Controle Biologico Das Moscas Das Frutas
Controle Biologico Das Moscas Das Frutas
Controle Biologico Das Moscas Das Frutas
ZUCCHI
ALDO MALAVASI
RICARDO ADAIME
DORI EDSON NAVA
Catalogação njl Publicação
DIVISÃO DE BIBLIOTECA - DIBD/ESALQ/USP
ISBN: 978-65-89722-12-0
CDD 632.774
Introdução
o uso de agentes de controle biológico para moscas-das- frutas no Brasil teve seu marco histórico
em 1937, quando foi introduzido e liberado nos pomares do estado de São Paulo o parasitoide
Tetrastichus giffardianus Silvestri (Hymenoptera: Eulophidae), para o controle de Ceratitis capi-
tata (Wiedemann) (Fonseca 1938). Outras introduções de parasitoides foram realizadas para a
implementação de programas de controle biológico (CB) clássico, entretanto o principal avanço
da pesquisa foi o inventário e a identificação das espécies de parasitoides relacionadas com seus
hospedeiros e os cultivos agrícolas que em condições naturais contribuem para o controle de mos-
cas-das-frutas.
O manejo de moscas-das-frutas passa pelo emprego de diferentes táticas de controle (Dias et al
2018). O uso de inimigos naturais em programas de CB clássico, aplicado ou por conservação, são
essenciais para o controle de tefritídeos em programas regionais e nacionais, com foco em áreas
amplas. Atualmente, no Brasil, há grupos de pesquisadores trabalhando com o desenvolvimento
de programas de CB para Bactrocera carambolae Drew & Hancock na região Norte, com o uso do
parasitoide de ovos Fopius arisanus (Sonan), e para o controle de Anastrepha fraterculus (Wie-
demann) e de C. capitata com parasitoides nativos e Diachasmimorpha longicaudata (Ashmead),
especialmente no Sul e no Nordeste, Vale do São Francisco, respectivamente. Além disso, há uma
preocupação com a preservação dos predadores e dos parasitoides nos pomares, que são funda-
mentais para auxiliar no controle dos tefritídeos. Neste capítulo são apresentados os principais
agentes de biocontrole de moscas-das-frutas, as espécies candidatas a serem utilizadas nos progra-
mas e as principais estratégias disponíveis.
Parasitoides nativos
Diversas espécies de himenópteros das famílias Braconidae, Figitidae, Pteromalidae e Diapriidae
são parasitoides de moscas-das-frutas no Brasil, sendo as duas primeiras famílias as que possuem
387 •••••••••
maior quantidade de espécies descritas e que se caracterizam por serem endoparasitoides ceno-
biontes de larva-pupa (Canal & Zucchi 2000, Ovruski et al 2000). As espécies da família Ptero-
malidae são ectoparasitoides idiobiontes de pupas, enquanto as da família Diapriidae também são
parasitoides idiobiontes de pupa, mas são consideradas endoparasitoides (Paranhos et al 2019).
Atualmente, são listadas para o Brasil 29 espécies de parasitoides (Tabela 1), mas este número
provavelmente seja maior, pois novas espécies estão sendo descritas. Este número pode aumentar,
à medida que novos trabalhos de ocorrência e levantamentos populacionais sejam realizados em
regiões ainda não estudadas. Como exemplo, a Rede Amazônica de Pesquisa sobre Moscas-das-
-Frutas reuniu nos últimos 15 anos diversos pesquisadores e apresentou entre outros resultados o
registro de oito espécies de braconídeos e três de figitídeos para a Região Norte do Brasil (Adaime
et aI2018a).
Entre os braconídeos, Doryctobracon areolatus (Szépligeti) é o mais abundante e frequente e que
parasita várias espécies de moscas-das- frutas em diversos hospedeiros, sendo registrado em quase
todos os Estados do país (Canal et ai 1995, Leonel Ir, et al 1995, Leonel [r, et al 1996, Matrangolo
et al 1998, Canal & Zucchi 2000, Aguiar-Menezes et al 2001, Uchôa et al 2003, Silva & Silva 2007,
Marinho et al 2009, Thomazini & Albuquerque 2009, Silva et al 2010, Nicácio et al 2011, Nunes et
a12012, Deus & Adaime 2013). As espécies D. brasiliensis (Szépligeti) e Opius bellus Gahan também
são frequentes, mas sua distribuição geográfica é mais restrita (Salles 1996, Nunes et aI2012). Entre
os figitídeos a espécie mais frequente e abundante é Aganaspis pelleranoi (Brethes) (Guimarães et al
1999, Garcia & Corseuil2004, Nunes et al 2012).
