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Acolhimento À População Transgênero Na Unidade Básica de Saúde Corrigido

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AMANDA SIHNEL CORTEZ DA SILVA

NATHALIA HEVELLYN SCHERER


PAULA MOSCOVITS QUEIROZ
TAZIANE MARA DA SILVA

ACOLHIMENTO À POPULAÇÃO TRANSGÊNERO NA


UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

Umuarama, PR
2022
AMANDA SIHNEL CORTEZ DA SILVA
NATHALIA HEVELLYN SCHERER
PAULA MOSCOVITS QUEIROZ
TAZIANE MARA DA SILVA

ACOLHIMENTO À POPULAÇÃO TRANSGÊNERO NA


UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

Projeto de Intervenção apresentado ao Curso de


Medicina da Universidade Paranaense, como requisito
parcial para aprovação no Estágio Supervisionado em
Saúde da Família e Comunidade I/Saúde Coletiva I.

Orientador: Jorge Antonio Vieira.

Umuarama, PR
2022
AMANDA SIHNEL CORTEZ DA SILVA
NATHALIA HEVELLYN SCHERER
PAULA MOSCOVITS QUEIROZ
TAZIANE MARA DA SILVA
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradecemos a Deus que nos oportunizou chegar até aqui
com força de vontade e permaneceu ao nosso lado, conduzindo-nos para superar
todos os obstáculos e desafios.
Agradecemos também às nossas famílias que nos proporcionaram base,
apoio, incentivo e paciência durante todo esse processo, auxiliando-nos nas
adversidades e compreendendo nossa ausência em prol de um sonho.
Ao nosso orientador Jorge Antonio Vieira, somos gratas por ter embarcado
nesse projeto conosco na luta contra o preconceito, buscando a inclusão dos que
precisam ter voz para lutarem por suas existências em autoafirmações; e por todo o
tempo disponibilizado para garantir a viabilidade desse projeto.
Um agradecimento especial a nossa professora Danielle Barreto que, na
matéria de Relação Médico-Paciente, nos apresentou cientificamente o tema da
sexualidade garantindo-nos informação acerca do assunto e respondendo às
dúvidas que surgiam mesmo fora do ambiente acadêmico.
E a todos aqueles que lutam contra qualquer forma de preconceito. Sejam
resistência!
“Devemos não somente nos defender, mas também nos afirmar, e nos afirmar não
somente enquanto identidades, mas enquanto força criativa”.

Michel Foucault, 1982.


DA SILVA, Amanda Sihnel Cortez; SCHERER, Nathalia Hevellyn; QUEIROZ, Paula
Moscovits, DA SILVA, Taziane Mara. Acolhimento à população transgênero na
Unidade Básica de Saúde. Orientador: Jorge Antonio Vieira. 2022. 26 f. Projeto de
Intervenção (Curso de Graduação em Medicina) - Universidade Paranaense,
Umuarama, 2022.

RESUMO
A expressão identitária composta pela população transgênero, representada por
pessoas com incongruência entre a identidade de gênero e o sexo de nascimento,
tem assegurada constitucionalmente e através do Conselho Federal de Medicina,
direito integral à saúde. Não obstante o âmbito legislativo salvaguarde essa garantia,
é recorrente o desmazelo dirigido a essa população no contexto das Unidades
Básicas de Saúde. Destarte, é oportuno destacar que a problemática não é uma
circunstância ocasional, mas um desdobramento dos padrões históricos da violência
estrutural que marginaliza as vivências identitárias, suscitando adversidades na
qualidade de vida. Diante dessa projeção, é imperioso que profissionais da saúde se
revistam do conhecimento atinente ao assunto, uma vez que a compreensão do
referencial biopsicossocial é um passo inicial e decisivo na implementação de
medidas para extirpação ou minimização dessa excludente assistencial à população
transgênero. Com efeito, o projeto tem por escopo propiciar ciclos informativos para
equipes de saúde da Atenção Básica de Umuarama, intencionando, dessa forma,
prosperar humanização à população trans nesse cenário. A adoção da intervenção
dar-se-á em ambiente de infraestrutura propícia, em formato de dois encontros de
mesa-redonda, visando sensibilizar gestores das UBSs e 12º Regional de Saúde do
Paraná concernente aos serviços prestados ao público transgênero, especialmente
no que se refere ao acolhimento desse setor. Nesse ínterim, objetiva-se explicitar
informações referentes às definições, histórico, tratamento, legislação, além de
elucidar dados sobre a saúde da população trans, epidemiologia, fluxogramas,
acolhimento, procedimentos e saúde mental. Findo os encontros, serão realizadas
avaliações orais e/ou devolutivas de questionários ao público-alvo, ambicionando
monitorar a qualidade da ação proposta. Com fulcro nesse influxo, o projeto anseia
pela conscientização quanto às questões emergentes da população trans, instituindo
um vínculo entre a experiência desse público e o conhecimento sobre termos e
prerrogativas que certifiquem o direito à saúde desse público através da Atenção
Primária à Saúde.
Palavras-chave: Acolhimento. Atenção Primária. Humanização. Transgênero.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 7

