Onde Há Amor, Deus Aí Está
Onde Há Amor, Deus Aí Está
Onde Há Amor, Deus Aí Está
Deus aí está”
Jo 15, 16
Caderno de Oração Verbum Dei
Páscoa 2010
1
ÍNDICE
1ª Parte – Páscoa 5
2
Frutos de vida por entre os escombros
Durante esta Quaresma, tivemos bem presente, em vários momentos, o
que é a dor. Ainda não nos tínhamos recomposto da tragédia do sismo Haiti e
fomos surpreendidos pelas inundações na Madeira. Num e noutro caso –
apesar de terem sido catástrofes de dimensões diferentes – chocaram-nos as
imagens de destruição, os relatos da calamidade, a angústia das pessoas, a
necessidade urgente de socorro, a total carência de bens essenciais e,
principalmente, a perda de vidas humanas.
Passados alguns dias, um novo terramoto, agora, no Chile (com
repercussões em várias zonas do Pacífico) e, logo depois, na Turquia.
Novamente, as imagens se repetem, como se repetem os apelos à
solidariedade.
Em tudo isto, impressionaram-me três coisas: a resposta pronta e
generosa das pessoas, das instituições, dos países; a fé do povo do Haiti; a
coragem das gentes da Madeira.
Em primeiro lugar, o modo como se mobilizaram todos os meios de
ajuda e como se multiplicaram as iniciativas para atender às necessidades dos
que foram atingidos pela tragédia. Ainda que se diga que o homem de hoje se
caracteriza pelo egoísmo, pelo egocentrismo, pelo hedonismo, há sempre, no
fundo do coração de cada um alguma coisa que nos faz ver que “aquele”
(mesmo que seja alguém que não conhecemos) precisa de nós.
Depois, a fé: recordo particularmente o caso de um homem haitiano,
cuja mulher estava soterrada. O tempo ia passando, as hipóteses de que ela
estivesse viva eram cada vez menores, mas ele não desistia: junto das equipas
de busca e salvamento, rondava, olhava, escutava, e rezava... Era, ao mesmo
tempo, a imagem da dor e da esperança! No dia em que encontraram a
senhora, ele foi o primeiro a dar o sinal, porque lhe ouviu a voz entre os
escombros... Afinal, havia vida, onde parecia não haver, onde já quase
ninguém acreditava que houvesse!...
Isto é, muitas vezes, o nosso dia-a-dia de cristãos: “ver” o que mais
ninguém vê, esperar, rezar, acreditar e saber – com esta convicção de coração
– que há Vida escondida na morte. Na cruz, onde outros verão um homem
morto, nós vemos um Deus ressuscitado.
Esta maneira de olhar o que vivemos e o que vai acontecendo muda-nos
a vida. E é aqui que quero salientar a força e a determinação dos madeirenses.
Vi poucas pessoas a chorar, ainda que fosse muito natural que o fizessem.
Mas vi – vimos todos – muita gente a “a arregaçar as mangas” e a trabalhar, no
que era seu, no do vizinho, nas coisas comuns; muita gente a falar de
esperança, a mostrar-nos (a alguns que, como eu, olhávamos atónitos para
tudo aquilo) que a desgraça foi ontem e que, hoje, é preciso levantarmo-nos
para que haja amanhã. Certamente, nem todas aquelas pessoas terão fé: mas
deram-nos a lição do que é acreditar que há vida no meio da destruição e da
morte. Como o marido da senhora haitiana. Como Maria, de pé, junto da cruz
do Filho. Como os apóstolos diante do túmulo vazio.
3
O tempo Pascal, que agora começa, é o tempo do Espírito. Ora, os
frutos do Espírito são “amor, alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fé,
mansidão e temperança.” (Gálatas 5, 22). Um texto escrito há dois mil anos,
vejam como é actual! Não é disto que o mundo precisa? São esses os frutos
que damos?
Ele escolheu-nos e destinou-nos para dar fruto, muito fruto, um fruto que
permaneça. Mas não é por nós próprios que o conseguimos: só o Espírito pode
gerar em nós a fecundidade e a perenidade desses frutos.
Jesus viveu entre os homens, “fazendo o bem” (Actos 10, 38) morreu
numa cruz, foi sepultado e ressuscitou. E, depois de ressuscitado, apareceu
várias vezes aos Seus amigos; soprou sobre eles e deu-lhes o Seu próprio
Espírito (cf João 20,22); prometeu-lhes que, por esse Espírito, estaria connosco
“sempre, todos os dias, até ao fim dos tempos”. (Mateus 28, 20).
Jesus, crucificado no sofrimento dos homens de hoje, ressuscita! Para
toda a dor, há esperança; para todo o limite, há um caminho, para toda a
morte, há Vida.
A Páscoa é passagem da morte à Vida. Mas é também a passagem do
medo à coragem, da incerteza à convicção, da descrença à fé, do desespero à
esperança, da tristeza à alegria, do desânimo à paciência, da angústia à
serenidade, dos conflitos à paz, da indiferença ao amor...
4
Na noite escura, Senhor
Na noite escura da alma,
há um lugar para as estrelas,
existe um tempo para a lua,
brota alento para a esperança.
5
1ª Parte – Páscoa
6
“Viver não custa, o que custa é saber viver”
Noutro dia tive o privilégio de poder assistir a uma palestra sobre
“Educar para o Optimismo” e qual o meu espanto quando a oradora começou
por dizer que se não começássemos, nós próprios, a sermos optimistas, nunca
iríamos ser capazes de educar os nossos filhos a serem eles próprios
optimistas.
Porque um optimista é uma pessoa que olha para a sua realidade
(independentemente da vida lhe correr “bem” ou “mal”), com um olhar positivo.
Ou seja, a leitura que faz da sua vida é boa e como isso é incorporado
na sua própria vida, torna-a por isso melhor.
E porque é que me ocorre escrever esta ideia a propósito da Páscoa?
