América do Sul, com capacidade para produzir 3,9 mi- Até o fim de 2004, a movimentação total na Mina do Sossego,
lhões de toneladas métricas por ano.96 O fosfato, junto com potássio com vida útil de 17 anos, foi de 28 milhões de toneladas, sendo
e nitrogênio, é usado na fabricação de fertilizantes. 6 milhões de toneladas de minério sulfetado, com 1,31% de teor de
Antes disso, em novembro de 2004, a Vale comprara os direitos de cobre. Somente em seu primeiro ano de operação, a usina obteve
exploração de um depósito de potássio às margens do Rio Colorado, uma recuperação metalúrgica de 92%.103
na Argentina. O início da primeira fase do Projeto Rio Colorado, com O primeiro embarque de concentrado de cobre foi realizado no
capacidade nominal de 2,1 milhões de toneladas métricas de potás- dia 3 de junho de 2004, em São Luís, no Maranhão. No total, foram
sio por ano, está previsto para o segundo semestre de 2014.97 Outro vendidas 269 mil toneladas provenientes da Mina do Sossego, sendo
projeto de potássio, batizado de Neuquén,98 está em fase de estudo 252 mil para o mercado externo e 17 mil para o interno. Esse volu-
de pré-viabilidade. A produção estimada é de 1 milhão de toneladas me de vendas gerou uma receita bruta de R$ 592 milhões.104
métricas de potássio por ano.99 No mesmo ano, a Vale concluiu a elaboração e atualização do
A Vale acredita que o aumento global do consumo de produtos Plano Diretor de Sossego. Foram investidos R$ 119,8 milhões em
agrícolas, principalmente nos países emergentes, deve impulsionar infraestrutura. Também foram firmados convênios para formação
a demanda por fertilizantes.100 e desenvolvimento da mão de obra local, além de parcerias com a
Prefeitura de Canaã dos Carajás em projetos de segurança pública
e saneamento básico.105
Em 2005, quando a Mina do Sossego completou seu primeiro
9.6 Cobre no Brasil: Sossego ano de operação integral, foram registradas vendas para 13
clientes em 11 países. A produção ultrapassou novamente a bar-
O início da produção de cobre pela Vale se deu em 2004. No pri- reira das 100 mil toneladas de cobre em concentrado, alcançan-
meiro semestre desse ano começaram as operações da Mina do Sos- do 107 mil toneladas. A receita bruta gerada pelos embarques
sego, em Canaã dos Carajás (PA), depósito descoberto em 1997 pela foi de R$ 937 milhões. 106
95 - Ver Sala de Imprensa da Vale, “CVRD Vende sua Participação na Fosfértil”, 24/10/2003.
Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=11075>. 101 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “CVRD
CVRD Adquire Participação da Phelps Dodge no
96 - Ver Relatório Anual 2005. Projeto Sossego”, 24/10/2001. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/
release/interna.asp?id=11239>.
97 - Ver Relatório Form 20-F 2010.
102 - Ver Relatório Anual 2003.
98 - Ver Sala de Imprensa da Vale, “CVRD ganha concorrência para exploração
de depósito de potássio na Argentina”, 17/11/2004. Disponível em: <http:// 103 - Idem.
saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=13267>. 104 - Ver Relatório Anual 2004.
Vista aérea
99 - Sala de Imprensa da Vale,, sem data. 105 - Idem. da Mina do
100 - Ver Relatório Form 20-F 2011. 106 - Ver Relatório Anual 2005. Sossego (PA).
9.7 Aquisições e desinvestimentos Outra importante aquisição ocorreu no mês seguinte. A Companhia, A CVRD comprou 50% das ações ordinárias e 40% dos papéis prefe-
por meio da Aluvale, comprou 64% das ações representativas do renciais por US$ 426,4 milhões, passando a controlar a Caemi, com
Em 2002, o então presidente da Vale, Roger Agnelli, afirmava que capital social de sua coligada Mineração Vera Cruz S. A. (MVC), em 100% de seu capital votante e 40% do preferencial, o que equivale a
a CVRD iria se concentrar “no crescimento diversificado das ativida- Paragominas (PA), por R$ 6,403 milhões. Com a transferência das 60% do capital total.121
des de mineração e no desenvolvimento dos negócios associados de ações de empresas do Grupo Paranapanema, a Vale passou a deter Em 2004, a Vale deu início a novos projetos no setor de aço. Em
logística e energia elétrica”.107 Para isso, era necessário passar por 100% do capital da MVC.114 março, foi assinado um memorando de entendimento com a side-
transformações: a mineradora teria de elevar seu investimento em A reestruturação das participações da Companhia chegaria, en- rúrgica sul-coreana Dongkuk, com a companhia italiana de equipa-
operações como o carvão vegetal, ao mesmo tempo se desfazendo de tão, à área de manganês e ferroligas. Ampliando sua internaciona- mentos para plantas metalúrgicas Danielli e com o BNDES, para a
participações em atividades como produção de celulose e ouro. Em lização, a Vale adquiriu o capital integral da Rio Doce Manganèse construção e implementação da Usina Siderúrgica do Ceará (USC),
setembro daquele ano, a Companhia concluiu, por R$ 191,4 milhões, Europe, na França, e da Elkem Rana, na Noruega, denominada, desde em Fortaleza.122 Além disso, concretizou a venda de ações da CST
a venda dos ativos da Florestas Rio Doce S. A. (FRDSA), composta então, Rio Doce Manganese Norway. Isso representou um aumento para a Arcelor. O valor total da operação chegou a US$ 578,5 milhões,
por 39,7 mil hectares de terras no Espírito Santo e 8 mil hectares em de cerca de 110 mil toneladas na capacidade de produção de ferro- resultando no desinvestimento total da participação da Vale no capi-
Minas Gerais, para a Aracruz Celulose e a Bahia Sul Celulose.108 ligas de manganês.115 Paralelamente, a Companhia anunciou desin- tal da CST de 28,02%.123
Por outro lado, a Vale incorporou a totalidade das ações da vestimentos na Eletrosiderúrgica Brasileira S. A. (Sibra) e na Compa- Em 2005, a Vale incorporou as ações da Caemi, passando a deter
302 Celmar S. A. – Indústria de Celulose e Papel. Com a compra da parti- nhia Paulista de Ferro-Ligas (CPFL). 100% do capital do grupo,124 que tinha o controle, entre outras em- 303
cipação da Nissho Iwai Corporation na Celmar, em dezembro de 2002, Em 2002, a Vale estava presente em 14 estados brasileiros: Ama- presas, da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR). De acordo com a
a CVRD passou a deter 29,4 mil hectares de florestas renováveis de zonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Companhia, essa incorporação tornava a gestão mais eficiente e au-
eucalipto no Estado do Maranhão. O eucalipto seria usado na produ- Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Cata- mentava a transparência, além de reforçar a capacidade financeira,
ção de carvão vegetal, único redutor de minério de ferro que permite rina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.116 No exterior, a Companhia gerando potenciais ganhos de produtividade.
a produção de ferro-gusa de forma ambientalmente sustentável.109 também tinha forte presença, com firmas controladas e coligadas Em 2006, a Companhia contabilizou US$ 21,5 bilhões destinados
Houve desinvestimento no negócio do ouro. Em 2002, a Vale en- nos Estados Unidos, na Argentina, no Chile, no Peru, na França, na a aquisições – com a maior parte deste valor investida na compra da
cerrou as operações em sua maior mina de ouro, a Igarapé Bahia, Noruega e no Bahrein, além de escritórios em Nova York, Bruxelas, Inco. Isso marcaria definitivamente seu processo de internacionaliza-
localizada em Parauapebas (PA). As vendas naquele ano já haviam Tóquio e Xangai.117 ção, como ressaltou o diretor de Relações com Investidores da Vale,
recuado significativamente em relação a 2001 – de 508.472 para A fim de ampliar sua presença na América do Sul, naquele mes- Roberto Castello Branco, em entrevista concedida à Vale em janeiro
331.479 onças. Com isso, a receita bruta com as vendas de ouro tam- mo ano foi estabelecida uma subsidiária para explorar novas oportu- de 2012. A Vale adquiriu a Rio Verde Mineração, localizada no Qua-
bém recuou – 15,4% frente ao ano anterior – para R$ 280 milhões, nidades minerais no sul do Peru e no Chile. Isso foi feito em associa- drilátero Ferrífero, em Minas Gerais, próxima às operações da MBR no
apesar de uma alta de 14,4% no preço em dólar da onça troy.110 A usina ção com a mineradora chilena Antofagasta, e o foco era a exploração município de Nova Lima, por US$ 47 milhões. Em julho daquele ano, a
de beneficiamento do local foi adaptada ao processamento de cobre.111 do cobre. Simultaneamente, foi criada a Compañia Minera Latinoa- Companhia comprou a participação de 45,5% que a BHP Billiton Me-
Enquanto isso, por meio da Aluvale, a CVRD adquiriu, em junho mericana (CMLA), com sede no Chile, que ficaria responsável pelas tais S. A. detinha indiretamente na Valesul. O valor da operação foi
daquele ano, a fatia de 12,6% que a Mineração Rio do Norte (MRN), atividades de exploração mineral naquele país e na Argentina.118 de US$ 28 milhões e a Vale passou a ter 100% do capital da Valesul.125
uma joint venture, detinha no capital da Alunorte. Dessa maneira, Foram também adquiridas, em 2002, ações da Companhia Side- O desinvestimento de ativos gerou ganhos em 2006. Entre eles,
a Aluvale aumentou sua participação na Alunorte para 62,1% das rúrgica de Tubarão (CST) que pertenciam à Acesita S. A., elevando a Gulf Industrial Investment Co.,126 com US$ 418 milhões; Usiminas,
ações ordinárias e 57,03% do capital total.112 participação da Vale na CST de 22,85% para 28,02%. A CVRD assinou com US$ 176 milhões (outros US$ 728 milhões seriam apurados
Em junho de 2003, a Vale adquiriu da Anglo American, por US$ 50,9 um acordo com a Arcelor (hoje Arcelor Mittal), o maior grupo siderúr- em 2007 com a venda de outro lote de ações); Siderar, com US$
milhões, o controle integral da Salobo Metais, proprietária do projeto gico do mundo, para garantir a liquidez de sua participação na CST.119 108 milhões; Gerdau, US$ 67 milhões; e Nova Era Silicon, US$ 14
Salobo, de exploração de cobre, no Estado do Pará. O objetivo era Em 2003 foram concluídas outras importantes aquisições, como milhões. No ano anterior, o ganho com a venda de ativos fora de
permitir sua concepção e implantação de forma a explorar ao máxi- a da Caemi, que ajudou a consolidar a posição da Vale como maior US$ 126 milhões. 127
mo as sinergias existentes em Carajás.113 produtora e exportadora de minério de ferro e pelotas do mundo.120
114 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “Aluvale adquire Mineração Vera Cruz”,, 1/7/2002..
107 - Ver Relatório Anual 2002. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=11204>.
108 - Idem. 115 - A transação foi concretizada em janeiro de 2003. Ver Relatório Anual 2002 e Relatório 121 - A incorporação definitiva
definitiva da Caemi ocorreria em 2005 e 2006.
109 - “Vale anuncia a incorporação de Celmar e Ferteco”, revista Exame, 01/9/2003. Anual 2003. 122 - Ver Relatório Anual 2004.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/vale-anuncia-a- 116 - Ver Relatório Anual 2002. 123 - Ver Relatório Anual 2004.
incorporacao-da-celmar-e-ferteco-m0058635>. 117 - Idem. 124 - Em dezembro de 2006, a Caemi foi incorporada à CVRD. Ver “CVRD completa
110 - Ver Relatório Anual 2002. 118 - Idem. incorporação de ações da Caemi”, Vale, 3/5/2006. Disponível em: <http://saladeimprensa.
111 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “Nova
Nova fase
ase da Mina de Igarapé Bahia”,
”, 10/7/2002. vale.com/pt/release/interna.asp?id=16124>. Ver também Relatório de Sustentabilidade 2006.
119 - Idem.
Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=11202>. 125 - Ver Relatório Form 20-F 2006, p. 31.
120 - “Vale conclui compra da Caemi;; Mitsui fi ca com 5% da Valepar”, Exame.com,
fica
112 - Idem. 3/9/2003. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/vale- 126 - Produtora de pelotas de minério de ferro do Bahrein.
113 - Ver Relatório Anual 2003. conclui-compra-da-caemi-mitsui-fica-com-5-da-valepar-m0058649>. 127 - Ver Relatório Form 20-F 2006 e Resultado US GAAP 4T06.
304 9.8 O grau de investimento O valor de mercado da Companhia mais que quintuplicou entre 9.9 Cinco anos de ampliação Angra dos Reis, Salvador e Aracaju. Suas principais linhas são 305
2001 e 2005, passando de US$ 9 bilhões para mais de US$ 50 bilhões. Bahia, que liga o polo petroquímico de Camaçari (BA) aos centros
logística (2002-2006)
Em julho de 2005, a Vale festejou uma de suas grandes datas Em 2005, a Vale tinha direitos de exploração que cobriam 8,7 mi- industriais de São Paulo e Santos; Cerrado, que liga Goiânia, Brasília
históricas: a mineradora tornou-se a primeira empresa brasileira a lhões de hectares no Brasil e 19,8 milhões de hectares em Angola, e Belo Horizonte aos portos de Vitória, Tubarão e Barra do Riacho,
Uma vez que jazidas minerais, em geral, localizam-se em áreas
obter grau de investimento,128 antes mesmo que o Brasil. A primeira África do Sul, Argentina, Chile, Gabão, Guiné, Mongólia, Moçambi- utilizada principalmente no transporte de produtos agrícolas; e Mi-
remotas, o transporte é uma questão fundamental. Por essa razão,
a conceder essa nota à Vale foi a Moody’s, em 8 de julho, corrobo- que e Peru, o que a colocava entre as quatro maiores do setor de nério, que liga as cidades próximas a Belo Horizonte aos estados do
a área de logística seria classificada pelo então presidente da Vale,
rada posteriormente pela Standard & Poor’s e pela Dominion Bond. mineração e metais do mundo.134 Rio de Janeiro e do Espírito Santo, basicamente para o transporte de
Roger Agnelli, como a segunda mais importante para a Compa-
Tornou-se, então, a primeira companhia brasileira com nota supe- A conquista do grau de investimento foi um importante aval minerais, calcário e produtos siderúrgicos. Pela FCA passam ainda
nhia, depois da mineração.138 Essa infraestrutura serve não apenas
rior à de seu país-sede – o Brasil só obteria o grau de investimento para a CVRD, que vinha honrando seu compromisso de manter derivados de petróleo, cimento, ferro-gusa e grãos.142 A ferrovia ope-
à mineração, mas também ao transporte de vários outros produ-
em abril de 2008129 –, além de ser a única a ter essa classificação uma estratégia fiscal equilibrada. A Vale foi apontada, ainda, como ra por um contrato de 30 anos renováveis, que expira em 2026.143
tos. Em 2002, a receita obtida por meio do serviço intermodal cres-
atribuída por três agências de rating.130 a companhia que mais deu retorno aos acionistas no mundo, entre Novos recordes seriam alcançados em 2002, como no transpor-
ceu 44% no ano, atingindo R$ 170 milhões. Esse serviço envolvia o
Naquele ano, a Vale ficou com as notas BBB pela Standard & empresas com valor de mercado acima de US$ 25 bilhões, segundo te mensal de soja e farelo pela EFVM e pela FCA, de 336 mil tone-
transporte de contêineres pelas ferrovias e pelo mar entre os prin-
Poor’s, Baa3 pela Moody’s e BBB low pela Dominion.131 Em 2011, os estudo do Boston Consulting Group, no período entre 2000 e 2004.135 ladas em abril, e no embarque, pelo Terminal de Produtos Diversos
cipais portos de Buenos Aires, na Argentina, e Manaus, no Amazo-
ratings foram A- (Standard & Poor’s), Baa2 (Moody’s), BBB alta (Do- O contexto internacional também era favorável: em 2005, a eco- (TPD), em Vitória (ES), de 432 mil toneladas em junho. Outro recor-
nas, sendo complementado pelo sistema rodoviário.139 E muitos
minion) e BBB+ (Fitch).132 Uma empresa ou país dentro do patamar nomia global registrou expansão de 4,8%. O Produto Interno Bruto de histórico aconteceu no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira: o
recordes foram batidos.
BBB é considerado capaz de suportar um nível moderado de turbu- (PIB) de Estados Unidos, Europa e Japão cresceu 3%, enquanto o dos embarque de 55,5 milhões de toneladas de cargas, volume 4% supe-
O transporte de produtos agrícolas foi, em 2002, o segmento
lência econômica, enquanto B e C são vistos como frágeis e atra- países emergentes atingiu 7,2% – excluindo, segundo a classificação rior ao de 2001. Desse total, minério de ferro e pelotas responderam
mais dinâmico das atividades ligadas à logística, entre as quais se
entes apenas para capital especulativo. Os níveis de A a AAA são adotada pelo FMI, Coreia do Sul, Israel e Cingapura. O crescimento por 51,6 milhões de toneladas. 144 Já no Complexo de Tubarão
destacaram a exportação de soja e a operação integrada entre a
considerados mais seguros, sendo AAA a nota máxima, com risco brasileiro, por sua vez, ficou em 3,2%.136 (ES),145 seriam embarcados 89,9 milhões de toneladas em 2002, sendo
Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), a Ferrovia Centro-Atlântica
zero. A classificação D significa default.133 A Companhia encerrou o ano de 2005 com lucro líquido de US$ 72,9 milhões correspondentes a minério de ferro e pelotas.146
(FCA) e o Complexo de Tubarão.140 Um exemplo disso foi a realiza-
4,8 bilhões – um novo recorde, um salto de 88,1% frente ao resulta- Para escoar o minério, mais trilhos eram necessários. Em janei-
ção da primeira movimentação de soja do nordeste de Mato Grosso
do de 2004. A receita bruta ficou em US$ 13,4 bilhões, e a diferença ro de 2002, a FCA assumiu a operação dos 431 quilômetros entre as
para embarque pelo Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, em
128 - Nota de avaliação de risco dada por instituições especializadas, conhecidas como entre as exportações e as importações da Companhia totalizou estações de Valefértil, em Minas Gerais, e Boa Vista Nova, próxima
agências de rating, para empresas ou países considerados investimento seguro. Um país São Luís (MA), abrindo um novo corredor de transportes para aque-
US$ 6,3 bilhões, representando 14,1% do superávit brasileiro, recor- à cidade de Campinas (SP). Esse trecho, uma concessão da Ferro-
classificado como investment grade é tido como de elevada capacidade de honrar seus la região. A receita com essas operações atingiu R$ 250 milhões, um
débitos. A classificação oposta, de alto risco, é chamada de grau especulativo ou junk. de naquele ano. No período entre 2001 e 2005, as exportações da vias Bandeirantes S. A. (Ferroban), complementaria a ligação até
crescimento de 56% em relação ao ano anterior.141
Ver “Grau de Investimento”. Glossário de Economia, O Estado de S. Paulo, disponível em: Vale registraram uma expansão média anual de 20,8%, tendo acu- Araguari, no Triângulo Mineiro, sendo que esta última já era opera-
<http:// economia.estadao.com.br/glossario/letra_g.htm>. Então com 7.080 quilômetros de extensão, a FCA faz a ligação
mulado US$ 23,3 bilhões.137 da pela FCA. A partir desse acordo, que envolvia também o direito
129 - “Com a chancela de porto seguro”, O Globo, 1/5/2008. entre Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Ser-
130 - Ver Relatório Anual 2005. gipe, além do Distrito Federal, aos portos de Rio de Janeiro, Vitória,
131 - Idem. 134 - Idem.
142 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “Ferrovia
Ferrovia Centro-Atlântica – FCA”,
”, 24/1/2000..
132 - Idem. 135 - Idem. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=11342>.
133 - Ver Standard & Poor’s, Ratings Criteria. Disponível em: <http://www. 136 - Diniz, Eli, “O pós-Consenso de Washington: a globalização e o desenvolvimento 138 - Ver Sala de Imprensa da Vale, “Vale acelera injeção de recursos em MG”, 6/2/2004. 143 - Ver Relatório Form 20-F 2007.
standardandpoors.com/servlet/BlobServer?blobheadername3=MDT-Type&blobcol=url revisitados”. Res Pvblica, Revista de Políticas Públicas e Gestão Governamental, vol. 5, 2006, Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/noticias/interna.asp?id=11637>.
p. 9-27, e dados do IBGE. 144 - Idem.
data&blobtable=MungoBlobs&blobheadervalue2=inline%3B+filename%3Dunderstand 139 - Ver Relatório Anual 2002.
ing_ratings_definitions.pdf&blobheadername2=Content-Disposition&blobheadervalue1 137 - Resultado US GAAP 4T05. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/ 145 - Composto pelo Porto de Tubarão, pelo Cais do Paul e pelos terminais de Praia Mole,
=application%2Fpdf&blobkey=id&blobheadername1=content-type&blobwhere=124383 investido res/resulta do s - e- i n for macoes - fi n an cei ras / res u l t ados - t r i mes t rai s / 140 - Idem. Granéis Líquidos e Produtos Diversos (pelas usinas pelotizadoras).
4063620&blobheadervalue3=UTF-8>. Documents/2005/4%C2%B0%20Trimestre/Press%20Releases/cvrd_usgaap_4t05p.pdf>. 141 - Idem. 146 - Idem.
147 - Como contrapartida à cessão da operação para a FCA, a Vale deveria transferir suas
ações da Ferroban para os acionistas controladores desta empresa, tudo após a devida 152 - Ver Relatório Anual 2003 e Relatório Anual 2004.
aprovação pelo órgão governamental responsável por concessões ferroviárias. Ver mais 153 - Idem.
nos Relatório Anual 2002 e Relatório Anual 2003.
154 - Resultado US GAAP 4T03. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/
148 - Ver Relatório Anual 2002. i nve s t i d o re s / re s u l t a d o s - e - i n f o r m a c o e s - f i n a n c e i ra s / re s u l t a d o s - t r i m e s t ra i s /
Carregamento de soja no
149 - Idem. Documents/2003/4%C2%B0%20Trimestre/Press%20Releases/cvrd_usgaap_4t03p.pdf>.
Terminal Marítimo de
Praia Mole, no Complexo de 150 - Ver Relatório Anual 2003. 155 - Idem.
Tubarão, Vitória (ES), 2005. 151 - Ver Relatório Anual 2004. 156 - Ver Relatório Anual 2003 e Relatório Anual 2004.
308 e 2006, a Companhia destinou aproximadamente US$ 488 milhões O Complexo de Tubarão embarcou 98,4 milhões de toneladas Uma parceria com a japonesa Mitsui levaria à criação da DCN- 309
à FCA para a modernização de ativos.157 em 2003, contra 86,7 milhões no ano anterior. Do total, 72 milhões DB Overseas S. A.,169 subsidiária da Docenave. A Mitsui contribuiria
de toneladas corresponderam a embarques de minério de ferro e com conhecimentos e tecnologia no gerenciamento de transporte
A principal operadora de logística brasileira pelotas, e 19,5 milhões a embarques de cargas diversas, com desta- de contêineres e no desenvolvimento do serviço de feeder, como é
Em 2003, a Vale foi responsável por 16% da movimentação de car- que para carvão, gusa e soja.163 Já o Terminal de Vila Velha atingiu chamada a alimentação de contêineres para a navegação marítima
gas do Brasil, 65% da movimentação de granéis sólidos em portos e a movimentação de 2,4 milhões de toneladas, uma alta de 17% em de longo curso.
aproximadamente 40% da movimentação do comércio exterior na- relação a 2002.164
cional, acompanhando a expansão econômica do país.158 A receita Ainda em 2003, a Vale adquiriu 2.986 vagões e 101 locomotivas Corredores de exportação
com serviços de logística atingiu a marca de US$ 604 milhões, um para transporte de minério de ferro e carga geral, com investimen- No ano de 2004, a Vale investiu na ampliação da capacidade de dois
crescimento de 31,9% em relação à obtida em 2002.159 O transporte tos de US$ 156 milhões, o que ampliaria a oferta de transporte para dos principais corredores de transportes do país, fundamentais
ferroviário de aço para exportação, que cresceu 82%, e o volume todos os segmentos e mercados atendidos por suas ferrovias.165 No para a exportação de grãos: o Corredor Vitória e o Corredor Centro-
de cargas originadas nas usinas ao longo da EFVM destinadas ao Sistema Sul, a ampliação da capacidade de movimentação de grãos -Norte. Em relação à agricultura, foram importantes as seguintes
mercado de São Paulo, que aumentou 2,7 vezes, foram os grandes se fortaleceu com a inauguração de dois novos silos no Terminal de inaugurações: dois novos silos em São Luís (MA), elevando em 58%
destaques da logística da CVRD no período.160 Produtos Diversos, no Complexo de Tubarão, em Vitória (ES) – que sua capacidade de armazenagem; e um silo em Tubarão, em Vitória
O volume total de carga geral medido em tonelada por quilôme- também registrou um aumento de 78% no volume de importação (ES), para atender à exportação da safra 2004/2005, com capacidade
tro útil (tku) transportado pela EFVM, EFC e FCA, em 2003, alcançou de fertilizantes.166 para 64 mil toneladas.170
outra marca inédita: 26,3 bilhões de tku. Isso representou um cres- Ainda em 2003, no segmento de navegação, a Docenave – cuja Em 2004, a Companhia anunciava que sua área de logística es-
cimento de 5% em relação a 2002.161 frota seria reduzida para apenas cinco navios próprios 167 – vendeu tava “diretamente ligada ao bom desempenho das exportações do
Além disso, cerca de 26,5 milhões de toneladas de carga para mais dois navios, por US$ 36 milhões. Com a transação, seria com- agronegócio brasileiro”.171 E os números comprovaram isso: a Vale
terceiros seriam movimentados pelos terminais portuários contro- pletada a venda de 14 navios pelo valor total de US$ 134,7 milhões. respondeu por 16% de toda a soja brasileira embarcada para o
lados e operados pela Vale em 2003 – uma alta de 35% frente ao ano Restariam ainda, da antiga frota de longo curso da Docenave, três exterior. Esse volume representou um aumento de 21% do total de
anterior. O Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, por exemplo, navios. Em 2003, os serviços de navegação obtiveram receita de soja e derivados movimentados pela CVRD: mais de 5 milhões de
registrou o embarque de 58,4 milhões de toneladas (crescimento US$ 87 milhões.168 toneladas por ano. Os negócios relacionados à logística apresenta-
anual de 5,4%), um recorde histórico. Foram movimentados 54 mi- ram receita bruta de R$ 3,02 bilhões, um salto de 42% em relação
lhões de toneladas de manganês e 3 milhões de toneladas de carga a 2003. 172
geral (ferro-gusa e soja).162 O volume total de carga geral transportado pelas ferrovias da
Vale – EFVM, EFC e FCA – ultrapassou em 2004 o recorde obtido no
163 - Idem.
ano anterior, atingindo 28,7 bilhões de tku, uma alta de 9,1%. 173
164 - Idem.
157 - Ver Relatório Anual 2003. No Maranhão, o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira embarcou
165 - Idem.
158 - Idem.
166 - Idem.
159 - Resultado US GAAP 4T03. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/
i nve st i d o re s /re s ul tad os -e -informacoe s -fin a nc eira s/resulta do s-trimestra is/ 167 - Ver Sala de Imprensa da Vale, “CVRD
CVRD conclui venda de navios da Docenave”, ”, 169 - Ver Relatório Anual 2003.
Documents/2003/4%C2%B0%20Trimestre/Press%20Releases/cvrd_usgaap_4t03p.pdf>. 26/6/2003. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna. 170 - Ver Relatório Anual 2004.
asp?id=11112>.
160 - Ver Relatório Anual 2003. 171 - Idem.
168 - Resultado US GAAP 4T03. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/
161 - Idem. investido res/resulta do s - e- i n for macoes - fi n an cei ras / res u l t ados - t r i mes t rai s / 172 - Idem.
162 - Idem. Documents/2003/4%C2%B0%20Trimestre/Press%20Releases/cvrd_usgaap_4t03p.pdf>. 173 - Idem.
o volume recorde de 65,4 milhões de toneladas (alta de 12% sobre A MBR, por sua vez, ficou responsável por operar três importantes de toneladas de carga geral, comparados a 30,53 milhões de tonela-
310 os 56,9 milhões de 2003).174 complexos de mineração no Estado de Minas Gerais: o Complexo do das em 2005.184 311
Já o Complexo Portuário de Tubarão embarcou 101 milhões de Pico, com as minas de Pico, Sapecado e Galinheiro, além de uma usina
toneladas em 2004, 9,3% a mais que em 2003. Os embarques de mi- de beneficiamento principal e três secundárias; o Complexo de Var- Reestruturação das operações no Sistema Sul
nério de ferro e pelotas corresponderam a 78,5 milhões de toneladas, gem Grande, com as minas de Tamanduá, Capitão do Mato e Abóboras, No terceiro trimestre de 2006, a Vale reorganizaria a administra-
uma alta de 8,1%. Os embarques de cargas diversas aumentaram e uma usina de beneficiamento; e o Complexo de Paraopeba, com as ção de seu antigo Sistema Sul, a fim de torná-lo mais eficiente. A
13,8%, chegando a 21,1 milhões de toneladas naquele ano.175 E o Ter- minas de Jangada e Capão Xavier. Todas as minas da MBR são atendi- estrutura original foi desmembrada, para produção e distribuição
minal de Vila Velha, no Porto de Capuaba (ES), movimentou 2,9 mi- das pela MRS Logística. O minério granulado, finos de minério de ferro de minério de ferro em dois departamentos: o Sistema Sudeste e
lhões de toneladas de produtos diversos também em 2004, um au- (sinter feed) e ultrafinos de ferro (pellet feed), além da hematitinha, usa- o Sistema Sul. A partir de então, os resultados seriam reportados
mento de 17,5% em comparação ao ano anterior.176 da por produtores de ferro-gusa, são produzidos principalmente pelo separadamente para cada um deles.185
processo run of mine (ROM) das operações de mineração a céu aberto.179 Localizadas no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, as mi-
Sistemas integrados Apostando no setor, a Vale investiu na expansão e melhoria de sua nas de minério de ferro do Sistema Sudeste foram divididas em
O Relatório Anual 2005 anunciaria três sistemas logísticos integra- infraestrutura de logística. Foram adquiridos 5.414 vagões e 125 lo- três áreas: Itabira, Minas Centrais e Mariana. A Estrada de Ferro
dos. Além dos tradicionais Sistema Sul e Sistema Norte, com suas comotivas para o transporte de seus produtos e de carga geral para Vitória a Minas (EFVM) ligaria as minas situadas nessas áreas ao
reservas de ferro e outros minerais, minas, instalações para proces- clientes nas três estradas de ferro: EFC, EFVM e FCA.180 A Vale con- Complexo de Tubarão, em Vitória (ES). 186 Todo o minério de ferro
samento, transportes e escoamento por ferrovias e terminais por- firmaria a posição de principal fornecedora de serviços de logística do Sistema Sudeste seria extraído de jazidas a céu aberto. Essas
tuários integrados, foi apresentado o Sistema MRS. Seu surgimento no Brasil, sendo responsável por 68% da movimentação de cargas em reservas têm altos índices de itabirito em relação à hematita.187
remonta a abril de 2001, quando a Vale adquiriu o controle integral ferrovias e 27% da movimentação portuária.181 Localizado nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, o novo
da Ferteco Mineração S. A., que detinha, na ocasião, 10,5% do ca- Os serviços de logística geraram receita de US$ 1,21 bilhão em Sistema Sul compreendia as minas do Oeste e as minas da MBR.
pital total da empresa ferroviária MRS Logística S. A., cuja malha 2005, um aumento de 38,7% em relação ao ano anterior.182 No total Todo o minério de ferro do novo Sistema Sul seria transportado
ligava os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Poste- consolidado no ano, o transporte ferroviário de carga geral contribui- pela MRS Logística até o Terminal da Ilha Guaíba (TIG) e da Com-
riormente, a participação direta e indireta da Vale na MRS Logística ria com US$ 881 milhões; os serviços portuários, com US$ 204 mi- panhia Portuária Baía de Sepetiba, ambos no Rio de Janeiro.
chegaria a 37,2% do capital votante e 40,5% do capital total. lhões; e a navegação de cabotagem e os serviços de apoio portuário, Em dezembro de 2006, o Terminal Vila Velha (ES), a Mineração
Algumas das atividades de produção de minério de ferro seriam com US$ 131 milhões.183 Andirá (MG) e o Terminal Intermodal Tercam, em Camaçari (BA),
operadas por meio da controlada Minerações Brasileiras Reunidas Em 2006, as três ferrovias administradas pela Companhia trans- seriam transferidos para a Docenave, que teve seu nome corpo-
(MBR). Ela “opera suas minas no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Ge- portariam, juntas, 28,92 bilhões de tku de carga geral para clientes, rativo alterado para Log-In Logística Intermodal S. A. (Log-In). A
rais, e embarca pelo seu próprio terminal marítimo na Ilha de Guaíba, volume bastante semelhante ao do ano anterior, de 28,37 bilhões de previsão era de que a transferência iria gerar uma receita de US$
na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro”.177 À MRS Logística caberia o tku. Já os portos e terminais marítimos movimentariam 29,6 milhões 104 milhões. 188
transporte de todo o minério de ferro da MBR destinado ao Terminal da
Ilha Guaíba. A ferrovia MRS trafega por 1.674 quilômetros de trilhos.178 184 - Idem.
179 - Ver Relatório Anual 2005. 185 - Ver Relatório Form 20-F 2006.
180 - Idem. 186 - Idem.
174 - Idem.
181 - Idem. 187 - “O itabirito é uma rocha de hematite-quartzo com um teor médio de ferro entre 35%
175 - Idem.
182 - Resultado US GAAP 4T05. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/ e 60%, requerendo concentração para atingir sua graduação para embarque, que deve ser
176 - Idem. i nves t i dores / res u l t ados - e- i n for macoes - fi n a n c e i ra s / re s u l t a d o s - t r i m e s t ra i s / superior a um teor médio de ferro de 64%. A hematita é um minério de graduação elevada
177 - Idem. Documents/2005/4%C2%B0%20Trimestre/Press%20Releases/cvrd_usgaap_4t05p.pdf>. com um teor médio de ferro de aproximadamente 66%.” Ver Relatório Form 20-F 2006.
178 - Idem. 183 - Idem. 188 - Idem.
312 9.10 Mais energia (2002-2006) de energia elétrica em 2002. Com esse importante alicerce, a Vale- 313
sul conseguiu alcançar a autossuficiência no suprimento de ener-
O Brasil ainda se recuperava da grave crise energética de 2001 gia no horário de pico de consumo, entre 18h e 21h.193
e 2002, quando a Vale já gerava, em suas próprias usinas hidre- Em dezembro de 2002, entrou em operação a primeira fase da
létricas, 9,9% da energia consumida em toda a mineradora. Ao Usina Hidrelétrica de Funil, uma parceria da Vale com a Centrais
investir no segmento de geração hidrelétrica, a Companhia se Elétricas de Minas Gerais (Cemig). Localizada em Minas Gerais,
protegia contra a volatilidade dos preços, além de garantir seu com 180 megawatts (MW) de capacidade instalada, a usina foi
suprimento e o aumento da competitividade. 189 E esses investi- construída em 27 meses, prazo considerado recorde para empre-
mentos viriam a calhar. Entre 1990 e 2000, o consumo de energia endimentos desse porte. O valor do investimento totalizou US$
do país cresceu 49%, enquanto a capacidade instalada foi expan- 47,6 milhões, equivalendo a US$ 519 por quilowatt (kW) instala-
dida em 35%. 190 do. A participação da Companhia na energia gerada pela Usina
Para dar conta do aumento na demanda, em lugar de se cons- de Funil seria alocada para o Complexo de Tubarão. 194
truir novas hidrelétricas ou termelétricas, apelou-se para a água Alguns meses antes, em julho de 2002, um consórcio com 30%
disponível nos reservatórios nacionais. Com o uso das reservas de participação da Vale vencera o leilão para construção e ope-
(destinadas oficialmente aos períodos de seca e de falta de chu- ração da Usina Hidrelétrica de Estreito, localizada na divisa dos
vas), os riscos de déficit de energia foram aumentando, 191 até que estados de Tocantins e Maranhão. 195
os períodos de estiagem em 2001 e 2002 deflagraram a crise. A implantação de usinas hidrelétricas em 2003 envolveu investi-
Os investimentos da Vale na implantação das usinas e no pro- mentos de US$ 57 milhões, cuja maior parte foi dedicada às usinas
cesso de licenciamento dos futuros empreendimentos somaram, de Aimorés (US$ 19 milhões), Candonga (US$ 17 milhões) e Amador
em 2002, US$ 78 milhões. A Companhia possuía participação em Aguiar I (US$ 10 milhões), todas no Estado de Minas Gerais.196
nove consórcios de usinas hidrelétricas, das quais três encontra- No início de 2003, as usinas de pelotização I e II, o Terminal de
vam-se em operação: Funil, Igarapava e Porto Estrela, em Minas Minério e o Terminal de Carvão, todos no Complexo de Tubarão
Gerais. Duas estavam programadas para entrar em operação até (ES), começaram a receber energia gerada pela própria Vale, so-
2003 – Candonga e Aimorés, no mesmo estado –, e outras cinco mando-se às unidades de Itabira e Timbopeba, em Minas Gerais,
tiveram suas obras iniciadas. 192 que já consumiam energia própria desde 1999. 197
A Usina Hidrelétrica de Machadinho – no Estado de Santa Ca-
tarina, na qual a Valesul Alumínio, localizada no distrito de Santa
Cruz (RJ), participava com 7% do capital – iniciaria sua produção
TABELA 4
USINAS HIDRELÉTRICAS COM PARTICIPAÇÃO DA VALE
de 18% ao ano.222 Considerando as tendências de crescimento da realizados mais de 50 encontros com as comunidades vizinhas ao
economia local, concluiu-se que a agricultura era tão importante projeto, em coordenação com a Comunidad Campesina San Martin
quanto a mineração. de Sechura. Também foram promovidas oficinas com a população
A partir de então, os encontros com líderes consolidaram parcerias local a fim de explicar o projeto. Após essas reuniões, o percentual
entre a Vale, a comunidade e o poder público em favor da elabora- de aprovação superou os 90%. A CVRD realizou ainda um diagnósti-
ção de Planos Diretores Participativos dos municípios, o que ajudaria co socioeconômico para identificar as demandas locais e estabelecer
a elevar os níveis de renda e possibilitaria a geração de investimentos prioridades para os investimentos sociais, que incluíram convênios
em outros setores. Ainda em 2005, a Vale investiria R$ 8,5 milhões no com universidades e centros de capacitação de mão de obra, além de
Banco Produtor223 e R$ 2,13 milhões no Banco do Cidadão.224 apoio a programas para a redução da mortalidade infantil.230
Em 2005, a Vale também se relacionaria com comunidades qui-
lombolas225 em Moju, no Pará. Naquela região, a Companhia investiu Mais educação
o qual agrupava líderes de diversas comunidades, dando-lhes um No entanto, o carro-chefe da Fundação Vale foram as iniciativas
em diversas obras,226 como a construção de posto de saúde, implan- Em 2003, um departamento de educação e desenvolvimento de pes-
canal de comunicação direto com a Vale. Esse diálogo possibilitava educacionais. Um dos programas mais importantes, o Escola que
tação do Projeto Casa Familiar Rural, construção de pontes e estra- soas – a Valer – foi criado com o objetivo de qualificar mão de obra e
à Companhia um conhecimento da realidade de cada comunida- Vale, iniciado em 1999, envolvia 101.328 pessoas, entre professores,
das, e apoio à implementação de projetos de voluntariado.227 promover o desenvolvimento local com acesso à educação, empre-
316 de e suas necessidades específicas, além de divulgar as atividades, supervisores, diretores, alunos e equipes técnicas em 2008 e teve 317
go e renda. Por meio de parcerias com instituições de ensino de todo
os projetos sociais desenvolvidos e, principalmente, as ações e me- sua eficácia comprovada pelo Instituto de Desenvolvimento Educa-
Outras terras, novos povos o mundo, a Vale passava a atuar nos segmentos de educação básica,
didas de controle ambiental implementadas pela mineradora.214 cional, Cultural e de Ação Comunitária (Ideca).219 Em 2005, aproxi-
Em Moçambique, a Vale se adaptou às tradições das áreas em que formação técnica, desenvolvimento gerencial, cidadania corporati-
Outro projeto, parte do Vale Comunidade, era o Rede Cultura, que madamente 12 mil alunos foram beneficiados pelo Programa Vale
a empresa opera. A preocupação com a integração das comunida- va, cultura e arte.231
também desenvolvia interfaces nas áreas de educação, ação social, Informática, que desde 1999 já contemplou 50.100 estudantes.220
des no entorno de projetos da Vale não se restringiu ao Brasil. Em A Valer expressaria a visão da empresa de ter a educação como
saúde e meio ambiente, cujos objetivos eram estabelecer diálogos A ação social foi implementada pelas áreas operacionais da Com-
Moçambique, a Vale também teve de se adaptar às tradições locais. mecanismo fundamental para promover a competitividade e a ex-
regionais, facilitar a circulação de bens artísticos e culturais, trans- panhia e pela Fundação Vale por meio de programas conduzidos em
Os moçambicanos consideram que a terra tem ligação com os an- celência de desempenho como estratégia de atração, desenvolvi-
mitir informação e conhecimento, e fortalecer novas parcerias lo- parceria com organizações não governamentais (ONGs), por serem
cestrais, por isso foi preciso realizar um ritual com líderes locais mento e retenção de profissionais qualificados. Além de 34 unida-
cais, regionais e nacionais. Tudo para fomentar o desenvolvimento instâncias do poder público e sociedade civil. Em 2005, foi adotada a
antes de se iniciar a exploração mineral em Moatize.228 Outra amos- des no Brasil, de 2006 a 2011, a Valer expandiu sua atuação para
da cultura local e a geração de renda.215 metodologia Front-End Loading (FEL), que prevê avaliação detalha-
tra da ligação com a natureza seria observada na relação da popu- Canadá, China, Omã e Suíça. Foram capacitados cerca de 70 mil
da de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Relacionamento com as
lação com o embondeiro ou baobá, árvore gigantesca considerada empregados.232 Junto a instituições de ensino, a Vale elaborou cur-
Rede de bons resultados Comunidades, em todas as etapas do desenvolvimento de projetos,
sagrada na região. Muitas pessoas enterravam seus entes queridos sos para capacitação de profissionais. Um exemplo foi a parceria
No Espírito Santo, a mobilização da sociedade civil organizada e dos visando à sustentabilidade dos territórios. Elementos não exclusiva-
embaixo dela e vários empregados africanos da Vale pediram para com a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Mi-
setores público e privado gerou resultados surpreendentes. O muni- mente econômicos influenciam de forma decisiva a formulação de
receber seus salários ao pé da árvore.229 nas) para a formação de engenheiros ferroviários. Em 2005, a pri-
cípio de Cariacica, com o fortalecimento do setor de moda, passou projetos. Desde o início dos empreendimentos, é exigido que cada
O projeto Bayóvar, no Peru, seria mais um exemplo de como a meira turma formou 39 profissionais; no ano seguinte, outros 26
a contar com um polo de confecções com cerca de 150 empresários, decisão considere valores ou padrões de atendimento atribuídos à
Vale busca a integração com as comunidades locais. Em 2006, foram engenheiros concluíram o curso.233
responsáveis por 800 empregos formais e 2 mil informais. Isso foi análise dessas variáveis, conjugando os requisitos socioambientais
feito por meio do programa Rede que Vale, uma parceria da Funda- com outras demandas do futuro negócio, como localização, grau de
Cultura: “O Nosso Brasil que Vale”
ção Vale com a Rede Cidadã, que busca capacitar e encaminhar jo- definição do projeto de engenharia e planejamento de implantação. 222 - Para isso os municípios poderão contar com uma capacidade de investimento O ano de 2003 também seria de batuque e samba no pé: a escola
vens ao mercado de trabalho.216 Cariacica, na Região Metropolitana Os diagnósticos socioambientais conduzidos pela Fundação próprio que deverá gerar uma poupança corrente de US$ 504 milhões entre 2006 e 2010.
de samba Acadêmicos do Grande Rio, do Rio de Janeiro, homena-
da Grande Vitória, tem elevado número de famílias em situação de Vale permitem observar antecipadamente os impactos das ope- Ver Relatório de Sustentabilidade 2007.
geou a história da mineração e os 60 anos da CVRD em seu enredo,
pobreza (renda familiar per capita de até meio salário mínimo).217 Na rações futuras da Vale sobre as comunidades. O Diagnóstico Inte- 223 - Fomento a novos empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento
socioeconômico do Pará. assinado pelo célebre carnavalesco Joãosinho Trinta. A presença
Região Serrana daquele estado seria implantado o Plano de Desen- grado da Socioeconomia do Sudeste do Pará, por exemplo, apre-
224 - Concessão de crédito para micro e pequenos empresários no valor total de até 10 da Vale na Marquês de Sapucaí contribuiu para o terceiro lugar na
volvimento Sustentável para os próximos 20 anos, um roteiro para sentou projeções econômicas, demográficas e relativas à demanda mil reais (Pará). Ver Relatório Anual 2005. disputa pelo campeonato do Grupo Especial daquele ano, com di-
o fortalecimento da região por meio do agronegócio e do ecoturis- de serviços e de infraestrutura pública, identificando que a região 225 - São 13: São Bernardinho, Santa Luzia do Tracuateua, Nossa Senhora das Graças, reito à reapresentação no Desfile das Campeãs, no sábado seguinte
mo, como parte do programa Rede que Vale.218 precisará de investimentos significativos para sanar deficiências Santa Maria do Tracuateua, São Manoel, Santa Maria de Oxalá de Jacundaí, Vila Nova,
Ribeira, Centro Ouro Bom Jesus, Santana do Baixo, Santo Cristo, Conceição do Mirindeua,
ao Carnaval.
e preparar o território221 para o crescimento econômico projetado
Santa Maria do Mirindeua. No total, essas comunidades somam 650 famílias, das quais
214 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “Projetos
Projetos sociais na região das Minas Centrais”,
”, 5/10/2006. cerca de 215 têm relação direta com o empreendimento.
Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=16587>. 226 - Em virtude de reivindicações feitas pelas comunidades de Moju, em dezembro
215 - Idem. de 2006, a Vale se comprometeu, em acordo firmado em fevereiro de 2007, a corrigir 230 - Ver Relatório de Sustentabilidade 2006.
216 - Ver site da Fundação Vale: <http://www.fundacaovale.org/pt-br/desenvolvimento-
< 219 - Ver portal do programa Escola que Vale. Disponível
isponível em: <
<http://www.escolaquevale. eventuais impactos gerados pela instalação do mineroduto e acelerar medidas de 231 - Ver Relatório Anual 2003.
humano-e-economico/rede-que-vale/conheca-o-rede-que-vale/Paginas/default.aspx>. org.br/>. mitigação, realizando um estudo para mapear potencialidades produtivas e apoiar
projetos voltados à sustentabilidade da comunidade. 232 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “Vale conquista prêmio da ABRH-RJ”, 25/11/2011.
/11/2011.
11/2011.
217 - Ver site da Fundação Vale, Diagnóstico Socioeconômico da Grande Vitória.. 220 - Ver Relatório Social 2005. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=21267>.
Disponível em: <http://www.fundacaovale.org/pt-br/a-fundacao-vale/como-atuamos/ 227 - Ver Relatório Anual 2005 e Relatório de Sustentabilidade 2006.
221 - O plano engloba seis municípios (Parauapebas, Canaã dos Carajás, Curionópolis, 233 - Ver Sala de Imprensa da Vale, “Vale: parceria para formar mão de obra”, Diário do
paginas/default.aspx>. Marabá, Ourilândia do Norte e Tucumã), além de influenciar Eldorado dos Carajás. Ver 228 - Ver Relatório de Sustentabilidade 2006. Comércio, Minas Gerais, 19/1/2006. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/
218 - Idem. Relatório de Sustentabilidade 2007. 229 - “Empresas do Brasil avançam na África com ação social”, Jornal do Brasil, 4/9/2006. versao_impressao/prt_detail.asp?tipo=1&id=15691>.
9.12 Meio ambiente Ambiental.238 Entre 2002 e 2004, a Vale realizaria um completo um investimento de R$ 2 milhões até o fim de 2008.242 Esse progra-
inventário de emissões de particulados no Complexo de Tubarão, ma foi realizado pelo IAVRD em parceria com 56 agricultores da
O Relatório Anual 2003 afirmava: aquele ano entraria para a incluindo um prognóstico de acordo com o avanço de sua produ- região. Já no Complexo de Tubarão foi instalada, sob a supervisão
história da Vale por seus grandes resultados em todas as áreas, ção. Foram instalados supressores de pó em locais estratégicos de do Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA), a oitava estação da
inclusive meio ambiente e ações sociais. “A Vale vem se desta- manuseio de pelotas, resultado do desenvolvimento de novas tec- Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar da Grande
cando como uma das empresas que mais investem na proteção nologias pela própria Vale.239 Vitória (Ramqar).243
320 do meio ambiente nas regiões onde desenvolve suas atividades. A As unidades do Departamento de Manganês realizaram, em Um novo maquinário no combate à poluição surgiu em agosto 321
área social também é prioridade para nós”, dizia a mensagem do 2004, melhorias referentes às emissões de poluentes na atmosfera de 2005, quando a Vale lançou o supressor de pó para pelotas. Esse
Conselho de Administração. A partir dos anos 2000, as políticas e à gestão de resíduos e dos recursos hídricos nas usinas de fer- aglomerante orgânico reduz a emissão de material particulado pe-
internas de controle sobre o impacto das atividades da empresa roligas de Ouro Preto, Barbacena, São João del-Rei e Santa Rita de las usinas de pelotização, minimiza o consumo de água nas pilhas
ganharam mais força. Os investimentos para a preservação do Jacutinga (MG); Simões Filho, (BA); e Corumbá, incluindo a Mina de de minério de ferro e melhora o processo de industrialização das
meio ambiente atingiram, em 2002, um total de US$ 238,1 mi- Urucum e o Terminal Fluvial (MS). Enquanto isso, os trabalhos de pelotas. A vantagem se estende aos clientes finais, em cujos portos,
lhões. Naquele ano, as seguintes unidades da Vale receberam a recuperação ambiental da unidade Morro da Mina, em Conselheiro pátios e usinas o manuseio do produto ocorrerá livre de emissões.
certificação ISO 14001: 234 Cais de Rebocadores da Docenave (ES); Lafaiete, uma das mais antigas minas em operação do Brasil, se- O investimento no desenvolvimento do supressor de pó, em testes e
Complexo Minerador de Ferro e Ouro de Itabira e Conceição (MG); riam reconhecidos pelo órgão ambiental local como referência em instalações, totalizou R$ 4 milhões.244
Mina de Ferro de Gongo Soco (MG); Mina de Manganês da Socie- Minas Gerais.240 No ano de 2006, foram investidos R$ 286 milhões em ações so-
dade Mineira de Mineração (MG); Minas de Ferro da Ferteco Mi- No ano seguinte, em 2005, foram aplicados R$ 147 milhões em ciais e outros R$ 317 milhões em ações ambientais. Estas últimas
neração (MG); Terminal Marítimo da Companhia Portuária Baía ações ambientais, sendo R$ 108 milhões em projetos nas áreas resultaram na conservação de 1,4 milhão de hectares de vegetação
de Sepetiba (RJ). Foram 12 certificações até o fim de 2002. 235 No- operacionais da Vale e outros R$ 39 milhões em programas e proje- no Pará, no Espírito Santo e em Minas Gerais, entre outras inicia-
vos precipitadores eletrostáticos para retenção de materiais par- tos externos. Ainda naquele ano, o Instituto Ambiental Vale do Rio tivas. A meta de reduzir em 40% o consumo específico de água de
ticulados foram instalados nas usinas de pelotização de Tubarão Doce (IAVRD) fez o inventário de 1.409 hectares de vegetação em suprimento primário das usinas de pelotização em relação a 2003
(ES). A eficiência no abatimento de partículas é superior a 95%. Carajás (PA). Seriam avaliadas 441 espécies de aves, 102 de anfí- foi superada, com diminuição de 45%. Nesse período, a redução do
Em 2002, a Vale investiu cerca de R$ 23 milhões em projetos de bios e répteis, e 145 de mamíferos. No local ainda seria realizado o consumo de água nova pelas usinas atingiu 2 milhões de metros
reabilitação de áreas já mineradas. 236 monitoramento do ar, por meio de três subestações automatizadas cúbicos, com economia de aproximadamente R$ 1,5 milhão.245
Um plano de gestão de resíduos foi colocado em prática em que entraram em operação em maio de 2005. Os equipamentos Também foi constatada uma queda, em relação a 2005, de 50%
2003, voltado para segregação, estocagem temporária e destina- medem, de hora em hora, os índices de poeira irrespirável e poeira na taxa de mortalidade dos animais remanejados durante a supres-
ção final adequadas.237 Além disso, a CVRD implantou, em 2004, a total em suspensão nas minas de ferro e de manganês, bem como são de vegetação nas minas de cobre, ferro e manganês em Carajás
maior área verde de Vitória, capital capixaba. Tratava-se do Parque no núcleo urbano.241 (PA). Da mesma forma, foi implantado um novo precipitador ele-
Botânico Vale do Rio Doce, no Complexo de Tubarão (ES), com 33 Ainda em 2005, o programa de reabilitação de matas ciliares trostático na entrada e na saída do forno e peneiramento da usina 7
hectares e mais de 6 milhões de árvores plantadas pela Compa- implantado no norte do Espírito Santo, com abrangência de 180 do Complexo de Pelotização de Tubarão, em Vitória (ES). Além disso,
nhia. Só naquele ano, atenderia aproximadamente 3.900 empre- hectares, foi responsável pelo plantio de 1,5 milhão de mudas de foi aplicado o supressor de pó no transporte e manuseio de pelotas,
gados, 8 mil funcionários de empresas contratadas e 6.300 estu- diversas espécies da Mata Atlântica, cultivadas na Reserva Natural praticamente eliminando as emissões.246
dantes e educadores da comunidade com programas de Educação da Vale do Rio Doce, hoje Reserva Natural Vale, em Linhares, em
242 - Ver Sala de Imprensa da Vale, “Vale investe mais de R$ 250 milhões em meio
ambiente no Espírito Santo”, 3/8/2006. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/
pt/release/interna.asp?id=16411>.
234 - Conjunto de normas sobre gestão ambiental, com o intuito de reduzir o impacto 238 - Ver Relatório Anual 2004. 243 - Ver Sala de Imprensa da Vale, “Onze empresas vão monitorar ar”, 14/9/2005.
de atividades de negócios no meio ambiente. Ver site da International Organization for 239 - Idem. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/noticias/interna.asp?id=14994>.
Standardization (ISO), em: <www.iso.org/iso/iso_14000_essentials>.
240 - Idem. 244 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “Vale adota nova tecnologia para controlar poeira em
235 - Ver Relatório Anual 2002. Tubarão”, 1/8/2005. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.
241 - Ver Sala de Imprensa da Vale,, “Vale garante qualidade da água e do ar em seus
236 - Idem. asp?id=14956>.
empreendimentos”, 22/8/2005. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/
237 - Ver Relatório Anual 2003. release/interna.asp?id=14940>. 245 - Ver Relatório de Sustentabilidade 2006.
246 - Idem.
2.500
Set/2002: 2.446
2.000
Jan/1999: 1.779
Mar/1995: 1.689
1.500
1.000
Out/2008: 677
500
Out/1997: 337
Mar/2011: 184
Maio/2007: 137
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Fonte: HC Investimentos e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). * Emerging Markets Bond Index.
324 A moeda também seria fortemente afetada. No início de setembro sua fundação – R$ 2,04 bilhões.255 A Vale consolidou, nesse ano, sua ano, foi registrado um recorde na produção de minério de manganês, 325
de 2002, um dólar valia cerca de R$ 3; no fim do mesmo mês, a cotação posição de líder mundial no mercado transoceânico de minério de com 2,33 milhões de toneladas – um aumento de 29,5% em relação a
da moeda americana chegaria perto de R$ 4.250 Em meio a tanta volati- ferro, com vendas recordes de 163,91 milhões de toneladas, um 2001. As vendas desse produto somariam 665 mil toneladas. O volu-
lidade, as bolsas se seguravam como podiam: entre janeiro e outubro crescimento de 11,5% em relação ao ano anterior. Assim, 29,4% do me de ferroligas vendido chegaria a 539 mil toneladas. A receita bru-
daquele ano, a queda acumulada pelo Ibovespa, índice de referência mercado global de ferro pertenciam à Vale.256 As vendas de minério ta consolidada de manganês e ferroligas alcançou R$ 845 milhões,
da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), ultrapassaria 40%.251 de ferro atingiram 135,187 milhões de toneladas, uma alta de 12% representando um aumento de 34,6% em relação ao ano anterior.261
O mercado só retomou o fôlego ao se dar conta de que o novo go- em relação a 2001. Já as de pelotas alcançaram 28,729 milhões de
verno não interromperia a política econômica consolidada ao longo toneladas, um acréscimo anual de 9,4%. Do volume vendido em Alumínio e fertilizantes
dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. A manutenção dos 2002, 84,1% foram destinados ao mercado externo – 15% a mais do Os negócios no setor de alumínio contribuiriam com 11,6% do total
pilares da estabilidade – como o câmbio flutuante adotado em 1999, que no ano anterior.257 da receita bruta consolidada, que atingiu R$ 1,76 bilhão em 2002,
o sistema de metas de inflação e a geração de superávit primário – Garantindo a conquista desses resultados, foram gastos US$ 81,6 com aumento de 58,1% em relação à soma de R$ 1,11 bilhão al-
gradativamente reverteria o pessimismo.252 Daí em diante, a Bovespa milhões na construção e na infraestrutura da Usina de Pelotização cançada em 2001.262 No mesmo ano, foi concluída a expansão da
entrou em uma trajetória de alta e o Ibovespa passou de um patamar de São Luís (MA), que iniciou suas operações comerciais no segundo capacidade da Alunorte para 2,4 milhões de toneladas anuais. O
de 14 mil pontos, em 2002, para mais de 44 mil pontos, em 2006.253 semestre de 2002. A Vale ainda investiu US$ 35,1 milhões na expan- início da operação da terceira linha de produção ocorreu em janeiro
Em contraposição ao baixo crescimento mundial, com crise econô- são da capacidade de escoamento da produção de minério de ferro de 2003. Os investimentos nessa expansão totalizaram US$ 277,6
mica nos Estados Unidos e moratória na Argentina, as idas e vindas na no Sistema Norte.258 Essa soma contemplava a construção do Píer III, milhões, com custo por tonelada inferior a US$ 350, valor bastante
economia global confirmariam a estabilidade da Vale. Ao fim do turbu- no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (MA), e a criação e am- competitivo pelos padrões da indústria de alumínio.263
lento ano de 2002, o valor de mercado da Companhia atingiria a marca pliação de pátios de estocagem de minério de ferro, nos quais seriam Em 2002, os níveis de vendas e de produção foram os mais eleva-
de US$ 11 bilhões, 20,3% superior à de dezembro de 2001 (US$ 9,2 bi- investidos US$ 18,4 milhões e US$ 14,8 milhões, respectivamente.259 dos desde o início das atividades da mina de Taquari-Vassouras, no
lhões), apesar da queda observada nos mercados acionários e até no Em 2002, a Vale possuía e operava quatro minas de manganês: Estado de Sergipe. As vendas de potássio dessa mina, todas para o
valor das ações de outras empresas do mesmo segmento.254 Azul, Urucum, MMN e Morro da Mina. Além delas, eram sete as plan- mercado interno, somaram 731 mil toneladas, um aumento de 45,3%
tas produtoras de ferroligas: Corumbá, Santa Rita, Barbacena, Ran- em relação a 2001. A receita bruta gerada foi de R$ 272 milhões.264
O terceiro maior lucro líquido desde sua fundação charia, São João del-Rei, Sibra e Rio Doce Manganèse Europe (RDME).
Coroando seu aniversário de 60 anos, a Companhia festejou 2002 Essas operações se dividiam em quatro estados brasileiros – Pará, A maior empresa privada da América Latina
com um desempenho valioso: o terceiro maior lucro líquido desde Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia – e na França.260 Naquele A Vale, em 2003, manteria a liderança no ranking dos maiores expor-
tadores brasileiros, com saldo de exportações líquidas de US$ 3,42
bilhões. Isso significava que 13,8% do superávit comercial do país
255 - Roger Agnelli, “Mensagem da Presidência”. Relatório Anual 2002.
(diferença entre exportações e importações) eram garantidos pela
250 - “Invasão de dólares na economia”, ISTOÉ Dinheiro, 10/9/2010. Disponível em: <http:// 256 - Esse montante compreende o volume vendido pela Controladora e por Nibrasco,
www.istoedinheiro.com.br/noticias/34020_INVASAO+DE+DOLARES+NA+ECONOMIA>. Kobrasco, Itabrasco, Hispanobras, Urucum, Ferteco, Samarco, GIIC, MBR e QCM. O volume atuação da CVRD.265
251 - Ver BM&FBovespa – Ibovespa – série histórica. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.
< computado é o líquido das transações entre empresas – como as vendas de pellet feed da
com.br/indices/ResumoEvolucaoDiaria.aspx?Indice=IBOVESPA&idioma=pt-br>. Controladora para as pelotizadoras – e foi apurado proporcionalmente às participações
acionárias da Vale. Ver mais no Relatório Anual 2002. 261 - Idem.
252 - Ver Revista Bovespa. “Mercado tem fôlego para crescer mais”, janeiro de 2006.
Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/InstSites/RevistaBovespa/101/ 257 - Ver Relatório Anual 2002. 262 - Idem.
Mercado.shtml#a>. 258 - Idem. 263 - Idem.
253 - Ver site da BM&FBovespa, Resumo de Recordes Anuais. 259 - Idem. 264 - Idem.
254 - Ver Relatório Anual 2002. 260 - Idem. 265 - Ver Relatório Anual 2003.
328 Em 2004, a Vale possuía escritórios de exploração mineral na Também seriam superadas as metas nas áreas de minério de foram produzidos 2,73 milhões de toneladas de minério de manga- Mais de US$ 184 milhões foram investidos pela Vale em pesquisa 329
Argentina, no Chile, no Peru, na Venezuela, no Gabão, em Angola, ferro, manganês, potássio, caulim, bauxita, alumina e alumínio nês, aumento nas vendas de 12,9% sobre o ano anterior. e desenvolvimento mineral em 2004, o maior valor entre as empre-
na África do Sul, em Moçambique e na Mongólia. Em todo o ano, a primário. Além disso, os excelentes resultados alcançados até en- A receita bruta consolidada com a venda de minério de manganês e sas brasileiras, alta de 86% frente ao ano anterior. A fim de identificar
Companhia Vale do Rio Doce assinou algo em torno de 65 contratos tão no transporte de cargas (entre 2001 e 2004, foi registrado um ferroligas chegou a R$ 2,08 bilhões, superando em impressionantes e avaliar novos depósitos minerais, a Vale desenvolveu estudos geo-
com importantes clientes das Américas, da Europa e da Ásia para a crescimento anual médio de 11% na movimentação de cargas de 89,8% a venda de 2003.293 A expansão do consumo da China e a recu- lógicos na América do Sul (Brasil, Chile, Peru e Argentina), na África
venda de minério de ferro e pelotas, com um volume de cerca de 1,1 terceiros)288 confirmavam a Vale como a maior operadora de logís- peração da siderurgia no âmbito mundial, somadas ao fechamento (Gabão, Angola e Moçambique) e na Ásia (Mongólia).295
bilhão de toneladas e prazo médio ponderado de 10 anos.283 tica do Brasil.289 de plantas de ferroligas na Europa e com interrupções temporárias Em 2005, todos os complexos de mineração da Vale novamente
A produção mundial de minério de ferro, em 2004, também seria O volume de vendas de caulim pela Pará Pigmentos S. A. em 2004 de usinas na China e nos Estados Unidos, elevaram os preços de ultrapassaram os próprios recordes. O gráfico a seguir mostra essa
recorde: 1,2 bilhão de toneladas, 5,5% a mais que no ano anterior. foi de 460 mil toneladas, e sua produção atingiu 463 mil toneladas, ferroligas de manganês para níveis duas ou três vezes superiores às evolução:296
As importações realizadas pela China continuavam superando to- um aumento de 9,5%, acima das 423 mil toneladas comercializadas médias históricas.294
das as estimativas de mercado e prometiam crescer ainda mais. e 8,8% do minério produzido em 2003, respectivamente. A Cadam,
Desde 2003, o país era o maior importador mundial de minério de por sua vez, vendeu 744 mil toneladas em 2004 e produziu 750 mil,
ferro, seguido pelo Japão.284 A Vale aproveitaria o bom momento. 5,5% a mais que o volume do ano anterior.290
VENDAS 2003-2005
MIL TONELADAS
As vendas de minério de ferro e pelotas, em 2004, somaram 231,5 Em 2004, foram concluídas aproximadamente 90% das obras de
milhões de toneladas, outro recorde histórico, superando em 23,9% expansão da capacidade produtiva da mina de potássio de Taquari-
a marca de 2003. Isso permitiu à Vale manter-se na liderança do -Vassouras (SE). Os investimentos na ampliação potencial de 600
2003 2004 2005
mercado transoceânico global, com 32,1% do volume de minério de mil para 850 mil toneladas de cloreto de potássio por ano chega-
ferro e pelotas comercializado naquele ano em todo o planeta.285 ram a US$ 78 milhões. A receita bruta registrada com a venda de
Foram recordes operacionais, em 2004, a produção de minério de potássio alcançou R$ 362 milhões, contra R$ 289 milhões em 2003.
252.189
229.881
ferro, com 98,8 milhões de toneladas no Sistema Sul e 69,4 milhões Apesar de uma queda nos volumes produzidos e comercializados
5.600
1.738
1.218
5.429
1.805
1.678
1.207
498
398
488
186.812
de toneladas no Sistema Norte – enquanto no ano anterior os núme- em comparação com o ano anterior, o preço médio praticado foi
477
4.326
ros alcançados haviam sido, respectivamente, de 92,8 e 58,9 milhões bem superior.291
269
731
de toneladas –, além da produção de 35,3 milhões de toneladas de A oferta global de alumínio primário seria de quase 30 milhões
pelotas – contra 31,2 milhões registrados em 2003. 286 No dia 24 de toneladas em 2004, mais uma vez com destaque para a China,
de dezembro de 2004, o Complexo de Tubarão, em Vitória (ES), atin- principal produtor mundial. A oferta cresceria 17% em relação ao
giu uma inédita marca de produção: 500 milhões de toneladas de ano anterior, com Albras e Valesul representando 36% do volume de
pelotas desde o início das operações da primeira usina de pelotiza- produção do Brasil.292
ção, em 1969.287 O mercado de minério e ferroligas de manganês, fortemente liga-
do à produção de aço, também teria, em 2004, um ano excepcional: Bauxita Alumina Alumínio Caulim Cobre* Minério de ferro
e pelotas
283 - Idem. 288 - Idem. * Produção iniciada em 2004. Fonte: Relatório Anual 2005.
284 - Ver Relatório Anual 2004. 289 - Idem.
285 - Idem. 290 - Relatório Anual 2004.
286 - Idem. 291 - Idem. 293 - Ver Relatório Anual 2004. 295 - Idem.
287 - Idem. 292 - Idem. 294 - Idem. 296 - Ver Relatório Anual 2005, p. 31.
VENDAS 2003-2006
MIL TONELADAS
2003 2004
2005 2006*
272.682
252.189
229.881
1.207
1.218
1.323
3.207
5.429
5.600
169
488
477
498
510
186.812
4.326
4.085
119
1.805
1.738
1.678
731
81
330 331
Alumina Alumínio Bauxita Caulim Cobre* Minério de ferro
e pelotas
* 2006 considera dois meses de CVRD Inco. Fonte: Relatório de Sustentabilidade 2006.
Haveria números inéditos também nos negócios relacionados ao As vendas de minerais ferrosos representaram, em 2006, 59,1%
cloreto de potássio, importante matéria-prima da indústria de fer- da receita bruta da Vale. Os minerais não ferrosos foram respon-
tilizantes: foram produzidas 641 mil toneladas e vendidas 640 mil. sáveis por 18,2%; os produtos da cadeia do alumínio (bauxita, alu-
No setor de alumínio, foram produzidos 6,9 milhões de tonela- mina e alumínio), por 11,8%; os serviços de logística, por 7,3%; e os
das de bauxita, 2,6 milhões de toneladas de alumina e 496 mil tone- produtos siderúrgicos, por 3,2%.302
ladas de alumínio primário. Em 2005, toda a produção de bauxita da A Companhia comemorou em 2006 suas maiores produções de
Vale corresponderia ao take de 40%, proporcional à sua participação alumina, cobre, potássio e caulim, registrando crescimento de pro-
acionária, na produção da Mineração Rio do Norte, que alcançou dução em relação ao ano anterior de 53,2%, 12,8%, 14,2% e 11,1%,
17,2 milhões de toneladas.297 respectivamente. Esses resultados eram diretamente ligados aos
Em 2006, a Companhia encerrou o ano com lucro líquido de R$ principais recordes nos embarques desse ano: minério de ferro e
13,4 bilhões, 29% superior ao de 2005. As exportações atingiram a pelotas, com 272,68 milhões de toneladas; alumina, com 3,2 mi-
marca de US$ 9,7 bilhões, um aumento de 37,5% em relação ao lhões de toneladas; alumínio primário, com 510 mil toneladas; co-
ano anterior. A Vale se tornou a segunda maior empresa global da bre, com 169 mil toneladas; potássio, com 733 mil toneladas; e cau-
indústria de mineração e metais em termos de valor de mercado.298 lim, com 1,32 milhão de toneladas.303 O gráfico acima organiza esses
Entre dezembro de 2001 e fevereiro de 2007, o valor da Compa- resultados e revela o crescimento da CVRD.304
nhia se multiplicou oito vezes.299 Para os acionistas, isso represen- Ainda em 2006 seriam finalizadas importantes expansões. A ca-
tou um retorno de 42,7% ao ano, naquele período. Em 2006, as ati- pacidade de Carajás cresceu para 85 milhões de toneladas anuais
vidades operacionais geraram receita bruta de R$ 46,7 bilhões, um no terceiro trimestre daquele ano.305 A refinaria de alumina da Alu-
aumento de 32% em relação a 2005.300 Com exportações líquidas norte também foi alvo de expansão, com sua capacidade atingindo
totais de US$ 8,8 bilhões, a Vale respondeu por quase um quinto do 4,4 milhões de toneladas por ano.306
saldo da balança comercial brasileira, e sua participação no superá-
vit aumentou de 14,1%, em 2005, para 19% no ano seguinte.301
CAPÍTULO 10
Vale: a Construção de uma Marca
10.1 Uma marca internacional mantendo empreendimentos em 21 países do mundo. As buscas 335
concentravam-se em novos depósitos de cobre, minério de manga-
Durante 65 anos, a marca CVRD esteve espalhada pelos quatro nês, minério de ferro, níquel, bauxita, fosfato, potássio, carvão,
cantos do mundo: nos vagões dos trens, em navios, nas estações urânio, diamante e metais do grupo da platina.4 A soma de todos os
ferroviárias, nos calendários, nas agendas e canetas, nas portas dos resultados obtidos no ano fazia da empresa a segunda maior mine-
escritórios e nos contratos de comércio. Mas qualquer um – o enge- radora do mundo.5
nheiro, o geólogo, o presidente da empresa, o garoto do cafezinho, a
secretária, o operário da mina, o maquinista do trem, os acionistas,
os passageiros na estação –, ao juntar aquelas letras, lia uma coisa
só: Vale. Popularmente, CVRD sempre foi Vale. 10.2 Uma empresa global
No dia 29 de novembro de 2007, no Forte de Copacabana, Rio de
Janeiro, o então diretor-presidente Roger Agnelli reuniu cerca de 500 A Vale e o Brasil entravam em 2007 com boas perspectivas de
empregados para anunciar uma das maiores mudanças da história crescimento. Logo no início do ano, a Organização das Nações Unidas
da empresa.1 As razões para a modificação poderiam estar resumi- (ONU) divulgou seu relatório anual, no qual a United Nations Confe-
das em uma só palavra: globalização. Vale é uma palavra facilmen- rence on Trade and Development (UNCTAD)6 colocava o país como o
te lida no mundo inteiro, e, desde 2006, quando adquiriu a canaden- 12o maior investidor do mundo no fim de 2006. Naquele ano, um to-
se Inco, a empresa ganhava o mundo. tal de US$ 28 bilhões foi investido por empresas brasileiras.7 O Brasil
A partir daquele momento, a Vale mudava de nome e de logo- deixava para trás empresas de importantes potências, como Austrá-
marca. O desenho trazia a letra “V” estilizada e poderia representar lia, China e Rússia, que investiram, respectivamente, US$ 22 bilhões,
tanto uma cava de mina quanto um coração. A fácil leitura visual US$ 16 bilhões e US$ 18 bilhões.8 O bom desempenho no ranking da
reforçava a imagem da Vale como empresa global. Era o fim das di- ONU tinha uma protagonista: a Vale. Sozinha, a mineradora foi res-
ferentes marcas e imagens para suas diversas áreas.2 A Vale – mo- ponsável por mais de 50% dos valores apurados. Na esteira do suces-
derna e plural – era única. so estava a aquisição da canadense Inco, considerada a quinta maior
No momento da mudança da marca, a Vale era uma empresa negociação realizada no mundo em 2006. Era também a maior tran-
que fecharia o ano de 2007 com um lucro líquido de US$ 11,8 bi- sação realizada até então por uma empresa latino-americana.9
lhões – 62,9% a mais que no ano anterior, com recordes em todos os
segmentos.3 Àquela altura, a Vale estava presente em mais de 30 4 - Relatório de Sustentatibilidade 2007.
países e desenvolvia um extenso programa de pesquisa mineral, 5 - Book da Imprensa 2008: Produção da Assessoria de Imprensa da Vale.
6 - O relatório anual de investimentos da ONU é divulgado pela United Nations Conference
on Trade and Development (UNCTAD), o braço das Nações Unidas para o desenvolvi-
1 - “Simplesmente Vale”, ISTOÉ Dinheiro, 5/12/2007. Disponível em: <http://www.istoedi- mento econômico.
nheiro.com.br/noticias/7239_SIMPLESMENTE+VALE>. 7 - Ver Relatório Form 20-F 2006 e Relatório Form 20-F 2007.
2 - Idem. 8 - Ver “Brasil é o 12o maior investidor no mundo, aponta ONU”, O Estado de S. Paulo,
3 - Resultado US GAAP 4T07. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/investidores/resul- 16/10/2007. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,brasil-e-o-12-
tados-e-informacoes-financeiras/resultados-trimestrais/Documents/2007/4%C2%B0%20 -maior-investidor-no-mundo-aponta-onu,65706,0.htm>.
Trimestre/Press%20Releases/vale_usgaap_4t07p.pdf>. 9 - Idem.
O relatório da ONU diagnosticava os novos tempos vividos pelo O investimento feito com a compra da empresa canadense foi a
336 Brasil. A economia pouco dinâmica dos anos 1980 e 1990, com taxas porta de entrada da Vale no mercado internacional de níquel, colo- 337
de crescimento abaixo da média mundial, ficava para trás. Durante cando-a como a segunda maior produtora no mundo.14 Os números
a década de 2000, o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto de 2007 englobavam, pela primeira vez, o desempenho anual da
(PIB) brasileiro saltou de uma média anual de 1,7% para cerca de 4% Vale Inco – e disparavam: a receita proveniente das atividades com
em 2006.10 O aumento do PIB naquele ano era um indício do que iria o níquel alcançou US$ 11,78 bilhões no ano. Esse valor era quatro
acontecer em 2007: a taxa de crescimento seria de 6,1%.11 A partici- vezes maior que o registrado anteriormente – com os números da
pação da Vale no volume total negociado pelo país no mercado Vale Inco entrando apenas no último trimestre, a receita em 2006
transoceânico, em 2007, chegava a aproximadamente 32,5%.12 A foi de US$ 2,8 bilhões. Em 2007, 60,3% das vendas totais de níquel
empresa confirmava sua vocação de forte propulsora do desempe- foram entregues a clientes na Ásia, 26,5% na América do Norte,
nho econômico brasileiro, o que se tornaria ainda mais palpável 11,6% na Europa e 1,6% em outros destinos.15
com os resultados que alcançaria ano após ano. Ao longo de 2007, as ações da Vale foram as mais negociadas en-
Em 2007, as receitas operacionais brutas da Vale aumentaram tre todas as empresas estrangeiras no pregão da Bolsa de Nova
62,6% em relação ao ano anterior, subindo para um total de US$ York, batendo até as da BHP Billiton, líder mundial no setor de mi-
33,11 bilhões. Os investimentos segmentados, a busca da excelên- neração.16 O giro médio diário – que representa o total de dinheiro
cia nos métodos de trabalho e o bom momento pelo qual passava o movimentado diariamente – ficou em torno dos US$ 725,5 milhões.
país faziam prever um futuro ainda melhor para a empresa. O resultado vinha atrelado também ao bom desempenho na produ-
O antigo “país do futuro”, atribuição do escritor austríaco Stefan ção do minério de ferro no Brasil e aos acertos nas vendas para as
Zweig, passava, enfim, a integrar a lista de países emergentes que siderúrgicas asiáticas, que, em fevereiro de 2008, tiveram um rea-
lideravam o crescimento mundial. Conforme declarava o relatório juste médio nos preços de 68%.17
das Nações Unidas, “o investimento externo por empresas brasilei- Como consequência de seu programa de expansão, em abril de
ras é de certa forma parte de um processo de expansão e consolida- 2008 a Vale anunciava parceria com a Universidade de Columbia
ção que também ocorre em casa. Empresas brasileiras estão procu- para a criação de um centro de pesquisa e treinamento técnico.18 Um
rando consolidar suas indústrias, como mineração e aço, comprando programa de formação de jovens geólogos e engenheiros abria vagas
competidores estrangeiros para não perder mercado ou se torna- para aperfeiçoamento e trabalho em lugares como o Cazaquistão.19
rem alvo de compra elas mesmas”.13 A presença da Vale no exterior não estava restrita aos investimen-
tos comerciais. Em maio de 2008, um terremoto de magnitude 7,9 na
14 - Ver: <http://nickel.vale.com>.
10 - Ver BRASIL. Ministério da Fazenda. “Economia brasileira em perspectiva”. Edição espe-
cial, ano 2010. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/portugues/docs/perspectiva- 15 - Ver Relatório Form 20-F 2007.
-economia-brasileira/edicoes/Economia-Brasileira-Em-Perpectiva-Especial-10.pdf>. 16 - “Vale é a ação estrangeira mais negociada na Bolsa de Nova York”, Folha de S. Paulo,
11 - Idem. Mercado Aberto, 30/1/2008.
12 - Ver Relatório Form 20-F 2007. 17 - “O gol de placa da Vale”, Carta Capital, 20/2/2008.
13 - O documento foi traduzido pela BBC Brasil em “Brasil bate recorde de investimentos 18 - “Vale faz parceria com Columbia para criar centro de pesquisa”, Valor Econômico,
Campanha publicitária no exterior, diz UNCTAD”, 16/10/2007. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/ 30/4/2008.
“O Brasil Batizou: Vale!” (2007). reporterbbc/story/2007/10/071016_unctadwir07_pu.shtml>. 19 - “Vale lançará três programas para contratação de recém-formados”, O Globo, 4/5/2008.
338 escala Richter atingiu a região sudoeste da China, matando cerca de para aumentar a produtividade e reforçar a competitividade dessas 339
90 mil pessoas.20 Centenas de casas, escolas e hospitais desabaram operações a longo prazo e sua capacidade de continuar a gerar va-
em menos de um minuto. No mesmo mês, a Vale doou US$ 1,4 milhão lor. Os acordos coletivos incluem um plano de aposentadoria por
à Cruz Vermelha Internacional, destinados às vítimas da tragédia. contribuição definida para os novos empregados e ajustes em pro-
Além da doação direta, a Vale se comprometeu a construir três esco- gramas variáveis de compensação que permitem atingir os objetivos
las na província de Sichuan, com uma contribuição de US$ 400 mil. estratégicos e recompensar o desempenho, entre várias outras me-
Essas escolas são as Vale Hope Schools – Escolas da Esperança. lhorias implementadas.
No dia 4 de junho de 2010, o diretor-executivo de Ferrosos, José
Carlos Martins, e o country manager da Vale na China, Michael Zhu, à Rumo à África: Moatize, Moçambique
frente de um grupo de empregados da Vale, foram à cerimônia de Moçambique foi a primeira região fora do Brasil a receber um braço
inauguração da escola em Yongxing Town, a última das escolas entre- da Fundação Vale, cujo objetivo é contribuir para o desenvolvimen-
gues em Sichuan. A escola, de 6.500 m², tem dez salas de aula em três to integrado dos territórios onde a Vale atua. Os investimentos da
andares e acomoda 200 estudantes do ensino primário.21 Fundação no país africano priorizaram projetos nas áreas de saúde,
agricultura, infraestrutura, esportes e educação, além do reassen-
Greve no Canadá tamento de, inicialmente, 1.108 famílias em Moatize, na Província
Em 2008, a Vale já era uma empresa com mais de 62 mil empregados de Tete, região central de Moçambique, rica em carvão.22 O processo
espalhados pelo mundo inteiro. A Diretoria de Recursos Humanos, foi finalizado em 2010 com a realocação de 1.365 famílias.
com a assessoria do Departamento Jurídico, enfrentaria o desafio de Na busca de melhores resultados para a comunidade africana, o
administrar e conciliar os diversos tipos de relações trabalhistas investimento no reassentamento envolveu a implantação de esco-
existentes em diferentes países. As relações entre empregados e las, postos de saúde e postos policiais, proporcionando a criação de
empresas mudam de um país para o outro e as multinacionais es- um bairro funcional naquela comunidade. Entre os projetos, esta-
tão submetidas às regras dos países onde atuam. vam ainda as reformas do Hospital Provincial de Tete, do Centro de
Um número significativo dos empregados das operações de níquel Saúde de Moatize e do Instituto Médio de Geologia e Minas de Moa-
em Sudbury e Port Colborne, Ontário, no Canadá, manteve-se em gre- tize, além do desenvolvimento da agricultura local.23 A empresa
ve de julho de 2009 a julho de 2010. Alguns empregados das operações agia em diversas frentes para se integrar à vida social, cultural e
de mineração em Voisey’s Bay, Newfoundland and Labrador, também econômica da região onde se instalara. Em Moatize, por exemplo, a
se mantiveram em greve, de agosto de 2009 a janeiro de 2011. Vale ofereceu um curso de capacitação de professores e diretores
Foram firmados acordos coletivos por cinco anos com os sindicatos moçambicanos que certificou cerca de mil participantes.
representativos dos empregados em greve, que oferecem incentivos Para possibilitar a implantação da mina de carvão em Moatize, as
famílias foram deslocadas das comunidades moçambicanas de Ma-
labwe, Chipanga, Bagamoio e Mithete. Com base em diversos estudos
20 - “A tragédia das crianças”, Veja, 21/5/2008. Disponível em: <http://veja.abril.com.
br/210508/p_078.shtml>.
21 - “Vale entrega a terceira ‘Escola da Esperança’ na China.” Disponível em: <http://www. 22 - Ver release “Vale realiza primeira exportação da Mina Carvão Moatize”, Vale, 13/9/2011. Vista da Inco
vale.com/pt-br/sustentabilidade/destaques/paginas/vale-entrega-a-terceira-escola-da- Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=21027>. em Sudbury,
-esperanca-na-china.aspx>. 23 - Idem. Ontário, Canadá.
e também num censo socioeconômico para identificar as pessoas Foi em Tete que se deu a reunião em torno do baobá – tido como
que seriam reassentadas, duas áreas foram definidas para receber as “a árvore da vida” por sua capacidade de armazenar água. Também
famílias: Cateme, com características rurais, e 25 de Setembro, com chamado de embondeiro ou “árvore de cabeça para baixo”, é típico
340 características urbanas. O processo de elaboração do Plano de Ação de diversas regiões da África e muitos espécimes chegam a ter 40 341
de Reassentamento contou com amplo engajamento e participação metros de altura e 10 de diâmetro. Tradição nascida nas antigas
pública. Foram realizadas três audiências públicas; 20 apresentações tribos africanas, muitas das decisões comunitárias são tomadas
teatrais na língua local predominante (nyungwe); 110 reuniões com em torno do baobá. Com a chegada da Fundação Vale a Moçambi-
a comunidade e seus líderes, utilizando material ilustrado; 4.927 vi- que, o tradicional costume de se reunir em torno da árvore passou
sitas domiciliares para mobilização e atendimento social (famílias e a fazer parte da prática de relacionamento da empresa com a co-
líderes); e 639 atendimentos no plantão social até o início do reas- munidade. 24 Saber incorporar a cultura local a seus métodos de
sentamento. Durante o processo, foram consideradas alternativas atuação era essencial para uma empresa que buscava se expandir
para evitar ou minimizar o desalojamento físico ou econômico. pelo mundo.
Nos bairros de Cateme e 25 de Setembro, além das casas, foram Em março de 2008, a Vale lançava a pedra fundamental do Pro-
construídas ou reformadas as seguintes infraestruturas para as co- jeto Moatize. Pouco mais de dois anos depois, em setembro de 2010,
munidades: escola primária, escola secundária, biblioteca, casas compraria participação de 51% na Sociedade de Desenvolvimento
para os professores e para os diretores; salas de informática, labora- do Corredor do Norte S. A. (SDCN), que controla dois sistemas fer-
tórios, posto de saúde e maternidade, posto policial, construção de roviários na costa leste da África. O valor pago foi de US$ 21 mi-
ruas e instalação de energia elétrica nas vias principais. lhões. A SDCN, por meio de duas controladas, participava de dois
A Escola Primária do Cateme tem capacidade para cerca de 1.200 sistemas ferroviários na África, com extensão total de aproxima-
alunos, 18 salas de aula e uma biblioteca. A Escola Secundária Ar- damente 1,6 mil quilômetros, em Moçambique e no Malauí. Ainda
mando Emílio Guebuza, no mesmo bairro, comporta 650 alunos e assim, será necessária a construção de alguns trechos, bem como
conta com 12 salas de aula, biblioteca, centro de internato para 270 de um novo porto na região de Nacala.25 A aquisição tinha justa-
alunos, sala de informática e um hectare para aulas práticas de mente a finalidade de permitir a expansão de Moatize e a criação
horticultura, compostagem e processamento de farinha de mandio- de uma infraestrutura de logística, como apoio às operações na
ca. Ambas as escolas são administradas pelo Departamento Distri- África Central e do Leste.26 Após a construção dos novos trechos, os
tal da Educação do Governo de Moçambique. dois sistemas se interligarão em um ponto próximo à província mi-
A infraestrutura dos reassentamentos recebe melhorias constan- neral de Moatize.
tes e a Vale desenvolve ações de apoio às famílias, em conjunto com O primeiro produto da mina de Moatize deixou Moçambique em
as esferas governamentais, para atender às demandas das comuni- 14 de setembro de 2011, a bordo do navio Orion Express em direção
dades. São exemplos de melhorias o reparo das casas; a manutenção ao Líbano. Foram 35 mil toneladas de carvão térmico, que percorre-
de sistemas de drenagem, de vias públicas e do sistema de abasteci- ram os 575 quilômetros de extensão da linha Sena-Beira, que liga
mento de águas; a ampliação da rede de energia elétrica; a constru-
ção de estrutura desportiva; os investimentos em saúde e em agri-
24 - Ver Fundação Vale, Atuação Internacional. Disponível em: <http://www.fundacaovale.
cultura; e o desenvolvimento de soluções de apoio ao transporte org/pt-br/a-fundacao-vale/atuacao-internacional/Paginas/default.aspx>.
público. Também estão sendo implantadas ações para o estabeleci- 25 - “Vale compra ferrovias no leste da África”, O Estado de S. Paulo, 22/9/2010. Disponível
mento de alternativas de geração de renda, como aviários, criação de em: <www.economia.estadao.com.br/noticias/negócios,vale-compra-ferrovias-no-leste-
-da-africa,36152,0.htm/>.
abelhas, capacitações agrícolas e cursos profissionalizantes.
26 - Idem.
342 Moatize ao Porto da Beira, em Sofala, região central de Moçambi- Para uma estratégia bem-sucedida, seriam necessárias condições 343
que.27 A linha estava interrompida havia 28 anos devido à guerra ci- ideais para que o produto estivesse pronto para exportação a custos
vil. As atividades na mina começaram em maio de 2011 e sua im- razoáveis. E parte da equação seria solucionada em setembro de
plantação contribuiu para dinamizar a economia moçambicana, 2011, com o terminal de minério do Porto de Sohar, em Omã, cons-
gerando emprego e renda. truído para operações da Vale. A localização privilegiada de Sohar,
em mar de águas profundas e fora do Golfo Pérsico, permitiria à Vale
Omã levar embarcações tipo Valemax, com capacidade de 400 mil tonela-
Ao mesmo tempo que lançava a pedra fundamental em Moatize, em das (dwt), do Brasil para o porto omani. De lá, o minério de ferro se-
2008, a Vale dava início à implantação de um projeto no Oriente Mé- ria distribuído em navios menores para regiões próximas. Além de
dio, no Complexo Industrial do Porto de Sohar, em Omã, país situado a Sohar, só nove portos no mundo são capazes de receber navios gra-
leste da Península Arábica, com sua usina de pelotização e um centro neleiros do porte dos Valemax.31
de distribuição.28 A inauguração aconteceu em março de 2012. Junto com as ações diretas para exportação de seus produtos, a
O Oriente Médio, como um todo, era um cliente em ascensão, Vale oferecia uma série de contrapartidas à sociedade omani. Um
principalmente para pelotas, em razão do tipo de forno predomi- exemplo dessas ações foi o convênio, articulado pela Vale, entre o
nante nas siderúrgicas da região. Em maio de 2008, a Vale anunciou governo de Omã e a Universidade Federal de Viçosa, em Minas Ge-
parceria estratégica com o governo de Omã por meio da venda de rais, na busca de solução para problemas de pragas em frutas. O
participação minoritária de 30% da Vale Oman Pelletizing Company acordo foi fechado em outubro de 2010, prevendo investimento de
LLC (VOPC), por US$ 125 milhões.29 cerca de R$ 10 milhões durante quatro anos. A Vale intermediou o
Omã é um país com pouco mais de 300 mil quilômetros quadra- acordo por meio do Instituto Tecnológico Vale (ITV).32
dos, com um vasto litoral, uma enorme reserva de petróleo e fron- Criado em 2009, o ITV tem como objetivo coordenar as ações de
teiras com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, dois ex- ciência e tecnologia, com ênfase em pesquisas de longo prazo desen-
pressivos polos comerciais da região. Nos planos traçados pela Vale, o volvidas em parceria com comunidades científicas em âmbitos na-
minério processado nas duas unidades de pelotização (cada uma com cional e internacional.33 Assim, com pouco tempo de atividade, o ITV
capacidade de produção de 4,5 milhões de toneladas métricas de pe- já havia articulado 97 convênios de pesquisa e desenvolvimento e fo-
lotas por ano)30 seria transportado de um centro de distribuição de mi- mentado mais de 50 bolsas de pesquisa. A participação do ITV em
nério de ferro e pelotas em Omã (com capacidade para 40 milhões de ações no exterior não ficaria restrita a Omã. O Instituto também fe-
toneladas métricas por ano) para clientes na Ásia e no Oriente Médio. charia, de imediato, parcerias com 36 instituições nacionais e
Downs. A utilização do método diminuía sensivelmente o risco de da receita total bruta da Vale decorrente das vendas para clientes 349
acidentes de trabalho e possibilitava um aumento na produção – a chineses foi de 17,7% em 2007. Some-se a esse valor o percentual
estimativa era de que o projeto aumentaria de maneira significativa da receita total bruta para países asiáticos, com exceção da China,
sua capacidade de produção nominal para 4,8 milhões de Mtpa (to- que atingiu 23,3% no mesmo ano. A Ásia respondia, portanto, por
neladas métricas por ano) em 2011.39 41% das vendas da Vale.
O bom desempenho na Ásia – alavancado pelas vendas na China
Chile e Colômbia – se repetiria com menor intensidade no resto do mundo. Os clientes
No quarto trimestre de 2010 foi dado o pontapé inicial da produção europeus, por exemplo, registraram vendas de 22,1% em 2007.44
na unidade de cobre de Tres Valles.40 Localizada em Salamanca, re- O relacionamento comercial entre a Vale e a China se estreitaria
gião de Coquimbo, no Chile, a operação incluía minas e usina, em ainda mais com a conclusão da usina de processamento de níquel
um trabalho coordenado de produção do catodo de cobre (placa de de Dalian, na China. As operações começaram em abril de 2008,
metal). Há duas minas de óxido de cobre: a mina Don Gabriel, a céu com capacidade de produção de 35 mil toneladas métricas de ní-
aberto, e a mina Papomono, subterrânea. No total, a empresa inves- quel refinado por ano.
tiu US$ 140 milhões no empreendimento chileno.41
Em dezembro de 2008, a Vale adquiriu 100% dos ativos de carvão Presença nos cinco continentes
da Cementos Argos S. A. (Argos), na Colômbia, por um valor total de O aumento dos negócios na China ajudava a traçar um horizon-
US$ 306 milhões.42 te de crescimento nas transações internacionais da Vale. No iní-
Em 2012, de acordo com seus esforços contínuos de otimização de cio de 2008, a Vale possuía operações, escritórios e joint ventures
portfólio de ativos, a Vale vendeu suas operações de carvão da Co- espalhados pelos cinco continentes. Em 2011, a empresa estava
lômbia para a CPC S.A.S., afiliada da Colombian Natural Resources em mais de 35 países e tinha 136 mil empregados (próprios e ter-
S.A.S., por US$ 407 milhões em dinheiro. ceiros permanentes).
Depois de 70 anos, a Vale se fazia presente em países como Áfri-
China: desafio internacional ca do Sul, Angola, Argentina, Austrália, Áustria, Barbados, Canadá,
No início de 2008, a China havia se consolidado como o principal Cazaquistão, Chile, China, Cingapura, Coreia do Sul, Emirados Ára-
consumidor de recursos minerais. No ano de 2007, o país – sozi- bes Unidos, Estados Unidos, Filipinas, França, Gabão, Guiné, Índia,
nho – foi responsável por aproximadamente 49% da demanda global Indonésia, Japão, Libéria, Malásia, Malauí, Moçambique, Mongólia,
de minério de ferro transoceânico, 24,2% da demanda mundial de Nova Caledônia, Omã, Paraguai, Peru, Reino Unido, República De-
níquel, 33% da de alumínio e 26,3% da de cobre.43 O percentual mocrática do Congo, Suíça, Tailândia, Taiwan e Zâmbia.
Mesmo contabilizando um enorme número de vitórias, o cresci-
mento do comércio internacional experimentado pela empresa não
39 - Ver Relatório Form 20-F 2009.
ocorreu sem derrotas e imprevistos. O principal revés seria defla-
40 - Idem, p. 23.
grado no segundo semestre de 2008.
41 - “Vale inaugura projeto de cobre no Chile e amplia meta de produção”, O Globo,
2/12/2010.
42 - Ver Relatório Form 20-F 2009.
43 - Idem. 44 - Idem.
Beneficiamento de minério
de ferro na Mina de
Carajás, no Pará (2008).
Pátio de estocagem e
47 - Idem.
embarcadouro da Mina de
45 - Relatório Form 20-F 2007. 48 - Idem. Brucutu, em São Gonçalo do
46 - Idem. 49 - Ver Relatório Form 20-F 2008. Rio Abaixo (MG), 2009.
A China respondeu por 28,7% dos embarques de minério de fer- níquel, foi interrompido o uso das centrais termelétricas na Indoné- forte impacto da recessão global na indústria siderúrgica da Euro-
ro e pelotas em 2008. A Ásia, como um todo, foi responsável por sia. Em janeiro de 2009, foi fechada por tempo indeterminado a pa, um de seus importantes mercados de minério de ferro.61 E não
47,8%. Em seguida, vieram Europa, que respondeu por 24,4%, e Bra- Mina de Copper Cliff South (CC South), na área de mineração de era só isso. Na Vale, a onda recessiva atingiria praticamente todas
sil, com 19%. No ano, 56,2% das vendas totais de níquel foram en- Sudbury (Ontário, Canadá), cuja capacidade anual de produção as frentes.
354 tregues à Ásia, 27,2% a clientes na América do Norte, 11,6% a clien- chegava a 8 mil toneladas métricas de níquel refinado.56 A receita operacional bruta também sofreu queda de 37,8%, pas- 355
tes na Europa e 5% em outros destinos.50 Como mais um efeito da crise, em abril de 2008 a Valesul, no Rio sando de US$ 38,5 bilhões, em 2008, para US$ 23,9 bilhões, em 2009.
Chegar a esses resultados, porém, não foi tarefa simples. A acele- de Janeiro (RJ), passou da qualidade de “smelter de alumínio” – que O lucro líquido caiu de US$ 13,2 bilhões, em 2008, para US$ 5,3 bi-
ração da crise financeira internacional no quarto trimestre reduziu produz o metal por meio da redução primária da alumina – para lhões no ano seguinte. O mesmo aconteceu com os preços de refe-
a demanda por minério de ferro e pelotas e ocasionou também que- produtora de placas, utilizando barras de alumínio primário e suca- rência para os minérios finos e para as pelotas de minério de ferro, Murilo Ferreira
das significativas nos preços dos minerais não ferrosos.51 Houve di- ta como matéria-prima. Em outubro do mesmo ano, suas atividades que registraram, entre 2008 e 2009, respectivamente, queda de
minuição do crescimento econômico na China após dez anos de au- foram reduzidas para 40% da capacidade nominal anual de 95 mil 28,2% e 44,5%.62 Em 2009, a receita bruta do minério de ferro dimi-
Quando Murilo Pinto de Oliveira Ferreira (Uberaba, MG,
mento contínuo na produção de aço e nas suas importações de toneladas métricas.57 nuiu 27,8%, principalmente devido à queda de 13,2% no volume de
1953) foi escolhido diretor-presidente da Vale, em maio de
minério de ferro. A retração era resultado de um controle rígido Em consequência da fraca demanda por caulim, a subsidiária venda e à redução no preço médio. A receita bruta de vendas de pe-
do crédito interno e de uma redução nas exportações.52 Caulim da Amazônia S. A. (Cadam), no Pará, reduziu sua produção lotas de minério de ferro também caiu (68,6%) por conta da redução 2011, as pessoas que transitam no mercado da mineração
Para se manter competitiva e com o caixa saudável, a Vale pre- em cerca de 30%. A produção de caulim da subsidiária Pará Pig- nos preços, resultante de uma demanda menor.63 sabiam exatamente quem ele era: até chegar ao posto mais
cisou se reestruturar. Em virtude das mudanças no cenário econô- mentos S. A. (PPSA) também foi reduzida em 200 mil Mtpa.58 Se em A queda de 45,5% na receita bruta do minério de manganês alto, Ferreira acumulara quase 30 anos de experiência no
mico mundial, foram ajustados os planos de produção a partir de 2008 a situação já exigia medidas drásticas para equilíbrio do ba- ocorreu basicamente devido aos preços mais baixos registrados em setor, já que ingressara na empresa em 1988, como diretor
novembro, com a paralisação de algumas minas de minério de fer- lanço final, no ano seguinte a situação chegaria a seu limite. Em 2009. Esse efeito foi parcialmente compensado pelo aumento do vo- da Vale do Rio Doce Alumínio (Aluvale). A partir daí, ocupou
ro nos sistemas Sul e Sudeste, em Minas Gerais.53 Apenas três das 2009, a Vale – como todo o mundo – conheceu dias difíceis. lume de vendas, resultado de uma forte demanda da China.64 A re-
diversos cargos de comando até chegar à presidência da
dez usinas de pelotização da Vale seguiriam em operação durante a ceita bruta das operações com ferroligas encolheu, no mesmo ano,
Vale Inco (atual Vale Canadá), onde permaneceu até 2008.1
crise: foram paralisadas cinco das sete usinas de pelotas do Com- A Vale no difícil ano de 2009 69,3%, com queda de 48,5% na média dos preços de venda e dimi-
plexo de Tubarão, em Vitória (ES), uma usina de pelotização em São O ano de 2009 se iniciaria com a preocupação de uma brutal que- nuição de 36,1% no volume de vendas. Houve ainda diminuição de Murilo Ferreira é graduado em Administração de Em-
Luís (MA) e outra em Fábrica (MG). Foram ainda arrendadas quatro da da demanda em 2008 e a necessidade de fazer ajustes, e termi- 49,6% na receita bruta do segmento de níquel e de 32,6% na receita presas pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), com pós-
usinas de pelotização no Complexo de Tubarão, todas de proprieda- naria com um dos poucos episódios de redução global do PIB.59 O bruta do segmento de alumínio.65 -graduação em Administração e Finanças pela mesma ins-
de de joint ventures com participação da Vale.54 crescimento brasileiro encolheu 0,6%, segundo o IBGE, enquanto a Caulim e cobre também registraram quedas em 2009. As vendas tituição, no Rio de Janeiro, e especialização em M&A pelo
As operações de minério de manganês e de ferroligas no Brasil queda nos EUA foi de 2,4%; no Japão, de 5%; e, na União Europeia, do primeiro diminuíram 17,2%, devido principalmente a uma que- International Institute for Management and Development
foram interrompidas entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009. A de 4,2%.60 A Vale não ficaria imune à crise. Sua presença no mer- da de 25,8% no volume, parcialmente compensada por um aumen-
(IMD), em Lausanne, na Suíça. 2 Desde o início de sua ges-
fábrica de ferroligas em Dunquerque, na França, ficou ociosa até cado transoceânico caiu de 30,2% para 24,9%, queda que refletia o to de 11,6% no preço médio de venda. Já as vendas de concentrados
tão na Vale, priorizou a execução responsável dos investi-
abril de 2009, e na Noruega a parada para a manutenção do forno de cobre caíram 23,6%, com queda de 5,3% no volume e diminuição
da usina de Mo I Rana foi estendida até junho do mesmo ano, tam- de 19,3% no preço médio de venda.66 mentos da empresa, o treinamento dos empregados e ini-
bém em decorrência da crise.55 Nas atividades relacionadas com o 56 - Idem. ciativas voltadas para a valorização da vida.
57 - Idem.
58 - Idem.
50 - Idem. 59 - Ver Relatório Form 20-F 2009. 61 - Ver Relatório Form 20-F 2009.
51 - Idem. 60 - Ver Fiesp, “A política de desenvolvimento produtivo”, Departamento de Competitivi- 62 - Idem. 1 - “Vale anuncia Murilo Ferreira como diretor-presidente”, Vale, 19/5/2011.
52 - Idem. dade e Tecnologia, Decomtec, novembro de 2009. Disponível em: <http://www.fiesp.com. 63 - Idem. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/investidores/press-releases/
br/competitividade/downloads/a%20pol%C3%ADtica%20de%20desenvolvimento%20pro- paginas/vale-anuncia-murilo-ferreira-como-diretor-presidente.aspx>.
53 - Idem. 64 - Idem.
ditivo%20-%20pdp%20ap%C3%B3s%20a%20crise.pdf>; e BBC Brasil, “Desempenho do PIB 2 - “Vale apresenta novo diretor-presidente, Murilo Ferreira”, Exame.com, 20/5/2011.
54 - Idem. brasileiro foi 6o melhor do G20 em 2009”. Publicada em 11/3/2010, disponível em: <http:// 65 - Idem. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/vale-
55 - Idem. www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100311_pib_brasil_g20_daniela_rw.shtml>. 66 - Idem. apresenta-novo-presidente-murilo-ferreira>.
Recuperadora de minério
no pátio de estocagem
67 - Ver Relatório Form 20-F 2009. 70 - Idem.
do Terminal Marítimo
de Ponta da Madeira, 68 - Idem. 71 - Idem.
em São Luís (MA). 69 - Idem. 72 - Idem.
358 de serviços industriais e administrativas, fundição e estoques. 73 A planta de pelotização de Vargem Grande, em Nova Lima (MG), Centro-Oeste. A empresa agora tem quatro sistemas produtivos in- 359
O programa de desinvestimentos prosseguiu com a finalização, em ju- foi concluída no primeiro semestre de 2009. A unidade de Vargem tegrados (mina-ferrovia-porto): Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste.
lho de 2010, da venda de 86,2% da participação na Pará Pigmentos S. A. Grande, que tinha uma capacidade de produção nominal de 7 mi- No terceiro trimestre de 2009, a Vale firmou contrato com o gru-
(PPSA), além de outros direitos de mineração de caulim no Pará. As lhões de Mtpa de minério de ferro, agora opera com uma capacidade po alemão ThyssenKrupp Steel Europe AG, a fim de aumentar sua
ações da PPSA e os direitos de mineração do caulim foram vendi- de 10 milhões de toneladas/ano.78 participação na ThyssenKrupp CSA Siderúrgica do Atlântico Ltda.
dos à Imerys S. A. por US$ 74 milhões. 74 Uma importante aquisição no período foi a de 100% das opera- (TKCSA). A participação da Vale passava então de 10% para 26,87%,
Por fim, em fevereiro de 2011, todas as operações de alumínio da ções de minério de ferro da Rio Tinto em Corumbá (MS), concretiza- com um investimento de US$ 1,42 bilhão. A TKCSA estava cons-
Albras, da Alunorte e da Companhia de Alumina do Pará (CAP) fo- da em setembro de 2009. No pacote estavam incluídos os ativos de truindo uma usina integrada de produção de placas de aço, com ca-
ram transferidas para a norueguesa Norsk Hydro.75 Segundo os ter- logística associados, por um valor total de US$ 750 milhões.79 Em pacidade nominal de 5 milhões de toneladas de placas por ano, no
mos do acordo, a Vale, por meio de suas subsidiárias integrais, 2009, a Vale definia a mina de minério de ferro de Corumbá como bairro de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Como parceiro
transferiu para a Hydro 51% do capital total da Albras, 57% do capi- “um ativo de classe mundial, caracterizado pelo alto teor e rico em estratégico da ThyssenKrupp, a Vale era o único e exclusivo forne-
tal total da Alunorte e 61% do capital total da Companhia de Alumi- minério granulado, conversível por processo de redução direta. Os cedor de minério de ferro para a TKCSA.82
na do Pará (CAP).76 Nessa transação, a Vale recebeu US$ 503 milhões ativos de logística suportam 70% das necessidades de transporte Em novembro de 2007, foi assinado um memorando de enten-
em dinheiro e passou a deter 22% das ações ordinárias em circula- das operações”.80 Em 2008, a Mina de Corumbá produziria 2 milhões dimento com a Dongkuk Steel, um dos maiores produtores de aço
ção da Norsk Hydro.77 de toneladas de minério de ferro.81 da Coreia do Sul, para a construção de uma unidade de placas de
A compra dos ativos em Corumbá trouxe mais um país para o aço no Ceará, no Complexo Industrial e Portuário de Pecém, cha-
Investimentos: novas participações e operações mapa da Vale: o Paraguai. Em termos de logística, a aquisição in- mada Companhia Siderúrgica do Pecém, em São Gonçalo do
Da mesma forma que soube descartar negócios que não eram prio- cluía um contrato de transporte numa ferrovia de 42 quilômetros Amarante (CE), com capacidade inicial de produção de 2,5 mi-
ritários no momento, a Vale percebia que, para voltar a crescer, não de extensão – cuja concessão pertence à América Latina Logística lhões de Mtpa. 83
poderia abrir mão da diversificação e da ênfase nos investimentos. (ALL) – e um porto fluvial para carregamento de minério de ferro No outro lado do país, a empresa investia na ampliação da capa-
Em 2009, começava a dar resultado o investimento feito na constru- pelos rios Paraná e Paraguai, para atendimento a clientes para- cidade de produção do Complexo de Carajás, no Pará. A partir do
ção da Usina Hidrometalúrgica de Carajás (UHC). Localizada na guaios e argentinos. Foram arrendados mais dois portos fluviais e, primeiro trimestre de 2010, Carajás começaria a operar com insta-
unidade de mineração em Sossego, no Pará, a usina foi finalizada por meio de um porto na província de Buenos Aires, o minério al- lações que adicionaram 20 milhões de toneladas métricas por ano
em dezembro de 2008 e tinha como objetivo fazer testes de proces- cança o mercado transoceânico. à capacidade de operações de minério de ferro.84
samento, em escala industrial, de minérios de cobre complexos As minas de ferro e manganês de Corumbá – sob controle da
para produzir catodo de cobre. Vale a partir de 1994, com a aquisição de 100% das ações da Uru- A Vale e a MBR
cum Mineração S.A. – passaram a compor, em 2010, o Sistema Em maio de 2007, a participação na subsidiária Minerações Brasilei-
ras Reunidas S. A. (MBR), em Minas Gerais, aumentou. A Vale, cuja
73 - “Vale vende US$ 31,2 milhões em ativos da Valesul para a Alumínio Nordeste S.A.”, participação direta na MBR era de 49%, considerava os ativos em
O Globo, 22/1/2010. Disponível em: <oglobo.globo.com/economia/mat/2010/01/22/vale- 78 - Ver: <http://www.vale.com.br/pt-br/o-que-fazemos/mineracao/minerio-de-ferro-e- minério de ferro da subsidiária como “parte dos melhores do
-vende-us-31-2-milhoes-em-ativos-da-valesul-para-aluminio-nordeste-a-915688823.asp>. -pelotas/projetos/Paginas/default.aspx>.
74 - Ver Relatório Form 20-F 2010. 79 - Idem.
75 - Idem. 80 - Relatório Form-20 F 2009.
76 - Ver release “Vale conclui gestão de portfólio de ativos de alumínio”, Vale, 28/2/2011. 82 - Ver Relatório Form 20-F 2009 e Relatório Form 20-F 2010.
81 - Ver também “Vale prevê investir US$ 2 bilhões em Corumbá”, O Estado de S. Paulo,
Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=20518>. 19/9/2009. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/impresso,vale-preve-investir- 83 - Ver Relatório Form 20-F 2007.
77 - Idem. -us-2-bilhoes-em-corumba,437597,0.htm>. 84 - Ver Relatório Form 20-F 2010.
360 mundo”.85 Os outros 51% pertenciam à Empreendimentos Brasilei- farelo e seus diversos produtos somados) não chegou a US$ 17 bi- TABELA 1 361
ros de Mineração S. A. (EBM). Até maio de 2007, a participação da lhões. A disparidade era ainda maior quando se comparavam as EXPORTAÇÕES DA VALE COMPARADAS COM OUTROS PRODUTOS SELECIONADOS (US$ MILHÕES)
Vale na EBM equivalia a 80% do capital. Com as novas transações, a exportações da Vale, por exemplo, com a de produtos como auto-
empresa adquiriu mais 6,25% do capital da EBM e firmou um acor- móveis (incluindo veículos de passageiros, tratores, motores, par-
do de usufruto que lhe garantia o benefício dos outros 13,75% do tes e peças) e aviões, os quais, somados, não chegaram a totalizar EXPORTAÇÕES
SOJA* AÇÚCAR* CARNES* AUTOMÓVEIS* CAFÉ* AVIÕES
capital da empresa nos 30 anos seguintes.86 US$ 15 bilhões. 89 As exportações da Vale em 2010 corresponde- DA VALE
A Minerações Brasileiras Reunidas S. A. (MBR) era a segunda ram, portanto, a quase o dobro das exportações de automóveis e
maior produtora e exportadora de minério de ferro do Brasil, com aviões juntas. A despeito de 2010 ter sido um ano recorde, a im- 2001 3,297 5,206 2,279 2,629 4,239 1,393 2,839
presença marcante no mercado transoceânico. A MBR tinha como portância da Vale como grande exportadora nacional se confir-
característica a diversidade de mercados: estava presente em qua- maria ao longo de toda a década (Tabela 1).
se todos os mercados de minério de ferro do mundo, exportando A Vale, grande exportadora brasileira, tinha participação cen- 2002 3,173 5,906 2,094 2,879 4,510 1,362 2,335
cerca de 90% de sua produção.87 Seu crescimento era contínuo, tral na melhoria de indicadores de solvência e sustentabilidade
com reservas superiores a 1,4 bilhão de toneladas de hematita e do Brasil, particularmente no que se referia a reservas internacio- 2003 4,229 7,935 2,140 3,729 5,827 1,516 1,939
4,4 bilhões de toneladas de itabiritos ricos. Operando na região do nais e dívida externa. Os elevados saldos comerciais e a dilatada
Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, a MBR exportava pelo ter- liquidez dos mercados financeiros internacionais contribuíram
minal marítimo próprio, na Ilha Guaíba, localizado na Baía de Se- para que o Brasil melhorasse os indicadores de dívida externa – 2004 5,534 9,822 2,640 5,648 7,307 2,025 3,269
petiba, no Rio de Janeiro.88 chegando inclusive, em 2005, a permitir que o Banco Central dis-
pensasse a tutela do Fundo Monetário Internacional (FMI).90 2005 7,021 9,232 3,919 7,391 9,189 2,879 3,168
10.5 O boom de 2010 2006 9,656 8,911 6,167 7,701 10,366 3,311 3,241
O grande salto comercial da Vale em 2010, ano em que a em- 2007 12,492 10,888 5,100 9,559 10,396 3,829 4,719
presa alcançaria seus melhores resultados até então, pode ser
medido, sinteticamente, pelo volume de suas exportações. Na-
quele ano, a Vale, sozinha, exportou cerca de US$ 29 bilhões líqui- 2008 17,606 17,300 5,483 12,046 11,109 4,697 5,495
dos, resultado da soma das exportações da mineradora desconta-
do o agregado das importações da própria empresa. Para efeito de 2009 13,719 17,058 8,378 9,602 7,122 4,222 3,860
comparação, no mesmo período, toda a exportação de soja (grãos,
288,575
o lucro operacional medido pelo Ebit foi de US$ 21,7 bilhões 150
85,839
100
362 363
35,866 37,823 49,296 52,935 53,799
50
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Era um novo cenário: o país criava uma trajetória de queda da O fim da tormenta Em face do bom desempenho das economias emergentes – em Em dezembro do mesmo ano, o Banco Central anunciou novas
dívida externa total e de elevação das reservas internacionais (Grá- Impulsionada pelos bons resultados das economias emergentes – detrimento da crise econômica dos países ricos –, o Fundo Monetá- medidas, dessa vez para reduzir o crédito, intensificando a desace-
fico 1), em um contexto de crescimento das exportações. O resulta- importantes geradoras da demanda por minerais e metais –, a econo- rio Internacional (FMI) decidiu repassar aos países em desenvolvi- leração da economia, com vistas a controlar a inflação. Entre elas,
do era a melhora geral nos indicadores. O reflexo direto era a sol- mia global demonstrou forte crescimento em 2010, afastando-se dos mento mais de 6% do seu total de votos, aumentando seu poder de destacam-se: o aumento do depósito compulsório dos bancos (feito
vência em face dos compromissos financeiros externos e a baixos níveis registrados no fim de 2008 e no início de 2009.92 A eco- influência nas decisões da instituição. A China tornava-se então o ao Banco Central) para retirar R$ 61 bilhões da economia; restrição
credibilidade em mercados internacionais atestada pela classifica- nomia brasileira seguiu o mesmo rumo e encerrou 2010 com cresci- terceiro maior integrante do Fundo, cujo comitê executivo possui 24 a empréstimos de longo prazo para pessoas físicas; e retirada da
ção “grau de investimento”.91 mento de 7,5%, de acordo com dados do IBGE. Em valores correntes, países-membros.95 ajuda do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para bancos de menor
Pela análise dos principais dados e indicadores acerca do Bra- a soma de todas as riquezas produzidas pela economia alcançou R$ O superaquecimento da economia brasileira começava a apre- porte.97 No fim do ano, o Brasil registrou a criação de 2,86 milhões
sil sob a perspectiva externa, percebia-se que a Vale chegava ao 3,67 trilhões. O PIB per capita ficou em R$ 19.016.93 Era uma resposta sentar seus efeitos colaterais e, em maio de 2010, foram anunciados de empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho. O recorde
fim da primeira década do milênio como uma empresa funda- firme à crise vivida desde meados de 2008. cortes em despesas no valor de R$ 10 bilhões pelo governo brasilei- ultrapassava a marca anterior de 1,6 milhão de novos empregos, re-
mental para o desenvolvimento do país, capaz de aproveitar a fa- O ritmo de expansão do Brasil só perdia para o da China (que re- ro. A ideia era conter a inflação e respeitar a capacidade do setor gistrada em 2007.98
vorável conjuntura internacional, com crescimento da demanda gistrou crescimento de 10,3%) e o da Índia (com 8,6%), mas supera- produtivo nacional. Dois meses antes, o Governo Federal havia
e de preços, para consolidar sua contribuição no crescimento da va o da Coreia do Sul (6,1%), o do Japão (3,9%), o dos EUA (2,8%) e o anunciado cortes de R$ 21,8 bilhões no orçamento de 2010.96
economia nacional. da região da Zona do Euro (1,7%).94
97 - “BC anuncia medidas para segurar crédito e tira R$ 61 bi da economia”, Folha de S. Paulo,
92 - Ver IBGE, “Em 2010, PIB varia 7,5% e fica em R$ 3,675 trilhões”, publicado em 3/3/2011. 95 - Ver “Países emergentes ganham influência e FMI duplica cotas”, Folha de S. Paulo, 3/12/2010. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/840148-bc-anuncia-
Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_ 23/10/2010. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/819201-paises-emer- -medidas-para-segurar-credito-e-tira-r-61-bi-da-economia.shtml>.
noticia=1830&id_pagina=1>. gentes-ganham-influencia-e-fmi-duplica-cotas.shtml>. 98 - Ver “Brasil criou 2,86 milhões de vagas formais em 2010”, O Estado de S. Paulo, 11/5/2011.
93 - Idem. 96 - “Governo vai cortar gastos em R$ 10 bi para conter inflação, diz Mantega”, Folha de S. Paulo, Disponível em: <www.economia.estadao.com.br/noticias/economia%20brasil,brasil-
91 - Assim como atestam as agências Moody’s Investors Service ou Standard & Poor’s. 94 - Idem. 13/5/2010. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u734550.shtml>. -criou-286-milhoes-de-vagas-formais-em-2010,66460,0.htm>.
10.6 A Vale no mercado de fertilizantes transporte do produto final até Vancouver, o que facilitava o acesso
ao mercado asiático.124
368 Na natureza, os fertilizantes estão distribuídos em três grupos Em 2010, a Vale adquiriu as operações de fosfato da Fosfertil e 369
de nutrientes: nitrogênio (usado pelos vegetais na fotossíntese, con- da Bunge Participações e Investimentos pelo valor de US$ 5,82 bi-
tribuindo para o rápido desenvolvimento das plantas), fósforo (que lhões. Em 1o de fevereiro de 2011, aconteceu a fusão da Vale Fosfa-
auxilia o desenvolvimento das raízes das plantas) e potássio (fun- tados com a Vale Fertilizantes.125
damental para a qualidade dos frutos e para favorecer a circulação No Brasil, as unidades se espalham por cinco estados. Em São
interna de líquidos nos vegetais). Paulo, a Cajati opera em rocha fosfática e na produção de fosfato bi-
No fim da década de 2000, após o período de retração decorren- cálcico, utilizado em ração para animais; a Guará produz fertilizan-
te da crise de 2008, a estratégia de investimentos no setor de ferti- tes fosfatados, utilizados no enriquecimento do solo para a agricul-
lizantes representaria uma nova etapa na diversificação da Vale, tura; Cubatão produz fertilizantes fosfatados e nitrogenados; e em
que passaria a atender também à produção de alimentos. Santos há o terminal marítimo para movimentação de amônia, en-
A aposta da Vale nos fertilizantes teve origem na crença de que xofre e fertilizantes a granel, com capacidade para movimentar 2,3
o aumento da renda per capita dos brasileiros e a busca de biocom- milhões de toneladas por ano.126 Em Minas Gerais, Tapira, Uberaba,
bustíveis impulsionariam a demanda por fertilizantes no país. O Patos de Minas e Araxá produzem rocha fosfática e fertilizantes
Brasil teria um papel importante no mercado. Além de sua posição fosfatados. Também em Minas está em curso o Projeto Salitre, com-
de grande centro agrícola mundial, seu potencial de crescimento e posto de uma mina com capacidade estimada de 2,2 milhões de to-
seu acesso à água e a terras cultiváveis, o país é o quinto maior im- neladas por ano de concentrados de fosfato. Em Goiás, a unidade de
portador de fertilizantes.122 Catalão foi criada para a exploração de rocha fosfática e fertilizan-
O Projeto Rio Colorado – situado na província argentina de Men- tes fosfatados. No Paraná, a Araucária produz fertilizantes nitroge-
doza – pertencia originalmente à anglo-australiana Rio Tinto e des- nados e em Sergipe teve início o Projeto Carnalita, de prospecção de
tinava-se à produção de fertilizantes. O projeto inclui o desenvolvi- potássio, no município de Rosário do Catete.127
mento de uma mina com capacidade nominal inicial de 2,4 Mtpa No exterior, além de estar presente na Argentina e no Canadá,
de potássio, com potencial de expansão de até 4,35 Mtpa. Fazia a empresa opera no Peru e desenvolve um projeto em Moçambi-
parte do contrato a construção de uma ferrovia com 350 quilôme- que. No país andino, desde 2010 foram iniciadas as operações na
tros de ramais, além de instalações portuárias e uma usina de ge- mina de Bayóvar, um dos maiores depósitos de rocha fosfática da
ração de energia elétrica.123 Na Argentina, o Projeto Neuquén en- América do Sul, com capacidade para produzir 3,9 milhões de tone-
trou em 2012 na fase final de estudos, com previsão de produção ladas por ano.128 No país africano, o Projeto Evate tem por objetivo
de 1 milhão de toneladas métricas de potássio por ano. explorar rocha fosfática na província de Nampula.
Com o Rio Colorado também foi adquirido 100% do Projeto Regi-
na, na província de Saskatchewan, no Canadá. O projeto – hoje cha- 124 - Idem.
mado Kronau – tem potencial de produção anual da ordem de 2,8 125 - Relatório Form 20-F 2010.
toneladas métricas por ano. Em 2009, já havia infraestrutura para o 126 - Disponível em: <http://www.fosfertil.com.br/www/afosfertil/servicos.asp>.
127 - Ver release “Vale pretende investir US$ 15 bilhões em fertilizantes até 2020”,
Vale, 29/9/2011. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.
122 - Relatório Form 20-F 2010. asp?id=21085>.
123 - Relatório Form 20-F 2009. 128 - Relatório Form 20-F 2010.
370 10.7 Logística transportada, já que pela sua enorme capacidade de transporte di- Ferrovia Norte-Sul: um novo corredor para clientes;143 no ano seguinte, com a mesma frota, a empresa 371
minui a quantidade de viagens.133 de transporte de cargas gerais transportou 1,16 bilhão de tku em cargas para clientes.144
A crise de 2008, quando a Vale viu sua produção chegar ao por- Além disso, a mineradora investiu US$ 74 milhões134 na compra de Dando prosseguimento aos planos de expansão de sua malha ferro-
to e não ter navios para embarcá-la, levou a uma mudança radical quatro navios capesize usados e firmou contratos de frete de longo pra- viária no país, em outubro de 2007 a Vale venceu o leilão de subcon- Números da logística em 2010
na estratégia de shipping da empresa. Para escapar da redução de zo.135 Os três capesize que já estavam em operação pela Vale continua- cessão da Ferrovia Norte-Sul (FNS) para operação comercial de um A Vale buscava desenvolver iniciativas que permitissem economia
oferta e da alta no preço dos fretes, causadas pelas oscilações eco- ram na rota Brasil-China, transportando exclusivamente minério de segmento de 720 quilômetros da estrada de ferro entre Açailândia de escala e soluções logísticas para os clientes. A Log-In, na qual a
nômicas do mercado, a Vale decidiu comprar e construir suas pró- ferro. “Temos 35 navios no nosso portfólio e o que queremos são con- (MA) e Palmas (TO). A Vale tornava-se responsável por operar, con- Vale tem participação de 31,3%, é uma empresa de logística cria-
prias embarcações. Em agosto do mesmo ano, assinou um contrato tratos de frete de longo prazo. Nós compramos esses navios na época servar, manter, monitorar, melhorar e adequar o trecho da FNS du- da com o objetivo de oferecer serviços intermodais, à base de so-
com a Rongsheng Shipbuilding and Heavy Industries, da China, porque não achamos frete competitivo no mercado”, explicava José rante os 30 anos seguintes.139 luções integradas para movimentação portuária e transporte de
para a construção de 12 navios VLOC, cada um com capacidade de Carlos Martins, diretor-executivo de Minério de Ferro e Estratégia da Esses trilhos não eram novidade para a Vale. Desde a fundação contêineres porta a porta, por meio marítimo ou ferroviário, com-
carga de 400 mil toneladas (dwt), sendo os maiores navios minera- empresa.136 A opção por construir navios próprios tinha origem tam- da ferrovia, em 1996, a Vale operava um trecho de 225 quilôme- plementado pelo transporte rodoviário de cargas de curta distân-
leiros do mundo. O investimento total era de US$ 1,6 bilhão.129 As- bém na crescente expansão do mercado em direção à Ásia. Até o ano tros da FNS entre os municípios de Açailândia e Estreito, ambos no cia, bem como a armazenagem de contêineres por terminais ter-
sim se iniciou a era dos Valemax. 2000, 50% da produção da empresa destinavam-se ao Ocidente, um Maranhão. É na cidade de Açailândia que ela se conecta à Estrada restres de cargas.145
Também foram encomendados sete VLOCs ao estaleiro sul-coreano percentual que, dez anos depois, estaria reduzido a 30%. “A longo pra- de Ferro Carajás (EFC), garantindo o acesso ao Terminal Marítimo de Parte do negócio de carga geral, a logística intermodal é especia-
Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering Co. A Vale recebeu o pri- zo, vamos cada vez mais depender do mercado asiático, então temos Ponta da Madeira, em São Luís.140 lizada em transporte, manuseio e estocagem de cargas armazena-
meiro em maio de 2011 e batizou o maior navio mineraleiro do mundo de ser eficientes no frete. Para dar uma ordem de grandeza, o custo Os objetivos dessa nova operação eram a criação e a exploração das em contêineres. A Log-In não transporta minério, apenas carga
de Vale Brasil. O investimento com os sete navios sul-coreanos foi de para colocar uma tonelada de minério na Ásia está na faixa de US$ 50, de um novo corredor para o transporte de carga geral produzida na geral. Suas atividades não são, portanto, componentes dos negócios
US$ 748 milhões.130 Com 362 metros de comprimento, 65 metros de lar- sendo que, desse valor, menos de US$ 10 são o custo da mina, o resto é Região Centro-Norte – estimulando principalmente a exportação de principais de logística da Vale, que envolvem o transporte, o manu-
gura e capacidade para transportar até 400 mil toneladas, o Vale Brasil custo de logística. Se não se tem uma estratégia adequada para logísti- soja, arroz e milho. Custou aproximadamente R$ 1,47 bilhão a con- seio e a estocagem de seus produtos, especialmente o minério de
aumentava a eficiência do transporte de minério do Brasil para a Ásia e ca, sacrifica-se a competitividade do negócio”, comentava Martins.137 cessão do direito de operação, que reforçava o portfólio de serviços ferro, e de carga a granel para clientes.146
diminuía em 35% a emissão de carbono por tonelada transportada.131 Em 2009, também foram fechados contratos de frete de longo logísticos da Vale.141 O novo empreendimento confirmava a estraté- Na comparação entre 2010 e o ano anterior, houve um aumen-
Em setembro e outubro de 2011, foram entregues mais dois Va- prazo para transporte de pellet feed do Brasil a Omã. No sultanato do gia da empresa de participar efetivamente do transporte de cargas to de 32,7% na receita bruta dos serviços de logística. A receita do
lemax, respectivamente o Vale Rio de Janeiro e o Vale Itália.132 O Oriente Médio, a Vale construía uma usina de pelotização de redu- gerais no Brasil.142 transporte ferroviário subiu 32,1% (com aumento no transporte
projeto dessas embarcações recebeu o Nor-Shipping Clean Ship ção direta com capacidade nominal de 9 milhões de Mtpa. Ao mes- Os números mostram o sucesso da estratégia da utilização ra- de produtos agrícolas e dos insumos da indústria do aço e de
Award, prêmio internacional da indústria de navegação, por reduzir mo tempo, criava um centro de distribuição com capacidade para cional do corredor da Ferrovia Norte-Sul para transporte de cargas seus produtos), enquanto a receita das operações portuárias
significativamente as emissões de carbono por tonelada de minério 40 milhões de toneladas de minério de ferro ou pelotas.138 gerais. Em 2008, a Vale operava na FNS com uma frota de seis loco- cresceu 33,7%. 147
motivas e 370 vagões e transportava 0,9 bilhão de tku em cargas
133 - Ver release “Vale Brasil, o maior navio mineraleiro do mundo, realiza primeiro des-
129 - Release “Vale estabelece linha de transporte dedicada à rota Brasil-Ásia”. Disponível carregamento em Taranto”. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/ 139 - Relatório Form 20-F 2007. Os demais contratos de concessão de ferrovias também têm
em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=18361>. interna.asp?id=20854>. a duração de 30 anos e são renováveis. As concessões da FCA e da MRS expiram em 2026 e 143 - Relatório Form 20-F 2008.
130 - Ver release “Vale recebe o maior mineraleiro do mundo”. Disponível em: <htp://sala- as concessões da EFC e da EFVM, em 2027. 144 - Relatório Form 20-F 2009.
134 - Relatório Form 20-F 2008, p. 17.
deimprensa.vale.com/PT/release/interna.asp?id=20662>. 140 - Ver “Vale arremata trecho da Ferrovia Norte-Sul”, Folha de S. Paulo, 4/10/2007. Dispo- 145 - Ver “Vale fará oferta de ações de subsidiária de logística”, Vale, 16/2/2007, disponível
135 - Idem, p. 49. nível em: <http://www.sindlab.org/noticia02.asp?noticia=14597>.
131 - Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/o-que-fazemos/logistica/navegacao/ em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/noticias/interna.asp?id=17193>.
paginas/default.aspx>. 136 - Entrevista coletiva com José Carlos Martins realizada pela Vale em 2011. 141 - Ver “CVRD vai operar a FNS”, Vale, 3/10/2007. Disponível em: <http://www.vale.com. 146 - Idem.
132 - Ver release “Vale realiza cerimônia de batismo de dois novos navios VLOC”. Disponí- 137 - Idem. br/pt-BR/investidores/press-releases/Paginas/cvrd-vai-operar-a-fns.aspx>.
147 - Relatório Form 20-F 2010.
vel em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=21056>. 138 - Ver Relatório Form 20-F 2009. 142 - Idem.
372 No ano de 2010, a EFVM transportou 78,9 bilhões de tku de mi- funcionaria como um termômetro para um ano de muitos ganhos 373
nério de ferro e outras cargas – 16,8 bilhões de tku (21,3%), in- para a Vale.
cluindo o minério de ferro, exclusivamente para clientes brasilei- O que acontecia nos terminais de Tubarão se replicaria em ou-
ros. A EFVM computou também 1 milhão de passageiros em seus tras partes do país. No Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, no
trens em 2010, com uma frota de 331 locomotivas e 18.967 va- Maranhão, foram movimentados 94,2 milhões de toneladas de iné-
gões.148 Já pela EFC passaram 90,4 bilhões de tku de minério de fer- rios para a Vale e 5,4 milhões de toneladas para clientes. No Termi-
ro e outras cargas, das quais 3 bilhões de tku foram carregamen- nal da Companhia Portuária Baía de Sepetiba, em Itaguaí (RJ), ope-
tos para clientes. A EFC também transportou 341.583 passageiros rado pela subsidiária CPBS, foram carregados 22,6 milhões de
em 2010, com uma frota de 220 locomotivas e 10.701 vagões.149 toneladas de minério de ferro.152
A FNS, por exemplo, levou 1,52 bilhão de tku de carga para clien- Pelo Terminal da Ilha Guaíba (TIG), no Rio de Janeiro, saíram
tes, com uma frota de seis locomotivas e 440 vagões, enquanto a Fer- 37,9 milhões de toneladas de minério de ferro em 2010. Já no Ter-
rovia Centro-Atlântica (FCA) transportou 11,4 bilhões de tku de car- minal Marítimo Inácio Barbosa, em Sergipe, pertencente à Petro-
ga para clientes, com uma frota de 500 locomotivas e 12 mil vagões. bras e operado pela Vale, 600 mil toneladas métricas de combustí-
A FCA, um importante corredor logístico para a carga geral, com vel, produtos agrícolas e aço foram embarcadas. 153 Mais ao sul,
8.023 quilômetros de extensão, passa por 316 municípios em sete es- dando vazão aos maiores investimentos na área de fertilizantes, o
tados brasileiros (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Terminal Marítimo de Santos, operado por intermédio da subsidi-
Goiás, Bahia, São Paulo) e no Distrito Federal. ária Vale Fertilizantes, carregou 2,1 milhões de toneladas de amô-
Por fim, a MRS carregou um total de 144,9 milhões de tku de car- nia e sólidos a granel, registrando uma alta de 10,2% em compara-
ga, incluindo 60,8 milhões de tku de minério de ferro e outras ção com 2009. 154
cargas da Vale. 150 Os bons resultados alcançados em 2010 proporcionariam ain-
da mais investimentos no ano seguinte. Em 2011, foram anunciados
Portos e terminais mais de US$ 5 bilhões em investimentos para atingir a meta de 522
Ao longo de 2010, foram embarcados 100,4 milhões de toneladas milhões de toneladas embarcados em 2015.155
de minério de ferro e pelotas no terminal de minério de ferro do
Complexo de Tubarão. Também no Complexo, no Terminal de
Praia Mole, movimentou-se um total de 10,7 milhões de toneladas
métricas naquele ano. Já pelo Terminal de Produtos Diversos
(TPD) passaram 6,6 milhões de toneladas de grãos e fertilizantes.
No Terminal de Granéis Líquidos, houve embarque de 1 milhão de
granéis líquidos em 2010. 151 O intenso movimento dos portos
376 10.8 Inovação tecnológico que propiciou a criação de seu primeiro centro de pes- Parcerias estratégicas foram firmadas com universidades e cen- 377
quisa e desenvolvimento, no município de Santa Luzia, a meio ca- tros de pesquisas do Brasil e de países como Estados Unidos, Ale-
“Não basta ter o minério; é importante ter a tecnologia que fa- minho entre Itabira e Belo Horizonte. Naquela época já era visível manha, China e Japão.162
cilite a sua explotação a custos razoáveis”, analisa o economista a necessidade de usar mais tecnologia.”157 O êxito do processo se- Outra característica do CTF é o uso de avançados modelos ma-
João Furtado. 156 Por isso, a Vale destina cerca de 2% de sua receita ria a senha para as ações empreendidas dali por diante. temáticos para a simulação dos processos siderúrgicos dos seus
a pesquisa e desenvolvimento. E não é uma opção recente. Um importante centro de pesquisa da Vale foi inaugurado em clientes. São modelos capazes de prever o comportamento das va-
Desde a década de 1960, quando criou um pequeno laboratório outubro de 2008. O novo Centro de Tecnologia de Ferrosos (CTF), riedades de minério de ferro disponíveis no mercado. Essa análise
de tratamento de minério em Santa Luzia, próximo a Belo Hori- construído em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Hori- permite que a Vale calcule o desempenho nos diferentes processos
zonte (MG), a Vale demonstraria preocupação com a inovação tec- zonte (MG), dedicava-se exclusivamente às tecnologias relaciona- e auxilie o desenvolvimento de soluções integradas de carga para
nológica. O Centro de Desenvolvimento Mineral (CDM) foi inaugu- das com o minério de ferro. O objetivo era melhorar e ampliar a seus clientes. 163
rado em 1965 e buscava melhor aproveitamento para o minério produção, por meio da simulação, em laboratórios de primeira li-
retirado da Mina do Cauê, em Itabira (MG). nha, de todo o processo de mineração e siderurgia. 158 No aparato Instituto Tecnológico Vale (ITV)
O CDM foi criado com a missão de traçar um roteiro de desen- tecnológico do CTF destacava-se, por exemplo, um forno de amo- O projeto mais ambicioso desenvolvido pela Vale nos últimos anos
volvimento das minas, desde a viabilidade do projeto até as me- lecimento e fusão que permitia realizar ensaios metalúrgicos em na área de pesquisa foi o ITV. As atividades tiveram início em 2009.
lhores práticas para seu aproveitamento. Pelas salas de estudo e temperaturas que chegam a 1.700 graus Celsius. 159 Com ele, é pos- Seu objetivo é coordenar as ações de Ciência e Tecnologia da em-
laboratórios do Centro, são processadas informações sobre o per- sível simular diferentes condições para o uso de minério de ferro presa, com ênfase em projetos de pesquisa de longo prazo desen-
fil da mina, qualidade e concentração do mineral, tipo de tecnolo- nos altos-fornos. Outro importante equipamento disponível no volvidos em parceria com a comunidade científica nacional e in-
gia a ser empregada para fazer extração, escoamento da produção, CTF é o espectrômetro Mössbauer, que investiga as característi- ternacional. Com a iniciativa, a Vale pretende ampliar a produção
planejamento, destinação dos resíduos e fechamento da mina. cas químicas e físicas dos compostos de ferro usando ressonância de pesquisas científicas e o desenvolvimento econômico de base
Na época da criação do CDM, as reservas de hematita da Mina nuclear. 160 Essa alta tecnologia também é usada em missões de tecnológica no país, além de gerar e difundir novos conhecimentos
do Cauê estavam cada vez mais profundas, o que comprometia a exploração espacial: o espectrômetro Mössbauer foi enviado a para o desenvolvimento socioeconômico, ambiental e para a ca-
viabilidade da operação. Era necessário, então, criar uma tecnolo- Marte pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA) para estu- deia da mineração no Brasil.
gia que permitisse a extração e o aproveitamento do minério de dar o solo do planeta. 161 Desde que foi criado, o Instituto já articulou 97 convênios de
alto teor, com baixos custos, e ainda beneficiar o itabirito, com O CTF conta com uma equipe multidisciplinar formada por pesquisa e dsenvolvimento, fomenta mais de 50 bolsas de pesqui-
baixo teor de ferro. A Vale optou pela utilização pioneira dos sepa- engenheiros metalúrgicos, químicos, geólogos, físicos e outros. sa e fechou parcerias com 36 instituições nacionais e internacio-
radores magnéticos. nais, como a Embrapa, o CNPq, o MIT (Massachusetts Institute of
“A hematita estava rareando, e o minério então disponível, que Technology) e a EPFL (École Polytechnique Fédérale de Lausanne),
157 - Luiz Mello, diretor-presidente do ITV: “Para pensar o futuro”, Revista Pesquisa, Fapesp,
também contém ferro, mas numa outra forma, era o itabirito, com da Suíça.
n. 177, novembro de 2010. Disponível em: <http://www.vale.com/pt-br/sustentabilidade/
teor mais pobre de ferro. Implementar o uso de separadores mag- destaques/Paginas/luiz-eugenio-mello-para-pensar-o-futuro-parte-6.aspx>. Além das ações em parceria para o incentivo à pesquisa, o ITV
néticos de alta intensidade possibilitou à Vale beneficiar o itabiri- 158 - Ver Relatório Form 20-F 2008. vai construir um conjunto de estruturas físicas distribuídas pelo
to. Esse processo inovador é considerado o primeiro grande salto 159 - Ver release “Vale desenvolve pesquisa para agregar valor à cadeia siderúr- Brasil e terá um corpo próprio de pesquisadores com excelência
gica mundial”. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.
asp?id=20352>.
156 - João Furtado, economista, em palestra proferida no auditório da Vale, em setembro 160 - Idem. 162 - Idem.
de 2011. 161 - Idem. 163 - Idem.
165 - Ver “Vale e BNDES criam empresa de pesquisa de energia”, Agência Estado, 7/1/2008. Com capacidade para gerar 1.000 kW, energia suficiente
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,vale-e-bndes-criam- para atender a uma cidade de 3 a 4 mil pessoas, a
-empresa-de-pesquisa-de-energia,105393,0.htm>.
turbina a gás da Vale Soluções em Energia (VSE), em São
164 - Ver release “Vale cria Instituto para incentivar pesquisa científica e tecnológica”, 166 - Idem. José dos Campos, São Paulo, pode emitir, dependendo da
Vale, 8/9/2011. Disponível em: <http://200.225.83.165/saladeimprensa/pt/releases/release. 167 - Ver: <http://www.vale.com.br/pt-br/o-que-fazemos/energia/vale-solucoes-em-ener- faixa de potência, de 15% a 40% menos poluentes que
asp?id=20353>. gia/paginas/default.aspx>. uma turbina movida a diesel, usada em termelétricas.
10.9 Meio ambiente CO2 e a fixação do carbono, por meio das atividades naturais de fo-
tossíntese realizadas pelas florestas. Essa iniciativa torna-se impor-
No decorrer de seus 70 anos, um dos maiores desafios da Vale foi tante na medida em que grande parte das emissões brasileiras de
criar soluções que minimizem o impacto de suas atividades. O ITV, gases do efeito estufa (GEE) é decorrente de desmatamentos, quei-
com foco no desenvolvimento sustentável, em Belém (PA) – um dos madas e outras mudanças de uso do solo.172
mais arrojados investimentos da empresa –, destina-se fundamen-
talmente a isso. A Vale sempre esteve lado a lado com projetos que Fundo Vale
propusessem contemplar, ao mesmo tempo, a geração de riquezas Criado por iniciativa da Vale em 2009, o Fundo Vale para o Desenvol-
e a proteção ao meio ambiente. O Projeto Vale Florestar, lançado em vimento Sustentável é um fundo de cooperação que atua em parce-
2007, faz parte dessa proposição. Em maio de 2010, com a parceria ria com instituições públicas e organizações do terceiro setor com
do BNDES, da FUNCEF e da Petros, o projeto evoluiu para a criação um objetivo comum: deixar um legado positivo e estratégico para as
da Vale Florestar S.A. próximas gerações e promover o desenvolvimento sustentável.
O objetivo da empresa é reabilitar áreas desmatadas ou degra- Instituição sem fins lucrativos, o Fundo Vale participa de proje-
380 dadas da Amazônia com ações de recuperação e regeneração de tos estruturantes e transformadores, conciliando conservação e 381
matas nativas, combinadas com o plantio de florestas industriais. uso sustentável dos recursos naturais com a melhoria das condi-
Seu campo de atuação, no entanto, não está restrito ao meio am- ções socioeconômicas regionais.
biente. A Vale Florestar busca também estimular o desenvolvimen- Os projetos são realizados por organizações que possuem com-
to econômico e social sustentado da região leste do Pará, em muni- provada experiência em campo e buscam respostas eficazes para as
cípios situados no Arco do Desmatamento, bem como contribuir questões centrais da macrossustentabilidade.
para a ocupação ordenada do território.168
A Vale, o BNDES e os fundos de pensão dos funcionários da Uso racional da água
Caixa Econômica Federal (FUNCEF) e da Petrobras (Petros) inte- Em 2010, os investimentos para controle e proteção ambiental da
gram o Fundo de Reflorestamento, que tem um patrimônio de R$ Vale foram de US$ 737 milhões, com um aumento de 27% em rela-
605 milhões. Os recursos iniciais foram investidos na empresa ção ao ano anterior. Do total, US$ 529 milhões ficaram no Brasil.
Vale Florestar S.A., focada no desenvolvimento de negócios flo- Entre outros pontos, esses recursos foram utilizados para geren-
restais no Brasil. 169 A meta era chegar à área total de 450 mil hec- ciar o uso e as disponibilidades hídricas, evitando o desperdício
tares em 2022 – dos quais 150 mil seriam destinados ao plantio de de água, economizando energia e prospectando a disponibilidade de
florestas industriais e 300 mil à proteção e à recuperação de flo- água para projetos futuros.173
restas nativas. 170 A água é um insumo de absoluta relevância para as atividades
A ideia é que os empreendimentos também disseminem a tradi- de mineração, demandando intervenções nos recursos hídricos su-
ção da silvicultura em bases sustentadas, colaborando para reduzir perficiais e subterrâneos. Seu uso mais intenso ocorre nas ativida-
a pressão sobre a mata nativa. A área de atuação da Vale Florestar des de rebaixamento de nível d’água para lavra em zonas satura-
abrange os municípios de Dom Eliseu, Ulianópolis, Paragominas, das; nas usinas, onde também é utilizada para tratamento de
Rondon do Pará, Abel Figueiredo e Bom Jesus do Tocantins, que, se- minérios e resfriamento; na limpeza de vias de acesso e pátios
gundo o Macrozoneamento Ecológico-Econômico (MZEE) do Estado de matérias-primas e produtos. Além disso, a água é consumida
do Pará, estão localizados em uma zona de consolidação e expan- nos processos de pelotização, no transporte de minério e na lava-
são das atividades produtivas em território já desmatado.171 gem de equipamentos e peças.174
Com suas ações diretas – reflorestamento, replantio, regenera- Por isso, ainda em 2010, a Vale intensificou as pesquisas para ra-
ção de áreas danificadas –, a Vale Florestar promove o sequestro de cionalização de uso e reúso da água. Com o uso mais racional do re-
curso, a taxa de recirculação e reutilização de água da empresa
chegou a expressivos 79%. Isso significa que, naquele ano, de 1,2 bi-
168 - Ver BNDES, “BNDESPAR participará do Fundo Vale Florestar com aporte de R$
lhão de litros necessários para as operações da Vale, 269 milhões
121 milhões”, Sala de Imprensa, 5/5/2010. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/
SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Noticias/2010/meio_
amb/20100505_reflorestamento.html>.
169 - Ver release “Vale, BNDES, FUNCEF e Petros se aliam para constituir um dos maio- 172 - Idem.
res fundos de reflorestamento do Brasil”, Vale, 5/5/2010. Disponível em: <http://saladeim- 173 - Relatório de Sustentabilidade 2010.
prensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=19768>.
174 - Idem. Ver também release “Vale conclui 5a barreira de vento do Complexo de Tubarão”,
170 - Idem. Vale, 20/10/2011. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.
171 - Idem. asp?id=21145>.
382 foram retirados da natureza; todo o restante foi abastecido por Para o desenvolvimento das barreiras de vento, a Vale contou O S11D, em Canaã dos Carajás, começará a utilizar em larga escala Toda a inovação tecnológica servirá, na S11D, para reforçar o 383
água de reúso. com pesquisas iniciadas em 2005, na Universidade Federal do Rio as correias de transporte de minério em substituição aos cami- modelo sustentável adotado pela Vale, que prevê a redução signifi-
No início de 2010, a Vale desenvolveu uma experiência inédita Grande do Sul (UFRGS). Em 2007, contratou o Midwest Research nhões fora de estrada. No bloco S11D, o transporte de minério pode- cativa do uso da água (pelo processo de beneficiamento a umidade
para suas operações em Carajás: uma tecnologia que reduz o uso Institute (MRI), entidade americana especializada em controle rá ser feito pelas correias transportadoras, que movimentam o mi- natural do minério), eliminação das barragens de rejeitos e a dimi-
de água em suas atividades na região. Para isso, passou a fazer o pe- ambiental, que determinou a dimensão e a configuração ideal das nério entre os diversos pontos da mina de uma forma rápida, limpa nuição da emissão de carbono. As instalações industriais ficarão em
neiramento usando a umidade do minério.175 barreiras, de acordo com o tipo de pátio. 179 e barata. áreas de pastagem, fora da Floresta Nacional de Carajás. Resultado
Essa nova técnica, chamada beneficiamento a umidade natural, A partir daí, foram desenvolvidos os projetos e iniciadas as obras O S11D é um dos projetos mais inovadores da mineração mundial de cinco anos de estudos ambientais e de engenharia, o Projeto
economiza, nas operações em que foi implementada, o equivalente no Complexo de Tubarão. Durante a implantação, foram construí- e prevê a extração de 90 milhões de toneladas de minério de fer- S11D reúne todo o aprendizado da Vale na mineração em Carajás.
a um ano de consumo de água numa cidade de 430 mil habitantes, das quatro torres de 23 metros de altura em volta do pátio, onde fo- ro anuais apenas três anos após sua instalação. Para efeito de “Uma das questões mais inquietantes que se colocam no proces-
além de 18 mil MW/ano – e ainda dispensa a construção de barra- ram instalados monitores contínuos de material particulado e de comparação, a maior mina de minério de ferro a céu aberto do so de desenvolvimento sustentável do Brasil é o do desequilíbrio en-
gens de rejeitos.176 direção e velocidade de vento. Após quatro meses de monitoramen- mundo, na Serra dos Carajás, só atingiu a mesma marca três dé- tre as condições de vida dos habitantes de suas diferentes regiões” –
to, os resultados mostraram que a wind fence reduziu as emissões de cadas após o início do funcionamento. 183 O S11D foi todo concebi- afirma o professor Paulo Haddad no documento A importância do
Wind fences poeira em 77,4%.180 do como modelo de uma mineração inteligente, com menos cus- Projeto Ferro Carajás S11D para o processo de desenvolvimento nacional
A primeira vez que a Vale pôs em prática a ideia de levantar barrei- Além das barreiras de vento, a Vale investiu em outras melho- tos, menos gasto de água e menos agentes poluidores. da Região Norte do Brasil. “Quando se observa a distribuição geográfi-
ras artificiais para o vento – as wind fences – foi em 2009, no Comple- rias para reduzir a emissão de particulados. Uma das mais signifi- O uso das correias transportadoras reduz custos operacionais e ca dos novos projetos de investimentos do setor mineral do país, em
xo de Tubarão (ES). A wind fence foi criada para evitar a suspensão cativas foi a implantação, em 57 pontos, de enclausuramento de ca- permite diminuir emissões de gás carbônico. Se a mina S11D fosse to- fase de implantação ou detalhamento técnico, estimados inicial-
de particulados provocada pela ação do vento – um instrumento sas de transferências de correias transportadoras de minério e talmente operada por caminhões fora de estrada, teria mais de 100 mente em US$ 54 bilhões, destaca-se que, em sua grande maioria,
importante para o controle de poluição atmosférica. É uma estrutu- pelotas, com o objetivo de impedir a dispersão da poeira nos pontos veículos circulando, os quais consumiriam 65 milhões de litros de die- estão localizados na periferia tradicional ou na periferia dinâmica,
ra engenhosa: trata-se de uma barreira de vento feita de uma espé- onde o material é transferido de uma correia para a outra.181 sel por ano. Com as correias transportadoras, o consumo de diesel contribuindo para atenuar os desequilíbrios regionais de desenvol-
cie de grade metálica fechada por telas de polipropileno. Essa cerca Outra forma de capturar a poeira é por meio da utilização dos passa a ser de 15 milhões de litros anuais, economia de 77%. Por fim, vimento do Brasil. É o caso do Projeto Ferro Carajás S11D, localiza-
pode conter ventos de até 120 quilômetros por hora.177 precipitadores eletrostáticos. O uso desse equipamento nas usinas deixam de ser usados 174 pneus de grande dimensão, que são troca- do na região do país que necessita avançar o seu progresso econô-
As wind fences foram implantadas ao redor dos pátios de arma- de pelotização chega a 21 unidades. Eles têm capacidade para filtrar dos a cada ano (cada pneu tem mais de três metros de altura).184 mico e social”, completa Haddad.
zenamento da Vale, em Tubarão, para permitir maior controle sobre 99% das emissões de poeira resultantes dos fornos de pelotização. Em Canaã dos Carajás, está prevista a construção de 37 quilô- E os novos trilhos da empresa não se limitam ao uso das correias
emissão na atmosfera de partículas de minério, de pelotas e de car- Diferentemente das wind fences, que são estruturas físicas, os preci- metros de correias transportadoras por dentro das minas, que irão transportadoras nas minas. Com as operações na S11D, a Estrada de
vão. No total, são 9 quilômetros de tela instalados. Cada barreira pitadores eletrostáticos trabalham criando um campo que captura se conectar ao tronco principal e, após percorrer mais 9,5 quilôme- Ferro Carajás, usada para levar o minério até os portos, ganha mais
tem uma vez e meia a altura da pilha do produto protegido, resul- os poluentes, liberando o gás limpo para a atmosfera.182 tros, chegar até a usina de beneficiamento. O fato de a mina estar 100 quilômetros de extensão, até Canaã dos Carajás. Ao mesmo
tando em uma altura média de 24 metros.178 em um desnível de 450 metros em relação à usina também é um tempo, o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, onde acontece o
Carajás: Projeto S11D ponto a mais em favor do uso das correias, capazes de vencer o tra- transbordo do minério de ferro nos navios que levam o produto
O mais ambicioso projeto de mineração da Vale na década de 2010 jeto com mais facilidade que os caminhões. para o exterior, vai ganhar mais um píer. Até 2015, a capacidade de
tem, desde sua concepção, a preocupação com a sustentabilidade. embarque vai aumentar para 230 milhões de toneladas ao ano,
175 - Ver release “Vale desenvolve tecnologia que reduz o consumo de água de suas ope- quase o dobro da capacidade atual.185
rações em Carajás”, Vale, 19/3/2010. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/ 183 - Ver release “Instituto Tecnológico Vale promove debate sobre a mineração do futuro”,
release/interna.asp?id=20358>. 179 - Idem. Vale, 6/12/2010. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.
asp?id=20348>.
176 - Idem. 180 - Idem.
184 - “Vale importa tecnologia que tira caminhões de dentro das minas”, Valor Econômico, 185 - “Vale prepara maior expansão da história em Carajás”, iG Economia, 26/7/2010. Dispo-
177 - Relatório de Sustentabilidade 2009. 181 - Idem. 3/3/2011. Disponível em: <http://www.valor.com.br/arquivo/875549/vale-importa-tecno- nível em: <http://economia.ig.com.br/empresas/industria/vale+prepara+maior+expansao
178 - Idem. 182 - Idem. logia-que-tira-caminhoes-de-dentro-das-minas>. +da+historia+em+carajas/n1237726862142.html>.
Em 2009, a Vale foi a mineradora de grande porte com menor na Mina de Carajás, no Pará.
388 ser comprovada no mercado brasileiro, como exemplifica o de- Instituição sem fins lucrativos, sediada em Londres, o Carbon documento prevê a publicação de três relatórios sobre mudanças 389
sempenho do ISE, que, durante o ano de 2010, teve alta de 5,8%, Disclosure Project lança anualmente um relatório sobre as ações do clima e seus impactos em vegetação, agricultura, biodiversidade
acima, portanto, do registrado pelo Ibovespa, de 1,04%. 193 das principais empresas do mundo na área de mudanças climáti- e capacidade de geração de energia nos estados do Pará e do Mara-
Nesse contexto, diversos bancos e instituições de pesquisa e cas. Atualmente, a organização representa mais de 3 mil investido- nhão, onde a empresa tem importante presença.
suporte a investidores vêm solicitando uma ampla gama de infor- res que, juntos, combinam US$ 57 trilhões sobre seu controle.196 Em 2009, a Vale foi a mineradora de grande porte com menor in-
mações que, aliadas à consolidação da metodologia GRI,194 ser- A inclusão no ranking do CDP era resultado do Programa Car- tensidade de emissões de gases do efeito estufa por receita, de acor-
vem como um guia para ações de melhoria constante e busca das bono Vale, cujas bases foram criadas em 2007. O programa é o do com o levantamento feito pelo Carbon Disclosure Project, e foi
melhores práticas. Mais do que o ingresso em 2010, a permanên- plano de ação do documento Diretrizes Corporativas sobre Mudanças listada entre as cinco melhores no ranking multissetorial do Relató-
cia da Vale no ISE em 2011 reafirmava o compromisso e o acerto Climáticas e Carbono, que a Vale lançou em setembro de 2009, no rio Goldman Sachs Sustain – Focus List,201 publicado pelo banco de
das medidas tomadas pela empresa na área de sustentabilidade e Fórum de Sustentabilidade, na Federação das Indústrias do Rio de investimentos americano Goldman Sachs, que analisa oportunida-
gestão ambiental. Janeiro (FIRJAN). 197 des e desafios relacionados com o tema. Era também, de acordo
Em 2008, as emissões de gases do efeito estufa (GEE) da empre- com o relatório do mesmo banco – que mede retorno de capital, te-
Carbon Disclosure Leadership Index sa foram de 16,8 milhões de toneladas de CO2 equivalente – um mas da indústria e sustentabilidade –, uma das quatro empresas
Em 2008, a Vale foi a única empresa da América Latina lista- crescimento de 10% em relação a 2007. Esse aumento ocorreu prin- mundiais mais sustentáveis no setor de mineração.
da no Carbon Disclosure Leadership Index. O ranking, divulgado cipalmente devido à incorporação das unidades da Vale na Austrá- Já no tradicional relatório sobre avaliação de empresas, que en-
em setembro daquele ano, avaliava as maiores empresas incluí- lia e ao aprimoramento da metodologia de cálculo das emissões.198 globa aspectos financeiros, estratégicos e de sustentabilidade, des-
das no índice Global 500, da Bolsa de Valores de Nova York. Des- Desde 2008, com o lançamento das Diretrizes Corporativas sobre tinado a investidores, o GS Sustain situava a empresa entre as cin-
se total, foram escolhidas 67 empresas intensivas e não intensi- Mudanças Climáticas e Carbono,199 a empresa vem, ano após ano, e em co melhores do mundo no segmento de materiais básicos (setores
vas em carbono que são modelos em transparência e na adoção diversas frentes, adotando ações para a redução da emissão de CO2 de metais industriais, preciosos, aço e químicos).202
de práticas para diminuição de suas emissões. Entre as seis com- e propondo medidas para minimizar o impacto ambiental de suas O GS Sustain elabora rankings setoriais com base em três dimen-
panhias do setor de Matéria-Prima, Mineração, Papel e Embala- operações. Em 2010, foi emitida 0,65 tonelada de substâncias des- sões: Qualidade da Gestão-Sustentabilidade (ambiental, social e go-
gens listadas como líderes, a Vale foi a empresa que registrou o truidoras da camada de ozônio (SDO), similar a 2009. O resultado vernança corporativa); Posição na Indústria (acesso a crescimento
menor índice de intensidade de emissões de gases do efeito estu- reflete também o esforço da empresa na melhoria na coleta de da- rentável, operações de baixo custo); Retorno sobre Capital (Croci –
fa (GEE) em 2007, segundo critério de emissão por receita adota- dos em relação ao ano anterior.200 “cash return on capital invested” – e ROE – “return on equity”).203 A
do pela organização. 195 O Programa Carbono contemplava o convênio, assinado em abril posição em um ranking que equaliza sustentabilidade, qualidade e
de 2009, com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O dividendos não deixava dúvidas: a Vale chegava ao fim de 2010 com
a certeza de que tinha oxigênio para ir muito além.
193 - Relatório de Sustentabilidade 2010.
194 - Metodologia mais difundida e adotada atualmente para a elaboração de relatórios 196 - Idem.
de sustentabilidade em todo o mundo. As diretrizes da GRI propõem um novo processo de 197 - Idem.
elaboração do relatório, sendo um importante diferencial de sua aplicação a mudança na
gestão das empresas, o que faz da metodologia um instrumento de promoção de susten- 198 - Ver release “Vale aumenta para 76% o índice de reaproveitamento de água em suas
tabilidade, mais do que uma ferramenta para elaboração de relatório. Ver: <http://www. operações no mundo”, 20/8/2009. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/ 201 - Ver release “Relatórios do Goldman Sachs colocam a Vale entre as corporações mais
gvces.com.br/index.php?r=site/conteudo&id=33>. release/interna.asp?id=19141>. sustentáveis do mundo”, 17/8/2009. Disponível em: <http://www.cvrdint.com/saladeim-
199 - Ler mais em: <http://www.vale.com.br/pt-br/sustentabilidade/mudancas-climati- prensa/pt/releases/release.asp?id=19123>.
195 - Ver release “Vale é a única empresa da AL listada no ranking do Carbon Disclosure
Project”, 26/9/2008. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna. cas/Documents/Diretrizes_Corp_sobre_Mudancas_Climaticas_Carbono.pdf>. 202 - Idem.
asp?id=18426>. 200 - Relatório de Sustentabilidade 2010. 203 - Idem.
10.10 Uma das melhores mineradoras do mundo exportado pela Ásia. Um exemplo disso é a utilização do Estreito de
390 Malaca, a oeste da Malásia, a fim de otimizar sua logística interna- 391
Em maio de 2011, a Vale conheceu um novo diretor-presidente: cional. A ideia é usar o canal de 800 quilômetros como plataforma
Murilo Ferreira. Era um nome com história dentro da empresa. Até exportadora, encurtar distâncias e disputar o mercado chinês em
ser indicado para o posto, Ferreira tivera uma bem-sucedida carrei- pé de igualdade com as concorrentes australianas. Para isso, a Vale
ra dentro da Vale. Começou em 1988, como diretor da Vale do Rio passará a contar também com um terminal portuário e um centro
Doce Alumínio (Aluvale), passou pela Diretoria Executiva de Níquel de distribuição com capacidade para estocar 30 milhões de tonela-
e Comercialização de Metais Básicos e chegou à presidência da Vale das de minério em Teluk Rubiah, província na região desértica de
Inco (no Canadá), que ocupou até 2008. Em seus primeiros discur- Perak, na Malásia.206
sos como diretor-presidente, Murilo Ferreira destacou que os em- Ampliando sua presença no exterior – especialmente na Ásia –,
pregados são o principal ativo da empresa: “Eu acredito fortemente a Vale dava início, em março de 2011, à produção de sua primeira
nas pessoas que trabalham comigo, acredito fortemente que alcan- planta de pelotização no complexo industrial da empresa em Sohar,
çamos melhores resultados com um time integrado, afeito a supe- no Sultanato de Omã. Com investimentos de US$ 1,35 bilhão, a
rar quaisquer dificuldades trazidas pelas instabilidades econômi- planta de pelotização e o centro de distribuição servirão como hub
cas mundiais.” para atender à crescente demanda por produtos de minério de fer-
A Vale fechara o ano anterior acumulando recordes seguidos em ro no Oriente Médio, no Norte da África e na Índia.207
todos os setores, com um lucro de US$ 30,1 bilhões. O resultado era Do mesmo jeito que via a Ásia como um mercado a ser conquis-
42,6% superior ao de seu melhor ano até então, 2008.204 O balanço tado em definitivo, a empresa realizava na África um robusto inves-
final de 2011 foi ainda melhor. O ano fecharia com três recordes timento. No dia 8 de maio de 2011, tinham início as atividades de la-
anuais de produção: 322,6 Mt de minério de ferro, 51,8 Mt de pelo- vra na Mina Carvão Moatize, na província de Tete, em Moçambique.
tas e 7,3 Mt de carvão.205 Essa etapa antecedia a operação da usina de processamento, visan-
Os índices alcançados pela empresa acompanhavam o bom de- do ao início da produção, em julho daquele ano. Esse projeto é o
sempenho geral do país, que naquele ano chegaria à sétima coloca- maior investimento da Vale no setor de carvão.208 No primeiro ano
ção no ranking das maiores economias do mundo. A Vale de 2011 era de funcionamento, 275 mil toneladas de carvão metalúrgico e 212
mais internacional, diversificada e voltada para as ações socioam- mil toneladas de carvão térmico foram produzidos na mina.209
bientais. A empresa atingira um ponto em que já não bastava ser a Em março de 2011, a Vale começava a produzir níquel (mina e
maior; pretendia ser também a melhor. Para isso, a Vale teria de sa- planta de processamento) em Onça Puma, no Pará, com capacidade
ber conciliar o passado e o futuro. nominal de produção de 53 mil toneladas métricas por ano de
Navegar é preciso
O investimento no transporte marítimo, por meio dos Valemax, 206 - “Vale aposta na Malásia para bater BHP Billiton e Rio Tinto”, Brasil Econômico, 21/7/2011.
Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/noticias/interna.asp?id=20872>.
veio acompanhado de estratégias para melhor distribuir o minério
207 - “Vale inicia produção de pelotas em Omã”, Sala de Imprensa, 30/4/2011. Disponível
em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=20651>.
208 - “Vale inicia atividades de lavra na Mina de Moatize”, Sala de Imprensa, 8/5/2011. Dis-
204 - Relatório de Sustentabilidade 2011. ponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.asp?id=20669>.
205 - Idem. 209 - Relatório de Produção 2011.
níquel contido em ferro-níquel, seu produto final. Onça Puma está por ano (Mtpa) de pellet feed. Com a iniciativa, a Vale começava, em
construída sobre uma jazida de níquel laterítico saprolítico e a pro- suas minas de ferro no Brasil, um projeto pioneiro, em escala in-
dução, em 2011, atingiu a marca de 7 mil toneladas métricas.210 dustrial, que pode aumentar a vida útil das reservas e reduzir o
impacto ambiental.214
A elevação do rating da Vale para A- pela Standard & Poor’s O objetivo do empreendimento é o reaproveitamento de miné-
A soma de investimentos, diversificação, bons resultados e compro- rios ultrafinos de ferro e manganês, rejeitos do processo da minera-
392 missos socioambientais – além do fôlego demonstrado para rever- ção que antes eram depositados em pilhas de estéril ou em barra- 393
ter momentos de crise – iria se refletir entre as agências que medem gens de rejeito (lagos artificiais). Nas pilhas de estéril são estocados
o desempenho das empresas nos mercados internacionais. Em 23 todos os resíduos recolhidos in natura dentro da cava, enquanto às
de novembro de 2011, a Standard & Poor’s Ratings Services elevou barragens são destinados os rejeitos produzidos durante o proces-
as avaliações na escala global atribuídas à mineradora brasileira samento do minério, nas chamadas unidades de beneficiamento.215
Vale S. A. (“Vale”) e à sua subsidiária Vale Canada Ltd. (“Vale no Ca- Conceição-Itabiritos é um projeto inovador baseado em tecnolo-
nadá”) de “BBB+” para “A-”, e reafirmou o rating “brAAA” na Escala gias desenvolvidas pela própria Vale que permitirão transformar
Nacional Brasil da empresa.211 materiais estéreis, até então inviáveis economicamente, em produ-
A Standard & Poor’s faz análise das performances das empresas tos de valor reconhecido pelo mercado. Com isso, a Vale espera con-
nas bolsas internacionais, atribuindo-lhes notas de risco que vão de solidar a tecnologia de beneficiamento de itabiritos de baixo teor
AAA (melhor) a D (pior). Segundo a agência, a nota atribuída à Vale (com cerca de 40% de minério de ferro), possibilitando assim a apli-
devia-se à “demonstração de compromisso com a prudência finan- cação em outras minas.
ceira e um nível de flexibilidade que lhe permite adaptar-se ao am- Setenta anos haviam se passado desde que, em 1942, a Compa-
biente global mais difícil”.212 nhia Vale do Rio Doce fora criada por decreto assinado pelo presi-
dente da República Getúlio Vargas. Em 2010, Itabira, que 70 anos
Longa vida a Itabira antes ainda era uma pacata cidade dependente exclusivamente da
Itabira, a cidade mineira que serviu como berço da Companhia Vale mineração, se modernizara, já era o quarto município mineiro em
do Rio Doce, seria, quase 70 anos depois, palco de um dos projetos qualidade de vida e continuava a ser um dos focos principais de
mais inovadores da empresa. Ali a tecnologia seria utilizada para atuação da Vale.216
expandir o horizonte da mineração. Em junho de 2011, a Vale anun- Em 70 anos, as moedas mudaram de nome, guerras começaram e
ciava investimento de R$ 3,8 bilhões (a serem gastos até 2014) para acabaram, novas tecnologias apareceram e desapareceram, países
a implantação do projeto Conceição-Itabiritos, lançado em março surgiram e sumiram do mapa, o mundo se globalizou – e a antiga
do ano anterior.213 CVRD passou à iniciativa privada e agora se chama apenas Vale. Ao
O projeto prevê a construção de uma Instalação de Tratamento de longo de sua história, a empresa aprendeu a enfrentar os desafios à
Minério (ITM), com capacidade produtiva de 12 milhões de toneladas sua frente. Afinal, tem como missão transformar recursos naturais
em prosperidade e desenvolvimento sustentável, com uma mistura
de conhecimento, inovação e arte – e assim seguir adiante.
210 - Relatório Form 20-F 2011, p. 40.
211 - “Ratings da Vale elevados de ‘BBB+’ para ‘A-’ por sólido desempenho e comprometi-
mento com políticas prudentes: perspectiva estável”, Standard & Poor’s. Disponível em:
<http://www.standardandpoors.com/ratings/articles/pt/la/?articleType=HTML&asse 214 - Ver release “Vale adota no Brasil projeto pioneiro de reaproveitamento de minério
tID=1245324742181>. de ferro”, 26/7/2010. Disponível em: <http://saladeimprensa.vale.com/pt/release/interna.
212 - “Standard & Poor’s eleva nota de crédito da Vale”, G1, 23/11/2011. Disponível em: asp?id=20354>.
<http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2011/11/standard-poors-eleva-nota-de- 215 - Idem.
-credito-da-vale.html>. 216 - “Itabira é a quarta cidade de Minas Gerais em qualidade de vida.” Disponível em:
213 - “Vale vai reaproveitar minério descartado”, Folha de S. Paulo, 28/6/2011. Disponível em: <http://www.itabira.mg.gov.br/novoportal/index.php/noticias/59-governo/245-itabira-e-a-
<http://saladeimprensa.vale.com/pt/noticias/interna.asp?id=20766>. -quarta-cidade-de-minas-gerais-em-qualidade-de-vida>.
1 - A eleição, realizada por voto popular pela internet, foi feita a partir de uma lista com
100 opções elaboradas pelo site Hillman Wonders of the World (disponível em: <http://
www.hillmanwonders.com>) e contemplou também, entre outras, a cidade peruana de Ma-
chu Picchu e a Muralha da China.
2 - Corcovado no Rio de Janeiro, disponível em: <http://www.corcovado-rio.com/historia.
htm>.
3 - “Restauração do Cristo começa esta semana e vai custar R$ 7 milhões”, O Globo,
26/1/2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1463709-5606,00-RE
STAURACAO+DO+CRISTO+REDENTOR+COMECA+ESTA+SEMANA+E+VAI+CUSTAR+R+MIL
HOES.html>.
4 - “Congresso de art déco resgata maior projeto de Landowski”, Folha Ilustrada, 15/8/2011. Vista aérea do
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/959592-congresso-de-art-deco- Cristo Redentor, no
-resgata-maior-projeto-de-landowski.shtml>. Rio de Janeiro.
Aceiro | Terreno desbastado de Break bulk | Sistema de transporte Concessão de lavra | Dormentes | Peças de madeira ou Folha de flandres | Folha de Hematitinha | Produto de minério
vegetação, que se abre em torno marítimo de carga geral, Autorização concedida pelo metal que, postas espacejadamente aço com baixo teor de carbono, de ferro destinado aos altos-fornos
ou através das matas para evitar transportada solta e em volumes Departamento Nacional de Produção lado a lado, atravessam o leito revestida em ambas as faces de pequeno porte a carvão vegetal.
a propagação de incêndios. individuais, diferenciando-se da Mineral (DNPM) para uma empresa de uma estrada de ferro e sobre com camada de estanho. É utilizado basicamente pelas
Alto-forno | Reator de secção transportada em contêineres. lavrar determinado bem mineral. as quais se fixam os trilhos. Fundição | Processo metalúrgico empresas que compõem o parque
circular variável, com alta relação Britagem | É o primeiro estágio Conteinerizar | Termo utilizado Dragagem | Serviço de escavação nos que consiste em obter um guseiro brasileiro. Sua granulometria
altura/diâmetro, utilizado para mecânico de cominuição de minérios. para expressar a unitização de canais dos portos para manutenção produto sólido a partir do metal encontra-se entre 6 mm e 19 mm.
a fabricação de ferro-gusa. A britagem reduz os blocos ou cargas em contêineres. Trata-se ou aumento dos calados. em estado líquido, mediante sua Itabirito | Rocha bandada, alternando
partículas do minério lavrado de um método de expedição em solidificação em um molde. níveis milimétricos a centimétricos
Altos-fornos de coque | Reatores que Enrocamento | Conjunto de blocos de
até tamanhos adequados para que os produtos são colocados de hematita (com ou sem magnetita)
utilizam coque como combustível. pedra (ou de outro material, como, Ganga | Porção de minério
a operação de moagem. em contêineres e, depois do com níveis siliáticos, geralmente de
Beneficiamento | Uma variedade por exemplo, cimento) lançados uns sem valor econômico.
carregamento inicial, não tornam a quartzo. É uma BIF (conferir verbete)
de processos pelos quais o minério Britagem em lumps | Britagem sobre os outros dentro d’água para Garimpagem | Atividade de
ser movimentados na expedição, até ou formação ferrífera bandada
extraído das minas é reduzido a do minério em granulados. servir como lastro para a fundação aproveitamento de substâncias minerais
396 o momento da descarga no destino. metamorfizada. Normalmente apresenta 397
partículas que podem ser separadas Britagem terciária | de obra hidráulica quando aflorados garimpáveis, executada em áreas
Coque | É o carvão processado em à superfície ou, se muito extensos, baixas concentrações de ferro.
em mineral e refugo (resíduo), sendo Fragmentação obtida em uma estabelecidas para esse fim, sob regime
forno de coque, utilizado como como quebra-mar ou proteção Jazida | É toda massa individualizada de
o primeiro adequado para novo terceira fase de britagem. de permissão de lavra garimpeira.
agente redutor em alto-forno e em contra a erosão das ondas. substância mineral (ou fóssil) aflorante
processamento ou utilização direta. Bucket wheel Geologia | Ciência que se ocupa do
fundições para transformação do ou existente no interior da crosta
BIF (Banded Iron Formation ou (recuperadora de minério) | Estéril | Solo ou rocha não mineralizada estudo da Terra – origem, estrutura,
minério de ferro em ferro-gusa. terrestre que tenha valor econômico.
Formação Ferrífera Bandada) | Uma das maiores máquinas ou com mineralização inferior a composição, evolução, assim como
Cored wire | O processo de injeção níveis economicamente viáveis. Lavra | Conjunto de operações
Rocha sedimentar ou metassedimentar terrestres do mundo, a escavadeira causas e processos que deram
de ligas por cored wire é utilizado necessárias à extração industrial
química ou vulcanoquímica finamente rotativa é usada para remover Exaustão | Fase final da vida útil origem ao seu estado atual.
em aplicações metalúrgicas em que de substâncias minerais ou
estratificada, apresentando camadas grandes quantidades de minério. de uma mina, quando não existe Granéis sólidos | Soja, minério,
é essencial um rígido controle dos fósseis de uma jazida.
de óxidos, carbonatos ou silicatos Car dumper | Chamado de mais reserva de minério que possa carvão, entre outros.
elementos químicos nos aços.
de ferro alternadas com camadas virador de vagões, é um sistema ser lavrada economicamente. Lavra a céu aberto | Os métodos de
quartzosas, anfibólicas ou quartzo- Correia transportadora | Granulado | Minério de ferro ou minério lavra a céu aberto são classificados em
automático, operado pelo CCP Dispositivo constituído de uma esteira Exploração de minério | de manganês cujas partículas mais
-cloríticas. As camadas ferríferas (Centro de Controle de Pátio), que Fase de prospecção e pesquisa dois grupos: mecânicos e hidráulicos. No
bandadas podem desenvolver depósitos flexível, contínua, montada em grossas variam de 6,35 mm a 50 mm primeiro, mais frequente na explotação
literalmente gira os vagões em 180 estrutura, tracionada por meio de rolos, dos recursos naturais. de diâmetro, com pequenas variações
de ferro economicamente exploráveis, graus para descarga do minério. de minérios (como o ferro, o carvão,
como ocorre no Brasil com jazidas de destinada ao transporte de granéis. Explotação de minério | Conjunto de entre diferentes minas e minérios. a bauxita e o caulim), são usados
itabiritos de Minas Gerais, por exemplo. Catodo de cobre | Placa de cobre com Deadweight tonnage (dwt) | operações coordenadas, cujo objetivo é Granulometria | Maneira de expressar equipamentos mecânicos nas operações
pureza igual ou superior a 99,9%, É a capacidade de um navio para o aproveitamento industrial da jazida, as dimensões do conjunto de partículas de lavra por bancadas e por tiras. As
Blue dust | Termo usado quando produzida por processo eletrolítico. desde a extração das substâncias
o minério de ferro é tomado por transportar cargas, óleo combustível, de diferentes tamanhos, tendo como pedreiras produtoras de brita e as de
Código de Minas | Conjunto de depósitos, água, suprimentos e minerais úteis até o beneficiamento. referência escalas convencionais de rochas ornamentais, como o mármore,
hematita muito fina, macia. Como
os grãos de hematita muitas vezes leis brasileiras que disciplinam a tripulação. O peso útil (dwt) de Ferro-gusa | Ferro bruto produzido aberturas padronizadas por onde o granito e a ardósia, também utilizam
têm cor cinza-metálica, o fino pó descoberta, a pesquisa geológica um navio corresponde ao peso no estado líquido nos altos-fornos. tais partículas podem passar. métodos mecânicos. Já os métodos
do minério é chamado de poeira e a lavra de minérios no país. total que ele pode conter quando hidráulicos usam água ou soluções nas
Finos de minério de ferro Greenstone belt
azul (daí o nome blue dust). está na linha de carregamento. operações de lavra. Estão enquadradas
Cominuição | Fragmentação, (sinter feed) | Partículas de (cinturão de rochas verdes) |
Disco de pelotização | nessa segunda metodologia as seguintes
trituração. Redução de tamanho minério de ferro que variam de Cinturão pré-cambriano caracterizado
Dispositivo constituído de um prato formas de lavra: por desmonte
das partículas minerais. 0,15 mm a 6,35 mm de diâmetro. por conter rochas metamórficas de uma
giratório inclinado, com o objetivo hidráulico; por dragagem; por furos de
Concentração | Processo físico, Utilizados para sinterização. ou mais pilhas vulcanossedimentares
de aglomerar misturas úmidas de sonda; por lixiviação – técnica que aplica
químico ou biológico para aumentar FOB (Free on board) | O comprador de interesse econômico, como rochas
minério, formando pelotas cruas. solventes químicos –; e até mesmo com o
o teor do metal ou mineral. paga pelo embarque, pelo seguro e presumivelmente originadas de
uso de bactérias em seu processo.
Docas | Setor do porto; dique onde por todos os custos associados ao depósitos metálicos vulcanogênitos.
os navios atracam para conserto, Lingote | Metal ou liga sólida, na
transporte dos bens até o destino.
bem como para carga e descarga. forma do molde no qual foi vazado.
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do Museu Histórico Nacional/IBRAM/MINC, [1925] | Página 26 A - Jean- 109 A - Arquivo Jornal da Vale, 13/8/1964 | Página 109 B - Museu de Valores CAPÍTULO 7 Vantoen Pereira Jr. Acervo da Vale, 2005 | Página 310 - Dario Zalis. Acervo da Vale,
Baptiste Debret. Fundação Biblioteca Nacional, 1827 | Página 26 B - Fundação do Banco Central, 1978 | Página 111 - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página out. 2001 | Página 312 - Paulo Arumaa. Acervo da Vale, 2002 | Página 315 - Gisela
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Arquivo Nacional, [192-] | Página 30 - Museu de Valores do Banco Central do | Página 116 - Acervo da Vale, 1963 | Página 118-119 - Arquivo Jornal da da Vale, s/d | Página 222 - Antonio Ribeiro. Gamma-Rapho via Getty Images, 321 - Agência Vale, s/d | Página 322 - Vantoen Pereira Jr. Acervo da Vale, 2005
Brasil, 1911 | Página 31 - Erich Hess. Acervo da Vale, s/d | Página 33 - Serviço Vale, s/d | Página 120 - José Medeiros. Acervo Instituto Moreira Salles, 1963 | 3/6/1992 | Página 223 A - Beto Felício. Acervo da Vale, s/d | Página 223 B - | Página 324 - Paulo Arumaa. Acervo da Vale, 2002 | Página 325 - Maria do
Geológico e Mineralógico. Fundação Biblioteca Nacional, 1929 | Página 34-35 Página 121 - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 122 - Acervo da Vale, 1964 Jorge Sagrilo. Acervo da Vale, s/d | Página 225 - Beto Felício. Acervo da Vale, Socorro. Acervo da Vale, 2002 | Página 327 - Vantoen Pereira Jr. Acervo da Vale,
- Arquivo Jornal da Vale, 1935 | Página 36 A - Fundação Biblioteca Nacional, | Página 124 - José Medeiros. Acervo Instituto Moreira Salles, 1963 | Página s/d | Página 226 A - Beto Felício. Acervo da Vale, 1993 | Página 226 B - Beto 2005 | Página 328 - Dario Zalis. Acervo da Vale, 2002 | Página 329 - Dario Zalis.
[1939-1942] | Página 36 A - Arquivo Nacional, [192-] | Página 38 - Arquivo 127 - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 128 - Arquivo Nacional, 1/4/1966 | Felício. Acervo da Vale, 1994 | Página 228-229 - Beto Felício. Acervo da Vale, Acervo da Vale, 2002 | Página 331 - Celso Brando. Acervo da Vale, s/d | Página 332
Histórico do Museu Histórico Nacional/IBRAM/MINC, [192-] | Página 39 - Página 130 - Coleção José Clóvis Ditzel, 1966 | Página 132-133 - José Medeiros. 1994 | Página 231 - Antonio Andrade. Arquivo Jornal da Vale, 1990 | Página A - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 332 B - François Lochon. Gamma-Rapho
Arquivo Nacional, [192-] Acervo Instituto Moreira Salles, 1963 | Página 134 - Arquivo Jornal da Vale, 232 - Cristina Zappa. Acervo da Vale, s/d | Página 233 A - Dario Zalis. Acervo via Getty Images, 2/4/2011
s/d | Página 135 A - Coleção Carlos Nunes de Lima | Página 135 B - Acervo O da Vale, 2000 | Página 233 B - Jorge Sagrilo. Acervo da Vale, 1995 | Página
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CAPÍTULO 2 Portos e Navios, 1990 | Página 238 - Dario Zalis. Acervo da Vale, 2002 | Página CAPÍTULO 10
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Página 40 A - Acervo da Vale, 1944 | Página 40 B - Fundação Biblioteca CAPÍTULO 5 s/d | Página 243 - Paulo Santos. Acervo da Vale, 20/2/2006 | Página 244-245 Página 334 - J. L. Bulcão. Pulsar Imagens, fev. 2011 | Página 337 - Acervo da
Nacional, 1942 | Página 42 A - Acervo Iconographia, 24/10/1930 | Página 42 - Eduardo Perini. Acervo da Vale, 2011 | Página 247 A - Empresa Brasileira de Vale, 2007 | Página 338 - Tiago Bortolin Maciel. Acervo da Vale, 15/2/2011
B - Peter Lange. CPDOC/FGV, [1938-1945] | Página 44 - Fundação Biblioteca Página 136 - Coleção Breno Augusto dos Santos, 11/8/1967 | Página 138 Correios e Telégrafos, 1966 | Página 247 B - Empresa Brasileira de Correios e | Página 339 - Don Johnston. All Canada Photos/Corbis, s/d | Página 340 -
Nacional, 2/8/1931 | Página 45 A - Cinemateca Brasileira, [194-] | Página 45 B A - Coleção Breno Augusto dos Santos, 22/7/1967 | Página 138 B - Coleção Telégrafos, 1972 | Página 247 C - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Vanessa Bernardo. Acervo da Vale, 22/7/2011 | Página 342 - Agência Vale,
- Peter Lange. CPDOC/FGV, [1938-1945] | Página 47 - Mazzei. Arquivo Jornal da Breno Augusto dos Santos, 17/9/1967 | Página 139 - Coleção Breno Augusto 1982 | Página 247 D - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, 1985 | 3/3/2012 | Página 343 - Agência Vale, abr. 2011 | Página 344 - Eny Miranda/
Vale, jun. 1940 | Página 48 A - Fundação Biblioteca Nacional, [193-] | Página dos Santos, 1967 | Página 140 A - Coleção Breno Augusto dos Santos, 1967 Página 248 A - Acervo da Vale, 2008 | Página 248 B - Acervo da Vale, 2008 | Cia. da Foto. Acervo da Vale, 14/7/2011 | Página 346 - Agência Vale, s/d |
48 B - Mazzei. CPDOC/FGV, [194-] | Página 49 A – CPDOC/FGV, [1934-1945] | | Página 140 B - Coleção Breno Augusto dos Santos, 25/7/1967 | Página 141 Página 248 C - Acervo da Vale, 2008 | Página 248 D - Acervo da Vale, 2008 | Página 347 A - Agência Vale, s/d | Página 347 B - Agência Vale, s/d | Página
Página 49 B - Cinemateca Brasileira, [194-] | Página 51 A - Mazzei. Arquivo - Arquivo Jornal da Vale, 1970 | Página 142 - Acervo da Vale, 1970 | Página Página 248 E - Acervo da Vale, 2008 | Página 248 F - Acervo da Vale, 2008 | 348 - Ricardo Ortiz. Acervo da Vale, nov. 2011 | Página 350-351 - Salviano
Jornal da Vale, s/d | Página 51 B - Erich Hess. Acervo da Vale, 1940 | Página 147 - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 148 - Arquivo Jornal da Vale, s/d Página 248 G - Acervo da Vale, 2008 | Página 248 H - Acervo da Vale, 2008 | Machado. Acervo da Vale, 18/8/2008 | Página 353 - Rogério Reis/Tyba. Acervo
52-53 - Erich Hess. Acervo da Vale, set. 1943 | Página 54 - Jean Manzon. | Página 149 A - Arquivo Jornal da Vale, década de 1970 | Página 149 B - Página 248 I - Acervo da Vale, 2008 da Vale, 23/4/2009 | Página 355 - Vantoen Pereira Jr. Acervo da Vale. maio
Arquivo Jornal da Vale, 1942 | Página 55 - Arquivo Jornal da Vale, [1942-1945] CPDOC/FGV, 15/9/1976 – 21/9/1976 | Página 150 - Arquivo Jornal da Vale, 2011 | Página 356 - Dario Zalis. Acervo da Vale, s/d | Página 358 - Paulo
| Página 56 A - Arquivo Nacional, jul. 1942 | Página 56 B - Arquivo Jornal da 1974 | Página 152 - Acervo da Vale, 1971-1972 | Página 153 - Arquivo Jornal Santos, 30/9/2008 | Página 360 A - Lucas Nuñez. Acervo da Vale, 18/6/2011 |
Vale, s/d | Página 57 A - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 57 B - Arquivo da Vale, 1972 | Páginas 154-155 - Acervo da Vale, s/d | Página 156 A - Maria CAPÍTULO 8 Página 360 B - Marcelo Araújo. Agência Vale, s/d | Página 361 - Ismar Ingber.
Jornal da Vale, s/d | Página 58 A - Acervo da Vale, 1944 | Página 58 B - Arquivo do Socorro. Acervo da Vale, 2000 | Página 156 B - Arquivo Jornal da Vale, set. Tyba, maio 2012 | Página 365 - Rogério Reis. Tyba, out. 2010 | Página 366 -
Nacional, abr. 1942 | Página 60 A - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 60 1978 | Página 159 - Arquivo Jornal da Vale, ago. 1974 | Página 160 - Coleção Página 248 - Beto Felício. Acervo da Vale, 1994 | Página 251 - Erno Schneider. Agência Vale, s/d | Página 369 - Dario Zalis. Acervo da Vale, 2002 | Página
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Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 65 - Agência Fotográfica Jean Manzon. Vale, 14/1/1985 | Página 164 - Acervo da Vale, jul. 1978 | Página 167 - Acervo Biblioteca Nacional, [1997] | Página 254 - Dario Zalis. Acervo da Vale, ago. Página 374-375 - Cleriston Boechat de Oliveira. Acervo da Vale, nov. 2007
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[19--] | Página 70 - Acervo da Vale, 1944 | Página 72 - Agência Fotográfica Jean Jornal da Vale, dez. 1978 Santos. Acervo da Vale, 1999 | Página 261 A - Dario Zalis. Acervo da Vale, Frota. Acervo da Vale, 2/4/2006 | Página 382 - Agência Vale, 2011 | Página 383
Manzon. Arquivo Jornal da Vale, s/d 2002 | Página 261 B - Márcio Dantas Valença. Acervo da Vale, 25/2/2012 - Salviano Machado. Acervo da Vale, jan. 2012 | Páginas 384-385 - Eugênio
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Página 176 - Dario Zalis. Acervo da Vale, 2000 | Página 179 - Rogério Reis. A - Acervo da Vale, 1999 | Página 270 B - Dario Zalis. Acervo da Vale, 2001 Página 394 A - Agência Vale, s/d | Página 394 B - Agência Vale, s/d | Página
Página 74 - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 76 A - Arquivo Jornal da Arquivo Jornal da Vale, 28/2/1985 | Página 180 A - Beto Felício. Acervo da | Página 272 - Flávio Santos. Acervo da Vale, 2000 | Página 275 - Robert 395 - Danny Lehman. Corbis, s/d
Vale, 1950 | Página 76 B - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 77 A - Mozart. Vale, 1993 | Página 180 B - Dario Zalis. Acervo da Vale, 2000 | Página 181 - Rosamilio. NY Daily News via Getty Images, 17/9/2000 | Página 276 - Paulo
Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 77 B - Lacand. CPDOC/FGV, 1950 | Beto Felício. Acervo da Vale, 1993 | Página 182 - Paulo Arumaa. Acervo da Arumaa. Acervo da Vale, 25/11/1998 | Página 277 - Octávio Cardoso. Acervo Todos os esforços foram feitos para creditar devidamente os detentores dos
Página 78 - Jean Manzon. Arquivo Jornal da Vale, [195-] | Página 80 A - Tibor Vale, 29/4/1987 | Página 185 A - Arquivo Jornal da Vale, s/d | Página 185 B da Vale, 2010 direitos das imagens utilizadas neste livro. Eventuais omissões ou créditos
Jablonsky. Acervo IBGE, 1952 | Página 80 B - Tibor Jablonsky. Acervo IBGE, 1952 - Arquivo Jornal da Vale, 1991 | Página 186 - Arthur Cavalieri. Arquivo Jornal equivocados não foram intencionais e serão corrigidos nas próximas edições,
| Página 82 - Tibor Jablonsky. Acervo IBGE, 1952 | Página 83 - Arquivo Jornal da Vale, abr. 1986 | Página 187 A - Arquivo Jornal da Vale, set. 1978 | Página mediante contato com os editores.
A AMCI International, 297, 345 Baía de Sepetiba, RJ, 123 Blanchard, Bernard A., 63 Cais do Paul, ES, 76, 92, 94, 95, 97, 189 Gerais (Cemig), 131, 313, 367 Comissão de Exportação de Companhia Brasileira de
Academia de Ciências de Paris, 25 América Latina Logística (ALL), 359 Baixo Tocantins, PA, 277, 386 Bley, João Punaro, 48, 63 Caixa Econômica Federal Centro Corporativo da Vale, 253 Materiais Estratégicos, 104 Alumínio (CBA), 241
Acadêmicos do Grande Rio, American Depositary Banco Central do Brasil, BNDESPAR, empresa de (CEF), 95, 171, 252 Centro Cultural dos Comissão de Orçamento Companhia Brasileira de
escola de samba, 279, 316, 317 Receipts (ADRs), 274 148, 171, 360, 363 participações do BNDES, 253, 378 California Steel Industries (CSI), 326 Gavião Kyikatêjê, 213 do Congresso, 204 Mineração e Siderurgia S.A.
Açominas, 189, 190, 203 American Metals and Coal Banco da Amazônia, 386 Boa Esperança, cabo, 273n Calmon, Miguel, 23 Centro Cultural Latino- Comissão Especial para a (CBMS), 41, 46, 48, 50, 56
Acordos de Washington, International, 297 Banco de Desenvolvimento Bolsa de Mercadorias e Cals, César, 246 Americano, 315 Regulamentação dos Acordos Companhia Coreano-Brasileira de
41, 48, 50, 51, 56, 59 Andrada, Antônio Carlos de Minas Gerais, 63n, 158 Futuros (BM&F), 218 Centro de Desenvolvimento de de Washington, 50 Pelotização (Kobrasco), 227, 256, 271
Cambucal, Itabira, MG, 223
Aços Finos Piratini, RS, 148, 203 Ribeiro de, 37, 38 Produtos (CDP), SP, 378, 388 Comissão Executiva do Plano Companhia de Alumina
Banco do Brasil, 66, 95, 98, 158 Bolsa de Valores de Caminhos do desenvolvimento
Adachi, Yoshihide, 233 Andrade, jazida, 26n Hong Kong, 249, 367 Centro de Desenvolvimento do Carvão Nacional, 105 do Pará (CAP), 358
Banco do Cidadão, 317 (Leite Jr.), 105
Aeroporto Internacional Anglo American, 302 Bolsa de Valores de Londres, 91 Mineral (CDM), MG, 115, 239, 376 Comissão Executiva do Plano Companhia de Mineração de
Banco do Estado de São Campanha de Formação
de N’Zérékoré, 345 Antunes, Augusto Trajano Centro de Educação Ambiental, 223 Siderúrgico Nacional, 49 Ferro e Carvão Ferteco (Ferteco),
Paulo (Banespa), 171 Bolsa de Valores de Nova York de Geólogos (Cage), 169
de Azevedo, 125 Comissão Geológica do Brasil, 23 104, 107, 110, 122, 130, 140, 146,
Agência Espacial Norte- Banco Interamericano de (NYSE), 274, 275, 291, 388 Campos, Luiz Felipe Centro de Estudos Ferroviários, 73
Aquila Resources Limited, 297 151, 187, 190, 203, 261, 263, 310
Americana (NASA), 377 Desenvolvimento (BID), 131, 158, 263 Bolsa de Valores de São Paulo Gonzaga de, 23, 27 Centro de Pesquisas Comissão Mista Brasil - Estados
Agência Nacional de Transportes Aracruz Celulose, 302 Unidos para o Desenvolvimento Companhia de Mineração
Banco Internacional (Bovespa), 249, 274, 324, 386 Campos, Roberto, 89, 121, 123, 125 Tecnológicas, 170
408 Terrestres (ANTT), 307 Aranha, Oswaldo, 49, 56 Econômico, 80n Novalimense, MG, 120 409
para Reconstrução e Bolsa de Valores do Rio Canico Resource Corp, Centro de Saúde de Moatize,
Agenda 21, 222 Araripe, Delecarliense Alencar, 63 Comissão Nacional de Companhia de Pesquisa de
Desenvolvimento (BIRD), 165 de Janeiro, 250, Canadá, 281, 294 Moçambique, 338
Energia Nuclear, 104-105 Recursos Minerais (CPRM), 169
Agnelli, Roger, 257, 281,302, Arbed Group, Luxemburgo, 107, 257 Banco Mundial, 166, 177, Bradesco S.A., 257 Centro de Tecnologia de
Cantanhede, Plínio, 49 Companhia do Quadrilátero
305, 325n, 333, 335 Arcelor Mittal, 303 211, 225, 255, 264 Ferrosos (CTF), MG, 376, 377 Comissão Nacional de
Braga, Roberto Saturnino, 123 Capitão Eduardo – Costa Ferrífero, 171
Agripino, João, 105, 117, 120, 125 Armour Research Siderurgia, 45n
Banco Nacional de Branco, Humberto de Alencar Lacerda, ramal, 188, 230, 260 Centro de Tecnologia
Águas de Itabira, Plano Diretor, 315 Foundation, EUA, 95 Comissão Parlamentar de Companhia Estadual de Tecnologia
Desenvolvimento Econômico Castelo, 103, 121-123, 125 Caraça Ferro e Aço S. A., 157 Mineral (Cetem), 326
Inquérito (CPI), 123, 125, 178 de Saneamento Básico e de
Akrãtikatêjê, índios, 213 Arquidiocese do Rio de Janeiro, 394 (BNDE), 89, 91, 158, 166n, Centro-Leste, corredor, 230, 231
“Brasil batizou, O: Vale”, Carajás – Igarapé Gelado, Defesa do Meio Ambiente (Cetesb)
Al Futaisi, Ahmed, 342 Arsenal da Marinha, RJ, 237 170, 210; ver também Banco Comissão Revisora do
campanha, 336 unidade de conservação, 210 Centro-Norte, corredor, 309 ver Companhia Ambiental
Al Wahaibi, Ahmed, 342 Nacional de Desenvolvimento Contrato Itabira, 45n
Arthur G. Mckee, 115 Brasil Mineração Ltda., 300 Century HC, 326 do Estado de São Paulo
Econômico e Social (BNDES) Carajás-Itaqui, ferrovia, 164 Comissões Internas do Meio
Albras, 241, 314, 328, 358 Assembleia de Constituição, 56
Brazilian Hematite Syndicate, 17, 29 Carbon Disclosure Century S, 326 Ambiente (CIMAs), 207, 209, Companhia Ferro Brasileiro, MG, 48
Albras/Alunorte (1978), Assembleia Geral de Acionistas, 131 Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e British & European Sales Ltd., 98 Leadership Index, 388 Charles, Noel, 56 Comitê de Democratização Companhia Ferro e Aço de Itabira,
convênio, 164 Associação de Comércio
Brito, Antonio de Carbon Disclosure Project Charles, príncipe de 63, 73; ver também Companhia
Alcindo Vieira, grupo nacional, 238 Social (BNDES), 226, 239, 250, 253, da Informática (CDI), 263
Exterior do Brasil (AEB), 281 Aços Especiais Itabira (Acesita)
255, 277, 281, 303, 326, 378, 381 Oliveira, 105, 117, 120 (CDP), 388, 389 Gales, 185, 186, 223 Commerzbank AG, 158
Alcoa Inc., 241 Assurini, índios, 137 Companhia Ferro e Aço de
Banco Produtor, 317 Brito, Raimundo, 227 Cardoso, Fernando Henrique Charlton, Thomas, 34-35 Commonwealth Scientific
Alegrete, navio mercante, 41 Atalaia, morro do, ES, Vitória (Cofavi), 63, 73, 83, 110
Baoshan Steel, 227, 257 Brumer, Wilson Nélio, 185, (FHC), 217, 227, 232, 250, 281, 324 Chateaubriand, Assis, 34 and Industrial Research
Alkmin, José Maria, 89 46-48, 51, 60, 85 Companhia Ferroviária do
Barbosa, Denis Desiderato Horta, 56 186, 194, 230, 231, 263 Cardoso, Ruth, 246, 247 Chemical Bank, 158 Organization (CSIRO), 326
Alluminium Company of Australian Mineral Industries Nordeste (CFN), 254, 307
Research Association Barragem do Rio do Peixe, Bulhões, Octávio Caru, terra indígena, 211 Cleveland Cliffs Iron Companhia Aços Especiais Itabira
Canada Ltd. (Alcan), 240, 241 Companhia Forjas e Estaleiros, 26n
Limited (AMIRA), 326n Itabira, MG, 223, 225 Gouvêa de, 121, 125 Casa do Professor, projeto, 263 Company, EUA, 98 (Acesita), MG, 34, 60, 83, 130, 158,
Almeida, Erasto B. de, 140n
Bunge Fertilizantes S. A., 297 186, 203, 231, 303; ver também Companhia Hidrelétrica de
Almeida, José Américo de, 44 Australian Nuclear Science Batista da Silva, Eliezer, 73, 85, 101, Castello Branco, Roberto, 291, 303 Clube de Investimento dos
Companhia Ferro e Aço de Itabira São Francisco (Chesf), 104
and Technology Organization 103, 105, 107, 112, 117, 121, 130, 131, Bunge Participações e Castro, Álvaro Mendes Empregados da Companhia Vale
Almeirim, jazida, 171 Companhia Hispano-Brasileira
(ANSTO), 326n 142, 161, 166, 178, 186, 194, 246, 273, 333 Investimentos, 368 de Oliveira, 46, 48 do Rio Doce (InvestVale), 253 Companhia Açucareira
Alto Turiaçu, terra indígena, 211 do Rio Doce, MG, 63 de Pelotização (Hispanobras),
Awá, terra indígena, 211, 315 Bear Stearns, EUA, 352 Bureau Veritas Quality Castro, Oliveira, 59 Código de Águas, 43
Alumínio Nordeste S. A., 224n, 357 190, 196, 198, 200, 357
Azeredo, Eduardo, 227 Beluco, Marco, 342 International (BVQI), Código de Minas, 34, 42-44, Companhia Agrícola de Minas
Alunorte, Barcarena, PA, 240- Cateté, terra indígena, 211, 315
certificadora, 255, 271 Gerais (Camig), MG, 131 Companhia Itabira de
Azevedo Antunes, grupo, 120n Beneficiamento de Itabirito 46, 117, 120, 121, 126, 129,
243, 254, 256, 302, 330, 358 Caulim da Amazônia S. A. Mineração, 50
S. A. (Benita), 114, 131, 173n Código de Mineração, 125, 161 Companhia Agro-Pastoril, MG, 63
Alves Filho, João, 233 (Cadam), PA, 326, 328, 354
Companhia Ambiental do Companhia Ítalo-Brasileira
Amazônia Mineração S. A.(AMZA), Bernardes, Arthur, 29, 32, 34, 37, 46 Celmar S. A., 302 Coimbra, Arthur Antunes
Estado de São Paulo, 209 de Pelotização (Itabrasco),
B Bertran, Paulo, 246, 247
C (Zico), 279, 333
148, 161, 164, 165, 171, 178, 218 Celulose Nipo-Brasileira 190, 196, 198, 233, 357
Caetés, jazida, 194 Colombian Natural Resources Companhia Auxiliar de Empresas
Amazônia Oriental Bacias do Pontal, 207 BHP Billiton Metais S. A., (Cenibra), 142, 223, 227, 254, 256 Companhia Matogrossense de
Café Filho, João, 77 S. A. S., Colômbia, 349 de Mineração (Caemi), 125, 281, 303
Paraense, 193, 232 Bahia Sul Celulose S. Austrália, 261, 297, 303, 337 Cementos Argos S. A. Mineração (Metamat), 238
CAFL, França, 125 Comandante Lira, navio Companhia Bozano, Simonsen
AMCI Holdings Australia Pty, 297, A., 220, 254, 302 Biopalma da Amazônia (Argos), Colômbia, 349 Companhia Meridional de
mercante, 41 Comércio e Indústria, 142
345; ver também Vale Australia Baía de São Marcos, MA, 178, 183 S. A., PA, 386 Cais do Atalaia, ES, 66, 77, 83, 189 Centrais Elétricas de Minas Mineração, 137, 161, 170
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
V243