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COMUNICADOTECNICO-58 Melancia

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Identificação e manejo de doenças fúngicas da melancia

Technical Report · June 2019

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4 authors:

Daniel Terao Kátia Nechet


Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
60 PUBLICATIONS   308 CITATIONS    123 PUBLICATIONS   576 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Bernardo A. Halfeld-Vieira Rita de Cpasia Souza Dias


Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
124 PUBLICATIONS   889 CITATIONS    49 PUBLICATIONS   336 CITATIONS   

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Prospecting phytopathogenic fungi to the biological control of Ipomoea spp.(morninglories) View project

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ISSN 1516-8638
Foto: Ailton Reis

OBJETIVOS
DE
DESENVOLVIM
ENTO
SUSTENTÁVE
L

COMUNICADO
TÉCNICO
Identificação e manejo
58 de doenças fúngicas da
melancia
Jaguariúna, SP
Junho, 2019

Daniel Terao
Kátia de Lima Nechet
Bernardo de Almeida Halfeld-Vieira
Rita de Cássia Sousa Dias
2

Identificação e manejo de
doenças fúngicas da melancia1
1
Daniel Terao, Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente,
Jaguariúna, SP.

Kátia de Lima Nechet, Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Meio
Ambiente, Jaguariúna, SP.

Bernardo de Almeida Halfeld-Vieira, Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da
Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP.

Rita de Cássia Sousa Dias, Engenheira-agrônoma, doutora em Genética e Melhoramento Vegetal,
pesquisadora da Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.

A melancia (Citrullus lanatus (Thunb.) de plantio, da cultivar, da  utilização de


Matsum. & Nakai) é a quarta olerícola sementes sadias e da manutenção da
mais plantada no Brasil, com produção sanidade do local, através da eliminação
anual de aproximadamente 2 milhões de restos culturais e adoção da rotação
de toneladas, cultivada numa área de de culturas.
90 mil hectares, com valor estimado de
Nesse documento são apresentadas
produção de R$ 1.351.434 (Anuário...,
as principais doenças fúngicas que
2018).
afetam a cultura da melancia, com a
Por ser cultivada em diversas descrição de sintomas e ilustrações com
regiões do país, diferentes doenças fotografias para auxiliar na identificação
fúngicas ocorrem na cultura ao longo do agente causal e na diagnose correta
do ano, causando prejuízos à produção. da doença. Aspectos epidemiológicos
Algumas das doenças são comuns à que favorecem a sua ocorrência são
maioria das regiões produtoras e outras discutidos, e recomendações técnicas
mais específicas para determinadas de caráter prático são apresentadas
regiões, em função das condições visando a adoção de um manejo
edafoclimáticas, afetando com maior integrado eficiente das doenças.
severidade os locais com baixo nível
tecnológico, onde medidas de controle
adequadas não são utilizadas.
O manejo adequado dessas doenças
Tombamento
deve se iniciar pela correta diagnose para Agentes causais: Pythium spp.,
adoção de medidas preventivas, com Rhizoctonia solani, Stagonosporopsis
um planejamento adequado, que deve cucurbitacearum, Fusarium
começar pela escolha da área, da época spp. e Sclerotium rolfsii
3

O tombamento ocorre em plantas 1. Escolher a área de plantio, evitando


jovens de melancia, logo após a solos mal drenados e sujeitos a
germinação, e é causado por patógenos encharcamento.
de solo que atacam o colo da planta 2. Usar sementes certificadas.
na região do solo, e causa necrose e
3.  Fazer a rotação de cultura.
estrangulamento do tecido, provocando
a morte precoce, diminuindo a densidade
populacional da área, com prejuízos Oídio
diretos na produção.
Agente causal:  Podosphaera xanthii
Os fatores que favorecem a (Castagne) Braun & Shishkoff
ocorrência da doença são solos
Anteriormente, o oídio era atribuído
compactados com dificuldade de
ao agente causal Sphaerotheca fuliginea,
drenagem, o plantio continuado de
que foi dividida em duas outras espécies:
cucurbitáceas na mesma área, sem fazer Podosphaera xanthii e P. fusca (Braun et
a rotação de culturas e a semeadura al., 2001). Porém, segundo Naruzawa
profunda e adensada. et al. (2011), na cultura da melancia
A introdução do patógeno na área no Brasil ocorre apenas a espécie P.
pode ocorrer pelo uso de semente xanthii, na forma anamórfica (Oidium
sp.). É uma doença bastante comum,
não certificada e contaminada. A
favorecida por temperaturas elevadas e
disseminação ocorre pela movimentação
condições ambientais secas, como em
do solo contaminado e pela água, seja
regiões semiáridas, podendo reduzir a
de chuva ou de irrigação. produção e o período produtivo (Zitter et
Os sintomas podem ocorrer na al., 1996).
pré-emergência e após a emergência Os esporos do patógeno são
das plântulas, pelo escurecimento e facilmente disseminados pelo vento,
rápida deterioração dos tecidos do e germinam mesmo em ambiente
caulículo. Isto resulta em murcha, com baixa umidade. Chuvas pesadas
tombamento e morte das plântulas, que prejudicam o desenvolvimento do fungo,
é evidenciado no campo pela diminuição porque além de lavarem os esporos,
no stand de plantas na linha. Às vezes danificam suas estruturas reprodutivas
é erroneamente diagnosticado como e vegetativas (Pavan et al., 2016). O
má germinação das sementes, podendo patógeno sobrevive de uma estação de
acontecer em reboleiras devido à cultivo para outra em plantas daninhas
e outras cucurbitáceas (Kurozawa;
maior ocorrência do patógeno em
Pavan, 1997). O ciclo da doença é
determinados locais da lavoura.
bastante curto e em menos de uma
Medidas de controle: semana produz grande quantidade de
4

esporos na lesão, que são facilmente


dispersos para formar novas lesões,
e assim sucessivamente. Plantios
adensados dificultam a incidência solar,

Foto: Rita de Cássia S. Dias


aumentando a severidade da doença
(Zitter et al., 1996).
O fungo ataca toda a parte aérea
das plantas, porém as folhas são as
mais afetadas. No início da doença,
os sintomas começam como pontos e
pequenas áreas brancas, formadas de Figura 2. Sintoma de oídio causado pelo
estruturas reprodutivas e vegetativas fungo Podosphaera xanthii em plantio de
melancia.
do fungo. A área afetada vai,
gradativamente, crescendo de tamanho,
podendo tomar toda a área foliar pela As principais medidas de controle do
coalescência das manchas (Pavan et al., oídio são:
2016). Plantas atacadas perdem vigor e
1. Eliminar plantas voluntárias, como
causam a  deformação e o secamento plantas daninhas e restos de culturas de
dos ramos, bem como abortamento de outras cucurbitáceas.
frutos jovens e deformações nos frutos
2. Evitar plantios adensados com
mais desenvolvidos (Santos et al., 2011). sombreamento de folhas e que dificultam
(Figuras 1 e 2) as pulverizações.
3. Pulverizar com produtos registrados.
4. Escolher cultivares tolerantes.
          

Míldio
Foto: Rita de Cássia S. Dias

Agente causal:  Pseudoperonospora


cubensis (Berk, M.A. Curtis) Rostovzev
O míldio é uma doença importante
na cultura da melancia, sobretudo nas
regiões onde predominam temperaturas
Figura 1. Sintoma de oídio causado pelo amenas e umidade relativa alta, que
fungo Podosphaera xanthii em folha de pode provocar a perda total da cultura
melancia. (Santos et al., 2011).
5

O agente causal é um parasita quantidade de inóculo na planta (Zitter


obrigatório e apresenta especialização et al., 1996; Santos et al., 2011; Pavan
fisiológica, com cinco raças descritas até et al., 2016).
recentemente. Todas as raças infectam
o meloeiro, entretanto, apenas as raças Inicialmente ocorrem pequenas
4 e 5 infectam melancia (Zitter et al., manchas cloróticas e angulosa,
1996). limitadas pelas nervuras, esparsamente
no limbo superior da folha (Figura
A sobrevivência se dá de uma 3). Depois, verifica-se aumento no
estação de cultivo para outra, número de manchas, principalmente
principalmente em plantas voluntárias ao longo das nervuras, enquanto que
cultivadas ou silvestres. Outro meio na face inferior constatam-se áreas
de sobrevivência do patógeno em encharcadas, e formam-se frutificações
condições desfavoráveis é na forma de de coloração verde-oliva à púrpura. Num
oósporos, que é esporo de resistência estádio mais avançado as lesões se
produzido em tecidos velhos (Santos et tornam necróticas e como consequência
al., 2011; Pavan et al., 2016). prejudica o desenvolvimento da planta
Os esporângios, que servem e sua produção (Santos et al., 2011;
de inóculo primário para início das Pavan et al., 2016). Com o avanço dos
epidemias, podem ser transportados sintomas, as folhas secam, caem e
com o vento de plantações próximas expõem os frutos à radiação solar, que
ou distantes da lavoura.  Dentro do provocam queimaduras na epiderme,
campo de cultivo o inóculo secundário e compromete a qualidade do produto
é disseminado pelo vento e respingos (Zitter et al., 1996).
de água. As condições climáticas ideais
para o desenvolvimento de epidemia
são alta umidade e temperatura de 16
a 22oC.
Quando a umidade relativa diminui,
os esporângios se destacam dos
esporangióforos e são dispersos à
longa e curta distância por correntes
Foto: Ailton Reis

de ar. Os esporângios necessitam


de água livre na superfície da folha
para germinar e infectar os tecidos da           
planta. Sob temperaturas mais baixas,
os esporângios podem germinar Figura 3. Sintoma de míldio causado pelo
indiretamente e dar origem a vários fungo Pseudoperonospora cubensis em
zoósporos, multiplicando assim a folha de melancia.
6

As principais medidas de controle do em plantas voluntárias, a exemplo


míldio são: de algumas plantas daninhas. O solo
e as sementes são, também, fontes
1. Eliminar plantas voluntárias, como
de inóculo (Dias et al., 2001). É muito
plantas daninhas, e restos de culturas
resistente ao sol e outras condições
de outras cucurbitáceas.
climáticas extremas, e permanece viável
2.Evitar plantios adensados com som- por vários anos (1 a 3 anos) nos restos
breamento de folhas e que dificultam as de cultura. Frutos doentes geralmente
pulverizações. apresentam sementes infectadas,
que constituem o principal meio de
3.Evitar o plantio em áreas mal drenadas sobrevivência do fungo (Santos et al.,
e úmidas que favoreçam o molhamento 2011). O patógeno penetra através de
foliar. ferimentos e se dissemina na lavoura,
4. Fazer o manejo adequado da irrigação. principalmente pela água de irrigação.
Condições climáticas com umidade
5. Pulverizar com produtos registrados. do ar e temperaturas altas aumentam
6. Escolha de cultivares tolerantes. a severidade da doença (Rego, 1995;
Kurozawa et al., 2005).
Os sintomas nas plântulas são
manchas necróticas nos cotilédones
Crestamento gomoso que em pouco tempo atingem o
caulículo e causam o tombamento e a
Agente causal:  Stagonosporopsis morte. Nas plantas adultas o colo do
cucurbitacearum (Fr.) Aveskamp, caule e os ramos afetados apresentam-
Gruyter & Verkley (= Didymella bryoniae se encharcados, com exsudação de
(Auersw.) Rehm), (Aveskamp, 2010). goma de coloração parda que com
o tempo se torna acinzentada, com
A ocorrência do crestamento gomoso
numerosos corpos de frutificação negros
ou cancro-da-haste é comum na lavoura
denominados de picnídios. Sintomas
de melancia, provocando perdas de até
semelhantes ocorrem, também, nos
60%, quando não se adotam medidas
pecíolos e gavinhas. Normalmente, a
de controle eficientes (Santos et al., lesão circunscreve o caule e causa a
2011). O agente causal ocorre em várias morte do ramo na região acima da lesão
espécies da família das cucurbitáceas, (Pavan et al., 2016) (Figura 4).
principalmente melão, melancia, pepino
e certas abóboras, e está disseminado    Os sintomas nas folhas são
em diversas regiões do mundo, manchas pardas circulares, às vezes
com halo amarelado, que em seguida
principalmente em áreas tropicais e
torna-se quebradiça, formando buracos
subtropicais (Dias et al., 2001).
no limbo foliar. Em estádios mais
O fungo sobrevive de uma estação avançados da doença verificam-se
para outra, nos restos de cultivo ou pontos negros nas lesões, que são
7

os picnídios. Normalmente, as lesões 6. Pulverizar com produtos registrados.


iniciam-se nas margens das folhas
7. Fazer o manejo da irrigação.
e, quando coalescem, resultam no
crestamento foliar (Kurozawa et al., 8. Evitar ferimentos durante os tratos
2005; Santos et al., 2011). Nos frutos, culturais.
os sintomas não são frequentes e 9. Evitar práticas culturais inadequadas
aparecem como manchas necróticas, que permitam a manutenção de alta
circulares, pardacentas e profundas, umidade junto ao colo da planta.
com exsudação de goma (Pavan et al.,
2016).

Mancha-de-
cercospora
Agente Causal: Cercospora citrullina
Cooke
Foto: Rita de Cássia S. Dias

A mancha-de-cercospora, normal-
mente, é considerada uma doença
secundária e não causa grandes
impactos na cultura da melancia.
Entretanto, em Roraima, ocorre em alta
severidade e é considerada a principal
Figura 4. Sintoma de crestamento gomoso
causado pelo fungo Stagonosporopsis doença fúngica que incide nos cultivos
cucurbitacearum em folha de melancia. em campo (Halfeld-Vieira et al., 2004a,
2004b, 2004c).

As principais medidas de controle do O agente causal tem o vento como


principal via de dispersão, o que favorece
crestamento gomoso são:
a sua disseminação à longa distância.
1.Eliminar plantas voluntárias, como Por outro lado, respingos d’água são
plantas daninhas e restos de culturas de eficientes na dispersão do patógeno
outras cucurbitáceas. somente para plantas próximas A
2. Fazer a rotação de culturas. germinação dos conídios ocorre quando
3. Usar sementes certificadas. há água livre na superfície das folhas,
com amplitude de temperatura favorável
4.  Evitar plantios adensados com som-
que varia de 26 a 32oC (Blancard et al.,
breamento do colo da planta e que difi-
1996), configurando estas às condições
cultam as pulverizações. que favorecem o progresso da doença.
5. Evitar plantios em áreas com proble- O patógeno pode ocorrer em diversas
mas de drenagem. espécies de cucurbitáceas cultivadas e
8

silvestres (Rego; Carrijo, 2000; Crous;


Braun, 2003), com danos relevantes
no Brasil, principalmente na cultura de

Foto: Bernardo A. Halfeld-Vieira


melancia (Halfeld-Vieira et al., 2004a;
Halfeld-Vieira; Nechet, 2006). É relatada
sua sobrevivência em restos de cultura
por pelo menos dois anos, porém, não
está confirmado se o patógeno pode ser
transmitido por sementes (Blancard et
al., 1996).
Os sintomas da mancha-de-
cercospora são bem característicos e Figura 6. Detalhe do sintoma típico da
mancha-de-cercospora em melancia,
podem ser observados nas folhas como
causada pelo fungo Cercospora citrullina,
manchas circulares e de coloração lesão circular, de coloração amarronzada,
marrom. É comum as lesões serem centro cinza claro e halo amarelo.
circundadas por um halo amarelado,
porém, nem sempre evidente (Figuras
5 e 6). Uma característica que auxilia no Em alta severidade, a doença
reconhecimento da doença é a presença pode ocasionar manchas nas ramas,
de uma pontuação mais clara no centro porém não causa danos nos frutos.
da lesão (Figura 6). Seu principal impacto na cultura se
deve à queima foliar intensa, quando
em alta severidade, que pode atingir
valores próximos a 100% de área foliar
necrosada (Halfeld-Vieira; Nechet,
2006), o que leva à redução do tamanho
e qualidade dos frutos (Rego; Carrijo,
2000).
As principais medidas de controle da
Foto: Bernardo A. Halfeld-Vieira

mancha-de-cercospora são:
1. Eliminar restos culturais após o perío-
do de cultivo.
2. Fazer a rotação de culturas com
plantas que não pertençam à família
das cucurbitáceas (melão, abobrinha,
abóbora, entre outras).
Figura 5. Folha de melancia com sintomas
da mancha-de-cercospora causada pelo 3. Utilizar espaçamento adequado, vi-
fungo Cercospora citrullina. sando evitar o adensamento de plantas.
9

4. Pulverizar com fungicidas registrados 8) e frequentemente observa-se o


quando necessário. escurecimento do caule.

Não existe fungicida registrado para


Mela o controle da doença em melancia. A
principal medida de controle é evitar
Agente Causal: Rhizoctonia solani Kühn áreas com histórico de ocorrência do
[teleomorfo Thanatephorus cucumeris patógeno e os períodos favoráveis à
(Frank) Donk] ocorrência da doença.

A mela se desenvolve pela


combinação de temperatura e umidade
relativa do ar elevadas, bem como
pela alta frequência e quantidade de Foto: Bernardo A. Halfeld-Vieira

chuvas. Por essas características tem


sua ocorrência restrita a algumas áreas
e épocas do ano, como o dano relatado
em Roraima em plantios conduzidos
durante o período chuvoso (Nechet;
Halfeld-Vieira, 2006).
Esse fungo possui uma ampla
gama de hospedeiros cultiváveis e não Figura 7. Sintoma da mela causada pelo
cultiváveis e sobrevive de um cultivo para fungo Rhizoctonia solani em folha de
o outro, colonizando restos de culturas melancia.
ou mediante estruturas de resistência
(escleródios). A disseminação ocorre,
principalmente, por respingos de chuva,
água de irrigação e pela movimentação
Foto: Bernardo A. Halfeld-Vieira

de homens, animais e implementos


agrícolas (Blancard et al., 1996).
Os principais sintomas da doença
são observados nas folhas das
plantas que apresentam manchas de
coloração escura, de grande extensão
e aspecto aquoso. Com o progresso
da doença, ocorre o apodrecimento de Figura 8. Sintoma da mela causada pelo
toda a folha (Figura 7). Os sintomas fungo Rhizoctonia solani em fruto de
podem ainda ocorrer nos frutos (Figura melancia.
10

Podridão de frutos Não há fungicida registrado para o


controle dessa doença, que pode ser
por Pythium evitada com a adoção das seguintes
práticas:
Agente Causal: Pythium sp. 1.Fazer o plantio em terrenos com
boa drenagem e em condições pouco
A podridão de frutos causada
favoráveis a encharcamentos.
por Pythium sp. em melancia está
associada a cultivos realizados em 2. Evitar que os frutos fiquem em contato
épocas chuvosas ou em sistemas de direto com o solo úmido.
cultivos em que os frutos permanecem 3. Não causar injúrias nos frutos.
próximos a sulcos de irrigação (Halfeld-
4. Reduzir a água de irrigação no período
Vieira et al. 2004b). A alta umidade do
próximo à colheita.
solo é um fator essencial para que a
doença se desenvolva, sendo comum
sua ocorrência em frutos que ficam em
contato com o solo encharcado (Rego;
Carrijo, 2000). Os sintomas observados
Antracnose
são a podridão, que se inicia na região de Agente Causal: Colletotrichum
contato do fruto com o solo, observando- orbiculare  (Berk. & Mont.) Arx
se frequentemente um crescimento
A antracnose é uma doença
esbranquiçado semelhante a algodão,
importante na melancia e ocorre em
que corresponde ao crescimento micelial
outras cucurbitáceas como chuchu,
do fungo (Figura 9).
melão e pepino (Rego; Carrijo, 2000).  A
doença é favorecida em regiões ou
períodos quentes e úmidos. O fungo
sobrevive em restos culturais, em
sementes que se contaminaram e
Foto: Bernardo A. Halfeld-Vieira

hospedeiros silvestres. A disseminação


do patógeno ocorre por respingos de
chuva e pela água de irrigação por
aspersão (Rego, 1995).
Os sintomas são observados
primeiramente nas folhas sendo
pequenas manchas de formato
Figura 9. Sinal do crescimento micelial de
Pythium sp. na região em que o fruto esteve irregular, de coloração escura e halo
em contato com o solo úmido que caracteriza amarelado. Em alguns casos as
a podridão de fruto. manchas acompanham as nervuras das
11

folhas (Figura 10). Com o progresso da


doença, as manchas se coalescem e o
Sarna ou Queima
tecido torna-se quebradiço. Em frutos Agente Causal: Cladosporium
jovens podem ser observadas manchas cucumerinum Ell. Et Arth.
escuras, circulares, deprimidas, cobertas
por massa de esporos que resultam em A sarna normalmente não é
má formação de frutos (Rego, 1995). considerada uma doença severa
na melancia, além disto há poucas
informações sobre o seu impacto na
cultura nas condições brasileiras. A
ocorrência está associada às condições
Foto: Bernardo A. Halfeld-Vieira

de alta umidade e temperaturas noturnas


baixas. O fungo sobrevive em restos de
cultura e sementes contaminadas e sua
disseminação ocorre principalmente
pelo vento (Blancard et al., 1996).
Os sintomas observados nas folhas
são lesões necróticas de formato
Figura 10. Sintoma da antracnose causada irregular e tamanho variado (Figura 11).
pelo fungo Colletotrichum orbiculare em
Com o progresso da doença ocorre o
folha de melancia.
coalescimento das lesões.

As medidas de controle
recomendadas são:
1. Destruir restos de cultura após o
período de cultivo e de cucurbitáceas
silvestres.
Foto: Bernardo A. Halfeld-Vieira

2. Fazer rotação de cultura por 2 a 3


anos.
3. Usar sementes sadias.
4. Usar cultivares resistentes, como
Charleston Gray, Crimson Sweet,
Congo, Esmeralda, Jubilee, Madera,
Rubi, Starbrite, Jetstream e Fairfax.
Figura 11. Sintoma da sarna causada pelo
5. Pulverizar com fungicidas registrados fungo Cladosporium cucumerinum em folha
quando necessário. de melancia.
12

As medidas de controle recomenda- sintomas desta murcha ocorrem em


das são: reboleiras. O fungo afeta a planta em
qualquer estádio de desenvolvimento.
1. Destruir restos culturais.
Em plântulas pode provocar a podridão
2. Usar sementes sadias. do colo, que causa o tombamento e
morte, e em plantas adultas provoca
3. Evitar o uso de irrigação por aspersão.
subdesenvolvimento, amarelecimento,
4. Pulverizar com fungicidas registrados murcha das folhas mais velhas, com
quando necessário. posterior seca das plantas (Pavan et al.,
2016). Ao fazer-se um corte transversal
da planta afetada, observa-se o
escurecimento característico dos vasos
Murcha-de-fusário condutores (Figura 12).
O fungo penetra através de ferimentos
Agente causal:  Fusarium oxysporum f. que ocorrem na região radicular (Viana
sp. niveum (Smith) Snyder & Hansen et al., 2001) e a temperatura favorável ao
desenvolvimento do fungo oscila entre 20
A murcha-de-fusário pode causar até a 30oC, sendo que os sintomas de murcha
75% de perda na cultura da melancia. se intensificam em períodos de baixa
Além disso, o seu agente causal pode umidade relativa, forte luminosidade e
permanecer viável em solo contaminado temperatura elevada. Essas condições
por longo período, mesmo na ausência favorecem a transpiração da planta e
do hospedeiro (Santos et al., 2011; não há compensação devido à presença
Pavan et al., 2016). do fungo nos vasos, provocando
ineficiência na translocação de água e
A doença é limitante ao cultivo da
de nutrientes no xilema, que resulta em
melancia e ocorre frequentemente
murcha das plantas (Santos et al., 2011;
associada com o crestamento gomose
Pavan et al., 2016).
(S. cucurbitacearum) e com nematoides-
das-galhas (Meloidogyne spp.), que O fungo produz clamidósporo como
causam ferimentos prévios e favorecem estrutura de resistência, o que possibilita
a penetração do agente causal. O fungo a sobrevivência do patógeno no solo
tem como sítio de infecção as raízes, e por vários anos, mesmo na ausência
atinge, a partir daí, os vasos lenhosos do hospedeiro e nas sementes, onde
(Martyn, 1987; Santos et al., 2011). Há pode se alojar interna ou externamente.
três raças deste patógeno denominadas A disseminação dentro da lavoura
de Raça 0, Raça 1 e Raça 2 (Blancard ocorre através de água da irrigação
et al., 1996). ou de chuva (Pavan et al., 2016), pela
movimentação de solo no preparo para
Igualmente à maioria das doenças plantio e durante os tratos culturais (Dias
incitadas por patógenos de solo, os et al., 2001; Santos et al., 2011).        
13

para cada patossistema são ferramentas


que procuram reduzir ao máximo os
danos e perdas econômicas, com o
menor impacto possível.
Foto: Rita de Cássia S. Dias

É importante lembrar que para fazer a


adoção de manejo integrado de doenças
é necessário, primeiramente, identificar
corretamente o agente causal. A partir
disso, faz-se a escolha da estratégia
de manejo mais adequada. A maioria
das medidas de controle recomendadas
Figura 12. Sintoma de murcha-de-fusário
para as doenças fúngicas consiste em
causada por Fusarium oxysporum f. sp.
niveum em plantas de melancia. ações preventivas, que se iniciam na
escolha da área, no uso de sementes
sadias e eliminação de restos de
As medidas de controle recomenda- culturas anteriores. Cultivares tolerantes
das são: e rotação de cultura também são
1. Plantar em áreas sem histórico de importantes, apesar de muitas vezes
ocorrência da doença. serem negligenciadas pelos produtores,
ou dificultadas pelas condições de
2. Corrigir o pH do solo para valores
exigência do mercado e de área
próximos a 6,5.
disponível nas propriedades.
3. Usar sementes sadias e de cultivares
As informações apresentadas
tolerantes.
contribuirão para o diagnóstico correto
4. Fazer a rotação de cultura. de doenças fúngicas na melancia e para
o manejo integrado visando prevenir
perdas no sistema produtivo.

Considerações Finais
A cultura da melancia representa Referências
uma importante cadeia produtiva
no país sendo cultivada nas mais ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA
diversas condições ambientais e nível 2018 = BRAZILIAN FRUIT YEARBOOK. Santa
tecnológico. Em consequência, os Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2018.
87 p.
problemas fitossanitários são diversos e
AVESKAMP, M. M.; DE GRUYTER, J.;
muitas vezes específicos de cada local. WOUDENBERG, J. H. C.; VERKLEY, G. J. M.;
CROUS, P. W. Highlights of the Didymellaceae:
A ocorrência de doenças fúngicas a polyphasic approach to characterise Phoma
pode limitar a produção da cultura. As and related pleosporalean genera. Studies in
medidas de controle aqui preconizadas Mycology, v. 65, p. 1-60, 2010.
14

BLANCARD, D.; LECOQ, H.; PITRAT, M. MARTYN, R. D. Fusarium oxysporium f. sp.


Enfermedades de las Cucurbitáceas: observar, niveum of the Race 2: a highly aggressive race
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Rodrigo Mendes, Ricardo A. A. Pazianotto,
1ª edição Maria Cristina Tordin, Daniel Terao, Victor Paulo
Versão digital (2019) Marques Simão, Joel Leandro de Queiroga, Vera
Lucia Ferracini, Marco Antonio Gomes
Revisão de texto
Nilce Chaves Gattaz
Normalização bibliográfica
Maria de Cléofas Faggion Alencar, CRB-8/1658
Tratamento das ilustrações
Silvana Cristina Teixeira
Projeto gráfico
Carlos Eduardo Felice Barbeiro
CGPE 15267

Editoração eletrônica
Silvana Cristina Teixeira
Foto da capa
Ailton Reis

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