A FORMAO CONTINUADA PARA PROFESSORES ALFABETIZADORES DO PROGRAMA TODOS PELA ALFABETIZAO TOPA

Isaura Francisco de Oliveira Joseval dos Reis Miranda

Resumo O artigo o resultado da investigao que analisou como o processo de formao continuada para professores alfabetizadores do TOPA tem contribudo para a sua prtica pedaggica. A metodologia de pesquisa privilegiou a abordagem qualitativa por meio na anlise da proposta do curso, observaes, entrevistas semiestruturadas e das falas dos seus interlocutores: alfabetizadores, alfabetizandos e coordenadora local do programa. Os resultados da pesquisa apontaram para a necessidade da efetivao de algumas aes como: necessidade de uma continuidade nas propostas para a Educao de Jovens e Adultos, a continuidade da formao de professores, fazendo a relao desta formao para a melhoria da prtica pedaggica e a profissionalizao docente. A nossa expectativa que as ponderaes provoquem novas reflexes com vistas ao processo formativo continuado de professores alfabetizadores na singularidade do trabalho pedaggico para as classes de alfabetizao na Educao de Jovens e Adultos.

Palavras-chave: Formao continuada de professores. Educao de Jovens e Adultos. Alfabetizao de Jovens e Adultos. Iniciando a nossa conversa... O texto trata de um dos aspectos abordados na nossa investigao que tem como objetivo geral compreender como o processo de formao continuada para professores alfabetizadores do TOPA tem contribudo para a sua prtica pedaggica? Para isso a nossa anlise inicial vem estudar, por meio do projeto pedaggico do referido curso, da observao participante e da entrevista com professores alfabetizadores, alfabetizandos e a coordenadora local do referido programa. Nesse sentido, este texto busca evidenciar o debate acerca da necessidade da formao continuada de professores, bem como fazer a relao desta formao para a melhoria da prtica pedaggica e a profissionalizao docente. Dito isso, inicialmente, apresentaremos algumas consideraes sobre o programa Todos pela Alfabetizao TOPA, o local da realizao da pesquisa e os seus sujeitos envolvidos. Em seguida apresentamos uma breve exposio sobre a formao continuada fazendo as devidas tessituras com o reflexo desta na prtica pedaggica. Por fim, apresentamos as nossas consideraes finais, que longe de serem conclusivas ou

generalistas, apenas mostram a face do objeto aqui investigado de acordo com o seu espao, o seu tempo e seus atores. Compreendemos que a alfabetizao de Jovens e Adultos, ao longo dos ltimos anos, vem conquistando espaos importantes no mbito das polticas pblicas de educao. Considerando que a Educao de Jovens e Adultos representa uma abertura de oportunidades e garantia de um direito social para aqueles que no tiveram acesso escola na idade estabelecida para o sistema escolar, movimentos em prol da alfabetizao tem se constitudo em um elemento estratgico para o desenvolvimento do pas. No estado da Bahia esse movimento se concretiza no programa Todos pela Alfabetizao - TOPA. Desse modo o TOPA faz parte de um programa maior, o Brasil Alfabetizado que foi criado em 2003 com a finalidade de combater o analfabetismo e oportunizar a leitura e a escrita aos jovens e adultos analfabetos. O presente artigo o resultado de nossas investigaes e vivncias no mbito do TOPA e da coordenao do Ncleo - Territrio IV- em Bom Jesus da Lapa/BA nos anos de 2007, 2008 e 2009. O territrio tem como ncleo o Departamento de Cincias Humanas e Tecnologias DCHT, campus XVII, da Universidade do Estado da Bahia UNEB em Bom Jesus da Lapa/BA e abrange onze municpios circunvizinhos, dentre eles o Municpio de Riacho de Santana, BA, local em que se desenvolve a pesquisa. Portanto, este texto procura trazer contribuies, comentrios e reflexes sobre a formao continuada, a partir das discusses e reflexes aqui tecidas com os autores abordados e tambm com os interlocutores da pesquisa, apontando contribuies para o processo formativo continuado de professores alfabetizadores e a especificidade deste trabalho pedaggico nas classes de Educao de Jovens e Adultos. Todos pela alfabetizao o TOPA no Municpio de Riacho de Santana- BA Riacho de Santana um pequeno municpio que abriga 30.6121 habitantes. Situado na regio fisiogrfica do Mdio do So Francisco. O referido municpio enfrenta todas as adversidades de municpios pequenos do interior do Nordeste. Apesar do nmero de escolas existentes e da oferta do transporte escolar, o ndice de analfabetismo preocupante, principalmente na faixa etria de 35 anos ou mais que de

Fonte Secretaria Municipal de Educao de Riacho de Santana BA.

33,80% 2. O municpio fez a adeso ao programa TOPA em janeiro de 2009 e em maio as aulas comearam. Para o incio das aulas a UNEB por meio do Ncleo de Educao de Jovens e Adultos NEJA capacitou duzentos e trinta alfabetizadores em uma formao inicial de quarenta horas. As duzentos e trinta turmas funcionaram distribudas por todo o

municpio, principalmente nas comunidades rurais. Participaram do projeto um mil e trezentos alfabetizandos com a faixa etria entre dezoito e setenta anos3. O projeto em sua proposta pedaggica garante 320 horas em sala de aula distribudas em 32 semanas, com uma mdia de dez horas semanais. Garante ainda 64 horas de acompanhamento pedaggico distribudos em oito encontros mensais de oito horas para reflexo sobre a prtica, e planejamento das aes cotidianas. O profissional responsvel o coordenador de turmas. A formao inicial de 40 horas e a continuada de 20 horas oferecida por um professor formador da UNEB, autorizado via seleo pblica. J a formao continuada de 64 horas ser fornecida pelo coordenador de turma, pertencente ao projeto. Cada coordenador de turmas fica responsvel por uma mdia de 08 alfabetizadores. Os Sujeitos4 do Programa Todos pela Alfabetizao - TOPA

Os jovens e adultos que frequentam programas de alfabetizao de jovens e adultos tm em comum o fato de carregarem a marca da desigualdade social econmica e de no terem a possibilidade de realizar uma trajetria educativa tradicionalmente considerada satisfatria, j que por uma srie de motivos (trabalho, mudanas de endereo constante, etc), precisaram abandonar a escola. Dentre estes estudantes que circulam no espao escolar, com entradas, sadas e retornos, uma parte significativa se matricula no incio do ano e deixam a escola, possivelmente regressando no ano seguinte. O fato que cerca de metade do abandono escolar refere-se a causas de natureza econmico-social. Segundo depoimento dos alunos a entrada tardia na escola d se por duas razes principais: a primeira delas ocorre em virtude de problemas de acesso, distncia, ou outras causas de natureza econmico-social. A segunda deve-se dificuldade do
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Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educao de Riacho de Santana BA. Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educao de Riacho de Santana BA. Os nomes dos sujeitos aqui mencionados so fictcios para a preservao da identidade dos mesmos.

professor alfabetizador em trabalhar para atender s necessidades dos alunos, conforme evidenciado na fala do aluno abaixo:
Estudar muito bom [...] mas a gente s aprende quando o professor sabe. Veja a gente j tem dificuldade. [...] as idias no colabora [...] a idade no deixa. E quando o professor fraquinho, a nem vale a pena. [...]. (Marcos, alfabetizando, 54 anos).

Diante do exposto temos ainda o aluno que deixa a escola e no mais retorna fato que pode ser compreendido como evaso escolar. Os motivos dessa evaso no TOPA, podem ter vrias justificativas, mas a principal delas porque no fizeram grandes progressos, seja por questo de idade, de dificuldade em aprender, problemas de viso, ausncia de perspectiva de continuidade dos estudos por falta de oferta, etc., isso fica evidente na fala da tutora local do TOPA:
Dos 1300 alunos matriculados inicialmente, menos de 40% concluem a formao das 32 semanas (Carla, Tutora Local do TOPA).

Nesse sentido, a fala da tutora local reflete uma realidade enfrentada pelo municpio no programa na qual um dos aspectos que desestimula o aluno a descontinuidade dos estudos. O aluno que conclui a etapa de alfabetizao e consegue construir a base alfabtica, no tem garantia de continuidade nos estudos no seu processo de escolarizao. Conforme a LDBEN n. 9.394/96 constam no Ttulo V, Captulo II, Seo V, os artigos 37 e 38 garantem, especificamente, o direito Educao de Jovens e Adultos:
Art. 37 - A educao de jovens e adultos ser destinada queles que no tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e mdio na idade prpria. 1 Os sistemas de ensino asseguraro gratuitamente aos jovens e aos adultos, que no puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as caractersticas do alunado, seus interesses, condies de vida e trabalho, mediante cursos e exames. 2 O Poder Pblico viabilizar e estimular o acesso e a permanncia do trabalhador na escola, mediante aes integradas e complementares entre si. Art. 38 - Os sistemas de ensino mantero cursos e exames supletivos, que compreendero a base nacional comum do currculo, habilitando ao prosseguimento de estudos em carter regular. 1 Os exames a que se refere este artigo realizar-se-o: I. no nvel de concluso do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II. no nvel de concluso do ensino mdio, para os maiores de dezoito anos. 2 Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais sero aferidos e reconhecidos mediante exames (BRASIL, 1996).

Desta maneira, mesmo com todas as concesses direcionadas para a Educao de Jovens e Adultos e apesar dessa garantia de ensino amparada pela Lei, ocorre um

descaso em relao a esses educandos. O conhecimento veiculado pelas escolas torna se um abismo em relao s vivncias cotidianas. No caso de programas de alfabetizao em massa a situao ainda mais grave, pois qualquer um que j foi alfabetizado serve para alfabetizar o outro. De acordo com a coordenadora de turmas do programa o que mais dificulta o trabalho a formao do professor-alfabetizador. Ela expe:
Muitos alfabetizadores no possuem mais que o ensino mdio, no tem noo de planejamento, nunca foram para a sala de aula. [...] Nosso desafio enquanto coordenador de turmas tem sido garantir que o mnimo seja oferecido aos alunos. [...]. (Jane, Coordenadora de turma - A )

Compreendemos que necessrio o desenvolvimento de metodologias prprias para os jovens e adultos que freqentam o TOPA, bem como, um currculo entendido em seu sentido amplo, que respeite as peculiaridades de cada aprendiz. preciso considerar que os alunos provenientes da Educao de Jovens e Adultos ao chegarem escola j trazem consigo de um amplo conhecimento de mundo e de uma histria de vida que precisa ser respeitada e valorizada. Nesse sentido o professor pea fundamental nesse processo de escolarizao, portanto, faz-se necessrio que este tenha uma formao com conhecimentos tericos e metodolgicos para atuar nessa modalidade de ensino. Os programas de alfabetizao, como polticas temporrias precisam ganhar corpo e transformar-se em polticas pblicas garantindo o para os estudantes desta modalidade o direito de aprender ao longo da vida. No poderamos deixar de mencionar o quanto preciso respeitar o aluno, utilizando-se de metodologias apropriadas, que resgate a importncia de sua biografia e o seu contexto cultural. A formao docente voltada para a Educao de Jovens e Adultos deve incluir, alm das exigncias formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas complexidade dessa modalidade de ensino e tambm que este docente perceba a necessidade da formao continuada. Como discutiremos a seguir.

Formao continuada: tecendo reflexes Entendemos por formao continuada todos os processos envolvidos por diferentes aes nas quais o saber e o fazer se transformam constantemente por meio da

reflexo crtica na qual os envolvidos busquem a sua prpria construo da autonomia intelectual. A busca pela formao continuada e em servio s far sentido quando o prprio sujeito busca este processo de formao e sai do enraizamento da postura de construo conhecimento como acabado e fechado. Para Marin (1995),
A atividade profissional dos educadores algo que, cotidianamente, se refaz mediante processos educacionais formais e informais variados, amalgamados sem dicotomia entre vida e trabalho, entre trabalho e lazer. Com as contradies, certamente, mas, afinal, mantendo as inter-relaes mltiplas no mesmo homem. O uso do termo educao continuada tem a significao fundamental do conceito de que a educao consiste em auxiliar profissionais a participar ativamente do mundo que os cerca, incorporando tal vivncia no conjunto dos saberes de sua profisso (MARIN, 1995, p.19).

A formao contnua de professores deve contemplar a reflexo de uma prtica educativa diria, isto , do cotidiano profissional de cada professor, indo alm da dimenso pedaggica, incluindo tambm a experincia em [...] um quadro conceptual da produo de saberes. [...] falar de formao contnua de professores falar da criao de redes de (auto-formao participada [...] (NVOA, 2002, p. 57). A formao inicial do programa TOPA oferecida pela unidade formadora, no caso aqui descrito, a Universidade do Estado da Bahia - UNEB. A formao dos alfabetizadores que atuam no programa tem dois momentos especficos: o primeiro com quarenta horas de durao, denominado formao inicial e o segundo de vinte horas denominado de formao continuada. A formao de professores alfabetizadores deve, portanto, considerar e apropriarse da riqueza cultural dos seus alfabetizandos traduzindo-as em componentes curriculares. A idia se concretiza pelo fato de que os jovens e adultos alfabetizandos j foram desrespeitados uma vez quando teve negado seu direito a educao. Ao retornar a sala de aula, no podem ser humilhados mais uma vez, por uma metodologia que lhes nega o direito de afirmao, de sua identidade, de seu saber e sua cultura. Assim ratificamos na necessidade de um planejamento acessvel aos alunos da Educao de Jovens e Adultos, trazendo a oportunidade de se tornarem cidados autnomos e respeitados no espao de escolarizao. Sobre esse prisma, tornar as turmas do TOPA parte da comunidade escolar fundamental para o sucesso da aprendizagem e para evitar a evaso, pois o aluno no pode sentir que aquele espao apenas emprestado.

Diante do exposto, entendemos que as prticas de formao continuada com uma concepo essencialmente instrumental no do conta da diversidade que permeia o contexto escolar, do fenmeno educativo na contemporaneidade e da vida cotidiana dos seus sujeitos. Da a necessidade da ressignificao dos modelos de formao clssicas dirigidas somente ao treino buscando assim a implementao de processos de aprendizagens marcados pela reflexo, pesquisa e produo simultnea de mudanas de ordem individual e coletiva. Entendemos que o investimento no processo de formao continuada dos professores alfabetizadores deve ser priorizado como uma importante medida para uma maior profissionalizao docente e construo de prticas pedaggicas mais inclusivas, pois esta resqucio ou reflexo do processo formativo dos professores. Professores alfabetizadores a sua prtica pedaggica Ensinar a ler e a escrever ainda um dos maiores desafios da sociedade letrada. Pensar a construo da base alfabtica com os alunos da Eja com suas caractersticas peculiares torna esse desafio ainda maior. Neste sentido, refletir sobre a prtica

pedaggica do professores alfabetizadores responsveis pelo programa TOPA nos remete a compreenso do processo formativo destes professores. Durante a formao inicial ministrada pela UNEB, o professor alfabetizador passa a conhecer a base terica do Programa TOPA. O pensamento de Paulo Freire, ressignificados pela proposta de Emilia Ferreiro e Magda Soares formam a proposta de alfabetizao do TOPA. Assim, durante quarenta horas o professor alfabetizador toma conhecimento da proposta pedaggica do programa. As reflexes tericas giram em torno do mtodo de alfabetizao de Paulo Freire, que consideram a leitura da realidade do aluno o ponto de partida para o trabalho com alfabetizao. Para a construo da base alfabtica

utilizam-se os princpios de Emilia Ferreiro, trabalhando os diferentes nveis de leitura e escrita: nvel pr-silbico, silbico, silbico alfabtico e alfabetizado. Todo esse trabalho permeado com as reflexes de Soares (1998) que traz o conceito de alfabetizar letrando. Considerando que ausncia da experincia em docncia leva muitos alfabetizadores estarem iniciando as atividades de ensino, no programa, consta-se que muitos nunca ouviram falar em Paulo Freire ou at mesmo letramento. Sabe-se que a formao contnua uma possibilidade possvel para a melhoria da qualidade do ensino, dentro do contexto educacional contemporneo (Nvoa 1991; Freire, 1991 e Mello

1994), contudo, com a ausncia de uma formao inicial slida a formao continuada muito pouco acrescentar. A valorizao dos professores como profissionais que necessitam de aprendizagem contnua evidencia um cenrio em que o magistrio tornou-se complexo e diversificado. Diante dessas novas matrizes formativas e profissionais para os professores, Imbernn (2005) defende que:
A profisso exerce outras funes: motivao, luta contra a excluso social, participao, animao de grupos, relaes com estruturas sociais, com a comunidade... E claro que tudo isso requer uma nova formao: inicial e permanente. Esta anlise ajuda-nos a entender um processo em que o conhecimento profissional, para alm de uma classificao de traos unificadores de toda a profisso docente, fundamental. E nela desponta como caracterstica primordial a capacidade reflexiva em grupo, mas no apenas como aspecto de atuao tcnica, e sim como processo coletivo para regular as aes, os juzos e as decises sobre o ensino, j que o mundo que nos cerca tornou-se cada vez mais complexo, e as dvidas, a falta de certezas e a divergncia so aspectos consubstanciais com que o profissional da educao deve conviver, como acontece com profissionais de qualquer setor. (IMBERNN, 2005, p.14).

Isso implica considerar que o processo de inovao educativa produz o entendimento que o saber escolar no neutro, no obedece lgica cientfica calcada na racionalidade tcnica e selecionado e organizado intencionalmente. Inovar a escola e o currculo significa desvelar os critrios de seleo e organizao do conhecimento escolar (ARROYO, 1999). Pensando na relao currculo com a organizao do trabalho pedaggico um dos desafios enfrentado pelo professor alfabetizador, devido a ausncia no seu processo formativo, o registro do seu fazer pedaggico que deve ser registrado em um dirio de aula. Durante a formao trabalhado o registro como autoformao. Assim ao tematizar a sua prtica pedaggica o professor exercita a possibilita de anlise sobre o seu trabalho, os avanos, as dificuldades, e demais aspectos que mencionar. O registro da prtica deve ser feito por atividade e ser retomado durante os encontros de formao continuada e durante as visitas s turmas. Estas visitas s turmas revelaram que alguns alfabetizados utilizam, de fato, de todas as informaes e orientaes recebidas durante as formaes continuadas. O presente estudo evidenciou tambm as dificuldades enfrentadas pelos professores alfabetizadores e dentre elas podemos citar: a precariedade da iluminao das salas de aula, doenas como gripes constantes, limites de viso, dificuldades de transporte quando o alfabetizador no reside nas proximidades da sala de aula, cansao

dos alfabetizandos aps um dia de trabalho, indisciplina em algumas turmas da zona urbana, problemas de assiduidade e pontualidade por questes de trabalho e tarefas domsticas, insatisfao com o valor da bolsa auxlio aos alfabetizadores e dificuldade de acesso dos coordenadores s salas, para as visitas de acompanhamento. Contudo, foi possvel comprovar, durante as observaes, trabalhos significativos no programa, como o caso da Associao das Mulheres Unidas. A coordenadora de Turma licenciada em Pedagogia, atua na Educao de Jovens e adultos h mais de quinze anos. Coordenando onze turmas, a coordenadora reunia-se com os alfabetizadores quinzenalmente durante quatro horas, para estudos e planejamentos no tocante a prtica pedaggica para alfabetizao de adultos. Durante a ltima semana de janeiro observamos cinco turmas de alfabetizadores que trabalharam com projetos temticos durante as aulas. O relato abaixo comprova a satisfao pelo carter inovador nas atividades curriculares para os alfabetizandos:
Esse projeto foi um grande sucesso nas turmas. Na culminncia foi promovida uma palestra com uma dentista para discutir sobre a sade bucal. Neste dia todas as turmas reuniram-se em um nico espao. Foi bastante produtivo. O programa j est chegando ao fim... termina dia cinco de fevereiro... considero que de todos os trabalhos que realizei nestes meses todos, o projeto educar para prevenir foi o melhor. (Clara, Alfabetizadora B).

Outra atividade que demonstra a relao com a especificidade desta modalidade foi o tema trabalhado na qual fez o maior sucesso com os alunos foi o intitulado Minha Identidade. Neste projeto muitas descobertas aproximaram o alfabetizador da realidade trabalhada no programa e com os alfabetizandos. O relato abaixo de uma alfabetizanda mostra a relao com o projeto:
Estudar muito bom. Descobrimos que a escrita faz parte de nossa identidade, que cada um tem uma caligrafia. [...] Sinto-me com sete anos, acabei de entrar na escola. [...] nasci em 1939, quer saber minha idade, mostre que sabe conta e descubra. ( Joice, alfabetizanda, 71 anos).

Desse modo, o acompanhamento da prtica pedagogica, por meio das observaes efetuadas, possibilitou evidenciar trabalhos significativos tantos para alfabetizandos como alfabetizadores, pois, entender a prtica pedaggica significa compreender que esta se processa de forma intencional, fruto da construo humana. Essa prtica pedaggica definida, por Veiga (2005) como uma dimenso da prtica social orientada por objetivos, finalidades, conhecimentos e que pressupe uma relao ntima entre teoria e prtica.

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Assim sendo, necessrio discernir como estes objetivos se materializam na prtica pedaggica e influenciam o ensino para que possamos romper com as propostas fragmentadas, dicotmicas ou reducionistas da formao docente, com vistas construo de uma sociedade mais justa, solidria, democrtica.

Consideraes finais...

As evidncias encontradas na pesquisa luz do dilogo terico apresentado no decorrer do trabalho afirmaram a necessidade de uma continuidade nas propostas para a Educao de Jovens e Adultos. E que acima de tudo esta modalidade educativa no esteja restrita somente ao processo de aquisio da alfabetizao, mas de efetivao de polticas pblicas que garantam o acesso, permanncia, sucesso e aprendizagem de todos os estudantes desta modalidade educativa. Nesse sentido, este estudo poder contribuir para uma reflexo acerca do processo de formao continuada para alfabetizadores, proporcionando uma maior reflexo crtica sobre o fazer pedaggico em classes de alfabetizao de jovens e adultos, onde todo o processo de alfabetizao no fique reduzido a somente a decodificao das palavras escritas Assim sendo, acreditamos na necessidade de uma poltica de formao continuada e em servio consubstanciada por um programa na qual suas aes sejam acordadas por todos os envolvidos na qual este processo seja visto como complexo e multifacetado, pois favorece a apropriao e a busca de conhecimentos, saberes nos tornado continuamente inquietantes como profissionais da educao. Esperamos que as ponderaes aqui apresentadas sejam inquietantes e provocadoras de novas reflexes. No trouxemos aqui verdades prontas e acabadas, porm alguns resultados de um estudo que em outros momentos podero suscitar novas questes, novos olhares e novas perspectivas com vista melhoria da profissionalizao e do profissionalismo docente por meio da formao continuada.

REFERNCIAS

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ARROYO, Miguel G. Experincia de inovao educativa: o currculo na prtica da escola. In: MOREIRA, Antnio Flvio Barbosa (Org.). Currculo: polticas e prticas. Campinas, SP: Papirus, 1999, p.131-164. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Braslia, DF, MEC, 1996. BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAO. CAMARA DE EDUCAO BSICA. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao de Jovens e Adultos. Resoluo CNE/CEB n. 1, de 5 de julho de 2000. In: Dirio Oficial da Unio. Braslia, 6 de julho de 2000. BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO. Programa Brasil alfabetizado. Plano Plurianual de Alfabetizao 2007. http://www.educacao.escolas.ba.gov.br/node/388. Acesso em 17/08/2010 FREIRE, Madalena. A Formao Permanente. In: Freire, Paulo: Trabalho, Comentrio, Reflexo. Petrpolis, RJ: Vozes, 1991. IMBERNN, Francisco. Formao docente e profissional: forma-se para a mudana e a incerteza. 5.ed. So Paulo: Cortez, 2005. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliao da Aprendizagem Escolar: estudos e proposies. 15.ed. So Paulo: Cortez, 2003. MARIN, Alda Junqueira. Educao continuada: introduo a uma anlise de termos e concepes. Caderno Cedes. N.36, 1995, p.13-20. MELO, Guiomar Namo de. Cidadania e competividade desafios educacionais do terceiro milnio. So Paulo: Cortez, 1994. NVOA, Antnio. (org.). Os professores e a sua formao. Lisboa: Dom Quixote, 1992. SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em trs gneros. Belo Horizonte: Autntica. 1998. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. A Prtica pedaggica do professor de didtica. 9.ed.Campinas, SP: Papirus, 2005.