O documentário analisa as causas da crise financeira de 2008, mostrando como a desregulamentação permitiu fraudes e apostas arriscadas visando lucros maiores. A crise não foi um acidente, mas fruto da lógica do sistema capitalista de busca por acumulação contínua de capital na produção e finanças. A análise reforça a atualidade das ideias de Marx sobre a divisão de classes e o caráter de classe do Estado capitalista.
O documentário analisa as causas da crise financeira de 2008, mostrando como a desregulamentação permitiu fraudes e apostas arriscadas visando lucros maiores. A crise não foi um acidente, mas fruto da lógica do sistema capitalista de busca por acumulação contínua de capital na produção e finanças. A análise reforça a atualidade das ideias de Marx sobre a divisão de classes e o caráter de classe do Estado capitalista.
O documentário analisa as causas da crise financeira de 2008, mostrando como a desregulamentação permitiu fraudes e apostas arriscadas visando lucros maiores. A crise não foi um acidente, mas fruto da lógica do sistema capitalista de busca por acumulação contínua de capital na produção e finanças. A análise reforça a atualidade das ideias de Marx sobre a divisão de classes e o caráter de classe do Estado capitalista.
O documentário analisa as causas da crise financeira de 2008, mostrando como a desregulamentação permitiu fraudes e apostas arriscadas visando lucros maiores. A crise não foi um acidente, mas fruto da lógica do sistema capitalista de busca por acumulação contínua de capital na produção e finanças. A análise reforça a atualidade das ideias de Marx sobre a divisão de classes e o caráter de classe do Estado capitalista.
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Resenha do filme Inside Job
O documentário Inside Job (2010), de Charles H. Ferguson, é um mergulho por dentro
da crise financeira de 2008, iniciada nos Estados Unidos e espalhada pelo resto do planeta. A crise foi resultado de uma bolha financeira no mercado de hipotecas, que na forma dos famosos títulos subprimes, infestaram os principais bancos do mundo com títulos podres. O filme passeia pelo surgimento das desregulações que possibilitaram inovações financeiras e fraudes que geraram a crise, pela própria crise e por suas consequências, oferecendo um olhar crítico ao sistema financeiro e aos seus operadores. A obra utiliza de entrevistas com “especialistas” e atores da crise para contar a história. Esse é um recurso potente, pois coloca à prova o cinismo dos tecnocratas de Wall Street e torna mais claro uma característica da crise que a ideologia dominante busca esconder: a crise é produzida por uma classe, mas vivenciada por outra. Ora, como mostrado pelo filme, todos os banqueiros responsáveis pela bolha seguiram suas funções, assumiram cargos no governo mais poderoso do planeta, mantiveram sua influência e sua fortuna. O povo, vítima das fraudes e da desregulamentação do mercado, assumiu o desemprego, pagou as dívidas dos bancos, e segue até hoje com uma economia estagnada que vive de uma promessa de desenvolvimento. Apesar de ocorrer em 2008, esses fenômenos observados na crise não são novos em essência (apesar de se desenvolverem na aparência), e são frutos diretos da estrutura capitalista e da luta de classes que funda e sustenta essa sociedade. O Manifesto do Partido Comunista (ENGELS; MARX, 2005) é um texto panfletário, com caráter agitativo e de forte apelo às massas. Porém, assim como todo bom panfleto deveria ser, já expõe aos seus leitores a contradição central da teoria comunista que defende, o caráter de classe da sociedade capitalista, gestada a partir da concepção burguesa de mundo, e pensado para a manutenção burguesa dele. Essa dominação ocorre a partir da propriedade privada dos meios de produção, mas de forma alguma se resume a ela. Como exposto por Marx e Engels, o Estado capitalista é um Estado burguês, defendendo e advogando em prol dos interesses dessa classe. Essa característica do capitalismo é escancarada e denunciada em Inside Job. O documentário inicia mostrando o debate ideológico que culminou na mudança de legislação e de arquitetura do sistema financeiro estadunidense. A crise de 1929 já havia demonstrado os riscos gigantescos da desregulamentação, mas com base em uma força ideológica disfarçada de ciência econômica, o Estado adotou medidas cada vez mais neoliberais (apesar de nunca neoliberais o suficiente). Essa desregulamentação possibilitou que o capital financeiro flutuasse a agisse com inovações financeiras cada vez mais arriscadas e complexas em busca de lucros cada vez maiores. - Nota-se, não se trata de manter os lucros altos, mas de torná-los maiores, manter um crescimento contínuo. - Essa dinâmica é tratada por Marx em diversas de suas obras, o capital precisa crescer, e não existe espaço para a moral ou o Estado impedirem que esse movimento ocorra, pois se impedido, o capital (e o capitalismo) está em risco. É esse o interesse material que está por trás da liberalização do mercado financeiro. Não é por que o mercado e os “especialistas” de Wall Street são os melhores gestores da riqueza, mas sim por que eles precisam garantir o crescimento (mesmo que irresponsável) dela. Na verdade, do domínio de Wall Street vem causando uma crescente na proporção de capital fictício responsável pela reprodução e acúmulo de capital. Engels (2019) cita duas importantes