Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
0% acharam este documento útil (0 voto)
18 visualizações391 páginas

O Espadachim - Duque Do Diabo Li

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 391

1ª Edição

Direitos Autorais
Título Original: The Rogue
Copyright©2016 por Katharine Brophy Dubois
Copyright da tradução©2020 Leabhar Books Editora Ltda.

Editor: Tereza Rocca


Tradução: R. Cappucci
Revisão: D. Marquezi
Diagramação: Jaime Silveira
Capa: Luis Cavichiolo

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do proprietário dos direitos autorais.

Todos os direitos reservados, no Brasil e língua portuguesa, por Leabhar Books Editora Ltda. CP: 5008 CEP: 14026-970 - RP/SP - Brasil
E-mail: leabharbooksbr@gmail.com
www.leabharbooks.com
Índice
Direitos Autorais
Índice
Clube Falcão
Parte 1
Prólogo
Parte 2
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Parte 3
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Parte 4
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Epílogo
Uma nota sobre disfarces, ladinos e espadas
Próximo Lançamento da série
Sobre a Autora
Próximo lançamento
Conheça outros Títulos
Informaçoes Leabhar Books®
Prólogo

O Perigo

Abril de 1816
Fellsbourne, Propriedade do Marquês de Doreé
Kent, Inglaterra

Dos doze homens presentes na sala, ele era o único no qual não
deveria fixar seu olhar. Não era um Lorde, nem um herdeiro. Nem
descendente de uma linhagem impressionante ou um favorito do
príncipe. Na verdade, sequer era um cavalheiro.
No entanto, não conseguia desviar o olhar.
Não importava; um nicho escondido era um lugar ideal para uma
jovem dama poder espiar uma festa ousada. Até que alguém a
descobrisse.
A menos que esse alguém fosse justamente certa pessoa.
Por quatro noites, ninguém reparara nela espreitando por uma
abertura, que mal poderiam chamar de porta, no canto do salão de
baile. Aqueles corredores haviam sido criados em uma época de
rebelião e há muito tempo sua existência fora esquecida.
Exceto por ela.
E agora por ele.
Uma mescla de familiaridade e perigo a dominava pela a largura
daqueles ombros e a luz das velas que incendiavam aquele olhar
que a observava. Mesmo assim, não recuou nem fugiu pelo corredor
escuro. Não temia que ele a conhecesse. Como as mulheres que
tinham sido de fato convidadas para a festa, usava uma máscara que
ocultava a parte superior do seu rosto. De qualquer maneira, não
conhecia ninguém na sociedade. Seu pai ainda não a levara até
Londres, limitando-se a deixá-la ali, em Fellsbourne, onde imaginava
que estivesse em segurança, com a família do seu querido amigo.
Onde, realmente, sempre esteve segura. Provocada, insultada,
tratada como uma irmã mais nova irritante, e muito negligentemente
aceita. Mas em segurança.
Até agora.
Sem deixar de focá-la, o estranho se levantou da cadeira com uma
graça predatória. Locomoveu-se como um caçador, esguio, poderoso
e alerta. Não inteiramente humano. Até no momento de lazer
observava os outros, mostrando desinteresse nos flertes amorosos
entre os homens e as mulheres que vieram para entretê-los, porém
com olhar aguçado.
Observava como um príncipe elfo estudando seres mortais.
Por quatro noites se perguntou, se caso fosse uma daquelas
mulheres, ele se interessaria por ela? Ele procuraria a sua atenção?
Tocaria nela como os outros homens tocavam aquelas mulheres?
Como ela ansiava ser tocada, abraçada, elogiada por ser especial,
bondosa e bela?
Era perversa até a medula.
Má por querer que um estranho reparasse nela. Imoral por
saborear a excitação em seu ventre enquanto ele caminhava
diretamente para ela.
Em circunstâncias normais, sua língua era bem ágil. Mas
circunstâncias normais nunca, em suas atitudes mais selvagens,
incluíram um homem com olhos como os dele; verdes, transparentes
e cintilantes como o luar sobre as águas de uma nascente na
floresta. Talvez ele não fosse inteiramente humano. Não estava na
Escócia. Mas a Inglaterra também tinha a seu quinhão de seres
míticos.
Quando ele parou, perversamente, a pouco mais de meio metro
dela, a sua língua falhou.
― Estava me encarando ― disse ele, com um tom que soava a
conhaque aquecido à lareira, rico, profundo.
― Também olhava para mim. ― O tom baixo de suas próprias
palavras a assustou.
― Um de nós deve ter começado.
― Talvez tenha sido espontaneamente mútuo. Ou apenas uma
coincidência, e nós dois imaginamos que o outro começou.
― Que mortificante para nós dois então. ― Um leve sorriso
apareceu no canto daquela boca linda. Bela. Ela nunca havia
pensado sobre a bocas dos homens antes. Nunca havia reparado
nelas. Agora notara, e isso esquentara suas vísceras.
― Ou sorte ― ela se aventurou dizer. Sorria mostrando os dentes
grandes. Mas não se importava. Um rapaz sorria para ela, um jovem
com a pele queimada pelo sol, barba crescida e rala em redor da
boca, como um pirata ocupado demais com o saque para se
incomodar de não se barbear um dia ou dois. Não muito místico, na
verdade. Tinha o cabelo da cor de ouro velho, ondulando sobre o
colarinho e penteado para trás. Um sabre militar pendia ao longo de
sua coxa, comprido e protegido por bainha de couro negro. O punho
da arma cintilava.
Estava focado em seus lábios por isso focou nos dele. Arrepios de
excitação subiram por sua espinha.
Beijos.
Seus lábios a fizeram pensar em beijos. Querer beijos. Beijos na
sua boca. Beijos no seu pescoço como aqueles que as mulheres
fáceis recebiam dos outros homens. Beijos onde quer que ele os
desse.
Perversa, má, imoral.
― Dance comigo ― disse ele.
Ela lançou um olhar para o salão de baile. Todas as mulheres
usavam disfarces, escassos, transparentes, que escorregavam por
seus ombros sob os dedos ousados dos cavalheiros. Jack organizara
o baile de máscaras para os amigos e para aquelas mulheres.
Mulheres que não deveria invejar.
Não devia estar ali. Devia estar na casa da viúva, a cerca de 400
metros de distância, onde Eliza bebera whiskey no jantar e agora
ressonava confortavelmente junto à lareira da sala
― Não posso dançar essa noite ― ela disse com mais pesar do
que se lembrava de ter sentido alguma vez.
― Não pode? Ou não vai dançar comigo?
Sua língua moldou as palavras decadentemente, como se as
sílabas tivessem nascido para beijar seus lábios e provocá-la com o
que não poderia ter.
― Se eu pudesse, só o faria contigo.
Ele parecia estudar seu rosto: os olhos muito grandes, o nariz
pequeno, a boca muito larga, as sobrancelhas manchadas e as
bochechas redondas demais. Conhecia as próprias falhas e, no
entanto, ele parecia gostar de estudá-las.
― Qual seu nome?
― Não tenho. ― Pelo menos um nome que pudesse dizer a um
desconhecido com olhos de elfo e barba de pirata.
Ele sorriu, e foi simplesmente uma revelação de prazer que fez
seu coração bater forte no peito.
― Vou chamá-la de Bela ― disse ele, em seguida, franziu a testa.
― Mas já deve ter ouvido isso antes.
― Então, suponho que devo chamá-lo de Fera ― ela respondeu.
Gostou da tensão em seu ventre que ele causou com o sorriso
apenas.
― Pelo que estou pensando agora, deveria ― disse ele muito a
sério.
― O que está pensando agora?
― Que seus lábios são perfeitos.
Ela não conseguiu controlar esses lábios: estremeceram, sorriram,
desconfiaram.
― Os homens já te disseram isso antes ― disse ele.
Ninguém jamais olhou para sua boca, exceto para atacá-la quando
ela falava errado.
― Por que se importa com o que os outros homens me disseram?
― Porque desejo ser o primeiro, o mais eloquente e original. No
entanto, não posso ser isso. E então eu falo antes que a batalha
comece.
― Batalha?
― Por sua atenção.
― Tem minha atenção. Inteiramente. Isso parece óbvio para mim.
― Ela tentou não sorrir. ― Talvez esteja lento de raciocínio.
― Sem dúvida ― ele murmurou e abruptamente parecia mais
perto, mais alto, maior. Ela podia sentir seu perfume, um cheiro de
couro aquecido pelo sol e bergamota que ela podia alcançar e
comer. ― Eu gostaria de beijá-la ― disse ele.
A explosão de excitação em seu ventre sufocou sua respiração.
― Eu devo ir — ela sussurrou. Mas não foi. Isso era errado,
perverso, desleal de muitas maneiras. Mas seus pés não a
obedeciam. Ela queria ficar. Queria respirá-lo cada vez mais e tê-lo
mais perto.
Seus olhos brilhavam com a luz das velas.
― Não foi convidada para esta festa. Não é?
― Não.
― É uma serva nesta casa?
Estava na ponta de sua língua declarar: “Sim”! E deixá-lo continuar
olhando para sua boca e dizendo coisas ultrajantes. Mas algo em
seus olhos lhe dizia que ele saberia se ela mentisse.
― Tenho que ir. ― Desta vez ela foi correndo pela a escuridão.
Passou rapidamente pelo corredor estreito, com os sapatinhos finos
tocando silenciosamente o soalho de madeira, contando os passos
na escuridão total até à saída. Tinha se escondido naquelas paredes
muitas vezes, de Jack, Arthur e Ben, espiando-os, ansiando estar do
outro lado, ansiando ser bem-vinda às suas brincadeiras. Muitas
vezes subia em cantos sombrios para estar perto deles sem revelar a
sua presença. Sempre que a descobriam, fugiam. Os meninos são
sempre meninos, dissera sua ama, ao que ela respondera que, se
assim fosse, então os meninos magoavam.
Os passos da bota do estranho soaram atrás dela no corredor.
― Não vá. Eu imploro ― ele disse na escuridão.
Ela obedeceu e ele se aproximou num instante.
― O que esperava conseguir ao entrar naquela sala? ― perguntou
ele, parecendo estar perto. Ouvia o som dos seus ombros roçando
as paredes, como se o seu corpo preenchesse todos os espaços
vazios no corredor e dentro dela. Sua cabeça girou.
― Eu queria vê-lo. Eu... ― Ela não podia mentir, mas sabia que
seria uma idiota ao revelar algo sobre si mesma. ― Não preciso te
contar.
― Foi proibida de participar ― disse ele com certeza. ― Não é de
admirar.
― Não é de admirar?
― Lobos rondam este lugar esta noite. E é um cordeirinho.
Ela não se sentia como um cordeiro. Se sentia como Jezebel.
― Dificilmente. Acabei de fazer dezoito anos ― ela respondeu.
― Ah. Uma verdadeira idosa.
Ela gostou da provocação. Gostou que ele quisesse provocá-la,
que a seguisse, e que agora estivesse perto demais.
― Sua língua é deliciosamente nobre, senhor. Sinto-me muito
grata. ― O ar pareceu mudar, soltar-se.
― Não posso vê-la. ― Seu tom de conhaque aquecido estava
mais suave agora. ― Acabou de fazer uma reverência?
― Claro. Esse elogio foi merecedor.
― Elogio?
Ela riu.
― Me chamou de idosa?
― Chamei?
― Sim, o fez.
― Não, eu não poderia. Esse deve ter sido outro sujeito que está
nesta fenda escura conosco. O grosseiro. Mas não se preocupe. Irei
despachá-lo quando terminarmos aqui.
― Quando terminarmos? ― Não tão cedo.
― Porque parou quando pedi?
― Não pediu. Implorou. Senti pena.
Abruptamente a tensão voltou, o ar zumbindo numa intensidade
delirante.
― Sabe que pode estar em perigo aqui comigo? ― Ele disse pelo
menos vários tons abaixo.
― Se eu estivesse em perigo contigo, não estaria agora se
colocando em risco uma vez que me avisou?
Ele parecia ainda mais perto ― seu calor e cheiro, seus olhos que
não podiam vê-la, e sua boca da qual ela queria beber seus beijos.
― Talvez eu ainda a coloque em perigo. ― Ele falou com uma
aspereza que deslizou para dentro dela.
― Não o fará ― disse ela, seus dedos se juntando em suas saias.
― Como pode saber?
― Porque eu o quero. E eu poderia ser feliz por, pelo menos uma
vez, tendo um desejo realizado.
― As jovens como... ― Ele pareceu hesitar. ― Jovens que
brincam com o perigo assim, se magoam.
― E se eu não estiver brincando? ― Ela mal podia respirar.
Ele não disse nada e o silêncio os envolveu.
― Me pergunto o que poderia querer ― ele finalmente disse. ―
Estava espionando o salão de baile?
― Sim.
― Quem é o homem de sorte?
― E se eu pretendesse apenas espiar através dessa brecha na
porta? ― Só na primeira noite. Na primeira noite tinha sido mera
curiosidade. ― E se eu estivesse assistindo tudo decepcionada e
com um tédio cada vez maior, à beira de abandonar a minha vigília
em favor do livro em minha mesa de cabeceira?
― Tédio?
― Só porque eu nunca vira a libertinagem não significa que não
saiba nada sobre ela. ― Ele não precisava saber que na primeira
noite ela ficou um pouco irritada assistindo à festa de Jack, ansiosa
para voltar à casa da viúva e à companhia familiar de Eliza.
Ele riu.
― Então, o que, oh jovem entediada, te impediu de voltar ao seu
livro?
― Eu o vi. ― E sensações dentro dela que desconhecia ou nunca
imaginara poder sentir.
Perversas.
Devassas.
― Agora, vou beijá-la ― disse ele com um pouco de urgência ― e
se amaldiçoado por isso.
― Porquê? É pecado beijar uma mulher?
― Uma mulher, normalmente não. Uma jovem, sim.
― Então finja que sou apenas uma mulher essa noite. ― Ela falou
em uma corda bamba.
― E amanhã?
― Amanhã... ― ela ficou na ponta dos pés, inclinou o queixo para
cima e se inclinou para o calor dele. Ela aproveitaria esse delírio
apenas por um momento, um momento proibido que parecia a coisa
mais honesta que já fizera. ― Rezarei por nós dois.
Pensou que ele iria beijá-la. Alguns dos outros homens tinham
avançado nas mulheres fáceis e beijaram-nas nos lábios sem sequer
perguntar. Em vez disso, sentiu o mais breve roçar do braço dele
contra o dela, o calor da mão dele momentaneamente perto do seu
rosto.
Então uma pontada de dor.
Ela empurrou a cabeça para frente.
― Ai! ― A meia-máscara caiu do seu rosto e ela estava nua, seu
rosto totalmente revelado. Mas na escuridão ele certamente não
poderia vê-la.
― Perdoe-me ― disse ele, não particularmente arrependido.
― Puxou meu cabelo. ― A felicidade borbulhou nela. ― Poderia
ter perguntado, sabe.
― Precisa de volts?
― A máscara ou meu cabelo?
― Se fosse minha, eu compraria pentes incrustados com
diamantes para enfeitar seu cabelo. ― As palavras acariciaram-na.
― Tem como pagar diamantes?
― Hummm... Não.
― Pentes?
― Não.
― Flores silvestres, então.
― Flores silvestres?
― Adorne meu cabelo com flores silvestres e dançaremos no
prado. Como uma donzela feérica. ― Com seu príncipe. ― Gostaria
disso?
― Acredito que bastante. ― Ela o ouviu respirar profundamente.
Nunca tinha escutado outra pessoa respirando antes, não assim, na
escuridão, ouvindo tão intensamente, por não poder vê-lo. Era
deliciosamente íntimo.
― Acho que gostaria de me demorar por um momento nesta cena
imaginária no prado ― disse ele.
― Gostaria?
― Mas preciso de mais detalhes. Por exemplo, o que usará para
esse desempenho?
― Não será uma performance. Pelo contrário, será uma
celebração da liberdade.
― Liberdade de quê?
― De tudo. ― Da solidão. ― Então provavelmente usarei algo
surpreendentemente indecente. Branco. Puro. Atrevo-me a dizer que
conhece esse gênero de coisas.
― Estou começando a entender como a cena no salão de baile a
entediava. Quem é? ― Ela tinha ido longe demais. Sabia disso. Se
divertia com isso.
― Apenas uma jovem, como bem disse. ― Ela tentou soar
confiante. ― Uma que quer que o seu primeiro beijo seja contigo.
― Estou feliz em ajudá-la nisso.
Ainda, assim, ele não a beijou. Em vez disso, a mão dele se
fechou ao redor do seu ombro e ela inalou bruscamente. Seu toque
era quente e forte através do tecido do vestido. Então, um único
dedo viajou lentamente para o vale na base de seu pescoço. Um
estremecimento percorreu-a.
― Oh. ― Ela sofria, querendo mais desse toque no poço profundo
de um desejo que ela mal reconhecia.
― Diga-me para parar ― disse ele como o estrondo de uma
tempestade.
― Nenhum homem jamais... eu nunca fui tocada. ― Ela estava se
revelando, a ingênua inocente que poderia ser facilmente seduzida.
Mas era tarde demais. Com poucas palavras e uma única carícia, ele
já a seduzira. Era a maior devassa viva. ― Não posso acreditar que
isso está acontecendo comigo ― ela sussurrou.
― Nesse caso estamos unidos na descrença. ― Ele estava perto,
tão perto.
Seus lábios roçaram os dela e o céu desceu. O amanhecer
rompeu a aurora. Choviam estrelas. Dos lábios aos joelhos, ela
acordou com uma explosão de excitação e formigamento.
― Céus ― ela murmurou, agarrando-se a ele na escuridão.
Seus lábios eram macios, seus braços duros enquanto ela
apertava seus dedos ao redor deles ― masculinos, estranhos e
excitantes. E muito rapidamente tudo o que ela queria era mais. Mais
lábios macios e braços duros, mais respirações se misturando, mais
desse jovem nas suas mãos e na sua boca. Este homem, cuja mão
segurou seu rosto e pressionou sua boca contra a dele, cujos lábios
ficaram firmes e com um gosto bom. Ela o provou. Não sabia que um
homem tinha um sabor. Ou texturas, macias e firmes, ásperas e
suaves simultaneamente. Nunca tinha conhecido a carícia da
respiração de outra pessoa em sua bochecha.
Tinha perdido muito.
Subindo por seus braços que eram maravilhosamente musculosos,
seus dedos apertaram seus ombros. A lã lisa do casaco era tão
desconhecida contra suas mãos, era tão estranho as pontas dos
dedos acariciando as pontas de seus cabelos, tão estranho, delicioso
e inebriante e ela queria mais.
Apertou mais os lábios contra os dele, mas não era suficiente. Ela
ainda queria mais, muito mais. Algo estava faltando... Algo seria
melhor se...
Ela abriu a boca.
E sentiu tudo. E entendeu porque os homens e as mulheres fáceis
na festa se abraçavam como faziam ― porque não havia nada
melhor do que isso ― porque para ela nunca seria o suficiente.
Emitiu sons, ruídos vindos da sua garganta, sem querer, que
irrompiam na respiração que ele lhe roubava com os seus beijos.
Não parecia se importar. As mãos dele envolveram seu rosto,
puxaram-na para ele e ela ficou na ponta dos pés enquanto suas
bocas se fundiram, dando e tomando, misturando e derretendo, e
mais quente a cada momento. Toda ela estava quente, a sua
garganta e coxas e em toda parte. O poder de seus braços sob as
palmas das suas mãos a deixavam selvagem por dentro. Podia
comê-lo, saboreá-lo e procurá-lo assim, mais profundo a cada
respiração, mais desesperada para ter, possuir. Tudo dele. Sentiu a
ponta da língua dele tocar o contorno de seus lábios e gemeu em
voz alta.
― Diga-me para parar ― disse ele duramente. ― Afaste-me para
longe.
― Eu não posso. ― Seus lábios procuraram os dele novamente,
exigindo seus beijos. ― Deve se afastar por si mesmo. Pois acho
que não posso fazê-lo.
Ele não se afastou. Ele segurou-a nas mãos e o universo se tornou
ele ― a boca, o calor, a língua dele acariciando seus lábios, seus
dentes, sua língua. Ela choramingou, agarrou seus ombros e o
deixou entrar nela.
E então se separaram, ele estava afastando-a, e ficou sozinha na
escuridão com os lábios húmidos, respirações frenéticas e mãos
vazias.
― Tenho que ir ― disse ele com firmeza.
― Eu sei ― ela exclamou. ― Eu sei. Poderia...?
― Poderei...? ― Ele soou estranhamente sufocado.
― Se arrependerá?
― Por beijá-la?
― Por me deixar? ― Ela disse um pouco desesperada.
― Sim. Então, talvez devesse se afastar de mim de uma vez.
― Se sugere isso, porque acredita que não me arrependerei
também, está enganado, senhor. — Ela o ouviu se mexer e o som de
sua respiração tensa.
― Já estamos tendo nosso primeiro desentendimento ― disse ele.
― Esse é um sinal ruim, sabe. Claramente estamos condenados
desde o início. Provavelmente o melhor será acabar com isso.
Ela riu.
― Tudo bem. Embora eu achasse que poderíamos permitir mais
dez segundos.
― A isso?
― A isto.
― Isto? De pé, às cegas? Sem nos tocarmos? Eu não sobreviveria
até dez segundos.
Ele parecia ter certeza.
― Como sabe disso?
― Tenho a sabedoria da idade e da experiência para me guiar.
Oh. Oh.
― Experiência ― ela murmurou, a alegria se esvaindo. ― Com
mulheres, suponho. ― Claro. Ela era imensamente tola.
― Digo-lhe agora ― disse ele, numa nova voz ― com total
honestidade e sinceridade, sem nada de esperança neste momento
além de ser ouvido: nesta escuridão completa seu rosto está mais
claramente gravado em minha memória do que de todas as outras
mulheres que conheci.
Ele era imensamente bobo também, parecia. E perfeito.
― Metade do meu rosto. ― Ela sorriu.
― Com certeza. ― Sua voz sorriu de volta para ela. ― E seus
olhos.
Ela mordeu o lábio. O sabor era cru. ― Não pode ser verdade que
veja meu rosto e nenhum outro agora.
― Eu lhe digo que é a verdade, por Deus.
Um pequeno raio de esperança a iluminou por dentro.
― Mesmo?
― Vá ― ele rosnou como a fera que ela o nominara. ― Agora. Vá.
Ela deveria ir. Pensou que talvez ele estivesse tentando ser bom.
Tentando impedi-los de se beijarem novamente.
Beijarem mais. Beijarem demais.
Ela nunca quis ir.
― Tudo bem. ― Tocando as paredes de ambos os lados, ela
recuou. ― Boa noite, senhor. ― Então teve que se virar, porque a
dor dentro dela não era mais prazerosa.
Na escuridão, ele encontrou seu pulso. Pegou, levantou e o beijou.
Ela suspirou.
Ele beijou a palma da sua mão, as pontas dos seus dedos, e ela
não conseguia respirar, mal podia ficar de pé sobre os joelhos que
tinham se transformado em geleia. Sensações fortes, quentes e
maravilhosas a dominaram.
Ele abriu a mão, permitindo que se libertasse. Fez com que seus
pés se movessem, obrigou-se a afastar a mão, passando os dedos
por aquela palma calejada até não a sentir mais.
― Boa noite ― ele disse.
Então estava sozinha novamente, caminhando rapidamente pela
escuridão. Sozinha com um segredo e um batimento cardíaco
dolorosamente rápido e uma nova dor de perda na garganta e no
peito que, em todos os seus dezoito anos de solidão, ela nunca
imaginara ser possível.
Avançando pelas sombras, saiu da casa grande e depois andou os
quatrocentos metros ao longo do caminho arborizado até a casa da
viúva. A lua brilhava, seus lábios pareciam especialmente macios, e
sabia que deveria se sentir culpada, mas não se sentia.
Mais tarde em sua cama, o sono não chegou facilmente. Ele
estava lá agora, na casa grande. Ela conhecia todos os quartos em
Fellsbourne. Poderia encontrá-lo hoje à noite. Ir até ele. Se ela
ousasse.
E fazer o quê? Não era daquelas jovens. Era muitas coisas
terríveis. Mas não era assim.
Não tinha certeza o que era ser uma daquelas jovens, de qualquer
forma.
Quando a manhã chegou, se levantou antes do amanhecer, com
os olhos turvos e fraca. Armada com seu arco, selou Elfhame e foi
para a floresta. Eliza queria ensopado de lebre e estas eram
abundantes nos limites da floresta. Ela conhecia bem os hábitos dos
homens que compareciam às festas de Jack. Ninguém deixaria a
casa grande antes do meio dia. Hoje não seria descoberta.
Quando chegou ao bosque, desmontou e prendeu o cavalo a uma
árvore. Através das névoas que se erguiam da terra em nuvens
suaves, rapidamente viu sua presa. À beira das árvores, comia
trevos. Ela parou e observou.
Criatura inocente. Não tinha ideia de que poderia ser comido no
jantar.
Retirando uma flecha da aljava em suas costas e definindo sua
postura com o silêncio nascido da prática de anos, levantou o arco e
encaixou a flecha. Localizando seu alvo, puxou a corda do arco.
Um graveto estalou por perto. As orelhas da lebre ergueram. De
repente, entrou na vegetação rasteira. Ela saltou para frente, mas já
era tarde demais. O sábio animalzinho afinal se deu conta,
reconhecendo o perigo e reagiu rapidamente.
Soltando uma respiração frustrada, ela se virou para o arruinador
de sua caçada. E cada partícula de seu corpo, privado de sono,
voltou à vida.
Na madrugada enevoada, ele parecia ainda mais um príncipe
élfico do que à luz de velas, com os olhos prateados e fixos nela com
grande intensidade. Não apenas um príncipe. Um guerreiro. Ele
usava o mesmo casaco da noite anterior, um pouco enrugado agora,
e seu cabelo dourado estava despenteado. A espada ao seu lado
parecia tão assustadora e sua postura tão poderosa e certa, que
parecia ao mesmo tempo o homem mais comum e o deus mais
extraordinário.
― Não era um sonho ― ele disse ― ridícula e maravilhosamente.
― Não sou um sonho ― ela respondeu, sorrindo, e sabia que
seria a coisa mais simples do mundo fingir agora que não estava em
perigo.
Capítulo 1

A Vida no Campo

22 de fevereiro de 1822

Pardal,

Não tenho notícias suas há muitas semanas. Apareça.

Peregrino

28 de fevereiro de 1822

Querido Peregrino,

Como toda a alta sociedade sabe, perdi meu Verdadeiro Amor


(melhor dizendo, meu Segundo Verdadeiro Amor, mas quem
está contando?), para outra Lady (a quem eu adoro, que é muito
encantadora) e pelo (suposto) pesar exilei-me no Norte para
evitar qualquer menção à sua felicidade (embora saiba que eles
tenham navegado no mês passado para as Índias Ocidentais e
não voltarão por um ano de qualquer forma). Então, como pode
ver, estou muito ocupada com a vida no campo e não tenho
tempo para te escrever longas cartas.

Estou certa, em todo caso, que preferiria se divertir trocando


correspondência com Lady Justiça, como sempre. Entendo que
seu atual projeto para melhorar a Grã-Bretanha é pressionar os
membros do Parlamento pelos direitos das mulheres casadas à
autonomia legal e financeira de seus maridos. Eu aplaudo. Com
o seu lugar na Câmara dos Lordes, pode considerar ajudá-la em
vez de antagonizá-la. Mas, infelizmente, acredito que se
beneficia desse antagonismo. O que faria se Madame La Justice
parasse de escrever panfletos que condenassem nosso clube e
não tivesse mais a desculpa para trocar farpas com ela? Eu
acho que simplesmente deixaria de existir.

Na esperança que esse dia nunca chegue, e


Sempre sua,
Pardal
Capítulo 2

Espadachim

Março de 1822
Estalagem Sheep Heid
Duddingston, perto de Edimburgo, na Escócia

Frederick Evan Chevalier de Saint-André Sterling podia segurar a


espada, a bebida e as mulheres com a mesma habilidade. Diferente
de qualquer outro homem que a senhorita Annie Favor desfrutara em
seus dezenove anos, ele podia fazê-lo de uma só vez.
Apaixonada por armas no quarto, Annie deu boas-vindas à espada
pendurada no quadril de Saint quando a jogou na cama num
emaranhado de saias e risadas e começou a atividade.
Afinal, não era todo dia que um homem com ombros como um
cavalo de cavalaria e olhos tão verdes quanto as próprias
esmeraldas da rainha entrava em Sheep Heid, na pequena aldeia de
Duddingston.
― Bom senhor ― ela suspirou algum tempo depois, quando ele
rolou para longe dela e sentou-se na beira da cama para puxar suas
calças sobre seu traseiro firme. ― Fará isso de novo? E de novo? ―
Ela disse com satisfação, observando-o colocar as botas.
Músculos definidos nas costas e braços se agitavam sob um brilho
de humidade. Agora ela não podia ver a cicatriz que se estendia
através de metade de seu peito e cintura. Mas sabia que estava lá e
isso lhe dava arrepios deliciosos. Arrastou as pontas dos seus dedos
por um braço impressionantemente tenso, enquanto ele vestia a
camisa.
― Quero ser capaz de dizer ao meu pai tudo sobre isso no sábado
― disse ela. ― Logo depois que ele pregar sobre os males da
fornicação.
Girando lentamente colocou seus olhos de esmeralda sobre ela.
Como um rio sob o sol, eles brilhavam. A língua de Annie ficou
abruptamente seca.
― Eu nunca vi olhos assim ― ela sussurrou. ― É um demónio e
veio roubar minha alma.
A boca que momentos antes a fez gritar de prazer, agora se
curvava no sorriso do próprio Diabo.
― Querida, doce Annie. Seu pai é um homem do clero?
Deitando-se na almofada, Annie sorriu. Esta era a sua parte
favorita.
― Ele é o vigário de Duddingston Kirk. ― Ela permitiu que suas
pálpebras baixassem. ― Estou envergonhada em dizer que ele é um
bruto. Porque deu uma surra e chicoteou pela rua fora o último
homem com quem me encontrou. Como não encontrou a bengala,
serviu-se do chicote da carruagem.
Por um momento a olhou com aqueles olhos de intensidade
sobrenatural. Então jogou a cabeça para trás e riu.
Annie não sabia bem o que fazer. Nenhum homem antes havia
rido.
Ela deixou os dedos deslizarem de sua cintura para a espada, que
ele amarrara novamente ao quadril, acariciando o punho.
― Já usou isso numa mulher?
Sua risada parou. Mais rápida que um folego, soltou a lâmina de
sua bainha e a parou sobre sua garganta. Pesada e fria,
pressionando sua carne. Ela tentou gritar, mas não encontrou ar para
isso.
― Ainda não, Annie, minha menina. ― Sua voz era profunda,
rouca, como quando ele estava dentro dela. Ele se inclinou e suas
próximas palavras roçaram seus lábios ofegantes. ― Nunca fui
devidamente tentado.
Quando ele saiu do quarto, deixou uma moeda de ouro na mesa e
uma maldição se enrolando em sua língua.
― Rápido em tudo, mas com as damas, sempre um cavalheiro ―
disse um homem de cabelos escuros e olhos castanhos da cadeira
da taberna onde Saint o deixara mais cedo. ― E isso, apesar de ter
bebido. Nos envergonha assim, primo.
Saint se sentou numa cadeira, mas não pegou o copo. Os carinhos
entusiasmados da jovem não haviam preenchido o buraco gelado em
seu estômago. Nem tampouco whiskey. Seu irmão, Torquil, sempre o
acusara de ter uma perna oca, ou alternadamente, que era tão
rápido que poderia jogar o conteúdo de um copo embaixo da mesa
sem que ninguém percebesse.
Tor poderia estar certo sobre a perna oca. Pois, apesar do quanto
bebeu nos últimos dois dias desde que atravessaram a fronteira -
nos dois meses desde que seu irmão morreu - não estava
embriagado.
Seu inestimável primo, Dylan, Lorde Michaels, no entanto, estava.
― Aquela cadela ruiva no andar de cima não é uma garçonete ―
disse Saint. ― Ela é a filha do vigário desta aldeia — brincando de
quanto posso ser malvada antes de papai chicotear meu amante
com uma vara? Os jogos que as mulheres praticavam nunca
deixaram de surpreendê-lo.
O copo de Dylan ficou parado na metade da boca.
― Santo Deus, Saint. Não diga que foi para a cama com a filha de
um pastor? Por uma hora inteira, não menos! Pelo fogo do inferno,
ele vai te arrastar para o altar por isso.
― Eu diria que neste caso, tanto faz para ele uma hora ou um
minuto.
Dylan lançou os olhos encharcados de bebida para os outros
clientes da taverna e disse em voz baixa:
― Não é um pato esperando para ser baleado aqui. Quer ficar
preso a uma moleca escocesa? ― Ele tentou se levantar, mas
oscilou.
― Tor já teria deixado este lugar no minuto em que ouviu o
segredo da prostituta.
― Ora essa. Não a achou uma prostituta uma hora atrás, quando
imaginou que era uma jovem do ramo.
Dylan assentiu.
― Verdade. Mas a modéstia de uma dama... ― Ele acenou com a
mão. ― Apetites fortes não são próprios de uma lady. ― Tor podia
identificar uma prostituta a léguas de distância.
Saint acomodou-se mais confortavelmente no couro almofadado e
ergueu o copo. ― Para meu irmão, o filho da puta mais inteligente
que esta terra conheceu.
― Não ― Dylan disse com voz arrastada e caiu de volta em sua
cadeira, todo o perigo de irados homens do clero aparentemente
esquecido. ― Não vou brindar a esse libertino. Em vez disso, prefiro
fazê-lo a meu primo Saint, o melhor filho de um mercador deste lado
do Atlântico. De ambos os lados. — Ele engoliu o restante da bebida,
depois pousou o copo com um baque e olhou para a carta ao lado,
sobre a mesa. ― O Read quer um tutor para sua proteção ― ele
disse abruptamente.
Um calor lento floresceu no interior de Saint, naquele ponto morto
no gelo.
― Read?
― Duque. Tem um sobrinho ou neto ou algo assim. Um favor a
Blackwell, não sabia? Não, não... Blackwood, é isso. Maldito
whiskey.
Não havia sentido entender Dylan quando ele estava embriagado.
Mas isso merecia esclarecimentos.
― O Duque de Read? ― Cuidadosamente, como se fosse uma
diretriz de um general, Saint pegou a folha de papel finamente
prensado entre o polegar e o indicador.
― “Meu tio, atualmente reside no Castelo Read” ― ele leu em voz
alta e depois para si mesmo. Quando terminou, olhou para seu
primo. ― O que é isso?
― A razão pela qual estamos aqui, primo ― disse Dylan.
― Me deu a impressão de que havia uma jovem em Edimburgo —
disse Saint, talvez languido demais. ― Uma jovem que pretendia
cortejar. Uma menina cuja família não a levaria para a licenciosa
Londres por causa de seus modos puritanos. Uma jovem que lhe
prometeu a mão em segredo e com quem deseja se casar.
Dylan suspirou.
― Uma pérola de menina. ― Saint colocou a carta na mesa.
― É um favor ― disse seu primo. ― Dívida de honra. Joguei
cartas com Blackwood. Anos atrás. Perdi. Esvaziei os cofres para
pagá-lo, mas não foi o suficiente. Disse que eu lhe pagaria algum
dia.
― Presumivelmente ainda não o pagou?
― Não foi possível. Não posso.
As propriedades de Dylan eram inalienáveis, as terras estavam
vinculadas, mas pouco produziam; nunca tinha dinheiro para gastar.
Tor tinha sido o melhor deles em ganhar ouro, porque tinha agido
ilegalmente.
― Blackwood disse que o velho Duque precisa de um tutor para o
pupilo. ― Os cachos de Dylan balançaram sobre sua testa. ― Não
posso recusar.
― Um tutor? Que terrível é esse menino que um Duque não possa
manter um tutor empregado? É um Barão, Dylan, pelo amor de
Deus. Não é professor de uma escola para crianças.
― Não para ensinar cálculo e francês. Esgrima. O menino sabe o
básico. Precisa de técnica. Alguns meses, é tudo. Será breve.
Saint franziu a testa. Cálculo ou esgrima, isso não faz sentido. ―
Dylan?
Seu primo lhe ofereceu uma carranca saturnina. Acima do casaco
de lavanda, dava-lhe um ar decididamente de palhaço.
― Bem, ele não quer a mim, é claro.
Anos atrás, quando Saint corria entre as balas nos campos de
batalha, Dylan tinha prazer em enviar-lhe cartas de propriedades
rurais por toda a Inglaterra. O jovem Lorde Michaels, ao que parecia,
era considerado um dos melhores esgrimistas do país, procurado
para as festas em casas familiares por seu espetáculo de
entretenimento com uma lâmina e sua companhia encantadora. Pela
primeira vez em suas vidas, desde aquele dia nos campos de cana,
quando Saint havia retirado a espada da poeira, todos pensavam
que Dylan era o melhor.
― Ele pediu que o levasse ― disse Dylan.
Lentamente, Saint curvou os dedos em torno dos braços da
cadeira de madeira entalhada. Um momento atrás, ele estava
desfrutando dela, tão antiga e como um trono que parecia ter estado
nesta taberna desde a Criação. Ele gostara do sabor do malte em
sua língua, do doce riso e das coxas carnudas da Srta. Annie Favor,
até que ela revelou sua intenção de vê-lo flagelado. Até gostara da
pequena vila medieval de Duddingston, apesar da possível ameaça
de seu vigário vingativo. Estivera desfrutando dessas férias na
Escócia com seu primo, na qual Dylan bebera muito para aliviar a dor
de perder o homem que ambos amavam e ponderar seu próximo
passo na vida.
Desde que enterrou seu irmão no mar, estava parado. Não tinha
fundos para abrir uma escola de esgrima. Todas as academias
respeitáveis de Londres lhe fizeram ofertas, mas ele nunca poderia
morar lá. Esta pequena jornada para a Escócia parecia a diversão
ideal até que decidisse o que fazer em seguida.
― Porquê eu? ― Seus dedos brincaram sobre o braço da
madeira. ― Porque não Faucher ou Accosi? Ambos estão na
Inglaterra.
― Read quer um inglês. É melhor que os dois de qualquer
maneira. E é meu primo, o trineto de um Barão, pelo amor de Deus
― acrescentou Dylan. ― Uma gota do sangue é o suficiente.
No entanto, uma gota de sangue nobre não havia sido o suficiente
há seis anos. E agora o Duque de Read o convocava.
A ironia disso seria sublime se não fosse indesejável.
— Pretendia me contar a verdade antes de entrarmos no castelo
do Duque? Ou planejou simplesmente entregar-me ao mordomo e
estender sua palma para receber a comissão antes de ir jogar cartas
na sala de estar?
― Não foi minha escolha não ter permitido ao maldito advogado
que lesse o testamento de Tor. Deve ter deixado uma fortuna, o
canalha. Aposto que nunca mais terá que ensinar na vida assim que
aceitar que o dinheiro é seu para usar como quiser.
Não era uma opção.
Mas ele rapidamente percebeu a essência do plano de Dylan.
― E enquanto eu estou ensinando as artes da espada e sabre
para este jovem ramo da nobre árvore de Read, cortejará a perolada
senhorita Edwards, enquanto reside no castelo de um rico Duque.
Dylan sorriu, seu rosto mostrando o quanto estava satisfeito
consigo mesmo. ― Acomodações ideais para o lançamento de uma
campanha, não acha?
― E quanto à convicção do pai dela de que é um pobretão bêbado
e devasso? Isso simplesmente se evaporará?
― Ele gosta de mim ― murmurou Dylan. ― Ele só não sabe disso
ainda.
― “Férias na Escócia, primo. Tire um mês ou dois para celebrar a
vida de libertino de Tor”. Hum.
― Bem, se eu pudesse ter feito do jeito antigo forçando-o a me
aceitar, eu teria feito! Mas não sou bonito o suficiente para fazer as
moças soltarem seus bordados somente levantando um dedo, como
alguns sujeitos. ― Ele gesticulou para Saint e depois revirou os
olhos. ― Oh, bobagens. ― Abruptamente ele se iluminou e inclinou
o copo para a frente. ― Verá. Não há melhor patrono do que um
Duque.
Isso era verdade. Ele queria sair da Inglaterra. Sua própria
reputação e o patrocínio de um Duque com conexões estrangeiras
assegurariam que, onde quer que fundasse uma escola, seria um
sucesso. Para garantir esse patrocínio exaltado, por alguns meses
deveria viver no último lugar em que desejava estar.
Dylan estava errado. Algumas jovens não largavam tudo por ele
quando erguia um dedo. Com algumas jovens, ele tinha sido tolo
demais para perguntar. Ou melhor, com uma jovem. Apenas uma
jovem. Aquela cuja casa, há seis anos, teria dado tudo o que tinha
para poder entrar. A casa em que, agora, havia sido convidado a ir
como empregado.
Este seria um bom momento para estar bêbado.
Ele levantou a mão para chamar o servo da taverna. ― Se
pretende cortejar uma dama em breve, é melhor ficar sóbrio.
― Fará isso? Muito bem, Saint! Eu sabia que iria. — O taberneiro
colocou um prato de torta de carneiro diante de Dylan. ― Verá ―
disse ele com a boca cheia. ― Será exatamente do que precisa para
ficar tudo bem. Por Deus, isso nos deixará bem. Tor ficaria
orgulhoso.
Se ele estivesse vivo agora, Tor iria rachar de tanto rir.
Como seu irmão havia rido dele há seis anos e o chamado de
idiota ― um tolo por não conseguir o que queria antes de souber
quem ela era, e um tolo por ter feito outra tentativa um ano depois.
Mas Torquil Sterling vivera a vida sem honra. Trapaceiro, traficante
de escravos, maquiavélico e caçador de mulheres, nunca perdera
uma oportunidade de celebrar os prazeres da vida enquanto
manipulava tudo isso a seu favor.
Saint ainda podia ouvir sua risada quando lhe contou sobre aquela
quinzena malfadada em Kent seis anos atrás. Agora ele se foi, a
última pessoa que sabia do assunto.
Exceto ela.
Mas ela morava em Londres. Então disse ao primo que aceitaria o
emprego.