Porque sinto que se não é com a ajuda de um Deus Amor
Misericordioso Compassivo .... temos tendência a ver a nossa vida (por melhor
que nos corra objectivamente) com um olhar de insatisfação, comodismo e até
mesmo de pessimismo e falta de esperança.
Ora neste Caderno o que nos propomos rezar e reflectir é exactamente
o contrário!
Como é que, face às maiores tragédias que podemos viver (como seja
uma doença, a morte de alguém querido, o desemprego, uma tragédia natural,
etc.) podemos olhar para a vida com um olhar de esperança, com um sorriso
na cara por se acreditar que a vida vale a pena ser vivida independentemente
das circunstâncias!?
Viver é muitas vezes muito duro. Ou porque, objectivamente, algo de
muito difícil nos acontece ou porque não temos capacidade para viver a vida
com gratuidade, humildade, agradecimento, tolerância, paciência, e com isso
vivemos com pesos grandes às nossas costas.
Só que Jesus foi um óptimo testemunho de como ser feliz apesar das
situações muito duras que possamos viver. E a ressurreição é o melhor
exemplo disso.
As leituras dos domingos de Páscoa falam-nos de pessoas concretas
que “viram e acreditaram” em Jesus.
Aparentemente, a vida de Jesus tinha sido “curta” e tinha terminado da
pior forma. Ninguém percebia o porquê de tanto sofrimento e tão trágico fim …
Quantas vezes não nos acontece o mesmo? Quantas vezes não
percebemos o porquê de tantas desgraças?
E no entanto, a morte não teve a última palavra mas sim a vida. Jesus
renasceu no coração de todos quantos acreditaram que há vida para além da
morte!
Vivamos por isso estes longos dias da Páscoa com a esperança de
encontrarmos e saborearmos a alegria de viver cada dia tal e qual como nos é
dado viver!
7
Morre lentamente quem não viaja.....
Pablo Neruda
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Ver para Crer
Páscoa da Ressurreição
Act 10, 34-43, Sl 117
Col 3, 1-4 ou Cor 5, 6-8; Jo 20, 1-9
- Para os discípulos não foi suficiente Maria Madalena ter-lhes dito que
tinham levado o corpo de Jesus do túmulo .... tiveram que ir até lá e "ver
para crer"! Porque é que tantas e tantas vezes na vida precisamos de "ver
para crer"? Sobretudo num mundo cada vez mais hostil, só nos sentimos
seguros quando comprovamos na prática e não nos deixamos ficar
somente pela "teoria"!
- A Fé passa, muitas vezes, por acreditar sem ver mas também é verdade
que se não tivermos sentido na pele (pelo menos alguma vez na vida) a
grandeza do amor de Jesus, muito dificilmente aderimos às suas
propostas tão diferentes do mundo que nos rodeia!
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Temos de aprender a olhar com viver a lamentarmo-nos sempre do
mais fé para as cicatrizes do mal que há no mundo e a não nos
Ressuscitado. As nossa feridas sentirmos sempre vítimas dos
serão assim um dia. Cicatrizes outros.
curadas por Deus, para sempre.
Esta fé sustenta-nos interiormente e Porque é que não podemos viver
torna-nos mais fortes para como Jesus que dizia «Ninguém
corrermos riscos. me tira a vida, sou eu que de mim
Pouco a pouco vamos aprendendo mesmo a dou»?
a não nos queixarmos tanto, a não
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Em minha casa, Senhor?!...
- Senhor, onde queres que façamos os preparativos para a Páscoa?
- Ide à cidade, a casa de (...) e dizei-lhe: “O Mestre manda dizer: ‘O Meu
tempo está próximo. É em tua casa que quero celebrar a Páscoa’.”.
Senhor da Páscoa!
Por muito que me custe confessar, seria provavelmente esta a resposta
que daria, se recebesse aquele Teu recado.
Confrontado com a possibilidade de Te ter em minha casa, partilhando a
intimidade da minha vida e a dos meus, sinto que seria como pôr a nu a minha
hipocrisia de cristão empenhado, enxertado em tão faca cepa...
Mas, sobretudo, seria para mim insuportável viver a Teu lado o dia a dia
da Tua Paixão. Cada passo dessa Tua Via Dolorosa seria para mim embater
em cada negação de que está cheia a minha vida, por mais que diga, escreva
ou proclame que sou fiel ao Teu convite e dócil à Tua Palavra.
Senhor da Páscoa!
Perdoa esta minha presunção de querer encontrar mérito e dignidade
em mim para Te olhar e de Ti me aproximar, esta minha teimosia em ainda
acreditar que de mim depende a minha salvação...
Perdoa, Senhor, não querer aceitar que o que devo e posso fazer é
aceitar docemente que me ames; é esperar atento e confiante a Tua vinda; é
pedir, arrependido e confiante, o Teu perdão.
11
Domingo da Divina Misericórdia
2º Domingo da Páscoa
Act 5, 12-16; Sal 117, 2-4. 22-24. 25-27a
Ap 1, 9-11a. 12-13. 17-19
Jo 20, 19-31
12
“Que devo fazer?”
“No jovem do Evangelho, podemos vislumbrar uma condição muito
semelhante à de cada um de vós. Também vós sois ricos de qualidades,
energias, sonhos, esperanças: recursos que possuís em abundância! A vossa
própria idade constitui uma grande riqueza não apenas para vós, mas também
para os outros, para a Igreja e para o mundo.
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Reconhecer Jesus
3º Domingo da Páscoa
Act. 5, 27b-32. 40b-41. Salmo 29,2 e 4.5 e 6.11 e 12a e 13b.
Ap 5,11-14 / Jo 21, 1-19.
14
especificamente, que a rede devia esta pergunta. Apenas sei que
ser lançada. Que frutos dará esta consegui escutar a voz de Jesus:
missão? Que missão terá cada um “lançai a rede…”. Ele cuidará do
de nós ? Não consigo responder a resto.