2. JUSTIFICATIVA......................................................................................................9

3. OBJETIVOS.......................................................................................................... 10

3.1 OBJETIVO GERAL...........................................................................................10

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................10

4. REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................11

5. METODOLOGIA....................................................................................................17

5.1 LOCAL DA INTERVENÇÃO.............................................................................17

5.2 SUJEITOS DA INTERVENÇÃO.......................................................................17

5.3 ESTRATÉGIAS E AÇÕES................................................................................17

5.4 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO.................................................................18

6. RESULTADOS ESPERADOS...............................................................................20

7. CRONOGRAMA....................................................................................................21

8. VIABILIDADE E RECURSOS NECESSÁRIOS....................................................22

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 23
7

1. INTRODUÇÃO
A resolução 2.265 do Conselho Federal de Medicina - CFM (2019) discorre
sobre cuidados específicos às pessoas com incongruências de gêneros, mais
conhecidas como transgênero, que representam um grupo de pessoas com não
paridade entre sua identidade de gênero com o sexo de nascimento, incluindo nessa
compreensão transexuais, travestis e outras expressões identitárias. Na saúde, a
resolução supracitada ainda esclarece que a atenção integral a essa população
deve contemplar suas necessidades, garantindo acessibilidade sem discriminação
às atenções básicas, promovendo acolhimento, acompanhamento, procedimentos
clínicos, além de atenção especializada com cuidados específicos, contemplando
também a hormonioterapia e cuidados cirúrgicos conforme preconizado em Projeto
Terapêutico Singular (PTS) norteado por diretrizes vigentes.
Em cômpar a diretriz, a Constituição Federal (1988), prevê como direito de
todo cidadão acesso à saúde, sendo dever do Estado garantir políticas sociais e
econômicas que reduzam doenças e agravos. No entanto, a saúde da população
transgênero tem sido negligenciada, por falta de capacitação profissional,
compreensão de manejo assistencial e integrativo, falta de recursos municipais nas
Unidades Básicas de Saúde, além de um contexto de desconhecimento sobre esse
grupo minoritário em âmbito geral (BENEVIDES; NOGUEIRA, 2020).
Associado a esse problema, as autoras supracitadas ainda esclarecem que
essa população sofre constante violência tanto que o Brasil foi elevado ao topo da
lista mundial em números de assassinatos contendo população trans no ano de
2020. Toda essa violência estrutural, junto à transfobia, marginalização e
vulnerabilidade são resultados da patologização das vivências identitárias até a nona
edição da Classificação Internacional de Doenças (CID); da compreensão
biologizante dos gêneros por uma lógica hetero-cis-normativa associado à falta de
discussão acerca do tema; a interferência religiosa no Estado, que deveria ser laico,
com uma política antitrans; dificuldade de acesso às Delegacias da Mulher e a falta
de denúncia formal gerando ausência de notificações e de dados que eximem o
Estado de sua responsabilidade de pautar medidas de segurança; e favorecem sua
omissão diante da violação desses direitos humanos, gerando consequências para
qualidade de vida dessa população como falta de apoio familiar e social, bem como
sofrimento psíquico.
8

Segundo Sampaio e Coelho (2013), tratando-se de profissionais da saúde, a


distinção entre sexo, gênero e sexualidade é fundamental, tendo conhecimento
acerca dos permeios da população LGBTQIAPN+, que inclui a população de
pessoas lésbicas, gay, bi, trans, queer, intersexo, assexuais, pan, não binárias e
mais. Ao aderirmos à visão teórica de que o sexo biológico é um referencial teórico
profissional, geramos consequências psicossociais àquele paciente. No entanto, ao
adotar uma lógica excludente ao sexo e à genitália, podemos parecer omissos e
negligentes quanto ao tratamento daquele indivíduo, que não vai ser analisado de
forma individualizada, podendo gerar repercussões à saúde do paciente em sua
totalidade. Um médico que desconhece o referencial biológico, social, psicológico e
cultural de seu paciente pode facilmente se equivocar em questões
psicopatológicas, e, portanto, é incontrolável o que a falta de espaço nas
universidades e unidades de saúde para a discussão da transexualidade pode gerar
na conduta médica e dentro da relação médico-paciente.
Como seu papel, a Atenção Básica deve identificar, notificar, amparar e
cuidar, oferecendo espaço privilegiado na gestão de cuidados, garantindo um nível
assistencial adequado a toda população. Assegurando acesso à saúde, notificação
adequada para viabilizar dados populacionais; auxiliando na vivência social do
indivíduo ao respeitar direitos humanos, utilizando-se do nome social e abrindo
espaço para discussão técnica e informativa acerca do tema, promovendo
acolhimento e apoio multidisciplinar para suporte das dificuldades vivenciadas pelo
grupo, englobando o ambiente familiar desenvolvendo assim redes de apoio e
suporte em contraposição à marginalização; e dando voz para o indivíduo em
questão gerando bem-estar e autoestima e estes, quando abalados, sejam
devidamente assistidos de forma a prevenir e tratar transtornos psiquiátricos e uso
abusivo de substâncias que possam levar ao suicídio (SÃO PAULO, 2020).
9

2. JUSTIFICATIVA
Corroborando com o contexto já exposto, a pesquisa realizada por Velho
(2020) para a construção de um protocolo de cuidado de acordo com a demanda em
saúde da população Trans, demonstra que a maior lacuna da promoção de saúde
na Atenção Básica é encontrada no acolhimento e na humanização, pontuando
estes, como fatores cruciais para integralidade do cuidado, ressaltando também a
urgência na implementação de práticas diferenciadas e específicas direcionadas às
pessoas trans, de acordo com as suas singularidades.
A política Nacional de Humanização (PNH), publicada no ano de 2003, aponta
a humanização como um meio de incorporação de dessemelhanças nos
mecanismos de coordenação e de cuidados à saúde, já o acolhimento se apresenta
como um dos pilares das diretrizes da PNH com objetivo da construção coletiva de
vínculos que contenham em seu cerne confiança, engajamento e vinculação entre
serviços de saúde e seus usuários (BRASIL, 2013a).
Destarte, é possível interpretar que, as singularidades e especificidades
relacionadas à população trans devem ser abarcadas no processo de construção de
práticas de saúde, entretanto, previamente a estas, é imprescindível o que o autor
supracitado aponta de escuta qualificada, ou seja, buscar conhecer as populações
trans, entender os contextos aos quais estão inseridos, suas vulnerabilidades,
compreender as demandas e as particularidades envolvidas nas subjetividades
trans, para que sejam instituídas práticas de saúde de fato efetivas, especialmente
na Atenção Básica, que se configura como porta de entrada para tais cuidados.
Nesse sentido, torna-se crucial a informação e o conhecimento dos integrantes da
equipe de saúde a respeito da realidade da população trans para a implementação
de ações de saúde direcionadas e consentâneas, visando garantir o direito de
acesso à saúde.
10

3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
O presente projeto tem como objetivo central promover ciclos informativos
para equipes de saúde municipais da Atenção Básica, visando contribuir para
desenvolvimento de ações humanizantes à população trans na Atenção Primária à
Saúde.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Tendo por fulcro as limitações de dinâmicas humanizadoras experienciadas
pela população trans em ambientes da Atenção Básica, o projeto tem por escopo:
● Estimular ações compassivas e assertivas dirigidas a esse público, assistindo
o paciente desde o seu recebimento na unidade de saúde, fazendo-se mister
que a equipe esteja habilitada durante o atendimento.
● Proporcionar mesas-redondas que contribuam com informações para essa
receptividade, incluindo as conceituações que abarcam o âmbito da
população trans e os estigmas e intempéries perpassados em espaços de
Atenção Primária.
● Expor as possibilidades das linhas de ações de saúde, cuidados e
encaminhamentos a serem dirigidos, visando a integralidade da assistência.
● Sensibilizar as equipes de saúde municipais da Atenção Básica no que diz
respeito à importância do acolhimento de pessoas trans, enfatizando a
relevância da escuta qualificada para a construção de práticas direcionadas à
população trans.
11

4. REFERENCIAL TEÓRICO
Visando melhor contextualizar a temática, cumpre observar preliminarmente
os aspectos conceituais e teóricos sobre a diversidade identitária e sexual
(LGBTQIAPN+). Com efeito, conforme exprimem Lemos e Carvalho (2020), gênero
pertine a particularização sociocultural, não exclusivamente biológica, da dicotomia
homem ou mulher, influído de acordo com o papel social e identidade sexual de
cada indivíduo. Por sua vez, identidade de gênero caracteriza-se por uma
identificação social, seja homem, mulher ou o que melhor lhe convier, podendo ou
não concordar com o sexo de seu nascimento. No que diz respeito, a orientação
sexual é correlata a atração afetivo-sexual por outrem. Por seu turno, o termo
cisgênero atine a pessoas cujo gênero é o mesmo daquele qualificado durante o
nascimento, ou seja, é a conformidade entre identidade de gênero e o sexo
biológico. É importante ressaltar também que Abdo (2004) define a orientação
sexual como sendo a atração física e sexual a determinado sexo. Atenta-se que
nesse cenário não é incluso o contexto do intercurso sexual com o qual o indivíduo
realiza a prática.
Inserto nessa miríade de sentidos, a população transgênero, de acordo com
Magalhães e Saliba (2022), pertine a pessoas que vivem os papéis de gênero de
maneira não convencional, transitando entre os gêneros. Difere dessa terminologia,
segundo aduzem Lemos e Carvalho (2020), o contexto envolvendo a
transexualidade, que abarca indivíduos que destoam a identidade do gênero
daquela designada no nascimento, empenhando-se, dessa forma, em realizar a
transição para o gênero oposto, mediante intervenção médica, seja a redesignação
sexual ou a feminilização ou masculinização.
Outros conceitos pertinentes às identificações de gêneros são as populações
crossdresser, travesti e drag queens ou transformistas. Ao tratar do assunto,
Magalhães e Saliba (2022) explicam que os crossdresser abrangem um grupo de
pessoas que vestem roupagens convencionadas como sendo proeminentemente
imputadas ao sexo oposto, objetivando experienciarem, de forma temporária, a
essência de diferentes gêneros. A terminologia travesti inclui pessoas que nascem
com o sexo masculino, embora tenham a identidade de gênero feminina,
desenvolvendo atribuições distintas daquelas impostas pela sociedade. Ademais,
drag queens, também denominadas transformistas, é associado a homens que se
revestem de trajes tidos como femininos, tencionando uma apresentação artística.
12

Os autores Locks et al. (2015) assinalam que abordar sobre gênero


contemporaneamente alude a desconstrução de considerações historicamente
edificadas, pois, são anos de passado que não se admite nada mais que sexo
biológico.
Diante dessas anotações e considerando a marginalização e preconceito de
populações não normativas, é comum que não seja dada a devida valoração as
significações e, para além, persista um desinteresse na compreensão de
terminologias básicas acerca de sexo biológico, identidade de gênero e
sexualidades. Observa-se uma resistência nas formas de interpretação, não
raramente culminando em equívocos e miscelânea de termos, como se
representassem o mesmo conceito.
Quando abordada a questão do sexo biológico, Jesus (2012) explica que, ao
nascer, o sujeito é reconhecido pelo sexo a partir do órgão sexual e cromossomo
sexual. Nesse sentido, Picazio (1998) apura que são os princípios, preceitos e
morais de um determinado local, sua construção histórica, cultural e social que
determinam a forma com que as pessoas são tratadas como homem e mulher que
conduzem a subjetividades femininas e masculinas. Nessa perspectiva, o autor
supracitado ressalta que a maneira como qual as pessoas se reconhecem homem e
mulher advém por meio de aprendizado, no contexto em que se encontram inseridas
e não determinadas pelo nascimento.
A corroborar as consagrações do autor supracitado, insta transcrever os
entendimentos de Foucault (1998), ao dispor sobre sexualidade e as diferenciações
de nomenclatura:
A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à
realidade subterrânea que se apreende com dificuldade, mas à grande rede
da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos
prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço
dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo
algumas grandes estratégias de saber e de poder. (FOUCAULT, 1988, p.
116-117).

