Relatório de Inflação: Volume 25 - Número 1 - Março 2023
Relatório de Inflação: Volume 25 - Número 1 - Março 2023
Relatório de Inflação: Volume 25 - Número 1 - Março 2023
Relatório de Inflação
Volume 25 | Número 1 | Março 2023
Relatório de Inflação
Volume 25 | Número 1 | Março 2023 ISSN 1517-6576
CNPJ 00.038.166/0001-05
Os textos, os quadros estatísticos e os gráficos são de responsabilidade dos componentes nomeados a seguir:
É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Inflação, volume 25, nº 1.
Convenções estatísticas
O hífen (-) entre anos (1970-1975) indica o total de anos, incluindo-se o primeiro e o último.
A barra (/) entre anos (1970/1975) indica a média anual dos anos assinalados, incluindo-se o primeiro e o último, ou, se especificado no texto, o
ano-safra ou o ano-convênio.
Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamento.
Não é citada a fonte dos quadros e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.
Atendimento ao Cidadão
Sumário executivo 7
Conjuntura econômica 11
1.1 Cenário externo ________________________________________________________________________ 12
1.2 Conjuntura interna______________________________________________________________________ 19
Atividade econômica____________________________________________________________________ 19
Mercado de trabalho____________________________________________________________________ 22
Crédito________________________________________________________________________________ 23
Fiscal__________________________________________________________________________________ 27
Contas externas________________________________________________________________________ 30
Preços_________________________________________________________________________________ 32
Boxes
Revisão da projeção do PIB para 2023_____________________________________________________ 39
Projeção para a evolução do crédito em 2023______________________________________________ 41
Projeções para as contas externas de 2023________________________________________________ 43
Sistema de análise e projeções do BC_____________________________________________________ 57
Revisão do Modelo Estrutural de Médio Porte – Samba_____________________________________ 67
Decomposição da inflação de 2022_______________________________________________________ 75
Apêndice 81
Sumário executivo
4 2,9
de retomada das atividades mais afetadas pela
2,4 2,1
2 0,9
1,9 pandemia de Covid-19 permanece em andamento,
0,4 0,4
0 contribuindo para a pressão de preços no setor de
EUA China Japão Zona do
Euro
Reino
Unido
América
Latina²
Global¹
serviços. A economia mundial conseguiu evitar um
I 2022 II 2022 III 2022 IV 2022 quadro mais grave de contração de atividade, em
Fonte: Bloomberg
1/ calculado conforme descrito no Boxe "Modelo de projeções e análise parte devido às medidas adotadas para mitigar os
macroeconômica da economia global" do RI de set/22.
2/ Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. efeitos da crise energética global e pela continuidade
dos estímulos fiscais. No entanto, a continuidade da
guerra na Ucrânia, o esgotamento do espaço fiscal
para implementar novos estímulos ante o elevado
Gráfico 1.1.2 – Taxas de política monetária¹
grau de endividamento dos países no pós-Covid, as
% a.a. restrições na oferta de energia e outras commodities,
7 e o aperto monetário generalizado em um ambiente
6
5 de inflação ainda pressionada têm sustentado o
4 quadro de incertezas sobre a trajetória futura para
3
2
a atividade e inflação global.
1
0
-1
Nas últimas semanas, o fechamento de bancos
2000 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 2023 médios nos EUA e questionamentos sobre a saúde
financeira de um banco globalmente sistêmico
EUA Zona do Euro Reino Unido Japão
(G-SIB) na Europa trouxeram preocupações sobre
Fonte: Bloomberg a estabilidade financeira nos países avançados,
1/ Até 20 de março.
com consequente aumento da aversão global ao
risco e impactos sobre os preços de diversos ativos
financeiros. Nos EUA, para restaurar a confiança
dos depositantes no setor bancário, os depósitos
Gráfico 1.1.3 – Frete marítimo: 2018-2023¹
nos bancos afetados foram excepcionalmente
Jan/2018 = 100 Índice
6 garantidos integralmente, e uma linha especial de
800 liquidez foi disponibilizada pelo Federal Reserve (Fed)
4
600 às instituições financeiras. Na Europa, houve a
400
2
fusão de dois G-SIBs, com apoio do governo Suíço
200 0 na forma de garantias, empréstimos e linhas de
liquidez. Apesar dos esforços das autoridades em
0 -2
Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan Jul Jan restaurar a confiança nos sistemas financeiros e
2018 2019 2020 2021 2022 2023
Índice global de contêineres evitar o contágio para outras instituições e outras
Índice Global Harpex - fretes
Índice Baltic Exchange - cargas secas
jurisdições, a incerteza em torno da resolução total
Índice de pressão de cadeias globais (dir.)
das desconfianças em torno do setor bancário
Fontes: Refinitiv, Federal Reserve (FED)
1/ Médias mensais - Até março de 2023. ainda é elevada. Nesse cenário, embora ainda seja
10
Nos países emergentes, as taxas de inflação seguem
5
bem acima das metas, com tendências divergentes
0
BRA CHL COL MEX PER ZAF CZE HUN POL UKR RUS IND CHN² IDN MYS PHL THA KOR TUR na ponta uma vez que alguns países mostram sinais
Máxima desde 2008 Dado atual Expect. 2023 Expect. 2024
Fontes: Bloomberg e pesquisas de bancos centrais
mais claros de desaceleração, especialmente na Ásia,
1/ Até 20 de março. enquanto em outros observa-se maior resistência no
2/ CHN: taxa máxima desde maio de 2012.
processo de desinflação. As expectativas extraídas
das pesquisas conduzidas pelos Bancos Centrais
sinalizam majoritariamente expectativa de recuos
nas taxas de inflação ao longo do ano, embora não
Gráfico 1.1.9 – Variação de taxa de juros desde março antecipem convergência para as metas ao final de
de 2021¹
Fev/2021 = 0 2023. Mesmo para 2024, alguns países devem ter
20
16
inflação ainda acima do centro da meta. A maior
12 parte dos bancos centrais de economias emergentes
8
4 pausou seu ciclo de aperto monetário, enquanto
0
-4
uma minoria segue elevando suas taxas básicas de
-8 juros, embora em menor intensidade, porém com
Fev Ago Fev Ago Fev
2021 2022 2023 sinalização de proximidade do fim do ciclo de aperto.
Ucrânia Hungria Brasil
Chile Colômbia Peru Pesquisas conduzidas pelos Bancos Centrais indicam,
Rep. Tcheca Polônia México
África do Sul Rússia Filipinas na maior parte dos casos, manutenção das taxas
Coreia do Sul Índia Turquia
Fonte: Bloomberg básicas nos níveis atuais até o final de 2023, embora
1/ Até 20 de março. em alguns países, especialmente na América Latina,
existam expectativas de cortes de juros ainda este
ano.
Tabela 1.2.1 – Produto Interno Bruto A economia brasileira cresceu 2,9% em 2022, após
Variação anual alta de 5,0% em 2021 e recuo de 3,3% em 2020. O
Variação % resultado veio em linha com a projeção do BC e abaixo
Discriminação 2018 2019 2020 2021 2022 da mediana das projeções do relatório Focus na data
PIB a preços de mercado 1,8 1,2 -3,3 5,0 2,9 de corte do Relatório anterior (3,1%).
Agropecuária 1,3 0,4 4,2 0,3 -1,7
Indústria 0,7 -0,7 -3,0 4,8 1,6 Pela ótica da oferta, houve crescimento da indústria
Serviços 2,1 1,5 -3,7 5,2 4,2
e do setor de serviços, mas recuo na agropecuária.
Consumo das famílias 2,4 2,6 -4,6 3,7 4,3
O setor de serviços foi o que mais contribuiu para o
Consumo do governo 0,8 -0,5 -3,7 3,5 1,5
crescimento anual do PIB, com altas disseminadas
FBCF 5,2 4,0 -1,7 16,5 0,9
Exportação 4,1 -2,6 -2,3 5,9 5,5
entre os segmentos, mas destaque para transportes
Importação 7,7 1,3 -9,5 12,0 0,8
e “outros serviços” 3 . Esses segmentos foram
severamente afetados pela pandemia, inicialmente,
Fonte: IBGE
mas desde então apresentam trajetórias firmes
de crescimento. Na indústria o desempenho foi
heterogêneo, com altas fortes na construção e na
“produção e distribuição de eletricidade, gás e água”4
Tabela 1.2.2 – Produto Interno Bruto
contrastando com recuos nas indústrias extrativa
Trimestre ante trimestre imediatamente anterior
Dados dessazonalizados
e de transformação. Já o declínio na agropecuária
Variação % decorreu principalmente de problemas climáticos
Discriminação 2021 2022 que afetaram a produção de soja, café e milho
I II III IV I II III IV (1ª safra).
PIB a preços de mercado 1,0 -0,3 0,3 1,1 1,3 0,9 0,3 -0,2
Agropecuária 5,1 -5,4 -5,6 7,0 -1,5 -0,7 -0,5 0,3 Pela ótica da demanda, todos os componentes
Indústria 1,3 -1,4 -0,2 -0,1 0,7 1,7 0,7 -0,3 avançaram em 2022. Destaque para a alta expressiva
Extrativa 3,7 4,7 -1,4 -1,7 -3,2 2,4 0,0 2,5 do consumo das famílias, favorecido por uma
Transformação -0,9 -3,4 -1,4 -0,6 0,9 1,6 0,0 -1,4 combinação de melhora no mercado de trabalho
Construção 4,2 0,8 3,6 1,7 1,5 3,2 0,0 -0,7
e ampliação de transferências governamentais. A
SIUP 3,4 0,6 -0,9 -0,4 9,9 0,8 0,6 -0,4
formação bruta de capital fixo (FBCF) apresentou alta
Serviços 0,8 0,7 1,3 1,1 1,0 1,2 0,9 0,2
mais modesta após forte expansão no ano anterior.
Comércio -0,3 -1,5 -0,7 -1,2 1,2 1,8 0,2 -0,9
Transportes 5,0 0,6 2,3 3,6 1,9 2,4 0,9 0,2
O menor volume de importações fictas no âmbito do
Serviços de informação 2,7 5,4 1,5 3,2 -4,1 3,8 3,8 1,8 Repetro5 prejudicou o crescimento da FBCF, assim
Intermediação financeira 0,2 -0,1 -1,0 0,6 -0,2 -0,3 1,7 0,9 como o das importações. Por sua vez, as exportações
Outros serviços 0,7 1,6 5,5 2,0 3,0 3,0 1,5 0,9 tiveram mais um ano de crescimento sólido.
Aluguel 0,1 0,5 0,3 0,9 -0,1 0,9 1,4 0,7
APU -0,5 1,1 1,1 1,3 0,1 -1,0 1,1 -0,5 Embora o crescimento em 2022 tenha superado
Consumo das famílias 0,4 -0,9 2,0 0,5 1,0 2,0 1,0 0,3
as expectativas iniciais6, sua trajetória ao longo do
Consumo do governo 0,3 1,9 1,3 0,8 -0,3 -0,8 1,2 0,3
ano foi de arrefecimento. A relativa estabilidade
FBCF 7,8 -4,0 -0,9 0,6 -2,2 4,1 2,6 -1,1
do PIB no segundo semestre (crescimento de 0,3%
Exportação 4,4 10,7 -9,0 -1,4 8,5 -2,2 3,7 3,5
Importação 11,5 -2,7 -6,5 1,5 -3,1 7,1 5,5 -1,9
no terceiro trimestre e recuo de 0,2% no quarto)
contrasta com o crescimento médio trimestral de
Fonte: IBGE
1,1% observado no primeiro semestre. Ainda que
3/ “Outros serviços” englobam atividades como "alojamento e alimentação" e "atividades artísticas e culturais".
4/ Alta refletiu, principalmente, elevação da produção de energia elétrica e redução da participação de termoelétricas no total de
energia produzida, em razão do regime favorável de chuvas.
5/ Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de
Petróleo e de Gás Natural (Repetro)
6/ Em março de 2022, o BC divulgou previsão de alta de 1,0% do PIB em 2022 enquanto a mediana das projeções do Relatório Focus
era de crescimento de 0,5%.
85
O arrefecimento da atividade pode ser atribuído em
IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV parte ao aperto da política monetária, que tem efeito
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
PIB
defasado, e às condições financeiras mais restritivas.
Máximo pré-pandemia O comportamento dos setores mais sensíveis ao
Tendência pré-pandemia
Fonte: IBGE ciclo econômico – como indústria de transformação,
Gráfico 1.2.2 – Indicadores de investimentos construção, comércio e serviços de transporte –
2019 = 100, MM3M, a.s. reflete de forma mais nítida a desaceleração. O
130 arrefecimento da atividade “outros serviços” sugere
120 que também é relevante o esgotamento do processo
110 de recuperação das atividades que haviam sido mais
100 afetadas pela pandemia.
90
Fontes: IBGE e BC
A trajetória dos indicadores mensais ao longo do
Gráfico 1.2.4 – Produção industrial
2019 = 100, a.s. segundo semestre também evidencia arrefecimento
130 da atividade.8 O Índice de Atividade Econômica do
120
110 Banco Central (IBC-Br) registrou queda de 0,5% entre
100 junho e dezembro e deixa carregamento estatístico
90
80 ligeiramente negativo (-0,1%) para o primeiro
70 trimestre 2023. Na indústria de transformação, tanto
60
50 a produção quanto o nível de utilização da capacidade
Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez
2019 2020 2021 2022 instalada (Nuci) recuaram no segundo semestre.
Indústria de transformação
Bens de capital
A produção de bens de consumo, em especial a
Bens intermediários ex-extrativa de bens duráveis, segue em patamar deprimido.
Bens de consumo duráveis
Bens de consumo semi e não duráveis O comércio varejista no conceito restrito também
Fontes: IBGE e BC
7/ A tendência pré-pandemia é definida aqui como o PIB projetado a partir do quarto trimestre de 2019 com base no crescimento
médio de 2017 a 2019 (1,8% a.a.).
