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Primeiro registro no Brasil de Erythrina velutina Willd. como hospedeira de

Tetranychus neocaledonicus (Acari: Tetranychidae)

Article in Revista Brasileira de Plantas Medicinais · October 2010

DOI: 10.1590/S1516-05722010000300017

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7 authors, including:

Julio Poderoso Genésio Ribeiro

Universidade Federal de Viçosa (UFV) Universidade Federal de Sergipe
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Denise Navia Luís Carlos Gonçalves

Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
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398 NOTA PRÉVIA

Primeiro registro no Brasil de Erythrina velutina Willd. como hospedeira de

Tetranychus neocaledonicus (Acari: Tetranychidae)

PODEROSO, J.C.M. 1*; RIBEIRO, G.T. 1; NÁVIA, D. 2; PASSOS, E.M. 3; GONÇALVES G.B. 1; CORREIA-
OLIVEIRA, M.E.1; DANTAS, P.C.1
1
Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Engenharia Agronômica, Av. Marechal Rondon, s/n, CEP:
49100-000, São Cristóvão-Brasil *juliopoderoso@yahoo.com.br 2 EMBRAPA/ Recursos Genéticos e
Biotecnologia, Caixa Postal 02372, CEP: 70770-900, Brasília-Brasil 3 Departamento de Engenharia Agronômica,
Fitossanidade, Área Entomologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros,
s/n, Dois Irmãos, CEP: 52171-900, Recife-Brasil

RESUMO: Os ácaros tetraniquídeos representam importantes pragas para diversas culturas

agrícolas em todo o mundo. Durante a prospecção em mudas de Erytrina velutina no distrito de
São Cristovão, Estado de Sergipe, Brasil, a ocorrência destes foi observada em 15% das mudas
que foram levadas ao laboratório para a caracterização dos danos. As mudas apresentavam
sintomas de redução e encarquilhamento do limbo. Foram coletados 100 indivíduos destas plantas,
os quais foram montados em lâminas de microscopia para a identificação taxonômica. Os ácaros
foram identificados como pertencentes à espécie Tetranychus neocaledonicus (Acari:
Tetranychidae). Este é o primeiro relato em E. velutina, como hospedeira para T. neocaledonicus
no Brasil.

Palavras-chave: ácaro vermelho, praga florestal, viveiro

ABSTRACT: First Brazilian report of Erythrina velutina Willd. as host of Tetranychus

neocaledonicus (Acari: Tetranychidae). Spider mites are important pests to several crops
worldwide. During prospecting in Erytrina velutina specimens from São Cristovão District, Sergipe
State, Brazil, their occurrence was observed in 15% seedlings, which were taken to the laboratory
for description of damages. The seedlings presented leaf blade reduction and crumpling symptoms.
One hundred mites were collected from these seedlings and mounted on microscope slides for
taxonomic identification. The identified mites belonged to the species Tetranychus neocaledonicus
(Acari: Tetranychidae). This is the first report of E. velutina as host for T. neocaledonicus in Brazil.

Key words: spider mites, forest pest, nursery

O gênero Erythrina (Família Fabaceae) é traquilizante. Estudos farmacológicos realizados em

largamente conhecido, com ocorrência nas regiões diferentes laboratórios brasileiros têm demonstrado
tropicais e sub-tropicais do mundo. Possui cerca de atividades antinociceptiva, ansiolítica/sedativa,
110 espécies, das quais 70 são nativas da América relaxante muscular e antibacteriana de extratos de
(Vasconcelos et al., 2003). Erythrina velutina (Marchioro et al., 2005; Dantas et
As plantas do gênero Erythrina são al., 2004; Vasconcelos et al., 2004; Virtuoso et al.,
conhecidas por produzirem alcalóides, flavonóides, 2005; Santos et al., 2007).
isoflavonóides e outras substâncias. Segundo Amer O mulungu, Erythrina velutina W illd.
et al., (1991), essas plantas representam a principal (Leguminosae: Papilionoidae), é árvore brasileira
fonte de alcalóides tetracíclicos, possuindo atividade de grande porte, comum na caatinga, com
semelhante ao curare (um poderoso veneno) que potencial para exploração medicinal e florestal.
causa paralisia muscular (Decker et al., 1995). Essa espécie é originária do nordeste brasileiro e
Destacam-se entre as plantas medicinais, pelos floresce na primavera podendo chegar a 12 metros
efeitos no sistema nervoso central e a utilização como de altura (Lorenzi, 1992; Neill, 1988). E. velutina

Recebido para publicação em 30/10/2008

Aceito para publicação em 15/05/2010

Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.3, p.398-401, 2010.

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apresenta bom desenvolvimento no campo, sendo Foram preparadas lâminas de machos e

comum a utilização em programas de recuperação fêmeas, separadamente, sendo as fêmeas montadas
de áreas degradadas. A madeira leve pode ser em grupos de cinco, em posição dorso ventral, e os
utilizada na confecção de tamancos, jangadas e machos isoladamente, em posição lateral.
palitos de fósforo. Além disso, frequentemente é A identificação foi realizada em microscópio
utilizada como mourões de cerca, pela facilidade de contraste de fase e as estruturas de maior
de plantio por estacas (Lima, 1989). importância taxonômica fotografadas, com um
Na medicina popular E. velutina é conhecida sistema de captura de imagens, composto por câmara
pela ação sudorípara e sedativa (Rabelo, 2001). A digital acoplada ao microscópio e ao microcomputador.
infusão das cascas é empregada como calmante e Dentre as estruturas fotografadas pode-se citar o
sedativo para tosses e bronquites, bem como para eupatídio do tarso da fêmea e o edeago do macho.
tratamento de verminoses e hemorróidas. E o decocto Com o eupatídio do tarso, as fêmeas tecem teia e a
é utilizado para acelerar a maturação de abscessos proporção entre largura e o comprimento dessa
gengivais (Lorenzi & Matos, 2002). estrutura é de grande importância para a identificação
O presente trabalho teve como objetivo de espécies de Tetranychus. De modo semelhante,
inspecionar mensalmente as mudas de mulungu, cada espécie da família apresenta o edeago com
identificar possíveis pragas e caracterizar os danos forma diferente, por isso essa característica é também
causados por estas. As mudas foram produzidas no de extrema importância taxonômica (Figura1).
viveiro de espécies florestais nativas da Universidade No início da infestação as folhas apresentaram
Federal de Sergipe, foi feito isolamento das mudas pontos cloróticos e, posteriormente, encarquilhamento
danificadas e o agente dos danos. (Figura 2). Plantas com alta infestação apresentaram
As mudas de mulungu foram inspecionadas desfolha. Aproximadamente 15% das mudas de
mensalmente, ao longo de um ano de avaliação, no mulungu de 415 plantas estavam infestadas. Os
viveiro de espécies florestais nativas da Universidade ácaros foram identificados como Tetranychus
Federal de Sergipe, em São Cristovão (10º 55’ 50" S, neocaledonicus André, 1933 (Tetranychidae).
37º 06’ 18" W), Sergipe. E em janeiro de 2005, verificou- Os ácaros de coloração vermelha carmim
se a presença de ácaros em mudas de mulungu. na região lateral do corpo e alaranjados na região

FIGURA 1. Micrografias de Tetranychus neocaledonicus. (A) aspecto geral de fêmea; (B) tarso I de fêmea com um
par de setas duplex; (C) detalhe do edeago (macho); (D) região genital da fêmea.

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A B

FIGURA 2. Folhas de mulungu: A. sem os ácaros; B. infestadas e com sintoma de encarquilhamento.

e frutíferas. Este é o primeiro relato de mulungu como

hospedeira de T. neocaledonicus; entretanto, três
outras espécies do gênero - E. cristagalli L., E.
cubensis C. Wright e E. fusca Lour - já haviam sido
relatadas como hospedeiras desse mesmo ácaro
(Flechtmann, 1970). Apesar da ampla gama de
hospedeiros conhecidos desta espécie de ácaro
dentre as espécies produzidas no viveiro florestal da
UFS onde se encontrav am Enterolobium
contortisiliquum Vell. Morong. (Leguminosae-
Mimosoideae), Inga uruguensis Hook & Arn.
(Fabaceae), Lonchocarpus sericeus (Poir.) Kunth
(Fabaceae) Sapindus saponaria L. (Sapindaceae),
Caesalpinia echinata Lam. (Leguminosae), Caesalpinia
férrea L. (Leguminosae), Tapirira guianensis Aubl.
FIGURA 3. Detalhe do ovo e do ácaro do mulungu (Anacardiaceae), Schinus terebinthifolius Raddi.
(Erythrina velutina). (Anacardiaceae), Cassia grandis L.f. (Leguminosae)
apenas em mudas de E. velutina foram encontrados
dorso-central, formavam colônias na superfície inferior ácaros.
das folhas, onde produziam grande quantidade de Uma hipótese que pode justificar a ocorrência
teias e depositaram ovos amarelos globosos (Figura desses ácaros fitófagos em viveiro é a redução de
3). inimigos naturais, principalmente os ácaros predadores,
Os Tetranychidae são uma importante família fato que pode ser atribuído à aplicação incorreta de
de ácaros perte centes a ordem Prostigmata, que inseticidas, fungicidas cúpricos e acaricidas.
engloba algumas espécies que causam perdas Condições climáticas favoráveis aos ácaros fitófagos
significativas tanto em cultivos agrícolas como em e adubações de nitrogênio inadequadas para a planta
plantas ornamentais. Estes organismos possuem também podem favorecer direta e indiretamente a
desenvolvimento rápido, fácil dispersão e colonização explosão populacional desses ácaros (Flechtmann,
devido a numerosa população (Bonato & Gutierrez, 1983).
1999; Othman & Zhang, 2003). A espécie T. Os danos causados por T. neocaledonicus
neocaledonicus foi inicialm ente descrita em observados nesta pesquisa, evidenciam a necessidade
algodoeiros de Nova Caledônia (Oceania) e de estudos na área florestal, visando o manejo desse
atualmente é relatada em cerca de 430 hospedeiros, ácaro. Além disso, os conhecimentos sobre a ação
com ampla distribuição geográfica em áreas seletiva ou tóxica dos agrotóxicos usados no controle
tropicais e subtropicais do mundo, sendo também de pragas no viveiro de mudas nativas da Universidade
considerada uma im portante praga em cultivos na Federal de Sergipe devem ser sempre revisados, a fim
Índia (Goff, 1986; Bonato & Gutierrez, 1999). No de optar-se por práticas de manejo que favoreçam a
Brasil é de comum ocorrência em algodão e preservação e atuação de artrópodes benéficos,
mamona, sobretudo no Nordeste. Porém, também realizando assim um possível controle biológico. Por
tem sido relatada em diversas plantas ornamentais tratar-se de espécie nativa, com grande aplicação na
área medicinal, é importante a rápida detecção de

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novas pragas que possam ameaçar o cultivo. LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no
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Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.3, p.398-401, 2010.

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