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Politicas de Saude

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POLÍTICA DE SAÚDE

Unidade 4
Diretor Executivo

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Gerente Editorial

ALESSANDRA FERREIRA

Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA

Autoria

MARIANA MARTINS GARCIA


Mariana Martins Garcia
AUTORIA

Olá! Fiz a faculdade de Farmácia na Universidade Federal


do Paraná, e mestrado em Ciências Farmacêuticas na mesma
instituição, também fiz pós-graduação em Gestão Estratégica
de Organizações de Saúde pela UNICESUMAR. Já atuei
como farmacêutica em farmácia de dispensação, farmácia
hospitalar, prática clínica e manipulação de nutrição parenteral
e quimioterapia e como palestrante em uma indústria de
dermocosméticos. Trabalhei em empresas como Droga Raia,
Hospital da Policia Militar, CEQNEP e Stiefel.

Atualmente sou professora do Instituto Equilibra e


professora convidada na Universidade Positivo, além disso, atuo
Unidade 4

como conteudista para diversas instituições como a Inspirar,


Telesapiens, São Braz, Uniandrade e UniBrasil.

Amo estudar e adquirir novos conhecimentos! Também sou


apaixonada por ensinar, por isso estou aqui. Conte comigo no
que eu puder ajudar e vamos aprender cada vez mais juntos!

4 POLÍTICA DE SAÚDE
Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

ÍCONES
Para o início do
Houver necessidade
desenvolvimento
de apresentar um
de uma nova
novo conceito.
OBJETIVO competência. DEFINIÇÃO

Quando necessárias
As observações
observações ou
escritas tiveram que
complementações
ser priorizadas para
para o seu
NOTA IMPORTANTE você.
conhecimento.

Curiosidades e
Algo precisa ser indagações lúdicas

Unidade 4
melhor explicado ou sobre o tema em
EXPLICANDO detalhado. estudo, se forem
MELHOR VOCÊ SABIA?
necessárias.

Textos, referências Se for preciso acessar


bibliográficas um ou mais sites
e links para para fazer download,
aprofundamento do assistir vídeos, ler
SAIBA MAIS ACESSE
seu conhecimento. textos, ouvir podcast.

Se houver a
necessidade de Quando for preciso
chamar a atenção fazer um resumo
sobre algo a acumulativo das
REFLITA ser refletido ou RESUMINDO últimas abordagens.
discutido.

Quando alguma Quando uma


atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
ATIVIDADES for aplicada. TESTANDO forem explicadas.

POLÍTICA DE SAÚDE 5
Conhecendo os indicadores epidemiológicos.......................... 9
SUMÁRIO

Epidemiologia........................................................................................................ 9

Transição epidemiológica.................................................................................. 11

Transição demográfica....................................................................................... 14

Condições de saúde........................................................................................... 16

Compreendendo sobre o trabalho em saúde........................ 21

Trabalho em saúde............................................................................................. 21

Educação dos profissionais de saúde............................................................. 23

Educação Continuada......................................................................... 24

Educação em Serviço.......................................................................... 28
Unidade 4

Educação Permanente........................................................................ 28

Compreendendo sobre a dicotomia público privada............ 32

Direito público e privado................................................................................... 32

Dicotomia público privado na saúde.............................................................. 37

Público e privado na assistência à saúde....................................................... 38

Conhecendo os avanços e desafios do SUS............................ 43

Avanços do SUS.................................................................................................. 43

Políticas Públicas de Saúde................................................................ 43

Programa Saúde da Família e Estratégia Saúde da Família......... 49

Desafios do SUS.................................................................................................. 51

6 POLÍTICA DE SAÚDE
Olá aluno! Nesta unidade vamos estudar os conceitos de
epidemiologia, que serão importantes para compreender sobre

APRESENTAÇÃO
a transição epidemiológica e transição demográfica, que também
vamos conversar nesta unidade.

Vamos falar também sobre o trabalho em saúde, mais


precisamente dos profissionais de saúde, da necessidade
da atuação multidisciplinar e da capacitação permanente,
necessária não apenas para o desenvolvimento do profissional
e sua atualização, mas também para que ele compreenda e se
enquadre na nova forma de cuidado na Atenção Básica

Como vimos em outras unidades o setor privado também


pode atuar na saúde, por isso vamos fala sobre o direito público e
privado, para poder entender sobre a dicotomia público privado

Unidade 4
na assistência à saúde.

Por fim, depois de já ter visto os conceitos de saúde, de


proteção social, previdência social a história da assistência de
saúde no Brasil, a criação do SUS, seus princípios e diretrizes
e tantos outros conhecimentos em unidades passadas e nessa
mesma unidade, vamos falar sobre os avanços do SUS nesses 30
anos e quais os desafios que ainda persistem.

Pronto para entrar nesta última viagem dentro do nosso


Sistema de Saúde? Então vamos lá!

POLÍTICA DE SAÚDE 7
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é
auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de
OBJETIVOS

aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Conhecer os indicadores epidemiológicos;

2. Compreender sobre o trabalho em saúde;

3. Compreender sobre a dicotomia público privada;

4. Conhecer os avanços e desafios do SUS.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
Unidade 4

8 POLÍTICA DE SAÚDE
Conhecendo os indicadores
epidemiológicos
Neste capítulo vamos falar sobre epidemiologia
e seus conceitos, compreender o que são os
indicadores epidemiológicos e sobre a transição
OBJETIVO epidemiológica e demográfica, bem como a relação
entre elas. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então vamos lá!

Epidemiologia
A epidemiologia estuda a frequência, a distribuição e os
determinantes sociais de saúde nas populações utilizando os

Unidade 4
resultados para o controle dos eventos relacionados com saúde.

Além de ser possível observar a situação de saúde da


população é possível avaliar o impacto das ações para melhorar
a situação encontrada. As principais medidas de frequência das
doenças são:

• Prevalência: número de casos existentes da doença em


um dado momento;

• Incidência: frequência que surgem casos novos da


doença em um intervalo de tempo.

Talvez você ache essas terminologias novas, mas com


certeza você já ouviu, até já viu gráficos sobre prevalência e
incidência mas não se atentou a eles. Por isso, vamos ver um
exemplo prático: a Prevalência da Síndrome da Imunodeficiencia
Adquirida (SIDA) na população entre 15 a 49 anos de idade em
2017.

POLÍTICA DE SAÚDE 9
Já ouviu falar da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (SIDA)? Com certeza já, mas com o nome
em inglês: Acquired Immunodeficiency Syndrome
VOCÊ SABIA? (AIDS). Pois é, essa doença é o último estágio da
infecção pelo HIV (Human Immunodeficiency Virus),
quando não tratada.

Figura 01 – Prevalência de SIDA na população de 15 a 49 anos em 2017


Unidade 4

Fonte: Wikimedia

Vimos um gráfico de prevalência, mas de


incidência? Bom há um pequeno vídeo sobre
incidência de câncer de próstata que vale a pena
ACESSE assistir para entender como se utiliza esse termo.
Link de acesso:

10 POLÍTICA DE SAÚDE
Para que esses estudos sejam realizados é necessário
conhecer de forma detalhada as condições de vida e de trabalho
da população estudada para poder planejar e programar as ações
de saúde, que podem ir desde melhorias nos determinantes mais
amplos como moradia, saneamento básico e nutrição, até ações
pontuais e especificas como ações para cessação tabágica.

Transição epidemiológica
Está relacionada com as modificações dos padrões de mor-
bidade e mortalidade que caracterizam determinada população
acontecendo em conjunto com as transições demográficas, so-
ciais e econômicas.

É fácil perceber que, na maioria dos casos, as pessoas

Unidade 4
são saudáveis e não precisam de cuidados em hospitais,
procedimentos médicos ou terapêuticos, mas durante toda
a vida essa mesma pessoa precisa de água potável, ar puro,
ambiente saudável, alimentação adequada, situações sociais,
econômicas e culturais favoráveis, educação, informação bem
como a prevenção de problemas específicos de saúde.

Dessa forma, para a promoção da saúde aconteça é preciso


enfrentar os determinantes sociais da saúde, como mudanças
nos padrões econômicos e intensificar as políticas sociais sendo
necessário a integração entre as políticas públicas.

Para isso é devemos integrar os saberes e práticas como


atenção médico-hospitalar; programas de saúde pública,
vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, educação em saúde,
entre outras, com ações extra-setoriais nos diversos campos
de acordo com o território, perfil da população, características
culturais, sociais, políticas, econômicas, etc.

Mas, para conseguir elaborar essas ações para promoção


da saúde, é necessário conhecer o seu perfil e a epidemiologia

POLÍTICA DE SAÚDE 11
com o uso de indicadores de saúde que são medidas que
refletem as características dessa população e, segundo Moreira
(2018) podem ser divididos em três categorias:

• Indicadores que traduzem diretamente a saúde: razão


de mortalidade proporcional, coeficiente geral de
mortalidade, esperança de vida ao nascer, coeficiente
de mortalidade infantil e coeficiente de mortalidade
por doenças transmissíveis;

• Indicadores que referem às condições do meio: índice de


abastecimento de água, rede de esgoto, contaminações
ambientais por poluentes;

• Indicadores que medem os recursos materiais e


humanos relacionados às atividades de saúde: índices
Unidade 4

relativos à rede de unidades de saúde de atenção


básica, profissionais de saúde e leitos hospitalares.
Figura 02 – Indicadores recursos materiais e humanos: profissionais da saúde

Fonte: Freepik

Outro ponto que podemos observar é que ao longo do


tempo ocorreram mudanças nos padrões de morte, morbidade

12 POLÍTICA DE SAÚDE
e invalidez da população o que, geralmente, modifica junto com
outras transformações demográficas, sociais e econômicas as
quais são conhecidas como transições epidemiológicas.

Essas modificações no perfil da população como mudança


no perfil das condições de saúde e suas complicações além da
própria prevalência e incidência levam a mudanças nos serviços
de saúde, muitas vezes despreparado para essa situação, e por
consequência aumento dos gastos.

Essas mudanças nos serviços de saúde estão relacionadas


a incorporação de novas tecnologias, mudanças no modelo
hospitalocêntrico ainda vigente, e a nova visão dos profissionais
da saúde referente a promoção e prevenção.

Unidade 4
Segundo Schramm (2004, p. 898) transição epidemiológica
são “as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte,
morbidade e invalidez que caracterizam uma população
específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras
transformações demográficas, sociais e econômicas”. Para que
esse processo aconteça há três mudanças básicas:

• Substituição das doenças transmissíveis por doenças


não-transmissíveis e causas externas;

• Deslocamento da carga de morbi-mortalidade dos


grupos mais jovens aos grupos mais idosos;

• Transformação de uma situação em que predomina


a mortalidade para outra na qual a morbidade é
dominante.

Vale ressaltar que essa transição da saúde pode ser dividida


em dois elementos principais, pois de um lado temos a transição
das condições de saúde, que veremos melhor mais adiante,
mas refere-se às mudanças da prevalência, incidência e perfil
das doenças, e de outro lado temos a resposta social que se

POLÍTICA DE SAÚDE 13
organiza de acordo com essas condições por meio dos sistemas
de atenção à saúde.

Essa modificação no perfil epidemiológico da população na


qual as doenças crônicas e suas complicações são prevalentes
resulta em mudanças no padrão de utilização dos serviços de
saúde e no aumento de gastos com a necessidade da incorporação
de tecnologias em saúde para o tratamento das mesmas. O que,
como já vimos na unidade passada, é um grande desafio, além
das dificuldades relacionadas as políticas de saúde que possam
dar conta das várias transições em curso. (SCHRAMM, 2004)

Conseguiu compreender sobre a transição epidemiológicas?


Agora me diga, consegue relacioná-la à transição demográfica?
Pois é existe uma correlação direta entre esses dois processos,
Unidade 4

mas primeiro vamos entender o que é e como acontece hoje a


transição demográfica.

Transição demográfica
É possível perceber a modificação do perfil demográfico,
as mudanças nos padrões de consumo e nos estilos de vida,
a urbanização acelerada e as estratégias mercadológicas tem
relação direta com essa mudança do perfil das condições
de saúde, ou seja, a transição demográfica e epidemiológica
acontece juntas e inter-relacionadas.

Não só no Brasil, mas em todo o mundo, a taxa de nascimento


está diminuindo e a expectativa de vida está aumentando.
Com isso, se observa as mudanças no perfil das condições e,
consequentemente, a necessidade de mudar a estrutura e a
forma de atendimento na atenção à saúde, principalmente, a
atenção primária, deixando de ter foco apenas curativo, e passa
a focar na prevenção e no tratamento das condições crônicas.

14 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 03 – Perfil demográfico da população brasileira (2017)

Unidade 4

Fonte: Adaptado pela autora

No gráfico conhecido como pirâmide demográfica, pode-se


observar que a taxa populacional de crianças é menor que a de
adolescentes, e que a taxa da população de idosos acima de 80
está equivalente à de idosos entre 75 e 80 anos.

É possível relacionar esse novo perfil demográfico com


a diminuição da taxa de mortalidade relacionado a doenças

POLÍTICA DE SAÚDE 15
infecciosas em pacientes mais jovens e jovens adultos, juntamente
com a maior exposição aos fatores de risco associados às doenças
crônicas e o aumento a população idosa e da expectativa de vida,
observando maior prevalência das doenças crônicas de saúde.
Além disso, temos uma baixa taxa de fecundidade e natalidade,
ou seja, estão nascendo menos crianças.

O envelhecimento rápido da população brasileira,


que começou de forma acentuada na década de
60, fez com que a sociedade se depare com uma
IMPORTANTE demanda de serviços médicos e sociais diferente,
muito comum em países industrializados. O
Estado, ainda buscando controlar as doenças
transmissíveis e reduzir a mortalidade infantil,
teve grande dificuldade em desenvolver e aplicar
Unidade 4

estratégias para a efetiva prevenção e tratamento


das doenças crônico-degenerativas e suas
complicações (SCHRAMM, 2004).

O aumento da prevalência de doenças crônicas reduz as


atividades de trabalho do portador, podendo até levar a falta de
emprego, consequentemente, à sociedade em geral sofre com
perda de produtividade e de qualidade de vida.

A atenção primária focada no modelo curativo vem,


historicamente, do perfil demográfico e epidemiológico que
existia no Brasil durante a criação do SUS. Porém, esse perfil
se modifica com o tempo, e por isso é necessária uma nova
estruturação na atenção à saúde.

Condições de saúde
Tenho certeza que você utiliza o termo doença em seu
dia-a-dia, mas ele é mais comum quando estamos analisando
a etiopatogenia, principalmente em estudos epidemiológicos.

16 POLÍTICA DE SAÚDE
Nesses estudos as doenças são divididas, em geral, em
transmissíveis e doenças crônicas não transmissíveis.

Mas, quando falamos da atenção à saúde essa classificação


não é a mais completa, pois, algumas doenças transmissíveis
têm característica de longo período podendo necessitar de
tratamento pela atenção à saúde semelhante às doenças
consideradas crônicas e não transmissíveis, ou seja, não se
enquadram em nenhum dos dois, um exemplo é a tuberculose.

Além disso, essa forma de classificação foca apenas nas


doenças, mas existem condições fisiológicas que necessitam
de cuidados profissionais, mas não são consideradas doenças,
como a gravidez ou cuidados ao recém-nascido.

