Psicopedagogia e Tics: Luciane Magalhães Corte Real Tania Beatriz Iwaszko Marques
Psicopedagogia e Tics: Luciane Magalhães Corte Real Tania Beatriz Iwaszko Marques
Psicopedagogia e Tics: Luciane Magalhães Corte Real Tania Beatriz Iwaszko Marques
Psicopedagogia e
TICs
Luciane Magalhães Corte Real
Tania Beatriz Iwaszko Marques
Organizadoras
Reitor
Rui Vicente Oppermann
Vice-Reitora e Pró-Reitora
de Coordenação Acadêmica
Jane Fraga Tutikian
EDITORA DA UFRGS
Diretor
Alex Niche Teixeira
Conselho Editorial
Álvaro Roberto Crespo Merlo
Augusto Jaeger Jr.
Carlos Pérez Bergmann
José Vicente Tavares dos Santos
Marcelo Antonio Conterato
Marcia Ivana Lima e Silva
Maria Stephanou
Regina Zilberman
Tânia Denise Miskinis Salgado
Temístocles Cezar
Alex Niche Teixeira, presidente
Série Ensino, Aprendizagem e Tecnologias
Psicopedagogia e
TICs
Luciane Magalhães Corte Real
Tania Beatriz Iwaszko Marques
Organizadoras
© dos autores
1ª edição: 2017
Direitos reservados desta edição:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Coordenação da Série:
Laura Wunsch, Gabriela Trindade Perry, Tanara Forte Furtado e Marcello Ferreira
Capa: Ely Petry
Projeto gráfico: Editora da UFRGS
Editoração eletrônica: Tiago Dillenburg
Revisão: Equipe de Revisão da Série Ensino, Aprendizagem e Tecnologias
Curso de Especialização em Psicopedagogia e Tecnologias da Informação e Comunicação —
modalidade a distância
Coordenação geral: Profa. Dra. Luciane Magalhães Corte Real
Coordenação pedagógica: Profa. Dra. Tania Beatriz Iwaszko Marques
Equipe multidisciplinar:
Profa. Dra. Glaucia Helena Motta Grohs
Profa. Dra. Jaqueline Santos Picetti
Profa. Dra. Luciane Magalhães Corte Real
Profa. Dra. Tania Beatriz Iwaszko Marques
Prof. Mestre Paulo Francisco Slomp
Profa. Dra. Silvana Corbellini
Especialista Jocineide Rodrigues Hallberg
A grafia desta obra foi atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990,
que entrou em vigor no Brasil em 1º de janeiro de 2009.
P974 Psicopedagogia e TICs / organizadores Luciane Magalhães Corte Real [e] Tania Beatriz
Iwaszko Marques; coordenado pela SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2017.
187 p.: il. ; 16x23cm
(Série Ensino, Aprendizagem e Tecnologias)
Inclui quadros e tabelas.
Inclui Referências.
1. Educação. 2. Psicopedagogia. 3. Psicopedagogia – Tecnologias da informação e
comunicação. 4. Psicopedagogia – Tecnologias – UFRGS. 5. Psicopedagogia – Ensino
superior. 6. Ambiente virtual de aprendizagem – Interações. 7. PBworks – Educação
a Distância. 8. Facebook – Educação a Distância. 9. Tutori a – Educação a Distância
– Século XXI. 10. Relação professor-aluno. 11. Adolescência – Escola - Construção
– Reconstrução. I. Real, Luciane Magalhães Corte. II. Marques, Tania Beatriz Iwaszko
III. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Secretaria de Educação a Distância.
IV. Série.
CDU 37.015. 3
CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.
(Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável CRB10/979)
ISBN 978-85-386-0350-4
Sumário
Apresentação������������������������������������������������������������������������������������ 7
A trajetória do curso:
caminhar em várias direções ��������������������������������������������������������9
Silvana Corbellini e Luciane Magalhães Corte Real
Investigações em psicopedagogia
e tecnologias na UFRGS��������������������������������������������������������������� 49
Luciane Magalhães Corte Real
Possibilidades de construção/reconstrução
na/da adolescência na escola���������������������������������������������������163
Gláucia Helena da Motta Grohs e Luciane Magalhães Corte Real
As Organizadoras
A trajetória do curso: caminhar em 9
......
várias direções1
Silvana Corbellini2
Luciane Magalhães Corte Real3
INTRODUÇÃO
1 Adaptado de: REAL, L. M. C., CORBELLINI, S., PALHARES, J. P., MARTINS, A. O Currículo em construção em
um curso de especialização on-line. In: Simpósio Internacional de Educação a Distância SIED 2014 e Encontro de
Pesquisadores em Educação a Distância EnPED 2014, São Paulo, Anais do SIED, 2014. ISSN 2316-8722. Disponível
em: <http://www.sied-enped2014.ead.ufscar.br/ojs/index.php/2014/article/view/794/299>.
2 Professora do Curso de Especialização de Psicopedagogia e Tecnologias da Informação e Comunicação na modalidade
a distância (UFRGS). Doutora em Educação. E-mail: silvanacorbellini@gmail.com.
3 Professora da Faculdade de Educação da UFRGS. Doutora em Informática na Educação. Coordenadora do Curso de
Especialização em Psicopedagogia e TIC. E-mail: luciane.real@ufrgs.br.
10 e currículos, que precisam ser adequados constantemente em uma sociedade
......
fluida. Trabalhar com os interesses dos alunos, ainda mais quando o foco são
cursos de especialização, torna-se um requisito para estas formações, pois os
alunos buscam conhecimentos específicos, visando a qualificar suas práticas e,
desta maneira, o direcionamento de um curso precisa de reformulação para
atender a essas demandas. Paviani (2005, p. 48) afirma:
Com base nesses princípios é que este curso, que traz uma proposta ino-
vadora ao aliar a prática da psicopedagogia ao uso das tecnologias, também se
propôs a modificar sua estrutura curricular, no próprio percurso, objetivando
responder aos interesses que os alunos demonstravam em determinados as-
suntos, propiciando melhores encadeamentos dos conteúdos disponibilizados.
As especializações, de uma forma geral, são cursos que pretendem res-
ponder a demandas específicas de profissionais de determinadas áreas. Mesmo
que as aprendizagens ocorram nas mais variadas situações, como nas comuni-
dades virtuais de aprendizagens, nas pesquisas via web e em congressos, as insti-
tuições ainda são as maiores responsáveis pela educação formal, respondendo e
se responsabilizando pelos conteúdos disciplinares básicos que compõem uma
área de conhecimento.
Assim, as discussões realizadas entre pesquisadores e docentes na criação
de corpus teóricos, de ciências e de limitações de cada área sofrem influências
do tempo histórico em que vivemos. Hoje, as alterações dos conhecimentos e
as necessidades que os profissionais enfrentam no seu dia a dia requerem uma
maior flexibilidade das instituições, inclusive no que tange ao aspecto curricular 11
......
de seus cursos. Como refere Paviani (2005), “o desenvolvimento da ciência
moderna é acompanhado pela permanente multiplicação de disciplinas, de de-
partamentos e currículos acadêmicos” (p. 34). Afirma, ainda, que a história
da ciência e a epistemologia não conseguem dar conta da complexidade que
envolve as teorias e os métodos científicos.
A sociedade do conhecimento trouxe consigo esperanças de novas apren-
dizagens e de novas formas de ensinar. O uso das tecnologias acenou com di-
versas possibilidades; um universo a ser explorado inclusive na educação, mas a
realidade das nossas instituições ainda se encontra à margem dessas inovações.
Os motivos apontados para isto são de diversas ordens, tais como: falta de
formação dos docentes, falta de dispositivos nas escolas, falta de tempo, entre
outros. Neste trabalho, elencamos dois aspectos que, acreditamos, têm impli-
cações para a alteração dessa situação: a concepção epistemológica que sustenta
a prática docente e o engessamento das estruturas curriculares.
A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, com ênfase no estudo de
caso (YIN, 2010). O referencial teórico utilizado foi a teoria proposta por Jean
Piaget, pois se acredita que esta teoria fornece os subsídios necessários para
fundamentar a presente proposta de trabalho e sustenta a prática construtivista
dos docentes do curso.
A expectativa de modificações que a sociedade impõe sobre a educação
precisa ser pensada para que possa ser atendida, pois esta é uma de nossas
funções. Nesse sentido, o presente trabalho retrata uma experiência vivenciada
nesse curso. Tal experiência priorizou a flexibilização do currículo, que ocorreu
durante a realização do curso, com vistas a adequá-lo às demandas dos alunos.
Dessa forma, com o objetivo de qualificar o curso, a estrutura curricular e as
atividades que tinham sido predeterminadas sofreram mudanças.
12 METODOLOGIA
......
[...] a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que especificamente,
o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado.
Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o
simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força
de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no 13
......
meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo
nem consciência e, muito menos, pensamento. (BECKER, 1993, p. 88)
Carga
Disciplinas
horária
Eixo 1: Introdução à EAD
Módulo I Introdução à EAD 15h
Módulo II Educação: Aprendizagem Desenvolvimento e 75h
Problemas de Aprendizagem
Carga
Disciplinas
horária
Eixo 1: Introdução à EAD
Módulo I Introdução à EAD 15h
Módulo II Fundamentos Gerais da Psicopedagogia 75h
CONSIDERAÇÕES FINAIS
[...] toma como elemento fundante para esta construção o conceito de currículo
enquanto uma construção social que se desenvolve na ação, em determinado
tempo, lugar e contexto, com o uso de instrumentos culturais presentes nas
práticas sociais. (ALMEIDA e SILVA, 2011, p. 08).
REFERÊNCIAS
BECKER, Fernando. O que é Construtivismo. São Paulo: FDE, 1993. (Ideias, 20).
MACEDO, Lino de. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
______. Para onde vai a educação? 16. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.
revisão bibliográfica
INTRODUÇÃO
DEFINIÇÕES
1 Professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da UFRGS. Doutora em Educação. E-mail: tania-
bimarques@bol.com.br.
2 Professora da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Doutora em Educação. E-mail: jaquelinepicetti@gmail.
com.
28 dicionário, significa “teoria e ciência da educação e do ensino”. Psicopedagogia
......
é definida, na mesma obra, como sendo a “aplicação da psicologia experimental
à pedagogia”.