15
“Amas-Me?”
“O Senhor pergunta a Pedro se ele o ama, coisa que já sabia; e
pergunta-o, não uma vez mas duas e mesmo três. E, de cada vez, Pedro
responde que o ama; e, de cada vez, Jesus lhe confia o cuidado de apascentar
as suas ovelhas. À sua tripla renúncia responde aqui uma tripla afirmação de
amor. É preciso que a sua língua sirva o seu amor, tal como serviu o seu medo;
é preciso que a sua palavra dê testemunho de uma forma tão clara diante da
vida como a que fez diante da morte. É preciso que ele dê uma prova de amor
ocupando-se do rebanho do Senhor, tal como deu prova de temor renegando o
Pastor.
Torna-se evidente que aqueles que se ocupam das ovelhas de Cristo,
com a intenção de fazer delas ovelhas suas mais do que de Cristo, têm para
com elas um afecto maior do que o que experimentam para com Cristo. É o
desejo da glória, do poder e do proveito que os conduz e não o amoroso desejo
de obedecer, de socorrer e de agradar a Deus. Esta palavra três vezes repetida
por Cristo condena aqueles que fazem gemer o apóstolo Paulo quando os vê
buscar os seus interesses mais que os de Jesus Cristo (Fl 2,21). Com efeito,
que significam estas palavras: "Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas"? É
como se dissesse: Se me amas, não te ocupes de ti mesmo mas das minhas
ovelhas; olha-as não como tuas mas como minhas; nelas, procura a minha
glória e não a tua, o meu poder e não o teu, os meus interesses e não os
teus... Não nos preocupemos, pois, connosco mesmos; amemos o Senhor e,
ocupando-nos das suas ovelhas, procuremos o interesse do Senhor sem nos
inquietarmos com o nosso.”
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Marcar encontro com Deus
4º Domingo da Páscoa
Act 13, 14.43-52; Sal 99, 2.3.5
Ap 7, 9. 14-17; Jo 10, 27-30
- “Eu te estabeleci como luz das nações para que sejas portador de
salvação até aos confins da terra”
- “Quanto aos discípulos, achavam-se repletos da alegria e do Espírito
Santo”
os problemas: Ele propõe-nos optar
Tenho andado a adiar estas pistas, pela vida eterna!... Agora, nesta
porque me sinto cansada e também nova fase que vivo, vejo muito claro
porque mais uma vez deixei tudo como as nossas opções de vida
para o fim!... além disso, sinto-me podem causar tanta interpelação na
um bocadinho hipócrita… tenho-te vida dos outros que nos rodeiam,
deixado no fim da minha “lista de que conhecem a nossa história, que
afazeres”, Senhor!... Como é que de de forma directa ou indirecta, são
repente, Senhor, de primeiro da lista testemunhas da “minha salvação”…
passaste para último num “abrir e esta é uma forma de ser luz…
fechar de olhos”? Como foi possível ajuda-me Senhor a não ter medo de
deixar passar os dias e não rezar deixar esta “luzinha” brilhar!
nada “de caderno”?... porque só “estes, porém, sacudindo a poeira
tenho rezado novenas, enquanto dos pés contra eles, prosseguiram
adormeço os meus filhos… Como para Icónio”… que poeiras são
posso ser luz das nações, se não estas que levamos connosco? Que
escuto o que tens para me dizer? nos prendem ao passado , que
Estas leituras são de esperança… pesam e não nos deixam
aquela esperança com letra caminhar?...Somos capazes de as
maiúscula que Tu tanto gostas de sacudir?... no outro dia, falava sobre
nos dar e que a mim tranquiliza a Páscoa com uma amiga e
tanto! Acalma-me saber que somos partilhava com ela que muitas
chamados a ir mais além, a vezes, olho para a Páscoa e para a
atravessar “ventos e marés”… Ressurreição como uma vida nova,
tranquiliza-me saber que “pões a com atitudes novas, “em branco”,
tua tenda” sobre mim, sobre a mas tenho vindo a descobrir que se
minha família e não deixarás que calhar, passa mais por irmos
tenhamos fome, sede, calor e nos integrando tudo o que temos vivido
consolarás! até aqui: tudo o que foi bom, mas
O Senhor propõe-nos nada mais sobretudo, tudo o que nos magoou,
nada menos que a vida eterna!!! nos fez sofrer, nos deixou marcas,
Porque somos os primeiros a julgar- estas “poeiras” que levamos
nos indignos dela? O Senhor tem- connosco e que às vezes, nos
nos um amor tão grande que a impedem de andar em frente!
proposta que nos faz não é “As minhas ovelhas escutam a
simplesmente viver melhor, minha voz, eu as conheço e elas me
optarmos pelo melhor, resolvermos seguem” - Para Deus todas as
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pessoas são importantes: não com o Deus? Sinto que tenho tantas
somos mais um – somos “aquele”. E ferramentas ao meu alcance,
por isso, todos conhecemos a Sua navego tantas vezes na net, leio
voz. A voz daquele que nos procura tantas coisas, tantas partilhas, que
quando andamos distraídos, quando sinto que me vou dispersando, às
nos desviamos do nosso caminho. vezes na tentativa de encontrar
Todos conhecemos a voz daquele maneiras de me fazer próxima de
que nos acolhe sempre que nos vê, Deus… acho que nesta Páscoa,
mesmo quando nos vê tão pouco!... nesta altura da minha vida que está
Para o Senhor não é indiferente que tão preenchida, tenho de marcar um
fiquemos para trás… mas somos encontro com Deus – marcamos
sempre uma perda, quando tudo: o cabeleireiro, as saídas com
deixamos de olhar para Ele, de Lhe os amigos, os almoços com a
falar… família, as vindas à comunidade…
Porque somos tão pouco criativos e porque não marcar um encontro
não procuramos mais encontros com Deus?
