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Técnico Auxiliar de Farmácia

Professora Margarida Correia


2022/2023

Relações Ecológicas

Classificação dos Seres Vivos


Todos os seres vivos são agrupados de acordo com as suas características comuns,
tornando possível conhecer e analisar a Biodiversidade no planeta, entender graus de
parentesco evolutivo entre indivíduos e perceber os momentos onde existiu necessidade de
adaptação.

Os seres vivos podem ser classificados de várias formas…

→ Forma de Obtenção de Alimento


. Autotróficos: seres vivos capazes de sintetizar o próprio alimento. Exemplo: Plantas, Algas,
Bactérias.

- Fotossintetizantes: utilizam a Energia Luminosa para produzir Matéria Orgânica através


da Fotossíntese. Exemplo: Plantas.

- Quimiossintetizantes: utilizam compostos químicos inorgânicos para produzir matéria


orgânica por Quimiossíntese. Exemplo: Bactérias.

. Heterotróficos: seres vivos que NÃO são capazes de sintetizar o próprio alimento, devendo
obter a matéria orgânica necessária para o seu metabolismo através do consumo de outros
seres vivos ou de matéria orgânica produzida pelos autotróficos.

- Herbívoros: seres que se alimentam de Plantas. Exemplo: Vacas, Elefantes.

- Carnívoros: seres que se alimentam de outros seres, geralmente através da caça ou de


restos de animais. Exemplo: Leão, Hiena.

→ Nível Trófico
. Produtores: são a base da cadeia alimentar, ocupando o 1º Nível Trófico. São os
organismos autotróficos como as plantas e as algas.

. Consumidores Primários: herbívoros que se alimentam dos Produtores. Exemplo: coelho.

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. Consumidores Secundários: carnívoros que se alimentam de Consumidores Primários.


Exemplo: raposa.

. Consumidores Terciários: carnívoros que se alimentam de outros carnívoros


(Consumidores Secundários). Exemplo: águia.

. Apex Predator: animais no topo da cadeia alimentar, sem predadores naturais. Exemplo:
leão, orca, homem.

. Decompositores: seres que contribuem para a reciclagem de nutrientes no ecossistema,


alimentando-se de restos de carcaças de outros indivíduos. Exemplo: fungos.

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Taxonomia
A classificação básica dos seres vivos é feita em Ordem Decrescente (do Maior para o
Menor):

Existem 3 Domínios…
. Bacteria: inclui todos os organismos unicelulares e procariontes. Engloba bactérias que
causam doenças ao homem e também as que se encontram em ambientes como água e
solo.

. Archaea: representado por organismos geralmente quimiossintetizantes e procariontes,


que não encaixam no Domínio anterior. Muitos dos representantes são Extremófilos –
organismos capazes de viver em condições extremas – que acabam por estabelecer os
limites de tolerância dos seres vivos às condições climáticas.

. Eucarya: inclui apenas organismos eucariontes, unicelulares, como os Protozoários, ou


Multicelulares, como Animais, Fungos e Plantas.

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… e 5 Reinos – Monera, Protista, Fungi, Planta e Animal.

Exemplo para o ser Humano:


. Domínio – Eucarya
. Reino – Animalia
. Filo – Chordata, o ser humano possui notocorda que leva à formação da coluna vertebral –
Vertebrados
. Classe – Mammalia, a sua descendência mama – Mamíferos
. Infraclasse – Placentalia, mamífero cuja fêmea possui placenta
. Ordem – Primata
. Família – Hominidae
. Género - Homo
. Espécie – sapiens

Relações Ecológicas
Interações que ocorrem entre os seres vivos. Fatores como:
- a não produção de determinadas substâncias essenciais à sobrevivência
- perda de informação genética numa população/espécie
- processos metabólicos e manutenção do fluxo de energia

… levam à necessidade de estabelecer relações entre seres vivos.

As relações bióticas são categorizadas de acordo com o saldo Benefício/Prejuízo dos


organismos envolvidos.

Classificação
. Relações Intraespecíficas: entre indivíduos da mesma espécie.
. Relações Interespecíficas: entre indivíduos de espécies diferentes.

Em termos do que se ganha/perde…


. Harmoniosas: ou Positivas, quando trazem benefícios a todos os envolvidos, ou trazem
benefícios a um sem causar prejuízo ao outro.

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. Não Harmoniosas: ou Negativas, quando causam algum prejuízo a algum dos envolvidos.

Simbiose: qualquer tipo de interação próxima e de longa duração entre 2 organismos


diferentes, que inclui o Mutualismo, o Parasitismo e o Comensalismo. A simbiose pode ser
Obrigatória, quando os Simbiontes dependem um do outro para sobreviver, ou Facultativa
quando podem viver de forma independente.

→ Mutualismo: indivíduos de espécies diferentes vivem associados, sendo dependentes


ou não desta associação. Aqui, todos são beneficiados, sendo assim uma relação
Harmoniosa. O mutualismo é uma parte fundamental da ecologia, já que estas interações
são vitais para o funcionamento dos ecossistemas: 48% das plantas terrestres dependem
de micorrizas para sobreviver; as florestas tropicais dependem de animais para dispersão
de sementes.

Exemplos: Polinização – as plantas fornecem comida (néctar ou pólen) em troca de


dispersão de pólen ou sementes por abelhas e beija-flores.

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Líquenes: associação entre algas e fungos. As algas fazem fotossíntese e dão aos fungos
matéria orgânica que será o seu alimento. Já os fungos retêm água e sais minerais, além
de protegerem as algas.

Flora Intestinal: também os humanos mantêm uma relação com bactérias que vivem no
nosso organismo. As bactérias ajudam a digestão e a absorção de nutrientes, produzem
vitaminas, ácidos gordos, ómega-3, inativam toxinas, regulam o sistema imunitário, a
glucose no sangue e a PA. Em troca, garantem para si alimento e abrigo. Existem cerca
de 100 triliões de bactérias em associação no nosso organismo, sendo que a maioria
habita o nosso intestino.

Vacas ou Crocodilos e Aves: o gado solto está mais suscetível a parasitas como
carrapatos, que o podem enfraquecer. Assim, algumas aves que comem insetos
aproveitam estas situação; a ave alimenta-se com facilidade, diminuindo o incómodo da
vaca. Já no caso dos crocodilos, as aves alimentam-se dos restos de comida nos seus
dentes, evitando o incomodo de ter comida entalada, que pode apodrecer e trazer
infeções.

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Micorrizas: relações que envolvem o fornecimento de nutrientes. São fungos que se


associam a raízes; os fungos ajudam a maximizar a absorção de água e nutrientes,
enquanto as raízes fornecem matéria orgânica.

→ Comensalismo: apenas uma espécie é beneficiada sem causar prejuízo à outra. É


considerada uma relação Harmoniosa, sendo um exemplo desta o tubarão e a remora. A
remora fixa-se na parte ventral do tubarão, utilizando uma ventosa, sendo assim
transportada e aproveitando os restos alimentares do tubarão. Também os urubus
mantêm uma relação comensal com os humanos e outros mamíferos. A ave alimenta-se
do desperdício humano, nas lixeiras ou de carcaças velhas. Outro exemplo, é a relação
mantida entre o homem e a Entamoeba coli, um protozoário que vive no intestino grosso
e se alimenta de restos digestivos, sem causar doença.

→ Parasitismo: relações em que um organismo - Parasita - é beneficiado às custas de outro


– Hospedeiro. O efeito de um parasita no hospedeiro pode ser Mínimo, sem lhe afetar as
funções vitais – Piolhos, ou pode causar doenças graves e até mesmo a morte – vírus e
bactérias. Nestes casos extremos, o parasita normalmente morre com o seu hospedeiro,
mas, em alguns casos, o parasita pode-se ter reproduzido e passado os seus
descendentes, que podem ter infestado outros hospedeiros – Plasmodium.

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Parasita: organismos que, com a finalidade de se alimentar, reproduzir ou completar o seu


ciclo de vida, vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua
sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro. Os parasitas são
tipicamente muito mais pequenos que os seus hospedeiros, geralmente não o matam e
vivem neles por extensos períodos temporais. São seres altamente especializados e
reproduzem-se mais rapidamente que o hospedeiro. Todas as doenças infeciosas em
animais são causadas por seres considerados parasitas – Parasitose.

Os parasitas mais comuns são: vírus, bactérias, vermes, artrópodes, protozoários –


agentes da malária, da doença do sono e disenteria. Podem ser classificados quanto…

Especificidade Parasitária
. Estenoxenos: afetam somente uma espécie hospedeira ou um grupo de espécies muito
próximas. Exemplo: Ascaris lumbricoides (lombrigas), Plasmodium (malária), Taenia.