Unidade 4
Dessa forma, Mendes (2011) define condições de saúde como
as circunstâncias na saúde das pessoas que se apresentam de
forma mais ou menos persistente e que exigem respostas sociais
reativas ou proativas, eventuais ou contínuas e fragmentadas ou
integradas dos sistemas de atenção à saúde. As condições de
saúde podem ser: condições agudas e condições crônicas, sendo
baseada no tempo de duração dessa situação do paciente

As condições de saúde agudas, em geral, são manifestações


de doenças transmissíveis de curso curto, como gripe, como
apendicite, ou ainda as condições de causas externas, como os
traumas. De modo geral, essas condições de saúde têm como
características:

• Iniciarem repentinamente;

• Apresentarem uma causa simples e facilmente diagnosticada;

• Curta duração;

• Respondem bem a tratamentos específicos, como os


tratamentos medicamentosos ou as cirurgias.

POLÍTICA DE SAÚDE 17
Nesses casos, o diagnóstico deve ser rápido e preciso, sendo
necessário conhecimento e experiência do profissional. Após o
tratamento, a pessoa reestabelece a saúde podendo voltar a sua
rotina de vida.
Figura 04 – Cuidado da condição de saúde aguda, após a medicalização vem a cura
Unidade 4

Fonte: Pixabay

Quando falamos em condições de saúde crônicas é comum


pensar em doenças como diabetes, câncer, porém, existem outras
condições de saúde, como gestação, e manutenção do ciclo de
vida (acompanhamento do recém-nascido, monitoramento da
capacidade funcional do idoso), deficiência física (amputação,
cegueira, etc.) que também são consideradas condições de
saúde crônica, pois também exigem cuidado dos profissionais
da saúde, principalmente da atenção primária. Além disso, é

18 POLÍTICA DE SAÚDE
importante ter em mente que condições agudas não tratadas de
forma correta podem se tornar condições crônicas.

Geralmente, o início da condição de saúde crônica tende


a ser mais lento, bem como sua evolução, além disso, pode-se
encontrar múltiplas causas como, hereditariedade, estilo de vida,
exposição a fatores ambientais e a fatores fisiológicos, ou seja,
os determinantes sociais de saúde tem grande influência nesse
perfil de doença.

Por terem longa duração, podem reduzir a capacidade


funcional do paciente, e consequentemente, afetar a qualidade
de vida do paciente, além disso pode apresentar, em determinado
período de sua história, eventos agudos, chamamos então de
agudização da condição crônica.

Unidade 4
Você consegue perceber que quando falamos de
doença, o foco do profissional é o tratamento,
tendo então, um modelo curativo de atenção?
REFLITA Agora, quando mudamos o foco para a condição de
saúde do paciente, mudamos também a forma de
atuação, passamos a observar a multicausalidade,
por isso, é necessária a mudança no sistema
de saúde. Você consegue perceber que existe a
necessidade de passarmos de um modelo curativo
biomédico para um modelo mais complexo como
o descrito no conceito ampliado de saúde?

O perfil das condições de saúde no Brasil vai desde a


necessidade do tratamento e cura de condições infectocontagiosas,
que aparecem em países em desenvolvimento, até o
acompanhamento de doenças crônicas.

POLÍTICA DE SAÚDE 19
E então? Consegui aprender sobre epidemiologia,
transição epidemiológica e transição demográfica?
E sobre a relação entre elas? Compreender que
RESUMINDO o perfil do adoecimento vem se modificando e
que são necessárias modificações nas políticas
de saúde é de grande importância para melhorar
a vida dos indivíduos o que exige a capacitação
permanente dos profissionais de saúde, para
que os mesmos se mantenham atualizados em
relação à assistência à saúde, mas sobre isso
conversaremos no próximo tópico.
Unidade 4

20 POLÍTICA DE SAÚDE
Compreendendo sobre o
trabalho em saúde
Já vimos em outra unidade como o trabalho é
importante para o homem. Desde a antiguidade
o ser humano está ligado à produtividade. Neste
OBJETIVO capítulo vamos conversar sobre o trabalho na
área da saúde, dos profissionais de saúde, sua
importância não apenas para as políticas públicas,
mas também para o indivíduo e a necessidade da
capacitação permanente. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá.
Avante!

Trabalho em saúde

Unidade 4
Segundo Pires (2008 p. 85) o trabalho em saúde:
é um trabalho essencial para a vida humana e é
parte do setor de serviços. É um trabalho da esfera
da produção não material, que se completa no ato
de sua realização. Não tem como resultado um
produto material, independente do processo de
produção e comercializável no mercado. O produto
é indissociável do processo que o produz; é a própria
realização da atividade.

Esse autor também descreve sobre a atuação


multidisciplinar, com diversos profissionais atuando em
conjunto para realizar a assistência à saúde, atualmente muito
comum na atenção básica com a Estratégia Saúde da Família,
por exemplo.

Mas para que essa interação entre os profissionais aconteça


é necessário que os mesmos compreendam a importância dos
conhecimentos dos outros profissionais, a reflexão crítica que os

POLÍTICA DE SAÚDE 21
conhecimentos somados são mais efetivos e a transformação do
seu processo de trabalho.

Vale ressalta que o processo de trabalho tem como


finalidade os resultados positivos que satisfação
as necessidades e expectativas dos indivíduos que
NOTA estão recebendo esse cuidado.

Quando pensamos no setor público a busca pela qualidade


está comprometida diretamente com a melhora do paciente, já
no setor privado, a qualidade acaba tendo como foco a satisfação
do cliente. Independentemente, ambos precisam, e buscam por
uma assistência que restabeleça a saúde do paciente.

Mesmo na área da saúde é possível observar que o medo


Unidade 4

do desemprego leva os profissionais às jornadas extenuantes,


além das doenças e lesões relacionadas aos esforços.

Além disso, necessidade de se manter atualizado em sua


formação, mas a baixa remuneração do contratante que, muitas
vezes não permite que o profissional consiga pagar por sua
especialização.

Aqui temos um grande diferencial do setor público e do


setor privado! Enquanto esses contratantes privados querem
uma mão-de-obra qualificada, mas pagando o mínimo possível,
como já vimos em outros momentos, no SUS existe a Política
Nacional de Educação Permanente, que busca aperfeiçoar
os profissionais em diversos aspectos para o atendimento à
população. Ficou curioso para conhecer sobre essa política?
Então vamos conhecê-la.

22 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 05 – Na área da saúde o estudo nunca para

Fonte: Pixabay

Educação dos profissionais de


saúde

Unidade 4
As mudanças que acontecem no sistema de saúde e na
população exigem dos profissionais que prestam esses serviços
conhecimento e atualização constante. E, para garantir a
educação continuada ou capacitação dos profissionais da saúde,
além de condições de trabalho favorável, o governo insere o
conceito de gestão do trabalho e educação em saúde.

Antes de começarmos a falar sobre educação dos


profissionais e gestores, faço duas perguntas:
você sabe a diferença entre Educação Continuada
IMPORTANTE e Educação Permanente? E Educação em Serviço,
você já ouviu falar? Pois bem, segundo Sardinha
(2013) essas formas de educação “são processos
que se caracterizam pela continuidade das ações
educativas, ainda que se fundamentem em
princípios metodológicos diferentes, e quando
implementadas em conjunto possibilitam
a transformação profissional através do
desenvolvimento de habilidades e competências
e assim fortalecem o processo de trabalho”. Mas
vamos conversar melhor sobre cada uma delas
mais adiante.

POLÍTICA DE SAÚDE 23
• Melhorar o desempenho do pessoal em todos os
níveis de atenção e funções do respectivo processo de
produção;

• Contribuir para o desenvolvimento de novas compe-


tências, como a liderança, a gerência descentralizada, a
auto-gestão, a gestão de qualidade etc.;

• Servir de substrato para transformações culturais de


acordo com as novas tendências, como a geração de
práticas desejáveis de gestão, a atenção e as relações
com a população etc.

