22p - Reflexões Sobre o Ser Pessoal em Edith Stein
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RESUMO
ABSTRACT
1
Doutora em Filosofia. Mestra em Filosofia Prática. Especialista em Filosofia da
Educação. Graduada em Filosofia e em Teologia. E-mail: celestejosefina@gmail.com
Pelo corpo vivo, a pessoa sente e percebe também a sua dimensão interior,
pela dinâmica emocional possibilitada pelas sensações em contato com o mundo
exterior. Nesta dimensão inicia o processo de autoconhecimento do “ser pessoal”,
pois o contato físico sensorial favorece a interrelação entre sujeito e mundo. Kusano
comenta: “o corpo vivo é o lugar das manifestações dos eventos da alma e dos eventos
psíquicos” (KUSANO, 2014, p. 72).
Edith avança em suas reflexões sobre o “ser pessoal” inferindo sobre o núcleo
central responsável pelo desenvolvimento psíquico e espiritual do indivíduo, mas que
permanece estático, sem desenvolvimento, denotando a sua especificidade espiritual.
Ela mesma afirma: “cada ser humano é uma pessoa espiritual” (STEIN,1994, p.
425). E justifica o termo espiritual dizendo que ele designa “o não espacial e o não
material; é aquele que possui uma interioridade em um sentido certamente não
espacial e que permanece em si, saindo de si mesmo” (Ibid, p. 360). Esta vivência
eleva o pensamento steiniano para a percepção da estrutura espiritual e a análise da
singularidade pessoal.
Como Edith pesquisa o que qualifica a singularidade do eu, ela percebe que,
pela alma, a pessoa é capaz de sair de si mesma e direcionar-se ao mundo e às outras
pessoas e, em seguida, voltar a si mesma. Esta capacidade é expressiva da presença
da alma espiritual que torna a pessoa um ser livre e distinto de todos os outros seres.
No entanto, ela infere ainda uma diferença entre a forma e o espírito, o que insere a
pergunta sobre a problemática da unidade da forma substancial ensinada por Tomás
de Aquino, na relação da alma racional com o corpo.
Para Gilson, Tomás admite uma única forma em cada ser. O homem
possui uma única forma: a alma que o constitui de maneira imediata a partir da
potencialidade indeterminada da matéria. Esta união substancial confirma os atos
do homem, como humanos. Não há necessidade de referir-se ao corpo, ou a alma,
mas ao composto: homem. Quanto à doutrina da diferença entre união substancial
e união acidental, o Aquenate explica que a alma é um ser incompleto, seu grau de
autonomia é imperfeito, só atinge a sua perfeição natural reunida ao corpo o que
lhe permite exercer suas atividades por meio dos órgãos corporais (cf. História da
Filosofia Cristã, p. 467 ss).
Por esta esfera ativa ficam delineadas as vivências do “ser pessoal”, como
especificamente qualitativas. Alfieri reitera: “se se deve dar vida a uma ciência dos
indivíduos espirituais, nesse caso a individualidade deve significar algo diferente
Para Edith é pelo preenchimento qualitativo, que a pessoa possui uma identidade
própria e única que a singulariza diante das outras pessoas. Esta “forma vazia dos seres
criados é preenchida por uma série de formas universais qualitativamente diferentes,
que podemos indicar como gêneros do ser” (ALFIERI, 2014, p. 60).
Na obra Introdução à Filosofia Edith reflete sobre as vivências da singularidade
que preenchem a forma vazia. Ela afirma:
se, por um lado falamos de uma individualidade de todas as
vivências (graças à ação que se exercitam como estados reais
do desenvolvimento psíquico de todas as qualidades), por
outro notamos que nem todas têm uma peculiaridade pessoal;
portanto, não pode ser a mesma individualidade que aqui e
ali se constitui o momento distintivo” (STEIN, Introdução à
Filosofia, p. 333-334).
Edith Stein define este centro como a alma da alma, isto é, alma e individualidade
estão interacionados, ou seja, a personalidade e o caráter individual na pessoa humana
estão vinculados. Pelo caráter individual, como esfera da personalidade, é possível
identificar esse núcleo como núcleo da personalidade ou eu pessoal, pois o indivíduo,
mediante um movimento desde o próprio núcleo até o mundo exterior, manifesta
a própria individualidade nas qualidades do seu caráter. Stein afirma: “a análise da
personalidade individual mostra que pertence precisamente a essência da pessoa.
Ela possui um núcleo individual que confere uma marca individual inclusive a todo
traço típico de seu caráter” (STEIN, 2005, p. 472).
CONCLUSÃO