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“Ser feliz é ter futuro e é dar futuro. Todos pensamos ser felizes e
acordamos todos os dias com esse desejo. Mas ser feliz não é uma sorte, nem
é ausência de problemas. É viver com sentido, com coragem, construindo o
futuro e dando futuro. Isso depende de mim.
Era uma vez um homem que corria e corria pela vida... A vida era curta
e necessitava de correr muito para gozar muito e ser feliz. E quanto mais
corria, mais necessitava de correr! Descobria sempre mais lugares para visitar!
Necessitava encontrar tudo e gozar de tudo. Até que um dia, cansado de tanto
correr, parou. Então, a felicidade pôde alcançá-lo."
19
Ousar Amar
5º Domingo da Páscoa
Actos 14,21b-27 / Salmo 144
Ap 21,1-5a / Jo 13,31-33a.34-35
20
exemplos de vida. E deixou-nos me descobrir uma religião diferente
ainda uma maior responsabilidade: daquela em que acreditava, não
só seguindo este testamento Ele uma religião de regras, de ritos, mas
pode continuar a ser reconhecido e de Amor, em que os ritos têm o seu
vivido no mundo. “Se tiverdes amor espaço próprio e nos ajudam a
uns para com os outros, todos aproximar de Deus.
reconhecerão que sois meus Se essas pessoas que são Rosto de
discípulos”. De facto, às vezes Deus não existissem como poderia
(muitas vezes até) falo com amigos acreditar n’Ele? Eu acredito em
que têm uma visão errada dos coisas concretas, palpáveis, e para
cristãos. Mas reconheço que estão mim o Amor de Deus é uma
limitados pelas experiências que realidade na qual me construo dia-
tiveram. Eu também teria se não a-dia.
tivesse conhecido pessoas que me Senhor, ajuda-me a pôr
foram rosto e mãos de Deus na continuamente o meu tempo e os
minha vida, e que continuam a ser. meus talentos ao teu dispor. Faz de
A Comunidade, em particular, fez- mim um instrumento do Teu Amor.
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«Toda a pessoa sente o desejo de amar e de ser amado. No entanto,
como é difícil amar, quantos erros e fracassos acontecem no amor! Há mesmo
quem chegue a duvidar se o amor é possível. As carências afectivas ou as
desilusões sentimentais podem fazer-nos pensar que amar é uma utopia, um
sonho inatingível. Temos, então, que resignar-nos? Não! O amor é possível. A
finalidade desta minha mensagem é contribuir no reavivar em cada um de vós,
que sois o futuro e a esperança da humanidade, a fé no amor verdadeiro, fiel e
forte; um amor que traz paz e alegria; um amor que une as pessoas, fazendo-
as sentir-se livres no respeito mútuo.
Na Cruz, Cristo grita: “Tenho sede” (Jo 19,28), revelando assim uma
sede ardente de amar e de ser amado por todos nós. Apenas quando
percebemos a profundidade e a intensidade deste mistério, é que damos conta
da necessidade e da urgência de que O amemos “como” Ele nos amou. Isto
implica também o compromisso, se for necessário, de dar a própria vida pelos
irmãos, apoiados pelo amor que Ele nos tem. Já no Antigo Testamento Deus
disse: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18), mas a novidade de
Cristo consiste no facto de que amar como Ele nos amou significa amar a
todos, sem distinção, inclusive os inimigos, “até ao fim” (cf. Jo 13,1).»
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Mas afinal o que é o amor?
“«Filhinhos, já pouco tempo vou estar convosco. (…) Dou-vos um novo
mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros
assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus
discípulos: se vos amardes uns aos outros.» Jo 13, 31-35
Outro dia, alguém me dizia que o que fica, depois desta vida, a única
coisa que fica, é o Amor que pomos naquilo que fazemos. Esta frase tem-me
acompanhado desde então. E acho que tem tudo a ver com esta leitura de
Jesus.
O Amor é o essencial. O Amor é a única coisa que fica para sempre e
que marca aquilo que vivemos.
Há tanta coisa que faço sem Amor, mas apenas porque tem de ser.
Tantos pontos que pico ao longo do meu dia. Tanta coisa que vivo sem sentido
apenas porque sei que não posso fazer de outra forma. Tanta rotina. Mas sei
que se o meu horizonte de vida for este Amor de que Jesus me fala aprenderei
a dar cada passo nesse sentido, nessa direcção. Mesmo naquilo que não
posso deixar de fazer. Porque sei que é diferente fazê-lo porque sim do que
fazê-lo olhando mais longe – “A nossa vocação realiza-se no infinito”, disse
outro dia o Pe. Tolentino numa Homília. Por isso, temos de aprender a pôr Vida
Eterna e Amor em tudo aquilo que vivemos. Só isso fica…
Amar nos altos e nos baixos, nos bons e nos maus momentos. Quando
estamos com vontade e quando não estamos nem aí. Quando o outro nos
emociona e encanta, mas também quando nos tira do sério. Quando tudo nos
corre bem e quando não conseguimos vislumbrar nem uma mínima luz ao
fundo do túnel. Quando não temos mesmo vontade nenhuma e só nos apetece
estar sossegados no nosso casulo. No sofrimento. Na morte. Porque se o Amor
é o nosso horizonte e objectivo, então ele não acaba nem desaparece nunca,
mesmo no sofrimento, na dor, na morte, na incompreensão, na dúvida, na
solidão, na crise. Porque, em todas estas situações é sempre possível, de uma
forma ou de outra, se calhar não como desejaríamos, vivê-lo. Porque seja qual
for a situação da nossa vida é sempre possível amar. Sempre. Esta
possibilidade nada nem ninguém nos a pode tirar. Só nós mesmos…
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Por isso acho que Amor não é sentimento. Porque o meu sentimento
nem sempre, ou poucas vezes, vai neste sentido. Porque o meu sentimento
faz-me mais olhar para o meu umbigo do que para a felicidade do outro.
