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História Da Igreja

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HISTÓRIA DA IGREJA

Objetivo da matéria:
● Entender nossa própria história de cristão através dos tempos, sobre como tudo
surgiu e quais os principais eventos que marcaram a história da igreja cristã.

● Tem por principal objetivo suprir a necessidade de dar uma visão panorâmica da
história da igreja, ou seja, dar as coordenadas para o entendimento dessa tão
importante instituição (talvez uma das mais importantes) criada por Deus para
levar adiante o plano redentor.

Introdução:
● Primeiramente, é preciso entender que o estudo da história, além de ser
importante, normalmente é dividido em períodos, entretanto, é algo artificial, pois
existe a possibilidade de dividir a mesma história em modos diferentes.
Entretanto, a divisão se faz necessária para melhor organizar nossos referenciais
e, assim, entender os mais importantes fatos.

Os períodos a serem estudados:


1. A Igreja Antiga;
2. O Império Cristão;
3. A Baixa Idade Média;
4. A Alta Idade Média;
5. O Fim da Idade Média;
6. A Conquista e a Reforma;
7. Os Séculos XVII e XVIII;
8. O Século XIX;
9. O Fim da Modernidade.
1. A Igreja Antiga:
Dos primórdios do cristianismo até Constantino cessar as perseguições (Edito de Milão,
313 d.C.).

● Foi um período de formação que traçou diretrizes para toda a história da igreja,
e até hoje estamos vivendo sob a influência de algumas decisões tomadas
naqueles tempos.
1. O pano de fundo mais próximo da igreja foi o judaísmo (primeiro na Palestina e
depois o que estava fora de lá).
2. Esse judaísmo da Palestina era diferente do AT. Mais de 300 anos antes de Cristo,
Alexandre Magno criou um grande império que ia da Grécia ao Egito e até às
fronteiras da Índia, o qual abrangia toda a Palestina. O “helenismo” foi a forte
marca desse imperador (helenismo é a tendência de combinar a cultura grega com
as culturas antigas de cada uma das terras conquistadas).
3. Também não era igual como um todo esse judaísmo da Palestina, pois haviam
vários partidos e posturas religiosas diferentes (zelotes, os fariseus, os saduceus e
os essênios). Divergiam quanto a maneira de servir a Deus e também quanto à
postura diante do Império Romano. Mas concordavam na existência de um só
Deus que exige conduta idônea do seu povo e que cumprirá suas promessas a esse
povo algum dia.
4. Fora da Palestina existia um forte contingente no Egito do judaísmo, na Ásia
Menor, em Roma e até nos territórios da antiga Babilônia. Isso é o que se chama
de “Diáspora”, “Dispersão”. Esse judaísmo recebeu influência das culturas
vizinhas. No Império Romano foi o uso da língua grega – a língua mais
generalizada no mundo helenista – além do hebraico ou do aramaico – a língua
mais usada na parte da Diáspora que se estendia até a Babilônia. Por isso que no
Egito o AT foi traduzido para o grego na Diáspora (é a famosa Septuaginta – foi a
Bíblia que os cristãos de fala grega usaram durante muito tempo). Ainda no Egito,
o judeu helenista Filo de Alexandria tento combinar a filosofia grega com o
judaísmo, sendo o precursor de muitos teólogos cristãos que tentaram fazer a
mesma coisa com o cristianismo.
5. A igreja abriu caminhos além dos limites do judaísmo, e não em muito tempo
tornar-se-ia uma igreja com maioria gentia.
6. Quanto à política, toda a bacia do Mediterrâneo fazia parte do Império Romano,
que impôs unidade à região. Essa unidade política facilitou a expansão do
cristianismo. Mas também se baseava no sincretismo, dentro do qual floresciam
todos os tipos de religião e de mistura de religiões, o que se tornou uma das piores
ameaças ao cristianismo. Essa unidade política baseava-se também no culto ao
imperador, uma das causas da perseguição contra os cristãos.
7. Na filosofia predominavam as idéias de Platão e do seu mestre Sócrates, que
falavam da imortalidade da alma e de um mundo invisível e puramente racional,
mais perfeito e permanente do que este mundo de “aparências”. Além disso, o
estoicismo, doutrina filosófica que propunha valores morais elevados, tinha
chegado ao auge.

● O cristianismo surgiu num mundo já cheio de religiões próprias, bem como


culturas e estruturas políticas e sociais já estabelecidas. É dentro desse contexto
que a nova fé surge, abrindo caminhos, mas também se auto-definindo.
1. Além dos livros do NT, os principais textos cristãos mais antigos preservados são
os dos chamados “pais apostólicos”. Por meio dessas cartas, sermões e tratados
conhecemos um pouco a respeito da vida e dos ensinos dos cristãos daquela
época.

● A primeira grande tarefa do cristianismo foi definir sua natureza perante o


judaísmo, já que dele surgiu. No Novo Testamento se vê que boa parte do
contexto onde foi definida a sua natureza surge na missão aos gentios.
1. Conhecemos isso principalmente pelo NT. Vemos nas cartas de Paulo e em Atos
dos Apóstolos o reflexo das decisões difíceis que a igreja teve de tomar nas suas
primeiras décadas. Algumas perguntas permeavam os cristãos: o cristianismo
seria uma nova seita do judaísmo? Abrir-se-ia aos gentios? Qual porção do
judaísmo os gentios convertidos teriam de aceitar? Etc.