Ao direcionar a busca dessas definições para o campo teórico, encontram-se
as palavras da psicopedagoga Leda Barone (1987), que afirma que o problema
específico da psicopedagogia diz respeito à “existência de pessoas normalmente
desenvolvidas que não aprendem, embora colocadas numa situação normal de
escolaridade” (BARONE, 1987, p. 17).
A ideia acima é complementada pela de outra psicopedagoga, Edith Ru-
binstein (1987), que diz que o objetivo da psicopedagogia é “compreender
o indivíduo enquanto aprendiz. Como alguém cheio de dúvidas, fazendo es-
colhas e tomando decisões a cada passo do longo caminho percorrido em vida”
(RUBINSTEIN, 1987, p. 15).
A psicopedagogia pode ser definida como uma área de estudo sobre o
processo de aprendizagem, assim como suas dificuldades, a partir de uma ação
profissional que engloba, integra e sintetiza vários campos de conhecimento
(SCOZ, 1992). Trata-se de uma área que visa a relacionar a ciência pedagógica,
psicológica, fonoaudiológica, neuropsicológica, psicolinguística, entre outras,
na busca de uma compreensão integradora da aprendizagem (KIGUEL, 1987).
Assim, a partir dessas definições, pode-se reiterar a ideia de que a psico-
pedagogia é uma área de conhecimento que busca compreender e atuar sobre
os processos de aprendizagem, bem como sobre o que os dificulta, a partir da
relação de diferentes campos teóricos.
Além das áreas citadas acima, Barone (1987) inclui outras quando rela-
ciona áreas importantes para a psicopedagogia: “filosofia, sociologia, psicologia,
ciências médicas e [...] psicolinguística. [...]. Contribuem, também, para a ação
do educador, as descobertas no campo das ciências biológicas, principalmente
da neurologia” (p. 18).
A maioria dos profissionais que desenvolve o trabalho psicopedagógico,
tanto preventivo quanto curativo, provém das áreas da psicologia, da pedagogia
e da fonoaudiologia. Essa formação, em nível de graduação, é complementada
na realização de cursos de especialização lato sensu em psicopedagogia. Esses
cursos geralmente têm seu enfoque na aprendizagem, estudando-a sob seus
aspectos evolutivos normais e patológicos, a partir de fundamentos neuroló-
gicos, psicológicos e cognitivos e relacionando-os à influência do meio como a
família, a escola e a sociedade (KIGUEL, 1987).
Bossa (1996a), ao introduzir o livro Avaliação psicopedagógica da criança
de zero a seis anos, salienta a importância da relação entre a Psicanálise e a
Epistemologia Genética na fundamentação teórica da psicopedagogia e lembra
que essa “articulação [...] fica evidente quando se trata de observar os problemas
de aprendizagem, pilar da teoria psicopedagógica”. E complementa essa ideia,
afirmando que “a clínica tem se constituído em eficiente laboratório da teoria”
(p. 8). Bossa (1996a) também frisa a importância, para o desenvolvimento do
trabalho psicopedagógico, do conhecimento do “conjunto de leis que regem
o processo de construção do conhecimento em geral, bem como os inerentes
à construção de cada área do conhecimento em particular” (p. 9). A autora
afirma que é só esse conhecimento aprofundado dos processos normais de
construção do conhecimento que permite que se possa distinguir um processo
normal daquele que é considerado sintomático. Complementa-se com a ideia
30 de que esse conhecimento também possibilita a construção de um trabalho
......
psicopedagógico que busca a superação das dificuldades de aprendizagem.
[…] toda vez que um profissional da pedagogia realiza esta ação levando em
conta aspectos psicológicos nela envolvidos, comporta-se como um psicopeda-
32 gogo. Por outro lado, toda vez que um profissional da psicologia realiza esta ação
......
levando em conta aspectos pedagógicos, comporta-se como um psicopedagogo
(MACEDO, 1982, p. VIII).
ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO
[...] não basta que haja apenas a identidade com o conhecimento, o aprendiz
necessita também de suas estruturas cognitivas para que através delas possa ter
acesso ao conhecimento. Compete-nos como profissionais da área da apren-
dizagem contribuir para que o aprendiz tenha melhores condições para utilizar
suas estruturas cognitivas (RUBINSTEIN, 1992, p. 105).
Falando sobre a criança dos sete aos onze anos, Bossa (1996b) lembra que 35
......
nessa faixa etária a relação da criança com o adulto é mediada por uma tarefa,
na qual se inclui a participação do adulto “quer seja incluindo-se no jogo, quer
seja interpretando a conduta da criança ao jogar. Assim, um procedimento
muito eficiente na avaliação psicopedagógica” é o jogo (p. 12-3).
Na continuação, Bossa tece comentários interessantes a respeito da
importância do jogo no diagnóstico psicopedagógico, afirmando que, dessa
forma, temos acesso ao mundo interno da criança, constituindo-se o jogo no
equivalente às palavras do adulto. “A observação, bem como a participação na
brincadeira da criança, permite-nos reconhecer a normalidade no processo de
desenvolvimento” (Idem, p.13). Durante o jogo, pode-se identificar a maneira
como o sujeito constrói estratégias para a solução de problemas, suas capaci-
dades de ordenar, seriar, classificar, e, assim, a maneira como compreende e
utiliza as informações que recebe.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
MACEDO, Lino de. Prefácio. In: SCOZ, Beatriz Judith Lima et alii (Orgs.).
Psicopedagogia: contextualização, formação e atuação profissional. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1992. p. I-VIII.
INTRODUÇÃO
1 Adaptado de: REAL, Luciane M. C.; CORBELLINI, Silvana. Psicopedagogia e TICs: intervenções com alunos com
dificuldades de aprendizagens e Necessidades Educativas Especiais. In: 4° Congreso Internacional Multidisciplinar de
Investigacion Educativa. #CIMIE 2015, Valencia.
2 Professorada Faculdade de Educação da UFRGS. Doutora em Informática na Educação. Coordenadora do Curso de
Especialização em Psicopedagogia e TIC. E-mail: luciane.real@ufrgs.br.
3 Professora do Curso de Psicopedagogia e Tecnologias da Informação e Comunicação na modalidade a distância
(UFRGS). Doutora em Educação. E-mail: silvanacorbellini@gmail.com.
40 com dificuldades de aprendizagem?”.
......
O objetivo foi investigar como as TICs podem ser instrumentos auxi-
liares no processo de ensino-aprendizagem em instituições educativas com
alunos com dificuldades de aprendizagem e necessidades educativas especiais.
Para tal fim, foram estudados seis casos de alunos e/ou turma de alunos que
apresentavam crianças com dificuldades de aprendizagem, as tecnologias que
foram utilizadas e os resultados alcançados. O marco teórico inclui questões
relativas ao campo da Psicopedagogia, aprendizagem e TICs. Os estudos reali-
zados mostraram que o uso das TICs é um recurso valioso para o trabalho nas
escolas, promovendo novas formas de intervenções que favorecem o processo
de ensino-aprendizagem.
MARCO TEÓRICO
PRÁTICAS EFETUADAS
Seguem alguns casos que serviram para sustentar a ideia da aliança da tec-
nologia com a Psicopedagogia.
1 – Caso de aluno com dificuldades de aprendizagem, com traços de trans-
torno obsessivo compulsivo, avaliado com inteligência limítrofe e diagnóstico de
hiperatividade, funcionando aquém de seus potenciais. Foi realizado um plane-
jamento de intervenções psicopedagógicas no qual incluíram-se jogos e quebra-
-cabeças digitais, operados a partir de um olhar diferenciado da psicopedagogia.
2 – Caso de uma aluna de 3° ano de ensino fundamental no qual utili-
zaram-se jogos e as TICs para superação de dificuldades matemáticas. A criança
apresentava dificuldades na composição das quantidades e na realização das
quatro operações básicas; também apresentava resistência aos registros escritos
para representar a maneira como realizava as atividades matemáticas.
3 – Caso no qual a intervenção psicopedagógica com as TICs foi o ins-
trumento principal utilizado com um aluno do 4º ano do ensino fundamental
44 de uma escola pública de Porto Alegre/RS. O aluno apresentava queixa de difi-
......
culdades de aprendizagem na leitura e na escrita. Tais dificuldades foram sendo
superadas com o uso de jogos de palavras e história em quadrinhos.
4 – Investigação das possibilidades de diálogo do Laboratório de
Aprendizagens com práticas de Psicopedagogia no âmbito escolar teve por
objetivo integrar e socializar crianças que apresentam dificuldades de apren-
dizagem. Considerou-se que o Laboratório deve ser um espaço no qual o psi-
copedagogo pode criar estratégias adequadas para as aprendizagens, utilizando
as TICs como ferramentas.
5 – Estudo realizado sobre um trabalho desenvolvido a partir de um livro
base, com uma turma de 3° ano do ensino fundamental de uma escola municipal
de Porto Alegre, que teve como objetivo investigar a escrita dos alunos na sala
de aula e no laboratório de informática. Tal estudo mostrou que as atividades
oportunizadas permitiram evoluções no que se refere aos níveis de escrita e o
desenvolvimento da leitura em muitas práticas de letramento.
6 – Uma pesquisa sobre aprendizagens colaborativas no uso de portfólios
virtuais na iniciação à docência representou uma experiência na qual os registros
dos docentes em formação passaram a ser efetuados em portfólios digitais. Essa
pesquisa apontou para a dificuldade que a literatura acusa: falta de formação dos
docentes no que tange ao uso das TICs. Além disso, trouxe resultados anima-
dores, mostrando o quanto o uso das tecnologias no universo da formação pode
contribuir para a qualificação que os tempos atuais têm requerido dos docentes.
CONTRIBUIÇÕES
O ponto forte deste trabalho foi a comprovação da eficácia do uso das di-
versas tecnologias como ferramentas auxiliares no processo de ensino-aprendi-
zagem dos alunos com dificuldades de aprendizagem. Constatou-se que é neces-
sário um planejamento específico para cada aluno, respeitando as singularidades,
visando à superação de suas diferentes dificuldades cognitivas e afetivas. A pes-
quisa verificou que os atendimentos realizados com os alunos contribuíram para
o processo de inclusão em suas respectivas turmas do ensino regular.
Um ponto importante que se destaca diz respeito à necessidade de fle-
xibilização dos recursos educacionais, das ferramentas tecnológicas, dos pla-
nejamentos do processo de ensino-aprendizagem, procurando contemplar a
46 diversidade existente na escola. A formação dos profissionais que atuam na
......
educação requer coerência com a sociedade atual, necessitando uma formação
ampla, na qual se incluem os recursos tecnológicos, visando à sua utilização em
prol de um trabalho inclusivo no âmbito escolar.
Ao explorar as múltiplas possibilidades de uso das TICs no contexto da
educação, mostra-se um campo profícuo para investigações em prol da sua
qualidade. Os objetivos da investigação alcançados podem ajudar os professores
e a equipe pedagógica das escolas a desafiarem a aprendizagem de seus alunos.
REFERÊNCIAS
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho. 3. ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 1978.
tecnologias na UFRGS
REFERÊNCIAS
de cooperação
Silvana Corbellini1
INTRODUÇÃO
O MÉTODO DE COOPERAÇÃO
Piaget (1998) traz a cooperação como uma superação das relações hete-
rônomas, mas sem que sejam substituídas totalmente. Além disso, trata a coo-
peração como um assunto, tanto moral como intelectual. Enfatiza o “método
da cooperação” comparando-o a uma atitude científica, a qual requer a des-
centração do ponto de vista do sujeito para conhecer os demais e coordená-los;
mas alerta para a manutenção do ponto de vista próprio, como uma garantia
de se manter próximo ao real, uma vez que este é particular. Montangero e
Maurice-Naville (1998) explicam que a noção de descentração dá conta da
direção do desenvolvimento cognitivo. A princípio, a atividade cognitiva en-
contra-se submetida à ação própria e ao ponto de vista imediato, sendo que,
posteriormente, se libera de forma progressiva de seus limites, o que ocorre
devido à descentração, processo fundamental do desenvolvimento cognitivo.
O “método da cooperação” é mencionado como “lógica das relações”, 61
......
sendo esta lógica produto deste método. Piaget explica o “método da coope-
ração” como um instrumento da cooperação e apresenta três condições para que
se efetive: (1) desfazer-se do egocentrismo intelectual e moral; (2) libertar-se das
coerções sociais; e (3) operar no método da reciprocidade.
Camargo e Becker (2012) caracterizam o “método da cooperação” por
meio de duas tendências: a de aceitar o real como parece ao sujeito e a de corrigir
o real. É necessária a coordenação das diferentes perspectivas, compreendendo
que o ponto de vista próprio é apenas mais um possível entre os demais e que
não pode ser visto como absoluto e nem pode ser renunciado por completo, mas
deve ser relacionado aos demais na busca da manutenção da lógica. Salientamos
que uma proposição não pode ser ignorada, deve ser considerada a cada nova
fundamentação de novas proposições: é a lógica da reciprocidade ou a “lógica das
relações”. Essa lógica consiste em corrigir e superar o ponto de vista imediato,
para situá-lo num sistema de conjunto capaz de coordenar esta perspectiva parti-
cular com um número crescente de visões diferentes (PIAGET, 1998).
O aprender a aprender requer que as interações sejam baseadas em regras
e em respeito mútuo entre todos que fazem parte do coletivo de aprendizagem
e que interagem para estabelecer trocas, como as operações do tipo correspon-
dência, complementaridade e/ou reciprocidade. Então, a cooperação é o con-
junto de interações entre os indivíduos que desejam alcançar o mesmo objetivo.
Frisamos que, para Piaget (1973), a cooperação tem um importante papel
na função social: conduz à autonomia, não somente a cognitiva, como também a
moral. O produto da cooperação advindo desse método é a “autonomia” e com-
preende o respeito mútuo, que é o ponto de partida da cooperação. A cooperação
é uma construção, não é inata, e requer a superação do egocentrismo, ou seja,
requer que o sujeito supere sua lógica individual. Cooperar – operar com – é o
estabelecimento de trocas equilibradas entre os sujeitos. Implica a existência de
espaço para que as trocas ocorram, de forma que cada um consiga dispor seus
pontos de vista, alternar posições, argumentar e contra-argumentar ideias, isto é,
descentrar-se, saindo de “si mesmo” (PIAGET, 1973).
62 ESPAÇOS DE COOPERAÇÃO
......
Com base nos pressupostos apresentados, nossas questões são: Como ins-
tituir o “método de cooperação”? Como propiciar trocas intelectuais no curso?
Dessa forma, ao iniciarmos a primeira edição do curso, essas questões já faziam
parte do planejamento e continuaram fazendo parte do planejamento da segunda
edição. Diversas práticas foram planejadas e implantadas visando a proporcionar
oportunidades de trocas intelectuais entre os participantes, tais como o Espaço
Integrador, que foi uma proposta de integrar aspectos gerais do curso, como
apresentação, cronograma, organização na EAD, entre outros. Outro é o Fórum
do \_/@ (Fórum do Cafezinho), que é um espaço para socializações (REAL e
CORBELLINI, 2008), um Fórum de Dúvidas, lugar no qual os discentes podem
postar suas dúvidas de forma geral (sobre a organização, sobre os prazos, sobre os
materiais, etc.). No Espaço das Comunidades de Escrita, procurou-se constituir
um espaço coletivo, onde todos os integrantes do curso tivessem acesso à pes-
quisa dos colegas e pudessem cooperar entre si. Com isso, buscou-se estimular a
prática de pesquisa cooperativa. Estruturou-se este tópico ao final do curso, para
o período das monografias. Em cada disciplina, foram promovidas atividades que
tivessem uma proposta interativa.
Assim, ao se procurar trabalhar com o conceito de cooperação como um dos
alicerces da educação na modalidade a distância, buscou-se, coerentemente com
a teoria piagetiana, criar espaços para que ocorressem trocas entre pares, descen-
trações e construção de conhecimento. Lemos (2002) afirma ser o ciberespaço
um espaço de reunião de pessoas de todo o mundo, de comunhão; Campos et
al. (2003) falam sobre a possibilidade de ampliação da comunicação na rede e
condições potencializadas de aprendizagens cooperativas na EaD; Parente (2004)
também refere a utilização da internet e suas possibilidades cooperativas, entre
outros. Reflete-se que as tecnologias, neste universo, possam servir de apoio para
uma maior interatividade entre os sujeitos do curso, auxiliando a promover uma
maior cooperação.
Destaca-se como essencial a existência de um “espaço” que possibilite a
ocorrência da cooperação intelectual. Esse espaço deve ser continente suficiente 63
......
para abarcar o que os integrantes trazem como contribuições, bem como con-
tingente no sentido de poder suportá-las e encaminhá-las, pontuando diferenças,
acréscimos de pontos de vista, conflitos, novos argumentos, enfim, que possibilite
movimentos baseados no respeito mútuo e em relações de cooperação intelectual
e de construção de conhecimentos.
COOPERANDO A DISTÂNCIA
DI 47, lendo o teu trabalho, me dei conta que não coloquei na minha reflexão
sobre Projetos de Aprendizagem a formação de grupos. E este é um dos aspectos
fundamentais deste trabalho.
Desta forma, pode-se concluir que estes observáveis apontam para uma
construção do método de cooperação durante o curso, cada qual cumprindo com
aspectos pertinentes ao momento em que estão situados. Ou seja, no momento
inicial do curso, há a necessidade de uma constituição de grupo, de um senti-
mento de pertencimento ao grupo, de identidade, construção de valores comuns
que sustentem essa identidade. Para corroborar esses achados, citam-se exemplos
de postagens de alunos em fórum realizado no início do curso.
67
Logo vi, sim, muitos termos diferentes e inovadores, como hiperpassividade na ......
sua relação com hiperatividade, onde se trata sobre a passividade dos alunos,
na qual também devemos estar de olho, pois isso também pode dificultar os
processos de aprendizagem dos alunos. (Aluna C)
Ainda não tinha lido a entrevista 3. Agora, encontrei a resposta para a minha
dúvida. [...]. O relato da Prof. X sobre o “gênero” na aprendizagem, entendi
que há uma diferença entre os meninos e as meninas no momento de aprender.
Seria isto? Meninos com mais facilidade em algumas coisas e dificuldades em
outras e as meninas o oposto? Neste ponto tentarei me aprofundar mais ou
pedir a Prof. X que coloque mais algumas explicações. Fiz esta postagem para
me justificar. (Aluna F)
Tenho que agradecer à colega DI 44, pois seu texto me auxiliou muito na
compreensão de todos os vídeos e entrevistas. A descrição de suas vivências e
o modo como relacionou com a autora foram muito significativos para mim.
(Aluna G)
Confesso que estou com dificuldades de escrever sobre tudo que estou lendo.
Sempre aprendi com a fala dos professores em sala de aula e agora, só com as
leituras, está sendo um enorme desafio. Mas, é ótimo termos este espaço, onde
aprendemos umas com as outras, os relatos são enriquecedores e nos fazem
refletir mais sobre as leituras teóricas (Aluna H)
Querida colega x! Adorei ler o relato que fizeste sobre tua experiência na X e
reconhecer o quanto tuas práticas realmente possibilitaram aos educandos a
manifestação de uma corporeidade reprimida, desacreditada. Como educadora
de jovens e adultos, também busquei romper com esses estigmas e senti maior
facilidade de fazer isso durante o meu trabalho no x, que não era um espaço
institucional, embora a turma se reunisse em uma escola. (Aluna I)
[...] se a lógica se atém às coordenações gerais da ação elas são tão interindi-
viduais como interiores ao indivíduo: e, efetivamente, analisando as operações
intervenientes nas trocas cognitivas, encontramos as mesmas que nas construções
individuais, de tal maneira que as primeiras são fonte das segundas e reciproca-
mente, permanecendo as duas indissociáveis a partir das suas raízes biológicas
comuns (PIAGET, 1970, p. 120).
CORTE REAL, Luciane Magalhães; CORBELLINI, Silvana. Café & Cia: uma
76 proposta de espaço de interações informais em EAD. In: CONGRESSO DA
......
SOCIEDADE BRASILEIRA DE COMPUTAÇÃO, 28, 2008, Belém do Pará.
Anais..., 2008, p. 406-409.
LEMOS, André. Cultura das redes: ciberensaios para o século XXI. Salvador:
EDUFBA, 2002.
