Universidade Federal Do Vale Do São Francisco Campus de Ciências Agrárias Pós-Graduação em Agronomia - Produção Vegetal
Universidade Federal Do Vale Do São Francisco Campus de Ciências Agrárias Pós-Graduação em Agronomia - Produção Vegetal
Universidade Federal Do Vale Do São Francisco Campus de Ciências Agrárias Pós-Graduação em Agronomia - Produção Vegetal
Petrolina
2016
JULLYANNA NAIR DE CARVALHO
Petrolina
2016
Carvalho, Jullyanna Nair de
C331e Espécies nativas da caatinga para recuperação de áreas
degradadas: prospecção, ecofisiologia da germinação e crescimento
de plantas/ Jullyanna Nair de Carvalho. – Petrolina, 2016.
95 f.: il.
Referências.
CDD581.5
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca Examinadora
Os objetivos deste estudo foram prospectar espécies herbáceas da flora nativa do bioma
Caatinga com potencial para cobertura vegetal de áreas degradadas; caracterizar, avaliar
a influência de diferentes temperaturas, métodos de superação de dormência e o efeito
do estresse hídrico e salino na germinação de sementes de Senna uniflora; e avaliar o
crescimento inicial de plantas de Senna uniflora sob diferentes regimes hídricos em dois
substratos. O levantamento das espécies foi realizado em quatro áreas, com taludes, nos
canais da obra do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), sendo a seleção
de acordo com características espécie-específicas. Sementes de S.uniflora foram
caracterizadas quanto ao peso de mil, umidade e curva de embebição e submetidas a
testes para avaliar os efeitos dos regimes de temperatura e métodos de superação de
dormência, do estresse hídrico e salino na germinação. As mudas de S. uniflora
receberam os seguintes tratamentos de água: 100%, 75%, 50% e 25% da capacidade de
campo e foram avaliadas aos 60 dias após semeadura o nos diferentes tratamentos. As
espécies com maior potencial para cobertura vegetal foram Senna uniflora, Raphiodon
echinus, Sida galheirensis, Tridax procumbens, Tephrosia purpurea, Mesosphaerum
suaveolens, Diodella teres, Waltheria rodundifolia, Glinus radiatus e Herissantia
crispa. Os métodos mais eficientes para superação de dormência foram escarificação
mecânica e química a 5, 15 e 30 min, nas temperaturas de 25ºC e 30ºC e 30/20ºC. A
espécie S. uniflora é mais sensível ao estresse hídrico do que ao estresse salino, no
entanto apresenta um limite mínimo de germinação a -0,8 MPa, em ambos os casos. O
déficit hídrico afetou o crescimento e a qualidade de mudas de S. uniflora.
The objectives of this study were exploring herbaceous species of the native flora of the
savanna biome with potential for vegetation of degraded areas; characterize, evaluate
the influence of different temperatures and methods of scarification and the effect of
water and salt stress on germination of Senna uniflora seeds; and evaluate the initial
growth S.uniflora seedlings under different water regimes in two substrates. The survey
of the species was carried out in four areas with slopes, in the channels of the São
Francisco River Integration Project (PISF) work, the selection according to species-
specific characteristics. S.uniflora seeds were characterized by weight of a thousand,
humidity and imbibition curve and subjected to tests to evaluate the effects of
temperature regimes and methods of scarification, the water and salt stress in
germination. Seedlings of S. uniflora received the following water treatments: 100%,
75%, 50% and 25% of field capacity and were evaluated 60 days after sowing in the
different treatments. The species with the greatest potential for vegetation were Senna
uniflora, Raphiodon echinus, Sida galheirensis, Tridax procumbens Tephrosia
purpurea, Mesosphaerum suaveolens, Diodella teres Waltheria rodundifolia, Glinus
radiatus and Herissantia crispa. The most efficient methods to overcome dormancy
were mechanical scarification and chemical 5, 15 and 30 min at temperatures of 25ºC
and 30ºC and 30/20ºC. The species S. uniflora is more sensitive to water stress than
stress salt, however having a minimum germination limited to -0.8 MPa in both cases.
The drought affected the growth and quality of seedlings S. uniflora.
Key words: Caatinga. Vegetation. Senna uniflora. Seed germination. Plant growth.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 10
2.1 O bioma Caatinga ............................................................................................ 10
2.2 Plantas para recuperação de áreas degradadas ................................................. 11
2.3 Aspectos da germinação das sementes ............................................................ 12
2.3.1 Influencia da água na germinação ............................................................ 17
2.3.2 Influencia da temperatura na germinação ................................................. 19
2.3.3 Influência da luz na geminação ................................................................ 20
2.3.4 Influência de sais na germinação .............................................................. 21
2.3.5 Alelopatia ................................................................................................. 22
2.4 Efeito do déficit hídrico em plantas ................................................................. 24
3. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 28
4. PROSPECÇÃO DE ESPÉCIES PIONEIRAS NATIVAS DA CAATINGA PARA
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ... 39
5. ECOFISIOLOGIA DA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Senna
uniflora (MILL.) H.S.IRWIN & BARNEBY ................................................................ 60
6. CRESCIMENTO DE PLANTAS DE Senna uniflora (MILL.) H.S.IRWIN &
BARNEBY SUBMETIDAS AO DÉFICIT HÍDRICO .................................................. 84
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 95
8
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
germinar temperatura de 5ºC e 40ºC, sendo a máxima entre 35ºC e 40ºC, a ótima entre
15ºC e 30ºC e a mínima entre 10ºC e 5ºC. Para germinação de espécies nativas do
Cerrado as temperaturas mínima e máxima de germinação são de 10ºC e 45º C,
respectivamente (ZAIDAN; CARREIRA, 2008). Na Caatinga, a faixa temperatura
ótima para geminação varia entre 30 a 35ºC, evidenciando que essas espécies são mais
tolerantes a elevadas temperaturas quando comparadas às espécies de áreas mais úmidas
(CABRAL et al., 2003; MEIADO et al., 2010)
Além da faixa de temperatura ótima para geminação, algumas espécies ainda
requerem alternância de temperatura, à semelhança do que ocorre naturalmente no
ambiente, onde durante o dia as temperaturas são mais elevadas do que a noite, para que
o processo seja eficiente (SANTOS; AGUIAR, 2000). A temperatura menor é mantida
por 16 horas, alternada com 8 horas de temperatura mais alta (POPINIGIS, 1985).
Copeland e Mcdonald (1995) associam essa necessidade à dormência das sementes,
apesar de que temperaturas alternadas pode acelerar a germinação de sementes sem
dormência.
Infere-se então, que as temperaturas cardeais são espécie-específicas, refletindo
as características de germinação e permitindo conhecer o local de ocorrência das
espécies (BORGHETTI; FERREIRA, 2004). Isso porque a distribuição geográfica de
determinada espécie está relacionada diretamente à sua faixa de temperaturas cardeais
(LABOURIAU, 1983). Assim, estudos sobre a influencia da temperatura na germinação
são essencias para entender aspectos ecofisiológicos e bioquímicos envolvidos nesse
processo e, assim, contribuir para o entendimento acerca do estabelecimento destas
plantas em determinado hábitat (LABOURIAU, 1983; BEWLEY; BLACK, 1994).
(SEO et al., 2009). Por isso, na maioria das vezes, os fatores luz e temperatura
influenciam conjuntamente a germinação de sementes (BEWLEY; BLACK, 1994)
Ferreira et al. (2001) e Cardoso (2008) classificam as sementes de acordo sua
resposta à luz. De acordo com os autores, quando a semente é indiferente à luz para
germinar, a espécie é dita fotoblástica neutra ou afotoblástica; quando a semente
necessita de luz contínua para germinação, tem-se espécies fotoblásticas positivas e
quando as sementes apresentam maior germinação no escuro, são consideradas
fotoblásticas negativas. Sementes não fotoblásticas podem necessitar de luminosidade
quando submetidas a condições ambientais desfavoráveis, uma vez que, a luz atua no
controle respiratório, na síntese de enzimas e hormônios, na permeabilidade dos
tegumentos e no metabolismo de lipídeos (TOLEDO; MARCOS FILHO, 1977).
Sucintamente, a presença ou ausência de luz tem influencia direta sobre o início
da germinação, a porcentagem final de germinação e o desenvolvimento inicial de
plântulas, de determinadas espécies (BEWLEY; BLACK, 1994). Dessa forma, faz-se
pertinente a classificação das sementes quanto à sensibilidade ao estímulo luminoso
para a realização dos testes de germinação. Para tal, as Regras para Análise de Sementes
(RAS) estabelecem métodos relacionados aos cuidados no controle da luz para os testes
de germinação, baseados na sensibilidade das sementes à luz (BRASIL, 2009).
o estresse salino provoca uma série de eventos integrados que resultam em alterações
morfológicas, anatômicas, celulares, bioquímicas e moleculares nos indivíduos, de
forma que esse consiga se adaptar à essa condição adversa No entanto, essas
modificações variam com a espécie, com a duração e a intensidade do estresse sofrido
(LARCHER, 2000).
Desse modo, solos salinos podem ser limitantes para a germinação e o
desenvolvimento das espécies em diferentes locais. Segundo Lima e Torres (2009), a
metodologia mais utilizada para determinação da sensibilidade de determinada espécie à
salinidade é a observação da germinabilidade em substratos salinos. Portanto, faz-se
necessário estudos voltados para tolerância das espécies à regiões salinizadas e secas.
2.3.5 Alelopatia
O fenômeno da germinação pode sofrer diversas interferências, sejam elas de
natureza biótica ou abiótica. Quando de natureza abiótica, a interferência ocorre em
função dos fatores ambientais luz, água, temperatura, salinidade do solo (FERREIRA;
BORGHETTI, 2004), como visto anteriormente. Em se tratando da interferência biótica,
além das características intrínsecas da própria semente, já mencionadas, pode existir
liberação de substancias químicas tóxicas por outras plantas vivas ou a decomposição
de resíduos no meio, afetando a germinação ou o crescimento de plantas
(WANDSCHEER; PASTORINI, 2008).
As plantas que vivem em comunidade competem constantemente por luz, água e
nutrientes para garantir a sobrevivência da espécie no ambiente (ALVES et al., 2004).
Algumas delas desenvolvem mecanismos de defesa a partir da síntese e liberação de
metabólitos secundários, interferindo no biociclo de outras plantas (REZENDE et al.,
2011). O efeito que essas substâncias provocam em plantas próximas constitui o campo
da alelopatia (TAIZ; ZEIGER, 2013).
Os metabólitos secundários, também denominados substâncias alelopáticas ou
aleloquímicos são compostos químicos resultantes de complexas interações entre rotas
de biossíntese, transporte, estocagem e degradação e liberados pelas plantas a partir da
decomposição de partes aéreas ou exsudação direta pelas raízes no solo
(BAGHESTANI et al.,1999; REIGOSA; PEDRO, 2002).
O termo alelopatia foi criado por Molisch em 1937 e oriunda do grego allelon =
de um para outro, pathós = sofrer (FERREIRA; AQUILA, 2000). A alelopatia tem sido
definida como um fenômeno de ocorrência natural (DE CONTI; FRANCO, 2011)
relacionado à capacidade dos vegetais superiores ou inferiores produzirem e liberarem
23
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Resumo
O bioma Caatinga vem sofrendo alterações decorrentes dos processos antrópicos, cada
vez mais evidentes, os quais podem resultar perda da biodiversidade, degradação dos
solos, desertificação, dentre outros problema ambientais. O processo de regeneração
natural de áreas degradadas tende a ser acelerado com a realização de cobertura vegetal
com espécies herbáceas. O objetivo deste estudo foi prospectar espécies herbáceas
pioneiras da flora nativa do bioma Caatinga com potencial para cobertura vegetal de
áreas degradadas. Para levantamento de espécies herbáceas nativas da Caatinga foram
selecionadas quatro áreas com taludes nos canais da obra do Projeto de Integração do
Rio São Francisco (PISF), nos municípios de Custódia (PE), Cabrobó (PE), Salgueiro
(PE) e Mauriti (CE). A metodologia utilizada para seleção das espécies balizou-se nas
características espécie-específicas: origem, hábito, ciclo de vida, propagação, síndrome
de dispersão, cobertura, adensamento e efeito alelopático. As espécies que apresentaram
maior potencial, de acordo com os atributos considerados neste estudo foram Senna
uniflora, Raphiodon echinus, Sida galheirensis, Tridax procumbens, Tephrosia
purpurea, Mesosphaerum suaveolens, Diodella teres, Waltheria rodundifolia, Glinus
radiatus e Herissantia crispa.
Abstract
The Caatinga has undergone changes resulting from anthropogenic processes,
increasingly evident, which can result in loss of biodiversity, soil degradation,
desertification, among other environmental problem. The process of natural
regeneration of degraded areas tends to be accelerated with the completion of plant
cover with herbaceous species. The aim of this study was exploring pioneer herbaceous
species of the native flora of the Caatinga biome with potential for vegetation of
degraded areas. Hoisting of native herbaceous species of Caatinga were selected four
areas with embankments in the work channel of the São Francisco River Integration
Project (SFRI) in Custody municipalities (PE), Cabrobó (PE) Salgueiro (PE) and
Mauriti ( CE). The methodology used for the selection of species buoyed on the species-
specific characteristics: origin, habits, life cycle, propagation, dispersion syndrome,
coverage, density and allelopathic effect. The species with the greatest potential,
according to the attributes considered in this study were Senna uniflora, Raphiodon
echinus, Sida galheirensis, Tridax procumbens, Tephrosia purpurea, Mesosphaerum
suaveolens, Diodella teres, Waltheria rodundifolia, Glinus radiatus e Herissantia
crispa.
Introdução
A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e compreende uma área
de 844.453 km² de extensão, abrangendo basicamente a região nordeste e o norte do
estado de Minas Gerais (IBGE, 2004). Esse bioma apresenta formações vegetais
florística, fisionômica e ecologicamente distintas, sendo a savana estépica, a vegetação
predominante (MORO et al., 2014). As condições edafoclimáticas são bastante
irregulares. Os solos são rasos, pedregosos, pobres em matéria orgânica, com baixa
capacidade de retenção de água e às vezes salinos (AMORIM et al., 2005; PESSOA et
al., 2008). O clima é semiárido, caracterizado por apresentar forte insolação, altas
médias de temperatura, entre 25° e 30° C, elevadas taxas de evapotranspiração potencial
(2.500 mm/ano) e baixos índices pluviométricos, em torno de 400 a 700 mm anuais,
com grande variabilidade espacial e temporal (MARENGO et al., 2011;
MONTENEGRO; MONTENEGRO, 2012)
Esse bioma vem sofrendo modificações fitofisionômicas e estruturais que estão
relacionadas a processos antrópicos, desde a época da colonização do Brasil
(TABARELLI; VICENTE, 2004). A eliminação sistemática da cobertura vegetal e o
uso inadequado e insustentável dos recursos naturais têm acarretado sérios problemas
ambientais ao semiárido brasileiro, dentre os quais se destacam a redução da
biodiversidade, a degradação dos solos e a desertificação (PEREIRA et al., 2001;
FRANCA ROCHA, 2008).
Neste sentido, o projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) com Bacias
Hidrográficas do Nordeste Setentrional, que abrange 477 quilômetros de extensão em
dois eixos (Leste e Norte) é considerado a maior obra de infraestrutura hídrica do país
dentro da Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 2016), que tem por
objetivo garantir a segurança hídrica da população do semiárido nordestino. No entanto,
não deixam de exercer influência sobre solo, a flora e a fauna da região, com potencial
para gerar grandes transformações na região com novo ajuste fundiário e pressão sobre
a cobertura vegetal da Caatinga (RODRIGUES, 2010).
Posto isso, a recuperação dessas áreas torna-se fundamental para o a atenuação
dos impactos ambientais do PISF, além de serem obrigações do processo de
licenciamento ambiental (LI 925/2013). De acordo com Guerra (1995), a revegetação
exerce um papel fundamental na melhoria dos atributos físicos e químicos dos solos,
além de fornecer, por meio da cobertura vegetal, a proteção necessária para reduzir a
perda de sedimentos por erosão. Cheung et al. (2009) atribuem a melhoria dos atributos
do solo, bem como seu enriquecimento com matéria orgânica, principalmente, à
41
presença de espécies herbáceas pioneiras, razão essa, que as tornam fundamentais para
regeneração natural de espécies arbustivas e arbóreas.
A seleção de espécies a serem utilizadas na cobertura vegetal de áreas
antropizadas deve se balizar na análise dos fatores edáficos, climáticos e ambientais do
local, bem como das características das plantas (PEREIRA, 2008). Para Andrade et al.
(2002), uma das estratégias para seleção de plantas potencialmente aptas para
revegetação de áreas degradadas é a observação de espécies que surgem de modo
espontâneo em ambientes inóspitos, como no caso de taludes artificiais. Essas plantas
que crescem espontaneamente em ambientes alterados são mais indicadas para
recuperação dessas áreas devido à sua maior adaptabilidade às condições desfavoráveis
e baixa exigência em água e nutrientes. Ademais, Gris et al. (2012) destacam que
espécies nativas são as mais indicadas para cobertura de áreas sem vegetação, pois além
de garantirem a preservação do banco genético autóctone, tornam o ambiente mais
próximo do originalmente existente e mais equilibrado ecologicamente.
Nesse contexto, o presente estudo objetivou prospectar espécies herbáceas
pioneiras da flora nativa do bioma Caatinga com potencial para cobertura vegetal de
áreas degradadas.
Material e métodos
Área de estudo
O estudo foi desenvolvido em taludes de aterros compactados distribuídos ao
longo dos canais dos eixos norte e leste, nos estados de PE e CE, na área da obra do
PISF. Considerou-se na seleção dos taludes o tempo de existência do mesmo, bem como
a representatividade desses quanto à cobertura vegetal, com base na percepção visual.
Dessa forma, foram selecionadas quatro áreas com taludes mais antigos e com maior
cobertura vegetal. A área I está localizada no eixo leste e as áreas II, III, IV situam-se no
eixo norte (FIGURA 1).
A primeira área (I) amostrada localiza-se no município de Custódia (PE), entre
as coordenadas 08°14‟51,2‟‟S e 37°40‟58,7‟‟W e 08°14‟07,5‟‟S e 37°38‟53,2‟‟W, a
538 m de altitude. A temperatura média anual é de 23,4 °C e máxima e mínima de 30,4
°C e 18,9°C. A precipitação média anual é de 627 mm e a umidade relativa de 68,9%. O
índice de aridez é de 0,39 (HIJMANS et al., 2005).
A segunda área (II) encontra-se em Cabrobó (PE), entre as coordenadas
08°26‟52,6‟‟S e 39°24‟54,0‟‟W e 08°25‟30,8‟‟S e 39°26‟40,5‟‟W, na altitude de 366 m.
A temperatura média anual é de 24,8 °C (máxima 31,4 °C e mínima de 19,8 °C). A
42
precipitação média anual, umidade relativa e índice de aridez são de 541 mm, 61,2% e
0,31, respectivamente (HIJMANS et al., 2005).
A terceira área (III) situa-se em Salgueiro (PE), entre as coordenadas
08°01‟25,3‟‟ S e 39°08‟37,9‟‟W e 07°59‟31,1‟‟S e 39°07‟58,8‟‟W, a 507 m de altitude.
As temperaturas anuais médias, máxima e mínima de 23,8 °C, 30,9 °C e 19,1 °C,
respectivamente. A precipitação média anual é de 616 mm, umidade relativa é de 62,4%
e o índice de aridez de 0,36 (HIJMANS et al., 2005).
A quarta área (IV) está localizada em Mauriti (CE), entre as coordenadas
07°31‟48,4‟‟ S e 38°47‟12,7‟‟W e 07°31‟11,7‟‟S e 38°47‟02,8‟‟W, na altitude de 413m.
A temperatura média anual de 24,5 °C, máxima 31,3 °C, mínima 19,7 °C. A
precipitação média anual, umidade relativa e índice de aridez são de 838 mm, 64,1% e
0,5, respectivamente (HIJMANS et al., 2005).
O clima das quatro áreas é classificado como semiárido quente, do tipo BSh
segundo Koppen. O solo das áreas I e II foi classificado como Luvissolo Crômico (TC),
solo raso, caráter eutrófico e bastante pedregoso na camada superficial (EMBRAPA,
2006). O solo das áreas III e IV é classificado como Neossolo Litólico (RL), solo raso e
geralmente pedregoso e com alta fertilidade natural (EMBRAPA, 2006). Embora seja
importante ressaltar que as espécies inventariadas forma amostradas sobre estruturas de
obra, basicamente compostas por aterros compactados que apresentam estruturas físicas
e químicas distintas dos solos presentes na matriz circundante.
43
Figura 1. Localização dos eixos do PISF, as áreas com taludes amostradas nos
municípios de Custódia (I), Cabrobó (II), Salgueiro (III) e Mauriti (IV) estão indicados
com triângulos.
Levantamento florístico
Inicialmente foi realizado um levantamento florístico em todos os taludes das
áreas de estudo. O levantamento ocorreu durante os meses de novembro (estação seca)
de 2014 e fevereiro e março (estação chuvosa) de 2015, baseado no prévio
conhecimento dos táxons, com posterior coleta de material botânico das amostras
encontradas em estágio fenológico reprodutivo (FIDALGO & BONONI, 1989). As
amostras provenientes do estudo quantitativo de cobertura e densidade também foram
incluídas na lista florística.
As exsicatas do material coletado foram depositadas na coleção botânica do
PISF. A identificação taxonômica se deu através de consultas a especialistas e literatura
especializada. A classificação das espécies seguiu o sistema APG III (2009) e Souza &
Lorenzi (2012).
44
Resultados e discussão
Das 33 espécies amostradas, 27 foram consideradas nativas e 6 exóticas, sendo que 66,6%
dessas pertencem a família Poaceae. Dessa forma, mesmo a família Poaceae estando entre as mais
representativas do estrato herbáceo, suas espécies apresentaram pouca importância, visto que o foco
do estudo são espécies nativas. Conforme Carpanezzi (1998), dentre as finalidades da recuperação
de áreas está a reabilitação da biodiversidade local, por isso as espécies selecionadas devem ser,
preferencialmente, nativas do ambiente em recuperação.
Em se tratando da forma de vida da planta, ou seja, seu hábito, 21 espécies foram
classificadas como ervas, 9 como subarbustos e 3 como erva/subarbusto. Segundo Guariguata e
Ostertag (2001), no processo de sucessão natural as espécies pioneiras são geralmente plantas
herbáceas ruderais, as quais enriquecem o solo e permitem o estabelecimento de espécies tardias.
Quanto ao ciclo de vida, 17 espécies são anuais, 13 são perenes e 3 podem ser perenes/anuais em
função do ambiente (TABELA 3).
No que diz respeito à propagação, todas as espécies se disseminam por meio de sementes
(TABELA 3). Segundo Nogueira et al. (2014) a semente é um dos mais sofisticados avanços
evolutivos que as plantas desenvolveram para potencializar o processo de propagação e
perpetuação. No entanto, duas dessas espécies (Commelina erecta e Dactyloctenium aegyptium),
além de se propagar por meio de sementes ainda podem se reproduzir por meio de estolões (caules
aéreos finos que possuem crescimento horizontal, originando novas plantas).
Além disso, a maioria das espécies (63,6%) possui dispersão do tipo autocórica, ou seja,
através de mecanismos da própria planta e 36,4% necessitam de agentes externos para se
dispersarem, seja o vento (anemocórica) ou animais (zoocórica) (TABELA 3). A vantagem da
autocoria é a não necessidade de agentes dispersantes (VAN DER PIJL, 1982). A dispersão
anemocórica é vista como uma especialização, ou seja, adaptação para ambientes pouco favoráveis
(SNOW, 1970), além de importante em ambientes abertos (FENNER, 1985). Já a dispersão
zoocórica possui como vantagens o distanciamento das sementes dos arredores da planta mãe e a
colonização de clareiras de áreas degradadas (DÁRIO; ALMEIDA, 2000). Entretanto, em áreas
com níveis severos de degradação como as encontradas comumente nas áreas do PISF, a presença
da fauna pode ser diminuída. Assim, preferiu-se espécies que independem de agentes biológicos
para sua dispersão.
A cobertura/indivíduo variou entre 0,44% e 9,57% (TABELA 3). As espécies que
apresentaram menores porcentagens de cobertura foram Tridax procumbens, Spigelia anthelmia,
50
Oxalis glaucescens e Diodella teres, enquanto que os maiores percentuais de cobertura foram de
Glinus radiatus (9,57%) e Senna uniflora (8,18%).
Com relação ao adensamento, as espécies que possuem mais indivíduos habitando um
mesmo m², portanto maior capacidade de agregação são: Dactyloctenium aegyptium (4,44),
Mesosphaerum suaveolens (4,41), Tridax procumbens (4,17) e Diodella teres (4,00). Já o menor
valor de adensamento (1,00) foi das espécies Commelina erecta, Astrea lobata, Euphorbia
thymifolia e Zornia cericea
Avaliando o efeito alelopático da folha, do caule e da raiz das dez espécies selecionadas
(Tabela 3), verificou-se que apenas a Senna uniflora apresentou baixa alelopatia tanto folha como
do caule e raiz, com 85%, 85% e 94% de germinação, respectivamente. Em contrapartida, Glinus
radiatus revelou-se uma espécie totalmente alelopática para folha e caule, com 0% de germinação
em ambas os extratos, e com baixa alelopatia para raiz (83% de germinação).
51
Tabela 3 - Características das espécies do estrato herbáceo levantadas nas áreas de estudo I, II, II e IV
Cobertura/
Síndrome de Adensamento Efeito
Família Espécie Origem Hábito Ciclo Propagação indivíduo
dispersão (indivíduos/m²) Alelopático
(%)
folha caule raiz
Alternanthera
Amaranthaceae nativa Subarbusto anual/perene Semente Anemocórica 1,54 3,89
tenella
Amaranthus
Amaranthaceae exótica Erva Anual Semente Anemocórica 5,00 2,00
viridis
Tridax
Asteraceae nativa Erva Anual Semente Anemocórica 0,44 4,17 médio alto médio
procumbens
Commelina
Commelinaceae nativa Erva Perene semente/estolões Zoocórica 3,50 1,00
erecta
Evolvolus
Convolvulaceae nativa Erva Anual Semente Autocórica 4,92 1,83
cordatus
Euphorbiaceae Astraea lobata nativa Erva Anual Semente Autocórica 1,00 1,00
Euphorbia
Euphorbiaceae nativa Erva Anual Semente Autocórica 1,00 1,00
thymifolia
Indigofera
Fabaceae nativa erva/subarbusto Perene Semente Autocórica 1,25 1,33
microcarpa
Fabaceae Mimosa pudica nativa Subarbusto Perene Semente Autocórica 4,35 1,35
Fabaceae Senna uniflora nativa Erva Anual Semente Autocórica 8,18 2,20 baixo baixo baixo
Tephrosia
Fabaceae nativa Subarbusto Perene Semente Autocórica 5,17 2,19 alto médio médio
purpurea
Fabaceae Zornia sericea nativa Subarbusto Perene Semente Autocórica 2,00 1,00
Rhaphiodon
Lamiaceae nativa Erva Perene Semente Autocórica 1,32 3,79 médio médio baixo
echinus
Mesosphaerum
Lamiaceae nativa Subarbusto Anual Semente Autocórica 1,92 4,41 alto médio baixo
suaveolens
Spigelia
Loganiaceae nativa Erva Anual Semente Zoocórica 0,63 4,00
anthelmia
Herissantia
Malvaceae nativa erva/subarbusto perene Semente Autocórica 5,89 1,38 alto alto baixo
crispa
Melochia
Malvaceae nativa Subarbusto perene Semente Autocórica 3,07 1,97
tomentosa
Malvaceae Sida cordifolia nativa Subarbusto perene Semente Autocórica 6,10 1,75
Malvaceae Sida galheirensis nativa Subarbusto perene Semente Autocórica 4,02 2,10 alto médio baixo
Continua...
52
Cobertura/
Síndrome de Adensamento Efeito
Família Espécie Origem Hábito Ciclo Propagação indivíduo
dispersão (indivíduos/m²) Alelopático
(%)
folha caule raiz
Waltheria
Malvaceae nativa Subarbusto perene Semente Autocórica 3,09 3,40 baixo médio baixo
rotundifolia
Molluginaceae Glinus radiatus nativa Erva anual Semente Autocórica 9,57 1,56 total total Baixo
Mollugo
Molluginaceae nativa Erva anual Semente Autocórica 1,80 1,97
verticillata
Nyctaginaceae Boerhavia difusa exótica Erva perene Semente Zoocórica 1,38 2,54
Oxalis
Oxalidaceae nativa Erva perene Semente Autocórica 0,67 1,50
glaucescens
Poaceae Cenchrus ciliaris exótica Erva anual Semente Zoocórica 2,40 1,67
Poaceae Chloris barbata nativa Erva anual/perene Semente Zoocórica 1,51 3,15
Dactyloctenium
Poaceae exótica Erva anual/perene semente/estolões Zoocórica 1,13 4,44
aegyptium
Echinochloa
Poaceae exótica Erva anual Semente Zoocórica 1,80 1,25
colona
Poaceae Melinis repens exótica Erva anual Semente Anemocórica 6,71 2,86
Portulaca
Portulacaceae nativa Erva anual Semente Autocórica 2,28 1,79
oleracea
Rubiaceae Diodella teres nativa Erva anual Semente Autocórica 0,77 4,00 baixo médio Baixo
Richardia
Rubiaceae nativa erva/subarbusto anual Semente Autocórica 1,33 1,50
grandiflora
Zygophyllaceae Tribulos radialis nativa Erva anual Semente Zoocórica 6,00 1,44
53
Tabela 4 - Ranking das dez espécies com maior pontuação no somatório dos atributos
hábito, ciclo, propagação, síndrome de dispersão, cobertura, adensamento e efeito
alelopático
Conclusão
As espécies Senna uniflora, Raphiodon echinus, Sida galheirensis, Tridax
procumbens, Tephrosia purpurea, Mesosphaerum suaveolens, Diodella teres, Waltheria
rodundifolia, Glinus radiatus e Herissantia crispa apresentam potencial para uso como
cobertura vegetal em áreas degradadas, com potencial para uma eficente cobertura de
solos expostos. Assim, pelos atributos avaliados no presente estudo, o plantio dessa
espécies pode também iniciar os processos de regeneração natural da área impactada,
seja pela dispersão facilitada, pela fixação de nitrogênio e pela proteção dos solos.
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Resumo
Estudos sobre a germinação, dormência e as relações hídricas em condições de estresse
são importantes para ecofisiologia das sementes, permitindo compreender os
mecanismos de adaptação e os limites de tolerância das espécies às condições naturais.
O objetivo deste estudo foi caracterizar, bem como avaliar a influência de diferentes
temperaturas, métodos de superação de dormência e o efeito do estresse hídrico e salino
na germinação de S. uniflora. As sementes foram caracterizadas quando ao peso de mil,
umidade e curva de embebição. Foram realizados testes de germinação em sementes de
S. uniflora para avaliar o efeito dos regimes de temperatura (20ºC, 25ºC, 30ºC, 35ºC,
40ºC e 30/20ºC) e métodos de superação de dormência (sem escarificação (controle);
escarificação mecânica (lixa nº 80); escarificação química (ácido sulfúrico PA) por 5
min, 15 min e 30 min e imersão em água a 80º C por 10 min), e o efeito do estresse
hídrico (PEG) e salino (NaCl) nos potenciais osmóticos de 0,0; -0,2, -0,4, e -0,8 MPa .
As variáveis avaliadas foram porcentagem de germinação (G), índice de velocidade de
germinação (IVG) e tempo médio de germinação (TMG). Os métodos de escarificação
mecânica e química a 5, 15 e 30 min, foram eficientes para superar a dormência física,
sobretudo nos regimes de temperatura constante de 25º C e 30º C e alternada 30/20º C.
Sob condições de estresse hídrico (PEG) e salino (NaCl), a germinação das sementes foi
reduzida com o aumento do potencial osmótico, sendo -0,8 MPa o limite mínimo de
germinação. Sementes de S. uniflora são mais sensíveis ao estresse hídrico do que ao
estresse salino.
Abstract
Studies on germination, dormancy and water relations in conditions of stress are
important to ecophysiology of seeds, allowing understand the mechanisms of adaptation
and tolerance limits of the species to natural conditions. The aim of this study was to
characterize and evaluate the influence of different temperatures, numbness overcoming
methods and the effect of water and salt stress on germination of seeds of S. uniflora.
The seeds were characterized when the weight of a thousand, humidity and imbibition
curve. The germination tests were carried out in S. seeds uniflora to evaluate the effect
of temperature regimes (20ºC, 25ºC, 30ºC, 35ºC, 40ºC and 30 / 20ºC) and methods of
scarification (without scarification (control), mechanical scarification (sandpaper No.
80); chemical scarification (sulfuric acid PA) for 5 min, 15 min and 30 min and
immersed in water at 80 ° C for 10 min), and the effect of water stress (PEG) and salt
(NaCl) at osmotic potentials of 0.0; -0.2, -0.4, And -0.8 MPa. the variables germination
percentage were evaluated (G), germination speed index (GSI) and mean germination
time (GMT). Methods of mechanical scarification and chemical 5, 15 and 30 min were
efficient to overcome physical numbness, especially in the constant temperature regimes
of 25º C and 30º C and AC 30 / 20th C. Under water stress conditions (PEG) and salt
(NaCl), seed germination was reduced with increased osmotic potential, and -0.8 MPa
minimum threshold germination. S. uniflora seeds are more sensitive to water stress
than to salt stress.
Key words: Seed dormancy. Dormancy breaking. Temperature. Water and salt stress.