Castelo Read
Casa do Duque de Read
Midlothian, Escócia

― Preciso de um marido ― Lady Constance Read declarou,


desabando no interior aveludado da carruagem de seu pai. ―
Imediatamente.
― Bem, esta é uma alteração abrupta de sentimentos ― disse
Eliza Josephs do assento oposto enquanto a carruagem se afastava
da fábrica de tecidos.
― Meus sentimentos não tem nada a ver com isso, é claro. ―
Não, há anos. Constance tinha enorme afeição por cinco homens:
quatro agora casados e felizes, e o quinto tão dedicado à agência
secreta do governo que chefiava, que não tinha tempo para mais
nada. Ela amava esses homens como amigos, como irmãos. Mas
apenas um homem havia roubado seu coração, um homem ao qual
não poderia ter. Depois disso, a única vez que tentou dar seu
coração novamente, cometeu o maior erro de sua vida.
Ela não era nem afortunada nem sábia no amor. Agora afeição
deveria ser o suficiente.
― Apresse-se, Rory ― disse ao cocheiro e puxou sua capa sobre
ela quando a porta se fechou. ― Vai ter que ser o Duque ― ela se
dirigiu a sua companheira, puxando o cabelo para fora da pesada
capa.
― O Duque que é sequestrador de donzelas? ― Quarenta anos
mais velha que Constance, Eliza, que era uma viúva aficionada em
cervejas fermentadas, inclinou a cabeça grisalha. ― Como é
aventureira, minha querida.
― Isso tudo é fofoca e boato. ― Constance amarrou o cabelo em
um rabo na nuca. O campo passava rapidamente. Havia alguns
quilômetros da tecelagem para o castelo. Ainda teria tempo de dar
uma cavalgada antes do jantar.
Eliza ofereceu-lhe uma pilha de veludo macio. ― Está se
baseando em suas memórias de Loch Irvine quando eram apenas
bairns e brincavam pelos campos.
― Estou. ― Ela aceitou o vestido ansiosamente. Durante sua
infância no castelo, usava saias adequadas para andar a cavalo e
corpetes e mangas para atirar. Hoje, no entanto, ela se vestia com
discrição. Uma dama recém chegada de Londres não podia procurar
pistas para um horrível mistério parecendo uma menina espevitada.
― Os meninos mudam quando se tornam homens ― disse Eliza
sombriamente.
― Nem tanto assim. ― O rapaz que ela conhecera vinte anos
atrás não poderia ter se tornado um monstro. ― Eu preciso descobrir
o que aconteceu com essas moças.
― Não vai conseguir isso fofocando com os trabalhadores das
fábricas. ― Havia um pouco de tensão na voz de sua companheira.
― Mas já ajudou! Um homem de baixa estatura encomendou uma
dúzia de vestes brancas à tecelagem, uma semana atrás, para
serem entregues a Sir Lorian Hughes na casa que ele acabara de
alugar em Edimburgo. ― Seus dedos trabalhavam nos botões do
vestido que usara para tomar chá com os aldeões. ― Uma dúzia de
vestes, Eliza. E aqui está o detalhe surpreendente: metade delas
deveria ter o tamanho adequado para homens, a outra metade para
mulheres.
As mãos da Eliza estavam dobradas no colo. ― Sir Lorian Hughes
talvez não tenha encomendado as vestes necessariamente para uma
sociedade adoradora de demônios em que sacrificam donzelas ou
crianças, minha querida ― disse ela, animada. ― Ele pode ter a
intenção de fazer um baile de máscaras.
― Veremos. ― Ela levantou os quadris para puxar o vestido por
suas pernas. ― Preciso encontrar um marido. Rapidamente.
― Deveria ter permanecido em Londres. Os candidatos cairiam
das árvores quando atravessasse o Parque.
― Quando saí de Londres, ainda não sabia que precisava de um
marido, é claro.
― Não posso acreditar que pretende realmente se casar com Loch
Irvine, a fim de entrar numa sociedade secreta.
― Bem, eu não posso entrar solteira.
― Sua devoção ao subterfúgio é impressionante ― disse Eliza. ―
Acho que está gostando desse mistério horrível.
― Não posso encontrar o prazer na tragédia. ― Quinze dias
antes, ela tinha abraçado a mãe de Cassandra Finn sentindo seus
soluços arfando contra seu peito, e ela tinha reconhecido a dor.
Chorou assim quando tinha quatorze anos e a mãe desapareceu.
Não conseguira salvar sua mãe. Mas se Cassandra Finn e Maggie
Poultney ainda estiverem vivas, ela as salvará. E se as lembranças
de sua mãe não fossem suficientes, suas próprias cicatrizes a
obrigariam a resgatar jovens inocentes do perigo nas mãos de um
vilão que se escondia atrás de um verniz polido de educação.
― Preciso ir a Edimburgo e começar a investigar. ― A doze milhas
de distância da cidade, o Castelo Read parecia ter doze mil.
Os lábios de Eliza franziram.
― A polícia de Edimburgo...
― Não fez o suficiente, mas eu posso fazer. — Durante cinco anos
em Londres, desempenhou o seu papel como herdeira do Duque
escocês com perfeição: montando decorosamente, flertando
sutilmente, fofocando habilmente, tudo com intenção de obter
informações das pessoas para ajudar seus colegas agentes do
Clube Falcão. Faria o que fosse preciso agora, desta vez sozinha.
Aqui, entre os ricos montes verdes banhados em listras da névoa e
sol, era, no fundo, acostumada à solidão.
Balançando a cabeça, Eliza ajudou-a a entrar na saia larga.
― Seu pai a espera para o chá. O Dr. Shaw e Libby chegam hoje.
― E estou ansiosa para vê-los. Prometo não demorar.
Eliza baixou o queixo.
― Vai lá de novo, não é?
― Não vou exatamente até lá.
― Isso não é sábio, Constance.
― Ninguém me verá, Eliza.
― Deveria ter trazido pelo menos uma camisa apropriada. Essa
roupa é insuficiente para cobrir seu decote. Parece uma mulher à
toa. Uma herdeira não deve percorrer o campo como está.
Constance riu.
― Me agrada, querida, que tome mais cuidado com a minha
aparência do que com a minha segurança.
― Jovem impertinente.
― E ainda assim ficou comigo por todos esses anos ― ela disse
com um sorriso. ― Deve haver esperança para mim ainda. ―
Inclinando-se, beijou sua donzela na bochecha. Então abriu a porta
da carruagem. Rory os trouxera pela estrada diretamente para o
bloco do estábulo. Mas, mesmo à distância, a impressionante massa
do Castelo Read superava tudo. Uma fortaleza medieval sólida de
calcário castanho dourado coberta com uma dúzia de torreões
pontiagudos de ardósia cinzenta e fronteada por uma parede baixa
de pátio, parecia acenar e avisar: «Bem-vindos», parecia dizer, «Mas
apenas se forem aliados. ».
Era um lugar pagão. Nenhum jardineiro cortava o relvado.
Ninguém tocava as roseiras que se tornaram ferozes no portão do
pátio. Nenhum cortador industrial domesticou a hera que
serpenteava pelas muralhas da fortaleza.
Adorava isso. Era sólido, forte e selvagem, tudo num só, e ela
sentira saudade.
A carruagem continuou até o pátio onde Eliza desembarcou e
Constance entrou no estábulo. Sua pele estava quente demais,
como se tivesse sugado todo seu calor interno e o jogado na
superfície para combater o ar do final do inverno. Mas dentro do
estábulo formado de pedra antiga, sua mente se aquietou. Ao som
de seus passos, seu cavalo virou a cabeça.
― Boa tarde, Elfhame. ― Ela acariciou a testa leitosa da égua,
depois a selou.
Um pequeno galope levou-a ao rio e outros trinta minutos até o
ápice da colina, de onde podia vislumbrar a gigantesca torre rosada
do Castelo de Haiknayes, casa atual de Gabriel Hume, o Duque de
Loch Irvine.
O Duque do Diabo.
Por toda a zona rural, nas mesas de chá e nas lojas, fervilhavam
as fofocas: o enigmático Duque de Loch Irvine era o chefe de uma
sociedade secreta. Uma sociedade seletiva à qual apenas casais
ricos e bem-nascidos recebiam convites. Uma sociedade dedicada
às artes das trevas. E no covil da sociedade em algum lugar de
Edimburgo, os praticantes dessa religião maligna sacrificaram
virgens.
A polícia ainda tinha que resolver os mistérios dos
desaparecimentos de setembro e dezembro de Cassandra Finn e
Maggie Poultney: moças solteiras em idade de casar. Apenas a capa
ensanguentada de Maggie fora descoberta nas margens do lago
perto da residência do Duque de Loch Irvine em Edimburgo, e
marcada com uma estrela de seis pontas que continha três símbolos:
uma chama, uma onda e um pico de montanha. A mesma estrela
estava esculpida no dintel sobre o portal principal do Castelo de
Haiknayes.
Alguns cochichavam que, durante seus anos navegando pelos
mares como capitão da Marinha Real, o misterioso Duque de Loch
Irvine havia se tornado um praticante das magias nativas, um
adorador de Satanás, um demônio. Os aldeões com quem
Constance falara na fábrica de tecidos naquela manhã o chamara de
Christsondy: o diabo.
Mas ela não encontraria respostas olhando para o castelo dele.
Deveria encontrar o Duque novamente e ouvir a verdade de sua
boca.
As sombras cortavam faixas através das colinas enquanto
caminhava em direção a Elfhame. Diria ao pai que pretendia se
mudar para a casa em Edimburgo na primavera. Depois de permitir
que tivesse vivido apenas com Eliza em Londres por anos, ele não
lhe negaria.
No estábulo, deu sua égua aos cuidados do cavalariço.
― As visitas trouxeram uns belos animais, milady. Bem que
gostaria de montar aquele baio.
― O Dr. Shaw e a Srta. Shaw já chegaram, Fingal? ― Ela tirou o
chapéu e as luvas. ― Estarei tão atrasada?
― Não, o médico, milady. ― Fingal gesticulou ao longo do
estábulo. ― Estes pertencem aos cavalheiros visitantes.
― Cavalheiros? ― Ela se aproximou dos cavalos desconhecidos.
E seus passos vacilaram.
Os dois animais que se encontravam no estábulo não pertenciam
ao Dr. John Shaw nem à sua filha. Ao lado de um belo cavalo
castanho estava um baio de pelo também castanho, mas tão escuro
que parecia quase preto. Era lindo, com um pescoço forte, orelhas
salientes e olhos inteligentes que a observavam. Reconheceu-o. A
sua beleza e raça tornavam-no único. E reconheceu seus arreios. O
freio de couro leve sobreposto pela testeira onde estavam
incrustadas duas espadas negras, cruzadas. A sela de fino couro
cuidadosamente desenhada com apoios para as bainhas de duas
espadas de cada lado, de modo a não incomodarem o andar do
animal.
Ela conhecia esse animal porque, oito meses antes, passara três
horas silenciosas no canto de um estábulo público em Londres
observando-o e esperando que seu dono voltasse e o reivindicasse.
Quando ele veio, se sentou naquela sela com a facilidade e a graça
de um guerreiro.
Com as bochechas quentes e as mãos instáveis, ergueu a cauda
da saia de montaria na dobra do braço e deixou o estábulo. O pátio
do castelo estava vazio, mas duas dúzias de janelas a encaravam
como olhos que pareciam tão chocados quanto seu pulso frenético.
Cruzou o limiar e fingiu não prender a respiração.
No corredor, a voz de seu pai descia da balaustrada, tranquila e
firme, pedra embrulhada em feltro.
― O Castelo Read foi construído no início do século XIV como
uma fortaleza, com pouca preocupação sobre o conforto. Cada um
dos meus antecessores fez acréscimos. Há muitos quartos agora.
Farei com que minha governanta veja o melhor para o senhor,
milorde.
― Terrivelmente decente de sua parte me receber sem ser
convidado. ― A voz de um homem, leve, alegre. ― Estou muito
agradecido.
Não... ele não.
O ar penetrou nos pulmões de Constance. Então a abandonou
completamente.
Sobre as escadas além do lustre desceram dois pés envoltos em
botas até o joelho da cor da terra. Duas pernas vestidas com calças
de couro que moldavam os músculos como pedra esculpida. Duas
mãos, sem luva, que mostravam a força aparente nos tendões. Dois
ombros aos quais ela uma vez se agarrou como a luz do sol a um
vitral. E uma longa lâmina de aço sobre a qual a luz restante do dia
parecia se refletir.
Então seus olhos ― olhos que capturaram cem encantamentos
antigos e os transformaram em magia, que uma vez empurraram seu
mundo de cabeça para baixo. Agora eles estavam sobre ela. Como o
toque do olhar de um homem podia abranger tudo dentro dela e
travá-la imóvel, ela nunca entendera. Certamente não antes. E não
agora.
Olhou-o fixamente.
Atrás dele, seu pai e o outro homem apareceram nas escadas.
― Eis minha filha. Constance, eu exigi sua presença aqui para o
chá. Mas vejo que estava cavalgando.
― Eu fui ao monte para ver Haiknayes. ― Ela mal sabia o que
falava.
―Vejo que sim. ― Desprezo circulava sua língua como um tom de
voz. ― Constance, eu apresento o Lorde Michaels e o senhor
Sterling. Talvez tenham se cruzado em Londres.
Eles não tinham. Evitara-o intencionalmente. Ela fez uma
reverência.
― Milorde.
Uma covinha surgiu na bochecha de Lorde Michaels quando ele se
inclinou. Era um homem atraente, elegantemente vestido com um
casaco de cintura fina e botas hessianas brilhantes, como se agora
não estivesse no campo escocês, mas fizesse visitas pelas manhãs
em Londres.
― Realmente encantado, milady. Espero que não se importe com
o fato de ter imposto sua hospitalidade.
― Claro que não.
― Diga-nos ― ele pediu. ― Como é a vista do castelo de
Haiknayes?
― Só o vi de longe. O senhor o conhece?
― Na verdade, conheço o próprio Duque. Tinha motivos para
fazer-lhe uma visita nas férias de Natal há apenas alguns meses, em
Port Leith.
Durante as férias de Natal, Maggie Poultney desaparecera.
― O que disse? ― Ela perguntou.
― Sim, de fato. É um homem poderoso. ― Mas seu sorriso
desapareceu.
Então ela virou seu olhar para ele.
Com sua mão descansando no punho de sua espada, ele se
curvou. ― Bom dia, madame.
Conhaque quente. O mesmo. Se lembrava bem disso. Ele havia
mudado pouco. Seis anos atrás, seu rosto tinha sido perfeito para
ela, os traços fortes e bonitos. Agora uma cicatriz fina percorria o
comprimento do seu lado direito, fazendo um corte em sua bochecha
ao longo da linha das costeletas curtas e perfeitas, até a mandíbula.
Ela não podia fazer uma reverência. A cauda de veludo alojado em
seu cotovelo era pesada como pedra e suas pernas estavam
insensatamente instáveis. Agora sentia intensamente o ar frio sobre
a pele do pescoço, onde deveria ter vestido uma camisa. Mas ele
não olhava para seu pescoço. Olhava em seus olhos, como há anos
atrás. Nunca conhecera um homem antes ou depois, que a olhasse
como Frederick Evan Sterling, como se ele se importasse apenas
com o que se encontrava em seu olhar.
Passou sua atenção para Lorde Michaels.
― O que o traz novamente a Escócia tão cedo, milorde?
― Verdade seja dita, estou agarrado aos calcanhares de meu
primo.
― Eu contratei o Sr. Sterling como instrutor de esgrima ― disse
seu pai.
― Meu primo empunha uma lâmina com eficiência. ― Lorde
Michaels apontou com um sorriso para o homem que Constance
passara seis anos sem se esforçar muito para esquecer.
― Mas sabe esgrimir muito bem, pai. ― Cada palavra se
arrastando para a próxima sem pressa.
― As lições não são para mim ― disse ele sem prazer em seus
olhos.
― Oh. ― Ela se sentiu tola, suas bochechas pareciam um pomar
de maçã flamejante e a língua uma inútil. Para onde foi A belle de
Londres que flertava com facilidade? A dama da moda, procurada
pelas anfitriãs de Mayfair a Kensington? Dois minutos sob o olhar de
Frederick Evan Sterling, e era novamente uma jovem impetuosa
lutando para firmar sua pulsação frenética. Não ajudava que seu pai
não a tivesse alertado sobre isso. Mas ele não teria razão para
pensar que precisasse ser avisada. Ninguém, exceto Eliza,
conhecera a verdade, jamais. Exceto Jack, e Jack estava morto.
― Certo ― disse ela. ― Sinto muito pelo incomodo, Sr. Sterling, o
sobrinho de meu pai estava nos visitando, mas partiu há uma
semana atrás. Seu aluno já voltou para a casa de seus pais.
― Eu não contratei o Sr. Sterling para ensinar ao jovem James ―
disse seu pai. ― Ele vai te ensinar, Constance.
Capítulo 3

O Suborno

Saint deu as costas para a beleza a quem não pensara, esperara


ou desejara ver de novo na casa do Duque de Read. ― Desculpe?
Mas a atenção do Duque ainda estava em sua filha.
― Eu, pai ― ela disse. ― Mas, por que isso?
― Seu interesse em espadas não me passou despercebido,
Constance.
― Meu interesse?
O Duque olhou sobre o nariz patrício. ― Por acaso imaginou que
cada vez que mandava um e outro pacote para cá de Londres, eu
simplesmente os entregava ao Sr. Davis sem tomar nota? ― Com
um gesto ele indicou as paredes da sala em que eles estavam agora.
Do chão ao teto, as armas adornavam os painéis de madeira, a
maioria delas sabres e espadas, e um bom número de antigos e
belos floretes, mas também adagas, facas, baionetas e laças, bem
como outras ferramentas de guerra. Ao entrar no castelo uma hora
antes e ver essa coleção, Saint finalmente entendera o desejo do
Duque de contratar um especialista para ensinar um mero menino.
Claramente o Duque era um entusiasta.
Aparentemente não só o Duque.
― Mas, é meramente uma curiosidade de colecionador, pai ―
disse ela, a musicalidade suave dos escoceses deslizando sobre sua
língua. Anos atrás, aquela batida só apareceu em sua voz quando...
Quando ele a tocou.
Agora suas bochechas não eram rosadas, mas marfim.
― Nunca pensei em aprender a usá-las ― disse ela.
― Agora pode ― disse o Duque.
― Eu não sabia nada sobre isso ― disse Saint. Como ele não
sabia nada da presença dela aqui. Durante cinco anos, ela vivera
exclusivamente em Londres, o que fora motivo suficiente para ele
morar noutro lugar ― Bristol, Plymouth, Dover ― onde quer que não
a encontrasse por acaso. Foi sensato em fazer isso. Ela estava
surpreendentemente bonita agora, mais do que imaginara que algum
dia se tornaria, com cabelos dourados, lábios maduros e aqueles
mesmos olhos vibrantes. A suavidade da juventude fugira dela,
revelando a beleza esculpida por um mestre.
Anos atrás, ela se remexia, como se não soubesse descansar em
sua própria pele. E seus olhos estavam em toda parte dele ao
mesmo tempo. Ela o olhava como se estivesse diante de um
banquete, faminta, mas sem saber como comer. Aquele olhar,
faminto e confuso, o virara pelo avesso.
Agora seu olhar era indiferente quando se dirigiu a ele.
― Não sabia? ― disse ela.
― Não. ― Ele se virou para seu primo. ― Você sabia?
― Eu não! A carta de Lorde Blackwood dizia que deveria trazê-lo
para ensinar ao pupilo de sua graça.
― Peço desculpas, Sr. Sterling ― disse o Duque com uma fria
ausência de sinceridade. ― Meu sobrinho não deve ter entendo
minhas instruções.
― Bem, agora que todos nós sabemos a história verdadeira ―
disse Dylan alegremente ― parece um bom plano. O que me diz,
milady?
― Não farei isso ― disse Saint.
― Não fará? ― Seus olhos se arregalaram. ― Duvida que eu
possa aprender a esgrimir uma espada?
― Sim.
― Porquê? ― Ela exigiu saber enquanto dava um passo em
direção a ele, seu queixo se inclinando para cima. Uma mecha de
ouro caindo sobre sua testa acabava com a perfeição, e era de tirar o
fôlego. ― Acha que as mulheres são incapazes de ter habilidade e
força?
― Acho que as mulheres são capazes de fazer o que quiserem.
― Mas então...
― Acho que as Ladies são capazes de ter habilidade com o flerte
e força para exigir que seus desejos sejam atendidos.
Seus lábios endureceram. Mesmo assim eram bonitos e ele ainda
se lembrava de quão suaves haviam se tornado sob os dele.
― Pretende me insultar? ― Ela disse.
― Se encontrar insulto em minhas palavras, eu a aconselho a
consultar sua consciência culpada.
Sua boca fechou abruptamente. E, por Deus, doía nele, idiota e
irracionalmente, doía vê-la castigada, mesmo que por suas próprias
palavras. Mas essa mulher diante dele agora não era inocente,
procurando com os olhos e tocando sem prática. Esta era uma
mulher deslumbrante que, segundo todos os relatos, fazia os
homens da Grã-Bretanha correrem atrás dela como escravos,
enquanto ela não dava a nenhum deles uma satisfação.
― Se realmente deseja instrução ― disse ele ― escreverei a um
conhecido meu em Londres que, com certeza, ficará feliz em ensinar
artes marciais à filha de um Duque. Ele consideraria um privilégio. Eu
não. Devo contactá-lo em seu nome?
― Eu já conheço artes marciais. Disparo como um homem com
arco e pistola. Pode acreditar nisso?
Rapidamente ele inspecionou o conjunto de seus ombros, os
braços que eram mais tonificados do que arredondados, sua postura
sólida.
Ela o estava olhando como se ele a tivesse despido ― aqui, diante
de seu pai e seu primo.
― Talvez ― disse ele.
― Estou satisfeita com a sua avaliação ― ela disse como o creme
mais suave deslizando sobre sua pele. E então ela fez uma
reverência.
Pela primeira vez em meses, ele realmente queria sorrir. ―
Combate também? Com socos?
― Eu bati no rosto de um homem com o meu punho. Isso conta?
― O riso brilhou em seus olhos.
― Acho que sim. O que ele fez?
― Antes ou depois que eu o acertei? ― O prazer no peito de Saint
morreu.
― Por que não, primo? ― Dylan disse. ― Se sua senhoria o
contratou para isso, e Lady Constance gosta da ideia, acho que é
adequada o suficiente, especialmente agora que já estamos aqui.
Dylan só pensava na oportuna facilidade e ficaria feliz em prostituir
qualquer outra pessoa para servir aos seus desejos.
Saint não podia obrigá-lo. Se afastou da mulher que, seis anos
atrás, lhe ensinara uma lição que não queria aprender.
― Escreverei ao meu amigo em Londres ― disse ele ao Duque. ―
Peço desculpas pelo mal-entendido. Partirei imediatamente.
― Sr. Sterling ― disse o Duque ― eu gostaria da sua companhia
para jantar esta noite. Como o sol está se pondo e uma geada é
esperada, a viagem não é aconselhável. Deve permanecer esta noite
pelo menos.
― Sim, Sr. Sterling. ― Sua boca sedutora se contorceu. ―
Permaneça esta noite.

Depois de ver que seu cavalo tinha sido bem escovado,


alimentado, e de pentear os emaranhados da crina com atenção,
enquanto um gato de celeiro o observava do alto da porta da baia,
Saint voltou ao castelo. Um criado no saguão deu-lhe uma rápida
olhada, franziu a testa e pegou uma escova de um balde de latão.
― Coloque o pé sobre isso, senhor. ― Ele gesticulou impaciente
em direção a uma cadeira. Tinha pequenos olhos negros e uma fina
desaprovação em seu rosto.
Saint olhou para suas botas enlameadas. ― Posso limpar minhas
próprias botas.
― Coloque o pé na cadeira, senhor. Agora.
Fez o que ele pediu e observou o sujeito dar um lustro no couro
até brilhar.
― Sou grato, amigo. Qual é o seu nome?
― Sr. Viking. ― O criado se endireitou. ― E eu não sou seu
amigo. Só estou envergonhado que o senhor entre nos aposentos
particulares de sua graça parecendo um imbecil.
― Seus aposentos particulares?
― É esperado imediatamente. Venha.
Saint o seguiu, imaginando se os Duques escoceses tinham o
poder de lançar um homem numa masmorra por abusar verbalmente
de suas filhas. Não era o seu melhor momento. Mas ele não era
servo de ninguém, especialmente dela.
As escadas se erguiam em direção a uma torre redonda e
apertada, e ele abaixou a cabeça para passar pela porta do segundo
andar e entrar numa antecâmara decorada com gigantescas pinturas
de uma caçada. Elevando-se acima de seus cães, montado em seu
cavalo como um general, o caçador usava um casaco vermelho com
dragonas. Os olhos do poderoso veado que ele perseguia se
mostravam brancos de terror.
Viking o conduziu para um aposento revestido em vinho escuro
com bordas de brocado, madeira polida e o cheiro de especiarias
estrangeiras ― gengibre e essência de Olíbano, e meia dúzia de
cachorros deitados no chão. Confortavelmente iluminada e quente, a
sala ostentava duas cadeiras junto a uma lareira e uma mesa com
um tabuleiro de xadrez.
Um cachorro se levantou e foi até Saint, farejando o cheiro do
estábulo com suas botas e calças. O Duque não se levantou.
Sentado diante do tabuleiro de xadrez, estudou Saint com olhos
como os da filha, de um azul brilhante e inteligente. Um homem de
seis décadas, com a boca dura, havia trocado o casaco por um
roupão bordado de ouro.
― Joga, Sr. Sterling?
― Sim, jogo.
Com as pontas de dois dedos inclinados para a cadeira oposta, o
Duque de Read o convidou para um jogo. Saint sentou-se. Se Read
queria envergonhá-lo ganhando dele ou convencê-lo, deixando-o
ganhar pouco importava. Para a nobreza, um jogo era um jogo.
O Duque mexeu com um peão.
― Eu entendo que foi ao estábulo para ver o seu cavalo. Como o
encontrou?
Aha! Este era o momento em que Read o informaria de que sua
cama para a noite havia sido transferida para o estábulo.
― Excepcional. ― Ele moveu um peão em jogo.
O Duque pegou uma torre.
― Recentemente, o prédio foi reformado. Já era hora disso. O
bloco foi erguido em mil quinhentos e vinte e oito, mais de um século
depois da construção do próprio castelo.
Agora deveria ficar impressionado com a antiga linhagem da
família. Deslocou um cavaleiro através do tabuleiro. ― Seu cocheiro
me disse que cria cavalos.
― Caçadores. Quer caçar?
Ele se permitiu um sorriso. ― Não.
― Seu cavalo é um animal extraordinariamente fino e ainda jovem
o suficiente para ser treinado para isso. De quem o comprou?
― Foi um presente.
O Duque levantou um bispo. ― De um patrono?
― De um amigo que acreditava ter uma dívida de gratidão comigo.
― O que fez para o seu amigo, Sr. Sterling?
Ele deslizou um peão na direção da rainha do Duque. ― Ensinei-
lhe como se defender contra aqueles que lhe desejavam mal.
― Entendo. ― O Duque moveu sua rainha de lado. ― Foi duro
com a minha filha há pouco. Está cético quanto ao seu potencial
como aluna.
― Sou cético de sua aplicação para a tarefa.
A mão de Read parou no tabuleiro.
― Minha filha não brinca, Sr. Sterling.
Claramente o Duque não conhecia bem sua filha. ― Não entendo
o seu significado.
― Se ela deseja aprender a lutar, se esforçará para isso. É uma
aluna extraordinariamente competente e com uma tenacidade
formidável. ― Read agora segurou seu olhar.
― Com todo o respeito, milorde, não pode me intimidar para
aceitar este posto.
Um servo entrou com bandejas e pratos de prata cobertos e os
colocou ao lado do tabuleiro de xadrez.
O Duque o dispensou. Ignorando a comida, ele pegou uma garrafa
de cristal.
― Vinho? ― Ele serviu sem esperar pela resposta de Saint. ―
Então vai ensiná-la.
― Não tenho intenção de fazê-lo.
― Atrase sua partida por um dia ou dois. Uma semana. Conheça o
caráter de minha filha antes de tomar uma decisão.
Ele já conhecia seu caráter tão bem quanto podia suportar.
― Existem outros professores.
― Mas nenhum melhor, segundo sei. No entanto, achei sua
história desconcertante. Por que isso, Sr. Sterling?
― Suspeito que já saiba.
― Por quase dois anos, você adotou outro nome na Inglaterra,
seu, mas não o Sterling. E sei o motivo. ― O Duque pôs os
cotovelos nos braços da cadeira e mexeu uma torre com seus longos
dedos. ― Ofereço minhas condolências pela perda de seu irmão.
― Obrigado. ― Saint esperou pelo golpe.
― Estou ciente sobre certos empreendimentos dele que, se
fossem cuidadosamente examinados, não suportariam o escrutínio
completo da lei.
― Não tenho nenhum conhecimento dos negócios do meu irmão.
― Parece, no entanto, que Lorde Michaels investiu em vários
empreendimentos de seu irmão e se beneficiou desses
investimentos. Seria lamentável se eles fossem revelados como não
totalmente legítimos. Esse tipo de coisa pode arruinar um homem.
Uma vergonha. Seu primo é um jovem tão simpático. Mas,
infelizmente, os jovens são propensos a cometer erros descuidados.
Saint se levantou.
O Duque levantou-se e atravessou a sala. Um estojo de espada
repousava sobre um baú. Incrustada com madeira moldada nas
formas de abelhas minúsculas, a caixa em si era valiosa: italiana, da
casa de Barberini. O Duque colocou a caixa na mesa e abriu o trinco.
Sobre uma cama de veludo escuro brilhava um longo florete
prateado. Ele retirou-o.
― Já viu algo tão bonito, Sr. Sterling?
Brilhando à luz de velas, era bela no design, apesar do
comprimento da lâmina era a preferida pelos homens de séculos
passados.
Saint assentiu. ― Não. Mas a beleza é apenas parte do fascínio
de uma espada.
O Duque ofereceu-a. Seu equilíbrio era impecável, a lâmina
perfeitamente pesada até o punho. Envolveu a palma da mão no
cabo. Sua mão encaixou como se fosse feita para ele.
― O que acha disso? ― Read disse.
― É magnífica.
― Minha filha comprou de um comerciante árabe em Dover. Por
que ela estava em Dover, não tenho a mínima noção, exceto talvez
para acrescentar isso à sua coleção. E, no entanto, não acredito que
a tenha tirado o estojo antes de enviá-la para mim. Com cada arma
que ela envia, inclui a mesma carta: Pai, aqui está um presente.
Faça com ela o que quiser. ― De pé ao lado do tabuleiro de xadrez,
ele se abaixou e distraidamente moveu uma peça. ― Nunca fui
particularmente inteligente com uma lâmina, Sr. Sterling, mas gosto
de olhar para elas. Então as coloquei em casa, como pôde ver. Mas
essa aqui... essa é especial. Ele se acomodou novamente em sua
cadeira, um rei em seu trono. ― Gostaria que ficasse com ela.
Saint devolveu o florete ao seu estojo.
― Sou um homem honesto, senhor. Não ligo para subornos, nem
para aqueles que os oferecem para mim.
― Se recusa a me tratar como eu acho que sabe que deveria. ―
Os olhos de Read estavam afiados. ― Não me importo com isso.
― Deve ser meu sangue francês. Revolucionários, todos nós,
sabe. ― Saint olhou para o tabuleiro de xadrez. ― Obrigado pelo
jogo. ― Ele foi até a porta.
― Esta espada não é um suborno ― disse o Duque atrás dele. ―
É um presente. Um homem seria um grande tolo, Sr. Sterling, para
esconder um tesouro tão precioso num castelo remoto quando o
candidato ideal para ele está na sua frente. Eu estou bem ciente de
sua habilidade e do uso que colocou nela. É impressionante, para se
dizer o mínimo.
Ele riu. ― Não sou uma moça para ter a cabeça virada por
bajulação, nem uma criança para ser castigada... Sua Graça ― ele
adicionou com um sorriso.
― Claro que não. Ainda assim, confio que o aceitará. Colocá-lo em
boas mãos irá de alguma forma aliviar minha decepção por sua
recusa em instruir minha filha. Sr. Davis — ele chamou e o mordomo
abriu a porta da antecâmara. ― Transfira esse estojo de espada para
o quarto do Sr. Sterling.
O homem passou por Saint e partiu.
― Não precisa mantê-lo ― disse Read. ― Apenas considere, se
quiser.
― Boa noite. ― Saint saiu do quarto, atravessou a antecâmara e
alcançou a maçaneta da porta.
Esta se abriu e abruptamente ela estava diante dele, suas
bochechas coradas e lábios entreabertos. Ela havia mudado o
cabelo e usava joias sobre o pescoço à mostra agora. A luz da
lâmpada os deixou agitados, como o azul cândido de seus olhos. Ela
praticamente brilhava.
Era uma herdeira, uma mulher de beleza, riqueza e classe que, em
sua juventude, se envolvera num flerte descuidado com um jovem
idiotamente suscetível. Ela não era o grande vilão. Não importava
que ele tivesse passado anos evitando esse momento, agora só via
a surpresa suave e rápida daquela jovem com quem passara uma
quinzena proibida, a jovem que não esquecera nem um dia em seis
anos.
Capítulo 4

Imprevisível e Invencível

Seu queixo se inclinou para cima. ― Será que lhe deu um


sermão?
― Por me recusar a ensiná-la?
― Por me insultar.
Saint teve que sorrir. ― Não exatamente.
Seu olhar deslizou por seu rosto lentamente, pousando em sua
boca.
― Meu pai é... ― Suas narinas delicadas alargaram. ―
Imprevisível.
― Para minha vantagem, neste caso, parece ser.
― Essa é uma cicatriz impressionante. Como a conseguiu?
Imprevisível. ― Pela ponta de uma lâmina.
Ela encontrou a razão novamente. ― Então parece que não é o
guerreiro invencível que meu pai acredita que seja.
― Ah, mas confunde isso. A invencibilidade de um homem não é
medida pela impenetrabilidade de sua pele, mas pela
impermeabilidade de seu coração. ― Ele fez uma reverência. ― Boa
noite.
Ele passou por ela tão perto que Constance sentiu o roçar de sua
manga contra seu braço nu. Então ele passou pela porta e foi
embora, deixando-a desequilibrada como antes.
Impermeável.
Se ele podia reivindicar a impermeabilidade, ela também poderia.
Dispensando os nervos, bateu na porta do quarto do pai.
― Entre ― Com uma taça de vinho na palma da mão, ele estava
sentado diante do tabuleiro de xadrez.
― Por que fez isso, pai?
― Sr. Sterling partiu sem fazer o próximo movimento. Eu pediria
que terminasse o jogo dele, mas gosto de ver como um homem joga
até o fim. Devo esperar seu retorno.
― Seu retorno? Mas... Eu pensei que ele estava indo embora.
― Eu acredito que ele pretende ficar por alguns dias. Não pode
estar confortável partindo no meio de um jogo, afinal de contas.
Ela queria saber se ele havia dito ao pai a verdade: que eles não
eram estranhos. Mas não podia perguntar sem se revelar. E agora
seu pai estava jogando seu tipo favorito de jogo, o tipo que a deixava
confusa e frustrada.
― Eu gostaria de uma resposta.
Finalmente ele levantou os olhos para ela. ― Pensei que a
agradaria.
Ela agarrou as costas da cadeira que o oponente dele havia
desocupado. ― Se eu quisesse aprender a lutar, teria contratado um
mestre de esgrima em Londres.
― Sente-se, se quiser.
― Porquê?
― Porque sou seu pai e ainda estou no comando do seu futuro.
Ela se sentou na cadeira. Por hábito, seus olhos estudaram o
arranjo das peças. Todas as importantes conversas com ele, havia
acontecido no tabuleiro de xadrez. Ele era um homem de
perseguições tranquilas, e desde que sua mãe morrera ele tinha
mudado muito pouco sobre como sempre viveu: permanecia neste
castelo a maior parte do ano, evitando suas casas em Edimburgo e
Londres, que sua esposa não gostava, e ele ainda permitiu que sua
única filha continuasse da maneira que desejava em companhia de
uma viúva idosa.
― Eu gostaria de ir para Edimburgo, pai. Eu instruí Davis para
contratar servos e preparar a casa. Eu pretendo ir com Eliza dentro
de um mês.
― Isso combina bem com os meus planos ― disse ele.
― Eu... estou feliz em saber ― ela disse com surpresa.
― Constance, se casará antes do seu aniversário.
― Antes do meu aniversário? Em cinco semanas? Eu...
― Loch Irvine deixou claro para mim seu interesse e acho que ele
é um candidato ideal. Suas propriedades são grandes e produtivas
em cevada, trigo e lã, e suas atividades mercantis garantem renda
adicional.
Loch Irvine. ― Eu...
― Seu primo, Leam, me informou que Alvamoor se adapta à sua
família e que não pretende se mudar para cá quando eu morrer e ele
herdar o ducado. Haiknayes está perto o suficiente para que quando
esse dia chegar possa permanecer castelã deste castelo em nome
de seu primo. Desta forma, o rebanho de reprodução não precisa ser
vendido, a menos que você e Leam concordem com isso.
― Mas o senhor está bem de saúde, não está?
― Dr. Shaw me garante que minha saúde é excelente.
― Então não entendo porque...
― Loch Irvine estará em Edimburgo no próximo mês, permitindo
uma quinzena para os dois se adaptarem e que os proclamas sejam
lidos antes do seu aniversário.
― Pai. ― Ela lutou por palavras. Aqui estava o que ela queria, o
que esperava. ― Isso é inesperado.
― Desde a morte de Jack Doreé, eu permiti sua autonomia virtual.
Nos cinco anos desde o fim do seu luto, recusou ofertas de vários
pretendentes que se candidataram perante mim e, como eu tenho
compreendido pela Sra. Josephs, diretamente a você também.
― Mas, Ben e eu...
― Eu sei há muito tempo que nunca pretenderam se casar. Ele
sugeriu isso para mim mais de uma vez.
― Ele fez isso? ― Isso a atingiu dolorosamente. Ela tinha confiado
que Ben nunca contasse a ninguém que eles tinham combinado não
casar, que o namoro prolongado era uma farsa para permitir que
cada um perseguisse seus próprios interesses em Londres. ―
Entendo ― disse ela.
― Não a pressionei para casar porque nenhum de seus
pretendentes satisfez meus desejos.
― O Duque de Loch Irvine o satisfaz?
― Sim. Mas o que importa, o tempo se esgotou. De acordo com os
termos do dote da sua mãe, no seu vigésimo quinto aniversário, a
sua parte será dobrada em qualquer contrato de casamento que
entrar. Eu preferiria que esse dinheiro permanecesse sob seu
controle. Se vier a se casar depois do seu aniversário no mês que
vem, junto com seu dote de vinte e cinco mil libras, esse dinheiro
também se tornará do seu marido.
― O dote da minha mãe? ― Isso era novidade de fato. Quanto
dinheiro? Cinquenta mil libras. Não era uma quantia insignificante. ―
Cinquenta mil libras? Mas isso é uma fortuna. Por que não me disse
isso antes? Anos atrás?
― Depois da morte de Jack, não tive vontade de vê-la casar-se às
pressas, apenas para receber o dinheiro.
― Me fere, pai. Eu não teria feito isso.
― Talvez. Mas essa preocupação agora é irrelevante. Deve se
casar antes do seu aniversário. O Loch Irvine servirá. ― Ele se
levantou e seus cães levantaram a cabeça de suas patas. ― Quando
ele chegar em Edimburgo, me informará. Até lá, tenho vários
assuntos para resolver aqui. Vou avisar a Sra. Josephs que ela
deverá cuidar do seu enxoval. Se casará na casa da cidade. Ele
estalou os dedos e seis Spaniels elegantes seguiram-no através da
porta de seu quarto de vestir, abanando a cauda.
Constance olhou para o tabuleiro de xadrez, as peças esculpidas
em mármore das Índias Orientais. O jogo estava avançado, com
branco e preto perfeitamente combinados, mas sem vantagem ainda.
O Sr. Sterling, ao que parecia, poderia se defender como um mestre
de xadrez. Talvez um coração impenetrável o ajudasse com isso.
Ela acariciou com a ponta do dedo ao longo da crina do cavalo
branco. Com esse conjunto, seu pai lhe ensinara a jogar, instruindo-a
cuidadosamente a evadir, manobrar e planejar táticas. Mostrou-lhe
que para ganhar um rei, um jogador deve às vezes sacrificar outras
peças valiosas, e que ela deveria sempre antecipar a astúcia de seu
oponente. No entanto, seis meses atrás, ela não tinha prestado
atenção nessas lições. Ela confiara num homem que achava ser um
amigo apenas para descobrir que não era.
Se o pai dela soubesse como Walker Styles a havia enganado, ele
a desprezaria.
Não entendia seu pai. Nunca entendeu. Nunca lhe pedira nada,
mas ele sempre fora generoso. Generoso e intocável, quando ela
teria dado cada vestido, cavalo e luxo de Londres por um momento
de sua afeição.
Agora ele pretendia que ela se casasse com Gabriel Hume, o
Duque que todos acreditavam ser um monstro. E ainda contratara
um espadachim para ensinar-lhe esgrima, o que era ainda mais
surpreendente.
Usaria isso para sua vantagem. Se o Duque de Loch Irvine fosse o
rumor do diabo alegado por muitos, seu pai estava dando-lhe
precisamente o que precisava para aprender a se defender.
Invencível. Seis meses atrás, estivera longe de ser invencível.
Agora ela poderia ser. Parecia apropriado que Frederick Evan
Sterling fosse seu professor, o homem que tinha feito uma moça
ingênua a acreditar que se podia confiar nos homens.
Apoiando duas pontas dos dedos contra o canto do tabuleiro, com
um único impulso de seu braço, ela empurrou. A tábua foi empurrada
até a beira da mesa, oscilou e caiu, espalhando no mármore suas
peças pelo chão. Ela se levantou e saiu do quarto.

― Lady Constance é positivamente deslumbrante. ― Dylan estava


esparramado numa cadeira no quarto de Saint no térreo. Era um
ambiente considerável com tetos arqueados, pintados de branco e
uma enorme lareira embutida que devia ter sido uma lareira de
cozinha. Fendas estreitas atravessavam a grossa parede externa
comprovando a utilidade anterior do lugar; ele poderia apontar um
rifle ou besta diretamente através de qualquer uma delas.
― Impressionante, eu diria ― repetiu seu primo.
Impressionante.
Confiante. Descarada Direta.
Arrebatadora. Ela para seus pulmões e ainda joga suas entranhas
para fora com a mais breve carícia de seu olhar.
― Ela é? ― Ele murmurou.
― Bom Deus, sim. Está cego?
Ele desejava estar. Mesmo assim, a musicalidade de sua voz o
atormentaria até enlouquecê-lo.
― E que deliciosa companhia no jantar! É uma pena que o Duque
tenha exigido que se reunisse a ele em particular, Saint. A Sra.
Josephs também é uma interlocutora divertida. E o Dr. Shaw, é o
médico de Read, pelo que entendi. Sua filha jantou conosco também.
Tem quinze anos. Uma erudita. Eles vieram para uma longa visita.
Shaw é um bom sujeito. Taciturno para o meu gosto, claro. Mas Lady
Constance garantiu uma noite divertida. Ora, ela está na Escócia há
quase dois meses e sabe tudo sobre o que todo mundo anda
fazendo em Londres nesta semana.
― Mexericos?
― Dou minha palavra, ela nunca pronunciou uma frase lasciva.
Principalmente elogios aos novos eventos desta e ao musical
daquela senhora. Sabe que tipo de coisa.
Dylan sempre falava com ele assim, como se ele também
frequentasse os clubes todos os dias. Sendo um homem de boa
índole e pouca reflexão, Dylan nunca compreendera inteiramente a
diferença entre sua vida e a de seus primos. Durante toda a infância,
Georges Banneret, o administrador do Barão na Jamaica e o homem
que lhes ensinou a arte da espada, tratara todos como iguais. Com
isso fizera uma marca permanente no herdeiro do Barão; Dylan era
completamente igualitário em espírito e totalmente inconsciente de
seu próprio privilégio real.
― Tanto Shaw quanto sua filha a adoram ― continuou Dylan. ―
Os servos também. É a favorita aqui, como sempre foi em Londres.
De que outra forma poderia circular por anos sem um anel de
casamento?
Talvez, dando a todos que encontrasse, uma leitura íntima como a
que lhe oferecera na antecâmara do Duque e deixando-os também,
instantaneamente sem sentidos. Ele passou a mão pelo rosto, mas,
mesmo com os olhos fechados, ainda a via.
― Se meu coração já não estivesse perdido para uma pérola ―
disse Dylan ― eu tentaria um relacionamento com esse diamante.
Read gosta de mim. Tomei uma saborosa taça de clarete com ele
antes que te sequestrasse para o jantar. E ele é um homem
civilizado, não um metodista maluco como Edwards. Rico como
Creso também. Desconfiado, claro. Pensando bem, o noivo de Lady
Constance, Ben Doreé, era um homem da Companhia das Índias
Orientais. Um homem de negócios e noivo dela. Recentemente, ele
se casou com outra jovem, uma ruiva elegante, sem comparar com
Lady Constance. Não é nenhuma jovenzinha.
Saint não costumava se importar com as divagações de Dylan.
Mas esta noite se importou.
― Peculiar... ― Dylan pensou: ― Doreé rechaçando uma linda
herdeira por outra jovem, especialmente depois de um noivado de
anos. Me pergunto qual deles manteve a coisa por tanto tempo? Seu
irmão mais velho, Jack, pereceu em um acidente trágico junto com
seu pai. Você sabia?
― Acredito ter ouvido algo a respeito. ― Isso estava ficando
insuportável.
― Ben herdou tudo, incluindo a futura noiva de Jack. Mas tenho
certeza de que foi há anos, e ele acabou de se casar com essa outra
jovem em janeiro. ― Ele bateu os dedos pensativamente na sua taça
de cristal. ― Dizem que Lady Constance foi devotada ao seu
primeiro prometido.
― É isso que dizem? ― Ele passou seu lenço no pescoço. A sala
estava muito quente. Ele olhou para a lareira onde o fogo mal ardia.
Dylan franziu a sobrancelha.
― Talvez Ben finalmente tenha decidido que não queria tocar o
segundo violino com seu irmão morto pelo resto de sua vida. Eu
certamente não iria querer.
Saint se levantou e foi até o estojo de espadas.
― Você não tem um irmão. ― Ele abriu o estojo.
― Corta-me o coração ouvi-lo me negar isso ― Dylan disse
dramaticamente e veio para o lado dele. ― O que é isso?
― Read me deu.
― Como pagamento? Bom Deus, primo, não sabia que seus
serviços eram tão caros.
― Como presente.
Dylan pegou a espada, passando a ponta do dedo pela metade da
lâmina e ao redor da ponta.
― Esta é uma boa peça. Mas corta como uma faca de manteiga.
Manter uma lâmina desse calibre numa condição tão impotente era
um crime.
― Amanhã vou encontrar uma ferraria e ver o que pode ser feito
com ela.
A cabeça de Dylan virou. ― Aceitou o posto, afinal de contas? ―
Ele sorriu. ― Ótimo...
― Ainda não.
― Droga, Saint. ― Ele levantou a espada entre eles. ― Eu o
enfrentaria com isso agora se eu pensasse que poderia pelo menos
cortar uma geleia.
― Te desafio a tentar.
― Patife. ― A espada pendeu para baixo, imitando a postura de
Dylan. ― Ela me convidou para ir a Edimburgo. Mas a casa ainda
não está pronta. Falta pintura e mobiliário e mais algumas coisas. A
mudança não acontecerá por algumas semanas, imagino.
― Ela?
― Lady Constance. ― Ele voltou para a poltrona e se jogou nela,
acariciando a espada como um menino com um brinquedo do qual já
havia se cansado. ― Não está ouvindo? Ela é muito amada. E é uma
anfitriã brilhante. Ela entretém todos que são nobres, políticos,
eclesiásticos, exatamente os tipos de idiotas que Edwards gosta.
Então ele não poderia se recusar.
― Lady Constance o convidou para residir em sua casa em
Edimburgo? Com ela?
― E o pai dela e a Sra. Josephs. E o Dr. Shaw e a Srta. Shaw, eu
acredito. Ela disse que por lá será divertido. ― Ele lançou uma
carranca estreita pelo quarto. ― Não me diga que desaprova? O que
há, se reformou desde que a filha daquele pastor colocou as mãos
sobre você naquele outro dia?
― Eu não tenho ideia do que está me acusando.
― Nunca acreditei naquelas velhas e invejosas matronas de
Londres, sobre o acordo que ela tinha com Doreé. É tudo bobagem.
Ela é uma mulher muito boa para esse tipo de jogo. Eu não me
importo com o que ouviu...
― Eu não ouvi nenhum mexerico sobre ela, não mais do que você
mesmo está me dizendo.
― Então por que essa sobrancelha escura levantada? O que me
impede de aproveitar o convite generoso de uma linda herdeira para
morar um pouco na casa dela?
Nada, exceto seu desejo de proteger Dylan do destino infeliz que
ela era inteiramente capaz de oferecer a um homem que a
desconhece o suficiente para cortejá-la.
― Quando eu partir amanhã ― Saint disse ― pegue um quarto
num hotel em Edimburgo.
― Deixei claro para todos que estou do seu lado. É a minha
desculpa drástica por ter vindo junto. Se não ficar, eu também não
posso.
― E o Duque de Loch Irvine? Disse antes que ele o chamou a
Edimburgo para a época do Natal.
― Ele está no Norte no momento ― resmungou Dylan ― em sua
propriedade principal. ― Se levantou inquieto, jogou a espada no
estojo e foi até a porta. Parando ali, com um rosto
extraordinariamente sério, ele disse: ― Estou apaixonado por uma
jovem excepcional, Saint, e quero fazê-la minha. Acho não que saiba
como é isso ou como é ser frustrado disso. Mas estou pedindo para
que tenha pena de um companheiro e me ajude.
Ele saiu, deixando Saint com uma espada de centenas de libras e
uma dor no estômago.
Capítulo 5

Um Argumento

Para o visconde Gray,


Grosvenor Square - Londres, Inglaterra
Querido Colin

Junte-se a mim em minha alegria enquanto compartilho uma


notícia maravilhosa: devo me casar. Ele é um Duque e muito
rico, embora possivelmente um homem muito mau. Mas estou
certa de que seremos delirantemente felizes juntos. Espero que
participe do casamento.

Com carinho,
Constance.

Lady Justiça
Brittle & Sons, Tipografia- Londres

Queridíssima Lady (sem cuja atenção eu definharia, e sem as


suas doces condenações, tão generosamente oferecidas, eu mal
saberia ser um cretino e, em vez disso, sou chamado,
erroneamente, de homem).
Escrevo-lhe com desânimo, pois recebi notícias da natureza
mais aflitiva: O último membro restante do meu clube se casará.
Quando se casar, como e com quem, deixarei para a sua
perspicácia jornalística. Saiba apenas isto, que, em antecipação
do evento estou desolado. Pois no dia em que os sinos ecoarem
na torre da igreja para anunciar os votos, ficarei sozinho. O
Clube Falcão, que antes era composto de cinco, terá apenas um
número: eu.

E assim vos escrevo com este pedido: Não me abandone


como meus companheiros fizeram. Permaneça comigo (de uma
maneira que tem, até agora, permitido esta amizade entre nós),
dê-me seus conselhos (como sempre esteve ansiosa por fazer)
para aliviar meu abatimento, sua sabedoria (imensa, rápida e
surpreendente) para acalmar minha solidão inquietante, e seu
seio (metaforicamente, é claro) como uma almofada para minha
bochecha quando precisar do mais simples conforto, o conforto
de saber que ainda estou na mente e no coração de uma amiga
inestimável.

Eu reivindico este alívio sabendo de sua generosidade e, ao


dar-me isto só confirmará em meu peito uma profunda
admiração que sempre lhe tive nestes cinco anos de nossa
correspondência.

Sempre seu,
Peregrino
Secretário, do Clube Falcão

Para Peregrino, à solta:


Minhas bochechas estão sem lágrimas pelo senhor.
Nenhum homem que merece amigos tem motivos para
temer sua perda. Deprimir-se é o privilégio das
classes mimadas. O tédio que inflige a si mesmo é
seu verdadeiro inimigo. Recomendo que encontre
algum emprego útil e digno de um homem, em vez de
um capuz de mafioso.