8/ Em razão de mudanças realizadas nas pesquisas conjunturais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da indústria
(PIM), do comércio (PMC) e de serviços (PMS), os dados de janeiro dessas pesquisas não estavam disponíveis na data de corte deste
Relatório. Destaca-se que a atualização das pesquisas irá alterar parte dos dados já divulgados, podendo afetar a leitura da evolução
recente da atividade econômica.
9/ Os indicadores avaliados incluem o IDAT (Banco Itaú), o Iget (Santander/Getnet), o ICVA (Cielo) e o Stone-Varejo (Stone).
10/ Conforme o cronograma do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve).
60
55
Mercado de trabalho
50
45
A desaceleração econômica também se manifestou
Jan
2013
Jan
2014
Jan Jan Jan
2015 2016 2017 2018
Jan Jan
2019
Jan Jan Jan
2020 2021 2022 2023
Jan no mercado de trabalho. A dicotomia entre os
Taxa de participação Nível de ocupação semestres de 2022 é evidente nas inflexões do
Fonte: IBGE nível de ocupação e da taxa de participação e no
arrefecimento da geração de empregos formais.
Gráfico 1.2.10 – Geração de emprego formal Contudo, a massa de rendimento real do trabalho
Milhares, MM3M, a.s.
exibiu forte expansão nos últimos meses, favorecida
400
300
pelos processos de desinflação e de recuperação do
200 rendimento médio.
100
0
A taxa de desocupação recuou ao longo de 2022,
-100
chegando ao menor nível desde 2015, de acordo
-200
-300
com dados dessazonalizados da Pesquisa Nacional
-400 por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD
-500 Contínua). Entretanto, o nível de ocupação e a taxa
Jan Jan Jan Jan Jan Jan
2008 2011 2014 2017 2020 2023 de participação, que haviam crescido no primeiro
Fonte: MTE
semestre, apresentaram inversão na segunda
metade do ano. A taxa de desocupação mensalizada12
Gráfico 1.2.11 – Admissões e desligamentos aumentou ligeiramente em dezembro e janeiro,
Milhares, a.s.
apesar de alguma recuperação da ocupação e da
2 100
1 900
força de trabalho.
1 700
1 500 A geração de empregos formais seguiu liquidamente
1 300 positiva, de acordo com o Novo Cadastro Geral de
1 100
Empregados e Desempregados (Novo Caged), mas
900
houve nítida desaceleração, disseminada entre os
700
500
setores econômicos. A redução do saldo líquido de
Jan
2008
Jan
2011
Jan
2014
Jan
2017
Jan
2020
Jan
2023
postos de trabalho nos meses mais recentes resultou
Admissões Desligamentos principalmente do declínio nas admissões, enquanto os
Fonte: MTE
11/ Ver o boxe Impacto da safra agrícola sobre a atividade econômica, no Relatório de junho de 2017.
12/ Para detalhes da estimação das séries mensalizadas, ver o boxe Estimativa para dados “mensalizados” da PNAD Contínua, publicado
no Relatório de Inflação de junho de 2020.
450 300
13/ Refere-se à média simples dos reajustes nominais das convenções coletivas de trabalho de São Paulo e do Rio de Janeiro pelo critério
de data de registro no Sistema de Negociações Coletivas de Trabalho (Mediador) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
As convenções consideradas são aquelas para as quais foi possível capturar adequadamente o percentual de reajuste acordado.
Usualmente, há demora entre a negociação e o registro no sistema. Exercícios sugerem que, pela data de registro, os reajustes
acordados apresentam correlação mais alta com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses medido
cinco meses antes, deflator utilizado nessa análise. Se considerada a data de início de vigência, a maior correlação é com o INPC do
mês anterior. O critério de data de início de vigência tem a desvantagem da baixa representatividade nos meses mais recentes.
14/ Os reajustes nominais negociados começaram a recuar após alcançarem média de 10,8% em agosto, recorde desde o início da série
em janeiro de 2012. As perdas reais, que chegaram a 2,4% nas convenções registradas em novembro, ficaram em 0,3% em janeiro
e houve ganho real de 0,5% em fevereiro, na comparação com o INPC acumulado em 12 meses medido cinco meses antes.
15/ Para mais detalhes sobre a estimativa do Banco Central para a RNDBF, ver o boxe Estimativa mensal da Renda Nacional Disponível
Bruta das Famílias, publicado no Relatório de dezembro de 2021.
16/ A meta para a taxa Selic subiu de 2,00% para 9,25% em 2021, e para 13,75% em 2022. Conforme o boxe Repasse da taxa Selic para
o mercado de crédito bancário, publicado no Relatório de setembro de 2022, os repasses dos aumentos na taxa básica para os juros
bancários são rápidos e as elevações das taxas no SFN verificadas no ciclo recente são compatíveis com repasses históricos da taxa
Selic.
17/ Inclui cartão de crédito rotativo e parcelado, cheque especial, crédito pessoal não consignado, aquisição de outros bens e outros
créditos livres.
18/ Inclui crédito consignado, aquisição de veículos, leasing e desconto de cheques.
19/ Leis 14.431 e 14.509, de 2022.
Gráfico 1.2.20 – Concessão de crédito com recursos O crédito direcionado apresentou maior dinamismo
direcionados em 2022, impulsionado principalmente pelo crédito
R$ bilhões de jan 2023, a.s.
60 rural para pessoas físicas e pelas modalidades
50
de financiamento empresarial. As concessões
de financiamento imobiliário foram a exceção,
40
principalmente as com recurso da poupança, que
30
recuaram em termos reais, prejudicadas pelo
20
aumento das taxas de juros e pelo preço dos
10 imóveis. Em contrapartida, cresceram as operações
0 com recursos do Fundo de Garantia do Tempo
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 de Serviço (FGTS) referentes ao programa Casa
Pessoas físicas Pessoas jurídicas Verde Amarela. O crescimento significativo das
contratações de crédito rural é explicado pela
ampliação do orçamento do plano Safra 22/23, pelo
encarecimento dos insumos agrícolas e pela alta de
juros em modalidades alternativas. No segmento de
pessoas jurídicas, além da retomada dos programas
Pronampe e PEAC a partir de julho, destacaram-
3
A inadimplência nas operações de crédito no
2 SFN tem apresentado crescimento relevante,
1 dando continuidade ao movimento iniciado no
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 segundo semestre de 2021. Em parte, o aumento
Total Pessoas físicas Pessoas jurídicas da inadimplência refletiu normalização após
recuo excepcional causado por renegociações e
postergações de pagamento durante a pandemia. No
Gráfico 1.2.22 – Inadimplência do crédito PF livre
% R$ bilhões de nov/22-jan/23
caso das operações com recursos livres para pessoas
7,5 480 jurídicas, a inadimplência começou a crescer apenas
7,0 460 no segundo semestre de 2022, puxada pelo aumento
6,5 440 dos atrasos nos empréstimos para micro, pequenas
6,0 420 e médias empresas, e apenas em janeiro de 2023
5,5 400 atingiu o patamar pré-pandemia. Contudo, no caso
5,0 380 das operações com pessoas físicas, o nível já é maior
4,5 360 do que o observado no final de 2019, apontando para
4,0 340 a importância de outros fatores, tais como o maior
3,5
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan
320 comprometimento de renda, a piora na composição
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 do crédito e seu encarecimento. Nesse segmento, os
Inadimplência PF Livre RNDBF Restrita - MM3M, a.s. (dir.)
atrasos concentram-se principalmente no cartão de
crédito rotativo e, em menor proporção, no crédito
Gráfico 1.2.23 – Inadimplência do crédito PJ pessoal não consignado e nos financiamentos de
%
7 veículos. Neste tema, cabe destacar que o governo
6 federal pretende instituir em breve programa para
5
estimular a renegociação de dívidas das famílias,
4
dentro e fora do SFN.
3
Dados da última Pesquisa Trimestral sobre Condições
2
de Crédito (PTC)22, realizada entre 16 e 27 de janeiro
1
junto a instituições financeiras, indicam perspectiva
0
Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan Jan de oferta de crédito mais restritiva nos próximos
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023
meses. Destaca-se a mudança nos padrões para
Total (liv. e direc.)
Micro, pequenas e médias empresas
Grandes empresas
grandes empresas, devido ao aumento da percepção
de risco para esse segmento; e no crédito habitacional,
devido ao custo e à disponibilidade de funding.
22/ Os dados apresentados neste Relatório referem-se à avaliação das instituições sobre a alteração dos padrões para aprovação de linhas
crédito, considerando tanto os últimos três meses quanto a perspectiva para os próximos três. São considerados quatro segmentos:
grandes empresas; micro, pequenas e médias empresas; crédito habitacional pessoas físicas; e crédito voltado ao consumo. Os dados
podem ser acessados no Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS) do BC, seção “Indicadores de crédito” e subseção “Pesquisa
trimestral de condições de crédito”. Para mais detalhes da metodologia da PTC, ver Annibal, Clodoaldo e Koyama, Sérgio (2011),
“Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil”, BCB, Trabalho para Discussão nº 245.
23/ Os dados como percentual do PIB correspondem aos publicados nas estatísticas fiscais de janeiro, antes da divulgação do PIB de
2022 pelo IBGE. Portanto, não incorporam a nova estimativa do PIB nominal, que supera a anterior em 0,75%.
24/ A mediana das projeções do déficit primário do Governo Central em 2022 era de R$ 67 bilhões, 0,7% do PIB, de acordo com Questionário
Pré-Copom (QPC) de março de 2022. Portanto, a surpresa com o resultado do setor público consolidado decorre do desempenho
tanto do Governo Central como dos governos regionais.
25/ Dos 0,4 p.p. do PIB (R$43,5 bilhões) em dividendos adicionais, 0,3 p.p vieram da Petrobras, que distribuiu R$35,2 bilhões a mais em
proventos ao Governo Central em 2022.
26/ Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
27/ A Receita Federal informa que R$42 bilhões (a preços de dezembro de 2022) foram recolhidos de forma atípica em IRPJ e CSLL,
especialmente por empresas ligadas à exploração de commodities.
28/ A formulação precisa da questão foi “Além das exceções constitucionais já previstas, sua projeção de despesa do governo central
incorpora algum valor acima do definido pelo atual teto de gastos para 2023 e 2024? Se sim, qual esse montante para 2023 e 2024?”.
Os formulários e resultados quantitativos agregados do QPC podem ser consultados no site do BC.
29/ Reajustes salariais foram praticados ao longo do 2022, mas a dinâmica de negociação e efetivação dos reajustes pressionou mais a
despesa conforme o passar do ano, tornando o impacto no segundo semestre maior que no primeiro.
30/ Os dados como percentual do PIB correspondem aos publicados nas estatísticas do setor externo de janeiro, antes da divulgação
do PIB de 2022 pelo IBGE. Portanto, não incorporam a nova estimativa do PIB nominal em reais, que supera a anterior em 0,75%.
31/ Tanto o índice de pressão nas cadeias de suprimento do FED (Global Supply Chain Pressure Index) quanto o do BC (apresentado no
boxe Índice de pressão nas cadeias de suprimentos brasileiras, do Relatório de setembro de 2022) mostram redução significativa
desde o pico observado em 2021. Na última leitura, referente a fevereiro de 2023, o índice do BC subiu em razão de aumentos nos
fatores limitativos de tempo de entrega do comércio e escassez de matéria prima para a indústria, segundo as sondagens da FGV.
32/ Dados disponíveis desde 2010.
1
Os investimentos em carteira passivos tiveram
0 pequena saída líquida em 2022, após o saldo positivo
-1 no ano anterior. Destacaram-se as amortizações
-2 líquidas de títulos negociados no exterior, a maior
Fev Fev Fev
Fev Fev Fev Fev Fev Fev
2007 2009 2011
2013 2015 2017 2019 2021 2023 desde 2015, consequência das condições financeiras
Brasil Fed NY
A série do FED foi normalizada novamente para ter média 0 e desvio padrão 1 na
internacionais mais restritivas, que desestimulam a
amostra do índice brasileiro
rolagem da dívida em moeda estrangeira. Por outro
Fontes: BC e Fed
lado, pelo segundo ano consecutivo houve entradas
Gráfico 1.2.32 – Investimento direto - passivo
líquidas para ações e fundos de investimento.
% PIB
6
Os resultados de janeiro de 2023, de modo geral,
5
indicam continuidade da dinâmica que as contas
4 externas exibiram em 2022. O déficit de US$8,8
3 bilhões teve como destaque a forte despesa em
2 renda primária, contrabalançada pelo maior saldo
1 comercial para janeiro desde 2018. Na conta de
0
serviços, as despesas com transporte se mantiveram
em queda. Na conta financeira, tanto o IDP quanto
-1
1995 1998 2001 2004 2007 2010 2013 2016 2019 2022 os investimentos estrangeiros em carteira foram
Emp. Intercia Part. capital - lucros reinvestidos
Part. capital ex lucros IDP
positivos – este, com entrada em ações e fundos e
títulos no país.
Gráfico 1.2.33 – Investimento em carteira - passivo
% PIB Considerando os dados divulgados desde o último
4
Relatório e a evolução das perspectivas para
3 atividade econômica e preços, principalmente de
2 commodities, a previsão para o déficit em transações
1 correntes no ano foi revisada de US$49 bilhões para
0
US$32 bilhões. A revisão da projeção é detalhada em
boxe neste Relatório.
-1
-2
-3
1995 1998 2001 2004 2007 2010 2013 2016 2019 2022
Preços
Ações Titulos país Títulos exterior Inv. em Carteira
33/ As variações do IC-Br e do câmbio discutidas nesta seção sempre se referem à média móvel de cinco dias entre as respectivas
datas de fechamento dos RI.
34/ A natureza da recuperação, mais concentrada no consumo de serviços ou em investimentos, determinará a extensão do
impacto sobre os preços de commodities.
35/ Representam reversão de medidas de desoneração implementadas em 2022, com impacto no trimestre encerrado em fevereiro: (i)
a reintrodução de alíquotas majoradas de ICMS para telecomunicações e energia elétrica por alguns estados, revertendo parte dos
efeitos da LC 194; (ii) a suspensão liminar, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do dispositivo que excluía serviços de transmissão
e distribuição e encargos setoriais da base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre energia
elétrica; e (iii) o fim da obrigatoriedade do uso da média móvel de 60 meses dos preços para cálculo da base de incidência do ICMS
sobre combustíveis.
1
Entre os segmentos, a inflação de serviços avançou
-1
Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev de 1,20% no trimestre encerrado em novembro para
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023
2,46% em fevereiro. A aceleração foi em grande
MM3M, a.s., anualizado 12m medida determinada por serviços ex-subjacente
(3,73% ante 0,81%), que incorporaram os reajustes
Gráfico 1.2.39 – Contribuições para variações de início de ano em cursos regulares. Também houve
trimestrais do IPCA
p.p.
contribuição relevante de reajustes em serviços de
4 comunicação36, 4,61% no trimestre – em novembro
3 esses serviços ainda apresentavam variação negativa,
2 -3,23%, fruto de repasse da redução de alíquota
1 do ICMS determinada pela LC 194. O componente
0 subjacente passou de 1,47% para 1,61%, com altas
-1 mais fortes em conserto de automóvel, alimentação
-2 fora do domicílio, condomínio e serviços médicos e
Mai Ago Nov Fev Mai Ago Nov Fev
2021 2022 2023 dentários. Por outro lado, houve arrefecimento em
Alim. no domicílio Serviços Bens industriais Administrados aluguel residencial e queda em seguro voluntário de
Fontes: IBGE e BC veículos. Nas séries anualizadas com ajuste sazonal,
os serviços subjacentes arrefeceram do trimestre
Gráfico 1.2.40 – Contribuições para variações encerrado em novembro (6,92%) para o encerrado
trimestrais em serviços – IPCA em fevereiro (5,43%). Os serviços ex-subjacente, por
p.p.
2,5 sua vez, tiveram alta bem mais expressiva (9,23%,
2,0 ante 2,01%).
1,5
1,0
Os preços de bens industriais também tiveram, no
0,5
trimestre, alta maior que a observada no trimestre
0,0
-0,5
anterior (1,94% ante 0,91%). A aceleração reflete,
-1,0 em parte, o movimento de itens mais voláteis,
Mai
2021
Ago Nov Fev
2022
Mai Ago Nov Fev
2023
como higiene pessoal, cuja variação passou de
Cursos regulares Serviços de comunicação Serviços subjacente Outros 1,58% para 5,21%, e etanol, que apresentou
Fontes: IBGE e BC ligeira alta, ante queda no trimestre anterior
(0,16%, ante -4,54%). Mas houve, igualmente,
Gráfico 1.2.41 – Inflação de serviços contribuição positiva de itens como TV, som e
%, MM3M, a.s., anualizado
informática, aparelho telefônico, automóvel novo
13
11
e usado, leitura, eletrodomésticos, motocicleta e
9 mobiliário. Em parte, a aceleração pode refletir a
7 devolução de descontos do período da Black Friday,
5
que tendem a deprimir as variações no trimestre
3
1
até novembro e, em compensação, aumentar as
-1 variações no trimestre seguinte. Por outro lado,
-3 houve desaceleração relevante dos preços de artigos
-5
Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev Fev de vestuário, seguindo a sazonalidade típica de
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023
janeiro e fevereiro. O Relatório anterior destacou
Serviços subjacente Serviços a persistência da alta nos preços desses produtos,
36/ “Serviços de comunicação” refere-se aqui à agregação dos seguintes itens: plano de telefonia móvel; TV por assinatura;
Acesso à internet; Serviços de streaming; e Combo de telefonia, internet e TV por assinatura.
37/ Na ausência de novas medidas legislativas sobre o tema, o eventual término da validade da MP 1.163 implica reoneração adicional
da gasolina e do etanol a partir de 1º de julho de 2023. O diesel e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) continuam desonerados até
dezembro deste ano.
38/ Os Questionário Pré-Copom mais recentes incluíram pergunta específica sobre o impacto das medidas de desoneração sobre a
projeção. A mediana das respostas sobre o impacto incorporado à projeção era 0,1 p.p. em dezembro e passou para 0,6 p.p. em
março. O questionário completo e um sumário quantitativo das respostas podem ser consultados no site do BC.
A projeção central de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 passou de 1,0% para 1,2%. A
revisão moderada reflete, especialmente, surpresas positivas em alguns componentes do setor de serviços no
quarto trimestre de 2022 − deixando carregamento estatístico do setor para 2023 ligeiramente maior do que
o anteriormente esperado −, melhora nos prognósticos para a indústria extrativa e os primeiros indicadores
do primeiro bimestre de 20231.
Assim como nos dois Relatórios anteriores, a projeção continua refletindo um cenário prospectivo de
desaceleração da atividade econômica em 2023, em comparação ao observado nos dois anos anteriores. Tal
desaceleração é influenciada pela diminuição do ritmo de crescimento global e pelos impactos cumulativos da
política monetária doméstica. Em relação à trajetória trimestral esperada, preveem-se variações modestas ao
longo do ano para indústria, serviços e consumo doméstico. A agropecuária, contudo, deve apresentar dinâmica
distinta, com crescimento expressivo no primeiro trimestre, decorrente principalmente da expectativa de
elevado aumento da produção de soja. Este comportamento esperado para a agropecuária deverá contribuir
para a alta do PIB no primeiro trimestre e para desaceleração no trimestre seguinte.
Fatores de risco para essa projeção originam-se doméstica e externamente. Sob alguns aspectos, o cenário
externo desenvolveu-se favoravelmente desde o Relatório anterior: (i) a flexibilização da política de combate
à Covid na China suscita recuperação cíclica da demanda e diminui os riscos de interrupções na oferta; (ii) o
inverno mais ameno na Europa reduziu a probabilidade de cenários extremos no fornecimento de energia;
e (iii) a atividade econômica e o mercado de trabalho nos Estados Unidos da América (EUA) se mostraram
mais resilientes que o esperado. Por outro lado, a persistência de pressões inflacionárias nos países centrais,
os ajustes no setor imobiliário chinês e os recentes episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa são
elementos de risco negativo para o crescimento global.
No âmbito doméstico, um risco negativo para a atividade econômica é uma desaceleração na concessão
doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária. Os
dados disponíveis até o momento sugerem que o processo de desaceleração do crédito às empresas, que
ocorre sob influência dos impactos cumulativos da política monetária, foi afetado em magnitude limitada
por eventos específicos relacionados a empresas de grande porte.2 Adicionalmente, permanece incerteza em
relação à trajetória da política fiscal. A proposta de um novo arcabouço fiscal deve trazer maior clareza sobre
a sustentabilidade da dívida pública, com repercussões sobre expectativas de inflação, prêmios de risco e,
indiretamente, sobre a atividade econômica.
Pela ótica da produção, a alta na projeção do PIB em relação à divulgada no Relatório anterior reflete
estabilidade na previsão para a agropecuária e ligeira alta nos prognósticos para indústria e serviços.
A projeção de crescimento da agropecuária foi mantida em 7,0%, após recuo de 1,7% em 2022, repercutindo
prognósticos favoráveis para culturas com elevada participação no setor, como café, milho e soja.
Na indústria, a projeção passou de estabilidade para alta de 0,3%, com piora na estimativa para a construção e
melhora para as demais atividades. A elevação na previsão para a indústria extrativa decorre de prognósticos
favoráveis para a produção de petróleo, enquanto a alta na indústria de transformação e na atividade “produção
A projeção para o setor de serviços teve ligeira alta, de 0,9% para 1,0%. A alteração repercute, de um lado,
previsões mais favoráveis para “outros serviços”3, “intermediação financeira e serviços relacionados” e
comércio. Em sentido oposto, as maiores revisões ocorreram em "administração, saúde e educação públicas”
e em “transporte, armazenagem e correio”. De modo geral, as mudanças refletem o resultado de surpresas
no resultado do quarto trimestre de 2022, sem alterações significativas na evolução esperada para os setores
ao longo do ano.
Com relação aos componentes domésticos da demanda agregada, houve revisões de magnitude moderada
nas projeções: alta para o consumo das famílias, de 1,2% para 1,5%, e diminuições para o consumo do governo,
de 1,1% para 0,7%, e para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), de 0,3% para 0,0%. As alterações, em
grande medida, decorrem de surpresas no resultado do quarto trimestre de 2022 ou da incorporação dos
primeiros indicadores coincidentes disponíveis para o início de 2023. Adicionalmente, o aumento da projeção
do consumo privado também deriva de prognóstico ligeiramente mais favorável para a renda disponível das
famílias, decorrente da evolução do rendimento médio do trabalho no segundo semestre de 2022, melhor
que a esperada, e da nova alta do valor do salário-mínimo, que afeta rendimentos do trabalho e benefícios
assistenciais e previdenciários.
Fonte: IBGE
1/ Estimativa.
3/ A classificação “outros serviços” das Contas Nacionais inclui atividades como alojamento, alimentação fora de casa e lazer.
Este boxe apresenta a revisão das projeções de crescimento do saldo nominal da carteira de crédito do Sistema
Financeiro Nacional (SFN) em 2023 (Tabela 1).
Os dados do mercado de crédito divulgados desde o Relatório anterior vieram aquém do esperado, em
especial nos segmentos com recursos livres, o que contribuiu para que o saldo do crédito encerrasse o ano
de 2022 com crescimento interanual de 14,0%, abaixo da projeção de 15,1%.
A diminuição no ritmo de crescimento do crédito em relação ao registrado em 2021, 16,4%, refletiu o impacto
do ciclo de alta do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) e o arrefecimento da atividade
econômica no final de 2022. O saldo dos financiamentos às empresas desacelerou seguindo a dinâmica do
crédito livre, a despeito da retomada dos programas de crédito direcionado como o Programa Emergencial de
Acesso ao Crédito (PEAC) e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
(Pronampe). Entre as famílias, a desaceleração das modalidades livres, em especial do crédito pessoal não
consignado e do cartão de crédito à vista, e das concessões imobiliárias foi suavizada, em parte, pela expansão
robusta do crédito rural, influenciada tanto pelo Plano Safra 2022/23 – 36% maior do que no ano anterior
– quanto pela elevação dos preços das commodities e dos insumos agrícolas. No geral, a desaceleração do
crédito livre foi parcialmente contrabalançada pelo ritmo de crescimento mais forte do crédito direcionado.
Gráfico 1 – Crédito Livre a Pessoas Físicas Gráfico 2 – Crédito Direcionado a Pessoas Físicas
Var. % em 12 meses Var. % em 12 meses
30 35
25 30
20 25
15 20
10 15
5 10
0 5
0
-5
2023 (p)
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
-5
2023 (p)
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
Gráfico 3 – Crédito Livre a Pessoas Jurídicas Gráfico 4 – Crédito Direcionado a Pessoas Jurídicas
Var. % em 12 meses Var. % em 12 meses
45 35
40 30
35
30 25
25 20
20 15
15
10 10
5 5
0 0
-5
-10 -5
-15 -10
2023 (p)
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
-15
2023 (p)
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
Variação % em 12 meses
Ocorrido Proj. 2023
2021 2022 Jan 2023 Anterior Atual
Em resumo, as novas projeções do crescimento nominal do estoque de crédito para 2023 são ligeiramente
inferiores às apresentadas no Relatório anterior, e continuam indicando um processo de desaceleração no
ritmo de crescimento do crédito compatível com o ciclo de aperto monetário.
30
20 16,4
14,0
-10
08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Nominal Real
Desde o Relatório anterior, a mudança no cenário prospectivo das contas externas no ano de 2023 foi limitada
às transações correntes. A expectativa de menor déficit nesta conta (US$32 bilhões; 1,6% do Produto Interno
Bruto – PIB) decorre de projeção mais elevada para o saldo da balança comercial (US$62 bilhões; 3,0% do
PIB). Na conta financeira foram mantidas as projeções, com destaque para a expectativa de mais um ano com
entrada líquida em investimentos diretos no país (IDP) em montante (US$75 bilhões; 3,7% do PIB) superior
ao déficit esperado para as transações correntes.
Balança comercial 44 1 46 62
Exportações 340 23 328 338
Importações 296 22 282 277
Em concordância com os patamares recentes dos preços de commodities, espera-se que na média do ano de
2023, os preços de exportações sejam inferiores aos observados em 2022, contribuindo para ligeira redução
no valor total exportado no ano corrente. A redução nos preços deve ser parcialmente compensada pela
expectativa de aumento no volume de vendas de produtos básicos devido à safra recorde de grãos esperada
para o ano. Em relação ao projetado no Relatório anterior, esperam-se exportações maiores de produtos
básicos, com destaque para minério de ferro, em decorrência de preços mais altos; e petróleo, devido a
maior volume.
Para as importações, manteve-se a expectativa de queda em relação ao ano passado. Assim como no caso das
exportações, destaca-se a contribuição da redução dos preços, que decorre, além do movimento recente dos
preços das commodities, da continuidade da normalização das cadeias de suprimento. A revisão da projeção
para o valor das importações em 2023 em relação à presente no Relatório anterior reflete também menor
expectativa para o volume de compras, especialmente em bens intermediários, como já demonstram os
dados disponíveis para meses iniciais do ano. Contribuem para esse movimento a desaceleração econômica
doméstica, principalmente da indústria de transformação, e a redução das compras precaucionais de insumos
diante da diminuição das incertezas nas cadeias globais de suprimento. Dessa forma, a projeção do saldo
comercial para 2023 foi revista para US$62 bilhões (3,0% do PIB).
Para a conta de renda primária, espera-se aumento nos gastos líquidos com juros em 2023, relativamente a
2022. Todavia, a redução dos estoques de títulos no exterior, reflexo dos maiores patamares das taxas básicas
de juros nos países desenvolvidos, limita o déficit nessa conta. A redução projetada para as despesas líquidas
com lucros e dividendos em relação ao ano anterior reflete o crescimento econômico menor e a hipótese
de acomodação dos preços de commodities, com impacto na lucratividade das empresas. Em relação ao
apresentado no Relatório anterior, as alterações nas projeções dos componentes da conta de renda primária
foram pequenas e refletem, primordialmente, as surpresas com os dados do início do ano de 2023 já divulgados.
8
4
6
2
4
0 2
-2 0
-2
-4
-4
-6
2023 (p)
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
2023 (p)
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
Bal. Comercial Serviços Rendas TC IDP Inv. Carteira Outros Inv. Passivo
Na conta financeira, a projeção para a entrada líquida de IDP foi mantida em US$75 bilhões (3,7% do PIB) e é
corroborada pelos resultados favoráveis nos meses iniciais de 2023. O valor previsto é inferior ao observado
em 2022, em linha com a perspectiva de menores taxas de crescimento doméstico e global esse ano e de menor
reinvestimento de lucros em cenário de menor lucratividade das empresas. Mesmo assim a projeção para o IDP
supera o déficit esperado para a conta de transações correntes e se aproxima da média observada na década
anterior à pandemia, considerada a métrica da variável como porcentagem do PIB. Adicionalmente, como já
destacado em Relatórios anteriores, a retomada de projetos postergados devido à pandemia e oportunidades
de investimento em setores como energia, tecnologia e infraestrutura podem estar favorecendo o fluxo de
recursos estrangeiros para investimento direto no Brasil.
Para os investimentos em carteira, assim como no Relatório anterior, esperam-se novas saídas líquidas, em
magnitude similar às de 2022. A redução no estoque de títulos no exterior limita o espaço para amortizações
líquidas, mas a maior aversão a risco nos mercados internacionais pode dificultar novas emissões. No mercado
doméstico, os dados do início do ano mostraram entradas líquidas. Em particular, os investimentos estrangeiros
em títulos no país continuaram positivos mesmo no período recente em que houve resgates líquidos pelo
Tesouro Nacional e, tudo o mais constante, podem ganhar força em caso de recuperação das emissões. Por
fim, ressalta-se que eventos recentes em mercados financeiros de alguns países desenvolvidos aumentaram
significativamente a incerteza ao redor das projeções das contas externas, especialmente nas rubricas mais
voláteis, como o investimento em carteira.
39/ Para mais detalhes, ver boxe “Condicionantes de câmbio nas projeções do Banco Central do Brasil e a paridade do poder de compra”,
do Relatório de setembro de 2020.
40/ O IPCA de novembro foi divulgado somente após a data de corte do Relatório anterior, não pertencendo ao conjunto de informação
usado nas projeções nele apresentadas. No entanto, para maior transparência, o IPCA de novembro foi incluído na seção 2.1 do
Relatório passado, no cômputo da surpresa inflacionária no trimestre, conforme indicado no seu primeiro parágrafo e na Tabela
2.1.1 da mesma seção.
41/ A mediana da inflação acumulada em dezembro, janeiro e fevereiro projetada pelos participantes do Focus em 2.12.2022 foi 1,86%.
Os percentis 10 e 90 da distribuição foram 1,57% e 2,24%, respectivamente.
42/ A Lei Complementar 194 determinou a retirada das tarifas de transmissão e distribuição e dos encargos setoriais da base de cálculo
do ICMS sobre a energia elétrica. Houve contestação judicial dessa medida por parte de alguns estados e ainda não está firmada
uma decisão final sobre a matéria.
43/ Em 1º de janeiro o governo editou a MP 1.157, estendendo até 31 de dezembro a desoneração do diesel e do GLP e até 28 de
fevereiro a desoneração da gasolina e do etanol. Em 28 de fevereiro, foi publicada a MP 1.163, mantendo parte da desoneração da
gasolina e do etanol até 30 de junho. Na ausência de novas medidas legislativas sobre o tema, o eventual término da validade da
MP 1.163 implica reoneração adicional da gasolina e do etanol a partir de 1º de julho de 2023.
Tabela 2.1.2 – IPCA – Projeção de curto prazo1/ No cenário de referência do Copom, as projeções de
Variação %
curto prazo consideram variações de 0,87% em março,
2023 0,63% em abril, 0,28% em maio e 0,29% em junho
Mar Abr Mai Jun (Tabela 2.1.2).44 Nesse cenário, a inflação acumulada
em doze meses recua de 5,60% em fevereiro para
Variação mensal 0,87 0,63 0,28 0,29 3,79% em junho. A inflação acumulada em doze
Variação trimestral 2,26 2,36 1,79 1,21 meses deve voltar a subir no terceiro trimestre,
Variação em 12 meses 4,82 4,37 4,17 3,79
quando será retirada do cálculo a variação negativa
Fontes: IBGE e BC do IPCA em igual período de 2022, decorrente das
1/ Cenário de referência do Copom na data de corte.
medidas de desoneração tributária.
44/ A partir desta edição do Relatório de Inflação, as projeções de curto prazo do IPCA passam a ser apresentadas até o último mês do
trimestre seguinte. A extensão até o fim do trimestre civil melhora a compatibilidade entre o horizonte das projeções mensais de
curto prazo apresentadas e o procedimento utilizado para as projeções apresentadas na seção 2.2, que empregam como referência
de tempo o trimestre civil.
45/ Como indicado no parágrafo anterior, parte do impacto esperado dessa decisão já foi observado em fevereiro.
Gráfico 2.2.1 – Taxa de câmbio utilizada nas projeções – Os cenários para a inflação considerados são
Trajetória PPC
construídos utilizando vários condicionantes. A taxa
Médias trimestrais
USD/BRL de câmbio parte de USD/BRL 5,2546, mesmo valor
6,0
considerado no Relatório anterior e segue trajetória
5,5
de acordo com a PPC47 (Gráfico 2.2.1). As médias
consideradas nos últimos trimestres de 2023, 2024
5,0 e 2025 são de USD/BRL 5,29, USD/BRL 5,35 e USD/
BRL 5,40, respectivamente.
4,5
4,0
No caso da taxa Selic, a mediana das expectativas
I II
2021
III IV I II III IV I II
2022 2023
III IV I II
2024
III IV I II
2025
III IV extraídas da pesquisa Focus de 17.3.2023 foi de
RI Mar 2023 RI Dez 2022 estabilidade em 13,75% a.a. até a reunião de outubro/
novembro de 2023, quando entra em trajetória
descendente (Gráfico 2.2.2). Nessa trajetória, a taxa
Selic chega ao final de 2023, 2024, 2025 e 2026 em
12,75%, 10,00%, 9,00% e 9,00%, respectivamente48,
valores superiores aos da pesquisa utilizada no
Gráfico 2.2.2 – Meta da taxa Selic utilizada nas Relatório anterior, realizada em 2.12.2022, de
projeções – Expectativas da pesquisa Focus
11,75%, 8,50%, 8,00% e 8,00%, respectivamente. A
Médias trimestrais
% a.a. taxa Selic utilizada é mais alta em toda sua trajetória
14
13 a partir de agosto de 2023.
12
11
10
9 Os cenários considerados utilizam ainda hipóteses
8
7 para vários outros condicionantes. Considera-se que
6
5 os níveis atuais de incerteza econômica se reduzem
4
3 ao longo do tempo. Do ponto de vista fiscal, supõe-se
2
1 que o resultado primário do governo central corrigido
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV
2021 2022 2023 2024 2025 2026
pelo ciclo econômico e por outliers, no acumulado
RI Mar 2023 RI Dez 2022 em doze meses, reduz-se de forma significativa ao
longo de 2023 e depois tem recuperação parcial. A
taxa de juros real neutra utilizada nas projeções é
de 4,0% a.a. no horizonte considerado.49 Os cenários
também incorporam a possibilidade de ocorrência do
fenômeno El Niño. Em termos de bandeira tarifária
de energia elétrica, utiliza-se a hipótese de bandeira
tarifária amarela em dezembro de 2023, de 2024 e
de 2025.
46/ Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis
encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
47/ Considerando facilidade no processo de formulação das projeções e simplicidade de comunicação, o diferencial de inflação considerado
é a diferença, a cada ano, entre a meta para a inflação no Brasil e a inflação externa de longo prazo, considerada como de 2% a.a.,
em linha com a meta para a inflação da maioria dos países desenvolvidos.
48/ Como descrito no boxe “Revisão do modelo agregado de pequeno porte”, do Relatório de Inflação de dezembro de 2021, na curva
IS, a taxa Selic utilizada refere-se à trajetória um ano à frente. Portanto, a taxa de juros utilizada ao longo de 2025 depende também
da trajetória da Selic ao longo de 2026. Ressalta-se que a construção da trajetória da taxa Selic nesse cenário utiliza interpolação
para os meses em que a pesquisa não coleta os respectivos dados, considerando os valores de final de cada ano.
49/ Para uma estimativa da taxa de juros real neutra, ver o boxe “Revisão do modelo agregado de pequeno porte”, do Relatório de
Inflação de dezembro de 2021.
Determinantes da inflação
Gráfico 2.2.4 – Estimativa do hiato do produto Utilizando a metodologia descrita acima, o hiato
%
4 do produto estimado, que vinha em trajetória de
3 fechamento, inicia movimento de abertura no
2
1
segundo semestre de 2022 (Gráfico 2.2.4). O hiato
0 do produto é estimado em -1,0% e -1,3% no quarto
-1
-2
trimestre de 2022 e primeiro trimestre de 2023,
-3 respectivamente53, ante os valores de -1,1% e -1,5%,
-4
-5
respectivamente, utilizados no Relatório anterior.
-6 A revisão para cima de projeções de curto prazo
-7
IV IV IV IV IV IV IV IV IV IV
contribuiu para a estimativa de um hiato mais fechado
2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 realizada pelo modelo. Ressalta-se que, em virtude da
Hiato Hiato ± 2 desvios-padrão
51/ Ver o boxe “Revisão do modelo agregado de pequeno porte”, do Relatório de Inflação de dezembro de 2021.
52/ Utilizam-se séries ajustadas sazonalmente.
53/ Para o primeiro trimestre de 2023, utilizaram-se projeções das variáveis de atividade quando os dados não estavam disponíveis.
54/ Ver o boxe “Projeções para a evolução do PIB em 2023”, deste Relatório.
Gráfico 2.2.5 – Selic real acum. quatro trimestres à frente Na comparação com o Relatório anterior, a taxa Selic
Médias trimestrais acumulada quatro trimestres à frente, descontada
% a.a.
8 das expectativas de inflação para o mesmo período,
7
6 ambas extraídas da pesquisa Focus e medidas em
5 termos de médias trimestrais, subiu na maior parte
4
3 do horizonte considerado (Gráfico 2.2.5). Os valores
2
1 refletem o aumento da trajetória da Selic nominal
0
-1
(Gráfico 2.2.2) em geral mais do que compensando
-2 a elevação das expectativas de inflação. Nessa
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV
2021 2022 2023 2024 2025 métrica, depois de ter atingido vale de -1,3% a.a. no
RI Mar 2023 RI Dez 2022
último trimestre de 2020, a taxa de juros real entrou
Obs.: Selic real calculada com base na taxa Selic acumulada quatro trimestres
à frente, descontada das expectativas de inflação para o mesmo período, em trajetória rapidamente ascendente, alcançando
ambas variáveis extraídas da pesquisa Focus.
valor máximo de 7,8% no quarto trimestre de 2022.
A projeção é de taxa de juros real de 7,7% e 7,8% nos
dois primeiros trimestres de 2023, respectivamente,
passando então a cair a partir do terceiro trimestre,
um trimestre depois do que ocorria no Relatório
anterior. A taxa de juros real nessa métrica atinge
7,0% ao final de 2023, 5,6% ao final de 2024 e 4,8%
ao final de 2025, acima ainda da taxa real neutra
considerada, de 4,0%.
55/ Por construção, o ICF é uma medida adimensional, com média zero e variância unitária na amostra considerada desde janeiro de
2006. Para descrição da metodologia empregada no cálculo do ICF, ver boxe “Indicador de Condições Financeiras”, do Relatório de
março de 2020.
56/ Para uma decomposição do ICF em fatores externos e domésticos, ver o boxe “Decomposição do Indicador de Condições Financeiras
em Fatores Domésticos e Externos”, do Relatório de dezembro de 2022.
Tabela 2.2.1 – Projeções de inflação – Cenário com Selic As projeções apresentadas representam a visão
Focus e câmbio PPC do Copom e são resultado da combinação dos
Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres seguintes elementos: i. projeções de especialistas
%
para preços livres para horizontes mais curtos e para
RI de Diferença
Ano Trim. Meta
dezembro
RI de março
(p.p.)
preços administrados até determinado horizonte; ii.
2023 I 5,0 4,8 -0,2
utilização de modelos macroeconômicos, de modelos
2023 II 3,9 3,8 -0,1
satélites e de modelos específicos para os itens de
2023 III 5,9 6,0 0,1
preços administrados; iii. emprego de determinadas
2023 IV 3,25 5,0 5,8 0,8 trajetórias para os condicionantes; e iv. avaliação
2024 I 3,6 4,6 1,0 sobre o estado e perspectivas da economia.57
2024 II 3,3 4,2 0,9
2024 III 3,1 3,8 0,7 Na projeção do cenário de referência, que utiliza
2024 IV 3,00 3,0 3,6 0,6 trajetória para o preço do petróleo seguindo
2025 I 2,9 3,4 0,5 aproximadamente a curva futura pelos próximos
2025 II 2,9 3,3 0,4 seis meses, taxa Selic da pesquisa Focus e taxa de
2025 III 2,9 3,2 0,3 câmbio seguindo a PPC, a inflação acumulada em
2025 IV 3,00 2,8 3,2 0,4 quatro trimestres apresenta oscilação ao longo de
2023 em função da presença ou não, no período
Tabela 2.2.2 – Projeção de inflação e intervalos de
considerado, dos efeitos da desoneração de
probabilidade – Cenário com Selic Focus e câmbio PPC
Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres combustíveis, concentrados no terceiro trimestre de
% 2022, e da reoneração de gasolina e etanol, parcela
ocorrida no primeiro trimestre de 2023 e parcela a
50%
ser efetivada no terceiro trimestre de 2023. Um dos
30%
Ano Trim. resultados é o significativo aumento na projeção da
10%
Central
inflação acumulada em doze meses entre o segundo
e o terceiro trimestres de 2023, com o descarte
2023 I 4,7 4,7 4,8 4,8 4,8 4,9 4,9
do terceiro trimestre de 2022. A projeção é que a
2023 II 3,4 3,6 3,7 3,8 3,9 4,0 4,2
inflação termine em 5,8% no final de 2023, mesmo
2023 III 5,4 5,7 5,9 6,0 6,1 6,3 6,6
valor de 2022, e acima do limite superior do intervalo
2023 IV 5,1 5,4 5,7 5,8 5,9 6,2 6,6
de tolerância (4,75%) da meta para a inflação (3,25%).
2024 I 3,7 4,1 4,4 4,6 4,8 5,1 5,5
A inflação projetada cai para 3,6% em 2024 e 3,2% em
2024 II 3,3 3,7 4,0 4,2 4,4 4,7 5,1
2024 III 2,9 3,3 3,6 3,8 4,0 4,3 4,7
2025, diante de meta para a inflação de 3,00% para
2024 IV 2,7 3,1 3,4 3,6 3,8 4,1 4,5
os dois anos (Tabelas 2.2.1 e 2.2.2 e Gráfico 2.2.8).
2025 I 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3
2025 II 2,4 2,8 3,1 3,3 3,5 3,8 4,2 Em termos de probabilidades estimadas de a inflação
2025 III 2,3 2,7 3,0 3,2 3,4 3,7 4,1 ultrapassar os limites do intervalo de tolerância
2025 IV 2,3 2,7 3,0 3,2 3,4 3,7 4,1 (Tabela 2.2.3), destaca-se, no cenário de referência,
a subida da probabilidade de a inflação ficar acima
Gráfico 2.2.8 – Projeção e leque de inflação – Cenário do limite superior em 2023, que passou de cerca de
com Selic Focus e câmbio PPC 57% no Relatório anterior para 83% neste Relatório.
Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres
%
12
10
Na comparação com o Relatório de Inflação anterior,
8
no cenário de referência, as projeções de inflação
6
aumentaram para todo o horizonte considerado a
4 partir do terceiro trimestre de 2023. Especificamente
2 nesse trimestre, mudança na hipótese sobre as
0 bandeiras tarifárias reduziu de forma significativa
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV
2021 2022 2023 2024 2025 a diferença em relação às projeções do Relatório
Meta de inflação Intervalo de tolerância anterior.
Obs.: As linhas da meta de inflação e do intervalo de tolerância se referem apenas
ao respectivo ano-calendário, mas, por questões visuais, são apresentadas para
todos os trimestres.
Tabela 2.2.4 – Projeções de inflação de preços livres e Quando se consideram os grupos de preços livres
administrados – Cenário com Selic Focus e câmbio PPC e administrados (Tabela 2.2.4), nota-se que houve
Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres aumento nas projeções dos dois grupos para todos
%
os anos considerados. No caso dos livres, o principal
IPCA IPCA Livres IPCA
Administrados fator, principalmente para 2024 e 2025, foi o
Ano
RI de RI de RI de RI de RI de RI de crescimento das expectativas de inflação. No caso
dezembro março dezembro março dezembro março dos administrados para 2023, os principais fatores
2023 5,0 5,8 3,7 4,3 9,1 10,2
altistas foram a elevação das projeções de energia
2024 3,0 3,6 2,6 3,1 4,2 5,3
elétrica e “Emplacamento e Licença” e o principal
2025 2,8 3,2 2,7 3,1 3,2 3,6
baixista foi a queda do preço do petróleo.58
O processo de tomada de decisão de política monetária nos bancos centrais exige avaliar o estado atual da
economia e seus desenvolvimentos futuros, cenários mais prováveis, possíveis riscos e o efeito de diferentes
decisões. Assim, é de suma importância que os trabalhos dos bancos centrais estejam estruturados em torno
de um arcabouço que garanta que esse processo de tomada de decisão seja feito de forma sistemática e
coerente ao longo do tempo, levando em conta todo o conjunto de informações disponível.
Desde meados dos anos 90, com a implementação de regimes de metas para inflação em diversos países,
desenvolveu-se a nível internacional um conjunto de boas práticas, atualmente conhecido como sistema
de análise e projeções (em inglês, conhecido como Forescasting and Policy Analysis System – FPAS), que
se constitui num sistema de ferramentas e processos desenhados para subsidiar as decisões de política
monetária.1 Um sistema bem estruturado inclui os seguintes elementos: banco de dados bem organizado;
procedimentos e ferramentas para previsão de curto prazo; modelos de médio prazo para projeções e análises
de políticas; modelos satélites e ferramentas para análise de setores ou aspectos específicos; ferramentas
e procedimentos para análise ex post das projeções e das recomendações de política; equipes de análises e
projeções com funções bem definidas; processo de análise e projeções estruturado com responsabilidades e
datas de entregas bem definidas, envolvendo reuniões das equipes técnicas e destas com os tomadores de
decisão; e processo de produção de relatórios internos e externos (Maehle et al., 2021).
Ao longo de quase 24 anos do regime de metas para a inflação, o Banco Central do Brasil (BC) também
desenvolveu e aperfeiçoou seu sistema de análise e projeções, cujos principais elementos têm sido descritos
ao longo desse período em diversos documentos ou artigos.2 Na linha de manter os elevados níveis de
transparência e accountability (prestação de contas) que caracterizam as ações de política monetária, este boxe
descreve com mais detalhes o processo e os elementos atuais da geração de análises, cenários e projeções
para a inflação e para medidas de ociosidade econômica, estas últimas relacionadas à atividade econômica
e o mercado de fatores.
As apresentações técnicas nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) são resultado de um processo
estruturado e organizado de troca de informações, análises e discussões entre as áreas técnicas e membros
da Diretoria Colegiada. Cada ciclo de trabalho que resulta na reunião do Copom possui um calendário interno
específico com marcos de divulgação de estatísticas, reuniões técnicas e participantes, compartilhamento
de informações e produtos em elaboração entre as áreas, que são utilizados como insumos no processo de
geração de projeções e cenários. Nessas reuniões preparatórias, discutem-se trabalhos em elaboração, cuja
versão final é apresentada nas reuniões do Copom.
O ciclo envolve várias reuniões, com destaque para: i. reunião de abertura, onde se avaliam os temas relevantes
e discute-se proposta inicial de cenários e hipóteses; ii. reuniões de conjuntura econômica internacional e
doméstica, que visam à apresentação e discussão dos desenvolvimentos econômicos recentes; iii. reuniões
de projeções, que visam à apresentação e discussão dos trabalhos em elaboração de cenários, projeções e
Na reunião do Copom, são então apresentados os produtos finalizados, que fazem parte da documentação
técnica3 que dá suporte ao processo de decisão da taxa Selic.4 Os resultados são divulgados em grau crescente
de detalhamento nos seguintes documentos: Comunicado da decisão do Copom (publicado imediatamente
após o término da reunião, a partir das 18h00), Ata da reunião do Copom (publicada quatro dias úteis depois
da reunião) e Relatório de Inflação (publicado trimestralmente). Esses documentos são aperfeiçoados ao
longo do tempo, buscando ganhos em termos de transparência e prestação de contas (accountability), com
destaque mais recente para as mudanças no Relatório de Inflação a partir da edição de dezembro de 2020.5
Como ressaltado nos Relatórios de Inflação, as projeções de inflação apresentadas representam a visão do
Copom e são resultado da combinação dos seguintes elementos:
3/ De acordo com a Resolução BCB 61, de 13.1.2021, as apresentações técnicas durante a reunião do Copom são realizadas pelas seguintes
unidades, com os respectivos assuntos: Departamento de Assuntos Internacionais (Derin) – conjuntura econômica internacional;
Departamento Econômico (Depec) – conjuntura econômica doméstica e expectativas de analistas para variáveis macroeconômicas;
Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) – avaliação prospectiva da inflação; Departamento de Operações Bancárias e de
Sistema de Pagamentos (Deban) – condições de liquidez e de funcionamento do sistema bancário; Departamento de Operações
do Mercado Aberto (Demab) – mercado monetário e operações de mercado aberto; e Departamento das Reservas Internacionais
(Depin) – mercados financeiros internacionais e de câmbio. Os departamentos envolvidos no ciclo apresentado neste boxe são Derin,
Depec e Depep.
4/ As apresentações são disponibilizadas ao público depois de determinado período: as da primeira sessão são consolidadas em
documento classificado como reservado por quatro anos e a apresentação da segunda sessão é documento classificado como
confidencial por oito anos.
5/ O Relatório de Inflação passou a trazer mais detalhes sobre os determinantes da inflação, os condicionantes utilizados nas projeções
e os riscos envolvidos. O texto passou também a ser mais analítico e de leitura mais fácil. Foi definido de forma clara o cenário central
de projeções, tornando a comunicação mais efetiva. Também no sentido de maior transparência, os modelos macroeconômicos
utilizados pelo BC passaram a ser divulgados com maior nível de detalhamento.
Por exemplo, considere o impacto da pandemia da Covid-19 sobre a economia. Os modelos macroeconômicos
usuais não estavam aptos para capturar muitos dos efeitos: as equações não incorporavam alguns mecanismos
relevantes e os dados utilizados para a estimação dos modelos não contemplavam eventos semelhantes.
Naquele contexto, se mostrou necessário usar de forma bastante flexível as diversas informações disponíveis
– que abrangiam não só variáveis econômicas, que passaram a ser acompanhadas com maior tempestividade7 –
mas variáveis associadas à questão sanitária e às medidas de contenção da mobilidade por parte dos governos.
Algumas dessas informações eram qualitativas, mas ainda assim relevantes e precisavam ser consideradas para
projeção. Estudos foram conduzidos para auxiliar na articulação das diferentes informações8 e as projeções
dos especialistas incorporaram esse conjunto ampliado de dados e análises.
De modo geral, as projeções dos especialistas para o curto prazo são construídas usando abordagem
bottom-up, isto é, projetando-se variáveis em nível de desagregação maior e para então agregá-las. No caso
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, a desagregação pode chegar ao
nível de subitem. Essa abordagem aproveita a análise detalhada que os especialistas já fazem dos dados e
da conjuntura e potencializa o uso de informações cuja relevância é específica a componentes individuais
das séries macroeconômicas de interesse.9 O nowcasting – que trata do processo de previsão para período
que ainda não se encerrou ou que, embora encerrado, ainda não houve respectiva estatística divulgada –
beneficia-se em especial desse aspecto, dada a maior disponibilidade e aderência de indicadores coincidentes
em relação a indicadores antecedentes.
As projeções dos especialistas incorporam o conhecimento que eles têm sobre detalhes metodológicos da
compilação dos dados. Por exemplo, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) leva em consideração quais
indicadores são considerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no cômputo do índice
de volume de cada atividade. O conhecimento desses detalhes permite, por exemplo, que o impacto de uma
boa safra de grãos, como se espera para 2023, seja mais bem estimado e distribuído entre os trimestres do
ano. O conhecimento aprofundado da metodologia também permite a construção de proxies que são úteis
para o acompanhamento conjuntural. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br)10 – indicador
construído pelos especialistas da área de atividade – é um exemplo.
Outro conhecimento aproveitado nas projeções dos especialistas é o de aspectos institucionais relevantes
para seu setor ou tema. Como exemplo, o conhecimento de como se dá o reajuste de determinado preço
administrado. Em alguns casos, modelos derivados e calibrados a partir do arcabouço institucional vigente podem
ser mais apropriados do que modelos econométricos – especialmente quando há quebra estrutural em uma
série temporal decorrente de mudança de política. Os modelos de projeção para preços de combustíveis, por
exemplo, consideram que está em vigor uma política de preços de paridade de importação e tem seus parâmetros
calibrados com base na importância que diversos fatores têm na formação de preços ao consumidor final.11
Às vezes as informações relevantes são difusas e não-estruturadas, e cabe aos especialistas avaliar como
melhor aproveitá-las. Esse arranjo dá ao sistema flexibilidade para lidar com desafios de natureza diversa
que podem afetar a análise da conjuntura.
Algumas das projeções de curto prazo elaboradas por especialistas são incorporadas aos modelos de projeção
de médio prazo. Com isso, as projeções de médio prazo também se beneficiam da maior acurácia preditiva
que as projeções dos especialistas têm para o curto prazo. Atualmente, os modelos de projeções de médio
prazo fazem uso de projeções de curto prazo para PIB, taxa de desocupação, estoque de empregos formais
medido pelo Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), nível de utilização da
capacidade instalada e inflação, com alguma desagregação. Para preços livres, é incorporada a projeção de
especialistas para horizonte de até dois trimestres à frente (incluindo o trimestre corrente). No caso dos
preços administrados o horizonte utilizado é, em regra, de cinco trimestres. É comum que os especialistas
tenham informação relevante sobre preços administrados para um horizonte um pouco mais longo do que
têm para preços livres. Em alguns casos específicos, são utilizadas projeções de especialistas para um prazo
ainda mais longo.12 Esses horizontes sempre podem ser reavaliados, dependendo do contexto conjuntural
– que pode sugerir maior ou menor relevância para as projeções dos especialistas em cada horizonte – e de
como se comportarem a acurácia preditiva das diferentes abordagens.
Os modelos são ferramentas utilizadas por tomadores de decisão de política econômica para melhor embasar
suas decisões. Os modelos procuram captar e medir regularidades da economia relacionadas aos objetivos
da análise. Por meio da utilização de modelos é possível: i. realizar análises e projeções econômicas de forma
estruturada e internamente consistente; ii. construir diferentes cenários de forma a considerar riscos avaliados
pelos tomadores de decisão; iii. avaliar os impactos de diferentes trajetórias do instrumento de política
econômica; iv. identificar choques correntes na economia; e v. incorporar julgamentos de forma organizada
e consistente.
Os modelos funcionam como uma espécie de “organizador” das discussões, pois permitem mensurar a relação
entre determinadas variáveis e captar os efeitos interdependentes das variáveis utilizadas. Por outro lado,
os modelos não substituem a análise econômica e a avaliação sobre o estado da economia. Na verdade,
os modelos permitem, de forma organizada e consistente, incorporar julgamentos sobre a economia na
elaboração de cenários e projeções. Ressalta-se ainda que julgamentos perpassam todo o processo, desde a
escolha do modelo a ser utilizado e da respectiva especificação até, em cada ciclo de projeções, a avaliação
sobre a persistência dos choques, a definição da trajetória de determinadas variáveis exógenas, a escolha
do cenário mais provável e dos principais cenários alternativos, e a incorporação de avaliações nas projeções
mecânicas dos modelos.
Atualmente os dois principais modelos macroeconômicos utilizados para a geração de projeções e cenários para
as reuniões do Copom são os modelos semiestruturais de pequeno porte, chamados de modelo agregado
12/ Caso, por exemplo, das projeções para plano de saúde. Como o reajuste autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) é distribuído no IPCA ao longo dos meses, sendo os valores tipicamente repetidos até junho de cada ano, as projeções dos
especialistas para esse preço são utilizadas até o segundo trimestre do ano-calendário do ano A+1 ou A+2.
O BC também utiliza modelos dinâmicos estocásticos de equilíbrio geral (Dynamic Stochastic General
Equilibrium – DSGE models em inglês), no caso, o modelo Samba. 15 O modelo Samba é um modelo
microfundamentado que apresenta uma estrutura mais rica de relações econômicas que os modelos de
pequeno porte ao mesmo tempo que o seu entendimento e manuseio são mais complexos. O modelo
Samba também fornece projeções macroeconômicas, mas sua utilização atual é na construção de exercícios
contrafactuais e cenários macroeconômicos de interesse do BC e na decomposição de choques16, onde
se procura explorar a maior riqueza da sua estrutura. Ressalta-se ainda que o modelo Samba é a principal
referência para construção de cenários de estresse macroeconômico para as reuniões do Comitê de
Estabilidade Financeira (Comef).
Outra classe de modelos utilizados pelo BC são os modelos de vetores autorregressivos (VAR). Os modelos
VAR exploram os efeitos entre as variáveis sem impor uma estrutura definida nas relações. Para prazos mais
longos, as projeções utilizando modelos VAR tendem a convergir para a média incondicional das variáveis, o
que se torna desafiador quando as metas para a inflação são decrescentes. Procurando tratar dessas questões,
Areosa e Gaglianone (2023) constroem formulação que combina o modelo VAR com expectativas de pesquisas
(surveys). Os modelos VAR também podem ser utilizados para a obtenção de funções de impulso-resposta
que sirvam como referência para a especificação de modelos estruturais.
Como modelo satélite utilizado de forma rotineira destaca-se o modelo de economia global BCB-Global,
que consiste em modelo macroeconômico semiestrutural construído a partir das especificações de modelos
da família Global Projection Model (GPM).18 A economia de cada país possui interconexões com os outros
países e está exposta a preços internacionais, seja pelo canal de comércio ou pelos canais financeiros. As
projeções e cenários desenvolvidos com base nesse modelo geram trajetórias para variáveis internacionais
que são utilizadas como condicionantes nos modelos da economia brasileira, tanto na construção do cenário
de referência e de cenários alternativos utilizados pelo Copom, como na elaboração de cenários de estresse
macroeconômico para o Comef.
Dentro da categoria de modelos e ferramentas satélites, pode-se incluir também indicadores construídos
pelo BC, como o Índice de Atividade Econômica do Banco Central – Brasil (IBC-Br), o Índice de Commodities
O sistema também inclui modelo para os preços administrados, que é utilizado nas projeções para o
horizonte imediatamente posterior ao do especialista20. Na verdade, o modelo para administrados é um bloco
de 24 equações que descreve o comportamento idiossincrático dos itens da cesta de administrados e que é
integrado aos modelos de pequeno porte, permitindo que os preços administrados e preços livres se afetem
mutuamente. Por exemplo, uma elevação no nível do hiato do produto aumenta a inflação de preços livres
via curva de Phillips e, por meio desse aumento, também afeta os preços administrados que dependem da
inflação passada; por sua vez, esse aumento nos preços administrados repercute sobre a inflação dos preços
livres por meio do componente de inflação passada do IPCA existente na curva de Phillips.
O processo de produção de subsídios para o Copom também se beneficia de estudos específicos de temas
de interesse. Os temas são os mais variados, envolvendo questões do mercado de trabalho, do mercado de
crédito, do comportamento da inflação, das expectativas de inflação, da atividade econômica, entre outros. É
comum a publicação desses estudos em boxes do Relatório de Inflação. Por exemplo, o Relatório de dezembro
de 2022 contou com boxe analisando a inflação de serviços sob as óticas da ociosidade e da inércia e de boxe
sobre o prêmio de risco nas taxas de juros nominais brasileiras.
As projeções apresentadas nos cenários são condicionadas na trajetória de determinadas variáveis que são
tratadas como exógenas ao modelo utilizado. Os condicionantes são variáveis cuja trajetória independe da
dinâmica no modelo, seja em virtude da parcimônia na especificação do modelo, seja porque existe uma
governança a respeito do uso de trajetórias específicas. Neste último caso, encontram-se a taxa de juros
Selic e a taxa de câmbio utilizadas nas projeções apresentadas nos documentos de comunicação de política
monetária. A governança atual, explicitada nos documentos, estabelece como condicionantes dos cenários
as trajetórias da taxa Selic oriunda da pesquisa Focus, conduzida pelo BC, e da taxa de câmbio baseada na
teoria da paridade do poder de compra (PPC).21 Note-se, entretanto, que o conjunto de projeções e cenários
elaborados em cada ciclo pode conter trajetórias alternativas dessas variáveis, podendo ser endógenas no
modelo – no caso dos modelos semiestruturais de pequeno porte e do modelo Samba, tem-se a paridade
descoberta dos juros para a taxa de câmbio e uma regra de Taylor para a Selic – ou trajetórias consideradas
de interesse para a tomada de decisão, como o de orçamento de juros.
No grupo de variáveis exógenas nos modelos, o principal destaque é o preço do petróleo. Atualmente, a
governança é utilizar trajetória que segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e
depois variação de 2% ao ano. A trajetória de um condicionante também pode ser baseada em modelo satélite,
como é o caso do hiato do PIB mundial relevante para a economia brasileira. A trajetória de um condicionante
pode ainda advir de projeções de especialistas, como é o caso do resultado primário do governo central
corrigido pelo ciclo econômico e por outliers, utilizado nos modelos semiestruturais de pequeno porte. Por
fim, a trajetória de um condicionante pode ser baseada em julgamento do Copom sobre comportamento
mais provável da variável ou sobre cenários de risco de relevância para a análise. Detalhes desses cenários
de riscos podem ser apresentados nos documentos de política monetária, como foram os casos de Banco
Central do Brasil (2020b, 2020d, 2021a, 2021c).
O Copom faz avaliações sobre o estado e perspectivas da economia utilizando todo o conjunto de informações
trazido ao Comitê. Essa avaliação também se manifesta na construção de diferentes cenários para a economia
e na definição dos principais riscos envolvidos. Como as projeções divulgadas nos documentos oficiais são do
Copom, as avaliações do Comitê também são incorporadas nas projeções. A incorporação de julgamento de
comitês decisórios de política monetária é elemento padrão na construção de projeções em bancos centrais.22
As projeções baseadas estritamente em modelos têm natureza mecânica e, por definição, não incorporam
toda a informação relevante disponível. Além disso, quando se utiliza mais de um modelo para projeções, as
informações trazidas pelos diferentes modelos podem ser incorporadas nas projeções finais.
O papel da incerteza
Embora os cenários macroeconômicos sejam divulgados como projeções pontuais para as variáveis de
interesse, cada valor está associado a uma região de incerteza. Em outras palavras, essas projeções pontuais
estão envoltas em elevado grau de incerteza. A incerteza é inerente à economia. Do ponto de vista das
projeções que utilizam modelos, destacam-se como fontes de incerteza: i. ocorrência de choques na economia;
ii. mudança nas relações econômicas ou na magnitude estimada dessas relações, podendo inclusive significar
quebras estruturais; iii. adequação ou não do tipo e estrutura do modelo utilizado; e iv. especificação e
estimação de variáveis importantes para a dinâmica macroeconômica que não são observáveis, como o hiato
do produto e taxa de juros neutra. No BC, como uma forma de ressaltar a incerteza envolvida nas projeções,
os Relatórios de Inflação apresentam os intervalos de probabilidades associados às projeções do cenário
de referência. A elaboração de cenários alternativos de risco também é uma forma de lidar com a incerteza
envolvida, conhecer e avaliar suas consequências para a economia e dar robustez à tomada de decisão.
Nas reuniões do Copom, são apresentados diferentes cenários macroeconômicos, resultados do processo de
discussões ao longo do ciclo de análise e projeções. Dessa forma, o Comitê tem uma melhor dimensão dos
riscos envolvidos em seu processo decisório. Os cenários podem ser construídos por meio do estabelecimento
de trajetórias alternativas para os condicionantes, pela consideração de projeções alternativas de curto prazo
ou por meio da incorporação de choques nos modelos.
Os cenários alternativos envolvem um espectro grande de tópicos, normalmente avaliados como os mais
relevantes naquele momento. Como ilustração, pode-se citar trajetórias alternativas para a taxa de câmbio,
preço do petróleo ou expectativas de inflação; maior ou menor persistência de choques na inflação; diferentes
estimativas para o hiato do produto doméstico e para a taxa de juros real neutra; atividade econômica em
trajetória diferente da do cenário central; riscos advindos do cenário internacional (atividade, juros, inflação,
commodities, aversão ao risco, etc.); concretização de riscos fiscais; mudanças tributárias afetando diretamente
os preços; etc. Em especial, o Comitê considera diferentes trajetórias para a taxa Selic no horizonte relevante
de política monetária.
Este boxe apresentou os principais elementos que compõem o sistema de análise e projeções do BC,
envolvendo tanto o processo do ciclo como os componentes para a produção de projeções e cenários. O
sistema do BC está em linha com as melhores práticas internacionais em bancos centrais e está em constante
aperfeiçoamento.
Referências
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prolongamento dos efeitos da pandemia”, Relatório de Inflação, dezembro.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (2020e). “Indicadores para acompanhamento da conjuntura econômica doméstica
durante a pandemia”, Relatório de Inflação, junho.
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Inflação, setembro.
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BANCO CENTRAL DO BRASIL (2021a). “Cenários alternativos de projeção de inflação: riscos fiscal e de
agravamento adicional da pandemia”, Relatório de Inflação, março.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (2021b). “Novo modelo desagregado de pequeno porte”, Relatório de Inflação,
março.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (2021c). “Cenários de risco para as projeções de inflação: política monetária
norte-americana e preços de commodities”, Relatório de Inflação, junho.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (2021d). “Impacto dos condicionantes sobre as projeções de inflação”, Relatório
de Inflação, setembro.
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BANCO CENTRAL DO BRASIL (2023a). “Decomposição da inflação de 2022”, Relatório de Inflação, março.
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on Monetary Policy Forecasting and Policy Analysis Systems”. International Monetary Fund, Departmental
Paper Series DP/2021/026.
Este boxe apresenta a versão mais recente do modelo estrutural de médio porte, Samba1, do Banco Central do
Brasil (BC), discutindo as mudanças na sua estrutura, apresentando alguns parâmetros relevantes (inclusive
com detalhes sobre a estimação) e descrevendo as possibilidades de uso decorrentes dessa nova estrutura. A
nova versão do modelo amplia as suas possibilidades de uso, caracterizando com maior precisão a transmissão
de choques do resto do mundo para a economia brasileira e possibilitando análises mais detalhadas sobre o
papel do mercado de trabalho na condução da política monetária.
O modelo Samba faz parte do conjunto de modelos utilizados pelo BC.2 O modelo Samba fornece projeções
macroeconômicas, mas sua utilização atual é na construção de exercícios contrafactuais e cenários
macroeconômicos de interesse do BC e na decomposição de choques, onde se procura explorar a maior
riqueza da sua estrutura. Ressalta-se ainda que o modelo Samba é a principal referência para construção de
cenários de estresse macroeconômico para as reuniões do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef).
Em linhas gerais, o modelo mantém muitas das características da sua formulação original. Existem dois tipos
de famílias: as que poupam e investem (otimizadoras) e as que sempre consomem toda a renda disponível
(“hand-to-mouth”). Ambos os tipos oferecem trabalho como insumo para a produção de bens pelas firmas.
As firmas, além do trabalho, usam capital e insumos importados no processo intermediário de produção. O
produto é distribuído para diferentes setores, que formam seus preços para o comprador final baseado no
tipo da demanda: consumo das famílias, investimento, consumo do governo e exportações. Na relação com
o exterior, o modelo é baseado na estrutura de “pequena economia aberta”, onde a dinâmica doméstica é
influenciada por choques internacionais, mas não afeta o resto do mundo.
Uma das principais mudanças no modelo, em relação à versão original em Castro et al (2011), ocorreu na
caracterização do mercado de trabalho, que incorpora agora um conjunto de microfundamentos necessário
para descrever a oferta de trabalho na margem extensiva e a presença de desemprego involuntário. Outra
alteração importante deu-se no setor externo, onde se passou a utilizar um modelo de Vetores Autorregressivos
(VAR) para caracterizar choques estruturais no resto do mundo e, portanto, efeitos de segunda ordem na
transmissão desses eventos para a economia brasileira. O diagrama no Gráfico 1 caracteriza o fluxo de bens e
fatores de produção na economia descrita pelo Samba. Ele destaca os dois setores principais onde o modelo
foi alterado, além de outras duas mudanças – a venda de produtos importados do resto do mundo diretamente
para as famílias e a presença de impostos sobre a renda do trabalho.
1/ A versão original do modelo foi apresentada em Castro et al. (2011), com as atualizações do modelo publicadas nos boxes “Revisão
do Modelo Estrutural de Médio Porte – Samba” dos Relatórios de Inflação de setembro de 2015 e de março de 2019. A versão do
modelo discutida aqui está apresentada em detalhes em Fasolo et al. (2023). Essa versão já foi usada para o exercício apresentado
no boxe “Decomposição da inflação pela ótica do modelo Samba”, do Relatório de Inflação de setembro de 2022.
2/ Ver o boxe “Sistema de análise e projeções do BC”, publicado neste Relatório.
a) Mercado de trabalho
Modelos de equilíbrio geral (no inglês, Dynamic Stochastic General Equilibrium – DSGE models), desde as
suas primeiras versões, lidavam com o problema de oferta e demanda de trabalho baseados em mudanças
no número de horas trabalhadas por trabalhador – a chamada margem intensiva da mão de obra. Essa
caracterização, apesar de útil para descrever a experiência de alguns países e manter a dinâmica do modelo
tratável, não necessariamente reflete a dinâmica de mercados como o brasileiro, onde variações da margem
extensiva possuem um papel mais importante. A literatura evoluiu para oferecer alternativas para lidar com
essa questão. Na versão atual do Samba, adotou-se a proposta de Galí, Smets e Wouters (2012), que traz como
uma das vantagens o menor número de equações adicionadas ao modelo. Os autores trazem do ambiente de
concorrência monopolística a diferenciação de bens para a oferta de trabalho, definindo a oferta de trabalho de
cada indivíduo de uma família para a produção de um tipo de bem. O desemprego é caracterizado pela oferta
de indivíduos disponíveis para a produção de um tipo de bem, mas que não são contratados para a função.
Além da definição de desemprego, resultante das condições de equilíbrio agregadas entre todos os indivíduos
e famílias, o modelo oferece uma equação definindo a oferta agregada de trabalho como função do nível de
salários e da demanda por consumo na economia. Ainda que os dados utilizados para estimar os parâmetros
do modelo não incluam o período da pandemia da Covid-19, essa definição formal da oferta de trabalho se
mostra útil para acompanhar a dinâmica do mercado de trabalho no período pós-pandemia.
Buscando ilustrar os principais resultados da versão nova do modelo em termos de mercado de trabalho, as
próximas seções trazem algumas simulações do comportamento do desemprego em resposta a alguns dos
principais choques que afetam a economia doméstica.
b) Setor externo
Por uma simplificação, a versão original do Samba tratava das variáveis caracterizando o resto do mundo
como processos autorregressivos univariados. Além da ausência de um componente estrutural claro, essa
forma de apresentação das variáveis externas elimina, por construção, efeitos de segunda ordem sobre as
próprias variáveis externas. Como um exemplo, versões anteriores do modelo não geravam contrações da
atividade econômica do resto do mundo após um aumento de taxas de juros internacionais.
Neste boxe, chamamos a atenção dos efeitos de segunda ordem que o modelo VAR oferece através das funções
de resposta a impulso a um choque de política monetária internacional. No Gráfico 2, um choque de política
monetária internacional aumenta a Fed Funds Rate em 100 p.b. Os dois cenários apresentados para cada variável
comparam as respostas de variáveis domésticas a esse choque no contexto do VAR estrutural (linha marrom,
com intervalos de credibilidade) e sob a hipótese do modelo ser calibrado com choques autorregressivos
exógenos (linha azul), como na versão original. Fica claro, pelo gráfico, que as respostas do modelo com o VAR
estrutural são tanto quantitativamente quanto qualitativamente diferentes das respostas obtidas com os
processos autorregressivos univariados. Pelo lado quantitativo, os impactos do choque de política monetária
internacional resultam em variações maiores da taxa de câmbio real e do desemprego, no curto prazo, e
da inflação e taxas de juros domésticas, nos horizontes mais longos. Pelo lado qualitativo, as respostas ao
choque sobre Produto Interno Bruto (PIB) e desemprego no curto prazo se movem em direções contrárias
entre os modelos. Isso se deve, em grande medida, ao impacto contracionista do choque de política monetária
internacional sobre o crescimento do PIB mundial. Essa contração do PIB mundial afeta as exportações de
bens para o resto do mundo, reduzindo a atividade doméstica e aumentando o desemprego. Esse efeito, por
construção, não ocorre quando a economia externa é caracterizada pelo processo autorregressivo exógeno.
Fed Funds Rate – bps PIB Mundial – bps Taxa de Câmbio Real – p.p.
350 80 1,8
60 1,6
300 40 1,4
250 20 1,2
0
1,0
200 -20
0,8
-40
150 0,6
-60
100 -80 0,4
-100 0,2
50
-120 0,0
0 -140 -0,2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
A figura mostra a função de impulso resposta mediana (linha marrom) para um choque de 100bps nos Fed Funds, os intervalos de credibilidade de 95% (linhas pontilhadas) e a função de impulso
resposta para o modelo Samba sem o VAR estrutural do setor externo
3/ Anteriormente, o VAR incorporava o índice de volatilidade da Cboe (Chicago Board Options Exchange Volatility Index – VIX) e o Índice
de Commodities – Brasil (IC-Br) em dólares.
c) Mudanças adicionais
Em termos de estrutura, outras mudanças foram incorporadas ao modelo, buscando melhorar o seu ajuste
aos dados ou aumentar a sua funcionalidade. Entre as principais mudanças, destacam-se:
a) Como citado anteriormente, além da importação de bens intermediários, também são importados bens
de consumo diretamente pelas famílias. Não apenas esse mecanismo é mais convencional nos modelos
DSGE de economias abertas, mas o mecanismo ajuda a melhor caracterizar o repasse do câmbio para os
preços ao consumidor;
b) Também citado anteriormente, a política fiscal, na parte de arrecadação, é caracterizada por dois impostos:
além da arrecadação “lump-sum”, um imposto sobre a renda do trabalho incide sobre as famílias;
c) Informações sobre expectativas dos agentes a respeito da inflação do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) são incorporadas ao conjunto de variáveis observadas pelo modelo. Os dados
são da pesquisa Focus. Esse tipo de informação busca, principalmente, suavizar algumas respostas do
modelo a choques, sendo adotada nos trabalhos de outros bancos centrais;5
d) O processo que descreve a produtividade não-estacionária da economia é caracterizado por um
componente temporário e outro cíclico, de forma a suavizar o efeito renda observado no comportamento
do consumidor diante de choques na tendência do modelo. Ainda sobre produtividade, o modelo tem
como observável uma medida de hiato do produto per capita calculada usando o mesmo processo de
produtividade não-estacionária, baseada nos filtros descritos em Andrle (2013). O hiato do produto,
combinado com a informação sobre a taxa de crescimento do PIB per capita, constitui uma inferência sobre
o processo de produtividade não-estacionária, baseado na definição de ambas as variáveis no modelo; e
e) O prêmio de risco externo endógeno (condição necessária para garantir a existência de uma solução para
o modelo) é função do total de passivos externos em proporção das exportações brasileiras, em vez de
ser em proporção do PIB, como em especificações anteriores.
O modelo é estimado com dados entre 2001T4 e 2019T4, com as primeiras oito observações usadas para
treinamento do Filtro de Kalman para inferência da verossimilhança dos parâmetros. A estimação não incorpora
o período referente à pandemia da Covid-19, em função da rápida deterioração do Filtro ao entrar os dados
do período.6 O modelo é estimado com técnicas Bayesianas, onde distribuições a priori são incorporadas ao
processo de estimação para reponderar a importância da função de verossimilhança. Diferentemente do
modelo original e de boa parte da literatura na área, o modelo não usa o algoritmo de Metropolis-Hastings
para simular os parâmetros durante a estimação. Em função do tamanho do modelo e das irregularidades na
distribuição dos parâmetros a posteriori, o modelo é estimado usando métodos de Sequential Monte Carlo, na
linha proposta em Cai et al. (2014), que também é usada no modelo DSGE do Federal Reserve de Nova Iorque.7
4/ Como exemplo, o Riksbank, da Suécia, desenvolveu um novo modelo no formato “two-country economy”, onde o setor externo é
representado por equações simétricas às que descrevem a economia doméstica. Ver Corbo e Strid (2020).
5/ Ver, por exemplo, Coenen et al. (2018), que usam dados de expectativas de longo prazo como proxies de meta de inflação e
produtividade para a economia europeia. O modelo DSGE do Federal Reserve de Nova Iorque também incorpora expectativas de
inflação entre os seus observáveis para captar movimentos de baixa frequência nos preços.
6/ Ainda constitui um amplo campo de estudo a forma apropriada de incorporar as informações do período da pandemia, com poucos
progressos na área de modelos DSGE.
7/ Ver FRBNY DSGE Model Documentation (2021).
IC 90% - IC 90% -
Distribuição da Média da Desvio-padrão
Parâmetro Descrição Limite Limite
Prior Posterior da Posterior
Inferior Superior
ϵD Elast.subst. capital e trabalho G(1,00;0,40) 0,95 0,11 0,78 1,14
δ Depreciação do capital G(0,02;0,005) 0,03 0,00 0,02 0,03
κ Persistência de hábito B(0,60;0,05) 0,78 0,02 0,75 0,82
η Elast. oferta de trabalho (inversa) N(1,852;0,90) 4,48 0,30 4,01 5,00
v Efeito riqueza na oferta de trabalho B(0,50;0,20) 0,09 0,01 0,08 0,11
ϵCD Elast.subst. bens domesticos e importados G(1,00;0,40) 1,58 0,31 1,07 2,11
∗
φ V Risco-país: aversão ao risco G(0,10;0,01) 0,04 0,00 0,03 0,04
∗
φ B Risco-país: ativos externos líquidos G(0,002;0,001) 0,001 0,000 0,000 0,001
ϵM Elast.subst. variedade de bens importados G(1,00;0,40) 1,91 0,24 1,53 2,32
ϵM∗ Elast.subst. exportações e bens do exterior G(1,00;0,40) 0,76 0,17 0,50 1,05
ϑI Custo ajustamento: investimento G(12,0;1,00) 11,88 0,59 10,91 12,86
ϑM Custo ajustamento: importações G(25,0;2,00) 24,48 1,39 22,18 26,79
ϑM∗ Custo ajustamento: exportações G(25,0;2,00) 25,15 1,22 23,12 27,19
θF Calvo: preços livres B(0,60;0,20) 0,57 0,02 0,53 0,60
θG Calvo: preços consumo do governo B(0,60;0,20) 0,67 0,09 0,51 0,80
θI Calvo: preços bens de investmento B(0,60;0,20) 0,58 0,21 0,27 1,00
θM Calvo: preços bens importados B(0,70;0,20) 0,63 0,05 0,55 0,71
θX Calvo: preços bens exportados B(0,70;0,20) 0,82 0,02 0,79 0,85
ωX Indexação preços exportação B(0,50;0,20) 0,44 0,04 0,38 0,50
υ1,A Elast.: preços administrados ao câmbio real G(0,20;0,10) 0,03 0,01 0,02 0,05
υ2,A Elast.: preços administrados a commodities G(0,20;0,10) 0,02 0,01 0,01 0,03
θW Calvo: salários B(0,60;0,20) 0,78 0,01 0,76 0,80
ωW Indexação salários B(0,60;0,20) 0,82 0,04 0,74 0,89
γR Regra de Taylor: inércia B(0,50;0,25) 0,80 0,01 0,79 0,82
γπ Regra de Taylor: Inflação G(1,50;0,75) 2,21 0,20 1,88 2,55
γY Regra de Taylor: Crescimento do PIB G(0,50;0,25) 0,12 0,03 0,07 0,18
γT Inércia impostos sobre renda do trabalho B(0,30;0,10) 0,40 0,04 0,33 0,47
γS Elast.: impostos do trabalho ao resultado primário G(0,50;0,20) 0,47 0,06 0,39 0,57
γB Elast.: resultado primário à dívida G(0,02;0,01) 0,01 0,00 0,01 0,01
γC Elast.: preços de importação a commodities G(10,0;4,00) 15,64 1,45 13,25 18,07
1/ Na coluna 3, valores entre parênteses são, respectivamente, a média e o desvio-padrão da distribuição. "B", "G" e "N" representam a distribuição Beta, Gama e Normal.
8/ Ver, por exemplo, “Revisão do modelo agregado de pequeno porte”, Relatório de Inflação, dezembro.
9/ A tabela não inclui a estimativa dos parâmetros associados aos processos exógenos, erros de mensuração e estado estacionário do
modelo. Para a lista completa dos parâmetros estimados, ver a Tabela 4 em Fasolo et al. (2023).
Esse comportamento resulta em elevada incerteza a respeito da dinâmica das respostas do investimento
agregado no modelo a certos choques. De fato, o Gráfico 4, com o cálculo da função de impulso-resposta
de um choque de política monetária, mostra respostas normalmente convencionais para a grande maioria
das variáveis macroeconômicas, com incerteza relativamente baixa ao redor das funções. A exceção desse
gráfico é justamente a resposta do investimento agregado. A incerteza observada nos parâmetros associados
ao investimento se traduziu em amplos intervalos de credibilidade para a evolução dinâmica dessa variável
após o choque.
A figura mostra a função de impulso resposta mediana (linha marrom) para um choque de 100bps na taxa nominal de juros e os intervalos de credibilidade de 95% (linhas pontilhadas).
Em termos das demais funções, o modelo oferece respostas na direção esperada, e com magnitudes
comparáveis com outros modelos. Por exemplo, o impacto do choque de política monetária sobre a inflação
A incerteza dos parâmetros referentes ao preço de bens de investimento não afeta apenas a simulação da
transmissão de choques de política monetária para o investimento agregado. Também no caso dos choques
exógenos sobre a taxa de câmbio real11 as funções de impulso-resposta se mostram bem-comportadas,
exceto aquela referente ao investimento agregado (Gráfico 5). O choque sobre o câmbio resulta em uma
resposta negligenciável sobre o PIB, dado que a queda no consumo (gerada tanto pelo aumento dos preços
dos bens importados como pelo aumento de juros em resposta da autoridade monetária) e no investimento
é compensada pelo aumento das exportações líquidas.
100 4 5
80 4
3
60 3
2
40 2
1
20 1
0 0 0
-20 -1 -1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
0,4 0,2
2 0,0
0,2
-0,2
0,0
0 -0,4
-0,2
-0,6
-0,4
-2 -0,8
-0,6 -1,0
-0,8 -4 -1,2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
A figura mostra a função de impulso resposta mediana (linha marrom) para um choque de 100bps na taxa real de câmbio e os intervalos de credibilidade de 95% (linhas pontilhadas).
Considerações finais
Este boxe apresentou os principais resultados da nova versão do modelo Samba. O modelo foi reformulado
em muitas dimensões e continua sujeito a novas atualizações. O BC, buscando o maior grau de transparência
possível na comunicação de política monetária, entende que publicar atualizações sobre seus modelos é
fundamental para esclarecer o seu processo de decisão para todos os agentes econômicos.
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10/ A versão do modelo semiestrutural está apresentada no boxe “Revisão do modelo agregado de pequeno porte” (Relatório de
Inflação, dezembro de 2021).
11/ Formalmente, o choque é imposto sobre a condição de paridade a descoberto das taxas de juros domésticas e internacionais, derivada
a partir das condições de primeira ordem do problema das famílias.
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Este boxe apresenta estimativa de decomposição do desvio da taxa de inflação de 2022, medida pela variação
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em relação à meta estabelecida pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN).1 O objetivo é medir a contribuição dos principais fatores determinantes da inflação
a partir de modelos semiestruturais do Banco Central do Brasil (BC).2
O desvio da inflação em relação à meta é decomposto em sete componentes: (i) inércia do ano anterior
(desvio da inflação do ano anterior em relação à meta);3 (ii) expectativas (diferença entre expectativas de
inflação medidas pela pesquisa Focus e a meta para a inflação); (iii) inflação importada (diferença em relação
à meta); (iv) hiato do produto; (v) bandeiras tarifárias de energia elétrica; (vi) desoneração tributária sobre
combustíveis, energia elétrica e telecomunicações; e (vii) demais fatores.4 Vale ressaltar que essas estimativas
são aproximações construídas com base em modelos e, portanto, estão sujeitas às incertezas inerentes ao
processo de modelagem e estimação.
Para a estimativa dos componentes, parte-se de um cenário no qual todos os condicionantes são neutros, isto
é, não apresentam impactos que levem a inflação a se desviar da meta.5 À medida que esses condicionantes
neutros são substituídos pelos valores efetivamente observados, obtém-se a contribuição de cada fator para
o desvio da taxa de inflação em relação à meta.
A inflação em 2022 foi de 5,79%, 2,29 pontos percentuais (p.p.) acima da meta para a inflação de 3,50%,
estabelecida pelo CMN, e 0,79 p.p. acima do limite superior do intervalo de tolerância, de 5,00% (Gráfico 1
e Tabela 1). A inflação foi 4,27 p.p. inferior à verificada em 2021, de 10,06%. A inflação de preços livres se
elevou de 7,70% em 2021 para 9,39% em 2022, ao passo que a inflação de preços administrados recuou de
16,90% para -3,83%.
i. A inércia advinda do ano anterior (como desvio da meta) apresentou a principal contribuição para o desvio
da inflação em relação à meta (contribuição de 2,74 p.p.) em função da elevada inflação em 2021, de 10,06%,
afetando tanto a inflação de preços livres (contribuição de 2,30 p.p. para a inflação de preços livres e de 1,72
p.p. para a inflação do IPCA via preços livres) como a de preços administrados (contribuição de 4,12 p.p. para
a inflação de preços administrados e de 1,02 p.p. para a inflação do IPCA via preços administrados);
ii. As expectativas de inflação (como desvio da meta) tiveram contribuição de 1,02 p.p. para o desvio da
inflação em relação à meta. As expectativas para a inflação doze meses à frente (suavizada) da pesquisa Focus
1/ A decomposição da inflação de 2022 foi apresentada anteriormente na Carta Aberta do Presidente do Banco Central do Brasil ao
Ministro da Fazenda e Presidente do CMN, em 10.1.2023. A decomposição da inflação baseada em modelos de projeção tem sido
apresentada anualmente nos Relatórios de Inflação. Ver, por exemplo, boxe “Decomposição da Inflação de 2021”, do Relatório de
Inflação de março de 2022. Para detalhes sobre procedimentos metodológicos, ver boxe “Decomposição da Inflação de 2017”, do
Relatório de Inflação de março de 2018, e Cusinato et. al (2016).
2/ Ver os boxes “Revisão do modelo agregado de pequeno porte”, do Relatório de Inflação de dezembro de 2021, e “Reformulação
dos modelos para projeção de médio prazo dos preços administrados”, do Relatório de Inflação de setembro de 2017.
3/ O componente “inércia do ano anterior” inclui os efeitos de todos os fatores que afetaram a inflação até o mês de dezembro de
2021.
4/ O item “Demais fatores” inclui fatores não considerados nos itens anteriores, como, por exemplo, fatores específicos de
condicionamento dos modelos de preços administrados e termo de resíduo do modelo.
5/ No caso de variáveis que apresentam sazonalidade, os condicionantes neutros também incluem componente sazonal.
Contribuição para
Componentes e itens Variação Peso no
a variação do
selecionados (%) IPCA (%)
IPCA (p.p.)
Livres 9,39 72,73 6,83
Alimentação no domicílio 13,23 14,98 1,98
Bens industriais 9,54 23,32 2,23
Etanol -25,42 0,96 -0,25
Ex-Etanol 11,05 22,36 2,47
Serviços 7,58 34,43 2,61
Telecomunicações -1,01 5,21 -0,05
Serviços subjacente 8,90 20,35 1,81
Administrados -3,83 27,27 -1,04
Gasolina -25,78 6,58 -1,70
Gás de botijão 6,27 1,38 0,09
Energia elétrica residencial -19,01 5,07 -0,96
IPCA 5,79 100,00 5,79
Fonte: IBGE e BC
%
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
Jan Mai Set Jan Mai Set Jan
2021 2022 2023
iii. A inflação importada (como desvio da meta) contribuiu de forma moderada para a inflação ficar acima da
meta (contribuição de 0,11 p.p.). Como pode ser visto nos Gráficos 4 a 6, os preços de commodities e a taxa
de câmbio se moveram em sentidos opostos: as elevações do preço do petróleo (de 11,0%, na comparação
iv. O hiato do produto apresentou contribuição negativa para o desvio da inflação em relação à meta
(contribuição de -0,45 p.p.). O hiato do produto é uma variável não observável, sujeita a elevada incerteza na
sua mensuração, e é medido pelo BC por meio de diferentes metodologias. Utilizando a metodologia baseada
em estimação de modelo bayesiano7, o hiato do produto, após abertura significativa no segundo trimestre de
2020 em função da pandemia da Covid-19, apresentou uma trajetória de fechamento nos períodos seguintes.
Entretanto, ao longo de 2022, o hiato passou a abrir a partir do terceiro trimestre do ano (ver Gráfico 2.2.4
do capítulo 2). Esse processo refletiu principalmente a perda de intensidade do processo de normalização da
atividade econômica iniciado ainda no segundo semestre de 2020 e o aperto monetário iniciado no primeiro
trimestre de 2021;
180 120
110
100
160
90
80
140
70
60
120
50
40
100 jan abr jul out jan abr jul out jan
jan abr jul out jan abr jul out jan 2021 2022 2023
2021 2022 2023
Fonte: Bloomberg e BC
5,6
5,4
5,2
5,0
4,8
4,6
4,4
jan abr jul out jan abr jul out jan
2021 2022 2023
v. As bandeiras tarifárias de energia elétrica contribuíram com -1,02 p.p. para o desvio da inflação em relação
à meta. Em 2021, o fraco regime de chuvas havia levado ao acionamento de termoelétricas e de outras fontes
de energia de custo mais elevado, resultando em aumento expressivo das tarifas de energia elétrica. Em abril
de 2022, em virtude da substancial melhora nas condições hídricas, a bandeira escassez hídrica, vigente desde
setembro de 2021, deu lugar à bandeira verde, contribuindo para a queda na inflação;
6/ A inflação importada contribuiu com 4,38 p.p. do desvio de 6,31 p.p. da inflação de 2021. Para mais detalhes, ver o boxe “Decomposição
da inflação de 2021”, do Relatório de Inflação de março de 2022.
7/ A contribuição do hiato do produto é construída utilizando-se a trajetória do hiato obtida pela aplicação, sobre amostra de dados,
de filtro de Kalman calibrado com parâmetros da estimação bayesiana do modelo.
vii. Por fim, os demais fatores apresentaram uma contribuição de 2,22 p.p. para o desvio da inflação em
relação à meta em 2022. Para esse componente, contribuíram os choques de bens industriais (1,13 p.p.)
e alimentação no domicílio (1,01 p.p.), ao passo que choques em serviços tiveram contribuição levemente
negativa (-0,11 p.p.).10 No caso dos bens industriais, pode-se considerar que os choques refletem um fenômeno
global, principalmente no que se refere aos problemas logísticos e aos desequilíbrios entre oferta e demanda
globais.11 O choque na inflação de bens industriais em 2022 foi o segundo maior na amostra considerada a
partir de 2005, sendo menor apenas do que em 2021, quando houve um período mais agudo de problemas
nas cadeias globais de produção.12 Por outro lado, ressalta-se que esses choques perderam parte de sua força
no segundo semestre do ano (Gráfico 7).
Em suma, este boxe apresentou estimativas da decomposição do desvio da taxa de inflação em 2022 em
relação à meta. De acordo com essa decomposição, os principais fatores que levaram a tal desvio foram
a inércia da inflação do ano anterior; a elevação dos preços de commodities, em especial do petróleo; os
desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais; os choques
em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas; e a retomada na demanda de serviços e no
emprego, impulsionada pelo acentuado declínio da quantidade de casos de Covid-19 e consequente aumento
da mobilidade. Em sentido contrário, atuaram a redução na tributação sobre combustíveis, energia elétrica
e telecomunicações; o comportamento da bandeira de energia elétrica, que passou de escassez hídrica para
bandeira verde; a apreciação cambial; e o hiato do produto no campo negativo.
8/ Destacam-se a Lei Complementar 192, a Lei Complementar 194 e a Lei 14.385. Foram reduzidos impostos federais sobre combustíveis,
as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações
e alteradas as bases de cálculo do ICMS sobre combustíveis e sobre energia elétrica. As tarifas de energia também foram reduzidas
em razão do adiantamento do repasse ao consumidor de tributos recolhidos em excesso no passado.
9/ Essa estimativa considera apenas o impacto direto das medidas sobre os bens e serviços afetados, e incorpora apenas a parcela do
impacto das medidas que teria se materializado em redução de preços ao consumidor no ano de 2022. A estimativa não vem do
modelo, mas de análise de especialistas, e considera mudanças de alíquotas, de base de cálculo, e, no caso de energia elétrica, o
maior montante devolvido aos consumidores de tributos recolhidos em excesso no passado.
10/ Tal investigação setorial foi realizada utilizando-se o modelo desagregado de pequeno porte. Para detalhes sobre esse modelo,
ver o boxe “Novo modelo desagregado com estimação bayesiana”, do Relatório de Inflação de março de 2021. Apesar da utilização
de modelos diferentes, a soma dos três componentes estimados (2,03 p.p.) no modelo desagregado acabou por corresponder
exatamente ao choque estimado na curva de Phillips dos preços livres do modelo agregado.
11/ Os choques representam toda a parte não explicada pela curva de Phillips de bens industriais. Portanto, eles não captam somente
o impacto dos gargalos produtivos. Entretanto, considerando diferentes evidências sobre o impacto desses gargalos, pode-se
considerar que eles são o principal fator.
12/ Com relação ao choque de alimentos, embora a magnitude seja considerável, esse choque tem variância maior e choques dessa
magnitude no passado foram mais comuns.
CUSINATO, R. T., FIGUEIREDO, F. M. R., MACHADO, V. G., MELLO, E. P. G. e PEREZ, L. P. (2016). “Decomposição
de Inflação: revisão da metodologia e resultados para 2012 a 2014”, Banco Central do Brasil, Trabalhos para
Discussão nº 440.
Diretoria Colegiada
Diretor
Renato Dias de Brito Gomes
a.a. Ao ano
a.s. Dados com ajuste sazonal
ABCR Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias
ABPO Associação Brasileira do Papelão Ondulado
Anfavea Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar
BC Banco Central do Brasil
BCE Banco Central Europeu
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CCT Convenções Coletivas de Trabalho
CMN Conselho Monetário Nacional
Cofins Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
Comef Comitê de Estabilidade Financeira
Copom Comitê de Política Monetária
Covid-19 Doença Coronavírus
CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
DBGG Dívida Bruta do Governo Geral
Deban Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
Demab Departamento de Operações do Mercado Aberto
Depec Departamento Econômico
Depep Departamento de Estudos e Pesquisas
Depin Departamento das Reservas Internacionais
Derin Departamento de Assuntos Internacionais
DLSP Dívida Líquida do Setor Público
DSGE Equilíbrio Geral Estocástico e Dinâmico
DSTAT Departamento de Estatísticas
EC Emenda Constitucional
EUA Estados Unidos da América
FBCF Formação Bruta de Capital Fixo
Fed Federal Reserve
Fenabrave Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FGV Fundação Getulio Vargas
GLP Gás Liquefeito de Petróleo
HICP Índice de Preços ao Consumidor Harmonizado
IBC-Br Índice de Atividade Econômica do Banco Central
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC-Br Índice de Commodities – Brasil
ICF Indicador de Condições Financeiras
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IDP Investimento direto no país