61
Introdução
A Caatinga é o bioma predominante no semiárido do nordeste brasileiro,
caracterizado pelo déficit hídrico e o excesso de sais no solo, e apresenta uma grande
diversidade de espécies vegetais (MONTENEGRO; MONTENEGRO 2012). Senna
uniflora (Mill.) H.S.Irwin & Barneby., popularmente conhecida como mata-pasto, é
uma espécie pertencente à família Fabaceae e considerada uma planta nativa da
Caatinga (LORENZI, 2008; ALVES et al., 2009). Trata-se de uma erva anual,
espontânea, pioneira, altura variável de 0,35 a 2 m em função do ambiente e propaga-se
por sementes (COSTA et al., 2002; LORENZI, 2008; ALVES et al., 2009).
Plantas desta espécie são frequentemente encontradas em áreas degradadas da
região da Caatinga (LORENZI, 2008; ALVES et al., 2009) e tem apresentado potencial
para utilização na recuperação dessas áreas (FAVERO et al., 2000). Possuem também
características forrageira (FAVERO et al., 2000; COSTA et al., 2002), além de ser um
eficiente adubo verde (SILVEIRA et al. 2009). Favero et al. (2000), admitem que a S.
uniflora pode promover os mesmos efeitos de cobertura do solo, produção de biomassa
e ciclagem de nutrientes que as espécies introduzidas para adubação verde.
A ecofisiologia da germinação de sementes é fundamental para compreender o
estabelecimento de espécies ruderais, sua sucessão e regeneração natural (VAZQUEZ-
YANES; OROZCO-SEGOVIA, 1994). Ademais, é um instrumento eficaz para explorar
espécies nativas, especialmente na Caatinga, onde os estudos sobre a germinação ainda
são escassos (SILVA et al., 2014).
O processo de germinação consiste na retomada do desenvolvimento
embrionário da semente, decorrente de uma série de mudanças fisiológicas e
bioquímicas que se inicia com a absorção de água pela semente seca e termina com o
alongamento do eixo embrionário (LABOURIAU, 1983; BEWLEY; BLACK, 1994,
BEWLEY, 1997). Entretanto, mesmo sob condições ambientais favoráveis, sementes
viáveis e intactas podem apresentar incapacidade de germinarem, fenômeno esse
denominado dormência (BEWLEY, 1997). Essa condição de inatividade fisiológica
favorece a sobrevivência e perpetuação das espécies, além de proporcionar a
distribuição da germinação no tempo e no espaço (POPINIGIS, 1985; FENNER, 1991).
Segundo Bewley e Black (1994) há três tipos de dormência em sementes: física
ou tegumentar, fisiológica e morfológica ou por imaturidade do embrião. O tipo mais
recorrente entre as espécies vegetais é a dormência física, ocorrendo em 15 famílias de
62
Material e métodos
Coleta de sementes
Frutos de S. uniflora foram coletados em populações naturais da vegetação da
Caatinga em São José de Piranhas, em julho de 2015, no estado da Paraíba, Brasil (07°
05‟ 25,98‟‟ S e 38° 38‟ 41,14‟‟ W e 350 m de altitude). O clima predominante na região
é semiárido, quente e seco, do tipo BSh, segundo a classificação de Köppen, com
temperaturas média anual, mínima e máxima de 24,85° C, 20,11° C e 31,49° C,
respectivamente e, precipitação média anual de 923 mm. Após a coleta, os frutos foram
beneficiados e as sementes armazenadas em câmara fria à temperatura de 10° C até o
início do experimento. O experimento foi conduzido no Laboratório de Sementes da
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).
Peso e umidade das sementes
O peso de mil sementes foi determinado segundo as Regras para Análise de
Sementes (RAS) (BRASIL, 2009), utilizando-se oito repetições de 100 sementes puras
das populações coletadas, com resultado expresso em gramas.
O teor de umidade das sementes foi determinado pelo método de estufa, em
estufa de circulação forçada a 105º C ± 3º C por 24 horas, conforme a RAS (BRASIL,
2009). Para tal, utilizaram-se quatro repetições de 25 sementes em cadinhos de alumínio
com tampa. A pesagem foi realizada em balança analítica de precisão (0,0001 g). A
umidade foi calculada segundo a RAS (Brasil, 2009), com resultado expresso em
porcentagem.
Embebição das sementes
O experimento de embebição foi conduzido a fim de testar a impermeabilidade
do tegumento da semente à água. Foram utilizados seis tratamentos, sem escarificação
(controle); escarificação mecânica (lixa nº 80); escarificação química (ácido sulfúrico
PA) por 5 min, 15 min e 30 min e imersão em água a 80º C por 10 min, com quatro
repetições de 50 sementes. Todos os tratamentos foram colocados em placas de petri,
sobre papel filtro umedecido com água destilada, à temperatura ambiente (BASKIN et
al., 1998; ABUDUREHEMAN et al., 2014). A embebição das sementes foi medida
64
0,05) para comparação de médias entre os dois agentes osmóticos e análise de regressão
para os níveis de potenciais osmóticos, com ajuste do modelo baseado no coeficiente de
determinação (R²) (p ≤ 0,05). As análises estatísticas foram realizadas utilizando o
software estatístico Sisvar 5.6 (FERREIRA, 2011).
Resultados
Peso e umidade das sementes
As sementes de S. uniflora são relativamente pequenas, sendo o peso de mil
sementes, em média, 10,45 ± 0,01g. Os resultados de umidade sugerem que as sementes
são ortodoxas, uma vez que apresentaram baixo teor de umidade, 5,65 ± 0,31%.
Embebição das sementes
A curva de embebição das sementes escarificadas química e mecanicamente
bem como não escarificadas ou imersas em água 80º apresentaram o mesmo padrão,
com aumento gradual nas 12 primeiras horas e estabilização após esse período. No
entanto, o peso das sementes submetidas à escarificação mecânica e química por 30
min, 15 min e 5 min aumentaram 140 ± 3,39%, 126 ± 1,62%, 126 ± 4,17% e 70 ±
4,52%, respectivamente, após 12h, ao passo que as sementes imersas em água a 80º e
não escarificadas tiveram seus pesos aumentados em 30 ± 1,61% e 27 ± 1,25%,
respectivamente (FIGURA 1). Isto é, o processo de embebição em sementes não
escarificadas e imersas em água a 80º C ocorreu de forma reduzida quando comparado
em sementes escarificadas, as quais apresentaram rápida absorção de água. Esse
comportamento demonstra a baixa permeabilidade do tegumento das sementes à água,
caracterizando dormência física. Dessa forma, verifica-se a necessidade de utilização de
tratamentos pré germinativos para ocorrência da germinação de sementes de S. uniflora.
e uniformizar o processo germinativo.
67
significativamente mais altas que os demais métodos. Além disso, em todos os regimes
de temperatura, exceto quando as sementes foram incubadas em temperatura alternada
30/20º C, o método de imersão em água a 80º C foi o menos eficiente na superação de
dormência, com menor G, não diferindo estatisticamente do controle (TABELA 1).
Discussão
Estudo recente revelou que em mais de 98% das espécies de Fabaceae as
sementes são ortodoxas (JAYASURIYA et al., 2012). Corroborando, Abudureheman et
al. (2014) identificaram comportamento ortodoxo nas sementes de 19 espécies de
Fabaceae estudadas. As sementes da espécie S. uniflora (Fabaceae) também
apresentaram baixo teor de umidade. Assim, os resultados sugerem que essa espécie é
ortodoxa e possui alta tolerância à dessecação (DICKIE; PRITCHARD, 2002).
