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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA GOIANO

Informe
Goiano

Volume 02, nº 01

Goiânia
2017
© 2017 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – IF Goiano

ISSN: 2526-317X

Corpo Editorial
Aurélio Rubio Neto
Editor-chefe

Jacson Zuchi
Editor-Chefe Substituto

Tatianne Silva Santos


Supervisora editorial

Cláudia Sousa Oriente de Faria


Coordenadora de produção gráfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBI) – Instituto Federal Goiano

I43

Informe Goiano / Instituto Federal Goiano. - v. 2, n. 01, abr. mai. (2017).


- Goiânia: IF Goiano, 2017- .

59 p., il.

Anual
ISSN: 2526-317X

1. Ciências agrárias. 2. Iniciação Científica. 3. Pesquisa aplicada. I.


Instituto Federal Goiano.

CDU: 631
Michel Miguel Elias Temer
Presidente da República

José Mendonça Bezerra Filho


Ministro da Educação

Eline Neves Braga Nascimento


Secretária da Educação Profissional e Tecnológica

Vicente Pereira de Almeida


Reitor

Fabiano Guimarães Silva


Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

Elias de Pádua Monteiro


Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional

Sebastião Nunes da Rosa Filho


Pró-Reitor de Extensão

Virgílio José Tavira Erthal


Pró-Reitor de Ensino

Claudecir Gonçales
Pró-Reitor de Administração

Aurélio Rubio Neto


Editor-chefe

Jacson Zuchi
Editor-Chefe Substituto

Tatianne Silva Santos


Supervisora Editorial

Cláudia Sousa Oriente de Faria


Coordenadora de Produção Gráfica

Tânia Regina Vieira


Revisora

Guilherme Cardoso Furtado


Diagramador
Sumário

Critérios técnicos para teste de germinação


e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz 11
Como obter pequi (Caryocar brasiliense) seco em pó 24
Uso de herbicidas na cultura da soja 32
Método para produção de biomassa do quefir em
água e em leite 47
Apresentação
A transferência de tecnologia dos produtos e pesquisas realizadas pelo Instituto
Federal Goiano para a sociedade e setor privado tem sido realizada com êxito de
diversas formas. Pensando em otimizar e inovar essa transferência de tecnologia,
foi criado em 2015, o Informe Goiano, um novo veículo de divulgação constituído
de manuscritos chamados de Circulares de Pesquisa Aplicada. Essas circulares
compreendem um texto com informações técnicas e técnico-científicas abordando
temas das Ciências Agrárias, Biológicas, Química e Tecnologia de Alimentos que
visam, além da divulgação dos resultados, disseminar conhecimento para usuários
sobre novas formas de utilização, manejo e conservação de espécies vegetais e
animais.

A comissão organizadora do Informe Goiano chega ao segundo ano de atuação


com a divulgação de um manual, para auxiliar na elaboração dos manuscritos, e
com a publicação do primeiro volume, contendo quatro publicações técnicas, que
foram amplamente distribuídas para os campi do IF Goiano e para a comunidade
em geral. Neste volume, as Circulares de Pesquisa Aplicada tratam sobre critérios
para análise de sementes e plântulas de uma espécie do domínio Cerrado,
transformação de subprodutos a partir de frutos de pequi e grãos de quefir e uso
de herbicidas para controle de plantas daninhas na cultura da soja.

A diversidade técnica dos trabalhos publicados neste volume do Informe Goiano


valoriza a ampla gama de pesquisas realizadas pelo Instituto Federal Goiano,
ressaltando a importância da Instituição na realização, divulgação e aplicação de
técnicas inovadoras.

Aurélio Rubio Neto


Editor-Chefe

Fabiano Guimarães Silva


Pró- Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
CRITÉRIOS TÉCNICOS PARA
TESTE DE GERMINAÇÃO
E EMERGÊNCIA
DE SEMENTES DE
AnacardiumothonianumRizz
Autores
Jacson Zuchi
Professor Rede Arco Norte - IF Goiano, GO

Gessimar Nunes Camelo


Professor Instituto Federal de Mato Grosso - Campus Campo Novo do Parecis, MT

Lílian Abadia da Silva


Doutoranda em Ciências Agrárias/Agronomia - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Juliana de Fátima Sales


Professora Instituto Federal Goiano - Campus Rio Verde, GO
Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

Importância e relevância re-do-cerrado (Anacardiumothonia-


numRizz) destaca-se por ser a única
O Domínio Cerrado possui espécie de caju com porte arbóreo.
flora muito abundante, com diver- É uma espécie pertencente à Família
sas espécies de plantas medicinais e Anacardiaceae, bastante conheci-
frutíferas com elevado potencial eco- da e apreciada na região do Cerrado
nômico(CARAMORI et al., 2004).A do Planalto Central do Brasil, habi-
região centro-oeste do Brasil vem tando as fitofisionomias de campo
sendo, progressivamente, utilizada sujo e cerradão (MENDONÇA et al.,
para a produção agrícola tecnifica- 1998). É o principal cajueiro de im-
da, o que a tornou a principal pro- portância econômica para esta região
dutora de grão do país, ocasionando e seu nome é uma homenagem ao
o desmatamento de grandes áreas Dr. Othon Xavier de Brito Machado,
(OLIVEIRA e ROCHA, 2008). Essa primeiro botânico a descrever um ca-
intensa pressão de ocupação agrope- jueiro arbóreo do Cerrado (RIZZINI,
cuária no Cerrado tem colocado em 1969).
risco muitas espécies de importân-
cia ecológica, social e econômica. A altura das árvores varia de
Estima-se que cerca de 54,9% dos 2 3,0–7,6 metros, com tronco de 20,0-
milhões de km² originais do Cerrado 40,0 cm de diâmetro (Figura 1-A).
foram transformados em pastagens Seu pseudofruto apresenta de 2 a 4
plantadas, culturas anuais e outros cm de comprimento, por 2 a 3 cm de
tipos de uso (KLINK e MACHADO, diâmetro e peso entre 5 a 12 gramas,
2005; COSTA, 2009). com coloração variando entre amare-
lada e avermelhada quando maduro
Dentre as espécies frutíferas (Figura 1-B)(VIEIRA et al, 2010).
nativas do Cerrado, o caju-de-árvo- Sua propagação é, predominante-

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

mente, via sementes, que são conhe- cebido programa de pesquisa e de


cidas como aquênio, que é uma dru- desenvolvimento para a geração de
pa reniforme(castanha) ou amêndoa conhecimento que possibilite seu me-
(Figura 1B). Possui aproveitamento lhor uso, conservação e utilização de
alimentar na forma de polpa in natura recursos naturais. Além disso, os co-
ou em forma de suco, licores e doces. nhecimentos técnicos da propagação
A castanha constitui-se uma fonte de uma espécie nativa são fundamen-
alternativa de alimento, sendo rica tais para a definição da tecnologia de
em proteínas, lipídeos, fibras, ferro e exploração racional (CAETANO et
zinco e pode ser consumida quando al., 2012).
tostada (OLIVEIRA et al., 2011).
Estudos que possibilitem ava-
A riqueza natural das espé- liar a qualidade das sementes dessa
cies nativas do Domínio Cerrado, espécie ainda são incipientes e care-
que são utilizadas tradicionalmente cem de experimentos científicos para
por produtores rurais, não tem re- a determinação de parâmetros técni-

A B
Figura 1. Planta adulta em condições de consórcio com pastagem na região sudeste de Goiás (A) e frutos maduros
com diferentes colorações do epicarpo ou pericarpo (B) de AnacardiumothonianumRizz. Barra: 1 cm.

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

cos, que ajudem a definir com maior Procedimento para o teste de ger-
segurança indicadores de qualidade minação
biológica. Além disso, vem sendo
cada vez mais reafirmada a neces- Logo após a coleta dos fru-
sidade de estabelecer metodologias tos de caju-de-árvore-do-cerrado, os
para execução e avaliação do teste mesmos podem ser acomodados e
de germinação de espécies nativas do transportados em caixa plástica, evi-
Domínio Cerrado em laboratórios de tando o sobrepeso sobre os mesmos,
análise de sementes(SOUZA-SILVA visto que pode danificar a polpa(Fi-
et al., 2001). Dentre esses fatores, a gura 2-A),e, caso não haja disponi-
temperatura é determinante para a bilidade de mão-de-obra imediata
germinação das sementes, atuando para a realização da despolpa, esses
na velocidade de absorção de água e podem ser armazenados em bandejas
nas reações bioquímicas do processo em camada única (Figura 2-B), em
germinativo (CARVALHO e NAKA- sala refrigerada (16-20ºC), de prefe-
GAWA, 2000). rência, para diminuir a velocidade do
processo fermentativo da polpa, por
Nesse sentido, a execução do um período de até 2 dias até sua exe-
teste de germinação deve levar em cução. Essa operação consiste na re-
conta os fatores básicos, como tem- moção do pseudofruto (pedúnculo),
peratura, quantidade de água, número que pode ser efetuada próximo à uma
de sementes por rolo, número de dias pia, com disponibilidade de água
para a 1ª avaliação, bem como a ne- corrente, para a lavagem inicial das
cessidade de desinfestação das semen- sementes durante a extração (Figu-
tes e da troca do substrato, caso seja ra 2-C).Posteriormente, as mesmas
papel, para a redução da quantidade de devem ser lavadas em solução de hi-
esporos de fungos durante o teste. poclorito de sódio comercial (Q-boa)

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

5%, seguido de limpeza em água cor- (Figura 2-D), para secagem superfi-
rente, para melhor desinfestação. Em cial, durante 72 horas, em sala refri-
seguida, as sementes podem ser co- gerada (16-20ºC), com revolvimento
locadas em bandejas plásticas, com periódico.
folhas de papel “germitest” ao fundo

A B

C D
Figura 2.Procedimento para transporte de frutos (Coletados em Montes Claros de Goiás, Goiás no dia 02/09/2015)
(A), armazenamento temporário (B), extração da amêndoa (C) e pré-secagem de sementes(D) de Anacardiumotho-
nianumRizz.

Previamente ao teste de ger- a 02/10/2015, em 4 coletas de 5716


minação, as sementes podem ser frutos de A.othonianumem Montes
contadas e classificadas visualmente Claros-Goiás, provenientes de 26 di-
quanto ao seu tamanho e coloração. ferentes acessos nativos, constatou-se
Para citar um exemplo, de 02/09/2015 que 40% das sementes são de tama-

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

nho considerado grande(3,0 cm x 2,0 Após a padronização do lote


cm x 1,0 cm), comprimento, largura de sementes, essas podem ser tra-
e espessura, respectivamente, peso tadas com fungicida para proteção
médio de 5 gramas/semente e colo- inicial das plântulas. O substrato co-
ração clara; 35% de tamanho grande mumente utilizado para execução do
e coloração violeta; 17% de tamanho teste é o papel “germitest”, umedeci-
pequeno(2,0 cm x 1,5 cm x 1,0 cm), do com quantidade de água destilada
comprimento, largura e espessura, 3,0 vezes o seu peso seco, conforme
respectivamente, peso médio de 2,5 Brasil (2009), sendo duas folhas na
gramas/semente e coloração violeta e parte inferior, com distribuição de 16
8% de tamanho pequeno e coloração a 25 sementes por repetição, e uma
clara. na parte superior do rolo. É impor-
tante manter o substrato com umida-
Essa padronização, seguido de de suficiente para as sementes (Fi-
eliminação de sementes danificadas gura 3-A), e arranjá-lasem sistema
e contaminadas, possibilitará maior de rolos identificados (Figura 3-B),
uniformidade dos lotes de sementes e podendo-se também utilizar prote-
maior segurança na avaliação da ger- ção plástica (Figura 3-C), para evi-
minação das sementes e do tamanho tar perda de umidade. Caso não haja
das plântulas. Esse procedimento é disponibilidade de papel “germitest”
extremamente importante e pode ser no local, o produtor poderá utilizar
adaptado para testes de germinação papel filtro ou papel com maior ca-
com outras espécies nativas, visto pacidade de retenção de água, afim
que com isso, há economia de mate- de possibilitar a germinação e a pro-
rial, mão-de-obra e melhor avaliação. trusão radicular (Figura 3-D).

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

A B

C D
Figura 3. Disposição alternada das sementes (A), confecção de rolos (B), proteção plástica contra perda de umida-
de (C) e protrusão radicular (D), para teste de germinação de sementes de AnacardiumothonianumRizz.

Os rolos (Figura 3-C) podem local, o teste pode ser conduzido em


ser mantidos sem germinador, tipo sala com temperatura amena (25ºC) e
Mangesdorf, ou em B.O.D., regu- com boa disponibilidade de ilumina-
lados à temperatura de 25 ou 30ºC, ção natural ou artificial.
com fotoperíodo de 8 a 12 horas por
30 a 45 dias. Caso não haja dispo-
nibilidade desses equipamentos no

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

Avaliação do teste de germinação sário realizar-se contagens interme-


diárias, em intervalos médios de 4
Para a estimativa da porcen- dias, para que as plântulas normais
tagem de germinação, devem ser formadas e as sementes mortas se-
consideradas as plântulas normais, jam retiradas do rolo de germinação,
que apresentam todas as estruturas possibilitando melhores condições
essenciais desenvolvidas; as plântu- de germinação para as sementes e
las anormais, que apresentam ausên- plântulas em formação e reduzindo
cia de estruturas essenciais ou com a contaminação e a proliferação de
danos que ultrapassem 50% do tama- fungos saprófitas. Pode-se realizar
nho do tecido; as sementes duras, que também a limpeza superficial do
não absorveram água; e as sementes tegumento das sementes remanes-
mortas, que não germinaram e estão centes, atrelada à troca do substrato
com os tecidos meristemáticos e/ou (papel “germitest”), com menor grau
de reserva em decomposição. de umedecimento (2,0 vezes a massa
do substrato seco), para diminuir a
Devido a longa duração do quantidade de inóculo no teste (Figu-
teste de germinação, faz-se neces- ra 4-A).

A B

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

C D
Figura 4– Substituição de substrato umedecido (A), eliminação de sementes mortas (B), classificação das plântulas
e sementes (C) e padrão de plântulas normais (D), em teste de germinação de sementes de AnacardiumothonianumRizz.

O critério para determinação la, o teste de emergência de plântulas,


de plântulas normais não é tão sim- como mecanismo metodológico com-
ples (Figura 4-C e 4-D), pois sendo plementar ao teste de germinação.
uma espécie nativa, com desenvolvi-
mento lento, a hidratação dessas se- Para o teste de emergência,
mentes e absorção de água no subs- as sementes podem ser tratadas com
trato de papel, parece desfavorecer o fungicida e a semeadura realizada
correto desenvolvimento das plân- em substrato de areia lavada, na pro-
tulas, principalmente quando as se- fundidade de 3 cm (Figura 5-A). A
mentes apresentam elevado grau de avaliação pode ser realizada durante
deterioração (Figura 4-B). Assim, a um período de 45 dias (Figura 5-B)
fim de equalizar as possíveis inter- e ao final realiza-se a contagem final
ferências que o teste de germinação de plantas normais (com todas as es-
possa ocasionar na mensuração da truturas essenciais formadas) (Figura
porcentagem de germinação, pode-se 5-C e 5-D).
também realizar, de maneira parale-

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Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

A B

C D
Figura 5–Montagem de teste de emergência em leito de areia (A), emergência de plântulas (B), plântulas em desenvol-
vimento (C) e planta juvenil (D) de AnacardiumothonianumRizz.

Critérios intrínsecos da espécie de pelos absorventes na raiz princi-


pal (Figura 4-C), visualmente, ao fi-
Apesar de no início do desen- nal do teste a raiz principal tende a
volvimento das plântulas, no teste de se tornar lenhosa e com poucos pelos
germinação, haver elevado número radiculares. A própria característica

20
Informe Goiano - Critérios técnicos para teste de germinação e emergência de sementes de
AnacardiumothonianumRizz

adaptativa da espécie pode interferir Por outro lado, caso o produtor de


nesse processo de formação radicu- mudas ou quem queira obter plantas
lar, já que na natureza tais caracte- de AnacardiumothonianumRizz para
rísticas (maior consistência e rigidez reflorestamento ou produção comer-
do tecido) lhe conferem vantagens cial, poderá utilizar os procedimen-
adaptativas a condições de umidade tos acima descritos como guia para
variável e escassa. Assim, critérios semeadura direta epara transplante
de definição de sistema radicular das mudas em desenvolvimento.
ideal para classificação das plântu- do tecido; as sementes duras, que não
las em normais e anormais precisam absorveram água; e as sementes mor-
ser melhor analisados (Figura 4-D). tas, que não germinaram e estão com
Deve-se também levar em considera- os tecidos meristemáticos e/ou de re-
ção, no momento de avaliação e clas- serva em decomposição.
sificação das plântulas, o histórico do
lote, tanto pelo critério de origem, da
forma de secagem, das condições de
armazenamento e de idade.

Nesse sentido, esta circular
de pesquisa aplicada poderá orientar
as pesquisas e atividades de alunos
de cursos técnico, graduação e pós-
-graduação que estejam trabalhan-
do com a espécie, fornecendo uma
orientação prévia de materiais e crité-
rios necessários para a condução dos
testes de germinação e emergência.

21
Informe Goiano - Referências

Agradecimentos servação de sementes de espécies do


Cerrado. Embrapa Cerrados, Planal-
Ao CNPq/FAPEG e à CAPES. tina – DF, 2009. 30p.

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pecuária. Brasília, DF: Mapa/ACS, IOR, M. C.; REZENDE, A. V.; FIL-
2009. 395p. GUEIRAS, T. S.; NOGUEIRA, P. E.
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CAETANO, G. S.; SOUSA, K. A.; S. M.; ALMEIDA, S. P. (Ed.). Cer-
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v.42, n.4, p.437- 445, 2012. NAVES, R. N. Espécies frutíferas
dos Cerrados de Goiás: caracter-
CARAMORI, S. S.; LIMA, C. S.; ização e influências do clima e dos
FERNANDES, K. F. Biochemi- solos.1999. 202 f. Tese (Doutorado
calcharacterizationofselectedplant- em Agronomia) – Escola de Agrono-
speciesfromBrazilianSavannas. mia e Engenharia de Alimentos, Uni-
Brazilian Archives of Biologyand versidade Federal de Goiás, Goiânia,
Technology, v.47, n.2, p.253-259, 1999.
2004.
OLIVEIRA, G. H. H.; CORRÊA,
CARVALHO, N.M.; NAKAGA- P. C. SANTOS, E. S. S.; TRETO, P.
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CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, of thermodynamic properties using
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22
Informe Goiano - Referências

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árvores do Planalto Central Brasilei-
ro. Academia Brasileira de Ciências,
1969.

SOUSA-SILVA, J.C.; RIBEI-


RO, J.F.; FONSECA, C.E.L.; AN-
TUNES, N.B. Germinação de se-
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ocorrem em Mata de Galeria. In:
RIBEIRO, J.F.; FONSECA, C.E.L.;
SOUSA-SILVA, J.C. Cerrado: carac-
terização e recuperação de mata de
galeria. Planaltina: Embrapa Cerra-
dos, 2001. p.379-422.

VIEIRA, R. F.; COSTA, T. S. A.; SIL-


VA, D. B.; SANO, S. M. FERREI-
RA, F. R.; Frutas nativas da região
Centro-Oeste. Brasília: Embrapa In-
formação Tecnológica, 2010. 322 p.

23
COMO OBTER PEQUI
(Caryocar brasiliense)
SECO EM PÓ

Autores
Josemar Gonçalves de Oliveira Filho
Mestrando em Agroquímica - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Maria Eldair da Silva Guimarães


Estudante Curso Técnico em Agroindústria - IFB Campus Planaltina, DF

Mhainara Giânzia Nunes Lopes


Estudante do Curso Técnico em Agroindústria - IFB Campus Planaltina, DF

Maria do Socorro Ferreira


Estudante do Curso Técnico em Agroindústria - IFB Campus Planaltina, DF

Edilsa Rosa da Silva


Professora – IFB Campus Planaltina, DF

Heloísa Alves de Sousa Falcão


Professora – IFB Campus Planaltina, DF

Mariana Buranelo Egea


Professora – IF Goiano Campus Rio Verde, GO
Informe Goiano - Como obter pequi (Caryocar brasiliense) seco em pó

Importância e relevância O fruto do pequizeiro é apre-


ciado por suas características de cor,
O pequi (Caryocar brasilien- forte aroma e sabor únicos e por ser
se, Camb.), conhecido popularmente um fruto rico em nutrientes, com
como pequi, piqui, pequiá, amên- destaque para os teores de lipídios
doa de espinho, grão de cavalo ou (27,17 g.100g-1), proteínas (4,04
amêndoa do Brasil, é cultivado em g.100g-1) e β-caroteno (11,4 g.100g-1)
grande parte do cerrado brasileiro e (OLIVEIRA et al., 2006).
a sua produção ocorre principalmen-
te entre os meses de janeiro a março, O pequi também é rico em
podendo ser encontrados frutos fora sais minerais, como cálcio, fósforo,
dessa época (RIBEIRO, 2000). magnésio, potássio, sódio, ferro e
cobre, constituindo boa fonte de vita-
Os frutos de pequi são de minas B1 (tiamina), B2 (riboflavina),
grande importância para as popula- B3 (niacina, ácido nicotínico ou vita-
ções agroextrativistas, para as econo- mina PP) (MARIANO DA SILVA et
mias locais e culinária regional. Eles al., 2009; SOUSA et al., 2012).
são utilizados na alimentação huma-
na, no preparo de pratos típicos. O Em função da crescente pro-
caroço com a polpa (mesocarpo) é cura e das dificuldades para conser-
cozido com arroz, feijão, galinha, ba- var esse produto por um longo pe-
tido com leite, usado para o preparo ríodo de tempo, um dos principais
de doces, para produção de mantei- problemas do agroextrativismo é a
ga; na indústria caseira é utilizado baixa qualidade dos frutos comer-
para extração de óleos e produção de cializados. Dessa forma, esforços
licores (LORENZI, 2000). têm sido direcionados no sentido de
ampliar os métodos de conservação

25
Informe Goiano - Como obter pequi (Caryocar brasiliense) seco em pó

deste importante fruto. tirada de água impede o crescimento


e a proliferação de micro-organismos
O congelamento na entressa- e minimiza muitas das reações dete-
fra é um dos métodos de conservação riorantes causadas pela alta umidade.
de frutos. Durante a safra, os frutos O processo proporciona também re-
são descascados e a polpa - ou me- dução substancial em peso e volume,
socarpo interno e semente ou caroço minimizando a utilização de emba-
- acondicionados em saco plástico e lagens, o espaço de armazenamento
conservados em freezer para o con- e os custos de transporte, e também
sumo na entressafra (OLIVEIRA et permite o armazenamento do produ-
al., 2006). to em temperatura ambiente (JAYA-
RAMAN; GUPTA, 2006; MAYOR;
A conserva de pequi, devido SERENO, 2004).
ao baixo custo de conservação em
relação ao congelamento, vem sendo Etapas da produção de pequi seco
utilizada como a principal forma de em pó
conservação do pequi. No entanto,
produtos de qualidade microbioló- As etapas de produção de pe-
gica duvidosa têm sido originados qui desidratado em pó estão apresen-
(FERREIRA, 2007). tadas no fluxograma da Figura 1.

A técnica da secagem é, pro- Recepção e higienização dos frutos
vavelmente, o método mais antigo de de pequi
conservação de alimentos praticado
pela humanidade e pode ser facil- Os frutos de pequi podem ser
mente realizado na própria proprie- coletados em áreas remanescentes do
dade rural produtora dos frutos. A re- bioma Cerrado ou adquiridos em co-

26
Informe Goiano - Como obter pequi (Caryocar brasiliense) seco em pó

mércio local, devendo ser escolhidos escorrer sobre papel toalha.


frutos maduros e ainda com casca.
Descascamento

Os frutos deverão ser descas-


cados manualmente com o auxílio de
uma faca para a separação do caroço
e da casca. Na Figura 2 são apresen-
tados os caroços contendo a polpa
dos frutos de pequi sem a casca (en-
docarpo).

Figura 1 – Fluxograma de processamento de pequi


seco em pó.

A lavagem dos frutos deverá


ser realizada em água potável, com o
auxílio de uma esponja para a retira-
da de sujidades. A sanitização deve- Figura 2 – Caroços de pequi contendo polpa recém
retirado do endocarpo.
rá ser realizada em solução clorada
(10 mL de hipoclorito de sódio para Secagem
1 L de água potável) onde os frutos
devem ser imersos por 15 minutos. Para a secagem, os caroços
Decorrido o tempo, os frutos deverão inteiros contendo a polpa devem ser
ser retirados da solução e deixados colocados nas bandejas e em seguida

27
Informe Goiano - Como obter pequi (Caryocar brasiliense) seco em pó

levadas para secagem em estufa com com cuidado especial para não atin-
circulação de ar (previamente aque- gir os espinhos da parte interna do
cida) por 12 horas à 70ºC (Figura 3). fruto (Figura 4). Será obtido então,
o pequi em pedaços de pequena es-
pessura no formato que aqui chama-
remos de “pó” (Figura 5).

Figura 3 – Caroços de pequi submetidos ao processo


de secagem em estufa convectiva por 12 horas à 70ºC.
Figura 4 – Trituração dos caroços secos de pequi utili-
zando ralador manual.

Os caroços secos devem ser


armazenados em embalagem plástica Armazenamento
de polietileno com tampa para criar
uma barreira protetora à umidade re- O pequi seco em pó deverá ser
lativa do ambiente. armazenado em saco plástico próprio
para embalar alimentos, como por
Trituração exemplo, polietileno de baixa densi-
dade - PEBD. A embalagem deverá
Os caroços secos deverão ser ser fechada, sem espaço de ar e esto-
ralados utilizando ralador manual cada em temperatura ambiente e ao

28
Informe Goiano - Como obter pequi (Caryocar brasiliense) seco em pó

abrigo de luz para evitar a oxidação e com isso agregando sabor e valor
lipídica que pode ocasionar o gosto nutricional.
de ranço. O tempo de armazenamen-
to máximo é de 60 dias. Após esse
período, começam a ocorrer mudan-
ças no produto como na sua colora-
ção, gosto de ranço, dentre outras.

Figura 5 – Pequi seco em pó.

Aplicações

O pequi seco em pó pode ser


adicionado para compor temperos
prontos ou diretamente em prepara-
ções substituindo seu uso in natura

29
Informe Goiano - Referências

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v.6, n.1, p. 12 – 15, 2012.

31
USO DE HERBICIDAS NA
CULTURA DA SOJA

Autores
Hugo Matheus Guimarães Araújo
Analista de Marketing, Dupont

Renata Pereira Marques


Pesquisadora, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rede Arco Norte

Gustavo Castoldi
Pesquisador, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rede Arco Norte

Agna Rita dos Santos Rodrigues


Pesquisadora, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rede Arco Norte

Alaerson Maia Geraldine


Pesquisador, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rede Arco Norte

Pablo Diego Silva Cabral


Pesquisador, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rede Arco Norte
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

Introdução e relevância 2016). A previsão da taxa de cresci-


mento anual de produção de soja é
A soja (Glycine max(L.) Mer- de 2,43% até 2019, próxima da taxa
ril) é a cultura agrícola brasileira que mundial, estimada em 2,56% para os
mais cresceu nas últimas três dé- próximos dez anos (MAPA, 2015).
cadas e corresponde a 49% da área O cenário atual da cultura da soja no
plantada com grãos no país (IBGE, Brasil encontra-se na Figura 1.

Figura 1. Estimativa de área plantada com a cultura da soja no Brasil na Safra 2016/17. Fonte: IBGE, 2016.

Dentre as commodities, a soja nacional, com estimativa de 8,47 mi-


é um dos principais produtos de ex- lhões de toneladas (CONAB, 2016).
portação do país, sendo o Estado de Apesar desse crescimento, a cultura
Goiás um dos maiores produtores do está sujeita a fatores que influenciam
grão, representando 10,4% da soja negativamente seu desenvolvimen-

33
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

to e produção. Um destes fatores é res à soja, são de controle mais difícil.


a presença das plantas daninhas que
causam impactos negativos diretos e Plantas daninhas podem
indiretos. Estima-se que os prejuízos ocorrer durante qualquer fase de de-
a nível mundial, devido à competição senvolvimento da soja, porém exis-
com plantas daninhas e a soja, che- te o período anterior a interferência
guem a 13%. No entanto, em países (PAI) que é o período a partir da
de clima tropical, como o Brasil,es- emergência ou semeadura da cultu-
sas perdas são maiores, variando de ra em que essa pode conviver com a
42 a 95% (CARVALHO et al., 2002). comunidade infestante sem reduções
de produtividade. O período total de
Planta daninha é qualquer es- prevenção da interferência (PTPI) é
pécie vegetal que cresce onde não é aquele em que, a partir da emergên-
desejada. As plantas daninhas, quan- cia da cultura, as plantas daninhas
do crescem juntamente com as cul- devem ser controladas, para que a
turas agrícolas, interferem no seu cultura possa desempenhar seu po-
desenvolvimento por competir pelos tencial máximo de produtividade. O
recursos do meio, como água, luz e intervalo entre esses dois períodos é
nutrientes, além de exercer inibi- chamado de PCPI, ou seja, éperíodo
ção química no desenvolvimento da crítico de prevenção à interferên-
cultura de interesse, fenômeno esse cia, durante o qual a convivência da
conhecido como ‘alelopatia’. Na cul- cultura com as plantas daninhas irá
tura da soja existe diversas espécies resultar em prejuízos de produtivi-
daninhas de importância econômica, dade eo controle deve ser efetivado
sejam elas de folhas largas ou folhas (MALUTA, et al., 2011). A duração
estreitas, sendo que aquelas que se dos períodos de interferência de de-
apresentam fisiologicamente simila- terminada cultura é inerente às ca-

34
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

racterísticas do cultivo e ao manejo cultura da soja, as plantas daninhas


(PITELLI; DURIGAN, 1984). são controladas, quase que exclusi-
vamente, por herbicidas, aplicados
Nepomuceno et al. (2007) em pré-plantio e incorporado (PPI),
determinaram que o PCPI da soja foi pré e pós-emergência. Herbicidas
dos 33 aos 66 dias no sistema plan- são produtos, que quandoaplicados,
tio direto (SPD) e dos 34 aos 76 dias interferem em processos de desen-
no plantio convencional (PC). Nes- volvimento vegetal, podendo ma-
se ensaio, as plantas daninhas em tar ou retardar significativamente o
convívio com a soja durante o PCPI seu crescimento (CONSTANTIN,
causaram danos à produtividade de 2011). Atualmente, existem mais de
46% e 32%, respectivamente. Como 30 princípios ativos com moléculas
regra geral, quanto maior o período herbicidas registrados para a cultura
de convivência da cultura com as da soja (MAPA/AGROFIT, 2016).
plantas daninhas, maior o prejuízo ao
rendimento dos grãos. Esse conceito Os herbicidas que são apli-
está associado ao período crítico de cados em pré-plantio e incorpora-
prevenção à interferência, estabeleci- do(PPI) são aplicados no solo antes
do por Pitellie Durigan(1984). da semeadurada cultura. Posterior-
mente, precisam de incorporação, por
A interferência causada pelas métodos mecânicos ou via irrigação.
plantas daninhas nas culturas pode Esses herbicidas são poucos solúveis
ser manejada de forma cultural, me- em água, fotossensíveis e altamente
cânica, física, biológica e química, voláteis. Nesse tipo de aplicação, a
que em conjunto, formam o cha- eficácia depende muito da disponibi-
mado Manejo Integrado de Plantas lidade de água no solo, uma vez que
Daninhas (MIPD). No entanto, na esses herbicidas atuam em processos

35
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

como a germinação das sementes e o seletivos, como o glifosato ou o pa-


crescimento radicular. raquate, por exemplo,o manejo é
chamado de dessecação. No entan-
A utilização de herbicidas em to, a maioria dos casos de aplicação
pré-emergência associado ao efeito em pós-emergência, tanto a cultura
residual do mesmo é uma excelente como as plantas daninhas encon-
alternativa no controle de plantas da- tram-se emergidas, exigindo, portan-
ninhas durante o PCPI (MONQUE- to, a utilização de herbicida seletivo
RO et al.,2008). Além disso, é uma à cultura. A aplicação em pós-emer-
ótima solução para reduzir a infes- gência pode ser pós-inicial ou tardia.
tação e a competição com a cultura Quando a aplicação é tardia, se faz
em pós-emergência, possibilitando necessário o uso de maiores doses
assim economia nos custos de ope- e de produtos sistêmicos. A princi-
ração (CARVALHO, 2000). Ressal- pal vantagem dessa modalidade de
ta-se que o controle químico em pré- aplicação é a de permitir a aplicação
-emergência ideal é aquele em que o onde as plantas daninhas estejam re-
residual permanece exatamente até o almente presentes, reduzindo as apli-
final do PCPI, uma vez que após esse cações desnecessárias em área total
período a cultura já terá condições (DELVIN et al., 1991).
de competir sozinha com as plantas
daninhas, por recobrir totalmente a Manejo químico de plantas dani-
área. nhas na cultura da soja

No controle químico em pós- No PC as plantas daninhas


-emergência, podem ser utilizados podem ser controladas mecanica-
herbicidas seletivos e não seletivos. mente, antes da semeadura, por oca-
sião do preparo do solo, através das
Quando é utilizado herbicidas não

36
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

operações de gradagens. No SPD a De forma análoga, espécies anuais


eliminação das plantas daninhas, ou que possuem diversos fluxos germi-
culturas de cobertura de solo, é feita nativos podem requerer a utilização
com herbicidasdessecantes (Figura 2 de herbicidas cuja atividade residual
A, B). O manejo de plantas daninhas seja suficiente para garantir à cultu-
em pré-semeadura prevê o estabele- ra, desenvolvimento inicial livre da
cimento da cultura livre da competi- interferência de plantas daninhas (Fi-
ção imposta pelas plantas daninhas. gura 2C).

A escolha dos herbicidas de- Os herbicidas utilizados como


pende das espécies de plantas exis- dessecantes são, usualmente, não-
tentes na área e do seu estádio de -seletivos e aplicados em área total,
desenvolvimento. Plantas perenes podendo ser de ação sistêmica ou de
requerem a integração dos métodos contato. As estratégias mais comuns
de controle, associados à aplicação utilizadas no manejo, tanto das cul-
de herbicidas sistêmicos em época turas de cobertura, quanto da vege-
adequada (MELHORANÇA, 2002). tação infestante nas áreas de plantio

37
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

B C
Figura 2.A - Algumas espécies de plantas daninhas da soja – da esquerda para direita: Digitaria insularis
(Capim-amargoso), Cenchrusechinatus (Timbetê), Chlorispolydactyla(capim-branco); Commelinabenghalensis
(Trapoeraba), Tridaxprocumbens (Erva-de-touro) e Euphorbia hirta (Erva-de-santa-luzia); B - Área infestada com
C. hlorispolydactylaem florescimento pleno e C- Área dessecada na pré-semeadura da soja com glifosato (4 L p.c.
ha-1). Rio Verde-GO.

direto resumem-se a três: dessecação pada. Alguns dos herbicidas dispo-


imediatamente antes da semeadura,- níveis e registrados para dessecação
dessecação entre sete e dez dias antes em pré-semeadura na cultura da soja
da semeadura ou dessecação anteci- estão listados na Tabela 1.

Nome comum Dose (kg i.a.*/e.a.** ha-1) L p.c*** ha-1

Glifosato 1,14 – 1,92 3,00 – 4,00

2,4- D 0,72 – 1,08 1,00 – 1,50

Paraquate1 0,30 – 0,40 1,50 – 2,00


Diquate 0,30-0,50 1,50 – 2,50

Paraquate+ diurom 0,40 + 0,20 – 0,60 + 0,30 2,00 – 3,00

Tabela 1. Principais herbicidas registrados e recomendados para o manejo de dessecação em pré-semeadura na


cultura da soja.

Recomendações de acordo com a bula disponível de cada produto.


1
Adicionar surfactante não iônico a 0,1% a 0,2% v/v.
*=i.a. – ingrediente ativo;
**=e.a. – equivalente ácido;
***= p.c. – produto comercial.

38
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

Quando a infestação é com- arenoso apresentam maior sensibili-


posta basicamente de espécies em dade ao 2,4-D quando comparadas
estádio inicial de desenvolvimento, àquelas desenvolvidas em solo de
poderão ser utilizados os dessecan- textura argilosa.
tes de contato. Caso contrário, a re-
comendação é o uso de dessecantes O controle químico em pré-
com ação sistêmica. Ressalta-se que -emergência na cultura da soja caiu
para a soja, deve-se dar um intervalo em desuso nos últimos anos com
de dez dias entre a aplicação de 2,4- o advento do SPD, porém, com a
D e a semeadura – esse intervalo é evolução dos casos de resistência
obviamente dependente de fatores de plantas daninhas aos herbicidas,
como clima, dose e da textura do solo principalmente ao glifosato, essa
- quanto maior a dose e a temperatura prática vem sendo recolocada dentro
média, maior deverá ser o intervalo dos programas de manejo. A pulveri-
para a semeadura da soja após a pul- zação desses herbicidas éfeita direta-
verização com este herbicida, adicio- mente sobre o solo ou palhada (Figu-
nalmente, plantas semeadas em solo ra 3).

A B
Figura 3. Pulverização de herbicidas em pré-emergência. A- Pulverizador costal munido de barras e B- Pulveriza-
dor de barras tratorizado. Rio Verde- GO, 2016.

39
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

Para a realização dessa operação– para a atuação desses herbicidas. O


quando a cobertura verde ocupar controle químico em pré-emergên-
mais de 30% da superfície do solo cia é realizado a fim de controlar as
– não é recomendado utilizar desse- plantas daninhas que possam germi-
cante junto com o herbicida residual, nar após a dessecação da cobertura e
evitando assim que ocorra o efei- assim permitir o estabelecimento da
to guarda-chuva, que é prejudicial cultura no limpo (Figura 4).

Figura 4. Estabelecimento da cultura da soja em área livre de presença de plantas daninhas resultante da operação
de dessecação e manejo em pré-emergência. Rio Verde-GO, 2016.

Na Tabela 2 estão listados alguns após a semeadura, entretanto, antes


dos herbicidas recomendados para o da emergência da cultura e da planta
uso em pré-emergência na cultura da daninha.
soja. Nessa modalidade, os herbici-
das são utilizados após a dessecação
ou preparo do solo e após a implanta-
ção da cultura, na semeadura ou logo

40
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

Nome comum Dose (kg i.a.*/e.a.** ha-1) L p.c*** ha-1

Alacloro 2.40 – 3.36 5,00 – 7,00

Clomazona 0,80 – 1,00 1,60 – 2,00

Cianazina 1,25 – 1,50 2,50 – 3,00


Dimetenamida 1.12 1,25
Flumetsulam 0,10 – 0,14 0,88 – 1,17
Flumioxazina 0,20- 0,40 0,40 – 0,80

S-Metolacloro 1,44 – 1,92 1,50 – 2,00

Metribuzim 0,36 – 0,48 0,75 – 1,00

Sulfentrazona 0,60 – 0,80 1,20 – 1,60

Trifluralina 1,80 – 2,40 3,00 – 4,00

Tabela 2. Principais herbicidas registrados e recomendados para o manejo em pré-emergência para a cultura da
soja.

Recomendações de acordo com a bula disponível de cada produto.


Para solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica, utilizar as menores
doses.
Observar o período residual de cada herbicida e as implicações para a cultura
subsequente.
*=i.a. – ingrediente ativo;
**=e.a. – equivalente ácido;
***= p.c. – produto comercial.

41
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

O manejo químico em pós-e- herbicidas registrados para o manejo


mergênciadeve ser realizado obriga- químico em pós-emergência na cul-
toriamente com herbicidas seletivos tura da soja, fato esse que faz com
à cultura da soja. Este manejo visa essa cultura seja a maior consumido-
controlar as plantas daninhas que se ra de herbicidas no mundo.
desenvolveram na área mesmo após
o manejo de dessecação e/ou em pré- Em todas as modalidades de
-emergência. (Figura 5). É comum, aplicação, a eficiência desses her-
principalmente, às plantas daninhas bicidas aumenta quando aplicados
de ciclo anual, a ocorrência de di- em condições climáticas favoráveis,
versos fluxos germinativos durante como umidade do ar acima de 60%,
o ano. Nesses casos, a intervenção temperaturas variando de 15 a 30°C e
com herbicidas em pós-emergência é velocidade do vento entre 3 e 8 km/h.
essencial (Tabela 3). Existem muitos

A B
Figura 5.A- Área totalmente infestada com plantas daninhas durante Período Crítico de Prevenção e Interferência e
B – Área livre de infestação de plantas daninhas após o manejo com glifosato em pós-emergência. Rio Verde- GO,
2016.

42
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

Nome comum Dose (kg i.a.*/e.a.** ha-1) L p.c*** ha-1

Bentazona 0,72 1,20

Butroxidim 0,20 – 0,38 1,00 – 1,80

Clorimurom-etílico 0,15 – 0,20 0,60 – 0,80


Cletodim 0,08 – 0,11 0,35 – 0,45
Clorasulam-metílico 0,04 0,47
Fenoxaprope-p-etílico 0,08 – 0,11 0,80 – 1,00

Fluazifope-p-butílico 0,09 – 0,12 0,75 – 1,00

Flumicloraque-pentilico 0,04 – 0,06 0,40 – 0,60


Flumioxazina 0,20 – 0,40 0,04 – 0,08
Haloxifope-metílico 0,10 – 0,12 0,40 – 0,50
Imazetapir 0,10 1,00
Lactofem 0,15 – 0,18 0,62 – 0,75
Tabela 3. Alguns herbicidas registrados e recomendados para o manejo em pós-emergência para a cultura da soja.

Recomendações de acordo com a bula disponível de cada produto.


Para solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica, utilizar as menores
doses.
Observar o período residual de cada herbicida e as implicações para a cultura
subsequente.
*=i.a. – ingrediente ativo;
**=e.a. – equivalente ácido;
***= p.c. – produto comercial.

43
Informe Goiano - Uso de herbicidas na cultura da soja

Além dessas recomendações, Propiciar condições favorá-


os seguintes itens devem ser conside- veis ao desenvolvimento da cultura
rados na escolha do tratamento a ser possibilita maior capacidade de com-
utilizado: petição da soja e até mesmo maior
capacidade de recuperar-se de even-
• Registro do herbicida para uso na tuais efeitos fitotóxicos, o que em
cultura e potencial de seleção de bió- última análise se reflete sobre o con-
tipos de plantas daninhas resistentes trole das plantas daninhas. Convém
aos herbicidas; lembrar que muitos dos problemas
• Eficiência sobre a infestação predo- observados com o uso de herbicidas
minante na área e adequação do equi- são devidos a má regulagem dos pul-
pamento disponível para a aplicação verizadores e até mesmo a escolha
e maior flexibilidade quanto à época errada de produtos e doses.
de aplicação;
• Estádio de desenvolvimento da Ressalta-se que o uso de
planta daninha; herbicidas na cultura da soja para o
• Estimar sobre qual período de con- controle de plantas daninhas é uma
trole se necessita; técnica consagrada, e desde que os
• Custo por unidade de área e dispo- conceitos de manejo integrado de
nibilidade de aquisição no mercado plantas daninhas sejam observados
local; sua utilização traz benefícios e faci-
• Menor toxicidade para o homem e lidades. O agricultor deve estar aten-
o ambiente e efeito residual para cul- to às prescrições contidas na bula de
turas de rotação; cada herbicida e contar sempre com a
• Adequação ao sistema de plantio orientação de um Engenheiro Agrô-
adotado (SPD ou PC); nomo.

44
Informe Goiano - Referências

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Manejo de Plantas Daninhas. Curiti-
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46
MÉTODO PARA
PRODUÇÃO DE
BIOMASSA DO QUEFIR
EM ÁGUA E EM LEITE
Autores
Bheatriz Silva Morais de Freitas
Mestre em Tecnologia de Alimentos - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Daiane Costa dos Santos


Mestre em Tecnologia de Alimentos - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Morhana Silva Santos


Graduanda em Engenharia de Alimentos - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Juliéli Horn Guereiro Campos


Graduanda em Engenharia de Alimentos - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Jéssica Leal Freitas Souza


Mestre em Zootecnia - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Klecio Ramos Vargas


Graduando em Engenharia de Alimentos - IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Aurélio Rúbio Neto


Professor – IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Fabiano Guimarães da Silva


Professor – IF Goiano Campus Rio Verde, GO

Mariana Buranelo Egea


Professora – IF Goiano Campus Rio Verde, GO
Informe Goiano - Método para produção de biomassa do quefir em água e em leite

Introdução e relevância a sua complexidade microbiana e os


benefícios derivados da sua utiliza-
Quefir é uma mistura probi- ção, o quefir pode ser considerado
ótica que teve sua origem das mon- como uma fonte adequada de poten-
tanhas Caucasianas da Rússia, resul- ciais micro-organismos probióticos
tante da ação da microbiota natural (ROMANIN et al., 2010). Os mi-
presente nos grãos ou grumos de ke- cro-organismos existentes na cultu-
fir. Os grãos são descritos como uma ra de quefir e sua variada simbiose
associação simbiótica de leveduras, conferem propriedades terapêuticas,
bactérias ácido-láticas, bactérias áci- como fatores antimicrobianos, anti-
do-acéticas e fungos, e são envolvi- -inflamatório e efeitos antialérgicos
das por polissacarídeos denominados (LEE et al., 2007; RODRIGUES et
de kefiran. O tamanho dos grãos pode al., 2005). Alguns micro-organismos
variar de 0,5-3,5 cm de diâmetro, vo- de quefir são resistentes aos sais bi-
lume de 0,5-20,0 ml/grão, possuem liares e aos níveis de pH baixos e
formato irregular e são de cor ama- exibem propriedades de adesão e ca-
relada ou esbranquiçada, dependen- pacidade para inibir alguns agentes
do do substrato onde foi cultivado patogênicos intestinais (ROMANIN
(OTLES e CAGINDI, 2003). et al., 2010). Lactococcus lactis (bac-
téria ácido-lática LAB) é um micro-
A produção de quefir utili- -organismo considerado probiótico e
zando grãos de quefir é difícil e ir- geralmente compõe a cultura quefir
regular devido à complexidade da (BAU et al., 2013; BRASIL, 2007).
sua composição microbiológica.
Tentativas têm sido feitas para nor-
malizar a produção de quefir usando
as culturas starters definidas. Devido

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Informe Goiano - Método para produção de biomassa do quefir em água e em leite

Ativação dos grãos de quefir e pre- car mascavo em 900 ml de água pre-
paro do substrato viamente filtrada e fervida. O açúcar
mascavo, por ser considerado um
Devido à facilidade de au- produto natural e ter seu valor nu-
mento de biomassa, também chamada tricional mais elevado que o açúcar
de “grãos” do quefir, que normalmen- refinado, deve ser utilizado para pro-
te ocorre como preparo caseiro, ele é dução de quefir e também por conter
compartilhado entre as pessoas que vitaminas e minerais que favorecem
desejam cultivá-lo para uso próprio. o desenvolvimento dos micro-or-
ganismos. Enquanto isso, o açúcar
A biomassa de quefir deve branco não é indicado por ter pas-
ser pesada antes do início da sua re- sado por processo de refinamento,
produção para o cálculo da quanti- ocasionando a perca destes nutrien-
dade de substrato (água ou leite, por tes (COENDERS, 1996). Nessa so-
exemplo) que será utilizado. lução, deverão ser adicionados 100
g de biomassa de quefir e levemente
Antes de se iniciar qualquer homogeneizado.
procedimento, todos os utensílios
(facas, colheres, vidros, etc.) utiliza- Para a fermentação em leite,
dos na preparação deverão ser fervi- 100 g de biomassa de quefir deve ser
dos por 15 minutos e de preferência colocado em 900 ml de leite integral
separados somente para este fim para pasteurizado (leites comercializados
evitar qualquer tipo de contaminação embalados). Caso o leite não este-
(BRASIL, 2016). ja pasteurizado (leite cru), deve-se
realizar a pasteurização utilizando
Para produzir quefir em água aquecimento por 30 minutos à 65ºC
deve-se homogeneizar 150 g de açú- (SCHUSTER et al., 2006).

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Informe Goiano - Método para produção de biomassa do quefir em água e em leite

Essa proporção de biomas- os grãos de quefir devem ser filtrados


sa de quefir para a quantidade de em peneira para separação da bebida
substrato (água/leite e açúcar) é su- fermentada e biomassa. A bebida fer-
ficiente para manter a biomassa ati- mentada deve ser acondicionada em
va por 24 horas. Após esse tempo, a geladeira e os grãos adicionados em
bebida produzida terá pH de apro- novo substrato para nova fermenta-
ximadamente 4,0-4,5 e o substrato ção, ou congelados em sacos estéreis
deverá ser renovado para permitir a para uso posterior (Figura 1).
sobrevivência dos micro-organismos
presentes na biomassa de quefir e o
adequado rendimento em biomassa e
características satisfatórias no subs-
trato fermentado.

Etapas da produção de biomassa


(“grãos” de quefir)

Para produção de biomassa


Figura 1 - Fluxograma do cultivo da biomassa de
foi preparado, como substrato para o quefir e obtenção de bebida fermentada.
quefir de água, uma mistura de água
mineral com açúcar mascavo, e para O substrato utilizado para a
quefir de leite, leite integral pasteuri- fermentação da biomassa de quefir
zado (ambos substratos à temperatu- influencia diretamente na sua colora-
ra ambiente de 25ºC). Os grãos foram ção como pode ser observado na Fi-
inoculados nos respectivos substratos gura 2. A biomassa pode ser amarelo
e fermentados por 24 horas à tempe- claro ou branca quando cultivada em
ratura de 25ºC. Após a fermentação, leite; ocre e parda, se cultivada em

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Informe Goiano - Método para produção de biomassa do quefir em água e em leite

açúcar mascavo; ou púrpura ou rosa- Fermentação e separação dos


da, se cultivada em suco de uva (WS- grãos de quefir
ZOLEK et al., 2001; WITTHUHN et
al., 2004). Após a inoculação dos grãos
de quefir no substrato, os frascos de-
vem ser tampados para evitar eva-
poração de álcool durante processo
de fermentação. No frasco contendo
água, pode ser utilizado PVC, e no
frasco contendo leite utiliza-se tecido
tipo voal amarrado com uma liga de
borracha (Figura 3). Por fim, nos dois
casos, a fermentação é realizada em
Figura 2A- Biomassa de quefir fermentada em açúcar
e água 24 horas a 25ºC.

Durante o período de fer-
mentação, será observado que o fer-
mentado utilizando água libera bo-
lhas resultantes da produção de gás
carbônico pelos micro-organismos.
Enquanto isso, no fermentado uti-
lizando leite, será notável uma leve
separação de fases, com presença de
Figura 2B - Biomassa de quefir fermentada em leite
soro (Figura 3).

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Informe Goiano - Método para produção de biomassa do quefir em água e em leite

separada do líquido (água ou leite


fermentado) e, posteriormente, lava-
da com água filtrada. A biomassa de
quefir é reutilizada em novo processo
fermentativo (Figura 1).

A bebida fermentada a partir


de leite tem característica ácida, car-
Figura 3- Água e açúcar mascavo (A) e leite fermenta- bonatada, ligeiramente alcoólica e
do (B) utilizando biomassa de quefir após 24 horas
com consistência similar ao iogurte.
Após a etapa de fermentação A bebida poderá ser utilizada na sua
deve ser realizada a separação, utili- forma original em sucos, vitaminas
zando uma peneira (Figura 4). Nes- e, para isso, deverá ser armazenada
sa etapa, a biomassa de quefir será em temperatura refrigerada (7ºC).

Figura 4 - Separação da biomassa de quefir fermentados em água e açúcar mascavo (A) e leite (B).

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Informe Goiano - Método para produção de biomassa do quefir em água e em leite

Aplicações

Quefir é utilizado em bebidas


alimentícias, sobremesas, doces, su-
cos vegetais, na forma de iogurtes.
Ainda, a biomassa de quefir tem sido
consumida no preparo de saladas
frias, sopas, maionese, queijos, e em
preparações aquecidas, em molhos
de carnes, molhos salgados para sa-
lada, recheios para torta, nesse caso,
sendo adicionada no final do processo.

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Informe Goiano - Referências

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