Análise Microbiológica de Leite UHT e Leite Pasteurizado Comerciali-Zados No Município de Campinas-SP
Análise Microbiológica de Leite UHT e Leite Pasteurizado Comerciali-Zados No Município de Campinas-SP
Análise Microbiológica de Leite UHT e Leite Pasteurizado Comerciali-Zados No Município de Campinas-SP
Flavia de Oliveira1, Thalia Firmino Cabral de Oliveira1, Jacqueline Fátima Martins de Almeida Moraes1
1Curso de Biomedicina da Universidade Paulista, Campinas-SP, Brasil.
Resumo
Objetivo – Realizar análise microbiológica de leites tipo A pasteurizado e ultra processado em alta temperatura, de modo a verificar a
qualidade dos leites comercializados na região metropolitana de Campinas- SP. Por sua composição nutricional completa, o leite é um
dos alimentos mais importantes na vida dos brasileiros, que consomem em média 179 litros por habitantes, durante um ano. O leite e
seus derivados apresentam uma grande variedade microbiológica que está relacionada à forma como são produzidos ou devido a utili-
zação de água de má qualidade utilizada na limpeza dos equipamentos e no resfriamento do leite também tem relação direta com a qua-
lidade microbiológica do leite. Portanto a oferta de um produto seguro e de qualidade é imprescendível para assegurar a saúde da
população. Métodos – Para tanto, foram realizadas análises microbiológicas de 10 marcas de leite UHT e 6 marcas de leite pasteurizado,
através da técnica de tubos múltiplos e análise em ágar Salmonella Shigella (SS), e também MacConkey. Resultado – Na análise das 16
diferentes marcas de leite, não houve crescimento microbiano em nenhuma das amostras, sendo negativos para análise de coliformes to-
tais, Salmonella spp., Shigella spp. e bactérias gram-negativas. Conclusão – De acordo com os resultados obtidos, as amostras analisadas
estão dentro das conformidades exigidas pela ANVISA, por isso são adequadas para o consumo humano.
Descritores: Técnicas microbiológicas; Controle de qualidade; Leite
Abstract
Objective – Realize a microbiological analysis of the pasteurized and ultra-processed type A milk at high temperature, in order to
verify the quality of the milk sold in the metropolitan region of Campinas – SP. Milk is one of the most consumed and important food
for Brazilians due its enriched nutritional composition. Brazilians consume about 179 liters per inhabitant during a year. Milk and its
derivatives have a huge microbiological variety that is related to the way they are produced or due to the use of poor quality water
used in cleaning equipment and in cooling the milk, it also has a direct relationship with the microbiological quality of milk. Therefore,
the offer of a safe and quality product is essential to ensure the health of the population. Methods – Therefore, microbiological analyses
of 10 brands of UHT milk and six of pasteurized milk were performed, through multiple tubes technique and analysis in agar Salmo-
nella-Shigella and MacConkey. Results – In the analysis of the 16 different milk brands, there was no microbial growth in none of
samples analized, being negative for analysis of total coliforms, Salmonella spp., Shigella spp. and bacteria gram-negative. Conclusion
– According to the results obtained, the samples analyzed are within the conformities required by ANVISA and therefore are suitable
for human consumption.
Descriptors: Microbiological techniques; Quality control; Milk
Métodos
samento pode ser classificado como pasteurização rá-
pida. Por outro lado, o leite também pode ser pasteuri-
zado com temperatura de 63 °C a 65 °C por 30 minutos,
sendo denominado de pasteurização lenta12-13. Foi realizado um estudo observacional quali-quanti-
Cabe ressaltar, que esse processo também é impor- tativo, prospectivo de caráter transversal. Foram cole-
tante para eliminação de bactérias que são ligadas às tadas 16 amostras de leite em hipermercados da região
doenças de origem alimentar como Bacilllus spp. e metropolitana de Campinas - SP, sendo 10 de leite UHT
Clostridium spp., contudo não leva à eliminação com- integral de diferentes marcas e 6 de leite pasteurizado
pleta desses microrganismos no leite, já que a diversi- tipo A (também de diferentes marcas), para posterior
dade desses microrganismos e a quantidade presente análise microbiológica. Todo processo de análise foi
no leite está diretamente ligada às condições micro- realizado no Laboratório de Análises Clínicas do Curso
biológicas do leite cru. Assim, as condições de arma- de Biomedicina da Universidade Paulista – UNIP. O
zenamento refrigerado diminuem a proliferação desses presente estudo é dispensado da aprovação do Comitê
microrganismos6,14-16. de Ética da Universidade Paulista – UNIP, por não en-
Segundo o MAPA, nas instruções N62/11, o leite pas- volver diretamente ou indiretamente seres humanos,
teurizado não pode ser consumido quando as contagens de acordo com a resolução 466/12.
microbianas de placas padrão estão acima de 1 x 105 Todos os procedimentos, desde o preparo das amos-
UFC/mL. Outro fator de exclusão que deve ser considerado tras até as análises microbiológicas, foram realizados
é a presença de Salmonella spp.7. Além disso, as condições em fluxo laminar, seguindo um rígido cuidado com a
inadequadas de refrigeração do leite pasteurizado podem assepsia e a utilização de materiais estéreis de acordo
propiciar a presença de Staphylococcus aureus, um mi- com as boas práticas em microbiologia. Todos os pro-
crorganismo que pode estar presente na pele da vaca6. tocolos foram baseados em estudos prévios23 e de
Em contraste, o leite UHT procede do leite pasteuri- acordo com as indicações contidas na RDC Nº 12, DE
zado, que passa por uma homogeneização e é submetido 2 DE JANEIRO DE 200118.
a temperaturas contínuas de 130 °C a 150 °C, de 2 a 4 As amostras foram adquiridas comercialmente dos
segundos e, em seguida, é resfriado a 32 °C e, desse hipermercados e levadas para a análise no laboratório,
modo, está pronto para o envase em circunstâncias as- o leite pasteurizado foi transportado de maneira indi-
sépticas em embalagens esterilizadas e vedadas 17. Este cada pela ANVISA, ou seja, em caixa térmica de forma
leite é o mais utilizado pelos consumidores, por sua longa que sua temperatura foi mantida fria e as amostras do
vida de prateleira e por não ser necessário a refrigeração leite UHT em suas embalagens fechadas. Foi realizada
no armazenamento, o que difere do tipo pasteurizado. assepsia com Álcool 70% em cada embalagem de leite
Ainda assim, o controle de qualidade desses produtos é e em seguida foram feitas alíquotas delas. As alíquotas
pouco mencionado na literatura científica18-20. foram feitas através da coleta de três porções diferentes
É importante mencionar que a contaminação do leite contidas dentro da embalagem sendo essas começo,
cru influência na diminuição de vida de prateleira do meio e fim, como se vê a seguir.
Para análise de coliformes totais foi utilizado o es- derando como resultado positivo os tubos que apresen-
quema descrito na figura 2. Foram realizadas as diluições taram a produção de gás e turvação.
de 1:10, 1:100 e 1:1000, utilizando 5 ml das alíquotas Em todas as amostras foi realizada a análise diferen-
preparadas e o caldo nutriente. Em seguida, foram adi- cial de Salmonella spp. e Shigela spp. em ágar SS que
cionados 1 mL de cada diluição em três tubos contendo foram incubadas a 37° C por 24 horas. Além disso, foi
10 mL de Caldo Lactosado Bile Verde Brilhante com tu- realizada a semeadura em placas de Petri contendo
bos de Durham, fazendo assim uma triplicata de cada ágar MacConkey, que foram incubadas em 37 °C du-
diluição. Os tubos foram incubados a 35 °C por 24 rante 24 horas, tornando possível a identificação de
horas. Para identificação seletiva de coliformes fecais, bactérias gram-negativas fermentadoras ou não. Esta
as amostras que apresentaram produção de gás positiva análise foi realizada para a confirmação da presença
e turvação do Caldo Lactosado Bile Verde Brilhante, fo- de outras bactérias gram-negativas, além dos coliformes
ram repicadas em tubos contendo caldo EC e incubadas fecais. Para todos os testes, utilizou-se um controle po-
a 45,5 °C durante 24 horas. Após o período de incuba- sitivo com cepas comerciais padrão para garantia do
ção, foi realizado a interpretação dos resultados, consi- controle de qualidade do experimento.
J Health Sci Inst. 2021;39(2):79-85 81 Análise microbiológica de leite UHT e leite Pasteurizado
Figura 3. O tubo contendo a diluição 1:10 mostrou turvação devido a concentração do leite e os tubos
1:100 e 1:1000 não apresentaram turvação
J Health Sci Inst. 2021;39(2):79-85 83 Análise microbiológica de leite UHT e leite Pasteurizado
Com relação à técnica de tubo múltiplo, as dificul- principais incentivadores no decorrer desses anos de
dades encontradas na interpretação dos resultados, re- graduação. Ao meu marido, por ser o meu apoio e aju-
lacionam-se à turvação do caldo, pois alguns tubos dador presente em todos os momentos. Agradeço à mi-
apresentaram turvação não pela presença de microrga- nha orientadora, Profa. Dra. Jacqueline Almeida, pela
nismo, mas sim pela cor do leite, o que dificultou a in- dedicação, paciência, compreensão e incentivo ao
terpretação das análises. O que também mostra que longo de toda orientação. À minha querida amiga Tha-
esta metodologia é mais bem aplicada na análise de lía Oliveira, companheira de T.C.C., por todo incentivo,
coliformes totais e fecais em água, por não possuir cor esforço e compreensão, que me ajudou muito na reali-
que possa interferir na leitura30. zação deste trabalho. E por fim, sou grata a Universi-
Diante dessa perspectiva, um método rápido e de dade Paulista - UNIP, ao seu corpo docente, a todos os
fácil interpretação são as placas Petrifilm EC e colifor- cooperadores que, direta ou indiretamente, fizeram
mes totais (HS) que é composto por um sistema de parte da minha formação.
Referências
filme duplo, revestido por polietileno, coberto com
meio de cultura desidratado, onde há nutrientes e um
agente responsável pela gelificação, sendo solúvel em 1. Pereira FP, Santos OAR, Resende RCM, Henriques BO. Ava-
água fria. O filme presente na parte superior da placa é liação comparativa da composição nutricional do leite de soja
transparente, pode ser removido e possui corantes re- em relação ao leite de vaca com e sem lactose. Rev Acad Co-
veladores, o que facilita a sua intepretação30. Assim, necta. 2017; 2(1):378-92.
esta metodologia pode substituir a técnica de tubos 2. Levy-Costa RB, Monteiro CA. Consumo de leite de vaca e ane-
múltiplos, para facilitar a análise, seja em relação ao mia na infância no Município de São Paulo. Rev Saúde Pública.
tempo gasto para realização do procedimento, seja em 2004; 38(6): 797-803.
relação à interpretação dos resultados. No entanto, este 3. Muniz LC, Madruga SW, Araújo CL. Consumo de leite e deri-
método se mostra menos acessível. vados entre adultos e idosos no Sul do Brasil: um estudo de base
No que se refere à análise de identificação de Sal- populacional. Ciênc. Saúde Colet. 2013;18 (12): 3515-22.
monella spp., no estudo realizado por Alves et al.11, 4. Botelho J, Araújo LPP, Pereira JPF, Taveira LB, Furtado MAM,
onde foram analisados 48 laudos de leite pasteurizado Pinto MAO. Qualidade microbiológica de produtos lácteos ava-
e 228 de leite UHT comercializado no Distrito Federal, liados pelo laboratório de análises de alimentos e águas da Fa-
não foi observado a presença de Salmonella spp. nos culdade de Farmácia/UFJF. Rev. Inst. Latic. Cândido Tostes. 2010;
laudos analisados, desse modo, este trabalho se apre- 65(376).
senta de acordo com a literatura, considerando que 5. Gonçalves RML, Vieira WC, Lima JE, Gomes ST. Analysis of
também não foi encontrada a presença de Salmonella technical efficiency of milk-producing farms in Minas Gerais.
spp. em nenhuma das amostras11. Econ. Apl. 2008; 12(2): 321-35.