. Eurixenos: apresentam uma ampla variedade de hospedeiros. Exemplo: Toxoplasma


gondii (toxoplasmose), Leishmania.

Parte do corpo do hospedeiro atacada


. Ectoparasitas: atacam a parte exterior do corpo do hospedeiro. Exemplo: piolhos, pulgas,
carrapatos.

. Endoparasitas: vivem no interior do corpo do hospedeiro. Exemplo: ténias, vírus.

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. Hemoparasitas: vivem na corrente sanguínea. Exemplo: Plasmodium, tripanossomas.

Necessidade
. Parasitas Obrigatórios: o parasita depende do hospedeiro para sobreviver. Exemplo: vírus.

. Parasitas Facultativos: não dependem do hospedeiro para sobreviver, mas escolhem


parasitá-lo.

Tipo de Ciclo Biológico (número de hospedeiros)


. Monoxenos: necessitam de apenas 1 hospedeiro
para completar o seu ciclo de vida.
Exemplo: Ascaris, Enterobius.

. Heteroxenos: necessitam de 2 ou mais hospedeiros para completar o seu ciclo de vida.


Exemplo: Taenia, Plasmodium, Trypanosoma, Leishmania, Toxoplasma.

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Hospedeiro: organismo que abriga um parasita no seu corpo, constituindo o seu habitat.
O parasita pode ou não causar doença ao hospedeiro. Os hospedeiros podem ser:

. Primário ou Definitivo: organismo que apresenta o parasita na sua fase adulta ou na sua
forma sexuada. São imprescindíveis para o parasita. Exemplo: Schistosoma mansoni e
Trypanosoma cruzi (Doença das Chagas), têm no ser humano o seu hospedeiro definitivo; já
o do Plasmodium é o mosquito Anopheles.

. Secundário ou Intermédio: apresentam o parasita em fases iniciais do seu crescimento, na


sua fase de larva ou assexuada. Exemplo: no caso da ténia, o seu hospedeiro primário é o
humano, mas o intermediário é o porco, onde se desenvolve no seu músculo.

. Paraténico ou de Transporte: é o organismo que serve de reservatório temporário para a


fase imatura do parasita, não sendo necessário para completar o seu ciclo de vida. Aqui, o
parasita pode acumular em grande número, aumentando as suas possibilidades de
sobrevivência e transmissão. Exemplo: Gnathostoma tem como hospedeiros definitivos

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mamíferos carnívoros. As fezes destes animais contaminam a água, onde o parasita inicia o
seu desenvolvimento e pode ser ingerido por pequenos crustáceos. Estes crustáceos são
ingeridos por peixes ou sapos (Hospedeiros Secundários), que podem ser ingeridos
imediatamente pelos carnívoros, ou por patos e cobras que se tornam Hospedeiros
Paraténicos.

Reservatórios: hospedeiros naturais que acolhem os parasitas, sem sofrer nenhum efeito
prejudicial. No entanto, são fonte de infeção para doenças humanas. Exemplo: morcegos,
macacos.

Vetores: podem ser artrópodes, moluscos, entre outros veículos capazes de transmitir o
parasita entre 2 hospedeiros.

. Biológicos: quando o parasita se reproduz ou desenvolve nesse vetor.

. Mecânico: quando o parasita não se reproduz nem desenvolve no vetor, sendo este apenas
um transporte.

. Inanimado/Fómites: quando o parasita é transportado por objetos como lenços, talheres,


seringas.

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Zoonose: doenças procedentes de animais que saltam para humanos. Depois de saltar a
barreira da espécie, o passo seguinte é o agente adquirir a capacidade de passar
diretamente, sem usar outro hospedeiro, de um ser humano para outro. Atualmente,
sabemos que os reservatórios de onde nascem as epidemias humanas são aves, suínos,
morcegos, entre outros, e que formas do vírus HIV que provocam SIDA saltaram a partir de
macacos.

Relação Parasita/Hospedeiro
. Infeção: quando ocorre a invasão e colonização do organismo hospedeiro por parasitas
internos (Helmintos - Ténia, Protozoários - tripanossoma, giardia). A colonização do
organismo pela flora normal, desde que mantida nas suas áreas normais, NÃO é uma
infeção. No entanto, se estas bactérias colonizam outro local em que não deviam estar,
passamos a ter infeção.

- Infeção Sistémica: o parasita espalha-se pelos tecidos pela circulação sanguínea.

- Infeção Localizada: o microrganismo mantém-se isolado num determinado local, como


o sítio de uma ferida.

- Infeção Primária: infeção inicial numa série de possíveis infeções.

- Infeção Secundária: infeção que se apresenta após a primária. Exemplo: a infeção


primária pode enfraquecer o sistema imunitário, permitindo infeções secundárias –
Oportunistas.

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. Infestação: quando o ataque é por parasitas externos, como os artrópodes (piolho,


carrapato).

Os parasitas influenciam as taxas de mortalidade, de crescimento, a fecundidade, o


estado nutricional e o comportamento do hospedeiro. Assim, as diferentes populações de
parasitas e hospedeiros envolvem-se numa dinâmica evolutiva cíclica – Coevolução – em que
ambos produzem, ao mesmo tempo, novas variantes na tentativa de vencer o opositor –
Teoria da Rainha Vermelha.

Teoria da Rainha Vermelha


Hipótese evolutiva que propõe que uma espécie tem de estar constantemente a adaptar-
se, a evoluir e a proliferar de modo a sobreviver quando confrontada com outras espécies,
evitando a extinção. Os parasitas causam danos elevados, são ubíquos (estão em todo o
lado), evoluem rapidamente (ciclos de vida curtos) e possuem grandes populações e
genomas flexíveis, tornando esta coevolução um processo fundamental para a sobrevivência
do hospedeiro.

O parasitismo não significa necessariamente doença. O que determina se o hospedeiro


fica ou não doente são fatores como:

. Patogenicidade: capacidade de um agente biológico causar doença num hospedeiro


suscetível. Um parasita muito patogénico espalha-se facilmente. Um parasita pode ser
considerado Primário quando infeta o hospedeiro e este apresenta imediatamente sinais
clínicos (Mycobacterium tuberculosis), ou como Secundário, quando o hospedeiro atua
como reservatório, estando infetado por um longo período de tempo e somente
apresentando resposta imunitária se existir um problema na sua imunidade (Staphylococcus
aureus).

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. Infectividade: capacidade de se alojar e multiplicar no hospedeiro e de ser transmitido.

. Virulência: grau de patogenicidade de um agente infecioso, que se expressa pela


gravidade da doença, pela letalidade e produção de casos com sequelas. Refere-se aos
mecanismos precisos utilizados pelo parasita para invadir e danificar tecidos do hospedeiro.

. Imunogenicidade: capacidade de uma substância estranha, neste caso o microrganismo,


provocar uma resposta imunitária no hospedeiro.

. Suscetibilidade: do hospedeiro, é a ausência de resistência efetiva contra um


determinado agente patogénico.

. Resistência: quando o sistema imunitário consegue impedir a invasão/multiplicação do


microrganismo, protegendo o organismo.

Formas de Transmissão de Agentes Infeciosos


Uma Infeção começa com a exposição do hospedeiro ao agente infecioso, que habita
em reservatórios como seres humanos ou outros animais, água, solo ou comida. O agente
infecioso sai do seu reservatório e propaga-se de um hospedeiro infetado para outro. Os
Portadores desempenham aqui um papel importante, já que transportam o agente sem
apresentarem sintomas da doença.

Os agentes infeciosos podem ser transmitidos de variadas maneiras:

→ Contacto Direto: inclui contacto entre hospedeiros, seja através de beijos ou relações
sexuais, onde uma pessoa entra em contacto com a pele e fluidos corporais de outra
pessoa. Uma grávida pode transmitir um agente infecioso ao seu feto – Transmissão
Vertical –, durante a gravidez ou durante o parto.

→ Transmissão por Transfusão de Sangue Infetado

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→ Transmissão por Gotículas: também pode ser considerada uma forma de contacto
direto. Envolve a transmissão do agente por pequenas gotículas respiratórias, quando
um hospedeiro infetado tosse ou espirra, que são depois inaladas por outro
hospedeiro.

→ Contacto Indireto: envolve a transferência do agente infecioso através de um


intermediário, como um objeto ou pessoas contaminados. O agente pode ser
depositado num objeto inanimado – Fómites – que é depois utilizado por outra pessoa.
Isto inclui partilha de brinquedos, talheres, contacto em superfícies comuns como
maçanetas ou um teclado de computador. Se um médico ou enfermeiro não trocar de
luvas entre pacientes, também pode transmitir patógenes.

→ Transmissão Aérea (Airborne): ocorre quando agentes infeciosos estão presentes em


pequenas partículas ou gotículas no ambiente, que podem percorrer distâncias
maiores, permanecendo infeciosas durante algum tempo.

→ Transmissão Fecal-Oral: ocorre quando o agente infecioso está presente nas fezes de
um hospedeiro infetado. As fezes vão, por sua vez, contaminar alimentos e água, que
podem ser consumidos por outro hospedeiro.

→ Transmissão por Vetores: acontece quando um artrópode (mosquitos, moscas, pulgas)


ou outro animal (morcego) está envolvido na transmissão. Geralmente, o artrópode
morde/pica um hospedeiro infetado, transmitindo o agente infecioso quando vai picar
um novo hospedeiro.

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Antibioterapia – Bactérias

Microbiologia: ramo da Biologia que estuda os microrganismos, eucariontes e


procariontes.

Microrganismo
Organismos microscópicos que podem existir sob a forma unicelular ou em colónia.
Incluem Vírus, Bactérias, Protozoários, Algas e Fungos (Leveduras). Muitos microrganismos
são Agentes Patogénicos, mas outros são Benéficos, contribuindo para a fertilização do solo,
reciclagem de substâncias e fermentação de cerveja e pão e fabrico de iogurtes. Encontram-
se em todos os habitats terrestres e toleram os ambientes mais extremos, desde o fundo dos
oceanos, aos desertos, temperaturas extremas, pressão elevada e até radiação.

Bactérias
. Organismos Procariontes Unicelulares, do Reino Monera.
. Muitas vivem sobre e dentro do corpo de pessoas e animais, na pele, vias respiratórias,
boca e tratos digestivo, reprodutivo e urinário, SEM causar nenhum dano – Flora Habitual ou
Microbioma.
. O número de bactérias na nossa microbiota é, no mínimo, igual ao número de células no
organismo, ajudando na digestão de alimentos ou prevenindo o crescimento de outras
bactérias mais perigosas.

Importância: praticamente toda a vida na Terra depende das bactérias para sobreviver, já
que só elas conseguem sintetizar vitamina B12 (Cobalamina), fornecendo-a através da
cadeia alimentar. Esta vitamina está envolvida na síntese de DNA e no Metabolismo dos
Ácidos Gordos e Aminoácidos. Também é fundamental para o normal funcionamento do
SN, participando na Síntese de Mielina.

Assim, o organismo contém várias centenas de espécies diferentes de bactérias e triliões


de bactérias individuais. As espécies são diferentes entre locais, refletindo o ambiente
também diferente.

Apenas alguns tipos de bactérias causam doenças – Bactérias Patogénicas, mas, por
vezes, mesmo as bactérias do Microbioma podem fazê-lo. Se as membranas mucosas

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sofrerem uma lesão, a bactéria passa a ser capaz de provocar doença, pois entra em tecidos
que estão geralmente fora dos seus limites e não têm defesas contra elas. Exemplo:
bactérias do intestino que tentam viver na bexiga.

Podem, também, entrar na corrente sanguínea, espalhando-se. As bactérias causam


doença ao produzirem toxinas, ao invadirem tecidos ou ambos, provocando inflamações
que podem afetar o coração, o SN, os rins e o TGI. Podem, ainda, aumentar o risco de cancro
– Helicobacter pylori.

Em relação ao meio ambiente, as bactérias participam na:


. Renovação de Azoto
. Produção de iogurtes e queijos, a partir de Lactobacilos
. Produção de medicamentos e suplementos
. Desenvolvimento da engenharia genética, para produzir proteínas humanas como a
hormona do crescimento e a insulina
. Biorremediação ambiental, pela introdução de bactérias Pseudomonas em ambientes
poluídos para descontaminação.

Estrutura

→ Citoplasma: como são procariontes, é aqui que o material genético se encontra


disperso. Este material genético é constituído por UMA molécula Circular de DNA -
Nucleoide – e, em algumas bactérias, existem moléculas adicionais, os Plasmídeos – zonas
do DNA que ajudam a defender as bactérias da ação dos antibióticos pois possuem
Genes Resistentes. Também existem Ribossomas no citoplasma, que produzem
proteínas.

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→ Membrana Plasmática e Parede Celular: a MP delimita o citoplasma e é revestida pela


PC, que torna a célula Impermeável à entrada de água. Algumas bactérias têm, ainda,
uma Cápsula externa que as protege da desidratação e de serem comidas, defendendo
a bactéria e ajudando-a a fixar-se ao hospedeiro.

→ Flagelo, Pili ou Fimbria: ajudam à locomoção da bactéria, através do seu batimento.

Nutrição: a grande maioria das bactérias são Heterotróficas, alimentando-se de substâncias


produzidas por outros seres vivos. No entanto, algumas são Autotróficas.

Reprodução: as bactérias reproduzem-se de forma Assexuada, principalmente por Divisão


Binária. Nesta divisão, o cromossoma é duplicado e a célula divide-se ao meio, dando
origem a duas bactérias iguais. Este processo é extremamente rápido, motivo pelo qual a
proliferação de bactérias em infeções é tão rápida.

Outro modo de reprodução é a Esporulação (formação de esporos), que acontece


quando a bactéria está exposta a condições críticas como falta de água e nutrientes (ver em
baixo).

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Classificação
As bactérias podem ser divididas em 6 categorias: Gram-positivas e Gram-negativas (ver
em baixo), Micobactérias (Lepra, Tuberculose), Riquétsias – carregadas por pulgas,
piolhos… crescem exclusivamente dentro de células vivas (Tifo), Espiroquetas (Sífilis,
Leptospirose) e Atípicas (Micoplasmas – Pneumonia; Legionela – Gram-negativas, doença
do Legionário; Clamídias). Podem ser classificadas de várias maneiras…

. Nomes Científicos: as bactérias são classificadas por Género, com base nas suas
características semelhantes, seguido da Espécie. Exemplo: Clostridium botulinum. Dentro
da espécie, existem Estirpes, que tendo um ancestral comum, diferem na formação genética
e nos componentes químicos. Por vezes, alguns medicamentos e vacinas contra
determinada bactéria são eficazes apenas contra determinada estirpe.

. Coloração: as bactérias podem ser classificadas pela cor que apresentam após certas
substâncias químicas lhes serem aplicadas. A coloração de Gram é o processo mais utilizado
para identificação de bactérias, que adquirem cores diferentes devido a diferenças nas
paredes celulares.

Estas bactérias dividem-se em 2 grupos, que podem provocar diferentes infeções e


serem resistentes a diferentes antibióticos:

 Gram-positivas: a sua Parede Celular é uma camada espessa de peptidoglicano. Estas


bactérias ficam com uma cor azul-violeta. Podem apresentar-se sob duas formas,
Cocos ou Bacilos (ver em baixo), e apenas algumas causam doença. A maioria integra
o nosso Microbioma. Exemplos:
. Anthrax (bacilo)
. Difteria (bacilo)
. Infeções Enterocócicas (cocos) - Celulite
. Listeriose (bacilo)

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. Infeções Pneumocócicas (cocos) – Pneumonia, Meningite, Sinusite, Otite


. Infeções por Staphylococcus aureus (cocos)
. Infeções Estreptocócicas (cocos) - Faringite

 Gram-negativas: bactérias com uma parede celular fina, que ficam com uma coloração
vermelha. Estas bactérias estão envoltas numa Cápsula protetora que ajuda a evitar
que os Glóbulos Brancos as comam. Por baixo, a sua membrana externa protege-as
contra alguns antibióticos, como a Penicilina. Quando esta membrana é perturbada,
liberta substâncias tóxicas – Endotoxinas – que agravam os sintomas nas infeções. Estas
bactérias podem provocar Pneumonias, Peritonites (inflamação da membrana que
reveste a cavidade abdominal), infeções no sangue, urinárias e meningite. Exemplos:
. Cólera
. Neisseria
. Escherichia coli – infeções urinárias e gastrointestinais
. Peste
. Febre Tifoide
. Legionela
. Salmonella
. Haemophilus influenzae

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. Formas: todas as bactérias podem ser classificadas com uma de 4 formas básicas: Cocos
(esferas), Bacilos (bastonetes), Espiroquetas (espirais ou hélices) e Vibriões (forma de
vírgula).

. Necessidade de Oxigénio: as bactérias que precisam de oxigénio chamam-se Aeróbias –


Estafilococos, Estreptococos, Enterococos, Neisseria; já as que têm dificuldade em viver e
crescer quando o oxigénio está presente são chamadas Anaeróbias. Algumas são
Facultativas, que podem viver e crescer nas duas condições.

Mecanismos de Infeção

Para uma infeção de sucesso, as bactérias têm de se conseguir defender do Sistema


Imunitário do hospedeiro de modo a conseguir infetar eficazmente o organismo. Como
referimos anteriormente, Virulência é a gravidade de uma doença provocada por um agente
infecioso. Relaciona-se com a capacidade do agente produzir efeitos Graves ou Letais, com

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a produção de Toxinas e com a Capacidade de Invasão e Colonização do hospedeiro. Os


microrganismos têm genes para Fatores de Virulência, que lhes dão a capacidade de
provocar doença - estruturas e substâncias que ajudam a aumentar a sua capacidade de
causar uma infeção, e podem estar envolvidos na capacidade de colonização ou com o
aumento de lesões no hospedeiro.

A Virulência pode ser Baixa, quando o agente infecioso é responsável por doenças que
NÃO causam casos graves e com Baixa Taxa de Mortalidade, ou Alta, para agentes com
Elevada Taxa de casos graves e de mortalidade. Alguns dos métodos utilizados pelas
bactérias para infetar o hospedeiro de modo eficaz são os seguintes:

→ Biofilme: algumas bactérias produzem uma substância que as ajuda a atacar outras
bactérias ou células. Esta substância combina-se com a bactéria/célula para formar uma
camada pegajosa, o Biofilme. Exemplo: bactérias que formam um biofilme nos dentes –
Placa Dentária. O biofilme captura partículas de alimentos que as bactérias processam e
utilizam, causando cáries. Os biofilmes também ajudam a proteger contra antibióticos.

→ Cápsulas: algumas bactérias estão envoltas em cápsulas protetoras - Bactérias


Encapsuladas.

→ Membrana Externa: presente debaixo da cápsula das Gram-negativas.

→ Esporos: algumas bactérias produzem esporos, que são uma forma Inativa ou
Dormente da mesma. A bactéria envolve-se numa camada extremamente espessa e
interrompe o seu metabolismo, originando o Endósporo, capaz de viver em total
inatividade durante muitos anos. Os esporos possibilitam às bactérias sobreviverem
quando as condições ambientais são difíceis. Quando as condições voltam a ser
favoráveis, cada esporo germina numa bactéria ativa. Exemplo: Clostridium tetani (tétano)
e Bacillus anthracis (Anthrax) produzem endósporos e vivem por muitos anos inativos no

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solo. Quando entram no corpo humano ou de outro animal, deixam a forma de esporo
assumindo a sua forma normal, infetando o hospedeiro.

→ Flagelos: bactérias sem flagelos não se podem mexer sozinhas, logo não conseguem
fugir.

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Antimicrobianos
Substâncias que matam ou inibem o desenvolvimento de microrganismos, sendo
utilizados no combate a infeções. Incluem Antivirais, medicamentos contra parasitas,
Antifúngicos e Antibacterianos. Os Antibacterianos podem ser:

→ Antibióticos: substâncias químicas com a capacidade de interagir com bactérias


patogénicas, com o intuito de combater doenças por elas desenvolvidas. É fundamental
conhecer as concentrações em que os antibióticos atuam.

Para que um antibiótico apresente uma eficácia clínica considerável, deve:


. ser eficiente a baixas concentrações, caso contrário pode tornar-se tóxico para o paciente
. ter Toxicidade Seletiva, ou seja, ser ativo contra microrganismos invasores e inativo contra
o hospedeiro
. ser específico contra o microrganismo patogénico sem destruir a microbiota normal
. ter ação Bactericida ou Bacteriostática - os antibióticos interferem no ciclo de vida dos
microrganismos, matando-os ou inibindo o seu metabolismo e/ou reprodução, o que
permite ao sistema imunitário combatê-los com maior eficácia
. ter um bom poder residual – tempo que a substância ativa mantém a sua proteção
. não propiciar o aparecimento de linhagens resistentes

Mecanismo de Ação dos Antibióticos

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. Bacteriostáticos: apresentam a capacidade de parar o crescimento bacteriano,


inibindo a divisão celular. Exemplos: Macrólidos, Tetraciclinas, Sulfas.

. Bactericidas: para uma bactéria se dividir, precisa destruir a sua Parede Celular e voltar a
sintetizá-la. Estes antibióticos vão impedir este último passo (síntese), matado a bactéria.
Exemplo: Penicilinas, Cefalosporinas, Quinolonas, Aminoglicosídeos. Podem, ainda, utilizar
métodos como Destruição da Permeabilidade da Membrana Plasmática (Polimixina B).

Alguns antibióticos podem ter as duas ações, dependendo da dose em que são
administrados, da exposição e estado das bactérias invasoras. Os Bactericidas em dose
baixa podem ser Bacteriostáticos e estes, em dose elevada, podem-se tornar Bactericidas.

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Concentração Inibitória Mínima (CIM): concentração mínima de antibiótico que inibe o


crescimento do microrganismo. A dose administrada deve ser suficiente para que a
concentração de antibiótico no local de ação seja maior que a CIM.

Concentração Bactericida Mínima (CBM): concentração mínima capaz de destruir os


microrganismos. Se a CBM > 4xCIM, temos Tolerância Bacteriana.

Tipos de Antibióticos
• -Lactâmicos: têm um Anel Betalactâmico na sua constituição, o qual pode ser
destruído pelas enzimas -lactamases de algumas bactérias, conferindo-lhes resistência
a estes antibióticos (ver em baixo). Assim, alguns destes antibióticos podem ser
associados a inibidores da -lactamase, como o Ácido Clavulânico (Amoxicilina) e o
Sulbactam (Ampicilina), tornando-os mais eficazes na destruição das bactérias.

Atuam pela Inibição da Síntese da Parede Celular das bactérias, matando-as – Bactericida.
Exemplos: Penicilinas, Cefalosporinas.

➢ Penicilinas: primeiro antibiótico a ser desenvolvido. A Penicilina em si é atualmente


pouco utilizada, pois a maioria das bactérias já apresenta resistência contra ela. No
entanto, é aconselhada para Sífilis e Amigdalites. É importante perceber que o
espetro de ação destes antibióticos varia, sendo a Piperacilina utilizada em infeções
hospitalares e a Amoxicilina em infeções simples da via aérea. Exemplos: Ampicilina
(oral, intravenosa ou intramuscular; infeções do ouvido e garganta, sinusite,
abcessos, bronquite, pneumonia, infeções urinárias, gonorreia, salmonela),
Amoxicilina (oral; sinusite, infeções respiratórias, urinárias, dentárias, dos ossos e
articulações), Penicilina (oral, parentérica; meningites, septicemias, infeções
respiratórias, tétano, antrax), Penicilina G (via intramuscular ou endovenosa pois é
destruída pelo pH do estômago), Piperacilina (parentérica).

➢ Cefalosporinas: existem 5 gerações (Gen) destes antibióticos, cada uma com


maior espetro de ação que a anterior. As cefalosporinas de 3ª Gen conseguem
atravessar a Barreira Hematoencefálica, por isso são utilizadas na Meningite.
Exemplos: Ceftriaxona, Cefotaxima.

• Quinolonas: antibióticos de espetro largo, que interferem na normal síntese de RNA,


matando a bactéria (Bactericida). São utilizadas em infeções urinárias e respiratórias,

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Antrax, gonorreia, otite, infeções por E. coli e Salmonella. Podem provocar efeitos
adversos graves e debilitantes, logo, não devem ser utilizadas como 1ª linha de
tratamento. O seu uso foi restringido na Europa.

• Aminoglicosídeos: afetam bactérias Gram-negativas, impedindo a sua multiplicação,


e são mais utilizados de forma intravenosa, em infeções graves. Exemplos: Gentamicina,
Canamicina, Estreptomicina.

• Macrolídeos: antibióticos que interferem na síntese de proteínas e são utilizados em


casos de pneumonia, infeções oculares, Toxoplasmose. Exemplos: Azitromicina,
Claritromicina, Eritromicina.

• Tetraciclinas: antibióticos geralmente tomados por via oral, que impedem a síntese
de proteínas que as bactérias necessitam para crescer e se multiplicar. Exemplos:
Doxicilina.

• Outros:
. Cloranfenicol – tratamento de infecções graves, possivelmente com risco de vida,
causadas por microrganismos susceptíveis que não podem ser tratadas com ou que não
respondem a outros antimicrobianos eficazes e menos tóxicos (Febre Tifóide,
Salmonelose, Meningite);

. Sulfas – algumas são de uso tópico, para tratar queimaduras, infeções cutâneas, vaginais
ou oculares;

. Glicopeptídeos – como a Vancomicina, importante contra as S. pneumoniae resistentes


à penicilina;

. Metronidazol – antibiótico utilizado para prevenção de infeções em cirurgias intestinais


ao cólon ou reto, para a Giardíase (infeção do intestino delgado), contra infeções vaginais
e septicemia.

. Polimixina B – utilizada contra bactérias Gram-negativas, é um antibiótico neuro e


nefrotóxico, logo deve ser utilizado em último recurso quando outros falham. Como não
é absorvida no TGI, deve ser administrada por via tópica, parentérica ou inalatória.

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. Rifampicina – utilizada, em conjunto com outros antibióticos, na Tuberculose (+


Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol), Lepra, Brucelose (+ Tetraciclina), Legionela (+
Eritromicina).

. Péptidos - Bacitracina, exclusiva de uso tópico, para afeções da pele.

Classificação dos Antibióticos

 Espetro de Ação – número de espécies de microrganismo sensíveis a determinado


antibiótico.

. Estreito: ativos contra poucas espécies de bactérias. Exemplo: Penicilinas de espectro


curto, Vancomicina, Macrólidos.

. Largo: ativos contra várias espécies de bactérias (Gram +, Gram -…). Exemplo: Tetraciclinas
(Doxicilina), Cefalosporinas (3ª-5ª Gen), Sulfas, Cloranfenicol, Canamicina e Gentamicina
(Aminoglicosídeo), Macrólideos e Ampicilina (Penicilina).

- Atividade contra Micobactérias: Rifampicina e Estreptomicina.

 Produção
. Naturais: quando a substância ativa é totalmente de origem natural – organismos vivos
como fungos (20%) e bactérias (70%). Exemplo: Penicilina G que é extraída de fungos
Penicillium; fungos Chepalosporium; bactérias Streptomyces e Bacillus.

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. Semissintéticos: quando uma molécula de origem natural é alterada em laboratório.


Exemplo: Oxacilina, Ampicilina, Amoxicilina, Meticilina.

. Sintéticos (Quimioterápicos): antibióticos sintetizados totalmente em laboratório. Exemplo:


Sulfas, Penicilina V.

Mecanismo de Ação
→ Inbidores da Parede Celular (Bacteriolíticos): estes antibióticos vão interferir com a
correta formação da parede celular da bactéria, logo, atuam na altura em que estas se
estão a dividir e multiplicar. ATENÇÃO: Se juntarmos um antibiótico Bacteriostático a um
Inibidor de Parede, este último perde o efeito, visto que as bactérias deixam de se
multiplicar. Exemplo: -lactâmicos, Bacitracina, Vancomicina, Cefalosporinas.

→ Alteração da Membrana Plasmática: pouco seletivos, apresentando elevada


toxicidade sistémica, logo, são de uso tópico. Exemplo: Anfotericina B.

→ Inibidores do Metabolismo: Sulfas e Trimetropim, inibem a síntese de ácido fólico.

→ Inibidores da Síntese de Ácidos Nucleicos: Quinolonas, Nitrofuranos,


Metronidazol – DNA; Rifampicina, Actinomicina – RNA.

→ Inibidores da Síntese de Proteínas: Tetraciclinas, Macrolídeos, Aminoglicosídeos,


Cloranfenicol.

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Como escolher um Antibiótico


. Antibiograma: depois de se identificar o microrganismo, obtemos uma amostra de
bactérias do paciente (sangue, fezes, urina, saliva) que distribuimos em meio de cultura, para
que cresçam. A esta amostra juntamos discos com concentrações conhecidas de vários
antibióticos. Colocamos a 37ºC durante 16-24h e mede-se o diâmetro dos Halos de Inibição
de Crescimento. Os resultados possíveis são: S – Sensível, R – Resistente, I – Intermédio. Na
ausência de crescimento – Halo Maior –, diz-se que o microrganismo é sensível aquele
antibiótico, logo é o indicado para o tratamento da infeção.

Nunca se devem tomar dois antibióticos ao mesmo tempo, a não ser que tenham sido
testados com esse propósito. Exemplo de situações em que podem ser associados: infeção
grave, como a septicemia, infeção mista, pessoas com imunodeficiência, infeção sistémica,
leucemia…

Exemplo 2: para tratar bactérias com metabolismo lento, como a Mycobacterium


tuberculosis (tuberculose) e a M. leprae (lepra), é necessário mais que um antibiótico. O
tratamento, nestes casos, tem como objetivo evitar o surgimento de bactérias resistentes a
um dos antibióticos. Assim, a ação dos 2 é mais eficaz do que um sozinho – Sinergia.

Tratamento Anti-tuberculose: Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol.

Tratamento Anti-lepra: Dapsona, Rifampicina, Clofazimina.

Natureza da Resistência a Antibióticos


Resistência é a capacidade da bactéria resistir aos efeitos de um ou mais antibióticos ou
antimicrobianos. Esta resistência pode ser:

. Natural (Primária ou Essencial): ou Insensibilidade. Estas bactérias NÃO são consideradas


um problema clínico significativo. Neste caso, a bactéria apresenta um gene resistente a

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determinado antibiótico, mas NÃO é capaz de o transmitir a outras bactérias. Na maioria


dos casos, o microrganismo não apresenta o alvo de ação do medicamento ou consegue
destruir/inativar o antibiótico. Exemplos: Mycoplasma pneumoniae é resistente aos
antibióticos β-lactâmicos pois não tem parede celular, a estrutura alvo destes
medicamentos; microrganismos Anaeróbios apresentam resistência aos Aminoglicosídeos.

. Adquirida (Secundária): este sim é um grave problema de saúde pública. Neste caso, o
gene responsável pela resistência pode passar de uma bactéria para outra – um
microrganismo antes sensível ao antibiótico torna-se resistente. O mecanismo de resistência
pode acontecer por:

 Mutação: a bactéria é exposta ao antibiótico e sofre uma mutação no seu DNA


tornando-a resistente. Exemplo: Staphylococcus aureus e E. coli são resistentes a
Quinolonas, pois o seu alvo apresenta diferenças estruturais nestas bactérias.

 Transferência Genética. Exemplo: a -lactamase, enzima que destrói os


antibióticos -lactâmicos, pode ser transferida entre bactérias.

o Conjugação: passagem do gene de resistência de uma célula dadora para uma


recetora por contacto direto.

o Transdução: o gene de resistência de uma bactéria passa para outra por


Bacteriófagos.

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o Transformação: a bactéria incorpora DNA do meio envolvente.

Mecanismos de Resistência Bacteriana a Antibióticos


. O antibiótico NÃO atinge o seu alvo: ou porque não consegue entrar na bactéria porque
esta alterou a estrutura dos seus recetores, ou pela existência de uma bomba que expulsa o
antibiótico da bactéria, caso ele entre. As Pseudomonas conseguem eliminar Quinolonas, -
lactâmicos, Cloranfenicol.

. O antibiótico é Inativado: a bactéria produz enzimas que inativam o antibiótico, antes dele
atuar. Existem, ainda, bactérias “toxicodependentes” que só crescem na presença do
antibiótico. Exemplo: β-lactamase inativa a Penicilina e Cefalosporinas; CAT (E. coli) inativa
o Cloranfenicol; Klebsiella pneumonia destrói -lactâmicos; S. aureus altera a função dos
aminoglicosídeos.

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. O alvo do antibiótico é alterado: o antibiótico não se consegue ligar ao seu alvo.

Resistência Cruzada: uma bactéria pode adquirir resistência a vários antibióticos. Exemplo:
o S. aureus é resistente à Penicilina, com resistência cruzada a todos os seus derivados.
Apenas a Vancomicina consegue combater estas bactérias.

A Penicilina foi introduzida nos anos 40 e algumas bactérias Staphylococcus aureus


adquiriram genes que tornaram este antibiótico ineficaz contra elas. As estirpes com estes
genes tinham vantagem quando a penicilina era utilizada. Já as estirpes sem esses genes
eram mortas, permitindo que as restantes bactérias resistentes se reproduzissem e se
tornassem mais comuns ao longo do tempo. A molécula da penicilina foi, então, alterada,
criando um medicamento diferente, mas semelhante, a Meticilina, que conseguia matar as
bactérias resistentes. Após a introdução da meticilina, novamente as bactérias
desenvolveram resistência. Estas estirpes são conhecidas como SARM - S. aureus resistentes
à Meticilina.

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Uso Indevido de Antibióticos


. Infeções virais
. Tratamento de febre de origem desconhecida
. Falta de informação sobre a infeção, as bactérias e as suas resistências

Prevenção da Resistência a Antibióticos


Quanto mais se utilizar antibióticos, mais provável o desenvolvimento de bactérias
resistentes. Assim, os especialistas recomendam que se receitem antibióticos apenas
quando necessário e exclusivamente para infeções causadas por bactérias! Dar antibióticos
a alguém que não tem uma infeção bacteriana não melhora o seu estado e ajuda a criar
resistências. Também se deve dar a dose correta e utilizar pelo período de tempo adequado,
nem mais nem menos! Se a toma do antibiótico for interrompida, as bactérias sobreviventes
podem tornar-se mais resistentes.

Deve-se, ainda, escolher sempre que possível antibióticos de Ação Rápida e Seletiva
(Espetro Estreito). Quanto mais seletivo o antibiótico, menor a probabilidade de resistência,
diminuindo também a probabilidade de destruição da nossa Flora Microbiana - proteção.

As bactérias resistentes podem ser transmitidas de pessoa para pessoa, podendo


inclusivamente espalhar-se para várias partes do mundo num curto espaço de tempo. A
disseminação em ambiente hospitalar é uma preocupação ainda maior. Este tipo de bactéria

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é muito comum em hospitais, pois os antibióticos são muitas vezes necessários e tanto
funcionários e visitantes podem transmitir bactérias se não seguirem rigidamente os
procedimentos higiénicos apropriados. Para além disso, muitos doentes internados
possuem o sistema imunitário debilitado, tornando-os mais vulneráveis a infeções.

Bactérias resistentes podem, ainda, ser transmitidas dos animais para as pessoas, pois são
comuns em animais de quinta, que tomam antibióticos mesmo sendo saudáveis, para
prevenir infeções. Atualmente, muitos países já proibiram a utilização não regulada de
antibióticos.

Superinfeção
Surgimento de uma nova infeção durante o tratamento de uma infeção primária. Está
associada à utilização de antibióticos de largo espetro, como a Penicilina, Cefalosporinas,
Tetraciclina e Cloranfenicol.

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Antibioterapia – Fungos

O reino Fungi é composto por:

. Organismos Macroscópicos e Microscópicos


. Unicelulares (Leveduras) e Pluricelulares (Cogumelos)
. Eucariontes
. Heterotróficos por Absorção: organismos que absorvem os nutrientes do meio onde vivem.
Para isso, libertam enzimas digestivas que degradam o meio orgânico em moléculas simples
de absorver. Os fungos são, então, na sua maioria Decompositores ou Saprófitos, pois
alimentam-se de matéria orgânica em decomposição. Quando são Parasitas, alimentam-se
de substâncias do hospedeiro vivo, e quando são Predadores, alimentam-se de pequenos
animais que capturam.

Os fungos mais conhecidos são as Leveduras, Bolores, Mofo e Cogumelos.

Constituição
Os fungos são constituídos por uma Parede Celular, tal como as células vegetais, mas, ao
contrário destas que contêm Celulose, os fungos têm Quitina e Glucanos. A quitina é
encontrada no exoesqueleto dos artrópodes.

Os fungos multicelulares são constituídos por Hifas – filamentos ramificados. As hifas têm
citoplasma e núcleos, e podem apresentar diversas formas. Estas estruturas começam por
ser tubulares e ramificam-se continuamente formando uma rede, mais ou menos densa –
Micélio.

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As hifas podem ser Cenocíticas, filamentos contínuos repletos de citoplasma e com


alguns núcleos, ou Septadas, com compartimentos correspondentes a células com 1-2
núcleos.

Pelo facto de ser filamentoso, o micélio ganha uma grande superfície, através da qual
realiza a absorção de nutrientes. Por vezes, as hifas organizam-se formando Corpos de
Frutificação, como nos cogumelos.

Podem ser classificados em 4 divisões:

. Chytridiomycota: fungos encontrados em ambientes marinhos, lagos, solo e fontes


hidrotermais. Podem formar colónias com hifas ou viver de forma solitária. A grande maioria
das espécies é Decompositora, embora existam Parasitas. São os únicos que se reproduzem
com Esporos que têm flagelos – Zoósporos.

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. Zygomycota: geralmente encontrados no solo, não formam corpo de frutificação.


Encontramos os Mofos neste grupo e outras espécies de valor económico - fabrico de molho
de soja, medicamentos anti-inflamatórios e anticoncecionais. A maioria dos seus
representantes têm Hifas Cenocíticas e reprodução Assexuada por Esporos.

. Ascomycota: maior grupo de fungos, encontram-se em ambientes marinhos, de água doce


e terrestres. Têm Hifas Septadas e formam uma estrutura chamada Asco, estrutura de
reprodução sexuada, onde se formam esporos. Cada fungo pode ter mais de um asco, que
se pode unir a outros formando o Corpo de Frutificação. Neste grupo incluem-se os fungos
produtores de Penicilina e utilizados no fabrico de queijo.

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. Basidiomycota: maioria dos fungos macroscópicos (cogumelos), destaca-se pela produção


do Basídio, uma estrutura produtora de esporos, além de possuir Hifas Septadas.

Existem fungos que são utilizados no fabrico de queijos (roquefort e gorgonzola), e no


fabrico de antibióticos (penicilina). Também existem fungos venenosos para o ser humano,
capazes de causar a morte de quem o ingere. Alguns provocam efeitos alucinogénios
semelhantes aos provocados por LSD, provocando sérios danos ao SN.

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Reprodução
Pode ser Sexuada ou Assexuada, sendo o vento um importante condutor que espalha os
esporos e fragmentos de hifas, favorecendo a proliferação de fungos.

Respiração
Pode ser Aeróbia (utilizam oxigénio), Anaeróbia (fermentação) ou facultativa. Um
exemplo de um fungo facultativo é a Saccharomyces cerevisiae, uma levedura utilizada em
condições anaeróbias nos processos de fabrico de pães e bebidas alcoólicas, como cerveja
e vinho. Neste caso, o fungo realiza Fermentação Alcoólica, ou seja, transforma açúcar em
álcool e dióxido de carbono (importante no crescimento do pão).

Micoses
Os fungos podem atuar como parasitas de animais, provocando doenças como Micoses
que afetam a pele, Candidíase Oral (“Sapinhos”), Candidíase Vaginal e Histoplasmose
(pulmões).

As micoses são infeções causadas por fungos que atingem a Pele, as Unhas e os Cabelos.
Na pele humana também existem diversas espécies de fungos que, em condições normais,
não causam doença.

A queratina é uma substância que está presente na superfície da pele, unhas e cabelos,
e constitui uma fonte de nutrientes para estes fungos que, sempre que encontram condições
favoráveis ao seu crescimento, se reproduzem e passam a causar a doença. Essas condições,
que alteram o equilíbrio entre o fungo e seu hospedeiro, podem ser o calor, a humidade,
uma diminuição das defesas ou o uso de antibióticos a longo prazo.

Antimicóticos
Também conhecidos como Antifúngicos, são medicamentos que matam (Fungicidas) ou
inibem o crescimento (Fungistáticos) de fungos, utilizados para tratar ou prevenir micoses
como pé de atleta, dermatofitoses, candidíase, entre outras. Estes medicamentos são,
normalmente, obtidos com receita médica, mas alguns estão disponíveis como
medicamentos de venda livre.

→ Polienos: estes medicamentos ligam-se a esteróis na membrana celular dos fungos,


principalmente ao Ergosterol. Isto vai alterar a Temperatura de Transição da membrana
(temperatura a que se dá uma mudança radical no estado físico da membrana),

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diminuindo a sua fluidez. A célula vai começar a perder potássio, sódio, entre outros iões,
morrendo. As células animais têm colesterol em vez de ergosterol, logo são menos
suscetíveis aos efeitos. Exemplo: Anfotericina B, Candicidina, Nistatina, Rimocina.

→ Triazóis e Imidazóis: antifúngicos azólicos inibem uma enzima necessária para formar o
ergosterol. Sem ergosterol na membrana, os fungos ficam com danos estruturais e
funcionais, levando à inibição do seu crescimento. Exemplo de Triazóis: Fluconazol,
Itraconazol, Voriconazol. Exemplo de Imidazóis: Miconazol (Daktarin), Clotrimazol
(Canesten), Econazol (Gyno Pevaryl).

→ Equinocandinas: podem ser utilizados para tratar infeções fúngicas sistémicas em


pacientes imunocomprometidos. Impedem a síntese de Parede Celular. Estes
medicamentos NÃO são bem absorvidos quando administrados pela via oral; assim, são
normalmente administrados por via intravenosa.

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Antibioterapia – Vírus

O Vírus é uma partícula infeciosa que só se pode reproduzir infetando células


hospedeiras. São seres Acelulares, ou seja, NÃO são células nem são constituídos por
células, muito simples e pequenos (20–1000nm), que atravessam os filtros normalmente
utilizados para bactérias. São considerados Parasitas Intracelulares Obrigatórios pois não
têm metabolismo próprio, e comandam uma célula hospedeira viva, utilizando os seus
recursos para realizar as suas atividades vitais e produzir mais vírus – aminoácidos,
nucleótidos para sintetizar DNA/RNA, ribossomas para síntese de proteínas e energia. As
células hospedeiras são reprogramadas para se tornarem em “Fábricas de Vírus”.

Os vírus são, ainda, incapazes de aumentar em tamanho e de se dividir. Estas


características impedem que sejam considerados seres vivos.

Fora do ambiente celular, os vírus são Inertes. No entanto, quando invadem uma célula,
a sua capacidade de replicação é surpreendente: 1 único vírus é capaz de dar origem a
milhares de novos vírus, em poucas horas.

Os vírus são capazes de infetar seres vivos de todos os domínios (Eucarya, Archaea e
Bacteria). Por este motivo, são os seres com maior diversidade biológica do planeta! No ser
humano, provocam doenças como a gripe, sarampo, febre amarela, meningite, hepatite,
SIDA e varíola.

Estrutura
Não existe um padrão único de estrutura viral. A estrutura mais simples apresentada por
um vírus consiste numa molécula de ácido nucleico coberta por muitas proteínas idênticas.

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Os vírus mais complexos podem ter várias moléculas de ácido nucleico, assim como
diversas proteínas associadas, Cápside com formato definido e um complexo envelope
externo com espículas.

. Genoma Viral: uma ou várias moléculas de Ácidos Nucleicos (DNA ou RNA). A informação
contida no vírus será utilizada para sintetizar proteínas e novo DNA/RNA com a maquinaria
da célula hospedeira.

. Capsídeo Proteico: conjunto de proteínas que envolve e protege o ácido nucleico viral da
digestão por enzimas. Tem regiões que permitem a passagem do ácido nucleico para o
citoplasma da célula hospedeira. O capsídeo tem sempre origem no genoma do vírus!

. Envelope: alguns vírus têm um revestimento externo formado por fosfolípidos, açúcares e
proteínas em volta do capsídeo, utilizados para ajudar na ligação e invasão da célula
hospedeira, facilitando a fixação do vírus. O envelope tem origem na célula hospedeira!

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Classificação
Os vírus podem ser classificados com base no(a):

→ Tipo de Genoma: DNA de cadeia simples (Parvovírus) ou cadeia dupla (Adenovírus,


Herpesvírus e Poxvírus), RNA de cadeia simples (Picornavírus, Mixovírus, Togavírus,
Rhabdovírus), RNA de cadeia dupla (Reovírus).

Mutações
Os vírus estão constantemente a sofrer alterações genéticas. A maioria destas mutações
são pontuais e silenciosas, ou seja, não alteram em nada o vírus. No entanto, outras conferem
vantagens evolutivas, como a resistência a medicamentos antivirais, maior capacidade de
infeção e transmissão.

Por vezes, os genomas virais sofrem grandes alterações; quando isto acontece, por
exemplo, nos vírus Influenza, temos a ocorrência de pandemias. Exemplo: gripe espanhola,
gripe das aves. Exemplo 2: Covid-19.

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Mecanismo de Infeção

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Um período de incubação mais curto significa que mais rapidamente aparecem sintomas
e mais depressa a pessoa começa o seu tratamento, diminuído probabilidades de contágio
e melhorando o prognóstico!

Etapas da Infeção
A infeção de uma célula hospedeira por um vírus é todo um processo que pode demorar
entre poucas horas até alguns dias. Este processo chama-se Replicação Viral.

1. Adsorção do vírus à célula hospedeira: ligação do vírus à célula hospedeira. Proteínas no


envelope (Espículas) ou no capsídeo, ligam-se a recetores da membrana plasmática da

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célula hospedeira. Estas interações são altamente especificas, como um modelo chave-
fechadura, e determinam a tendência que o vírus tem para infetar determinada célula ou
tecido. Nos momentos iniciais de adsorção, a interação proteína-recetores ainda é
reversível. À medida que mais recetores se associam ao vírus, esta ligação torna-se
irreversível, possibilitando a entrada do vírus na célula.

2. Penetração do vírus no citoplasma: após aderir à membrana, os vírus devem entrar na


célula, para que o seu material genético seja processado e replicado. Este processo
envolve a penetração no citosol e posterior desmontagem do capsídeo, libertando o
genoma viral. Existem dois mecanismos que permitem a entrada do vírus, ambos
dependentes da temperatura, que deve rondar os 37ºC:

. Endocitose: a partícula viral entra na célula através de endossomas - a membrana


plasmática da célula hospedeira rodeia o vírus formando vesículas. Os vírus sem envelope
provocam o rebentamento do endossoma (Adenovírus) ou geram poros na membrana
da vesícula, por onde sai o ácido nucleico viral (Poliovírus).

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. Fusão: quando a membrana plasmática se funde com o envelope do vírus - mecanismo


exclusivo para vírus com envelope. O ácido nucleico e o capsídeo são libertados no
interior da célula por fusão entre o envelope viral e a membrana plasmática, ou de modo
Indireto, onde acontece endocitose em vesículas, seguida de fusão, já dentro da célula.

3. Descapsulação (Descapsidação): já no citoplasma, o material genético tem de ser


libertado e exposto ao ambiente da célula hospedeira. O capsídeo é, então,
desmontado completa ou parcialmente. Este processo pode acontecer enquanto o vírus
entra na célula ou nos instantes posteriores, em diversos locais: citoplasma (Togavírus),
endossoma (Picornavírus), poros nucleares (Adenovírus, Herpesvírus), dentro do núcleo
(Parvovírus).

4. Biossíntese
a. Síntese de proteínas necessárias para o capsídeo, utilizando os ácidos nucleicos virais
e a maquinaria celular (ribossomas).
b. Replicação do genoma viral: o vírus vai utilizar a maquinaria da célula para replicar o
seu ácido nucleico, dando origem a novos vírus.

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5. Encapsulação (Encapsidação, Montagem): formação de partículas virais capazes de


infetar. Todas as proteínas sintetizadas nas etapas anteriores associam-se para construir
o capsídeo. No caso dos Vírus Helicoidais, o capsídeo é formado à volta do ácido
nucleico; nos Icosaedros, são montados previamente e depois preenchidos através de
um poro. No caso de Vírus com Envelope, a montagem só termina depois da aquisição
do envelope viral. Este envelope tem origem em estruturas da célula hospedeira:
membrana plasmática, retículo endoplasmático…

6. Libertação: os novos vírus devem sair da célula hospedeira em busca de novas células
para invadir. Isto acontece por Lise Celular (morte) – Ciclo Lítico ou Brotamento. O Ciclo
Lítico é mais comum para vírus SEM envelope. A quantidade de vírus no interior da célula
é tão grande que a membrana plasmática rompe, levando à morte.

No entanto, nem todo o processo de libertação viral provoca danos à hospedeira. O


Brotamento é mais comum nos vírus COM envelope e envolve a migração do capsídeo com
o material genético para a parte de dentro da membrana plasmática, saindo e levando parte
desta consigo.

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Após libertação, os vírus ficam inertes até que outra célula hospedeira seja infetada,
reiniciando este ciclo.

Ciclo Lítico
Neste ciclo, o vírus insere o seu material genético na célula hospedeira e passa a
comandá-la, utilizando os seus recursos como falamos atrás, e destruindo-a no final do
processo. Exemplos: Poliovírus, Ébola, Rinovírus, Adenovírus, Rotavírus, Influenza.

Ciclo Lisogénico
Neste caso, o vírus não se reproduz imediatamente; em vez disso, combina o seu material
genético com o da célula hospedeira. A célula infetada continua a sua “vida” normal.
Quando a célula hospedeira se divide, o material genético desta, juntamente com o do vírus,
sofre duplicação, sendo dividido de forma igual pelas duas células-filhas. Assim, uma vez
infetada, a célula vai transmitir o vírus sempre que se dividir, ficando as células-filhas
automaticamente infetadas.

Sintomas provocados por este tipo de vírus demoram a aparecer e estas doenças tendem
a ser incuráveis. Exemplos: SIDA e Herpes.

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Prevenção
→ Medidas Gerais: as pessoas podem ajudar a prevenir muitas infeções com a adoção de
medidas de bom senso, protegendo-se a si mesmas e aos outros.
. Lavar as mãos frequentemente e cuidadosamente, com água e sabão
. Consumir apenas alimentos e líquidos preparados ou tratados adequadamente
. Evitar contacto com pessoas infetadas e superfícies contaminadas
. Espirrar e tossir para lenços, que devem ser descartados, ou no braço, cobrindo boca
e nariz
. Usar práticas de sexo seguro
. Prevenir mordidas e picadas de insetos

Imunização: processo de fortalecimento das defesas do organismo - Vacinas,


Imunoglobulinas.

→ Vacinação: estimulação dos mecanismos de defesa naturais do organismo – Imunização


Ativa. As vacinas têm antigénios, substâncias estranhas ao organismo que provocam uma
resposta imunitária, que, quando administrados produzem uma resposta imunitária
protetora específica de um ou mais agentes infeciosos. Ou seja, quando estão no nosso
organismo, NÃO provocam doença, mas induzem o sistema imunitário a produzir
Anticorpos.

As vacinas são administradas, de preferência, ANTES da exposição a um vírus, de modo


a prevenir a infeção. Algumas vacinas disponíveis:
. Hepatite A e Hepatite B (cancro do fígado)

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. Vírus do Papiloma Humano (HPV)


. Gripe
. Sarampo, Papeira e Rubéola
. Poliomielite
. Raiva
. Rotavírus
. Varicela
. Herpes
. Febre amarela

A vacinação tem sido a forma mais eficaz de prevenir algumas doenças, as quais podem
ser fatais em determinados indivíduos. Exemplo: a gripe provocada pelo vírus Influenza
pode apresentar graves complicações em idosos, podendo provocar a morte. Assim, a
vacinação neste grupo ameniza a severidade da doença.

Algumas doenças virais podem ser erradicadas com vacinas adequadas. A varíola foi
erradicada em 1978 e a poliomielite foi erradicada em praticamente todo o mundo, com
exceções onde crenças religiosas e falta de fundos interferem com a vacinação. Já o
sarampo estava praticamente erradicado, mas sendo uma doença altamente contagiosa e
com a “moda da não vacinação”, voltou a ser um grave problema em alguns países.

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Tipos de Vacina
O antigénio da vacina é normalmente composto pelo microrganismo Completo, Morto
ou Atenuado, ou Fragmentos desse microrganismo.

→ Vacinas Vivas Atenuadas: presença do vírus vivo, mas modificado, de modo a que o vírus
perca a capacidade de causar infeção, mas mantendo a sua capacidade replicativa.
Vantagem: induz uma excelente resposta imunitária do hospedeiro. Desvantagem: NÃO
deve ser utilizada em indivíduos com imunodeficiência ou em grávidas, visto que o vírus
pode reverter ao seu estado funcional nos primeiros e infetar o feto nas segundas.
Normalmente, basta a administração de uma única dose para produzir imunidade para
toda a vida. Exemplo: BCG (tuberculose), rotavírus, varicela, VASPR, febre-amarela.

→ Vacinas Mortas ou Inativadas: aqui, os microrganismos são mortos por agentes químicos.
Vantagem: total ausência de poder infecioso do vírus, não conseguindo infetar nem se
multiplicar, mantendo apenas a capacidade de provocar resposta imunitária e dar
proteção. Desvantagem: a resposta imunitária induzida não é ótima, havendo
necessidade de administrar reforços.

. Inteiras: vírus ou bactérias inteiros. Exemplo: Hepatite A, Cólera, Raiva, Poliomielite,


Pertússis.

. Fracionadas: pequenas partes do microrganismo. Exemplo: DTPa (Difteria, Tétano,


Pertússis), Gripe, Cólera, MenC.

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→ Novas Vacinas: estas vacinas são desenvolvidas por recombinação genética. Aqui, o
antigénio é produzido por outros microrganismos (leveduras). Exemplos: Hepatite B e
HPV. Exemplo 2: vacina de mRNA contra a COVID-19. Neste caso, a molécula de mRNA
tem instruções para produzir a proteína Spike, que o COVID-19 necessita para entrar nas
células do organismo. Quando a vacina é administrada, algumas células vão ler as
instruções e produzir, temporariamente, a proteína Spike. Assim, o sistema imunitário
começa a reconhecer esta proteína como estranha, produzindo anticorpos contra ela. Vai,
ainda, ativar as nossas células T, glóbulos brancos especializados em atacar corpos
estranhos. Se, mais tarde, a pessoa contrair o vírus SARS-CoV-2, o seu sistema imunitário
irá reconhecê-lo e defende o organismo. O mRNA é, entretanto, destruido pouco tempo
após vacinação.

Imunoglobulinas: soluções esterilizadas de anticorpos colhidos do sangue de um grupo de


pessoas, administradas diretamente a outra pessoa - Imunização Passiva. Este método é
utilizado quando alguém não consegue produzir anticorpos. As imunoglobulinas podem ser
coletadas do sangue de:

. Pessoas saudáveis - Imunoglobulinas Humanas Agrupadas


. Pessoas com muitos anticorpos contra um organismo infecioso específico - Globulinas
Hiperimunes – para doenças como hepatite B, raiva, tétano e varicela.

As imunoglobulinas são aplicadas por injeção no músculo ou na veia. A imunidade


conferida por elas dura apenas alguns dias ou semanas, até que o organismo elimine os
anticorpos injetados - NÃO induz imunidade natural.

Tratamento
Passa por tratar os sintomas da infeção viral e, por vezes, pela toma de medicamentos
antivirais.

Tratamento de sintomas: Desidratação, Diarreia, Febre e dores, Enjoo e vómito, Erupções


cutâneas, Corrimento nasal, Dor de garganta.

Nem todas as pessoas que apresentam estes sintomas precisam de tratamento. Se os


sintomas forem leves, pode ser melhor esperar que desapareçam por si. Alguns tratamentos
podem não ser adequados para bebés e crianças pequenas.

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Medicamentos Antivirais: existem diversos medicamentos para doenças como a Gripe, a


Herpes, HIV e Hepatite C.

Os antivirais podem interferir em qualquer uma das etapas da replicação do vírus


(adsorção, penetração, desmontagem…). Mas, como os vírus fazem tudo isto no interior da
célula hospedeira, utilizando a sua maquinaria, bloquear o metabolismo dos vírus é quase
impossível. Isto faz, também, com que o medicamento seja, muitas vezes, mais tóxico para
a célula hospedeira que para o vírus.

Classificação de Antivirais
Os antivirais são classificados conforme o seu uso terapêutico.

ANTIVIRAIS - USO TERAPÊUTICO


Aciclovir
Anti-Herpes Fanciclovir
Penciclovir
Amantadine
Anti-Influenza Oseltamivir
Zanamivir
Antirretrovirais

Mecanismo Gerais de Ação

MECANISMOS GERAIS DE AÇÃO


Impede a entrada do vírus na célula
Amantadine
Bloqueia a descapsulação
Zanamivir
Bloqueiam a saída da célula hospedeira
Oseltamivir
Aciclovir Impede a replicação do material genético do vírus
Infeção por HIV
O HIV destrói as células CD4 do sistema imunitário, tornando difícil a tarefa do organismo
combater infeções. Assim, os medicamentos utilizados para tratar a infeção pelo vírus do
HIV têm 2 objetivos:

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. travar a replicação do vírus, reduzindo a sua quantidade - Carga Viral - no sangue, até ser
indetetável
. ter uma Carga Viral baixa permite ao sistema imunitário recuperar e aumentar o número de
células CD4

O tratamento não cura, mas ajuda as pessoas com HIV a viver mais tempo e com mais
saúde, reduzindo o risco de transmissão a terceiros – existem, atualmente, estudos que
comprovam que uma pessoa que faz o tratamento com antirretrovirais e tenha uma carga
viral suprimida, NÃO transmite o vírus aos parceiros sexuais. O tratamento é gratuito em
Portugal.

Várias classes de Medicamentos Antirretrovirais são utilizadas em conjunto para tratar esta
infeção. Estes medicamentos:

. Bloqueiam a entrada do HIV em células humanas


. Bloqueiam a atividade de uma enzima de que o vírus necessita para se multiplicar dentro
da célula e/ou integrar o seu material genético no DNA humano

Os medicamentos são agrupados em classes com base na forma como atuam contra o
HIV:
Medicamentos Antirretrovirais - HIV
Inibidores da
Abacavir Zidovudina Emtricitabina Tenofovir Nevirapina
Transcriptase Reversa*

Inibidores de Protease** Atazanavir Darunavir Fosamprenavir Ritonavir

Inibidores de Entrada*** Maraviroc Enfuvirtide

* impedem a replicação do ácido nucleico.


** impedem que esta proteína ative outras no interior do novo vírus. Isto resulta em HIVs
imaturos e defeituosos, incapazes de infetar novas células.
*** impedem o HIV de entrar no hospedeiro, por bloqueio dos recetores onde este se deve
ligar.

O HIV acaba por desenvolver resistência a alguns destes medicamentos quando são
utilizados isoladamente. A resistência começa passados poucos dias ou vários meses da

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utilização. Assim, os tratamentos mais eficazes passam por administrar 2 ou mais


medicamentos combinados.

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