● Os primeiros conflitos foram com o Estado, e nesse ambiente é que teve de


determinar o relacionamento da nova fé com a cultura que a cercava e também
com as instituições políticas e sociais, sendo estes a expressão e o apoio dessa
cultura.
1. Em Atos, os principais perseguidores eram líderes religiosos entre os judeus.
Além disso, várias vezes as autoridades do império intervêm para deter um
motim, livrando indiretamente os cristãos de dificuldades.
2. Mas em pouco tempo as coisas começaram a mudar, e o império começou a
perseguir os cristãos. No século I, as piores perseguições foram a de Nero
(imperador de 54 a 68) e com Domiciano (81 a 96). Por cruentas que tenham sido,
parece que essas perseguições foram relativamente locais.
● O resultado desses conflitos com o Estado foi o surgimento de mártires e
apologistas. Aqueles morreram por causa da nova fé, estes lutaram para
defender a fé cristã contra as acusações que lhe eram feitas. Alguns foram
apologistas e mártires, como Justino. E com isso foram feitas as primeiras obras
teológicas.
1. No século II a perseguição foi se tornando mais generalizada, mesmo que se
seguiu a política de Trajano (98 a 117) de castigar os cristãos se alguém os
delatasse, mas sem empregar os recursos do Estado para procurá-los. Por isso, a
perseguição foi esporádica e dependeu muito das circunstâncias locais. Entre os
mártires do século II estão Inácio de Antioquia, de quem temos sete cartas,
Policarpo de Esmirna, de cujo martírio ainda existe um relatório bastante
fidedigno, e os mártires Lyon e Vienne, na Gália.
2. No século III, mesmo com longos intervalos de relativa tranqüilidade, a
perseguição intensificou-se. O imperador Sétimo Severo (193 a 211) seguiu uma
política sincretista e decretou a pena de morte para quem se convertesse a
religiões exclusivistas como o judaísmo e o cristianismo. Nessa perseguição,
Perpétua e Felicidade foram martirizadas. Décio (249 a 251) ordenou que todos
sacrificassem diante dos deuses e que se expedissem certificados disso. Os
cristãos que recuassem deveriam ser tratados como criminosos. Valeriano (253 a
260) seguiu a mesma política.
3. A pior perseguição veio com Diocleciano (284 a 305) e com seus sucessores
imediatos. Primeiramente, os cristãos foram expulsos das legiões romanas. Em
seguida, ordenou a destruição dos seus edifícios e dos livors sagrados.
Finalmente, a perseguição se generalizou, e todos os tipos de tortura começaram a
ser praticados contra os cristãos.
4. Após a morte de Diocleciano, alguns sucessores continuaram a mesma política,
até que dois deles, Constantino (306 a 337) e Licínio (307 a 323) puseram fim à
perseguição por meio do “Edito de Milão” (313).
5. As perseguições baseavam-se numa série de boatos e opiniões que circulavam a
respeito dos cristãos. Por exemplo, que praticavam várias imoralidades e que sua
doutrina não fazia sentido, própria de gente que não pensava.
6. Os apologistas, em resposta, escreveram uma série de obras com o duplo
propósito de desmentir os falsos boatos quanto às práticas cristãs e de mostrar que
o cristianismo não era insensatez. A tarefa principal do apologistas foi a de
esclarecer o relacionamento entre a fé cristã e a antiga cultura greco-romana.
7. Alguns apologistas tiveram postura hostil para com essa cultura. Sua defesa
consistia principalmente em mostrar que a cultura supostamente superior do
mundo greco-romano não era realidade. A principal apologista desse tipo de
atitude foi Taciano.
8. Outros foram pelo outro lado. Ao invés de atacarem a cultura pagã, sustentavam
que essa cultura tinha certos valores provenientes do cristianismo ou pelo menos
do judaísmo. Um argumento comum era que Moisés tinha vivido muito tempo
antes de Platão e tudo que este havia dito tinha sido aprendido de Moisés.
9. O argumento mais poderoso foi a de Justino, que teve forte impacto sobre a
teologia cristã posteriormente. Falou sobre o “Logos”, o Verbo de Deus. Justino
foi o maior apologista do século II, e sua fé foi selada com o próprio sangue, por
isso é conhecido como “Justino Mártir”. Segundo ele, conforme o Evangelho de
João, o Verbo, o Logos de Deus, ilumina todos quantos vêm ao mundo – inclusive
os que vieram antes da encarnação do Verbo em Jesus Portanto, toda a luz que a
pessoa possui ou possuiu, recebeu-a do mesmo Verbo que os cristãos conhecem
em Jesus Cristo. Assim, Justino conseguia aceitar qualquer coisa de valor que
encontrasse na cultura e filosofia pagãs, acrescentando-as ao seu entendimento da
fé. Com o passar dos séculos, essa doutrina do Logos como fonte de toda a
verdade, onde quer que esta se encontre, tem tido forte impacto sobre a teologia
cristã e no modo de os cristãos se relacionarem com a cultura em derredor.

● Assim como haviam fatores externos que desfiavam a fé, também existiam fatores
internos, o que a maioria dos cristãos chamou de heresias, ou seja, doutrinas que
ameaçavam a própria essência da mensagem cristã. Por isso o surgimento do
cânon (a lista de livros) do Novo Testamento, o credo chamado “dos apóstolos”
e a doutrina a sucessão apostólica.
1. A igreja cresceu e com isso muitos tipos de pessoas, com todos os tipos de
antecedente religioso, entraram na igreja, o que ensejou a interpretações
diversificadas do cristianismo. Mesmo sempre tendo havido diversidade teológica
na igreja, algumas dessas interpretações torciam significativamente o conteúdo da
fé que pareciam ameaçar a própria essência da mensagem cristã. É o que se
chama de “heresias”.
2. A principal foi o gnosticismo, um aglomerado de idéias e de escolas que
divergiam entre si em vários aspectos, mas tinham conteúdo em comum. Entre
eles: Uma atitude negativa para com o mundo material, de modo que a “salvação”
consistia em escapar da matéria; A idéia de que essa salvação era obtida mediante
um conhecimento ou “gnosis” especial, pelo qual o fiel podia escapar deste
mundo e subir ao mundo espiritual. É por causa dessa “gnosis” que a heresia se
chama ganosticismo.
3. Nem todos os gnósticos eram cristãos. Entre os cristãos o gnosticismo ameaçava a
fé em vários pontos fundamentais: negava a criação, que diz que este mundo á a
boa obra de Deus; negava a encarnação, que diz que o próprio Deus se fez carne
física (esta doutrina, de que Jesus não tinha corpo verdadeiro como o nosso, é
chamada de “docetismo”); e negava a ressurreição final, que iz que na vida eterna
teremos corpos.
4. Outra grave heresia foi a doutrina de Marcião. Assim como os gnósticos, ele
negava que um Deus bom pudesse ter feito esse mundo material. Dizia que o
Deus do AT não era o Pai de Jesus, mas um ser inferior. Dizia, ainda, que ao
passo que Jeová é vingativo e cruel, o verdadeiro Deus ama e perdoa. Ao
contrário dos gnósticos, que não fundaram igrejas, Marcião fundou uma igreja
marcionita. Além do mais, repudiava o AT e fez uma lista de livros que
considerava inspirados. Embora muito diferente do NT atual, foi a primeira lista
de livros do NT.
5. Mesmo antes disso, a igreja houvesse utilizado tanto os evangelhos como as
cartas de Paulo, o que a levou definitivamente a insistir que certos livors eram
Escrituras, e outros não, foi o desafio das heresias. Confrontando as heresias que
propunham suas próprias escrituras, ou suas próprias listas de livros, a igreja
começou a determinar quais livros faziam parte das Escrituras cristãs e quais
ficavam de fora.
6. Ao mesmo tempo, e pelo mesmo motivo, apareceu em Roma o chamado “símbolo
romano”. Tratava-se de uma confissão de fé que evoluiu até formar aquilo que
chamamos de “Credo dos Apóstolos”. Fica claro que esse credo tinha o propósito
de repudiar as doutrinas dos gnósticos e de Marcião.
7. A igreja tambpem reagiu às heresias indicando as sucessões ininterruptas de
líderes nas principais igrejas – sucessões que remontavam aos próprios apóstolos.
Essa é a origem da “sucessão apostólica”, cujo sentido original não era
exatamente o mesmo que recebeu depois.
8. Isso tudo produziu uma igreja mais organizada, com doutrinas e práticas mais
definidas. É isso que alguns historiadores chamam de “a igreja católica antiga”.