Porque aquilo que sinto me faz centrar-me naquilo que quero e não naquilo que
posso fazer e/ou viver para ajudar o outro.
Amar é querer e actuar para ajudar o outro, para que o outro possa viver
melhor e mais feliz. Mesmo que eu
não sinta nada.
Amar depende da abertura ao outro, do centrar nele o meu olhar (atitude
que só Deus nos pode ensinar) para descobrir aquilo que ele realmente
precisa. Amar não é dar ao outro aquilo que ele quer ou que acredita que
precisa, nem dar-lhe aquilo que eu acho que ele necessita. E, no entanto,
quase sempre é isto que fazemos. Nós sabemos muito bem o que é bom para
nós. Nós sabemos muito bem aquilo de que os outros precisam. Amar é dar ao
outro aquilo que ele realmente precisa. Quem, senão Deus, nos ama assim?
Quem, senão Deus, nos pode intuir, tomar consciência, da verdadeira
necessidade do outro e daquilo que ele realmente precisa para colmatar essa
sua necessidade? Quem, senão Deus, me pode dizer aquilo que realmente me
faz feliz e aquilo que realmente faz o outro feliz?
Tudo isto permite viver com sentido. Permite que o sofrimento não me
destrua (como a Ti, Senhor, que tanto sofreste, não Te destruiu; como a Ti;
Mãe Maria, que tanto sofreste, não te destruiu - No meio da maior dor, Jesus e
Maria foram capazes do maior Amor). Permite que sempre haja Vida, mesmo
nas situações de morte.
Senhor, ensina-nos a Amar. Que possamos viver como Tu. Que tudo
aquilo que façamos, grande ou pequeno, extraordinário ou rotineiro, tanto o que
escolhemos viver como aquilo que não podemos mesmo deixar de fazer, o
façamos com um mesmo objectivo, numa mesma direcção e horizonte: Amar.
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“Deus em nós”
6º Domingo da Páscoa
Act. 15,1-2. 22-29; Sl 66;
Ap 21, 10-14. 22-23; Jo 14, 23-29
- A despedida de Jesus é muito concreta e tem para todos nós uma serie
de recomendações e avisos.
- São propostas, não exigências, que nos são dadas a partir do amor.
- Só a partir do amor o podemos fazer.
- Como Jesus sabe que amar não é fácil, não nos deixa sozinhos, o
Espírito fica connosco.
- Há outra coisa importante Jesus quer deixar-nos a paz, não a que nos da
o mundo, mas sim a paz duradoira que vem do fundo, nasce da nossa
vivência com Jesus.
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este “Deus em nós” e connosco que o que é um dom Seu para os seus
vai realizar e não ”apesar” da nossa amigos. Se nos deixarmos habitar pela
pobreza, mas através dela. Por isso, Trindade teremos esta Paz, que não é
Jesus pede-nos para não termos medo: a paz do mundo, senão a paz que Ele
“não se perturbe o vosso coração, nem nos dará. E só se a tivermos dentro de
se acobarde…”… Ainda que no meio nós, poderemos transmiti-la aos outros,
de dificuldades e provações, a um mundo tão necessitado dela.
sofrimentos, obscuridades ou duvidas, Assim equipados, Jesus envia-nos para
nada tememos porque Ele está o mundo: habitados por Ele, com o Seu
connosco (Sal. 23,4). Ele deu-nos um Espírito e a sua paz, com todo o seu
Defensor, o Espírito, que nos guia em amor.
todos os momentos. Ele ensina-nos Acolhamos a sua Palavra, para ser a
tudo e recorda-nos as Suas palavras sua palavra viva hoje.
no momento oportuno; ilumina o nosso Aceitemos a sua presença na nossa
caminho com a Sua luz, dá-nos a força vida para sermos seus templos vivos,
e a coragem que necessitamos, e lugares de encontro para os homens de
continuamente acende e reaviva em hoje.
nós o fogo do Seu amor. Acolhamos a sua paz, para sermos
Jesus dá-nos também a Sua Paz, que mensageiros e construtores da
não é a ausência de conflitos ou verdadeira paz.
dificuldades, mas a paz que vem de Recebamos o Seu Espírito, para que
dentro, da experiencia do Seu amor, da ilumine toda a escuridão do mundo e
certeza que estamos Nele e com Ele aqueça os corações frios dos homens.
construindo a obra do Pai. Paz esta,
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SALMO 66
Exultem os povos e se alegrem,
porque julgas os povos com justiça,
governas as nações sobre a terra.
27
Quando a Missão começa
Ascensão do Senhor
Act 1, 1-11, Sl 46,
Ef 1, 17-23 ou Heb 9, 24-28; 10, 19-23
Lc 24, 46-53
Abro o livrinho das leituras da missa mas sim para a terra. Anunciar tudo
de cada dia e procuro o Domingo da o que haviam vivido e
Ascensão que este ano é a 16 de experimentado ao lado de Jesus.
Maio. A primeira coisa a prender a Agora eles eram os comunicadores
atenção e que está em letras da Boa Nova, e era o momento de
maiúsculas diz “JORNADAS se lembrarem do que Jesus lhes
MUNDIAIS DAS COMUNICAÇÕES tinha dito “Ide por todo o mundo e
SOCIAIS”. anunciai o evangelho”, agora era a
vez de serem testemunhas da
Um acontecimento que se passou Ressurreição. Parece que os dois
faz tantos séculos, unido a uma anjos lhes dão um empurrão: “Não
realidade tão actual? Porque é que fiquem pasmados, comecem a
a Igreja escolheu este dia? Parece vossa tarefa”
uma contradição, o grande Tarefa de vida, de anúncio, de
comunicador de massas, Jesus de comunicação, de evangelização.