A maior parte dos estudos com parasitoides nativos refere-se a Braconidae e Figitidae, abor-
dando sua ocorrência, distribuição e análise faunística (Leonel Ir, 1991, Canal et al 1994, Canal et
al 1995, Leonel Jr. et al 1995, Leonel [r, et al 1996, Salles 1996, Aguiar-Menezes & Menezes 1996,
Aguiar-Menezes & Menezes 1997, Matrangolo et al 1998, Guimarães et al 1999, Aguiar-Menezes et
a12001, Aguiar-Menezes & Menezes 2001, Araujo & Zucchi 2002, Aguiar-Menezes et al 2003, Gar-
cia & Corseuil2004, Guimarães et al 2004, Souza Filho et al 2007, Silva & Silva 2007, Souza Filho et
al 2009, Marinho et al 2009, Silva et a12010, Bittencourt et a12011, Nicacio et a12011, Nunes et al
2012), comportamento (Guimarães & Zucchi 2004, Silva et al 2007) e taxonomia (Canal & Zucchi
2000, Guimarães et al 2000, Marinho et al 2017). Apesar da grande quantidade de trabalhos sobre
a ocorrência e distribuição em diferentes locais do Brasil, ainda faltam informações de diversas
regiões sobre a presença de outras espécies que parasitam larvas, além de parasitoides de ovos e de
pupas. Um exemplo recente foi a descrição de duas espécies próximas de D. areolatus, nominadas
de D. whartoni e D. adaimei, braconídeos que ocorrem na região amazônica brasileira (Marinho et
al 2017). Estudos relacionados à ecologia e ao potencial de parasitismo com parasitoides nativos,
que até pouco tempo eram escassos, também tiveram recentemente avanço considerável para as
principais espécies (Gonçalves et al 2013, Gonçalves et al 2014, Gonçalves et al 2016, Poncio et ai
2016, Gonçalves et a12018, Poncio et a12018) (v. capítulo 17).
Parasitoides exóticos
A primeira introdução de parasitoide exótico de moscas-das-frutas no Brasil foi feita em 1937,
quando foram liberados nos pomares do estado de São Paulo T. giffardianus, para o controle de
C. capitata (Fonseca & Autuori 1940). Após sua liberação o parasitoide não foi mais coletado por
quase 70 anos, até ser detectado na Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará (Costa et al 2005, Araújo et
1937)
ri
» Braconidae Opiinae Opiusbellus A. antunesi, A. atrigona, Canal et ai (1994), Leonel Larva-pupa Endoparasitoide Cenobionte
o Gahan 1930 A. coronilli, A. distíncta, Jr et ai (1995), Canal &
O
A. fraterculus, A. fractura, A. Zucchi (2000), Silva &
hastata Stone 1942, A. Ronchi-Teles (2000), Creão
leptozona, (2003), Costa (2004), Jesus
A. manihoti, A. montei, et ai (2008), Alvarenga et ai
A. obliqua, A. pastranai, (2009), Marsaro Jr. et ai
A. pickelí, A. serpentina, (2010), Pereira et ai (2010),
A. sororcula, A. striata, Outra et ai (2013)
A. turpiniae, C. capitata
Braconidae Opiinae Opius itatiayensis Tomoplagia sp. Canal & Zucchi (2000) Larva-pupa Endoparasitoide Cenobionte
(Lima 1937)
Braconidae Opiinae Opius tomoplagiae T. rudolphi (Lutz & Lima 1918) Canal & Zucchi (2000) Larva-pupa Endoparasitoide Cenobionte
Lima 1938
Tabela 1. continuação
z (Rondani 1875)
o Pteromalidae Spalangiinae Spalangia endius Anastrepha spp. Aguiar-Menezes et ai Pupa Ectoparasitoide Idiobionte
OJ
;Al
Walker 1839 (2003)
»
(J)
Diapriidae Diapriinae Captera haywardi Anastrepha spp. Aguiar-Menezes et ai Pupa Endoparasitoide Idiobionte
r Loiácomo 1981 (2003)
n Trichopría
O Diapriidae Diapriinae ~nastrepha sp., Garcia & Corseuil (2004) Pupa Endoparasitoide Idiobionte
Z anastrephae Lima A. fraterculus
I
m 1940
n
~
m
Z
~
O
OJ
»,
(J)
Fi
O
m
»
-O
r
Fi
»
O
O
a1201S, Araújo et aI2016), Pernambuco (Carvalho et aI2018), e em Presidente Prudente no inte-
rior de São Paulo (Montes et al201 1). Nesta mesma época também foram importadas as espécies
Diachasmimorpha tryoni (Cameron) e Psyttalia fletcheri (Silvestri) (Hymenoptera: Braconidae),
que nunca se estabeleceram no Brasil (Fonseca & Autuori 1940).