Conclusão
6. Salvador FC, Burin AS, Frias AAT, Oliveira FS, Faila N. Avalia-
ção da qualidade microbiológica do leite pasteurizado comer-
cializado em Apucarana-PR e região. Rev F@pciência. 2012; 9(5):
As análises microbiológicas das amostras de leite de- 30-41.
monstraram que todas as marcas analisadas se encon- 7. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução
tram de acordo com a legislação estabelecida, refletindo normativa N° 62. Dispõe sobre regulamentos técnicos de produ-
a eficácia dos processos de pasteurização e UHT reali- ção, identidade, qualidade, coleta e transporte do leite. Diário
zados pelas indústrias que comercializam leites na re- Oficial da União, Brasília: 2011.
gião de Campinas-SP. No entanto, maiores estudos são 8. Araújo CGF, Rangel AHN, Medeiros HR, Mendes CG, Abrantes
necessários, em uma maior e mais diversificada amos- MR, Sousa ES, et al. Avaliação qualitativa do leite pasteurizado
tragem, e assim corroborar os nossos achados. Sendo tipo A, B, e C comercializado em Natal, RN. Arq Inst Biol. 2012;
que as amostras devem ser coletadas diretamente das 79(2): 283-6.
usinas produtoras de leite, uma vez que dessa maneira 9. Silva C, Alessio DRM, Knob DA, d’Ovidio L, Neto AT. Influên-
é possível identificar a origem das alterações micro- cia da sanificação da água e das práticas de ordenha na quali-
biológicas identificadas pelas análises. dade do leite. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 2018; 70(2): 615-22.
Ressalta-se, ainda, a importância da verificação cons- 10. Souza EC, Gonçalves KF, Silva RA. Bactérias aeróbias mesó-
tantes dos processos de controle de qualidade da pro- filas contaminantes do leite de vaca UHT (Ultra High Tempera-
dução de leite, que vai desde a manutenção preventiva ture) comercializado em Maceió-AL. Hig Alim. 2016; 30
(260/261): 126-9.
e monitoramento durante o processo de pasteurização
até o envasamento e distribuição dos produtos lácteos, 11. Alves MC, Silva DAC, Chiarello MD. Avaliação da qualidade
e assim garantindo um produto de qualidade e com se- microbiológica e físico-química do leite comercializado no Dis-
trito Federal no período de janeiro de 2015 a julho de 2017. Vigil.
gurança ao consumidor.
Agradecimentos
Sanit. Debate.2018; 6(3):37-45.
12. Mulinari EL, Rosolen MD, Adami FS. Avaliação da Qualidade
Microbiológica de leite pasteurizado produzido no Rio Grande
Em primeiro lugar, agradeço a Deus que me permitiu do Sul. Rev Caderno Pedagógico. 2017; 14(1): 28- 35
viver esta experiência única e me ajudou nesta cami- 13. Negoceki A C, Andrade U V C. Qualidade microbiológica e
nhada, através da sua misericórdia e amor incondicio- físico-química do leite pasteurizado produzido no estado do Pa-
nal. Aos meus pais, Itamar e Neia, por serem meus raná. Hig Alim. 2016; 30(254/255): 79-84.
E-mail: jacqueline.moraes@docente.unip.br
J Health Sci Inst. 2021;39(2):79-85 85 Análise microbiológica de leite UHT e leite Pasteurizado