● Surgiram, após os apologistas, os primeiros grandes mestres da fé – pessoas


como Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes e Cipriano, que
escreveram obras que até hoje sentimos seu impacto.
1. Ireneu, Tertuliano e Clemente viveram até o final do século II e início do III.
2. Irineu era originário de Esmirna, na Ásia Menor, mas passou a maior parte da
vida em Lyon, numa região que hoje faz parte da França. Era pastor e acreditava
que sua tarefa como teólogo consistia em fortalecer o seu rebanho, mormente
contra heresias. Sua teologia não pretende ser original, mas apenas tenta afirmar
aquilo que aprendeu dos seus mestres. É precisamente por isso que hoje existe
novo interesse por ele, pois seus escritos nos ajudam a conhecer a mais antiga
teologia cristã.
3. Tertuliano viveu em Cartago, no norte da África. Suas inclinações eram
principalmente de cunho legal. Escreveu em defesa da fé contra os pagãos e
também contra várias heresias. Foi ele quem empregou pela primeira vez a
fórmula “uma substância, três pessoas” para se referir à Trindade, e ainda falou
pela primeira vez a respeito da encarnação em termos de “uma só pessoa, duas
substâncias”.
4. Clemente de Alexandria seguiu os passos de Justino, procurando vínculos entre a
fé cristã e a filosofia grega. Nisso foi seguido poe Orígenes, ni início do século
III. Orígenes foi um escritor prolífico, dado a especulações filosóficas. Embora,
depois de seua morte, muitas das suas doutrinas mais extremas tenham sido
repudiadas e condenadas pela igreja, durante um longo tempo a imensa maioria
dos teólogos de língua grega seguiu-o de um modo ou de outro.
5. Cipriano era bispo de Cartago (onde Tertuliano vivera) quando irrompeu a
perseguição de Décio (249). Cipriano fugiu e se escondeu com o propósito de
continuar dirigindo a vida da igreja a partir do esconderijo. Passou a perseguição e
alguns o acusaram de haver fugido. Morreu como mártir noutra perseguição
(258). Por causa de tudo isso, a questão principal que Cipriano debateu foi a dos
“desviados”, ou seja, aqueles que tinham abandonado a fé em tempos de
perseguição e que depois desejavam voltar ao convívio da igreja. Além disso, em
parte por outras razões, teve conflitos com o bispo de Roma. No debate que isso
causou, Cipriano expôs suas idéias sobre a natureza e sobre o governo da igreja.
6. Quase na mesma época discutiu-se em Roma a questão da restauração dos
desviados. A personagem mais importante nesse debate foi Novaciano, que
também escreveu sobre a Trindade.

● Finalmente, é importante assinalar que é possível conhecer um pouco da vida


cotidiana e do culto cristão durante esses primeiros anos, apesar da escassez de
documentação.
1. Durante todo esse período o principal ato do culto cristão foi a ceia do Senhor.
Era uma celebração jubilosa por comemorar a ressurreição de Jesus Cristo e
antegozar a sua segunda vinda. Por isso era celebrado aos domingos – o dia da
ressurreição do Senhor. Além disso, como antegozo do grande banquete celestial,
a eucaristia era originariamente uma ceia completa. Depois, por várias razões, foi
limitada ao pão e vinho. Depois apareceu o costume de celebrar o culto perto dos
túmulos dos mártires e de outros cristãos falecidos, em lugares como as
catacumbas de Roma.
2. No início, pelo que parece, diversas igrejas tinham formas distintas de governo e
que os títulos de “presbítero” e “bispo” eram equivalentes. Mas já no final do
século II havia-se estabelecido o sistema de três níveis de ministros: diáconos,
presbíteros e bispos. Ademais, havia ministérios específicos para as mulhers,
especialmente dentro do monasticismo.