Em 1994, a Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, Bahia, importou a segunda
espécieexótica introduzida no Brasil, D. longicaudata (Carvalho & Lara 1995) e, desde então, tem
sido criado com sucesso sobre os hospedeiros alternativos C. capitata e A. fraterculus. Estudos mais
recentestêm mostrado que sua multiplicação sobre larvas de A. fraterculus resulta em parasitoides
com ovipositores de 2 a 3 mm maiores e aumenta a progênie de fêmeas (Costa et al 2008), o que
é extremamente desejável, pois o "ingrediente ativo" do CB com parasitoides é a fêmea e, quanto
maior a sua produção numa biofábrica, melhor o custo/benefício para a aplicação do programa de
CB (Paranhos et al 2008).
Esta espécie foi liberada no estado de São Paulo em pomares de citros (Citrus spp.) e café (Cof-
fea arabica L.), sendo que nesta última cultura foi registrado um parasitismo em C. capitata de
19,8%(Walder 1997). Nestas regiões tem sido observado seu estabelecimento onde se tornou uma
dasespécies predominantes, apesar de não causar perda na biodiversidade ou extinção de espécies
nativas de parasitoides (Walder et al 2004).
Entre 1997 e 1998 foram liberados na região do Oiapoque, Amapá, cerca de 2 milhões (36,6L
de pupas parasitadas) de D. longicaudata (Walder et al 1995) para tentar conter a dispersão da
mosca-da-carambola, B. carambolae (Carvalho & Nascimento 2002), que havia sido recentemente
introduzida no Brasil (Brasil 2018), entretanto, não houve registros de estabelecimento (Carvalho
& Nascimento 2002). Na região do Recôncavo Baiano, onde foram feitas liberações inoculativas, D.
longicaudata foi recuperado 17 meses após a suspensão das liberações, em julho de 1996 (Carvalho
2005).Entretanto, durante levantamento realizado em 2004 e 2005 não se coletou nenhum espéci-
me do parasitoide exótico.
Liberações sucessivas de D. longicaudata em pomares comerciais de goiaba na região norte
de Minas Gerais mostraram que esta espécie exótica conseguiu completar o ciclo naquela região
semiárida sem afetar a população de parasitoides nativos (Alvarenga et al 2005). No período de
2011 a 2013 foi realizado um estudo de liberação no Rio Grande do Sul (Meireles et al 2016), em
pomares de nêspera [Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl.], pêssego [Prunus persica (L.) Batsch] e
araçá (Psidium cattleianum Afzel. ex Sabine) no segundo ano, onde se registrou um parasitismo de
moscas-das-frutas de 9,2, 21,2 e 15,4%, respectivamente, sendo que D. longicaudata foi o principal
agente de parasitismo, responsável por 99,1,94,0 e 88,5%, respectivamente. Esta espécie tem sido
usada com sucesso em vários países, como Estados Unidos, México, Espanha, entre outros. En-
tretanto, um grande obstáculo aos parasitoides de larvas é o tamanho dos frutos, já que em frutos
com polpa mais espessa os mesmos não podem alcançar as larvas com seus ovipositores (Sivinski
1991).Neste caso, um parasitoide de ovos poderia levar vantagens sobre os outros, já que os ovos
de tefritídeos sempre são colocados imediatamente sob o epicarpo (casca) (Wang et aI 2003).
A terceira introdução de um parasitoide exótico no Brasil foi realizada pela Embrapa Ama-
pá, em 2012, que importou F. arisanus proveniente do United States Department of Agriculture
(USDA), Pacific Basin Agricultural Research Center (PBARC), Hilo-Hawaii (Paranhos et aI2019),
para o controle de B. carambolae, presente nos estados do Amapá, Pará e Roraima (Brasil 2018).
Após passarem pelo processo de quarentena no Laboratório de Quarentena "Costa Lima" da Em-
brapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, SP,os parasitoides foram encaminhados à Embrapa Semiá-
393 ••••••••
rido, em Petrolina, PE, para multiplicação sobre C. capitata como hospedeiro alternativo. No final
de 2015 foi iniciada uma criação de F. arisanus em B. caramboIae na Embrapa Amapá, a partir de
remessas de pupários de C. capitata irradiados, oriundos da Embrapa Semiárido. Atualmente o
parasitoide está sendo multiplicado sobre B. caramboIae na Embrapa Amapá para a realização de
estudos de bioecologia e possível liberação em campo (Bariani et al 2019).
Entomopatógenos
A aplicação de micro-organismos entomopatogênicos pode ser uma estratégia viável para o con-
trole de moscas-das-frutas, mas ainda não foi realizada em larga escala em condições de campo.
Há poucos estudos com o uso de vírus e bactérias, mas a avaliação da aplicação de fungos entorno-
patogênicos e de nematoides já apresentou resultados que permitem a sua inserção nos programas
de manejo integrado das moscas-das-frutas. Em todos os casos, a aplicação de iscas tóxicas com
atrativo alimentar associado ao entomopatógeno é a estratégia mais viável. Outras alternativas po-
dem ser aplicadas em casos específicos, como os nematoides e os fungos entomopatogênicos, que
podem atingir as pupas ainda no solo.
Vírus
Há poucos estudos realizados com infecções virais em moscas-das-frutas, mas esses estudos
mostraram a ocorrência das famílias Iflaviviridae, Reoviridae e Noraviridae como relatado em
B. oIeae Rossi na Grécia (Manousis et al 1986, Anagnou- Veroniki et aI 1997), contudo de baixa
agressividade. Um vírus causador de inclusões citoplasmáticas foi identificado na década de 1970
e outro, causador de poliedrose citoplasmática (CPV) (Picornavirales: Iflaviviridae), foi identi-
ficado em células do epitélio intestinal de larvas de B. tryoni (Froggatt) na Austrália (Moussa
1975, Bashiruddin et aI 1988). No caso de C. capitata, os primeiros relatos de infecções virais em
criação massal e campo ocorreram na década de 1980 (Plus et al 1981). Mais recentemente, Llo-
pis-Giménez et aI (2017) detectaram a presença de três picornavirus em linhagens industriais de
C. capitata ao redor do mundo, dois iflavivirus (CcaIV1 e CcaIV2) e um noravirus (CcaNV). Esses
vírus apresentaram baixa letalidade aos machos estéreis de diferentes linhagens, no entanto altas
concentrações de CcaNV reduziram a 10ngevidade dos insetos.
A ausência de vírus de alta letalidade levou à prospecção de espécies virulentas em outras ordens de
insetos. Estudos iniciais conduzidos na Europa levaram à identificação de um picornavírus causador de
paralisia em grilo (cricket paralysis vírus - CrPV) que, quando inserido em dieta de adultos de B. oIeae,
causou mortalidade de 80% com tempo letal a 50% dos insetos (TLso)de 5 dias (Manousis & Moore
1987,Manousis et al 1988). De forma geral, o uso de vírus no controle biológico de insetos tem ganhado
impulso apenas nos últimos anos (Lacey 2017) e os estudos para a obtenção de vírus em moscas-das-
-frutas e sua produção industrial ainda são iniciais e não encontram uso em condições de campo.
Bactérias
O principal grupo de bactérias entomopatogênicas em uso comercial são espécies do gênero
Bacillus (Bacillales: Bacillaceae), normalmente encontradas no solo e capazes de produzir to-
xinas com ação inseticida. Bacillus thuringiensis (Berliner) - Bt - é uma bactéria gram posi-
395 •••••••••.
Fungos
Os fungos entomopatogênicos são os agentes de controle microbiano aplicados contra o maior
número de espécies de artrópodes pragas. Eles são responsáveis por cerca de 80% das doenças
em insetos, com ocorrências enzoóticas e epizoóticas, com importante papel regulador de po-
pulações nos ecossistemas naturais. Ao contrário dos demais entomopatógenos, os fungos são
os únicos capazes de penetrar diretamente no tegumento dos insetos utilizando um complexo
enzimático que envolve proteases e quitinases (Mascarin et aI2018). Vários isolados de Metarhi-
zium anisopliae (Metschnikoff) Sorokin (Ascomicotina: Claviceptaceae) e Beauveria bassiana
(Bals.) Vuillemin (Ascomicotina: Cordyceptaceae) tem apresentado potencial para o controle de
adultos ou larvas de várias espécies de moscas-das-frutas (Quesada-Moraga et ai 2006, Almeida
et al 2007, Ortu et al 2009).
A aplicação de fungos entomopatogênicos em isca tóxica ou em dispositivos de dispersão utili-
zando paraferomônio ou atrativo alimentar, pode ser uma estratégia viável para o controle de adultos
que adentrern às áreas de cultivo antes que ocorra a oviposição, ou em áreas de vegetação nativa. Esta
abordagem do uso de fungos entomopatogênicos pode ter seu efeito potencializado já que podem ser
dispersos dentro das populações alvo pelos próprios indivíduos - transferência horizontal (Scholte et
al 2004). Os insetos atraídos às iscas contendo o inóculo do patógeno poderão disserniná-los dentro
da população através de interações sociais como o leck, a cópula, montas homossexuais e recópula
(Dimbi 2003, Maniania et al 2006, Quesada-Moraga et al 2008, Dimbi et al 2009).
Nos estudos realizados na Embrapa Semiárido, localizada em Petrolina, Pernambuco, formula-
ções de M. anisopliae e B. bassiana virulentos a adultos de C. capitata aplicadas misturadas a uma
solução de atrativo alimentar resultou em mortalidade de até 80% entre fêmeas e machos, indistin-
tamente, e mostraram a ocorrência de transferência horizontal de propágulos infectivos dentro da
população (Leal et a12018). Resultados similares obtidos também no México confirmaram a hipó-
tese de que a transferência horizontal pode aumentar a eficiência de controle dos fungos aplicados
como iscas tóxicas (Fig. 1) (San Andrés et al 2014, Navarro-Llopis et a12015). No entanto, devido
à suscetibilidade destes fungos às condições climáticas, sua utilização deve ser preferencialmente
realizada com formulações em óleo com cepas conhecidamente virulentas que apresentam maior
proteção contra a dessecação e radiação UV (Gava et a12012).
Figura 2. Bactrocera
carambolae infectada
por Metarhizium
anisopliae, isolado
CPAF-AP 3.8. (foto
Adilson Lopes Lima)
Nas condições de cultivo irrigado no Vale do São Francisco, a aplicação ao solo de cepas vi-
rulentas de B. bassiana e M. anisopliae resultaram em mortalidade de C. capitata superior a 70%.
Quando os fungos são aplicados ao solo os insetos podem ser infectados durante a penetração no
solo, antes da formação de pupas - com mortalidade de pupas (Fig. 3C, Fig. 4); durante a fase de
pupas - com mortalidade tanto de pupas quanto de insetos recém-emergidos, identificados como
insetos doentes e incapazes de alçar vôo e cadáveres ainda dentro da massa do solo; mortalidade
em insetos adultos, 3 a 10 dias após a emergência, com exteriorização dos fungos, indicando a in-
397 ••••••••
fecção durante o seu deslocamento para a superfície do solo. Experimentos em colunas contendo
solo não estéril resultaram em mortalidade de 63%, com efeito residual de 35-40 dias (Gava et aI
2021). Resultados similares foram obtidos por Cossentine et al (2011), com a incorporação de
conídios de M. brunneum no solo para o controle de RhagoIetis indifferens Curran. Os resultados
mostraram diferença de eficiência entre as cepas utilizadas indicando a necessidade de avaliações
específicas para as espécies de moscas-das- frutas e condições edafodimáticas.
Figura 3. Ação de iscas tóxicas em Ceratitis capitata. A) mosca morta após ingestão de Metarhizium anisopliae LCB255; B)
moscas mortas após ingestão de de Beauveria bassiana LCB289 (B); C) pupários de C. capitata colonizados no solo tratado com
formulação aquosa de B. bassiana LCB289. (fotos: Carlos Gava)
90
80
70
60
*Q)
-o 50 Figura 4. Mortalidade
eu de Ceratitis capitata
-o
eu 40 em diferentes fases de
t desenvolvimento em
o
~ 30 resposta à aplicação
de formulação solúvel
20
em água de conídios de
10 isolados de 8eauveria
bassiana ao solo, durante
O a irrigação por aspersão.
Bb LCB52 Bb LCB53 Bb LCB56 Bb LCB62 Bb LCB66 Bb LCB81
Nematoides
Os nematoides entomopatogênicos (NEPs) vivem no solo e a maioria das espécies estudadas per-
tencem aos gêneros Steinernema (Rhabditida: Steinernematidae) e Heterorhabditis (Rhabditida:
Heterorhabditidae) que, em contato com insetos, são capazes de penetrar principalmente por aber-
turas naturais (Shapiro-Ilan et al 2017). Uma vez dentro da cavidade corporal, introduzem bacté-
rias mutualísticas dos gêneros Xenorhabdus ou Photorhabdus que passam a colonizar a hemocele,
Predadores
O uso de predadores em programas de supressão populacional de moscas-das-frutas, pela falta
de especificidade, torna-se ineficiente (Carvalho et al 2000), embora em condições naturais
a predação represente o maior fator de mortalidade. Sugayama (2000) observou predação de
mais de 90% de pupas de A. fraterculus durante o período de frutificaçâo de Eugenia involucra-
ta De. e Acca sellowiana (O. Berg) Burret (Myrtaceae). Da mesma forma, Bressan-Nascimento
(2001), registrou durante a frutificação de Spondias dulcis Parkinson em condições de campo,
ação predatória acentuada em pupários de A. obliqua, quando o estado de diapausa desta es-
pécie foi prolongado.
Entre os principais insetos predadoras de moscas-das- frutas podem ser citados formigas, es-
tafilinídeos e carabídeos (Eskafi & Kolbe 1990, Sugayama 2000, Fernandes et al 2012), sendo as
formigas as mais importantes predadoras, conforme demonstrado por Aluja et al (2005), Orsini et
al (2007) e Fernandes et al (2012). Além de insetos, outros predadores, como aranhas, pássaros e
roedores, também podem contribuir para a predação de larvas, pupas e adultos de moscas-das-fru-
tas nos agroecossistemas (Sugayma 2000, Orsini et al 2007).
399 ••••••••
Controle biológico conservativo
401 •••••••
Uso de produtos fitossanitários seletivos
Atualmente o uso de agrotóxicos continua sendo a principal estratégia de manejo de moscas-das-
-frutas. As aplicações podem ser por cobertura total (todo pomar) ou por uso de iscas tóxicas
(parte do pomar), sendo esta última forma a que proporciona menos riscos de resíduos e que causa
menor impacto ao ambiente e à comunidade de insetos benéficos como abelhas, parasitoides e
predadores (Nava & Botton 2010). Entretanto, para ambos os sistemas de aplicação de inseticidas
devem ser utilizados produtos com seletividade aos insetos benéficos.
Em estudo para avaliar a seletividade de contato de inseticidas e o efeito sobre o parasitismo
de D. longicaudata em A. fraterculus, Scheunemann et al (2016) determinaram que os insetici-
das Dipel WP [Bacillus thuringiensis, varo kurstaki (0,1)], Match EC [lufenurom (0,1)], Dimilin
[diflubenzurom (0,025)] e Altacor [clorantraniliprole (0,014)] foram classificados como inócuos
(Classe 1). O inseticida Mospilan [acetamiprido (0,04)] foi classificado como moderadamente
nocivo (Classe 3) e o Imidan 500 WP [fosmete (0,2)], Perfekthion [dimetoato (0,08)], Sumithion
500 EC [fenitrotiona (0,2)], Supracid 400 EC [metidationa (0,1)], Suprathion 400 EC [metidatio-
na (0,1)], Tracer [espinosade (0,015)], Decis 25 EC [deltametrina (0,04)] e Malathion 1000 EC
[malationa (0,2)] foram classificados como nocivos (Classe 4), segundo a classificação estabele-
cida pela "Internati nal Organization for Biological and Integrated Control ofNoxious AnimaIs
and Plants" (IOBC).
Em outro estudo, Bernardi et al (2019) avaliaram o efeito de iscas tóxicas empregadas por meio
de ingestão para o controle de C. capitata sobre D. longicaudata. Os atrativos alimentares Ana-
med", Biofruit, Cera'Irap", Flyral", Isca Samaritá", Isca Samaritá Tradicional" e melaço de cana-
-de-açúcar em mistura com o inseticida organofosforado [malathion l.0 grama de ingrediente ati-
vo (g.í.a.l.Lvl ] e a formulação comercial Gelsura" na proporção de 1:2 e 2:1 (v/v) (água e produto
comercial, respectivamente), apresentaram elevada toxicidade sobre "adultos de D. longicaudata
(mortalidade> 90%), 96 Horas Após Exposição (HAE), sendo classificadas como nocivas (Classe
4). Da mesma forma, a Isca Samaritá Tradicional" e melaço de cana-de-açúcar em formulações
com inseticidas espinosade e espinetoram (0.096 g a.i, L-I) foram moderamente nocivos (Classe 3).
Em contraste, os atrativos como Anamed", Biofruit, Cera'Irap", Flyral" e Isca Samaritá Tradicio-
nal" em combinação com o espinosade e espinetoram e a formulação Success" 0.02CBTM (spinosad
0.24 g a.i. L-I) foram classificadas como inócuas (mortalidade < 10%), até 96 HAE (Classe 1). Essas
formulações não apresentaram reduções na taxa de parasitismo e emergência de D. longicaudata
na geração FIem larvas de C. capitata, demonstrando tIue as formulações de iscas tóxicas à base
de espinosinas são adequadas para o uso combinado com o CB empregando D. longicaudata para
o manejo de C. cap ita ta.
403 ••••••••
da espécie sobre a qual foi criada e mesmo na presença das duas espécies de moscas-das-frutas (Sá
et aI2018). Este comportamento indica que este braconídeo, além de eficiente no controle, é capaz
de suprimi-Ias onde ambas as espécies coexistem.
Dispersão
A dispersão pode ser usada para designar a difusão e migração dos indivíduos de uma população,
ou pode ser relacionada com a distribuição espacial dos indivíduos de uma população em um
dado momento (Dobzhansky 1973, Kareiva 1983, Turchin 1998). O conhecimento da capacidade
de dispersão de parasitoides é uma ferramenta importante na determinação do número de pontos
de liberação e, consequentemente, na elaboração de metodologias que viabilizem a eficiência deste
grupo de insetos no campo, principalmente em liberações inundativas. A determinação do número
de pontos de liberação por unidade de área possui papel fundamental na adoção do programa de
liberação de um agente de controle biológico, uma vez que os custos de liberação estão diretamente
relacionados a este número (Zachrisson & Parra 1998).
O processo de busca realizado pelo parasitoide no campo é dividido em quatro fases: a loca-
lização do habitat do hospedeiro, a localização do hospedeiro propriamente dito, a aceitação do
hospedeiro e o parasitismo (Vinson 1985). As características intrínsecas de cada cultura, em fun-
ção da condição microclimática criada por ela mesma, podem afetar essa capacidade de busca, pela
variação da temperatura em cada condição (Biever 1972). Diferentes distâncias entre pontos de li-
beração podem resultar em variação na taxa de parasitismo numa cultura, como consequência das
características biológicas do parasitoide, por exemplo, a sua capacidade de voo e/ou as caracterís-
ticas inerentes à própria cultura, que pode funcionar como uma barreira fí ica, dificultando a dis-
persão dos parasitoides. Portanto, estas variações dependem tanto do tipo e do desenvolvimento da
cultura estudada quanto das características biológicas do parasitoide escolhido (Bueno et aI2012).
Paranhos et al (2007) avaliaram os padrões de dispersão de D. longicaudata em citrus no inte-
rior de São Paulo e verificaram que os parasitoides chegaram a uma distância de 40 m, dispersan-
do-se mais durante o verão do que no inverno. Em liberação da mesma espécie realizada em pomar
de goiaba na região norte do estado do Rio de Janeiro, Leal et ai (2008) observaram a visitação
de fêmeas do parasitoide em unidades de parasitismo dispostas a 20 m de distância, após 24 h da
liberação. Camargos et ai (2016) avaliaram a dispersão de D. longicaudata criado no hospedeiro
C. capitata em cafezal irrigado nos meses de dezembro a abril, na região norte de Minas Gerais. O
clima do local é considerado semiárido com temperatura média de 25°C. A distância média, 24 h
após a liberação, foi de 35,2 m e a área média de dispersão de 1.899,3 m".
Camargos et ai (2018) avaliaram se a criação de D. longicaudata sobre larvas hospedeiras de
diferentes espécies influencia na sua capacidade de dispersão e no parasitismo de larvas de C. capi-
tata e de A. fraterculus, quando liberado em um pomar de goiabeiras irrigadas na região semiárida.
Os autores concluíram que os parasitoides criados em A. fraterculus foram mais eficientes, já que
405 ••••••••
resultou em altos índices de parasitismo a maiores distâncias e os parasitoides foram capazes de
permanecer por mais tempo no pomar de goiaba. Além disso, o parasitoide da linhagem Anastre-
pha atingiu uma área de dispersão média de 27.300 m", o que levou os autores a recomendarem
para uma área de goiaba a liberação de 3.000 parasitoides a cada 2,7 ha (""1.000 parasitoides/ha).
Os parasitoides braconídeos podem orientar-se para o habitat de seus hospedeiros, guiados
por substâncias químicas voláteis liberadas diretamente pelas plantas ou pelas estruturas atacadas,
como resultado direto ou indireto da atividade de alimentação do hospedeiro (Turlings et al 1993,
Segura et a! 2012) e/ou por substâncias voláteis que atraem o parasitoide ao habitat do hospedeiro
(Vinson 1976, Segura et al 2012).
Um composto específico liberado por larvas de várias espécies de Tephritidae é capaz de au-
mentar a capacidade de busca de D. longicaudata por hospedeiros a curtas distâncias (Stuhl et al
2011). Além disso, fêmeas dessa espécie podem usar sinais químicos produzidos tanto pelo habitat
quanto pelas larvas hospedeiras durante a busca pelo hospedeiro (Segura et al 2012). No entanto,
o que se tem de informações sobre estes voláteis e sua função são ainda resultados de laborató-
rio. Apesar de D. longicaudata ser amplamente estudado, inclusive com relação aos voláteis que o
atraem para o hospedeiro, conhecimentos adicionais devem ser obtidos em condições de campo,
como por exemplo, se a eficiência de D. Iongicaudata pode ser aumentada utilizando-se tais voláteis
como forma de aumentar sua capacidade de busca e, desta forma, se dispersar mais eficientemente.
Além dos voláteis, os parasitoides podem também ser influenciados pela arquitetura das plan-
tas do pomar onde eles são liberados. Oliveira (2019) avaliou o padrão de dispersão de fêmeas
de D. Iongicaudata liberadas em pomares de manga e acerola no semiárido em Pernambuco. Foi
constatado que no pomar de manga as fêmeas se dispersaram para todos os lados, sem seguir uma
direção específica, enquanto as que foram liberadas em pomar de acerola tiveram uma dispersão
mais direcionada. O maior espaçamento entre plantas no pomar de manga permitiu que os para-
sitoides seguissem o sentido das linhas de plantio e entre as plantas, se dispersando de forma mais
homogênea, porém em menores distâncias, já que o maior espaçamento pode ter influenciado o
microclima no interior da área, afetando a dispersão. Já no pomar de acerola o menor espaçamento
entre as plantas serviu de barreira física ao inseto, levando a uma dispersão mais direcionada, mas
ao mesmo tempo não impediu que os parasitoides voassem para distâncias maiores, provavelmente
devido ao microclima mais favorável no pomar.
Competição interespecífica
Quando são usadas mais de uma espécie de parasitoide para se controlar uma determinada praga,
devem ser observados os efeitos da competição entre essas espécies, pois em alguns casos, uma
pode se sobrepor a outraís), não resultando em efeito benéfico adicional. Dessa forma, deve-se
preconizar que o uso de mais de uma espécie objetiva aumentar a eficácia de controle.
No superparasitismo pode ocorrer uma competição intraespecífica entre indivíduos da mesma
espécie - e no múltiplo parasitismo, a heteroespecífica - entre indivíduos de espécies diferentes.
O superparasitismo pode ter efeitos benéficos para algumas espécies, como D. longicaudata, pois
aumenta o número de fêmeas na progênie, já que provavelmente estas são mais resistentes na com-
petição com o sexo oposto (Montoya et al 2012). No múltiplo parasitismo, as diferentes espécies
podem competir igualmente ou uma pode se sobrepor à outra. No segundo caso, quando a espécie
menos competitiva é nativa, ela pode ter meios de se manter naquele ambiente, buscando um rni-
407 •••••••.
fortes competidores, tendo D. longicaudata a desvantagem de parasitar o hospedeiro em fases
mais avançadas (larvas de 30 instar) comparado ao parasitoide de ovos, F. arisanus (Paranhos
et al 2013). Entretanto, dependendo da fruta que é infestada por C. capitata, eles podem ser
mais ou menos eficientes no parasitismo e podem afetar negativamente ou não seu heteroes-
pecífico. Em acerolas, por exemplo, F. arisanus teve sua eficiência diminuída na competição
com o heteroespecífico, neste caso, indica-se o uso de apenas D. longicaudata para controlar
esta praga (Coelho et aI2016).
Considerações finais
A escolha dos agentes biológicos que poderão compor um programa de CB para as moscas-das-
-frutas deve levar em conta vários fatores, como: a eficiência sobre a espécie alvo e seu fruto hos-
pedeiro, a facilidade de multiplicação em criação mas sal, a capacidade de busca, sobrevivência e
dispersão no ambiente natural, condições climáticas, além dos efeitos de competição interespecífi-
ca, de modo que não afete os inimigos naturais já presentes no habitat. Estes podem ser entomopa-
tógenos, parasitoides nativos, exóticos ou ambos. Se possível, devem ser usados mais de um agente,
e de preferência um para cada estágio de desenvolvimento do inseto. Entretanto, suas ações devem
ser complementares e sinérgicas, para que aumente a eficiência de controle.
Ressalta-se que o CB é apenas uma das ferramentas para serem usadas no manejo integrado e,
entre essas, o controle cultural, que é a limpeza dos pomares e a destruição dos frutos infestados,
é altamente recomendável. Em algumas condições, pode-se também recorrer ao controle químico,
de modo a evitar que o fruticultor tenha grandes prejuízos e, neste caso, os inseticidas escolhidos
devem levar em conta sua eficiência, seletividade aos inimigos naturais, persistência no meio am-
biente e resíduos nos frutos (LMR). A utilização de iscas tóxicas deve ser a alternativa à aplicação
de cobertura e, para essa finalidade, inseticidas que agem por ingestão são mais seletivos às espécies
não alvo (parasitoides e predadores).
O CB conservativo é muito importante em todos os casos, para que seja aumentado o leque
de agentes biológico no controle daís) praga(s), principalmente em espécies de moscas-das-fru-
tas nativas, como as do gênero Anastrepha, que ocorrem nas matas nativas, adjacentes às planta-
ções comerciais.
É possível a associação de parasitoides com entomopatógenos, por exemplo, usando-se para-
sitoides de ovos, de larvas e entomopatógenos para as..fases de pupa e adultos. A técnica do inseto
estéril (TIE), tem sido usada com muito sucesso em associação com o CB em vários países.
De uma maneia geral, no planejamento de um programa de CB, recomendam-se os seguintes passos:
1. Levantamento de frutíferas hospedeiras comerciais e nas matas adjacentes;
2. Identificação das principais espécies de moscas que estão causando danos;
3. Levantamento dos inimigos naturais na área de tratamento;
4. Monitoramento e coleta de frutos para verificar a flutuação e a densidade populacional da
espécie-alvo ao longo do ano;
5. Elencar os agentes biológicos mais promissores a serem utilizados, locais ou exóticos;
6. Verificar a eficiência no controle, associado ou não a outros agentes;
7. Verificar a viabilidade econômica e ecológica do CB conservativo ou a possibilidade técnica
e financeira de se multiplicar um ou mais agentes em biofábricas;
8. Determinar o período de emprego dos agentes biológicos, a área tratada e a densidade de
409 •••••••••
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