Oliveira et al. (2019) explicam que sexualidade é reconhecida sob um ponto


de vista amplo, não sendo sinônimo de sexo, mostrando que a sexualidade está
presente em todas as fases da vida e é caracterizada por uma multiplicidade de
fatores afetivos.
Nesse ponto, é importante destacar a constância de enfrentamentos que visam
reduzir os estigmas e preconceitos, visando a afirmação de uma identidade diferente
13

da que já está moldada no binário homem/mulher. Tais eventos traduzem-se em


verdadeiras conquistas históricas no processo da busca pelo reconhecimento e pela
13

concretização dos direitos e deveres da classe LGBTQIAPN+.


Posto isto, são perceptíveis os diversos obstáculos enfrentados pela
população trans frente a inconsonância apresentada pela não identificação pelo
sexo biológico e sim pelo seu gênero, inserido em um contexto que estigmatiza tudo
aquilo que difere da construção social, cultural e histórica.
Ainda que nos últimos anos houvesse um avanço na aceitação das
identidades de gênero e expressões LGBTQIA+, são observadas diversas atitudes
negativas diante das minorias sexuais, revelando uma indicação da ausência de
inclusão expressiva dos gêneros LGBTQIA+ nos cenários de educação e saúde
(LIM; HSU, 2016).
A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil adequou-
se ao regime democrático e de acordo com Paiva e Teixeira (2014), a nova carta
constitucional passa a consagrar a saúde como direito do cidadão e dever do
Estado, edificando assim, o sistema público de saúde, que preconiza um modelo
sem distinção de classe, cor, credo e gênero.
Um grande avanço ocorreu em 2013, a partir da Portaria nº 2.803 do
Ministério da Saúde tendo como objetivo regulamentar o Processo Transexualizador,
no que tange tratamento psicológico, cirúrgico e endócrino da população trans. No
entanto, o tempo dos serviços de habilitação, estruturação e execução do processo
pode caracterizar um processo longo e exaustivo, gerando espera, ansiedade e
angústia, podendo até mesmo acarretar na desistência de uma sonhada
redesignação, sendo um processo ainda mais difícil para mulheres trans, uma vez
que a cirurgia ainda está em processo experimental (BRASIL, 2015)
No entanto, destaca-se que o tratamento para a população deve ultrapassar
o viés prescrito na portaria 2.893/2013, na medida em que o atendimento deveria ser
empreendido pela totalidade da equipe, respeitando-se protocolos referentes à
respectiva identidade de gênero. Para tanto, espera-se dos profissionais da área de
saúde uma reflexão sobre suas ações dentro da Atenção básica, objetivando o ideal
acolhimento dessa população, conforme aponta a Política Nacional de Humanização
ao afirmar que se deve “reconhecer o que o outro traz como legítima e singular
necessidade de saúde” (BRASIL, 2013a, p.7).

A Atenção Básica, de acordo com o Ministério da Saúde, é o conjunto de


ações de saúde individuais, familiares e coletivas que abrangem promoção,
prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de
14

danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida através de


práticas de cuidado conectado e gestão qualificada, realizada com equipe
multiprofissional dirigida à população em território definido, sobre as quais as
equipes assumem responsabilidade sanitária (BRASIL, 2017, p.2).

Corroborando com a assertiva acima, o Ministério Brasileiro da Saúde


(BRASIL, 2013b) define as diretrizes do Processo Transexualizador, que são a
integralidade da atenção a transexuais e travestis, não limitando a meta terapêutica
às cirurgias de transgenitalização e demais intervenções somáticas, o trabalho em
equipe multiprofissional e interdisciplinar; integração com as ações e serviços em
atendimento ao Processo Transexualizador, constituindo a Atenção Primária em
Saúde a porta de entrada da população a esses serviços. Considerando como
prioridades a humanização e o atendimento livre de discriminações que devem estar
inclusos no acolhimento através da sensibilização dos trabalhadores e demais
usuários da unidade de saúde para o respeito à dignidade humana e às diferenças.
Dentre os direitos das pessoas transgêneras inclui-se o direito ao uso do
nome social que, de acordo com Bento (2014), é aquele em que a pessoa é
reconhecida e identificada diante do seu meio social.
Nesse cenário, destaca-se o asseverado pela Portaria n. 1.820, de 13 de
agosto de 2009, que garante o direito ao nome social:

Identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir em todo


documento do usuário e usuária um campo para se registrar o nome social,
independente do registro civil sendo assegurado o uso do nome de
preferência, não podendo ser identificado por número, nome ou código da
doença ou outras formas desrespeitosas ou preconceituosas (BRASIL,
2009, p. 2).