descobertas do marxismo. A primeira é de que as pessoas precisam primeiro sobreviver antes de qualquer coisa. Comer, respirar, morar e etc. são precedentes a fazer política, filosofia ou religião. O mundo material é o responsável pelo desenvolvimento das forças produtivas. Como consequência, a segunda descoberta é a de que é o trabalho que gera valor. Ou seja, o capital financeiro que se multiplica por juros e derivativos, não é um capital que possui em si valor, e precisa do setor produtivo para se realizar. O capitalismo que se desenvolveu a partir da financeirização é, por esse motivo, frágil, instável e altamente suscetível às crises. O capital se deslocou da produção, multiplica-se na lógica de Wall Street, que como bem mostrou o filme, sobrevive de inovações, fraudes e apostas. Se a superprodução era um risco para o capitalismo da época de Marx e Engels, a financeirização é hoje um risco ainda maior e com resultados ainda mais encadeados mundialmente. É pensando nesse risco cada vez maior adotado pelo mercado financeiro que o documentário entra em um outro fator determinante para a grande crise de 2008. Os executivos das próprias empresas não estavam preocupados com sua saúde financeira. Eles faliram as suas empresas, arriscaram seus ativos e levaram consigo a economia mundial. Em nenhum momento se sentiram ameaçados, pois existia uma confiança que o governo estadunidense pagaria a conta. Robert Rubin, Lawrence Summers, Paul O’Neil e Henry Paulson, todos esses secretários do tesouro, como bem explicitado pelo filme, possuíam ligações íntimas com a burguesia financeira de Wall Street, e agiam no governo pelos interesses dessas companhias privadas, além, é claro, dos seus próprios. O dinheiro público estava o tempo todo nas mãos da classe que arriscava o seu próprio dinheiro privado às custas da sobrevivência da população. Ou seja, se em 1848 Marx e Engels expuseram uma sociedade dividida em classes e um Estado dominado pela classe dominante, a burguesia, Inside Job, em 2010 expõe como essa divisão e esse controle seguem atuais, apesar de desenvolverem suas formas de manifestação. Além disso, o filme mostra como a dinâmica da crise é parte constituinte do capitalismo. O título Inside Job representa a forma como a crise foi gerada dentro do próprio sistema financeiro. Não foram catástrofes, guerras ou erros de outros países, foram decisões próprias dos bancos, fundos e agências regulatórias. Isso não ocorreu por ignorância ou desconhecimento, mas pela inserção desses agentes em uma dinâmica sistêmica. O capitalismo existe a partir da multiplicação do capital. Nesse caso, se é a reprodução do capital que sustenta o capitalismo, e o capital é detido pela burguesia, o sistema não é bem sucedido se gerar riqueza para todos, ou um país justo e saudável. Pelo contrário, ele é compatível com a miséria, com a fome, desde que ela sustente uma reprodução crescente e constante do capital. Ao pensar nessa dinâmica, ressalta-se duas de suas características mais importantes, e muito debatidas nas obras marxianas: a centralização e a concentração de capital. Para Marx, elas ocorrem com maior violência exatamente nos momentos de crise. O documentário, ao mostrar o pós-crise, retrata como diversos bancos menores foram comprados pelos gigantes do setor financeiro, que saíram ainda maiores do que depois da crise. Ora, como bancos que faliram e geraram uma crise profunda de nível mundial conseguiram sair ainda maiores do que antes em seus mercados? Apenas um Estado dominado pela burguesia que sugou os cofres públicos com quase 1 bilhão de dólares usados para o resgate dessas empresas e um sistema que convive com crises enquanto parte constituinte dele, e não anomalias a serem combatidas, pode realizar tamanha façanha. Esses fatores expostos retratam como a denúncia de Marx e Engels segue atual e necessária. O Manifesto do Partido Comunista é um livro panfletário, mas o documentário Inside Job também não deixa de ser. Qualquer pessoa, mesmo sem nenhum conhecimento do mercado financeiro, é capaz de absorver a mensagem central do filme. Vivemos em um sistema dividido entre duas classes, a burguesia e o proletariado, o Estado é um aparelho burguês e a economia é hegemonizada pela ideologia burguesa para justificar medidas anti-povo, que favorecem o lucro e arriscam a vida da população. O que o filme não mostra, mas Marx e Engels fazem questão de ressaltar, é que uma sociedade assim não pode ser corrigida, regulada ou reformada. O motivo é simples, toda correção, regulação ou reforma impedem que o capital se reproduza de forma crescente, impedem a centralização e a concentração de renda e impedem o domínio absoluto da burguesia. Um capitalismo sem nenhum desses aspectos não sobrevive, logo, a classe capitalista enquanto classe dominante não pode e nem vai deixar que isso ocorra. Apenas a retirada dessa classe do poder e a construção de um outro sistema, que possibilite o bem-estar e a divisão social igualitária da riqueza e dos meios de produção e reprodução da vida, é capaz de resolver os problemas do capitalismo. A solução não está dentro do sistema. Ela está na sua superação.
Referências
ENGELS, Friedrich. Karl Marx (1877). In: ALBERT, André (org). Marx pelos Marxistas. São Paulo: Boitempo, 2019 (p.177-187).
INSIDE Job. [S.L]: Sony Pictures Classics, 2010. Son., color.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo,