Domínios Euclidianos e Equações Diofantinas
Domínios Euclidianos e Equações Diofantinas
Domínios Euclidianos e Equações Diofantinas
CAMPINAS - SP
2012
ANA RACHEL BRITO DE PAULA
MAIARA FRANCINE BOLLAUF
MARIA ANGÉLICA ARAÚJO
SAMUEL AUGUSTO WAINER
CAMPINAS - SP
2012
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 3
1 DOMÍNIOS EUCLIDIANOS 4
1.1 Domínio de integridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Domínio de fatoração única . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3 Ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.4 O algoritmo de Euclides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2 EQUAÇÕES DIOFANTINAS 15
2.1 Equações diofantinas lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 Ternos Pitagóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 Descida de Fermat e equações sem solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4 A equação de Pell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.5 Equações diofantinas não lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
REFERÊNCIAS 29
2
INTRODUÇÃO
3
Capítulo 1
DOMÍNIOS EUCLIDIANOS
Definição 1.1.6. Dizemos que a, b ∈ R são associados se existe u unidade de R tal que
a = ub.
√ √ √
N ((a + b n)(c + d n)) = N ((ac + bdn) + (ad + bc) n)
= |(ac + bdn)2 − n(ad + bc)2 |
= |a2 c2 + 2abcdn + b2 d2 n2 − a2 d2 n − 2abcdn − b2 c2 n|
= |a2 (c2 − d2 n) − b2 (c2 − d2 n)|
= |(a2 − b2 n)(c2 − d2 n)|
= |a2 − b2 n||c2 − d2 n|
√ √ √ √
N ((a + b n)(c + d n)) = N (a + b n)N (c + d n)
5
Temos ainda que as unidades de R são 1 e -1 e assim N (1) = N (−1) = 1. E se
√
N (a + b n) = 1 temos:
|a2 − b2 n| = 1 ⇒ a2 − b2 n = 1 ou a2 − b2 n = 1.
Segue que
√
a2 = 1 + b2 n ⇔ a = ± 1 + b2 n.
(ii) Se {p}1≤i≤s e {q}1≤j≤t são famílias finitas de elementos irredutíveis de R tais que
p1 · · · ps = q1 · · · qt , então
s = t;
a menos de ordenação, pi é associado a qi , ∀i = 1, ..., s.
De fato, pois para qualquer n ∈ Z \ {0} temos uma decomposição única em fatores
primos, que são os elementos irredutíveis deste conjunto. Claramente, n e −n diferenciam-
se apenas pelo elemento unidade −1.
√
Exemplo 1.2.3. O domínio Z[ −7] não é de fatoração única.
√ √ √ √
Note que 8 = 2.2.2 = (1 + −7)(1 − −7) e os fatores 2, 1 + −7, 1 − −7 são
√ √ √
irredutíveis em Z[ −7.] Além disso, é claro que 2 não é associado a 1 + −7 nem a
√
1 − −7.
6
(i) p 6= 0;
Demonstração:
Considerando r um elemento irredutível em R. Supondo que r | ab, mas r - a.
Então, basta mostrar que r | b.
Seja a = p1 . . . pn e b = q1 . . . qm fatorações únicas de a e b. Assim, p1 . . . pn q1 . . . qm
apresenta uma fatoração de ab de irredutíveis, que é única por hipótese.
Porém, tem-se ainda que ab = rc. Admitindo que c possua uma fatoração da forma
c = t1 . . . tu em irredutíveis. Dessa forma, ab=p1 . . . pn q1 . . . qm =r(t1 . . . tu ).
Como a fatoração é única, um elemento rk associado a r, deve aparecer entre
os p1 . . . pn q1 . . . qm . Como r - a, nenhum associado a r deve aparecer entre p1 . . . pn .
Portanto, rk deve estar entre q1 . . . qm , o que significa dizer que r | b.
1.3 Ideais
Vamos estudar agora de que forma os ideais estão relacionados com os domínios
estudados anteriormente.
7
Definição 1.3.3. Um domínio R é chamado de domínio principal se todo ideal de R
for principal.
Exemplo 1.3.4. O anel Z é um exemplo de domínio principal, pois todos os seus ideais
são principais.
Demonstração:
Se f (x) = 0, basta assumir q(x) = r(x) = 0. Então, é conveniente admitir f (x) 6= 0
e como g(x) 6= 0 por hipótese, escreve-se:
f (x)=a0 + a1 x + · · · + an xn , ∂f = n
g(x)=b0 + b1 x + · · · + bm xm , ∂g = m
8
Considera-se então dois casos para provar a existência de q(x) e r(x):
1o caso: ∂f < ∂g
Tomando q(x) = 0, tem-se que f (x) = r(x).
2o caso: ∂f > ∂g
Usando indução sobre n = ∂f .
(1) Se n = 0, então f (x)=a0 ∈ K.
0 = n = ∂f > ∂g ⇒ ∂g = 0 ⇒ g(x) = b0 ∈ K.
Sabe-se que 0 6= g(x) = b0 ∈ K, por hipótese. Assim b0 −1 ∈ K, pois K é um corpo.
Considerando então q(x) = b0 −1 a0 e r(x) = 0, é fácil ver que
(2) Considerando como verdade para n > 1, tem-se que para h(x) ∈ K[x], h(x) 6= 0
e ∂h < n, existem q1 (x) e r1 (x) ∈ K[x] tais que h(x) = g(x)q1 (x) + r1 (x), com r1 (x) = 0
ou ∂r1 < ∂g. Esta é a hipótese de indução.
Agora, considera-se o polinômio:
9
f (x)=g(x)[(q1 (x) + an bm −1 xn−m )] + r1 (x)
Isto prova a existência de q(x) e r(x). Resta somente provar a unicidade. Para
isso, supõe-se q(x), q̃(x), r(x), r̃(x) ∈ K[x] tais que:
Supondo que q(x) 6= q̃(x) então q(x) − q̃(x) 6= 0 e r̃(x) − r(x) 6= 0. Logo,
N : A − {0} → N,
a = bq + r,
Essa condição não é necessária, pois sempre que existir uma função N estabelecendo uma
divisão euclidiana, existe uma outra γ que também estabelece uma divisão euclidiana e
tal que γ tem a propriedade adicional que desejamos.
De forma geral, um domínio euclidiano é aquele em que o Algoritmo de Euclides
pode ser aplicado.
10
Exemplo 1.4.3. Se K é um corpo, então K[x] é um domínio euclidiano.
x
N (r) = N (x − qy) = N ( − q)N (y) < N (y)
y
11
Definição 1.4.7. Seja D um domínio de fatoração única. Um polinômio a0 + a1 x + · · · +
an xn ∈ D[x] é chamado primitivo se não é uma unidade e se a0 , a1 , . . . , an não tem
outros divisores comuns a não ser unidades de D. Nota-se que se f (x) é irredutível em
D[x], então f (x) é primitivo.
Demonstração:
(⇒) Sabe-se que D é um subanel de Q sob a aplicação d → d1 . Assim, D[x]
aparece naturalmente como um subanel de Q[x] pois a aplicação mantém as propriedades.
Portanto, se f (x) é redutível em D[x], também é redutível em Q[x].
(⇐) Supondo que f (x) é redutível em Q[x], então existem g(x), h(x) ∈ Q[x] que
são polinômios não-escalares tais que
f = gh
b0 b1 b2 bn
g(x) = + x + x2 + · · · + xn , bi , ai ∈ D, 06i6n
a0 a1 a2 an
e
d0 d1 d2 dm m
h(x) = + x + x2 + · · · + x , dj , cj ∈ D, 0 6 j 6 m.
c0 c1 c2 cm
É possível então substituir todos os coeficientes de g de modo que todos tenham
um denominador comum. Fatorando-se este denominador comum, escreve-se
1
g = g1 ,
s
12
h1 , chamando-o de v. Assim
uv
gh = g2 h2 ,
st
admitindo que g2 , h2 ∈ D[x] e são polinômios primitivos pois nenhum primo divide cada
coeficiente de g2 e h2 .
Enfim, escreve-se
uv y
= ,
st z
em que mdc(y, z) = 1. Logo,
y
f = gh = g2 h2 ,
z
com g2 e h2 polinômios primitivos em D[x].
y
Resta provar que z é uma unidade e consequentemente ∈ D, provando que f é
z
redutível em D[x].
Supondo que z não seja uma unidade, então existe um primo p que divide z. Como
mdc(y, z) = 1, em particular, p - y. Assim
D → D∗
a0 + a1 x + · · · + an xn 7→ a0 + a1 x + · · · + an xn
zf = yg2 h2 (1.4.3)
Como z ≡ 0(mod p), resulta que z = 0 ∈ D∗ . Logo da equação (1.4.3), tem-se que
0 = yg2 h2
13
é divisível por p, o que é um absurdo, pois g2 é um polinômio primitivo. Analogamente
se h2 = 0.
Portanto, não existe um primo p tal que p | z, donde z é de fato unidade e f é
redutível em D[x].
Retornando aos ideias, seguem abaixo alguns resultados que os relacionam com os
domínios euclidianos.
Demonstração:
Considerando um ideal I 6= 0 de D, queremos verificar se este ideal é principal.
Admitindo então o conjunto
Seja a ∈ I tal que υ(a) =Mínimo(υ(I)), que existe pois o conjunto {0, 1, 2, 3, . . . } é
discreto e bem ordenado. Considerando agora o ideal gerado por a, a dizer, (a), que está
contido em I. Suponhamos que seja possível escolher x ∈ I − (a). Por D ser um domínio
euclidiano, sabemos que existe r, q ∈ D tal que x = ta + r, donde r = 0 ou υ(r) < υ(a).
Mas como x ∈ / (a), r 6= 0. Assim, temos que r ∈ D − {0} é tal que υ(r) < υ(a). Porém,
r = x − ta ∈ I, o que contradiz a minimalidade de υ(a). Logo, I = (a).
Demonstração:
Tomando I como sendo um ideal em K[x]. Se I = 0, não há o que fazer. É
válido supor, para tanto, I 6= 0. Seja f um polinômio não-nulo de menor grau possível
que pertence a I. Pode-se afirmar que I = (f ). De fato, se g ∈ I, existem polinômios
q, r ∈ K[x] tais que g = f q + r, com r = 0 ou ∂(r) < ∂(f ). Como r ∈ I, pois h, f ∈ I,
admitindo h = aq, temos que ∂(r) = 0, já que f é de menor grau. Assim, h ∈ (f ). A
outra inclusão é imediata, portanto I = (f ).
Teorema 1.4.12. O ideal A = (a) é um ideal maximal do anel euclidiano se, e somente
se, a é um elemento primo de um domínio euclidiano R.
14
Capítulo 2
EQUAÇÕES DIOFANTINAS
Aqui um dos problemas que tentaremos resolver é quando uma equação diofantina
tem solução. No entanto, na maioria dos exemplos vamos nos deparar com situações bem
mais complexas do que o exemplo acima. A proposição a seguir estabelece condições para
que uma equação diofantina seja solúvel.
15
é solúvel se, e somente se,
(a, m)|a0 .
Neste caso o número de soluções = (a, m), e a congruência é satisfeita por precisa-
m
mente todos os números x numa certa classe residual mod( (a,m) ).
Demonstração: Para demonstrarmos este fato precisaremos de dois resultados que não
provaremos aqui, mas suas demonstrações podem ser encontradas em [5].
ax + a0 ≡ 0(modm)
a ≡ b(modm)
então
ac ≡ bc(modcm)
e reciprocamente.
ax + a0 ≡ 0(modm)
≡ 0(mod(a, m)).
m
Agora se (a, m)|a0 então 2.1.2 tem exatamente uma solução mod (a,m) , de acordo
com a Afirmação 1; como 2.1.1 e 2.1.2 tem as mesmas soluções, pela Afirmação 2, segue
que 2.1.1 tem (a, m) soluções (soluções mod m como usual), uma vez que se d > 0 e d|m
16
então uma classe residual mod md se divide em d classes residuais mod m.
a1 x 1 + · · · + an x n = c
ax + by = 1
é solúvel.
a1 x1 + 0.x2 + · · · + 0.xn = c
(a1 , 0, . . . , 0)|c.
(2) Se no mínimo dois dos coeficientes não se anulam então podemos assumir sem
perda de generalidade que nenhum coeficiente se anula; caso contrário simplesmente omi-
tiríamos os termos am xm para os quais am = 0, e isto não altera o valor do máximo divisor
comum dos coeficientes; o número dos termos que permanecem é ainda ≥ 2.
Sem perda de generalidade podemos mesmo tomar todos os coeficientes > 0; pois
simplesmente temos que substituir cada am negativo por −am (o que não altera o máximo
divisor comum) e o xm correspondente por −xm .
Podemos portanto assumir que
d|a1 x1 + · · · + an xn ,
17
d|c.
a1 x1 ≡ c(moda2 )
(a1 , a2 )| − c.
(a1 , . . . , an−1 ) = a
então
(a, an ) = d.
ax + an xn = c
que
a1 x1 + · · · + an−1 xn−1 = ax
a1 x1 + · · · + an−1 xn−1 + an xn = c
ax + by = c
é solúvel, pela Proposição 2.1.4; ainda, dada uma solução (x0 , y0 ), todas as soluções são
da forma
b a
x = x0 + h y = y0 − h ,
d d
onde h é arbitrário.
18
Demonstração:
O fato que um tal par (x, y) satisfaz a equação segue da relação
b a
a x0 + h + b y0 − h = ax0 + b0 = c.
d d
O fato de não existirem outras soluções é visto como segue. Sem perda de general-
idade, seja b 6= 0. (Senão trocaríamos a e b, observando que quando h percorre os inteiros
−h também o faz). Uma vez que
ax + by = c = ax0 + by0 ,
segue que
ax − c ≡ 0(mod|b|),
b
x = x0 + h ,
d
b ha ha a
by = c − ax = c − a x0 + h = (c − ax0 ) − b = by0 − b = b y0 − h ,
d d d d
a
y = y0 − h .
d
−58
−58 − 11t > 0 ⇒ −11t > 58 ⇒ 11t < −58 ⇒ t < ou t < −6(t deve ser inteiro).
11
−29
−29 − 5t > 0 ⇒ −5t > 29 ⇒ 5t < −29 ⇒ t < ⇒ t < −6.
5
19
Portanto as soluções inteiras e positivas são:
ou
(x, y, z) = ((u2 − v 2 )d, 2uvd, (u2 + v 2 )d)
Demonstração:
Sejam x, y, z inteiros positivos quaisquer satisfazendo a equação acima (os demais
casos são análogos) e d o mdc de x e y. Então d2 divide z 2 , e daí d divide z. Existem
portanto inteiros não nulos a, b, c, com mdc(a, b) = 1, tais que (x, y, z) = (da, db, dc).
Ademais, como
x2 + y 2 = z 2 ⇐⇒ a2 + b2 = c2
20
positivos primos entre si u e v, tais que c − a = 2v 2 , c + a = 2u2 , e daí (a, b, c) =
(u2 − v 2 , 2uv, u2 + v 2 ).
Note ainda que, como u2 + v 2 = c é ímpar, u e v devem ter paridades distintas. Por
substituição na equação original, concluímos que os ternos acima são realmente soluções
da equação, de modo que nada mais há a fazer.
Em uma qualquer dessas soluções, devemos ter x e y com a mesma paridade, pois
caso contrário x2 + y 2 seria um número ímpar. Assim, existem inteiros a e b tais que
x=a+b e y =a−b
Basta tomarmos a = 12 (x+y) e b = 12 (x−y), notando que x+y e x−y são números
pares. Substituindo as expressões acima para x e y na equação original, concluímos que
x2 + y 2 = 2z 2 ⇐⇒ a2 + b2 = z 2
(a, b, z) = (2uvd, (u2 − v 2 )d, (u2 + v 2 )d) ou (a, b, z) = ((u2 − v 2 )d, 2uvd, (u2 + v 2 )d, )
ou
(x, y, z) = ((u2 − v 2 )d + 2uvd, (u2 − v 2 )d − 2uvd, (u2 + v 2 )d)
21
Segue disso que os únicos divisores comuns de x + iy e x − iy em Z[i] serão 1 e 1 − i.
Além disso, x + iy e x − iy são relativamente primos em Z[i ] se, e somente se, x2 + y 2 for
ímpar. A demonstração desse fato utiliza resultados de divisibilidade, irredutibilidade e
o fato de Z[i] ser um domínio de fatoração única.
Com isso, conseguimos caracterizar as soluções do problema, com x e y relati-
vamente primos em Z: dizer que a tripla (x, y, z) é solução,será equivalente a escrever
x + iy = a(a + bi) , com a e b ∈ Z e a invertível em Z[i] , o que também é equivalente a
x = (m2 − n2 ) e y = mn com m, n ∈ Z relativamente primos e de paridades distintas.
Exemplo 2.3.1. A equação 3x2 + y 2 = 2z 2 não possui soluções inteiras não nulas.
i Supor que uma dada equação possui uma solução em inteiros não nulos.
ii Concluir daí que ela possui uma solução em inteiros positivos que seja, em algum
sentido, mínima.
iii Deduzir a existência de uma solução positiva menor que a mínima, chegando a uma
contradição.
22
Já que determinamos acima as soluções da equação de Pitágoras, nada mais natural
que tentar estudar a equação mais geral abaixo, denominada equação de Fermat. Aqui,
n > 2 é um inteiro fixado
xn + y n = z n .
x2 − dy 2 = m
23
onde m é um inteiro qualquer.
É claro que no caso m = 0 a equação não admite soluções além da trivial x = y = 0,
√
pois se esse fosse o caso teríamos x e y não nulos, e daí d = xy , um racional.
Nosso objetivo principal é mostrar que uma equação de Pell tem infinitas soluções.
Para isso precisaremos de alguns lemas auxiliares.
x
Lema 2.4.2. Seja ξ um irracional qualquer. Existem infinitos racionais y
, com x e y
inteiros não nulos primos entre si, tais que
x 1
− ξ < 2.
y y
Lema 2.4.3. Seja d um inteiro positivo que não seja um quadrado. Existe um inteiro m
para o qual a equação x2 − dy 2 = m admite infinitas soluções inteiras.
Demonstração:
Admitamos por enquanto que nossa equação tenha uma solução em inteiros posi-
√
tivos x, y. Dentre todas essas soluções, escolha aquela x1 , y1 tal que α = x1 + y1 d seja
o menor possível.
Dado um natural qualquer n, sabemos que existem inteiros positivos xn , yn tais
√ √
que (x1 + y1 d)n = xn + yn d. Daí, sabemos que
√ √
(x1 − y1 d)n = xn − yn d
e assim,
√ √
1 = (x21 − dy12 )n = (x1 + y1 d)n (x1 − y1 d)n =
√ √
= (xn + yn d)(xn − yn d) = x2n − dyn2
24
e ocorre que
(xxn − dyyn )2 − d(xn y − yn x)2 = x2n (x2 − dy 2 ) + yn2 (dy 2 − x2 ) = x2n − dyn2 = 1
√
de modo que α−n (x + y d) = (xxn − dyyn , xn y − yn x) também é solução. Como 1 <
√
α−n (x + y d) < α basta mostrarmos que xxn − dyyn , xn y − yn x > 0 para chegarmos numa
√
contradição. Sejam a = xxn − dyyn e b = xn y − yn x . Temos a + b d > 0 e a2 − db2 = 1,
√ √
donde a − b d = (a + b d)−1 > 0.
√ √ √ √
Então, 2a = (a + b d) + (a − b d). Por outro lado, a + b d > 1 implica a − b d =
√ √
(a + b d)−1 < 1, e daí b d > a − 1 ≥ 0. Logo, b > 0.
Para terminar, basta mostrarmos que a equação x2 − dy 2 = 1 admite uma solução.
