Aula 2 Parte I - Nocicepção e Temperatura
Aula 2 Parte I - Nocicepção e Temperatura
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1 TERMINAÇÕES LIVRES
2 DEFINIÇÃO DE DOR
Após o ato de queimar a mão na panela, ou martelar o dedo, teremos uma segunda
informação sensorial de dor que pode estar associada à inflamação do tecido lesado. Após a
lesão do tecido por abertura da pele, esmagamento ou queimadura, haverá migração de
mediadores pró-inflamatórios que são liberados pelo tecido lesado e pelas terminações
nervosas adjacentes ao local lesionado, e que sensibilizam a via sensorial, aumentando a
percepção de dor quando outro estímulo acontece (é o exemplo de tocar a ponta de um dedo
cortado em qualquer local, que causa uma dor desproporcional).
Esse fenômeno de alta sensibilidade, se chama alodinia ou alodínia: um estímulo que
não é nocivo ou potencialmente nocivo, de baixa intensidade, provoca uma sensação dolorosa.
Isso revela que houve uma alteração no sistema de recepção, transmissão e processamento da
dor. Que nesse caso, é desencadeado por mediadores inflamatórios que hipersensibilizam essa
via sensorial.
A sua etiologia/origem é uma lesão dos componentes nervosos da via sensorial (lesão
de nervo, pinçamento de raiz nervosa por uma hérnia de disco, AVC que acomete a região do
tálamo, lesão espinal, amputação que faz transcrição dos nervos sensoriais das mãos, braço,
perna, etc.). Isso pode gerar uma neuropatia, que acontece após a resolução da fase
inflamatória aguda, mas o estímulo na via sensorial pela lesão, pela resposta inflamatória que
aconteceu após a lesão, causa uma alteração, uma plasticidade na via, que não tem nenhum
objetivo proveitoso, é como se fosse um efeito colateral da lesão.
A dor neuropática não tem cura, geralmente, pode ser menos ou mais intensa, e ela
tem controle farmacológico, mas é muito difícil, às vezes o medicamento funciona por um
tempo, mas depois deixa de resolver.
A dor causada por uma lesão na pele por exemplo, tem percurso temporal limitado (se
resolve após um tempo e acaba), essa dor neuropática não, não acaba nunca mais. A pessoa
que desenvolve uma neuropatia “se casou de novo com a dor”. O que resta é o controle
farmacológico e terapias complementares.
Compromete muito a qualidade de vida do paciente, e está associada a acarretar outras
complicações como depressão, ansiedade, alteração da vida social, ou seja, o aspecto
psíquico-emocional e social da vida da pessoa.
A via envolvida numa situação fisiológica de dor em que um estímulo vai ocorrer:
A ativação de nociceptores cutâneos produz duas percepções de dor distintas: uma dor
primária, rápida e aguda, seguida de uma dor secundária, lenta e contínua. A dor primária é
causada pela ativação de fibras Aδ, a dor secundária é causada pela ativação de fibras C.
Temos a dor nociceptiva que acontece na hora do estímulo, na hora da martelada no
dedo, nós temos uma percepção de que essa dor tem duas fases, que é chamada de primeira
dor e segunda dor. A via nociceptiva que veicula/processa essas informações da primeira fase
da dor aguda e da segunda fase da dor são neurônios e receptores e vias sensoriais diferentes.
Então na primeira dor, na hora da martelada, a primeira fase dessa dor fisiológica nós
temos a ativação de fibras de condução um pouco mais rápidas que são do tipo Aδ, essas
fibras são pobremente mielinizadas, mas elas têm um pouquinho de mielina, são fibras um
pouco menos lentas.
No caso da segunda dor, que é aquela dor que fica latejando, é fibra C, que são
receptores de terminações livres, assim como a primeira dor, mas a fibra sensorial primária
não é mielinizada ou muito pouco mielinizada, então a transmissão é muito lenta. Por isso se
chama primeira dor ou dor rápida e segunda dor ou dor lenta.
Do ponto de vista farmacológico, essas vias podem ser inibidas de formas diferentes
com antagonistas específicos, porque elas têm proteínas de transdução e canais iônicos que
são eventualmente ativados a partir de estímulos.
Normalmente a pele possui as duas inervações (fibra A e C), então o estímulo vai
acontecer e ele vai ativar as duas fibras, mas cada uma tem uma função diferente. Então
dentro do processamento e transmissão da dor, elas têm papéis um pouco diferentes que se
complementam do ponto de vista fisiológico.
5 TIPOS DE NOCICEPTORES
Essas informações, tanto térmicas quanto nociceptivas, trafegam pelo SNC por uma
via específica, que é mais antiga na escala filogenética, que é chamada de via espino-talâmica
ou sistema ântero-lateral.
