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Logica

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Estruturas Discretas

1. Fundamentos

1.1. Como raciocinamos?: lógica elementar


A lógica é a base de todo o raciocı́nio. Portanto se quisermos estudar e fazer matemática
precisamos de dominar os princı́pios básicos da lógica. Citando Language, Proof and Logic (de
Jon Barwise e John Etchemendy):

“(...) all rational inquiry depends on logic, on the ability of people to reason
correctly most of the time.”

“(...) there is an overwhelming intuition that the laws of logic are somehow more
irrefutable than the laws of the land, or even the laws of physics.”

Porque deve um estudante de Informática estudar lógica? Porque precisa de dominar ferra-
mentas lógicas que lhe permitam argumentar se um problema pode ou não ser resolvido num
computador, traduzir proposições lógicas da linguagem comum em diversas linguagens computa-
cionais, argumentar se um programa está correcto e se é eficiente. Os computadores baseiam-se
em mecanismos lógicos e são programados de modo lógico. Os informáticos devem ser capazes
de compreender e aplicar novas ideias e técnicas de programação, muitas das quais requerem
conhecimento dos aspectos formais da lógica.

Todos nós raciocinamos enunciando factos e tirando conclusões baseadas nesses factos. O
inı́cio de uma conclusão é habitualmente indicada por uma palavra como

Então, Logo, Portanto, Consequentemente, ... .

Para chegarmos a uma conclusão aplicamos uma regra de inferência (ou regra de dedução).
A mais comum é a chamada regra modus ponens (modo que afirma): sendo A e B afirmações,
se A e “se A então B” são ambas verdadeiras, então podemos concluir que B é verdadeira.
[Como aprendeu a regra modus ponens em criança ?]

Outra regra muito comum é a modus tollens (modo que nega): sendo A e B afirmações, se
“se A então B” é verdadeira e B é falsa, então podemos concluir que A é falsa.
Por exemplo:

– Se ele foi a Coimbra então visitou a Universidade de Coimbra.

– Ele não visitou a Universidade de Coimbra.

– Logo não foi a Coimbra.

[Como aprendeu a regra modus tollens em criança ?]

Quando tiramos uma conclusão que não decorre dos factos estabelecidos previamente, o
raciocı́nio diz-se non sequitur (que não segue).
[Pense num exemplo de non sequitur que já tenha observado.]

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Neste primeiro capı́tulo começaremos por estudar um pouco de lógica. Algumas definições
de lógica que podemos encontrar nos dicionários:

• Estudo dos princı́pios do raciocı́nio, particularmente da estrutura das afirmações e proposições


e dos métodos de determinação da sua validade.

• Sistema de raciocı́nio.

• Raciocı́nio válido.

Um cálculo é uma linguagem de expressões, onde cada expressão tem um valor lógico e há
regras para transformar uma expressão noutra com o mesmo valor. Aqui estudaremos um pouco
do cálculo proposicional. O cálculo proposicional é a linguagem das proposições. Uma proposição
é uma expressão da qual faz sentido dizer que é verdadeira ou que é falsa. Cada proposição tem
um e um só valor lógico, entre dois possı́veis: V (verdadeiro) ou F (falso).

Exemplo. “Coimbra é uma cidade portuguesa” é uma proposição com valor lógico verdadeiro.
Mas atribuir um valor lógico à afirmação “Hoje está um belo dia!” já não faz sentido, pois trata-
-se duma expressão subjectiva que exprime um sentimento de alguém, não de uma afirmação
objectiva.

Lógica e operações-bit: Os computadores representam informação por meio de bits. Um bit


tem dois valores possı́veis, 0 e 1. Um bit pode ser usado para representar os valores de verdade
F e V, 0 representa F e 1 representa V. Há assim uma relação evidente entre a lógica e o sistema
de funcionamento dos computadores.

O cálculo proposicional (tal como outros tipos de lógica) que vamos estudar pressupõe os
seguintes princı́pios:

Princı́pio da não contradição: Uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo.

Princı́pio do terceiro excluı́do: Uma proposição é verdadeira ou falsa.

A afirmação “Os alunos de Estruturas Discretas são de Engenharia Informática ou de Co-


municações e Multimédia” pode decompor-se em duas afirmações: “Os alunos de Estruturas
Discretas são de Engenharia Informática” e “Os alunos de Estruturas Discretas são de Comu-
nicações e Multimédia”. Estas duas últimas afirmações já não se podem decompor mais. Dizemos
então que a proposição “Os alunos de Estruturas Discretas são de Engenharia Informática ou
de Comunicações e Multimédia” é composta e as afirmações “Os alunos de Estruturas Discretas
são de Engenharia Informática” e “Os alunos de Estruturas Discretas são de Comunicações e
Multimédia” são atómicas. As proposições compostas são construı́das a partir de proposições
atómicas ligando-as por conectivos (ou operadores). No exemplo anterior, esse conectivo é “ou”.
Se denotarmos por p a proposição “Os alunos de Estruturas Discretas são de Engenharia In-
formática” e por q a proposição “Os alunos de Estruturas Discretas são de Comunicações e
Multimédia” e usarmos o sı́mbolo ∨ para representar “ou”, a afirmação “Os alunos de Estru-
turas Discretas são de Engenharia Informática ou de Comunicações e Multimédia” escreve-se
simplesmente p ∨ q. Temos assim a operação ∨ de disjunção.

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

A afirmação “Ele não visitou a Universidade de Coimbra” é a negação de “Ele visitou a


Universidade de Coimbra”. Se denotarmos por p esta última proposição e usarmos o sı́mbolo
¬ para representar a operação de negação, a afirmação “Ele não visitou a Universidade de
Coimbra” escreve-se ¬p.
A seguinte tabela contém uma lista destes e doutros conectivos lógicos1 :

negação ¬p (não p)
conjunção p ∧ q (p e q)
disjunção p ∨ q (p ou q)
implicação p→q (se p então q; p só se q; p é condição suficiente para
que q; q é condição necessária para que p)
equivalência (formal) p ↔ q (p é equivalente a q)
·
disjunção exclusiva p ∨ q (ou p ou q)

As proposições são representadas por fórmulas chamadas fórmulas bem formadas que são
construı́das a partir de um alfabeto constituı́do por:

• Sı́mbolos de verdade: V e F.

• Variáveis proposicionais: letras do alfabeto p, q, r, . . .

• Conectivos (operadores):

¬ (“não”, negação)
∧ (“e”, conjunção)
∨ (“ou”, disjunção)
→ (“implica”, implicação).

• Sı́mbolos de parênteses: (, ).

Uma fórmula bem formada (abreviadamente, f bf ) fica definida da seguinte forma:

• V e F são fbf’s; toda a variável proposicional é uma fbf.

• Se A e B são fbf’s, as seguintes são também fbf’s: ¬A, A ∧ B, A ∨ B, A→B, (A).

• Toda a fbf é construı́da por aplicação sucessiva das regras anteriores.

Exemplo. A expressão p¬q não é uma fbf. Mas cada uma das seguintes expressões é uma fbf:
p ∧ q→r, (p ∧ q)→r, p ∧ (q→r).

Os parênteses funcionam como sı́mbolos auxiliares que indicam como é formada a fbf. Para
evitar um uso excessivo de parênteses e simplificar a escrita das expressões lógicas convenciona-
1 Em lógica é habitual designar estes conectivos por conectivos booleanos, em homenagem ao lógico britânico
George Boole (1815-1864), que estudou as leis do pensamento usando métodos matemáticos em [An investigation
into the Laws of Thought, 1854].

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

-se que as operações lógicas são consideradas pela seguinte ordem de prioridade: ¬, ∧, ∨, →.
Convenciona-se ainda que na presença de uma só das três últimas operações, na ausência de
parênteses as operações são realizadas da esquerda para a direita.

Exemplos.

¬p ∧ q significa (¬p) ∧ q
p∨q∧r significa p ∨ (q ∧ r)
p ∧ q→r significa (p ∧ q)→r
p→q→r significa (p→q)→r.

Relativamente a uma dada linguagem lógica podemos sempre estudar dois aspectos: a sintaxe
e a semântica. A sintaxe diz respeito às regras de formação das expressões lógicas a utilizar,
ou seja, as fórmulas bem formadas. Em cima, acabámos de descrever a sintaxe do cálculo
proposicional.
A semântica estuda o significado das expressões.

 sintaxe (fórmulas bem formadas)

Linguagem (conjunto de sı́mbolos)

semântica (significado).

Quanto à semântica, dada uma fbf, interpretando cada uma das suas variáveis proposicionais
com os valores lógicos V ou F, é possı́vel dar um significado à fórmula através da interpretação dos
conectivos lógicos dada pelas respectivas tabelas de verdade. Cada conectivo tem uma tabela
de verdade (que vai ao encontro da forma corrente do significado das operações “não”, “e”,
“ou”, etc.). A tabela de verdade faz corresponder aos possı́veis valores lógicos das variáveis o
correspondente valor lógico da operação2 :

p q ¬p p∧q p∨q p→q


V V F V V V
V F F F V F
F V V F V V
F F V F F V

Em conclusão:

• O significado de V é verdade e o de F é falso.

• O significado de qualquer outra fbf é dado pela sua tabela de verdade.

Exemplo. ¬p ∧ q corresponde a (¬p) ∧ q, cuja tabela de verdade é:


2 Nas aulas teórico-práticas usaremos o software Boole para nos ajudar a escrever tabelas de verdade. Consulte
o fascı́culo Usando Boole.

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

p q ¬p (¬p) ∧ q
V V F F
V F F F
F V V V
F F V F

É claro que a cada fbf corresponde uma e uma só tabela de verdade.
Uma fbf diz-se uma tautologia se for verdadeira para todos os possı́veis valores lógicos das
suas variáveis proposicionais. Uma fbf diz-se uma contradição se for falsa para todos os possı́veis
valores lógicos das suas variáveis proposicionais. Uma fbf diz-se uma contingência se não for
uma tautologia nem uma contradição.

Exemplos. Suponhamos que queremos averiguar se p→p ∨ q é ou não uma tautologia. Para
isso basta construir a respectiva tabela de verdade:

p q p∨q p→p ∨ q
V V V V
V F V V
F V V V
F F F V
Como para quaisquer valores de p e q toma sempre o valor de verdade, concluı́mos que é uma
tautologia.
Mais exemplos: p∨¬p é uma tautologia, p∧¬p é uma contradição e p→q é uma contingência.

Duas fbf’s dizem-se (logicamente) equivalentes se tiverem o mesmo significado, isto é, a mesma
tabela de verdade. Para indicar que duas fbf’s A e B são equivalentes, escrevemos A ≡ B. Em
vez do sı́mbolo ≡ também se costuma usar ⇔. Note que dizer que A e B são logicamente
equivalentes é o mesmo que dizer que as fórmulas (A→B) e (B→A) são tautologias (Prova:
A ≡ B sse A e B têm os mesmos valores de verdade sse (A→B) e (B→A) são tautologias).

Exemplos. As seguintes equivalências básicas são de fácil verificação e são fundamentais no


cálculo proposicional:

p ∨ ¬p ≡ V Lei do terceiro excluı́do


p ∧ ¬p ≡ F Lei da contradição
p∧V ≡p Leis da identidade
p∨F≡p
p∨V ≡V Leis do elemento dominante
p∧F≡F
p∨p≡p Leis da idempotência
p∧p≡p
¬(¬p) ≡ p Lei da dupla negação
p∨q ≡q∨p Leis da comutatividade
p∧q ≡q∧p

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

p ∨ (p ∧ q) ≡ p Leis da absorção
p ∧ (p ∨ q) ≡ p
(p ∨ q) ∨ r ≡ p ∨ (q ∨ r) Leis da associatividade
(p ∧ q) ∧ r ≡ p ∧ (q ∧ r)
p ∨ (q ∧ r) ≡ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) Leis da distributividade
p ∧ (q ∨ r) ≡ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
¬(p ∧ q) ≡ ¬p ∨ ¬q Leis de De Morgan
¬(p ∨ q) ≡ ¬p ∧ ¬q
p→q ≡ ¬p ∨ q

Por exemplo, construindo as tabelas de verdade de ¬(p ∧ q) e ¬p ∨ ¬q

p q p∧q ¬(p ∧ q) ¬p ¬q ¬p ∨ ¬q
V V V F F F F
V F F V F V V
F V F V V F V
F F F V V V V

concluı́mos que ambas as fbf’s têm o mesmo valor lógico para os mesmos valores das variáveis
proposicionais, pelo que são logicamente equivalentes.

É possı́vel provar uma equivalência sem construir as tabelas de verdade por causa dos
seguintes factos:

1. Se A ≡ B e B ≡ C, então A ≡ C.

2. Se A ≡ B, então qualquer fbf C que contenha A é equivalente à fbf obtida de C substituindo


uma ocorrência de A por B.

Exemplo. Use as equivalências básicas na tabela anterior para provar que p ∨ q→p ≡ q→p.

Prova: p ∨ q→p ≡ ¬(p ∨ q) ∨ p


≡ (¬p ∧ ¬q) ∨ p
≡ (¬p ∨ p) ∧ (¬q ∨ p)
≡ V ∧ (¬q ∨ p)
≡ ¬q ∨ p
≡ q→p. QED.

Teste (1 minuto cada). Use equivalências conhecidas para provar:

1. p ∨ q→r ≡ (p→r) ∧ (q→r).

2. (p→q) ∨ (¬p→q) ≡ V (isto é, (p→q) ∨ (¬p→q) é uma tautologia).

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

3. p→q ≡ (p ∧ ¬q)→F.

Teste (1 minuto cada). Use as leis da absorção para simplificar:

1. (p ∧ q ∧ r) ∨ (p ∧ r) ∨ r.

2. (s→t) ∧ (u ∨ t ∨ ¬s).

Se p é uma variável proposicional numa fbf A, denotemos por A(p/V) a fbf que se obtém de
A substituindo todas as ocorrências de p por V . De modo análogo podemos também definir a
fórmula A(p/F). As seguintes propriedades verificam-se:

• A é uma tautologia se e só se A(p/V) e A(p/F) são tautologias.

• A é uma contradição se e só se A(p/V) e A(p/F) são contradições.

O Método de Quine usa estas propriedades, conjuntamente com as equivalências básicas,


para determinar se uma fbf é uma tautologia, uma contradição ou uma contingência. (Trata-se
de um método alternativo à construção das tabelas de verdade.)

Exemplo. Seja A a fórmula (p ∧ q→r) ∧ (p→q)→(p→r). Então:

A(p/F) = (F ∧ q→r) ∧ (F→q)→(F→r)


≡ (F→r) ∧ V→V
≡ V.

Portanto A(p/F) é uma tautologia. A seguir olhemos para

A(p/V) = (V ∧ q→r) ∧ (V→q)→(V→r)


≡ (q→r) ∧ q→r.

Seja B = (q→r) ∧ q→r. Então

B(q/V) = (V→r) ∧ V→r ≡ r ∧ V→r ≡ r→r ≡ V

e
B(q/F) = (F→r) ∧ F→r ≡ F→r ≡ V,
o que mostra que B é uma tautologia. Portanto, A é uma tautologia.

Teste (2 minutos cada). Use o método de Quine em cada caso:

1. Mostre que (p ∨ q→r) ∨ p→(r→q) NÃO é uma tautologia.

2. Mostre que (p→q)→r NÃO é equivalente a p→(q→r).

No nosso dia a dia raciocinamos e tiramos conclusões usando determinadas regras. A lógica
ajuda a compreender essas regras permitindo distinguir entre argumentos correctos e argumen-
tos não correctos. Seguem-se alguns argumentos lógicos, cada um deles com um exemplo e a
respectiva formalização.

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

(1)
1. Se o gato vê o peixe, então o gato apanha o peixe.
2. Se o gato apanha o peixe, então o gato come o peixe.
3. Se o gato vê o peixe, então o gato come o peixe.

1. p→q
2. q→r
3. p→r

(2)
1. Se o João tem mais de 16 anos, então vai ao cinema.
2. O João tem mais de 16 anos.
3. O João vai ao cinema.

1. p→q
2. p
3. q

(3)
1. A Maria vai aos testes ou faz o exame.
2. A Maria não faz o exame.
3. A Maria vai aos testes.

1. p ∨ q
2. ¬q
3. p

Um argumento da forma “De A1 , A2 , . . . , e An deduz-se B”, esquematicamente,

A1
A2
..
.
An
B

diz-se um argumento correcto se A1 ∧ A2 ∧ · · · ∧ An →B for uma tautologia. Neste caso escreve-se

A1 , A2 , . . . , An |= B.

Para indicar que A |= B também se usa A ⇒ B, nomenclatura que faz parte do dia a dia da
escrita matemática.

Um literal é uma variável proposicional ou a sua negação; por exemplo, p e ¬p são literais
(ditos literais complementares).
Uma fbf diz-se uma forma normal disjuntiva (FND) se for da forma C1 ∨ C2 ∨ · · · ∨ Cn , onde
cada Ci é uma conjunção de literais (chamada conjunção fundamental).

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Analogamente, uma fbf diz-se uma forma normal conjuntiva (FNC) se for da forma D1 ∧
D2 ∧ · · · ∧ Dn , onde cada Di é uma disjunção de literais (chamada disjunção fundamental).
Exemplos de formas normais disjuntivas:

¬p

p ∨ ¬q

p ∧ ¬q

(p ∧ q) ∨ (p ∧ ¬q)

p ∨ (p ∧ r)

Exemplos de formas normais conjuntivas:

¬p

p ∧ ¬q

¬p ∨ q

p ∧ (q ∨ r)

Como já observámos, para qualquer variável proposicional p temos V ≡ p ∨ ¬p e F ≡ p ∧ ¬p.


Ambas as formas são FND e FNC. Qualquer fbf tem uma FND e uma FNC. De facto, em
qualquer fbf podemos usar equivalências básicas para obter uma forma normal conjuntiva:

1. “Removem-se” todas as →.

2. Se a expressão contém negações de conjunções ou negações de disjunções, fazem-se desa-


parecer usando as leis de De Morgan, e simplifica-se onde necessário.

3. Agora basta usar as duas propriedades distributivas

p ∨ (q ∧ r) ≡ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)

(p ∧ q) ∨ r ≡ (p ∨ r) ∧ (q ∨ r)

e simplificar onde necessário.

Para obter uma forma normal disjuntiva procede-se de forma análoga, usando agora em 3 as
propriedades
p ∧ (q ∨ r) ≡ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)

(p ∨ q) ∧ r ≡ (p ∧ r) ∨ (q ∧ r).

Teste (2 minutos). Transforme (p ∧ q) ∨ ¬(r→s) numa FND e numa FNC.

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Exemplo. (p→q ∨ r)→(p ∧ s)


≡ ¬(p→q ∨ r) ∨ (p ∧ s) (x→y ≡ ¬x ∨ y)
≡ (p ∧ ¬(q ∨ r)) ∨ (p ∧ s) (¬(x→y) ≡ x ∧ ¬y)
≡ (p ∧ ¬q ∧ ¬r) ∨ (p ∧ s) (¬(x ∨ y) ≡ ¬x ∧ ¬y)) (FND)
≡ ((p ∧ ¬q ∧ ¬r) ∨ p) ∧ ((p ∧ ¬q ∧ ¬r) ∨ s) (∨ é distributiva relativamente a ∧)
≡ p ∧ ((p ∧ ¬q ∧ ¬r) ∨ s) (absorção)
≡ p ∧ (p ∨ s) ∧ (¬q ∨ s) ∧ (¬r ∨ s) (∨ é distributiva relativamente a ∧) (FNC)
≡ p ∧ (¬q ∨ s) ∧ (¬r ∨ s) (absorção) (FNC).

Uma função de verdade (ou função lógica) é uma função que só pode tomar os valores lógicos
V ou F e cujos argumentos também só podem tomar esses valores. Por exemplo,

 V se p é V

f (p, q) = V se p e q são ambas F

F se p é F e q é V

é uma função de verdade.


É claro que toda a função de verdade pode ser representada por uma tabela de verdade. No
exemplo anterior:

p q f (p, q)
V V V
V F V
F V F
F F V

De seguida vamos ver que

Toda a função de verdade é equivalente a uma fbf.

A metodologia a seguir será encontrar uma fbf com a mesma tabela de verdade (podemos
construir quer uma FND quer uma FNC).

Técnica. Para construir uma FND, tendo em conta que a disjunção de um número finito de
fbf’s é V se e só se uma delas o for, basta tomar cada linha da tabela que tenha valor V e construir
uma conjunção fundamental que só seja verdadeira nessa linha. De modo análogo, para construir
uma FNC, basta considerar cada linha que tenha valor F e construir uma disjunção fundamental
que só seja falsa nessa linha.

Exemplo. Na função f acima,

p q f (p, q) Partes FND Partes FNC


V V V p∧q
V F V p ∧ ¬q
F V F p ∨ ¬q
F F V ¬p ∧ ¬q

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Assim, f (p, q) pode ser escrita nas formas:

f (p, q) ≡ (p ∧ q) ∨ (p ∧ ¬q) ∨ (¬p ∧ ¬q) (FND)

f (p, q) ≡ p ∨ ¬q (FNC).

Uma FND para uma fbf A é uma FND plena (forma normal disjuntiva plena) se cada
conjunção fundamental contém o mesmo número de literais, um por cada variável proposicional
de A. Uma FNC para uma fbf A é uma FNC plena (forma normal conjuntiva plena) se cada
disjunção fundamental contém o mesmo número de literais, um por cada variável proposicional
de A.

Exemplo. No exemplo anterior obtivemos uma FND plena e uma FNC plena.

Podemos usar a técnica das funções de verdade para determinar uma FND plena ou uma
FNC plena de qualquer fbf com a excepção das tautologias (não têm uma FNC plena) e das
contradições (não têm uma FND). Por exemplo:

V ≡ p ∨ ¬p, que é uma FND plena e uma FNC, mas não é uma FNC plena,

F ≡ p ∧ ¬p, que é uma FNC plena e uma FND, mas não é uma FND plena.

Os conectivos lógicos que usámos para definir as fbf’s do cálculo proposicional são ¬, ∧, ∨
e →. É evidente que o sı́mbolo → não é absolutamente necessário (pela última lei da tabela
das equivalências básicas): qualquer fbf pode ser substituı́da por outra logicamente equivalente
e onde não figura o sı́mbolo →.
Um conjunto de conectivos lógicos diz-se completo se toda a fbf do cálculo proposicional é
equivalente a uma fbf onde figuram apenas conectivos desse conjunto. É claro que

{¬, ∧, ∨, →}

é completo, por definição.

Exemplos. Cada um dos seguintes conjuntos é um conjunto completo de conectivos:

{¬, ∧, ∨}, {¬, ∧}, {¬, ∨}, {¬, →}, {F, →}.

Teste (2 minutos cada).

1. Mostre que {¬, →} é completo.

2. Mostre que {if -then-else, V, F} é completo.

——————— JI ———————

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Observação final. Como vimos, as tabelas de verdade são suficientes para determinar quando
uma fbf é uma tautologia. Contudo, quando uma proposição tem mais do que duas variáveis e
contém vários conectivos, a tabela de verdade pode começar a ficar muito complicada. Nesses
casos, o método alternativo que vimos de encontrar uma prova de equivalência usando as leis de
equivalência básicas ou ainda uma combinação dos dois (por exemplo, o método de Quine) pode
ser mais prático. Quando usamos uma prova de equivalência, em vez de uma tabela de verdade,
para verificar se duas fbf’s são equivalentes, isso parece de certo modo mais parecido com o
modo como comunicamos habitualmente. Embora não seja necessário raciocinar formalmente
desse modo no cálculo proposicional, há outros tipos de sistemas lógicos onde isso já é necessário
para averiguar da validade das fbf’s pois aı́ as tabelas de verdade não funcionam. Para esses
casos existe uma ferramenta: os sistemas de raciocı́nio formal. Quais são as ideais básicas destes
sistemas?
Um sistema formal consiste em três partes:

(1) Um conjunto (numerável) de sı́mbolos.

(2) Um conjunto de sequências finitas destes sı́mbolos que constituem as chamadas fórmulas
bem formadas.

(3) Um determinado conjunto de fbf’s, chamadas axiomas, que se assumem ser verdadeiras.

(4) Um conjunto finito de “regras de dedução” chamadas regras de inferência que permitem
deduzir uma fbf como consequência directa de um conjunto finito de fbf’s.