Cumpre examinar a relevância do uso do nome social, considerando que


frequentemente a população se identifica e se conecta a partir do seu nome social.
Assim, Oliveira et al. (2019), lembram a importância de acatar o nome social, como
previsto na Portaria nº 1820/2009, visto que esta é a forma do primeiro contato com
o usuário, demonstrando que haverá respeito e que a pessoa receberá um
acolhimento livre de preconceitos, sendo acatada a sua singularidade.
Ainda, o Ministério da Saúde do Brasil, implantou a Portaria nº 2.836, com o
intuito de abranger, no atendimento ao SUS, a Política Nacional de Saúde Integral
LGBT. Esta Portaria reforça os princípios do Sistema único de Saúde com foco na
saúde LGBTI+; ampliando o acesso; difundindo dados e indicadores; promovendo o
15

respeito em âmbito de saúde pública e fortalecendo serviços para essa população


(BRASIL, 2011)
A Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013 do Ministério da Saúde, faz
uma redefinição e amplia o Processo Transexualizador no SUS, dispondo sobre os
processos que são disponibilizados pela rede pública:

Acompanhamento da/o usuária/o no processo transexualizador exclusivo


nas etapas do pré e pós-operatório; Tratamento hormonal; Redesignação
sexual no sexo masculino; Cirurgia de cordas vocais; Tratamento hormonal
preparatório para cirurgia de redesignação sexual; Mastectomia simples
bilateral; Histerectomia; Cirurgias complementares de redesignação sexual;
Acompanhamento de usuária/o no Processo Transexualizador
exclusivamente para atendimento clínico; Plástica mamária reconstrutiva
incluindo prótese mamária (BRASIL, 2013b, p. 25)

A Portaria acima mencionada, ainda ressalta a importância de que o


atendimento às/aos transexuais não seja limitado à meta terapêutica de cirurgias,
mas que vá além, devendo ser oferecido um atendimento integral, que tenha como
porta de entrada a Atenção Básica, a qual deve promover cuidado contínuo.
(BRASIL, 2013)
A última resolução do Conselho Federal de Medicina - CFM acerca da
temática é a 2.265 (2019), norteada pelo Projeto Terapêutico Singular que discorre
sobre cuidados específicos considerando incongruência de gênero ou transgênero a
não paridade entre a identidade de gênero e o sexo de nascimento que tem como
objetivo redefinir e ampliar o Processo Transexualizador no SUS contemplando
acolhimento, acompanhamento, procedimentos clínicos, cirúrgicos e pós-cirúrgicos.
Embora a existência de todas estas portarias e legislações visem a
integralidade do atendimento aos pacientes trans, estudos realizados por Bento
(2012) demonstraram que os programas transexualizadores têm exibido obstáculos
ao acesso universal da população trans - travestis, transexuais, transgêneros, nas
normas que regulamentam a organização desses programas e seu funcionamento.
Com efeito, é certo afirmar que apesar das mudanças ocorridas para
integralizar os transgêneros, ainda percebe-se que estes sofrem discriminações de
toda sorte, e ainda lidam com a patologização da incongruência de gênero como
resquício das edições anteriores do CID até a nona edição (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE, 1980) que visava categorizar entidades mórbidas segundo
critérios estabelecidos na época e por isso tornou-se importante que os
atendimentos realizados desde a Atenção primária sejam norteados pelas Portarias
16

existentes para que esta população seja bem atendida como preconiza a legislação
atual, assegurando equidade em saúde, justiça social e o fim da exclusão social por
meio da reorganização dos serviços, caminhando ao acesso universal e proteção
social em saúde (MENDES, 2012).
17

5. METODOLOGIA
5.1 LOCAL DA INTERVENÇÃO
A execução das sessões de mesa-redonda vislumbrado pelo presente
projeto poderá ocorrer no Campus Sede da Universidade Paranaense (UNIPAR),
localizada na Praça Mascarenhas de Moraes, na zona III da cidade de Umuarama,
Paraná, Brasil ou nas dependências da Prefeitura Municipal de Umuarama também
situada em Umuarama-Pr, ou ainda em estabelecimentos a ser definidos pela 12º
Regional de Saúde do Paraná, a serem definidos posteriormente. Ambos os locais
possuem boa infraestrutura contando com salas e auditório para receber todo o
público previsto, contendo equipamentos de multimídia caso haja necessidade.

5.2 SUJEITOS DA INTERVENÇÃO


O trabalho visa participar os profissionais de saúde da Atenção Primária de
Umuarama-PR, para que estes possam despertar para a importância dos serviços
prestados à população trans na saúde pública e também possam promover práticas
mais direcionadas, acolhedoras e equitativas a esse público.
Nesse sentido, o público-alvo para o desenvolvimento desse projeto são os
gestores das Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Umuarama e 12º Regional de
Saúde do Paraná, visto que são estes que promovem o gerenciamento e
organização destes estabelecimentos, no intuito de que possam auxiliar no repasse
do conteúdo a ser abordado nos encontros propostos aos demais profissionais de
saúde da Atenção Primária e proporcionar maior compreensão da temática com
relação aos seus usuários trans, visando ampliar o olhar e o cuidado sobre essa
população nas ações de saúde.
Vislumbrando o acesso e participação do referido público, intenta-se realizar
o convite através da Secretaria de Saúde do Município de Umuarama e da 12º
Regional de Saúde do Paraná, após o estabelecimento de possíveis datas.

5.3 ESTRATÉGIAS E AÇÕES


As estratégias desse projeto de intervenção poderão compor o calendário de
treinamento e capacitação realizado pela Prefeitura Municipal de Umuarama- PR e
pela 12º Regional de Saúde do Paraná aos profissionais de saúde da Atenção
Primária. Nesse sentido, para o desenvolvimento da temática proposta e
cumprimento dos objetivos elencados, buscar-se-á a realização de dois encontros
18

presenciais, na modalidade de mesa-redonda, atinente ao tema “Acolhimento à


População Transgênero nas Unidades Básicas de Saúde”.
Para tanto, é oportuno evidenciar que os profissionais deste âmbito devem
dispor de flexibilidade dos turnos para oportunizar a participação no evento. Nesse
prisma, os horários a serem disponibilizados para os encontros priorizarão o período
noturno, uma vez que esse horário proporciona maior versatilidade no turno laboral.
Ainda, cumpre examinar que os encontros previstos ocorrerão uma vez por semana
por um período de duas semanas. Cada encontro terá a duração de
aproximadamente duas horas.
Concernente a temática dos encontros junto ao público-alvo, a primeira
reunião explicitará informações básicas referentes a sexo biológico, gênero e
sexualidade como definição, diferença, contextualização histórica, pronomes de
tratamento e nome social. Abordaremos também a violência e os crimes de ódio
sofridos pela população que foge da lógica hetero-cis-normativa, bem como a
violação aos direitos humanos como uma recorrência em nossa sociedade. O
segundo encontro, versará sobre a saúde da população trans, transfobia estrutural,
dados epidemiológicos, fluxograma de atendimento no Sistema Único de Saúde
(SUS), acolhimento, transformações corporais, procedimentos cirúrgicos e saúde
mental.
Em ambos os encontros, serão utilizados recursos audiovisuais como
suporte. Ademais, vídeos de experiências e vivências trans, dramatizações,
fotografias, relatos escritos, técnicas de sensibilização, poderão ser utilizados
também como recursos para ampliação do conhecimento sobre a temática. A
dramatização poderá ser realizada pelo grupo teatral do Campus Sede da
Universidade Paranaense - UNIPAR, sendo orientado e direcionado para o contexto
desse projeto de intervenção.
Ainda, os encontros poderão contar com a participação de convidados
profissionais da área, que possam contribuir, a partir de sua experiência com a
temática proposta no presente projeto. Após a explanação sobre os conteúdos
abordados, perguntas estarão abertas ao público, bem como relatos de experiências
e exposição de opiniões sobre o projeto.
19

5.4 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO


O monitoramento das ações propostas será baseado na avaliação oral e/ou
devolutiva de questionário objetivo direcionado ao público-alvo envolvido no projeto,
após as sessões do evento. Nesse diapasão, pretende-se um retorno dos partícipes
com respostas referentes ao modo como foi elaborada a sessão, as sensações
percebidas sobre o assunto, se as atividades foram de valia para a prática, se a
proposta das oficinas foram desempenhadas de maneira esperada ou se fugiu da
expectativa, se o trabalho tem potencial para interferir positivamente na qualificação
da atenção à saúde da população LGBT, quais as atividades que mais contribuíram
para essa qualificação, quais atividades poderiam ser suprimidas e as razões
dessas supressões, além de possíveis sugestões que possam vir a melhorar a
estrutura e desenvolvimento das oficinas.
Portanto, esse projeto de intervenção, além de promover sensibilização e
disseminação de conhecimento aos profissionais da saúde que atuam na Atenção
Primária para ações de saúde humanizadas, equitativas e acolhedoras, busca
também convalescer o SUS, acolhendo a população minoritária e proporcionando
assim, dignidade para eles.
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6. RESULTADOS ESPERADOS
Neste projeto de intervenção tem-se por intento alavancar a promoção de
informações para as equipes de saúde da Atenção Básica, com o intuito de fornecer
subsídios para o desenvolvimento de ações voltadas à humanização do atendimento
à população trans e disponibilizar informações relevantes para conduta clínica na
Atenção Primária à Saúde.
Tenciona-se, dessa forma, que esta intervenção oportunize sensibilização
quanto às questões emergentes da população trans, proporcionando um maior
conhecimento sobre termos e conceitos, leis que contemplem as normativas
referente aos atendimentos desse público, visando uma reflexão crítica do contexto
de saúde de cada unidade e atendimento prestado, para que novas formas de
atendimento em saúde sejam pensadas e implementadas para que de fato
aperfeiçoem o ingresso desta população à Atenção Primária à Saúde, gerando
respeito, empatia, acolhimento, inclusão e ações de saúde.
Tem-se a necessidade de que este público, hoje considerado marginalizado
em diversos segmentos de saúde, possam ser acolhidos, analisados,
contextualizados e compreendidos em suas subjetividades pelas equipes de saúde,
visando concretizar a implementação dos princípios e diretrizes do SUS:
universalidade, integralidade e equidade estendidos à população trans.
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7. CRONOGRAMA
Mês / Atividade Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov

Reunião com x x x
Secretaria de
Saúde do
Município de
Umuarama-Pr e
12º Regional de
Sáude do
Paraná

Contato e x
reunião com a
equipe de
organização de
dramatização

Seleção de x
material
audiovisual

Confecção de x x
material e slides

Leitura e x x
resumo de
material
bibliográfico

Revisão de x x x x x
etapas em
elaboração

Elaboração de x x
material
impresso

Convite aos x
profissionais de
saúde da
Atenção Básica

Intervenção x

Elaboração de x
relatório final
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8. VIABILIDADE E RECURSOS NECESSÁRIOS


As propostas apresentadas pelo presente projeto visam informar, esclarecer e
ressignificar uma demanda emergente em saúde: o atendimento e ações de saúde
desenvolvidas à população trans. Destarte, é importante salientar que estes
encontros poderão compor o quadro de treinamento e capacitação desenvolvidas
anualmente pela Secretaria de Saúde do município de Umuarama-Pr e 12º Regional
de Saúde do Paraná, para que se possam promover maior acessibilidade e adesão
dos profissionais de saúde da Atenção Primária a essa realidade premente.
A confecção dos convites será realizada pelos integrantes desse projeto de
intervenção e distribuídos às Unidades Básicas em Saúde por meio da Secretaria
Municipal de Saúde e 12º Regional de Saúde do Paraná, a qual irá convocar os
profissionais para a realização dos encontros previstos no projeto.
A possibilidade da participação voluntária -sem envolvimento financeiro, em
relação a peça concedida-, do grupo de teatro da Unipar, prevê maior reflexão crítica
sobre o tema abordado. Para tanto, será acertado com o referido grupo a viabilidade
da execução de uma dramatização em um dos encontros propostos. Dessa maneira,
abordaremos um meio de experienciar os convidados no contexto de situações reais
que a população trans está inserida.
Ademais, serão utilizados materiais audiovisuais existentes nas dependências
da Unipar ou fornecidos pela própria Secretaria de Saúde Municipal e pela 12º
Regional de Saúde do Paraná, como computador, data show, caixas de som
integradas a multimídia, microfone. Também poderão ser distribuídos canetas,
blocos de notas e impressos informativos e de avaliação dos resultados para os
participantes, de forma que todos possam participar das atividades propostas nos
encontros. Tais materiais serão viabilizados pelos autores do projeto e por meio de
patrocínios.
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REFERÊNCIAS
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Summus, 2004.

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