—Lady Justiça
Capítulo 6

Uma Lição da Sorte

Numa ferraria a menos de um quilômetro do castelo, o ferreiro


examinou o sabre e depois pegou uma pequena pedra da cor do pôr-
do-sol. A pedra era quente e fina, perfeita para a espada.
― Eu não aceito pagamento por isso, senhor. Lady Constance
mandou dizer que eu deveria ajudá-lo com o que quisesse. Fico feliz
em fazer algo de bom por ela.
Saint enfiou a pedra de amolar no bolso e voltou para o castelo ao
longo de uma estrada que ladeava a floresta vasta de árvores,
pastos e colinas. Uma cerca de madeira corria por sua extensão,
dobrando-se para mergulhar nos terrenos da propriedade, além do
que antigamente deviam ser jardins formais e elegantes e que agora
cresciam de forma selvagem.
Caminhando ao longo de uma trilha na linha das árvores, ele a viu.
Encarando um ângulo distante da cerca, pressionando as saias em
torno de suas pernas, que estavam ligeiramente afastadas, ela
levantou um longo arco com um braço tão reto quanto sua coluna,
encaixou a flecha e disparou. Com uma pancada que soou no
gramado, perfurou o alvo no centro.
Sem pausa, ela pegou outra flecha, colocou-a contra o ponto de
encaixe, puxou o braço para trás suavemente e deixou-a voar. Ela
acertou como o primeiro.
Uma terceira vez, encaixou uma flecha no arco e puxou a corda
esticada para trás com a facilidade com que a maioria das mulheres
desenrolava um leque.
― Dez libras de que não pode dividi-las ― ele gritou do outro lado
da grama.
Ela se virou para ele, soltou a corda e uma brisa roçou sua
bochecha antes que a flecha afundasse em um tronco de árvore
atrás dele.
― Meu Deu ― disse ela, abaixando o arco. ― Eu perdi o alvo. E
eu queria tanto um novo chapéu. Ah, bem, vou continuar praticando
e depois posso ganhar dez libras. Mas oferecerá a aposta
novamente?
Ele pressionou sua montaria para frente.
― Seu objetivo foi desviado em pelo menos dois centímetros.
― Eu pensei que poderia gostar de um esporte mais compatível.
― Ela usava um protetor de mão de couro e seu vestido era simples
e ajustado confortavelmente na parte superior do seu corpo e braços.
Alta e ágil, com seios amplos e ombros retos, ela tinha um formato
bonito. E se perguntou quantos homens a tinham visto vestida assim:
revelando sua forma tão sem rodeios, tão marcante e se pretendia
que Dylan a visse agora.
― Obrigado, mas passo ― disse ele.
― Mas homens com cicatrizes são tão misteriosos. ― Ela quase
não sorria.
― Quanto mais cicatrizes, mais misteriosos?
― Naturalmente.
― Então prefiro menos mistério. E um pouco menos de leveza
sobre isso também.
Ela se virou novamente para o alvo, ergueu o arco e pegou outra
flecha.
― Se não consegue evitar lesões, Sr. Sterling, talvez deva seguir
uma profissão diferente. ― Deixou a flecha voar e essa impactou no
anel externo do alvo.
― Perdeu sua concentração, não é? ― Ele disse.
Rapidamente ela colocou outra flecha e atirou. A flecha se juntou
as suas duas companheiras no centro do alvo.
― Aparentemente não ― disse ela, e içou o arco novamente. ―
Pensei que estivesse partindo.
― Breve.
A corda do arco estremeceu e a flecha partiu em uma trajetória
instável para o alvo. Mergulhou no alvo a uma largura de um fio de
cabelo acima das outras quatro.
― Vejo que o seu orgulho de atirar é justificado ― disse ele
quando ela pegou aljava vazia e caminhou em direção ao alvo. Ele
levou Paid para a frente. ― Qual é seu alcance com uma pistola?
― Quinze jardas com precisão perfeita. A vinte metros, um em
cada dois disparo.
― Então, dada a minha aversão em adquirir mais cicatrizes, estou
feliz por tê-la encontrado com o arco.
Ele alcançou o alvo antes dela, desmontou e puxou as flechas do
tecido. Quando ela se aproximou, recebeu as flechas e as jogou na
aljava.
― Eu realmente não pretendia acertá-lo. ― Ela pendurou a alça
da aljava por cima do ombro e virou-se na direção do estábulo. ― Se
tivesse pretendido, teria feito.
― Não tenho dúvida. ― Puxando o cavalo pelas rédeas, ele a
seguiu, apreciando a visão da curva de seus quadris e sua postura
que permaneceu firme mesmo sobre a grama nodosa. Seu cabelo,
debaixo de um chapéu de palha de abas largas, tinha uma trança
longa e grossa que descia por suas costas. Carregava o arco que
era maior que ela, na lateral.
― Como chegou a ter um tiro tão bom? ― Ele perguntou.
― Durante dezenove anos, tive pouco a fazer além de me divertir
nesta propriedade. Trabalhos manuais, livros e o piano não poderiam
preencher todas as horas. E eu era... inquieta. Quando descobri o
tiro, gostei. O guarda caças de meu pai e meu primo me deram
instruções. ― Ante a porta do estábulo ela se virou para ele. ― Por
que não partiu? ― A cor estava sobre suas bochechas e os lábios
eram um exuberante jardim de tentações, mas a aba do chapéu fazia
sombra na parte superior do seu rosto.
― Tire o chapéu ― disse ele.
― Porquê?
― Eu quero ver seus olhos claramente.
― Meus olhos?
― Os olhos são janelas para o caráter e a personalidade. Se
pretende lutar com um homem, primeiro deve olhá-lo nos olhos. ―
Ela pousou o arco e desamarrou a fita sob o queixo, depois tirou o
chapéu. ― Eu não sou um homem, claro, e eu não pretendo lutar
contigo.
― No momento em que pega uma espada, convida ao combate.
― Ele caminhou em direção a ela. Seu cabelo estava úmido contra a
testa, mechas escapando das amarras e acariciando suas
bochechas. ― Quando atira ― ele disse ― faz isso à distância. Há
segurança nessa distância. Entre os oponentes pode haver
obstáculos nos quais pode se esconder atrás. Ou o seu inimigo pode
ficar sem munição. Flechas e balas são finitas. ― Ele largou as
rédeas do cavalo e diminuiu o restante da distância que os separava.
― Quando luta contra um homem com uma lâmina, não tem a
vantagem de permanecer distante.
Seus olhos estavam firmes sobre ele. ― Distante?
― Do contato físico. Pode ser um atirador experiente com arco ou
arma de fogo e nunca chegar ao alcance de seus alvos. ― Ele parou
diante dela, perto o suficiente para ver a dilatação de suas pupilas,
as profundezas de ébano no azul brilhante. ― Quando luta com uma
espada, sente a força do seu oponente e percebe sua habilidade em
seu próprio corpo. O experimenta não apenas com seus olhos e
ouvidos, mas também com sua carne.
Ela estava respirando rapidamente, mas tentando esconder.
Ele tirou a aba do chapéu dos seus dedos e jogou-o no chão. ―
Mostre-me suas mãos.
Desta vez, ela fez isso sem questionar, virando-as, colocou-as de
face para cima entre eles. Não era nenhuma tola para mostrar-lhe as
costas, ela ofereceu-lhe as palmas das mãos, a base de seu poder.
Mas ele sabia há muito tempo que ela não era tola. Essa
denominação era para ele. ― Remova as luvas.
Ela desamarrou o couro protetor da mão esquerda e deixou cair ao
lado do chapéu.
― O que está olhando? ― Ela perguntou.
― As mãos de uma mulher que não trabalhou um dia sequer em
sua vida. ― Ele encontrou seu olhar. Estava arregalado, enquanto a
rodeava e ia para o estábulo, arrastando seu cavalo para dentro.
― Claro que não ― ela disse.
― Uma hora com uma espada na mão ― ele disse, levando Paid
para uma baia ― e não seria capaz de sentir seu braço por uma
semana, exceto pela dor. ― Puxou o cabresto sobre a cabeça do
animal liberando-o pouco a pouco de sua boca. Pendurou o freio no
gancho, e se virou para ela.
Ela estava no limiar do estábulo. ― Não acho que as crianças que
ensina comecem com calos nas palmas das mãos.
Ele foi até a porta. ― Não ensino crianças.
Ela arqueou uma sobrancelha. ― Somos minuciosos sobre nossos
alunos, então?
― Somos muito bons no que fazemos para não precisar assumir
estudantes que não nos convém.
Com o arco na mão novamente, com a aljava cheia de flechas
penduradas nas costas, ela bloqueou a porta da baia.
― Não quero aprender esgrima. A ideia do meu pai é tolice. ―A
frustração esculpia linhas na testa dela. Seu aroma de rosas de
inverno estava todo sobre ele, tão quente e inebriante como se
lembrava.
Ele inclinou a cabeça e disse baixinho:
― Então por que está no meu caminho agora?
― Eu... ― Sua garganta se contraiu num puxão, ondulando o
tecido que envolvia seu pescoço. ― Eu gostaria de saber como lutar.
Com um punhal.
Ele se endireitou. ― Um punhal?
― Sabe usar uma adaga, não sabe? Ou uma faca?
― Quer aprender a lutar como um ladrão de rua?
― Sim.
― E imagina que eu poderia ensiná-la a fazer isso?
― Não poderia?
― Eu poderia. Mas isso dificilmente responde à pergunta de por
que deseja aprender.
― Isso importa?
Ele inclinou a cabeça e pareceu estudá-la seriamente, como a
avaliou enquanto estava praticando tiro ao alvo. Seus olhos claros e
sombrios nunca pareceram a ela inteiramente mortais, e sim do reino
das fadas. Às vezes, durante aquelas horas proibidas que passaram
juntos, imaginara que, com magia, ele poderia ver além de suas
palavras e ações, diretamente em sua alma.
Agora o toque de seu olhar travava sua respiração em pequenos
tufos de ar inútil. O sol pálido que se filtrava pela janela às suas
costas pintava um halo em torno de sua silhueta, como uma imagem
de São Miguel, com sua beleza dura e belicosa contida apenas pela
arte.
Abruptamente ele deu um passo à frente, e ela empurrou o ombro
para trás, então ele passou pela porta sem tocá-la.
― Não precisa de adaga. Já tem armas suficientes à sua
disposição ― disse ele enquanto se afastava.
― Quero aprender a ferir um homem a curta distância ― ela disse
de costas.
Ele olhou ao redor. ― E como, eu me pergunto, imagina que essa
declaração agora me inspirará a ensiná-la?
― Viu como atiro bem, mas duvida da minha aplicação na tarefa.
― Sua determinação parece clara o suficiente. É a febre em seus
olhos quando fala em ferir outra pessoa que me preocupa.
― Eu entendo. Como a maioria dos homens, tem medo das
emoções fortes de uma mulher.
― Isso depende de quais emoções fortes ela está expressando. ―
Ele quase parecia que iria sorrir. Ele sorria com facilidade, ela se
lembrava, mais satisfeita com sua companhia do que tinha sido com
qualquer um antes. Depois daquela primeira noite, quando se
encontraram ao amanhecer junto ao bosque, ela o fez prometer não
tocá-la novamente e não procurar descobrir sua identidade. Durante
quatorze dias ele cumpriu sua promessa. Mas o jeito que sorria para
ela a enlouquecia de um desejo que mal entendia na época. Muitas
vezes teve que se impedir de diminuir a distância que ele mantinha
entre eles. Ela queria muito seus beijos.
Agora ele cruzava os braços confortavelmente sobre o peito, sua
postura indiferente, mas tão enroscada de força que parecia ao
mesmo tempo perfeitamente à vontade e inteiramente perigoso.
― Tem um homem em particular que deseja ferir ― ele disse ― ou
sua presa será simplesmente os homens em geral?
Seu estômago se contorceu. ― Quão imensamente divertido é,
senhor ― ela disse levemente. ― Ao se recusar a ensinar crianças e
mulheres, espera defender de ferimentos nas mãos o sexo inferior?
Sua risada súbita foi profunda e quente. ― Se as mulheres são
inferiores aos homens, a lua é feita de marzipã.
Ela sorriu. ― Eu suponho que está certo sobre isso. ―
Desdobrando seus braços, ele novamente se virou. ― Não vá hoje.
― Ela deu um passo à frente. Sr. Michaels e a Sra. Josephs
planearam um jogo de charadas para esta noite. Dr. Shaw e sua filha
também. Eu não gostaria de desapontá-los. Ficará mais uma noite?
― Eu não gosto muito de jogos ― ele disse.
― Eu notei o jogo no tabuleiro de xadrez depois que visitou meu
pai na noite passada. ― Ela deu outro passo em direção a ele. ―
Ele o convidou a jogar para intimidá-lo e fazê-lo concordar.
― Ele é um adversário formidável. Mas não me sinto intimidado
facilmente.
― Oh. Compreendo. Já viu que posso ser uma boa aluna. ―Ela
gesticulou com o arco. ― Mas o orgulho não permitirá que se retrate
de sua recusa diante dele.
― O orgulho não tem nada a ver com isso.
― Me dê uma chance, uma audiência, por assim dizer. Meu pai
nem precisa saber. Encontre-me no salão de baile amanhã de
madrugada antes que todos acordem. Mostrarei que posso aplicar-
me a aprender como manejar uma adaga com uma fria
imparcialidade digna de qualquer homem.
― Não, não acho que eu vá ― disse ele pensativo. ― Eu a
conheci numa madrugada anteriormente, e acabou mal para mim.
Não tenho vontade de repetir a experiência.
Seu coração caiu. ― Admite isso?
― Isso?
― O passado. Nosso passado.
― Por que não? Não sofri amnésia ou qualquer outro destino
improvável que apague a memória ou faça um homem negar a
história.
― Eu pensei que pretendia fingir amnésia. Desde ontem se
comportou como um estranho.
― Nós somos estranhos.
Isso não era verdade. A partir do momento em que se
conheceram, ele nunca pareceu ser um estranho para ela. De outro
mundo em sua masculinidade desconhecida, sim, mas nunca um
estranho. Rapidamente e, naturalmente, ele teve prazer em sua
companhia como ninguém mais teve. E como nenhuma outra pessoa
viva, falou com ela como um seu igual. Um amigo. Tinha se
embriagado dele, e acreditava que talvez ele estivesse um pouco
embriagado dela também.
― Pensei que era covarde ― disse ela.
― Simplesmente cortês em não querer expô-la. ― Com a mão no
cabo de sua espada e os olhos brilhando, ele se curvou. ― Milady.
Milady. Seis anos atrás, pensara que ela era uma serva de nível
superior, talvez a donzela de uma dama. Mas a chamou de sua
dama e prometeu ser seu campeão, seu protetor, sua espada para
ela empunhar como desejasse. No momento em que descobriu o
nome dela, que era uma mulher nobre, que havia permitido que ele
acreditasse de forma contrária, o ardor em seus olhos havia morrido.
Agora apagava um pouco mais sua luz.
― A zombaria não é cortês ― disse ela.
― É verdade ― ele admitiu. ― Deploravelmente diferente de um
cavaleiro, o que acabei não sendo. ― Ele levantou um meio sorriso.
― Apesar do meu voto.
Havia uma dor tão tola em seu peito que ela queria enfiar seu
punho nele e abri-lo.
― Terminou como avisei que seria ― ela disse.
― Dado o incentivo que me ofereceu, eu teria sido um homem em
dez mil para acreditar na advertência.
― Fui muito clara.
― Um homem insensato se agarra até mesmo no mais leve fio de
esperança.
Mesmo quando lhe falava assim, direta e honestamente, ela queria
estar perto dele. Mas não era mais uma menina. Aprendeu sobre os
homens desde então. Agora precisava dele para um propósito.
Ignorando seus nervos agitados, se adiantou até ficar diante dele.
― Não se importa com a palavra de uma mulher?
Seus olhos de esmeralda se estreitaram.
― Admito que estou confuso.
― Por?
― Não acho que fosse de flertar. Não acredito que pretendesse
seduzir um homem, depois decepcioná-lo, não da maneira usual.
Não combina com sua natureza. Mas, então, não entendo por que
fez isso.
― Desejou o que não poderia ter.
― Desejei. ― Ele recuou. ― Mas não desta vez. Estou avisado e
preparado.
― Então que mal fará me ensinar a lutar com um punhal? Por
favor. Pelo menos me ensine como segurá-lo corretamente.
Por um momento prolongado, ele apenas a olhou.
― O que está fazendo? ― Ela finalmente disse.
― Eu estou reconsiderando.
Reconsiderando. Ela tamborilou as pontas dos dedos no arco. ―
Está demorando demais.
Ele levantou uma sobrancelha. ― Estamos impacientes?
― Não temos muito tempo antes que nos esperem para trocarmos
e nos prepararmos para o almoço.
― O couro da caçadora deve dar lugar a renda da Lady ― disse
ele. ― Lamentável!
― Lamentável? Preferiria usar botas na sala de jantar?
― Lamentável que eu não posso estar presente na sua toilette.
Ela não deveria sorrir. Não tão fácil e rapidamente.
― E quanto ao 'avisado e preparado'? ― Ela disse. ― Um
momento atrás, estava determinado a não flertar comigo.
― Eu não estou flertando. Eu realmente estou desapontado por
não poder entrar em seu boudoir.
Ela reprimiu o sorriso enquanto ele se afastava. Como sempre, ver
o corpo dele se mover fazia coisas por dentro do seu próprio corpo,
que girava a gravidade na direção errada. Mas ele já estava saindo.
― Onde está indo?
― Quero mais luz. ― Removendo sua espada e colocando-a de
lado, ele parou num respingo de sol de uma janela aberta. ― Abaixe
seu arco, Diana, e venha aqui.
Diana. Ele a chamara de Diana naquele dia na floresta, a deusa
virgem da caça que não se deixava capturar por nenhum deus ou
homem mortal.
― Agora? ― Ela disse. ― Aqui?
― Se preferir, meu cavalo ainda está selado. Eu posso...
― Não. Sim, agora ― ela disse, a euforia borbulhando. Ela se
aproximou dele. ― É porque falamos do passado e resolvemos a
questão? Passado é passado?
― Não é bem assim. Mas agora estou pensando em seu boudoir e
algo deve ser feito sobre isso. ― A aljava escorregou de seus dedos,
espalhando flechas no chão do estábulo. ― Sou apenas um homem
― ele disse simplesmente. ― Distração às vezes é necessária. ―
Ele enfiou a mão no alto da bota e puxou uma adaga com uma
lâmina de talvez cinco polegadas de comprimento.
Ela olhou fixamente.
― Carrega adagas em suas botas?
― Apenas uma, e só neste par. ― Ele se aproximou dela e pegou
o arco de sua mão frouxa. ― Ao contrário das filhas de duques, pelo
que vejo, eu não acho que precise de acesso rápido a uma adaga
diariamente.
Não diariamente.
Todas as noites.
Ele estava tão perto que ela podia respirar seu perfume e sentir a
reação do seu corpo a ele.
― Que vida séria deve levar ― ela conseguiu dizer, observando-o
pôr de lado o arco com a mesma graça com a qual sempre se movia.
Ela conhecia espiões e lordes, mas nunca conhecera um homem
como aquele. Seu amigo Wyn Yale carregava as sombras com ele
quando desejava. O domínio elegante de Ben era incomparável. E
Colin Gray declarava autoridade pela sua própria postura. Mas
Frederick Evan Sterling não declarava domínio, e não desejava ser
furtivo. Com cada músculo treinado para servi-lo, ele simplesmente
se movia e era poesia, arte, beleza.
― Vê onde o cabo desta adaga toca a palma da minha mão? ―
Ele estendeu a mão.
― Sim.
― Veja como a seguro. ― Seus dedos se assentaram novamente
no lugar. Ela imitou-o fechando sua mão vazia, depois abriu os
dedos. ― Suas mãos estão extraordinariamente atenuadas para as
de uma dama ― ele disse. ― Flexível. Atira com frequência?
― Todos os dias.
― Por que sua pele não demostra isso?
― Minha donzela camufla os calos. ― Ele olhou para o rosto dela.
― Todos os dias?
― Sou a filha de um Duque. Um cavalheiro não espera pegar a
mão de uma lavadeira quando me pede para dançar.
Sem aviso, ele segurou as costas da mão dela e enrolou o cabo da
adaga na palma da mão.
― Tome cuidado ― disse ele. ― É bem afiada.
Seis anos. Durante seis anos ela se lembrou do calor de sua pele,
o momento em que ela fugira de suas carícias no escuro porque
tinha medo do que poderia fazer, do que ela poderia lhe dar de bom
grado. Agora ele a segurava e ela se perguntava se dessa vez teria
forças para fugir.
― Quão afiada? ― Ela não podia comandar mais que um
sussurro.
Ele se afastou. ― Uso para cortar o couro de selas.
― Com que frequência tem necessidade de fazer isso?
― Não muitas vezes. ― Ele cruzou os braços sobre o peito
novamente com um sorriso brincando no canto da boca. ― É por
isso que é tão afiada.
A adaga parecia leve em seu aperto, bem equilibrada e fácil de
segurar.
― Estou surpresa que seja tão confortável para mim. Suas mãos
são muito maiores que as minhas.
― É uma boa adaga. ― Sua voz estava estranha, baixa e um
tanto rouca.
― Agora deve me demostrar como usá-la.
― Disse que queria saber como segurar uma adaga corretamente.
Está segurando-a corretamente. Lição terminada. A estrada me
espera.
Ela revirou os olhos. ― Ah! Vamos lá...
― Afiada ― ele deu um rápido passo para trás ― a lâmina. ―
Evite falar com as mãos quando estiver com uma arma, milady.
Milady, disse sem zombaria.
― Então, acabou de me ensinar uma segunda coisa ― disse ela,
reajustando o aperto no cabo. ― Fique por mais trinta segundos e
tenho certeza de que aprenderei tudo o que preciso para talhar um
pedaço de pau, pescar e esfolar uma lebre com essa adaga.
― Eu nunca pesquei com essa adaga. ― Ele se aproximou
novamente. ― Apenas esquartejei um homem.
― Sério? ― Exclamou ela. ― É assim que os mestres de esgrima
passam suas horas de lazer?
― Ele estava prestes a me empalar com uma baioneta. Parecia
apropriado na época.
― Me atrevo a acreditar.
― Mas, na verdade, usei-a para esfolar uma lebre.
― Como era o gosto?
― Não era lama. Então, eu diria que era bastante bom.
― Isso foi na Espanha. Não foi? ― Seis anos atrás, ele tinha
acabado de voltar da Península. Ela queria saber tudo sobre ele, e
então perguntou e perguntou.
― Sim.
Nenhum dos dois se mexeu. Eles se aproximaram e ela olhou para
a adaga em sua mão.
― Por que a carrega em sua bota agora?
― Para que eu a tenha à mão para ensinar as Ladies que
encontro em estábulos, é claro.
― Não me encontrou neste estábulo. ― Ela virou o rosto para
encontrar o olhar dele. ― Me seguiu até aqui.
― É o lugar onde se coloca um cavalo, e eu tinha um comigo. ― O
prazer brilhou em seus olhos que viajaram sobre suas feições.
― O que mais me mostrará com essa adaga agora?
― Como entregá-la com segurança a seu dono, para que nenhum
dos dois sejam cortados.
― Não. ― Ela recuou. ― Quero aprender mais.
― O 'por favor' parece ter se perdido nos dias atuais. Interessante.
Ela sorriu. ― Por favor.
― Esta é uma adaga de um único gume. A lâmina é afiada, mas a
arma é principalmente destinada a esfaquear em vez de cortar,
embora possa ser usada para qualquer um deles.
― Cortou ou esfaqueou a perna do homem da baioneta?
― Um pouco de cada. É uma menina sanguinária, não é?
― Não sou uma menina.
Seu olhar encontrou o dela.
― Não mais ― ela disse.
― Para lutar como um ladrão de rua ― ele disse, observando o
rosto dela ― seus movimentos devem ser rápidos e decisivos. ― Ele
pegou uma flecha e segurou-a no meio da haste, apontando a flecha
na sua direção. ― Imagine que isso é uma faca se aproximando.
Derrube-a. ― Ele empurrou a flecha adiante e ela bateu com a
lateral do punhal.
Ambas as sobrancelhas de bronze subiram.
― Uma faca está vindo em sua direção e bate nela como se fosse
uma mosca? ― Ela apertou ainda mais o cabo.
― Faça isso novamente.
Ele fez e ela rebateu jogando a flecha longe.
― Melhor ― disse ele. ― Agora, novamente, mas mais rápido e
com toda a sua força. Está lutando por sua vida, lembre-se.
Ela bateu de lado na flecha. Rapidamente ele empurrou para ela
novamente.
― Dez vezes agora, sem pausa ― disse ele.
Com o punhal, ela derrubou a flecha, os clicks cada vez mais altos
e nítidos. Depois de dez vezes, ele parou e ela se flexionou para
aliviar a tensão em seu ombro.
― Sentindo a queimadura?
― Sim.
― Ajuste sua postura.
― Como?
― Está de pé como se pretendesse atirar. Afrouxe os joelhos e
concentre o peso do seu corpo sobre os pés. Alinhe seus quadris.
Ela sentiu os olhos dele sobre ela.
― Esta é uma ação defensiva.
― Eficaz se feito rapidamente.
― E se o assaltante vier por trás? ― Ela perguntou.
― Existem outras manobras para se defender contra isso.
― E quanto a movimentos ofensivos?
― Uma boa defesa é o melhor ataque. Se um homem não tem
medo de ser morto, tem menos motivos para matar.
O braço dela parou e depois abaixou lentamente para o lado.
Respirava muito rápido pelo pequeno esforço que acabara de fazer.
A luz do sol lançou seus olhos numa aura etérea.
― Mostre-me um movimento ofensivo.
Estava determinada, e ele já vira esse tipo de olhar antes: na face
de um mensageiro com quem havia marchado, antes do rapaz partir
para o que se tornaria sua missão final, na linha de frente.
― Tudo bem.
― Espere. ― Ela abaixou a adaga e começou a recolher suas
saias entre os joelhos.
― O que está fazendo?
― Tornando mais fácil para se mover. ― Trazendo o tecido para
atrás, ela enfiou-o na faixa em volta da cintura. Meias leves
protegiam as pernas, que ele estava olhando, do ar frio. E com a
mesma rapidez que estudou a beleza de suas pernas longas e ágeis,
as queria em volta dele.
― Já fez isso antes ― disse ele. ― As saias suspensas.
― Quando quero montar e não me visto para isso ― disse ela,
como se a súbita necessidade de cavalgar frequentemente a
superasse antes que ela pudesse alcançar uma sela de amazona.
Mas talvez sim. Havia nela uma impetuosidade radiante aqui, longe
da casa, do primo e do pai, que o lembrou daquela menina seis anos
atrás, a jovem que não tivera medo de encontrar-se com um
estranho numa floresta ao amanhecer todos os dias. Agora, sozinha
com ele novamente, ela era uma mistura gloriosa daquela jovem e
da herdeira refinada de Londres. E ele estava cometendo um erro
colossal permanecendo em sua presença por mais um minuto.
Ela pegou o punhal. ― Agora me mostre, por favor.
Ele mostrou-lhe. Ensinando-a como reajustar o aperto no punho e
na postura, de modo que o poder de seu braço estivesse
completamente atrás da adaga, ele tentou ignorar enquanto ilustrava
a parte mais simples.
― Estou apontando para o peito? ― Disse ela, praticando o corte.
― Existem quatro alvos principais: o rosto, as mãos, a virilha e o
calcanhar de Aquiles. O que escolherá para atacar dependerá de
onde carrega sua arma. Assumindo que está no seu quadril, qual
alvo escolheria?
― A virilha?
― Sim. Mesmo um corte superficial irá prejudicar o adversário. E a
artéria femoral, se cortada, sangra rapidamente. Tente esse
movimento, devagar primeiro.
Ela colocou a mão no quadril e depois imitou um corte com a
adaga para frente.
― Bom ― ele disse, movendo-se atrás dela, estudando o ângulo
de seus quadris e as doces curvas de suas panturrilhas. ― Agora,
rapidamente. Se é menor e mais fraca que seu oponente, seu maior
trunfo é a surpresa. Solte seu ombro. Jogue a força no seu
antebraço.
Ela se balançou novamente.
― Muito baixo ― disse ele. ― Imagine uma pessoa real na sua
frente.
― Não permitirá que eu o use como alvo, suponho.
― Certamente que vou, da próxima vez que eu quiser ser
estripado como um peixe. ― A força em seu braço era
impressionante, o rubor lindo em sua pele, e ele estava duro como
ferro. ― Ou castrado ― ele murmurou.
Ela riu, deu um passo para trás contra a porta de uma baia e
surpreendeu o gato sentado ali. Ele gritou e pulou para a frente, e ela
pulou, pisou em falso e tropeçou numa parte de saia.
Saint avançou. A mão apertando seu pulso, ele a agarrou pela
cintura, esquivando seu corpo para longe da adaga.
Ela lutou contra ele.
Escapando de seu aperto e fora do seu domínio, ela lançou-se
sobre ele, suas coxas apertadas em volta de seus quadris, sua mão
esquerda aferrando-se contra a base de sua traqueia. A adaga
tremeu em sua mão direita e um suspiro soprou sobre sua bochecha.
Ele apertou sua mão ao redor da dela e ela gritou de surpresa.
Mas seu aperto era firme e seus olhos estavam arregalados de
terror.
Poderia quebrar seus dedos para desalojar a arma. Se ela fosse
um homem, ele não hesitaria. Se fosse outra mulher, ele não estaria
nessa posição. Ele baixou a guarda com ela novamente.
Ela estava pendurada nele, o cabelo emoldurando o rosto, os
olhos agora nublados, enquanto ele acariciava o polegar, da base da
palma da mão para cima.
A pressão no pescoço relaxou e ele sugou o ar através da traqueia
machucada. Mais uma vez ele acariciou seu pulso, em toda a palma
da mão e ao longo de seu polegar, bajulando a selvagem que ela se
tornara, e sufocou a fúria que ameaçava surgir nele. Essa tinha sido
a resposta de uma mulher que temia um ataque, que antecipava o
ataque.
Ela estava respirando com dificuldade. Mais uma vez, ele acariciou
a mão que segurava o punhal, tentando soltar seu aperto com a
sondagem gentil.
Suas pálpebras tremeram, um tique-taque para baixo e suas
pupilas pareciam perder o foco. A adaga caiu no chão e sua mão
escapou de sua garganta. Suas palmas se achataram no peito dele.
Ela mexeu os quadris em sua virilha.
Cílios entrecerrados, seus lábios entreabertos. Com seu olhar
preso no dele, ela se remexeu contra ele novamente. Então de novo.
O suspiro que saiu dos lábios dela esfriou sua raiva.
Inclinando a cabeça, ela capturou o lábio inferior dele entre os
dentes. Antes que ele pudesse procurar os dela, ela liberou o lábio e
jogou a cabeça para trás. Seus olhos estavam quase fechados. Com
um impulso perfeitamente intencional, ela fez seu corpo se esfregar
nele, uma vez, duas vezes, seu corpo estava ondulante. E ela
suspirou novamente.
Ele agarrou seus quadris e esmagou-a mais contra ele. Após um
gemido suave, ela seguiu seu ritmo duro, esfregando com mais
força. Então mais rápido. Ele a ajudou, apertando-a com mais força
contra seu pênis, sentindo-a contra a base e a ponta completamente.
Ela o montava, respirações rápidas explodindo, surpresa a princípio
e depois desesperada, pontuadas por gemidos curtos e delirantes.
Ele sentiu quando sua liberação a dominou, o afrouxamento de
seu corpo, os tremores. Ela choramingou, seus gritos suaves e
cheios de alívio. Havia prazer em sua voz, seus olhos bem fechados,
um rubor rosa inundando sua pele.
Seus batimentos cardíacos eram uma cacofonia de luxúria e
espanto. Engolindo ar, ele deslizou as mãos dos quadris até sua
cintura.
Ela abriu os olhos.
Por um instante, pareceu desorientada. Então consciente.
Ela se empurrou para trás e afastou-se dele, e tropeçou em seus
pés. Tremendo agarrou o arco e fugiu.
Capítulo 7

A Condição

Não havia som no estábulo por algum tempo, a não ser os


habituais bufos dos cavalos e o arrulhar das andorinhas. Quando
Saint finalmente afastou as mãos do rosto e sentou-se, descobrindo
que o gato voltava a estar empoleirado no mesmo lugar de quando
Constance o assustou, agora lambendo as patas.
Se levantou tentando não pensar se ela havia voltado para a casa
com a saia enfiada entre as pernas e salpicada de pedaços de palha.
Tentou não pensar nela, enquanto embainhava a adaga no cano
interno de sua bota e sacudia a poeira de suas próprias roupas. E
falhou. Pensou em seus suspiros e gemidos, a força de suas coxas,
e suas mãos segurando sua camisa, e teve pouco sucesso em
derrotar sua excitação. Mas alguns desconfortos deviam ser
suportados. Aprendeu isso com essa mesma mulher, anos atrás.
A filha do Duque exigira uma palavra do funcionário contratado
pelo Duque. Mas ainda não. Um homem não deve entrar em batalha
com um baú cheio de raiva. Em vez disso, voltou a montar em seu
cavalo e partiu para se refrescar.

― Doutor, o senhor é um apostador. ― Lorde Michaels bateu suas


cartas sobre a mesa e gargalhou. ― Como faz isso?
Dr. Shaw reuniu as moedas do Barão.
― Sou humilhado pelo seu louvor, milorde.
― Papai não gosta de se gabar. ― Libby ofereceu um aceno de
cabeça que era muito sábio para uma jovem de quinze anos.
― Que bobagem, senhorita Shaw! Lady Constance, diga a este
cirurgião que não me convencerá com uma conversa de humildade.
Se eu perder, prefiro perder para um homem arrogante. Pelo menos
posso me imaginar superado apenas no jogo e não no caráter
também.
― Não lhe direi nada, milorde. ― Constance permaneceu próxima
à estante, arrastando os dedos pelas letras douradas no couro dos
livros. Dali poderia ver parcialmente a porta. O homem que ela havia
atacado num estábulo tinha desaparecido e, apesar da chuva que
começara a cair ao entardecer, não voltara para jantar. ― Dr. Shaw é
verdadeiramente humilde.
O Dr. Shaw embolsou seus ganhos.
― Obrigado, lady Constance.
Desde que se lembrava, ele tinha sido um convidado frequente no
castelo. Com um sorriso bonito e uma mente privilegiada, era
exatamente o tipo de homem que ela mais gostava: o tipo que não a
virava do avesso.
Anos atrás, sentira esse tipo de admiração por Jack Doreé, seu
pretendente desde o nascimento. Com sua provocação juvenil e
carinho descuidado, ele machucara seus doces sentimentos várias
vezes, quando eram crianças. Mas nunca a fez querer abandonar
tudo de bom e mergulhar no delírio. Ele nunca a fez sentir qualquer
emoção forte ― nunca até aquela manhã, um mês antes de seu
casamento, quando ele a encontrou cara a cara numa ponte em
arco, com outro homem. Então ela sentiu uma vergonha mais
profunda que o inferno.
No estábulo, Saint mal a tocara e a necessidade que ela havia
conseguido negar, despertou em total e espetacular devassidão.
Aparentemente, ela havia mudado muito pouco em seis anos.
― Lorde Michaels, gostaria de medir seu crânio. ― Libby
rabiscava num pequeno caderno. A maneira pela qual ela inclinou
sua cabeça dourada sobre sua tarefa era inteiramente reminiscente
da Duquesa de Read. Com os mesmos cachos e pálidos olhos azuis,
Libby parecia exatamente o retrato da mãe de Constance quando
menina, que estava pendurado em seu quarto de vestir. No entanto,
ninguém nunca falou sobre isso.
― Porquê, senhorita Shaw? ― Lorde Michaels disse.
― Estou fazendo um estudo.
― Ah, entendo ― ele disse pensativo, em seguida, piscou para
Constance. ― Está estudando apenas as cabeças dos homens?
― Mulheres também. ― Libby mergulhou a caneta no tinteiro. ―
Quando estive aqui no Natal, medi todos no castelo e na aldeia. Eu
gostaria de acrescentar suas medidas e do Sr. Sterling aos meus
cálculos.
― Onde está meu primo? ― Lorde Michaels olhou para a porta. ―
Eu poderia fazer uma aposta com ele esta noite e recuperar minhas
perdas.
― Ele não tem talento em jogos de cartas?
― Pelo contrário, ele não tem interesse em jogos em geral ―
disse o Barão. ― Exceto, é claro, a espada. Ele concordou com a
proposta de seu pai, milady?
― Não é do meu conhecimento. ― Provavelmente não. Não
depois do estábulo.
― Lamento muito que ele não tenha aparecido para o jantar – ele
disse, franzindo a testa. ― Muito acostumado a ir e vir como bem
quer, suponho. Mas é um sujeito imprevisível na melhor das
hipóteses. Estive pensando, e me ocorreu que, se meu primo
continuar com sua obstinação absurda, ficaria encantado em lhe
mostrar um ou dois truques de esgrima.
― Também é proficiente com a espada? ― Perguntou Libby.
― Não sou um espadachim tão bom quanto meu primo. Mas
ninguém é. Ainda assim, se Saint não ceder, ficarei feliz em ficar um
pouco mais e compartilhar minhas humildes habilidades com a
senhorita.
― Se não é tão bom, não sei por que ela aceitaria a oferta ― disse
Libby.
― Por cortesia, senhorita Shaw. ― Seu sorriso se alargou e
acrescentou com voz sutil: ― As Ladies não gostam de ferir o
orgulho de um cavalheiro, não é?
― Vou me retirar ― disse o Dr. Shaw, levantando-se. ― Fiz o
parto de gêmeos antes desse amanhecer e estou enfraquecendo
rapidamente. Libby?
Sua filha também se levantou.
― Estou terrivelmente cansada também ― disse Eliza,
abruptamente despertando de um sono sentada. ― Constance,
venha também. ― Ela passou um braço através do de Constance e
saíram.
Diante da torre, Constance a soltou. ― Direi boa noite aqui,
querida.
Eliza agarrou seu cotovelo. ― Irei acompanhá-la ao seu quarto.
― Obrigada. ― Ela empurrou-a para longe. ― Mas eu sei o
caminho.
― A rota que fará exigirá que, acidentalmente, encontre algum de
seus convidados?
― Esqueci meu livro na sala de visitas. Realmente, Eliza. Fala
como se eu pudesse ter me comportado mal em Londres todas as
vezes que me deixou sozinha com homens nos últimos cinco anos.
Por que essa sua preocupação em particular agora?
― Porque ele foi o único que quis em todos esses cinco anos. Ou
melhor, seis.
Constance olhou para ela.
― Eu pensei que tivesse esquecido.
― Moça sem sentido. Como eu poderia esquecer? Constance, não
medirei palavras. Acredito firmemente que estará melhor servida se
ele partir de uma vez. Esperemos que, então, seu pai volte sua
atenção totalmente para suas núpcias iminentes e esqueça seu
último capricho autocrático. Aulas de esgrima, de fato.
― Agora acha que eu deveria me casar com o Duque? Porque é
meu pai que exige isso?
― Claro que não. Mas irmos para a cidade permitirá que considere
outros pretendentes. Se escolher um Cavalheiro adequado, suspeito
que seu pai não negará seus desejos. Agora vá para a cama,
criança.
Ela observou Eliza desaparecer em seu quarto e depois voltou
para a sala vazia. Atravessando-a em direção ao sofá, ela pegou o
livro e ouviu passos atrás dela.
Ele usava os mesmos calções e casaco de antes, agora
encharcado. Eles acentuavam sua estrutura esguia e a largura de
seus ombros, e seu cabelo úmido estava afastado da testa como se
tivesse passado os dedos por ele. Ela queria fazer isso, passar os
dedos pelos cabelos dele. E então por ele todo.
Veio diretamente em sua direção e pensou que pretendia agarrá-
la. Mas ele parou perto dela, cercando-a com o aroma familiar das
chuvas noturnas em Lothians que ela amava.
― Pensei que pretendia partir sem falar comigo ― disse ela.
― Mais cedo, no estábulo, não foi muito bom de sua parte. ―
Refletindo a luz do fogo, seus olhos eram joias. ― Não sou um
objeto para ser usado ao capricho de uma coquete, depois
abandonado tão rapidamente. Sou uma pessoa, com desejos
próprios, e não gosto de ser usado como escravo.
A garganta dela estava apertada. ― Não?
Ele inclinou a cabeça, incerto agora.
― Estava excitado ― disse ela.
― Eu teria que estar morto para ser indiferente. Mas como uma
mulher solteira do seu status deveria saber uma coisa dessas...
― Não venha com isso agora. Não sou mais uma menina fofa para
ser transportada por um olhar de saudade. Meu pai me permitiu uma
liberdade considerável.
Ele não gostou disso; seus olhos recuaram. ― Liberdade?
― Liberdade para aprender o que eu não deveria ― ela terminou
mais calma do que pretendia. Mas sua língua não lhe obedecia por
completo, nem seus lábios que uma vez aprenderam uma intimidade
inocente com a dele.
Ele se afastou dela. ― Perdoe-me, madame, mas não tenho
direito a essas confidências nem interesse por elas.
― E ainda assim começou isso. Deve ter ouvido muita
especulação e fofocas sobre mim.
― Parei de procurar notícias da inestimável Lady Constance Read,
cinco anos atrás, quando fui barrado em sua porta.
Ela descobriu que não podia mais olhar para ele. ― Eu estava de
luto.
― Eu soube a hora exata em que saiu do luto. A uma distância
impaciente, mas respeitosa, eu havia previsto aquele momento por
um ano. Mas gostaria de saber agora, finalmente, se foi por sua
ordem ou de outra que eu não tive permissão para visitá-lo na época.
Seu pai? O marquês?
― Eles nunca souberam. ― A antiga vergonha a dominou.
― Entendo. ― Ele balançou a cabeça lentamente. ― Mas o
passado acabou. Fim. A aventura de hoje, no entanto, é outra
história. Eu não tenho nenhuma queixa com uma mulher que toma
seu prazer onde ela quiser. Na verdade, estou lisonjeado. ― Seus
olhos examinaram seu rosto. ― Mas se pretende abordar um
homem, pergunte primeiro. Ou, pelo menos, dê-lhe algum aviso.
Depois permita-lhe sentir as mãos macias, bem como as garras
afiadas.
― Garras?
Ele inclinou a cabeça, tão perto que ela sentiu o ar se agitar em
sua pele.
― Eu não deveria me importar com os dentes se tivesse oferecido
os lábios também ― ele murmurou. ― Se é para sofrer alguma dor,
gostaria de aproveitar também o prazer.
Ela se afastou dele, e suas bochechas se tornaram fantasmas,
seus olhos pareciam como no estábulo quando ela se assustou.
― O que disse?
Ele esperava uma provocação dela, mais provocação, flerte
descarado, não medo fechado.
Ela o contornou e foi rapidamente em direção à porta. ―
Informarei meu pai que partirá amanhã de manhã.
Observá-la se afastar era sua única e própria mistura de descanso
e tortura.
― Irei ensiná-la. ― Sua garganta se sentiu estrangulada. ― Irei
ensiná-la a lutar com um punhal.
Ela girou ao redor. ― Me ensinará? Apesar das minhas garras?
― Ensinarei. ― Isso foi um erro. Apenas um dia em sua presença
e ele estava novamente se colocando à sua mercê.
― Porque essa mudança?
Porque as lembranças de sua mãe coberta de hematomas nunca o
deixariam. ― Uma mulher, todas as mulheres devem saber se
defenderem.
O alívio surgiu em seus olhos, hesitante, mas sincero o suficiente
para afastar qualquer dúvida.
― Me entende? ― Ela sussurrou.
― Acredito que sim. Mas tenho uma condição.
Ela ficou em silêncio por um momento. ― Suponho que deveria ter
esperado isso, depois do que fiz hoje.
― O que esperava?
Movendo-se novamente para a porta, ela falou sem sentir. ― Se
não é um escravo para ser usado por uma coquete, não sou
prostituta para trocar meu corpo por sua aquiescência. Adeus, Sr.
Sterling.
Bom Deus. O que ela tinha passado?
― Essa é a minha condição ― disse ele.
Ela se virou para ele.
― Estou disposto a ensinar-lhe com a condição de que a Sra.
Josephs, meu primo, ou um servo esteja presente em todos os
momentos.
Seus olhos se arregalaram.
― Um acompanhante? Não é tarde demais para isso? Seis anos
de atraso.
― Eu não posso ficar sozinho contigo ― ele disse.
― Não confia em si mesmo.
― Em mim eu confio. ― Ele foi até ela porque era muito difícil
permanecer à distância. ― É uma mulher imprevisível e complicada,
Constance Read. Mas não preciso entende-la para ensinar o que
deseja aprender.
― Me desarma ― ela disse.
― A partir de amanhã, quero fazer o oposto.
― Um trocadilho agora? ― Seus lábios se curvaram um pouco. ―
Não está realmente com raiva de mim, pelo ocorrido mais cedo, não
é?
― É verdade, eu sou ambivalente. Afinal, foi o melhor momento
que já tive num estábulo.
Suas bochechas estavam rosadas e a luz voltou aos seus olhos.
― Depois do café da manhã ― ele disse ― encontre-me no
corredor.
― O corredor? Mas...
― Aqui está sua primeira lição: uma estudante não faz perguntas
impertinentes ao seu professor.
― Então, tenho certeza de que pretendia que eu dissesse sim,
claro, Mestre Sterling, amanhã, no corredor, depois do café da
manhã. Devo inclinar minha cabeça agora como uma estudante
castigada?
― Sim. ― Ele se permitiu um sorriso. ― Se souber como fazê-lo.
Ela fez uma reverência, pressionou o livro contra o umbigo e foi
até a porta. Lá fez uma pausa. ― Eu quero me tornar invencível,
sabe ― disse ela.
― Será. ― Mesmo que isso o matasse.
Capítulo 8

Serenidade, Vigor e Juízo

Antes do café da manhã, Constance cavalgou com Lorde


Michaels e tentou arrancar dele detalhes de suas visitas a Edimburgo
no outono anterior e na época do Natal.
― O irmão de Saint fez negócios com Loch Irvine. Transporte e
esse tipo de coisa ― ele disse com um aceno vago de sua mão. ―
Pensei em entrar no negócio do Tor.
― Foi capaz de falar com o Duque de Loch Irvine naquela época?
― Oh, bem, ele não estava na cidade, exceto por alguns dias ou
mais. Mas o que acha da última de Sir Walter? Admito que não sabia
o que esperar depois de Ivanhoe. Que livro! Mas essa história sobre
os monges foi incrivelmente boa, não concorda?
Toda a conversa foi frustrante. Quando Libby apareceu em seu
cavalo, Constance abandonou toda a esperança de descobrir algo
útil com o Barão naquele dia. Voltando ao castelo para trocar de
roupa para sua aula, ansiosa para espetar com algo afiado.
Quando chegou ao corredor, soube que deveria estar louca por ter
desejado isso. Apenas olhando para ele do outro lado do corredor,
com braços cruzados, encostado na porta oposta, inteiramente no
comando de si mesmo, ficou maravilhada por ter ousado tocá-lo no
dia anterior. Não é de admirar que ela tivesse perdido a cabeça.
― Bom dia? ― Ele fez uma demonstração de olhar sobre o
corredor vazio.
― Sra. Josephs...
― Cheguei! ― Eliza anunciou enquanto entrava, com a bolsa de
bordar na mão. ― Não posso concordar com este programa. Mas
como está determinada a isso, fico feliz que pelo menos alguém ―-
ela olhou incisivamente para Saint ― parece ter o juízo no lugar.
Ele se afastou da parede e se aproximou. ― Obrigado por nos
conceder o seu tempo, Sra. Josephs.
― Como se eu tivesse alguma escolha. ― Com um crepitar de
saias engomadas, ela se sentou em uma cadeira encostada na
parede, embaixo de um suporte com machados cruzados.
Constance se aventurou mais na sala. ― Minha acompanhante
não quer que eu aprenda a ameaçá-la com uma arma a curta
distância.
― Depois do meu quase encontro com uma lâmina na sua mão
ontem ― disse ele ― acho que não a culpo.
― Bom dia. ― Libby estava parada à porta, com o cabelo preso
num coque simples. ― O que estão fazendo?
― Constance está se instruindo na esgrima com o Sr. Sterling.
Sente-se aqui ao meu lado, criança.
Libby obedeceu.
― Pensei que era totalmente contra isso, Sr. Sterling. Lorde
Michaels até se ofereceu para ensinar Constance em seu lugar.
— O Sr. Sterling cedeu. ― Constance se obrigou a caminhar até
ele. ― Insistiu que nos encontrássemos aqui para que eu ficasse
impressionada com esse arsenal de armas?
― Estamos aqui porque deve escolher sua espada.
Espada? ― Mas...
― Eu particularmente não gosto do seu pai ― ele disse baixinho
para ela. ― Mas ele me contratou para ensiná-la a se defender.
― Ele não saberá se não lhe disser.
― Mas eu saberei. ― Ele permitiu que se sentasse por um
momento. ― Depois de ter aprendido os fundamentos da esgrima,
se ainda desejar aprender o uso de uma adaga, vou instruí-la antes
de partir.
Ela olhou para as paredes. ― Eu não deveria aprender primeiro
com uma espada de madeira? Para praticar?
― Não há necessidade de brinquedos quando estamos ansiosos e
com pressa. Vou neutralizar as pontas, em todo caso. Qual destas
será?
― Entre todas elas?
― O sabre é um instrumento de corte e impulso. Vamos deixar de
lado por enquanto...
— Como não tem planos de esgrimir a cavalo.
— Ou de se juntar ao exército, provavelmente. A menos que isso
seja de fato o seu objetivo final?
― Não no momento. Nunca se sabe, no entanto. ― Sentiu-se
ridiculamente animada. Mas, falar com ele assim sempre a fez sentir
essa leveza por dentro.
― Escolha entre as espadas com lâminas retas e punhos como
esta. ― Ele tocou uma espada presa à parede. ― Esta é uma
espada pequena.
― Uma arma de cavalheiro?
― Sim ― ele disse com um leve sorriso. ― Eu não tenho a
experiência para ensinar-lhe com a Claymore das Highlanders, e
francamente não tem tamanho para aguentar como o peso disso.
― Realmente?
Seu olhar examinou lentamente o corpo dela e ela sentiu rubor dos
dedos dos pés até os dentes.
― Talvez uma espada longa ― ele disse, definitivamente com a
voz rouca.
Do outro lado da sala, Eliza limpou a garganta.
― Eu quis dizer: não tem experiência com uma Claymore? ―
Constance conseguiu dizer.
― Um homem não pode ser um especialista em tudo.
― Disse sem sinceridade alguma. Sabe como empunhar uma
Claymore.
― Um pouco. ― Seu olhar mergulhou em seus lábios. ― Mas não
há nada na terra que me motive a colocar uma arma de um poder
contundente em suas mãos.
Eliza limpou a garganta mais alto. ― Eu tenho olhos, senhor.
― Olhos que parecem empunhar uma adaga soberbamente ―
disse ele a Constance, com um sorriso.
― E ouvidos ― Eliza gritou.
― O que está costurando, Sra. Josephs? ― Ele chamou do outro
lado da sala. ― Algemas adequadas para os pulsos de um homem,
talvez?
― Se o homem merecer.
Ele riu. ― Sua acompanhante não tem ideia de que eu não sou a
parte com a qual ela deveria se preocupar aqui, tem?
A garganta de Constance estava seca.
― Não está sendo um cavalheiro.
― Eu não me lembro de ter alegado ser. Mas, também não é uma
dama, é?
― Pensei que nós tivéssemos resolvido isso ontem à noite.
― Ainda estou ouvindo! ― Eliza gritou.
― Eu também ― disse Libby com uma careta. ― Mas eu não
entendo metade do que está dizendo. É como se estivessem falando
em código. O senhor e Constance são espiões, Sr. Sterling?
― Eu não sou, senhorita Shaw, mas não posso falar por Lady
Constance. ― Seu olhar permaneceu firme no dela. ― Nós
resolvemos isso ― disse ele com sua voz quente como o conhaque.
― Mas gosto de vê-la corar.
― Ai do senhor, no dia em que eu assimilar sua instrução e usar
minha nova habilidade para silenciar sua língua.
Foi a coisa errada a dizer. A diversão em seus olhos tornou-se,
num instante, calor. E o desejo nela respondeu.
― Não tem espadas que costume usar para ensinar? ― Ela disse
numa voz de balido de um cordeiro novo.
― Tenho. Mas como não é uma estudante típica, estou permitindo-
lhe essa escolha.
― Está me tratando como uma excêntrica?
― Como a filha de um Duque, solteira, de vinte e quatro anos que
está aprendendo esgrima? Claro que não. ― Ele gesticulou para as
paredes cobertas de armas. ― As comprou. Então escolha.
Ela escolheu sua favorita, uma lâmina esbelta com um punho feito
de ouro e prata e com asas desenhadas a cada lado.
― Escolha sábia. ― Ele a tirou da parede e deu-lhe. Era muito
mais pesada do que esperava, mas o cabo estava confortável na sua
palma.
― Aperte com firmeza o cabo entre o polegar e o indicador ― ele
disse.
― Isso foi um teste, não foi? ― Ela observou seu rosto enquanto
ajustava os dedos. ― Queria ver se eu escolheria uma espada
adequada para mim.
― Sim, foi.
― Eu passei?
― Escolheu uma épée, favorecida pelos franceses. É a arma de
um homem. ― Ele gesticulou para outra espada. ― É mais pesada
que o florete, que é mais apropriado para uma mulher empunhar.
― Está dizendo que eu não posso manejar esta espada?
― Não. Tem altura, força e quer lutar. É incomum para ser uma
mulher.
― O desejo de lutar não é incomum para uma mulher.
― O desejo de usar seu corpo de forma agressiva, no entanto, é.
― Ele sorriu levemente, em particular.
Dentro dela, algo mudou, apertou, e caiu sobre si mesmo em uma
confusão. Como ele podia fazer isso, ser tão direto, provocar e ainda
não fazer nenhum jogo, ela não entendia. Nunca conhecera um
homem que não guardasse segredos ou fingisse ser o que não era.
E nunca havia caído no sorriso de qualquer outro homem.
― Ensine-me ― disse ela, e, para ser honesta, mal sabia se falava
sobre esgrimir.

O costume habitual de Eliza, todos os dias após o café da manhã,


era cochilar na sala de estar. Este cochilo diário não exigia uma
cadeira; o banco almofadado na borda do salão de baile para o qual
todos haviam ido, também parecia se adequar a ela. Uma hora
depois do começo da aula de Constance, roncos suaves soaram
pelo ar, misturando-se ao som das gotas de chuva nas janelas. Libby
havia saído há muito tempo em busca do Dr. Shaw e de Lorde
Michaels, e Constance não vira o pai desde o jantar da noite anterior.
Estavam sozinhos.
Ele não disse nada desta falha em sua condição para ensiná-la.
Seu foco parecia inteiramente em instruí-la a ficar de pé, segurar sua
espada e estender seu braço de modo que a ponta de batesse num
manequim de madeira acolchoado que ele manejava. Seu foco
poderia estar nessas coisas também, se ela não estivesse distraída
pela força evidente de cada movimento que ele fazia.
― Admito que isso é mais difícil do que eu esperava. E cansativo
― ela disse depois de algum tempo praticando a simples extensão
do braço que ele demonstrara com tanta facilidade e errando o alvo
no manequim quase todas as vezes. Cada vez que ele agarrava sua
lâmina para reajustar sua posição, fazia seus nervos tremerem.
― Se fosse fácil, todos fariam ― disse ele.
― Vai me insultar ainda mais?
― Gostaria disso?
― Excessivamente.
― Então não vou.
― É despreocupado.
― E você está deixando o braço e a mão desprotegidos para
atacar. Ao lutar com uma adaga ou faca, qualquer região vital pode
ser o alvo. Mas neste caso seu oponente procurará primeiro
desabilitar o braço da espada. ― Ele se moveu para encará-la,
mudando a espada para sua mão esquerda. ― Olhe para o ângulo
da minha lâmina en garde, a posição da minha mão e braço é como
se guardasse e protegesse da sua lâmina. Estude-os.
Homens imploraram para que ela olhasse em seus olhos enquanto
eles declaravam sua devoção. Eles pediram-lhe para admirar seus
cavalos, phaetons, cachorros, propriedades e ocasionalmente até
seus desenhos e pinturas. Nenhum homem disse-lhe para estudar
seu corpo.
― Tem uma imagem base agora? ― Ele disse.
Ela só podia assentir.
― Certo, imagine que está diante de um espelho e que sou seu
reflexo. Siga meus movimentos. ― Ele estendeu o braço da espada
e ela o imitou.
Sua lâmina rebateu de volta no lugar.
― Não estava certo?
― Não. Novamente.
Seus dedos e pulso doiam. Ela repetiu movimento. Mais uma vez
ele reajustou a posição dela com a lâmina, depois a mão.
― De novo.
Vê-lo tão de perto e ignorante do que provocava dentro dela fez
sua língua afiada.
― Se move muito rápido.
― Isso não é rápido.
― É para mim.
O ronco de Eliza explodiu, depois voltou a um padrão regular.
― A calma de um espadachim é seu maior trunfo ― disse ele. ―
Raiva, frustração, até mesmo medo, a farão desajeitada, apressada
e descuidada. Qualquer que seja a habilidade do seu oponente, se
enfrentar o ataque dele com calma, vigor e julgamento, é mais
provável que o vença.
Ela puxou uma longa respiração entre os dentes.
― Manterei isso em mente.
― Imite meus movimentos. Imagine-se quando era criança e
brincava o jogo do espelho com outras crianças.
― Eu nunca joguei um jogo de espelho com outras crianças.
― Não?
― Não.
― Ah ― ele disse. ― Seus pais a imaginaram era boa demais
para os moleques locais.
― Minha mãe não gostava de outras pessoas em nossa casa. Ela
era... doente.
―― Seus primos, então?
― Eles viviam à distância.
Ele pareceu considerar suas próximas palavras.
― Seu ex-prometido? Ambos? Me disse uma vez que passou
todas as férias da sua infância em sua propriedade.
― Eles não brincavam comigo. Eles fugiam de mim. ― Ela tentou
sorrir, mas falhou. ― Eu não estava noiva do marquês da época.
Ele ainda insistiu. ― Nunca?
Ela balançou a cabeça.
― E não teve companhias quando criança?
― Eu tive meu cavalo. Agora podemos continuar com a lição?
Ele não disse nada, e depois de um momento:
― Observe e faça o que eu faço. ― Ele trocou a lâmina para a
mão direita.
― Agora mesmo ― ela disse ― usou sua mão esquerda tão
facilmente quanto sua direita. É ambidestro?
― Não, naturalmente. Meu mestre insistiu que eu me tornasse
proficiente com a mão esquerda e com a direita.
― Como?
― Ele me instruiu a usar apenas a esquerda sempre, esgrimindo,
comendo, escrevendo. Cada vez que eu acidentalmente favorecia a
direita, ele me acertava com uma vara feita de cana de açúcar.
― Motivação, de fato. Quanto tempo antes de se tornar proficiente
o suficiente com a mão esquerda para que ele parasse com a
punição?
― Trezentos e cinquenta e um dias.
O desejo de agarrar sua mão direita e pressionar os lábios nela
era muito forte. ― Isso é bárbaro ― disse ela.
― Pelo contrário, civilizado. Nasci filho de um comerciante de
pouco caráter e bolsos vazios. Meu mestre queria fazer de mim um
cavalheiro. Me disse para aprender a usar a mão esquerda, bem
como a direita para o caso de eu perder o uso da minha mão direita.
Então estabeleci para mim mesmo o objetivo de um ano. Considerei
esses catorze dias antes de um ano como uma vitória. ― Ele pegou
a espada na mão esquerda e manejou um rápido corte de ar. ― Eu
ainda sou mais preciso com a mão direita, e mais rápido. Mas meu
mestre era sábio. Era consciente de que um homem só é fraco
quando se permite estar despreparado
― Invencível ― ela disse. ― Parece ter aprendido bem essa lição.
― Bem o suficiente. Terminamos por hoje. ― Ele retirou a espada
da mão dela.
― Vai desaparecer agora como fez ontem, para não ser visto
novamente até à meia-noite?
― Ontem eu tive bons motivos para desaparecer. ― Seu olhar
parecia beber seus traços um a um. ― Mesmo se eu fizesse o
mesmo hoje, isso não deveria lhe importar.
― Como anfitriã do meu pai, é meu dever cuidar do conforto de
seus hóspedes.
― Não sou um convidado. Sou um servo nesta casa, pago de
acordo com os meus serviços aos desejos do seu pai. Além dessa
espada, não temos mais nada a dizer um ao outro agora, tanto
quanto não tivemos há seis anos atrás, se eu soubesse disso.
― Suas palavras dizem uma coisa e tudo mais em você diz outra.
Num momento é o mestre e no próximo está... mais perto de mim do
que deveria, olhando para a minha boca como se pretendesse me
beijar.
― Na competição por inconsistência, tenho aqui uma concorrente
digna. Num momento é a mulher de ontem naquele estábulo, e no
momento seguinte a moça que ainda não tinha sido beijada ― ele
disse asperamente. ― Eu mal sei o que fazer contigo.
― Talvez não precise fazer nada comigo. Talvez seja uma tarefa
impossível.
― O que quer, Constance?
Ela queria estender a mão e acariciar a cicatriz que roçava sua
bochecha, senti-la sob as pontas dos dedos e saber como ele a
recebera. Ela queria senti-lo.
― Eu quero um marido ― disse ela.
Capítulo 9

Os Termos Mudam

A chuva nas vidraças, os roncos de Eliza e as respirações


cortadas de Constance encheram o silêncio.
― Devo me casar dentro de um mês ― ela disse. ― É imperativo.
Ele estudou seus olhos, em seguida, suas bochechas e
novamente os lábios, a leitura ao mesmo tempo íntima e indagadora.
― E me diz isso agora ― ele disse lentamente ― de modo que
vou te ensinar como forçar uma oferta do seu pretendente escolhido,
na ponta do punhal?
Um sorriso puxou seus lábios. ― Imagina que eu não poderia
garantir um noivo de outra forma?
― Acho que isso depende inteiramente do homem que tem em
mente.
― Ah. Aqui estão. ― A voz do seu pai veio da porta. ― Afinal,
aceitou minha oferta, Sr. Sterling. Minha filha é persuasiva, não é?
Saint se afastou dela. ― Ela é...
― Josephs? ― O pai dela disse.
Os olhos de Eliza se abriram como os de um pássaro,
abruptamente alertas. ― Sua Graça?
― O Duque de Loch Irvine enviou notícias de que está na
residência em Edimburgo. Vamos antecipar a nossa partida numa
semana.
― Bom céu. ― Eliza foi até ele em passos rápidos. ― Espera
milagres de mim!
— Não consigo entender, madame, como preparar minha filha
para o casamento deveria lhe causar aflição, quando essa tem sido
sua única tarefa nos últimos cinco anos.
O olhar de Constance disparou para Saint. Ele estava olhando
para o pai dela, o rosto impassível.
― Há vestidos para serem costurados e arranjos a serem feitos ―
Eliza disse ― e...
― Faça isso. Vamos partir em uma semana. Sr. Sterling, vai
acompanhar-nos até à cidade, e Lorde Michaels também, assim
espero. ― Sem esperar uma resposta, ele desapareceu pela porta.
― Sua Graça. ― Eliza correu atrás dele. ― Deve entender que
simplesmente não é suficiente... ― Suas palavras foram perdidas
nas escadas.
Saint se mudou para a prateleira de espadas. Sua postura era leve
agora, a tensão desapareceu, apenas a espera, a graça vigilante em
seus membros e ombros que fazia sua respiração parecer vir de
algum lugar da sola de seus pés.
― Que tipo de desportista é o Duque de Loch Irvine? ― Ele disse.
― Eu não sei. Por que pergunta?
― Um Duque deve estar suficientemente ocupado com as
preocupações de suas propriedades, que deve ter pouco tempo livre
para diversão ― ele disse ao se aproximar dela novamente. ― Ou
talvez um homem assim tenha tantos lacaios para fazer o seu
trabalho que seus dias estejam de fato cheios de divertimentos.
― O que está dizendo?
Ele tocou o queixo dela com as pontas dos dedos e todo o ar
acumulado em seus pulmões esvaiu-se. ― Parece que já tem o
marido que quer. ― Ele falou baixinho e não de forma firme.
― Ainda não ― ela sussurrou.
― Talvez depois de se casarem, ele possa tratar de sua formação
em espadas e adagas. Então eu poderia estar livre para partir.
― Não quer partir. Se quisesse, já teria ido. O que te prende aqui?
Ele olhou-a nos olhos como se os pensamentos dela estivessem
escritos sobre a íris e entremeados em seus cílios.
― Não gosto deste jogo que faz.
― Não faço nenhum jogo. Eu te disse a verdade. Gostaria de
aprender como empunhar uma adaga.
Um vinco apareceu entre suas sobrancelhas. ― Para usar contra
Loch Irvine?
― Se necessário.
Seu polegar acariciou sua mandíbula e o calor de pleno verão
perpassou por ela.
― Poderia recusar sua oferta ― disse ele. ― Seria mais simples
do que esfaqueá-lo durante a noite.
Ele a soltou, passou a mão pela nuca e olhou em volta do salão de
baile. ― Onde está essa maldita acompanhante?
― Estamos sozinhos. E me tocou. Quebrou sua própria regra.
― Notei isso.
― Vacila tão facilmente de suas convicções, então?
― Parece que sim, quando na presença de seus lábios.
Ela não pôde deixar de sorrir. ― Só meus lábios?
― O resto também. Mas os lábios são o maior desafio neste
momento.
― Devo usar um véu sobre a metade inferior do meu rosto como
as mulheres do Oriente?
― Isso provavelmente ajudaria. ― Seus olhos eram misticamente
brilhantes. ― Permanecerei aqui. Irei na sua festa em Edimburgo
com meu primo. Te ensinarei. Mas minhas condições mudaram.
― Mudaram? Como?
Sua mão grande rodeou a parte de trás do pescoço dela, os dedos
se espalhando em seus cabelos e forçando seu rosto a virar para
cima. Seus lábios estavam a um sopro de distância.
― Se me provocar, se flertar, se chegar muito perto ou me tocar ―
ele disse, o calor de suas palavras infiltrando em sua pele ― vou
pegar o que quero.
― O que quer? ― Ela disse com pouco fôlego.
― Quero seus lábios. E também todo o resto, embaixo de mim, me
acolhendo. ― Os dedos dele acariciaram sua nuca, liberando uma
lembrança quente dentro dela. ― E desta vez não hesitarei em pegá-
lo.
― Não vai hesitará?
― Nem por um momento. Mas saiba disso: Aconteça o que
acontecer antes de que se case, no momento em que disser seus
votos, irei embora. Nunca mais me verá.
Nunca.
― Estamos claros sobre essas condições? ― Ele disse.
― Sim.
Sua mão caiu, mas ele não se afastou.
― Amanhã ― ele disse ― venha preparada para lutar. Vou
prepará-la para esfaquear seu marido no coração em sua noite de
núpcias, se desejar. ― Com formalidade exagerada, ele fez uma
reverência. ― Bom dia.
Ela o observou sair, seu coração e estômago numa confusão de
prazer e dor.

A cada manhã a encontrava no salão de baile, sempre


acompanhados por Lorde Michaels, às vezes Libby e Dr. Shaw, e
muitas vezes Eliza, e ensinou-lhe o uso da espada.
De seu lugar ao lado da sala, o Barão gritava encorajamentos e
alegres elogios. Mas apenas as palavras de seu mestre de esgrima
eram instruções para ela: a mão deve se mover nessa direção, os
pés naquela, a ponta da lâmina para lá, os quadris inclinados assim,
o cotovelo ali, os olhos fixos não apenas em seu alvo, mas em todos
os lugares de uma só vez. Às vezes ele permanecia à distância
enquanto executava as intermináveis repetições que ele exigia,
corrigindo-a com frequência, e observando-a cuidadosamente com
aquele olhar que parecia ver sob sua pele. Quando a tocava, para
corrigir sua mão ou lâmina, era rápido e mecânico.
Ele vestia um casaco acolchoado e máscara e, ensinou-lhe como
manobrar em torno de sua lâmina para acertá-lo. Ficou parado para
essas demonstrações, como o manequim de treino de madeira,
exceto por sua espada, que ela tentou derrubar de novo e de novo
sem qualquer sucesso. E ainda era um desafio conectar a ponta da
espada ao corpo dele.
― Concentre-se ― ele disse novamente. ― Perdeu seu foco.
Seu foco estava na proximidade dele, no delineado forte de sua
mandíbula e na inflexível posição de sua boca.
― Esgrima é uma conversa de espadas ― disse ele. ― Sua
atenção não se desvia no meio da tagarelice na mesa de chá. Não
deve desviar aqui.
Se defendeu sem responder. Queria provocá-lo. Flertar com ele.
Queria especialmente rir com ele. A risada com ele sempre foi tão
natural quanto respirar. Mas sua ameaça selou seus lábios.
Todos os dias depois das aulas, ele desaparecia do castelo. Com
óbvia afeição, Lorde Michaels disse que desde a guerra seu primo
preferia a solidão.
― Muitos alojamentos apertados em tendas lamacentas, ouso
dizer ― comentou o Barão com uma risada que fez Libby franzir a
testa, o Dr. Shaw assentir e Constance perder o apetite. Quando
conheceu Saint, ele contou como os simples aromas da civilização,
velas de cera de abelha, água fresca e seu perfume, eram como o
céu.
À noite, com todos os músculos exaustos, caiu de costas na cama,
passou as mãos pelo corpo dolorido e tentou não pensar nele.
Pensar nele fez-lhe doer em lugares onde não deveria. Seis anos
não mudaram nada. Ele ainda era proibido para ela. Só que agora
fora por sua própria escolha.
Capítulo 10

A Sombrinha Rosa

A casa do Duque de Read, em Edimburgo, cheirava a tinta fresca,


verniz de madeira e buquês de flores de primavera que adornavam
as mesas por toda parte. Elegante e classicamente austera no
exterior, comandava uma posição invejável no centro de uma fileira
de casas empoleiradas na longa cordilheira do outro lado do vale, a
partir da cidade medieval. Com uma decoração magnífica e recém-
reformada às pressas, a casa mostrava riqueza, luxo e uma pitada
do estilo londrino.
Seu pai odiava isso. Ao entrar, ele deu uma rápida olhada nas
renovações e imediatamente foi para o clube. Miserável em todos os
ossos e músculos de uma semana de aulas exigentes seguidas de
horas na carruagem, Constance jantou em seu quarto e adormeceu.
Quando entrou na sala de jantar na manhã seguinte, Dr. Shaw a
cumprimentou.
― Que melhoria notável fez nessa casa desde o seu retorno à
Escócia, Constance — ele disse enquanto tomava uma xícara de
chá.
― Obrigada. ― Ela tomou um gole, incapaz de se sentar ou
comer. Logo recomeçaria sua investigação sobre os
desaparecimentos de Cassandra Finn e Maggie Poultney. Saberia as
fofocas mais ávidas de Edimburgo, falaria com o inspetor de polícia
que liderava a investigação e aguardaria seu encontro com o Duque
de Loch Irvine.
Mas a verdadeira causa de seu estômago retorcido aparecia agora
na porta da sala de jantar tão confortavelmente como se tivesse
nascido na casa de um duque, observando-a com um ar predatório.
Uma sombrinha de renda rosa estava apoiada contra seu ombro
largo.
― Não deve se importar que seu pai não goste do lugar, criança ―
disse Eliza. ― As lembranças dele são todas de sua mãe. Como
você, ela era linda demais. Os homens não gostam de serem
afastados das mulheres bonitas.
― É verdade, Sra. Josephs ― disse Saint, seu olhar nunca
deixando Constance. ― Vejo que o horário da cidade a deixou
indolente, milady. Já passou da hora de começar sua aula de hoje.
Me afastará esta manhã e evitar a instrução em favor das tentações
da cidade?
― E aumentar a ira do meu mestre? ― Ela disse. ― Certamente
que não. ― E foi até a porta.
Ele se afastou apenas o suficiente para que ela passasse e disse
baixinho:
― Não é a minha ira que desperta todos os dias.
Ela ignorou o calor que banhava seu rosto. Não havia nada a ser
feito sobre isso. Ninguém nunca havia falado com ela assim, tão
francamente, tão claramente expressando seu desejo por ela.
Homens flertavam, cortejavam, pediam danças, passeavam no
parque. Escoltavam-na em piqueniques, bailes, festas de jantares,
até para as corridas. Elogiavam seus olhos, seus vestidos, seu
cavalo, suas festas, sua habilidade ao piano. Escreviam-lhe poesia,
enviavam presentes, lisonjeavam Eliza na esperança de ganhar uma
aliada, ajoelhavam-se com ofertas de casamento e prometiam sua
imortal adoração.
Só este homem lhe disse diretamente e honestamente que a
desejava. Tinha dito isso desde o começo, dando um nome à
intensidade do calor e do desejo que sentira quando olhou para ele
de seu lugar escondida no salão de baile em Fellsbourne. Ele falara
com ela, a beijara, congratulou-se com a devassa que existia nela.
Então lhe mostrou como um homem movido pelo desejo não precisa
ser controlado por ele.
Agora a seguia através do seu lar e para os fundos da casa.
― Por que o salão de baile desta casa é mais espaçoso que o do
castelo?
― Esta casa foi construída para entretenimento. ― Ela parou na
porta do salão de baile. A extensão do piso de carvalho brilhava pelo
polimento e as janelas altas de um lado lançavam a luz da manhã de
primavera sobre as paredes brancas. ― O salão de baile no castelo
foi uma reflexão tardia.
― Os Lairds medievais preferiam a cota de malha às calças de
seda no joelho?
Ela se virou para ele.
― E espadas como cartões de dança. Como você, suponho.
― Não me viu dançar. ― Em seus olhos havia um simples prazer
que ela não via há uma semana. Criou também um paraíso de prazer
dentro dela.
― Em todas os bailes que ambos participamos ― ela murmurou.
― Sentiu a minha falta nesses bailes? Cada vez que um sujeito
barrigudo de colarinho até as orelhas pedia a sua mão para a
quadrilha, você suspirava e pensava: Como eu gostaria que aquele
soldado bonito me procurasse agora, em vez deste janota
desinteressante. Me pergunto onde estará esse soldado? Gostaria
de saber se algum dia terei a oportunidade de dançar com ele afinal?
― Sim. ― Sim. ― Em cada baile.
Seu sorriso era lento.
Ela olhou para a sombrinha. ― Pretende dar um passeio? Não
tenho certeza de que esse tom especial de renda combine com seu
colete. Mas não suponho que alguém aqui se importe, especialmente
se evitar passeios mais elegantes.
Do punho da sombrinha, ele desembainhou uma lâmina fina e
reluzente.
― Esta é uma espada camuflada. ― Lentamente, ele deslizou de
volta para o cabo da sombrinha. ― Ela se prende aqui e exige
apenas a depressão simultânea da ponta do indicador e do polegar
para libertá-la. Tome cuidado ao fazer isso. Como uma espada
pequena, é uma arma impulsionadora, mas a lâmina não é cega. ―
Ele demonstrou a libertação e depois a presilha que a segurava no
lugar dentro do cabo.
― Acredito que nunca me senti tão tonta vendo um homem
empunhar uma sombrinha.
Um sorriso pairou sobre seus lábios perfeitos. ― Já viu um homem
empunhando alguma sombrinha?
― Se vi, isso apagou todas as outras lembranças.
― Aduladora. ― Ele ofereceu a sombrinha a ela. ― Isso foi flerte,
e proposital. Sabe mesmo o está fazendo?
― Eu exibi grande disciplina por muitos dias. ― Ela pegou a
sombrinha em suas mãos e colocou os dedos no fecho. ― No
momento, no entanto, sou tomada de admiração por esse dispositivo
notável. E o seu abrupto alto astral me distraiu. Minha vigilância caiu.
― Maus hábitos custam a morrer, não é?
― É o único homem que conheço que considera o flerte suave um
mau hábito. ― Ela explorou o mecanismo de fixação. Era quase
indiscernível. ― Esta é a minha sombrinha ― ela disse com
surpresa. ― Eliza deu-me de aniversário no ano passado.
― Pedi a ela.
― Por que nenhum dos dois me disse?
― Nunca fiz uma espada de uma sombrinha. Não sabia se
conseguiria fazê-la com sucesso.
― Parece que teve um sucesso esplendido.
― Tive ajuda. Um ferreiro da cidade velha.
― Me pergunto o que ele pensou por querer uma coisa dessas?
― Não perguntou. ― Ele cruzou os braços. ― Mas não me lembro
dele tentar perguntar enquanto eu esgrimia com ela.
Ela apertou o polegar e o indicador juntos em ambos os lados, e a
lâmina se soltou silenciosamente. ― Isso é realmente maravilhoso.
Ele estava olhando para ela, seu rosto e suas mãos.
― Segure-a da mesma forma que lhe mostrei de como segurar a
adaga, com o polegar em direção à lâmina. Mas talvez os eventos
seguintes apagaram esse detalhe daquele dia da sua memória.
― Quer me deixar desconfortável, não é?
― Quero inspirá-la.
Sua língua ficou abruptamente seca. ― No castelo ficou
indiferente a semana toda.
― Os boatos debaixo das escadas dizem que seu pretendente
ducal logo fará sua entrada. O tempo para a oportunidade diminui.
Ela virou os olhos para ele. ― Flertei com você apenas momentos
atrás. Eu quebrei sua regra.
Ele inclinou a cabeça e disse no ouvido dela. ― Não percebeu que
estava fazendo isso. Não conta.
Ela riu e se sentiu cheia de estrelas. ― Então, preciso flertar,
provocar ou tocá-lo intencionalmente?
― Eu conto com isto. ― Ele gesticulou para o salão de baile.
Ela foi, mas seus nervos estavam tensos. Se o tocasse, ele a
beijaria. Ele envolveria suas grandes mãos ao redor de seus quadris
novamente, a puxaria para perto, e a beijaria.
Ele estava olhando para as mãos dela. ― Alguma vez empunhou
uma adaga escocesa?
― Nunca. ― Ela afrouxou os punhos. ― Comprei várias. Meu pai
as colocou nas paredes.
― Eu as vi. Usar uma lâmina desse comprimento exige manobras
semelhantes a uma espada pequena, mas, como em uma adaga, a
mão não é protegida por um guarda mão, portanto, o engajamento
prolongado é imprudente, especialmente para uma novata. ―
Estendeu a mão e ela passou a lâmina para ele. Devolveu-a ao cabo
da sombrinha e a colocou no chão. ― Por enquanto, vamos colocar
isso de lado.
― Mas...
― E continuar com a espada até que tenha aperfeiçoado suas
defesas.
― Quando poderá ser isso?
― A qualquer momento antes de se casar, milady. ― Sua voz era
firme, mas baixa.
― Me insulta com o que não posso ter. ― Ela acenou para a
sombrinha.
― A inversão é um jogo justo. ― Ele pareceu respirar profundo e
espiou por cima do ombro dela. ― Agora, onde está a sua
acompanhante?
― Eu estou aqui! ― Lorde Michaels falou quando entrou
apressado, café em uma mão e muffins na outra. ― A senhorita
Shaw se juntará a nós em breve. Está determinada a me encantar
com seu último exame do cérebro humano. Parece que nós,
homens, temos cérebros menores do que as mulheres, lady
Constance. Não é muita surpresa, é? A exigência de meu primo de
que eu me sente aqui todos os dias é prova disso.
― Ele deseja proteger a minha virtude ― ela disse tão
primorosamente que Saint quase riu. Mas havia alguma preocupação
em seu rosto que ele não gostou.
― Ao me definir como cão de guarda? ― Dylan deu uma risada.
― Porque, se estivesse conosco a noite...
― Passaremos outro dia praticando defesa. ― Saint se moveu
para a prateleira de espadas. ― Depois disso te ensinarei um ataque
à virilha.
― Veja, milorde ― ela disse, virando com um sorriso dissimulado
para o primo dele ― ele pretende fazer de mim uma verdadeira
ameaça para a população masculina da Escócia.
― Inglaterra e País de Gales também.
Dylan revirou os olhos. ― Porque uma mulher não pode se
satisfazer apenas com as pobres e inocentes vítimas de sua beleza,
nunca entenderei.
― Espadas nunca desaparecem, Lorde Michaels. Eu acredito que
o Sr. Sterling o interrompeu um momento atrás. Diga-me sobre
aquela noite...
― Bom dia a todos. ― Libby entrou na sala com seu caderno de
esboços.
― Bom dia, senhorita Shaw ― exclamou o Barão. ― Estou
ansioso por ouvir sobre a inferioridade do cérebro masculino. ― Ele
piscou para Constance.
Ela pegou sua espada. ― En garde, oh. ― Ela se endireitou. ―
Rasguei minha bainha novamente. ― Puxou sua saia pelo joelho e
uma parte dela caiu sobre o pé. ― Esta é a terceira. Passarei
através dos vestidos antes que esteja perfeita em defesa.
Ele colocou a ponta da lâmina no chão. ― Isso é uma desculpa
para fugir da sua lição?
― Não tenho o menor desejo de me esquivar das lições. Elas são
a minha parte favorita do dia.
Por um momento ele não conseguiu dizer nada. ― Dou-lhe licença
para sair e mudar seu vestido agora.
― Muito da manhã está avançada, e tenho compromissos para
mais tarde. Hoje treinarei em musselina rasgada e amanhã
procurarei uma solução para não pisar em minhas bainhas. ― Ela
ofereceu-lhe um sorriso com os olhos. ― Não sou derrotada tão
facilmente, Sr. Sterling.
Porque tinha que dizer, ele falou. ― Nem eu, milady.
Capítulo 11

O Ludibriado

Lady justiça
Brittle & Sons, Tipografia– Londres
Queridíssima Lady,

Deixarei a minha situação bem clara para a milady: perdi meus


amigos. Cada um deles, um de cada vez, caíram na armadilha
sufocante do casamento, e lamento por eles, assim como por
minha perda. Pois o casamento, como uma dama de
Independência violenta, deve concordar, é apenas uma prisão
para subjugar o corpo e a vontade aos caprichos do outro. Ai
dos iludidos cuja prometida no noivado é toda encantamento,
riso e generosidade de espírito, mas que após os votos
trocados revela-se caprichosa, vaidosa e ávida por atenção.
Nós sabemos, é claro, que isso é mais comum do que parece.

Com grande respeito


Peregrino,
Secretário do Clube Falcão

Para Peregrino, à solta:


Perdeu seus sentidos, mesmo os poucos que possuía
anteriormente. Dito isso, finalmente encontro-me de
acordo contigo em um assunto: o casamento é uma
prisão. Mas não para os homens. A lei não vincula
os maridos, mas sim, as esposas. Até mesmo os votos
sagrados instruem uma mulher a amar, estimar e
obedecer, enquanto um homem deve apenas amar e
cuidar. Porque uma esposa deve prometer obedecer
quando o marido não promete o mesmo?

Portanto, como sempre, não estou impressionada


com sua aflição.

—Lady Justiça
Capítulo 12

Quebradas As Regras

No dia seguinte, Constance acordou de madrugada, vestiu-se em


silêncio e foi até o salão de baile. De acordo com o Sr. Viking
dissera, o lacaio que veio com eles do castelo e conhecia os
assuntos de todos, Saint treinava todos os dias no salão de baile e lá
permanecia até a aula. Esta manhã, ela tinha bons motivos para
encontrá-lo muito cedo e não alertar Eliza ou Lorde Michaels.
No térreo, podia ouvir o tilintar de panelas e o barulho de
conversas sussurradas na cozinha inferior, onde os criados já
estavam trabalhando. Hoje instruiria Cook a assar bolos de sementes
de papoula, os favoritos das Ladies que havia visitado na tarde de
ontem e que esperava, retribuíssem a visita em breve. Nenhuma
delas havia falado abertamente sobre o desaparecimento das duas
jovens. Mas quando a notícia da chegada do Duque de Loch Irvine a
Edimburgo entrara na conversa, formigaram os olhares de relance.
Ela havia navegado nas correntes traiçoeiras das fofocas de Londres
durante cinco anos, aprendendo identificar pequenas informações
que ajudavam seus colegas do Clube do Falcão a resolver mistérios.
Alguém em Edimburgo devia saber mais do que estava dizendo. Ela
encorajaria as fofocas, fingiria confiar e aguardar, e resolveria esse
mistério.
Abrindo a porta do salão com um giro silencioso da maçaneta, ela
espiou dentro.
Na penumbra da aurora que atapetava o chão do salão de baile,
ele se movia com uma graça poética e ao mesmo tempo poderosa.
Usava apenas calções e sua pele brilhava com a umidade. Sombra e
luz se deslocavam sobre ele a cada torção dos músculos, a cada
impulso e avanço, a cada momento de quietude que se transformava
em ação. O reflexo manhã alcançou o aço da espada em sua mão e,
em uma dança de violência e beleza, transformou o alvorecer em
resplandecentes milagres minúsculos.
― É o suficiente, Viking ― ele chamou do outro lado da sala. ―
Não precisa de mais do que cinco minutos de descanso. Mal tem
quarenta anos.
O lacaio surgiu das sombras no canto da sala. Arrastando uma
lâmina ao seu lado, foi até o mestre de esgrima. Ele usava um
casaco acolchoado, máscara e luvas.
― Enquanto seus insultos me causam risadas, senhor - disse o
lacaio sem nenhuma evidência de diversão ― digo que não sou um
desportista como o senhor e não tenho a resistência necessária para
me levantar antes do amanhecer a fim de ser um alvo para um
especialista.
Saint riu.
― Sem desculpas, homem. Pelo que me lembro, se ofereceu para
isso.
― Só porque me cansei de esfregar a lama de suas botas depois
de cada uma de suas caminhadas prolongadas. Esse método de
gastar sua energia parecia preferível. ― Ele suspirou e enxugou a
testa com um lenço. ― Mas parece que é incansável.
Saint cruzou a arma debaixo do braço e fez uma reverência. ―
Sua coragem lhe faz justiça, Viking. Mas eu não o incomodaria se
não fosse um ótimo parceiro de treino. Me mantém na ponta dos pés.
― E, no entanto, não usa máscara nem jaqueta enquanto
treinamos ― disse o lacaio com ceticismo.
― Eu luto melhor quando estou em perigo. Deveria tentar.
― Pode praticar com Lorde Michaels. Eu soube que ele é um
excelente espadachim.
― Cujas manhãs começam antes das dez horas, em seus dias
bons. Quem te ensinou como esgrimir?
― Meu ex-empregador, o professor Oliver Highbottom, mestre
emérito de arqueologia clássica. Até que faleceu alguns meses atrás,
eu era seu único companheiro e ele exigiu isso de mim durante anos,
antes de ficar fraco demais. Quem o ensinou a esgrimir?
― Maridos assassinos de mulheres com as quais me deitei, claro.
Um homem aprende rapidamente pelo exemplo quando está
sangrando ―ele disse com um sorriso.
― É um canalha, senhor. Não consigo entender por que Sua
Graça lhe deu as boas-vindas em sua casa.
― Somos dois, então. Agora, vilão, en garde.
O Sr. Viking levantou a espada e cumprimentaram-se. Então os
tinidos de aço encontrando aço se espalhou pela sala sombreada
junto com o som dos ocasionais suspiros do lacaio, enquanto o
mestre acertava as investidas.
Constance observou, peculiarmente, maravilhosamente quente.
Sempre ouvira sua habilidade ser elogiada e, durante as aulas,
demonstrou manobras para que ela aprendesse. Mas nunca o vira
lutar, não assim, com um oponente de verdade, mesmo praticando.
Fazia isso com confiança e velocidade excepcionais. Era
surpreendentemente rápido, mas sem nenhuma aparência de pressa
ou mesmo urgência. Facilidade e graça marcavam seus movimentos,
como se a natureza o tivesse formado para isso com algum propósito
secreto.
A luta foi rápida. Quando baixaram as espadas, o Sr. Viking
inclinou-se ofegante. Saint virou-se para pegar a roupa numa cadeira
e, como naquela noite anos atrás, do outro lado do salão de baile,
ele a notou.
― Bom dia ― ele disse com a sombra de um sorriso. ― Mas que
surpresa.
Passando um lenço no rosto, o Sr. Viking fez uma reverência. ―
Milady.
Entrou no salão e o olhar de Saint caiu em seu corpo. Ela havia
usado roupas masculinas muitas vezes antes, quando treinava com
seu cavalo. O cavalariço, Fingal, era quase do seu tamanho, e, no
início, ela pegara emprestado suas calças, camisa e colete. Depois
disso, fizera um conjunto para ela.
Mas as apreciações de Rory e Fingal nunca a fizeram se sentir tão
despida. E, no entanto, Saint é quem tinha o corpo realmente
despido. Sobre os contornos afiados de seu peito que estava úmido
de suor, entre outras cicatrizes menores, uma longa marca corria de
suas costelas para baixo até cruzar sua cintura.
― Eu pensei que poderíamos começar cedo hoje ― disse ela.
― Nenhum acompanhante?
― Eles ainda estão todos deitados. Talvez o Sr. Viking sirva.
― Viking ― ele jogou uma olhada sobre um ombro nu ― ficaria
um pouco para ver milady me acertar como nunca conseguiu.
― Eu o acertei porque fica parado e me permite ― disse ela. ― O
que foi isso de ficar pulando para frente que os dois estavam
fazendo? Parecia mais do que um avanço regular.
― Os franceses chamam isso de élongé. Uma investida alongada.
Impossível para uma mulher usando uma saia estreita. Mas não
hoje, no entanto, assim parece. ― Ele examinou as pernas dela e
aquele sorriso de lado reapareceu.
O lacaio se adiantou.
― Sinto muitíssimo, milady, mas tenho uma dúzia de tarefas para
concluir antes do café da manhã. Devo convocar o Sr. Aitken?
― Não. Lorde Michaels ou a Sra. Josephs se juntarão a nós em
breve.
Ele colocou sua espada na prateleira e partiu.
― Nem sua acompanhante nem meu primo se levantam antes das
nove horas ― disse Saint.
― É melhor que menos pessoas me vejam vestida dessa maneira,
é claro. ― Passou por ele para ir até a prateleira de espadas.
― Devo, sem dúvida, ser incluído entre os muitos ― ele disse.
Ela se virou e descobriu seu olhar atrás dela. Lentamente, ele
elevou os olhos para seu rosto, como uma carícia lânguida,
movendo-se sobre seus quadris, cintura e seios.
― Não me olhe assim.
― Assim como? Como se eu quisesse comê-la no café da manhã?
― O Sr. Viking estava certo. É um canalha ― ela disse com uma
oscilação deplorável.
― Mas um canalha com regras. E está quebrando todas elas.
Agora ele não olhava para seu corpo. Olhava em seus olhos e a
diversão desaparecendo dos dele.
O lábio inferior estava sensível entre os dentes. ― Acho quer que
eu as quebre.
― Claramente sou um glutão do sofrimento.
Sofrimento. Havia desolação nas linhas tensas de seu rosto. Ele
se virou e pegou sua camisa.
― Devo ir e trocar de roupa? ― Ela disse, observando o tecido
cair sobre suas costas.
― O quê? ― Ele puxou o colete sobre os ombros.
― Um lenço? Ou talvez um xale envolto, como Salomé dançando
para o rei Herodes?
― Teria um hábito de freira?
― Então estaríamos realmente com problemas. Eu o imaginaria
como meu confessor e me libertaria de todos os tipos de pecados.
―Ele pegou uma bengala e sua sombrinha rosa, e veio em sua
direção.
― Não me importo com isso.
Ele parou diante dela. ― Sim, mas depois o meu esplendor
misterioso estaria em pedaços. Não podemos ter isso, podemos?
― Acho que não.
― Conseguiu a cicatriz no rosto da forma que disse ao Sr. Viking?
― O que eu disse a ele?
― Esses maridos traídos o feriram em duelos.
― Ouviu isso?
― Sim. Foi assim que recebeu aquela ferida?
― Não, aquilo foi zombaria ― ele disse. ― Lutei pela honra de
uma mulher apenas, e essa cicatriz em particular não foi minha
recompensa por isso.
― E aquela longa cicatriz em seu peito? ― Seu olhar mergulhou
para onde sua camisa estava aberta no pescoço, e Saint o sentiu
percorrer sob sua pele, no seu sangue, clamando em sua virilha. Os
seios dela pressionavam o tecido, aprisionados na camisa e colete
impecáveis. Suas mangas estavam apertadas, como as calças que
se agarravam às coxas e quadris. Ele estava duro, meio indefeso e
completamente zangado.
― Não. Essa cicatriz também não. ― Ele ofereceu-lhe a
sombrinha. ― Ao trabalho. Agora. ― Palavras eram um luxo para o
qual não tinha língua no momento. Ou cérebro.
― Com isso?
― Sim.
― Mas me disse...
― Meu tempo na casa de seu pai fica cada vez mais curto. ― Se
Deus permitir. Chloe Edwards não estava em casa ontem. Mas Dylan
iria visitá-la novamente hoje e renovar seu cortejo. ― Se deseja estar
preparada para se defender contra atenções indesejadas, devemos
acelerar essa instrução. Quanto tempo tem esta manhã? Ou
pretende levar meu primo novamente, para as casas de todos os
seus amigos hoje?
― Está com ciúme?
― Não realmente. Desfrutei mais do que o suficiente de sua
companhia ao longo das últimas três décadas. Ele pode compartilhar
seu tempo com quem quiser agora.
― Não foi isso que eu quis dizer.
― Eu sei que não. O que quer com ele?
Seu queixo ficou tenso. A maldição era que o desafio só a tornava
mais bonita. Quando estava incerta, ele queria aliviar sua confusão.
Mas quando sua confiança vinha à tona, ele simplesmente a queria.
― Gosto da companhia dele, a qual tão alegremente dispensou ―
disse ela. ― Ele é muito divertido.
― Não como seu acompanhante. Eu a vejo com ele. Ouço-a falar
com ele. Ele não é inteligente o suficiente para correspondê-la, mas
permite que acredite ser. Porquê?
Seus cílios baixaram um pouco. ― Pela oportunidade de conhecer
melhor os amigos dele.
Ela estava dizendo a verdade. Ao longo de quinze dias, há seis
anos, memorizou todos os seus sorrisos. Agora também conhecia os
tons de sua voz: o brilho de sua diversão, a fragilidade de sua raiva,
os acordes sedosos de sua provocação e a clareza de sua
honestidade. Ainda assim, ela escondia algo por trás daqueles cílios
dourados.
― Eles não são também seus amigos? ― Ele disse.
― Passei pouco tempo em Edimburgo desde a minha infância.
Lorde Michaels me visitou duas vezes no ano passado.
― Constance, não o provoque. Apesar de muitas vezes ele ter o
costume de ser um idiota, é um bom homem, e seu coração já está
reivindicado.
― Não quero o coração dele ― disse ela, erguendo o olhar para
encontrá-lo diretamente, e aquele órgão indisciplinado no peito de
Saint se entregou.
― Seja como for, se ele a vir neste traje ― ele gesticulou para
seus calções ― isso irá confundi-lo.
― Confundi-lo?
― Os homens são facilmente afetados pela luxúria.
Ela virou, caminhou até a porta do salão de baile, fechou e
trancou-a.
― Pronto. Agora ninguém ficará confuso comigo hoje. ― Ela
apertou o cabo da sombrinha e soltou a lâmina. ― Começamos?
― Acabou de se trancar numa sala comigo.
― Sim, me tranquei. Todavia, estou tranquila. De nós dois,
realmente, estou me convencendo de que não sou eu a
paqueradora. Não acho que signifique uma ameaça para mim. Ou
talvez seja simplesmente um triste fracasso para seguir adiante em
seus ultimatos. ― Ela flexionou a espada curta diante dela
experimentalmente. ― Agora, por favor, mostre-me como usar este
instrumento para ferir um homem.
Ele não conseguia se mexer. ― Fala em ferir um homem como
isso não significasse nada.
― Pelo contrário. Isso significa tudo.
Lá estava novamente em sua voz: a borda afiada do medo
revestida de determinação.
― Faria isso? ― Ele perguntou.
― Ferir um homem?
― Que homem que deseja ferir?
Sua garganta se contraiu num movimento tão violento que varreu o
ar dos pulmões de Saint. Odiava que tivesse sido ferida. Odiava o
homem que a ferira. Odiava não ter estado ali para protegê-la, e não
ter o direito de protegê-la agora.
Ela não respondeu.
Colocando o cabo da sobrinha debaixo do braço e levantando as
mãos para abotoar o colete, ele foi em direção a ela.
― Uma espada assim não é uma arma de cavalheiro. Como um
punhal escondido, é uma arma de furtividade e surpresa.
― Ferramenta de um assassino ― ela murmurou.
― Começaremos aprendendo como empregar toda a sombrinha
como arma para se defender contra um ataque de faca ou espada.
Então, mostrarei como liberar e retirar a lâmina do cabo de uma
maneira que lhe permita atacar com a maior rapidez possível.
― Girar desajeitadamente a própria sombrinha não é um método
eficaz de se defender? ― Seus adoráveis olhos sorriram
timidamente.
― Não penso assim ― disse ele, a tensão sob as costelas
diminuindo. ― Mas nunca tive uma sombrinha própria, não posso
falar com confiança sobre o assunto.
― Deveria.
― Eu deveria o quê?
― Ter uma sombrinha.
― Para proteger minha pele delicada do sol durante meus
passeios pelo parque no braço do Lorde fulano de tal?
Ela riu. ― Claro que não.
― Então?
― Para me deixar tonta.
Rapidamente, sem qualquer esforço, Saint imaginou várias coisas
que poderia fazer para deixá-la tonta, e nenhuma delas envolvia
sombrinhas.
― Foco ― disse ele. ― Agora.
Ela ofereceu-lhe um sorriso, não de flerte, mas de verdadeiro
prazer, e ele quase saiu do salão.
Essa Constance era muito mais difícil de resistir do que a do flerte.
Diligentemente ela aplicou-se em praticar os desvios e ataques
com a sombrinha até que os executou com facilidade. Dominou a
libertação rápida da lâmina com facilidade e ativar o fecho de
segurança do cabo com um pouco mais de aplicação. Quando a luz
do sol cruzou o chão do salão de baile e ficou mais brilhante, ele a
ensinou como bater com ela.
― O quê? Não há séries intermináveis de manobras defensivas
que eu deva dominar primeiro? ― Fios de cabelos dourados
pendiam de seu pescoço e bochechas, um único cacho quase
cobriam seus olhos, que brilhavam agora. Sabia que ela gostava de
desafiar a si mesma e que isso a deixava radiante. Mas cada vez
que testemunhava isso, perdia um pouco mais da sanidade.
― Uma bengala, sombrinha ou objeto similar é útil para defesa.
Mas não se usa uma espada escondida a menos que se pretenda
atacar abruptamente outra pessoa ― disse ele.
― Eu pretendo. ― Ela afastou o cacho da frente de seus olhos e
ele escorregou solto pelo rosto. Ela o colocou atrás da orelha. Ele a
olhava fixamente. Podia engoli-la inteira, então talvez sentisse dentro
de si a felicidade que ela parecia sentir em momentos simples como
este, como as humildes tábuas do assoalho delirantemente
lambendo o sol glorioso.
― Não se preocupe ― ele levantou a espada enquanto se
esforçava para falar. ― Haverá muita repetição cansativa para aliviar
o breve prazer de aprender esse ataque.
Após um suspiro dramático, ela definiu sua postura. ― O
verdadeiro prazer deve ser sempre passageiro, não é?
― Não se estiver fazendo certo ― ele murmurou.
Seus olhos foram para ele. Ela corou, um ligeiro toque de rosa
brilhante varrendo seu pescoço sublime e suas bochechas até a
ponta do nariz. Separando os lábios, ela soltou um suspiro curto e
audível. E a excitação parcial que Saint estava lutando por duas
horas para controlar tornou-se evidente demais.
Depois disso, ele dependeu de duas décadas e meia de
familiaridade com a espada e os reflexos condicionados de seus
músculos para ensinar-lhe o que prometera. Pois seu cérebro
pensante tinha saído de férias.
Confuso.
Pior do que confuso. Consideravelmente pior.

Ele se tornou um mestre implacável. Rapidamente, Constance se


arrependeu de ter dirigido a palavra a ele desde que entrara no salão
de baile e, mais ainda, as palavras que haviam transformado sua
lição de como empunhar uma sombrinha mortal em um treinamento
militar.
Ele não a poupou. Em vez de vestir o colete acolchoado de
sempre e ordenar que ela batesse nele, colocou diante dela o
manequim de madeira e instruiu-a a avançar e recuar sem parar,
embainhando a lâmina a cada vez e desembainhando-a para atacar
a madeira repetidas vezes. Então ordenou que ela recuasse e a
ensinou como atacar. Durante uma hora ela não podia sentir sua
mão ou pulso. Mas suas coxas e panturrilhas forneciam miséria
suficiente para todo o resto do seu corpo.
― Meu braço é chumbo. ― Se posicionou novamente en garde.
― Mais uma vez, rápido ― ele disse.
― Literalmente. ― Ela liberou a lâmina da sombrinha e a estocou
no manequim, e seu cabelo úmido de suor caiu novamente sobre os
olhos. ― Se eu fizesse uma incisão na minha pele, embaixo dela
estaria o sonho de um ferreiro.
― Conte em voz alta cada batida até dez e comece de novo. Um,
dois, três...
― Quatro. ― Ela empurrou.
― Cinco. ― Novamente.
― Seis e essa repetição exaustiva é chata.
― É necessário se deseja dominar a habilidade. ― Ele instruiu-a a
dirigir sua atenção para frente, em direção ao seu agressor invisível.
Agora ela via seu mestre apenas na visão periférica. Ele tinha se
afastado e agora falava com ela como no castelo,
desapaixonadamente.
― Aprendi as posições ― ela disse, atingindo o manequim
novamente. ― Por que não posso tentar acertá-lo agora?
― Os movimentos devem vir sem pensamento. Para isso, seus
músculos devem conhecê-los, assim como sua mente. Quanto
tempo passou desde que teve que pensar nas ações necessárias
para frear seu cavalo de um galope, ou para virar seus passos?
― Uma Lady nunca revela sua idade.
― Me disse sua idade poucos minutos depois de falar comigo.
O prazer formigou através de seus músculos, penetrando
completamente. ― Não deveria ter se lembrado disso.
― As sutilezas sociais nunca foram minha preocupação ― ele
disse em um tom alterado, baixo, não completamente.
― Sete... oito... Nunca vou dominar isso.
― Precisa fazê-lo.
Ela parou, deixando cair o braço cansado.
― Preciso?
― Precisa. ― Seus braços estavam cruzados sobre o peito, o
linho puxado em seus ombros largos, e sua boca estava em uma
linha dura. O verde dos seus olhos era como uma floresta à noite,
proibida.
― Se estou indo bem, por que está com raiva?
Ele levantou os braços e foi em direção à porta. ― Continue sem
mim.
Ela se virou. ― Onde vai?
Ele pegou a chave na fechadura. ― A outro lugar.
― Não pode sair ainda. ― Ela não queria que isso terminasse
ainda. Não queria que terminasse nunca. ― Minha aula ainda não
acabou.
― Pratique o tempo de desejar.
― Se sair, como saberei que estou fazendo certo? ― O silêncio
atravessou o salão de baile.
Ele soltou a maçaneta e caminhou em direção a ela. Parou tão
perto que ela podia ver a textura da cicatriz onde divergia de seu
bigode para subir em direção a sua bochecha.
― No instante em que viu eu me aproximar, deveria ter levantado
sua arma novamente. O dano chega a uma vítima que não consegue
reagir rapidamente a uma ameaça.
As sílabas ásperas inflamaram seus nervos exaustos como
faíscas.
― Eu não sabia que queria me machucar.
Ele passou o braço pela cintura dela e a arrastou para ele.
Coxa a coxa, quadril a quadril, ele a segurou com firmeza
enquanto seu olhar corria por seu rosto e tudo dentro dela explodiu
em calor. A perfeição de sua boca a hipnotizou. Uma vez ela tinha
beijado essa boca.
— O puxão do tecido aqui — sua mão curvou com propósito ao
redor do seu ombro, depois esfregou firmemente sob seu braço e,
com lentidão dolorida, acariciou a lateral do seio — e aqui — a palma
da mão se moveu ao longo da cintura, sobre o quadril para abranger
sua nádega — é assim que saberá que está fazendo certo. E isso —
ele puxou seus quadris firmemente contra os dele, e o comprimento
duro de sua excitação pressionou contra ela — é o que a faz saber
que sua lição acabou.
Por um instante não havia ar suficiente no mundo. Então o pânico
aumentou. Rapidamente. O medo arrepiante.
Suas mãos nela eram fortes. Poderosas. Prendendo-a no lugar.
― De acordo com sua própria acusação ― ela forçou a língua
seca ― não deveria ter pedido permissão para me segurar assim?
Ou pelo menos me avisar? ― Sua voz era fina. ― Hipócrita.
Abruptamente ele a soltou.
A porta do salão de baile se abriu. O mordomo permaneceu na
abertura.
― Milady, Sua Graça pede sua presença na sala do andar de
cima. O Duque de Loch Irvine chegou.
― Tão cedo? ― Sua mão estava escorregadia no aperto de sua
espada. ― Tenho de mudar minhas roupas. Diga ao meu pai que irei
em breve.
― Muito bem. ― Ele se retirou.
Saint ficou imóvel, seus olhos firmes sobre ela.
― Está bem? ― Ele perguntou.
Ela não podia dizer nada que não a revelasse inteiramente. Ela
assentiu.
― Vá em frente então. Seu Duque a espera.
Guardando a espada na haste da sombrinha, ela se foi.
Capítulo 13

O Duque

O primeiro pensamento de Constance ao entrar na sala de visitas


foi que Gabriel Hume parecia notavelmente como se tivesse vinte
anos, quando ainda tinha pai e irmão mais velho, e não esperava
herdar o ducado. Estava consideravelmente mais alto, é claro. E o
nariz proeminente e a mandíbula severa que fizeram dele um garoto
comum agora o tornavam um homem incrivelmente atraente, embora
de uma forma soturna, com cabelo de ébano, olhos cinzentos e um
ar de gravidade terrena sobre ele. Usava um casaco preto solto e
sua gravata amarrada num nó simples. Ele parecia estar carrancudo
com ela. Mas talvez isso fosse apenas o formato de sua testa.
Uma sobrancelha inteligente. Olhos inteligentes.
Constance ouviu a respiração lenta de Eliza ao seu lado.
Realmente. Se tudo o que existia no caráter de uma pessoa fosse
aparência, o duque de Loch Irvine poderia facilmente ser o líder de
um culto satânico.
Cercado por seus cães, seu pai fez as apresentações.
― Bom dia, Sua Graça. ― Ela fez uma reverência em voz baixa.
O Loch Irvine franziu a testa. Mas curvou-se de uma maneira
superficial que a fez querer rir.
― Está tão bonita quanto quando éramos crianças ― ele disse. ―
Isso é conveniente.
― Estou honrada que se lembre de mim. ― Ela gesticulou para o
lacaio para o chá.
― O Duque só tem pouco tempo para essa visita ― disse o pai. ―
Dada a sua finalidade, deixarei os dois sozinhos para se
readaptarem. ― Ele gesticulou para Eliza em direção à porta.
― Oh, não, Sua Graça, eu não poderia deixar milady com um
cavalheiro sem acompanhante ― disse Eliza, sem considerar as
últimas horas em que dormira enquanto Constance estava sozinha
com seu instrutor de esgrima. ― Ficarei aqui.
Seu pai acenou para Loch Irvine.
― Milorde, até amanhã. ― Ladeado por seus cães, ele saiu da
sala.
― Amanhã? ― Constance disse, indo até a mesa de chá. ―
Planejam algum passeio?
Ele curvou as sobrancelha escuras. ― Darei uma festa amanhã à
noite.
― Haverá um ponche de whiskey? ― Eliza perguntou.
― Minha amiga está tentando chocá-lo. Aconselho-o a ignorá-la.
Sente-se, por favor.
Ele a olhou. Então se adiantou e sentou-se tão perto que ela podia
ver onde seu lacaio tinha cortado seu queixo enquanto o barbeava.
Ela serviu o chá. Ele pegou a xícara em suas mãos ridiculamente
grandes, mas não bebeu. Seus dedos estavam manchados de preto
que não era tinta. Parecia calo. Ele não disse nada e, depois de um
momento, brincou com a xícara de chá na palma da mão, até que
respingou sobre as calças. Ele pareceu não notar isso, mas estudou-
a ainda mais de perto.
― Gostaria de uma bebida mais forte? ― Ela perguntou. ― Um
claret, talvez? Conhaque?
― Não. ― Ele colocou a xícara na mesa. ― Seu pai lhe ofereceu
a um preço notável. Agora entendo porque. Sua beleza é
incomparável.
Desta vez ela riu.
― Estou satisfeita em saber que o preço é adequado para a égua.
Seus olhos se apertaram, revelando sombras abaixo deles.
― Mas está muito velha para estar ainda solteira. Diga-me agora,
moça, ainda é uma donzela?
― Bem, parece que eu não precisava ter me preocupado sobre a
conversa do meu futuro prometido, afinal de contas. — Na porta, o
lacaio anunciou:
― Lorde Michaels.
O Duque levantou-se como uma âncora sendo arrastada do mar, e
agora ela via claramente seu cansaço. Ele era desajeitado e
incivilizado e certamente estava exausto.
― Sua Graça! ― Lorde Michaels disse com um largo sorriso. ―
Que honra vê-lo novamente e tão rápido. A sobrancelha escura do
Duque se abateu.
― Foi uma tragédia o que aconteceu com seu primo.
O Barão assentiu com sobriedade.
― Obrigado.
― Seu primo? ― ela disse.
― O irmão de Saint morreu no mar em janeiro.
― Eu... — Seu irmão? — Eu sinto muito.
― Se eu soubesse o que estava esperando por ele naquela
viagem eu também teria ido. Santo sabia, eu acho. Camarada
esperto. Mas não rápido o suficiente para parar uma bala, no
entanto.
Suas mãos estavam dormentes ao redor da porcelana. Saint não
havia dito nada a ela. O fato de essa omissão a surpreender apenas
provava que ainda se equivocava o suficiente para acreditar que
poderia conhecer um homem.
― Como vão os negócios hoje em dia, milorde? ― o Barão disse
mais levemente agora.
― Sinto a falta de seu primo intensamente.
― Tinha negócios com o Sr. Sterling? ― Ela perguntou.
― Aye. De algum tipo. ― Abruptamente, ele se levantou. ―
Despeço-me agora. Virá amanhã?
Ela se levantou e foi em direção à porta com ele.
― A minha resposta à sua pergunta anterior determinaria se me
receberia ou não em sua festa?
Seus olhos cortaram seu rosto. Então sua boca se apertou.
― Sou um homem de poucas palavras moça e menos ainda de
palavras bonitas.
― Não exijo palavras bonitas. Apenas cortesia.
Ele a olhou com um semblante sombrio.
― Se é cortesia o que quer, é melhor procurar um noivo em outro
lugar.
― Me atreveria a isso ― disse ela, então sorriu. ― Mas sem
dúvida gostarei de sua festa amanhã de qualquer maneira.
Algo que poderia ter sido humor brilhou por um instante em seus
olhos. Depois desapareceu e ele partiu.
Lorde Michaels sentou-se novamente e pegou um bolo da bandeja
de chá.
― Sujeito peculiar. Embora se estiver para se casar com ele, eu
não deveria dizer tal coisa, deveria? Em vez disso, que poderoso o
Duque é! ― Um sorriso encheu seu rosto.
Ela se voltou para ele na mesa de chá. ― Milorde é incorrigível.
― Já me disseram isso antes. Lady Fitzwarren me disse. Ela gosta
de colocar um homem em seu devido lugar. ― Ele pegou outro bolo.
― Os sinos de casamento estão chegando num futuro próximo,
milady, ou estou precipitando a pergunta?
― É precipitado e ultrajante.
― Eu sou. ― Ele se recostou e estendeu os braços ao longo das
costas do sofá. ― É por isso que todas as mulheres gostam de mim.
Não há angústia. Ora, só nos conhecemos há duas semanas e já
somos tão bons amigos que aqui estou adivinhando seus planos de
casamento. ― Ele torceu os lábios até que suas bochechas se
tornaram vazios. ― Então... são eles? Os sinos de casamento?
Ela pegou sua xícara. ― Pode presumir uma ultrajante
familiaridade comigo, milorde, mas não preciso retribuir o elogio.
Ele suspirou parecendo aliviado. ― Então não estão vindo. Pelo
menos ainda não, suponho. Tudo bem então. Muito bem. ― Ele
cruzou as mãos no colo.
― Parece feliz com isso.
― Não estou feliz.
― Milorde. ― Ela largou a xícara. ― Sabe alguma coisa
desagradável sobre o Duque, talvez, através do seu primo. Isto é,
dos antigos negócios de seu falecido primo com ele?
― De modo algum. ― Seus olhos arregalaram. ― Diabos me
levem! Esqueci de assistir sua aula com Saint esta manhã. Sem
dúvida chamou a Sra. Josephs na minha ausência. ― Ele esticou o
pescoço. ― Sra. Josephs?
― Eliza acordou com um sobressalto e olhou em volta. ― Aquela
grande laje de granito já se foi?
― Ele fez uma visita rápida ― disse Constance.
― Bem, um sujeito não precisa mais que um momento para ver se
pode gostar algo ou não. ― Ele sorriu. ― Estava dizendo isso para
Saint no outro dia, na verdade, bem na hora em que estava me
limpando de uma queda ao chão depois de nosso treino.
A imagem de Saint praticando com o Sr. Viking mais cedo veio a
ela abruptamente e todo o seu corpo aqueceu.
― Como ele se tornou um espadachim perito? ― Ela perguntou.
― Praticando. ― Ele pegou outro bolo. ― Muita prática, desde
que éramos pequenos. Desde o dia em que ele encontrou aquela
velha espada na terra ao lado daquele canavial, nunca a largou. Não
deveria ter nem sete anos na época. ― Ele mastigou pensativo. ― E
nós tivemos um esplêndido mestre.
― Mas ele não é... ― O que ele tinha feito no salão de baile,
tocando-a daquele jeito, ela não previra isso. ― Não é um homem
agressivo. ― Normalmente. ― Acho que um homem deve querer
realmente machucar alguém para se tornar tão proficiente em ser
capaz de fazê-lo.
― Oh, ele machuca, acredite em mim ― Lorde Michaels disse
com absoluta segurança. ― É só que ele direciona tudo para a
espada. Não há necessidade de se impor vociferando contra todos
ao redor quando sabe que pode espetá-los rápido como um raio, não
é? ― Ele sorriu.
Na porta, o lacaio disse: ― Sua Senhoria, a Baronesa de
Easterberry, a Sra. Westin e a Srta. Anderson.
― Bom dia ― Lady Easterberry disse enquanto entrava na sala. A
maior fofoqueira da sociedade de Edimburgo, seu círculo de amigos
era amplo e seu interesse nos negócios de todos era insaciável. ―
Maude, Patience, devo ter uma conversa particular com Lady
Constance. Entretenham Lorde Michaels.
A Srta. Anderson, uma jovem bonita de seus dezessete anos,
gaguejou e corou. Mas aceitou um lugar ao lado do Barão, e sua
irmã mais velha sentou-se também. Lady Easterberry passou o braço
pelo de Constance e puxou-a para a janela.
― Minha querida ― ela disse quase sussurrando ― não passara
um quarto de hora depois que partiram de minha casa ontem, que eu
ouvi as notícias mais extraordinárias.
― Diga-me, milady. ― Constance inclinou a cabeça para se
aproximar do sussurro furtivo da Baronesa. Ela era uma mulher
pequena, como suas filhas na altura e no brilho de suas bochechas.
― Mas primeiro devo perguntar. ― Ela soltou o braço de
Constance. ― Aquele que acabei de ver há pouco era o Duque de
Loch Irvine?
― Era.
Ela juntou as mãos. ― Então os rumores são verdadeiros. Ele a
está cortejando.
― Como poderia existir qualquer rumor disso quando é a primeira
vez que ele me visita desde que éramos crianças, estou perdida sem
saber ― ela disse sorrindo. ― Mas me conte suas novidades, milady.
Despertou minha curiosidade.
― Na verdade, são notícias sobre o Duque do Diabo! ― Ela disse
num sussurro e se inclinou mais perto. ― Falei com Lady Melville
apenas uma hora depois que saiu e ela insiste que Loch Irvine não é
o homem que todos imaginamos.
― Oh?
― Oh, de fato. Ela disse que todos nós deveríamos estar
apontando a culpa pelo desaparecimento dessas moças a outro
homem, um homem de baixo nascimento.
― Plebeu?
― Ela tem motivos para acreditar que a pessoa que fugiu com
aquelas pobres moças inocentes era um mercador. ― Sua boca
torceu-se numa careta.
― Que interessante! Que tipo de mercador?
― Oh, bem, seja qual for o tipo é o mais depravado, é claro.
― Entendo. Lady Melville tem o nome desse homem? Ou qualquer
motivo para culpá-lo pelas jovens desaparecidas?
― Isso é o mais notável, pois ela soube por sua criada que ouviu
no mercado de peixe em Leith. Lugar sujo e fedorento. Eu nunca
estive lá, claro.
― Naturalmente. O que a criada dela ouviu?
― Um homem cujo navio chegou ao porto apenas duas vezes no
ano passado, em setembro e depois novamente em dezembro, e
parece que ficou na casa de Loch Irvine aqui na cidade, nas duas
ocasiões. Ele partiu de Edimburgo poucos dias depois que a capa
daquela moça foi encontrada no lago. Pode ver? Todo mundo supôs
que o Duque tinha algo com isso, mas na verdade outra pessoa
estava morando em sua casa.
― Deus do céu. Isso parece uma evidência contundente. ― Isso
descontando o capitão, a tripulação e os criados do comerciante que
estariam em Edimburgo na mesma época, assim como todos os
outros marinheiros e mercadores que estiveram no porto de Leith,
sem mencionar Lorde Michaels e Sir Lorian Hughes, que estavam na
cidade nessas ocasiões. ― Qual é o nome do mercador?
― Isso ― ela sussurrou, lançando um olhar rápido para as filhas e
para o Barão e abaixando a voz ― é a parte mais angustiante de
tudo. Pois, naturalmente, enviei meu pajem esta manhã ao estaleiro
para descobrir. O mercador em questão, Lady Constance, é um
homem chamado Sterling. Ele é primo de nosso querido e
encantador Lorde Michaels!
Capítulo 14

Uma faca escondida

No dia 14 de janeiro, Torquil Sterling morrera a bordo de seu


próprio navio partindo de Newcastle upon Tyne. Seu irmão, um
passageiro a bordo do navio quando os bandidos o cercaram, deixou
o mercador descansar no mar e seguiu para Londres, onde informou
o primo sobre a tragédia.
Torquil Sterling de fato residira na casa do Duque de Loch Irvine
em Edimburgo enquanto fazia negócios no Porto de Leith em
setembro e dezembro. Mas as informações de Lady Melville não
eram totalmente precisas. Torquil Sterling não ocupara a casa; o
Duque o convidara para ficar ali como seu hospede enquanto ele
estivesse ausente.
Constance soube disso por Lorde Michaels, através de uma sutil
sondagem depois que Lady Easterberry partiu.
Mas o Barão parecia distraído e logo se foi.
― Impressionante ― Eliza disse, derramando whiskey em sua
xícara de chá. ― Acha que Torquil era tão bonito quanto seu irmão?
As maçãs do rosto assim são traços de família, sabe.
― Duvida disso?
― Que as matronas de Edimburgo se superaram dessa vez? Ah
não. Aceito isso completamente.
Constance levantou-se. ― Perguntarei a ele.
― O que dirá exatamente, criança? “Querido Sr. Sterling, embora
eu não consiga parar de olhá-lo quando está na sala, me pergunto se
poderia me dizer se seu irmão foi um sequestrador de moças
inocentes antes de morrer em seus braços?”
Constance a deixou. Muitas vezes estivera prestes a contar a sua
acompanhante sobre o Clube Falcão. Nunca tanto como agora
queria explicar com precisão o sucesso que teve em inúmeras
ocasiões ao roubar informações de pessoas que nunca souberam
que estavam sendo usadas.
Mas Saint era diferente. Com ele inverdades apareceriam em sua
língua. Não podia mentir para ele.
Mas não pôde encontrá-lo. Nenhum dos criados o vira desde a
manhã e, quando foi para os estábulos, soube que ele havia saído
de cavalo horas antes e ainda não retornara.
Ele nunca jantava com a família dela, embora seu pai o tenha
convidado a fazer isso. Depois do jantar, ela foi para a cama,
lembrou-se da emoção de sentir o corpo dele contra o seu, e
adormecer foi ilusório. De manhã enviaria um criado para informar
seu instrutor de esgrima que não apareceria para a aula. Se ele a
considerasse covarde, que assim fosse. Tinha um compromisso a
cumprir com a mãe de Maggie Poultney. Afinal as jovens inocentes
eram a razão pela qual ela agora perseguia o Duque de Loch Irvine.

― Ele me barrou na porta! ― Dylan caiu de costas em sua cama,


um braço cobrindo seu rosto.
― Com uma barra de verdade?
Dylan descobriu os olhos e levantou a cabeça para franzir o cenho
para Saint. — Empunhando uma pistola. ― Sua cabeça caiu sobre a
colcha novamente. ― Ele ameaçou atirar em mim se eu tentasse ver
Chloe novamente. Eu! Eu sou um Barão, pelo amor de Deus. O que
um homem deve fazer para impressionar um maldito membro de
uma pequena nobreza provinciana?
― Manter sua renda mensal por mais de uma hora, eu suspeito. ―
Ele correu as pontas dos dedos ao longo da borda da espada,
testando o fio. A pedra de amolar tinha feito maravilhas.
Dylan sentou-se. Seu rosto repleto de confusão e desespero.
― Quero vê-la em breve. Mas como? Onde?
― Talvez a encontre numa de suas muitas visitas sociais.
― Se apenas... Espere, é isso! Pedirei a Lady Constance que
implore a Loch Irvine que envie a Edwards e sua família um convite
para sua festa amanhã à noite. O velho rabugento não recusará um
convite para a casa de um Duque.
― Exceto, aparentemente, a casa deste Duque enquanto um certo
Barão esteja nela.
― Edwards não me associará isso. Ele não sabe sobre a corte de
Loch Irvine à Lady Constance. É um rumor, claro. ― Ele se moveu
para a beira da cama. ― O que me traz a mente... Ela me perguntou
sobre Tor hoje.
― Quem te perguntou?
― Lady Constance, seu palerma. Não me ouve quando estou
falando?
― Quase nunca.
― Talvez o pai dela queira expandir seus empreendimentos e a
colocou para investigar oportunidades. Ela poderia fazê-lo. É
incrivelmente inteligente para uma mulher. Mas por Deus, ela é uma
beleza. Loch Irvine ficou sem palavras ao vê-la hoje. Não foi possível
juntar mais do que cinco palavras com sentido de cada vez.
Ele deveria vê-la vestindo calções. Embora, se as coisas saíssem
da forma que queriam com Loch Irvine, ele a veria usando
absolutamente nada.
Santo Deus, ele tinha que sair deste lugar.
― Se ele é assim tão eloquente, ambos devem ter tido muito o que
falar. ― Ele se levantou e foi até a porta.
― És um sábio eloquente, primo. ― Mas a voz de Dylan havia
mudado de novo. ― Sabe o que estão dizendo sobre Loch Irvine?
― Como não sou parte das visitas que fazem entre os melhores e
mais brilhantes de Edimburgo, eu não sei.
Dylan acenou para longe.
― Servos falam. Meu homem falou disso comigo esta manhã.
Saint não se incomodou em dizer que ele não tinha um homem.
Nem nunca tivera. E em sua posição exaltada numa casa nobre,
reservada para mestres da dança, mestres de desenho e tutores, os
únicos na casa que falavam com ele com alguma liberdade eram o
mordomo e a governanta, assim como os cocheiros, porque seu
cavalo era digno de nota. Mas os servos superiores estavam acima
dos mexericos.
― Bem, não está curioso? ― Dylan pressionou.
Mais do que queria estar. ― Parece ansioso para compartilhar.
― Eles dizem que ele tem um clube. — As palavras soavam
peculiares, ao mesmo tempo vivas e forçadas.
― Homens do seu tipo não têm vários clubes? Achei que tivesse
se associado a pelo menos três.
― Seu próprio clube, estupido. Manda em tudo. Mas este não é
um clube esportivo, nem mesmo acadêmico. ― Olhou de soslaio
para Saint da maneira que costumava olhar para o sr. Banneret,
quando praticava algum delito. ― É, bem, é o tipo de clube que um
sujeito não fala abertamente na hora do chá. O tipo que Tor teria
adorado, suspeito.
― Você não?
― Não!
Saint mostrou seu ceticismo.
Dylan encolheu os ombros. ― Não desde que conheci minha
pérola. ― Abruptamente transformado, deitou-se na cama, as mãos
nos quadris. ― Conseguirei seu convite para a festa de Loch Irvine.
E então amanhã à noite depois que a segurar em meus braços
novamente... ― Olhando para o dossel, ele soltou um suspiro
dramático. ― Garanto que nunca viu uma jovem mais bonita, Saint.
E ela será minha.
O contentamento em seu rosto era tão real que Saint teve que
sorrir. A paixão de Dylan era uma coisa simples, complicada apenas
pela desaprovação do pai. Uma vez que isso fosse superado, a
felicidade do casal parecia garantida.
Ele merecia essa felicidade. Abandonado nas Índias Ocidentais
pelos pais que preferiam aproveitar a vida sem uma criança, Dylan
fora criado por servos que mal o toleravam. Só o administrador da
plantação, Georges Banneret, prestara atenção no jovem herdeiro do
Barão. No entanto, apesar de tudo, ele tinha algo de inocente e
infantil em comparação aos outros e que exigia apenas diversão e
companheirismo. Agora, com Chloe Edwards, ele teria isso.
Amanhã à noite, depois do encontro dos namorados, Saint se
despediria de seu primo e os deixaria para serem felizes.
A estrada do Leste para Leith seguia para além do palácio real e
se inclinava em direção ao porto ao Norte. No meio do caminho,
havia uma curva para o Oeste em campos cultivados que ia para a
casa do Duque de Loch Irvine.
A noite já tinha caído quando a carruagem do Duque de Read se
juntou à multidão de veículos diante da casa para desembarcar a
elite de Edimburgo. Tochas iluminavam tudo, e joias brilhavam no
pescoço das damas e nos dedos de cavalheiros enquanto passavam
avidamente pelas portas ladeadas por lacaios de libré elegante.
Constance aceitou a mão de Lorde Michaels para pisar na relva
úmida com um pouco de neve. A iluminação da casa se derramava
pelas janelas num acolhedor dourado. Não imaginara o Duque capaz
de um espetáculo tão festivo e depois de tão poucos dias na cidade.
Muito claramente, ele queria impressionar. Mas a quem exatamente?
O evento foi o assunto de todos nas mesas de chá e nos parques,
durante todo o dia. O enigmático Duque nunca havia organizado uma
festa antes, em nenhum de seus dois castelos e nem aqui. Poderia
nunca voltar a fazê-lo. Ninguém se atreveria a perder isso.
No meio à conversa, Constance ouvira os nomes de Maggie
Poultney e Cassandra Finn sendo sussurrando. Ela se perguntou se
as fofoqueiras pensavam que o Duque teria uma horda de donzelas
presas em sua casa que poderiam acidentalmente descobrir durante
a noite.
Seu prometido estava na base da escada em seu vestíbulo,
vestido com um casaco preto e camisa branca e lenço de pescoço, a
luz da tocha sendo lançando em suas feições de ângulos duros. Ele
cruzou seus convidados para chegar a ela e seu pai.
― Milorde. Milady. Doutor ― ele disse com uma reverência
superficial, ignorando inteiramente Lorde Michaels e Eliza.
Seu pai percorreu a multidão. ― Uma boa assistência. Meus
cumprimentos, Loch Irvine ― ele disse e se afastou. Seu anfitrião
voltou sua atenção para ela.
― Está mais adorável que um anjo.
Ela não gostava quando os homens a chamavam do que ela não
era: anjo, deusa, ocasionalmente salvadora.
― E, no entanto, continuas diabólico. Que par devemos parecer.
― Aye, e tens uma língua mordaz entre os dentes.
― Eu tenho? Pensei que estava sendo apenas honesta.
Ultimamente estou tentando muito ser assim.
Ele olhou para ela com olhos carrancudos. ― Isto -― Ele
gesticulou secamente para o salão. ― Eu fiz isto por sua causa.
Entende?
― Por mim? Que gentileza sua. Gosto de uma boa festa. ―
Consideravelmente menos do que gostava de uma cavalgada dura
ou uma hora com seu arco e uma aljava cheia de flechas. ―
Obrigada.
― Conheço menos da metade dessas pessoas ― ele resmungou.
Ela colocou a mão no braço dele. Sob as pontas dos dedos sentiu
músculos grossos e duros. Parecia estranho. Pensou na força
esbelta de Saint e em quão era agradável, mas ao mesmo tempo
quase impossível tocá-lo, e fraquejou com um desejo que não podia
abandonar, mesmo quando estava segurando o braço de outro
homem.
― Devo fazê-lo conhecer seus convidados? ― Ela perguntou.
Assentindo, o Duque permitiu que ela o guiasse.

Música, conversa e uma grande quantidade de boa comida


caracterizava a festa do Duque de Loch Irvine. Ele não era
totalmente taciturno; embora parecesse não gostar de falar da
maioria de seus convidados, mas conversou longamente com o Dr.
Shaw.
Depois de várias horas, Constance deixou-o para ir de convidado a
convidado no seu próprio ritmo. Mas ela procurava um homem em
particular.
Sir Lorian Hughes tinha trinta e cinco anos, cabelos ruivos, longas
costelas poéticas e um físico impressionante. Ela sabia que ele
boxeava em Londres; uma vez ele se gabara de suas conquistas no
Gentleman Jackson. Na época, ele acenava confortavelmente sua
fortuna e boa aparência diante de donzelas esperançosas. Quando
ela deixou claro seu desinteresse, na mesma semana ele fez uma
proposta a Miranda Priestly. Lady Miranda Hughes agora, estava
longe de ser vista. Em vez disso, num canto da sala de estar, Sir
Lorian falava com uma jovem Lady de cachos negros e lábios de
botão de rosa que Constance reconheceu como a filha de uma
família de Edimburgo sem pretensões.
Uma mão em seu cotovelo a prendeu. Constance se virou.
― Oh, querida. ― As bochechas da senhorita Anderson ficaram
vermelhas. ― Mamãe me disse para não ser tão direta. Ela diz que
eu sou desajeitada com as mãos.
― Não se preocupe. ― Constance apertou os dedos da moça com
segurança. ― Eu não sou tão frágil como deveria ser.
― Frágil? ― A senhorita Anderson riu. ― Oh, Lady Constance,
como eu gostaria de me igualar algum dia, é tão... tão... graciosa.
— Mas também é, querida. ― Sir Lorian estava levando a Srta.
Edwards para a sala de jantar agora. ― Havia algo que gostaria de
falar comigo?
― Sim. Isso é... todo mundo está dizendo que o Sr. Sterling está
entre o seu grupo. Ninguém entre meus amigos o conheceu ainda.
Eu esperava que não se importasse em fazer uma apresentação.
― Sr. Sterling? Aqui?
― Sim. Ele é... ― As bochechas da jovem ficaram ainda mais
rosadas. — Atraente. Porquê, veja, ele usa uma espada quando
nenhum outro cavalheiro o faz. Não é ilegal isso?
Ele estava aqui. O fato de vê-lo todos os dias em sua própria casa
não importava nada agora. Isso era público. Isso era realidade. Este
era o mundo no qual nunca estiveram juntos. Este era o mundo no
qual nunca poderiam ficar juntos.
― Ele é um espadachim talentoso ― ela conseguiu dizer.
― Ele é? ― Os olhos da Srta. Anderson arregalaram. ― Que
romântico.
Ela havia pensado assim também. Tola que era, continuava
pensando assim. ― Ficarei feliz em apresentá-lo ― ela disse
sorrindo. Não queria apresentá-lo a jovens bonitas, nem mesmo a
jovens que ele não poderia cortejar, como esta filha de um Barão.
E então ele estava vindo em direção a elas e, como a jovem ao
seu lado, ela só tinha olhos para ele. Usava um casaco escuro de
corte muito fino e o mesmo sorriso parcial nos lábios que a
enlouquecia desde a primeira noite em que o vira. Parecia um
cavalheiro. Com a espada a seu lado brilhando à luz das velas, ele
parecia mais um cavalheiro do que todos os outros cavalheiros do
lugar, completamente bonito e possivelmente perigoso e perfeito.
Perfeito. A maneira como a olhava agora, como se não houvesse
outras mulheres no salão, na casa, no mundo inteiro, a fez querer
gritar.
Ele se curvou. ― Milady. ― Então ele voltou sua atenção para a
senhorita Anderson.
Maude sorriu lindamente, gaguejou um pouco, elogiou-o por tudo o
que podia razoavelmente, sua espada, seu casaco, as fivelas em
seus sapatos, e quando ele lhe agradeceu com uma economia de
palavras, ela ainda se lançou em um monólogo sobre todos com
quem ela tinha falado na festa.
Ele ouviu atentamente, sorrindo um pouco cada vez que ela fazia
uma pausa para reconhecimento. Finalmente Lady Easterberry
apareceu com sua outra filha, Patience Westin.
― Maude, está monopolizando a atenção de Lady Constance. Ela
também deve querer falar com os outros esta noite. ― Ela deu a
Saint uma avaliação cautelosa.
Constance apresentou todos eles. Com uma desculpa
transparente e outro olhar cauteloso para ele, Lady Easterberry
afastou suas filhas.
Seus olhos estavam rindo quando Constance se virou para ele.
― Que fantástico, divertido ― ele disse, observando as Ladies
Easterberry.
― A cicatriz se aprofunda quando sorri assim.
― Como?
― Isso faz com que pareça um batedor de carteira.
― E acredito que tenha um vasto conhecimento sobre eles.
Seus lábios a traíam; eles se contraíram. ― Alguns.
― Todas as jovens nobres são maravilhosamente desmioladas? A
companhia presente é exceção, claro.
― Está usando uma espada numa festa.
Ele ofereceu-lhe um sorriso preguiçoso. ― Não está desviando o
assunto, não é?
― Está encantada por sua desconsideração pela moralidade. Ela
perdeu o juízo.
― Ah. ―Ele cruzou as mãos atrás das costas. ― Então ela tem
minha simpatia.
― Porque está aqui?
― Seu pai exigiu que eu participasse. Notável, eu sei. Recusei,
mas ele insistiu. Está claramente acostumado a conseguir o que
quer. E parece que está relutante em me pagar caso não obedeça a
todos os seus comandos.
― Precisa tanto do dinheiro?
― Bem, eu não tenho nenhum no presente. Então, sim. Deve-se
alimentar o cavalo ou ele não o levará, entende? Mas tenho a
impressão de que as damas de sua classe nunca reconhecem
ninharias humildes como dinheiro de verdade
― Oh, nós não fazemos isso. Às vezes, porém, quando sou levada
à cidade por meus quatro eunucos etíopes, os camponeses me
atiram flores e, em troca, meu pequeno pajem joga moedas para
eles. Então, eu realmente não vejo dinheiro.
― Como isso deve comovê-la terrivelmente.
― Gosto de consorciar com os plebeus ― ela disse alegremente.
― Desde que eles não cheguem muito perto, é claro.
― Naturalmente. ― Seus olhos correram seu cabelo, ombros nus,
e o decote de seu corpete. ― Está de tirar o fôlego esta noite. Estou
feliz por ter a oportunidade de vê-la em seus adereços de festa.
― Obrigada.
― Mas prefiro os calções.
Isso era impossível. Ele era impossível. Não queria brincar sobre a
divisão entre eles. Era real, e desprezava isso agora, exatamente
como fazia seis anos atrás, quando fingira durante duas semanas,
porque fingir era tudo o que podia fazer para tê-lo
Sir Lorian estava agora numa conversa íntima com Lorde
Michaels. Perto dali Lady Hughes falava com a sra. Westin.
Ela começaria com Lady Hughes, extrairia o motivo das vestes
brancas. Então flertaria com Sir Lorian. Fazia-lhe mal apenas pensar
nisso. Mas as lágrimas da Sra. Poultney esta manhã eram motivo
suficiente para continuar com essa farsa, como as que havia
praticado dezenas de vezes para o Clube Falcão.
Os olhos de Saint brilhavam como sua espada agora, nitidamente,
enquanto a observava.
― Meu juízo, no entanto, não está perdido ― disse ela. ― Por
favor, desculpe-me...
― Constance.
Ela fez uma pausa, e abruptamente desejou que não houvesse um
mistério para resolver, nenhuma pessoa desaparecida a ser
encontrada, nada além de sua voz acariciando seu nome.
― Eu vim aqui esta noite por duas razões ― ele disse sobriamente
agora. ― Escrevi uma carta de renúncia ao seu pai e pretendo partir
antes da luz da manhã. Eu queria te dizer. E queria ver esse Duque
com o qual se casará.
O ar abandonou a sala como se um vasto fogo houvesse sugado
tudo, deixando um vácuo.
― Está indo embora ― ela disse fracamente.
― Ele parece melhor do que imaginei que seria. Mas o mesmo
aconteceu com o seu primeiro noivo. E o seu segundo.
― Eu nunca tive um segundo noivo. E ainda não tenho.
― Mas vai ter em breve, então terá o marido que procura, e admito
que não tenho estômago para ficar aqui e ver isso acontecer. ― Seu
olhar traçou suas feições e ela lutou para fazer seus pulmões
funcionarem.
Ele estava partindo.
Claro que ele partiria. Nada mudou em seis anos. Ela ainda era a
filha de um Duque com uma fortuna para herdar e ele ainda era o
filho de um mercador colonial, um homem que ganha seu salário
ensinando esgrima. Proibido.
― E talvez, se eu partir agora ― disse ele ― meu primo encontre
outro alojamento e pare de ser questioná-lo a cada dia. Não sei
exatamente o que lhe perguntou ontem, ou porque precisa
incomodá-lo com perguntas que ele claramente não deseja
responder. Mas pelo menos não contribuirei com sua facilidade em
fazê-lo por mais tempo.
― Não lhe perguntei nada de desagradável. ― Apenas perguntas
que ela não podia fazer a ele sobre seu irmão, porque não podia
suportar machucá-lo mais do que já havia feito. ― Não definharei de
saudade depois que partir, sabe.
Sua garganta se moveu num empurrão robusto.
― Espero que não.
― Não devo atrasar a sua partida ainda mais ― ela forçou a fala.
― Boa noite. ― Lutando contra o calor ardente na parte de trás de
seus olhos, ela atravessou o salão rapidamente. Desesperada por
distração, qualquer propósito, qualquer coisa, mas não essa dor de
perda outra vez; ela procurou Sir Lorian no meio da multidão. Ele
havia desaparecido. Mas Lorde Michaels estava sozinho, os ombros
curvados, o queixo baixo. Com os olhos furiosos de uma maneira
furtiva que deveria tê-la feito rir, ele correu em direção a uma porta
fechada, abriu-a e saiu.
Ela o seguiu. A porta levava a uma pequena antecâmara que dava
para uma galeria. Um corredor estreito, parecia percorrer toda a
extensão da casa, com janelas em apenas um lado. Retratos de
homens sombrios olhavam para ela e contra as duas paredes havia
várias peças de mobília: uma cadeira de madeira com encosto
gravado em bronze, bustos de mármore em pedestais e um
mostruário com fachada de vidro. Exceto pelo luar, a galeria estava
escura e cheirava a poeira e a antiguidade.
O Duque de Loch Irvine aparentemente não havia limpo toda a
casa para a festa de hoje à noite. Quantas outras salas havia nessa
vasta casa? E por que Lorde Michaels se esgueirara para esta parte
fechada quando todos os seus amigos estavam se divertindo noutro
lugar?
Com um clique, a porta da antecâmara atrás dela se abriu.
Fechou, novamente abafando os sons da festa. Constance se
escondeu atrás da vitrine alta e pressionou suas costas contra a
parede.
Era sua maldição ter passado mais de uma semana ouvindo o som
dos passos de Saint no chão de madeira, aprendendo a confiança de
seu andar, mais detalhes sobre ele aos quais nunca esqueceria. Ele
não tentou esconder sua presença na galeria. Ela se afastou de seu
esconderijo.
― Não facilitará isso para mim, não é? ― Ele disse. Ao luar, ela
podia ver seu rosto sério.
― Eu vou. ― Ela se moveu para a porta oposta. ― Pode ser que,
se sair daqui imediatamente, não veja nada que possa não gostar.
Ele a seguiu. Ela chegou à porta e tentou o trinco. Fechado. Mas o
Lorde Michaels devia ter vindo por aqui; não havia outra saída da
galeria.
Alcançando o cabelo, ela arrancou um grampo. Como havia feito
muitas vezes antes, girou o trinco e abriu a porta.
Saint segurou seu ombro e inclinou-se sobre ela. O choque em
seus olhos a deixou sem ar.
― Pelo amor de Deus ― ele disse asperamente, como se o
machucasse falar. ― O que quer com ele?
Seus dedos segurando seu ombro não eram ásperos. Pelo
contrário, eles eram muito gentis, dada a dor que ela via em seus
olhos. Mesmo agora, ele não iria machucá-la, mesmo agora, quando
acreditava que ela estava fazendo mal a um homem que ele amava.
Colocando a palma da mão em seu peito, ela fechou os olhos e
abriu os dedos e pressionou-os em sua força, e sentiu o prazer em
seu corpo. Sem pânico, sem medo como no salão de baile quando
ele a agarrou. Apenas desejo, puro e simples, como a falta que
sempre sentira dele.
Ele não disse nada agora, mas a cadência irregular de sua
respiração o revelou. Ela afastou a mão e abriu a porta com dedos
instáveis. Além dela, havia um vestíbulo alto, talvez uma entrada dos
fundos da casa, dominada por uma escadaria que levava para cima
e para baixo, com degraus acarpetados. Um corrimão de madeira
finamente esculpido corria em ambas as direções para a escuridão.
― Não precisa ter ciúme ― ela sussurrou, indo para o patamar.
― Não estou com ciúme. Estou preocupado.
Ela olhou de volta para ele. ― Por mim?
― Pelo meu primo.
Ela subiu os degraus. ― Deixe-me ir atrás dele e explicarei mais
tarde.
― Explique agora. ― Ele não fez nenhum esforço para acalmar
sua voz. Envolto em sombras, ele era uma silhueta escura, mas ela
podia ver bem o suficiente, sua mão direita descansando no punho
da espada como se quisesse desembainhá-la.
Seus batimentos cardíacos gaguejaram no vazio.
― Não pode estar me ameaçando ― disse ela, incrédula.
― Não? ― Havia a crueza novamente subjacente à única palavra,
como o desespero que ela sentia por dentro.
― Acha que o temo?
― Eu imagino que me queira ― disse ele. ― Pelo contrário, eu sei
que o faz.
Ela agarrou o corrimão. ― Sua arrogância me torna toda
submissão, senhor.
― Se fosse assim, eu não precisaria ameaçá-la, precisaria? ―
Sua voz havia mudado. Parecia quase como se ele estivesse
sorrindo. E sua mão caiu ao seu lado novamente.
― Me ameaça, ou não? ― Ela disse. ― Se contradiz.
― Talvez porque me enlouquece. Diga-me o que quer do meu
primo.
Ela desceu dois degraus, para dentro do seu alcance, se ele
quisesse tocá-la.
― Há evidências que sugerem que o Duque de Loch Irvine está
ligado ao desaparecimento e possíveis assassinatos de duas moças
em Edimburgo, uma em setembro e outra em dezembro. Ambas
foram vistas pela última vez perto desta casa e o manto de uma das
moças foi encontrado, manchado de sangue.
― Loch Irvine ― disse ele lentamente. ― Seu prometido?
― Ele não é meu prometido.
― Se é suspeito de assassinato, eu espero que não.
― Parece que pode estar ligado a uma sociedade secreta. Alguns
dizem que nas reuniões dessa sociedade os membros se envolvem
em rituais sinistros. Rumores sugerem que ele é o fundador e
responsável pelo desaparecimento das moças. ― E seu irmão,
Torquil também. Mas ela não podia compartilhar esse boato agora.
― Está louca.
― Sobre o manto da moça havia um símbolo, uma estrela de seis
pontas muito singular. Em toda a Grã-Bretanha, esse símbolo é
exclusivo de Haiknayes. Não estou louca. Há muitas pistas que
indicam um crime que deve ser desvendado e o culpado detido.
― Sua preocupação com punhais de repente é muito mais clara.
Pretende parar esta sociedade secreta? Sozinha?
― Mais uma vez duvida de minhas habilidades.
― Nunca. Eu só me pergunto pelo seu interesse. Poderia deixar
para a polícia desvendar.
― A polícia juntou muitas informações sobre os desaparecimentos
das moças, mas ainda não prendeu os suspeitos. Jovens inocentes
foram tiradas de suas famílias, Saint. Como isso pode não ser do
meu interesse?
Ele olhou para ela por um longo momento.
― O que acredita ser a parte de meu primo nisso?
― Ele veio para Edimburgo duas vezes nesses seis meses, uma
vez no momento em que a primeira moça desapareceu e novamente
quando a segunda desapareceu e roupa dela foi encontrada. E ele
admitiu sua amizade com o Duque. Eu acredito que ele pode
pertencer à sociedade secreta.
― Ele não pertence.
― Como sabe?
― Eu sei as razões pelas quais ele veio aqui, tanto em setembro
quanto em dezembro. Não foi para um ritual satânico, asseguro-lhe.
― Diga-me as razões.
― No outono passado ele viajou para cá para convencer meu
irmão a parar o contrabando e transformar seus talentos em
comércio honesto. Em dezembro, ele foi a Edimburgo para cortejar
uma moça.
― Qual jovem?
― Chloe Edwards. Ela é a razão pela qual ele desejava viver na
casa de seu pai, para provar suas impressionantes conexões e se
tornar um pretendente mais desejável.
― Chloe Edwards? Cachos negros?
― Sim.
― Ela estava falando com Sir Lorian Hughes hoje mais cedo, um
homem bonito e com muito...
Ele subiu os degraus e estava com ela. ― Meu primo é inocente
de qualquer maldade que acredite sobre ele.
― Por que ele se afastou da festa secretamente, como se fosse
culpado de um delito?
Seu olhar viajou rapidamente pelo rosto dela. ― Talvez esteja
perseguindo uma mulher que ele não deveria estar perseguindo.
― Como o primo dele?
― Não estou perseguindo uma mulher.
― Não sou uma mulher?
― É uma praga.
― Uma praga?
― Uma maldição. Uma distração. Uma preocupação. ― Ele
curvou as mãos ao redor dos ombros dela e o polegar acariciou a
borda do corpete. ― Uma intoxicação ― ele disse com voz rouca.
Inclinou a cabeça ao lado dela e o calor de sua pele acariciou sua
bochecha. ― Uma lembrança que não consigo apagar, apesar de
tentar.
Ela inclinou a cabeça e sua bochecha roçou a dele e foi o céu
senti-lo assim novamente.
― Vai me beijar? ― Ela sussurrou. ― Finalmente?
― Meu primo não é culpado de nenhum crime, Constance. Está
perseguindo o homem errado.
Ela se afastou e subiu os degraus. ― Encontrarei o homem
responsável por essas moças desaparecidas.
― Provarei que está errada sobre Dylan.
Ela girou no degrau e apertou o punho contra o peito. ― Espero
que o faça.
― Espera? Não quer encontrar o seu vilão?
― Eu quero. Mas não desejo te ver ferido. Quero que aquele a
quem ama seja inocente.
Seus olhos pararam, e um músculo pulsou em sua mandíbula.
Ela recuou um passo e outro. ― Fique longe de mim, Saint.
― Isso simplesmente não é mais possível ― disse ele numa voz
totalmente alterada.
Ela chegou ao topo e se moveu para o corredor, e ouviu seus
passos nas escadas atrás dela. A seguiu sem falar.
Iluminado pelo luar de uma única janela, o longo corredor
ostentava várias portas, apenas uma destrancada. Abria-se para
uma sala decorada com um sofá de estofados suntuosos e uma
mesa com lavatório de prata, jarra e candelabro. Por trás das
cortinas, no entanto, as janelas estavam fechadas.
Saint esperou na porta, depois foi com ela até a última porta no
final do corredor. Abria-se para uma escadaria estreita: uma escada
para criados, talvez para uma velha cozinha exterior, descendo para
as sombras.
― Aqui não tem iluminação ― ele disse por cima do ombro. ―
Vou primeiro.
― Acha que me falta coragem.
― Acho que parece muito ansiosa para se jogar no perigo. ― Ele
a rodeou rapidamente e começou a descer as escadas, puxando
uma faca de sua manga.
― Tem uma faca escondida em sua manga, bem como uma adaga
na sua bota? ― Ela sussurrou, colocando seus pés cuidadosamente
em cada elevação enquanto a escada ficava mais escura.
― Não estou usando botas no momento. Assim, a manga serve.
― Eu gostaria de ter uma faca escondida.
― Sabe, não é particularmente sábio revelar o armamento de
alguém para um adversário que pode estar esperando no escuro
abaixo.
― Não há ninguém abaixo. Mas da próxima vez que nos
arrastarmos pela escada dos servos no escuro, pode me dar uma
faca escondida e eu não falarei nada. De acordo?
Quando chegaram ao fundo da escada, a escuridão os ocultou
quase inteiramente. Ela sentiu a maçaneta da porta e a girou, mas
permaneceu fechada.
― Uma porta para o exterior, muito provavelmente ― ele disse,
sua voz sussurrada no espaço frio e próximo.
― Por que ele teria deixado a festa secretamente, se não para
esconder alguma coisa?
― Esta é uma posição perigosa para permanecermos.
― Nenhuma fuga, exceto para cima ― ela concordou. ― Parece
que acredita cada vez mais no perigo.
― A escada é muito estreita para se caminhar livremente. A
escuridão, no entanto, fornece a oportunidade ideal...
― Para me beijar.
― Não. Está louca. Não vou beijá-la. Somos adversários nisso,
Constance.
― Se não quiser, não deve, é claro. E eu não quero, de qualquer
forma.
― Isso é uma mentira descarada. E eu quero te beijar. Muito...
Muito mais que beijar. E eu pretendo, mas não no escuro novamente.
Não em segredo. Nunca mais em segredo, entendeu? ― Sua mão
envolveu a dela no trinco da porta, puxou-a para baixo e a porta se
abriu.
Um ar frígido entrou correndo por tudo. A silhueta de uma figura
sombria estava diante deles.
― Constance? Sr. Sterling? ― A surpresa de Libby Shaw soou
nitidamente no ar da noite. ― O que diabos estão fazendo aqui?
Capítulo 15

Um Presente

A lua quase desaparecera, recuando para além da colina Arthur's


Seat, visível ao Sul, mesmo a essa distância.
― Me escondi debaixo do assento da carruagem e saí depois que
o Sr. Rory foi aquecer as mãos ― disse Libby. ― Há um grande
número de sebes, por isso não foi difícil esgueirar-me pela lateral da
casa. Eu não tinha ideia de como conseguiria passar por todos os
convidados e criados na porta principal. Imaginei que seria obrigada
a subir por uma treliça ou dreno ou algo assim.
― Não entendo. ― Em poucos minutos a neve se infiltrou nas
sapatilhas de Constance, e ela apertou os braços ao redor de si
mesma. Saint se recusou a permanecer na indefensável posição da
escada ou a permitir que ela falasse com Libby na escada sem ele.
Agora ela estremecia em seu vestido que tinha sido feito para um
salão cheio de pessoas, não para a parte de trás de uma casa em
março à meia-noite. ― Por que queria se esgueirar? Achei que não
se importasse com festas.
― Todas as pessoas num só lugar me deixam nervosa. Eu quero
estudar a coleção de ossos humanos do Duque. Ontem, quando ele
estava saindo da nossa casa, perguntei se poderia vê-los, mas ele
recusou. Eu sabia que viriam na carruagem grande para a festa hoje
à noite, e me escondi antes de sua saída. Parecia minha única
oportunidade. Eu não tinha um plano completo de como entrar
depois de estar aqui, mas depois encontrei esta porta.
― Ossos humanos? ― Seus dentes batiam ao pronunciar as
palavras.
Saint tirou o casaco e envolveu os ombros dela. Era pesado e
estava quente do calor do seu corpo.
― Conte-nos sobre a coleção do Duque, senhorita Shaw ― disse
ele.
― É uma das melhores da Grã-Bretanha. O Duque tem espécimes
de todo o mundo. Meu pai disse que deve haver pelo menos três
dúzias de crânios. Eu gostaria de comparar o tamanho do crânio
masculino e feminino.
― O Dr. Shaw viu essa coleção pessoalmente?
― Ninguém foi autorizado a estudá-la por mais de uma década.
Mas o seu irmão viveu nesta casa por semanas a fio. Eu me
pergunto se ele foi autorizado a ver a coleção. Ele lhe mencionou
algo?
Saint franziu a testa.
― Como sabe que meu irmão morou nesta casa?
― Lady Easterberry disse a Constance ontem. Sinto muito por ele.
Talvez ele fosse mais acessível do que o Duque.
― Meu irmão não estava interessado em ciência ou antiguidades,
senhorita Shaw. Disse que esta porta estava aberta antes?
― Com um tijolo daquela pilha. ― Ela apontou. ― “Entrei e
cheguei a uma sala no andar de cima. Mas as outras portas estavam
trancadas. Eu pretendia continuar, mas depois lembrei que Rory
tinha ferramentas na carruagem que eu poderia usar para abrir as
fechaduras.
― Esta noite passei a ter novo apreço pela habilidade das damas
em invadir domicílios ― ele murmurou.
― Voltei para a carruagem ― Libby continuou ― mas o suporte da
porta tinha desaparecido quando voltei aqui. Estou tão feliz que
vocês dois apareceram, ou eu nunca teria conseguido voltar a entrar.
― Não voltará a entrar. ― Constance devolveu o casaco para
Saint. ― Nós estamos indo para a carruagem e Rory nos levará para
casa. Não posso culpá-la por querer algo proibido, mas esse não é o
caminho para alcançar seu objetivo. Amanhã perguntarei ao Duque e
esperaremos uma resposta positiva.
― Levarei a senhorita Shaw para casa ― disse Saint. ― Mandarei
a carruagem de volta. Não terá uma resposta positiva do Duque
amanhã se abandoná-lo no meio da festa que ele lhe ofereceu ―
disse ele, deixando o estômago de Constance em revolta.
― Estou profundamente desapontada. ― A testa de Libby estava
tempestuosa. ― Profundamente.
O frio aprofundou-se sob a pele de Constance. Não era birra
infantil o que havia no rosto de Libby agora. Através do túnel da
memória, ela reconheceu essa raiva, era a raiva que sua mãe
expressara em lágrimas tantas vezes antes do seu fim, quando seus
desejos eram frustrados ― seus desejos de que a casa ficasse livre
de poeira, as cortinas puxadas com precisão, seu jantar servido em
proporções exatas, certas palavras nunca deveriam ser proferidas,
assuntos nunca a serem abordados. Quando Constance, seu pai e
os criados não haviam feito tudo isso perfeitamente, a Duquesa se
enfurecia. Mas principalmente ela chorava.
E o mal humor de Libby com multidões... era o mesmo também.
Até que a doença a consumisse, a Duquesa fora uma mãe amorosa.
Mas ela nunca achou o mundo um lugar fácil de suportar.
As lembranças moveram os pés de Constance para a frente e
suas mãos cercaram as de Libby.
― Minha querida, eu a entendo ― ela disse suavemente. ― Eu
sinto muito por esta decepção.
― Mas devo medir esses crânios, Constance. Meu estudo não
estará completo sem essas medições.
― Sim, claro. Deve estar muito frustrada ― ela disse com o
mesmo tom reconfortante que aprendera quando menina para falar
com sua mãe. ― Vamos tentar vê-los amanhã.
― Como pode ter certeza de que o Duque concordará com isso? E
se ele não concordar? E se ele me achar persistente demais e se
tornar mais vigilante em mantê-los em segredo?
― Eu não tenho uma resposta hoje à noite. Mas prometo que farei
o meu melhor. Eu prometo, querida ― ela disse, e esperou pela
explosão.
Mas os lábios de Libby se fecharam.
― Sinto muito, Constance - ela disse com voz entrecortada, os
dedos afundando nas próprias mãos. ― Eu vou voltar para casa
agora com o Sr. Sterling e esperar até amanhã.
― Excelente ― ela disse gentilmente. ― Confio na sua paciência.
Agora vá com ele. ― Ela olhou para Saint. ― Boa noite.
Ele a estudou sem falar.
― Não vou ― finalmente ela disse, tremendo, mas deliciosamente
aquecida por dentro.
― Eu não acredito ― ele disse.
― Pode acreditar.
― Até o momento que eu saia.
― Do que os dois estão falando? ― Disse Libby.
― Eu prometo que não farei nada ― ela disse. ― Pelo menos não
essa noite. Mas não te importará se eu fizer ou não, não é?
― Se acha que eu ainda pretendo partir, então realmente é louca.
E assim, em um instante, Constance não se importava que Libby
Shaw fosse o que ela suspeitava há muito tempo, sua meia-irmã, ou
que seu pai soubesse a verdade disso, ou que o homem que a
cortejava tivesse uma coleção de ossos humanos escondidos em
sua casa. Amanhã, quando ela acordasse, se importaria. Mas por um
momento precioso ela estava feliz.
― Eu o verei no salão de baile amanhã depois do café da manhã?
― Ela disse.
Ele deu a ela a faca. ― Pode querer encontrar um lugar para
esconder isso antes de entrar novamente na festa.
Com um sorriso, ela abriu a porta e jogou-lhe o lenço que ele havia
colocado na maçaneta. Então ela refez seus passos. A porta da
galeria permanecia destrancada. Movendo-se rapidamente pela
longa sala, ela parou para colocar a faca na fenda entre a base da
vitrine e o chão. Para a próxima visita.
De pé diante da porta da antecâmara para a sala de visitas,
beliscou as bochechas para combinar com o nariz frio e esfregou as
mãos nos braços. Ela abriu uma fresta da porta e deslizou através de
um grupo de convidados.
― Outro manto? ― A Lady perto dela sussurrou com olhos
redondos.
― Pelo contrário, um casaco ― exclamou outra Lady em um
sussurro.
― Tem certeza? ― Um cavalheiro murmurou cético.
― Oh sim! Na margem do lago, há poucos passos desta mesma
casa. O Duque do Diabo atacou novamente. Mas desta vez ele
deixou o corpo!