INTRODUÇÃO
1 Professor Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. Doutor em Educação. E-mail: mdilig@pucrs.br.
2 Assessora Pedagógica da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Doutora em Educação. E-mail: jaque-linepi-
cetti@gmail.com.
78 lidade de relações e adequações aos demais níveis de ensino escolar. Denomina-se
......
essa alternativa de avaliação participativa3 e destaca-se que sua efetivação implica a
compreensão das interações dessa avaliação com as várias etapas do currículo escolar.
Compreende-se o currículo escolar como o conjunto das atividades constituintes do
processo educativo, abrangendo os conteúdos, os métodos de ensino e os processos de
avaliação, até o seu momento histórico de aplicação, suas inter-relações com aspectos
sociais e culturais, sendo, portanto, dinâmico e permanentemente construído pelos
participantes (professores e alunos) do processo educativo. Foram tomados como
principais referenciais teóricos para subsidiar os avanços da pesquisa os estudos de
Paulo Freire e Philippe Perrenoud.
Destaca-se, ainda, que uma perspectiva de ruptura com modelos tradi-
cionais de avaliar a aprendizagem consiste numa reavaliação e reestruturação
da própria concepção epistemológica do conhecimento. As transformações
avaliativas necessitam transcender uma visão focada em apenas uma etapa
da aprendizagem e contemplar o currículo escolar de forma abrangente.
Preliminarmente, faz-se necessária uma descrição das formas avaliativas tra-
dicionais nos referidos cursos, que, historicamente, apresentam poucas reno-
vações em suas concepções práticas.
3 Ver mais em DILIGENTI, M. P. Avaliação Participativa no ensino superior e profissionalizante. Porto Alegre:
Mediação, 2003.
As dificuldades encontradas nesse procedimento avaliativo se dão, se- 79
......
gundo depoimentos de alunos e professores, nos mais diferentes aspectos.
Com frequência, os alunos registram sua discordância quanto às escolhas dos
tópicos a serem abordados nas provas e descontentamento com a forma de
elaboração dos exercícios, denominando-os de “armadilhas de prova” ou “pega
ratão”. Muitas vezes, em seus registros, responsabilizam o professor em caso de
resultados não satisfatórios e apontam que nas avaliações há uma valorização
excessiva da memorização de conteúdos em detrimento de outras habilidades.
Já no grupo de professores, verificam-se, da mesma forma, muitas insatisfações
no processo de avaliação tradicional. Dentre essas, ressaltamos a impessoalidade im-
bricada na avaliação da aprendizagem tradicional, a dificuldade de avaliar o aluno com
base apenas em algumas provas pontuais, as frequentes reclamações quanto aos parâ-
metros utilizados e conceitos atribuídos na avaliação e as dúvidas permanentes relativas
às escolhas de tópicos a serem trabalhados nas provas escritas.
Freire (1996), ao questionar os métodos de avaliação, ressaltando a sua
vital importância no processo pedagógico, sugere: “A questão que se coloca a
nós, enquanto professores e alunos críticos e amorosos da liberdade, não é,
naturalmente, ficar contra a avaliação, de resto necessária, mas resistir aos mé-
todos silenciadores com que ela vem sendo às vezes realizada” (p.131). Nessa
mesma linha de raciocínio, as consequências de um procedimento avaliativo
tradicional são explicitadas por Perrenoud (1999): “A avaliação tradicional, não
satisfeita em criar fracasso, empobrece as aprendizagens e induz, nos profes-
sores, didáticas conservadoras e, nos alunos, estratégias utilitaristas” (p. 18).
Reforçando o questionamento a essa visão estreita do avaliar, que induz ao
descaso com que muitas vezes a relação professor-aluno é tratada, com a adoção
de uma cultura da impessoalidade e de priorização de conteúdos programá-
ticos, Freire adverte (1996, p. 49):
4 Sobre projetos de trabalho, ver HERNANDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1998.
5 DILIGENTI, M. P. Avaliação Participativa no ensino superior e profissionalizante. Porto Alegre: Mediação, 2003.
82 e a sua compreensão no reconhecimento do que se desenvolve na sala de aula
......
como uma atividade de inserção e transformação social.
Dentro desta perspectiva psicopedagógica, vislumbra-se a possibilidade de
uma opção mais concreta no relacionamento do trabalho técnico com as diferentes
realidades na sociedade e a importante conscientização do estudante como sujeito/
protagonista de sua história individual e coletiva de aprendizagem6.
Deve-se ressaltar, ainda, que, como resultado desse processo, verifica-se na
pesquisa em pauta que várias das dificuldades anteriormente apontadas por alunos
e professores na concepção tradicional de avaliação foram sendo minimizadas e,
até mesmo, anuladas com a proposta psicopedagógica participativa de avaliação da
aprendizagem.
Importa saber que o componente participativo introduz com intensidade
a corresponsabilização avaliativa. As provas escritas deixam de ser elementos de
separação e oposição entre alunos e professores para se ressignificarem em um
trabalho conjunto de aproximação. A usualmente constatada “cola”7 , instru-
mento que habitualmente se constitui em uma lógica de trabalho pedagógico
baseado na memorização de conteúdos, perde seu significado e a ética da trans-
parência adquire um patamar de naturalidade.
Constata-se, também, que as surpresas quanto às especificidades ou nível
de dificuldades dessas avaliações escritas são muito relativizadas. Essas ava-
liações, que são decorrentes do trabalho cotidiano em sala de aula, deixam
de representar uma fonte de incertezas e inseguranças impositoras para
serem compreendidas como “mais um” dos elementos do processo avaliativo
participativo.
A radicalidade democrática necessária para uma legítima implementação
de um processo participativo é assim comentada por Freire (1994, p. 194):
6 A execução das maquetes arquitetônicas das futuras habitações de uma vila popular pelos alunos é um exemplo
destas atividades pedagógico/conscientizadoras. Ver mais detalhes em Condomínio dos Anjos: a história de uma con-
quista (BRUNEL e DILIGENTI, 2000).
7 Cópias não autorizadas, trocadas entre alunos em provas individuais.
mocracia, não raro contraditado por comportamentos autoritários. O ensino 83
......
da democracia implica também o discurso sobre ela, não abstratamente feito,
mas sobre ela ao ser ensaiada e experimentada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 1 ed., São Paulo; Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1981.
______. Cartas a Cristina. 1 ed.São Paulo; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
Aprendizagem
INTRODUÇÃO
O projeto criado pelo professor foi uma maneira que ele elaborou para que a
comunidade percebesse que a escola é um importante meio de conhecimento e
cultura, resgatando assim o gosto pela escola e pelo saber. Como proposta de
intervenção seria construção de um jornal mensal da escola, que os alunos através
dos meios tecnológicos realizariam entrevistas com a comunidade, pesquisas
sobre assuntos atuais e polêmicos, escreveriam sobre assuntos pertinentes a
necessidade da comunidade. Como aponta Weiss (1987, p. 80) ... “Estes aspectos
sociais estão integrados na unidade funcional da pessoa que aprende e fazem
parte do seu modo de se relacionar com os objetos e situações de aprendizagem,
assim como interferem no desenvolvimento de suas construções cognitivas
e afetivas”. Os alunos nesta atividade fariam toda a parte de organização do
material, como a escrita dos artigos e pesquisas dentro das mídias tecnológicas.
Acredito que com o envolvimento do aluno dentro da sua sociedade despertaria
mais o seu interesse em estar dentro do espaço escolar. (Aluna D)
94 Presença Social
......
Quadro 2 – Exemplos de presença Social
Oi colega!!!! Parabéns pela proposta e sucesso!!! Abraços (Aluna B)
Postei o meu trabalho, porém não consegui ter acesso aos outros comentários
dos colegas, por isso, não comentei nenhum. (Aluna C)
Presença de Ensino
Quadro 3 – Exemplos de presença de Ensino
Proponha uma intervenção inovadora a partir do olhar do psicopedagogo,
utilizando-se das TICs, de forma que sua proposta contribua para o
aprimoramento deste trabalho. Após, leia as propostas dos colegas, critique
construtivamente, troque ideias, (re)vejam autores estudados! Inventem novas
formas de saber-fazer! (Professora)
Pessoal! Sejam profundos e sintéticos! Máximo 20 linhas! Usem a criatividade!
(Professora)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ARAUJO, Beatriz Meggiato Oreques de; CUNHA, Ana Paula de Araujo. O papel
do professor como mediador nas interações em fóruns online: possibilidades
de um aprender colaborativo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENSINO
SUPERIOR A DISTÂNCIA, 11, 2014, Florianópolis. Anais..., 2014. Disponível
em: <http://esud2014.nute.ufsc.br/anais-esud2014/ files/pdf/128207.pdf>.
Acesso em: 28 ago. 2015.
PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? 14. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1998.
ZAUPA, Aglaê Pereira; PEREGO, Cássia Alves; LIBERATI, Maria José Crepaldi
Ganancio; RIZO, Cristiane Maciel. Planejamento para atuação dos tutores
online. CONGRESSO BRASILEIRO DE ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA,
11, 2014, Florianópolis. Anais..., p. 1059-1073. Disponível em: <http://
esud2014.nute.ufsc.br/anais-esud2014/files/pdf/126881. pdf>. Acesso em:
18 ago. 2015.
PBWorks na educação a distância: um 101
......
Muriel Lago1
Glaucia Silva da Rosa2
INTRODUÇÃO
1 Tutora do Curso de Especialização em Psicopedagogia e TICs (UFRGS – Polo de São Francisco de Paula. Especialista
em Psicopedagogia e TICs. E-mail: muriellago@yahoo.com.br.
2 Tutora do curso de Especialização em Psicopedagogia e TICs (UFRGS). Especialista em Psicopedagogia e TICs.
E-mail: glauciabert@hotmail.com.
102 Neste contexto, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) são
......
ferramentas indispensáveis, confiando credibilidade, seriedade, e assegurando
meios eficazes ao desenvolvimento da aprendizagem, na modalidade de edu-
cação a distância. Ao pensar nas TICs aplicadas à educação, citamos as palavras
de Corbellini e Real (2012) que nos indicam que “os chats, fóruns, lista de
discussões, blogs, wikis, e-mails e outros” (p. 12) são exemplos destas ferra-
mentas, capazes de frutificar a aprendizagem sob outra perspectiva.