Tome, de acordo com o Lema 2.4.3, um inteiro (não nulo) m tal que x2 − dy 2 = m ad-
mita uma infinidade de soluções. Podemos escolher duas dessas soluções, (x1 , y1 ), (x2 , y2 )
digamos, tais que |x1 | =
6 |x2 | mas x1 ≡ x2 e y1 ≡ y2 , módulo m. Então
√ √ √
(x1 + y1 d)(x2 − y2 d) = (x1 x2 − dy1 y2 ) + (x2 y1 − x1 y2 ) d. (2.4.3)
√ √ √
(x1 − y1 d)(x2 − y2 d) = m(u − v d).
x2 − 2y 2 = 1
O Teorema 2.4.4 ensina que as soluções positivas dessa equação são da forma
√ √
(xn , yn ), onde xn e yn são os únicos inteiros para os quais xn + yn 2 = (x1 + y1 2)n ,
√
sendo (x1 , y1 ) a solução positiva para a qual x1 + y1 2 é o menor possível.
Como os pares (x, y) = (1, 1), (1, 2), (2, 1), (2, 2), (2, 3) não são soluções da equação
e (3, 2) é, é fácil nos convencermos de que (x1 , y1 ) = (3, 2). Desse modo, temos os pares
25
√ √
xn , yn dados pela igualdade xn + yn 2 = (3 + 2 2)n .
√
Vimos nos Exemplos 1.4.4 e 1.4.5 que de fato, Z[i] e Z[ −2] são domínios euclid-
ianos, assim podemos resolver as equações nestes domínios.
y 2 + 1 = x3 (2.5.4)
Primeiramente suponha que x é par, daí podemos escrever x = 2k, para algum k
inteiro, isso implica que y é ímpar e que y 2 ≡ 1(mod8). De fato,
x = 2k ⇒ y 2 + 1 = 8k 3 ⇒ y 2 = 8k 3 − 1 ⇒ y é ímpar
e, daí
x = 2k ⇒ y 2 = 8k 3 − 1 ⇒ y 2 ≡ 7(mod8).
y 2 + 1 = (y + i)(y − i) = x3 .
Tome δ ∈ Z[i], diferente de uma unidade, tal que δ divide y + i e y − i, então δ|2i,
e podemos escrever, δz = 2i, para algum z ∈ Z[i], o que implica que δz(−i) = 2i(−i), o
que segue que δ|2. Assim N (δ) é par, mas N (y + i) é ímpar, o que é um absurdo. Logo
temos que ter que δ é uma unidade.
Dessa forma, y − i e y + i não tem nenhum fator em comum diferente da unidade e
como, (y − i)(y + i) é um cubo perfeito temos que y + i = u(a + bi)3 e y − i = u1 (a1 + b1 i)3 ,
onde u e u1 são unidades. Agora, as unidades em Z[i] são ±1 e ±i, que são cubos perfeitos,
logo podemos assumir que y + i = (a + bi)3 e daí
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y + i = a3 + 3a2 bi − 3ab2 − b3 i = a3 − 3ab2 + (3a2 b − b3 )i.
1 = 3a2 b − b3 = b(3a2 − b2 ).
y 2 + 2 = x3 (2.5.5)
Portanto temos que ter x ímpar, que implica que y também tem que ser ímpar.
√
Vamos trabalhar agora em Z[ −2]. Escreva:
√ √
y 2 + 2 = (y − −2)(y + −2) = x3 .
√ √ √
Tome δ ∈ Z[ −2], diferente de uma unidade, tal que δ divide y − −2 e y + −2
√ √ √
então δ|2 −2, e podemos escrever δz = 2 −2, para algum z ∈ Z[ −2], isso implica que
√
N (δ) é par, o que não é possível, pois temos que existe t ∈ Z[ −2] tal que
√
δt = y + −2 ⇒ N (δ)N (t) = y 2 + 2, mas y 2 + 2 é ímpar.
√ √ √
y+ −2 = (a + b −2)3 = a3 − 6ab2 + (3a2 b − 2b3 ) −2.
27
Portanto, temos que
b(3a2 − 2b) = 1 ⇒ b = ±1.
28
REFERÊNCIAS
[2] DOMINGUES, Hygino H.; IEZZI, Gelson. Álgebra moderna. 4. ed. São Paulo:
Atual, 2003.
[5] LANDAU, E. Teoria elementar dos números. Rio de Janeiro: Ciência Moderna,
2002.
29