A Política Nacional de Educação permanente traz os


conceitos e necessidades sobre Educação Continuada, Educação
em Serviço e Educação Permanente, vamos conhecer...
Unidade 4

Educação Continuada
A educação continuada tem como objetivo melhorar
a qualidade no serviço prestado para os pacientes, já para os
profissionais da área é utilizada como forma de aprendizagem.

A educação continuada pode ser considerada um compo-


nente essencial dos programas de formação e desenvolvimento
de recursos humanos das organizações.

Pois, o capital humano é um dos elementos mais importante


no funcionamento de qualquer empresa, seja ela grande ou
pequena pública ou privada, os profissionais devem ser objeto
de análise permanente para melhorar a eficiência do trabalho, a
competência profissional e o nível de satisfação do pessoal.

Por isso, a educação continuada deve ser considerada como


parte de uma política global de qualificação dos profissionais de

24 POLÍTICA DE SAÚDE
saúde, centrada nas necessidades de transformação da prática
(SILVA, CONCEIÇÃO; LEITE, 2008).

Segundo a “Política Nacional de Educação Permanente em


Saúde”, a Educação Continuada, tradicional recurso no setor de
Saúde, se caracteriza por:

• Representar uma continuidade do modelo escolar


ou acadêmico, centralizado na atualização de
conhecimentos, geralmente com enfoque disciplinar,
em ambiente didático e baseado em técnicas de
transmissão, com fins de atualização;

• Conceituar tecnicamente a prática enquanto campo


de aplicação de conhecimentos especializados, como
continuidade da lógica dos currículos universitários,

Unidade 4
que se situa no final ou após o processo de aquisição de
conhecimentos. Por este fato se produz uma distância
entre a prática e o saber (compreendido como o saber
acadêmico) e uma desconexão do saber como solução
dos problemas da prática;

• Ser uma estratégia descontínua de capacitação


com rupturas no tempo: são cursos periódicos sem
sequência constante;

• Ter sido, em seu desenvolvimento concreto, dirigida


predominantemente ao pessoal médico e alcançado,
com menos ênfase, o grupo de enfermagem. Centrada
em cada categoria profissional, praticamente descon-
siderou a perspectiva das equipes e diversos grupos
de trabalhadores. (MS, POLÍTICA NACIONAL DE EDUCA-
ÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE, 2009)

A educação continuada pode ser configurada como um


campo de captação e propagação de conhecimentos, práticas

POLÍTICA DE SAÚDE 25
e reflexões sobre o processo de trabalho dos profissionais da
saúde.

Dessa forma, é possível observar o importante papel


dessa modalidade de educação na mobilização dos potenciais
dos profissionais, pois, reforçando o desenvolvimento desses
profissionais, é possível desenvolver uma melhor compreensão
da experiência, da identidade e de seus saberes. (SILVA,
CONCEIÇÃO; LEITE, 2008)

A educação continuada pode ser configurada como um


campo de captação e propagação de conhecimentos, práticas
e reflexões sobre o processo de trabalho dos profissionais da
saúde.
Unidade 4

Dessa forma, é possível observar o importante papel


dessa modalidade de educação na mobilização dos potenciais
dos profissionais, pois, reforçando o desenvolvimento desses
profissionais, é possível desenvolver uma melhor compreensão
da experiência, da identidade e de seus saberes. (SILVA,
CONCEIÇÃO; LEITE, 2008)

Vale ressaltar que alguns autores descrevem a metodologia


da Educação Continuada baseada no modelo tradicional de
educação, por isso, muitos autores, sugerem a Educação
Permanente, que tem seu modelo de ensino baseado no modelo
com foco no aluno. Você sabe o que é o modelo tradicional de
educação?

26 POLÍTICA DE SAÚDE
Figura 06 – Modelo antigo de educação

Unidade 4
Fonte: Pixabay

Segundo Machado e Wanderley (2012), esse processo


tradicional é centrado em “alguém que sabe e ensina alguém que
não sabe” a partir da lógica da transmissão de conhecimentos.

Esse indivíduo que teoricamente sabe mais assume a


função de aconselhar, corrigir e vigiar quem deve aprender o
conteúdo. Esse processo peca ao considerar-se como autoridade
máxima se colocando como único responsável pelo processo de
aprendizagem.

Muitas vezes esse profissional foca na repetição, não se


preocupando com a realidade social, as crenças e os valores
dos indivíduos que devem aprender, os quais se colocam em
segundo plano esperando o conhecimento.

POLÍTICA DE SAÚDE 27
Além da transmissão de conhecimento, outra metodologia
comum de ser utilizada é o condicionamento. Muito utilizada na
educação infantil, é baseado em estímulos e recompensas capaz
de “condicionar” o aprendiz a emitir as respostas desejadas, tendo
como aspecto mais importante os resultados comportamentais.

Educação em Serviço
Pode ser considerado um tipo de Educação Continuada, pois
está relacionada com as atividades e atribuições do profissional.
Esse tipo de educação profissional acontece no ambiente de
trabalho com objetivo de reconstruir os métodos de trabalho
a fim de promover a melhora do serviço realizado assim os
profissionais da área da saúde percebam as falhas e trabalhem
Unidade 4

em busca de melhorar o atendimento aos clientes garantindo


também direitos e qualidade aos usuários.

Educação Permanente
No Brasil, a formação dos profissionais de saúde passou a
ter maior ênfase no texto da Constituição Federal (Artigo 200), no
qual fica estabelecido que “ao sistema único de saúde compete,
além de outras atribuições, nos termos da lei, ordenar a formação
de recursos humanos na área da saúde”.

A partir desse momento a formação profissional passou


a ser reconhecida como fator essencial para o processo de
consolidação da Reforma Sanitária Brasileira.

A educação permanente atualmente está centrada no


processo de trabalho, mas ela tem como propósito melhorar
a qualidade de vida do ser humano em todas as dimensões
pessoais e sociais, auxiliando na formação integral do indivíduo
e na transformação do meio para uma futura sociedade. Essa

28 POLÍTICA DE SAÚDE
educação atua de forma transformadora dos profissionais nos
serviços de saúde através de um processo coletivo entre eles,
utilizando metodologia de atuação multidisciplinar (FARAH, 2006).

Através de incentivo à educação permanente dos


profissionais, essa política vem para garantir a qualidade dos
serviços prestados à comunidade, pois, com profissionais
capacitados os serviços dentem a ser melhores.

O enfoque da Educação Permanente, conforme a “Política


Nacional de Educação Permanente em Saúde” representa uma
importante mudança na concepção e nas práticas de capacitação
dos trabalhadores dos serviços. Supõe inverter a lógica do
processo:

Unidade 4
• Incorporando o ensino e o aprendizado à vida cotidiana
das organizações e às práticas sociais e laborais, no
contexto real em que ocorrem;

• Modificando substancialmente as estratégias educativas,


a partir da prática como fonte de conhecimento e de
problemas, problematizando o próprio fazer;

• Colocando as pessoas como atores reflexivos da prática


e construtores do conhecimento e de alternativas de
ação, ao invés de receptores;

• Abordando a equipe e o grupo como estrutura de


interação, evitando a fragmentação disciplinar;

• Ampliando os espaços educativos fora da aula e


dentro das organizações, na comunidade, em clubes e
associações, em ações comunitárias.

Apesar de ainda estar em construção a Educação


Permanente busca utilizar o modelo pedagógico que tem o
aprendiz como foco o qual tem uma abordagem Humanista e
foca em aspectos de personalidade do sujeito que aprende.

POLÍTICA DE SAÚDE 29
É baseado no “ensino centrado no aluno” cujo conhecimento
existe no âmbito da percepção individual e a aprendizagem é
construída por meio da ressignificação das experiências pessoais
de forma que a educação assume um caráter mais amplo
organizando-se no sentido da formação total do indivíduo.

O professor atua como facilitador da aprendizagem e


das relações interpessoais, observando além da capacidade
de adquirir conhecimento, observa também as características
de personalidade de seus alunos, criando um clima favorável
à aprendizagem através de uma abordagem cognitivista. Essa
abordagem investiga os caminhos percorridos pela inteligência
(cognição) nessa construção do conhecimento. (MACHADO;
WANDERLEY, 2012)
Figura 07 – Modelo de educação professor como um facilitador
Unidade 4

Fonte: Freepik

As mudanças que aconteceram no sistema de saúde e


na população exigiram dos profissionais que prestavam esses
serviços conhecimento e atualização constante. E, para garantir a
educação continuada ou capacitação dos profissionais da saúde,
além de condições de trabalho favorável, o governo insere o
conceito de gestão do trabalho e educação em saúde.

30 POLÍTICA DE SAÚDE
Por isso, em 2003 que o Ministério da Saúde, criou a
Secretaria de Gestão de Trabalho e da Educação em Saúde
(SGTES), que se tornou responsável por formular políticas
orientadoras da gestão, formação, qualificação e regulação dos
trabalhadores da saúde no Brasil. E em 2004, foi implantada a
Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS)
pela Portaria nº 198, na qual o Ministério da Saúde assume a
responsabilidade constitucional de ordenar a formação seus
recursos humanos.

A Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na


Saúde do Ministério da Saúde, desenvolveu o material
descrevendo as Políticas e ações relacionadas à
SAIBA MAIS educação continuada. Inicia descrevendo suas
atividades e descreve de forma sucinta os programas
de qualificação e gestão do trabalho e educação

Unidade 4
em saúde. Nessa unidade vimos alguns deles, mas
vale a leitura na integra para conhecer os demais
programas existentes. Link de acesso:

Neste tópico vimos sobre o trabalho em saúde,


a necessidade da atuação multidisciplinar e
sobre a capacitação dos profissionais da saúde.
RESUMINDO Compreendendo a necessidade de atualização
desses profissionais é criada a Política Nacional
de Educação Permanente que descreve sobre
Educação continuada, em serviço e permanente,
todas de grande importância para as atividades
do dia a dia dos profissionais da saúde. E então?
Aproveitou esse conteúdo e o conhecimento que
lhe foi mostrado?

POLÍTICA DE SAÚDE 31
Compreendendo sobre a
dicotomia público privada
Neste capítulo vamos compreender sobre o
conceito de direito público e privado para poder
entender sobre a dicotomia público privado na
OBJETIVO assistência à saúde. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá.
Avante!

Direito público e privado


O direito, em seu sentido amplo corresponde à exigência de
uma convivência ordenada, pois todas as civilizações persistiram
Unidade 4

e ainda persistem apenas se houver um mínimo de organização,


direção e, principalmente, solidariedade (MAGALHÃES, 2017).

Dessa forma, você deve entender que o direito não pode ser
visto apenas como uma regra ou comando, pois, essa convivência
ordenada, exige valores, consensos, diálogo, cooperação, graus
de violência suportáveis socialmente, solidariedade social
(MAGALHÃES, 2017).

Em alguns momentos utilizamos o termo “direito”


para falar sobre uma norma, em outros momentos
utilizamos essa palavra como o direito individual,
IMPORTANTE ou ainda para dar noção de justiça à determinada
situação: isso é um “direito” seu! Sem contar
que essa palavra também significa a ciência que
estuda dos fenômenos jurídicos nas sociedades.
Consegue perceber que essa mesma palavra tem
diversos significados, então, fique atento durante
a leitura para compreender o significado naquele
momento! Vamos continuar.

32 POLÍTICA DE SAÚDE
Quando falamos de direito, Magalhães (2017, p.16) traz as
três principais funções do direito:
Instrumental: própria da noção de direito como
estrutura normativa de regulação da vida social,
que expressa o dever e ser, como proibir, permitir,
incentivar, promover, penalizar, e os parâmetros de
decidibilidade dos conflitos sociais;

Política: manutenção da coesão social (estabilidade e


segurança) e a possibilidade de controle social;

Simbólica: função de legitimação de comportamentos,


valores e visões de mundo. A norma jurídica nomeia
expectativas de justiça e normalidade, oferece um
padrão de comportamento da sociedade.

Unidade 4
Figura 8 – Três principais funções do direito

Fonte: Adaptado pela autora

Em todas essas funções o direito se manifesta nas relações


de poder, e no campo jurídico ele é constituído pela disputa
dobre “o direito de dizer o direito”. No mundo moderno essa

POLÍTICA DE SAÚDE 33
autoridade é o Estado que representa o poder público e a
produção de normas que são socialmente válidas e vigentes.

Quando falamos do direito público e privado, a esfera


pública é o lugar de excelência do Estado e nas relações de
interesse público entre os diversos atores. Mas, por outro
lado, a moralidade liberal-individual, com a ascensão da classe
burguesa capitalista, a esfera privada ganha grande relevância
na modernidade.

A esfera privada se torna o espaço do indivíduo, do exercício


de sua autonomia de vontade na qual o Estado não deve intervir,
dessa forma, quando há o Estado Liberal a separação entre as
esferas públicas e privadas é profunda e considerada necessária.
Unidade 4

Perceba que o direito privado se refere aos direitos


individuais e inatos do indivíduo, enquanto o direito público tem
a função de garantir os interesses gerais da sociedade através
do Estado (BACELLAR FILHO, 2011). Bacellar Filho (2011, p.2)
descreve, no contexto do Estado Liberal que:
o Direito Público passa a ser compreendido como
repertório mínimo de disposições e instrumentos
referentes ao governo representativo” enquanto o
Direito Privado radicaliza a emancipação do indivíduo,
cujo elemento central é o contrato.

Mas é importante ter em mente que mesmo no direito


privado há legislações que protegem os indivíduos. Como assim
professora? Pensando que o direito privado busca garantir os
direitos individuais, pense em você como emprega e a empresa
em que trabalha.

No momento do contrato de trabalho ambos definem valor


do salário e carga horária certo? Ok, se cada um fosse pensar
individualmente, você gostaria de ganhar o máximo possível

34 POLÍTICA DE SAÚDE
trabalhando o mínimo necessário, não é? Agora a empresa
prefere pagar o mínimo possível com a maior carga horária.

Percebe que, nessa relação, se o Estado não interviesse,


voltaria a acontecer as situações que conversamos nas primeiras
unidades dessa disciplina? Os trabalhadores trabalhariam em
horários absurdos ganhando extremamente pouco. Por isso, o
Estado cria legislações que norteiam o direito público.

Voltando ao nosso exemplo, o salário pode ser um acordo


entre empregado e empregados desde que seja maior que
um salário mínimo ou, no caso de uma categoria profissional
específica, o piso salarial.

Em relação ao horário de trabalho, também pode haver um

Unidade 4
acordo, desde que não passe de 44 horas semanais, com pelo
menos um dia de folga, e intervalo entre jornadas.
Figura 9 – Acordo entre empregado e empregador, bom para ambas as partes

Fonte: PIxabay

Esse é um grande paradigma que temos até hoje!


Independentemente

POLÍTICA DE SAÚDE 35
Já no direito público, o Estado está acima do individual, mas
não quer dizer o Estado como soberano. Espera! O Estado busca
o direito do coletivo, lembra? Então, no direito público é o direito
de todos prevalecer ao direito do indivíduo.

Um exemplo um pouco exagerado, mas que vai ficar


claro para compreender: imagine um indivíduo que usa de sua
“autonomia” e quer, por exemplo, roubar ou matar, perceba
que seu “direito privado” influencia negativamente no direito
coletivo, por isso, a legislação busca garantir a segurança do
coletivo perante a “liberdade” individual. Ficou mais claro essa
relação entre direito público e direito privado?

Ainda está com dúvidas sobre o direito público


e direito privado? Existem vários artigos e vídeos
Unidade 4

simplificando esse estudo, vale apena buscar


ACESSE algum para aprofundar seus conhecimentos, mas
quer uma dica? O canal no Youtube chamado
Direito para calouros explica bem sobre essas
diferenças, vale a pena começar por ele. Link de
acesso:

Mas de que forma esse direito público e privado influenciam


na saúde? Pois bem, vamos continuar nossa conversa com a
dicotomia público privada na saúde.

36 POLÍTICA DE SAÚDE
Dicotomia público privado na saúde
A saúde pública a muito tempo passou a ser objeto de
políticas públicas e de intervenções das diversas esferas do
Estado. Como já vimos, no Brasil, foi em 1988 que a saúde
foi incorporada como direito de todos e dever do Estado na
Constituição Nacional.

Porém a problemática da saúde ainda resiste como uma


questão privada, apesar dos setor público e privado como
setores supostamente complementares, atualmente vemos um
posicionamento diferente.

Vamos a uma situação hipotética: um indivíduo vai ao

Unidade 4
consultório médico, em uma consulta rápida o médico o
diagnostica com hipertensão, prescreve os medicamentos,
mudanças no estilo de vida, hábitos alimentares, entre outros,
de forma muito rápida e resumida.

Esse paciente sai do consultório com o medo e a ansiedade


de, agora, ser uma pessoa doente, com muitas dúvidas de como
conciliar os conselhos do médico com sua intensa jornada de
trabalho.

Pergunto para você, caro aluno, essa consulta foi realizada


no setor público ou no setor privado?

Talvez você esteja pensando que, óbvio, aconteceu no setor


público pois a demanda de atendimento faz com que os médicos
tenham que atuar de forma rápida e objetiva, pois deve atender
ao próximo paciente.

Talvez você reflita também que, no mundo corporativo, cada


minuto “perdido” com um paciente significa menos lucro para a
moderna clínica particular que está realizando o atendimento.

POLÍTICA DE SAÚDE 37
Figura 10 – Medos e ansiedade do paciente

Fonte: Freepik

Esse é um grande paradigma que temos até hoje!


Unidade 4

Independentemente do setor a necessidade de atendimentos


ágeis e, algumas vezes, superficiais são inevitáveis, por motivos
diferentes, mas faz parte da situação do nosso sistema de saúde.

Sim, lembre-se que, mesmo quando falamos do setor


privado, ele faz parte do nosso sistema de saúde primeiro que,
na teoria, ele deve atuar como suplementar ao SUS, segundo
que, na prática, muitas pessoas pagam seus planos de saúde
para agilizarem seus atendimentos buscando uma “melhor
qualidade”. Mas, como vimos no relato hipotético, há, realmente,
uma melhor qualidade?

A partir dessa pergunta devemos refletir sobre a assistência


à saúde pública e privada.

Público e privado na assistência à


saúde
Lembra-se que, antes da criação do SUS toda a assistência
à saúde era privada e “comprada” pelo Governo para suprir os

38 POLÍTICA DE SAÚDE
cuidados dos indivíduos que tinham emprego e pagavam pela
assistência.

Mas no início dos anos 90 com a mudança estrutural da


economia e reforma do Estado buscando racionalização dos
gastos, a partir da a instituição do SUS e readaptação das esferas
de governo a essa nova realidade.

Nesse sentido a assistência pública e privada ganham


novas modalidades, novo meio de se relacionar entre si e com
os indivíduos. Nesse momento há uma análise importante a se
destacar no setor privado: de um lado as baixas remunerações
pagas pelo SUS, de outro, uma possibilidade mais lucrativa de
investimentos no segmento da chamada medicina de grupo e de
seguros-saúde. Qual rumo tomar?

Unidade 4
Figura 11 – Estabelecimentos de saúde privados e a dúvida de qual caminho seguir

Fonte: Freepik

Nesse momento histórico se observa um grande


descredenciamento de instituições de saúde do SUS de
empresas do setor privado com capacidade de se modernizar,
e manutenção do vínculo de estabelecimentos de saúde menos
capitalizadas e mais atrasadas do ponto de vista tecnológico.

POLÍTICA DE SAÚDE 39
Nesse novo momento os municípios passam a ter
autonomia e a busca por maior transparência ao processo
de credenciamento de empresas médicas, bem como um
monitoramento dos serviços que eram contratados, ameaçando,
em alguns casos, as relações duvidosas entre o público e o
privado (BODSTEIN; SOUZA, 2003).

Lembra-se do caráter suplementar do setor


privado, certo? Como um governo municipal
credenciaria um prestador de serviço privado sem
REFLITA explicar exatamente a necessidade? Esse governo
deveria assumir que não tem como prestar esse
serviço, mas por quê? De financiamento para
obras? Falta de planejamento? Falta de aptidão de
gestão? Perceba que terceirizar muitos serviços
Unidade 4

levaria os conselheiros da saúde (lembre-se que


50% deles eram usuários) a compreender que esse
governo municipal não sabe gerenciar os recursos,
como colocá-lo no poder novamente? Dessa forma,
entre manter amizades políticas e ter potencial
para uma próxima candidatura, qual escolher?
Cada governo municipal teve suas escolhas e suas
consequências..

Aqui há um ponto muito interessante dessa história,


você quer ouvir? Muitas empresas do setor privado perderam
grandes oportunidades com o credenciamento e sabe qual
atitude tomaram? Uma atitude muito madura... não mediram
esforços para desqualificar a capacidade da esfera pública na
implementação do SUS, em virtude da proclamada ineficiência
gerencial do Estado, apostando na dificuldade de colocar em
prática esse novo formato de gestão em vigor.

E o que essa postura teve como resultado? Muitas pessoas


começaram a buscar os planos de saúde para “garantir” um
atendimento que o governo não seria capaz de assumir.

40 POLÍTICA DE SAÚDE
E eu pergunto para você aluno, qual sua visão
do SUS hoje? O que você vê na mídia sobre os
atendimentos pelo SUS? As ações voltadas à saúde
REFLITA da família que vem tendo grandes resultados
desde sua implementação como um programa
municipal do nordeste, e agora de forma nacional
ao se tornar uma estratégia? Ou as grandes filas
nos hospitais com falta de leitos e atendimento?

Não digo que o SUS não tem problemas, mas acredito que
temos que ter em mente que ele tem 30 anos! Alguns municípios
conseguiram receber recursos Federais apenas no ano 2000,
pois não tinha se adaptado as novas normas.

Há sim muito que melhorar, mas essa mudança está

Unidade 4
acontecendo, mas, enquanto as tragédias forem notícias mais
impactantes do que os avanços, enquanto as melhorias não
começarem a aparecer nos jornais e na televisão, ainda teremos
muitas pessoas reclamando do SUS enquanto são beneficiadas
por ele sem realmente valorizá-lo.

E eu finalizo esse capítulo lembrando da primeira unidade


desta disciplina, quando vimos os sistemas de saúde do mundo,
mas especificamente do governo cubado, o qual dá total
cobertura de assistência à saúde da população e apresenta os
custos com os serviços de saúde aos usuários através de cartazes
com o título: “Teu serviço de saúde é gratuito... mas custa”...

Minha pergunta é... Esta atitude está errada? Será que a


partir do momento que a população compreende quando custa
o cuidado com a sua saúde ela saberá valorizar o atendimento
dos sistemas de saúde para todos?

POLÍTICA DE SAÚDE 41
Figura 12 – Grandes dúvidas que permanecem

Fonte: Freepik

Neste capitulo conversamos sobre os conceitos de


direito público e privado para poder compreender
um pouco mais sobre a dicotomia público privado
RESUMINDO na saúde e as dificuldades que as mudanças na
Unidade 4

assistência à saúde passaram, e ainda passam,


nessa transição do modelo de cuidado do INAMPS
para o SUS. E então? Conseguiu compreender mais
sobre esse tema? Começou a refletir sobre a sua
opinião em relação ao SUS? Ainda não? Bom, então
vamos conversar um pouco sobre os avanços de
desafios desse sistema para que você consiga
refletir mais.

42 POLÍTICA DE SAÚDE
Conhecendo os avanços e
desafios do SUS
Neste capítulo vamos falar sobre os avanço e
desafios do SUS nesses 30 anos de história. E então?
Motivado para desenvolver esta competência?
OBJETIVO Então vamos lá. Avante!

Avanços do SUS
Ao longo desses 30 anos de existência, aconteceram muitos
avanços relacionados às políticas de saúde, alguma reconhecidas
pela Organização Mundial da Saúde como exemplos de

Unidade 4
experiências positivas para outros países.

Foram elaboradas diversas Políticas Nacionais, dentre


elas a de Atenção Básica e o Programa Saúde da Família, vamos
conhecer algumas delas

Políticas Públicas de Saúde


As Políticas Públicas são diretrizes cuja finalidade é nortear
as ações em determinada área da vida social formuladas a partir
de discussões entre vários atores da sociedade como governos,
legisladores, representantes de associações civis e de setores
produtivos como comercio, indústria transporte, entre outros,
resultando em um consenso e várias das proposições geradas
dessas discussões podem se tornar leis. Dentre as políticas
públicas existentes podemos citar:

• Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNAHOSP);

• Política Nacional de Atenção às Urgências (PNAU);

POLÍTICA DE SAÚDE 43
• Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(PNAISM);

• Saúde da criança e do adolescente;

• Política Nacional de Atenção à Saúde Integral do


Homem (PNASIH);

• Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI);

• Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS);

• Política Nacional de Humanização (PNH);

• Política Nacional da Atenção Básica (PNAB).

Vamos conhecer algumas políticas públicas vigentes


no país e como elas influenciam o trabalho dos gestores dos
Unidade 4

serviços de saúde.

A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) foi


aprovada pela Portaria nº 687, de 30 de março de 2006, tem entre
seus focos de atuação o enfrentamento dos fatores de risco por
meio de ações intersetoriais e educação para a saúde. (SOLHA,
2014) Dentre os focos e estratégias da PNPS podemos citar:

• Alimentação saudável: consiste em garantir acesso ao


alimento através de ações que reduzam a pobreza ex-
trema, combate à fome e promovam a inclusão social,
bem como estimular a agricultura familiar e implemen-
tar ações de vigilância nutricional além de levar infor-
mações sobre alimentação saudável à população;

• Prática corporal/atividade física: estimular a socieda-


de a realizar atividade física além de aumentar a oferta
dessas práticas na AB;

• Prevenção e controle do tabagismo: reforçar políti-


cas de controle do tabaco com a criação de contexto
social desfavorável para o uso do fumo como restrição

44 POLÍTICA DE SAÚDE
de vendas e de propagandas, além de aumentar o aces-
so do fumante a métodos eficazes para a cessação do
tabagismo;

• Redução da morbimortalidade por uso abusivo de


álcool e outras drogas: divulgação de informações so-
bre o impacto do uso de álcool/drogas, apoio à restri-
ção de propagandas de bebidas alcoólicas, bem como
promover educação para hábitos saudáveis voltada a
crianças e adolescentes;

• Redução da morbimortalidade por acidentes de


trânsito: desenvolvimento de leis em relação à proi-
bição de álcool por motoristas, ações intersetoriais de
educação no trânsito;

Unidade 4
• Promoção da cultura de paz e não violência: capaci-
tação de profissionais e gestores em relação ao acolhi-
mento e condução de casos de violência doméstica e
sexual, incentivo aos municípios para elaboração e im-
plantação de programas de enfrentamento da violên-
cia, articulação entre setores para redução doo turismo
e exploração sexual.
Figura 15 – Mudança no estilo de vida

a) b)

Fonte: Freepik

POLÍTICA DE SAÚDE 45
Perceba que essas ações são voltadas para os determinantes
de saúde, atuando de forma ampla para melhorar a qualidade
de vida da população obtendo resultados gerais com mudanças
em todas as camadas da sociedade atuando da coletividade
aos indivíduos, a partir da educação e do estimulo das pessoas
a terem hábitos saudáveis e incentivando-as a participarem de
forma ativa em discussões, eventos, associações, locais onde
possam ser formuladas propostas de melhorias (SOLHA, 2014)

Outra política importante foi a Política Nacional de


Humanização (PNH) a qual existe desde 2003 com a finalidade
de “efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de
atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e
incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e
Unidade 4

usuários” como descrito no próprio site do Ministério da Saúde.

Você sabe o que é um cuidado humanizado? Esse


cuidado é pautado no respeito ao outro de forma
afetiva e compromissada.
VOCÊ SABIA?

Para se ter um SUS humanizado é necessário reconhecer


o outro como legítimo cidadão com direitos e valorizar os
diferentes indivíduos inseridos nesse processo de produção de
saúde. (SOLHA, 2014; MS, 2019)

Compreenda que, para enfrentar os problemas existentes


no SUS, devemos ter profissionais preparados para pensar e
observar a situação de forma integral, considerando o indivíduo
como um todo e eu precisa de cuidados de diversas formas como
razão, emoção, biológico e social, equilibrando as ações entre
problemas sociais, psicológicos e biológicos.

Para que isso aconteça de forma fluida é necessária a criação


de um vínculo entre profissional e paciente. A humanização

46 POLÍTICA DE SAÚDE
do cuidado deve ser um tema presente na gestão dos serviços
e situações de cuidado à população, para isso, foram traçadas
diretrizes importantes como:

• Clínica ampliada: estratégia de cuidado eu valoriza


a participação multiprofissional, na qual todos os
profissionais nem suas diversas áreas atuam em uma
assistência única baseados em seus conhecimentos;

• Cogestão: maior participação de trabalhadores e


usuários nos processos de gestão dos serviços de
forma que as decisões se tornam compartilhadas não
apenas impostas pelos gestores e gerentes;

• Acolhimento: pratica de escuta ativa preconizada pela


PNAB;

Unidade 4
• Valorização do trabalho e do trabalhador;

• Incentivo a construção coletiva da saúde formando


redes de apoio informais para a comunidade e
fortalecimento das redes formais já existentes;

• Defesa dos Direitos do Usuário;

• Construção da memória de um “SUS que dá certo”.


Figura 14 – Atendimento humanizado – cuidado com atenção, carinho e respeito ao paciente

Fonte: Freepik

POLÍTICA DE SAÚDE 47
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) tem como
legislação a Portaria nº 2.488 de 2011 e a Portaria nº 2.436 de
2017, ambas estabelecem a revisão de diretrizes e normas para
organização da Atenção Básica, sendo a primeira voltada para
a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS) e a segunda trata sobre essa
organização no âmbito do SUS como um todo.

A primeira edição da PNAB, em 2006, foi criada no


contexto do Pacto pela Saúde e ampliou o escopo
da Atenção Básica quando incorporou atributos
IMPORTANTE mais abrangentes à Atenção Básica, porém essa
Portaria foi revogada pela Portaria de 2011 a
qual modifica a organização do SUS colocando
a Atenção Básica como nível central dentro do
Unidade 4

sistema com responsabilidades como coordenar


a integralidade da assistência através de ações
de promoção, prevenção e de cura em relação às
doenças e seus agravos, ou seja, em relação as
condições de saúde.

A primeira edição da PNAB, em 2006, foi criada no contexto


do Pacto pela Saúde e ampliou o escopo da Atenção Básica
quando incorporou atributos mais abrangentes à Atenção
Básica, porém essa Portaria foi revogada pela Portaria de 2011 a
qual modifica a organização do SUS colocando a Atenção Básica
como nível central dentro do sistema com responsabilidades
como coordenar a integralidade da assistência através de ações
de promoção, prevenção e de cura em relação às doenças e seus
agravos, ou seja, em relação as condições de saúde.

A primeira edição da PNAB, em 2006, foi criada no contexto


do Pacto pela Saúde e ampliou o escopo da Atenção Básica
quando incorporou atributos mais abrangentes à Atenção
Básica, porém essa Portaria foi revogada pela Portaria de 2011 a
qual modifica a organização do SUS colocando a Atenção Básica

48 POLÍTICA DE SAÚDE
como nível central dentro do sistema com responsabilidades
como coordenar a integralidade da assistência através de ações
de promoção, prevenção e de cura em relação às doenças e seus
agravos, ou seja, em relação as condições de saúde.

Ainda haviam alguns pontos críticos como o subfinancia-


mento, a estrutura precária, o modelo assistencial e a dificuldade
de conseguir profissionais médicos. Por isso, em 2011, um movi-
mento de mudança na PNAB como:

• Requalifica UBS: construções, reformas, ampliações e


informatização das UBS;

• Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ);

• Programa Mais Médicos (PMM);

Unidade 4
• e-SUS AB: disponibilidade de prontuários eletrônicos
gratuitos para os municípios;

• Criação de diferentes modalidades de equipes: consul-


tórios na rua, ribeirinhas e fluviais.

Para que a Atenção Básica pudesse ter suas atividades


desenvolvidas foram criados programas e estratégias, dentre
eles o Programa Saúde da Família e Estratégia Saúde da Família,
nas próximas páginas você conhecerá alguns deles!

Programa Saúde da Família e Estratégia


Saúde da Família
O Programa Saúde da Família surgiu como uma estratégia
de reorientação do modelo assistencial em conformidade
com os princípios do SUS, em um momento que o modelo
hospitalocêntrico não consegue mais atender as mudanças do
mundo moderno e as necessidades de saúde das pessoas a
partir da execução das ações de saúde relativas a promoção da

POLÍTICA DE SAÚDE 49
saúde a prevenção de doenças e a reabilitação dos indivíduos e
da comunidade. Além disso, esse programa visa a humanização
do SUS com a valorização dos aspectos que influenciam a saúde
das pessoas fora do ambiente hospitalar. (BASSANI, MORA;
RIBEIRO, 2009)

O Programa Saúde da Família foi implantado, efetivamente


em 1994 como Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS), inicialmente na cidade de Sobral (CE) como uma experiência
inovadora baseada em resultados obtidos no Canadá e em Cuba
em conjunto com os conhecimentos de pesquisadores e técnicos
brasileiros que acrescentaram outros profissionais nesse modelo
internacional como o enfermeiro ampliando a capacidade
dessa equipe de resolução de problemas. A equipe do PACS era
Unidade 4

composta por um enfermeiro e Agentes Comunitários de Saúde


(ACS) cuja quantidade variava de acordo com a população com o
máximo de doze profissionais devidamente capacitados para as
atividades de prevenção e promoção da saúde.
Figura 17 – Sertão nordestino Brasil

Fonte: Pixabay

50 POLÍTICA DE SAÚDE
O crescimento das equipes de Saúde da Família (eSF) nos
dados trazidos por Melo (2018), o qual destaca que em 2013
havia 34.724 eSF no Brasil e em 2015 esse valor chega a 40.162.
Ainda assim alguns pontos críticos ainda prevaleciam como
o subfinanciamento, precarização da formação profissional,
dificuldade da integração da Atenção Básica com os demais
componentes das redes de atenção, entre outros.

Como PSF era possível que fosse interrompido a qualquer


momento, em 2012, se torna estratégia o que garantiu a
continuidade desse trabalho. Por isso foi criada a Estratégia de
Saúde da Família (ESF) que vamos conhecer melhor agora!

A equipe da Estratégia Saúde da Família é composta por


enfermeiro, médico, auxiliar ou técnico de enfermagem e

Unidade 4
agente comunitário de saúde atuando em conformidade com as
diretrizes do SUS e da PNAB.

Vale ressaltar que o acolhimento do usuário é uma das


principais atribuições de qualquer profissional pertencente, não
apenas a equipe de saúde da família, mas também da própria
UBS. Deve-se garantir a escuta de qualidade e o encaminhamento
desse paciente para que sua situação seja resolvida, isso facilita
a criação do vínculo sendo possível manter esse usuário dentro
da rede de atenção à saúde para que seu cuidado aconteça, bem
como, estimulá-lo a desenvolver a autonomia do cuidado a partir
de ações educativas que interfiram no processo saúde-doença.

Desafios do SUS
Quando lembramos o conceito de saúde atual, seus fatores
determinantes e condicionantes e observamos na prática como
acontece o cuidado no SUS, percebemos que esse ainda é um
grande desafio: a melhoria dos serviços de saúde, é claro que

POLÍTICA DE SAÚDE 51
observamos grandes avanços como o novo modelo de Atenção
Básica que já conversamos, mas ainda há muito que melhorar.

Vale ressaltar que o financiamento continua sendo uma


“pedra no sapato” quando falamos em avanços e, principalmente
em desafios do SUS. Durante esses 30 anos muitas mudanças
aconteceram, políticas neoliberais que incentivavam o setor
privado enquanto as restrições orçamentarias cada vez mais
reduziam os valores repassados aos serviços públicos.

Dessa forma, podemos dizer que ainda é um grande desafio


do nosso sistema sobreviver dentro dessa “politicagem” com
qualidade nos atendimentos, mínimos recursos para se manter,
e a má gestão desses recursos já escassos.
Unidade 4

Como descrito por Figueiredo (2009, p. 8) “os problemas


estão na raiz desde quando se pensou o sistema de saúde
brasileiro, de lá pra cá não se discute a saúde com direito de
fato”. Por isso, pode-se dizer que atualmente grande parte dessas
dificuldades está relacionada com a má gestão dos recursos,
principalmente, em relação a desvios ou pouca habilidade de
manejo dessas verbas públicas que são repassadas a Atenção
Básica, e a rede de atendimento especializado.

Por esses dois motivos as dificuldades na incorporação de


novas tecnologias, como já conversamos na unidade passada,
também se torna um desafio atual para o nosso sistema de
saúde.

52 POLÍTICA DE SAÚDE
Neste capítulo vimos os avanços importantes
voltados à assistência em saúde, como algumas
Políticas Nacionais, o Programa Saúde da Família
RESUMINDO e a Estratégia Saúde da Família. Esses avanços nos
mostram que houve grande mudança no perfil do
cuidado, deixando o atendimento hospilatocêntrico
e passando a cuidar do indivíduo em seu local.
Mas ainda há muito que melhorar nesse perfil de
atendimento, por isso, também se enquadra como
um desafio, em conjunto com o subfinanciamento
e a má gestão dos mesmos. E então? O que achou
sobre os avanços do SUS nesses 30 anos? E esses
desafios? Será que conseguiremos superá-los?
Bom, só o tempo e movimentação da população
que poderá resolver essas dificuldades.

Unidade 4

POLÍTICA DE SAÚDE 53
BASSANI, G., MORA, J., & RIBEIRO, J. (2009). O Programa Saúde da Fa-
mília como estratégia de Atenção Primária para o Sistema Único
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BODSTEIN, R., & SOUZA, R. (2003). Parte VI - Relação público e privado


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objetos e abordagens em ciências sociais e saúde. Rio de Janeiro:
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