É no contexto apresentado acima que a proposta de desenvolvimento e
pesquisa deste trabalho se insere. Acreditando, cada vez mais, no potencial de
conhecimentos e aprendizagens que podem ser gerados a partir do uso das
TICs no ensino a distância, é que desenvolvemos este estudo de caso a partir
da reflexão acerca de uma disciplina ministrada no Curso de Especialização em
Psicopedagogia e TICs. Essa pesquisa objetivou investigar como acontece uma
aprendizagem significativa por meio da organização de projetos de aprendi-
zagem com a utilização do PBWorks3 na educação a distância.
O presente trabalho está organizado em cinco seções : a primeira faz uma
breve apresentação da temática do trabalho; a segunda apresenta o PBWorks
como uma ferramenta pedagógica para o desenvolvimento de atividades na
modalidade a distância; a terceira aborda a metodologia de projetos de apren-
dizagem; a quarta traz o relato de experiência realizada com a utilização do
PBWorks para construção de um projeto de aprendizagem; e a quinta apresenta
algumas considerações finais sobre a investigação.
3 http://www.pbworks.com
podem utilizar links, vídeos, imagens, gifs, textos, enfim, os mais diferentes re- 103
......
cursos para comunicar suas intenções, sejam elas educacionais ou profissionais.
A criação de uma conta no PBWworks é bem simples e está associada às neces-
sidades dos clientes, que escolhem espaços pagos ou gratuitos de acordo com
as condições de armazenamento.
Os workspaces são espaços destinados à construção interativa, e podem ser
públicos ou privados, de acordo com os objetivos propostos para a sua utili-
zação. O responsável pela página pode convidar outros usuários para visitar ou
editar seus workspaces. Também há um espaço destinado aos comentários, que
pode servir como meio de comunicação entre os usuários da página. A foto do
perfil junto ao nome do usuário colabora para a identificação da origem dos
comentários deixados.
No caso de a página contar com mais de um usuário editor, pode-se ve-
rificar o histórico de edição, visualizando os responsáveis pela mesma, recupe-
rando e retornando a versões antigas, caso haja necessidade. Cabe ressaltar que
as edições e comentários apresentam o registro de data e horário em que foram
realizados, facilitando o controle por parte do administrador da página.
Com tantas possibilidades, é visível que o PBWorks oferece benefícios à
construção do conhecimento, que ocorre de maneira interativa e dinâmica,
abrindo caminho à pesquisa, à investigação e à elaboração de relações simples e
complexas, no intuito de exigir do aluno uma postura ativa no desenvolvimento
de suas aprendizagens. Nesse sentido, tutores e alunos reorganizam seus papéis,
comprometendo-se cada qual com suas tarefas, quais sejam: o aluno-pesquisador
e o tutor-problematizador. Concordamos com Silveira e Carvalho (in Silva e Ayres,
s.d) quando relatam que “o desafio das propostas pedagógicas em espaços digitais
de aprendizagem está na superação das práticas que privilegiem o individualismo,
a passividade, o ajustamento e a repetição” (p. 4).
Considerando as ideias apresentadas, a seguir descreveremos a metodologia
de trabalho desenvolvida na disciplina de Projetos e Relações de Aprendizagens nos
Ambientes Virtuais.
104 METODOLOGIA DE PROJETOS DE APRENDIZAGEM
......
4 REAL, Luciane Magalhães Corte; HERNANDEZ, Evelyse Ramos Itaqui. Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/
course/view.php?id=29575>.
Nascemos curiosos, sedentos pelo saber, porém, pouco a pouco, pelas influências 107
......
do meio social e educacional, essas curiosidades são banidas, julgadas, até se tor-
narem adormecidas. A curiosidade dá lugar a certa acomodação, e o óbvio ocupa
o lugar do inusitado.
Em contrapartida, temos ciência de que são as perguntas que nos movem,
que nos incentivam e nos motivam na busca pelo saber. Deste modo, para formar
alunos pesquisadores, precisamos, antes de mais nada, assumir essa postura de
professor investigador e pesquisador. Para tanto, necessitamos nos permitir ser
curiosos, ser observadores e questionadores frequentes, tomando sempre as cer-
tezas como provisórias e as dúvidas como temporárias, concebendo a flexibilidade
da informação a partir de nossa capacidade de reflexão acerca dela.
Finalizado o período de divulgação das curiosidades em forma de per-
gunta, foram organizados no PBWorks os grupos de trabalho. Constituíram-se
seis grupos de acordo com a afinidade das curiosidades que foram apresentadas
no fórum inicial. As comunidades de escrita criadas foram: Alimentação e Saúde;
Diagnóstico e Inclusão; Processo Ensino-Aprendizagem; Comportamento Humano; Prática
Pedagógica e Escola; Escola e Cultura.
Desse momento em adiante, ocorreu uma mudança de postura na cons-
trução do conhecimento, que passou do modo individual para coletivo. A partir
da pergunta inicial registrada no fórum, organizou-se uma tabela que continha
duas colunas: certezas provisórias e dúvidas temporárias. Nessa tabela, cada componente
do grupo registrou o que julgava ter certeza sobre o tema em discussão, lançando
também as suas dúvidas. Destacam-se os termos “provisórias” e “temporárias”,
tendo-se em vista a transitoriedade dos conhecimentos que adquirimos. Nada é
estável; pelo contrário, na busca pelas informações, as ideias se recompõem à luz
de nossas pesquisas, ganhando outros enfoques e direcionalidades.
No quadro abaixo, ilustramos algumas certezas provisórias e dúvidas tem-
porárias registradas pelos grupos que se formaram no Polo de São Francisco de
Paula.
108
...... Temática do Grupo Certezas Provisórias Dúvidas Temporárias
O sedentarismo está O que fazer para que não
sendo considerado tenhamos mais crianças tão
Alimentação e Saúde
a doença desta sedentárias?
geração.
A escola inclusiva Na escola há um processo de
necessita de interação ou inclusão?
mudanças
no contexto
educacional, nas
transformações
Diagnóstico e In-
de ideias, de
clusão
atitudes, e da
prática das relações
sociais, tanto no
âmbito político,
administrativo, como
didático-pedagógico.
Está comprovado que Quais são as contribuições
aprendemos quando que o uso das Tecnologias da
sentimos curiosidade Informação e Comunicação
e quando nos (TICs) podem trazer para o
Processo Ensino- sentimos encorajados processo ensino-aprendizagem?
Aprendizagem a questionar.
Também sabemos
que cada ser é único
e tem seu ritmo de
desenvolvimento.
O ser humano Quando, como e por que o
tem a necessidade homem passou a questionar sua
Comportamento
de buscar realidade e ir em busca de novas
Humano
conhecimento. possibilidades de mudanças e,
em consequência, evolução?
A formação Mediamos a aprendizagem ou 109
......
continuada dos formatamos o saber?
Prática Pedagógica e
professores tem que
Escola
atender às exigências
da sociedade atual.
A educação está Há diferença entre a cultura
Escola e Cultura totalmente ligada à apresentada na escola e a
cultura, e vice-versa. cultura vivenciada fora dela?
Penso que o percurso a ser trilhado num PA é constituído por professor e aluno,
pois ambos trilham por um caminho de aprendizagens e novas descobertas. O
professor orienta seu estudante a guiar por pesquisas que mostrarão as respostas
para a confirmação das suas certezas e dúvidas. Nesse compasso, nem sempre
tudo estará definido e pronto, muitas alterações podem acontecer, nem mesmo
o professor terá todas as respostas e se surpreenderá com muitos resultados
encontrados. O currículo, no contexto escolar, com suas possíveis flexibili-
dades vai se ajustando conforme a necessidade de estudo e direções que o pro-
jeto vai tomando.
FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. 5. ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. 117
......
SILVA, Albina Pereira de Pinho; AYRES, Sandra Regina Braz. O uso do Pbworks
como espaço digital de aprendizagem. Minicurso. Disponível em: <http://
sinop.unemat.br/v-semi-info-edu/wp-content/uploads/2013/07/uso_do_
pbworks_como_como_espaco_digital_de_aprendizagem.pdf>. Acesso em: 8
dez. 2015.
INTRODUÇÃO
Professor
Segundo Belloni (2006 apud BEHAR; SCHNEIDER; SILVA 2013) “o
papel que o professor assume na EAD é o de parceiro do estudante no processo
da construção do conhecimento” (p. 153). O professor aproxima-se do aluno
ao acompanhar a construção do seu conhecimento nas participações nos AVAs.
Para tanto, é fundamental que o professor que atua na EAD desenvolva domínio
das novas TICs, de modo a potencializar suas práticas pedagógicas e, assim,
identificar as necessidades curriculares e afetivas dos alunos, possibilitando, por
meio de diálogo problematizador, a construção da aprendizagem significativa e
inovadora.
O professor na EAD necessita também saber compreender a realidade na
qual os seus alunos estão inseridos para, dessa forma, construir situações que
oportunizem a contextualização de suas experiências, para juntos construírem
as aprendizagens por intermédio dos AVAs. Cabe ao professor na EAD propor 121
......
estratégias didáticas por meio das quais o aluno conseguirá organizar seus es-
tudos. Behar (2009) afirma que “as estratégias para aplicação das arquiteturas
pedagógicas dão dinamicidade a elas, ou seja, aos processos constitutivos do
modelo pedagógico” (p. 31). O fazer pedagógico exige que o professor na EAD
planeje e organize a seleção dos materiais para atender e desenvolver as poten-
cialidades dos alunos.
Meirieu (1989 apud PERRENOUD, 2000, p.11), em relação ao papel
docente, afirma que esse é uma:
Tutores
O tutor na EAD deve ter um perfil instigador na mediação da construção
do conhecimento do aluno. É ele que estimula a participação do aluno, de modo
a auxiliar na sua permanência no curso, esclarecendo dúvidas, incentivando-o a
prosseguir, bem como contribuindo para a avaliação da aprendizagem. Segundo
Netto, Giraffa e Faria (2010 apud NETTO, 2014, p.1):
Para um professor tutor atuar com qualidade na Educação a Distância precisa ter
competência técnica, relacionado ao uso de hardware e software, competência
em metodologias de EAD, organização, disciplina, disponibilidade, flexibilidade,
presença virtual constante e pré-disposição para a interatividade.
122 Conforme Preti (1996 apud BEHAR, SCHNEIDER; SILVA, 2013, p.
......
160):
Alunos
Para estudar na modalidade EAD, o aluno necessita de um novo perfil: um
aluno virtualizado, imerso nas Tecnologias de Informação e Comunicação. Alguns
desses alunos já nasceram em contato com recursos tecnológicos, e outros estão
alfabetizando-se digitalmente.
Da mesma maneira que existem jovens que estabelecem uma relação distante com
as TIC, podemos encontrar pessoas de idade mais avançada que desde o começo
entram na rede e, atualmente, suas formas de trabalhar, comunicar-se e pensar 123
......
estão firmemente mediadas por sistemas informatizados (MONEREO e POZO,
2010, apud LONGARAY, 2014, p. 98).
[...] para que o aluno tenha sucesso em um curso virtual é preciso automotivação
e autodisciplina, pois o ambiente on-line é livre e, juntamente com a liberdade,
deve haver responsabilidade, comprometimento e disciplina. Além disso, deve
saber trabalhar em conjunto com seus colegas para atingir seus objetivos de
aprendizagem e do curso. Sabendo que o professor é apenas o facilitador, o
aluno se torna responsável pelo seu processo de aprendizagem.
As TICs vêm sendo integradas cada vez mais no âmbito educacional, o que
pode ser evidenciado nas instituições de ensino em todos os níveis e modalidades.
Exemplo disso são os cursos desenvolvidos por meio de AVA, e de outras ferra-
mentas, e recursos disponíveis na rede. Assim, é importante compreender alguns
modelos de tecnologias que podem auxiliar nesse processo de integração das TICs
para potencializar os processos de ensino e de aprendizagem.
Ortiz (2001) conceitua três modelos de tecnologia a serem adaptados a todos
os Ambientes Virtuais de Aprendizagem: a) Tecnologias transmissíveis – centradas
no instrutor; b) Tecnologias interativas – centradas no aluno; c) Tecnologia colabo-
rativa – centrada na colaboração em grupo.
Segundo Ortiz (2001), as tecnologias transmissíveis são aquelas adaptadas para
compartilhar informações, as quais fazem o uso de computadores com as diversas
tecnologias digitais, como, por exemplo, os vídeos. As tecnologias de informação e
comunicação interativas oportunizam ao aluno determinado controle de navegação,
ou seja, pressupõem que o aluno seja experiente em ambientes da web. A tecnologia
colaborativa faz o aluno utilizar a interface homem-máquina construindo, nesse
espaço virtual, seu ambiente de partilhas de conhecimento. Quanto mais colabo-
rativo forem os processos de ensino e de aprendizagem com o uso das novas tecno-
logias de informação e comunicação, mais haverá interação, intercâmbios de ideias
e de materiais, tanto entre o professor e o aluno quanto entre os próprios alunos.
O Moodle é um tipo de AVA que reúne um conjunto de funcionalidades,
entre as quais a interatividade, a comunicação e a cooperação, que devem ser 125
......
priorizadas. As principais necessidades e anseios dos alunos devem ser levadas
em consideração, desde a definição do modelo de tecnologia, as ferramentas
de informações e a comunicação e sua usabilidade, dentro da perspectiva pe-
dagógica do curso.
ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
Pesquisas qualitativas têm cada vez mais se utilizado de análises textuais. Seja
partindo de textos já existentes, seja produzindo o material de análise a partir
de entrevistas e observações, a pesquisa qualitativa pretende aprofundar a
compreensão dos fenômenos que investiga a partir de uma análise rigorosa e
criteriosa desse tipo de informação, isto é, não pretende testar hipóteses para
comprová-las ou refutá-las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão.
(MORAES, 2003, p. 191).
ATENDIMENTO, SUPORTE E APOIO AOS CURSISTAS VIA 127
......
FACEBOOK
RESULTADOS E DISCUSSÕES
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. A prática dos quatro pilares da educação na sala de aula. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
INTRODUÇÃO
APRESENTAÇÃO DO CURSO
1 Tutora a Distância do Curso de Especialização em Psicopedagogia e TICS da UFRGS no Polo Três Passos. Especialista
em Psicopedagogia e TICs. E-mail: mara.tavares@ufrgs.br.
132 Algumas experiências nesse sentido vêm acontecendo, como, por exemplo,
......
a oferta de Licenciatura em Pedagogia a Distância (PEAD) e de especializações em
Mídias na Educação, Escola de Gestores e em Psicopedagogia e Tecnologias da Informação
e Comunicação, oferecidas em polos distribuídos por várias cidades gaúchas.
A Especialização em Psicopedagogia e Tecnologias da Informação e Comunicação,
Psicopedagogia e TICs, como será chamada neste relato, foi oferecida pela
Secretaria de Educação a Distância da UFRGS, Faculdade de Educação
(FACED) e pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil2 (UAB), no ambiente
virtual de aprendizagem Moodle. Realizada, no período de novembro de 2014
a abril de 2016, nos polos de Porto Alegre, Santa Maria, São Francisco de Paula,
Sapiranga e Três Passos, foi direcionada para profissionais relacionados com a
área da Educação.
Ao apresentar a experiência de acompanhamento dos alunos como
tutora a distância no Polo de Três Passos, procurou-se refletir sobre o uso das
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) nos processos de ensino
e de aprendizagem na Educação a Distância (EAD) no panorama atual.
O desenvolvimento e uso da tecnologia em todas as áreas de atuação humana,
no panorama mundial, representa um “paradigma emergente” que Castells
(2011) caracteriza como a “Sociedade da Informação”. Castells considera essa
mudança de paradigma responsável pela introdução das TICs na educação pre-
sencial e pela rápida expansão da educação a distância (CASTELLS, 2011, p. 57).
Entende-se que a EAD pode ser uma ferramenta formativa eficaz para qua-
lificar profissionalmente um grande número de pessoas que não têm acesso aos
processos de formação presencial do ensino superior, por várias razões. Entre
essas razões, encontra-se o fato de estarem geograficamente distantes dos grandes
centros urbanos, ou, ainda, por não poderem se afastar do seu cotidiano e de seus
compromissos profissionais.
No caso analisado, o desafio pedagógico da EAD foi qualificar Especialistas
em Psicopedagogia Institucional para atuarem em escolas, capacitando-os para
2 Disponível em <http://uab.capes.gov.br/>.
usar as TICs como ferramentas facilitadoras na superação de dificuldades na 133
......
aprendizagem.
A relevância do tema está consolidada em trabalhos de pesquisadores
como Loyolla e Prates (1998), Moran (2000), Lévy (2001), Pretto (2002), Silva
(2005) e Cruz (2008), que abordam a utilização das TICs como ferramentas
de apoio nos processos de ensino e de aprendizagem e a expansão da EAD na
Sociedade da Informação.
3 As atribuições dos tutores foram retiradas do Edital de Seleção de Tutores, disponível em < https://goo.gl/ogdGiD>.
Procurou manter-se a redação original.
residir em Porto Alegre ou entorno; ter disponibilidade para realizar viagens 137
......
aos polos, quando necessário, e para participar de reuniões com os professores
e coordenação do curso. Foram atribuições específicas da tutoria a distância:
acompanhar o processo de aprendizagem e o desempenho dos alunos da sua
turma, motivando-os e orientando-os na realização das atividades propostas
pelo curso, no ambiente virtual de aprendizagem Moodle, contando com o
apoio dos professores e dos tutores presenciais alocados nos polos; realizar
atividades com interlocução junto aos alunos; participar da organização dos
materiais para avaliações dos cursistas e do curso com a supervisão do professor
formador; apoiar os professores no lançamento de notas no ambiente Moodle;
e auxiliar os tutores de polo em suas dúvidas.
Para atuar como tutor presencial, o Edital estabelecia que o candidato de-
veria residir na cidade de localização do polo ou em seu entorno e ter disponi-
bilidade para participar dos encontros presenciais nos polos. Foram atribuições
específicas da tutoria presencial: acompanhar, responsabilizar-se, auxiliar,
orientar e motivar os alunos na realização das atividades práticas, programadas
pelos professores formadores para serem realizadas nos polos de apoio pre-
sencial; apoiar e participar dos encontros presenciais; e manter diálogo perma-
nente com os professores formadores, tutores a distância e com a coordenação
de curso e de polo.
Perfil do Público-alvo
A turma do Polo UAB da cidade de Três Passos4 foi composta por do-
centes e profissionais ligados à Educação, muitos com grande experiência em
sua área de atuação, vinte e oito mulheres e dois homens com idades entre 25
e 65 anos provenientes da cidade polo e de municípios do noroeste gaúcho.
Foram abertas vagas para suplência em quatro ocasiões5 . Ao finalizar o relato,
a turma contava com vinte e um alunos, dos quais doze se destacaram ao longo
do curso, mantendo frequência no uso do Moodle e nos encontros presenciais,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
3 O Sistema UAB foi instituído pelo Decreto n. 5.800, de 8 de junho de 2006, para "o desenvolvimento da moda-
lidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação
superior no país". Disponível em: <http://www.uab.capes.gov.br/index.php/sobre-a-uab/o-que-e>.
por módulos, as aulas presenciais variam conforme definido pelo cronograma/ 151
......
calendário do curso, tutores podem atuar por polos ou por turmas. Além disso,
os tutores podem ser presenciais, ou seja, aqueles que atendem diretamente
nos polos, ou tutores EAD, que atendem através da plataforma on-line utilizada
pelo curso. O horário da secretaria pode ser rígido ou flexível, dependendo da
necessidade de atendimento ao público e conforme definição da coordenação.
O corpo docente será definido ainda na elaboração do projeto de curso, mas, se
houver necessidade, poderá haver alteração. Todos estes detalhes, e outros, são
pensados pela equipe de professores que faz a proposta de um curso.
A secretaria do curso pode receber um espaço na universidade para aco-
modar todo o material administrativo do curso, ou pode utilizar a sala do/a
professor/a que coordena o curso. Embora exista o espaço físico da instituição
que oferta o curso, é possível trabalhar em qualquer lugar e a qualquer hora,
sendo indispensável ter um computador com acesso à internet para realizar
atividades de secretaria, tais como: encaminhar e responder e-mails, preparar
documentos, alimentar bancos de dados e manter atualizados os dados de cur-
sistas, professores e tutores em sistemas institucionais como, por exemplo, o
SISUAB4. Entretanto, a flexibilidade de horários e espaço, ou seja, não per-
manecer em um local de trabalho – a secretaria do curso – e cumprir horários
de trabalho nesse local depende do que é acordado com cada coordenação de
curso. A flexibilidade não se limita ao espaço físico e ao horário de trabalho,
ela abrange também a possibilidade de interação em outros ambientes como
o Facebook, e-mail pessoal, WhatsApp e qualquer outro espaço virtual que
permite a interação/comunicação.
Toda e qualquer informação, documentação e encaminhamentos do curso
devem estar registrados e arquivados, ou nas pastas de um armário ou em pastas
no computador. E todas as mensagens trocadas nos ambientes virtuais ou por
celular devem ser comunicadas à coordenação, através do e-mail institucional
do próprio curso, para que tenha conhecimento e para que fique registrado.
4 Uma plataforma de suporte para a execução, acompanhamento e gestão de processos da Universidade Aberta do
Brasil.
152 Nesse sentido, como secretária, considero que a qualidade mais exigida para o
......
desempenho dessa função é a organização, pois é preciso ter cuidado para não
deixar informações e solicitações referentes ao curso sem o devido encaminha-
mento e registro.
A disciplina no trabalho como secretária de curso EAD é importante para
não perder detalhes importantes, que podem comprometer o andamento do
curso e, principalmente, o aprendizado que o curso se propõe a proporcionar.
Ter disciplina no trabalho significa seguir o planejamento e manter um olhar
atento sobre tudo que ocorre para prever ajustes que se façam necessários,
sejam eles financeiros ou de ordem pedagógica. Por exemplo, no ano de 2015,
tivemos, como resultado da crise econômica, um corte das bolsas pagas pela
Capes, assim foi necessário diminuir o número de tutoras para poder manter o
curso até sua fase final, no primeiro semestre de 2016.
E em termos de ajustes pedagógicos, cito o exemplo das webconferências.
No primeiro curso no qual trabalhei, era impossível realizar a aula presencial
com a presença física do professor em todos os polos, pois havia oito polos
atendidos pelo curso e apenas dois professores por disciplina. Para atender
oito polos ao mesmo tempo, resolvemos realizar as aulas por webconferências,
porém a rede de internet não tinha capacidade para transmitir a aula para os
oito polos com qualidade de áudio e imagem, havia muitas falhas na transmissão,
causando ansiedade e frustração tanto para os estudantes quanto para a equipe
do curso. Como forma de eliminar esse problema, adotamos as videoaulas –
cada professor gravava uma videoaula, os estudantes, após fazerem as leituras
dos textos e assistirem à videoaula, enviavam suas dúvidas para o professor, e
este então gravava um novo vídeo respondendo aos questionamentos realizados
pelos estudantes de todos os polos.
E, para que a organização e a disciplina no trabalho como secretária de
curso EAD estejam presentes em todo e qualquer processo que realizo, é preciso
ter compromisso, pois é ele que dá consistência, transparência e eficiência para
as ações realizadas. O compromisso é com o projeto de curso, desde a sua
elaboração até a entrega do relatório final para a emissão dos certificados. O
bom andamento do curso vai depender da disciplina, ou seja, da conduta que 153
......
assegura o bom funcionamento do projeto previamente organizado, o que exige
compromisso.
Passemos agora à reflexão destas mesmas qualidades enquanto discente
de um curso na modalidade a distância. Tendo passado anos estudando em
salas de aula tradicionais, seguindo o que estava no quadro e anotando as ex-
plicações dadas pelo/a professor/a, reconheço que, ao iniciar um curso de es-
pecialização EAD5, tive dificuldades para estabelecer o hábito de diariamente
acessar a plataforma Moodle para ver as leituras indicadas e as tarefas solicitadas
para cada disciplina. A dificuldade era maior em relação ao diálogo que deveria
estabelecer com colegas que eu não conhecia fisicamente, eram apenas nomes
e fotos de pessoas desconhecidas, com as quais eu não via como conseguiria
estabelecer o diálogo.
Após passar a fase de estranhamento total, tracei meu plano para superar
as dificuldades. Nesse ponto, se apresentou a necessidade da organização para
definir de que forma seria mais adequada minha aprendizagem no curso EAD,
assim estabeleci o que era preciso para estudar a distância. A organização partiu
da definição do horário de estudo, passando pela criação de uma pasta especial
em meu computador com todas as disciplinas separadas por subpastas, no-
meadas com os arquivos de leitura e com os arquivos das tarefas solicitadas,
pelas interações com colegas, professores e tutores e indo até a organização
para as viagens feitas ao polo UAB de São Francisco de Paula para as aulas
presenciais.
A organização também foi fundamental em função da EAD ter um tempo-espaço
diferente de uma sala de aula presencial com a figura docente presente, pois a moda-
lidade de ensino EAD ocorre por meio de tecnologias de informação e comunicação,
sendo que alunos e professores encontram-se em locais distintos e não interagem ne-
cessariamente ao mesmo tempo, havendo uma interação indireta (ALVES, 2011).
5 Os cursos de pós-graduação lato sensu, segundo o art. 11 da Resolução n. 1, de 2001, também conforme o disposto
no § 1º do art. 80 da Lei n. 9.394/96, de 1996, estabelece que esses cursos na modalidade a distância só poderão ser
oferecidos por instituições credenciadas pela União e deverão incluir, necessariamente, provas presenciais e defesa
presencial de monografia ou trabalho de conclusão de curso. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>.
154 Em minha experiência como cursista de EAD, a falta de familiaridade com essa
......
dinâmica de tempo-espaço assíncronos no início das aulas acarretou atraso em
alguns prazos de entrega de atividades. Somente após organizar minhas horas
de estudo, consegui realizar as leituras e atividades solicitadas e também pude
interagir mais com professores e colegas.
Almeida (2003) destaca que a administração do tempo pelo aluno e a
autonomia para realizar as tarefas são características importantes que merecem
atenção no ensino a distância. Assim, se, por um lado, a educação EAD permite
a flexibilidade do tempo-espaço, por outro, ela exige disciplina para geren-
ciarmos nossas atividades a partir da proposta educacional apresentada pelo
curso. A disciplina para seguir a organização previamente estabelecida auxilia
o exercício da autonomia durante os processos de ensino e de aprendizagem.
Por exemplo, no ambiente virtual utilizado pelo curso que realizei, tínhamos a
apresentação dos textos para leitura, indicação das atividades que deveriam ser
realizadas e espaços próprios para a comunicação com professores, tutores e
colegas – mas sem a disciplina para ler, interagir e fazer as atividades, as trocas
não ocorrem, e, por consequência, o aprendizado também não.
Destaco a interação através de fóruns ou chats propostos a partir de
questões e/ou desafios dos professores para os estudantes, ou mesmo destes
para toda a turma, como uma das formas mais interessantes e dinâmicas que
permite a troca de pensamentos nos ambientes virtuais de aprendizagem, e
essa troca propicia a construção, desconstrução e reconstrução de saberes.
Para Real e Picetti (2012), no espaço virtual dos fóruns, alunos e professores
expõem suas elaborações, as relacionam e as confrontam, podendo construir
uma nova opinião. Pode constituir-se em um espaço para ouvir e ser ouvido,
de falar e ser compreendido e reescrito (Idem, p. 2). As autoras ainda salientam
que, nos fóruns, todos podem falar, diferente de um debate em sala de aula,
onde há um espaço (sala de aula) e um tempo definido (tempo da aula) e onde,
muitas vezes, nem todos conseguem participar (Idem, p. 3).
Passando para a última qualidade que considerei necessária para realizar o
curso na modalidade EAD, a saber, o compromisso, preciso assinalar que, para
mim, ele se apresentou de duas formas. A primeira se fez presente enquanto 155
......
responsabilidade pessoal, pois, ao realizar minha matrícula, assumi o compro-
misso comigo mesma de enriquecer os saberes adquiridos na Licenciatura em
Ciências Sociais, bem como aprender novas técnicas didáticas. A segunda surgiu
enquanto responsabilidade social, pois, tendo ocupado vaga de um curso finan-
ciado com recursos públicos, assumi um compromisso com o meu dinheiro e
com o dinheiro de cada cidadão e cidadã que paga seus impostos.
Para concluir, aponta-se que as três qualidades – organização, disciplina e
compromisso –, embora se tenha feito um esforço em demonstrá-las de forma
individualizada no decorrer do texto, andam sempre juntas e são exigidas a
todos os atores envolvidos em um curso de ensino a distância. Aqui, procurei
me deter à minha própria experiência como secretária e como estudante,
porém é importante assinalar que estas qualidades podem ser observadas na
preparação do projeto pedagógico pela equipe de professores/as que propõem
um curso. Num curso EAD, provavelmente teremos organização e disciplina
comprometidas com a construção de um projeto pedagógico que pense no
melhor formato que privilegie as interações EAD, no intuito de tornar os pro-
cessos de ensino e de aprendizagem interessantes para os estudantes, estimu-
lando-os a interagir e dando significado ao aprendizado. Além disso, a equipe
de professores ainda precisa organizar cronograma das disciplinas, estabelecer
prazos para a realização de atividades e definir formas de avaliação e de recupe-
ração, entre outras coisas; para isso a equipe estará sempre comprometida com
o projeto pedagógico construído.
Especificamente, enquanto secretária de curso EAD, estas qualidades me
auxiliam a desenvolver um trabalho comprometido com a proposta pedagógica
do curso, permitindo exercer minha função a partir da organização estabe-
lecida através do diálogo constante com a coordenação do curso; é preciso estar
atento para alterações e ajustes que se façam necessários, e só através da troca
permanente de informações que conseguimos manter uma visão atualizada do
todo. Por exemplo, após a realização de uma avaliação presencial, precisa-se
identificar quais e quantos cursistas faltaram, em quais polos, se quem faltou
156 apresentou atestado, e então comunicar aos professores e tutores quais estu-
......
dantes precisarão fazer a recuperação da prova. Sem um acompanhamento or-
ganizado e disciplinado não seria possível cumprir o compromisso que tenho
para com o curso.
De outro lado, como cursista, precisei adaptar-me ao modo de estudar
através da EAD. Passei dezoito anos estudando na educação presencial, ou seja,
dentro de uma sala de aula, na qual a comunicação entre professor e estudante
é mais direta, e tradicionalmente onde o professor é visto como um trans-
missor de conhecimento enquanto o estudante seria um receptor e repetidor
de informações, muitas vezes sendo as informações incompreendidas e vazias
de significado para o estudante (IAHN, MAGALHÃES e BENTES, 2008, p. 3).
Assim, ao iniciar o curso EAD, tive dificuldades para lidar com a autonomia
para gerenciar meu tempo de estudo e planejar estratégias para aprender sem
a figura presencial do professor, mas, sim, com questionamentos dirigidos ao
professor através do ambiente virtual de aprendizagem. Como estudante EAD,
precisei aprender a ter mais responsabilidade sobre meu aprendizado, pois não
havia como aprender sem realizar as leituras e buscar mais esclarecimentos
quando necessário.
Ao não receber o conhecimento pronto a partir da fala de um professor,
era preciso ler, explorar e questionar para adquirir um entendimento daquilo
que era lido. Nesse sentido, as trocas realizadas através de fóruns foram enrique-
cedoras, pois cada um colocava sua versão sobre o texto, levantando questões
diversas, gerando uma construção coletiva de informações. Pessoalmente, con-
siderei mais produtivos os fóruns em relação às tarefas feitas em documentos de
texto para enviar aos professores, pois, nas tarefas, não tínhamos a colaboração
de outros colegas, somente se recebia uma nota, com raro e breve retorno. É
possível que a escassez de retorno esteja atrelada ao número de alunos aten-
didos por docente, pois, segundo Valente (1999), a interação entre professor e
estudante deve enfatizar a construção de conhecimento, o que ocorre quando
o professor participa das atividades de planejamento, observação, reflexão e
análise do trabalho que o aluno está realizando, mas, para isso, o professor não
deveria atender mais do que 20 alunos (VALENTE, 1999, p. 4-5). 157
......
Em minha experiência como estudante e secretária de curso EAD, ter
organização, disciplina e compromisso possibilitou desenvolver o costume de
planejar minhas ações para o trabalho e para o aprender. E, para encerrar,
destaco novamente que não quis dizer em momento algum que tais qualidades
não estejam presentes no trabalho e no estudo desenvolvidos em cursos pre-
senciais, pois, com certeza, elas também se aplicam a esses cursos, porém, por
já estarmos mais familiarizados com cursos presenciais, tais características pa-
recem ser mais naturais, e nos cursos EAD, para mim, elas apareceram como
descobertas.
REFERÊNCIAS
freudiano
Neste sentido, salienta que há sempre uma carga de afeto que sustenta o
laço professor-aluno e que temporalmente está deslocado e referido nas pri-
meiras experiências trocadas com aquelas pessoas significativas que apresen-
taram o mundo para a criança. Isso é muito precoce na constituição psíquica
de um sujeito. Neste laço, o lugar do professor é referendado pela posição
que um pai ocupou como suporte simbólico para um possível ser no socius2.
Nesta dinâmica, estabelece-se um laço de implicações, e os outros (professores,
inclusive) surgem como “figuras substitutas desses primeiros objetos afetivos
[...]”. (p.1893)
Colocado neste lugar especial, o outro-professor se “impõe” como au-
2 Social.
toridade. Autoridade daquele que dispõe um saber a ser trocado em forma de 161
......
conhecimento.
A noção de uma “herança afetiva” (p.1893) que sempre transborda nas
relações e que o autor afirma colocar-se na nossa vida interpessoal, ao salientar
que “[...] todas as escolhas posteriores de amizade e amor seguem a base das
lembranças deixadas por esses primeiros protótipos” (p. 1325), pode auxiliar
o professor a compreender um elemento que está em jogo quando os alunos se
envolvem, ou não, com os conteúdos por ele apresentado a serem aprendidos,
ou não.
Assim, Freud salienta ao final de seu texto: “transferimos para eles3 o
respeito e as expectativas ligadas ao pai onisciente de nossa infância e depois
começamos a tratá-los como tratávamos nossos pais em casa” (p.1894). E
conclui, tomado pela ideia de que temos sentimentos ambivalentes pelo pai
(consequentemente por aquele que “tomou” o seu lugar, o professor) que
representou uma figura de autoridade ao assumir a posição especial, ideal e
onisciente, quanto ao saber que queremos tomar para si, no movimento de nos
tornarmos um sujeito – sujeito do conhecimento – “nosso comportamento
para com os professores seria não apenas incompreensível, mas também indes-
culpável” (p.1894).
Se nós, professores, nos tornarmos conhecedores desta dinâmica subja-
cente às relações interpessoais – princípio colocado pela teoria psicanalítica – e
a tomarmos como parâmetros para pensar nossas ações e práticas metodoló-
gicas no encontro com o sujeito aluno, não teríamos somente “sucesso” nas
aprendizagens, mas, acima de tudo, alteridade na educação. Este parece ser o
objetivo primeiro na construção de conhecimentos a serem compartilhados
numa dita sociedade democrática que tanto desejamos como suporte educa-
cional para os nossos jovens. Para não falarmos da problemática contempo-
rânea da violência dentro da escola, tema para outra discussão.
3 Grifo da autora
162 REFERÊNCIAS
......
INTRODUÇÃO
Partir exige um dilaceramento que arranca uma parte do corpo à parte que
permanece ligada à margem de nascimento, à proximidade de parentesco, à casa
e aos costumes próprios do meio, à cultura da língua e à rigidez dos hábitos.
[....] Os teus pais correm o risco de te condenarem como um irmão separado.
Eras único e assinalado, vais tornar-te em vários, por vezes incoerente, como o
universo que no começo, diz-se, explodiu com grande estrondo. Parte, e tudo
começa, pelo menos a tua explosão em mundos à parte.
PARA REFLEXÃO
ÀVILA, Sueli de Fatima Ourique de. A adolescência como ideal social. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DO ADOLESCENTE, 1, 2005, São Paulo. Anais..., 2005
BRUNER, Jerome Seymour. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
CHARLOT, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões
para a educação hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.
GOLGHER, André Braz. Diálogos com o ensino médio 2: o ensino médio no Brasil visto
a partir do modelo Profluxo e outros indicadores demográficos. Belo Horizonte:
UFMG; Cedeplar, 2010. (Texto para discussão, 392). Disponível em: <http://
www.cedeplar.ufmg.br/ pesquisas/td/TD%20392.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2010.
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1. sem. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psie/n30/n30a04.
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PARREIRA, Lúcia Aparecida; JOSÉ FILHO, Mário. A educação não formal: desafios
de uma prática pedagógica. Serviço Social & Realidade, Franca, v. 19, n. 1, p. 241-268,
2010.
SILVA, Maria Izabel Costa da; FREITAS, Rony Cláudio de Oliveira. Saberes da
experiência de estudantes jovens e adultos: conhecer para valorizar. Debates em
Educação Científica e Tecnológica, v. 1, n. 1, p. 57-65, 2011. Disponível em: < http://
ojs.ifes.edu.br/index.php/dect/ article/view/10>. Acesso em: 12 nov. 2010.
SOUZA, Elizeu Clementino de; ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto (Orgs.).
Tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.
A educação deve também cuidar para que o homem se torne prudente, que ele
permaneça em seu lugar na sociedade e que seja querido e que tenha influência.
A essa espécie de cultura pertence aquela chamada propriamente de civilidade.
Esta requer certos modos corteses, gentileza e a prudência de nos servirmos
dos outros homens para os nossos fins.
Deve, por fim, cuidar da moralização. Na verdade, não basta que o homem seja
capaz de toda a sorte de fins; convém também que ele consiga a disposição de
escolher os bons fins. Bons são aqueles fins aprovados necessariamente por todos
e que podem ser, ao mesmo tempo, os fins de cada um.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 11. ed. São Paulo: Ática, 1999.
INTRODUÇÃO
O QUE É A PSICOPEDAGOGIA?
1 Professora da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Doutora em Educação. E-mail: jaquelinepicet-ti@gmail.
com.
2 Professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da UFRGS. Doutora em Educação. E-mail: ta-
-niabimarques@bol.com.br.
182 aprendizagem, por meio do entrelaçamento e da manifestação dos processos
......
cognitivos, afetivo-emocionais, sociais, culturais, orgânicos, psíquicos e peda-
gógicos, concebendo o sujeito como individual e coletivo.
A Psicopedagogia transita entre os aspectos pedagógicos e psíquicos e
entre os processos de desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos. Sua in-
tervenção possibilita que indivíduos, grupos e instituições desenvolvam seus
processos de aprendizagem de forma saudável, resgatando o prazer de aprender
e descobrindo-se como autores de seus próprios processos.
Nota-se, com base na experiência na área da Psicopedagogia, que é preciso
diferenciá-la da Educação Especial, conforme o artigo 58 da Lei nº 12.796, de
2013:
Assim, pode-se dizer que a Psicopedagogia atende aos sujeitos que neces-
sitam de um olhar articulador sobre seu processo de aprendizagem, criando es-
tratégias para a superação do não-aprender e a autoria. Já a Educação Especial,
conforme a Lei n° 12.796 de 2013, tem o seu trabalho direcionado para os
sujeitos com Necessidades Educativas Especiais.
QUEM É O PSICOPEDAGOGO?
REFERÊNCIAS
Editora da UFRGS • Ramiro Barcelos, 2500 – Porto Alegre, RS – 90035-003 – Fone/fax (51) 3308-5645
– editora@ufrgs.br – www.editora.ufrgs.br • Direção: Alex Niche Teixeira • Editoração: Luciane Delani
(coordenadora), Clarissa Felkl Prevedello, Cláudio Marzo da Silva, Cristina Thumé Pacheco e Lucas Ferreira
de Andrade • Administração: Aline Vasconcelos da Silveira, Cláudio Oliveira Rios, Fernanda Kautzmann,
Gabriela Campagna de Azevedo, Getúlio Ferreira de Almeida, Heloísa Polese Machado, Janer Bittencourt,
Jaqueline Trombin e Laerte Balbinot Dias • Apoio: Luciane Figueiredo