Papa-francesco 20231109 Messaggio-giovani 2023
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26 de novembro de 2023
Queridos jovens!
No passado mês de agosto, encontrei centenas de milhares de vossos coetâneos que, vindos de
todo o mundo, se reuniram em Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude. Nos dias da
pandemia alimentámos, no meio de muitas incertezas, a esperança de que esta grande
celebração do encontro com Cristo e com outros jovens se pudesse realizar. Esta esperança
concretizou-se e, para mim e muitos de quantos lá estiveram presentes, superou todas as
expetativas! Como foi lindo o nosso encontro em Lisboa! Uma verdadeira e real experiência de
transfiguração, uma explosão de luz e alegria!
De facto vós, jovens, sois a esperança jubilosa duma Igreja e duma humanidade sempre a
caminho. Quero tomar-vos pela mão e, junto convosco, percorrer a senda da esperança. Quero
falar convosco das nossas alegrias e esperanças, mas também das tristezas e angústias dos
nossos corações e da humanidade que sofre (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et
spes, 1). Nestes dois anos de preparação para o Jubileu, meditaremos, primeiro, sobre a
expressão paulina «Alegres na esperança» (Rm 12, 12) e, depois, aprofundaremos a frase do
profeta Isaías: «Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar» (cf. Is 40, 31).
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Donde vem esta alegria?
«Alegres na esperança» (Rm 12, 12) é uma exortação de São Paulo à comunidade de Roma, que
se encontra num período de intensa perseguição. E na realidade a «alegria na esperança»,
pregada pelo Apóstolo, brota do mistério pascal de Cristo, da força da sua ressurreição. Não é
fruto do esforço humano, do engenho ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo. A
alegria cristã vem do próprio Deus, de nos sabermos amados por Ele.
A juventude é um tempo cheio de esperanças e sonhos, alimentados pelas realidades belas que
enriquecem a nossa vida: o esplendor da criação, as relações com os nossos entes queridos e
com os amigos, as experiências artísticas e culturais, os conhecimentos científicos e técnicos, as
iniciativas que promovem a paz, a justiça e a fraternidade, e assim por diante. Contudo vivemos
num tempo em que para muitos, mesmo jovens, a esperança parece ser a grande ausente.
Infelizmente muitos dos vossos coetâneos, que vivem experiências de guerra, violência, bulling e
várias formas de mal-estar, veem-se afligidos pelo desespero, o medo e a depressão. Sentem-se
como que encerrados numa prisão escura, incapazes de ver os raios do sol. Demonstra-o
dramaticamente a elevada taxa de suicídio entre os jovens de vários países. Em semelhante
contexto, como se pode experimentar a alegria e a esperança, de que fala São Paulo? Antes,
pelo contrário, há o risco de se impor o desespero, a convicção de ser inútil fazer o bem, porque
ninguém o apreciará nem reconhecerá, como lemos no Livro de Job: «Onde está a minha
esperança? A minha esperança, quem a viu?» (Job 17, 15).
Àvista dos dramas da humanidade, sobretudo do sofrimento dos inocentes, também nós – como
rezamos em alguns Salmos – perguntamos ao Senhor: «Porquê?» Pois bem! Uma parte da
resposta de Deus, podemos sê-la nós. Criados por Ele à sua imagem e semelhança, podemos
ser expressão do seu amor que faz nascer a alegria e a esperança, mesmo onde parece
impossível. Vem-me à mente o protagonista do filme «A vida é bela»: um pai jovem que
consegue, com delicadeza e imaginação, transformar a dura realidade numa espécie de aventura
e de jogo e, assim, dá ao filho «olhos de esperança», protegendo-o dos horrores do campo de
concentração, salvaguardando a sua inocência e impedindo que a maldade humana lhe roube o
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futuro. Mas não se trata apenas de histórias inventadas! É o que vemos na vida de muitos
Santos, que foram testemunhas de esperança mesmo no meio da maldade humana mais cruel.
Pensemos em São Maximiliano Maria Kolbe, em Santa Josefina Bakhita ou nos Beatos esposos
Józef e Wiktoria Ulma com os seus sete filhos.
A «pequena» esperança
O poeta francês Charles Péguy, no início do poema sobre a esperança, fala das três virtudes
teologais – fé, esperança e caridade – como se fossem três irmãs que caminham juntas:
Na tradição cristã do Tríduo Pascal, o Sábado Santo é o dia da esperança. Situado entre a Sexta-
Feira Santa e o Domingo de Páscoa, é como um meio-termo entre o desespero dos discípulos e a
sua alegria pascal. É o ponto onde nasce a esperança. Neste dia, a Igreja comemora em silêncio
a descida de Cristo à mansão dos mortos. Isto, podemos vê-lo pintado em muitos ícones.
Mostram-nos Cristo refulgente de luz que desce às trevas mais profundas e atravessa-as. É
assim: Deus não se limita a olhar com compaixão para as nossas zonas de morte ou a chamar-
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nos de longe, mas entra nas nossas experiências da mansão dos mortos como luz que brilha nas
trevas e as vence (cf. Jo 1, 5). Bem o expressa um poema na língua sul-africana xhosa: «Mesmo
que acabem as esperanças, com este poema acordo a esperança. A minha esperança acorda,
porque espero no Senhor. Espero que havemos de nos unir! Permanecei fortes na esperança,
porque o bom êxito está próximo».
Se pensarmos bem, esta foi a esperança da Virgem Maria, que permaneceu forte aos pés da cruz
de Jesus, certa de que estava próximo o «bom êxito». Maria é a mulher da esperança, a Mãe da
esperança. No Calvário, firme «numa esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18),
não deixou apagar no seu coração a certeza da Ressurreição anunciada pelo seu Filho. É Ela
que preenche o silêncio do Sábado Santo com uma amorosa expetativa cheia de esperança,
incutindo nos discípulos a certeza de que Jesus venceria a morte e que o mal não seria a última
palavra.
A esperança cristã não é otimismo fácil nem uma panaceia para simplórios: é a certeza, radicada
no amor e na fé, de que Deus nunca nos deixa sozinhos e mantém a sua promessa: «Ainda que
atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo» (Sal 23, 4). A
esperança cristã não é negação da dor nem da morte, mas celebração do amor de Cristo
Ressuscitado que está sempre connosco, mesmo quando parece distante. «O próprio Cristo é,
para nós, a grande luz de esperança e guia na nossa noite, porque Ele é “a brilhante estrela da
manhã” (Ap 22, 16)» (Francisco, Exort. ap. Christus vivit, 33).
Alimentar a esperança
Quando a centelha da esperança se acende em nós, existe às vezes o risco de ser sufocada
pelas preocupações, os medos e as tarefas da vida diária. Mas uma centelha precisa de ar para
continuar a brilhar e reavivar-se num grande fogo de esperança. E é a suave brisa do Espírito
Santo que alimenta a esperança. Podemos colaborar de diversos modos para a alimentar.
Queridos jovens, quando o nevoeiro espesso do medo, da dúvida e da opressão vos envolve e já
não conseguis ver o sol, embocai o caminho da oração. Pois, «quando já ninguém me escuta,
Deus ainda me ouve» (Bento XVI, Carta enc. Spe salvi, 32). Reservemos diariamente o tempo
para descansar em Deus, face às ansiedades que nos assaltam: «Só em Deus descansa a minha
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alma; d’Ele vem a minha esperança» (Sal 62, 6).
Às vezes, à noite, saís com os vossos amigos e, se estiver escuro, tomais o smartphone e
acendeis a lanterna para iluminar. Nos grandes concertos, milhares movem aquelas luzinhas
modernas ao ritmo da música, criando um belo cenário. De noite, a luz faz-nos ver as coisas dum
modo novo e, mesmo na escuridão, emerge uma dimensão de beleza. O mesmo se passa com a
luz da esperança, que é Cristo. Por Ele, pela sua ressurreição, é iluminada a nossa vida. Com
Ele, vemos tudo sob uma nova luz.
Diz-se que, quando as pessoas se dirigiam a São João Paulo II para lhe falar de um problema, a
sua primeira pergunta era: «Como se apresenta isso à luz da fé?» Também um olhar iluminado
pela esperança faz com que as coisas apareçam sob uma luz diferente. Por isso, convido-vos a
assumir este olhar na vossa vida diária. Animado pela esperança divina, o cristão encontra-se
repleto duma alegria diversa, que vem de dentro. Os desafios e as dificuldades existem e sempre
existirão, mas se estivermos dotados duma esperança «cheia de fé», enfrentá-los-emos sabendo
que não têm a última palavra e nós próprios tornamo-nos uma pequena lanterna de esperança
para os outros.
E podeis sê-lo, também cada um de vós, na medida em que a própria fé se fizer concreta,
aderente à realidade e às histórias dos irmãos e irmãs. Pensemos nos discípulos de Jesus, que
um dia, num alto monte, O viram resplandecer de luz gloriosa. Se tivessem ficado lá em cima,
teria sido um momento muito belo para eles, mas os outros teriam sido excluídos. Era necessário
que descessem. Não devemos fugir do mundo, mas amar o nosso tempo, no qual Deus nos
colocou não sem motivo. Só se pode ser feliz partilhando a graça recebida com os irmãos e as
irmãs que o Senhor nos dá dia após dia.
Queridos jovens, não tenhais medo de partilhar com todos a esperança e a alegria de Cristo
Ressuscitado! A centelha que se acendeu em vós, conservai-a, mas ao mesmo tempo comunicai-
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a: dar-vos-eis conta de que ela crescerá! A esperança cristã, não a podemos guardar para nós,
como um belo sentimento, visto que se destina a todos. Aproximai-vos em particular dos vossos
amigos que talvez aparentemente sorriam, mas por dentro choram, carentes de esperança. Não
vos deixeis contagiar pela indiferença e pelo individualismo: permanecei abertos como canais por
onde a esperança de Jesus possa fluir e difundir-se nos ambientes onde viveis.
«Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo!» (Exort. ap. Christus
vivit, 1). Assim vos escrevi, há quase cinco anos, depois do Sínodo dos Jovens. Convido-vos a
todos, especialmente àqueles que estão envolvidos na pastoral juvenil, a voltarem a pegar no
Documento Final de 2018 e na Exortação apostólica Christus vivit. Os tempos estão maduros
para fazermos, juntos, o ponto da situação e trabalharmos com esperança para a plena
implementação daquele Sínodo inesquecível.
Confiemos toda a nossa vida a Maria, Mãe da Esperança. Ela ensina-nos a trazer dentro de nós
Jesus, nossa alegria e esperança, e a dá-Lo aos outros. Boa caminhada, queridos jovens!
Abençoo-vos e acompanho-vos com a oração. E vós rezai também por mim!
Francisco