Um sistema formal precisa de algumas regras para ajudarem a obter novas fórmulas, as
chamadas regras de inferência. Uma regra de inferência aplica uma ou mais fbf’s, chamadas
premissas, hipóteses ou antecedentes, numa só fórmula, chamada conclusão ou consequente.
Algumas regras de inferência úteis:

MP (modus ponens) MT (modus tollens) Conj (conjunção)


p→q, p p→q, ¬q p, q
∴q ∴ ¬p ∴p∧q

Ad (adição) SD (silogismo disjuntivo) SH (silogismo hipotético)


p p ∨ q, ¬p p→q, q→r
∴p∨q ∴q ∴ p→q

Aqui o conceito crucial é o de dedução. Uma dedução de uma certa conclusão — digamos S
— a partir de premissas P1 , P2 , . . . , Pn é feita passo a passo. Numa dedução, estabelecem-se con-
clusões intermédias, cada uma delas conclusão imediata das premissas e conclusões intermédias
anteriores. Podemos dizer que uma dedução consiste numa sucessão de afirmações, que são pre-
missas ou conclusões intermédias, e que termina, ao fim de um número finito de passos, quando
se obtém a conclusão S.

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Cada passo de dedução é correcto, i.e., não oferece dúvidas quanto à validade de cada con-
clusão intermédia, em consequência da validade das premissas e das conclusões intermédias
anteriores.
Uma dedução de uma afirmação S a partir de premissas P1 , P2 , . . . , Pn é uma demonstração
passo a passo que permite verificar que S tem que ser verdadeira em todas as circunstâncias em
que as premissas sejam verdadeiras. Uma dedução formal assenta num conjunto fixo de regras
de dedução e tem uma apresentação rı́gida — um pouco à semelhança dos programas escritos
numa dada linguagem de programação.
Seja C um conjunto de fbf’s e seja P uma fbf em S. Diz-se que P é dedutı́vel a partir de C
em S, e escreve-se C `S P (ou apenas C ` P se não houver dúvidas sobre o sistema S a que
nos referimos) se existir uma sequência finita de fbf’s, P1 , P2 , . . . , Pn tais que:

• Pn = P .

• Para cada i ∈ {1, . . . , n}, Pi é um axioma de S ou uma fbf em C ou uma consequência dos
Pi ’s anteriores através de aplicação das regras de inferência.

A sequência dos Pi ’s diz-se uma prova formal de P a partir de C. Se P é dedutı́vel de um


conjunto vazio escreve-se `S P . Neste caso, P diz-se um teorema de S.

Exemplo. A→(B→C), A→B, A ` C.

Prova: 1. A→(B→C) premissa


2. A→B premissa
3. A premissa
4. B MP(2,3)
5. B→C MP(1,3)
6. C MP(4,5) QED.

Leituras suplementares:

• James Hein, Discrete Structures, Logic and Computability, Secção 6.3.

• Jon Barwise e John Etchemendy, Language, Proof and Logic, Capı́tulo 6.

23
Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Apêndice: linguagens de primeira ordem

O cálculo proposicional providencia ferramentas adequadas para raciocinarmos sobre fbf’s que
são combinações de proposições. Mas uma proposição é uma sentença tomada como um todo o
que faz com que o cálculo proposicional não sirva para todo o tipo de raciocı́nio que precisamos
de fazer no dia a dia. Por exemplo, no argumento seguinte é impossı́vel encontrar no cálculo
proposicional um método formal para testar a correcção da dedução sem uma análise mais
profunda de cada sentença:

• Todos os alunos de Engenharia Informática têm um computador portátil.

• Sócrates não tem um computador portátil.

• Então Sócrates não é um aluno de Engenharia Informática.

Para discutir e analisar este argumento precisamos de partir as sentenças em partes. As


palavras “Todos”, “têm” e “não” são relevantes para a compreensão do argumento. A afirmação
“x tem um computador portátil” não é uma proposição porque o seu valor de verdade não é
absoluto, depende de x. De um ponto de vista gramatical, a propriedade “ter um computador
portátil” é um predicado (ou seja, a parte da frase que enuncia uma propriedade do sujeito). Do
ponto de vista matemático, um predicado é uma relação (unária, binária, ternária, etc.). Por
exemplo, “ter um computador portátil” é um predicado unário que podemos designar por CP ;
então CP (x) significa que x tem um computador portátil (por exemplo, acima afirma-se que
¬CP (Socrates)).
Portanto, para analisar argumentos deste tipo precisamos de um cálculo de predicados, que
inclua quantificadores (existencial e total). Por exemplo, se quisermos representar formalmente
a afirmação

Existe um conjunto de números naturais que não contém o 4

precisamos de um quantificador existencial:

∃S(S é um subconjunto de N e ¬S(4)).

Podemos continuar com a formalização pois uma afirmação do tipo “A é um subconjunto de


B” pode ser formalizada como ∀x(A(x)→B(x)). Então podemos escrever a afirmação inicial na
forma:

∃S(∀x(S(x)→N(x)) ∧ ¬S(4)).

Costuma-se classificar o cálculo proposicional como uma lógica de ordem zero. Porquê?
Porque não permite que os conjuntos sejam quantificados e que sejam elementos de outros
conjuntos. O cálculo de predicados já é uma lógica de ordem superior: permite que os conjuntos
sejam quantificados e que sejam elementos de outros conjuntos. De que ordem?
Diz-se que um predicado tem ordem 1 se todos os seus argumentos são termos (isto é, cons-
tantes, variáveis individuais ou valores de funções). Caso contrário, diz-se que tem ordem n + 1,
onde n é a maior ordem entre os seus argumentos que não são termos. Por exemplo, em

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

S(x) ∧ T (S), o predicado S tem ordem 1 e o predicado T tem ordem 2. Em p(f (x)) ∧ q(f ), p
tem ordem 1, f tem ordem 1 e q tem ordem 2.
Uma lógica de ordem n é uma lógica cujas fbf’s têm ordem ≤ n.
Após termos estudado um pouco de cálculo proposicional, o passo seguinte, que não efectua-
remos, seria estudar uma lógica de primeira ordem, nomeadamente o chamado cálculo de pre-
dicados de primeira ordem. Em vez disso aprenderemos, praticando, uma linguagem simbólica
simples de primeira ordem, trabalhando com o Tarski World 3 .
Uma linguagem de primeira ordem serve para descrever mundos da seguinte maneira:

• Cada nome deve designar um objecto.

• Nenhum nome pode designar mais do que um objecto.

• Um objecto pode ter vários nomes, mas também pode não ter nome.

As constantes são sı́mbolos referentes a objectos previamente fixados.

Lı́ngua Portuguesa LPO


nome constante (designação, termo)

Os sı́mbolos de predicado ou relacionais são sı́mbolos que designam propriedades dos objectos
ou relações entre objectos.
Por exemplo, podemos usar o sı́mbolo EEI, um sı́mbolo de predicado unário (ou seja, de
aridade um), para designar, no universo dos alunos deste curso, ser Estudante de Engenharia
Informática. Outro exemplo: o sı́mbolo <, um sı́mbolo de predicado binário (ou seja, de aridade
dois), representa, no universo dos números reais, ser menor do que.

Lı́ngua Portuguesa LPO


O Pedro é estudante de Eng. Inf. EEI(P edro)
2 é menor que 1 2<1

Portanto, numa linguagem de primeira ordem, a cada sı́mbolo de predicado está associado
exactamente um número natural — o número de argumentos que ocorre no predicado, que se
designa por aridade. Além disso, cada sı́mbolo de predicado ou relacional é interpretado por
uma propriedade bem determinada ou uma relação com a mesma aridade que o sı́mbolo.
Uma sentença atómica é uma sequência finita de sı́mbolos, escolhidos entre as constantes, os
sı́mbolos de predicados, os parênteses “(” e “)” e a vı́rgula, da forma

P (c1 ), T (c1 , c2 ), R(c1 , c2 , c3 )

onde c1 , c2 , c3 são constantes e P, T, R são sı́mbolos de predicados num vocabulário fixado.


3 Consulte o fascı́culo Usando Tarksi.

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Exemplos.

Lı́ngua Portuguesa LPO


A Rita é estudante de Comunicações e Multimédia CM (Rita)
O Nuno é mais velho do que o Pedro M aisV elho(N uno, P edro)

A notação usual é a prefixa: o sı́mbolo de predicado escreve-se à esquerda. Excepções: com


o sı́mbolo de igualdade = utiliza-se a notação habitual a = b; com os sı́mbolos <, > também se
utiliza a notação habitual: 1 < 2, 2 > 1.
Portanto, com algumas excepções (predicados =, <, >), numa linguagem de primeira or-
dem as sentenças atómicas são expressões que se obtêm escrevendo um sı́mbolo de predicado
de aridade n, seguido de n constantes, delimitadas por parênteses e separadas por vı́rgulas:
P (c1 , c2 , . . . , cn ). As excepções (=, <, >) podem ser estendidas a outros sı́mbolos. Note que a
ordem em que as constantes ocorrem é fundamental.
Especifica-se uma linguagem de primeira ordem fixando as constantes, os sı́mbolos de pre-
dicado e os sı́mbolos funcionais. Cada sı́mbolo de predicado e cada sı́mbolo funcional tem uma
aridade bem determinada. Uma linguagem de primeira ordem pode não incluir sı́mbolos fun-
cionais, mas necessita sempre de sı́mbolos relacionais. No entanto, em vários exemplos, o único
sı́mbolo relacional considerado é o da igualdade =.
As linguagens de primeira ordem podem assim distinguir-se entre si através das respectivas
constantes, sı́mbolos de predicado e sı́mbolos funcionais. Partilham os conectivos ¬, ∧, ∨, → e
↔ e os quantificadores ∀, ∃.

Quando se traduz uma frase em Lı́ngua Portuguesa para uma sentença numa linguagem de
primeira ordem, tem-se em geral uma linguagem previamente definida, em que se conhecem
à partida as constantes, os sı́mbolos relacionais e (caso existam) os sı́mbolos funcionais. No
entanto, há situações em que há que decidir quais as constantes, os sı́mbolos relacionais e (caso
existam) os sı́mbolos funcionais adequados para expressar o que se pretende.

Exemplo. Consideremos a frase O Nuno explicou o Tarski World ao Pedro.

(1) Tomando o sı́mbolo de predicado binário ExplicouT arskiW orld podemos escrever

ExplicouT arskiW orld(N uno, P edro).

(2) Tomando o sı́mbolo de predicado ternário Explicou podemos escrever

Explicou(N uno, T arskiW orld, P edro).

O poder expressivo da linguagem (2) é maior do que o da linguagem (1). De facto, con-
siderando a frase A Rita explicou o Boole ao Miguel, esta pode ser traduzida usando o sı́mbolo
de predicado ternário Explicou — terı́amos Explicou(Rita, Boole, M iguel) — mas não pode
ser traduzida usando o sı́mbolo de predicado ExplicouT arskiW orld. O sı́mbolo de predi-
cado Explicou é mais versátil do que os sı́mbolos de predicado ExplicouT arskiW orld ou
ExplicouBoole.

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

Para considerar as frases A Rita explicou o Boole ao Miguel no sábado e No domingo, o Miguel
explicou o Boole ao João podemos considerar um predicado quaternário Explicou(x, y, z, w) —
que se lê “x explicou y a z no w” — e traduzir as duas frases consideradas para LPO:

Explicou(Rita, Boole, M iguel, sábado)

Explicou(M iguel, Boole, João, domingo).

Os sı́mbolos funcionais são sı́mbolos que permitem obter outras designações para objectos.

Exemplos. (1) Jorge é pai do Nuno. Supondo que a afirmação é verdadeira, Jorge e pai(N uno)
são duas designações diferentes para o mesmo indivı́duo; pai é um sı́mbolo funcional unário.
(2) As expressões 3 e ((1 + 1) + 1) são duas designações diferentes do mesmo número natural; +
é um sı́mbolo funcional binário.

As expressões 1, (1 + 1) e ((1 + 1) + 1) são termos. A definição de termo é a seguinte:

• Constantes são termos.

• Se F é um sı́mbolo funcional de aridade n e t1 , t2 , . . . , tn são n termos, então a expressão


F (t1 , t2 , . . . , tn ) é um termo.

Numa linguagem de primeira ordem com sı́mbolos funcionais

• Termos complexos obtêm-se colocando um sı́mbolo funcional n-ário antes de um n-tuplo de


n termos. Excepção: certos sı́mbolos funcionais binários escrevem-se entre termos, como
por exemplo + (por exemplo, (1 + 1)).

• Termos usam-se como nomes ou designações na formação de sentenças atómicas.

Exemplos de linguagens de primeira ordem.


(1) A Linguagem de Primeira Ordem da Teoria de Conjuntos. Na linguagem de primeira
ordem da Teoria de Conjuntos tem-se apenas dois sı́mbolos de predicados, ambos binários, = e
∈. As sentenças atómicas nesta linguagem são da forma a = b (lê-se “a é igual a b”) e a ∈ b
(lê-se “(o elemento) a pertence ao (conjunto) b”), sendo a e b constantes individuais.
Por exemplo, supondo que a designa 2, b designa o conjunto N dos números naturais e c
designa o conjunto dos números ı́mpares, tem-se:

a∈a sentença falsa


a∈b sentença verdadeira
a∈c sentença falsa
b=c sentença falsa.

(2) A Linguagem de Primeira Ordem da Aritmética. A linguagem de primeira ordem da


Aritmética contém duas constantes 0 e 1, dois sı́mbolos relacionais binários = e < e dois sı́mbolos
funcionais binários + e ×. São termos desta linguagem 0, 1, (1 + 1), ((1 + 1) + 1), (0 × (1 + 1)), . . .
Os termos na aritmética de primeira ordem formam-se segundo as regras:

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Estruturas Discretas 1.1. Lógica elementar

• As constantes 0, 1 são termos.

• Se t1 e t2 são termos, também são termos as expressões (t1 + t2 ) e (t1 × t2 ).

• São termos apenas as expressões que possam ser obtidas por aplicação sucessiva dos passos
anteriores um número finito de vezes.

As sentenças atómicas na aritmética de primeira ordem são as expressões que se podem


escrever usando os termos (no lugar das constantes) e os sı́mbolos relacionais =, <:

• Se t1 e t2 são termos, são sentenças atómicas as expressões t1 = t2 e t1 < t2 .

Com o Tarski World trabalharemos com linguagens de primeira ordem simples. Aı́ podemos
construir mundos tridimensionais habitados por blocos geométricos de diversos tipos e tamanhos,
e usar uma linguagem de primeira ordem para descrever esses mundos e testar o valor lógico
(verdadeiro ou falso) de sentenças de primeira ordem elaboradas sobre esses mundos.

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