Veja como essa via está organizada: temos o corpo do neurônio primário no gânglio da
raiz dorsal, temos o neurônio periférico, prolongamento central. O prolongamento central
entra pela raiz dorsal, alcança o corno dorsal, faz sinapse com neurônio de segunda ordem,
dependendo do receptor nas lâminas mais superficiais ou mais profundas, e então ocorrerá um
mecanismo de decusassão, de cruzamento do lado contralateral da medula espinal, então esse
neurônio de segunda ordem se projeta para o bulbo, e depois para o tálamo, pelo lado
contralateral. Por isso, ele alcança o córtex somatossensorial também pelo lado contra-lateral.
Por esse motivo, o lesado medular pode eventualmente ter uma diferença, dependendo
da altura da lesão, pode ter uma disfunção da percepção de estímulo do mesmo lado ou do
lado contra-lateral. Mas um indivíduo que tem um AVC, do lado esquerdo do cérebro, por
exemplo, que comprometa essa região do córtex somatossensorial primário do lado esquerdo,
perderá as sensações dos estímulos que ocorrem no lado direito, por conta desse cruzamento
que acontece na medula espinal.
Alguns anatomistas fazem distinção dessa via que conduz a informação nociceptiva,
subdividindo-a em outras duas (do ponto de vista fisiológico a gente considera como um trato,
uma via, que pode ter diferenciação entre seus componentes, mas que de alguma forma se
organiza e tem as funções semelhantes).
Associado à atividade das fibras C, que conduziria impulsos nociceptivos da dor lenta
ao tálamo, passando através da formação reticular. Outras fibras desse sistema nociceptivo
mais antigo terminariam no tronco encefálico (formação reticular, núcleo parabraquial - NPB
e gríseaperiaquedutal).
Explicação da figura: a figura mostra como um estímulo que acontece na região do
corpo abaixo do pescoço e na face se projetam para vias distintas. Então, por exemplo, se eu
tiver uma informação de um estímulo nociceptivo ou de temperatura originário na parte
superior do corpo, excluindo a face, na parte do tórax, braços, eu vou ter a entrada desse sinal
em seguimentos específicos da medula espinal, especialmente na região cervical, que se
projetam em direção ao mesencéfalo, faz a sinapse com o neurônio de segunda ordem no
corno dorsal, que se projeta para o lado contra-lateral, passando pelo bulbo até o tálamo e lá
faz sinapse com o neurônio de terceira ordem até chegar às regiões de processamento
daquelas partes do corpo em S1.
Se eu tiver uma informação nociceptiva na região inferior do corpo do tórax para
baixo, pé, pernas, eu vou ter entrada dessas informações também em regiões específicas na
medula espinal lombar, faz sinapse com neurônio de segunda ordem, se projeta para o tálamo
e do tálamo para a região somatossensorial que está associada à recepção do estímulo da parte
inferior do corpo, a S1.
Quando o estímulo é na face, essa informação vai entrar, ela vai ativar normalmente o
nervo trigêmeo, que é o principal nervo sensorial da face, que tem três ramos, então
dependendo da região da face que o estímulo vai acontecer, você vai ter esses ramos do
trigêmeo sendo ativados e eles vão projetar a informação para o tronco encefálico, essa fibra
entra na porção média da ponte, mas ela descende e depois ela ascende em direção ao tálamo,
também faz sinapse com neurônio de segunda ordem em núcleos trigeminais específicos no
tronco, dependendo do ramo eu vou ter núcleos diferentes no tronco encefálico, faz sinapse
com neurônio de segunda ordem, se projeta para o tálamo, do tálamo para o córtex
somatossensorial primário na região que recebe informação dessa parte específica da face.
Do ponto de vista clínico, lesões em pontos diferentes dessas vias vão causar
distúrbios sensoriais distintos.
Normalmente descrita como uma dor difusa, de pouca capacidade discriminativa. Dor
na barriga, por exemplo, não se sabe exatamente o local. Isso acontece porque a dor visceral
não tem uma via marcada, ela usa várias vias sensoriais para chegar na medula espinal. Então
existe uma “poluição” do sinal, ela se difunde por várias vias sensoriais. Esses axônios que
conduzem a dor das vísceras abdominais, eles chegam em regiões diferentes daquelas
informações que chegam a partir das vísceras torácicas, em núcleos específicos no tronco
encefálico.
Essa via normalmente envolve, assim como as outras vias nociceptivas, informações
que trafegam por fibras de condução lenta, e elas se projetam para regiões ou neurônios que
estão envolvidos na informação sensorial de áreas da pele, que é o que chamamos de dor
referida. Por exemplo, quem tem um infarto tem dor no braço, no estômago, porque existe
uma convergência dos receptores da pele e das vias viscerais daquela região da pele.
Então a dor referida no infarto pode ser uma dor na superfície do peito, na região
medial do braço, do antebraço e até das mãos, porque as fibras sensoriais que se projetam a
partir do local de lesão do coração se projetam para os mesmos neurônios de segunda ordem
daquelas áreas da pele, então existe uma confusão no processamento dessa informação, então
o indivíduo refere a dor como sendo na pele.
9 OS TERMORRECEPTORES