Texto 1 - Considerações Sogre A Guerra e A Morte
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ESCRITOS SOBRE A
GUERRA E A MORTE
Sigmund Freud
Tradutor:
Artur Morão
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Covilhã, 2009
F ICHA T ÉCNICA
TÍtulo: Escritos sobre a Guerra e a Morte
Autor: Sigmund Freud
Tradutor: Artur Morão
Colecção: Textos Clássicos de Filosofia
Direcção da Colecção: José Rosa & Artur Morão
Design da Capa: António Rodrigues Tomé
Paginação: José Rosa
Universidade da Beira Interior
Covilhã, 2009
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CONSIDERAÇÕES ACTUAIS
SOBRE A GUERRA E A MORTE
(1915)
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casual que esta bala acerte num ou noutro; talvez uma segunda
bala atinja estoutro, mas a acumulação põe um termo à impressão
de casualidade.
A vida tornou-se denovo interessante, recebeu de novo o seu
pleno conteúdo.
Importaria aqui estabelecer uma divisão em dois grupos, sepa-
rar os que dão a sua vida no combate daqueles que permaneceram
em casa e apenas têm de esperar vir a perder algum ente querido
por lesão, doença ou infecção. Seria, decerto, muito interessante
estudar as transformações que ocorrem na psicologia dos comba-
tentes, mas sei muito pouco a tal respeito. Limitar-nos-emos ao
segundo grupo, a que nós próprios pertencemos. Já afirmei que, na
minha opinião, a desorientação e a paralisia da nossa capacidade
funcional, sob a qual penamos, são essencialmente determinadas
pela circunstância de não conseguirmos manter a nossa anterior
atitude perante a morte e de ainda não termos achado outra nova.
Talvez nos seja de ajuda dirigir a nossa investigação psicológica
para outras duas atitudes diante da morte: para aquela que pode-
mos atribuir ao homem primordial, ao homem da Pré-história, e
para aquela que em todos nós ainda se mantém, mas invisível e
oculta à nossa consciência nos estratos mais profundos da nossa
vida anímica.
Naturalmente, só por inferência e mediante construções sabe-
mos como é que o homem da Pré-história se comportava perante a
morte, mas, a meu ver, estes meios proporcionam-nos dados assaz
fidedignos.
O homem primordial situou-se na presença da morte de um
modo muito notável. Não de uma forma unitária, antes repleta de
contradições. Por um lado, tomou a sério a morte, reconheceu-a
como supressão da vida e dela neste sentido se serviu; mas, por
outro, também a negou, reduziu-a a nada. Esta contradição tornou-
se possível pela circunstância de o homem primordial ter adop-
tado frente à morte dos outros, do estranho e do inimigo, uma ati-
tude radicalmente distinta da que adoptou diante da sua própria.
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como nós os nossos, pois o amor não pode ser muito mais jovem do
que o prazer assassino. Teve então, na sua dor, de fazer a experiên-
cia de que também ele poderia morrer, e todo o seu ser se revoltou
contra tal concessão; cada um dos seres amados era, de facto, um
fragmento do seu próprio eu amado. Por outro lado, semelhante
morte era-lhe todavia grata, pois em cada uma das pessoas ama-
das havia também um elemento estranho. A lei da ambivalência
dos sentimentos, que ainda hoje domina as nossas relações senti-
mentais com as pessoas por nós amadas, tinha decerto um domínio
ainda mais irrestrito nos tempos primitivos. Os mortos amados
eram, no entanto, também estranhos e inimigos, que tinham nele
suscitado uma cota parte de sentimentos hostis5 .
Os filósofos afirmaram que o enigma intelectual, proposto ao
homem primordial pela imagem da morte, o forçou à reflexão, e
se tornou o ponto de partida de toda a especulação. Creio que os
filósofos pensam a este respeito de um modo demasiado filosófico,
têm em muito pouca consideração os motivos primariamente efi-
cazes. Terei, pois, de restringir e de corrigir a afirmação anterior:
diante do cadáver do inimigo vencido, o homem primordial terá
saboreado o seu triunfo, sem encontrar estímulo algum para pôr
a sua cabeça em água a propósito do enigma da vida e da morte.
O que desatou a indagação humana não foi o enigma intelectual,
nem sequer qualquer morte, mas o conflito sentimental que surgiu
na morte das pessoas amadas e, todavia, também estranhas e odi-
adas. Foi deste conflito sentimental que nasceu a psicologia. O
homem já não podia manter de si afastada a morte, pois a expe-
rimentara na dor pelos seus mortos; mas não a queria reconhecer,
já que lhe era impossível imaginar-se morto. Chegou assim a um
compromisso: admitiu a morte também para si, mas contesta a sig-
nificação da aniquilação da vida, coisa para a qual lhe tinham fal-
tado motivos perante a morte do inimigo. Na presença do cadáver
da pessoa amada, o homem primordial inventou os espíritos, e o
5
[Tótem e Tabu, “O tabu e a ambivalência dos sentimentos”]
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para Paris!”. Estes chistes cínicos não seriam possíveis se não ti-
vessem de comunicar uma verdade negada, à qual não se pode dar
assentimento quando é exposta a séria e de uma maneira declarada.
Como se sabe, no chiste até a verdade se pode dizer.
Como ao homem primitivo, também ao nosso inconsciente se
apresenta um caso em que as duas atitudes opostas, em face da
morte, chocam e entram em conflito; uma, que a reconhece como
aniquilação da vida, e outra que a nega como irreal. E este caso
é o mesmo que na época primitiva: a morte ou o perigo da morte
de um ente querido, do pai ou da mãe, de um irmão, de um filho
ou de um amigo dilecto. Estas pessoas amadas são para nós, por
um lado, um património íntimo, componentes do nosso próprio Eu;
por outro, porém, são em parte estranhos, e até inimigos. Todas as
nossas relações amorosas, mesmo as mais íntimas e ternas, impli-
cam, salvo em raríssimas situações, um fragmento de hostilidade
que pode estimular o desejo inconsciente de morte. Desta ambiva-
lência já não nascem, como outrora, o animismo e a ética, mas a
neurose, a qual nos faculta vistas profundas sobre o psiquismo nor-
mal. Os médicos que praticam o tratamento psicanalítico depara-
ram, muitas vezes, com o sintoma de uma preocupação exacerbada
pelo bem-estar dos familiares ou com autocensuras totalmente in-
fundadas após a morte de uma pessoa amada. O estudo destes casos
não lhes deixou dúvida alguma sobre a difusão e a importância dos
desejos inconscientes de morte.
O leigo horroriza-se com a possibilidade deste sentimento e
atribui a tal repugnância o valor de um motivo legítimo para aceitar
com incredulidade as afirmações da psicanálise. Na minha opinião,
sem fundamento algum. Não se intenta qualquer depreciação da
vida afectiva, e não tem também semelhante consequência. Tanto
a nossa inteligência como o nosso sentimento resiste, decerto, a
juntar assim o amor e o ódio; mas a natureza, ao trabalhar com
este par antitético, consegue conservar sempre desperto e fresco o
amor, para o resguardar do ódio que, por detrás dele, está à espreita.
Pode dizer-se que devemos as mais belas florações da nossa vida
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CADUCIDADE
(1915)
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pessoas viram inibido o seu gozo do belo pela ideia da sua índole
perecível.
Ao leigo afigura-se tão natural a pena pela perda de algo amado
ou admirado que não hesita em qualificá-lo de óbvio e evidente.
Para o psicólogo, pelo contrário, esta aflição representa um grande
problema, um daqueles fenómenos que, embora também incóg-
nitos, servem para reduzir a eles outras incertezas. Imaginamos
assim possuir uma certa capacidade amorosa – chamada "libido--
que, no começo da evolução, se orientou para o próprio Eu, para
mais tarde – embora, na realidade, muito precocemente – se diri-
gir para os objectos, que desta sorte ficam de certo modo incluídos
no nosso eu. Se os objectos são destruídos ou se os perdemos,
a nossa capacidade amorosa (libido) volta a ficar em liberdade, e
pode tomar outros objectos como substitutos, ou regressar transi-
toriamente ao eu. Todavia, não conseguimos explicar – nem po-
demos a tal respeito aventar hipótese alguma – porque é que o
desprendimento da libido dos seus objectos tem de ser, necessa-
riamente, um processo tão doloroso. Comprovamos apenas que a
libido se aferra aos seus objectos e que nem sequer quando já dis-
põe de novos sucedâneos se resigna a desprender-se dos objectos
que perdeu. Eis aqui, pois, a pena.
A conversa com o poeta ocorreu durante o Verão que precedeu
a guerra. Um ano depois, rebentou esta e roubou ao mundo todas
as suas belezas. Não só aniquilou a magnificência das paisagens
que percorreu e as obras de arte com que tropeçou no seu caminho,
mas também abateu o nosso orgulho pelos progressos conseguidos
na cultura, o nosso respeito perante tantos pensadores e artistas, as
esperanças que depuséramos numa superação definitiva das dife-
renças que separam os povos e as raças entre si. A guerra enlameou
a nossa excelsa equanimidade científica, patenteou na sua crua nu-
dez a nossa vida pulsional, soltou os espíritos malignos que em
nós habitam e que supúnhamos definitivamente dominados pelos
nossos impulsos mais nobres, graças a uma educação multissecu-
lar. Encerrou de novo o recinto da nossa pátria e voltou a tornar
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