Além disso, verificou-se a baixa permeabilidade do tegumento das sementes de
S. uniflora à água. Essa característica também foi encontrada em outras espécies de
Senna, a exemplos de Senna marilandica e Senna obtusifolia (BASKIN et al., 1998);
Senna corymbosa (SANTOS et al., 2008); Senna macranthera (LEMOS FILHO et al.,
1997) e Senna multijuga (LEMOS FILHO et al., 1997; RODRIGUES JUNIOR et al.,
2014), além de 15 espécies de Fabaceae (ABUDUREHEMAN et al., 2014), visto que é
uma característica comum a essa família botânica. De acordo com Abudureheman et al.
(2014), a embebição das sementes é determinada por atributos espécie específicos e
pelo grau de dureza da semente. Por isso, Hu et al. (2009) afirmam que estão
diretamente relacionados com o teor de umidade das sementes.
O processo de embebição em sementes escarificadas mecânica ou quimicamente
de S. uniflora foi notavelmente mais eficiente quando comparado em sementes não
escarificadas ou imersas em água á 80º C, uma vez que, aquelas aumentaram seus pesos
em mais de 100% enquanto essas tiveram aumentos inferiores a 30%, após 12 horas
(FIGURA1). Resultados semelhantes foram encontrados por Baskin et al. (1998), em
74
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Resumo
O estresse hídrico é um dos fatores ambientais que mais limita a germinação de
sementes, o crescimento e desenvolvimento das plantas, tanto em ecossistemas naturais
quanto em sistemas agrícolas. Em se tratando do semiárido do nordeste brasileiro, o
déficit hídrico é uma característica climática e uma condicionante da vegetação da
Caatinga. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento de plantas
de Senna uniflora sob diferentes disponibilidades hídricas, em dois substratos. O
experimento foi realizado na Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus
de Ciências Agrárias, em viveiro, no período de abril a maio de 2016. Utilizou-se
delineamento em blocos casualizados, em esquema fatorial 2x4, com dois substratos
("topsoil" e "bota fora") e quatro regimes hídricos (100%, 75%, 50% e 25% da
capacidade de campo). A umidade do solo foi mantida por meio de manutenção de peso
das parcelas experimentais. As variáveis analisadas foram: número de folhas, altura da
planta, diâmetro do caule, fitomassa seca da parte aérea, fitomassa seca da raiz,
fitomassa seca total e área foliar. Plantas de S. uniflora cultivadas em substratos
“topsoil” e “bota fora”, em geral, apresentaram respostas semelhantes. Todas as
características avaliadas apesentaram melhores resultados sob maior disponibilidade
hídrica. Contudo, à medida que se reduz a disponibilidade hídrica, o crescimento das
plantas é afetado, podendo ocorrer morte das plantas.
Abstract
Water stress is an environmental factor that most limits the germination, growth and
development of plants, both in natural ecosystems and in agricultural systems. In the
case of the Brazilian semi-arid northeast, the water deficit is a climate feature and
conditioning vegetation Caatinga.The objective of this study was to evaluate the growth
of Senna uniflora plants under different water availability in two substrates. The
experiment was conducted at the Federal University of São Francisco Valley Campus of
Agricultural Sciences in nursery, from April to May 2016. It was used a randomized
block design in a 2x4 factorial design, with two substrates ( "topsoil" and "boot out")
and four water regimes (100%, 75%, 50% and 25% of field capacity). Soil moisture was
maintained through weight maintenance of experimental plots. The variables evaluated
were: number of leaves, plant height, stem diameter, shoot dry weight, dry weight of
root, total dry matter and leaf area. S. uniflora plants grown on substrates "topsoil" and
"boot out" generally showed similar responses. All characteristics apesentaram better
results in greater water availability. However, as it reduces water availability plant
growth is affected and may result in death of the same
Introdução
Senna uniflora (Mill.) H.S.Irwin & Barneby., popularmente conhecida como
mata-pasto, é uma espécie pertencente à família botânica Fabaceae e considerada uma
planta nativa da Caatinga, bioma predominante no semiárido brasileiro (LORENZI,
2008; ALVES et al., 2009). Trata-se de uma erva, anual, espontânea, pioneira e com
altura variável de 0,35 a 2 m (LORENZI, 2008). Plantas dessa espécie têm apresentado
potencial como adubo verde (SILVEIRA et al. 2009), pois promove efeitos de cobertura
do solo, produção de biomassa e ciclagem de nutrientes (FAVERO et al., 2000). Além
disso, possuem características forrageiras (FAVERO et al., 2000; COSTA et al., 2002) e
utilização na recuperação de áreas degradadas (FAVERO et al., 2000).
O semiárido brasileiro é caracterizado pelas frequentes secas, relacionadas à
ausência ou variabilidade temporal e espacial das chuvas. (MARENGO et al., 2011).
Essa escassez de água durante grande parte do ano faz com que a fisionomia e a flora
local variem grandemente, sendo, portanto, um fator condicionante da vegetação da
Caatinga (SAMPAIO, 1995).
O estresse hídrico é um dos fatores ambientais que mais limita a germinação de
sementes e o crescimento e desenvolvimento das plantas, tanto em ecossistemas
naturais quanto em sistemas agrícolas (JONES; CORLETT, 1992). Além disso, causa
grandes danos nos processos fisiológicos e metabólicos das plantas, acarretando em
reduções na produtividade (TAIZ; ZEIGER, 2013).
Entende-se por déficit hídrico todo o conteúdo de água de um tecido ou célula
que está abaixo do conteúdo de água mais alto exibido no estado de maior hidratação
(TAIZ; ZEIGER, 2013). O estabelecimento do déficit hídrico ocorre quando a absorção
de água pelo sistema radicular não atende às demandas da planta (FAN et al., 2006).
Contudo, em resposta à incidência de um determinado estresse, uma série de
eventos aconte, que se inicia pela percepção do estresse e finaliza com a expressão de
um conjunto de genes-alvo, que podem conferir às plantas tolerância à determinada
condição adversa (TAIZ; ZEIGER, 2013).
Dentre as principais modificações que ocorrem como respostas de aclimatação
ao déficit hídrico estão as alterações morfológicas, como redução da área foliar,
abscisão foliar, crescimento e aprofundamento do sistema radicular e aumento do
depósito de cera sobre a superfície foliar (LOPEZ et al., 2008; TAIZ; ZEIGER, 2013).
As modificações fisiológicas e bioquímicas incluem redução do potencial hídrico nas
folhas (STEUDLE, 2000), diminuição da eficiência quântica do fotossistema II (SILVA
et al., 2007), redução no teor relativo de água da folha (WAHID; CLOSE, 2007); e
86
Material e métodos
O experimento foi realizado na Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Campus Ciências Agrárias, em condições de viveiro, localizado a latitude de 9°19‟35 S,
longitude de 40°32‟53” O e altitude de 370 m, no período de abril a maio de
2016. De acordo com a classificação de Köppen, o clima da região é do tipo BSh‟,
caracterizado como semiárido quente e seco, com chuvas de inverno. Os valores anuais
dos elementos climatológicos temperatura média do ar, precipitação total, umidade
relativa média do ar e insolação total são, respectivamente, iguais a 26,3 °C, 609,8 mm,
58,0% e 2845 h (INMET, 1992).
Frutos de S. uniflora foram coletados em populações naturais da vegetação da
Caatinga em São José de Piranhas, em julho de 2015, no estado da Paraíba, Brasil (07°
05‟ 25,98‟‟ S e 38° 38‟ 41,14‟‟ W e 350 m de altitude). Após a coleta, os frutos foram
beneficiados e as sementes armazenadas em câmara fria à temperatura de 10° C até o
início do experimento. A semeadura foi realizada com 3 sementes, em sacos de
polietileno preto perfurado com capacidade para um litro, contendo substrato. O
desbaste foi realizado 15 dias após semeadura, deixando uma planta por saco.
Os substratos utilizados foram "topsoil" e "bota fora" (Tabelas 1 e 2). "Topsoil"
corresponde à camada superficial do solo com alto teor de matéria orgânica. "Bota fora"
refere-se aos materiais inconsolidados e rochosos provenientes de escavações. Ambos
os substratos foram coletados no entorno das obras de engenharia da transposição do
Rio São Francisco, no município de Cabrobó (PE).
87
Resultados e discussão
Foi observada interação significativa entre a disponibilidade hídrica e o substrato
utilizado para todas as características avaliadas.
O teor de clorofila de plantas de S. uniflora em substrato “topsoil” foi mais alto do
que o de plantas em “bota fora”, em todas as disponibilidades hídricas. No entanto, nos
dois substratos, o teor de clorofila apresentou o mesmo comportamento, aumento
seguido de declínio, à medida que houve aumento da disponibilidade hídrica de 25%
para 100% CC. Os maiores teores de clorofila (78,46 e 63,70) foram obtidos a
aproximadamente 80% e 83% CC para “topsoil” e “bota bora”, respectivamente (Figura
1A). Lenhard et al. (2010), avaliando plantas de Caesalpinia ferrea, observou os
melhores valores de clorofila no tratamento 70% CC, seguidos de 40% e 12,5% CC.
Xingu e Wu (2012) explica que o estresse hídrico provoca redução no conteúdo de
clorofila, resultando em diminuição da área fotossinteticamente ativa, em menor
eficiência de captação de radiação e em maior senescência foliar.
As plantas de S. uniflora em “topsoil” apresentaram altura superior às plantas em
“bota fora” em todas as disponibilidades hídricas, exceto em condição de 50% CC, na
qual a altura não diferiu estatisticamente. Em “topsoil” a altura das plantas apresentou
crescimento linear em função do aumento da disponibilidade hídrica, com maior altura
(23,11 cm) a 100% CC. Já em “bota fora”, a maior altura (16 cm) foi obtida a 91% da
CC (Figura 1B). Resultados semelhantes foram encontrados por Cabral et al. (2004),
estudando o crescimento inicial de Tabebuia aurea sob 100%, 50% e 25% CC, por
Figueirôa et al. (2004), estudando Myracroduon urundeuva sob 25, 50 e 75% CC e por
Lenhard et al. (2010) estudando C. ferrea, sob alagamento, 70%, 40% e 12,5% CC.
Todos os autores constataram maior altura das plantas, quando submetidas à maior
disponibilidade de água, corroborando com os resultados deste estudo. Togmon et al.
(2012) também verificaram menor crescimento de Ipomoea cairica em condições de
baixa disponibilidade hídrica. Segundo Yin et al. (2005), a interrupção no crescimento
das plantas é uma das primeiras respostas ao estresse hídrico.
O diâmetro das plantas de S. uniflora apresentou comportamento linear em
“topsoil”, com maior valor (1,84mm) a 100% CC, e quadrático em “bota fora”, com
maior valor (1,78mm) a 96% CC. Plantas submetidas a 25% e 100% CC apresentaram
maior diâmetro em “topsoil”. A 75% CC, o “bota fora” proporcionou plantas com maior
diâmetro. Já em condição de disponibilidade hídrica de 50% CC, o diâmetro das plantas
não diferiu estatisticamente, comparando os dois substratos (Figura 1C). Lenhard et al.
89
fitomassas secas da parte aérea, sistema radicular e total foram obtidos a 100% CC,
sendo 9,28g; 0,19g e 0,92g, respectivamente. Os menores valores foram observados a
25% CC, na qual ocorreu morte das plantas (Figuras 1F, 1G E 1H).
Em C. ferrea a massa seca da parte aérea e da raiz foi maior quando as mudas
foram cultivas com 70% e 40% CC (LENHARD, et al., 2010). Em mudas de Mimosa
caesalpiniifolia cultivadas sob 100%, 50% e 25% da capacidade de recipiente, a
produção de massa seca foliar diminuiu com a restrição hídrica mais severa
(SANTIAGO et al., 2002). Estudando M. urundeuva sob 75%, 50% e 25% CC,
Figueirôa et al. (2004) também verificaram menor massa seca da raiz sob déficit de
água.
Segundo Taiz e Zeiger (2013), o estresse reduz a alocação de biomassa das folhas
e dos caules e aumenta a das raízes. Essa resposta da planta pode estar associada a um
mecanismo de tolerância ao estresse hídrico, pois, sob condição de baixa
disponibilidade de água no solo, as plantas tendem a investir mais biomassa no sistema
radicular, permitindo maior crescimento de raízes e, consequentemente, aumento da
capacidade de absorção de água e nutrientes (CORREIA; NOGUEIRA, 2004).
Dessa forma, de acordo com Grisi et al. (2008) o déficit hídrico é uma das
condições que mais limita a produção primária dos ecossistemas e o rendimento das
culturas, principalmente pelas restrições que impõem à fixação fotossintética do
carbono.
91
Figura 1. Clorofila total, altura da planta, diâmetro do caule, número de folhas, área
foliar, fitomassa seca da parte aérea, fitomassa seca do sistema radicular e fitomassa
seca total de Senna uniflora, sob disponibilidade hídrica de 100%, 75%, 50% e 25% da
capacidade de campo, em substrato “topsoil” e “bota fora”, aos 60 dias após semeadura.
92
Conclusão
Plantas de S. uniflora cultivadas em substratos “topsoil” e “bota fora”, em geral,
apresentam respostas semelhantes. A melhor disponibilidade hídrica para o crescimento
e desenvolvimento de plantas de S. uniflora é 100% c.c.. No entanto, as plantas crescem
satisfatoriamente acima de 50% c.c. À 25% c.c. as plantas apresentam crescimento
reduzido podendo ocorrer mortalidade das mesmas.
Referências
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS