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Gestão Da Sustentabilidade

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GESTÃO DA

SUSTENTABILIDADE
AULA 1

Prof.ª Aline Maria Biagi


CONVERSA INICIAL

Iniciamos aqui nosso estudo sobre a sustentabilidade e seu contexto


sócio-histórico. Partimos da demanda por maior atenção às questões ambientais
que inicia da própria sociedade após os danos causados tanto à saúde pública
como à paisagem ambiental de flora e fauna.
A sustentabilidade, da forma como conhecemos hoje, é fruto de muitas
ações, discussões, conferências, políticas e planos que se construíram desde a
década de 1950. Nesse processo construído coletivamente, a mudança de
percepção dos meios naturais e a forma como a humanidade se relaciona com
ele é processo chave e contínuo. A evolução histórica desse conceito, assim
como suas abordagens na gestão é um ponto importante para o aprofundamento
do conceito e suas ramificações.
O conceito de sustentabilidade é de extrema importância tanto em caráter
social quanto ambiental. O termo vem sendo discutido e trabalhado desde a
década de 1960, incialmente sob a nomenclatura de “ecodesenvolvimento”
(Sachs, 2007) e, posteriormente, de “desenvolvimento sustentável” (CMMAD,
1991).
O conceito de desenvolvimento sustentável é um pilar da
sustentabilidade, porém, ele não ficou estagnado. Por ser um conceito que
envolve questões ambientais, sociais e, consequentemente, de governança, as
suas discussões e abordagens foram sendo moldadas durante os anos.
Nosso principal objetivo aqui é contextualizar historicamente
“sustentabilidade”, e situá-la na abordagem environmental, social and
governance (ESG).

CONTEXTUALIZANDO

Até a década de 1960, a discussão sobre os impactos do ser humano no


ambiente era bem limitada e pouco difundida. Porém, o paradigma de
desenvolvimento motivado principalmente pela Revolução Industrial do século
anterior seguia ganhando força, o que fazia com que os problemas ambientais
(até a primeira metade do século XX) não obtivessem muita atenção da
sociedade (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019). Dias (2015, p. 86) cita entre os
problemas ambientais que vieram com a industrialização “alta concentração
populacional devida à urbanização acelerada; consumo excessivo de recursos
naturais, sendo que alguns não renováveis (petróleo e carvão mineral, por
exemplo); contaminação do ar, do solo, das águas; desflorestamento, entre
outros”.
Dessa forma, as questões ambientais passam a ser vistas como uma
preocupação da sociedade e se desenvolve a forma como conhecemos hoje em
dia.

TEMA 1 – EVOLUÇÃO DAS EXPECTATIVAS SOCIAIS QUANTO À


SUSTENTABILIDADE

Podemos observar muitos acontecimentos históricos que contribuíram


para a percepção global dos problemas ambientais tanto dos tomadores de
decisão quanto da sociedade. Dois deles são os smog e o envenenamento por
cádmio e mercúrio da baía de Minamata. Vamos falar um pouco sobre eles.
O smog (junção das palavras smoke – “fumaça” – e fog – “nevoeiro”, na
língua inglesa) foi um denso nevoeiro que acompanhou a cidade de Londres em
boa parte do século XX. Esse nevoeiro costumava se dissipar na atmosfera,
porém, no ano de 1952, houve uma queda de temperatura maior do que a de
costume que motivou uma maior queima de carvão para manter a população
aquecida.
A poluição e a contaminação gerada que normalmente se dissipava ficou
aprisionada em uma densa camada de ar frio e essa neblina tóxica foi
responsável pela morte de milhares de pessoas por problemas respiratórios.
Esse acontecimento resultou em “uma mudança nas normas de regulação da
poluição do ar. O governo também incentivou a eliminação do carvão como
combustível nos aquecedores. E, em 1956, foi assinada a “Ata do ar limpo”,
sendo proibida a combustão de carvão” (Dias, 2015, p. 89).
Outro caso de contaminação que trouxe visibilidade ao tema
socioambiental foi o envenenamento por cádmio e mercúrio das baías de
Minamata e Niigata, no Japão, no período de 1932 e 1968. Nesse caso, a
empresa Chisso foi a principal causadora desse desastre (Dias, 2015; Phillipi
Júnior et al., 2014). Essa empresa produzia “acetaldeído e cloreto de vinil,
usando como catalizadores sulfato e cloreto de mercúrio. As águas residuais que
continham mercúrio eram descarregadas na baía de Minamata” (Dias, 2015, p.
89). O pescado e o marisco do mar contaminados eram base da alimentação
dos habitantes daquela região, que com o tempo notaram problemas
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extremamente graves e irreversíveis, que muitas vezes levavam à morte, além
de microcefalia, paralisia cerebral, atraso mental, problemas de audição e visão,
alteração na deglutição, na sensibilidade e paralisia de membros.
Apenas no período entre 1956-1959 que a relação entre as doenças e o
consumo de peixes e mariscos contaminados foi diagnosticada. A demora nesse
diagnóstico se deu por não existir até então “antecedentes de uma intoxicação
ambiental massiva tão grave por mercúrio em alimentos” (Dias, 2015, p. 89-90).
Segundo Dias (2015), até o ano de 2009 já haviam sido registrados 2.271
pessoas com a doença e 1.739 mortes, o que também afetou direta e
indiretamente dezenas de milhares de pessoas.

Saiba mais
Que tal nos aprofundarmos mais sobre essa percepção social e ambiental
da sociedade? O filme Minamata (2020), cuja direção e roteiro é de Andrew
Levitas, mostra o drama envolvendo esse envenenamento por mercúrio e os
fatos envolvendo a cidade de Minamata e os seus moradores.

A publicação Primavera Silenciosa (Silent Spring), escrita por Rachel


Carson, em 1968, também causou grande impacto e introduziu discussões
políticas. A publicação denunciou o uso indiscriminado de inseticidas à base de
dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) (Phillipi Júnior et al., 2014; Oliveira; Cezario;
Liboni, 2019). Esse livro provocou grande impacto na opinião pública da época,
visto que seu intuito era alertar sobre as quantidades abusivas de pesticidas
químicos (agrotóxicos) que eram utilizados na plantação. A autora intitula o seu
livro em alusão à morte dos pássaros pelo pesticida, que impactou, entre outras
coisas, o canto das aves na primavera.
Esses desastres ambientais, que a cada dia aumentavam sua incidência,
e difundidos em escala global por intermédio dos meios de comunicação,
trouxeram à tona o fato de que as questões relativas à crise ambiental
demandariam uma ampla participação popular que incluía pressionar empresas,
governos e demais instituições para agirem em conjunto buscando o bem
comum (Dias, 2015).
Assim, movimentos ambientalistas, organizações não governamentais
(ONGs), cidadãos, cientistas, entre outros, se fazem fundamentais na
construção de um novo paradigma de desenvolvimento. Nesse período, nos
anos 1960-1970, apesar do baixo orçamento, as ONGs ambientalistas
conseguiram a atenção tanto da sociedade quanto dos governos para a causa
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ambiental, alertando sobre os perigos que vinham da exploração predatória dos
recursos naturais e da poluição dos ecossistemas (Dias, 2015).

O surgimento do ambientalismo na década de 1960 refletiu as


preocupações crescentes dos países desenvolvidos em relação aos
efeitos indesejáveis que o desenvolvimento industrial e econômico
exerce no meio ambiente. O novo ambientalismo destacou o impacto
negativo que a degradação ambiental pode ter sobre a sobrevivência
humana. Desenvolvimento e conservação continuaram a ser vistos
como incompatíveis, e o consumo de recursos finitos, a poluição e a
degradação ambiental foram percebidas como consequências
inevitáveis do desenvolvimento industrial. O ceticismo do movimento
ambiental continuou durante toda a década de 1970 nos países em
desenvolvimento (Terceiro Mundo), devido à crença de que iria limitar
seus objetivos de desenvolvimento e remover seu controle soberano e
independente, que em muitos casos eles tinham adquirido apenas
recentemente. No entanto, no nível internacional, as questões
ambientais aumentaram rapidamente em importância e urgência (Dias,
2015, p. 65)

Um dos marcos sobre as discussões ambientais aconteceu no ano de


1968, na reunião do Clube de Roma. Um grupo de cientistas, educadores,
economistas, humanistas e industriais se reuniu para discutir a situação atual e
futura da humanidade com o propósito de compreender os componentes
econômicos, políticos, naturais e sociais que compõem o sistema global. Essas
discussões resultaram na publicação “The Limits to Gowth” (Meadows et al.,
1972).
Essa publicação evidenciou a discussão ambiental, até então colocada
em segundo plano, que foi oficializada na Conferência das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972) – na qual se destacou a busca de critérios
e princípios para a preservação ambiental. Entre os vários temas abordados,
estavam o crescimento populacional, o processo de urbanização e a tecnologia
envolvida na industrialização (Organização das Nações Unidas, 1972).
A publicação do relatório The Limits to Growth e a Conferência de
Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano representam o rompimento da ideia de
recursos naturais ilimitados, contrariando a ideia (dominante até então) de
crescimento contínuo da sociedade industrial. Graças a esses dois eventos,
problemas cruciais para a sociedade tornaram-se pauta de discussão e da
agenda política internacional, abandonando a ideia de recursos naturais infinitos.
No ano de 1987, a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD) elaborou o relatório Nosso Futuro Comum,
abordando a necessidade de se discutir o desenvolvimento exacerbado e a
responsabilidade das políticas públicas para a preservação ambiental, tendo em

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vista que o desenvolvimento causa uma transformação progressiva da economia
e da sociedade. Vamos abordar mais a fundo os desdobramentos desse relatório
a seguir.

TEMA 2 – CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Sustentabilidade é um termo que tem ganhado espaço e importância nos


diversos discursos, sendo considerado inclusive “palavra da moda” entre
organizações privadas, governos e ONGs (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019).
Os problemas citados anteriormente tanto na publicação “Os limites do
crescimento” quanto na Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente
Humano, por exemplo, o crescimento exponencial da população e a utilização
irracional dos recursos naturais, além da contaminação e degradação ambiental,
evidenciou o poder destrutivo do ser humano de alterar os sistemas de
sustentação da vida. Uma evidência disso está no fato de muitas partes do
planeta terem ultrapassado sua capacidade de sustentação, ou seja, “a
possibilidade de atender, dentro de limites aceitáveis, o bem-estar e as
necessidades das gerações atuais e futuras” (Dias, 2015, p. 20).
Envolto nesse empasse entre a necessidade de preservação ambiental e
o desenvolvimento econômico das Nações é que a Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) reuniu-se pela primeira vez, em
1984. Em um primeiro momento, foi trabalhado o conceito de
ecodesenvolvimento, que considerava “um tipo de crescimento diferente,
ambientalmente prudente, sustentável e socialmente responsável, orientado no
sentido de uma qualidade de vida superior e equitativamente distribuída” (Sachs,
2007, p. 133-134) e definido o conceito, em que “a ética imperativa da
solidariedade sincrônica com a geração atual somou-se à solidariedade
diacrônica com as gerações futuras e, para alguns, o postulado ético de
responsabilidade para com o futuro de todas as espécies vivas na Terra” (Sachs,
2009, p. 49).
Posteriormente, foi publicado o relatório Nosso Futuro Comum, em 1987.
Nesse documento, citou-se a crença de que a humanidade pode construir um
futuro mais próspero, justo e seguro e com uma visão positiva.
Um dos grandes feitos desse relatório, também conhecido como
“Relatório de Brundtland”, foi introduzir o termo “desenvolvimento sustentável”,
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definido como “aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem a suas
próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46).
O termo aborda a integração das questões econômicas, sociais e
ambientais, considerando que, entre outras coisas, as atividades voltadas à
produção de bens e serviços devam “preservar a diversidade, respeitar a
integridade dos ecossistemas, diminuindo sua vulnerabilidade, e procurar
compatibilizar os ritmos de renovação dos recursos naturais com os de extração
necessários para o funcionamento do sistema econômico” (Dias, 2015, p. 21).
O conceito de desenvolvimento sustentável surge como um apaziguador
entre a preservação ambiental e o desenvolvimento econômicos, no qual implica
“respeitar o equilíbrio dos ecossistemas e, ainda, incorporar critérios para se
estabelecer um relacionamento justo entre os países do Norte e do Sul” (Dias,
2015, p. 26). Essa divisão entre países do Norte e países do Sul foi bastante
significativa nesse período. Ela foi feita de forma arbitrária e surge principalmente
após o “alinhamento dos países durante a guerra fria, de forma diferentemente
da costumeira nos encontros internacionais” (Dias, 2015, p. 27).
Na Conferência das Nações Unidas do Ambiente Humano, de 1972, “os
países subdesenvolvidos [denominação da época] ou do terceiro mundo se
opunham às posições dos países desenvolvidos sobre qual deveria ser o rumo
do desenvolvimento” (Dias, 2015, p. 27). Aqui vale ressaltar que mesmo com a
denominação Norte e Sul, essa não é uma abordagem puramente geográfica,
pois a Austrália e a Nova Zelândia, mesmo estando no Sul global, estão inseridas
no bloco de países do Norte, o que denota uma expressão que identifica, entre
outras características, os países ricos (do Norte) e países pobres (do Sul).
Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável é um desafio e que
demanda estratégias complementares entre Norte e Sul, uma vez que os
padrões de consumo do Norte são insustentáveis em níveis globais. “O
enverdecimento do Norte implica uma mudança no estilo de vida, lado a lado
com a revitalização dos sistemas tecnológicos” (Sachs, 2009, p. 58).
Em contrapartida, no Sul, “a reprodução dos padrões de consumo do
Norte em benefício de uma pequena minoria resultou em uma apartação social”.
Dessa forma, o paradigma de desenvolvimento precisa ser mudado, porém, para
que isso aconteça, é necessário que o Norte mude seus padrões de consumo
sobre a população do Sul, que se maximiza em razão do processo de

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globalização em âmbito cultural (Sachs, 2009, p. 58). Assim, várias questões
envolvem a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável que é um conceito
em transformação e bastante abrangente.

TEMA 3 – EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE E


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Conforme vimos no tópico anterior, o relatório Nosso Futuro Comum foi


um marco importante e até mesmo um ponto de partida para as discussões
atuais sobre o conceito de desenvolvimento sustentável. Oliveira, Cezário e
Liboni (2019, p. 6) listam alguns dos motivos da importância do relatório para a
temática da sustentabilidade: a. a ampla aceitação do conceito desenvolvimento
sustentável por estudiosos e profissionais da área; b. o início das preocupações
com as questões ambientais e o meio ambiente em nível de governança
internacional; c. a relação entre escalas local, regional e global; d. foi um
marcador temporal; após a publicação do relatório houve crescimento de
trabalhos e campos interdisciplinares de estudos sobre sustentabilidade e
práticas sustentáveis.
Dessa forma, o desenvolvimento sustentável “constitui uma nova vertente
de análise, que busca na utilização de novas abordagens e na
interdisciplinaridade um caminho que nos permita superar de modo integral a
dicotomia entre crescimento econômico e meio ambiente” (Dias, 2015, p. 25).
Oliveira, Cezario e Liboni (2019), com base em Sachs (2000), descrevem
os critérios da sustentabilidade divididos em cinco dimensões, sendo elas: a
sustentabilidade social, territorial, ecológica, cultural e econômica. Aqui, o autor
buscou introduzir a complexidade que envolve a temática do desenvolvimento
sustentável. Em trabalho posterior, Sachs (2009) insere três dimensões da
sustentabilidade: ambiental, político (nacional) e político (internacional). Vamos
falar um pouco sobre elas.
A dimensão da sustentabilidade social vai além da abordagem sobre o
que o ser humano pode ganhar, focando em como a qualidade de vida pode ser
mantida. Para isso, demanda-se um padrão estável de crescimento, justa
distribuição de renda e redução das diferenças sociais (Oliveira; Cezario; Liboni,
2019). Sachs (2009) lista algumas características e critérios para a
sustentabilidade da dimensão social e cultural conforme pode ser visto no
Quadro 1 a seguir.
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Quadro 1 – Critérios da sustentabilidade apontados para a dimensão social e
cultural

Dimensões Critérios de sustentabilidade


Alcance de um patamar razoável de homogeneidade social.
Distribuição de renda justa.
Social
Emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida decente.

Igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais.


Mudanças no interior da continuidade (equilíbrio entre respeito a tradição e
inovação).

Cultural Capacidade de autonomia para a elaboração de um projeto nacional integrado e


endógeno (em oposição às cópias servis dos modelos alienígenas).

Autoconfiança combinada com abertura para o mundo.


Fonte: elaborado por Biagi, 2022 com base em Sachs, 2009, p. 85.

A sustentabilidade social está interligada com a sustentabilidade cultural


(sociocultural), uma vez que essa dimensão “se refere às condições de vida das
diferentes populações humanas, considerando suas crenças, seus valores e
suas características distintivas. Ou seja, a condição social, que se refere às
condições mínimas de sobrevivência de um indivíduo, deve levar em
consideração, para a sua superação, sua situação cultural (crenças, valores,
etnia etc.)” (Dias, 2015, p. 38), e a manutenção da cultura e costumes de cada
sociedade se liga intimamente ao seu território.
A dimensão da sustentabilidade territorial “está relacionada à superação
das disparidades inter-regionais, melhoria do ambiente urbano e conservação da
biodiversidade” e atua principalmente nas questões de sustentabilidade dos
sistemas urbanos e rurais (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019, p. 10).
Alguns critérios apresentados por Sachs (2009) para essa dimensão da
sustentabilidade são: as configurações urbanas e rurais balanceadas
(eliminação das inclinações urbanas nas alocações do investimento público);
melhoria do ambiente urbano; superação das disparidades inter-regionais;
estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas
ecologicamente frágeis.
A dimensão ambiental e ecológica da sustentabilidade vincula-se ao uso
dos recursos existentes nos diversos ecossistemas com a mínima deterioração
ambiental (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019). Aqui, alguns critérios sobre as
dimensões ecológica e ambiental são de: preservação do potencial do capital

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natureza na sua produção de recursos renováveis; limitar o uso dos recursos
não renováveis; e respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos
ecossistemas (Sachs, 2009, p. 86).
De forma prática, espera-se nessa dimensão a “redução do consumo e do
impacto ambiental, a reutilização dos recursos, de modo a estender sua
utilização ao longo da cadeia de consumo, e a reciclagem, que diminui a extração
de novos recursos ambientais” (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019, p. 9).
Dias (2015) se refere à economia como agente da produção, da
distribuição e do consumo de bens e serviços, cujo objetivo é atender às
necessidades das pessoas por meio dos recursos (escassos) existentes. A
sustentabilidade econômica se vincula à “administração correta dos recursos
naturais, ao desenvolvimento econômico equilibrado e à inserção soberana na
economia internacional” (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019, p. 9).
Sachs (2009) aponta como sendo critérios da sustentabilidade econômica
o desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado; a segurança alimentar; a
capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção; razoável
nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica; a inserção soberana na
economia internacional.
Nesse ponto, surgem alguns tópicos importantes como a ecoeficiência, a
necessidade de desenvolvimento e a transferência de tecnologia, de forma que,
mais do que a “manutenção dos resultados econômicos no longo prazo, a
sustentabilidade econômica também lida com questões de inovações que deem
suporte aos avanços necessários” (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019, p. 9).
No relatório Nosso Futuro Comum, o conceito de desenvolvimento
sustentável é caracterizado como uma “síntese de três objetivos: crescimento
econômico, equidade social e conservação ambiental. Nenhum desses três
objetivos pode ser alcançado sem avanços simultâneos e inter-relacionados com
os outros dois” (Dias, 2015, p. 34). Vamos abordar essa tridimensionalidade do
desenvolvimento sustentável no próximo tópico.

TEMA 4 – TRIDIMENSIONALIDADE DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A inter-relação entre as dimensões econômica, ambiental e social do


desenvolvimento sustentável acontece, como em uma analogia, em três círculos
entrelaçados, no qual, em sua intersecção central, ocorre a sustentabilidade.
Nessa abordagem, “cada dimensão pode ser analisada em particular como
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forma de aprofundamento na temática específica, mas tendo em mente que a
complexidade é ainda maior, pois envolve os outros elementos” (Dias, 2015, p.
35).
O desenvolvimento humano, principalmente após a Revolução Industrial,
tem difundido um efeito negativo ao equilíbrio do ambiente natural. Esses efeitos
negativos alertam para as formas atuais de desenvolvimento serem
insustentáveis quando analisadas em conjunto entre as três dimensões (social,
ambiental e econômica).
Partindo do princípio básico de que a sustentabilidade apenas será
alcançada quando as necessidades básicas da população forem atendidas como
comida, água e moradia, entre outros, é implicado que se faz necessário o
“aumento da renda, que virá de um crescimento econômico sustentável e da
justa distribuição da riqueza gerada”, e essas questões demandam que cada
população poderá suprir essas necessidades de forma independente (Dias,
2015, p. 35-36).
Isso se liga com a dimensão social, de forma que a sustentabilidade social
apenas será plena se erradicada a pobreza e a fome, garantida a segurança
alimentar e melhora da nutrição, além de

pessoas de todas as idades (de crianças a idosos) sejam beneficiadas


com uma vida saudável e com acesso aos serviços básicos que devem
ser prestados pelos Estados; que as mulheres e as meninas alcancem
a igualdade entre os sexos, no acesso ao trabalho e em todas
oportunidades que surjam, e autonomia na tomada de decisões sobre
qualquer aspecto de suas vidas; que seja reduzida a desigualdade
dentro e entre os países; que aqueles atingidos pela extrema pobreza
recebam auxílio do Estado até que estejam em condições de se
autossustentarem (Dias, 2015, p. 38).

Muitos indicadores de degradação ambiental confirmam essa


insustentabilidade presente no desenvolvimento. A responsabilidade humana
nessa degradação e nas mudanças climáticas já é dada como certa. Muitas
catástrofes ambientais têm sido observadas recentemente, por exemplo,
“inundações, secas, furacões, frio e calor intensos quebrando todos os recordes
históricos, entre outras mostras da gravidade da situação”, além dos altos índices
de desmatamento nas florestas do planeta que acelera a extinção de espécies
de animais e plantas, “a contaminação das águas, o derretimento da crosta polar,
entre outros, podem ser acrescentados, mostrando que a crise ambiental será
tema frequente de discussões nos próximos anos” (Dias, 2015, p. 39).

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Dias (2015, p. 40) cita alguns exemplos de problemas causados de forma
interligada entre as dimensões ambiental, social e econômica.

Quando abordado as três dimensões em conjunto, a economia é


afetada pelo aquecimento global, os preços dos produtos agrícolas
sobem quando aumenta a escassez desses produtos. Com a seca, por
exemplo, a safra de muitos produtos é prejudicada e os preços
aumentam nas feiras e supermercados. O problema ambiental afeta a
sustentabilidade econômica. As populações ribeirinhas e outros povos
da Amazônia são afetados pelas construções de barragens – um
imperativo econômico. A questão econômica afeta a sustentabilidade
social. As favelas construídas em morros próximos às cidades
destroem a mata nativa e as espécies de animais que ali vivem. O
problema social afeta a sustentabilidade ambiental.

Para que ocorra o desenvolvimento sustentável, é necessário que se


promova a sustentabilidade social, e para tal, “deverá haver a concentração de
esforços de diversos atores da sociedade, com especial atenção ao papel das
empresas que deverão compreender e aplicar os princípios para a
sustentabilidade social em suas estratégias e operações” (Oliveira; Cezario;
Liboni, 2019, p. 8).

4.1 Tripé da sustentabilidade: Triple Bottom Line

Um conceito que deriva da sustentabilidade é a sustentabilidade


empresarial. Nela se considera a responsabilidade do setor produtivo mundial,
uma vez que esse setor tem a liberdade de manipular recursos para a promoção
de riqueza. Nesse setor, o conceito de Triplo Bottom Line é bastante difundido,
e “determina que a empresa deva gerir seus resultados, focando não só no
resultado econômico adicionado, mas também no resultado ambiental e social
adicionado” (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019, p. 12).
Essa inter-relação entre as dimensões social, ambiental e econômica foi
traduzida para o mundo dos negócios por John Elkington. Esse autor defendia
que as empresas devem se preparar para três responsabilidades no mundo dos
negócios, sendo elas: a responsabilidade do lucro corporativo (lucros e perdas);
a responsabilidade social, preocupada com as pessoas e em como a corporação
age em suas operações, e a última, a responsabilidade ambiental com o planeta
(Dias, 2015).
O conceito do Triple Bottom Line (TBL) se fortalece nos três Ps que seria
profit, people e planet (“lucro”, “pessoas” e “planeta”, na língua inglesa) e seu
objetivo é “medir o desempenho financeiro, social e ambiental da empresa

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durante um período de tempo. Apenas uma empresa que produz uma TBL está
levando em conta o custo total envolvido em fazer negócios” (Dias, 2015, p. 42).
Segundo a Comissão da Organização das Nações Unidas (ONU), essa
proposição da tridimensionalidade do desenvolvimento sustentável “significativa
reconhecer, por um lado, a necessidade de mudanças qualitativas nas
concepções tradicionais de crescimento econômico, equidade social e
conservação ambiental, e, por outro lado, estabelecer as diferenças com base
nos três contextos (econômico, social e ambiental) entre os países” (Dias, 2015,
p. 34-35).
O TBL se insere nesse contexto como “a gestão que se define pela
relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade” (Oliveira; Cezario; Liboni, 2019, p.
12). Em uma forma mais ampla, esse modelo de gestão é visto na abordagem
ESG também. Vamos ver ela mais detalhadamente no próximo tópico.

TEMA 5 – ABORDAGEM ENVIRONMENTAL, SOCIAL AND GOVERNANCE


(ESG)

O termo environmental, social e governance (ESG) surgiu, em 2004, em


“uma das cartas das Nações Unidas enviada às principais instituições financeiras
do mundo, convidando-as a aderirem a uma iniciativa que visava a construir
mercados financeiros mais fortes e resilientes por meio do desenvolvimento
sustentável” (Schieich, 2022, p. 2). A crescente demanda do mercado de capitais
têm demandado que empresas adotem práticas sustentáveis e relatem seus
resultados.
Um desses relatórios em contexto global é o Global Sustainable
Investiment Review, que no ano de 2020 mapeou o estado do investimento
sustentável e responsável dos principais mercados financeiros em todo o mundo.
Esse relatório apontou o contínuo investimento sustentável, com ativos sob
gestão atingindo US$ 35,3 trilhões, um crescimento de 15% em dois anos e, no
total, equivalendo a 36% de todos os ativos gerenciados profissionalmente nas
regiões cobertas em esse relatório.
A metodologia utilizada foi a descrição do estado da indústria de
investimento sustentável com base nas definições de investimento sustentável
mundialmente reconhecidas. O termo “investimento sustentável” inclui
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abordagens de investimento que consideram fatores ambientais, sociais e de
governança (ESG) na seleção e gestão de portfólio em sete estratégias de
investimento sustentável ou responsável, reconhecendo que existem distinções
e variações regionais em seu significado e uso, e termos relacionados ou
intercambiáveis, como investimento responsável e investimento socialmente
responsável.
Na maioria das regiões, como Europa e Australásia, é cada vez mais
comum que o mesmo produto ou estratégia de investimento combine várias
estratégias de investimento sustentável, como triagem negativa/exclusiva,
integração ESG e engajamento corporativo. No Quadro 2 a seguir, apontamos
as características consideradas nesse relatório.

Quadro 2 – Características de ESG analisadas no Global Sustainable Investiment


Review

A inclusão sistemática e explícita pelos gestores de investimentos de fatores


Integração ESG
ambientais, sociais e de governança na análise financeira.
Empregar o poder dos acionistas para influenciar o comportamento
Engajamento corporativo, inclusive por meio de engajamento corporativo direto (ou seja,
corporativo e comunicação com a alta administração e/ou conselhos de empresas),
ação dos
acionistas apresentação ou co-arquivamento de propostas de acionistas e votação por
procuração guiada por diretrizes abrangentes de ESG.
Triagem Triagem de investimentos em relação aos padrões mínimos de negócios ou
baseada em práticas do emissor com base em normas internacionais, como as emitidas
normas pela ONU, OIT, OCDE e ONGs (por exemplo, Transparência Internacional).
A exclusão de um fundo ou carteira de determinados setores, empresas,
países ou outros emissores com base em atividades consideradas não
Triagem investíveis. Os critérios de exclusão (baseados em normas e valores)
negativa/
podem se referir, por exemplo, a categorias de produtos (por exemplo,
exclusiva
armas, tabaco), práticas da empresa (por exemplo, testes em animais,
violação de direitos humanos, corrupção) ou controvérsias.

O melhor da Investimento em setores, empresas ou projetos selecionados por


categoria/ desempenho ESG positivo em relação aos pares do setor e que atingem
triagem positiva uma classificação acima de um limite definido.
Investimento Investir em temas ou ativos que contribuam especificamente para soluções
temático/ sustentáveis – ambientais e sociais – (por exemplo, agricultura sustentável,
temático em edifícios verdes, portfólio inclinado de baixo carbono, equidade de gênero,
sustentabilidadediversidade).
Investimento de impacto – investir para alcançar impactos positivos,
sociais e ambientais. Requer mensurar e relatar esses impactos,
demonstrando a intencionalidade do investidor e ativo/investido subjacente
Investimento de e demonstrando a contribuição do investidor.
impacto e Investimento na comunidade – em que o capital é direcionado
investimento especificamente para indivíduos ou comunidades tradicionalmente carentes,
comunitário bem como o financiamento que é fornecido a empresas com um objetivo social
ou ambiental claro. Alguns investimentos comunitários são investimentos de
impacto, mas o investimento comunitário é mais amplo e considera outras
formas de investimento e atividades de empréstimo direcionadas.

14
Fonte: Global Sustainable Investiment Review, 2020.

Além do ESG e suas diretrizes voltadas ao mundo corporativo, alguns


acordos de nível internacional entre nações também buscam um maior equilíbrio
e interação entre as medidas voltadas às dimensões ambientais, sociais e
econômicas. O Acordo de Paris, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
são exemplos de desenvolvimentos globais que tiveram grande impacto na
indústria de investimento sustentável e a indústria de serviços financeiros de
forma mais ampla. Vamos falar sobre isso futuramente.

TROCANDO IDEIAS

Os acontecimentos do smog e do envenenamento da baía de Minamata


foram dois exemplos emblemáticos que mudaram a percepção da sociedade
sobre as questões ambientais, porém, muitos outros podem ser exemplos, como
a barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. Então, podemos pensar e
apresentar outros exemplos de catástrofes ambientais que causaram danos
tanto ambientais quanto sociais e econômicos que impactam os dias atuais.

NA PRÁTICA

Propomos assistir ao documentário História das coisas, e, com base nele,


fazer um mapa mental sobre o sistema de economia de materiais (extração,
produção, distribuição, consumo e tratamento de resíduos), bem como apontar
as problemáticas que existem nesse sistema.
Em seguida, sugerimos fazer uma busca em uma empresa que
consumimos ou tenhamos proximidade para conhecer as práticas sustentáveis
dela. Podemos trocar ideias com os colegas sobre essas medidas a promover o
desenvolvimento sustentável.

Vídeo
Documentário História das coisas. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=7qFiGMSnNjw>. Acesso em: 11 nov. 2022.

FINALIZANDO

A preocupação ambiental se intensificou na década de 1950 em razão da


maior preocupação social em relação à temática. Algumas catástrofes que

15
afetaram a saúde coletiva foram impulsionadoras para o surgimento de um
movimento ambientalista.
Em meio a isso, discussões políticas e publicações que abordaram essa
temática ambiental emergiram, em destaque Primavera silenciosa (1962) e Os
limites do crescimento (1972), que impulsionaram a discussão sobre as ações
do ser humano no ambiente natural.
Entre essas discussões, em 1987, o termo “desenvolvimento sustentável”
foi cunhado, e com sua popularização traz consigo a junção das três dimensões,
ambiental, social e econômica.
Esse conceito de desenvolvimento sustentável e sua tridimensionalidade
é foco também do ambiente empresarial, que tem buscado cada vez mais se
adequar a esse novo padrão de que a economia, o meio ambiente e a sociedade
caminhem em busca do equilíbrio e do bem-estar.

16
REFERÊNCIAS

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO –


CMMAD. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991.

Dias, R. Sustentabilidade: origem e fundamentos; educação e governança


global; modelo de desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2015.

GLOBAL SUSTAINABLE INVESTMENT ALLIANCE (GSIA). Review 2021.


Disponível em: <http://www.gsi-alliance.org/>. Acesso em: 11 nov. 2022.

MEADOWS, D. H. et al. The limits to growth: a report for the Club of Rome’s
project on the predicament of mankind. New York: Universe Books, 1972.

OLIVEIRA, B. G.; CEZARINO, L. O.; LIBONI, L. B. Evolução do conceito de


sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. In: OLIVEIRA, S. V. W. B.;
LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. Sustentabilidade: princípios e estratégias.
Barueri: Manole, 2019.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração da Conferência


das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Estocolmo, 1972.

_____. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio de


Janeiro, 1992.

PHILIPPI JÚNIOR, A. et al. Histórico e evolução do sistema de gestão ambiental


no Brasil. In: PHILIPPI JÚNIOR, A.; ROMÉRIO, M.; BRUNA, G. (Ed.). Curso de
gestão ambiental. 2. ed. Barueri: Manole, 2014.

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Organização: Paula


Yone Stroh. 4. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

______. Rumo à ecossocioeconomia: teoria do desenvolvimento. São Paulo:


Cortez, 2007.

SCHLEICH, M. V. Quais são as políticas e práticas em recursos humanos mais


utilizadas pelas empresas com melhores índices ESG no Brasil? Revista de
Administração de Empresas, v. 62, n. 5, 2022. Disponível em: <https://doi.org/
10.1590/S0034-759020220511>. Acesso em: 11 nov. 2022.

17
GESTÃO DA
SUSTENTABILIDADE
AULA 2

Profª Aline Maria Biagi


CONVERSA INICIAL

Abordaremos aqui a questão da sustentabilidade e desenvolvimento


sustentável já como um conceito consolidado e vamos discutir sobre as medidas
propostas para que seja colocado em prática pelos diversos atores. O tema se
internacionalizou e fez com que muitas nações entrassem em acordos para a
manutenção do ambiente natural. Assim, trataremos da Rio+20 e alguns
desdobramentos dessa conferência, tanto por um viés político de acordos
internacionais quanto por um caráter de gestão voltado a uma sustentabilidade
empresarial.

CONTEXTUALIZANDO

Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento


(Rio-92), o conceito de desenvolvimento sustentável se consolidou. Porém,
ainda estava muito vaga a forma como se alcançaria esse objetivo. Com o
amadurecimento das discussões, muitos outros acordos e tratados foram
assinados e deram forma a metas para que a sustentabilidade se efetivasse.
Vamos conhecer alguns deles a partir de agora.

TEMA 1 – CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS NO BRASIL: ECO 92 E RIO+20

Dando continuidade às convenções da década de 1970 e 1980, a


Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD)
aconteceu no Rio de Janeiro em 1992. O objetivo foi estabelecer uma parceria
mundial pela criação de novos níveis de cooperação entre os Estados e os
setores-chave das sociedades a partir de acordos internacionais que respeitem
os interesses de todos e protejam a integridade do meio ambiente (ONU, 1992;
Malheiros; Coutinho; Philippi Jr., 2012).
Nessa conferência, a comunidade internacional se envolveu no debate
ambiental, e ao fim dos debates 182 governos se comprometeram formalmente
com a mudança de padrões de desenvolvimento. Dentre os documentos
elaborados estão os 27 princípios que compõem a “Declaração do Rio sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento” e adoção da “Agenda 21”, que constitui o
Programa de Ação para o Desenvolvimento Sustentável Global (Dias, 2015).
Um dos compromissos firmados na Rio-92 foi que cada país definisse a
própria agenda. Nesse sentido, o Brasil, por meio da Comissão de Políticas de
2
Desenvolvimento Sustentável (CPDS), internalizou a Agenda 21 Nacional, com
vistas à elaboração de políticas públicas nos diferentes níveis de governo, cuja
ação é considerada fundamental para a construção da sustentabilidade no país.
A Agenda 21 Global surgiu com a intenção de voltar a atenção aos
problemas ambientais do momento e preparar o mundo para os desafios do
próximo século. Trouxe um compromisso político direcionado ao
desenvolvimento e à cooperação ambiental, com foco em estabelecer
estratégias, planos, políticas e processos nacionais, o desenvolvimento pelos
governos, o apoio de organizações internacionais, regionais e sub-regionais, da
participação pública e de ONGs (CNUMAD, 1992). O documento é composto de
quatro seções: (1) As dimensões sociais e econômicas; (2) A conservação e
gestão dos recursos para o desenvolvimento; (3) Fortalecimento do papel dos
grupos principais; e (4) Meios de implementação (CNUMAD, 1992).
Um dos fundamentos da Agenda 21 Global é que ela se converta em
muitos planos nacionais, representando a individualidade de cada território;
dessa forma, milhares de cidades do mundo criaram a sua Agenda 21 Local. E
justamente pelo fato de a Agenda 21 valorizar a participação e cooperação das
autoridades locais – pois possibilita maior pertencimento e engajamento de
diferentes atores na temática –, incentivou-se que as autoridades implementem
em cada país “uma Agenda 21 local tendo como base de ação a construção,
operacionalização e manutenção da infraestrutura econômica, social e ambiental
local, estabelecendo políticas ambientais locais e prestando assistência na
implementação de políticas ambientais nacionais” (Dias, 2015, p. 52).
A Agenda 21 Nacional brasileira, elaborada pela Comissão de Políticas
de Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e da Agenda 21 Nacional, foi
coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e, na ocasião, composta por dez
membros, com paridade entre a sociedade civil e o governo. Foi dividida em seis
temas centrais: i) agricultura sustentável; ii) cidades sustentáveis; iii)
infraestrutura e integração regional; iv) gestão dos recursos naturais; v) redução
das desigualdades sociais; e vi) ciência e tecnologia para o desenvolvimento
sustentável (CPDS, 2000). Outro documento iniciado na Rio-92 (e concluído em
2003) foi a Declaração da Carta da Terra.
Depois da Rio-92, outras conferências foram realizadas visando à
renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, à

3
definição de novos prazos, à avaliação do progresso e das lacunas, até então,
além da inclusão de novos temas. Vamos citar aqui a Rio+10 e a Rio+20.
A primeira delas, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável
(Rio+10), foi realizada em 2002 em Johanesburgo, África do Sul. Ela reconheceu
a necessidade de aumentar o desenvolvimento em todos os níveis, integrando
aspectos econômicos, sociais e ambientais, uma vez que a interligação destes,
e o uso e desenvolvimento de tecnologias voltadas a esse fim, é um modo de se
alcançar o desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões
(Malheiros; Coutinho; Philippi Jr., 2012; ONU, 2002; ONU, 2012).
A segunda delas, Rio+20, foi a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), realizada no Rio de Janeiro em 2012,
20 anos depois da Rio-92. Ali foram privilegiados dois temas: “(a) uma economia
verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza;
e (b) o quadro institucional para desenvolvimento sustentável” (Dias, 2015, p.
112).
A Rio+20 gerou o documento final “O futuro que queremos”, que foi
dividido em seis capítulos: (1) Nossa visão comum; (2) Renovação dos
compromissos políticos; (3) Economia verde; (4) Estrutura institucional; (5)
Estrutura de ação; e (6) Meios de implementação. Ele reafirmou compromissos
de conferências anteriores. Outro resultado desse evento foi a proposição de um
grupo de trabalho voltado a elaborar os “Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável que teriam como meta o ano de 2030 e passariam a vigorar a partir
de 2015, em substituição aos ODM” (Dias, 2015, p. 112).

TEMA 2 – PACTO GLOBAL

O Pacto Global é uma iniciativa lançada em 2000 por Kofi Annan, então
secretário-geral das Nações Unidas. Com base em informações coletadas pelo
Pacto Global – Rede Brasil, trata-se de uma chamada para que empresas
alinhem suas estratégias e operações aos dez princípios universais nas áreas
de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção e desenvolvam
ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade.
Esses princípios são derivados de documentos como: Declaração
Universal dos Direitos Humanos; Declaração da Organização Internacional do
Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho; Declaração do
Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e Convenção das Nações Unidas
4
Contra a Corrupção. As organizações que integram o Pacto Global se
comprometem a seguir esses dez princípios (Quadro 1) em sua rotina.

Quadro 1 – Os dez princípios que compõem o Pacto Global

1 As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de


Direitos direitos humanos reconhecidos internacionalmente
humanos
2 Assegurar-se de sua não participação em violações
desses direitos
3 As empresas devem apoiar a liberdade de associação e
o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva
Trabalho 4 A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou
compulsório
5 A abolição efetiva do trabalho infantil
6 Eliminar a discriminação no emprego
7 As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva
aos desafios ambientais
Meio ambiente 8 Desenvolver iniciativas para promover maior
responsabilidade ambiental
9 Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias
ambientalmente amigáveis
Anticorrupção 10 As empresas devem combater a corrupção em todas as
suas formas, inclusive extorsão e propina

Fonte: elaborado com base em Pacto Global – Rede Brasil, [s.d.].

Atualmente, o Pacto Global é considerado a maior iniciativa de


sustentabilidade corporativa do mundo, “com mais de 16 mil participantes, entre
empresas e organizações, distribuídos em 70 redes locais, que abrangem 160
países” (Pacto Global – Rede Brasil, [s.d.]). Vale destacar que não se trata de
instrumento regulatório, código de conduta obrigatório ou mesmo um fórum para
policiar as políticas e práticas gerenciais, mas sim uma iniciativa voluntária que
proporciona diretrizes visando à promoção do crescimento sustentável e da
cidadania por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras.
No Brasil, o Pacto Global da ONU teve início em 2003 e é a terceira maior
rede local do globo, contando com 1,5 mil membros. Os mais de 40 projetos
conduzidos em território nacional se inserem nos temas: água e saneamento;
alimentos e agricultura; energia e clima; direitos humanos e trabalho;
anticorrupção; e engajamento e comunicação. Tais projetos são desenvolvidos
por meio das Plataformas de Ação (Ação pela Água, Ação pelo Agro Sustentável,
Ação pelos Direitos Humanos, Ação pelo Clima, Ação contra a Corrupção, Ação

5
pelos ODS e Ação para Comunicar e Engajar) e dos programas internacionais.
Essas iniciativas contam com o envolvimento de centenas de empresas, assim
como agências da ONU e agências governamentais.
O Pacto Global constitui importante medida para se alcançar o
desenvolvimento sustentável, e quem o integra assume o compromisso de
contribuir para que se atinjam os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS).
A seguir, vamos discutir alguns dos principais compromissos entre nações
voltados à melhoria da questão ambiental, social e econômica no planeta.

TEMA 3 – ACORDO DE PARIS

As mudanças climáticas fazem parte de uma problemática ambiental que


coloca a humanidade diante da questão das fronteiras planetárias, que afeta as
interações tanto entre os sistemas naturais quanto dos seres humanos. Trata-se
de problemas complexos com causalidades múltiplas e difusas, o que dificulta
uma atribuição de responsabilidade (por exemplo, poluidor-pagador), e suas
consequências não se limitam a fronteiras nacionais (Souza; Corazza, 2017).
Na busca por uma mitigação dessa problemática ambiental, as Nações
Unidas apontam que medidas devem ser tomadas conjuntamente pelos países.
Isso se institucionalizou com a Convenção-Quadro das Nações Unidas para as
Mudanças Climáticas (UNFCCC – sigla em inglês para United Nations
Framework Convention for Climate Change), proposta na Rio-92 (Souza;
Corazza, 2017).
Nessa perspectiva, e com o objetivo de combater as mudanças climáticas,
a UNFCCC promoveu diversas rodadas internacionais de negociações nas quais
os Estados nacionais eram chamados de “partes” e “deveriam se comprometer
com ações voltadas às finalidades de mitigação e de adaptação, além de
negociar os meios tecnológicos e financeiros para o seu alcance” (Souza;
Corazza, 2017, p. 54).
Essas negociações fizeram com que delegados dos Estados nacionais se
reunissem nas Conferências das Partes (COPs) que, desde 1995, ocorrem
periodicamente e buscam acordos em relação a definições de metas globais, o
que fazer e como fazer para alcançar esse objetivo, quando e com quais
recursos (Souza; Corazza, 2017).

6
Em 1997, a Conferência das Partes em Quioto foi um marco nessa relação
entre economia e ambiente natural e demandou maiores estudos sobre a
temática. Desse encontro resultou o Protocolo de Quioto, que definia a
necessidade de cortes nas emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Essas negociações se intensificaram, e o relatório elaborado pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC – sigla em inglês para
Intergovernmental Panel on Climate Change) e publicado em 2007 confirmava
cientificamente

que as ações antrópicas afetam os aumentos das emissões de GEE e


as suas concentrações na atmosfera, como também influencia nas
mudanças climáticas do planeta. Além disso, o Relatório afirma que se
os aumentos da temperatura global ultrapassarem de 1,5 a 2,5, o risco
de extinção de espécies de vegetais e animais aumentará
aproximadamente de 20 a 30%. (Souza; Corazza, 2017, p. 55)

O Protocolo de Quioto corresponde à ideia de atribuições justas de


responsabilidade e de formas de mitigação e compensação dessas emissões.
Muitas dificuldades surgiram nas negociações, algumas delas eram:

a situação particular da Rússia; a não ratificação do Protocolo de Quito


pelos Estados Unidos; a saída do Canadá das negociações em 2011;
e os conflitos envolvidos na necessidade de se estabelecerem metas
obrigatórias de redução de gases de efeito estufa pelos chamados
países emergentes [...].(Souza; Corazza, 2017, p. 64)

Em 2009 houve certa desestabilização devido ao não engajamento de


grandes emissores e a não ratificação do Protocolo por essas partes, além da

determinação dos EUA em desempenhar um papel em sua discussão,


questionando a interpretação europeia do regime e apontando para o
estabelecimento de metas determinadas voluntariamente pelas Partes
– as NDCs [sigla em inglês para Nationally Determined Contributions].
Essa nova abordagem para a ação climática foi consolidada no Acordo
de Paris. (Souza; Corazza, 2017, p. 69)

Com foco em um novo acordo, as partes puderam por aproximadamente


dois anos decidir e apresentar suas NDCs para que em 2015 fossem discutidas
durante a 21ª Conferência das Partes (COP-21) da UNFCCC. Durante esse
encontro realizado em Paris, selaram-se as negociações sobre essas novas
metas e abordagens e se elaborou o documento chamado Acordo de Paris.
Algumas determinações inseridas incluem:

• deter o aumento da temperatura global média do planeta abaixo de 2 ºC


acima dos níveis pré-industriais e empenhar esforços para limitar o
aumento da temperatura a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais,

7
reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e impactos
da mudança climática;
• aumentar a habilidade para adaptação aos impactos adversos das
mudanças climáticas e estimular a resiliência climática e o
desenvolvimento com baixas emissões de GEEs, de maneira que não
ameace a produção de alimentos;
• tornar os fluxos monetários consistentes com um caminho direcionado à
redução das emissões de GEEs e ao desenvolvimento resiliente do ponto
de vista climático (Souza; Corazza, 2017, p. 70).

Mesmo com as diversas divergências entre as partes sobre o Acordo de


Paris, o documento pode ser considerado um sucesso político pela formação de
um regime climático internacional, além do estabelecimento de que em cada
contribuição nacional os NDCs devem englobar, entre outros, a mitigação das
mudanças climáticas, a promoção de medidas adaptativas e a geração de
oportunidades de emprego (Souza; Corazza, 2017).
O relatório Global Sustainable Investment Review (2020) destaca que, até
o ano de publicação, 195 partes assinavam o documento e, destas, 189
ratificavam o acordo, reiterando que este tem agido como força motriz de
diversas legislações estaduais para limitar as emissões de gases de efeito estufa
e estabelecer metas líquidas de emissão zero.
Mesmo que o Acordo de Paris seja um acordo entre nações, investidores,
proprietários de ativos e gestores de ativos estão cada vez mais interessados
em alinhar seus portfólios com a meta dele e monitorar e limitar as emissões de
GEEs ou são obrigados a fazê-lo em alinhamento com as mudanças na
legislação estadual.
Além do Acordo de Paris, outra função voltada a estabelecer metas das
Nações Unidas visando garantir o bem-estar das futuras gerações está
contemplada nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e nos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vamos abordar a seguir.

TEMA 4 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO (ODM)

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram elaborados em


2000 durante encontro na sede das Nações Unidas que reuniu dirigentes de todo
o globo para consolidar o acordo de combate à extrema pobreza e demais

8
problemas da sociedade. Nessa ocasião, 189 nações firmaram o compromisso
que se denominou Oito Objetivos do Milênio, com metas a serem atingidas até
2015. Em 2010, tais objetivos foram renovados, com expectativa de progresso
no cumprimento do que foi estabelecido a partir da participação social e da
definição de atividades práticas (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019; Dias, 2015). A
representação gráfica dos oito objetivos é apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Representação dos oito ODM

Fonte: ODM Brasil, [s.d.].

Dias (2015) aponta que os ODM alcançaram discretos progressos. Podem


ser vistas uma diminuição da pobreza e a melhoria da água potável, porém não
se atingiram as metas definidas para 2015. Outro tema que avançou foi a
educação, considerando que vários países já estabelecem o ensino primário
universal. A saúde obteve êxito na diminuição da mortalidade infantil, freando o
avanço de pandemias e melhorando a cobertura de campanhas de vacinação.
O Brasil obteve êxito em algumas dessas metas. Segundo o Relatório
Nacional de Acompanhamento, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) em 2014, e dados do site do governo federal – ODM Brasil –, o
avanço das metas ocorreu graças à participação social e a uma série de políticas
públicas que trouxeram impactos positivos sobre os ODM. A seguir, vamos
indicar os oito objetivos e os resultados do país.

• Objetivo 1 (redução da pobreza – acabar com a fome e a pobreza extrema


até 2015 à metade do que era em 1990): foi atingido pelo Brasil em 2002,
e em 2008 atingiu-se um quarto da porcentagem de pobres quando
comparado a 1990.
9
• Objetivo 2 (atingir o ensino básico universal: educação básica e de
qualidade para todos): avanços significativos foram observados no que se
refere a acesso e rendimento escolar de crianças e jovens. Em 2009,
95,3% de crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos frequentavam o
ensino fundamental, e no mesmo ano 75% dos jovens que haviam
atingido a maioridade terminaram o ensino fundamental (ODM BRASIL,
[s.d.]).
• Objetivo 3 (igualdade entre os gêneros e a autonomia das mulheres): em
relação à educação, a meta foi atingida, e meninas e mulheres nesse
período foram maioria em todos os níveis de ensino. Porém, mesmo com
melhoras nos indicadores, a desigualdade entre mulheres e homens ainda
ocorre no mercado de trabalho, nos rendimentos e na política, além dos
altos números de violência doméstica.
• Objetivo 4 (reduzir a mortalidade na infância): a taxa de mortalidade
infantil (menores de 1 ano) por mil nascidos vivos passou de 29,7, em
2000, para 15,6, em 2010. Vale destacar que foi menor que a meta
prevista para 2015, que era de 15,7 por mil nascidos vivos.
• Objetivo 5 (melhorar a saúde materna): o Brasil obteve mais dificuldades
e, mesmo com avanços, não alcançou a meta de reduzir em três quartos,
entre 1990 e 2015, a razão da mortalidade materna.
• Objetivo 6 (combater a Aids, a malária e outras doenças): houve queda
nos números em relação à epidemia de Aids, ao controle da malária e à
tuberculose; programas nacionais de controle dessas doenças foram
necessários.
• Objetivo 7 (garantir a sustentabilidade ambiental): na busca pela
qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, o país criou em 2004 o
Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na
Amazônia Legal, no qual a redução do desmatamento colaborou para se
diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Além disso, a quantidade de
Unidades de Conservação Ambiental e a homologação de terras
indígenas contribuem para os números positivos em relação à
biodiversidade. As metas relativas ao abastecimento de água e ao
esgotamento sanitário foram atingidas.

10
• Objetivo 8 (estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento):
políticas públicas foram implementadas no sentido de aumentar a inclusão
social, realizando esforços para a eficiência da gestão municipal.

Mesmo que os ODM não tenham sido atingidos em sua totalidade, “a


definição de metas possibilitou o direcionamento de recursos das nações para
questões específicas” (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019, p. 15). Segundo os
autores, isso resultou em benefícios práticos e maior aproximação da academia
à temática, com a elaboração de diversos trabalhos acadêmicos visando “propor
melhorias reais em algum aspecto dos objetivos ou para mensurar impactos e
melhorias ocorridos” (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019, p. 15).
Entretanto, conforme o fim do prazo para o alcance das metas se
aproximou, a ONU realizou um processo de consulta em relação “às prioridades
de pessoas, organizações privadas e públicas e comunidade científica em geral
no que diz respeito à construção de novos objetivos e desempenho” (Oliveira;
Cezarino; Liboni, 2019, p. 15-16). Isso levou à reformulação dos objetivos e
metas no chamado Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – também
conhecido como Agenda 2030.

TEMA 5 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

Durante a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento


Sustentável, ocorrida em 2015, as negociações para a elaboração e definições
dos novos objetivos e metas foram concluídas, com a denominação Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes passaram a conduzir as políticas
públicas e as atividades socioparticipativas até 2030 (Oliveira; Cezarino; Liboni,
2019).
Os ODS substituíram os ODM, que estavam vigentes até então. Agora
são 17 objetivos, com 169 indicadores:

Objetivo 1 – Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em


todos os lugares. Objetivo 2 – Acabar com a fome, alcançar a
segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura
sustentável. Objetivo 3 – Assegurar uma vida saudável e promover o
bem-estar para todos, em todas as idades. Objetivo 4 – Assegurar a
educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Objetivo
5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e
meninas. Objetivo 6 – Assegurar a disponibilidade e gestão
sustentável da água e saneamento para todos. Objetivo 7 – Assegurar
o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia
para todos. Objetivo 8 – Promover o crescimento econômico

11
sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e
trabalho decente para todos. Objetivo 9 – Construir infraestruturas
resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e
fomentar a inovação. Objetivo 10 – Reduzir a desigualdade dentro dos
países e entre eles. Objetivo 11 – Tornar as cidades e os
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis. Objetivo 12 – Assegurar padrões de produção e de
consumo sustentáveis. Objetivo 13 – Tomar medidas urgentes para
combater a mudança do clima e seus impactos. Objetivo 14 –
Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos
recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15 –
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda
de biodiversidade. Objetivo 16 – Promover sociedades pacíficas e
inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso
à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e
inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17 – Fortalecer os meios de
implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento
sustentável. (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019, p. 16-17, com base em
Nações Unidas Brasil, [S.d.]).

Figura 2 – Representação dos 17 ODS

Fonte: Brasil UN.

Saiba mais
O canal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no
YouTube criou uma sequência de 17 vídeos abordando sobre cada um dos ODS.
Essa é uma boa oportunidade de conhecê-los melhor. O material está disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=Fev2MHAa-
qo&list=PLAvMMJyHZEaFnbAHb_0limdkGL5Z_HBIi&index=1&t=0s>. Acesso
em: 17 nov. 2022.

O acompanhamento e a avaliação do desenvolvimento e a evolução das


metas de cada ODS e da Agenda 2030 como um todo são fundamentais e têm
sido feitos de forma sistemática no nível global, regional, nacional. Para tal, o
12
Fórum Político de Alto Nível sobre o Desenvolvimento Sustentável é a instância
responsável pela supervisão em nível global dos ODS e recebe o suporte da
Assembleia Geral e do Conselho Econômico e Social da ONU (ODM BRASIL,
[s.d.]).
Para que os resultados aconteçam, é necessário um esforço conjunto que
envolve países, empresas, instituições e sociedade civil, procurando assegurar
os direitos humanos e enfrentar os maiores desafios de nosso tempo. Nesse
foco, o “privado tem um papel essencial nesse processo como grande detentor
do poder econômico, propulsor de inovações e tecnologias influenciador e
engajador dos mais diversos públicos – governos, fornecedores, colaboradores
e consumidores” (Pacto Global, [s.d.]).
Além dos acordos globais que buscam um equilíbrio planetário e um
desenvolvimento sustentável, legislações e instituições também desempenham
papel importante, tema que será abordado futuramente.

TROCANDO IDEIAS

A partir dos dez princípios que norteiam o Pacto Global, podemos pensar
algumas medidas efetivas para que as empresas avancem nessas metas. Que
tal criarmos uma tabela de práticas a impulsionar esse pacto?

NA PRÁTICA

A partir dos 17 ODS, vamos visitar o site da ONU Brasil –


<https://brasil.un.org/pt-br/sdgs> (acesso em: 17 nov. 2022) – e conhecer as 169
metas. Que tal elaborar o rascunho de um projeto socioambiental que inclua pelo
menos duas delas? Veja um exemplo: uma formação profissionalizante de
mulheres em situação de vulnerabilidade (ODS 5 – igualdade de gênero – e ODS
8 – trabalho decente). Em seguida, podemos conversar com os colegas sobre
os trabalhos feitos. No site do Pacto Global – <https://pactoglobal.org.br/cases>
(acesso em: 17 nov. 2022) – você pode conferir alguns casos e se inspirar para
desenvolver sua ideia.

FINALIZANDO

A Rio-92 foi um importante marco em nossa história de união internacional


para a preservação ambiental e resultou em muitos compromissos e esperança

13
em relação ao futuro. A Agenda 21 foi uma forma de as nações e municípios
pensarem como a sustentabilidade melhor se encaixava em cada território.
Ao longo do tempo, essas metas e compromissos se renovaram, e alguns
problemas se intensificaram. O desenvolvimento econômico demandou medidas
a serem aplicadas nas corporações para um diálogo diferenciado com a
realidade empresarial. O agravamento das questões climáticas levou a medidas
mais específicas para diminuição dos GEEs. Assim, o diálogo e a cooperação
se tornaram peças-chaves nesse processo.
Atualmente, os ODS, fruto das primeiras metas e discussões presentes
nos ODM, são uma grande referência na busca pela sustentabilidade global. Sua
efetivação com a sociedade é um processo central que implica a parceria entre
todos os atores envolvidos.

14
REFERÊNCIAS

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e


Desenvolvimento. Agenda 21 Global. 1992. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2019. Disponível em:
<http://www.conexaoambiental.pr.gov.br/sites/conexao-
ambiental/arquivos_restritos/files/documento/2019-
05/agenda_21_global_integra.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2022.

CPDS – Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda


21 Nacional. Agenda 21 brasileira: bases para discussão. Brasília: Ministério
do Meio Ambiente; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2000.
Disponível em:
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/8457/mod_resource/content/1/

bases_discussao_agenda21.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2022.

DIAS, R. Sustentabilidade: origem e fundamentos; educação e governança


global; modelo de desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2015.

GLOBAL SUSTAINABLE INVESTMENT REVIEW. Global Sustainable


Investment Alliance (GSIA). 2020. Disponível em: <http://www.gsi-
alliance.org/>. Acesso em: 22 nov. 2022.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Objetivos de


Desenvolvimento do Milênio: Relatório de acompanhamento. Brasília. Ipea,
2014.

MALHEIROS, T. F.; COUTINHO, S. M. V.; PHILIPPI JR., A. Indicadores de


sustentabilidade: uma abordagem conceitual. In: MALHEIROS, T. F.; PHILIPPI
JR., A. (Eds.). Indicadores de sustentabilidade e gestão ambiental. Barueri:
Manole, 2012.

NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Objetivos do desenvolvimento sustentável.


[S.d.]. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>. Acesso em: 22 nov.
2022.

OBJETIVOS de Desenvolvimento Sustentável – IBGE explica. YouTube, 2016.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Fev2MHAa-
qo&list=PLAvMMJyHZEaFnbAHb_0limdkGL5Z_HBIi&index=1&t=0s>. Acesso
em: 22 nov. 2022.

15
ODM BRASIL. O Brasil e os ODM. [S.d.]. Disponível em:
<http://www.odmbrasil.gov.br/o-brasil-e-os-odm# >. Acesso em: 22 nov. 2022.

OLIVEIRA, B. G.; CEZARINO, L. O.; LIBONI, L. B. Evolução do conceito de


sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. In: OLIVEIRA, S. V. W. B.;
LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. (Orgs.). Sustentabilidade: princípios e
estratégias. Barueri: Manole, 2019.

ONU – Organização das Nações Unidas. Declaração do Rio sobre Meio


Ambiente e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Serviço das Publicações Oficiais
da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
1992.

_____. O futuro que queremos. Rio de Janeiro: Serviço das Publicações


Oficiais da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
2012. Disponível em: <http://rio20.net/wp-
content/uploads/2012/06/N1238164.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2022.

PACTO GLOBAL – Rede Brasil. A iniciativa. [S.d.]. Disponível em:


<https://www.pactoglobal.org.br/a-iniciativa>. Acesso em: 22 nov. 2022.

SOUZA, M. C. O.; CORAZZA, R. I. Do Protocolo Kyoto ao Acordo de Paris: uma


análise das mudanças no regime climático global a partir do estudo da evolução
de perfis de emissões de gases de efeito estufa. Desenvolvimento e Meio
Ambiente, Curitiba, v. 42, p. 52-80, dez. 2017. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.5380/dma.v42i0.51298>. Acesso em: 22 nov. 2022.

16
GESTÃO DA
SUSTENTABILIDADE
AULA 3

Profª Aline Maria Biagi


CONVERSA INICIAL

Além das metas internacionais, as legislações e os procedimentos legais


são instrumentos importantes na busca pela sustentabilidade. Na junção entre
os crimes ambientais, que encadearam a discussão de temas ambientais, e a
reflexão sobre o paradigma do desenvolvimento, inúmeros países passam a
alterar suas legislações e criam novas com o intuito de promover a proteção do
meio ambiente. No Brasil, em meio a políticas de desenvolvimento e à instalação
de indústrias altamente poluidoras, ocorre a criação de órgãos de regulação e
controle, além de legislações que regulamentaram oficialmente alguns pontos,
como: a Política Nacional do Meio Ambiente – Lei n. 6.938/1981 e a Política
Nacional de Crimes Ambientais – Lei n. 9.605/1998, entre outras.
A criação de políticas nacionais, além de aprimorar a preservação e o
controle ambiental, buscam também estimular ações que induzam a
sustentabilidade. Dessa forma, vamos abordar essas políticas nacionais e sua
ligação com a economia e as organizações.

CONTEXTUALIZANDO

Além de acordos e metas em escala global, algumas medidas se fazem


necessárias para o controle ambiental local. Dessa forma, cada Estado gera
instrumentos de instrução e controle na relação entre homem e ambiente natural.
Vamos abordar alguns instrumentos de nível nacional e algumas abordagens de
outros países.

TEMA 1 – A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (PNMA)

A Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída pela Lei Federal n.


6.938/1981 e é considerada a primeira grande de lei ambiental brasileira. Ela tem
grande importância na criação do direito ambiental brasileiro, para o qual trouxe
princípios e conceitos legais fundamentais do direito ambiental, apresentando
também responsabilidades civil específica ao poluidor, o sistema nacional do
meio ambiente e a legitimidade ativa do Ministério Público a ações de
responsabilidade por danos ambientais.
Ela tem como sua fundamentação o art. 225 da constituição federal, que
cita:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações [...].
(Brasil, 1988)

Os principais objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente são:


preservação, recuperação e também um melhoramento da qualidade ambiental.
Um ponto a ser observado dentre os objetivos da PNMA é a atribuição do termo
qualidade ambiental ao seu conteúdo, “que determina que sejam estabelecidos
padrões predeterminados para alcançar tal fim” (Barsano; Barbosa; Ibrahin, p.
52), considerando que não é possível um meio ambiente saudável respeitando
e protegendo a biodiversidade e os demais recursos naturais se em contrapartida

as empresas continuarem expelindo toneladas de gases tóxicos na


atmosfera, e outros fatores impactantes não forem sanados (poluição
visual, sonora, trânsito intenso etc.), se não houver reparo nas áreas
degradadas, compensações às atividades sustentáveis, punição aos
infratores, se não houver um controle e uma fiscalização para
minimizar todos os impactos ambientais que possam de alguma
maneira afetar a saúde pública em todas as suas vertentes, já que o
homem é parte integrante desse processo. (Barsano; Barbosa; Ibrahin,
2016, p. 52)

A Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, traz em seu texto o conceito dos


objetivos no art. 2:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção
da dignidade da vida humana [...]. (Brasil, 1981)

As principais metas que a PNMA cita em seu art. 4 são a compatibilização


do tripé sustentável, definição de áreas prioritárias, estabelecimento de critérios
e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de
recursos ambientais, desenvolvimento de pesquisas e tecnologias, dados e
informações relacionadas ao meio ambiente, preservação e restauração
ambiental e imposição ao poluidor de recuperar ou indenizar os danos por ele
dado causa (Brasil, 1981).
E para que os objetivos e metas da política sejam alcançados, são
necessários instrumentos jurídicos que regulem as atividades poluidoras e deem
suporte à PNMA. Alguns desses instrumentos são descritos na lei, em seu art.
9:

• O zoneamento ambiental.

3
• A avaliação de impactos ambientais em atividades de degradação
ambiental.
• O licenciamento e a revisão de atividades poluidoras.
• O incentivo à produção e instalação de equipamentos e a criação de
tecnologias voltadas a qualidade ambiental.
• A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelos poderes
públicos.
• A criação do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente.
• A criação do cadastro técnico federal de atividades e instrumentos de
defesa ambiental.

Sobre o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), não é um órgão


criado pela lei, mas sim um mecanismo legal, podendo ser de articulação, de
funcionamento ou até mesmo de coordenação entre todos os órgãos que
participam da proteção ambiental nas diferentes esferas (federal, estadual e
municipal). Como reforça o art. 6 da Lei 6.938/1981:

Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito


Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações
instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria
da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio
Ambiente – SISNAMA.

Muitos desses instrumentos citados anteriormente foram incorporados


nas políticas ambientais a nível estadual e municipal, ou mesmo “integrados às
legislações específicas, como o Código Florestal, nas Resoluções do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama) ou outras leis e normas afins, sempre
tendo como direcionamento as diretrizes de PNMA” (Barsano, Barbosa, Ibrahin,
2016, p. 52).
O Conama é de grande importância na instauração da PNMA, como
função, realiza atos que podem ser moções que são realizados por
manifestações públicas, proposições, recomendações e o mais comum que são
as resoluções, que são atos infra legais sobre normas, padrões ou critérios.
As Competências do Conama estão elencadas no art. 8 da Lei da PNMA:

I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para


o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a
ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das
alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos
públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e
municipais, bem assim a entidades privadas, as informações

4
indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e
respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa
degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional. [...]
V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou
restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em
caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação
em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito
VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de
controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e
embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes;
VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional
dos recursos ambientais, principalmente os hídricos. (Brasil, 1981)

Portanto, a PNMA instaura as várias atividades e regulamentações para


o meio ambiente, objetivando a preservação e a recuperação, como também a
melhoria da qualidade ambiental. Instrumentos de políticas ambientais inserem-
se no contexto mundial, e alguns exemplos da aplicação da Política Ambiental
Internacional serão apresentados adiante.

TEMA 2 – A POLÍTICA AMBIENTAL INTERNACIONAL

Neste tópico, abordaremos a importância da proteção ao meio ambiente


no âmbito internacional, uma vez que a proteção dos recursos naturais interessa
a todos os países, considerando que um problema ambiental causado por um
determinado país pode gerar desdobramentos e consequências a outros ou
mesmo produzir impactos em escala global.
Os gases do efeito estufa são um exemplo disso ou mesmo o fato de não
existir fronteira “para uma corrente de ar que carrega fumaça tóxica ou para uma
ave ou peixe que atravessa de um país a outro em seu percurso migratório”
(Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 34).
Cada país determina as suas leis e normas visando a preservação
ambiental, mas, para atingir o âmbito internacional, faz-se necessário cumprir os
parâmetros ambientais mínimos acordados entre diferentes países (Barsano;
Barbosa; Ibrahin, 2016), conforme vimos em conteúdo anterior.
Dias (2015), Barsano, Barbosa e Ibrahin (2016) citam as mudanças e os
impactos causados pelo modelo de desenvolvimento adotado desde a
Revolução Industrial no século XX. Tais mudanças colocaram a vida humana e
o meio ambiente como objeto de preocupação ambiental entre países.

Essa preocupação ambiental ocasionou a necessidade da existência


de convenções, declarações e tratados internacionais, criando direitos
e deveres de natureza ambiental. Mas o que seria um tratado

5
internacional? Tratado internacional é um acordo por escrito, feito entre
estados (no sentido de país soberano) ou Organizações Internacionais,
entes capazes de assumir direitos e obrigações, sob a regência do
Direito Internacional. (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 34)

“O Direito Internacional regula, por meio de tratados e acordos


internacionais, o comportamento dos países, das organizações e do indivíduo”
(Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 34).
De acordo com Barsano, Barbosa e Ibrahin (2016, p. 34), a Organização
das Nações Unidas “foi criada em 1945, com sede em Nova Iorque (EUA), é um
organismo de caráter universal, aberto à participação de todos os Estados do
mundo e ao tratamento de qualquer tema, incluindo o meio ambiente, merecendo
destaque a sua intensa atuação em importantes tratados”, como a Conferência
de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano em 1972; Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992; Agenda 21;
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Conferência
das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, entre outras.
É possível observar alguns exemplos que colocaram a sustentabilidade
como questão central na gestão pública, como a visão mais preservacionista
presente na década de 1920 nos Estados Unidos, que incentivou o aumento do
número de parques nacionais e áreas de preservação de florestas, e as questões
de poluição e remediação da água, legadas então à área de saúde pública,
serem centrais na criação de bases para a Política Nacional de Meio Ambiente
(US National Environmental Policy Act) em 1969 e a Agência de Proteção
Ambiental Americana (US Environmental Protection Agency – Usepa), em 1970;
no Canadá, a criação do Environment Canadá (1972), um órgão formulador e
executor de políticas relacionadas a questões ambientais e posteriormente a
constituição do “Código de Proteção Ambiental Canadense (Canadian
Environmental Protection Act – Cepa), que foi reformulado e ampliado em 1999”
(Philippi Jr. et al., 2014, p. 22).
Além desses, na Europa, a Alemanha já possuía, na constituição de 1949,
aspectos relacionados à questão ambiental, que ganharam maior ênfase na
Constituição de 1994, com a criação da Agência de Proteção Ambiental, a qual
levou à criação de outros órgãos de proteção ambiental no país. Já a Suécia
criou a primeira Agência de Controle Ambiental do mundo, a Swedish
Environmental Protection Agency, em 1967, a qual possibilitou vários avanços
na área ambiental, a considerar que as “questões induzidas pela agência

6
nacional sueca foram levadas, em conjunto com a Agência de Proteção
Ambiental americana, à Conferência de Estocolmo em 1972” (Philippi Jr. et al.,
2014, p. 22), além da criação do Ministério do Meio Ambiente em 1986 e da
promulgação de seu código ambiental, em 1999, que integrava 15 legislações
que tratavam questões centrais.
A França desenvolveu em 1964 a estratégia da gestão ambiental por
bacias hidrográficas como unidade territorial e criou a agência financeiras de
bacia, que objetivava

promover a gestão integrada do uso dos recursos hídricos e demais


recursos ambientais de uma bacia hidrográfica. O sistema francês teve
grande influência na Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu
a Política Nacional de Recursos Hídricos no Brasil e criou o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, constituído, entre
outros, pela Agência Nacional de Águas (ANA); além de estruturas
públicas específicas em grande parte dos estados brasileiros. Este
sistema se baseia no financiamento pelo princípio usuário versus
pagador e prevê a implantação dos conselhos nacional e estaduais de
recursos hídricos, composto por representantes do estado, dos
usuários e das organizações civis. (Philippi Jr. et al., 2014, p. 22-23)

Na Ásia, destaca-se a atuação do Japão, impulsionado, sobretudo, pela


pesada industrialização ocorrida no período pós-guerra. As preocupações com
questões ambientais surgem na década de 1960, tendo sido estabelecidas a Lei
Nacional de Controle da Poluição Ambiental, em 1967, e a Lei de Conservação
da Natureza, em 1972. Essas leis foram precursoras da atual Lei Nacional de
Meio Ambiente, instituída em 1993. Cabe destacar que a Agência de Proteção
Ambiental Japonesa foi criada em 1971. Além disso, em 1993, as várias
legislações que tratavam de questões ambientais foram incorporadas à
legislação japonesa, tendo ainda sido criado, em 1994, um plano de
desenvolvimento sustentável, denominado Environment Plan. Em 2001, o
Ministério do Meio Ambiente japonês teve suas atividades revisadas e
ampliadas, colocando fortes proposições e, principalmente, apoios e incentivos
ao desenvolvimento da Agenda 21 local (Philippi Jr. et al., 2014).
Como vimos, a política ambiental está inserida globalmente e também de
forma individual, com base nas leis e instituições de cada país, e tais leis e
tratados se fazem necessários para conter os impactos e crimes ambientais
cometidos. A seguir, vamos abordar sobre essa legislação em específico.

7
TEMA 3 – A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS E SUA RELAÇÃO COM A
ECONOMIA

Quando observada a gestão pública brasileira, alguns entraves são


notados, como: “dificuldades de estrutura, indefinição de competências,
regulamentações e processos excessivamente burocráticos comprometem a
efetividade da ação do Estado e dificultam o processo de apropriação das
políticas nos setores empresariais e sociais” (Phillipi Jr. et al., 2014, p. 19).
Barsano, Barbosa e Ibrahin (2016, p. 54) definem dano ambiental como
toda e qualquer modificação no ambiente que gere consequências negativas, ou
seja, qualquer lesão ao meio ambiente, seja ele natural, artificial ou cultural. O
dano ao meio ambiente alcança o interesse tanto individual quanto coletivo, e
nós podemos citar como exemplo de danos socioambientais a contaminação de
rios, lagos e mares por despejo de dejetos industriais ou vazamento de óleo,
entre outros.
Outro conceito muito usado quando se abordam crimes ambientais são
os impactos ambientais, aqui conceituados como “alterações provocadas pelas
atividades desenvolvidas pelo homem, em um ambiente considerado. Eles estão
associados a aspectos ambientais, que são elementos que podem interagir com
o ambiente” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 78). No direto ambiental, o meio
ambiente é de uso comum do povo, e o indivíduo tem o direito de usufruir e
também o dever de preservar para a presente e as futuras gerações.
A legislação ambiental utiliza as expressões poluidor, degradação
ambiental e poluição para citar o dano. Desse modo, o poluidor, responsável por
qualquer degradação ambiental, como a que prejudica a saúde e o bem-estar da
população ou afeta as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, ou
ainda que lança matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais,
causando um dano ambiental, terá a obrigação de reparar (Barsano; Barbosa;
Ibrahin, 2016). É o que veremos em seguida.
A lei responsável por tipificar crimes ambientais é a Lei n. 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998, baseada no art. 225 da constituição federal, determinando ao
legislador que tipifique penalmente condutas lesivas ao meio ambiente. Esse
dispositivo legal, além de tipificar condutas, traz disposições legais sobre o meio
ambiente em seu capítulo 2. Já o capítulo 3 trata da apreensão do produto e
também do instrumento da ação administrativa do crime. Trata-se, no capítulo 4,

8
a ação do devido processo legal, seguido pelos crimes contra o meio ambiente
especificamente. O capítulo 6 trata das infrações administrativas relacionadas
ao meio ambiente; o 7, das cooperações internacionais e suas contribuições para
a conservação do meio ambiente. Já o capítulo 8 finaliza com as disposições
finais aplicáveis em toda a lei.
Estão descritos na lei os crimes contra flora, fauna, os de poluição e outros
crimes ambientais, os crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio
cultural e os crimes contra a administração ambiental, além de penas, que
deverão ser aplicadas em cada sessão de crime cometido.
Para a “imposição e gradação” da penalidade, a autoridade competente
deverá observar três pontos: a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da
infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; os
antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse
ambiental; a situação econômica do infrator, no caso de multa (Barsano;
Barbosa; Ibrahin, 2016).
Quando abordamos as questões econômicas envolvidas, a
implementação de empreendimentos, por exemplo, pode ocorrer uma série de
impactos a saúde pública, trazendo danos à vida da população, danos sociais e
econômicos aos municípios e às regiões, que em muitos casos dependem do
recurso natural e paisagístico do ecossistema preservado e de qualidade, como
nas situações em que se agrega valor comercial a esses espaços, como o
turismo, a pesca, os rios navegáveis, as áreas de plantio, as reservas ecológicas,
entre outros (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016).
Dessa forma, “a avaliação de impacto ambiental é um procedimento
importante para a implantação de atividades que possam trazer riscos ao meio
ambiente, incluindo não somente a fauna, flora e meio físico, como também o
meio antrópico” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 78). Vamos abordar mais
detalhadamente a importância dos estudos ambientais e o seu Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA) no próximo tópico.

TEMA 4 – RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL – RIMA

A influência das conferências internacionais e de incidentes e acidentes


de caráter ambiental, “levou o governo brasileiro, por intermédio do Ministério do
Interior, a propor a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema),
como instituição governamental que atendesse às demandas ambientais
9
nacionais” (Philippi Jr. et al., 2014, p. 25). A Sema foi criada no ano de 1973,
mesmo ano em que surgiram os primeiros movimentos nos estados brasileiros
voltados a criação de órgãos ambientais (Philippi Jr. et al., 2014).
O foco do Sistema Nacional de Meio Ambiente nesse momento era o
licenciamento de atividades poluidoras, porém, nesse mesmo período, os
principais problemas ambientais brasileiros observados eram os “relacionados à
gestão dos recursos naturais, tais como a expansão da fronteira agrícola sobre
as áreas florestadas, o crescimento urbano desordenado, a exploração mineral
e a implantação da infraestrutura pública de transporte e energia” (Philippi Jr. et
al., 2014, p. 25).
A avaliação de impacto ambiental, no Brasil, é realizada pela ferramenta
do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e se baseia na Resolução Conama n.
001/1986. Nessa resolução, “são estabelecidas definições, responsabilidades,
diretrizes e critérios para a elaboração e implementação de avaliação de impacto
ambiental” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 73).
O objetivo do EIA está diretamente ligado à sua função de fornecer aos
decisores indicações das possíveis e prováveis consequências ambientais de
suas ações (Jendiroba; Oliveira, 2019).
A Avaliação dos Impactos Ambientais é um instrumento jurídico citado na
Constituição de 1988 que, por meio de análises e pareceres técnicos de equipes
multidisciplinares, treinadas em aplicação de técnicas como Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), métodos quantitativos e projetos gráficos que
elaboraram documentos comprobatórios e conclusivos para a aprovação ou não
dos empreendimentos de grande porte, esses documentos são conhecidos
como EIA (Estudos de Impacto Ambiental) e Rima (Relatório de Impacto
Ambiental) (Jendiroba; Oliveira, 2019; Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016).
A Resolução n. 001/1986 do Conama considera impacto ambiental:

qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do


meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam: (1) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (2) as
atividades sociais e econômicas; (3) a biota; (4) as condições estéticas
e sanitárias do meio ambiente; (5) a qualidade dos recursos
ambientais. (Brasil, 1986)

E sobre essas alterações, são incluídos diversos aspectos que


potencialmente degradam o meio ambiente, os quais abrangem as três

10
dimensões do desenvolvimento sustentável: ambiental, social e econômico
(Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016). Dessa forma,

Empreendimento com alto potencial poluidor e de modificação de áreas


ambientais (nativas ou não) dependem de avaliações técnicas e grupos
de discussão sobre os impactos ambientais. As obras públicas e
privadas (ferrovias, aeroportos, rodovias, barragens, projetos
agropecuários, zonas industriais ou portos) devem ser
cuidadosamente avaliadas em todas as suas etapas, incluindo a
localização, a construção, a instalação, a ampliação, a modificação e a
operação de empreendimentos e as atividades que utilizam recursos
ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem
como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental. (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 53)

O EIA engloba todas as fases do empreendimento (planejamento,


implantação, operação e desativação), além da obrigação de propor medidas
mitigadoras e compensatória para a área impactada. O material final do EIA deve
conter todas as informações levantadas e analisadas, o que representa um
material bastante completo “como textos, mapas, fotografias, gráficos e demais
ilustrações, suficiente para elencar as informações mais relevantes sobre todas
as fases de um empreendimento” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 74).
Já o relatório de Impacto Ambiental (Rima) é um documento que
condensa as informações e conclusões do EIA em uma linguagem menos
técnica e mais objetiva e acessível. Em seu conteúdo, deve abranger as
ilustrações de forma concisa para facilitar a identificação das consequências
ambientais e possíveis alternativas, além de comparar vantagens e
desvantagens. Quando realizadas audiências públicas, é usual que o Rima seja
disponibilizado aos seus participantes que avaliarão o empreendimento, uma vez
que possui uma linguagem mais usual que o EIA (Jendiroba; Oliveira, 2019).
Dentre o conjunto de leis, normas técnicas e administrativas que
embasam o licenciamento ambiental, a Resolução Conama n. 237/1997

[...] dispõe sobre a revisão e a complementação dos procedimentos e


dos critérios utilizados para o licenciamento ambiental, que devem
seguir as seguintes etapas:
(1) Licença Prévia (LP) – a fase preliminar do projeto, autoriza a
localização e demais requisitos adicionais para o requerimento das
próximas licenças nas etapas futuras.
(2) Licença de Instalação (LI) – corresponde a concessão da
autorização, “desde que atenda o mínimo dos requisitos constantes
nos planos, programas e projetos, incluindo as medidas de
prevenção ambiental estabelecidos na fase anterior.
(3) Licença de Operação (LO) – corresponde a autorização de pleno
funcionamento e operação do empreendimento, “após a
constatação do cumprimento dos requisitos acondicionados e

11
acordados nas licenças anteriores. (Barsano; Barbosa; Ibrahin,
2016, p. 54)

Essa obrigação legal de concessão das licenças é “compartilhada pelos


órgãos estaduais de meio ambiente e pelo Ibama, como partes integrantes do
Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama)” (Barsano; Barbosa; Ibrahin,
2016, p. 54).
Desse modo, o EIA é uma ferramenta internacionalmente reconhecida na
gestão ambiental e possibilita uma “maior consciência ambiental dentro de um
padrão de desenvolvimento sustentável” (Jendiroba; Oliveira, 2019, p. 74).
Além de que o EIA e o Rima buscam a “prevenção ou a minimização dos
impactos ambientais na fase de projeto dos empreendimentos, devendo haver
garantias técnicas de que as obras não degradarão o meio ambiente nem trarão
riscos ao homem e à economia”, há o fato de que “sem o parecer positivo do
relatório de impactos ambientais, os empreendedores (públicos, privados ou
mistos) ficam impossibilitados de serem assistidos por verbas orçamentárias,
financiamentos bancários e de conseguirem licenciamento ambiental para iniciar
as atividades” (Barsano; Barbosa; Ibrahin, 2016, p. 54). Vamos abordar a
importância desses estudos para as organizações.

TEMA 5 – A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS AMBIENTAIS PARA AS


ORGANIZAÇÕES

Promover o desenvolvimento sustentável é um dos principais desafios da


sociedade, e, para alcançar esse objetivo, é crescente a importância de inserir
as formas de organização social, política, econômica e empresarial nesse
desafio, visando uma abordagem ampla e integradora dos diferentes setores da
sociedade na solução do problema (Morais; Penedo, 2019).
Nesse sentido, os estudos ambientais e a viabilidade socioambiental
contrastam com a preocupação histórica de toda empresa que até então se
concentrava no seu crescimento e na manutenção do lucro e da viabilidade
econômica, mas, além disso, as atividades de uma empresa também
proporcionam a geração de emprego e renda, o que impacta diretamente o
desenvolvimento local. Por força da lei, exigência do mercado ou mesmo
conscientização de gestores, “as empresas e negócios passaram a incorporar
gradualmente em suas missões e visões postura e atuação mais responsáveis
do ponto de vista social e ambiental” (Morais; Penedo, 2019, p. 94-95).

12
Assim, as questões ambientais e a necessidade de estudos que
garantissem a sustentabilidade adentraram empresas e empreendimentos
mostrando a capacidade de criar valor para clientes, acionistas e demais partes
interessadas com base na incorporação da dimensão socioambiental na gestão
(boa parte por influência da globalização) (Vilela Jr.; Demajorovic, 2020).
Consumidores passam a exigir produtos e serviços de empresas
socialmente responsáveis, governos estabelecem políticas e regulamentações
mais restritivas, investidores estimam riscos ambientais e sociais em seus
investimentos, e toda essa mudança de pensamento amplia e difunde a
preocupação pública e governamental sobre questões como mudança climática,
poluição industrial, segurança alimentar, degradação dos recursos naturais,
direitos humanos, entre várias outras (Vilela Jr.; Demajorovic, 2020).
Essa maior preocupação faz com que as empresas e organizações
sociais sejam inseridas diretamente na questão do desenvolvimento como atores
sociais e protagonistas ao lidar com novos desafios. Se antes a geração de renda
e riqueza era objetivo das empresas e a atuação social era puramente uma ação
individual e até mesmo altruísta, nesse novo contexto essas questões se
misturam e se colocam de forma que

[...] a geração de negócios e organizações sociais que sejam


economicamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente
justas. Esse novo paradigma exige outro perfil de ator para
empreender, de forma sustentável, esses negócios e organizações
sociais, o que torna premente o entendimento da intersecção entre o
empreendedorismo e a sustentabilidade. (Morais; Penedo, 2019, p. 91)

Essa nova abordagem insere a “mobilização e a participação dos diversos


atores sociais, como o poder público, as empresas, os trabalhadores e as
organizações sociais, em torno de ações sustentáveis, no intuito de aumentar o
chamado capital social e o desenvolvimento local das comunidades que
compõem essa sociedade” (Morais; Penedo, 2019, p. 87).
Dessa forma, o capital humano e social ganha cada vez mais espaço nas
discussões de sustentabilidade. Em conteúdo posterior, abordaremos a
participação social.

TROCANDO IDEIAS

Que tal pegar um Rima de algum empreendimento na sua cidade e estado


para anotar os pontos principais? No site do Instituto Água e Terra (IAT),

13
disponível em <https://www.iat.pr.gov.br/busca?termo=RIMA>, você encontra
alguns Rimas protocolados no estado do Paraná. Você pode trocar essa
experiência sobre potenciais e fragilidades do Rima que você estudou.

NA PRÁTICA

A tragédia ambiental envolvendo o rompimento das barragens da Vale


pode ser considerada um dos maiores desastres ambientais de mineração do
mundo. O rompimento das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019)
trouxe impactos gigantescos para a região. Leia as matérias sobre esse triste
acontecimento disponíveis em <https://agencia.fiocruz.br/desastre-da-vale> e
<https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/01/tres-anos-depois-vale-
se-envolve-novamente-em-tragedia-ambiental.html>. Acesso em: 25 out. 2022.
Aqui, podemos fazer uma comparação com base em uma leitura crítica
dos impactos ambientais e sociais gerados com as medidas de promoção da
sustentabilidade promovidas pela empresa. Algumas medidas são apresentadas
no site da Vale, disponível em:
<http://www.vale.com/brasil/PT/sustainability/Paginas/default.aspx#close-
modal>. Acesso em: 25 out. 2022.

FINALIZANDO

Quando abordarmos o desenvolvimento, sempre ocorrerá algum tipo de


dano ou impacto ambiental. Esses danos podem ser mais graves e afetar
diretamente a população, como podem ser mais dispersos e a afetar
indiretamente.
Voltadas a estabelecer critérios de preservação e critérios de uso comum,
as leis são importantes instrumentos que auxiliam a preservação e a
conservação ambiental. A Política Nacional do Meio Ambiente é um instrumento
fundamental que apresenta a responsabilidade do poluidor e as potenciais
medidas disciplinares visando a manutenção da qualidade ambiental. A Política
Nacional acompanha diversas legislações de diversos países que também
buscam a manutenção dos seus recursos naturais.
A Lei de Crimes Ambientais traz uma abordagem voltada a
responsabilizar por esse dano ambiental e tipificar os danos ambientais
praticados. E justamente para minimizar ao máximo esses danos ao meio

14
ambiente é que se estabeleceu o Avaliação de Impacto Ambiental, que, com
base no EIA e no Rima, possibilita a compensação e a mitigação de potenciais
danos.
Esses estudos são de grande importância para as organizações, de forma
a induzir a organização política, econômica, empresarial e da sociedade a
discutir esses impactos.

15
REFERÊNCIAS

BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P.; IBRAHIN, F. I. D. Legislação ambiental.


São Paulo: Saraiva, 2014.

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.

______. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder


Executivo, Brasília, DF, 2 set. 1981.

______. Lei Federal n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da


União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 13 fev. 1998.

DIAS, R. Sustentabilidade: origem e fundamentos; educação e governança


global; modelo de desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2015.

JENDIROBA, E.; OLIVEIRA, S. V. W. B. Gestão do meio ambiente. In:


OLIVEIRA, S. V. W. B.; LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. Sustentabilidade:
princípios e estratégias. Barueri. Manole, 2019.

MORAIS, P. R. B.; PENEDO, A. S. T. Sustentabilidade e empreendedorismo. In:


OLIVEIRA, S. V. W. B.; LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. Sustentabilidade:
princípios e estratégias. Barueri. Manole, 2019.

PHILIPPI JR, A. et al. Histórico e evolução do sistema de gestão ambiental no


Brasil. In: PHILIPPI JR, A., ROMÉRIO, M., BRUNA, G. (eds.) Curso de gestão
ambiental. 2. ed. Barueri: Manole, 2014.

VILELA JR., A.; DEMAJOROVIC, J. Modelos e ferramentas de gestão


ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: Senac,
2020.
GESTÃO DA
SUSTENTABILIDADE
AULA 4

Profª Aline Maria Biagi


CONVERSA INICIAL

Participação social

Os atores que compõem a sociedade e a gestão são extremamente


importantes no desenvolvimento como um todo. Aqui, nesta etapa, abordaremos
o capital humano e social na construção da responsabilidade social corporativa
(RSC) e da responsabilidade social empresarial (RSE), de forma que possamos
visualizar, na prática, a atuação das empresas em prol do desenvolvimento
econômico-social.
As diferentes visões compartilhadas entre os líderes das diversas nações
do mundo, sobre os problemas e as alternativas para uma sociedade mais
sustentável, foram impulsionadoras de um nível de consciência que iria além das
instâncias governamentais e incluiria outros setores da sociedade. Moraes e
Penedo (2019) citam o envolvimento de governos, empresas, organizações não
governamentais (ONGs), além de entidades de representação de trabalhadores,
órgãos de classe, comunidades e mesmo o cidadão individual como agentes,
nesse processo. Dessa forma, o capital humano e social é de grande importância
na construção da sustentabilidade.

CONTEXTUALIZANDO

Cajazeira e Barbieri (2016) apontam que tanto o desenvolvimento


sustentável quanto a RSC e a RSE possuem origens antigas, mas distintas.
Enquanto a RSC e a RSE se associam à questão da pobreza na Idade Moderna,
mesmo período do surgimento das empresas, o desenvolvimento sustentável
tem início com os movimentos ambientalistas estabelecidos em resposta à “[...]
expansão da industrialização e da ocupação de áreas para exploração agrícola
e mineral [que] gerou efeitos deletérios sobre o meio ambiente de muitas regiões”
(Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 51).
Com isso, a RSC e a RSE possuem um compromisso com a ética da
globalização. O termo globalização é bastante amplo, mas, quando voltado ao
ambiente de negócios, em geral corresponde à globalização econômica, que
representa a “[...] intensificação dos fluxos de produtos, serviços, divisas,
conhecimentos aplicados à esfera produtiva e pela capacidade ampliada dos

2
mercados de promover mudanças políticas e sociais” (Cajazeira; Barbieri, 2016,
p. 107).
Assim, para nossa atuação em um mundo globalizado, se faz necessário
o desenvolvimento de uma ética universal. Essa ética universal foi tema do
relatório Nossa diversidade criadora (Cuéllar, 1997), publicado pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). As
principais ideias norteadoras dessa nova ética universal são: “(1) direitos
humanos; (2) fortalecimento da democracia e dos componentes da sociedade
civil; (3) proteção das minorias; (4) compromisso com as soluções pacíficas das
controvérsias e negociações equitativas; (5) equidade em cada geração e entre
gerações” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 108).

TEMA 1 – CAPITAL HUMANO E CAPITAL SOCIAL

Os conceitos de capital natural e capital humano se confundem, a se


considerar que nem o capital humano e nem o capital social se adequam a
termos como energia, dinheiro ou materiais. Ambos se enquadram muito mais
em uma outra visão de mundo, de forma que “[...] o que é visto em algumas
culturas como capital humano (porque é carregado dentro das mentes e corpos
dos indivíduos) é visto por outras como capital social, pois os indivíduos só
recebem identidade e propósito pelo grupo” (Meadows, 1998, p. 57, tradução
nossa).
A base do capital humano é a população, incluindo questões estruturais
de idade e gênero ancoradas em modelos demográficos que podem ser
mensurados por atributos como saúde e educação. De forma que, quando os
níveis de saúde e educação da população aumentam, outras formas de capital
se tornam mais produtivas também, o que proporciona como resultado final um
maior bem-estar social, em que pese se considerar que diferentes pessoas, com
atributos e culturas igualmente diferentes, possuem resultados e rotinas de
trabalho diferenciados (Meadows, 1998).
Em relação ao capital social, Salles, Fernandes e Limont (2017, p. 401)
apresentam algumas definições a respeito, com duas vertentes teóricas
principais: a primeira relacionada ao indivíduo e a segunda considerando o
capital social como um bem público, “[...] que permeia a relação entre pessoas e
grupos, um elemento pertencente a uma comunidade ou sociedade”.

3
Um autor clássico que aborda o conceito de capital social é Pierre
Bourdieu, o qual defende que “[...] a abordagem do capital social concentra-se
em redes, e especificamente sobre a adesão a rede em termos de acesso a
recursos e oportunidades” (Salles; Fernandes; Limont, 2017, p. 402). Para
Meadows (1998), “capital social é um estoque de atributos (confiança,
conhecimento, eficiência, honestidade) que pertence à coletividade humana, e
não a um único indivíduo” (Salles; Fernandes; Limont, 2017, p. 402). Assim,

o capital social trata do acúmulo de experiências participativas e


organizacionais que ocorrem na base de uma comunidade ou
sociedade, reforçando os seus laços de solidariedade, cooperação e
confiança entre pessoas, grupos sociais e entidades que buscam a
melhoria e, em última análise, a sustentabilidade. (Moraes; Penedo,
2019, p. 88)

No ano de 2001, a Organization for Economic Cooperation and


Development (OECD) elaborou um relatório abordando o bem-estar das nações,
em que se discutia a importância do capital social e humano. No ano seguinte,
foi realizada a conferência “Capital social: o desafio de mensuração
internacional”, reunindo 22 países, que compartilharam boas práticas e
propostas para a melhoria da capacidade de medição e comparabilidade do
capital social (Salles; Fernandes; Limont, 2017).
O estudo sobre capital social ganhou maior destaque depois da
investigação realizada no ano de 2003, pelo Banco Mundial, que formulou
conceitos e proposições sobre o capital social e formas de desenvolvê-lo visando
à elaboração de projetos de desenvolvimento sustentável. Esse estudo contribui
com a abordagem de que “[...] o capital social se refere às normas e às redes
que permitem a ação coletiva”, o que incorpora “[...] instituições, relacionamentos
e costumes que formam a qualidade e a quantidade das interações sociais de
uma sociedade” (Moraes; Penedo, 2019, p. 88).
O estudo do Banco Mundial (2003), abordando o desenvolvimento do
capital social, apresentou algumas dimensões que compõem um quadro de
ações para se atingir o desenvolvimento. Essas dimensões são as que se
seguem.

• Grupos e redes: têm foco no suporte organizacional e na realização de


atividades sociais com o objetivo de criar pontes e conexões, com o
comprometimento de se “[...] organizar e mobilizar recursos para resolver
problemas de interesse comum representa algumas das saídas de grupos

4
sociais que aumentam ou constroem o capital social” (Moraes; Penedo,
2019, p. 90). E o sucesso desses grupos é mensurado pela capacidade
deles de “[...] divulgar informações, reduzir o comportamento oportunista
e facilitar a tomada de decisão coletiva, porém isso depende de muitos
aspectos desses grupos, que refletem sua estrutura, composição e
funcionamento” (Moraes; Penedo, 2019, p. 90).
• Confiança e solidariedade: isso se trata da influência no pensamento e na
atitude das pessoas, quando da interação entre elas. “Quando os
indivíduos em comunidade confiam uns nos outros e nas instituições que
operam entre eles, pode-se chegar a acordos e regras de conduta com
mais facilidade” (Moraes; Penedo, 2019, p. 90).
• Ação coletiva e cooperação: a ação coletiva difere, entre as comunidades.
As comunidades organizadas podem ter a sua ação coletiva voltada à
construção e manutenção de uma infraestrutura de serviços públicos; ou,
em outros casos, estar voltada para garantir uma melhor governança e
divisão de responsabilidades (Moraes; Penedo, 2019, p. 90).
• Coesão e inclusão social: essa dimensão está voltada para a disposição
e a capacidade das pessoas de trabalharem juntas em prol de atender a
uma necessidade coletiva, considerando os seus diversos interesses. “A
inclusão promove a igualdade de oportunidades e remove os obstáculos
formais e informais de participação” (Moraes; Penedo, 2019, p. 90).
• Informação e comunicação: é a essência das interações sociais. A
informação pode fluir de cima para baixo, por operação do campo da
política; ou de baixo para cima, na esfera local. Além disso, o fluxo de
informações horizontais reforça a capacidade de articulação e de troca de
ideias, o que leva a um diálogo aberto, que por sua vez favorece a
maturação de um senso de comunidade. Em contrapartida, a falta de
informação leva a desconfianças. “Uma melhor divulgação das
informações de interesse comum pode quebrar a influência do capital
social negativo, bem como construir confiança e coesão” (Moraes;
Penedo, p. 91).

O capital humano e social também se aplica nos processos de gestão,


uma vez que “[...] todos os aspectos produtivos devem ser avaliados sob a ótica
das questões ambientais e sociais” (Moraes; Penedo, p. 98). Assim, a
responsabilidade social nos negócios se aplica em toda a cadeia produtiva e não
5
apenas no produto final, uma vez que “[...] respeito e responsabilidade com
relação ao ambiente e à sociedade garantem preservação de recursos, parcerias
duráveis e transparentes, melhoria na imagem da empresa e desenvolvimento
sustentável, além de prevenir riscos futuros, como impactos ambientais ou
processos judiciais”. Assim, desenvolvimento sustentável e responsabilidade
social são conceitos próximos (Moraes; Penedo, 2019, p. 98).
Essa participação e a responsabilidade social assumida fazem com que
as organizações deixem de ser coadjuvantes e assumam o protagonismo no
processo de desenvolvimento e transformação social. Dessa forma, o
empreendedorismo social mobiliza pessoas a participar, em suas próprias
comunidades, de “[...] projetos sociais voltados a soluções ambientalmente
corretas e socialmente justas, mantendo a condição elementar de serem
economicamente viáveis” (Moraes; Penedo, p. 100). Mais do que isso,
impulsiona que a comunidade participe ativamente na solução dos seus próprios
problemas, focando no “[...] desenvolvimento local, nas relações de
solidariedade e cooperação, no desenvolvimento autônomo e auto gestionário
de cada pessoa e da comunidade e no estabelecimento de parcerias e alianças
com todos os demais atores sociais” – empresas, governos e demais
organizações sociais (Moraes; Penedo, p. 100).
Ainda sobre essa questão,

[...] pode-se citar como exemplo pequenos empresários promovendo


ações de desenvolvimento sustentável com seus clientes e
fornecedores, por meio de parcerias com organizações não
governamentais ou de uma grande corporação, somando esforços com
o poder público, por intermédio de seu departamento de
responsabilidade social, para oferecer alternativas sustentáveis a
determinado projeto social. (Moraes; Penedo, 2019, p. 89)

Conclui-se, assim, que o desenvolvimento sustentável está ligado à


consolidação dos capitais humanos e sociais. O desenvolvimento sustentável é
muito mais fortalecido quando “[...] comunidades fortalecidas em seus laços de
cooperação e solidariedade e amplamente voltadas à criação de parcerias e
alianças com todos os atores sociais” (Moraes; Penedo, p. 104). De forma que
“[...] empresários, governos, organizações não governamentais, sindicatos,
órgãos de classe, representantes da sociedade civil e demais atores sociais
desempenham aí papel decisivo” (Moraes; Penedo, p. 104).

6
TEMA 2 – A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)

Responsabilidade social é a expressão da ética entre os indivíduos e seu


meio. Por isso, os critérios éticos que tendem a se impor nas decisões
relacionadas com o desenvolvimento contribuem para se determinar o exercício
dessa responsabilidade. É precisamente por essa concepção ética que a
sociedade contemporânea, e especialmente quem a lidera, admite situações de
injustiça que afetam vastos setores da população mundial. As empresas, até
algumas décadas atrás, não eram objeto de estudo de cientistas sociais. Apenas
a partir dos anos 1980 é que a sociedade passa a questionar as organizações e
seus comportamentos, para, então, na década de 1990, a discussão passar a
ser sobre a função social das empresas e a sua responsabilidade com a
sociedade e o meio ambiente (Avendaño C., 2013).
O termo responsabilidade social possui várias interpretações. Avendaño
C. (2013, p. 155-156, tradução nossa) reúne, em seu trabalho, algumas
definições aceitas pela comunidade acadêmica acerca desse conceito, como:

a. “Por Responsabilidade Social Corporativa se entende o reconhecimento


e integração em suas operações por parte das empresas, das
preocupações sociais e ambientais, dando espaço para práticas
empresariais que satisfaçam essa preocupação e configurem as relações
entre os interlocutores.”
b. RSC seria o “[...] modelo de empresa em que se combinam eficiência e
equidade para favorecer a criação de patrimônio líquido total de longo
prazo e de forma sustentável, preservando o capital ambiental e o capital
físico, financeiro e intelectual da organização”.
c. A RSC tratar-se-ia assim de uma “Teoria das partes interessadas ou
abordagem pluralista [...] que concebe legitimidade da empresa do ponto
de vista para criar riqueza para a sociedade como um todo e bem-estar
para os diferentes grupos de interesse”.
d. Ou uma filosofia adotada na gestão de instituições para elas agirem não
apenas em benefício próprio, mas também em benefício dos seus
trabalhadores, famílias e entorno social.
e. E, também, o “Compromisso das empresas em contribuir para o
desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando com os

7
funcionários, suas famílias, a comunidade local e a sociedade em geral
para melhorar sua qualidade de vida”.
f. Já a RSE seria a “[...] integração voluntária das empresas de
preocupações sociais e ambientais nas suas operações comerciais e nas
suas relações com os seus parceiros”.

Assim, RSE e RSC

[...] se refere[m] ao conjunto de obrigações e compromissos legais e


éticos que derivam da atividade das organizações e com impacto nas
esferas: social, trabalhista, ambiental e direitos humanos, ou seja, as
áreas que indica o Pacto Global. As empresas assumem
compromissos não só para recompensar os benefícios adquiridos com
a sua atividade, mas também para melhorar a sua competitividade e
lhes acrescentar valor. Portanto, essas são oportunidades para as
organizações estabelecerem diferenças competitivas. (Avendaño C.,
2013, p. 156, tradução nossa)

Nesse processo de se implantar práticas de RSE, algumas dificuldades


são encontradas, devido a vários fatores como a diversidade de questões que
“[...] se traduzem em direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos,
internos e externos à empresa” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 43), o que, nesse
variado entendimento sobre a empresa e a sua relação direta com a sociedade
e o meio ambiente, se torna uma forte de complicação quando combinado à
busca por resultados econômicos. E, para lidar com essa complexidade, essas
relações são desagregadas de seus componentes. Um autor que realizou essa
desagregação foi Carrol e vamos abordar mais essas dimensões isoladas da
RSC.

TEMA 3 – AS QUATRO DIMENSÕES DA RSC

Carroll (1979, p. 500, citado por Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 43) definiu RSE
como “[...] a responsabilidade social das empresas compreende as expectativas
econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem em relação às
organizações em dado período”. Essa definição é uma das mais citadas sobre a
temática; e “o modelo conceitual que ele desenvolveu tornou-se a base de muitos
programas e modelos de gestão da responsabilidade social” (Cajazeira; Barbieri,
2016, p. 43).
Nessa pirâmide, na sua ponta encontra-se a responsabilidade filantrópica,
que fala sobre se ser um bom cidadão corporativo, que contribui com recursos
para a sociedade melhorar a sua qualidade de vida; com a responsabilidade ética

8
se avança na obrigação de se fazer o correto, o justo e evitar qualquer dano; a
responsabilidade legal versa sobre a lei ser a codificação do comportamento da
sociedade – em outras palavras, trata-se de jogar com as regras do jogo; e a
responsabilidade econômica, nessa abordagem da RSC, é a base para as
demais terem efeito (Avendaño C., 2013, p. 157).

Figura 1 – Pirâmide de responsabilidade social, de Carroll

Respon-
sabilidade
filantrópica
(empresa
cidadã)

Responsabilidades
éticas
(Fazer o certo e evitar
danos)

Responsabilidades legais
(Obedecer às leis)

Responsabilidades econômicas
(A empresa deve ser lucrativa)

Fonte: Elaborado com base em Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44.

A responsabilidade econômica remete ao fato de que a empresa deve ser


lucrativa, uma vez que é uma unidade econômica básica da sociedade “[...] e
como tal tem a responsabilidade de produzir bens e serviços que a sociedade
deseja e vendê-los com lucro” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44).

9
A responsabilidade legal é acionada pelo fato de que a sociedade permite
que as empresas possuam um papel produtivo como “parte da efetivação de um
contrato social” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44) ao qual são impostas regras e
leis a que as empresas devem obediência para cumprir a sua missão econômica
de acordo com uma estrutura legal.
A responsabilidade ética cobre aspectos que as leis e a economia não
englobam, mas que “[...] representam expectativas dos membros da sociedade”
(Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 44), partindo da obrigação de se fazer o que é certo
e justo mesmo quando a lei não o obriga, com o objetivo de minimizar ou mesmo
extinguir o cometimento de danos, às pessoas, por conta das atividades
empresariais.
E, por fim, a responsabilidade discricionária ou volitiva, que mais tarde foi
chamada de filantrópica, é considerada:

[...] como uma restituição à sociedade de parte do que a empresa


recebeu. Essa dimensão abrange ações que atendam às expectativas
da sociedade de que as empresas atuem observando critérios de
cidadania e expressando comprometimento com atitudes e programas
para promover o bem-estar humano (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 45).

Mesmo com o sucesso de seu modelo em quatro dimensões representado


pela pirâmide, Carroll continuou a trabalhar nessa teoria empresarial e mais tarde
Schwartz e Carroll desenvolveram o modelo dos três domínios, com novas
perspectivas conceituais voltadas à RSC e às suas práticas de fato. Vamos
abordar esse novo modelo na próxima seção.

TEMA 4 – MODELO DOS TRÊS DOMÍNIOS DA RSC

Algumas críticas surgiram em relação ao modelo das quatro


responsabilidades, entre as quais o fato de existir uma hierarquia entre as
responsabilidades e de a responsabilidade filantrópica estar na ponta da
pirâmide. O modelo em pirâmide não capturaria, por isso, de forma completa, as
interações entre as quatro responsabilidades antes descritas (Cajazeira;
Barbieri, 2016, p. 45).
Na busca por corrigir essas questões, Carrol elaborou um novo modelo,
em forma de círculos, para identificar os domínios da responsabilidade social
empresarial e corporativa. A Figura 2 mostra os três domínios da RSC

10
Figura 2 – O modelo dos três domínios da RSC

Legal/Ético
Exclusivamente Exclusivamente
Ético Legal

Econômico/
Legal/Ético
Econômico/ Legal/
Ético Econômico

Exclusivamente
econômico

Fonte: Elaborado com base em Cajazeiras; Barbieri, 2016, p. 46.

Nesse novo modelo, a filantropia deixou de ser uma dimensão específica,


talvez em razão de um entendimento de que seja “[...] difícil distinguir entre
atividades éticas e filantrópicas, tanto do ponto de vista teórico quanto prático.
Além disso, a filantropia pode estar sendo praticada apenas por interesses
econômicos” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 46). Outra novidade desse modelo é
a sobreposição de domínios da responsabilidade, que formam estes sete
segmentos da RSE:

1. exclusivamente ético;
2. exclusivamente legal;
3. exclusivamente econômico;
4. ético-legal;
5. ético-econômico;
6. econômico-legal;
7. ético-econômico-legal.

11
Individualmente, o campo econômico volta-se às atividades econômicas
de impacto positivo, direto ou indireto, com o objetivo de maximizar lucros ou
valor de ações das empresas, tais como “[...] atividades para incrementar as
vendas ou para evitar litígios são exemplos de impactos econômicos direto;
ações para melhorar a imagem da empresa ou para elevar a motivação dos
empregados são exemplos de impactos indiretos” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p.
47).
O campo da responsabilidade legal, por sua vez, “[...] refere-se às
respostas dadas pela empresa com relação às normas e aos princípios legais,
podendo ser vistas sob três grandes categorias: conformidade legal, medidas
para evitar litígios e medidas antecipatórias às leis” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p.
47).
O domínio ético é a “[...] responsabilidade da empresa diante das
expectativas da população em geral e dos stakeholders relacionados,
envolvendo imperativos éticos e globais” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47).
Nesse domínio, a responsabilidade social é apresentada em forma de
obediência a três padrões éticos gerais. O primeiro é o que se denomina, na
filosofia moral, relativismo ético, que compreende

[...] os padrões e as normas sociais aceitas como necessárias para o


funcionamento das empresas pelas indústrias onde elas atuam, pelas
indústrias onde elas atuam, pelas associações profissionais e pela
sociedade, incluindo acionistas, clientes, empregados, competidores e
outros stakeholders. Como essas normas sociais variam entre
diferentes grupos sociais, uma forma de se contornar essa limitação é
mediante a elaboração e aplicação de códigos formais de ética.
(Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47)

O segundo padrão ético é o consequencialista, segundo o qual ações são


analisadas e decididas pelas suas consequências: “uma ação é considerada
consequencialista se promove o bem social ou se o seu propósito é produzir a
maior quantidade de benefícios líquidos, ou o menor custo líquido,
comparativamente às outras alternativas” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 47). O
terceiro e último padrão ético geral é denominado deontológico e “[...] envolve as
noções de obrigação e dever como motivadores de ações” (Cajazeira; Barbieri,
2016, p. 47).
Esse modelo de RSC apresenta algumas limitações, por exemplo: “ao
estabelecer domínios distintos[,] surgem categorias de responsabilidade social
exclusivas, quando se sabe que todas elas se combinam de modo inseparável”
(Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 49). Outra limitação está na ausência das questões
12
ambientais como uma dimensão específica, o que faz com que essas questões
se percam em discussões econômicas e legais sem que lhes seja aplicada a
devida noção de responsabilidade social para se atingir o desenvolvimento
sustentável.
A RSC de uma empresa deve estar atenta a essas questões atuais, que
envolvem tanto as questões ambientais quanto a inclusão de minorias no escopo
empresarial, tema abordado no próximo tópico.

TEMA 5 – RSC E A INCLUSÃO DE MINORIAS

A importância da diversidade na pauta empresarial está consolidada em


um contexto global, em boa parte em relação a diferentes forças de trabalho a
serem somadas. Dessa forma, as questões que abrangem “[...] gênero, etnia,
orientação sexual, idade, crença religiosa ou limitações físicas, por exemplo,
assinalam a heterogeneidade, demandando práticas que harmonizem lucro e
justiça social” (Akamine, 2021, p. 575). Aqui, podemos considerar minoria como

[...] um grupo, numericamente menor ou não, que possui uma diferença


de oportunidades em relação ao outro grupo. Diferenças essas que no
contexto em que estão inseridas geram barreiras que impedem este
grupo de desfrutar de cotidianos sociais, como por exemplo, a atuação
no mercado de trabalho. Desse grupo são: negros, pessoas com
deficiência, mulheres, homossexuais e indígenas. (Akamine, 2021, p.
581)

Akamine (2021) cita que a abordagem das temáticas envolvendo


diversidade como um frutífero tema de estudos nas organizações teve início nos
anos 1980, considerando que a inclusão das minorias historicamente
discriminadas seria vantajosa ao ambiente de trabalho, uma vez que o tornaria
mais diversificado e democrático. Entretanto, cabe citar que,

[...] em relação à diversidade, os discursos são particularmente


ambíguos. Em busca de legitimidade social, ao investir em práticas não
discriminatórias se habilitam a ser percebidas como mais socialmente
responsáveis [...]. Contudo, são de se considerar a efetividade e os
desdobramentos dos discursos empresariais pró-diversidade.
(Akamine, 2021, p. 575)

O êxito e a efetividade da inclusão de minorias no ambiente de trabalho


se consumarão justamente na “[...] intensidade com que são praticadas as
políticas de igualdade de oportunidades entre indivíduos de segmentos
socialmente discriminados” (Akamine, 2021, p. 575). Nesse ponto, a adoção ou
não de tais medidas é questão central no processo de RSC, “[...] pois a

13
legitimidade [das políticas de RSC] é ameaçada quando os indivíduos não
acreditam nas políticas pela ausência de oportunidades de ascensão e de
reconhecimento” (Akamine, 2021, p. 576). Assim,

o papel gerencial na promoção da diversidade e inclusão é explicito no


fragmento discursivo: criar um melhor ambiente de trabalho”. “Os
gerentes, assim, devem somar “às políticas da companhia e políticas e
práticas locais no seu negócio e região” e isso “inclui entender,
apropriar-se e comunicar conceitos chave em mensagens dirigidas aos
empregados”, o que significa se familiarizarem “com os principais
temas/objetivos e envolvimento com planos de ação para alcançar
objetivos””. (Akamine, 2021, p. 576)

Dentre os benefícios observados na gestão da diversidade nas


organizações estão a atração de talentos, a conquista de mercado em diferentes
segmentos, o incentivo à solução de problemas, a flexibilidade organizacional
(Akamine, 2021). Essas vantagens se tornam importantes, quando consideradas
a globalização e a competitividade que nela impera, que faz com que as
empresas repensem as maneiras de gerir seus negócios.
A diversidade cultural, nessa abordagem empresarial, (re)configura a
ética como “[...] condição adaptativa das relações humanas na sociedade atual.
O equilíbrio entre ética, estética e técnica serve para intermediar a vida mediante
os parâmetros providenciais do respeito e da dignidade humana” (Akamine,
2021, p. 578). A diversidade cultural é, assim, caracterizada “[...] por práticas e
produções culturais desenvolvidas por grupos e coletivos, mas também por
indivíduos que a expressam de forma singular” (Akamine, 2021, p. 578).
E, mais do que aproveitar o que cada indivíduo pode oferecer a uma
empresa, a gestão da diversidade se faz necessária no sentido de aproveitar o
melhor de cara região também. Ao citar Vils, Akemine (2021) aponta a gestão da
diversidade como um importante processo para o crescimento da empresa, o
que contemplaria “[...] ouvir as opiniões, conhecer as culturas, a maneira e
características de cada um no trabalho, não existindo um modelo, algo
inquestionável, com o qual todos concordem. Querem-se pessoas participativas,
com ideias e atitudes proativas” (Akamine, 2021, p. 581).
Há que se registrar ainda que a

ideia de responsabilidade social tem levado a considerar as diversas


organizações como agentes éticos porque não é nem de uma pessoa
moral nem de uma soma de indivíduos, mas de comunidades ligadas
por valores, hábitos e atitudes comuns, definidos numa missão que
deve ser legítima para a sociedade. (Avendaño C., 2013, p. 160,
tradução nossa)

14
E um importante instrumento nessa missão é a governança corporativa,
tema que vamos abordar em outro momento.

TROCANDO IDEIAS

A inclusão de minorias como uma ferramenta da RSC é um instrumento


de desenvolvimento do capital social e humano. Vamos pensar em exemplos de
como essa inclusão pode ser benéfica para a gestão tanto da empresa quanto
da gestão da sustentabilidade, tema de que já tratamos?

NA PRÁTICA

Muhammad Yunus é conhecido como o pai do empreendedorismo


social e foi o vencedor do Prêmio Nobel da Paz no ano de 2006. Assista a uma
entrevista na qual Yunus cita alguns exemplos de negócios sociais, disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=R1wSxoVrkmM> (Acesso em: 12 dez.
2022). Depois de ver alguns exemplos citados na entrevista, apresente um
exemplo de negócio social, desenvolvido ou não por Muhammad Yunus,
enfatizando as vantagens e os desafios desse modelo de negócio.

FINALIZANDO

Na gestão da sustentabilidade, o capital humano e social se faz de


extrema importância, uma vez que confiança, conhecimento, eficiência e
honestidade são importantes na concepção empresarial e corporativa e só
podem ser atingidos na interação com o capital humano da empresa.
A RSC se divide em questões éticas, legais e econômicas (e, em algum
ponto, filantrópicas) para poder unir a eficiência da empresa com o bem-estar
social. Nesse processo, uma das ferramentas para que a RSC seja efetivada de
forma prática é a inclusão de minorias para que, além de se enriquecer o capital
humano e social da empresa, se possa pensar e agir além das questões
econômicas exclusivamente, para se construir uma gestão da sustentabilidade
global.

15
REFERÊNCIAS

Scrivens, K. and C. Smith (2013), "Four Interpretations of Social Capital: An


Agenda for Measurement", OECD Statistics Working Papers, No. 2013/06,
OECD Publishing, Paris.
Meadows, D. Indicators and Information Systems for Sustainable
- A report to the Balaton Group. The Sustainability Institute.
1998.

Banco Mundial. Questionário integrado para medir capital social. Grupo


Temático sobre Capital Social, p. 58-80, 2003.
CARROLL, A. B. A three-dimensional conceptual model of corporate
performance.
Academy of Management Review, v. 4, n. 4, 1979.
SCHWARTZ, M. S.; CARROLL, A. B. Corporate social responsibility: a three-
domain approach. Business Ethics Quartely, v. 13, n. 4, 2003.

AKAMINE, S. C. R. Diversidade e inclusão social: uma abordagem no cenário


organizacional. Revista Gênero e Interdisciplinaridade, v. 2, n. 3, 2021.
Disponível em: <https://periodicojs.com.br/index.php/gei/article/view/434/304>.
Acesso em: 8 dez. 2022.

AVENDAÑO C., W. R. Responsabilidad social (RS) y responsabilidad social


corporativa (RSC): una nueva perspectiva para las empresas. Revista
Lasallista de Investigación, v. 10, n. 1, p. 152-163, 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-
44492013000100014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 8 dez. 2022.

CAJAZEIRA, J. E. R.; BARBIERI, J. C. Responsabilidade social empresarial


e empresa sustentável. 3. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. E-book.

CRIANDO empresas sociais, por Muhammad Yunus (legendado). Novasinapse


Conteúdos Digitais, 2 maio 2015. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=R1wSxoVrkmM>. Acesso em: 8 dez. 2022.

CUÉLLAR, J. P. de. Nossa diversidade criadora: relatório da Comissão


Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Paris: Unesco, 1997.

MEADOWS, D. Indicators and Information Systems for Sustainable: A Report to


the Balaton Group. Stellenbosch: The Sustainability Institute, 1998.

16
MORAES, P. R. B.; PENEDO, A. S. T. Sustentabilidade e empreendedorismo.
In: OLIVEIRA, S. V. W. B.; LEONETI, A.; CEZARINO, L. O. (Org.).
Sustentabilidade: princípios e estratégias. Barueri: Editora Manole, 2019.

SALLES, F.; FERNANDES, V.; LIMONT, M. Capital social e sustentabilidade:


uma relação intrínseca. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 42, p. 398-411,
dez. 2017.

17
GESTÃO DA
SUSTENTABILIDADE
AULA 5

Profª Aline Maria Biagi


CONVERSA INICIAL

A governança corporativa é um assusto vastamente abordado e, entre os


temas que aborda, estão os dilemas e os desafios da integridade empresarial.
Alguns temas como a compliance (“conformidade”) estão entre os mais citados
nas agendas das empresas brasileiras (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017).
Nesse modelo de gestão com um foco na identidade, integridade e
conformidade das organizações, alguns pontos são importantes; a
responsabilização administrativa da pessoa jurídica e do modelo de negócios
para a inovação são algumas delas, bem como pontos a serem abordados mais
detalhadamente adiante.
As questões éticas aplicadas à gestão, como já vimos, é de extrema
importância. Nesta etapa, vamos abordar as formas como essa ética é
trabalhada dentro das organizações. Para isso, os conceitos de gestão
corporativa e compliance são de extrema importância para que as empresas
estejam em conformidade com essas questões.

CONTEXTUALIZANDO

A abordagem da governança corporativa é de extrema importância na


gestão, em que a adoção de boas práticas de governança pode garantir uma
boa adequação a fatores de identidade, integridade e conformidade da empresa.
Para tal, as questões envolvendo o compliance da empresa são
importantes na construção da relação empresa-consumidor. Vamos abordar
todas essas questões nesta etapa.

TEMA 1 – GOVERNANÇA CORPORATIVA

A governança corporativa é um elemento central na gestão do valor das


organizações, sendo considerada, talvez, o “principal fórum para lidar com o que
afeta sua criação ou destruição” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 89).

[A] relação de acionistas e investidores nesse campo é repleta de


lacunas. Boa parte delas está em conselhos disfuncionais ou na
ausência completa de sistemas de governança. Mas, mesmo em
organizações com boas práticas, faltam mecanismos específicos para
uma abordagem ampla de externalidades. Instrumentos têm avançado,
sustentados por uma sequência de ações voltadas para identificação,
qualificação, avaliação do grau de materialidade, quantificação e,
sempre que possível, monetização dos impactos (Brandão; Fontes
Filho; Muritiba, 2017, p. 89)

2
Em termos gerais, governança refere-se às relações de poder dentro de
uma organização, o modo como diferentes agentes resolvem conflitos relativos
à sua direção. A palavra “governança” foi empregada pelo Banco Mundial em
relação aos governos dos países e sua capacidade de promover ajustes
macroeconômicos que dependiam de reformas dos Estados. A governança,
seria, dessa forma, a capacidade do governo de exercer a sua autoridade para
a consecução dos objetivos de política econômica (Cajazeira; Barbieri, 2016, p.
168).
A governança é, ainda, um importante tema da responsabilidade social, e
se aplica a organizações de todo porte e todo o tipo. Uma definição simplificada
seria: “sistema pelo qual uma organização toma decisões e as implementa na
busca de seus objetivos. Ou seja, é algo essencial a qualquer organização
independentemente de tamanho, natureza jurídica e setor de atividade”
(Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 168).
Quando aplicada ao ambiente de negócios, a governança se aplica de
modo específico às sociedades anônimas, com o objetivo de ampliar a
segurança aos investidores, além de facilitar o acesso ao capital e reduzir os
custos dessa captação. Fundamenta-se principalmente na teoria do acionista e
na teoria da agência (Cajazeira; Barbieri, 2016).
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) aponta que “a
boa governança deve tornar a gestão essencialmente livre de abusos, de
corrupção e decisões temerárias por parte dos dirigentes dessas sociedades,
com o objetivo de assegurar os interesses de todos os acionistas”. Dessa forma,
a boa governança se alicerça nos seguintes princípios:

• transparência – obrigação de informar às partes interessadas as


informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas
por disposições de leis ou regulamentos;
• equidade – tratamento justo a todos os sócios e demais partes
interessadas. Práticas e políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto,
são totalmente inaceitáveis;
• prestação de contas – os agentes de governança, isto é, sócios,
conselheiros de administração, executivos/gestores, conselheiros fiscais
e auditores, devem prestar contas de sua atuação, assumindo
integralmente as consequências de seus atos e omissões;

3
• responsabilidade corporativa – os agentes de governança devem zelar
pela sustentabilidade da organização, visando à longevidade,
incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição de
negócios e operações (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 168-169).

A governança corporativa se baseia na legislação societária. Essa


legislação varia de país para país, porém, é pressionada para se harmonizar
entre si em decorrência da globalização dos mercados de capital. No contexto
brasileiro, “essa legislação encontra-se no Código Civil e mais especificamente
na Lei n. 6.404, de 1976, que estabelece a estrutura administrativa das
companhias ou sociedades anônimas, ou seja, empresas cujo capital é dividido
em ações” (Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 169).
Segundo as instruções do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
– IBCG, toda organização deve ter um código de conduta, que é elaborado pela
diretoria seguindo os princípios e políticas definidos pelo conselho de
administração. Esse código de conduta se aplica para funcionários, diretores,
sócios, conselheiros, fornecedores e demais partes interessadas na empresa e
cobre, entre outros, os seguintes assuntos:

• cumprimento das leis e pagamentos de tributos;


• operações com partes relacionadas;
• uso de recursos da organização;
• conflito de interesses;
• informações privilegiadas (insider information);
• política de negociação das ações da empresa;
• processos judiciais e arbitragem;
• denunciantes (whistle blowers), prevenção e tratamento de fraudes;
• pagamentos ou recebimentos questionáveis;
• contribuições e doações voluntárias, inclusive políticas;
• recebimento de presentes e favorecimentos;
• direito à privacidade;
• nepotismo;
• meio ambiente e segurança do trabalho;
• discriminação no trabalho e exploração do trabalho adulto ou infantil;
• assédio moral e sexual;
• relações com a comunidade.

4
O mercado de capitais aponta que é “vantajoso atuar com
responsabilidade social alinhada ao desenvolvimento sustentável”.

[A considerar a] crescente demanda por parte da sociedade de boas


práticas empresariais, e que não raro se transformam em novas leis,
tem levado muitos investidores a dar preferência para empresas que
se mostram responsáveis em termos econômicos, sociais e
ambientais, uma vez que, em tese, acumulariam menos passivos ao
longo do tempo que poderiam ser exigidos algum dia (Cajazeira;
Barbieri, 2016, p. 172)

Assim, buscam a identidade, a integridade e a conformidade da


organização.

TEMA 2 – IDENTIDADE, INTEGRIDADE E CONFORMIDADE DA ORGANIZAÇÃO

A falta de uma verdadeira cultura ética por parte de muitas organizações,


tanto empresariais quanto da sociedade civil, como instituições do Poder
Público, e na relação entre elas, é até hoje fonte de um problema da
responsabilidade social corporativa (RSC). Por intermédio de uma abordagem
conceitual e prática, com o objetivo de entender e tratar dessa temática por meio
dos praticantes da boa governança corporativa, tratamos a seguir das noções de
identidade, conformidade (compliance) e integridade (Brandão; Fontes Filho;
Muritiba, 2017, p. 26).
A identidade de cada organização tem peso fundamental, e ela consiste
na “combinação entre sua razão de ser (propósito), o que é importante para ela
(valores), a forma como são tomadas as decisões (princípios), o que faz (missão)
e aonde que chegar (visão)”. Não pensamos nesse conceito como uma
identidade “certa” ou “errada”, mas sim a identidade própria e consciente da
empresa (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 26).
O termo “integridade” tem alguns significados, mas nesse contexto ele
está associado ao combate à corrupção, ligando-se à questão de caráter, à
qualidade de pessoa honesta, confiável e justa. “A busca pela integridade é uma
jornada sem fim, desde a concepção, passando pela implementação e
envolvendo toda a vida da empresa e de seus projetos” (Brandão; Fontes Filho;
Muritiba, 2017, p. 28).
Em Brandão, Fontes Filho e Muritiba (2017, p. 28),

[a] proposta para integridade está associada à coerência entre o


pensar, o falar e o agir, com reflexos na cultura e na reputação da
organização. A boa reputação contribui para a redução dos custos,
tanto de transação quanto de capital, favorecendo a preservação e a
5
criação de valor econômico pela organização (desempenho) (Brandão;
Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 28)

Em uma ligação com os três termos, “uma vez definida e articulada, a


identidade da organização torna-se a referência para a busca da sua integridade,
com o auxílio do sistema de conformidade” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba,
2017, p. 28-29).
A conformidade, ou compliance, não se resume a uma atividade, um
departamento ou algo novo no mundo corporativo, mas vai além e é considerada
a atitude (comportamento, conduta, uma forma de ser) de manter a conformidade
das decisões e operações com suas políticas e procedimentos e com as leis e
regulamentos, um processo apoiado em um sistema de controle interno
corporativo. Não tem a ver só com a estrutura organizacional, apesar de
depender dela para sua operacionalização (Brandão; Fontes Filho; Muritiba,
2017, p. 29).
A temática da compliance é crescente no noticiário e nas agendas das
empresas brasileiras, o que é visto como positivo, porém, atentamos para o risco
de limitar que “apenas o uso de ferramentas e sistemas de conformidade será
suficiente para prevenir problemas ligados a fraudes, corrupção e outras
condutas indesejáveis por parte das organizações, seus sócios, administradores,
colaboradores e parceiros” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 25). No
Quadro 1 a seguir, dispomos um resumo de toda essa abordagem.

Quadro 1 – Resumo da abordagem conceitual em identidade, integridade e


conformidade

Conceito Definição Envolve

Critérios para julgar, decidir (deliberação ética) Propósito; valores;


Identidade
Cultura organizacional e atitude individual princípios; missão; visão

Honrar a palavra (condição necessária, mas Falar e fazer, e/ou


Integridade
não suficiente, para o desempenho informar

Prevenção; detecção;
Conformidade Cumprir normas e regras (internas e externas)
remediação

Fonte: elaborado com base em Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 31.

O IBCG, focando na deliberação ética, aponta a hierarquia dos conceitos


da seguinte forma:

6
A reflexão sobre a identidade da organização [suportada na prática
constante da deliberação ética] é fundamental para se desenhar o
sistema de governança da organização, incluindo a elaboração [e
divulgação/disseminação] de um código de conduta sobre o qual se
desenvolve o sistema de conformidade (compliance) (IBCG, 2015, p.
17, citado por Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 27)

O sistema de conformidade é um instrumento e seus princípios básicos


de boa governança corporativa – por exemplo, transparência, equidade,
prestação de contas e responsabilidade corporativa – são as atitudes que
permeiam a deliberação ética (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 27).
Vamos, a seguir, abordar o conceito de compliance mais detalhadamente.

TEMA 3 – COMPLIANCE

O termo “compliance” é uma palavra inglesa que se origina do verbo to


comply (“cumprir”, “obedecer”) e traz consigo o “cumprimento ou atendimento às
obrigações legais, promessas e expectativas, ou ainda, obediência às normas
legais, bem como as políticas, diretrizes e exigências adotadas voluntariamente”.
A tradução do termo para a língua portuguesa é “conformidade” (conformity, em
inglês), porém esse termo indica “aderência a qualquer tipo de especificação em
qualquer campo de atividade, enquanto compliance é usada no ambiente de
negócios para indicar conformidade com as normas legais e regulamentos,
incluindo códigos de conduta, princípios diretivos e outros requisitos subscritos”.
Assim, compliance deixou ser um termo traduzido “inclusive em normas legais
como documentos normativos do Banco Central do Brasil e da CVM” (Cajazeira;
Barbieri, 2016, p. 174).
O sistema de compliance “mantém inalterados princípios de
administração, como a segregação de funções e a delegação de autoridade com
contrapartida da responsabilidade”, e em uma hierarquia de conceitos, os
princípios de administração estão um nível superior ao de compliance (Brandão;
Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 29).
São identificados três tipos de papéis nos processos que envolvem o
compliance e que suportam as atividades das empresas: “(i) quem executa é o
responsável, ou gestor, (ii) quem apoia o gestor, quando necessário, é o
facilitador; e (iii) quem fiscaliza a execução do processo é o auditor” (Brandão;
Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 29).

As principais fontes de obrigações de compliance são: leis e


regulamentos; licenças; alvarás e outras formas de autorizações

7
legais; ordens, regras e diretrizes de órgãos reguladores; julgados em
cortes administrativas e judiciais; tratados, convenções e protocolos;
acordos com grupos comunitários; princípios e códigos voluntários;
obrigações contratuais com outras organizações; padrões sociais.
(Cajazeira; Barbieri, 2016, p. 176)

Esse sistema se desenvolve com base em uma análise de risco da


empresa, considerando aspectos como

porte e especificidades da empresa, setores do mercado em que atuam


no Brasil e no exterior, estrutura organizacional, número de
funcionários e demais colaboradores, nível de interação com a
administração pública e participação societárias que envolvem a
pessoa jurídica na condição de controladora, coligada ou consorciada.
(Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 30)

Além disso, considerando os riscos identificados e contando com o gestor


(peça central), se desenvolvem as políticas, regras e procedimentos para o trato
com ocorrências dos atos indesejados com base em três eixos fundamentais:

Prevenir – responsabilidade do gestor com apoio do facilitador: a


prevenção é o eixo principal do sistema de compliance, no qual o
gestor deve assegurar-se de que há um completo mapeamento legal e
regulatório que obriga a empresa e de que o exemplo de seu
cumprimento, bem como das políticas internas, venha do topo,
incluindo os administradores (conselho de administração e diretoria).
[…] Detectar – responsabilidade do gestor, do facilitador ou do auditor:
sistema de compliance deve ser monitorado pelo gestor (e pelo
facilitador, quando necessário contemplando tudo o que obriga a
empresa (interna e externamente) com atenção para os controles
internos e a gestão de riscos. Complementarmente, mas não menos
importante, é o programa de auditoria (interna e externa), que deve ser
aprovado pelo conselho de administração e cobrir os pontos críticos de
controle. É recomendável a adoção de um canal de denúncias, com
escopo, parâmetros e responsabilidades bem definidos e também
aprovado pelo conselho de administração […] Remediar –
responsabilidade do gestor, com apoio do facilitador: tratar os casos
identificados de não conformidade e controlar a implementação das
melhorias definidas até a conclusão. Envolve a promoção de medidas
corretivas praticando uma política de consequências, definida e
aprovada pelo conselho de administração. Deve-se buscar aprender
com problemas identificados e adotar medidas preventivas para que
não mais ocorram, fortalecendo os controles internos, ajustando as
políticas existentes e/ou desenvolvendo novas. É importante dispor de
um sistema de comunicação dos resultados para os administradores
(conselho de administração e diretoria), bem como dos casos
ocorridos, para que sirvam de referência a todos na empresa e ajudem
a reforçar a cultura empresarial. (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017,
p. 31)

A crescente regulamentação das atividades empresariais e a constante


demanda da sociedade por comportamentos éticos reforçam a importância do
compliance e compara a sua importância a outros setores consolidados das
funções organizacionais como finanças, marketing, controladoria, entre outros.
Dessa forma, “faz sentido falar em função compliance, não necessariamente

8
uma área, composta por processos, atividades e procedimentos realizados por
pessoas com suporte de recursos de informática” (Brandão; Fontes Filho;
Muritiba, 2017, p. 111).
Assim, graças à combinação de diversos fatores, entre eles, maturidade,
setor de atuação, nível de regulação, intensidade da concorrência, poder de
barganha de fornecedores e clientes, existência de tecnologias disruptivas,
estratégia corporativa e objetivos de negócios, cultura organizacional, qualidade
dos colaboradores, entre outros, “pode haver tipos de riscos que mereçam mais
dedicação do que aqueles ligados à não conformidade e à integridade. Cada
organização possui perfil de riscos único, com suas próprias características e
particularidades” (Brandão; Fontes Filho; Muritiba, 2017, p. 112).

TEMA 4 – RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA PESSOA JURÍDICA

A Lei n. 12. 846/2013 dispõe sobre a responsabilização administrativa de


pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional
ou estrangeira e dá outras providências. O Decreto n. 8.420/2015 regulamenta
tal lei. Ainda, em seu art. 42, afirma o seguinte:

Art. 42. […] o programa de integridade será avaliado, quanto à sua


existência e aplicação, de acordo com os seguintes parâmetros:
I – comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluídos os
conselhos, evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ao programa;
II – padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos de
integridade, aplicáveis a todos os empregados e administradores,
independentemente de cargo ou função exercidos;
III – padrões de conduta, código de ética e políticas de integridade
estendidas, quando necessário, a terceiros, tais como fornecedores,
prestadores de serviço, agentes intermediários e associados;
IV – treinamentos periódicos sobre o programa de integridade;
V – análise periódica de riscos para realizar adaptações necessárias
ao programa de integridade;
VI – registros contábeis que reflitam de forma completa e precisa as
transações da pessoa jurídica;
VII – controles internos que assegurem a pronta elaboração e
confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiros da pessoa
jurídica;
VIII – procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no
âmbito de processos licitatórios, na execução de contratos
administrativos ou em qualquer interação com o setor público, ainda
que intermediada por terceiros, tal como pagamento de tributos,
sujeição a fiscalizações, ou obtenção de autorizações, licenças,
permissões e certidões;
IX – independência, estrutura e autoridade da instância interna
responsável pela aplicação do programa de integridade e fiscalização
de seu cumprimento;
X – canais de denúncia de irregularidades, abertos e amplamente
divulgados a funcionários e terceiros, e de mecanismos destinados à
proteção de denunciantes de boa-fé;

9
XI – medidas disciplinares em caso de violação do programa de
integridade;
XII – procedimentos que assegurem a pronta interrupção de
irregularidades ou infrações detectadas e a tempestiva remediação dos
danos gerados;
XIII – diligências apropriadas para contratação e, conforme o caso,
supervisão, de terceiros, tais como fornecedores, prestadores de
serviço, agentes intermediários e associados;
XIV – verificação, durante os processos de fusões, aquisições e
reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades ou
ilícitos ou da existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas
envolvidas;
XV – monitoramento contínuo do programa de integridade visando seu
aperfeiçoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência dos
atos lesivos previstos no art. 5.º da Lei n. 12.846, de 2013 ; e
XVI – transparência da pessoa jurídica quanto a doações para
candidatos e partidos políticos.
§ 1.º Na avaliação dos parâmetros de que trata este artigo, serão
considerados o porte e especificidades da pessoa jurídica, tais como:
I – a quantidade de funcionários, empregados e colaboradores;
II – a complexidade da hierarquia interna e a quantidade de
departamentos, diretorias ou setores;
III – a utilização de agentes intermediários como consultores ou
representantes comerciais;
IV – o setor do mercado em que atua;
V – os países em que atua, direta ou indiretamente;
VI – o grau de interação com o setor público e a importância de
autorizações, licenças e permissões governamentais em suas
operações;
VII – a quantidade e a localização das pessoas jurídicas que integram
o grupo econômico; e
VIII – o fato de ser qualificada como microempresa ou empresa de
pequeno porte.
§ 2.º A efetividade do programa de integridade em relação ao ato lesivo
objeto de apuração será considerada para fins da avaliação de que
trata o caput.
§ 3.º Na avaliação de microempresas e empresas de pequeno porte,
serão reduzidas as formalidades dos parâmetros previstos neste
artigo, não se exigindo, especificamente, os incisos III, V, IX, X, XIII,
XIV e XV do caput.
§ 4.º Caberá ao Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral da
União expedir orientações, normas e procedimentos complementares
referentes à avaliação do programa de integridade de que trata este
Capítulo.
§ 5.º A redução dos parâmetros de avaliação para as microempresas
e empresas de pequeno porte de que trata o § 3.º poderá ser objeto de
regulamentação por ato conjunto do Ministro de Estado Chefe da
Secretaria da Micro e Pequena Empresa e do Ministro de Estado Chefe
da Controladoria-Geral da União.

Porém, no ano de 2022 esse decreto foi revogado, entrando no lugar o


Decreto 11.129/2022, que versa sobre:

Regulamentação, Lei federal, responsabilidade civil, responsabilidade


administrativa, pessoa jurídica, corrupção, lesão, patrimônio público,
administração pública, União Federal, território nacional, exterior, país
estrangeiro, processo administrativo, investigação, corregedoria,
instauração, criação, comissão, pedido, reconsideração, competência,
Controladoria-Geral da União (GRU), avocamento, sanção, pena
disciplinar, multa, cobrança, publicação, decisão administrativa,
encaminhamento, judiciário, acordo de leniência, programa,

10
integridade, auditoria, Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e
Suspensas (Ceis), Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP),
Ministério da Justiça e Segurança Pública, Advocacia-Geral da União
(AGU).

Nessa mudança, o art. 57 contempla o programa de integridade e nele se

inclui a responsabilização civil, em adição à administrativa, das


pessoas jurídicas, […]; delimita, de forma expressa, quem está sujeito
à Lei 12.846/2013: (i) empresas brasileiras que pratiquem atos lesivos
contra administração pública brasileira ou estrangeira, ainda que o ato
seja cometido fora do território nacional; (ii) Empresas brasileiras ou
estrangeiras que pratiquem o ato lesivo, ou parte dele, no território
nacional, ou cujos efeitos sejam ou possam ser produzidos no país, e
(iii) Empresas estrangeiras que tenham filial ou representação no
Brasil.

A lição que fica para as empresas é que a implementação de um plano de


integridade (compliance) efetivo e consistente, que conte com profissionais
treinados, habilitados e de confiança, apresenta entre as suas vantagens a
redução da incidência de fraudes e desconformidades, desvios de recursos, e
assim se evita os riscos de sanções legais, perdas financeiras e principalmente
o abalo na reputação empresarial, além de aumentar a qualidade e a efetividade
nas decisões da organização (Fórum, 2020).

TEMA 5 – MODELO DE NEGÓCIOS E INOVAÇÃO

Nos tempos atuais, muitas mudanças são observadas, sejam elas de


caráter social, cultural, político ou tecnológico. Assim, esses cenários
tecnológicos dinâmicos demandam aprendizado e adaptação constante.
O Manual de Oslo (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico – OCDE, 2005, p. 55) define inovação como “a implementação de
um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um novo
processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional
nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações
internas”. Porém, o termo é bastante amplo e apresenta muitas outras
abordagens. Batista e Costa (2022) caracterizam a inovação (com base na figura
do empreendedor) como uma adaptação às mudanças por meio da dinâmica do
mercado, sendo de extrema importância no contexto de novos modelos de
negócios inovadores.
Batista e Costa (2022) usam, em seu trabalho, a seguinte definição de
modelo de negócios defendida por Osterwalder (2004, p. 15):

11
[Modelo de Negócios é] uma ferramenta conceitual que contém um
conjunto de elementos e seus relacionamentos e permite expressar a
lógica de ganhar dinheiro de uma empresa. É uma descrição do calor
que uma empresa oferece a um ou vários segmentos de clientes e a
arquitetura da empresa e sua rede de parceiros para criação,
comercialização e entrega deste valor e capital de relacionamento, a
fim de gerar fontes de receitas lucrativas e sustentáveis (Osterwalder,
2004, p. 15, citado por Batista; Costa, 2022)

Algumas ferramentas são de grande utilidade na identificação do modelo


de negócios adequado para cada empreendimento; uma delas é o Canvas. Esse
modelo foi desenvolvido por Alexander Osterwalder e é composto por nove
componentes básicos que buscam mostrar a lógica de como uma organização
pode gerar valor. Esses componentes cobrem as quatro áreas principais de um
negócio (clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira) (Batista; Costa,
2022), são eles:

1. segmentos de clientes – define organizações ou pessoas que uma


empresa pretende alcançar;
2. proposta de valor – caracteriza quais produtos e serviços criam
determinado valor para o segmento de clientes;
3. canais – entendidos como a forma que uma empresa se comunica para
atingir o segmento de clientes com a entrega da proposta de valor;
4. relacionamento com clientes – relação que uma empresa cria com
segmentos de clientes específicos;
5. fontes de receitas – essencial para a empresa, pois representa os ganhos
que uma empresa gera por meio de cada segmento de clientes;
6. recursos principais – recursos mais importantes para um modelo de
negócios obter êxito e funcionar;
7. atividades-chave – descrevem quais atos as empresas devem realizar,
são as principais ações de uma empresa de sucesso e tem a mesma
função dos recursos principais;
8. parcerias principais – é imprescindível identificar as parcerias principais,
identificando os parceiros e redes de fornecedores. Basicamente, são
alianças formadas;
9. estrutura de custos – os custos que compõem um modelo de negócios,
custos estes que são estabelecidos conforme todos os outros
componentes apresentados anteriormente, os quais influenciam a
estrutura de custos (Batista; Costa, 2022, p. 57).

12
Saiba mais
O site Strategyzer disponibiliza um esquema de modelo de negócios
Canvas que pode ser usado como modelo. Disponível em: <https://www.
strategyzer.com/canvas>. Acesso em: 24 nov. 2022.
No site do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –
Sebrae há um esquema didático para o preenchimento do Canva. Disponível
em: <https://www.sebraepr.com.br/canvas-como-estruturar-seu-modelo-de-neg
ocios/>. Acesso em: 24 nov. 2022.
Vale a pena conhecer esses dois portais e se aprofundar mais sobre esse
tema.

Na Figura 1 a seguir, está disposto o esquema de modelo de negócios


Canvas.

Figura 1 – O modelo de negócios Canvas

Fonte: Strategyzer, [S.d.].

Batista e Costa (2022) ainda listam o mapeamento de alguns modelos de


negócios inovadores, sendo eles:

• all-inclusive – traduzido para o português como “tudo incluso, é um modelo


muito utilizado no setor turístico e oferece ao consumidor pacotes de
serviços com vários benefícios em conjunto; pode ser descrito como uma

13
aplicação dinâmica entre diferentes conceitos de marketing e políticas de
preços;
• assinaturas – nesse sistema, o usuário paga para ter acesso a
determinado serviço e pode atingir tanto segmentos de produtos quanto
de serviços e os modelos; a Netflix e a HBOMax são exemplos;
• B2B Business to Business – traduzido como “empresa para empresa”,
esse modelo vende serviços ou produtos diretamente para outras
empresas, que vão desde softwares até a matérias-primas ou mesmo
terceirização de áreas dentro da empresa; a Ebanx e a Ambev são
exemplos;
• cauda longa – acontece quando se vende uma grande variedade de
produtos de nicho, que quando considerado individualmente vende pouco,
mas que de forma conjunta consegue alcançar altos valores em vendas,
por exemplo, iTunes e My Space.

Existem muitos outros modelos de mercado que podemos explorar


individualmente. Além destes, podemos buscar e criar modelos de negócios e
adoção de gestão mais sustentáveis.
Por fim, “as empresas vêm percebendo a importância da adoção de uma
gestão estratégica da inovação sustentável a fim de atender aos condicionantes
do mundo globalizado e obter um desempenho empresarial superior”. Além
disso, a própria legislação da sociedade passou a exigir das organizações que
“a inovação em produtos, serviços, processos e modelos de negócios seja
acompanhada pela responsabilidade com o desenvolvimento sustentável para
minimizar possíveis impactos negativos dos processos industriais” (Kneipp et al.,
2018, p. 132).

TROCANDO IDEIAS

Muitas questões são importantes na governança corporativa das


empresas. Que tal fazermos uma busca sobre como algumas empresas lidam
com essas questões de governança corporativa e compliance? Sugerimos
apresentar um exemplo no fórum para que possamos discutir essas medidas.

14
NA PRÁTICA

Propomos conhecer o sistema de compliance realizado na Toyota, bem


como alguns procedimentos aplicados pela empresa sobre como proceder nessa
questão. Que tal, a partir disso, pensarmos em três iniciativas para que a “nossa
empresa” se enquadre na questão do compliance?

Saiba mais
TOYOTA. Compliance. Disponível em: <https://www.toyota.com.br/
compliance/>. Acesso em: 24 nov. 2022.

FINALIZANDO

Os sistemas de governança são imprescindíveis para que se realize uma


gestão ética e satisfatória de qualquer empresa. É necessário, ainda, uma gestão
transparente que reforce as características de identidade, integridade e
conformidade com regras, leis e os padrões éticos já estabelecidos pela
sociedade.
Assim, questões que envolvem compliance em sua fiscalização e
avaliação de comportamentos e ações empresariais dão uma garantia moral às
organizações e estabelecem relações de confiança com os atores que
contemplam desde os acionistas até os clientes finais.
Essa conformidade e confiança se torna terreno fértil em que
empreendedores podem inovar e investir em novos modelos de negócios, mais
inclusivos e sustentáveis.

15
REFERÊNCIAS

BATISTA, L. S.; COSTA, R. A. T. Modelos de Negócios Inovadores: a inovação


tecnológica e o papel do empreendedor inovador na gestão e desenvolvimento
empresarial. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Micro e Pequenas
Empresas, v. 7, n. 2, p. 47-76, maio/ago. 2022.

BRANDÃO, C. E. L.; FONTES FILHO, J. R.; MURITIBA, S. N. (Org.). Governança


corporativa e integridade empresarial: dilemas e desafios. São Paulo: Saint
Paul, 2017. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/
9788580041347/>. Acesso em: 24 nov. 2022.

BRASIL. Decreto n. 11.129, 11 de julho de 2022. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, DF, 12 jul. 2022. Disponível em: <https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/d11129.htm>. Acesso em:
24 nov. 2022.

_____. Decreto n. 8.420, de 18 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, DF, 19 mar. 2015. Disponível em: <https://repositorio.
cgu.gov.br/handle/1/33358>. Acesso em: 24 nov. 2022.

CAJAZEIRA, J. E. R.; BARBIERI, J. C. Responsabilidade social empresarial e


empresa sustentável. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Disponível em: <https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547208325/>. Acesso em: 24 nov.
2022.

ENTENDA o que é compliance e descubra os principais benefícios para as


empresas. Fórum, 11 dez. 2020. Disponível em: <https://www.editoraforum.
com.br/noticias/entenda-o-que-e-compliance-e-descubra-os-principais-beneficios
-para-as-empresas/>. Acesso em: 24 nov. 2022.

KNEIPP, J. M. et al. Gestão estratégica da inovação sustentável: um estudo de


caso em empresas industriais brasileiras. Revista Organizações em Contexto,
v. 14, n. 27, p. 131-185, 2018.

ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO


ECNONÔMICO (OCDE). Manual de Oslo: diretrizes para a coleta e interpretação
de dados sobre inovação. 3. ed. Paris, 2005.

16
GESTÃO DA
SUSTENTABILIDADE
AULA 6

Prof.ª Aline Maria Biagi


CONVERSA INICIAL

No mundo atual, globalizado e competitivo, muitas organizações buscam


a implementação de um sistema de gestão. Essas empresas buscam a gestão
em seus processos com o intuito de ganhar mercado internacional e continuar a
crescer no mercado nacional. Para que isso aconteça, elas devem implantar
metodologias que auxiliem nesse sistema de gestão (Moraes, 2015).
Aqui, vamos nos aprofundar um pouco mais nos sistemas de gestão e
suas abordagens, apresentando o conceito de sistema de gestão e sistema de
gestão integrado. Além disso, mostraremos sua aplicação dentro do conjunto de
normas da ISO, importante ferramenta de gestão empresarial, e as formas como
esses resultados são comunicados.

CONTEXTUALIZANDO

Continuando a conversa sobre responsabilidade ética e compliance


iniciada em momento anterior, agora vamos abordar os instrumentos para
facilitar essa gestão. Os sistemas de gestão contam com importantes
ferramentas que auxiliam a empresa na sistematização de informações que são
valiosas em longo prazo no processo de gestão.
Uma dessas ferramentas é a International Organization for
Standardization (ISO), que, por meio de normas e padronizações, auxiliam na
gestão da qualidade da organização, como também nas certificações de critérios
pré-estabelecidos. A comunicação desses feitos da organização também é
fundamental para que a comunidade interna e externa das organizações esteja
ciente das medidas éticas e sociais aplicadas. Alguns desses sistemas
integrados de gestão serão apresentados apontando caminhos para a gestão da
qualidade.

TEMA 1 – SISTEMAS DE GESTÃO

Sistema de gestão pode ser definido como “um conjunto de partes


integrantes e interdependentes que formam um todo unitário com determinado
objetivo e efetuam determinada função, produzindo um ou mais resultados”
(Moraes, 2015, p. 11). É “um conjunto de pessoas, recursos e procedimentos,
dentro de qualquer nível de complexidade, cujos componentes associados
interagem de uma maneira organizada para realizar uma tarefa específica e
atingem ou mantêm um dado resultado” (Moraes, 2015, p. 11).
As organizações de pequeno porte, em grande parte, não apresentam um
sistema de gestão, “apenas uma forma de fazer as coisas, e essa forma na
maioria das vezes não está documentada, mas na cabeça do proprietário ou do
gerente”. Em contrapartida, quanto maior a organização, maior é o número de
pessoas envolvida e maior a possibilidade de um sistema de gestão mais
completo, ou mesmo alguns procedimentos, instruções, formulários ou registros
documentados (Mello, 2012, p. 1-2).
Esses procedimentos “contribuem para assegurar que qualquer pessoa
dentro da organização não esteja apenas fazendo seu trabalho de seu jeito e
que exista um mínimo de ordem na forma como a organização conduz seus
negócios, de forma que tempo, dinheiro e outros recursos sejam utilizados
eficientemente”. Para que essa gestão seja realmente eficaz, as organizações
fazem esse gerenciamento de forma sistêmica, garantindo que nenhum
procedimento importante seja negligenciado e toda a equipe tenha total noção
de quem pertence qual responsabilidade, sabendo “quem é responsável para
fazer o que, quando, como, por que e onde” (Mello, 2012, p. 1-2).
Como principal finalidade de um sistema de gestão, está a de “prover às
organizações um modelo de gestão eficaz que possa ser integrado a outros
requisitos de gestão”. Seu objetivo é o de:

aumentar constantemente o valor percebido pelo cliente nos produtos


ou serviços oferecidos, lembrando que o cliente é uma peça
importantíssima num sistema de gestão, porém a organização deve
buscar a satisfação de seus colaboradores, assim como a melhoria
contínua de seus processos, respeitando a sociedade e as legislações
ambientais (Moraes, 2015, p. 11-12)

Todas as organizações, seja de grande ou pequeno porte, têm algum


sistema de gestão, sejam eles: financeiros, estratégicos, logísticos, de inovação,
recursos humanos, produção e qualidade. Esses sistemas são formais ou
informais e são os meios pelos quais as organizações alcançam seus resultados
(Mello, 2012).
Esses sistemas citados anteriormente são complementares e integrados,
sendo propício que se estabeleçam referências com base em “melhores práticas,
que socializem as características específicas e permitam às organizações
obterem melhores resultados”. Em alguns casos, esses sistemas vão possuir

3
requisitos obrigatórios, por exemplo, os procedimentos contábeis de um sistema
de gestão financeiro das organizações (Mello, 2012, p. 2).
Muitas são as ferramentas disponíveis para a organização implementar
seu sistema de gestão. A primeira delas geralmente é a metodologia 5 S,

pois através dela a empresa se organiza como um todo para iniciar um


trabalho de implantação de um sistema de gestão. A normatização de
seus processos através do emprego do fluxograma é outra ferramenta
muito importante para detalhar e normatizar os processos industriais e
administrativos” (Moraes, 2015, p. 14)

Vamos abordar alguns dessas ferramentas de gestão. A primeira delas é


o Método 5S, desenvolvido no Japão com o intuito de organizar as fábricas. Esse
método se caracteriza por cinco palavras em japonês iniciadas em S: seire –
utilização; seiton – ordenação; seiso – limpeza; seiketsu – saúde e segurança;
shitsuke – autodisciplina (Moraes, 2015, p. 14).
Considerando que as empresas buscam por certificações de qualidade
por meio das exigências destas, o “programa 5S ou housekeeping é uma
ferramenta indispensável. O profissional de segurança deve participar das
auditorias dentro da empresa, assim como auxiliar os setores com não
conformidades no senso de segurança e saúde” (Moraes, 2015, p. 16).
Outro método é o PDCA, também conhecido como “ciclo Deming”. A sigla
PDCA é formada pelas iniciais das palavras em inglês que designam cada etapa
do ciclo:

• P – plan: planejar as ações por intermédio de planos de ação;


• D – do: fazer ou executar as ações planejadas;
• C – check: checar ou verificar as ações planejadas;
• A – act: no sentido de corrigir ou agir de forma corretiva às ações
planejadas que apresentaram não conformidade.

Essa é uma ferramenta muito utilizada em sistemas de gestão


implementados, incluindo as normas ISO (que vamos abordar a seguir), e trazem
essa tecnologia para implantação do sistema de gestão (Moraes, 2015). Trata-
se de um método aplicado ao controle confiável e eficiente de uma empresa,
“possibilitando a padronização nas informações do controle de qualidade e a
menor probabilidade de erros nas análises ao tornar as informações mais
entendíveis” (Moraes, 2015, p. 16).

4
A ferramenta do PDCA é um ciclo, e assim sendo, deve “rodar”
continuamente. Para isso, todas as fases devem acontecer para que o processo
não sofra prejuízos, uma vez que “a supressão de uma fase causa prejuízos ao
processo global” (Moraes, 2015, p. 16).
O brainstorming é outra ferramenta de gestão. Trata-se de “uma técnica
de ideias em grupo que envolve a contribuição espontânea de todos os
participantes”, gerando um grande número de ideias em um curto período de
tempo (Moraes, 2015, p. 17). É uma ferramenta importante e pode ser usada em
várias etapas do sistema de gestão, como no planejamento (plan), para a
discussão do plano de ação, ou no agir (act), por meio das não conformidades
que podem ser apontadas pela auditoria na etapa de checar (check) (Moraes,
2015). Isso “pode ser aplicado em qualquer etapa do processo de solução de
problemas, sendo fundamental na identificação e na seleção das questões a
serem tratadas e na geração de possíveis soluções. Mostra-se muito útil quando
se deseja a participação de todo o grupo” (Moraes, 2015, p. 17).
Outra ferramenta é o diagrama de causa e efeito, também conhecido
como diagrama espinha de peixe ou diagrama de Ishikawa. É uma técnica de
gestão que “mostra a relação entre um efeito e as possíveis causas que podem
estar contribuindo para que ele ocorra” (Moraes, 2015, p. 18).
Essa é uma ferramenta utilizada para apresentar a relação existente entre
um resultado de um processo (efeito) e os fatores (causas) do processo que, por
razões técnicas, possam afetar o resultado considerado (Moraes, 2015, p. 18).
É bastante utilizada principalmente na etapa de “checar.
A construção do diagrama se baseia no estabelecimento do problema
(efeito) a ser analisado. Então, desenha-se uma “seta horizontal apontando para
a direita e […] [escreve-se] o problema no interior de um retângulo localizado na
ponta da seta”, para então agrupar as causas em categorias (Moraes, 2015, p.
18). Uma forma muita utilizada de agrupamento é o 6M:

1) Máquina: todos os equipamentos e sistemas utilizados para a


realização do trabalho. 2) Mão de obra: tudo o que diz respeito à
capacitação do trabalhador, experiência, habilidades, conhecimento. 3)
Método: a forma como o processo analisado é realizado, a organização
das informações e do trabalho. 4) Materiais: característica dos insumos
necessários para a realização do processo. 5) Meio ambiente:
características físicas do ambiente de trabalho (temperatura, ruídos,
iluminação, entre outros), bem como a relação das pessoas com a
organização, motivação, remuneração, relação entre os diferentes
níveis hierárquicos. 6) Medida: de que forma o resultado é medido, a
supervisão do comportamento do processo (Moraes, 2015, p. 18)

5
O fluxograma (flowchart) é outra ferramenta de gestão bastante útil na
visualização das etapas de um processo. Sua finalidade é “representar
processos ou fluxos de materiais e operações, representa algo essencialmente
dinâmico, e deve ter forma clara para que fique fácil identificar as ações que
devem ser executadas” (Moraes, 2015, p. 19).
Esse método faz o uso de símbolos que representam diferentes tipos de
ações, atividades e situações, de modo a possibilitar a visualização do processo
como um todo. Desse modo, é possível “visualizar quais operações são
realizadas, onde e quem realiza as operações, quais as entradas e saídas e
como fluem as informações, quais os recursos gastos no processo, qual o
volume de trabalho, qual o tempo de execução, se parcial ou total” (Oliveira,
2005, citado por Moraes, 2015, p. 18).
Finalmente, o Quadro 4Q1POC ou 5W2H é uma ferramenta utilizada para
planejar a implementação de determinada solução. Sua elaboração parte das
respostas das seguintes questões:

• o quê – qual ação vai ser desenvolvida? (What);


• quando – quando a ação será realizada? (When);
• por quê – por que foi definida essa solução? (Why);
• onde – onde a ação será desenvolvida? (Where);
• como – como a ação vai ser implementada? (How);
• quem – quem será o responsável pela sua implantação? (Who);
• quanto – quanto será gasto? (How much).

Por meio desse método, é possível visualizar a “solução adequada de um


problema, com possibilidades de acompanhamento da execução de uma ação
de forma clara, rápida e precisa”. O próximo passo é “selecionar uma lista de
alternativas a serem priorizadas para determinadas situações que devem ser
descritas na matriz do quadro 4Q1POC, podendo estar em qualquer ordem”
(Moraes, 2015, p. 20).
A ampla utilização desses métodos e dos sistemas de gestão é de
fundamental importância, e é impulsionado principalmente pela globalização e
pela busca da gestão da qualidade para a liderança e para o aperfeiçoamento
contínuo das organizações. Assim, “com a aplicação dos oito princípios de
gestão da qualidade, as organizações produzirão benefícios para clientes,

6
acionistas, fornecedores, comunidades locais, ou seja, para a sociedade em
geral” (Mello, 2012, p. 11).

TEMA 2 – INTERNACIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO)

A sigla “ISO” refere-se à International Organization for Standardization,


uma organização não governamental (ONG) fundada em Genebra, no ano de
1947, que conta com a participação de aproximadamente 162 países. A ISO tem
como função “promover a normatização de produtos e serviços, para que a
qualidade dos mesmos seja permanentemente melhorada” (Moraes, 2015, p.
24).
Para isso, o seu principal propósito é “criar normas e padrões mundiais
que traduzam o consenso dos diferentes países do mundo, de forma a facilitar o
comércio internacional e promover boas práticas de gestão, o avanço
tecnológico e disseminar conhecimentos” (Moraes, 2015, p. 24).
O representante brasileiro da ISO é o Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (Inmetro). As normas desse órgão recebem “a sigla NBR
e são elaboradas e coordenadas pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas-ABNT” (Moraes, 2015, p. 24).
A sério ISO almeja a qualidade nos processos, sendo assim, a qualidade
foi classificada na literatura e sistematizada por Moraes (2015, p. 25) em cinco
abordagens distintas:

• transcendental – qualidade é sinônimo de excelência inata; é absoluta e


universalmente reconhecível;
• baseada no produto – qualidade é uma variável precisa e mensurável,
oriunda dos atributos do produto;
• baseada no usuário – qualidade é uma variável subjetiva: produtos de
melhor qualidade atendem mais aos desejos do consumidor. Qualidade é
a satisfação das necessidades do consumidor;
• baseada na produção – qualidade é uma variável precisa e mensurável,
oriunda do grau de conformidade do planejado com o executado.
Qualidade é a conformidade às especificações;
• baseada no valor – qualidade é o grau de excelência a um preço aceitável.
Ainda, segundo a Fundação Nacional da Qualidade, qualidade consiste
na totalidade de características de uma entidade, organização ou uma

7
combinação destas que lhe conferem a capacidade de satisfazer as
necessidades explícitas e implícitas dos clientes e das demais partes.

A série ISO é composta por um grupo de normas voltadas ao Sistema de


Gestão da Qualidade. A ABNT NBR ISO 9001 é a versão brasileira da norma
internacional ISO 9001, que estabelece requisitos para o Sistema de Gestão da
Qualidade – SGQ de uma organização.
Assim, cada série da ISO determina uma função:

ABNT ISO 9000 – Sistema de Gestão da Qualidade – Fundamentos e


Vocabulário: documento que especifica os termos utilizados pelo
sistema. Serve como referência para outras normas da qualidade;
ABNT NBR ISO 9001 – Sistema de Gestão da Qualidade – Requisitos:
essa norma apresenta o Sistema de Gestão da Qualidade, indicando,
objetivamente, cada um dos requisitos necessários para a obtenção da
certificação;
ABNT NBR ISO 9004 – Gestão para o Sucesso Sustentado de uma
Organização – Uma abordagem de Gestão da Qualidade: nesse
documento são definidas as diretrizes para a aplicação do Sistema de
Gestão da Qualidade (Moraes, 2015, p. 26)

Em pesquisa publicada pela ISO sobre certificação no mundo, dados


apontam que “até 2011, foram emitidos 1.111.698 certificados ISO 9001:2008
Sistema de Gestão da Qualidade em 180 países. [...] O Brasil ficou em nono
lugar em número de certificações, com 28.325 certificados em 2011; já em 2013,
o Brasil apresentou 22.128 certificados” (Moraes, 2015, p. 26).
A atuação dos órgãos normativos e fiscalizadores é outro fator de grande
influência, tanto na esfera municipal quanto estadual e federal. “Entre esses
órgãos estão o Ibama e o Ministério do Trabalho e Emprego, que determinam,
sob pena de aplicação de multas e sanções, que as empresas tenham uma
atitude que também contribua para a adequada gestão dos problemas” (Moraes,
2015, p. 88).

Atualmente existem vários sistemas de gestão, como ISO 9001 –


Sistema de Gestão da Qualidade, ISO 22001 – Sistema de Gestão de
Segurança Alimentar, ISO 14001 – Sistema de Gestão Ambiental,
OHSAS 18001 – Sistema de Gestão em Segurança e Saúde
Ocupacional, ISO 26000 – Diretrizes de Responsabilidade Social (não
certificável) e a ABNT NBR 16001 – Sistema de Gestão em
Responsabilidade Social (certificável).

Citando um exemplo de ISO e a questão da qualidade, a ISO 9000


apresenta oito princípios de gestão da qualidade. São eles: foco no cliente;
liderança; envolvimento das pessoas; abordagem de processo; abordagem
sistêmica para a gestão; melhoria contínua; abordagem factual para a tomada

8
de decisão; benefícios mútuos nas relações com os fornecedores (Mello, 2012).
A seguir, vamos conhecer a descrição resumida de cada um.

• Foco no cliente, não que o cliente tenha sempre razão, mas uma vez
tendo prometido algo a qualquer cliente ele não somente exigirá o que
foi prometido como, aí sim, terá sempre razão em exigir o que
prometeram a ele.
•Liderança, exercer convencimento. Fazer com que todos na
organização participem do esforço pela qualidade sem imposições.
• Engajamento de pessoas deve ser total. As pessoas devem ser
levadas a acreditar que a política pela qualidade total trará benefícios
para todos dentro da organização.
• Abordagem baseada em processos, a primeira preocupação. Se a
organização não tiver seus processos mapeados, melhorados,
modelados e corretamente implantados, será muito difícil gerenciá-los
e impossível de serem certificados em qualquer norma.
• Melhoria contínua, pois tudo pode e deve melhorar sempre.
• Tomada de decisão baseada em evidências, para que não ocorram
erros e suas graves consequências nas tomadas de decisões.
• Gestão de relacionamento, pois nada se pode fazer sozinho, nem
mesmo em empresas extremamente pequenas, pois, afinal, na nova
economia não é a quantidade de funcionários que determina se a
empresa é grande ou pequena. (Cruz, 2019)

Dessa forma, “a tendência à implantação de sistemas de gestão em


diversos tipos de organizações empresariais é a ‘unificação’ das diferentes áreas
de gerenciamento, passando ao chamado Sistema de Gestão Integrada”
(Moraes, 2015, p. 88).

TEMA 3 – SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO

O termo “Sistema de Gestão Integrado (SGI)” pode ser descrito como “a


combinação de gerenciamento da qualidade e do meio ambiente”, incluindo
assim alguns sistemas de gerenciamento ambiental e de segurança e saúde do
trabalho (Moraes, 2015, p. 88).
Assim, SGI é a:

combinação de processos, procedimentos e práticas adotados por uma


organização na busca da implementação de uma política, visando
atingir seus objetivos de maneira eficiente, interagindo os objetivos da
qualidade, do desempenho ambiental, da segurança e saúde
ocupacional, entre outros (Moraes, 2015, p. 88).

Seu objetivo é unir o cumprimento às normas, além de ampliar o conceito


de qualidade, no qual “o produto e o serviço prestado terão os seus valores
agregados às questões ambientais e os compromissos para com os
colaboradores da empresa certificada de maneira integrada” (Moraes, 2015, p.
88).

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O SGI teve seu início na década de 1980, quando se atentou para o fato
de que as “crescentes exigências do mercado, os aspectos custo e qualidade,
aliados a uma maior consciência ecológica, geraram um novo conceito de
qualidade, holística e orientada, também, para a qualidade de vida”. Nesse
contexto, as organizações se inseriram no seu planejamento estratégico,
questões ecológicas e sociais (Moraes, 2015, p. 88).
Quanto às vantagens do SGI, podemos citar: redução de custos,
simplificação e redução de documentação, melhoria da gestão de processos,
maior comprometimento da alta direção, além de atendimento estruturado e
sistematizado à legislação ambiental e às legislações aplicadas à segurança e
saúde do trabalho (Moraes, 2015, p. 89). Além destas,

» Diferencial competitivo: fortalecimento da imagem no mercado e nas


comunidades; prática da excelência gerencial por padrões
internacionais de gestão; atendimento às demandas do mercado e da
sociedade em geral.
» Melhoria organizacional: reconhecimento da gestão sistematizada
por entidades externas; maior conscientização das partes
interessadas; atuação proativa, evitando-se danos ambientais e
acidentes no trabalho; melhoria do clima organizacional; maior
capacitação e educação dos empregados; redução do tempo e de
investimentos em auditorias internas e externas.
» Minimização de fatores de risco: segurança legal contra processos e
responsabilidades; segurança das informações importantes para o
negócio; minimização de acidentes e passivos; identificação de
vulnerabilidade nas práticas atuais (Moraes, 2015, p. 89)

No SGI, são observadas diversas formas de implantação, porém a forma


mais adequada depende das características da organização. Dos vários fatores
que podem influenciar a decisão de como a implantação será conduzida, alguns
deles são: “como a existência ou não de sistemas de gestão já implantados, a
cultura de gestão em vigor na empresa, o planejamento da direção,
considerando objetivos, prazos e motivações, recursos financeiros e humanos”
(Moraes, 2015, p. 89).
Sobre a implementação do SGI,

a metodologia escolhida está baseada nas teorias da análise de risco,


cujo significado pode ser usado como um fator integrador, como: risco
para o meio ambiente, risco para a segurança e saúde dos
trabalhadores, risco a comunidades circunvizinhas e risco de perdas
econômicas decorrentes de problemas no produto (Moraes, 2015, p.
89)

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TEMA 4 – COMUNICAÇÃO DAS PARTES INTERESSADAS

As normatizações ISO, citando aqui a ISO 9001:2008, demandam que a


sua alta direção se certifique de que sejam estabelecidos na organização “os
processos de comunicação apropriados e que seja realizada a comunicação
relativa à eficácia do sistema de gestão da qualidade” (Mello, 2012, p. 74).
Isso significa que a “a alta direção da organização deve definir e
implementar um processo eficaz e eficiente para a comunicação da política da
qualidade, dos requisitos, dos objetivos e das realizações de seu sistema de
gestão da qualidade” (Mello, 2012, p. 74).
Com isso, procura-se promover o envolvimento e a motivação dos
trabalhadores da organização na implementação, manutenção e melhoria
continuada do sistema de gestão. Algumas sugestões de formas de
comunicação interna, na forma de “comunicação conduzida pela direção em
áreas de trabalho (minipalestras), reuniões informativas e outras reuniões de
equipe, quadros de avisos, jornais e revistas internos, correio eletrônico,
programas de sugestões e pesquisas com empregados” (Mello, 2012, p. 74). A
família de normas ISO 9000:2000 é a seguinte (Cruz, 2019):

• ISO 9000: Fundamentos e vocabulário;


• ISO 9001: Requisitos para o Sistema de Gestão da Qualidade;
• ISO 9004: Diretrizes para melhorias de desempenho.

Além dessas, há a seguinte norma como agregada:

• ISO 19011: Diretrizes para auditoria de sistemas de gestão.

No início dos anos 1990, a normatização ISO observou a necessidade de


“desenvolver normas que especificassem a questão ambiental e tivessem como
intuito a padronização dos processos de empresas que utilizassem recursos
tirados da natureza e/ou causassem algum dano ao meio ambiente decorrente
de suas atividades”. Dessa forma, em 1996, foi elaborada a primeira versão da
norma ISO 14000 (Cruz, 2019).
Citando o exemplo de uma dessas ISOs, a ISO 14000 “é uma família de
normas desenvolvidas pela ISO, que estabelecem diretrizes sobre a área de
gestão ambiental das organizações”. Em uma abordagem sistemática
desenvolvida para a gestão ambiental, entre seus benefícios está o de “fornecer
à alta direção de uma empresa as informações necessárias para obter sucesso

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no longo prazo e criar alternativas que contribuam para um desenvolvimento
sustentável” por meio de:

• Proteção do meio ambiente pela prevenção ou mitigação dos


impactos ambientais adversos.
• Mitigação de potenciais efeitos adversos das condições ambientais
na organização.
• Auxílio à organização no atendimento aos requisitos legais e outros
requisitos.
• Aumento do desempenho ambiental.
• Controle ou influência no modo como os produtos e serviços da
organização são projetados, fabricados, distribuídos, consumidos e
descartados, utilizando uma perspectiva de ciclo de vida que possa
prevenir o deslocamento involuntário dos impactos ambientais dentro
do ciclo de vida.
• Alcance dos benefícios financeiros e operacionais que podem resultar
da implementação de alternativas ambientais que reforçam a posição
da organização no mercado.
• Comunicação de informações ambientais para as partes interessadas
pertinentes.

A NBR ISO 14001 é uma norma aceita internacionalmente que define os


requisitos para colocar um sistema da gestão ambiental em vigor. Ela ajuda a
melhorar o desempenho das empresas por meio da utilização eficiente dos
recursos e da redução da quantidade de resíduos, ganhando, assim, vantagem
competitiva e a confiança das partes interessadas.
Para que essa confiança aconteça, é preciso que haja a comunicação das
partes interessadas de forma objetiva. Os relatórios de sustentabilidade são
importantes ferramentas nesse processo.

TEMA 5 – GLOBAL REPORTING INITIATIVES (GRI) E DEMAIS MODELOS DE


RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE

A Global Reporting Initiative (GRI) é uma iniciativa voluntária que teve sua
origem ligada ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
É uma ampla rede independente distribuída em mais de 30 países e com sede
em Amsterdã, Holanda.
No Brasil, há a parceria entre a GRI, a UniEthos e o Núcleo de Estudos
em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas. Ainda, “o Centro de Estudos
em Sustentabilidade – GVCES nasceu em 2003 da necessidade premente de
empresas em entender, medir e avaliar riscos e oportunidades associados a
áreas de impacto aparentemente não financeiras, como meio ambiente,
responsabilidade social e governança corporativa” (Moraes, 2015, p. 103).

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Sua missão é apoiar a “implementação do desenvolvimento sustentável
em suas várias dimensões (equidade, justiça social, equilíbrio ecológico e
eficiência econômica), através do estudo e da disseminação de conceitos e
práticas”. A GRI, além de desenvolver, também atualiza um “conjunto formado
por estrutura, diretrizes e protocolos técnicos para a elaboração dos relatórios
de sustentabilidade”, sendo a responsável por desenvolver a “Estrutura de
Relatórios de Sustentabilidade” (Moraes, 2015, p. 104).
O Relatório de Sustentabilidade se trata de um demonstrativo com
publicação anual pelas empresas que aborda um “conjunto de informações
sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados,
investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade” (Moraes, 2015,
p. 104).
Esse relatório deve ser resultado de um processo participativo que inclua
e envolva a comunidade interna e externa, além de dar transparência às
atividades das empresas. A principal função do GRI é “tornar pública a
responsabilidade social empresarial, construindo maiores vínculos entre a
empresa, a sociedade e o meio ambiente” (Moraes, 2015, p. 104).
O processo de relato do relatório é voluntário e as organizações têm
liberdade para elaborar seu modelo e relatório de sustentabilidade. Porém, os
modelos de relatório com maior credibilidade em caráter internacional são os
modelos de sustentabilidade divulgados pela “Global Reporting Initiative (GRI) e
no nível nacional são os relatórios divulgados pelo Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)” (Moraes, 2015, p.
104).
Para entendermos do que se trata o GRI, desenvolveu-se aqui uma
“Estrutura de Relatórios de Sustentabilidade e as Diretrizes para a Elaboração
de Relatório de Sustentabilidade, documentos que formam a base para a
elaboração do relatório” (Moraes, 2015, p. 104). Essas diretrizes estão
estruturadas em duas partes:

A primeira parte trata dos “Princípios e Orientações”: define como


relatar, trazendo orientações para definição do conteúdo do relatório,
assegurando a qualidade da informação e estabelecendo o escopo do
relatório. A segunda parte trata do “Conteúdo do Relatório”: estabelece
referências para relatar o perfil da organização e sua forma de gestão,
definindo assim seus indicadores de desempenho. A GRI também
apresenta diretrizes sobre indicadores de sustentabilidade para as
áreas econômica, ambiental e social, para cada indicador há um
protocolo técnico que estabelece definições e orientações para tratar
os dados que serão relatados (Moraes, 2015, p. 104).

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Dessa forma, os relatórios são ferramentas para a promoção dos objetivos
sustentáveis de uma empresa, que atuam “como um instrumento pelo qual a
organização mede, comunica e desenvolve seus valores, processos e metas”. O
Brasil está localizado em terceiro lugar no mundo em número de empresas que
publicam relatórios de sustentabilidade, e em 2010, aproximadamente 160
relatórios brasileiros com base na estrutura da GRI foram registrados na Lista de
Relatórios da GRI (Moraes, 2015, p. 105).

TROCANDO IDEIAS

A ISO 9000 tem oito princípios de gestão da qualidade: foco no cliente;


liderança; envolvimento das pessoas; abordagem de processo; abordagem
sistêmica para a gestão; melhoria contínua; abordagem factual para a tomada
de decisão; benefícios mútuos nas relações com os fornecedores. Tendo em
mente esses princípios, vamos conversar sobre as dificuldades que podemos
encontrar na implementação da ISO. Podemos iniciar conversando sobre os
desafios de manter o envolvimento das pessoas com a organização, e abordar
os outros princípios conforme outros exemplos

NA PRÁTICA

Propomos assistir a um vídeo da empresa Leroy Merlin sediada em


Portugal, no qual ela apresenta alguns pontos do relatório de sustentabilidade
da empresa. Com base nesse vídeo, que tal buscar outros exemplos de
relatórios de sustentabilidade e GRI das empresas que conhecemos?

Saiba mais

RELATÓRIO de Sustentabilidade 2020 | LEROY MERLIN. Leroy Merlin


Portugal, 30 jul. 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=qYdydwDuKY8>. Acesso em: 24 nov. 2022.

FINALIZANDO

Os sistemas de gestão são importantes ferramentas para a abordagem


das organizações relacionadas às questões éticas e sociais, principalmente
quando consideramos os sistemas integrados de gestão. Sua ampla utilização
apoia-se nos oito princípios de gestão de qualidade.

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O aperfeiçoamento contínuo das organizações é benéfico não apenas
para as empresas, especificamente na forma de acionistas e fornecedores, mas
também traz benefícios para clientes, funcionais e a sociedade em geral.
As ISOs, nesse processo, são um apoio, por meio da certificação de
normas que auxiliam nessa gestão. Impulsionadas pela globalização, normas e
padrões mundiais facilitam o diálogo com o mundo e são uma importante
ferramenta, claro que sem esquecer as especificidades locais de cada região.
Assim, podemos desenvolver os avanços de gestão, os avanços tecnológicos e
a disseminação de conhecimentos, bem como a comunicação de resultados.

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REFERÊNCIAS

CRUZ, T. Sistema de Gestão Integrada. São Paulo: GEN: Atlas, 2019.


Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978859702
1820/>. Acesso em: 22 nov. 2022.

MELLO, C. H. P. ISO 9001: 2008 – Sistema de gestão da qualidade para


operações de produção e serviços. São Paulo: GEN, 2012. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522479252/>. Acesso em:
22 nov. 2022.

MORAES, M. V. G. D. Sistema de Gestão: princípios e ferramentas. São Paulo:


Saraiva, 2015. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/
9788536531991/>. Acesso em: 24 nov. 2022.

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