9772-Texto Do Artigo-35789-1-10-20191205
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Resumo: O estudo da história dos brinquedos revela que eles surgiram no contexto
das guerras. Foram criadas as miniaturas (soldados, cavalos, canhões, etc.) para
serviram de peças de movimentação estratégica em um tabuleiro de guerra, e que
algumas vezes eram manipulados pelas crianças. A apresentação dos brinquedos
para as crianças se dá de forma impositiva (relação de poder), em que os adultos
apresentam os objetos para elas e que somente depois é que vai acontecer a
transformação destes em brinquedos. Quando por meio da imaginação, as crianças
realizam o ato de brincar. Sendo assim, em cada sociedade essa imposição acontece
de forma distinta em detrimento de cada cultura. O universo das crianças é marcado
por alegrias, angústias e realidades, sendo possível compreender o significado
pedagógico dos brinquedos na construção dos indivíduos e nas práticas de
reprodução social. Tanto os brinquedos quanto as brincadeiras podem ser
consideradas suportes de representação que revelam significados e códigos culturais
sobre a formação do indivíduo social. Deve-se destacar que a pedagogia social, que
surgiu na Alemanha no pós-guerra, tem o intuito de ajudar a formar o papel de cada
indivíduo dentro daquela sociedade. Neste sentido, não podemos descartar o caráter
pedagógico que os brinquedos possuem para incutir nas crianças aquilo que a
sociedade espera que elas sejam e que se reconheçam culturalmente no meio em
que nasceram. Uma vez que a cultura é uma dimensão do processo social, ela
mantém proximidade com as relações de poder, cujos interesses dominantes da
sociedade manifestam sua força. Por meio da análise histórica e sócio pedagógica
dos brinquedos, é possível perceber as relações de poder existentes, revelando a
visão que a sociedade tem de suas crianças, e como a indústria dos brinquedos se
apropria destes conceitos, para produção e venda de seus produtos. Este artigo tem
como objetivo apresentar a história dos brinquedos na sociedade e refletir sobre as
relações de poder existentes no ato de brincar, sobretudo com os brinquedos
industrializados.
Abstract: The study of the history of toys reveals that they emerged in the context of
wars. Miniatures (soldiers, horses, cannons, etc.) were created to serve as strategic
v. 9, n. 2, dezembro/2019 Literatura e História ISSN 2237-2075
Building the way
move pieces on a warboard, which were sometimes manipulated by children. The
presentation of toys to children takes place in an imposing way (power relationship), in
which adults present the objects to them and only later will their transformation into
toys. When through imagination, children perform the act of playing. Thus, in each
society this imposition happens differently to the detriment of each culture. The
universe of children is marked by joys, anxieties and realities, being possible to
understand the pedagogical meaning of toys in the construction of individuals and
practices of social reproduction. Both toys and games can be considered
representational supports that reveal cultural meanings and codes about the formation
57 of the social individual. It should be noted that social pedagogy, which emerged in
postwar Germany, is intended to help shape the role of each individual within that
society. In this sense, we cannot discard the pedagogical character that toys have to
instill in children what society expects them to be and to recognize themselves
culturally in the environment in which they were born. Since culture is a dimension of
the social process, it maintains proximity to power relations, whose dominant interests
of society manifest their strength. Through the historical and socio-pedagogical
analysis of toys, it is possible to perceive the existing power relations, revealing the
society's view of its children, and how the toy industry appropriates these concepts for
the production and sale of its products. This article aims to present the history of toys
in society and to reflect on the power relations existing in the act of playing, especially
with industrialized toys.
Considerações iniciais
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O brinquedo é um objeto marcado pela dimensão simbólica em que o
mesmo assume como função principal. Cabe aqui definir o conceito de brinquedo
adotado por Bougère (1997), “[...] é um objeto distinto e específico com imagem
projetada em três dimensões, cuja função parece vaga. Com certeza podemos dizer
que a função do brinquedo é a brincadeira” (BOUGÈRE, 1997, p. 13). Em outras
palavras, é um objeto em que as crianças manipulam segundo a vontade e modo
delas. O brinquedo é um objeto destinado exclusivamente para a criança.
Ao se refletir sobre a dimensão simbólica dos brinquedos é que pode-se
questionar como que estas representações podem ser manipuladas tanto na sua
forma quanto em seu conteúdo para se tornarem brinquedos, mas que não
necessariamente não deixam de transmitir para o imaginário da crianças as
mensagens culturais da sociedade, retomando aqui o caráter impositivo destacado
por Benjamin (1984).
Ainda é preciso destacar que mesmo no universo lúdico, onde há uma certa
liberdade, há uma interdependência da cultura global. Assim, como as culturas globais
acabam influenciando e homogeneizando culturas regionais ou até mesmo locais, o
mesmo acontece com os brinquedos e o ato de brincar, deve se destacar o papel das
indústrias dos brinquedos que atuam de forma incisiva com o objetivo principal o de
atingir a sua finalidade, o lucro. E como consequência deste processo globalizatório,
“[...] na modernidade os objetos são elementos muito importantes na constituição da
cultura lúdica e esta limitação da posse pode restringir a criação, a imaginação.”
(LIRA, 2009, p. 517)
É neste processo histórico-cultural que o brinquedo deve ser analisado
enquanto instrumento de poder, que estão impregnados de valor simbólico e que
mesmo incorporados ao universo lúdico eles transmitem os esquemas de
comportamento e organização social. Nesta ótica, destaca-se uma relação de poder
que pode ser entendida também como objeto da pedagogia social para na construção
dos indivíduos, por meio de “[...] possibilidades de esquadrinhar os modos como o
poder se exerce sobre os sujeitos infantis e as verdades que estão implicadas nessas
estratégias que funcionam como meios para manter e colocar em operação os
dispositivos de governamento” (BUJES, 2005, p.196 apud LIRA, 2009, p. 513)
63
Na relação objeto e criança, a infância é marcada pelo simbolismo e
representações dos brinquedos. Pode-se dizer, também, que há uma tradição cultural
que por meio dos brinquedos se distingue masculino e do feminino. Porém, deve-se
destacar que estas imposições não fazem sentido na psique lúdica, pois, brinquedos
não possuem gênero. Os brinquedos impostos para as meninas privilegiam a casa em
detrimento do ambiente externo, como trabalhos, por exemplo (BOUGÈRE, 1997).
Os brinquedos não são uma representação fidedigna do real, pois as
crianças por meio de seu imaginário modificam as funções e até mesmo o simbolismo
deles. Porém, a imagem cultural é apreendida, por isto, é preciso destacar que antes
de mais nada, eles são objetos culturais. “Portanto manipular brinquedo, remete entre
outras coisas, a manipular significações culturais originadas numa determinada
sociedade.” (BOUGÉRE, 1997, p. 43)
Considerações Finais
Referências
67 ROCHA, Alex Santos; ALMEIDA, Tânia Maria Alves de; BRAGA, Ennia Débora
Pires. A cultura e o brincar: breve reflexão desta relação. Disponível
em:<https://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/TRABALHO_EV057_MD4_
SA46_ID2794_29092016215904.pdf> Acesso em nov. 2018.