Nazaré, desaparece, vai para o céu, Comecem a vossa missão!
já não vai comunicar mais nada e a
Igreja pensa que nesse dia vai ser Pelo que sabemos entregaram-se
comemorada a comunicação. É no ao anúncio, e com os meios que
mínimo estranho. dispunham naquele tempo,
Os Actos dos Apóstolos e o expandiram e comunicaram a
Evangelho deste dia narram-nos a Ressurreição com valentia, alguns
ascensão de Jesus ao céu e a deles ao ponto de darem a vida.
forma como os apóstolos ficam a
olhar para cima, aparvalhados, É impressionante como esses
seguramente com um sentimento de apóstolos, e essa primeira
tristeza, com a pergunta e agora? comunidade cristã chegou tão longe
Mas, de repente, surgiram dois no anúncio, sendo que não
homens vestidos de branco que possuíam grandes meios. Não
lhes disseram: ”Homens da Galileia, tinham estradas boas, transportes
porque estais assim a olhar para o rápidos, sem microfones, sem
céu?” (Act 1, 11). Seguramente que grandes espaços para as reuniões,
nada acabou naquele momento. As sem telemóveis nem emails para os
duas personagens deram-lhes convocar. Foram como o seu
ânimo para começar a sua tarefa. mestre: grandes comunicadores.
Não era hora de olhar para o céu,
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Não tinham meios mas tinham a pessoas presas, sem liberdade e
experiência de vida. com muito sofrimento. Podemos
chegar não só aos nossos vizinhos.
Creio que, por tudo isto, a Igreja Os meios de comunicação fazem
pensou que era oportuno pensar com que no mundo a vizinhança
neste dia como o dia das seja global. Temos que tirar partido
Comunicações Sociais. disso.
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Mensagem do Papa Bento XVI para o 44º Dia Mundial
das Comunicações Sociais
«O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da
Palavra»
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Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os
responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que
respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos
onde a Igreja é chamada a exercer uma «diaconia da cultura» no actual
«continente digital». Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso
reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que
conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por
quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la
desperta como primeiro passo para a evangelização. Efectivamente, uma
pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não
acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de
verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto
com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as
culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de
oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que
a internet possa dar espaço – como o «pátio dos gentios» do Templo de
Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?
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O domínio do Espírito
Domingo de Pentecostes
Act 2, 1-11, Sal 103
1 Cor 12, 3b-7. 12-13 ou Rom 8, 8-17
Jo 20, 19-23 ou Jo 14, 15-16. 23a-26
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Espírito sopra sempre no nosso oração, que Jesus encontra as
coração! Há que dar espaço nas intuições e a força necessária para
nossas vidas para as brisas, o que é as concretizar! Como posso desejar
difícil com o ritmo em que vivemos dar resposta ao Espírito se não me
(que mais parecem autênticas alimento como devo daquilo que me
tempestades…). Passar do torna capaz - a oração?
“domínio da carne” para o do Neste Domingo de Pentecostes,
Espírito é mudar de perspectiva é, peço-Te Senhor a sabedoria de
de facto, deixar de ter um olhar descobrir a importância que tens na
centralizado em mim para passar a minha vida, que tem este encontro
ter um olhar global (na diário conTigo para que possa
Humanidade). experimentar a frescura do Espírito
Esta mudança de perspectiva, este na minha vida. Ele sempre sopra
“saltar de domínio” não é realmente suavemente, sem se impor. Eu
fácil em mim porque muitas vezes opto, na minha liberdade, se dou
não sou capaz de parar algum espaço (ou não) para o que não se
tempo para orar. Cada vez sou mais impõe. De uma forma quase
sensível às passagens que retratam paradoxal, Jesus viveu plenamente
os momentos de oração (e alguns a sua vida e marcou (e mudou!)
deles atribulados…) de Jesus. É profundamente a História da
que parece que, de repente, se me Humanidade por um domínio que
fez luz e percebi que são esses nunca se impõe, o domínio do
momentos que possibilitam os Espírito. E eu, quero responder
outros mais vistosos e que, até à também afirmativamente a este
data, eu mais valorizava. De facto, é aparente paradoxo (sempre à força
no diálogo com o Pai, na Sua de Amor)?
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DOMINGO DE PENTECOSTES
Primeira Leitura: Act 2, 1-11
"Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas".
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do Pentecostes, por festa, foi esmaltado de milagres; mas os milagres foram
sempre excepções nas estratégias de Deus. O Livro dos Actos dos Apóstolos
narra o acompanhamento pelo Espírito Santo das primeiras comunidades
cristãs, nos trinta anos que se seguiram à partida de Jesus.
Já alguém escreveu que a Igreja, que se tinha deixado acompanhar pelo
Espírito Santo ao longo do seu primeiro milénio, começou depois a ignorá-lO,
mantendo-O apenas em fórmulas (“em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”), que se foram esvaziando de significado. Para isso contribuíram uma
teologia da Igreja e do magistério fundada exclusivamente sobre Jesus Cristo e
a perda do impulso missionário.
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2ª parte
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A vida tem a última palavra
Na minha vida de missionária, tenho vivido algumas experiências de
morte, desolação, acidentes, catástrofes naturais... O bom disto é que tenho
sempre experimentado que isso não é o fim, que a morte e a destruição não
têm a última palavra. Na Natureza e nas pessoas há uma força de vida que
ninguém pode parar, algo superior a nós. Mesmo na dor, no sofrimento, no
desânimo, surge o desejo de continuar, de restaurar, de resgatar, de começar
de novo.
Uma destas experiências vivi-a na Colômbia: a erupção do vulcão
Nevado del Ruiz. A sua erupção arrasou Armero, uma cidade produtora de
café, com 25.000 habitantes. Ficou totalmente sepultada: só conseguíamos ver
o telhado da igreja com a sua cruz. À sua volta tudo era como um deserto
cinzento, que arrepiava só ver. A vida das pessoas e a abundante Natureza
tinham desaparecido montanha abaixo. Olhássemos para onde olhássemos
não havia sinal de vida. Era algo irreparável, difícil de descrever: parecia que a
morte se havia instalado ali para sempre.
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Viver já a Ressurreição
São muitos os que têm escrito palavras sobre a Ressurreição e que
podem ajudar-nos a viver com mais profundidade esta experiência.
Todos eles querem salientar que a esperança na Ressurreição não é
uma questão de futuro mas que a podemos viver aqui e agora.
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“Os castigos de Deus”
Continuamos, infelizmente, a acordar constantemente com catástrofes
naturais e as pessoas não deixam de pensar que tudo isto é como que um
"castigo de Deus".
Parece que Deus deixou cair o mundo das suas mãos e por isso o
mundo está rodando e rodando sem sentido, envolvido somente na morte
como sendo o triste final da sua história. Nós, cristãos, temos o centro da
nossa fé na experiência Pascal: Cristo morre, mas tão certo como a sua morte,
também acreditamos na sua ressurreição. Para nós, a morte não tem a última
palavra. A nossa essência e a de toda a natureza é a semente de vida, o sopro
de vida que Deus nos deu na criação.
Somos seres criados para a vida e a morte não é definitiva. Estas
catástrofes não terminam na destruição. Temos que ver os sinais de vida
nestas circunstâncias. Um dos sinais de vida é o ressuscitar das pessoas do
egoísmo (a generosidade), do isolamento (a entreajuda), de... Façamos por
isso um esforço para descobrir os sinais de vida e de ressurreição que advém
das catástrofes que nos são dadas viver.
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“Onde morrem 2, morrem 3”
Dia 17 de Fevereiro começava a Quaresma com a Quarta feira de
cinzas e dia 20 acontecia, na Madeira, a maior catástrofe natural de que se
tenha memória nas pessoas deste lugar. As circunstâncias nos depararam ter
que experimentar ao vivo aquilo que significa este tempo como tempo de
paragem e de avaliação, daquilo que é essencial na vida e, por outro lado,
tempo de assimilação de que a vivência do mistério da morte e Ressurreição é
algo diário nas nossas vidas.
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um novo céu e uma nova terra… eu enxugarei as lágrimas dos seus olhos e
não haverá mais pranto, nem dor… porque eu serei o Deus com eles e eles
serão meu filhos… “ (Apocalipse 21).
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“Onde há amor, aí habita Deus”
O Rei dirá, então, aos da sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai!
Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do
mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de
beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir,
adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.'
Então, os justos vão responder-lhe: 'Senhor, quando foi que te vimos
com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te
vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos
doente ou na prisão, e fomos visitar-te?' E o Rei vai dizer-lhes, em resposta:
'Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a mim mesmo o fizestes.'
Mt 25,34-40
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somos iguais, não há classes sociais, não há uns mais importantes que outros,
onde todos estão na lama a dar tudo por tudo.
Duas semanas depois do temporal, leio uma entrevista a um jornal de
uma jovem que, naquele dia se encontrava num dos locais atingidos, que se
agarrou às portas do shopping para não ser levada pelas águas e que foi salva
por um senhor que a ajudou a atravessar até a uma saída do outro lado da
superfície, deixando-a na escadaria dizendo-lhe “ Vai, vai, o pior já passou!”.
Na entrevista ela queria saber quem a tinha salvado.
Face à dor à angústia ao desespero o mundo responde com uma onda
de amor, solidariedade, partilha, é um grito de VIDA muito forte, que tem
ajudado a aliviar o sofrimento dos que foram mais atingidos. A experiência que
fica é que dos destroços causados pela intempérie, nasce um novo reino de
amor no coração de todos aqueles que se abriram à caridade. Deus não quer o
sofrimento das pessoas, mas desde toda esta circunstância, faz renascer a
vida e o esperança.
43
“Um novo Reino está a amanhecer,
um novo Reino está a surgir,
um novo Reino está a nascer
entre as ruínas do velho império:
É um Reino de paz,
é um Reino de amor,
é um Reino de justiça e liberdade.
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Em louvor do Funchal
Um dia, que esperamos não muito distante, a imagem desta baía em
ruínas, soterrada hoje em lama e pranto, há-de dar lugar , de novo, à paisagem
verdadeira. Passaremos de Inverno intransigente e funesto à clemência de
uma estação que devolva ao Funchal sua luz. As buganvílias voltarão a
estender placidamente sobre as ribeiras os seus braços brancos, rosa, cor-de-
vinho, a árvore de fogo do Largo do Colégio levantará mais alto o seu
deslumbre ;os jacarandás repetirão o assombro colorido; as tipuanas
desdobrarão, nos inícios de Junho , um incrível tapete amarelo frente a São
Lourenço ou na subida de Santa Luzia .Esperamos que , num tempo não
distante , se possa reconhecer , de novo, a limpidez do traçado atlântico do
centro, as ruas confusamente populares, o arabesco do mercado, o mesmo
desenho de cheiros , a mesma mescla de sonoridades, o brando silêncio que
nas praças tem o seu quê de familiaridade tímida quase cerimoniosa.
Encravado na forma de uma concha há cinco séculos, burgo marítimo de
referência , com construção fantasiosa, o Funchal foi a primeira cidade
Europeia nascida fora da Europa. O resultado é um património humano e
urbanístico únicos. Evoca é claro , o modelo de algumas cidades continentais,
mas já é outra coisa, como acontece aos territórios de fronteira. É uma cidade
reservada e extravagante, cosmopolita e primitiva, enérgica e indolente. Tanto
como outras, mas diferente de uma maneira que é só sua. Por exemplo em
certas horas vazias, as inúmeras varandas terrestres espalhadas pelas
encostas parecem colocadas num imenso navio como os que muitas vezes ali
aportam, e sente-se (isto é real) que toda a cidade flutua.
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Vem e verás
Nestes dias difíceis em que assistimos a cataclismos naturais há quem
pergunte: onde está Deus? Sim, Jesus, onde moras nestas situações
concretas?
Jesus responderia - Estou onde a tua e a fé de alguns cristãos está, viva
e amadurecida.
Nestes tempos, que são os nossos, será que Deus nos encontra adultos
na fé, para sermos Sua Presença no meio do mundo?
Esta realidade tem-me feito olhar para a minha história … e procuro
sinais de vida, de vida abundante.
Reconheço-me como um vaso de barro, porém, levo inscritas nesse
barro as marcas da Misericórdia de Deus. Primeiro, com a minha vida e depois
com a vida de algumas pessoas (outros vasos como eu), e sinto que Deus me
chama a colaborar na reconstrução dessas mesmas vidas.
Olhando para as nossas cidades e vilas, onde não aconteceram essas
intempéries, encontramos corações humanos onde existem fendas abruptas
entre o amor que têm direito a descobrir e a realidade que lhes é dada viver.
Em quantas vidas há rupturas internas que levam a uma baixíssima auto-
estima? Quantos jovens experimentaram derrocadas de falta de apoio e de
valores espirituais, onde se instala o vazio? Que pessoas conhecemos que se
deixam levar pelas enxurradas do consumismo, ao mesmo tempo que se
instala no seu interior a tristeza e a monotonia?
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Deus estava a fazer uma aliança com a minha vida. Isto foi um caminho com
avanços, paragens e recuos da parte da jovem. Da minha parte o percurso foi
feito com alegria, lágrimas e esperanças, com oração e acompanhamento de
uma amizade sincera e dedicada. Até que ela aceitou fazer um tratamento e
hoje, passados 13 anos, está bem e a sua vida é um testemunho porque
colabora para outros saírem desses caminhos.
Entretanto conheci outra jovem e um jovem com problemas semelhantes
mas com idades, passados, personalidades e nacionalidades diferentes. Hoje
em dia estas pessoas constituíram família e uma delas é psicóloga e o seu
trabalho consiste em ajudar pessoas que sofram desta doença aditiva.
Anos mais tarde conheci uma jovem que tinha passado por tentativas de
suicídio, estava desesperada e sem amigos e a sua família já pouco intervinha.
Foram 3 anos em que dei muito da minha vida: escutei, acolhi, abracei, fui
firme, sofri, sorri, e descobri que Deus me dava entranhas de ternura. Depois
encaminhei para um técnico profissional; ela participou num grupo de jovens
espectacular em que as pessoas tiveram uma paciência imensa, criando com
ela laços fraternos e de ternura. Fez o seu percurso muito devagarinho (e
Jesus foi segurando a sua vida), quase não víamos um sorriso, até que chegou
a descoberta de que valia a pena viver e ter um projecto de vida. Hoje tem o
seu emprego e é casada.
Cruzei-me ainda com outra jovem com problemas emocionais
depressivos (mas diferentes da anterior), e foi um percurso com idas e vindas,
onde fui dando apoio humano e espiritual. Também ela teve a possibilidade de
integrar um grupo de jovens, de participar em encontros e retiros. E como a
situação era muito delicada, teve de fazer um tratamento específico por
internamento. Foi então que Deus se fez presente de um novo modo, e foi
surpreendente porque, de lugares do nosso país tão distintos, esta jovem
reencontrou-se com duas das pessoas atrás mencionadas, as quais lhe deram
apoio também.
Que bonita esta corrente de amor de Deus, só Ele para permitir que se
cruzem caminhos de bem, onde as pessoas “que se reencontraram consigo,
com a vida e com Deus”, podem ser luz e dar esperança ao mundo de hoje.
Vem e verás … Aqui mora Jesus! Aqui onde nos vamos colocando e
recolocando nas Suas Mãos, ainda que vivendo muito desta entrega no
silêncio. Muitas vezes também recorri a Maria pedindo-Lhe que viesse comigo
a estes lugares de vidas a desmoronarem-se e quantas vezes estiveram
presas por um fio num precipício (só Deus sabe bem e em profundidade tudo o
que se viveu).
Fui tacteando e correndo, tive medo mas arrisquei apoiando-me em
Jesus, na Sua Palavra e no Pão da Eucaristia. Pela oração de diálogo com
Jesus fui percebendo que Ele me emprestou o Seu coração para eu acreditar
na vida destas pessoas (para lá de toda a evidência humana que me falava em
sentido contrário). Tendo-me colocado ao serviço da construção do Reino de
Deus, fi-lo por me sentir amada, valorizada por Deus Pai. Porque tive a
possibilidade de participar em encontros, em retiros, por “ter encontrado um
tesouro,” quis levá-LO a outras pessoas. No entanto, para esta viagem
necessitei muitas vezes de ir à Fonte beber do manancial da Palavra, para não
desistir. E também aprendi que sou eternamente aprendiz do Seu Amor e que
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sou continuamente chamada a ser humilde diante d´Aquele que pode, por mim
ou por ti, testemunhar o rosto belo de Deus.
A alegria de ver renascer vidas humanas das cinzas é uma experiência
indescritível, que faz dizer: “o que os meus olhos viram, as minhas mãos
tocaram de vida de Cristo Encarnado, isso vos anuncio”(1Jo.1, 1-4) e não
posso esconder as maravilhas de Deus, a Sua Bondade e Misericórdia, que
tudo faz para resgatar e dar mais vida interior a cada um de nós que se deixa
ajudar.
«A mão do Senhor desceu sobre mim, conduziu-me e levou-me a um
lugar cheio de ossos ressequidos. O Senhor disse-me : Filho do homem, esses
ossos poderão voltar á vida? Eu respondi: Senhor, só Tu o sabes. Profetiza, a
esses ossos e diz a esses ossos: Ouvi a Palavra do Senhor (…)eis que vou
introduzir em vós o sopro da vida e revivereis.» Ez.37
Amiga, amigo, tu, eu e outros, podemos ser a esperança e a fé de Deus,
na vida de homens e mulheres dos nossos dias. Acreditas nisto? Jesus
acredita em ti, que a tua vida pode marcar a diferença na vida de alguns irmãos
nossos.
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