2. O Império Cristão:
(Do Edito de Milão – 313 – à deposição do último imperador romano do Ocidente –
476.)

● Houve um fato importantíssimo que mudou radicalmente a história da igreja


cristã: a conversão de Constantino. A igreja perseguida passou a ser tolerada, e
pouco tempo depois tornou-se a religião oficial do Império Romano. Com isso
ocorreu a abertura de espaço para a entrada da aristocracia dentro da igreja,
que, essencialmente, era formada por pessoas de classes mais baixas da
sociedade.
1. A “conversão” de Constantino foi um processo lento, formando um paralelo com
a rota que conduziu Constantino ao poder absoluto sobre todo o império. Pouco a
pouco, Constantino foi vencendo seus rivais, estendendo o seu poderio. Embora
apoiasse os cristãos, não se batizou, a não ser próximo à sua morte e nunca
renunciou o título de Sumo Sacerdote da religião pagã tradicional, que a ele
pertencia como imperador.
2. Mesmo o cristianismo não sendo a religião oficial do império na época da morte
de Constantino (e não o seria senão perto do fim do mesmo século IV), a política
adotada por Constantino e de seus sucessores teve grande impacto na vida
religiosa do Império Romano. A igreja, antes perseguida, desfrutava de prestígios
e poder cada vez maior. Como resultado, muitos aderiram a ela, especialmente
entre a aristocracia que até pouco tempo considerava a fé cristã como coisa de
gente ignorante e desprezível.
3. Essa conversão de Constantino também teve impacto sobre o culto cristão. As
fundar a cidade de Constantinopla, no local da igreja Bizâncio, edificou ali
igrejas. Tanto ele quanto sua mãe fizeram o mesmo na Palestina e noutros lugares,
assim como também seus sucessores. Isso deu origem a um culto cada vez mais
formal no qual se imitavam alguns costumes da corte. Além disso, começou a
aparecer uma arquitetura tipicamente cristã, em forma de “basílica”.

● Essas mudanças tiveram grande impacto nos cristãos, que reagiram de diferentes
formas. Alguns tiveram um sentimento de gratidão pela nova situação, que ficou
difícil até mesmo criticar o governo e a própria sociedade. Alguns foram para o
deserto ou buscaram lugares isolados e dedicaram-se à vida monástica. Outros
simplesmente romperam com a igreja majoritária, com o discurso de serem eles
a igreja verdadeira. Além disso, os pagãos desejavam voltar à velha religião com
o relacionamento que antes desfrutavam com o Estado.
1. Poder-se-ia supor que a gratidão fosse a posição mais frequente entre os cristãos
em geral, o principal defensor dessa tomada de posição foi Eusébio de Cesaréia.
Eusébio tinha vivido no meio das perseguições, e por isso a nova postura do
governo lhe parecia um milagre. Sua obra mais famosa, História Eclesiástica, dá
a impressão de que desde o princípio Deus estava preparando o caminho para essa
grande união entre a igreja e o império.
2. Embora o monasticismo tenha origem bem antes de Constantino, as novas
condições impulsionaram muitos a seguir o ideal monástico. Já que não era
possível o cristianismo heróico dos mártires, muitos optaram pelo cristianismo
heróico dos acetas, isto é, daqueles que se dedicavam a uma vida de renúncia e de
contemplação.
3. Os lugares preferidos dos primeiros monges eram o deserto do Egito e outros
locais semelhantes. No Egito viveram Paulo e Antônio, dois eremitas aos quais
vários autores concedem a honra de terem fundado o monasticismo.
4. Apesar dos monges terem vivido sozinhos (a palavra “monge” significa
“solitário”) no início, logo começaram a agrupar-se, a fim de compartilhar
recursos e ensinos. No fim, surgiu um novo tipo de monasticismo. Este
caracterizava-se pela vida em comunidades (que agora chamamos de
“mosteiros”), hoje chamadas “cenobíticas”. Diz0se que seu fundador foi
Pacômio, mesmo já tendo existência de outra comunidades antes dele, foi ele o
grande organizador do monasticismo cenobítico no Egito.
5. O monasticismo estendeu-se rapidamente por toda a igreja, e entre seus principais
expoentes estão personagens como Jerônimo e Basílio, o Grande.
6. O rompimento com a igreja majoritário aconteceu especialmente no norte da
África, na Numídia, na Mauritânia e nos arredores de Cartago. A razão teológica
dada ao cisma foi a restauração dos desviados e principalmente a discussão sobre
se os ministros outrora desviados ainda tinham autoridade para cumprir as
funções ministeriais. Mas, na realidade, o cisma também tinha raízes raciais e
sociais, pois a população da região estava socialmente estratificada, segundo
origens étnicas, e o cisma seguiu uma estratificação semelhante.
7. Um dos principais líderes do grupo dissidente se chamava Donato, e seus
integrantes ficaram conhecidos como donatistas. A facção mais radical desse
grupo era a dos “circunceliões”, que andavam escondidos nas regiões remotas e
usavam armas para defender sua causa. Mesmo com a repressão por parte das
autoridades, eles existiram pelo menos a´te as conquistas árabes do século VII.
8. Os sucessores de Constantino foram seus três filhos, Constantino II, Constâncio e
Constante. Depois da morte do seu último sucessor (Constâncio), subiu ao poder
seu primo-irmão Juliano, conhecido como “o Apóstata” (pelo que parece, nunca
foi cristão). Juliano tentou restaurar a antiga glória do paganismo. Embora não
perseguisse cristãos, despojou-os de todos os privilégios que seus antecessores
lhes tinham dado e também se empenhou em ridicularizar o cristianismo. Ao
mesmo tempo tentou reorganizar o paganismo, seguindo o modelo da igreja
cristã. Mas suas gestões não tiveram muito êxito, e após sua morte suas reformas
foram abandonadas.

● Os mais destacados líderes do cristianismo adotaram uma postura menos


radical: continuaram vivendo nas cidades e participando da vida em sociedade,
mas com um espírito crítico. Portanto, vivendo um momento de liberdade, livres
da ameaça da perseguição, a igreja produziu alguns dos seus maiores mestres –
e por essa razão pode-se chamar esse período de “a era dos gigantes”, período
durante o qual foram escritos grandes tratados teológicos, bem como
importantes obras de espiritualidade e a primeira história da igreja.
1. Atanásio de Alexandria foi o grande defensor das decisões do Concílio de Nicéia.
Por isso entrou em choque com as autoridades imperiais que se esforçaram para
desfazer o que fora decidido no Concílio de Nicéia (325), e as vicissitudes
políticas da época o forçaram a vários exílios. Possivelmente sua maior
contribuição tenha sido a obtenção de um entendimento entre os que sustentavam
a fórmula de Nicéia (“homoousios”, da mesma substância) e os que preferiam
outra fórmula (“homoiousios”, de substância semelhante) a fim de refutar o
arianismo condenado em Nicéia.
2. Tal obra foi continuada pelos chamados “grandes capadócios”, título geralmente
atribuído a Basílio de Cesaréia, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo.
Macrina, irmã mais velha de dois deles, nem sempre lembrada pelos historiadores,
desempenhou papel importante na vida de seus irmãos, e, por intermédio deles, do
restante da igreja. Basílio, o Grande, irmão de Macrina, foi bispo de Cesaréia;
escreveu um tratado importante sobre o Espírito Santo. Gregório de Nissa, irmão
mais novo, era místico acima de tudo. O amigo comum dos dois, Gregório de
Nazianzo, era um orador famoso. Sua mais importante obra, dentre várias, é
Cinco discursos teológicos acerca da Trindade. Trabalhando em conjunto, os
capadócios continuaram a obra de Atanásio, esclarecendo a doutrina da Trindade
até ser proclamada definitivamente pelo Concílio de Constantinopla (381).
3. Ambrósio de Milão era alto funcionário do império até ser inesperadamente eleito
bispo de Milão. Várias vezes chocou-se com a imperadora Justina, que defendia o
arianismo, e depois com o poderosíssimo imperador Teodócio, cuja crueldade
repreendeu. Sua pregação foi instrumental na conversão de Agostinho.
4. João Crisóstomo (“boca de ouro”) foi um dos mais famosos pregadores de todos
os tempos. Vindo de Antioquia, chegou a ser Patriarca de Constantinopla, de onde
atacou as injustiças dos poderosos. Por isso, morreu no exílio.
5. Jerônimo era homem de grande cultura clássica, que se refugiou como monge na
Palestina. Sua principal contribuição foi a tradução da Bíblia para o latim
daqueles tempos. Essa tradução, conhecida como vulgata, foi a Bíblia que o
Ocidente latino usou durante toda a Idade Média.
6. Finalmente, Agostinho de Hipona foi criado no norte da África. Sua mãe, Mônica,
fez o possível para que ele aceitasse o cristianismo. Mas tornou-se maniqueísta
(adepto de uma doutrina dualista parecida com o gnosticismo)e, depois,
neoplatônico. No fim, converteu-se em Milão, onde ensinava retórica. Voltou à
África para viver como monge, mas pouco depois foi eleito bispo de Hipona.
Como bispo, Agostinho escreveu contra o maniqueísmo, contra o donatismo e
contra o pelagianismo. Este último era uma doutrina que enfatizava a iniciativa
humana na salvação. Contra o donatismo, Agostinho desenvolveu sua doutrina da
igreja; contra o pelagianismo, sua doutrina da graça e da predestinação. Além
disso, quando alguns pagãos começaram a dizer que Roma havia caído nas mãos
dos godos (em 410) por ter se tornado cristã, Agostinho refutou essa posição na
sua extensa obra A Cidade de Deus. Suas Confissões, nas quais declara como
Deus o guiou ao cristianismo, vieram a ser uma das obras mais lidas e influentes.
Quando morreu em 430, os vândalos tinham sitiado a cidade de Hipona – sinal de
que a civilização antiga estava sendo derrubada e de que uma nova era começava
a despontar.
● Houveram também fortes controvérsias teológicas, principalmente a que girou
em torno do arianismo e da doutrina da Trindade.
1. Já se falou a respeito de doutrinas como o donatismo e o pelagianismo, mas
nenhuma foi tão controversa quanto o arianismo. Começou em Alexandria, mas
logo envolveu toda a igreja.
2. Ário era um presbítero de Alexandria que sustentava que o Verbo que se encarnou
em Jesus, embora existisse antes de toda criação, não era o próprio Deus, mas sim
a primeira de todas as criaturas.
3. Diante disso, Constantino convocou um concílio de todos os bispos. Esse concílio
reuniu-se em Nicéia em 325, sendo também conhecido como “Primeiro Concílio
Ecumênico”. Ali, o arianismo foi condenado, tendo sido promulgado um credo
que, como algumas variações, é o que hoje chamamos de “Credo de Nicéia”.
4. A controvérsia não parou aí. Muitos não ficaram satisfeitos com as decisões de
Nicéia, que pareciam dizer que i Filho é o mesmo que o Pai. Além disso, as
vicissitudes políticas intensificaram a controvérsia. Nessas circunstâncias é que
surgiram teólogos como Atanásio e os capadócios, que esforçaram-se na busca de
fórmulas e explicações que servissem para refutar o arianismo.
5. Finalmente, no Segundo Concílio Ecumênico (Constantinopla, 381), o arianismo
foi definitivamente condenado, e a doutrina trinitária foi confirmada. (No entanto,
o arianismo já se havia estendido a alguns dos povos “bárbaros” vizinhos e, por
isso, posteriormente, quando esses povos invadiram o império, o arianismo
recobrou forças.)

● O fim desse período chegou com a invasão dos “bárbaros”, povos germânicos
que invadiram o Império Romano e se estabeleceram nos seus territórios. Em
410, os godos tomaram e saquearam a própria Roma. Em 476 o último
imperador (Rômulo Augústulo) foi deposto.
1. Mesmo após o fim do Império Romano do Ocidente, no Oriente o império
continuou exisitindo por mais mil anos. Mas, mesmo no Ocidente, o ideal do
império cristão não desapareceu. Veremos várias vezes no decurso dessa história
como houve tentativas de restaurar o Império Romano e – o que é muito
importante – como a Igreja e o Estado continuaram cooperando entre si, até em
tempos bem recentes, de modo semelhante aos tempos de Constantino e de seus
sucessores.
3. A Baixa Idade Média:
(Da deposição de Rômulo Augústulo – 476 – ao cisma entre o Oriente e o Ocidente –
1054)

● O Império Romano dividiu-se em dois (o império do Ocidente, em que se falava


latim, e o do Oriente, em que se falava grego), portanto, as invasões dos
“bárbaros” não afetaram toda a cristandade da mesma forma. No ocidente, o
império deixou de existir e foi suplantado por uma série de reinos bárbaros.
1. Foram muitas as causas da decadência do Império Romano, tanto internas quanto
externas. De qualquer modo, durante os séculos IV e V foi aumentando a pressão
dos povos germânicos que habitavam do outro lado das fronteiras do Danúbio e
do Reno, povos estes que os romanos chamavam de “bárbaros”. Alguns deles se
introduziram no império pela força, ao passo que outros foram convidados como
aliados ou como colonos. O resultado é que no final do século V, tanto invasores
quanto os defensores eram germânicos.

● A igreja de fala latina foi a mais afetada pelas invasões dos bárbaros. Sobreveio
ao Ocidente latino (o que hoje é a Espanha, França, Itália, etc.) um período de
caos.
● Instalado esse tempo de dor, de morte e de desordem, o culto cristão teve uma
maior preocupação com a morte, o pecado e o arrependimento, ao invés de
centralizar na vitória do Senhor na ressurreição.
● Pois bem, a comunhão entre os cristãos, que até então era uma celebração,
transformou-se num culto tristonho, em que se pensava mais nos pecados d que
na vitória do Senhor.
● Grande parte da cultura antiga desapareceu, e única instituição que conservou
um pouco dela foi a igreja. Por conta disso, meio do caos que ali existia, a igreja
foi se tornando cada vez mais influente e forte. Enquanto isso, tanto a monarquia
quanto o papado desempenhavam um papel importante.
● Durante esse tempo, no Oriente, o Império Romano (agora também chamado
Império Bizantino) continuou a existir por mais mil anos. Porém, o Estado era
mais poderoso do que a igreja, por isso, frequentemente, impunha a sua vontade.
Várias controvérsias teológicas também surgiram, o que ajudou a esclarecer a
doutrina cristológica. Com essas várias controvérsias, surgiram várias igrejas
dissidentes ou independentes que sobrevivem até hoje – as chamadas igrejas
“nestorianas” e as “monofisitas”.
● E no meio desse período surgiu uma nova ameaça: o avanço do islamismo.
Conquistou vários territórios e cidades que eram importantíssimos na vida da
igreja – Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Cartago, etc.
● E juntamente com o crescimento do islamismo, sua expansão territorial, surgiu
no oeste da Europa um novo poder político no reino dos francos, cujo governante
mais poderoso foi Carlos Magno. No ano 800, o papa coroou Carlos Magno
“imperador”; com isso, pretendia-se ressuscitar o antigo Império Romano.
Embora o novo império nunca tenha sido como o antigo, o título, o poder,
continuou a existir durante séculos.
● Consequentemente, o cristianismo começava a atuar ao longo do eixo norte-sul,
do reino dos francos até Roma – até então tinha atuado ao longo do eixo leste-
oeste. Embora parecesse que a igreja no Ocidente tinha mais poder, o fato é que
era difícil lutar contra o caos reinante – e, em boa parte, as lutas dentro da
própria igreja contribuíram para aumentar o caos. A medida de ordem
conseguida assumiu a forma do “feudalismo”, no qual cada senhor feudal seguia
suas próprias políticas, saindo para a guerra quando lhe parecia bem e às vezes
se entregando até mesmo ao banditismo. Era no Oriente que se conservava certa
medida de ordem, bem como a literatura e os conhecimentos da antigüidade.
● Constantinopla, antiga capital do Império Bizantino, ficava cada vez mais
reduzida na sua influência. Provavelmente a maior realização do cristianismo
bizantino tenha sido a conversão da Rússia, por volta do ano 950.
● As relações entre o Oriente e o Ocidente foram se tornando cada vez mais tensas,
até que, finalmente, veio o rompimento definitivo em 1054.

4. A Alta Idade Média (Resumo)


(Do cisma entre o Oriente e o Ocidente – 1054 – ao começo da decadência do papado –
1303).

● Nesse momento, a igreja ocidental precisava de uma reforma radical, o que


aconteceu dentro das fileiras do monasticismo. Tão logo, os elementos monásticos
que propunham uma reforma chegaram a ocupar o papado, e com isso surgiu uma
série inteira de papas reformadores. Todavia, isso levou a conflitos entre as
autoridades seculares e as eclesiásticas, e, acima de tudo, entre papas e
imperadores.
● Esse foi o período das cruzadas, que começaram em 1095 e duraram vários
séculos. Também foi a época em que ocorreu boa parte da “Reconquista”
espanhola – o processo de expulsão dos mouros da Península Ibérica.
● As cruzadas, em parte, deram um grande impulso no comércio, o que ocasionou
um aumento da população das cidades, que, por naturaza, eram centros
comerciais. Até então o dinheiro havia praticamente desaparecido durante a baixa
Idade Média, porém voltou a circular. E com isso apareceu uma nova classe, os
“burgueses” (literalmente, moradores das cidades), que viviam do comércio e,
posteriormente, da indústria.
● Com os novos tempos, surgiram novas ordens monásticas. As mais importantes
foram os franciscanos e os dominicanos, os quais trouxeram um novo despertar
no trabalho missionário, e, além disso, entraram nas universidades, onde
chegaram a ser os principais expositores da teologia da época – a teologia
chamada “escolástica”. Essa teologia teve seus expoentes máximos em
Boaventura (franciscano) e em Tomás de Aquino (dominicano).
● Com o crescimento das cidades houve uma busca pelas grandes catedrais. O estilo
chamado “românico”, que até então havia dominado a arquitetura da Idade Média,
cedeu lugar ao “gótico”, que produziu as catedrais mais impressionantes de todos
os tempos.
● Por fim, nessa época o papado chegou ao seu clímax de prestígio e poder na
pessoa de Inocêncio III (1198 – 1216). Mas já perto do fim desse período, em
1303, foi clara a decadência do papado.

5. O Fim da Idade Média (Resumo)


(Dos primeiros sinais de decadência do papado – 1303 – à queda de Constantinopla –
1453).

● A burguesia em ascensão aliou-se à monarquia em cada país, e com isso o


feudalismo chegou ao seu final, daí a formação das nações modernas. Mas o
próprio nacionalismo tornou-se rapidamente num obstáculo para a unidade da
igreja. Durante grande parte desse período, a França e a Inglaterra estiveram em
guerra entre si (a famosa “Guerra dos Cem Anos”), e, portanto, quase o restante
todo da Europa participou dessa guerra. Além disso, foi também a época da
“peste”, que dizimou a população do continente e trouxe grandes infortúnios
demográficos e econômicos.
● Foi nítida e rápida a decadência do papado. Primeiramente, o papado ficou
debaixo da sombra e do domínio da França, a ponto da sede papal ser transferida
de Roma para Avinhão, nas próprias fronteiras da França (1303 – 1377). Em
seguida veio o “Grande Cisma do Ocidente”, o que ocasionou o surgimento de
dois papas ao mesmo tempo (e até três) que disputavam o trono de Pedro (1378 –
1423).
● No intuito de resolver essa questão, surgiu o movimento conciliar, que espera
num concílio da igreja inteira decidir quem era o verdadeiro papa. Finalmente, o
movimento conciliar conseguiu pôr fim ao cisma, e todos passaram a concordar
com um único papa. Mas, o próprio concílio se dividiu, de modo que havia um
papa, mas dois concílios. Ademais, os papas logo se deixaram influenciar pelo
espírito da Renascença, que os levou a embelezar Roma, a construir belos
palácios e a guerrear contra outros potentados italianos, em vez de cuidar da vida
espiritual do rebanho.
● Igualmento ao papado, a teologia escolástica – ou seja, a teologia feita nas
universidades – também entrou em crise. Tendo por base distinções cada vez mais
sutis e um vocabulário cada vez mais especializado, essa teologia perdeu contado
com o cotidiano dos cristãos, dedicando boa parte dos seus esforços a questões
que apenas diziam respeito aos próprios teólogos.
● Em resposta a tudo isso, houve o surgimento de vários movimentos reformadores,
dirigidos por pessoas como João Wycliff, João Huss e Jerônimo Savonarola.
Alguns esperavam que a reforma da igreja viesse por meio do estudo e das letras.
Outros, em vez de reformar a igreja, refugiaram-se no misticismo, que lhes
permitia cultivar a vida espiritual e aproximar-se de Deus sem ter de lidar com
uma igreja corrupta e, segundo parecia, impassível de ser reformada.
● Entrementes, o Império Bizantino, cada vez mais fraco, acabou sucumbindo ante
o avanço dos turcos.

6. A Conquista e a Reforma. (Resumo)


(Da queda de Constantinopla – 1453 – ao fim do século XVI – 1600.)

● Nesse período, como indica o nome do período, aconteceram dois episódios


importantes na história do cristianismo: (1) o “descobrimento” e a conquista da
América e (2) a Reforma Protestante.
● O “descobrimento” e a conquista são bem conhecidos, embora não pensemos
neles como parte da história da igreja. Faticamente, num período de menos de
cem anos as nações européias se expandiram pelo restante do mundo,
especialmente pela América, e por conta disso se multiplicou enormemente o
número daqueles que se chamavam cristãos. Isso faz parte da nossa história e
deixou vestígios na nossa maneira de viver a fé, e é preciso conhecer essa parte da
história.
● Normalmente se assinala o ano de 1517 como o começo da Reforma, quando
Lutero afixou suas famosas 95 teses. Mesmo já sabendo – conforme vimos no
período anterior – movimentos reformadores desde muito antes, o fato é que foi
com Lutero e com seus seguidores que o movimento ganhou um ímpeto que não
pôde ser contido.
● Ainda assim, nem todos que abandonaram o catolicismo romano se tornaram
seguidores de Lutero e dos seus pontos de vista. Prontamente surgiu outro
movimento na Suíça, a princípio sob a direção de Ulrico Zuínglio e depois de
João Calvino, que deu origem às igrejas que hoje chamamos “reformadas” e
“presbiterianas”. Outros adotaram posições mais radicais, e seus inimigos lhes
colocaram o nomo depreciador de “anabatistas”, ou seja, os que batizam de novo.
Dentre eles surgiram os menonitas e vários outros grupos. Na inglaterra houve
uma reforma de caráter muto peculiar, que ao mesmo tempo que seguiu a teologia
dos reformadores (especialmente a de Calvino) manteve suas velhas tradições
quanto ao culto e ao governo da igreja. Essa é a Igreja da Inglaterra, de onde
surgiram as igrejas que hoje chamamos “anglicanas” e “episcopais”.
● Por conta da Reforma Protestante e da própria dinâmica interna, a Igreja Romana
também passou por um período de reforma às vezes chamado “contra-reforma”,
mas que foi muito mais do que isso.
● Até o final do período, e não sem lutas e até mesmo guerras, o protestantismo
havia firmado raízes profundas na Alemanha, na Inglaterra, na Escócia, na
Escandinávia e na Holanda. Na França, depois de longas guerras nas quais a
religião foi um fator importante, chegou-se a uma situação em que, embora o rei
fosse católico, os protestantes eram tolerados. Na Espanha, na Itália, na Polônia e
noutros países, ramificações do protestantismo, às vezes bastante fortes, tinham
sido extirpadas à força.

7. Os Séculos XVII e XVIII (Resumo)

● Nesse período, as fortes convicções religiosas de diversos grupos – especialmente


católicos e protestantes – levaram a guerras cruéis que em alguns casos dizimaram
a população. Na Alemanha e em boa parte do resto da Europa, aconteceu a Guerra
dos Trinta Anos (1618 – 1648), possivelmente a mais sangrenta que a Europa já
viu até então. Na França, a política de tolerância foi abandonada. Na Inglaterra,
ocorreu a revolução puritana, que levou à guerra civil, à execução do rei Carlos I
e outra série de guerras, para finalmente chegar-se a uma situação muito parecida
com a que existia antes da revolução.
● Nos bastidores de todas essas guerras achava-se o espírito inflexível das várias
ortodoxias – católica, luterana e reformada. Para cada uma dessas ortodoxias,
cada pormenor da doutrina era de suma importância e, portanto, não se devia
permitir o menor desvio da ortodoxia mais rigorosa. Originaram-se, além das
guerras, uma série interminável de contendas entre católicos, entre luteranos e
entre reformados, que não conseguiam chegar a um acordo nem com seus
próprios correligionários.
● Um das diversas reações a essa ortodoxia rigorosa e ao dano que ela estava
causando foi o auge do racionalismo.
● Outra conseqüência foi o surgimento de uma série de posturas que enfatizavam a
experiência e a obediência mais do que a ortodoxia. Entre elas estavam o pietismo
e o movimento morávio entre os luteranos, e o metodismo entre os anglicanos.
● Outros, descontentes com a ortodoxia e com o pietismo, seguiram a opção
espiritualista e se dedicaram à busca de Deus, não mais na igreja ou na
comunidade dos fiéis, mas na vida interior e particular.
● E ainda existiram aqueles que resolveram abandonar a Europa e partir para
lugares onde esperavam estabelecer uma nova sociedade regida pelos princípios
que consideravam essenciais para o evangelho – que às vezes incluíam a
intolerância a qualquer posição diferente da sua. Essa foi a origem das colônias
britâncias na Nova Inglaterra.

8. O Século XIX (Resumo)

● Esse foi o grande século da era moderna.


● Grandes convulsões políticas abriram o caminho para os ideais da democracia e
da livre empresa – a independência da América do Norte, a revolução francesa e
logo em seguida a independência das nações latino-americanas. Parte do ideal
dessas novas nações era a liberdade de consciência, ou seja, que ninguém era
obrigado a afirmar nada que contrariasse suas convicções. Mas isso levou muitos
a pensar que somente uma fé rigorosamente racional era compatível com o mundo
moderno, juntamente com o racionalismo que ia fazendo adeptos desde os séculos
anteriores.
● Essa postura foi manifestada especialmente entre teólogos protestantes,
principalmente na Alemanha, mas noutros lugares também. Daí surgiu o
“liberalismo”, bastante difundido no século XIX.
● Enquanto o protestantismo – ou pelo menos seus teólogos e porta-vozes
acadêmicos – errou ao se mostrar demasiadamente aberto diante das inovações do
mundo moderno, o catolicismo caminhou no sentido oposto. Praticamente tudo
quanto era moderno – a democracia, a liberdade de consciência, as escolas
públicas – lhe parecia heresia, e como tal foi condenado pelo papa Pio IX. Além
disso, como parte dessa política reacionária, foi durante esse período que o papa
foi declarado infalível (Concílio Vaticano I, 1870).
● Na Europa havia um pensamento de que o cristianismo era coisa do passado, foi
durante esse período que a fé cristã atingiu tamanha expasão geográfica que, pela
primeira vez, tornou-se verdadeiramente universal. Indubitavelmente, um dos
elementos mais importantes da história da igreja durante o século XIX foi sua
expansão missionária – especialmente a protestante – na Ásia, na Oceania, na
África, no mundo muçulmano e na América Latina.

9. O Fim da Modernidade (Resumo)

● Os princípios racionalistas dos séculos anteriores, especialmente na sua aplicação


às ciências e à tecnologia, precipitaram resultados inesperados. No apogeu da
modernidade, pensava-se que a raça humana estava chegando a uma época
gloriosa de abundância e de felicidade. Todos os problemas da humanidade
seriam solucionados mediante o uso da razão e da sua irmã menor, a tecnologia,
As nações industrializadas do Atlântico Norte (Europa e os Estados Unidos)
conduziriam o mundo a esse futuro melhor.
● O século XX, no entanto, pôs termo a esses sonhos, mediante uma série de
acontecimentos que demonstraram que a suposta promessa de modernidade não
passava mesmo de sonho.
● No mundo inteiro houve uma rápida descolonização. Isso também fez parte do
fim da modernidade, pois o que aconteceu é que perdeu a confiança naquelas
promessas da modernidade que haviam sido a justificativa do empreendimento
colonizador. Na Ásia, na África e na América Latina, houve uma forte reação,
tanto política quanto intelectual, contra o colonialismo e contra o
neocolonialismo.
● Para analisar o impacto desses acontecimentos na vida da igreja, o modo mais
simples é seguir o curso das três principais ramificações do cristianismo: a
oriental, a católica e a protestante.
● No começo do século XX, toda a igreja oriental foi abalada pela revolução russa e
pelo seu impacto no leste europeu. O marxismo aplicado na União Soviética era
uma versão da promessa moderna. Mas no final do século XX ficou claro que o
empreendimento tinha fracassado, e a igreja russa, que durante várias décadas
teve de existir sob fortes pressões governamentais, passou a dar novos sinais de
vida.
● O catolicismo romano continuou a sua luta contra certos aspectos da modernidade
durante toda a primeira metade do século. Foi a partir de 1958, quando João
XXIII subiu ao trono papal, que essa igreja começou a abrir-se diante do mundo
moderno. Mas já naqueles tempos, o mundo para o qual a igreja se abriu avançou
rapidamente para a pós-modernidade, e a teologia que se via após o Concílio
Vaticano II tornou-se cada vez mais crítica da modernidade – mas não baseada na
mesma atitude reacionária de gerações anteriores, porém olhando para um futuro
além da modernidade.
● O otimismo dos teólogos protestantes liberais na Europa viu-se abalado pelas
duas guerras mundiais. O Mesmo ocorreu nos Estados Unidos, embora em graus e
velocidades menores. De certo modo, a rebelião de Karl Barth contra o
liberalismo foi o primeiro aviso da necessidade de uma teologia pós-moderna.
Nos Estados Unidos , as lutas pelos direitos civis e os conflitos e crises sociais do
fim do século desempenharam papel semelhante.
● Por outro lado, em todas as tradições cristãs houve uma reação paralela à do
anticolonialismo. As igrejas “jovens”, resultado do empreendimento missionário,
começaram a reivindicar sua autonomia e seu direito e obrigação de interpretar o
evangelho dentro do seu próprio contexto e a partir da sua própria perspectiva. Na
América Latina, uma das manifestações mais notáveis dessa tendência foi a forte
ascensão do movimento pentecostal. Em todas as partes do mundo, as minorias
étinicas e culturais dentro da igreja, inclusive as mulheres, fizeram ouvir a sua
voz.
● O quadro resultou num novo tipo de ecumenismo. O movimento ecumênico tinha
surgido principalmente do impulso missionário e de suas necessidades. Agora,
com o crescimento das igrejas jovens, seguia novos rumos. E o mesmo pode ser
dito a respeito do próprio movimento missionário, no qual as “igrejas jovens”
ocupavam um lugar cada vez mais importante.
Bibliografia

González, Justo L., Visão Panorâmica da história da igreja; tradução Gordon


Chown. São Paulo: Vida Nova, 1998.

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