Plantão Psicológico
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Resumo
A adolescência contemporânea tem sido marcada por inquietações e
movimento. A existencialidade adolescente é um largo espectro de
experiências que muitas vezes são plenas em situações em que dor e
sofrimento caminham concomitantemente com alegria e felicidade. O
objetivo deste estudo é apresentar as várias dimensões presentes na
experiência adolescente em várias escolas da rede pública de ensino
em Manaus sob o olhar da Psicologia Fenomenológico-Existencial. O
método utilizado é no viés quali-quantitativo e também se ancora no
método fenomenológico de pesquisa em psicologia. São apresentados
dados quantitativos sobre as escolas e as demandas mais encontradas
nos discursos dos alunos. O viés qualitativo traz excertos de discursos
dos adolescentes e a análise sob o constructo teórico da
Fenomenologia-Existencial. Conclui-se que a atividade possibilitou
conhecer as demandas mais emergentes dos adolescentes e
redimensionou o olhar sobre a relação plantonista-adolescente
adentrando em sua pluridimensionalidade.
Abstract
Contemporary adolescence has been marked by restlessness and
movement. Adolescent existentiality is a wide spectrum of experiences
that are often fulfilled in situations where pain and suffering go hand in
hand with joy and happiness. The objective of this study is to present
the various dimensions present in the adolescent experience in several
public schools in Manaus from the perspective of Phenomenological-
Existential Psychology. The method used is qualitative and quantitative
and is also anchored in the phenomenological method of research in
psychology. Quantitative data about the schools and the demands most
found in the students' speeches are presented. The qualitative bias
brings excerpts from the adolescents' speeches and the analysis under
the theoretical construct of Existential Phenomenology. It is concluded
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that the activity made it possible to know the most emerging demands
of adolescents and re-dimensioned the look on the relationship on duty-
adolescent entering into its multidimensionality.
Introdução
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“momento-já” o leque de possibilidades inexploradas e que podem ser
deflagradas considerando a relação que aí se estabelece: calorosa,
sem julgamentos, uma escuta sensível e empática, expressividade
genuína, verdadeira e comprometida com o outro do plantonista e seu
interesse em ajudar são papéis fundamentais, especificamente no
sentido de desdobramento do pedido inicial e, dessa forma, explicitar o
movimento desse outro em busca de crescimento e mudança.
O projeto irá viabilizar o acompanhamento de escolares,
professores, pais e comunitários do entorno das instituições escolares
onde irá ser desenvolvido. Compreende-se que projetos desta natureza
têm como meta privilegiar as demandas emocionais dos participantes
da comunidade escolar, através do acolhimento e da escuta.
O plantão psicológico como espaço possibilitador de
experiência, da pessoa que busca e do plantonista, já que este último é
alguém que se mostra disposto, presente e em disponibilidade, indo
além do saber técnico. É estar junto, inclinar-se em direção ao
sofrimento, permitindo-se afetar e, a partir daí, compreender o outro.
Por que a escola?
A instituição escolar é caracterizada pelo fato de receber
inúmeras e diversificadas demandas dos atores sociais que a
compõem: discentes, docentes, pais, comunitários. Sabe-se que
algumas experiências contemporâneas encontram campo para
manifestar-se no seio da comunidade escolar. Dentre estas:
dificuldades na aprendizagem, problemas oriundos das configurações
relacionais, bullying, consequências da violência doméstica
(agressividade, ensimesmamento, indisciplina, etc), comportamentos
autodestrutivos e autolesivos, questões relacionadas à sexualidade
(gravidez na adolescência, abuso sexual, homofobia, transfobia, dentre
outros) e a exposição a fatores de risco muito presentes em nossa
sociedade atual (tabagismo, uso de drogas lícitas e/ou ilícitas).
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Torna-se necessário elaborarmos uma ressalva. Mahfoud (2004)
revela-nos que esse modelo de acolhimento e escuta psicológica nos
contextos das instituições do sistema de ensino – seja público ou
privado – pode gerar no discente certa apreensão pela presença do
psicólogo, pois remete a uma gama de procedimentos já anteriormente
vivenciados na escola (intervenção psicossociológica – incluindo
planejamento e diagnóstico institucional; intervenção clínica, promoção
e prevenção em saúde mental, etc).
A partir de qual olhar?
Conforme suscitado no título do projeto, o olhar sobre o outro,
fenômeno humano, será o pressuposto da Psicologia Fenomenológico-
Existencial. É um olhar em busca da humanidade do ser humano,
destituindo este de assujeitamentos e enviesamentos teóricos que o
mantém em caixinhas discriminadoras, julgadoras e, muitas vezes,
preconceituosa.
Ao plantonista, nesta perspectiva, cabe estar colocando em
prática o que Castro (2017, 2019, 2020, 2021) preconiza como o
fundamento da Clínica dos Três Olhares, embasado na proposta criada
a partir dos pressupostos da Fenomenologia, a saber: acolher, escutar
e cuidar. O acolhimento no sentido de receber este outro para além da
possibilidade diagnóstica ou do problema que originou a crise em que
se encontra. A escuta no sentido de ir além da mera exposição que
esse outro traz da situação e isto significa, consequentemente,
proatividade, busca pelo fenômeno que se manifesta na fala desse
outro. O cuidado no sentido de ir além da dor e do sofrimento
expressos na fala e buscar, através do diálogo sobre o que está sendo
trazido amparar o desamparo, a angústia, o estresse, a ansiedade e
mostrar-se continente, presente junto a esse outro.
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Metodologia
Este estudo utiliza o método quanti-quali preconizado por
Creswell (2007) que pressupõe a apresentação de dados quantitativos
e qualitativos. Nos primeiros, serão apresentados os fatores numéricos,
ponderáveis, mensuráveis aqui representado por tabelas e quadros.
Quanto aos segundos, traremos algumas falas trazidas nos
atendimentos realizados pelos plantonistas, enriquecendo
sobremaneira esta proposta de trabalho. O viés qualitativo leva em
consideração valores, crenças, sentidos presentes nos discursos dos
adolescentes e que foram transcritos nos relatos e, neste momento,
resgatados e apresentados ipsis literis para corroborar com a reflexão
daquilo que foi trabalhado em alguns aconselhamentos.
No primeiro momento, apresentaremos os dados quantitativos e
no segundo os qualitativos, sendo que nestes últimos utilizaremos o
referencial teórico da Psicologia Fenomenológico-Existencial para a
compreensão das falas relativas às vivências dos adolescentes.
Participantes: 820 atendimentos a alunos em escolas do sistema
público de ensino, nos níveis fundamental e médio que se
apresentaram ao plantão psicológico em 13 escolas (10 estaduais e 3
municipais). Deste número, o n total foi de 754 alunos e o restante (66)
foram os atendimentos realizados duas ou três vezes com o mesmo
aluno.
Locais de atendimento: salas previamente disponibilizadas pelos
gestores das escolas estaduais e municipais, climatizadas, ambiente
reservado.
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Esc. 10 - MV Estadual Fundamental 10-19
e Médio
Esc. 11 - PG Municipal Fundamental 9-17
Esc. 12 - VL Municipal Fundamental 9-16
Esc. 13 - EP Municipal Fundamental 9-16
Fonte: Formulário de relato do plantão psicológico
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Autolesão 07 4,7
Abuso sexual 24 16,10
Relações familiares 31 20,8
Violência doméstica 08 5,37
Outros 53 35,59
Total 149 100
Fonte: Formulário de relato do plantão psicológico
O quadro 3 traz as demandas mais prevalentes em alunos de
escolas do ensino fundamental, ou seja, do 5º ao 9º ano em que
percebemos as relações familiares em primeiro posto com 20,8%;
seguido por abuso sexual com 16, 10% e crises de ansiedade com
14,76%.
Viés qualitativo
Neste momento, passarei a apresentar o viés qualitativo deste
artigo, ou seja, apresento o discurso de alguns discentes e o olhar da
fenomenologia-existencial em Heidegger e Merleau-Ponty.
Considerando a proposta de Giorgi & Souza (2010) e Pereira & Castro
(2019), essas falas foram expressas no instante em que os
adolescentes foram atendidos no plantão psicológico e isso significa
dizer que foram falas potentes, impregnadas de sentido e
dinamizadoras da atenção do estagiário que, imediatamente após o
aconselhamento, as escreveu de modo a caracterizar a dimensão do
que lhe fora trazido por esse aluno. Podemos estar, dessa forma,
considerando estes excertos de fala como as Unidades de Significado
propostas pelos autores anteriormente referenciados.
A partir da transcrição dessas falas, estabelecemos a imbricação
das mesmas com a teoria que fundamentará esta análise.
O primeiro ponto é a autolesão. Merleau-Ponty (2011) considera
o corpo o elemento a partir do qual eu me reconheço como sou, sendo
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Referências
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Autor
Ewerton Helder Bentes de Castro
Doutor em Psicologia pela FFCLRP/USP. Professor Associado da
Faculdade de Psicologia/UFAM. Docente do curso de graduação e do
Programa de Pós-graduação em Psicologia (FAPSI/PPGPSI/UFAM).
Líder do Grupo de pesquisa de Psicologia Fenomenológico-Existencial
(CNPq). Coordenador do Laboratório de Psicologia Fenomenológico-
Existencial (LABFEN/UFAM). Coordenador do Projeto de Extensão
Plantão psicológico em escolas do sistema de ensino público em
Manaus (FAPSI/UFAM. Coordenador científico da Liga Acadêmica de
Psicologia Fenomenológico-Existencial – LAPFE (FAPSI/UFAM) E-
mail: ewertonhelder@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0003-
2227-5278
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