Relatório de Inflação: Volume 26 - Número 1 - Março 2024
Relatório de Inflação: Volume 26 - Número 1 - Março 2024
Relatório de Inflação: Volume 26 - Número 1 - Março 2024
Relatório de Inflação
Volume 26 | Número 1 | Março 2024
Relatório de Inflação
Volume 26 | Número 1 | Março 2024 ISSN 1517-6576
CNPJ 00.038.166/0001-05
Os textos, os quadros estatísticos e os gráficos são de responsabilidade dos componentes nomeados a seguir:
É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Inflação, volume 26, nº 1.
Convenções estatísticas
O hífen (-) entre anos (1970-1975) indica o total de anos, incluindo-se o primeiro e o último.
A barra (/) entre anos (1970/1975) indica a média anual dos anos assinalados, incluindo-se o primeiro e o último, ou, se especificado no texto, o
ano-safra ou o ano-convênio.
Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamento.
Não é citada a fonte dos quadros e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.
Atendimento ao Cidadão
Sumário executivo 7
Conjuntura econômica 11
1.1 Cenário externo________________________________________________________________________ 12
1.2 Conjuntura interna _____________________________________________________________________ 21
Atividade econômica____________________________________________________________________ 21
Mercado de trabalho____________________________________________________________________ 25
Crédito________________________________________________________________________________ 27
Fiscal__________________________________________________________________________________ 29
Contas externas________________________________________________________________________ 32
Preços_________________________________________________________________________________ 34
Boxes
Revisão da projeção do PIB para 2024_____________________________________________________ 41
Projeção para a evolução do crédito em 2024______________________________________________ 43
Projeções para as contas externas de 2024________________________________________________ 44
Decomposição da inflação de 2023_______________________________________________________ 59
Apêndice 63
Sumário executivo
3,0
1,6
A economia dos Estados Unidos da América (EUA)
2,0 1,2
1,0 0,1
continua apresentando sinais de solidez. No quarto
0,0 trimestre de 2023, o PIB americano aumentou 3,2%
-1,0 -0,2
EUA China Japão Zona do Reino América Global¹ T/T anualizado, com sustentação do consumo das
Euro Unido Latina²
I 2023 II 2023 III 2023 IV 2023
famílias, que tem sido beneficiado do mercado de
Fontes: Bloomberg, BC trabalho aquecido, apesar da moderação de crédito.
1/ calculado conforme descrito no Boxe "Modelo de projeções e análise
macroeconômica da economia global" do RI de set/22. O investimento fixo tem demonstrado crescimento
2/ Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.
baixo, em grande parte em virtude dos efeitos
das taxas de juros historicamente elevadas sobre
os gastos residenciais e de capital. A persistência
Gráfico 1.1.2 – Taxas de política monetária¹
de indicadores de confiança em níveis baixos, o
% a.a. processo de cumulativa exaustão das condições de
7 liquidez acumulada pelas famílias desde a pandemia
6
5
de Covid-19 e o ambiente econômico ainda incerto
4 sugerem perspectivas de moderação da atividade
3
2
americana.
1
0
-1
O mercado de trabalho segue com sinais de aperto,
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 2024 sendo gradualmente compensados com sinais de
rebalanceamento entre demanda e oferta nos
EUA Zona do Euro Reino Unido Japão
últimos meses. Os novos empregos criados nos dois
Fonte: Bloomberg primeiros meses de 2024 foram em média de 252
1/ Até 15 de março.
mil, próximos à média de 2023 (251 mil). A taxa de
desemprego tem se elevado moderadamente desde
o início de 2023, alcançando 3,9% em fevereiro
de 2024, embora com taxas próximas do mínimo
histórico e abaixo da estimativa oficial para taxa
não cíclica1 (4,4%). As vagas de emprego em aberto
têm declinado no período recente, sugerindo uma
amenização dos desbalanceamentos entre oferta e
demanda de trabalhadores, apesar de permanecer
em taxas próximas aos auges dos últimos ciclos. A
taxa de participação segue evidenciando recuperação
ao longo dos últimos meses, principalmente no
segmento etário prime age. Os salários nominais
continuam crescendo a taxas elevadas, enquanto a
desaceleração da inflação impulsiona a aceleração em
termos reais (4,3% a.a. em termos nominais e 1,1%
a.a. em termos reais em fevereiro2).
Gráfico 1.1.3 – EUA – Ofertas de emprego e taxa de Como resposta ao contexto de inflação
participação persistentemente elevada, o Federal Reserve (Fed)
Vagas/desempregados % população
2,0 68 aumentou a taxa dos Fed Funds em 5,25 p.p. desde
1,5 66 o início de 2022 até março de 2023. Na sua última
reunião, o FOMC manteve a taxa dos Fed Funds no
1,0 64
intervalo entre 5,25% e 5,5%, sugerindo postura de
0,5 62
cautela em relação ao fluxo de dados econômicos
0,0 60 e a necessidade de confiança sobre a convergência
Jun Fev Out Jun Fev
2001 2007 2012 2018 2024 da inflação como requisito para o início do ciclo de
afrouxamento monetário. Ademais, o Fed segue
Vagas/desempregados 1/ (Esq.) Taxa de participação (Dir.)
com o processo de redução do estoque de títulos
Fonte: Bloomberg públicos e de mortgage-backed securities (MBS) em
1/ Até janeiro/2024.
seu balanço, com contração programada de até US$
95 bilhões ao mês desde setembro de 2022.
3 25
Os preços das commodities energéticas apresentaram
-2 0 movimentos mistos no período, com o petróleo
Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev
2020 2021 2022 2023 2024 sendo impactado pelas tensões geopolíticas e
África do Sul 1/ Brasil Chile
China Colômbia Índia cortes da OPEP+, e o gás natural experimentando
México Peru Rússia
Turquia (dir.) a continuidade do alívio visto no segundo semestre
Fonte: Bloomberg
de 2023. O gás natural seguiu o processo de alívio
1/ Até janeiro/2024.
em meio aos amplos estoques no momento que se
aproxima do final do inverno do hemisfério norte,
graças à demanda moderada, com temperaturas mais
Gráfico 1.1.8 – Indicadores de pressão de oferta¹ No sentido contrário, os principais riscos de queda
Jan/2018 = 100 Índice para a inflação são um rebalanceamento mais rápido
1 000 6
entre oferta e demanda no mercado de trabalho ou
750 4 uma desaceleração mais pronunciada da atividade
500 2 econômica, em especial devido à manutenção
da postura restritiva da política monetária das
250 0
economias avançadas por período mais longo que
0
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan
-2
o esperado.
2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
Índice global de contêineres 1/
Índice Global Harpex - fretes 1/ Por um lado, considerando-se o momento do ciclo,
Índice Baltic Exchange - cargas secas 1/
Índice de pressão de cadeias globais 2/(dir.) parte dos efeitos da elevação dos juros ao redor do
Fontes: Refinitiv, Federal Reserve (FED)
1/ Médias mensais - Até 14 de março. 2/ Até fevereiro/2024.
mundo ainda não se materializou. Por outro lado,
considera-se que os riscos relevantes relativos às
tensões no Oriente Médio, a guerra na Ucrânia, e
ao El Niño, em grande parte, já se materializaram.
Em 2024, espera-se que a moderação nos níveis de
Gráfico 1.1.9 – Taxas básicas de juros¹ preço de algumas commodities relevantes seja uma
% a.a.
40 contribuição menos significativa para o processo
35 desinflacionário do que foi ao longo de 2023. O alívio
30 de muitas fontes de pressão nas cadeias globais
25 também já se materializou em 2023, o que faz com
20
que a contribuição deste fator para o processo de
15
desinflação também seja menos significativa em 2024.
10
5
0 Em síntese, a persistência das pressões inflacionárias
BRA CHL COL MEX PER ZAF CZE HUN POL UKR RUS IND CHN IDN MYS PHL THA KOR TUR
Dado atual Expect. 2024 Expect. 2025 segue como o principal elemento de risco para o
Fontes: Bloomberg e pesquisas de bancos centrais cenário prospectivo da política monetária dos países
1/ Até 15 de março. avançados e emergentes e para a probabilidade de
materialização de um cenário de pouso suave para
a economia global. O realinhamento de preços
relativos, a normalização da atividade no setor
de serviços e o reequilíbrio dos fundamentos nos
Gráfico 1.1.10 – Expectativas de inflação¹
% a.a. mercados de trabalho, ainda apertados, sugerem
12
que os núcleos de inflação devem permanecer
10 persistentemente altos por um período maior que
8 o observado no histórico recente. Apesar dos sinais
de que o processo desinflacionário continua em
6
curso em diversos países, a inflação ainda segue
4 em patamares elevados. A avaliação de questões
2 relativas a variações de produtividade, alocação
0
e distribuição requer tempo adicional para que
BRA CHL COL MEX PER ZAF CZE HUN POL RUS UKR IND CHN IDN MYS PHL THA KOR
evidências claras de seus efeitos sejam confirmadas
Intervalo da Meta de Inflação Dado corrente Expect. 2024 Expect. 2025
Fontes: Bloomberg e pesquisas de bancos centrais
em novos conjuntos de dados. Nesse contexto,
1/ Até 15 de março. os bancos centrais das principais economias vêm
Atividade econômica
Tabela 1.2.1 – Produto Interno Bruto Pela ótica da oferta, destacou-se o crescimento da
Variação anual agropecuária, de 15,1% – o maior da série histórica
Variação % iniciada em 1996. Indústria e serviços cresceram
Discriminação 2018 2019 2020 2021 2022 2023 1,6% e 2,4%, respectivamente. O crescimento
PIB a preços de mercado 1,8 1,2 -3,3 4,8 3,0 2,9 da agropecuária foi puxado pela alta expressiva
Agropecuária 1,3 0,4 4,2 0,0 -1,1 15,1 na produção de grãos, especialmente soja e
Indústria 0,7 -0,7 -3,0 5,0 1,5 1,6 milho, resultante de expansão da área plantada
Serviços 2,1 1,5 -3,7 4,8 4,3 2,4 e, principalmente, de condições climáticas mais
Consumo das famílias 2,4 2,6 -4,6 3,0 4,1 3,1 favoráveis do que as de 2022. O desempenho das
Consumo do governo 0,8 -0,5 -3,7 4,2 2,1 1,7 atividades na indústria foi heterogêneo, com fortes
FBCF 5,2 4,0 -1,7 12,9 1,1 -3,0 altas na indústria extrativa e em “eletricidade e gás,
Exportação 4,1 -2,6 -2,3 4,4 5,7 9,1 água, esgoto, atividades de gestão de resíduos”
Importação 7,7 1,3 -9,5 13,8 1,0 -1,2 (EGAER) e quedas na indústria de transformação e
Fonte: IBGE na construção. O desempenho da indústria extrativa
refletiu crescimentos elevados na produção de
petróleo e de minério de ferro. Já o desempenho da
atividade EGAER refletiu, principalmente, elevação
do consumo de energia elétrica, sob influência de
temperaturas elevadas ao longo do ano, e a redução
da participação de termoelétricas na geração de
eletricidade5. No setor de serviços o crescimento
foi disseminado entre os segmentos, com destaque
para “atividades financeiras, de seguros e serviços
relacionados”.
5/ Usinas térmicas, por utilizarem mais insumos, produzem, para a mesma quantidade de energia produzida, menor Valor Adicionado
Bruto (VAB) que hidrelétricas e usinas eólicas e fotovoltaicas. O menor uso de termoelétricas foi possibilitado pelo bom volume de
chuvas e pela continuidade do processo expansão da geração elétrica de fontes solar e eólica.
6/ O VAB excluindo a atividade agropecuária ainda pode estar afetado por efeitos indiretos da agropecuária sobre os demais setores.
7/ Atividades menos cíclicas: agropecuária; indústria extrativa; atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados; atividades
imobiliárias; e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social. Mais cíclicas: demais atividades.
PIB a preços de mercado 0,9 1,3 0,9 0,2 1,3 0,8 0,0 0,0
A estabilidade do PIB no 4º trimestre refletiu, pelo
Agropecuária -5,4 -2,6 3,5 1,8 20,9 -6,4 -5,6 -5,3
lado da oferta, recuo de 5,3% da agropecuária e
Indústria 3,2 1,5 0,7 -0,7 0,0 1,0 0,6 1,3
altas de 1,3% e 0,3% da indústria e de serviços,
Extrativa -2,7 0,9 2,0 1,3 3,5 1,6 0,7 4,7
respectivamente. Na indústria, cresceram a atividade
Transformação 5,2 0,9 -0,3 -1,6 -0,5 0,4 0,0 -0,2
Construção 2,7 2,7 1,1 -1,4 -0,8 1,5 -3,7 4,2
extrativa, a EGAER e a construção, que se recuperou
EGAER 7,3 4,1 -0,5 1,5 1,6 0,7 3,3 2,8
da queda observada no trimestre anterior, enquanto
Serviços 1,0 1,3 1,3 0,1 0,6 0,7 0,3 0,3
a indústria de transformação recuou. No setor de
Comércio 0,0 1,7 -0,2 -0,5 0,7 0,3 -0,1 -0,8 serviços houve bastante heterogeneidade entre
Transportes 3,4 2,2 1,4 0,8 0,3 1,5 -1,0 -0,6 seus segmentos. Destacaram-se as altas em “outros
Serviços de informação -3,4 3,2 3,1 1,9 -2,2 1,1 0,9 -0,1 serviços” – que inclui serviços prestados às famílias,
Intermediação financeira -2,2 -0,3 2,1 1,8 2,1 1,5 1,3 0,7
como alojamento e alimentação fora de casa e
atividades de lazer – e intermediação financeira. Em
Outros serviços 4,2 3,4 2,4 -0,3 -0,3 1,0 0,5 1,2
sentido oposto, destaque para recuo dos serviços de
Aluguel -0,5 1,1 1,2 0,6 0,3 0,8 1,4 0,1
transporte e do comércio. No caso do comércio, houve
APU 0,3 -1,2 1,6 -1,1 1,1 0,2 0,5 0,1
influência do desempenho negativo da indústria de
Consumo das famílias 1,3 2,0 0,7 0,6 0,7 1,0 0,9 -0,2 transformação e do consumo das famílias.
Consumo do governo 0,1 -0,6 2,3 -1,5 0,4 1,1 0,6 0,9
FBCF -1,5 3,3 3,0 -1,6 -3,0 -0,2 -2,2 0,9
Pela ótica da demanda, destacou-se o surpreendente
Exportação 9,4 -3,4 3,1 4,7 0,5 3,6 2,8 0,1
recuo de 0,2% no consumo das famílias, após altas
Importação -2,5 6,0 5,1 -4,6 -3,5 4,1 -2,1 0,9
significativas e acima das expectativas nos trimestres
PIB a p.m. (divulgação ant.) 1,0 1,3 1,1 -0,1 1,4 1,0 0,1 - anteriores. A queda do consumo parece guardar relação
Fonte: IBGE com ampliação da taxa de poupança das famílias8 –
dado que a renda disponível continuou crescendo
– e estar concentrada em bens – considerando a
queda de produção de bens de consumo (Pesquisa
Industrial Mensal – PIM), o recuo do varejo restrito
Gráfico 1.2.3 – Taxa de poupança das famílias
(Pesquisa Mensal do Comércio – PMC), o crescimento
%, a.s.
dos serviços prestados às famílias (Pesquisa Mensal
27
24 de Serviços – PMS) e a alta de serviços de aluguel e
21 intermediação financeira (CNT9).
18
15
12 A FBCF avançou 0,9%, interrompendo sequência
9 de quatro trimestres consecutivos de queda. O
6
resultado foi puxado pela alta na construção, tendo
3
0
em vista as quedas observadas na produção e na
I II
2019
III IV I II III IV I II
2020 2021
III IV I II
2022
III IV I II
2023
III IV importação de bens de capital. Após dois trimestres
% RNDBF % PIB com crescimentos mais fortes, as exportações ficaram
Fontes: IBGE e BC praticamente estáveis (0,1%), com alta no embarque
de produtos básicos e recuo em bens manufaturados
e semimanufaturados. Já as importações cresceram
0,9%, sob influência do avanço na importação de
serviços.
8/ A poupança das famílias foi calculada a partir do consumo das famílias – proveniente das Contas Nacionais Trimestrais – e de
estimativa do Banco Central para a Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF). Para informações sobre a RNDBF, ver
boxe Estimativa mensal da Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias, publicado no Relatório de dezembro de 2021.
9/ As Contas Nacionais Trimestrais (CNT) não fornecem abertura para o consumo das famílias. Contudo, as altas no VAB de serviços
de aluguel e de “atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados”, sugerem ampliação do consumo desses serviços no
trimestre.
100
Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco
95 Central (IBC-Br), a economia avançou 0,6% em janeiro,
90 em relação a dezembro, deixando carregamento
I II III IV I II III IV
2022 2023
estatístico de 1,2% para o primeiro trimestre.
O comércio varejista avançou 2,5% no conceito
PMS - Famílias PIM - Bens de consumo PMC - Restrita
restrito e 0,5% no conceito ampliado excluindo-se
Fontes: IBGE e BC o segmento de atacado de alimentos. O setor de
serviços cresceu 0,7%, com alta em quatro das cinco
Gráfico 1.2.5 – Indicadores de atividade econômica categorias que compõem o índice.10 A exceção foram
2019 = 100, a.s.
110 os serviços prestados às famílias, que recuaram
2,7%, devolvendo parte da alta de 7,4% acumulada
105
em novembro e dezembro. Já a indústria de
100 transformação recuou 0,3%, com queda na produção
de bens semi e não-duráveis, estabilidade em bens
95
intermediários excluindo-se os produtos da indústria
90 extrativa e crescimentos em bens de consumo
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan
2019 2020 2021 2022 2023 2024 duráveis e, especialmente, em bens de capital. A alta
IBC-Br
PIM - transformação de 5,2% na produção de bens de capital foi bastante
PMC - restrita disseminada e reverte sequência de quatro recuos
PMC - ampliada ex-atacado alimentos
Fontes: IBGE e BC mensais consecutivos.
Gráfico 1.2.6 – Produção industrial
2019 = 100, a.s. Os indicadores coincidentes para fevereiro mostram
130 sinais predominantemente positivos. No setor
120
110 automotivo, a venda de veículos novos e, em especial,
100 a produção de veículos apresentaram crescimento
90
80
elevado no mês, após terem recuado em janeiro.
70 Expedição de papel ondulado e tráfego de caminhões
60
50
em rodovias pedagiadas, indicadores que ajudam
Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan Abr Jul Out Jan
2019 2020 2021 2022 2023 2024
a antecipar a produção industrial, cresceram em
Indústria de transformação fevereiro após recuarem no mês anterior. Indicadores
Bens de capital
Bens intermediários ex-extrativa baseados em vendas com cartão e outros meios de
Bens de consumo duráveis
Bens de consumo semi e não duráveis
pagamento mostraram, predominantemente, recuos
Fontes: IBGE e BC em janeiro.11 Para fevereiro, sugerem alta no volume
de bens e recuo no volume de serviços consumidos
Tabela 1.2.3 – Indicadores coincidentes da atividade
econômica pelas famílias.
Dados dessazonalizados
Variação %
Conforme detalhado em boxe deste Relatório, a
Discriminação 2023 2024
Set Out Nov Dez Jan Fev 1º Bi ¹
projeção de crescimento do PIB em 2024 passou de
Circulação de veículos
1,7% para 1,9%, revisão que reflete, principalmente,
0,1 0,8 0,3 -0,1 -0,4 0,3 -0,2
pesados dinamismo ligeiramente maior do que o esperado
Expedição de papel ondulado -1,1 1,5 1,4 1,0 -0,4 2,5 1,9 da atividade econômica no início do primeiro
Produção de veículos leves 3,8 -6,0 -0,3 4,8 -8,5 14,9 1,2
trimestre. Sob a ótica da oferta, esperam-se recuo
Produção de caminhões -0,8 14,4 0,4 4,6 3,4 -3,5 4,9
da agropecuária, após alta expressiva em 2023, e
Licenciamento de veículos 1,3 7,1 -4,2 5,2 -3,3 4,0 0,5
crescimentos de magnitudes semelhantes entre
Fontes: ABCR, ABPO/Empapel, Anfavea e Fenabrave. si e não muito distantes dos ocorridos em 2023,
¹ Média de janeiro e fevereiro de 2024 ante o 4º tri de 2023.
10/ As cinco categorias da PMS são: serviços prestados às famílias; serviços de informação e comunicação; serviços profissionais,
administrativos e complementares; transportes, serviços auxiliares e correios; e outros serviços.
11/ Os indicadores avaliados incluem o IDAT (Banco Itaú), o Iget (Santader/Getnet) e o ICVA (Cielo).
Mercado de trabalho
2 600
Entre os indicadores complementares para avaliação
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan
2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
da dinâmica salarial, dados dessazonalizados do
Habitual Efetivo Novo Caged também sinalizam uma expansão do
Fonte: IBGE
salário real, ainda que de menor intensidade do
que a apontada pelos dados da PNAD. A média dos
salários reais de admissão12 cresceu 0,5% no trimestre
Gráfico 1.2.11 – Salário de admissão encerrado em janeiro, após relativa estabilidade no
Reais de jan 2024, MM3M, a.s.
trimestre anterior.
2300
2200
Por sua vez, os reajustes salariais nominais coletados
2100
das Convenções Coletivas de Trabalho (CCT) 13
2000
mantêm-se próximos de 5% desde setembro. Os
1900 reajustes, que ficaram abaixo da inflação acumulada
1800 em doze meses14 ao longo de 2021 e 2022, passaram
1700 a superá-la a partir de fevereiro de 2023. No ano
1600 de 2023, o reajuste real médio ficou em 0,8%, com
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan
2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 2024
aproximadamente 67% das convenções negociadas
Fonte: MTE
acima da inflação e 10% acompanhando o índice.
O boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe), mostra quadro similar.15
No primeiro bimestre de 2024, o reajuste real medido
Gráfico 1.2.12 – Convenções coletivas de trabalho nas CCT permaneceu em torno de 1%.
%
14
12/ O salário médio de admissão tem maior aderência com o ciclo econômico do que o salário de desligamento, motivo pelo qual a
análise privilegia essa métrica nos dados do Novo Caged. Como houve mudança do Caged para o Novo Caged a partir de 2020, os
dados devem ser vistos com cautela e a análise foca no período mais recente. Mais referências sobre as mudanças no Caged estão
disponíveis na seção de mercado de trabalho dos Relatórios de Inflação de março de 2021 e dezembro de 2021.
13/ Referem-se à média simples dos reajustes nominais das convenções coletivas de trabalho de São Paulo e do Rio de Janeiro pelo
critério de data de registro no Sistema de Negociações Coletivas de Trabalho (Mediador) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
As convenções consideradas são aquelas para as quais foi possível capturar adequadamente o percentual de reajuste acordado.
14/ Os reajustes acordados, de acordo com a data de registro, apresentam correlação mais alta com o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses medido cinco meses antes, deflator utilizado nessa análise.
15/ O boletim Salariômetro tem cobertura nacional e considera acordos e convenções coletivas depositados no sistema Mediador pela
data de início de vigência, deflacionados pelo INPC acumulado em 12 meses com defasagem de um mês. Segundo o Salariômetro,
78% dos reajustes superaram o INPC, e o reajuste real mediano foi 1,0% em 2023.
500 350
475 325
450 300
Crédito
425 275
400 250
Após três anos consecutivos de forte crescimento,
375 225
o mercado de crédito registrou desaceleração mais
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan intensa em 2023, refletindo os efeitos da política
2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
RNDBF Massa habitual (dir) Massa efetiva (dir)
monetária restritiva. O saldo do crédito do SFN
Fontes: IBGE e BC fechou o ano com crescimento interanual de 8,1%17,
ante variação de 14,5% em 2022. As taxas de juros do
SFN seguiram o movimento da taxa Selic e, de forma
geral, começaram a recuar no segundo semestre.
No segmento livre, as concessões às famílias
desaceleraram e tiveram pior composição, com
Gráfico 1.2.14 – Saldo do Crédito do SFN maior concentração em operações de maior custo. As
Variação em 12 meses
% concessões às empresas, tanto no mercado bancário
25
como no de capitais, recuaram no primeiro semestre,
20
refletindo também o ambiente de maior aversão ao
15
risco associado aos pedidos de recuperação judicial
10
feitos por grandes empresas, e recuperaram-se
5
no segundo semestre. Por fim, a inadimplência
0
aumentou ligeiramente no ano, mas dados mais
-5
recentes mostraram sinais de melhora.
-10
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
Em 2023, o Copom manteve o grau de aperto na
Total Pessoas jurídicas Pessoas físicas
política monetária ao longo do primeiro semestre,
passando a reduzi-lo a partir de agosto, mas ainda
mantendo a postura contracionista.18 O repasse
da redução da taxa básica de juros para o custo do
crédito vem ocorrendo em linha com o esperado: o
modelo apresentado no boxe “Repasse da taxa Selic
Gráfico 1.2.15 – Taxas de juros do crédito livre
% a.a. % a.a.
para o mercado de crédito bancário”, publicado no RI
35 50 de setembro de 2022, prevê recuo de 1,5 p.p. entre o
30 45 segundo e o quarto trimestre de 2023 na taxa média
25 40
das modalidades consideradas no exercício, enquanto
a queda observada foi de 1,8 p.p. Em geral, as taxas
20 35
de juros das modalidades ex-rotativas alcançaram
15 30
pico no meio do ano.
10 25
16/ A série da RNDBF incluiu os precatórios de origem previdenciária e de assistência social. Aqueles relacionados a pessoal não estão
incorporados, uma vez que a fonte das informações de rendimento do trabalho para o cômputo da RNDBF é a PNAD Contínua,
conforme metodologia disponível em Nota Técnica do Banco Central do Brasil n. 55.
17/ O crescimento do saldo do crédito em 2023 ficou acima do projetado no Relatório anterior (6,8%), com a diferença sendo explicada,
em grande parte, pela revisão extraordinária dos dados de financiamento imobiliário com taxas reguladas, divulgada pelo Banco
Central em 06.02.2024.
18/ A meta para a taxa Selic passou de 13,75%, em agosto de 2023, para 11,25% em janeiro de 2024.
Gráfico 1.2.16 – Concessão de crédito livre O movimento foi mais intenso no caso do crédito livre
R$ bilhões de jan 2024, a.s., MM3M para pessoas jurídicas, que recuou na comparação
500 275 com 2022 e teve o ano de 2023 dividido em duas
450 250 metades com diferenças marcantes. Nesse segmento,
400 225
a queda das concessões se concentrou no início do
ano, quando, ao impacto da política monetária
350 200
contracionista, se somou o aumento da aversão ao
300 175 risco deflagrado pelos pedidos de recuperação judicial
250 150 realizados por grandes empresas.19 As modalidades de
recebíveis, mais impactadas por operações de “risco
200 125
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan sacado”, caíram 8,0% nos primeiros seis meses de
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
2023, quando comparadas ao segundo semestre de
Total PF (dir) PJ (dir)
2022 (considerando dados deflacionados e ajustados
sazonalmente). Comportamento semelhante foi
observado no mercado de capitais doméstico, que
no primeiro semestre registrou queda nas emissões
Gráfico 1.2.17 – Financiamentos corporativos não
bancários
de debêntures e notas promissórias. Com a redução
R$ bilhões de fev 2024, MM3M US$ bilhões, MM3M, a.s. da aversão ao risco e concomitantemente à queda
45 18
da taxa básica de juros, as concessões às empresas
40 16
35 14 voltaram a crescer no segundo semestre, tanto
30 12 no mercado bancário como no de capitais. Neste
25 10
20 8
mercado, o volume de captações no segundo
15 6 semestre chegou a superar o observado no mesmo
10 4
período de 2022. Contudo, o volume de emissões
5 2
0 0 primárias de ações foi relativamente pequeno ao
Fev Ago Fev Ago Fev Ago Fev Ago Fev Ago Fev Ago Fev
2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
longo de todo o ano.
Emissão primária de ações
Debêntures e Notas promissórias (a.s.)
Fontes: BC e Anbima Financiamento no exterior (dir) No segmento de pessoas físicas, a desaceleração das
concessões de crédito livre veio acompanhada de piora
relativa na composição do crédito contratado, com
aumento nas modalidades de alto custo20 e redução
nas de baixo custo21. Este quadro está associado ao
Gráfico 1.2.18 – Concessão de crédito livre a pessoas
físicas ambiente de taxas de juros e inadimplência elevadas.
R$ bilhões de jan 2024, a.s., MM3M
Os gastos no cartão de crédito cresceram ao longo do
55 105
50 100
ano a um ritmo mais lento do que o observado nos
45 95
anos anteriores, indicando acomodação nos vetores
40 90
de expansão: a ampliação na base de usuários e a
35 85 substituição de outros meios de pagamentos.
30 80
19/ Discussão mais detalhada está disponível nas edições de 2023 do Relatório de Inflação, especialmente a de junho, e do Relatório
de Estabilidade Financeira.
20/ Alto custo: cheque especial, crédito pessoal não consignado, aquisição de outros bens, cartão rotativo, cartão parcelado e outros
créditos livres.
21/ Baixo custo: crédito consignado, financiamento de veículos, arrendamentos mercantis e desconto de cheques.
1
Considerando a trajetória do crédito no último
0
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan
trimestre de 2023 e as perspectivas econômicas para
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2024, a projeção de crescimento do crédito em 2024,
Total (liv. e direc.) Pequenas e médias empresas
detalhada em boxe deste Relatório, passou de 8,8%
Grandes empresas
para 9,4%.
Fiscal
Tabela 1.2.5 – Resultado primário do Governo Central A piora do resultado fiscal do Governo Central em
Acumulado no ano 2023 decorreu da queda da receita líquida (-2,2%,
R$ bilhões - Valores correntes em termos reais) e, principalmente, do crescimento
Var. real expressivo das despesas (12,5%). Entre as despesas,
2022 2023
(%) destacaram-se o aumento dos gastos com programas
1. RECEITA TOTAL 2.313 2.351 -2,8
sociais, autorizados pela Emenda Constitucional
1.1 - Receita administrada pela RFB 1.390 1.439 -1,0
(EC) 126/2022, e o pagamento em dezembro de
1.2 - Incentivos fiscais 0 0 32,9 R$92,4 bilhões em precatórios judiciais, em razão
1.3 - Arrecadação líquida para o RGPS 536 593 5,8 de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que
1.4 - Receitas não administradas pela RFB 388 320 -21,1 declarou inconstitucionais dispositivos das EC 113 e
2. Transf. por repartição de receita 457 452 -5,5 EC 114, de 202124. Já as receitas foram influenciadas
3. Receita líquida (1-2) 1.856 1.899 -2,2 pela queda dos preços das commodities em reais
4. Despesa total 1.810 2.130 12,5 no mercado internacional – que repercutiram
4.1 Benefícios previdenciários 797 899 7,9 em especial sobre as receitas de exploração de
4.2 Pessoal e encargos sociais 338 364 2,8 recursos naturais – e pela redução das alíquotas
4.3 Outras despesas obrigatórias 303 358 12,2
de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
4.4 Despesas do poder executivo sujeitas à
programação financeira
371 510 31,3 Também contribuiu para recuo na arrecadação o
d/q Bolsa Família e Auxílio Brasil 88 166 80,4
aumento das compensações tributárias, decorrentes,
5. Resultado primário do Governo Central - acima principalmente, de decisão judicial do STF em 2021,
46 -231 -
da linha (3 - 4) segundo a qual o ICMS não compõe a base de cálculo
Fonte: STN do Programa de Integração Social (PIS)/Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
22/ Os dados como percentual do PIB correspondem aos publicados nas estatísticas fiscais de janeiro, antes da divulgação do PIB de
2023 pelo IBGE. Portanto, não incorporam a nova estimativa do PIB nominal, que é 0,13% inferior à anterior.
23/ Esse resultado refere-se ao conceito “abaixo da linha”, calculado pelo Banco Central do Brasil (BC). No conceito “acima da linha”,
calculado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), o déficit em 2023 foi de R$230,5 bilhões. A diferença reflete, entre outros, a
forma de contabilização distinta entre o BC e a STN da apropriação dos recursos do Programa de Integração Social – PIS/Programa
de Formação de Patrimônio do Servidor Público – Pasep (R$26 bilhões) e de compensações aos estados (R$8,7 bilhões).
24/ As EC 113 e 114 estabeleceram novo regime para o pagamento de precatórios através da limitação do montante pago.
25/ Essa avaliação, e outros pontos sobre a política fiscal presentes neste parágrafo, foram apresentados por diversos participantes do
94º Ciclo de Reuniões do Diretor de Política Econômica do Banco Central com economistas participantes do Sistema de Expectativas
de Mercado, realizado ao longo do primeiro trimestre deste ano.
Contas externas
Tabela 1.2.8 – Contas externas As contas externas encerraram 2023 com déficit em
US$ bilhões
transações correntes de US$29 bilhões (1,3% do PIB),
valor ligeiramente maior que o projetado no Relatório
Discriminação 2020 2021 2022 2023
anterior (US$26 bilhões). Em relação a 2022 houve
Transações correntes -28 -46 -48 -29 relevante redução do déficit, resultado de forte
aumento no saldo comercial, apenas parcialmente
Balança comercial 32 36 44 81
contrabalançado pelo aumento das despesas líquidas
Exportações 211 284 340 344
na conta de renda primária. O investimento direto
Importações 178 248 296 264
no país (IDP) somou US$62 bilhões, ligeiramente
Serviços -25 -27 -40 -38
acima do projetado no Relatório anterior, mas
dos quais: viagens -2 -2 -7 -8
substancialmente abaixo do observado em 2022.
dos quais: transportes -7 -14 -19 -13
Renda primária -38 -59 -57 -72 O saldo comercial de US$81 bilhões foi o maior da série
dos quais: juros -22 -21 -20 -28 histórica, iniciada em 1995, superando amplamente
dos quais: lucros e dividendos -17 -38 -37 -45
o observado em 2022 (US$44 bilhões). Para essa
Investimentos – passivos 17 106 95 91 elevação contribuíram o moderado aumento das
IDP 38 46 75 62 exportações – também para patamar recorde – e,
Inv. carteira -2 23 -3 12 principalmente, a expressiva queda das importações.
Outros inv. passivos¹ -20 36 24 17 O crescimento das exportações se deu pelo aumento
1/ Inclui empréstimos, créditos comerciais, depósitos e outros investimentos. do volume embarcado, especialmente de produtos
básicos como grãos e petróleo. Este aumento de
volume mais que compensou o recuo disseminado
nos preços das principais commodities. Por sua vez,
as importações recuaram, com contribuição tanto
dos preços como do volume. Este último fator
Gráfico 1.2.23 – Transações correntes está associado à menor necessidade de estoques
US$ bilhões, MM3M a.s.
10 precaucionais, dado o arrefecimento das disfunções
8 logísticas no comércio internacional em relação ao
6
ano anterior.
4
2
0 O déficit da conta de serviços recuou ligeiramente
-2
em relação a 2022, para US$38 bilhões. A queda se
-4
-6 deveu a menores gastos com transporte, em razão
-8 da queda dos preços de fretes com a normalização
-10
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan
das cadeias de suprimentos e da redução do volume
2019 2020
Bal. Comercial
2021 2022 2023
Serviços
2024 importado de bens. Em sentido contrário, houve
Rendas Trans. Correntes pequeno aumento nas despesas líquidas com viagens
(embora ainda estejam em patamar muito inferior ao
pré-pandemia), aluguel de equipamentos e serviços
de telecomunicações e informática.
0,0
Os resultados de janeiro de 2024, de modo geral,
-0,5
-1,0
indicam continuidade da dinâmica exibida pelas
-1,5
contas externas em 2023. O déficit de US$5,1 bilhões
-2,0 na conta de transações correntes teve como destaque
-2,5 o melhor resultado já registrado da balança comercial
-3,0 para o mês. Na conta de serviços, as despesas com
-3,5 telecomunicações e tecnologia da informação
-4,0 foram recorde da série histórica e aumentaram o
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan
2019 2020 2021 2022 2023 2024 déficit da conta. Na renda primária, destaque para
Viagens Transporte
Aluguel equipamentos Demais serviços as despesas de juros dos títulos no país mais altas
Serviços
que em janeiro de 2023, espelhando o aumento da
Gráfico 1.2.27 – Renda primária posição estrangeira. Na conta financeira, tanto o IDP
US$ bilhões, MM3M a.s. quanto os investimentos estrangeiros em carteira
1 foram bastante positivos no primeiro mês do ano. Em
0 particular, nos investimentos em carteira, destaca-se
-1
a entrada líquida de US$8 bilhões em títulos de dívida,
-2
o maior valor de captações líquidas desde 2015 e o
-3
segundo maior da série histórica.
-4
-5
-6
Considerando os dados divulgados desde o Relatório
-7 anterior e a evolução das perspectivas para atividade
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan
2019 2020 2021 2022 2023 2024
econômica e preços, principalmente de commodities,
Remun. Empregados Juros a previsão para o déficit em transações correntes
Lucros e dividendos Renda primária
26/ Em novembro houve a primeira emissão de título sustentável pelo Tesouro Nacional, no valor de US$2 bilhões
Preços
Gráfico 1.2.28 – IC-Br e câmbio O Índice de Commodities – Brasil (IC-Br) tem alternado
MM10D, 31.12.2020 = 100
180
períodos de alta e de baixa desde o segundo
trimestre de 2023. O padrão é observado nos índices
160 em real e em dólar. Essa evolução recente contrasta
140 com os anos iniciais da pandemia de Covid-19, quando
se observou um longo ciclo de alta, até o segundo
120
trimestre de 2022, e uma sequência de quedas que
100 parcialmente reverteu o movimento anterior. No
trimestre corrente, o IC-Br avançou 3,7% em dólares e
80
Jan Abr Jul Out Jan Abr Ago Nov Fev Mai Ago Nov Mar 4,9% em reais, dada a depreciação de 1,1% da moeda
2021 2022 2023 2024
doméstica.27
Em US$ Em R$ USD/BRL RI dezembro
Fontes: Bloomberg e BC
A alta do IC-Br no trimestre corrente reflete
principalmente a evolução dos preços de commodities
agropecuárias, que, no agregado, avançaram 4,3%
desde o Relatório anterior. Houve altas significativas
nas cotações internacionais do cacau, algodão e boi
gordo. Notícias sobre o setor indicam que a alta no
preço do cacau está associada a restrições de oferta
nos principais países produtores, em parte causadas
por adversidades climáticas. Nos casos do algodão
e do boi gordo, também há indicações da influência
de fatores de oferta, em particular no mercado dos
Estados Unidos. No sentido contrário, preços de
27/ As variações do IC-Br e do câmbio discutidas nesta seção se referem à média móvel de dez dias entre as respectivas datas de
fechamento dos RI.
28/ De acordo com as estimativas do último relatório mensal do United States Department of Agriculture (USDA), Argentina e Brasil
em conjunto produzirão 7% a mais de milho e soja do que na safra anterior.
-4
Os preços ao produtor no segmento industrial
-6 recuaram nos três meses até fevereiro. A evolução
Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev
2022 2023 do preço do diesel, que foi determinante para a
Agropecuários Extrativa
Alimentação, bebidas, fumo Combustíveis
alta dos produtos industriais no trimestre anterior,
Demais transformação desta vez contribuiu para a queda no segmento. Na
Fonte: FGV
mesma direção, no grupo de produtos alimentícios
industriais, houve recuos relevantes no preço do
açúcar e de farelo e óleo de soja, movimento que
espelha o observado nas cotações internacionais da
oleaginosa.
Gráfico 1.2.32 – Contribuições para variações Os preços ao consumidor medidos pelo IPCA
trimestrais do IPCA
p.p. avançaram 1,82% no trimestre encerrado em
4 fevereiro, variação substancialmente acima da
3 observada no trimestre até novembro (0,78%). Essa
2 variação mais forte reflete, em parte, o padrão típico
1 do período, mas também pode ser observada nas
0 séries com ajuste sazonal. A variação dessazonalizada
-1 e anualizada do IPCA passou de 3,54% em novembro
-2 para 5,08% no trimestre terminado em fevereiro.
Mai
2022
Ago Nov Fev
2023
Mai Ago Nov Fev
2024
No mesmo período, a média dos núcleos de inflação
Alim. no domicílio Serviços Bens industriais Administrados
passou de 3,41% para 4,08%, o que indica que a alta
Fontes: IBGE e BC
da inflação não se limitou aos produtos mais voláteis
da cesta.
3
Os preços dos bens industriais avançaram 0,87% no
1 trimestre encerrado em fevereiro, após variações
-1
negativas nos dois trimestres anteriores (encerrados
em agosto e novembro). Ainda que a magnitude da
-3
Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev alta tenha sido limitada, o resultado representa uma
2022 2023 2024
aceleração em relação ao período anterior, também
Industrializados In natura Semielaborados
observável na série dessazonalizada. Tanto a variação
Fontes: IBGE e BC
no trimestre quanto a aceleração em relação ao
período anterior tiveram contribuição importante
Gráfico 1.2.36 – Contribuições para variações de higiene pessoal, item volátil e com peso elevado.
trimestrais em bens industriais – IPCA
p.p. Todavia, o movimento não se restringiu a esse item e
4
foi relativamente disseminado. Entre os componentes
3
com variação acima da observada em novembro, houve
2 contribuições relevantes de aparelho telefônico,
leitura, eletrodomésticos, TV, som e informática e
1
automóvel novo e usado.
0
1,0
O componente subjacente da inflação de serviços
0,5 apresentou alta de 1,71% nos três meses até
0,0 fevereiro, ante variação de 0,79% no trimestre
-0,5 anterior. A aceleração dos preços foi relativamente
Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev
2022 2023 2024 disseminada, com contribuições relevantes de seguro
Serviços subjacente Passagem aérea Cursos regulares Outros de veículos, conserto de automóvel, serviço bancário,
Fontes: IBGE e BC alimentação fora do domicílio e de serviços mais
intensivos em trabalho (serviços médicos e dentários,
manicure e cabelereiro e barbeiro). Em termos
Gráfico 1.2.39 – Inflação de serviços
%, MM3M, a.s., anualizado dessazonalizados e anualizados, a inflação subjacente
13
de serviços aumentou para 5,66% no trimestre
11
encerrado em fevereiro, ante 4,37% no trimestre
9
anterior. Em visão mais longa, essa evolução, até aqui
7
marcada por oscilações, corrobora a perspectiva de
5
uma desaceleração mais gradual para o componente
3
ao longo do ano.
1
-1
Fontes: IBGE e BC
2024 2025
Na indústria, a projeção passou de 1,7% para 2,2%, com piora na estimativa para “eletricidade e gás, água,
esgoto, atividades de gestão de resíduos” (EGAER) e melhora para as demais atividades. No caso da construção
e da indústria extrativa, a revisão resulta, principalmente, das surpresas positivas no quarto trimestre, que
deixam o carregamento estatístico para 2024 mais elevado. Na indústria de transformação, os indicadores
já disponíveis para 2024 sugerem que o crescimento no primeiro trimestre será maior do que o previamente
esperado. Estoques normalizados e melhora da confiança dos empresários também favorecem maior expansão
1/ À época do Relatório anterior, o IBGE apresentou prognóstico de redução da safra de grãos de 2,8% em relação à de 2023, enquanto
a estimativa mais recente do órgão (apresentada no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola divulgado em março) é de
queda de 4,7%. Já a previsão da Conab para a variação da safra de grãos 2023/2024 ante a safra 2022/2023 passou de -1,9% para
-7,6%.
A projeção para o setor de serviços teve ligeiro crescimento, de 1,9% para 2,0%. As principais contribuições
para a alta vieram das previsões mais favoráveis para “outros serviços”, “administração, saúde e educação
públicas” e “transporte, armazenagem e correio”. Em sentido oposto, destaca-se a redução na estimativa
para o crescimento do comércio. As mudanças, quase todas de pequena magnitude, refletem, de modo
geral, surpresas no resultado do quarto trimestre de 2023 e os primeiros indicadores disponíveis para 2024.
Com relação aos componentes domésticos da demanda agregada, houve manutenção da previsão para o
crescimento do consumo das famílias, em 2,3%, e elevação das estimativas para o consumo do governo,
de 1,1% para 1,9%, e para a FBCF, de 1,0% para 1,5%. Para a manutenção da previsão de crescimento anual
do consumo das famílias concorrem fatores com efeitos opostos: de um lado, a surpreendente queda do
consumo das famílias ocorrida no quarto trimestre de 2023 resultou em carregamento estatístico para 2024
mais baixo do que o esperado; de outro, destaca-se a recente dinâmica positiva do mercado de trabalho. A
alta nas previsões para o consumo do governo e para a FBCF decorre, em grande medida, de surpresas no
resultado do quarto trimestre. Para a FBCF, reflete também os primeiros indicadores de 2024, que mostram
alta na produção e na importação de bens de capital.
As exportações e importações em 2024 devem variar 0,5% e 3,0%, ante projeções respectivas de 1,5% e 2,5%
apresentadas anteriormente. O recuo no prognóstico para as exportações reflete redução nas estimativas
para a exportação de produtos agrícolas e de serviços. Já a ligeira alta nas importações advém, principalmente,
de elevação das estimativas para a importação de bens de capital e de serviços, motivada pelos dados de
importação divulgados desde o Relatório anterior.
Tendo em vista as novas estimativas para os componentes da demanda agregada, as contribuições da demanda
interna e do setor externo para a evolução do PIB em 2024 são estimadas em 2,3% e -0,4%, respectivamente.
2/ Essa expectativa, ainda bastante incerta, decorre de o nível dos reservatórios das hidrelétricas terem se situado no início de 2024 em
patamares mais baixos do que os verificados em igual período do ano passado, embora ainda bastante acima da média dos últimos
anos. Adicionalmente, a energia natural afluente (grosso modo, a energia elétrica que poder ser produzida com o fluxo de água que
alimenta os reservatórios) tem ficado abaixo da média histórica recente.
Este boxe apresenta a revisão da projeção de crescimento nominal do saldo do crédito no Sistema Financeiro
Nacional (SFN) em 2024 (Tabela 1).
Desde o Relatório de Inflação anterior, os dados do mercado de crédito vieram acima do esperado, em
especial no segmento livre. Além disso, no segmento direcionado, houve revisão dos dados da modalidade
financiamento imobiliário, que culminou na elevação da estatística de saldo desde fevereiro de 2023. Tais
fatores contribuíram para que o saldo do crédito terminasse 2023 com crescimento interanual de 8,1%, acima
da projeção de 6,8% publicada no Relatório de dezembro do ano passado. Ainda assim, houve expressiva
desaceleração do ritmo de crescimento do saldo em relação a 2022, que refletiu a postura contracionista
da política monetária, o nível elevado de endividamento das famílias e o aumento da aversão ao risco das
instituições financeiras, como discutido no Capítulo 1 deste Relatório.
Para 2024, a projeção de crescimento do saldo de crédito aumentou de 8,8% para 9,4%. A projeção de
crescimento do crédito livre para pessoas físicas passou de 9,0% para 10,0%, enquanto a para as empresas
foi elevada de 7,0% para 7,5%. Ambas as revisões refletem a surpresa com os dados do quarto trimestre,
que abrangeu concessões mais elevadas e recuo da inadimplência, e a revisão para cima na projeção de
crescimento da economia. No crédito direcionado, a projeção de crescimento do saldo de pessoas físicas foi
ajustada de 10,0% para 10,5%, refletindo a revisão dos saldos do financiamento imobiliário em 2023. Por
fim, a projeção de crescimento do crédito direcionado para pessoas jurídicas ficou estável em 9,0%, com a
manutenção do cenário de expansão moderada do crédito rural e do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).
Em resumo, as novas projeções de crescimento do estoque de crédito para 2024 são ligeiramente maiores
que as indicadas no Relatório anterior, e continuam indicando um processo de recuperação do ritmo de
crescimento, nominal e real, do crédito compatível com a fase de redução do grau de aperto monetário em
curso desde meados de 2023.
Este boxe apresenta a revisão da projeção das contas externas da economia brasileira para 2024. O cenário
segue favorável, caracterizado por superávit elevado na balança comercial, ainda que menor do que em 2023;
déficit moderado na conta de transações correntes; e investimento direto no país (IDP) em recuperação, com
valor mais que suficiente para o financiamento do déficit em transações correntes.
A projeção para as aberturas analisadas teve Tabela 1 – Projeções das contas externas
alterações apenas na balança comercial e, US$ bilhões
consequentemente, no saldo de transações Discriminação 2023 2024 Projeção 2024
correntes. Projeta-se para 2024 déficit em
Ano Jan Anterior Atual
transações correntes de US$48 bilhões (2,1% do
Produto Interno Bruto – PIB), maior do que se
Transações correntes -29 -5 -35 -48
projetava anteriormente (US$35 bilhões). Essa
Balança comercial 81 4 73 59
elevação decorre de revisão para baixo no saldo
Exportações 344 27 343 330
projetado para a balança comercial: de US$73
Importações 264 23 270 271
bilhões para US$59 bilhões (2,5% do PIB). Foram
mantidas as estimativas para as contas de serviços, Serviços -38 -3 -40 -40
A piora do saldo comercial em relação à estimativa Renda primária -72 -6 -68 -68
anterior ocorreu principalmente em função da dos quais: juros -28 -4 -29 -29
revisão para baixo na projeção do valor exportado, dos quais: lucros e dividendos -45 -2 -39 -39
Para as importações, a projeção manteve-se relativamente estável. Por um lado, foram revisadas para cima
as importações de bens de capital. Por outro, destaca-se o prognóstico de queda no valor importado de
bens intermediários, refletindo perspectiva de preços mais baixos, que mais do que compensam a recente
recuperação do volume importado após o fim da seca na bacia amazônica.
A projeção para a conta de serviços não foi alterada. O déficit, mais elevado do que em 2023, resulta de maior
convergência dos gastos líquidos com viagens internacionais ao nível verificado antes da pandemia, bem como
de certa estabilidade nas outras rubricas, como transportes. A projeção para a conta de renda primária, que
também foi mantida, considera aumento nos gastos líquidos com juros, em linha com os efeitos defasados do
patamar mais alto de juros nas principais economias; e redução nas despesas líquidas de lucros e dividendos,
refletindo moderação após ganhos excepcionalmente altos no primeiro semestre de 2023.
O IDP deve atingir US$70 bilhões, equivalente a 3,0% do PIB. Trata-se de pequeno aumento em relação a
2023, convergindo para patamar compatível com a média histórica em termos percentuais do PIB. Apesar
4 8
6
2
4
0
2
-2
0
-4
-2
-6 -4
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
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2013
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2021
2023
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
2023
Bal. Comercial Serviços Rendas TC
IDP Inv. Carteira Outros Inv. Passivo
29/ Para mais detalhes, ver boxe “Condicionantes de câmbio nas projeções do Banco Central do Brasil e a paridade do poder de compra”,
do Relatório de setembro de 2020.
30/ A inflação divulgada no trimestre até fevereiro foi superior à esperada por analistas de mercado, mas por margem menor do que
na projeção do Copom. A mediana da inflação acumulada em dezembro, janeiro e fevereiro projetada pelos participantes do Focus
em 8.12.2023 foi 1,42%. Os percentis 10 e 90 da distribuição foram 1,26% e 1,70%, respectivamente.
31/ A expectativa mediana dos analistas para março também é menor do que a vigente na data de corte do Relatório anterior. A projeção
mediana do Focus para março era 0,34% em 8.12.2023 e foi reduzida para 0,22% na data de corte deste Relatório.
32/ Valor obtido pelo procedimento, que começou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio
USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
33/ Considerando facilidade no processo de formulação das projeções e simplicidade de comunicação, o diferencial de inflação considerado
é a diferença, a cada ano, entre a meta para a inflação no Brasil e a inflação externa de longo prazo, considerada como de 2% a.a.,
em linha com a meta para a inflação da maioria dos países desenvolvidos.
Gráfico 2.2.3 – Preço do petróleo Brent Com relação ao preço do petróleo considerado nas
Médias trimestrais projeções, parte-se de valor em torno da média
USD/Barril
dos preços vigentes no período de dez dias úteis
120
encerrados no último dia da semana anterior à da
100 reunião do Copom. Utiliza-se a hipótese de que o
80 preço do petróleo segue aproximadamente a curva
futura de mercado pelos próximos seis meses,
60
alcançando cerca de US$80/barril, e passa a aumentar
40 2% ao ano a partir de então (Gráfico 2.2.3). O preço
20
do petróleo subiu desde o Relatório passado, fazendo
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV com que o preço médio considerado para o segundo
2022 2023 2024 2025 2026
RI Mar 2024 RI Dez 2023 trimestre de 2024 seja cerca de 5% superior.
Fontes: Bloomberg e BC
34/ Como descrito no boxe "Revisão do modelo agregado de pequeno porte", do Relatório de Inflação de dezembro de 2021, na curva
IS, a taxa Selic utilizada refere-se à trajetória um ano à frente. Portanto, a taxa de juros utilizada ao longo de 2026 depende também
da trajetória da Selic ao longo de 2027. Ressalta-se que a construção da trajetória da taxa Selic nesse cenário utiliza interpolação
para os meses em que a pesquisa não coleta os respectivos dados, considerando os valores de final de cada ano.
35/ Para diversas estimativas da taxa neutra, ver o boxe “Medidas de taxa de juros real neutra no Brasil”, do Relatório de junho de 2023.
Determinantes da inflação
Gráfico 2.2.5 – Selic real acum. quatro trimestres à frente A taxa Selic acumulada quatro trimestres à frente,
Médias trimestrais descontada das expectativas de inflação para o
% a.a.
8 mesmo período, ambas extraídas da pesquisa Focus
7
e medidas em termos de médias trimestrais, teve
6
5 pouca alteração em relação ao Relatório anterior
4 (Gráfico 2.2.5). Nessa comparação, a taxa de juros real
3
2
é levemente inferior no segundo semestre de 2024 e
1 em 2025, refletindo a trajetória um pouco mais baixa
0
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV
da Selic nominal (Gráfico 2.2.2). A taxa de juros real
2022 2023 2024
RI Mar 2024
2025 2026
RI Dez 2023
alcançou valor máximo de 7,8% no último trimestre
Obs.: Selic real calculada com base na taxa Selic acumulada quatro trimestres à de 2022 e depois entrou em declínio, atingindo 6,2%
frente, descontada das expectativas de inflação para o mesmo período, ambas
variáveis extraídas da pesquisa Focus. no último trimestre de 2023. Nessa trajetória, a taxa
de juros real atinge 5,0% ao final de 2024 e 4,8% ao
final de 2025 e 2026, acima ainda da taxa real neutra
considerada, de 4,5%.
40/ Ver o boxe “Revisão da projeção do PIB para 2024”, deste Relatório.
0,5
2023. Segundo a FGV, a redução do indicador reflete
0,0
a "continuidade de um cenário econômico doméstico
-0,5 favorável, com melhora do emprego, renda e inflação
-1,0 sob controle, apesar das tensões geopolíticas
-1,5 internacionais do momento"41. O comportamento da
Mar Set
Jun Dez
Mar
Jun
Set
Dez
Mar
2022 2023 2024 incerteza deve depender tanto de variáveis externas,
Obs.: Quanto maior o valor do indicador, mais restritivas são as condições
financeiras. Dados do gráfico: 01.03.2022–15.03.2024. como a volatilidade nos mercados internacionais,
quanto de variáveis domésticas, como a trajetória
de variáveis fiscais.
43/ Ver o boxe “Sistema de análise e projeções do BC”, do Relatório de março de 2023.
Este boxe apresenta estimativa de decomposição do desvio da taxa de inflação de 2023, medida pela variação
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em relação à meta estabelecida pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN).1 O objetivo é medir a contribuição dos principais fatores determinantes da inflação
a partir de modelos semiestruturais do Banco Central do Brasil (BC).2
O desvio da inflação em relação à meta é decomposto em seis componentes: (i) inércia do ano anterior (desvio
da inflação do ano anterior em relação à meta);3 (ii) expectativas (diferença entre expectativas de inflação
medidas pela pesquisa Focus e a meta para a inflação); (iii) inflação importada (diferença em relação à meta);
(iv) hiato do produto; (v) medidas tributárias, incluindo reversão da desoneração sobre gasolina e etanol; e
(vi) demais fatores.4 Vale ressaltar que essas estimativas são aproximações construídas com base em modelos
e, portanto, estão sujeitas às incertezas inerentes ao processo de modelagem e estimação.
Para a estimativa dos componentes, parte-se de um cenário no qual todos os condicionantes são neutros, isto
é, não apresentam impactos que levem a inflação a se desviar da meta.5 À medida que esses condicionantes
neutros são substituídos pelos valores efetivamente observados, obtém-se a contribuição de cada fator para
o desvio da taxa de inflação em relação à meta.
A inflação em 2023 foi de 4,62%, 1,37 ponto percentual (p.p.) acima da meta para a inflação de 3,25%, dentro
do intervalo de tolerância estabelecido pelo CMN, de mais ou menos 1,50 p.p. (Gráfico 1 e Tabela 1). A inflação
foi 1,16 p.p. inferior à verificada em 2022, de 5,78%. A inflação de preços livres recuou de 9,39% em 2022 para
3,14% em 2023, ao passo que a inflação de preços administrados se elevou de -3,83% para 9,12%. Dentre os
preços livres, serviços subiram 6,22%, bens industriais aumentaram 1,09% e alimentação no domicílio caiu
0,52%. Entre os administrados, destacam-se as contribuições de Gasolina, Emplacamento e licença, Plano de
saúde e Energia elétrica residencial.
i. A inércia advinda do ano anterior (como desvio da meta) apresentou contribuição de 0,61 p.p. para o desvio
da inflação em relação à meta em função da elevada inflação em 2022, de 5,78%, afetando tanto a inflação de
preços livres como a de preços administrados. No caso dos preços livres, a inflação passada significa pressão
corrente de custos, advinda tanto de outros preços de bens e serviços utilizados como insumos, quanto de
mecanismos inerciais informais de indexação salarial. No caso dos preços administrados, o destaque é para
arranjos institucionais que vinculam o reajuste dos preços à inflação passada, com destaque para planos de
saúde e medicamentos;
1/ A decomposição da inflação baseada em modelos de projeção tem sido apresentada anualmente nos Relatórios de Inflação. Ver, por
exemplo, o boxe "Decomposição da Inflação de 2022", do Relatório de Inflação de março de 2023. Para detalhes sobre procedimentos
metodológicos, ver o boxe “Decomposição da Inflação de 2017”, do Relatório de Inflação de março de 2018, e Cusinato et. al (2016).
2/ Ver os boxes “Revisão do modelo agregado de pequeno porte”, do Relatório de Inflação de dezembro de 2021, e “Reformulação
dos modelos para projeção de médio prazo dos preços administrados”, do Relatório de Inflação de setembro de 2017.
3/ O componente “inércia do ano anterior” inclui os efeitos de todos os fatores que afetaram a inflação até o mês de dezembro de
2022.
4/ O item “Demais fatores” inclui fatores não considerados nos itens anteriores, como, por exemplo, fatores específicos de
condicionamento dos modelos de preços administrados e termo de resíduo do modelo. Neste boxe, não se apresenta o item bandeiras
tarifárias de energia elétrica em virtude de não ter tido contribuição para o desvio da inflação em relação à meta em 2023. Desde
abril de 2022, vigorou a bandeira verde, o que não trouxe impactos para a inflação do IPCA ao longo de 2023.
5/ No caso de variáveis que apresentam sazonalidade, os condicionantes neutros também incluem componente sazonal.
Fonte: IBGE e BC
iii. A inflação importada (como desvio da meta) foi o fator que apresentou a principal contribuição negativa
para o desvio da inflação em relação à meta, de -0,91 p.p. Desse montante, a apreciação cambial contribuiu
com -0,49 p.p. e a queda dos preços do petróleo e de commodities em geral contribuiu com -0,29 p.p. e -0,13
p.p., respectivamente (Gráficos 4 a 6);
iv. O hiato do produto apresentou contribuição negativa para o desvio da inflação em relação à meta
(contribuição de -0,37 p.p.). O hiato do produto é uma variável não observável, sujeita a elevada incerteza na
sua mensuração, e é medido pelo BC por meio de diferentes metodologias. Utilizando a metodologia baseada
em estimação de modelo bayesiano, o hiato do produto, após abertura significativa no segundo trimestre de
2020 em função da pandemia da Covid-19, apresentou uma trajetória de fechamento nos períodos seguintes.
Ao longo de 2023, o hiato do produto, ainda em terreno negativo, contribuiu para reduzir o desvio da inflação
em relação à meta;
130 50
40
120 jan abr jul out jan abr jul out jan
jan abr jul out jan abr jul out jan 2022 2023 2024
2022 2023 2024
Fontes: Bloomberg e BC
5,6
5,4
5,2
5,0
4,8
4,6
4,4
jan abr jul out jan abr jul out jan
2022 2023 2024
vi. Por fim, os demais fatores apresentaram uma contribuição de 0,09 p.p. para o desvio da inflação em
relação à meta em 2023. Utilizando o modelo desagregado de pequeno porte para captar a contribuição dos
choques de grupos de preços, destaca-se a contribuição negativa dos choques de alimentação no domicílio
(-0,72 p.p.) e de bens industriais (-0,40 p.p.), em contraste ao verificado em 2022, quando a contribuição dos
choques desses dois grupos foi de 1,01 p.p. e 1,13 p.p., respectivamente. No sentido oposto, destaca-se a
contribuição de 0,93 p.p. advinda de choques em administrados.
Em suma, de acordo com a decomposição apresentada neste boxe, os principais fatores que levaram a inflação
em 2023 a ficar acima da meta foram as medidas tributárias, as expectativas de inflação e a inércia da inflação
do ano anterior. Em sentido contrário, atuaram a queda nos preços das commodities, em especial do petróleo,
a valorização cambial e o hiato do produto no campo negativo.
Referência
CUSINATO, R. T., FIGUEIREDO, F. M. R., MACHADO, V. G., MELLO, E. P. G. e PEREZ, L. P. (2016). “Decomposição
de Inflação: revisão da metodologia e resultados para 2012 a 2014”, Banco Central do Brasil, Trabalhos para
Discussão nº 440.
6/ Essa estimativa considera apenas o impacto direto das medidas sobre os bens e serviços afetados e incorpora apenas a parcela do
impacto das medidas que teria se materializado nos preços ao consumidor no ano de 2023. Portanto, não foram considerados os
efeitos inerciais em 2023 da desoneração tributária ocorrida em 2022 e os efeitos inerciais ao longo de 2023 da reoneração desse
ano. A estimativa não vem do modelo, mas da análise de especialistas.
Diretoria Colegiada
Paulo Picchetti
Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de
Riscos Corporativos
Diretor
Rodrigo Alves Teixeira
a.a. Ao ano
a.s. Dados com ajuste sazonal
Anbima Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
APU Administração, Defesa, Educação e Saúde Públicas e Seguridade Social
BC Banco Central do Brasil
BCE Banco Central Europeu
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BRL Real
CBO Congressional Budget Office
CCT Convenções Coletivas de Trabalho
CDS Credit Default Swap
CMN Conselho Monetário Nacional
CNT Contas Nacionais Trimestrais
Cofins Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
COPOM Comitê de Política Monetária
Covid-19 Doença Coronavírus
DBGG Dívida Bruta do Governo Geral
Depec Departamento Econômico
Depep Departamento de Estudos e Pesquisas
Derin Departamento de Assuntos Internacionais
DLSP Dívida Líquida do Setor Público
Dstat Departamento de Estatísticas
EC Emenda Constitucional
EUA Estados Unidos da América
FBCF Formação Bruta de Capital Fixo
Fed Federal Reserve
FGV Fundação Getulio Vargas
FOMC Comitê Federal de Mercado Aberto
HICP Índice de Preços ao Consumidor Harmonizado
IBC-Br Índice de Atividade Econômica do Banco Central
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ibre Instituto Brasileiro de Economia
IC-Br Índice de Commodities – Brasil
ICF Indicador de Condições Financeiras
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
ICVA Índice Cielo de Varejo Ampliado
IDAT Indicadores de Atividade Econômica do Itaú
IDP Investimento direto no país
IIE-Br Indicador de Incerteza da Economia
INPC Índice Nacional de Preços ao Consumidor
IPA-DI Índice de Preços ao Produtor Amplo – Disponibilidade Interna