Na carruagem voltando para casa, nenhum membro do grupo do


Duque de Read que foi a festa, conversava, exceto o próprio Duque.
Comentando sobre a sagacidade de Loch Irvine de sediar um evento
como esse em Edimburgo, dada a sua intenção de viver nas
proximidades de Haiknayes, ele parecia totalmente impassível ao
furor despertado durante a última hora da festa.
O restante das pessoas na carruagem do duque, enquanto subia
para a cidade nova, ficara em silêncio: Eliza severa, Dra. Shaw
pensativo, e lorde Michaels com os lábios brancos. As festividades
tinham terminado bem depois da meia-noite em meio de uma
enxurrada de conversas sussurradas, exclamações abafadas e
olhares horrorizados para o anfitrião que, segundo os boatos, tinha
recebido a notícia em sua porta diretamente dos homens que tinham
encontrado a moça.
Dois pastores que estavam levando suas ovelhas para Lochend
Toll, fizeram uma pausa para seus animais beberem na margem do
lago e a descobriram. Um dos homens a reconheceu; ela não devia
estar lá há mais de um dia, eles imaginaram, e suas feições eram
claras. Como as duas moças desaparecidas, ela era uma moça local
e solteira. E desenhado em seu casaco com giz havia uma estrela de
seis pontas.

Constance chegou ao salão de baile depois do café da manhã


para encontrá-lo vazio.
― Ele se foi, então ― disse Eliza. ― É o melhor.
― Milady. ― O Sr. Viking estava na porta. ― O Sr. Sterling pediu
que eu lhe entregasse isso. ― Ele estendeu uma folha de papel
dobrada.
O papel tinha apenas quatro palavras escritas em uma mão
ousada e corajosa.
― Bem, é um pedido de desculpas por sair sem aviso prévio? ―
Eliza disse quando Viking partiu. ― Ou um poema? Como fiquei feliz
quando aquele poeta tolo deixou de cortejá-la. Qual era o nome
dele? Cícero? Virgílio?
— Lorde Warbury? ― perguntou, sentindo o alívio passar por ela.
― Ele chamava a si mesmo de Dante.
― Sua poesia era terrível. Então o que é? Um soneto ou uma
balada?
Ela dobrou o papel e enfiou na manga. ― Meu primo Leam é um
poeta, Eliza, caso não se lembre. E muito bom.
― Eu não disse que todos os poetas eram terríveis. Apenas os
poetas que a perseguiram.
― É evidente que o Sr. Sterling não me persegue. E não é um
poema. É um endereço na cidade velha. Uma loja.
Eliza suspirou. ― Com a neve, meu reumatismo está horrível hoje.
Constance sorriu. Eliza ficava flexível em proteger sua virtude
quando era confortável e conveniente.
― O Sr. Viking pode me acompanhar.
Ela vestiu uma capa forrada de pele e eles partiram. O vento frio
cortava ao atravessarem o monte que ligava a parte mais nova da
cidade a cidade medieval. No dia anterior, ela dera esse passeio
para encontrar a casa de Maggie Poultney. Agora passavam por
poças geladas e por passagens estreitas até a loja que Saint
indicara. A marquise acima da porta mostrava dois sabres cruzados
divididos no centro por um punhal. Dentro da sala forrada de
prateleiras com espadas, facas e adagas, o ar cheirava a couro e
metal. O barulho do martelo de um ferreiro sobre uma bigorna soava
além de uma porta parcialmente aberta.
A abertura se alargou e, abaixando a cabeça para passar sob o
lintel baixo, Saint entrou na loja.
― Bom dia ― ele disse a ela e a Viking.
― Milady, deseja que eu permaneça? ― Disse o Sr. Viking.
― Não. O Sr. Sterling me levará para casa.
― Muito bem, Lady. ― O lacaio partiu.
Ela se virou para Saint. ― O Sr. Sterling me levará para casa, não
é?
― Sim, levarei. ―Ele gesticulou para um banquinho. ― Sente-se.
― É muito misterioso. ― Ela tirou as luvas, o chapéu e colocou-os
no balcão. ― Esta loja é sua?
― Não, eu não sou um ferreiro. Mas se fosse, tenho quase certeza
de que teria lhe mencionado isso.
― Teria?
― Não sou o que guarda segredos de nós dois, Constance. O que
vê é o que sou. ―Inexplicavelmente, seu coração pulsou
desconfortável. ― Mas reconheço um bom cuteleiro quando
encontro um ― ele disse. ― Quando terminarmos aqui, vou
apresentá-la a Ian MacMillan. Se é que a filha de um Duque pode
entrar na oficina de um ferreiro?
― A filha de um Duque pode fazer praticamente tudo o que quiser,
na verdade. ― Exceto casar com quem desejava.
― Tirou um peso da minha consciência ― ele disse secamente. ―
Sente-se por favor. Tenho um presente.
― Um presente? ― Ela sentou-se no banquinho. ― Meu
aniversário não é agora, faltam ainda semanas.
― Isso não pode esperar semanas. ― Ele pegou um item do
balcão e se ajoelhou diante dela. O pulso de Constance acelerou.
Ele olhou para ela e seus olhos verdes brilhavam, como uma clareira
na floresta depois de uma chuva.
― Levante suas saias ― ele disse.
Calor. Em toda parte. Em sua respiração abruptamente difícil e em
suas bochechas.
― Bainha. ― Brandiu uma tira de couro plana finamente cortada
com duas fivelas delgadas. ― Adaga. ― Sobre a outra palma
mostrou uma pequena lâmina, talvez quatro centímetros de
comprimento, com o cabo de marfim. ― Sua perna direita, se quiser.
Ela apertou os lábios; não confiava que sua voz não revelasse seu
pulso errático. Levantando as saias, ela deslizou o pé direito para
frente e mostrou sua panturrilha.
― Bom ― ele disse, e colocou o couro na lateral de sua canela.
Ela fechou os olhos e tentou respirar uniformemente quando os
dedos contornaram seu tornozelo, depois mais acima.
― Bom ― ela murmurou.
― Isso permanecerá no lugar com segurança sobre meias de lã
como esta que está usando. ― Ele olhou para cima. ― Ou na pele
nua.
Ela engoliu em seco. ― Oh?
― Quando usar meias de seda, aperte-a logo abaixo do joelho. ―
Circulando sua perna, ele correu a mão para cima, as pontas dos
dedos varrendo sua panturrilha. ― Sobre este osso. ― Seu polegar
a acariciou.
Ela deteve um suspiro entre os dentes.
― Com a bainha aqui ― ele acariciou de novo ― será mais difícil
retirar a adaga rapidamente de debaixo de suas saias do que quando
a amarrar logo acima do tornozelo. Mas não escorregará para o seu
sapato quando estiver dançando. — A carícia voltou, sob o joelho.
Na sua coxa.
― Retire... ― Ela arrastou uma respiração e olhou em todos os
lugares, mas não para ele. ― Retire a mão da minha perna.
Ele retirou a mão. Ela ajeitou as saias até os pés.
― Esta adaga deve servi-la. ― Ele ofereceu o punho para ela. ―
É pequena, mas letal, se usada corretamente. Terá que praticar
golpes em alvos mais baixos: os tendões atrás do calcanhar e joelho,
principalmente. Mas dado o seu truque impressionante com um
grampo e a habilidade com a espada, suspeito que dominará isso em
breve também. ― Ele esperou. ― Pegue.
― Não a quero neste momento.
― Constance...
― Minhas mãos estão tremendo, maldito.
Um sorriso de pura satisfação marota cruzou seus lábios. ― Elas
estão?
― Porque fez isso?
― Porque tenho fantasiado tocar suas pernas por seis anos ― ele
disse muito sério.
O riso rompeu de sua garganta bloqueada. Pegou a adaga das
mãos dele, levantou a saia o suficiente para revelar o tornozelo e
enfiou a arma na bainha.
Ele ficou de pé. ― Depois de ontem à noite não consigo imaginá-la
se esgueirando por corredores escuros durante as festas sem
alguma forma de se proteger.
Ela se levantou e sua mão se moveu em direção a ele, mas se
afastou antes de tocá-lo. Ele seguiu o movimento com os olhos.
― Obrigada.
― Peço desculpas por pedir-lhe que viesse até aqui para isso. Eu
queria ter certeza de que se encaixaria corretamente e de fazer
ajustes imediatos, se necessário.
― Não pediu. Me fez imaginar o que pretendia fazer. Estava
testando meu juízo.
― Não preciso testá-la. Eu a conheço.
Ela foi até o balcão e pegou o chapéu e as luvas. ― Terei o prazer
de conhecer o Sr. MacMillan agora? ― Suas bochechas estavam
quentes, suas mãos contrariamente frias, e seu estômago em nós.
Ele gesticulou para a porta aberta.

Eles voltaram para a casa sem pressa. Apesar do frio, ela não
tinha vontade de se apressar e ele acompanhou seu ritmo como um
cavalheiro. Ao longo do caminho, cumprimentaram pessoas que
haviam comparecido à festa do Duque na noite anterior. Todos
apenas insinuavam sobre a moça encontrada no lago, como se falar
abertamente na rua não fosse adequado.
Quando caminhavam novamente sozinhos, Saint disse: ― Uma
moça foi encontrada?
― Um corpo.
Seu olhar virou para ela.
Ela assentiu. ― Encontrado no mesmo lugar onde as duas moças
desaparecidas foram vistas pela última vez, no lago perto da casa do
Duque de Loch Irvine.
― E o símbolo de Haiknayes?
― No casaco dela.
― A polícia foi informada, eu presumo.
― De tudo que valha a pena.
― Acredita que Loch Irvine fez isso?
― Ele mantém uma coleção de ossos humanos em sua casa.
― O homem que cuidou do meu cavalo em Plymouth vendia
bonecos de espigas de milho. Isso não significa que ele era um
fazendeiro de milho. E que evidências, igualmente reais, pode usar
contra meu primo?
― Nada além de circunstancial ― ela admitiu. ― Procurei por ele
quando voltei para a festa. Não o vi até entrarmos na carruagem. Ele
disse aonde foi durante a festa?
― Não o vi hoje. Falarei com ele.
― Talvez não deva.
― Para que possa continuar a investigá-lo sem o conhecimento
dele? Não. Não vou ajudá-la nisso. Constance, ele é inocente desses
crimes.
― Como pode saber disso?
― Porque eu o conheço.
Ele dissera que também que a conhecia. Mas não conhecia. Eles
tinham chegado em casa e ela subiu rapidamente os degraus até a
porta.
― Espere ― ele ordenou com voz baixa. ― Porque agora?
Porque setembro, dezembro e agora?
― O que quer dizer?
― Que outro motivo poderia haver para o sumiço dessas moças
nessas datas, que provar a coincidência da presença de Dylan aqui
nesses momentos?
― Eu não sei. Pensarei nisso.
― Faça isso. ― Ele se afastou.
Ela não perguntou onde ele estava indo, ou se iria ensiná-la hoje.
Ela já tinha tido mais dele do que poderia suportar. Quanto mais
tinha, mais queria.

Saint encontrou seu primo num pub na Rose Street, onde tinham
bebido uma cerveja dias antes.
― Sabe ― disse Dylan. — Aqueles mestres de esgrima do século
passado, os franceses, quero dizer, metade deles mulatos, é claro -
se casaram de maneira impressionante. Os que casaram, quero
dizer. ― Sua língua arrastou todas as outras palavras. ― Alguns
acabaram na guilhotina antes de terem a chance de amarrarem o
velho nó. Pobres idiotas, leais a Louis e tudo mais. Seria de se
esperar que soubessem melhor. Mas que política complicada, não?
― Do que está falando?
― Seu casamento. Matrimônio. Esponsal.
― Está bêbado. ― Às duas horas da tarde. Dylan não havia
bebido assim desde que pararam a caminho de Edimburgo, naquela
pousada em Duddingston.
― Estou. ― Dylan acenou com a mão desleixadamente. ― Mas
isso não é nem aqui nem ali no que diz respeito ao seu cortejo com a
belíssima Lady Constance Read.
― Não a estou cortejando.
― É claro que está, saiba disso ou não. Ela está se deixando levar
contigo. Inteiramente. Maldito seja, meu rapaz. ― Ele tomou metade
do copo de cerveja. ― Ao contrário de que algumas moças estão
com alguns homens.
Saint observou o rosto de seu primo. A mandíbula de Dylan estava
folgada, os olhos vidrados.
― A Srta. Edwards?
Dylan baixou a cabeça. ― Deixou-me duro e seco. Ela deveria me
encontrar na festa, sozinha, em segredo. Sei que não é uma coisa
honrosa de dizer. ― Ele virou o rosto e sua testa estava amassada.
― Eu não teria ultrapassado os limites. Ela é uma dama. Só queria
fazer um plano de ataque com ela.
― Ela não apareceu?
Ele balançou a cabeça para trás e para frente.
― Fiquei no frio três quartos de hora esperando por ela.
― Onde?
― No estábulo. ― Ele encolheu os ombros. ― Me tranquei por
fora da casa. Tive que dar a volta pela frente. Ela não estava lá
dentro também. ― O queixo dele ficou apertado. ― Lorian fora
embora também. Foi ele quem planejou o encon... ― Ele engoliu em
seco. ― O encontro comigo. Com ela. Até me disse onde encontrar a
chave para passar por uma porta trancada. Eu pensei que ele estava
me ajudando. Mentiroso, filho de um... ― Ele murmurou.
― Acredita que Sir Lorian saiu com a senhorita Edwards na noite
passada?
― Não sei como ele poderia ter feito isso. Seus pais estavam lá.
― Dylan, há algumas pessoas que acreditam que o
desaparecimento das duas moças e a jovem encontrada ontem à
noite estão ligadas ao Duque de Loch Irvine e seus amigos.
A cabeça de Dylan ergueu abruptamente, havia angústia em seus
olhos.
― É isso que não queria me dizer na outra noite? ― Disse Saint.
― Que o clube do Duque é responsável pelo desaparecimento
dessas moças e que de alguma forma sabe disso?
― Santo Deus, Saint. Eu não... isto é, eu vou... Oh, inferno... ―
Ele segurou sua cabeça com as mãos.
― É um membro do clube, Dylan?
Seus olhos arregalaram ainda mais. ― Eu não sou! Por quem me
toma?
― Não por um assassino.
― Então por que esse interrogatório? Estou bêbado como um
imperador, com o coração partido e em pedaços, só querendo ver
meu anjo novamente, e está me perguntando se me tornei membro
de uma sociedade de adoradores do diabo? Bem, maldito seja. ― A
dor cobriu seu rosto. ― Eu também posso perguntar se voltou para a
hospedaria em Duddingston na outra noite e acabou com a filha
atrevida daquele vigário que tentou brincar contigo?
― O quê?
A boca de Dylan abriu. ― Não sabe sobre Annie Favor?
― Saber o que dela?
― Bom Deus, Saint. Annie é a terceira jovem. Ela é a que
encontraram no lago ontem à noite.
Capítulo 16

Finalmente uma Dança

O inspetor de polícia interrogou o Duque de Loch Irvine com


enorme deferência em sua sala de visitas. Admitiram nunca terem
interrogado um Duque antes, e não havia nenhuma prova de que ele
estava ligado à morte da senhorita Annie Favor ou do
desaparecimento das duas moças. Ele respondeu bruscamente.
Lorde Michaels e Eliza não disseram nada. Constance relatou
apenas o que viu e ouviu na noite da festa. A polícia provou ser
inadequada em descobrir a verdade sobre os desaparecimentos de
Maggie ou Cassandra.
Estavam interrogando as pessoas erradas. As fofoqueiras da
sociedade de Edimburgo estavam cheias de informações. Lady
Melville compartilhou furtivamente as novidades com Constance: há
duas noites, Patience Westin e seu marido foram vistos entrando na
casa do Duque de Loch Irvine perto das onze horas. Não se sabe
quem os viu; as notícias já estavam muito longe de sua fonte original.
Mas o Sr. e a Sra. Westin jantaram naquela noite com Sir Lorian e
Lady Hughes.
Recordando o relato febril de Lady Melville, Constance sentiu
náuseas. Lady Melville e Lady Easterberry eram grandes
amigas, mas uma estava disposta a colocar a filha da outra no altar
do escândalo para poderem ter novas informações. O primo e o
irmão de Torquil Sterling viviam na casa de Constance; Lady Melville
era pouco sutil em suas investigações.
O Duque não mencionara ter recebido os Westins em casa na
noite após sua festa. Mas, se fosse o Diabo, não o faria, claro.
Quando a polícia partiu, Constance serviu o chá.
― Bem, isso foi completamente desagradável, não? ― Lorde
Michaels disse. ― Maldita lei, metendo o nariz na vida de todos.
Certamente não é da minha conta e tenho certeza de que não é da
sua, Duque. Ou da sua, lady Constance. ― Ele olhou para os
biscoitos.
― Peço perdão pelos doces insignificantes ― disse o Duque
rispidamente. ― A cozinheira se demitiu ontem.
― Gostaria que eu tentasse encontrar uma nova cozinheira? ― Se
ela tivesse acesso aos servos superiores, poderia saber de algo útil
sobre a casa.
― Aye. Isso seria de ajuda, moça.
Ela assentiu. ― Talvez eu possa conversar com sua governanta
sobre isso agora.
Ele ficou de pé. ― Ela se demitiu também.
― Deus do céu. E seu mordomo?
― Ele foi para Leith.
― Bem, então, outro dia.
― Milorde ― o Barão disse: ― Assegure-nos que irá ao baile esta
noite, no Assembly Rooms. Acredito que será extremamente bom.
― Não gosto muito de dançar ― ele resmungou. Era um som
profundo e nada desagradável.
Ela colocou a mão no seu antebraço. ― Eu gosto muito de bailes
― ela disse suavemente. ― Diga a Lorde Michaels que irá assistir
para que ele possa se tranquilizar.
O Duque deu um breve escrutínio ao Barão, depois voltou a
atenção para ela. ― Se desejar.
Lorde Michaels apertou a mão dele, que o Duque suportou com a
mandíbula apertada.
― Milorde ― disse Constance enquanto o Barão a ajudava a
entrar na carruagem. ― Não deveria provocá-lo assim.
― Mas ele é tão incrivelmente divertido de se provocar. Cara Lady
Constance, realmente, não pode se casar com ele. Eu simplesmente
não permitirei isso.
― Milorde ― Eliza disse maliciosamente ― não acredito que
tenha alguma palavra sobre com quem milady decidirá ou não se
casar.
― Oh, não? ― Ele respondeu com igual arrogância, então
estragou tudo piscando para Constance.
Ou ele era um ator extraordinariamente bom, ou Saint estava certo
sobre ele. Saint que mal encontrara em três dias, somente para suas
aulas e apenas com Eliza e Lorde Michaels presentes. Não estava
frio quando se aproximou dela, sentiu tensão nele. Mas ele não a
tocou. Tampouco falou novamente sobre o assunto que os dividia.
Ela praticava espadas com ele e sozinha em seu quarto, ela
praticava como desembainhar a pequena adaga que ele lhe dera,
finalmente conseguindo fazê-lo sem rasgar suas saias em pedaços.

Assembly Rooms era um grande prédio na George Street, a


poucos passos da casa do Duque de Read. Mas estava chovendo e
Lorde Michaels pediu a carruagem.
― Não me importo se Fingal deve atrelar a equipe para um
passeio de um quarteirão e meio ― ele declarou quando ela desceu.
― Recuso-me a permitir que as damas que acompanho a um baile
fiquem desconfortáveis a qualquer momento da noite. E tenho
certeza de que meu primo concorda. Certo, Saint?
Ele estava na porta da sala de jantar e a fraqueza familiar do
desejo a atravessou. O traje de noite combinava muito bem com ele,
seus ombros largos e quadrados, suas pernas compridas e as
costeletas curtas cercando sua mandíbula, particularmente
enervantes. Ele parecia um cavalheiro, e ainda assim... singular,
assim como naquela noite em Fellsbourne quando não foi capaz
parar de olhá-lo.
― Concordo ― disse ele a seu primo, mas seus olhos estavam
sobre ela. Apreciativos. Mais do que apreciativos.
― Nenhuma espada esta noite? ― Ela perguntou.
― É proibido usar no quadril ― Lorde Michaels disse levemente.
― Eu também estaria usando uma se não fosse isso. Depois
daquela festa na casa de Loch Irvine, todas as moças da cidade
estão batendo os cílios para esse sujeito. É a espada ― ele
confidenciou a Eliza. ― As Ladies admiram homens perigosos, não
sabia disso?
― Não sei sobre tal coisa, seu jovem patife.
Guarda-chuvas erguidos, eles se dirigiram para a carruagem. Ao
passar, Saint estendeu-lhe a mão. Constance hesitou.
― Vá em frente ― ele disse baixinho. ― Eu não mordo. Esse é o
seu trabalho, pelo que me lembro.
Com os dedos abençoadamente enluvados, aceitou sua ajuda.
― Esplêndido de Sua Graça e do doutor por preferirem o xadrez a
dança esta noite ― declarou Lorde Michaels, batendo as palmas das
mãos nos joelhos. ― Mais espaço no banco. ― Ele sorriu para
todos.
― O que tem hoje que está de tão bom humor? ― Eliza exigiu
saber. ― É o suficiente para causar enxaqueca a uma pessoa.
― Oh, eu imploro seu perdão, madame! Tentarei me controlar.
Mas ele não se controlou. Por dois quarteirões ele os presenteou
com as fofocas ouvidas nas mesas de chá naquela tarde. A festa do
Duque e a moça que tinha sido encontrada naquela noite pareciam
completamente esquecidas pela antecipação do primeiro baile da
temporada no Assembly Rooms. Mas Constance não podia
esquecer. Ela tinha planos para esta noite ― planos que não
incluíam o homem sentado à sua frente na carruagem, os braços
cruzados, o olhar esmeralda sobre ela.
Seu interior poderia traí-la, mas ela não era mais a jovem ingênua
daquela noite em Fellsbourne. Recusava-se a ser desconcertada por
ele.
― Dança, Sr. Sterling? ― Ela perguntou.
― Um pouco.
― Ahãn! ― Lorde Michaels grunhiu. ― Ele é tão leve na pista de
dança quanto ... bem, como é esgrimista. Maldito primo, por ser
muito bom em ...
― Milorde.
― Oh! Mil perdões, Sra. Josephs. Esqueço minha línguagem de
vez em quando.
― Está perdoado, milorde ― disse Constance. ― Esqueço a
minha também, às vezes. ― Em passagens escuras e escadas,
quase implorando a um homem para beijá-la.
Saint não estava sorrindo. ― Reservará uma dança para mim?
Ela não podia fazer uso de sua voz, que tinha que ser a melhor.
Balançar a cabeça era mais seguro. Certamente, a língua poderia
revelar seus nervos que giravam em cima do sonho, que durava seis
anos, de dançar com ele.

Construídos em grande escala, com tetos altos e pilares


espelhados por toda parte, os salões do Assembly Rooms brilhavam
à luz das velas e das centenas de adornos femininos. No meio da
multidão, esperando na porta, o Duque de Loch Irvine cumprimentou-
os secamente.
Constance foi graciosa e branda com ele, o que fez com que Saint
sorrisse. Ela nunca tinha falado assim com ele, nem mesmo anos
atrás. Mas quando o Duque a reivindicou para o primeiro set de
danças, e ela aconchegou a mão em seu braço, a diversão de Saint
desapareceu.
Ela resplandecia. Seu vestido era de um fino tecido branco que
brilhava como geada quando ela se mexia, seus cabelos dourados
estavam presos em um arranjo que permitia que duas mechas
acariciassem seu pescoço, e seu sorriso cintilava para seu parceiro,
um homem que ela imaginava estar sequestrando e assassinando
mulheres. Ela era tão imprevisível quanto os ventos escoceses. Mas
seu calor era constante, mesmo quando agia como a grande
herdeira. Ele examinou as paredes onde moças de aparência
modesta e semblante desajeitado estavam com suas
acompanhantes. Uma jovem com o cabelo tão vermelho quanto os
de Annie Favor e de sardas laranja no nariz estava afastada do
grupo, olhando para os dedos dos pés.
Ele foi até ela. Havia muitas jovens sem parceiros nesse salão.
Não era um pedido de desculpas atrasada e tardia para Annie Favor
por ameaçá-la, mesmo em tom de brincadeira. Pelo contrário, era a
sua penitência. Ele dançaria com cada jovem tímida do lugar esta
noite se o redimisse por ter provocado uma jovem com violência.
Muitas danças depois, se afastou da multidão, saboreando um
momento sem conversa fiada, quando sentiu o doce aperto de
Constance em seu ombro.
― Dançou com todas as outras mulheres aqui esta noite. Quando
será a minha vez?
Sua pele brilhava como se naquele lugar a dourada luz do sol a
iluminasse. Não podia dizer a ela que desejara esse momento muitas
vezes. Não podia dizer nenhuma das palavras que se reuniram
agora em sua língua. Em vez disso, estendeu a mão. Com a mais
breve hesitação, ela colocou as pontas dos dedos enluvadas ela.
― Santo Deus ― ela sussurrou numa inspiração profunda, os
olhos em suas mãos, e era tudo o que ele pôde fazer a respeito foi
permanecer em silêncio.
Ele a levou para a pista de dança.
A dança não lhes deu oportunidade de falar longamente. Mas ele
teve prazer nos momentos em que sua mão o tocava, e seu olhar
brilhante permaneceu completamente nele.
― Dança maravilhosamente ― ela disse quando se encontraram
brevemente.
― Digo o mesmo.
Ela sorriu, e ele sabia que isso era o que o inferno deveria ser,
querer incessantemente a uma mulher, mas ter apenas momentos e
toques fugazes.
― Estive considerando a sua pergunta do outro dia ― ela disse e
se separou dele.
― Minha pergunta? ― Ele perguntou quando os passos da dança
os uniram novamente.
― Sobre setembro, dezembro e agora.
A suposta culpa de Dylan.
― Não apenas considerando ― ela disse na próxima vez que se
encontraram. ― Pesquisando. ― Desta vez ela segurou a mão dele
por muito tempo, e atrasou os dançarinos atrás dela. Apressando os
passos, os outros retornaram aos seus pares.
Mas estavam sendo observados agora. Na verdade, ela foi
observada desde que entrou no Assembly Rooms. Toda a alta
sociedade de Edimburgo estava curiosa sobre a herdeira que parecia
feliz por ser cortejada pelo Duque do Diabo.
― Eu determinei as datas. Datas exatas ― ela disse rapidamente
antes de se separarem.
Logo, a dança os reuniu novamente.
― Equinócios e o solstício de inverno ― ela disse, o prazer
escapando de suas feições enquanto se afastava novamente dele.
Rituais sazonais? Rituais de sacrifício não eram desconhecidos
nos séculos passados.
― Pretendo examinar o símbolo ― ela sussurrou na próxima vez
que se uniram. ― Vi o símbolo desenhado na capa e não está claro.
Eu...
Outro dançarino pegou a mão dela e a deslizou para longe.
Ele a observou, a fluidez de seus passos, a cor em suas
bochechas. Quando ela chegou perto, ela disse: ― No castelo.
Haiknayes.
― Não ―ele disse.
Ele me levará para lá no sábado. ― Seus olhos queimavam com
entusiasmo.
Ele a puxou da pista de dança.
― O que está fazendo? ― Ela olhou para os dançarinos que
haviam abandonado. ― Não pode tirar sua parceira de um conj...
― Vai sozinha com ele para o castelo? ― Ele soltou a mão dela.
― Eliza me acompanhará, é claro. E meu pai, eu presumo. Onde
aprendeu a dançar assim? Eu era a inveja de todas as mulheres no
lugar agora.
― Com o mesmo homem que me ensinou esgrima, música e
filosofia. Suas lisonjas não me distrairão. Precisa garantir...
― Isso não foi lisonja.
― Um convite para Dylan.
A animação abandonou seus traços.
― Gabriel desconfia das provocações de Lorde Michaels ― ela
disse. ― Ele não é tolo, Saint. Muito pelo contrário, eu acho. ― Seu
olhar deslizou para baixo, através de seu peito, depois de volta para
seu rosto. ― E acho que ele se pergunta o porquê de sua presença
na casa do meu pai. Ele me questionou sobre isso, mais cedo.
― O que disse a ele?
― Que o amigo do meu pai, Dr. Shaw, está apaixonado por
aprender a esgrimir, é claro. Acredita em mim agora?
― Sobre o meu primo?
― Sobre as moças. A sociedade secreta. Os rituais.
― Constance. ― Música, conversa e risada fluíam ao redor deles,
mas ele não se importava com nada disso. ― Quer ser dele?
Um suspiro súbito roubou dela o ar; ele viu em seus lábios
entreabertos e no movimento de sua garganta.
― Quero encontrar as moças desaparecidas e o homem
responsável pelos assassinatos ― disse ela. ― Imagino Libby e
todas as outras donzelas em Edimburgo como sua próxima vítima.
Ele traçou suas feições com o olhar, cada curva e ângulo, cada
sombra e textura como se moldada pelas ferramentas de um mestre,
e a faísca febril no azul de seus olhos.
― Está procurando perigo?
― Não ― ela disse muito sinceramente. ― Mas se acontecer,
tenha certeza que me preparou para me defender. ― Ela enrugou a
bainha da saia até o tornozelo. Em seguida ergueu os ombros. Ele
seguiu sua atenção através da sala enquanto ela se afastava
caminhando diretamente para Sir Lorian Hughes.
Não podia impedi-la, e principalmente, não queria fazê-lo. Ainda
era a moça intrépida de quando se conheceram, preparada para
enfrentar o desconhecido sem medo.
― Sr. Sterling? ― Uma jovem estava ao seu lado, cabelo preto
penteado para trás em um rosto com a forma perfeita de um coração
e sua figura docemente arredondada exposta num vestido que
revelava a fissura de seus seios. Seus olhos escuros o estudaram
com um apetite inconfundível.
Essa não era ruiva. Era a esposa de Sir Lorian Hughes.
― Boa noite ― ele disse.
― Ouvi as damas falarem a seu respeito ― ela disse, seu olhar
viajando sobre ele. ― Mas não entendi, até este momento, quão
verdadeiramente viril o senhor seria.
Ele riu.
Seus cílios tremeram um pouco. Mas o sorriso permaneceu.
― Vi sua última parceira de dança abandoná-lo. Mas algumas
mulheres são míopes mesmo. Quando Lady Constance estiver
casada há alguns anos, suspeito que cantará uma música diferente.
Agora me convide para dançar.
Ele sorriu.
― Eu disse algo errado? ― Ela falou com outro bater de cílios. ―
Que embaraçoso. Imploro que me perdoe.
― Sou eu quem deve implorar o seu ― ele disse. ― Sou
regularmente desviado pela incivilidade descarada dos membros de
sua classe. Mas não gosto de retribuir essa incivilidade.
― Incivilidade? ― Sobrancelhas negras e esbeltas se arquearam
altas. ― Eu o lisonjeei.
Ele se curvou. ― Perdoe-me, madame. Eu já tive meu excesso de
danças esta noite.
― Talvez outra hora. ― Seu biquinho parecia mais doçura do que
artifício. ― O senhor é refrescante, Sr. Sterling. Eu gostaria de vê-lo
novamente. Me visitará amanhã? Às três horas? Fecharei minhas
portas para todos os outros, para que possamos nos conhecer
melhor.
Estava em seus lábios recusar. Mas o claro interesse de
Constance por Sir Lorian certamente não era ocioso. Ela estava
decidida, obstinada, e o assustava perceber que, mesmo olhando
para o rosto de uma linda mulher como agora, ainda via apenas o
dela.
― Eu gostaria disso ― ele disse.
Lady Hughes se afastou sorrindo.
Minutos depois, Dylan o encontrou. Ele tinha um ar desolado.
― Ela se foi ― ele disse. ― O pai dela a mandou para a casa da
tia há dois dias. O velho salafrário me disse com um sorriso
triunfante, que a manteria lá até que ela recuperasse o sentido
comum ou eu saísse da Escócia, o que quer que acontecesse
primeiro. Vilão.
Sir Lorian havia conduzido Constance a pista de dança. Uma
valsa.
― Porque não descobre onde mora a tia e vai visitá-la?
― Estou pensado nisso. E cheguei a considerar levá-la para
Gretna Green, ou a qualquer outro lugar. Esta é a Escócia, afinal.
Mas sabe, primo, decidi que não sou esse tipo de sujeito. Ela será
minha esposa algum dia. Até então tenho que me comportar como
um homem de honra com ela e com as pessoas que serão minha
família, eventualmente. Ela gosta de sua mãe e irmãs, até mesmo da
vergonha detestável que é seu irmão. E claro, do pai dela. Não quero
nunca que ela sinta que tem que escolher entre mim e eles.
Do outro lado do salão, Constance sorria para o parceiro. Hughes
a segurava à distância. Mas ela estava com as costas rígidas, os
músculos dos braços e os tendões do pescoço tensos. Estava
impedindo que ele se aproximasse enquanto dançavam.
― Talvez ela queira que a procure ― ele disse.
― Então me enviará uma mensagem ― murmurou Dylan. ― Se
não enviar, bem... Ela vai. Vou esperar. Edwards não pode afastá-la
de mim para sempre.
A mão de Sir Lorian deslizou das costas de Constance até a
cintura e ela tropeçou.
― Aliás, Saint, tive uma conversa interessante com Loch Irvine no
início da noite. Disse que acabara de vir de Newcastle Upon Tyne.
Algo sobre o navio de Tor, aquele que mandou de volta para o norte
depois de... bem...
― Depois que fizeram negócios juntos.
― Enfim, sabe, aquela sociedade secreta... acredita que Tor era
um membro?
O Torquil Sterling que o mundo conhecia, talvez. O homem que
Saint conhecia, não. Ele era um farrista endiabrado, mas não um
assassino. Saint nunca havia entendido como o irmão que ele
conhecia podia levianamente negociar com escravos. Mas havia
pilhas de ouro no comércio, e Torquil certamente amara o ouro.
― Sabe... ― Dylan estava olhando-o novamente. ― Pode ajudar
em meus ternos com Edwards se eu tivesse um pouco de moedas
nos meus bolsos. Acha que... será que não é hora de pedir ao
advogado leia a vontade do seu irmão, afinal?
― Por que está tão certo de que ele acumulou uma fortuna?
― Bem, não faria mal saber com certeza, seria? Se acumulou,
seria um momento impecável para que eu possa contar com alguns
fundos. ― Ele sorriu.
― Tudo bem. ― A ignorância da verdade não muda a verdade. ―
Quando eu terminar aqui. ― Dylan olhou para a pista de dança.
― Quando imagina que será, primo? Nunca?
Sir Lorian era notavelmente forte. E insistente. Constance manteve
os braços tranvados, as costas rígidas, resistindo a sua insistência
para segurá-la mais perto. Era a valsa mais desconfortável da qual
se lembrava.
― Está desfrutando de Edimburgo, milady?
― É deliciosa, todos os museus e lojas. ― Ela o olhou através dos
cílios. ― Mas não é nada fora do comum. Não depois de anos em
Londres. Me pergunto o que se faz para diversão real aqui. Suspeito
que saiba.
― Imagino que poderia inventar algum entretenimento digno de
uma dama de seu gosto sofisticado. ― Ele sorriu para ela como se
fosse seu dono. ― Falando nisso, tive o maior prazer de me sentar
na Sede do Parlamento ao lado de um amigo seu.
Teve.
― Oh? ― Ela não conseguia mais.
― Lorde Styles. ― Ele estava observando o rosto dela de perto. ―
É uma pena que tenha sido obrigado a ir para o exterior de forma tão
abrupta. Mas aqueles sujeitos que não se importam de sujar as mãos
com navios mercantes estão sempre negociando acordos.
― Meu pai esteve envolvido no comércio do Leste, sir. ― Ela
forçou um tom de provocante indignação. ― Não deve descartá-lo
completamente.
― Claro. Mas não vamos nos incomodar com conversas sem
graça esta noite. Voltemos para o prazer de antes. Entendo que é
uma ávida amazona.
― Meu pai cria cavalos de caça. Mas eu monto apenas por
diversão.
― Gosto de um passeio satisfatório. Devemos cavalgar juntos
algum dia. ― Seus olhos estavam apertados sobre ela. ― Lorde
Styles insinuou que gosta do chicote.
O estômago de Constance subiu para sua garganta.
― Eu prefiro o chicote de carruagem ― ele continuou ainda
apertando sua cintura. ― As melhores éguas têm melhor
desempenho quando o jóquei não as poupa.
Ela sentiu suas narinas alargarem, as mãos ficarem úmidas, mas
não pôde fazer nada quanto a isso.
― É uma pena que seja solteira, lady Constance.
― É? ― Ela se fez dizer.
― Minha esposa e eu somos membros de uma pequena
sociedade particular. Apenas casais são admitidos.
― Que singular ― ela se sufocou.
― É um tipo singular de sociedade. Para aqueles de gostos
maduros. ― Seu sorriso convidava a confidências. ― Mas talvez não
demore muito para estar no altar. ― A língua de Sir Lorian
permaneceu na palavra final. ― Então poderei lhe garantir um
convite para a nossa pequena sociedade, e tomar as aulas de
equitação de onde meu amigo parou.
Os músicos terminaram a valsa. Constance se afastou do aperto
de Sir Lorian, tudo dentro dela ruborizando a frio e depois quente.
― Até o nosso passeio, milady. ― Ele se curvou.
Ela fugiu. Em sua cabeça revirava uma mistura de pânico e pavor
quando saiu rapidamente do salão de baile e subiu as escadas para
o reservado das damas. Água fria nas bochechas e na nuca
ajudariam. Três minutos sozinha para controlar a pulsação e acalmar
seu estômago revirado. Ela podia fazer isso. Não era frágil. Mas sim
Diana, a caçadora perseguindo sua presa. Athena, armada para a
batalha.
Desta vez ela venceria.

Era tarde, a multidão diminuía. Saint não teve dificuldade em


segui-la do salão de baile e subir as escadas. Ela caminhava
rapidamente, bochechas pálidas e punhos afundando em suas saias.
No andar de cima, as vozes das mulheres vinham de uma porta
parcialmente aberta. Outra escadaria estreita levava à escuridão.
Ela não se juntaria a outras mulheres agora. Ela nunca revelaria
sua vulnerabilidade.
Ele subiu as escadas de três em três degraus e encontrou-a logo
depois da curva, na sombra iluminada pela luz baixa de uma
lamparina. Com as costas pressionadas contra a parede, ela abriu os
olhos.
Ele foi até ela. ― Parece que está se tornando um hábito escapar
por escada vazia em festas...
Ela agarrou sua mão. As pontas de seus dedos cravaram na
palma da mão dele.
Uma raiva repentina se apoderou dele. ― O que ele fez?
― Me empreste sua força. Por um momento, por favor, vou me
recuperar. ― Ela colou palma contra palma, entrelaçando seus
dedos com os dele. A ação, tão confiante, tão íntima e vulnerável,
esvaziou seu peito.
― Minha força é sua ― ele disse. ― Diga a palavra, e quem quer
que a tenha angustiado conhecerá meu desprazer na ponta da
minha espada.
― O que fará, Sir Cavaleiro? ― O mais leve vislumbre de alívio
brilhou em seus olhos. ― Duelar com ele no meio do minueto?
― Se necessário. Não me preocupo nem um pouco com as regras
da sua sociedade. Não me importo se for barrado de todas as casas
da Grã-Bretanha.
― Eu estava com medo ― a lembrança se contorcendo dentro
dela. ― Isso ajuda.
Ele segurou seus dedos com força e com a outra mão virou seu
rosto para cima para que ela pudesse encontrar seu olhar.
― Antes... ― ele disse. ― Dias atrás, no salão de baile, ficou com
medo quando eu a segurei.
― Sim.
― Está com medo de mim agora? ― Sua voz era baixa, profunda
e linda.
― Não. Sim. Eu não sei. Mas quero que me beije de qualquer
maneira.
Ele segurou sua cintura com a mão, envolvendo-a com tanta
segurança que um suspiro fragmentado passou pelos lábios dela. A
palma da mão desceu alisando, sobre seu quadril, capturando a
seda de seu vestido numa exploração que era ao mesmo tempo
inocente e erótica. Então, soltando sua outra mão, ele segurou sua
mandíbula. Com o polegar em seus lábios e o fogo esmeralda em
seus olhos, não exigiu; apenas perguntou pela segunda vez.
Ela soprou: ― Sim.
Ele inclinou a cabeça, seus lábios acima dos dela tão perto.
― Pode querer fechar os olhos para isso.
― Não
Ele se afastou um pouco.
― Não, não quer que a beije?
― Não, eu quero vê-lo. A única coisa da qual não gostava ao
beijá-lo antes era não poder vê-lo.
Um momento de silêncio se tornou dois. Então ele disse: ― A
única coisa.
― A única coisa.
Finalmente ele a beijou.
Suavemente, seus lábios roçaram os dela uma vez. Então de
novo. Como se quisesse apenas capturar um traço de sua essência,
ele beijou primeiro seu lábio superior, depois o inferior, fugazmente, o
murmurar de suas respirações encantando o silêncio entre eles.
Então ele juntou suas bocas. Ela o deixou beijá-la e sentiu seu
desejo na beleza dessa carícia e nas mãos dele que a seguravam
com tanta força cuidadosa. Ela queria correr e fugir e queria ficar e
se afundar nele completamente.
― Saint ― ela sussurrou.
― Não me faça parar ― ele disse asperamente.
― Não pare. ― Com os dedos entrelaçados em seus cabelos, ela
o puxou e abriu os lábios para ele.
Assim como há seis anos, ele era perfeito. Ele a beijou e o prazer
a envolveu, doce e ardentemente. Lágrimas inundaram por trás de
seus olhos. Doendo de alívio e uma alegria crescente que mal podia
acreditar, ela encontrou seus beijos com os lábios entreabertos.
Assustador, honesto e delicioso, exatamente como se lembrava, seu
beijo a dominou. Ele queria seu desejo e ela o deu. Circulando as
mãos em torno de seus braços, ela ficou na ponta dos pés e se
permitiu saboreá-lo com a língua.
― Constance.
Ele sugou seus lábios e ela o deixou entrar, sentiu-o e a luxúria a
atravessou. Sabia que ele a queria e ansiara por isso. Mas isso era
real, sua pele, cheiro e calor animal, belo e físico, como nunca
haviam se permitido, como sempre desejaram desde o primeiro
momento. Ela agarrou sua cintura enquanto as mãos dele rodeavam
seu rosto. Mais perto, com urgência agora, ele tomou sua boca
completamente, não permitindo tempo para respirar, ou pensar. Cada
golpe de sua língua aprofundou ainda mais o prazer nela. Cada
carícia preparava seu corpo para mais dele.
Ele a apertou contra si. Ela entrou em seus braços de bom grado,
quente e ansiosa. Agarrada a ele, com seus seios e pernas ela
sentiu o músculo duro de seu peito e coxas, perfeito, tão perfeito.
Sob o casaco, puxou a camisa dele e procurou a carne com suas
mãos. Sua pele era lisa, tensa, uma obra-prima da beleza masculina.
Passou as pontas dos dedos sobre ele, precisando da realidade
daquele corpo em suas mãos, sentindo dentro dela um desespero
selvagem. Precisava dele. Precisava que ele a tocasse. Sofria por
ele, por prazer, prazer honesto.
Agarrando seu pulso, ela puxou sua mão para suas coxas.
Um tremor sacudiu-o. Ele quebrou o beijo e pressionou sua testa
na dela.
― Constance, eu...
― Toque-me, Saint. Por favor. Ajude-me a sentir... ― Ela disse as
palavras entredentes. ― Ajude-me.
Ele fechou a mão ao redor dela.
Prazer.
Doce, forte, proibido.
Percebendo por seus suspiros onde lhe provocava mais prazer, ele
a acariciou e ela se deixou sentir. Ele a tocou perfeitamente,
lindamente, fazendo-a arquear para ele suspirando e precisando de
mais a cada toque. Sob suas mãos, sua pele estava quente, seus
músculos duros, e por dentro ela estava tremendo, aflita e faminto
por liberação.
Ela veio contra sua mão precisando do alívio e não pôde conter
seu gemido. Ele puxou sua mão de baixo dela e afundou-a em seu
cabelo, e arrastou sua boca sob a dele. Ela deixou que ele a
apoiasse contra a parede, louca por isso, por suas mãos em seu
corpo, sua excitação contra ela. Suas palmas acariciaram suas
costas sob sua camisa. Nunca pensou que sentiria isso, que ela
pudesse sentir isso, não assim, nunca assim. Cravando as pontas
dos dedos nele, segurando-o com força, ela o deixou tocá-la em
todos os lugares.
Um suspiro soou nas proximidades.
― Santo Deus! Maude, afaste-se!
Os olhos de Constance se abriram para ver Saint, febril, movendo-
se sobre o rosto.
― Mamãe, acho que é Lady Constance. Eu reconheço seu
vestido.
― Não! Não pode ser. Vá... vá e desça as escadas, Maude.
Imediatamente!
As mãos de Saint deslizaram para fora de seu cabelo.
― E o Sr. Sterling?
― Maude, agora! ― A ordem de Lady Easterberry veio estridente
da base das escadas.
Os degraus rangeram. Então, de muito longe, veio uma enxurrada
de sussurros e exclamações. Eles desapareceram rapidamente.
Constance achatou as palmas das mãos na parede atrás dela,
mordendo os lábios, amolecida e saboreando-o ainda. Ele passou a
mão sobre seu rosto e ao redor de sua nuca, e respirou fundo.
― Então... não é segredo ― ela disse instavelmente. ― Parece
que teve o seu desejo.
Confusão e então raiva brilharam através de seus olhos. ― Acha
que eu...
Ela estendeu a mão e afastou-se dele.
― Não ― ela sussurrou, torcendo os dedos em seu colete e
tocando-o. Um último momento dele. ― Obrigada. ― Liberando-o,
ela desceu as escadas rapidamente.
Capítulo 17

Votos

Lady Justiça
Brittle & Sons, Tipografia
Querida Lady,

Afirma que os votos de casamento de um marido prometem


menos do que os de uma esposa. E ainda assim, aqui está o
voto dele: “Com este anel te desposo, com o meu corpo te
adoro, e com todos os meus bens mundanos te doto.” Isto é, ele
dá a ela tudo o que tem. Ele a adora como a uma deusa.

O que mais, gentil Lady, pode esperar que um homem lhe dê?

Em sofredor afeto,
Peregrino,
Secretário do Clube Falcão

Para Peregrino, à solta:

Sem dúvida, escapou da sua atenção à altura do


privilégio que, apesar das palavras sagradas que
cita, quando uma mulher se casa, a Lei deste Reino
coloca sua renda, pertences, na verdade toda a sua
pessoa na posse de seu marido. Ela não tem poder ou
autoridade sobre seu dinheiro, sua propriedade,
seus filhos, nem seu próprio corpo. Não pode fazer
nada sem o consentimento de seu marido, incluindo
deixá-lo se a tratar com crueldade.

O casamento não confere a uma mulher um devoto.


Ele a prende a um guarda de prisão.

—Lady Justiça
Capítulo 18

A Oferta

― N ão se podia esperar que guardassem segredo. Lady


Easterberry é uma fofoqueira nata e Maude é uma criança. ― Eliza
pegou o linho de seu bordado fazendo um ponto de cada vez. ― Sua
irmã, Patience Westin, tem uma boa cabeça. Se tivesse sido a única
a descobri-la, poderia ter convencido sua mãe a manter a boca
fechada.
― Ainda nem é meio-dia. ― Constance parou na janela da sala de
visitas, olhando para a rua. Além das vidraças, constantemente
atingidas pela chuva, carruagens e carroças jogavam poças de água
de um lado para o outro. E, no entanto, sua criada já ouvira as
fofocas da criada de um vizinho. — Lady Easterberry e a senhorita
Anderson devem ter feito visitas incrivelmente cedo essa manhã.
― Teria permanecido em casa até uma hora mais razoável se a
cidade estivesse transbordando com essas fofocas?
― Eu não espalho as fofocas, Eliza. Eu as coleto.
― Agora cria ― disse Eliza, e enfiou a agulha no linho.
Constance virou-se para a acompanhante, afastando-se do último
lugar em que vira Saint, saindo antes do café da manhã. Não o
culpava por escapar. Não lhe dissera nada na noite anterior na
carruagem e nada mais quando entraram na casa. Não havia nada
que pudesse ser dito na presença de outros. Mas, mesmo em
particular, o que teria dito? Que ele foi o primeiro homem a tocá-la
assim? Que ficava quente e em pânico apenas lembrando? E que,
se pudesse voltar atrás, faria exatamente o mesmo?
Ainda assim, não esperava que ele desaparecesse o dia todo.
― Preciso contar a papai antes que ele escute dos outros. ― Dois
cavaleiros pararam diante da casa.
― Oh, céus ― disse Eliza, olhando pela janela. ― Mas suponho
que deveríamos ter antecipado isso. Ele não é convencional, não é?
Ambos, ouso dizer.
Ao lado de Saint em seu magnífico cavalo, o Duque de Loch Irvine
estava desmontando diante da casa.
Um cavalariço saiu correndo e pegou as rédeas das montarias, e
os homens subiram os degraus da frente.
O lacaio que abriu a porta da sala anunciou apenas um homem.
― Sua graça, o Duque de Loch Irvine ― ele disse, e deixou entrar
Gabriel Hume.
Ele não tirou o casaco molhado, mas tirou o chapéu bruscamente
numa cascata de gotas de chuva. O lacaio fechou a porta, mas o
Duque permaneceu onde estava.
Constance fez uma reverência. ― Bom dia.
― Não muito bom, na verdade. ― Ele olhou para Eliza. ―
Madame, me daria um momento do tempo da sua Lady, a sós?
― Absolutamente não ― ela disse. ― Tudo o que veio dizer, deve
ser dito na minha presença.
― Eliza ― disse Constance. ― Por favor, vá.
Com um estreitar de olhos, Eliza pegou o bordado e saiu.
― Sterling me disse que tem certeza de que ouvirei notícias que
não gostarei. Notícias sobre os dois. É verdade?
― É.
Sua testa baixou. ― Nós não estamos noivos, e não estou
apaixonado. Não tem motivo para se preocupar de que eu vá
arrancar meus cabelos.
― Obrigada. Sinto muito.
― Estou decepcionado, no entanto. É inteligente e preciso disso
numa mulher.
Ele precisava de uma mulher inteligente?
― E do seu dinheiro ― acrescentou ele com um gesto ausente. ―
Mas não posso permitir que minha esposa continue com outro
homem, mesmo que seja homem o suficiente para me dizer a
verdade por si mesmo. Entende?
― Claro. ― Para ela soou como castigo porque sentiu, em partes
iguais culpa e frustração. Não queria machucá-lo ou envergonhá-lo.
Mas isso encerraria também seus encontros. Ela perderia o acesso à
sua casa.
― Eu não tenho nenhuma razão para dizer a seu pai a razão pela
qual estou retirando minha proposta.
― Como desejar.
Com um giro abrupto, ele foi até a porta, depois olhou por cima do
ombro. ― A moça queria ver a coleção na minha casa. A coleção do
meu pai. ― Pela primeira vez desde que entrou na sala, ele parecia
desconfortável. ― Eu permitirei.
― Isso é generoso da sua parte.
― Bem, ela não me traiu, não é?
Ele partiu e Constance foi ao escritório do pai.
Um retrato do primeiro Duque de Read dominava a sala: um Laird
de anos avançados e barba espessa, do século XVI, mas com os
mesmos olhos azuis de seu pai. O Duque atual estava sentado atrás
de sua mesa. Exceto pelos cães cochilando no chão, sua
escrivaninha estava intocada. Nada além de uma pena, um tinteiro,
um mata-borrão e um abajur adornavam-na, bem como uma pilha de
papéis nos quais sua atenção se concentrava.
― Feche a porta, Constance.
― Pai, eu...
― Acabei de ouvir a notícia. ― Sua voz estava fria. ― Dr. Shaw
soube por um paciente há uma hora atrás. Parece que agora é uma
celebridade do tipo mais deplorável. Gostaria de saber, quanto tempo
haverá antes que Loch Irvine ouça isso?
― Ele soube agora mesmo. Retirou sua proposta.
Finalmente, ele olhou para ela. ― Está me dizendo que não foi
capaz de convencê-lo de que não falhou com ele?
― Eu falhei.
Ele se levantou, uma fortaleza em férrea desaprovação. ― Isso
dificilmente importa. Como escolhe desperdiçar seu recato não está
em questão aqui.
― Isso d-dificilmente importa? ― Suas palavras tropeçaram. ―
Não significa nada para o senhor se eu agi voluntariamente na noite
passada ou involuntariamente?
― Claro que agiu voluntariamente. Eu não criei uma filha tola o
suficiente para se tornar uma vítima. O que está em questão agora é
o sucesso dessa união.
Uma vítima.
Há muito tempo, sua fúria inflexível fez com que ela se
acovardasse e corresse com seu cavalo para as colinas, os bosques,
a qualquer lugar que onde pudesse respirar e esquecer que sua mãe
tinha ido embora e ele era tudo o que ela tinha. Agora, quando um
calafrio horrível a invadiu, o riso brotou em sua garganta.
― É um poço de contradições, pai. Insiste que eu me case antes
do meu aniversário para poder manter a posse da fortuna de minha
mãe e, com ela, alguma autonomia no casamento. No entanto,
persiste sobre o homem com quem me casar. O último é para
proteger sua descendência? Sua filha deve ser uma Duquesa? Se
assim for, há pelo menos três outros Duques solteiros na Grã-
Bretanha e mais um no exterior. Tenho certeza de que podemos
convocar um viúvo idoso nas próximas semanas.
― Isto não é sobre o dote de sua mãe. Nunca foi. ― Sua frágil
diversão se dissolveu.
― Eu...
― Depois de todos esses anos, entende tão pouco de como eu a
refinei para ter sucesso?
O ar parecia estar completamente imóvel à sua volta, da mesma
maneira que os seres selvagens se silenciavam no momento anterior
à ruptura de uma tempestade.
― Refinado?
― Deveria ser a melhor. Me assegurei disso. Sua personalidade
desde os primeiros anos mostrou muita vontade de desafiar as
restrições. Mas eu sabia que isso poderia ser transformado numa
vantagem e não em uma fraqueza, e eu fiz isso. Me assegurei que
se tornasse autossuficiente em vez de rebelde. Eu te dei tudo que
precisava para se destacar, para se tornar uma mulher
extraordinária. Na maioria das vezes, fez exatamente o que eu
desejava. Até agora. Isso foi descuidado. Estou extremamente
desapontado contigo. ― As pontas dos dedos dele pressionaram
contra a superfície de sua mesa. Constance olhou para eles. Ali
estava um pai que não conhecia, que por conta própria a guiara
intencionalmente, em vez de ignorá-la.
Não podia acreditar.
― Talvez tenha decepcionado o senhor, pai ― ela disse devagar.
― Mas a decepção é mútua. Nunca imaginei casar com o Duque de
Loch Irvine. Permiti o cortejo com a finalidade de estar perto dele. Ao
fazê-lo, descobri que ele fica muito sozinho e muitas vezes faz
viagens curtas para longe de sua casa. Ainda não confirmo que ele
seja o Duque do Diabo que afirmam os rumores. Mas estou perto de
pistas que me ajudarão a resolver o mistério dos sequestros de duas
moças nos últimos meses em Edimburgo, e o assassinato da jovem
encontrada na outra noite. Então, veja o senhor, usei suas lições de
autoconfiança para fazer algo por mim mesma. Só me pergunto se é
tão ignorante de tudo o que acontece ao seu redor, para ter perdido
inteiramente, que a sociedade acredita que o homem que escolheu
para ser o meu marido é um monstro?
Seus lábios eram uma linha branca.
― E agora destruiu a oportunidade mais promissora de saber os
seus segredos.
Ela não poderia ter ouvido corretamente. ― Eu destruí...?
― Como sua esposa, teria o acesso necessário a ele e a suas
propriedades para descobrir a verdade de seu envolvimento nesse
caso. De fato, dependia dele para convidá-la a participar.
― A participar?
― Agora a via está fechada, a menos que possa convencê-lo a
reconsiderar.
― Sabe o que as pessoas dizem dele? Suspeita dele, mas
pretendia que eu me casasse com ele de qualquer maneira?
― Eu não estou interessado em boatos circulados por idiotas.
Loch Irvine não é o que eles acreditam ser. Eu venho observando-o
por algum tempo e em janeiro recebi notícias sobre ele que precisam
serem investigadas. Não permiti que ficasse solteira à toa,
Constance. Eu sabia que chegaria o momento em que seria para a
nossa vantagem. Essa era a hora, mas suas ações na noite passada
arruinaram tudo.
― Nossa? De quem mais o senhor fala? Pois certamente não é
sobre mim.
― Deve se casar agora. Isso não há dúvida. Sua reputação se
mostrou resistente no passado, mas não pode suportar este
escândalo. Escolherá entre Michaels ou Grey. Michaels é um
ignorante, mas inteiramente benigno e, mais importante,
convenientemente presente. Será capaz de controlá-lo. É provável
que nunca tenha ideia do seu trabalho, a menos que diga a ele. Grey
não será manipulado, é claro, mas ele fará o que eu desejar. Não é
de minha preferência diminuir o alcance do Clube ao unir os agentes
em casamento. Mas, eventualmente, pode ser útil.
― O quê? ― Ela sussurrou.
― Foi longe demais desta vez, Constance. Sua amizade com Ben
Doreé serviu o propósito de permitir que permanecesse solteira. Mas
não pode continuar o trabalho que eu pretendo que faça se não for
mais recebida universalmente, o que ocorrerá se o seu nome estiver
associado de forma desfavorável a um homem sem título.
Consertará isso agora. A menos que acredite poder convencer Loch
Irvine de seu arrependimento, escolha qual será: Michaels ou Grey e
prepare-se para o seu casamento.
― Lorde Grey? ― Havia algo se contorcendo em seu peito. ―
Pai... ― Ela olhou para o rosto dele. ― O senhor é o diretor do Clube
Falcão?
― Ele é ― Eliza disse atrás dela. ― E fez um péssimo trabalho ao
organizar os assuntos dessa vez.
― Isso é o suficiente, Elizabeth. Eu a considero, junto a minha
filha, igualmente responsável por essa farsa.
Ela virou o ombro ossudo para ele. ― Nunca concordei com o
plano para casá-la com Loch Irvine. Tentei dissuadi-lo disso, mais de
uma vez.
― Sabia? Todo esse tempo? ― Lembranças emaranhadas,
cruzadas e confusas. Eliza sabia sobre Saint anos atrás. ― Mas...
― Nunca aprovei a introdução do Sr. Sterling nesta casa ― Eliza
disse rapidamente.
― Queria que eu aprendesse a usar uma lâmina para que eu
pudesse me defender do Duque se fosse necessário ― ela disse ao
pai. ― Não foi?
― Seu primo me assegurou que tinha se tornado proficiente com
uma pistola. Mas se Loch Irvine a ameaçasse, era necessário que
fosse capaz de retaliar rapidamente.
― Retaliar? Imaginou que eu poderia atacar meu próprio marido
se ele me ameaçasse?
― Eu não preferia esse cenário, é claro.
― E ainda assim planejou essa possibilidade. Sem me dizer. ―
Ondas rápidas de frio e calor a assolaram.
― Há uma variedade de mestres de esgrima que poderia ter
escolhido para ensinar autodefesa, Angus ― Eliza disse. ― Não
precisa ter convidado um jovem bonito para fazê-lo. Lamento agora
ter a oportunidade de lhe dizer que avisei. ― Ela lançou um olhar a
Constance que dizia mais: ela não contara sobre aquela quinzena
em Fellsbourne anos antes.
― Porque o escolheu, pai?
― Seu irmão foi parceiro de Loch Irvine em vários
empreendimentos. Esperava que ele soubesse detalhes deles, mas
fiquei desapontado com isso. E o escolhi porque é o melhor. Nos
melhores salões de Londres, sua habilidade é mencionada com
reverência, apesar de sua recusa em ensinar em qualquer um deles.
Eu sempre lhe forneci os meios para ter sucesso. O clube não é a
partida final, Constance. Foi apenas o seu campo de treinamento. Há
mais em jogo aqui do que três moças. Algum dia entenderá isso.
O seu mundo virou de cabeça para baixo.
― Meu primo ― ela disse ― Leam. Ele sabia quem era o senhor o
tempo todo? Ele concordou com esse plano?
― Não ― respondeu seu pai. ― Ele será informado agora, é claro.
― Já era hora ― Eliza cortou.
― E Lorde Grey? Ele se comunica diretamente com o senhor nos
últimos cinco anos. Ele sempre soube?
― Sim.
Seu amigo, Colin.
E Eliza, sua confidente, a única pessoa em quem confiara seus
segredos depois que sua mãe morreu.
― E Ben?
― Não. Seus interesses muitas vezes coincidem com os meus.
Mas nunca foi necessário informá-lo. ― Enquanto recitava essa
ladainha de segredos, sua dor transformou-se em raiva. E então
compreendeu.
― E o Sr. Sterling? ― Ela disse. ― Quando soube que eu deveria
ser sua aluna, ele não queria permanecer. Ele pretendia partir. O que
disse a ele para que ficasse?
― Ele tentou suborná-lo ― Eliza disse ― e quando o jovem não
se abalou, seu pai o ameaçou.
― O senhor o ameaçou?
― Sugeri que eu era mais valioso como um amigo do que um
inimigo ― seu pai disse.
― Ele sabe? Sobre qualquer um dos outros?
― Claro que não.
Suborno. Ameaças. Ele tinha ficado porque seu pai o obrigara. Era
demais para suportar. Por que não tinha nada agora, nada além de si
mesma, assim como anos atrás, quando sua mãe desapareceu.
― Eu não me casarei com Lorde Michaels nem Lorde Grey.
Os dedos dele pressionaram com mais força na mesa de trabalho.
― Sim, irá.
― Arraste-me para o altar ao lado do homem que escolher, pai, e
depois observe naturalmente minha desafiadora mão em ação. Eu
não tenho intenção de continuar a fazer os seus jogos insensíveis,
involuntariamente ou não. Eu escolho ser solteira.
Ele se moveu, contornando uma mesa e vindo em sua direção.
Eliza correu para o lado dela.
― Se ameaçar esta menina, Angus, farei com que se lamente de
ter me conhecido.
Ele é a ignorou.
― Irei repudiá-la. Não terá nada. Nenhuma casa em Londres. Sem
subsídio. Sem carruagem. Sem vestidos. Sem cavalo. E nenhuma
acompanhante para permitir que permaneça na sociedade sendo
solteira. E em um dia a sra. Josephs se encontrará sem um teto.
Eliza segurou a mão dela. ― Não dê ouvidos a ele, criança.
― A expulsaria depois de dez anos como membro da nossa
família? Pai, o senhor se supera.
― Não terei todos os esforços que investi em seu treinamento
desperdiçados num ataque momentâneo de temperamento.
― Isso não é um ataque, pai. É quem sou, essa pessoa
autoconfiante que criou com tanto cuidado.
― Eu pensei que fosse melhor que isso.
― Tanto quanto eu pensei melhor e pior do senhor. Por toda a
minha vida. E começo a acreditar que as cinquenta mil libras de
minha mãe são mais importantes para o senhor do que disse. É
isso? Tem um plano para esse dinheiro que será arruinado se eu não
me casar antes do meu vigésimo quinto aniversário?
Seus olhos eram mais duros do que ela já tinha visto.
― Entendo ― Ela se afastou de Eliza, cruzando as mãos trêmulas
diante dela. Quando estava do outro lado da sala, se virou para o
pai. ― Estou preparada para fazer uma barganha com o senhor.
― Qual é?
― É o seguinte: se me permitir casar com eu quiser, incluindo o
dote que ofereceu ao Duque de Loch Irvine, vou fazê-lo antes do
meu aniversário e pode ter as suas cinquenta mil libras, inteiramente
livres de outras condições, exceto esta: após o meu casamento,
fixará residência permanentemente no Castelo Read e eu fixarei
residência aqui ou na casa de Londres, como eu desejar, e deixarei
de perseguir o Duque do Diabo ou qualquer outro mistério. Não
tenho vontade de continuar envolvida na sua teia de segredos. De
maneira notável, tudo se tornou desagradável para mim de repente.
Concorda com meus termos?
― Quem é o seu noivo escolhido?
― Frederick Sterling.
Eliza ofegou.
Constance manteve o olhar de seu pai com toda a serenidade que
aprendera durante anos tentando agradá-lo, ser uma filha que ele
poderia amar o suficiente para notá-la. Nunca teria sonhado que a
tinha notado o tempo todo, treinando-a para caçar e buscar o que ele
ditava. Como um dos seus cães.
― Então, Sr. Sterling será ― ela disse em sussurro. ― Vamos
apertar as mãos, ou devo me arriscar a aceitar somente sua palavra?
― Se fizer isso apenas para me desafiar, se arrependerá,
Constance.
― Surpreendentemente, faço isso porque me ofereceu um ultimato
e não desejo abandonar inteiramente a vida que tenho vivido por
vinte e cinco anos. ― Sua garganta ficou presa. Ela engoliu em seco,
esperando que ele não tivesse ouvido. ― E porque ele é um bom
homem.
― Ele é? Um homem que comprometeria uma mulher solteira em
um lugar público? Isso é honrado, Constance?
― Eu implorei a ele. ― Sua respiração veio com dificuldade, mas
sua voz permaneceu forte. ― Eu implorei. Nas últimas semanas ele
fez tudo o que pôde para me ajudar e ainda assim se manteve
distante. Ontem à noite fiquei angustiada e, quando ele me ofereceu
conforto, implorei-lhe que me abraçasse. Isso te dá nojo, pai? Está
arrependido agora que desperdiçou tanto esforço em um espécime
tão indisciplinado de feminilidade?
― Pelo amor de Deus ― Eliza disse sufocada. ― Constance, eu
falhei contigo. Nós dois falhamos.
― Pai?
― Está cometendo um erro, Constance ― ele disse.
― Não penso assim. Confio nele. Muito mais do que confio no
senhor.
― Assim seja. Sra. Josephs, envie um lacaio para chamar o Sr.
Sterling.
Atordoada, ela observou Eliza sair. Parecia um sonho. A realidade
estava se afastando dela, as revelações desses minutos deixando
dentro dela uma cavidade ecoante de descrença.
Quando Eliza retornou e Saint entrou no escritório, seu pai
assumiu a posição atrás de sua mesa novamente. Ele queria parecer
proibitivo e ameaçador, agora ela entendia.
O espadachim pareceu não notar essa demonstração de poder.
― Milady ― ele disse com uma reverencia graciosa e olhos que
mostravam resignação e apreço. Ele voltou sua atenção ao pai dela.
― Se me chamou aqui para me castigar, eu imploro que poupe seu
folego. Eu lhe disse há semanas que não serei ameaçado. E como já
sabe, sou ainda menos propenso a repreensões. ― Ele olhou para
ela novamente. ― Constance, não posso me arrepender por ter sido
a causa do fim do seu noivado com um homem com o qual não
desejava se casar. Mas saiba que se eu pudesse silenciar a menção
do seu nome nas línguas das fofoqueiras, faria tudo ao meu alcance
para fazê-lo.
― E pode, Sr. Sterling ― disse seu pai.
― É muito mais provável que um enforcamento público encoraje
as fofocas ao invés de diminuí-las, milorde.
― Hahaha! ― Eliza deu uma risada. ― Eu disse que era um tolo
para trazê-lo aqui, Angus. Alguns homens não são tão facilmente
intimidados quanto gostaria.
― Na verdade, estou suficientemente intimidado, Sra. Josephs ―
disse Saint. ― Não tenho dúvidas de que ele poderia tornar minha
vida extremamente desconfortável se quisesse. Partirei agora
mesmo. ― Ele se virou para ela e Constance sentiu como se o
mundo estivesse acabando e começando de uma vez. ― Eu só
queria perguntar primeiro a sua filha se ela me dará permissão para
isso.
― Ela não dará ― disse seu pai. ― Sr. Sterling, ofereço-lhe a mão
de minha filha, incluindo todos os benefícios decorrentes de tal
combinação: dote, propriedades, privilégios, etc. Aceita?
O silêncio apoderou-se da sala, os únicos sons era um ruído
distante de uma carruagem passando na rua chuvosa e um assobio
de um criado numa câmara superior.
― Como disse? ― Ele falou em voz baixa e calma.
― O que não entendeu? ― O Duque disse com uma ponta de
impaciência.
― O que não entendi? ― Saint repetiu, e, em seguida nitidamente:
― Isso é algum tipo de artifício, como a mentira que me trouxe aqui
inicialmente? ― Ele se virou para ela. ― É isso?
― Não. Ele está sendo sincero ― ela conseguiu dizer.
― Sr. Sterling, a sensação pública que minha filha e o senhor
criaram fez com que o Duque de Loch Irvine retirasse sua oferta. Ela
deve se casar antes de seu vigésimo quinto aniversário, em menos
de quatro semanas ou perder uma grande soma de dinheiro. Este
último é, obviamente, indesejável. Mas arranjar outro prometido
adequado para ela nesta data tardia não é possível. A solução mais
simples para os dois é se casarem. Se concordar, ela manterá a
posse desse dinheiro, mas seu dote, que é considerável, será seu.
― Eu não quero isso.
O Duque franziu a testa. ― Que tipo de homem se recusa a um
dote de vinte e cinco mil libras?
Seus lábios se separaram sem fala. Por fim, ele disse: ― O tipo de
homem que nunca pensou ter uma noiva em quem tivesse sido
estabelecido um dote de vinte e cinco libras, quanto mais vinte e
cinco mil. Eu vim aqui para ganhar dinheiro suficiente para alimentar
e manter meu cavalo ao longo do ano. Está me oferecendo uma
nobre e uma fortuna. Eu preciso de um momento, por favor. Com
Constance.
― Não até se casarem. Nem um minuto sozinho depois de ontem,
ou acompanhado pela Sra. Josephs ou pelo Lorde Michaels.
― Hmph ― Eliza bufou.
Constance desviou sua atenção do espanto nos traços de Saint
para o olhar implacável de seu pai.
― Pai...
― Aceita minha oferta, Sr. Sterling? Não farei uma terceira vez.
Houve uma pausa de um batimento cardíaco.
― Eu aceito.
Uma fraqueza estranha a atingiu, eliminando a euforia que sentira
desde que declarara seu ultimato. Os ombros de Saint estavam
rígidos e agora ele não a olhava.
― Meu administrador preparará o contrato ― seu pai disse. ―
Ainda há tempo para os proclamas serem lidos. Assim o decoro
deverá acalmar as fofocas, se não para silenciá-las.
― Preciso ir a Londres para cuidar dos assuntos do meu irmão ―
Saint disse.
― Claro. O contrato pode esperar até o seu retorno.
Com a mão esquerda no cabo de sua espada, finalmente, Saint
voltou seu olhar para ela. ― Milady.
Com a garganta fechada, ela assentiu. Ele partiu.
― Tem seu o desejo ― seu pai disse. ― Espero que entenda o
que sacrificou. ― Ela pensou nos olhos distantes de Saint antes de
ele sair da sala, e entendeu completamente.
Capítulo 19

A Garrafa mais Cara do Lugar

Baker & Chambliss, Advogados


Londres, Inglaterra
Dylan optou por viajar para Londres com ele.
― O velho rabugento não me deixa ver minha pérola de qualquer
maneira. Não há motivos para ficar em Edimburgo. E eu não posso
suportar os olhos furiosos de Read.
― Ele não fica furioso. — O Duque de Read raramente revelava
qualquer sentimento. Saint se perguntava como sua filha vibrante
teria suportado aquela parentalidade de aço. Mas então se viu
pensando nos olhos dela nebulosos de paixão, na boca quente e nos
dedos arranhando suas costas, e esquecendo a rua que procurava e
a razão pela qual havia percorrido centenas de quilômetros e seu
próprio nome.
― É claro que sim, insistiu Dylan, tirando o chapéu para duas
damas numa carruagem que passava. ― Espero que não o tenha
zangando. Não gostaria de vê-lo começar a olhar-me com raiva
também, agora que será um membro da família. ― Seus olhos
brilharam.
― Já chega.
― Saint, meu rapaz, é o sujeito mais peculiar que conheço.
Qualquer outro homem que acabara de apanhar a jovem mais linda
da Escócia, e Grã-Bretanha, estaria gritando de alegria! E vinte e
cinco mil libras na barganha. Não posso entender qual sua
dificuldade em celebrar sua boa sorte.
A dificuldade com a sua boa sorte, era exato isso: era boa demais.
Inacreditavelmente boa.
Um beijo, e ela seria dele? A herdeira que afastou homens de
posição e fortuna? A beleza deslumbrante com sede de perigo que
tinha planejado o cortejo de um homem do qual suspeitava ser
responsável por crimes, apenas para poder investigá-lo mais de
perto? A mulher apaixonada cujos olhos queimavam de pânico
quando a alcançou?
Não estava pronto para comemorar. Não até que entendesse o
que diabos estava acontecendo.
― Aqui é o lugar. ― Dylan gesticulou para uma placa de latão
modesta numa porta e fez sua montaria parar. ― Não me farei de
tímido contigo, primo ― ele disse menos animadamente. ― Estou
muito feliz por finalmente estarmos aqui. O velho Tor não poderá
descansar inteiramente até isso ser feito.
Um homem magro, de óculos, abriu uma porta para eles. ―
Milorde. ― Ele se curvou. ― Sr. Sterling? Tenho esperado pelo
senhor há meses. ― Ele os conduziu a um escritório com uma
decoração escassa, mas dispendiosa. ― Chá?
― Quero um pouco de Claret, Chambliss ― Dylan disse.
O vinho foi servido, o ano e o buquê apreciados, enquanto Saint
esperava. Não viera aqui para conversar com o advogado sobre
safras. Mas Dylan era Dylan. E ele não estava com pressa de saber
a verdade sobre os empreendimentos comerciais de seu irmão.
Estava fazendo isso apenas para não trazer problemas inesperados
para Constance.
― Vamos começar? ― Chambliss finalmente disse, abrindo um
portfólio em sua mesa. ― As aplicações do Sr. Sterling não eram
muito diversas, mas eram lucrativas. Fui instruído a retirar todos os
investimentos após a notificação de sua morte...
― Ele o instruiu sobre isso? ― Saint Perguntou.
― Cinco anos atrás. Quando lorde Michaels me informou sobre
sua morte em janeiro, fiz o que seu irmão instruiu, deixando apenas
um investimento ativo, que deve ser pago em junho. É um
empreendimento de transporte marítimo que está a caminho de
Porto Príncipe. Renderá uma soma considerável.
― Tudo bem então ― Dylan disse, impaciente. ― Dê-nos o total
geral.
― Sem incluir o investimento que acabei de mencionar, ou a
propriedade em Kingston e a casa em Devon, ao todo, Sr. Sterling, o
valor dos bens de seu irmão no momento de sua morte era de
oitenta e quatro mil libras.
O rosto de Dylan ficou branco.
Saint fechou os olhos.
― Se desejar, ficarei feliz em encontrar compradores para ambas
as propriedades ― continuou Chambliss. ― A casa de Devonshire é
um belo exemplar da arquitetura elisabetana em um pacote valioso.
De acordo com os pesquisadores contratados pelo Sr. Sterling no
outono passado, ela também está situada sobre um depósito de
carvão. Deve valer um bom preço. Embora as propriedades não
sejam tão procuradas em Kingston como há várias décadas, o
depósito ainda interessará aos compradores, é claro. Devem ser
fáceis de converter em ativos líquidos. Os dois navios são,
naturalmente, também de valor.
― Sr. Chambliss ― Saint forçou através de sua garganta
apertada. ― Quanto do dinheiro do meu irmão veio da venda de
carga humana?
As sobrancelhas do advogado se sobressaíram. ― Senhor?
Saint se inclinou para frente e colocou os cotovelos sobre os
joelhos. ― Por favor. Não tenho intenção de expor os associados de
meu irmão à lei. Mas preciso saber.
― Nenhum, senhor.
― Nenhum? ― Dylan exclamou.
― Meu irmão nos deu a entender que seus navios transportavam
cargas que, em certas ocasiões, não suportariam inspeção oficial.
― Os investimentos aos quais me contratou para supervisionar
eram todos inteiramente legítimos. Seu irmão era um investidor
experiente e incrivelmente afortunado.
― Ele tinha uma sorte do diabo nas cartas ― Dylan murmurou.
― Os navios poderiam ter feito viagens que o senhor
desconhecesse? ― Perguntou Saint.
― Impossível. Estudarei os registros novamente, se quiser, mas
por dez anos os acompanhei de perto e não me lembro de nada
estranho nos itinerários. A rota do Queen Anne era regular entre
Boston e Kingston. E enquanto o Gladiator ocasionalmente passava
pelo Mar do Norte, como sabe, senhor — ele disse franzindo a testa
— seu itinerário habitual era de Kingston para Portsmouth e, nos
últimos anos desde o tratado, ocasionalmente a Nantes. Nenhum
navio navegou para portos africanos. Também não tenho registros de
cargas humanas enviadas das Índias Ocidentais. Apenas
passageiros.
― Passageiros?
― É comum que os navios mercantes aceitem alguns passageiros
para aumentar os ganhos brutos de uma viagem.
Dylan se remexeu na cadeira.
― Tudo isso é tão fascinante quanto a ferrugem numa roda de
carruagem, eu gostaria de saber a distribuição do ouro de meu
primo.
― A terra, as casas, as lojas, os navios e o armazém agora
pertencem ao Sr. Sterling, e os ativos líquidos devem ser divididos
em quatro partes: uma para o senhor, milorde; duas para o Sr.
Sterling; e o quarto a uma instituição de caridade que seu irmão
designou especificamente.
A respiração de Dylan explodiu dele. Ele saltou, agarrou a mão do
advogado e balançou para cima e para baixo.
― Boa notícia, Chambliss! Isto é motivo para celebrar. O que me
diz, Saint, vamos até aquele bar no fim do quarteirão, compramos a
garrafa mais cara do lugar, e ficamos bêbados, certo?
Saint ficou de pé. ― Não tome nenhuma ação sobre as
propriedades no momento, Sr. Chambliss. Eu gostaria de
informações sobre essa instituição de caridade, envie para a casa de
Lorde Michaels hoje, por favor.
― Sim, senhor. Claro.
Eles partiram, Dylan pulava ao andar.
― Vinte e uma mil libras! Este é um dia especial. Um dia
extremamente importante! Edwards não poderá me negar sua filha
agora.
Edwards: o provincial mesquinho, relutante em casar sua filha com
um Barão por causa de sua falta de fundos.
Read: um Duque concedendo sua herdeira a um homem sem
status, com apenas cinquenta libras em seu nome.
Não era certo. Read não era confiável. E a filha dele...
Seria a sua esposa.
Capítulo 20

Uma Noite de Núpcias

Depois de sua viagem, ela o viu pela primeira vez do lado oposto
da igreja. Um corredor vazio se estendia entre eles, pavimentado
com pedra fria sob seus sapatos de seda. Suas mãos estavam
úmidas ao redor do buquê de rosas.
Eram rosas brancas. Naquela manhã, seu prometido as tinha
enviado do hotel em que ele e Lorde Michaels tinham alugado
quartos quando retornaram a Edimburgo. Ele as enviou sem uma
nota, apenas seu nome. O nome que em breve seria dela.
Seu estômago doía. Sua boca estava seca. Mas entre os vestidos
coloridos, gorros, chapéus e casacos dos convidados lotando a
igreja, ela viu apenas seu leve sorriso enquanto a observava
caminhar na direção dele.
A cerimônia foi rápida, sua voz forte enquanto ele declarava seus
votos, e o toque de suas mãos quando deslizou o anel em seu dedo,
caloroso, mas com breve. Quando acabou, olhou nos olhos
transcendentais de seu marido e lágrimas se juntaram em sua
garganta. Ela engoliu de volta e sorriu.
Na porta da igreja, ele entrelaçou seus dedos aos dela e segurou-a
com força enquanto caminhavam entre os simpatizantes jogando
arroz. Não falou com ela, nem ela com ele.
Ela nunca imaginou que seu pai concordaria com seu ultimato.
Quando Saint partiu para Londres, achou que seu pai cancelaria a
barganha e ameaçaria seu instrutor de esgrima de que o baniria para
sempre. Nunca esperou vê-lo novamente. Entrou em sua própria
festa de casamento confusa.
Parecia à vontade entre seus convidados, aos quais mal conhecia.
Ele raramente estava à vontade, exceto quando a segurava.
― Bem, Con, é uma noiva tão deslumbrante quanto eu sempre
soube que seria. ― Com os olhos cinza prateados avaliadores, seu
amigo Wyn Yale estudava seu rosto. Ele tinha um grande apreço
pela farsa, e suspeitava que ele entendia que esta casa agora cheia
de curiosos, fofoqueiros e muito poucos amigos verdadeiros, era
precisamente isso.
― Obrigada, querido ― ela respondeu. ― Estou bem, não estou?
― Assim como seu noivo ― disse a esposa de Leam, Kitty, e
olhou para Saint do outro lado da sala. ― É óbvio para mim porque o
escolheu. Apesar de seus nervos...
― Ela não tem nervos ― Wyn interveio ― e sim, ambrosia
correndo em suas veias.
― Apesar de seus nervos hoje ― Kitty continuou ― os dois
parecem perfeitamente naturais juntos. E realmente, Constance, ele
é positivamente... bem... Não posso dizer isso com Wyn e Leam
ouvindo.
Seu marido grunhiu. ― É a espada.
― Damas gostam de uma bela arma dura ― Wyn murmurou.
― Wyn. ― Kitty riu. ― Está fazendo a noiva corar.
Ele a olhou. ― Eu estou, Con?
Constance não conseguiu controlar um sorriso. ― Não. Mas
obrigada, Kitty.
― Ainda assim ― Kitty disse ― me surpreende que seu pai tenha
permitido isso.
― Culpa ― Leam rosnou. ― Ele tem sobrecarregado a todos nós
por anos. Não poderia negar-lhe isso agora.
― Não é culpa ― disse o Visconde Gray, entrando no grupo. ―
Seu tio, Blackwood, nunca faz nada sem uma estratégia
cuidadosamente planejada. Deveria saber disso. Tem alguma ideia
de qual é a estratégia dele desta vez, Constance? ― Com os olhos
sombrios e alto, com um ar natural de autoridade temperado pela
seriedade, ele não demonstrou nenhum arrependimento pelo
segredo que escondera de todos durante anos.
― Acredito que sim, Colin ― disse ela. ― Mas não vou
compartilhar isso contigo. O que sente quando as mesas estão
trocadas?
Uma covinha rasa apareceu em sua bochecha. ― É mesmo filha
do seu pai, quer goste ou não.
― Estamos todos marcados com o selo de nossos pais. ― Lady
Emily Vale apareceu com sua melhor amiga Kitty ao lado, e falava
diretamente para o Visconde. ― É a maneira como deixamos de lado
essas marcas que nos definem.
Os olhos de Colin assumiram um brilho que Constance nunca
tinha visto antes.
― É isso, então? ― Ele disse.
― É verdade, é claro ― Emily acrescentou ― que alguns preferem
abraçar os erros dos pais em vez de corrigi-los.
A resposta de Colin foi o pulsar de um músculo em sua mandíbula.
― Agora, aqui está algo que eu nunca pensei ver. ― Wyn olhou de
Emily para Colin. ― Um homem que ela gosta menos que eu.
Parabéns, Gray. Eu o enalteço por esta conquista. O que fez para
irritá-la? Não é do tipo provocador, afinal.
― Não é? ― Emily disse com óbvia surpresa.
― Não há dezoito anos, pelo menos ― Colin respondeu e virou-se
para Constance. ― Felicitações, milady. ― Ele se curvou sobre a
mão dela. ― Desejo-lhe felicidades.
― Não o perdoo, sabe.
― Perdoará. ― Com um aceno para os outros, ele partiu.
Wyn virou-se completamente para Emily.
― Diga, milady. Nomes, datas, lugares, qualquer coisa necessária
para que eu entenda o motivo de seu desdém pelo inestimável Lorde
Grey. Quero anotar tudo e comparar à minha lista de deficiências, e
depois corrigi-la.
― Pare, Wyn ― disse Kitty. ― Pocahontas não precisa se explicar
para ninguém.
― Pelo menos ficou claro que ela não precisa explicar isso ao
nosso temível Visconde. Ele parece estar a par. E é Pocahontas que
está usando agora? Encantador.
― É uma verruga no pé da humanidade, Wyn ― Emily disse. ―
Não sei como Diantha o aguenta.
Ele sorriu. ― Atualmente, através da criação de contas diárias...
― Não a culpo, nem um pouco.
― Devido a meu filho que ela está carregando.
― Parece que ela tem menos inteligência do que eu pensava.
― Os dois brigam como irmãos —Kitty disse com um sorriso
carinhoso e enfiou a mão na de Constance. ― Constance, foi uma
deliciosa noite. E gostei muito do Dr. Shaw e da Libby. Eu gostaria de
permanecer mais tempo e conhecer melhor seu marido também.
Mas precisam de um tempo sozinhos e devemos voltar para casa e
para as crianças amanhã.
Um lacaio oferecia champanhe. Constance recusou. Sua cabeça
estava leve o suficiente sem ajuda.
― Espero que todos nós possamos nos encontrar neste outono,
quando Jinan e Viola retornarem do exterior ― ela disse. ― Eu
adoro ter Jamie no castelo em fevereiro.
― Aye ― disse Leam. ― A isca que trouxe o espadachim para a
Escócia, com minha ajuda involuntária. — Junto com Ben Doreé, ele
era o mais próximo de um irmão que ela tinha, e agora a olhava
sombriamente. ― Constance, tome cuidado. Meu tio está fazendo
algum jogo secreto. Não quero vê-la ferida.
― Não se preocupe, querido. Tenho certeza de que não tenho
nada a temer.
Exceto sua própria noite de núpcias.

Perto da meia-noite, depois que os que residiam em Edimburgo


partiram e os amigos de Constance se retiraram para seus
aposentos, os criados começara a apagar as lamparinas. Ela os
impediu de extinguir a última na sala de estar e, quando saíram,
fecharam as portas. Saint permaneceu onde estava do outro lado da
sala, a cabeça inclinada, as costas parcialmente voltadas para ela,
as pontas dos dedos apoiadas num suporte de mármore esculpido
na forma de um cavalo.
― Bem, esposa. ― Sua voz estava sombria. ― Esta é uma
circunstância interessante em que nos encontramos.
― Acha? ― Ela murmurou, apreensão e excitação deslizando por
sua nuca como uma trança emaranhada.
― Sou um peão no jogo. ― Ele se virou para ela. A lamparina
transformava seu cabelo em bronze e seus olhos estavam sérios. ―
Não sou?
― Claro que não.
Ele se aproximou devagar. ― Me acha ingênuo?
― Pensei que tivesse a intenção de me proteger.
Ele chegou perto e os formigamentos em seu ventre se tornaram
fogos de artifício. Pegando uma mecha de cabelo pendurada no
ombro dela, ele a enroscou ao redor de dois dedos. ― Há seis anos
quero fazer isto.
Ela virou o queixo para a mão dele e sentiu um arrepio de prazer
ao roçar sua pele contra a dele. ― Agora pode.
― É uma coisa peculiar, em um dia como esse, ter tanta certeza
― ele disse em voz baixa.
Seus batimentos cardíacos estavam descontrolados. ― Certeza
de quê?
― De que não vai durar. ― Ele acariciou sua bochecha com os
nós dos dedos. ― E isto. Eu também queria fazer isso novamente.
― Sim ― ela sussurrou.
― Me pergunto, quando será? No momento em que o limiar do
covil do Diabo for atravessado? Ou esperará até a manhã seguinte
para exigir que seu pai convoque o bispo? Quando serei anulado?
Ela levantou o olhar para encontrar o dele. ― Anulado?
― Surpresa minha esposa? ― Ele estudou suas feições. ― E
parece ser genuíno.
― É genuíno.
A mão dele envolveu o ombro dela e ele inclinou a cabeça.
― Eu admito, será difícil. ― Ela sentiu as palavras dele contra seu
cabelo.
Ela inclinou o rosto para aproximar seus lábios dos dele. ― O que
será difícil?
― Abandonar a cama da minha esposa. Mas se quisermos fazer
isso direito, podemos também falar honestamente. Não posso ficar
diante do padre e do Parlamento e jurar ao Todo Poderoso que não
desfrutei das recompensas deste casamento se de fato o tiver feito.
Ou posso?
― Eu não sei porque acredita nisso. ― Ela tocou os lábios em sua
mandíbula e ouviu sua respiração ser retida, e sentiu tudo dentro si,
anseio, desejo e necessidade por ele. Se apenas pudesse
permanecer assim. Talvez pudesse. Talvez o pânico frio não viesse
dessa vez. ― Mas supondo que este casamento é o que diz que é,
não aproveitará dele mesmo temporariamente?
― Se eu estivesse tão desesperado para ter uma mulher em
minha cama, encontraria alguém que não aparecesse com um pai
espinhoso e uma intriga perigosa.
Seus lábios sorriam contra o queixo dele. ― Parece que
descobriu. Eu sabia que o faria.
― Mencionou há algumas semanas que precisava de um marido.
E não acho que seu motivo para a pressa seja o mesmo do seu pai.
Constance, é uma conspiradora incorrigível.
Ela mordiscou sua mandíbula, provou-o, e cada centelha de fogo
dentro dela ardia.
― Acho que gostava mais quando não sabia quem eu era.
Ele tocou as pontas dos dedos nos braços dela e acariciou gentil e
tentadoramente.
― E eu gostava mais quando não me tratava como um objeto para
ser usado a sua conveniência.
Ela sussurrou contra sua bochecha: ― Eu precisava de um
marido.
― Para violar o covil do diabo. ― Suas mãos apertaram ao redor
de seus braços. ― Mas não o Loch Irvine?
― Isso teria sido complicado.
― Casar comigo era preferível a casar com um monstro?
― Parecia a melhor das duas opções.
― Naquela noite, em Assembly Rooms, quando me pediu para
beijá-la e tocá-la, já havia formulado esse plano?
― Não. ― Seus lábios estavam tão perto. ― Eu não estava
pensando claramente naquele momento como costumo fazer.
― Sabia que seu pai exigiria que se casasse.
― Ele já tinha exigido. Naquela noite, precisava de você.
Seus lábios roçaram a bochecha dela, depois a testa e depois,
suavemente, a têmpora.
― Eu não sei se posso acreditar totalmente nisso.
― Por que não acredita no que eu digo?
― Uma vez, alguns anos atrás, me disse que era minha. Um ano
depois, não me admitiu em sua casa. Isso me parece uma boa razão
para meu ceticismo.
― Sou sua agora. Para o melhor. Para o pior.
Ele a olhou nos olhos. ― Que nenhum homem nos separe?
— Aye.
Ele baixou a boca para a dela.
Não houve hesitação, nem incerteza, apenas profunda satisfação
no encontro de seus lábios. Seus braços vieram ao redor dela, seus
corpos se uniram, e o céu passou por ela em quentes e maravilhosas
ondas de alegria e desejo misturando-se. Ele pegou o lábio inferior
entre os seus e depois reclamou seus lábios completamente, e ela
deslizou as mãos em seus cabelos, ao redor de sua nuca. Ele a
beijou completamente, deliciosamente. Com cada beijo ela o queria
mais perto, mais profundo, dentro dela. As mãos dele moveram-se
sobre ela, sentiram-na, dos ombros até às costas, puxando-a para
ele, moldando-a contra seu peito para que ela o sentisse em seus
seios e contra sua barriga e coxas. Queria senti-lo. Precisava que ele
a tocasse novamente. E de novo e de novo.
Sua boca se moveu para o pescoço, marcando sua pele com calor,
e suas mãos seguraram-na firmemente contra ele. Ela correu as
palmas das mãos sob o casaco dele, sua força densa a deixando
faminta, fazendo-a se pressionar contra ele.
― Não farei amor contigo, Constance.
― Eu não o quero de qualquer maneira.
― Meu Deus. ― Ele enterrou a boca em seu pescoço e ela se
agarrou a ele. ― Esta farsa faz de nós dois mentirosos.
― Então, pelo menos nós compartilhamos isso.
Ele riu do ridículo disso, de como tudo parecia sempre real, certo,
sublime entre eles, mesmo quando eles estavam em desacordo.
Então ele a beijou mais profundamente, saboreando a doçura de sua
boca com que ele sonhara há anos. Gemendo, ele a puxou contra
ele.
― Diga-me que não pode mentir para mim.
― Eu não posso mentir para você. Ainda não.
Abruptamente ele a colocou longe dele, segurando seus ombros e
olhando para seu rosto.
― Ainda não?
― Nem uma vez. ― Ela estava tremendo em suas mãos, o mais
delicado tremor de aço coberto de cetim. ― Provavelmente é o único
homem vivo a quem posso dizer isso.
― Provavelmente?
― Assim é. Eu estou tentando... desesperadamente... ― Havia
incerteza no azul brilhante de seus olhos.
― Constance ― ele sussurrou, puxando-a para perto novamente e
pressionando os lábios na sua testa.
― Estou tentando desesperadamente esconder algo de você ―
ela confessou. ― Qualquer coisa. A menor ou a menos importante
que fosse, já seria suficiente, e eu me consideraria uma vencedora
nesta batalha.
― A batalha que trava contra mim?
― Contra mim mesma. ― Ela o empurrou e cambaleou para trás.
― Não visite a cama de sua esposa hoje à noite. Qualquer noite. Eu
não o quero nela.
― Isso é... inesperado. ― Ele passou a mão pelo cabelo e
respirou com firmeza. ― Mas bem-vindo.
― Agora está mentindo.
― Então percebeu. Parabéns. Nós dois somos notavelmente
espertos em detectar mentiras.
Ela fechou as mãos sobre a boca.
― Saint ― ela sussurrou. ― Reze por mim.
Um arrepio passou por ele. ― Seu pai ainda pretende que se case
com Loch Irvine?
Seus olhos se arregalaram. ― Não. Ele não poderia. Mas isso...
―Ela gesticulou entre eles.
Saint esperou. Ela não parecia intrigante ou desafiadora. Ela
parecia assustada.
Ele foi até ela e puxou-a para seus braços, onde ela encaixava
perfeitamente. Determinada, assustada, perfeita e dele.
― Está tremendo ― ele conseguiu dizer com compostura
confiável.
― Estou cansada ― ela respirou contra o colarinho. ―
Excessivamente. Tem sido um... dia fatigante, e não dormi desde o
baile.
― O baile. ― Sua compostura escorregou. ― Três semanas
atrás?
― Bem ― ela disse com um toque em sua voz que soou como um
sorriso ― eu nunca ameacei meu pai assim antes.
Ameaçou.
― E meu recém-prometido desapareceu imediatamente depois do
acordo. ― Ela abriu os dedos em seu peito. ― Isso era motivo de
preocupação.
A realidade de suas mãos nele ainda era muito nova, inacreditável
demais. Ela o estava tocando e ele mal conseguia respirar. Ele lutou
para encontrar sua língua.
― Deveria saber que eu voltaria.
Ela levantou o rosto. ― Como eu iria saber isso?
Ele não conseguia achar as palavras.
― Mas me recuperarei com uma noite de sono. ― Ela fez menção
para se libertar dele. Ele a envolveu em seus braços.
― Para a cama, então.
― Não. Não. ― Sua voz estava em pânico. Sua mão se torceu no
colete. ― Não exija isso de mim. Não essa noite.
― Silêncio. ― Ele falou suavemente enquanto a carregava da
sala. ― Eu já disse que não ficarei.
Ela colocou o rosto contra seu pescoço. ― Se eu permitisse a
qualquer homem ficar, esse seria você. ― Elas eram um eco de suas
palavras naquela noite em Fellsbourne, naquela primeira noite nas
sombras, quando ele apenas a considerara uma garota incomumente
bonita, com um traço de ousadia em sua alma.
Uma serva esperava em seu quarto, e ele saiu para que despisse
sua esposa e a colocasse na cama. Quando a serva partiu, ele
entrou e fechou a porta. Constance estava deitada de lado sob as
cobertas, os olhos meios fechados. Ele foi até à lareira e colocou um
novo tronco nas chamas. Então tirou o lenço do pescoço e o casaco.
Ela parecia dormir. Movendo-se para uma cadeira, ele se abaixou
silenciosamente. Ele a observou por um tempo, o suave subir e
descer de seu ombro; traçou com o olhar o submergir de sua cintura
e a curva de seu quadril sob o cobertor.
Poderia possuir esse corpo agora. Era dele. Num instante ele
poderia estar ao lado dela na cama, em cima dela, dentro dela.
Apreciando-a.
Se eu permitisse a qualquer homem ficar.
Permitisse.
Mesmo agora, quando pela lei de Deus e dos homens ela era sua
para fazer o que ele desejasse, ela se recusava a se submeter. Um
orgulho irritante enchia sua luxúria. Ela era magnífica.
Inconvenientemente, dada a sua excitação. Mas não a queria dessa
maneira.
― Saint? ― Seu sussurro era abafado contra a palma da mão
enfiada sob sua bochecha. Ele segurou a respiração. ― Sei que
ainda está aqui ― disse ela. ― Posso sentir seu cheiro.
Ele se afastou da cadeira, foi para a cama e sentou-se na beira do
colchão. ― Como assim?
Seus olhos permaneceram fechados. ― É a mesma colônia que
usou na noite do baile em Assembly Rooms. E fumaça de charuto,
mas apenas no seu casaco. E whiskey na sua boca.
― Eu não a beijei uma hora atrás. Está trapaceando.
― Eu observo ― ela murmurou com sono, mas seus lábios se
curvaram. Ele queria acariciar essa beleza com as pontas dos dedos,
depois saboreá-la em sua língua.
― Colônia, charutos, whiskey ― disse ele. ― E o que mais esse
seu nariz sensível pode discernir agora?
― Você.
― Eu?
― Seu perfume. Sua pele. Como se o sol brilhante tivesse
banhado sua pele e só restasse calor.
O coração dele acelerou.
― Se eu nunca o tivesse reencontrado depois de Fellsbourne,
Frederick Evan Sterling ― ela disse ― mesmo assim teria me
lembrado do cheiro de sua pele por toda a minha vida.
Ele segurou sua nuca com os dedos. ― Sabe, isso não torna mais
fácil para mim abandonar meus direitos de marido esta noite.
― Não posso impedi-lo de reivindicar esses direitos.
Ele recostou-se, apoiando-se no colchão com a mão.
― Com tal convite, como poderia um homem resistir?
― Por que resiste? ― Seus olhos se abriram. ― Por que não
reivindica seus direitos agora?
― Porque, assim como sua carne, eu teria seu consentimento.
Seu consentimento entusiasmado.
Ela o olhou. ― É tão honesto.
― Geralmente.
― Isso me confunde. ― Seu corpo parecia vibrar sob a colcha. ―
Tenho vivido em fingimento por tanto tempo, fazia companhia a
homens fingindo ser quem não era. Sei francês, italiano e alemão.
Até li um pouco de código...
― Código?
― E ainda assim não sei como entender você.
Sua agitação roubou-lhe o humor. Ela era como um cervo
assustado em paralisia pela abordagem de um caçador. Mas ele
achava que a entendia. Esta mulher magnífica, tão certa de si
mesma, desconfiava dos homens. E ela temia ser tocada. No
estábulo quando ele estendeu a mão para ela... no salão de baile
quando a abraçou... e suas mãos forçando-o a dar-lhe prazer em
Assembly Rooms. Quando ela o tomou, não tinha medo. Quando ele
tentou se retirar, ela recusou deixá-lo ir.
Seu peito estava apertado.
― Não me farejou como um cão a um momento atrás para me
dizer isso.
― Como sempre ao seu lado falo demais e o que não pretendia
dizer.
― Não o suficiente, na verdade. Mas sou um homem paciente.
― É?
― O que vai querer de mim agora, milady?
― Ainda me ajudará? Me ajudará a procurar o covil do diabo agora
que não precisa?
Ele a observou por um longo momento antes de poder falar
novamente. ― Que ideia peculiar de casamento tem.
― Zomba de mim?
― Sua atenção estava em outro lugar na igreja mais cedo? Deixou
de ouvir as palavras do bispo? ― A perplexidade nublou seus olhos.
― É minha, Constance. ― Sua voz raspou sobre as sílabas. ― Para
desfrutar. Cuidar. Proteger. Qualquer que seja a duração dos votos
que falamos hoje, e por qualquer motivo que tenham sido proferidos,
enquanto durarem esses votos, eu os honrarei.
Os dedos dela apertaram ao redor dos lençóis.
― E ― ele acrescentou com um encolher de ombros ― sei que vai
continuar com sua missão quer eu a ajude ou não.
― Eu vou.
― Então pode entender meu motivo. Um homem tem seu orgulho,
afinal. Não posso ter minha esposa andando pelo subúrbio de
Edimburgo enquanto eu estou reclinado num esplendor ducal,
tomando xerez e ficando cada vez mais gordinho. O que as pessoas
diriam?
― Que meu pai o comprou. ― Ela disse isso sem graça. ― Diriam
que com qualquer homem com o qual eu deveria ter casado, um
homem como Loch Irvine, não teria permitido que eu continuasse a
vida escandalosamente independente à qual estou acostumada. Mas
que você, sem dinheiro e facilmente persuadido, ficaria feliz em
aceitar os termos da liberdade que eu exigia do meu pai como
condição do meu casamento apressado. Eles diriam que: contanto
que a parte do contrato de casamento que lhe prometesse fosse
suficiente para mantê-lo no conhaque e com novas espadas
brilhantes pelo resto de seus dias, me permitiria qualquer rédea que
eu exigisse.
Ele cruzou os braços. ― Isso resume tudo.
― É um patife.
― Mas um patife orgulhoso. ― Ele sorriu um pouco.
― Saint.
― Constance?
― Deveria ir agora.
― Porquê? Está prestes a se jogar em meus braços, apesar de
sua intenção de permanecer como uma casta esposa casada?
― Sim.
Ele sorriu.
― Droga ― ela sussurrou, com os olhos brilhando. E então o
condenou em ações. Ela se levantou, as roupas de cama caindo até
sua cintura, e passou os braços em volta do pescoço dele, afundou o
rosto na curva do seu ombro e pressionou o corpo contra o dele. Ela
era morna e suave, querido Deus, tão suave, ágil e forte, seu
domínio sobre ele era certo. Suas mãos a envolveram de volta, seu
nariz, nas profundidades perfumadas de seu cabelo, e ele a segurou
como desejava ser segura, e como ele precisava segurá-la,
firmemente contra ele.
― Não acho que entenda que isso seja um desafio para mim ―
disse ele, um pouco tenso, acariciando a cascata de seu cabelo
sobre a curva de sua coluna. Seus seios contra seu peito
apreenderam sua razão e contenção e os enterrou em sua virilha. ―
Mulher bonita. ― A mulher que há anos desejava. ― Com pouca
roupa. Na minha cama. ― Suas mãos deslizaram sob seus braços e
ele permitiu que seus polegares acariciassem a curva voluptuosa de
seus seios. Ele gemeu no cabelo dela e sentiu-a estremecer.
― Eu queria te perguntar uma coisa ― ela disse um pouco sem
fôlego.
― Pergunte.
― Porque foi procurar Loch Irvine naquela manhã? Depois do
baile.
Ele riu.
― Porquê? ― Ela disse.
― Eu não queria que se casasse com ele, obviamente.
― Obrigada ― seus lábios exuberantes sussurravam contra sua
mandíbula, dirigindo os dedos da luxúria direto para seu membro. ―
Obrigada.
― Santo Deu ― ele proferiu. ― Vai fazer isso impossível para
mim, não é?
Ela se afastou com ele. Bochechas coradas, respirando com força.
― Tome-me agora. ― Seus dentes apertados juntos. ― Faça isso.
― Tomá-la? ― Veio do fundo de sua garganta.
― Possua-me completamente. ― Seus olhos estavam cheios de
medo.
Ele recuou do colchão e ficou de pé. Suas mãos precisavam da
sensação de qualquer coisa menos dela. Ele passou-as pelos
cabelos.
― Na verdade, acho que não vou...
― Faça isso. Eu te imploro. ― Uma lágrima deslizou por sua
bochecha.
― Amanhã, à luz do dia, de preferência do outro lado de uma sala,
e por trás de uma tela onde não consiga vê-la, e certamente onde
não possa tocá-la ― ele disse devagar, com firmeza ― me contará a
verdade disto.
À luz das velas, seus olhos brilharam. ― Me faz de idiota. Prefere
que eu rasteje? Devo me ajoelhar?
Seu membro dolorido respondeu prontamente à sugestão. ―
Constance.
― Quer que eu seja fraca. Em seu domínio.
― Eu a quero, sim ― disse ele. ― Eu a queria desde antes de
saber seu nome. Sonhei com todos os cenários imagináveis para tê-
la. Este não era um deles. Boa noite.
Ele passou pelo vestiário até o quarto adjacente. Arrastando uma
cadeira de madeira diante do fogo, ele pegou sua espada e sentou-
se com a palma da mão ao redor do cabo. Quando as chamas se
desvaneceram, ele recondicionou o fogo. Evitou a cama neste quarto
desconhecido. Em vez disso, acomodou-se na cadeira dura e
desejou que alguma coisa o espetasse.
Capítulo 21

A Confissão

Constance permaneceu calma enquanto sua serva abotoava seu


traje de equitação, arrumava seus cabelos num coque por baixo de
um chapéu combinando e ajeitava a gola da camisa branca sob o
casaco. Através da porta do quarto de vestir, seus olhos seguiram os
olhares tímidos das camareiras enquanto faziam a cama. Não
encontrariam sangue nos lençóis, nenhuma evidência de sua
virgindade descartada. Mas não a teriam encontrado mesmo se seus
apelos desesperados tivessem sido aceitos por seu marido.
― Onde está o Sr. Sterling?
― Foi cavalgar, milady. O Sr. Viking preparou calças e botas esta
manhã.
A ideia de Saint aceitar as ministrações de um valete era deliciosa
demais. Ela gostaria de vê-lo desconcertado pela atenção servil.
Esticou as luvas sobre os dedos e foi se despedir de seus amigos.
Quando todos tinham partido, com promessas de se encontrarem
novamente no outono, ela foi buscar Elfhame no estábulo.
Encontrou o marido ao longo das águas de Leith, o verde da
primavera renovada fazendo um caramanchão ao lado do rio. Estava
à vontade montado em seu belo cavalo. Quando ele a viu, um brilho
iluminou seus olhos que refletiam as margens verdejantes do rio.
― Saudações, Madame Sterling ― ele disse com a voz de
conhaque quente que sempre a enlouquecia. ― Acredito que seu
casto repouso no nosso ninho nupcial a tenha satisfeito.
― E eu acredito que a palidez do seu rosto reflete um descanso
igualmente satisfatório da sua parte. ― Ele colocou a palma da mão
sobre o peito.
― Me feriu, milady.
― Feri?
― As mulheres não são as únicas criaturas dependentes de
lisonja. Um homem não gosta de ouvir que é nada menos do que
devastadoramente bonito.
Ele era devastadoramente bonito. Não da maneira dos homens
que ela geralmente conhecia, com a pele branca e as mãos macias
que evidenciavam sua indolência aristocrática. Frederick Sterling era
duro, firme e esbelto. Não havia nada de suave nele, nada mimado
ou civilizado ― ou mesmo barbeado. Ele usava o cavanhaque ao
redor de sua boca como se os homens de sua sociedade usassem
anéis de sinete proclamando suas nobres árvores genealógicas:
como um distintivo de sua masculinidade.
― Não tenho dúvidas de que sua confiança permanece intacta ―
ela disse ― apesar de mim.
Ele não disse nada em resposta. O ar entre eles estava suspenso
como a incompletude da noite à luz de fogo.
― Com essas palavras, eu pretendia que se lembrasse da minha
rejeição na noite passada ― esclareceu ela.
― Eu entendi. ― Ele sorriu ligeiramente. ― Sua vitória, no
entanto, é plana. Como minha esposa, minha confiança permanece
incólume.
Ela quase riu em voz alta. ― Será?
Seus olhos eram preguiçosos, auto satisfeitos, exagerados.
― Me implorou.
― Era tarde. ― Ela gesticulou alegremente. ― Eu estava
delirando.
― Parecia lúcida o suficiente para mim. ― Ele cruzou as mãos
sobre o pomo da sela. ― Mas e hoje, esposa? Que
responsabilidades meu novo papel requer de mim? ― Seu olhar
deslizou de seus olhos para seus lábios, e então para a frente de seu
casaco onde permaneceu. ― Responsabilidades pelas quais eu já
não estou ansioso.
― Não pode dizer nada que me choque, senhor.
― Não estou tentando chocá-la. Estou tentando despertá-la.
Parece especialmente atraente nesse traje. Eu gostaria,
sinceramente, de removê-lo peça por peça. Com meus dentes.
― O que diria se eu te dissesse que sua provocação tem o efeito
oposto de me excitar?
― Eu diria que precisa praticar a verdade.
Seu tom não se alterou, mas ela pensou que essas palavras não
eram faladas à toa.
― Haverá visitas hoje. Muitas ― disse ela, instando Elfhame a
trotar.
― Visitantes devem ser mantidos na grelha de requintados
curiosos? ― Os cascos de seu cavalo soaram na estrada atrás dela.
― No baile da Assembly Rooms, Sir Lorian me falou de uma
sociedade privada à qual apenas casais são admitidos. Ele me disse
que os membros dessa sociedade desfrutam de entretenimentos
especialmente sofisticados e que, quando eu me casasse, ele
conseguiria um convite para mim. Poderia ser o clube que todos
associam ao Duque do Diabo. É possível que o Sr. e a Sra. Westin
também sejam membros. Devem haver outros. Temos que provocá-
los.
― Ah. A névoa começa a clarear. ― O sorriso desapareceu.
― Deve trocar de roupa antes que eles cheguem.
― A crème de la crème da sociedade de Edimburgo não se
importa com o aroma das cavalariças, suponho. Nem mesmo o
crème secretamente pervertido?
Ela mordeu o lábio. ― Veremos, eu suponho.
― Constance.
Ela virou na sela quando ele veio para o seu lado.
― Não se esconderá nada de mim ― disse ele.
― Esconder?
― Nada desta investigação. Faça-me um confidente dos segredos
íntimos do seu passado, ou não; isso deve ser sua escolha. Mas,
dessa charada que jogamos por culpa da escória da sociedade
educada, e do que sabe, não permitirei que retenha informações.
― Que bem me faria reter informações? Para começa, nós não
teríamos nos aliado se eu não achasse que suas habilidades seriam
úteis. ― Ela ouviu seu pai em suas próprias palavras e provou o
azedume em sua língua.
Ele passou a mão pelo queixo. ― Não é exatamente a resposta
que eu esperava.
― Está distraído por sua luxúria.
― Quero protege-la. E não posso fazer isso se não me contar
tudo. ― Ele disse simples e sinceramente. Ela lutou contra o calor
que ele provocava dentro dela.
― Havia um homem ― ela se ouviu dizer sem qualquer plano para
o que diria em seguida. ― Ele... ― O barulho da floresta se tornou
agitado, o clamor dos pássaros estridente, redemoinhos de sons e
cheiros muito fortes. ― Eu... ― Sobre o burburinho frenético do rio,
seu coração palpitou. ― Ele me machucou.
― O suficiente para me temer.
― Eu não o temo.
― Me temeu ontem à noite. Foi Doreé?
― Não foi Ben. Nunca ele.
― Diga-me quem é ele. Eu gostaria de lhe dar uma lição.
― Ele está além do seu alcance agora.
Ele esticou o braço e inclinou-o como se estivesse testando a
distância até a ponta de uma espada. ― Isso não sei. Meu alcance é
realmente muito impressionante. Todo mundo diz isso.
Um sorriso puxou seus lábios. ― Sua modéstia é uma coisa
incrível.
Ele estudou seu rosto, e ela não observou seus olhos, mas sua
boca. Sua boca perfeita.
― Esposa ― ele murmurou.
― Por que me chama assim?
― Para lembrá-la que eu a possuo ― disse com um sorriso. Ele
gesticulou à frente. ― Vamos voltar para casa agora, para que eu
possa me fazer adequadamente apresentável para aqueles cujas
almas são menos apresentáveis do que as solas destas botas?
Ela instou Elfhame em frente. Ele não insistiria em saber mais.
Talvez ela pudesse simplesmente esquecer agora. Talvez pudesse
acabar. Mas quando ela olhou para trás, seus olhos fixos na
distância eram duros.

― Pare neste instante!


Saint empurrou a navalha para longe de sua mandíbula. O sabão
espirrou em seu casaco.
― Droga. ― Ser um cavalheiro estava se mostrando
inconvenientemente desconfortável. Ele arrancou o pano encharcado
do pescoço.
Viking, que se anunciara no dia anterior como “seu servo pessoal”,
agora se apressava até ele.
― Vai se cortar ― ele exclamou. ― É minha responsabilidade
barbeá-lo. Eu exijo que me dê essa navalha e sente-se.
Saint pegou a cadeira diante da penteadeira.
― Pelo que eu tinha entendido, os servos não davam ordens ―
ele disse enquanto Viking colocava um pano sobre seu peito. ― Mas
talvez eu tenha me enganado. Só estou nessa vida há um dia.
― Os servos superiores dão quantas ordens quiserem,
especialmente quando seus senhores são colonos ignorantes. Se
incline para trás, senhor.
― Eu deixei a Jamaica há muitos anos, sabe.
Viking espalhou mais sabão no seu rosto.
― O senhor claramente passou anos lá. É tão moreno quanto um
marinheiro. ― Ele passou a navalha pela bochecha de Saint com o
toque mais leve. ― Deveria ter me dito esta manhã que pretendia
acabar com essa monstruosidade. Eu teria preparado uma
compressa morna antes do barbear, e misturaria uma loção
refrescante para aplicar depois.
Saint absteve-se de rir. Ele conhecia o perigo de uma lâmina na
mão de um homem que a manejava bem.
Quando Viking limpou sua mandíbula, ele a examinou com
ceticismo.
― Parece marginalmente mais civilizado, senhor.
Saint passou a mão sobre a pele macia. Ele sempre usara
cavanhaque, não ficara sem ele há anos. Pegou o casaco. O valete
arrancou-o de suas mãos e fez o nó em uma gravata nova. No
momento em que ele desceu para a sala de estar, imaginou que
estava apresentável como deveria ser.
Vários visitantes já haviam chegado. Constance sentava-se à
mesa de chá, as mulheres ao seu redor conversando alegremente
enquanto a avaliavam, e a ele quando entrou. Lady Easterberry teve
a ousadia de desfazer-se sobre seu casamento.
Havia grande quantidade de homens entre as visitas. Em especial
alto astral desde sua visita a Londres, Dylan fez as apresentações.
Saint achou o genro de Lady Easterberry, o Sr. Westin, repugnante.
De uma família modesta, ele investiu sabiamente em carvão e agora
esperava um título. Flácido do queixo à cintura, seu entusiasmo pela
vida era um ensopado de carneiro. Sir Lorian Hughes e sua linda
jovem esposa chegaram no meio da tarde. Exageradamente vestido
e seguro de si, Hughes falou com um sotaque afetado e olhou por
muito tempo e intimamente para Constance.
Depois de um tempo, Lady Hughes chamou Saint de lado.
― Esperei por sua visita no dia seguinte ao baile no Assembly
Rooms ― ela disse.
― Fui inesperadamente obrigado a ir para Londres.
― Claro ― ela ronronou.
Todos fingiam que Constance não estivera à beira de um noivado
com outra pessoa. Era surpreendentemente divertido e ele poderia
ter rido se sua esposa não tomasse a mal. Mas talvez ela também
quisesse rir. Havia sempre uma sugestão de riso sobre seus lábios,
mesmo quando seus olhos mostravam medo, como se dentro dela
houvesse uma batalha, como lhe dissera.
Lady Hughes seguiu a direção do seu olhar. ― Eu o felicito em sua
conquista.
― Sou um homem afortunado.
― Ela é linda.
― Sim.
A Sra. Westin veio até eles e ofereceu a Saint um leve sorriso.
― Miranda ― disse ela. ― Eu devo ir às lojas amanhã. Se juntará
a mim?
― Certamente, querida ― disse a beldade. ― Lorian exige novas
camisas e eu não tenho energia para costurar qualquer parte delas
ultimamente. Desfrutarei de um passeio contigo pesquisando linhos.
― Ela o observou do seu queixo às botas com seus olhos escuros.
― Talvez o Sr. Sterling possa nos escoltar, se Constance puder
liberá-lo?
As bochechas da Sra. Westin coraram.
― Se importaria em se juntar a nós, Sr. Sterling?
― Eu ficaria honrado ― ele disse, e se perguntou quanto tempo
teria que suportar esse tipo de coisa antes do fim.

Todos partiram, exceto duas mulheres que se acomodaram numa


conversa confortável com Constance. Saint foi procurar seu primo.
Um lacaio o havia chamado Dylan da sala com uma mensagem; mas
ele era uma criatura social e era estranho não ter retornado.
Dylan estava no vestíbulo, seu rosto pálido.
― Acabei de falar com o Edwards. Ele veio aqui para me encontrar
e para falar comigo. Bom Deus. ― Ele arrastou os dedos pelos
cabelos e segurou a cabeça. ― O que devo fazer?
Saint gesticulou para ele subir as escadas e entrar em sua sala
privada.
― Edwards rejeitou sua oferta, apesar do dinheiro de Tor?
― Não, por Deus, Saint. Ele veio aqui porque acabara de ouvir
que eu retornara a Edimburgo. Ele pensou que eu a tivesse deixado
lá, que a tinha levado da casa de sua tia.
― Levado?
― Sumiram com ela! Na manhã seguinte à festa de Loch Irvine,
ela foi para a casa de sua tia, como eu lhe disse. Seus pais
pensavam que ela estava lá nas últimas três semanas. Mas cinco
dias atrás, sua tia enviou uma carta perguntando quando Chloe
chegaria. ― Seus olhos estavam selvagens. ― Ela se foi.
Desapareceu! Edwards veio aqui para me implorar que a trouxesse
de volta. Ele disse que me deixaria casar com ela, que só quer saber
que ela está bem. Ele pensou que eu fugira com ela. Admito que
pensei nisso. Mas nunca faria uma coisa dessas. Ela é uma dama e
será minha esposa. Minha Baronesa. ― Sua voz falhou.
― Seus pais e tia não têm ideia para onde ela foi?
― Nenhuma! Acho que convenci Edwards de que não a escondi
em nenhum lugar. Mas, bom Deus, Saint, se eu não sei onde ela
está, e eles não sabem... há quase quatro semanas. Eu podia ver
meus pensamentos nos olhos de Edwards. Ela tem dezenove anos,
a idade dessas moças... daquelas moças. ― Ele enrugou a testa. ―
Matarei aquele Duque diabólico com minhas próprias mãos. Antes
que este dia acabe.
Saint afivelou sua espada.
― Nós iremos juntos.

O Duque de Loch Irvine não estava em casa. Ninguém atendeu a


porta e o açougueiro de uma loja próxima disse que não havia
recebido um pedido da casa em dez dias. Foram até o estábulo e
souberam em primeira mão que, dez dias atrás, o Duque partira com
sua carruagem de viagem carregada de malas, e com seu cavalo
selado e atado na traseira. Ele não deveria retornar por várias
semanas.
― Meu Deus ― Dylan disse. ― Ela pode ter ido com ele só Deus
sabe para onde! Ou ela pode estar... ― Ele respirou ofegante. ― Ela
pode estar no fundo do lago.
― Ainda não. As moças desapareceram depois de equinócios e
solstícios. Falta quase dois meses até o solstício de verão. Se ela for
uma prisioneira, a encontraremos antes disso.
Dylan ficou de boca aberta para ele. ― Que história é essa?
― Constance tem investigado os sequestros.
― Investigado? Depois que Loch Irvine terminou com ela? Tipo:
mulher desprezada faz maldade?
― Não. Desde sempre.
― Santo Deus. Isso é sombrio. ― Sua testa pregueada pela dor.
― O que mais tem para me dizer?
― Escreva para seus amigos em Londres. E Glasgow. York. A
qualquer lugar ao qual a senhorita Edwards poderia ter ido. Ela pode
estar com um amigo.
― Eu escreverei. Mas ela está aqui, Saint. Por perto. Eu posso
sentir isso.
Não questionou a certeza de seu primo. Ele entendia isso.
Quando entraram na casa, o mordomo informou que o jantar seria
servido em breve.
― Dê as minhas desculpas ao doutor e a senhorita Shaw, está
bem? ― Dylan murmurou. ― Não posso tolerar a ideia de conversar
esta noite. ― Ele parou na escada, seus olhos desolados. ―
Contará a ela, não é? E me dirá o que eu posso fazer, qualquer
coisa, para ajudar?
Saint observou seu primo subir as escadas com passos pesados.
Então foi para a sala de estar. O Dr. Shaw e sua filha estavam
curvados sobre um livro.
― Os convidados de Constance partiram tarde ― disse Libby. ―
Ela subiu para mudar de roupa, embora eu ache que seu vestido de
tarde era bonito o suficiente. Papai, eu não quero trocar meu vestido
três vezes por dia. Eu gosto deste. Talvez eu me torne uma famosa
médica e nunca me case.
Saint subiu, bateu na porta do quarto de sua esposa e, quando
não ouviu resposta, girou a maçaneta. Do outro lado da sala, ela
estava com o pé num banquinho almofadado, inteiramente nua,
exceto pela meia que estava prendendo na coxa com uma fita rosa
brilhante.
Cada pensamento, preocupação e notícia pairando sobre a língua
de Saint evaporou-se no éter. A porta se fechou atrás dele no mesmo
instante que a criada apareceu do quarto de vestir.
― Senhor! ― A palma da mulher voou para a boca, Constance
olhou para cima, e sua pele de marfim ficou rosa como a fita. Ela
pegou um lençol das mãos da criada e se cobriu.
― Obrigada, Carla ― disse ela. ― Pode ir.
A criada fez uma reverência e passou por ele para sair. Constance
segurou o linho sobre os seios com uma das mãos e prendeu-a na
parte inferior das costas com a outra.
― Bem? ― Ela disse, o rubor no alto de suas bochechas
descendo por seu pescoço.
― Bem. ― Ele foi obrigado a limpar a garganta. ― Minha entrada
aqui foi bem cronometrada.
Seus lábios intoxicantes apertaram e ela revirou os olhos para o
canto da sala, em seguida, de volta para ele.
― Eu presumo que já tenha visto uma mulher sem roupa antes,
não é?
― Como imagina que a resposta a essa pergunta tem alguma
relevância neste momento, não posso entender. Posso ajudá-la com
essa meia?
Agora os lábios se torceram. ― O jantar será servido em instantes.
Preciso me vestir. ― Ela olhou para as botas, depois para as calças,
parando momentaneamente no resultado inevitável de sua entrada
oportuna. ― Você também ― ela disse menos uniformemente. ― Vá
agora.
― Dispensou sua criada. ― Ele se debruçou contra a porta
fechada. ― Abotoarei sua roupa.
― Então vire-se.
― Absolutamente não. Estou sendo pago para preencher este
posto de marido, afinal. Seria malfeito da minha parte dar as costas
aos meus deveres tão cedo neste jogo.
Ela estreitou os olhos, mas seus dentes brincavam com o lábio.
― Tirou seu cavanhaque.
Ele passou a mão pelo queixo liso.
― Se quero fingir ser um cavalheiro, acho que deveria parecer um.
Mas sinto-me francamente... ― Ele deixou o olhar percorrer sua coxa
parcialmente exposta e a panturrilha à mostra. ― Nu.
― Vire-se agora ― ela disse com firmeza.
Ele cruzou os braços e sorriu. ― O jantar está ficando frio.
Com uma distensão delicada de narinas, como um cavalo
aborrecido, ela se virou e foi para o quarto de vestir.
O coração de Saint disparou e seu sorriso foi destroçado. Se
adiantou e entrou no provador.
Ela virou a cabeça. ― O que quer?
Ele agarrou seus ombros e sufocou seu horror crescente enquanto
seus olhos a examinavam. A partir da sua cintura para o alargamento
dos quadris, linear, delgado, cicatrizes vermelhas e brilhantes
formavam uma série de linhas paralelas sobre a pele pálida.
Cicatrizes recentes. Não mais do que apenas alguns meses.
Ele engoliu, e engoliu novamente com uma raiva súbita e um
sofrimento lancinante.
― Como adquiriu essas feridas?
Os dedos dela estavam brancos ao redor do tecido cobrindo suas
nádegas. ― Não me lembro.
Ela saltou para fora de seu alcance e se afastou, pegando um
roupão e envolvendo-se.
― Vá por favor.
Ele tinha tantas fantasias do momento em que, finalmente, veria
seu corpo. Parecia que ele estaria continuamente trocando sonhos
por pesadelos. Seus olhos estavam brilhantes e arregalados, os
olhos de uma presa encurralada.
― Constance.
― Isso o repele? ― O desafio arrepiava as palavras.
― Não.
Suas sobrancelhas finas se levantaram. ― Não?
― Olhe para o meu rosto. Sabe que eu também carrego outras
cicatrizes. Tenho tantas cicatrizes de seis anos em guerra e vinte e
cinco anos de espada que nem me incomodei em contá-las
ultimamente. Agora me faça essa pergunta novamente.
― Mas... ― Sua voz se afundou. ― Sou uma mulher. Sou... ―
Debaixo de suas mãos apertadas na seda do roupão, seus seios
subiam e desciam. ― Bonita.
― Certamente é. O homem do qual me contou fez esses cortes
nas suas costas?
― Não sou donzela.
As palavras caíram no silêncio.
Mas pelo que lhe dissera no estábulo do Castelo Read ― e o que
ela fizera lá ― ele já suspeitava disso.
― Tudo bem.
― Por causa de certas experiências que tive... ― Seu queixo ficou
tenso. ― É possível que eu não possa compartilhar intimidades com
um homem. ― Seus olhos brilhantes permaneceram firmes nos dele.
― Estou bastante certo de que já compartilhou intimidades com
um homem ― disse ele. ― Eu estava lá. Eu me lembro. Muito bem.
Nos casamos por causa disso.
Ela piscou. Uma vez. Duas vezes. Então sua sobrancelha se
enrugou.
― Entende o que estou lhe dizendo.
― Sabe com certeza?
O dardo entre as sobrancelhas dela se aprofundou. ― Saber?
― Já testou essa teoria? Já convidou um homem para dentro de
você?
Ela fechou os olhos. ― Não. Não desde então. ― Seu punho
agarrou seu roupão, puxando a seda apertada contra seus seios.
Seus mamilos se esticaram através do tecido, mas seus lábios
fizeram uma careta.
― O que há de errado? Está bem?
― Me sinto mal. ― Seus olhos se abriram. ― Fala assim, tão
francamente, e eu o quero. Sinto o desejo, o calor e a excitação. E
meu ventre se agita. Minha garganta seca. Minha pele irrompe em
suor frio.
Ele soltou um suspiro pesado. ― Bem, pelo menos parte disso é
uma boa notícia.
― Isso não é motivo de riso.
― Acredite em mim, não estou rindo. ― Ele inclinou a cabeça e
passou a mão na parte de trás do seu pescoço.
― Eu sei que estava desconfiado de algum segredo quando
concordou em se casar comigo ― ela disse. ― Mas não esperava
por isso. Tem motivos suficientes para uma anulação.
Sua cabeça levantou. ― Anulação? Nós nos casamos há um dia e
já está falando de uma anulação?
― Nós tínhamos nos casados apenas há algumas horas quando
falou sobre isso na noite passada.
― Claramente sou presciente.
Seu olhar permaneceu firme. Sem paixão.
― Entendo. ― Ele assentiu. ― Com que base eu iria justificar o
meu caso?
― Por qualquer motivo que escolher. ― Ela falou sem a música
que ouvira em sua voz, em cada vibração das folhas e em cada
ondulação das águas do riacho sobre pedras arredondadas. Por seis
anos ele a ouviu em toda parte, em tudo. Estava longe dela, mas em
sua lembrança ela nunca perdera a musicalidade.
― Casamento sob falsas premissas? ― Ele disse.
― Suspeito que o adultério encontraria ouvidos mais
compreensivos daqueles que já estão chocados que meu pai me
permitiu ficar solteira por tanto tempo.
― Não. O adultério não vai dar.
― Por que não?
― Que homem quer admitir publicamente que sua esposa
escolheu outro sobre ele?
― Então, talvez a verdade: que eu estava maculada. Imprópria.
Sem vontade. Incapaz.
― Ou muito louca para a cama. Eu poderia trancá-la no sótão e
trazer o bispo para testemunhá-la espumando pela boca.
― É cruel zombar disso.
― Suponho que sim.
― Nós poderíamos nos separar. Silenciosamente. Não tenho
nenhum desejo real de estar casada, e os homens casados
costumam fazer o que gostam de qualquer maneira. Eu poderia ficar
aqui e você poderia morar onde quiser, fazer o que quiser. Seria mais
civilizado que uma anulação.
― Prefiro trancá-la no sótão. ― Ele inclinou um ombro na moldura
da porta. ― Considere a vantagem que isso me daria. Todas as
moças de coração terno chorando. Pobre senhor Sterling! ― Elas
iriam chorar. ― Ele acreditava ser o homem vivo mais sortudo, por
ter a esposa mais bonita e mais rica da terra. No entanto, vejam a
quem ele está preso agora, ligado a uma mulher que nem sequer o
conhece, muito menos a si mesma. ― Ele sorriu. ― Elas estariam
competindo pela chance de me consolar.
Ela olhou para ele do outro lado do closet. ― Não pode.
― Não posso trancá-la no sótão?
― Não pode me abandonar.
Uma sensação de certeza desarticulada se apoderou dele.
― Se casou comigo ontem sabendo que esse momento chegaria?
― Ele disse lentamente. ― Que, depois de entrar para o clube de Sir
Lorian, me revelaria isso e eu a repudiaria? Esse era nosso plano?
― Não ― ela disse, mas seus lábios se pressionaram juntos.
― O nevoeiro se clareia ― murmurou ele ― e depois desce
novamente. ― Ele se virou para a porta, desta vez de costas para
ela e ergueu a mão para segurar a nuca. ― E sobre Loch Irvine?
― O que tem ele?
― Pretendia se casar com ele.
― Meu objetivo ao permitir que ele me cortejasse era específico.
Nunca foi casar com ele.
Abruptamente ele deixou cair o braço e se virou para ela.
― Pensei um pouco nessas opções que sugeriu e cheguei à
conclusão...
― Pensou um pouco? Agora mesmo?
― ...que não são totalmente adequadas para mim.
― Que opção seria melhor?
― Manter minha esposa.
― Não.
― Minha esposa é inteligente, bonita, corajosa, apaixonada e,
claro, muito, muito rica.
― Uma anulação lhe traria um amplo acordo. Mais do que
suficiente.
― Não tanto quanto eu tenho como seu marido. Eu li o contrato.
Eu assinei o contrato. ― Ele balançou a cabeça. ― Não. Acredito
que vou mantê-la. E não pense em fugir. Tenho amigos por toda a
Grã-Bretanha, para não mencionar no exterior. Eu alistaria a ajuda
deles e a encontraria. Rapidamente, sem dúvida. Mulheres tão
bonitas quanto minha esposa, não se misturam exatamente as
multidões.
― Saint.
― Esposa?
― Isso não é encenação. Eu te disse a verdade.
Ele se aproximou dela. ― É louca. Vou jurar isso para qualquer
um, em qualquer lugar. Mas não num tribunal da igreja. Não em
nenhum tribunal. Arraste-me até lá e cortarei minha língua antes de
te renegar. No entanto, me dê uma verdadeira razão para repudiá-la,
diga-me que arranca as asas das borboletas, que belisca as crianças
para ouvi-las gemer ou que é uma bruxa determinada a me
transformar num sapo. Então eu poderia levar o meu caso para um
bispo. Mas isso não bastaria. ― Com o olhar, ele traçou a inclinação
do nariz dela, a curva de seus lábios, o arco de seu pescoço e até
sua mão agrupada no tecido sobre os seios. ― Neste momento,
Lady Constance Sterling, eu a manterei.
― Sua luxúria está ditando suas decisões novamente.
― Parcialmente.
― Saint. ― Seu rosto permaneceu imóvel, mas seus olhos
brilhavam com lágrimas que ela não derramaria. ― Não quero ser
tocada.
Com cuidado, ele acariciou sua bochecha com a ponta do polegar,
permitindo que as pontas dos dedos se demorassem. ― Me permite
tocá-la. Me faz tocá-la.
Ela afastou o rosto.
― Constance, confie que não vou prejudicá-la. Eu não poderia te
machucar.
― Permitirá que eu me vista com privacidade agora?
Ele foi para seu quarto de dormir. ― Ficarei aqui para abotoar,
prender e amarrar e fazer o que as criadas fazem ― ele disse,
sentando-se numa poltrona perto do fogo e esticando as pernas.
― Mas deve se trocar também ― ela disse, abafada, e ele
imaginou seu corpo à mostra enquanto ela trocava o roupão por
roupas íntimas. ― Viking vai desmaiar quando ele vir o estado de
suas botas. Ou repreendê-lo. E por que está usando sua espada em
casa?
Endireitou-se, esfregou os dedos nos olhos e contou-lhe a notícia
de Dylan.
― Oh não. Isso é preocupante. ― Ela chegou à porta do quarto de
vestir usando um vestido azul, vários tons mais claros que seus
olhos, segurando-o nas costas, como havia feito com o roupão.
― É. ― Ele se levantou e foi até ela.
― Deixaremos claro para todos que esperamos receber convites
para a sociedade secreta de Sir Lorian ― ela disse. ― Devemos
convidar membros prováveis para vir aqui. Entretê-los.
― Com que rapidez a noiva se esquece de sua própria festa de
casamento.
― Essa foi a festa do meu pai. ― Ela se virou. ― Vamos sediar
festas com lista de convidados selecionados.
Um a um, ele prendeu os pequenos botões que subiam pelo centro
das costas dela. Ele tomou seu tempo, permitindo que seu olhar
permanecesse na curva doce de sua cintura e na nuca.
― Seu pai partiu hoje cedo, sem dizer adeus a ninguém ―
observou ele.
Ela olhou por cima do ombro. ― Não pode estar se queixando dele
ter ido embora.
Ele observou seus lábios, tão sombrios, sem sorrir, e queria ouvir
sua risada. ― Não, madame ― ele disse e, arrastando as pontas
dos dedos pela linha de botões ao longo de sua coluna, se afastou.
Ele pegou a adaga da mesa e desembainhou-a. ― Agora, permita-
me colocar um sorriso de volta nesses lábios.
Ela olhou cautelosamente para a lâmina.
Pela primeira vez em décadas, Saint quase derrubou uma arma.
― Irei acompanhar Lady Hughes e a Sra. Westin às compras
amanhã ― ele disse, forçando a leveza em sua voz. ― Nós temos
um compromisso para comprar camisas, acho eu. ― Ele estendeu o
punho para ela. ― Peço que me mate agora.
Ela riu, e por dentro ele sentiu como mel e ouro, e uma longa e
difícil libertação.
― É brilhante ― disse ela. Ela veio até ele, colocou a palma da
mão no seu peito e ficou nos dedos dos pés. Ele inclinou a cabeça e
permitiu que ela o beijasse. Ele saboreou a pressão momentânea de
seus lábios nos dele, seu perfume o envolvendo e a dor profunda de
seu corpo. Ele se afastou e foi até a porta.
― Esconderei minhas botas empoeiradas embaixo da cama para
que o Viking não grite.
Ela não sorriu, mas ele sabia que o observava quando saiu.
Capítulo 22

Crème de la Crème

Saint voltou das compras no dia seguinte com novidades sobre


botões, bolsos, lençóis franceses e a certeza, segundo ele, de que
Lady Hughes e a sra. Westin eram íntimas.
Patience Westin era simpática, mas não bonita nem de conversar
muito. Miranda Hughes gostava de conversar e adorava pessoas
bonitas, como o instrutor de esgrima de Constance. Lady Hughes
deixara claro onde queria que a encontrasse, puxando-o para longe
e colocando a mão sobre ele. Constance não podia culpá-la. Ela
ansiava ficar a sós com ele e colocar suas mãos nele também.
Seu aniversário chegou e passou sem alarde. Ela não quis
nenhuma comemoração, apenas que Eliza a acompanhasse ao
banco para transferir a fortuna de sua mãe para a conta do pai, como
eles haviam combinado. Ao retornar, encontrou em seu quarto um
pacote de tamanho considerável. Desembrulhando, ela descobriu um
magnífico arco formado de madeira polida que brilhava como um
espelho. Entrelaçada sobre sua corda estava uma única rosa branca.
Continuaram suas aulas no salão de baile. Como ele tinha feito no
castelo, Saint a conduziu a um ritmo punitivo, como se ainda
pretendesse partir em breve e devesse ensiná-la rapidamente.
Ensinou-a a usar o punhal com a espada. Disse que num duelo
poderia empunhar um manto na outra mão, ou até mesmo uma
lamparina se duelasse antes do amanhecer, e que qualquer coisa
poderia servir como uma arma sobressalente eficaz para uma
espada se um homem tivesse uma boa técnica. Ela perguntou se
uma mulher poderia fazer o mesmo, e ele repetiu que ela já tinha
muitas armas à sua disposição. Mas desta vez ele disse isso
sorrindo.
Ele permaneceu caloroso e agradecido, mas suas tentativas
flagrantes de excitá-la cessaram. Passaram os dias cortejando a elite
da sociedade de Edimburgo, muitas vezes separados um do outro.
Depois do jantar, todas as noites, ele não se juntava a ela, Dr. Shaw,
Eliza e Libby no salão para tomar chá, mas saía com seu primo para
vasculhar pubs e becos em busca de rumores sobre Chloe Edwards
e do Duque do Diabo. Quando voltava para casa todas as noites, se
retirava para seu quarto. Não voltou ao dela, e não mencionou
novamente suas cicatrizes.
Às vezes, quando o encontrava de passagem na casa, pensava
em agarrá-lo, puxá-lo para o quarto mais próximo e despi-lo.
Imaginou-o beijando-a, tocando-a, dando-lhe prazer. Era seu marido.
Aquele a quem contara um segredo que ninguém mais sabia. Então
a náusea atacava sua garganta, o ar lhe faltava, e ela apenas o
cumprimentava agradavelmente e se afastava o mais rápido
possível.
Mas à noite, quando pensava nas mãos dele, queria urgentemente
fazer o que ele havia sugerido: testar sua teoria. Qualquer que fosse
a dor, pelo menos ela saberia. Eles saberiam.
― Boa tarde, senhora Sterling ― ele disse enquanto ela
caminhava em direção aos estábulos atrás da casa. Ele estivera
cavalgando e parecia desgrenhado e delicioso. Ele parou diante
dela, o sol irrompendo através de nuvens e criando poças de uma
chuva momentânea a seus pés. ― Ou seria Lady Constance? ― Ele
perguntou com um sorriso. ― Ou lady Sterling? Minha falta de
educação é inconveniente às vezes, como vê. ― Seu olhar a
percorreu de seu chapéu para seus seios e, da cintura para a queda
de sua saia de traje de equitação.
― Pensei que preferisse esposa.
― Eu prefiro minha esposa, é verdade. Vejo que vai cavalgar.
Com?
― Gabriel.
Ambas as sobrancelhas se levantaram. ― Estamos reconciliados
com nosso ex-prometido, não é?
― Fomos convidados para assistir a uma exposição especial de
instrumentos médicos no museu. Inclui uma seleção de ferramentas
usadas em tortura e execuções.
Seu rosto ficou sério. ― Constance.
― Ele ofereceu o convite para o Dr. Shaw e Libby. Eles estão bem
atrás de mim agora. Vou avaliar seu interesse pelos itens expostos, é
claro.
Sua mandíbula pareceu endurecer. ― Tudo bem.
― Eu tenho minha pequena adaga.
― E eu tenho certeza que não será uma sensação pública quando
a usar nele no meio do museu. ― Ele se aproximou e pela primeira
vez em treze dias levantou a mão para o rosto dela. ― Como corteja
o perigo, milady. ― Ele acariciou seu queixo apenas com a ponta um
único do dedo.
― Isso torna a vida mais emocionante ― ela disse, sem se
preocupar em controlar sua respiração abruptamente acelerada.
― Tenho um presente de aniversário para você ― ele disse,
arrastando dois dedos ao longo de seu pescoço. Eles estavam num
beco em plena luz do dia, onde qualquer um poderia vê-los.
― Aniversário?
Seus dedos deslizaram ao longo da borda de seu colarinho.
― Estamos casados há duas semanas. ― Seus cílios pareciam
pesados. ― Um marco verdadeiramente significativo. Dado que
depois de vinte e quatro horas me pediu para anulá-lo, eu considero
uma quinzena motivo para uma verdadeira celebração. ― As pontas
dos dedos se arrastaram para cima e ela inclinou a bochecha em sua
mão.
― Estou em fase de inquietação ― ela murmurou. ― Qual é o
meu presente?
― Um convite para uma festa íntima hoje à noite na casa de Sir
Lorian e Lady Hughes. Apenas para casais.
Seus olhos se arregalaram. ― O melhor presente que se possa
imaginar! ― Ela agarrou seus braços. ― Eu poderia beijá-lo por isso.
Ele sorriu, muito ligeiramente. ― Vá em frente.
E de repente ele não era um companheiro caloroso ou divertido,
nem mesmo um instrutor punidor, mas um homem com todos os
músculos do corpo treinados para ter poder e desejos letais em seus
olhos.
― Papai está atrasado, Constance ― disse Libby, enquanto saía
da casa. ― Acho que devemos sair sem ele ou vamos nos atrasar.
Não quero deixar o Duque infeliz, pelo menos não antes dele me
convidar para ver sua coleção de ossos. Bom dia, Sr. Sterling. ― Ela
passou por eles a caminho do estábulo.
Saint recuou e se curvou. ― Espero que sua jornada para a tortura
seja agradável ― ele disse, seus olhos dançando enquanto os
pulmões de Constance agitavam.
Tortura agradável.
O pânico a agarrou, ela o viu se afastar e desejou que pudesse
gritar para que retornasse, a tomasse em seus braços e até parar de
tremer.
Demorou algum tempo até que conseguisse firmar os joelhos o
suficiente para montar Elfhame, de modo que o atraso do Dr. Shaw
não importava, afinal.

Como esperado de um casal tão ciente da moda quanto Sir Lorian


e Lady Hughes, sua casa estava equipada sob o mais recente olhar
da moda e a mesa de jantar com uma requintada refeição. Os outros
convidados eram os Westins e um par que Constance conhecia, mas
que Saint ainda não: Lorde Miles Hart e sua esposa, Clarissa.
― Lorde Hart é um... ― perguntou Saint, baixinho, enquanto
entravam na sala de jantar.
― Um Barão, como seu primo. Deveria consultar o Peerage.
― Agora que estou agarrado a aristocracia por um fio de ouro?
Mas se o faço, não teria nenhuma desculpa para espreitar aqui em
seu ombro, olhando para a extensão de belos seios que está
exibindo hoje à noite. Este é um excelente ponto de vista.
― Silêncio. Vai me fazer corar.
― Essa é a ideia. Recém-casados, afinal de contas.
Recém-casados apenas no nome. A mão dele descansava tão
inocentemente na parte inferior de suas costas, que quis fingir que
ele não soubesse sobre as cicatrizes sob seus dedos, que eram
recém-casados e que, depois da festa de hoje, após trocarem
olhares furtivos, retornariam ansiosamente para casa e cairiam nos
braços um do outro.
Sir Lorian estava olhando para ela. Avaliando.
― Recém-casados com gostos sofisticados ― ela sussurrou, e foi
em direção ao seu anfitrião.

Depois do jantar, as mulheres foram ao salão para tomar chá e os


homens continuaram na sala de jantar bebendo vinho. Saint
especialmente não gostava desse hábito da aristocracia. Embora
Hart parecesse ser bom o suficiente, Westin e Hughes já haviam
começado a cansá-lo. E separado de sua esposa ele não podia olhar
para ela. Ele não podia ouvi-la falar ou rir, ou observar a maneira
como ela puxava um morango de um garfo em sua boca e fantasiar
com aquela boca fazendo outras coisas. Com ele.
Este momento com os homens cansava rapidamente quando um
homem só queria estar perto de sua esposa.
Os cavalheiros demoraram e demoraram, e a conversa deles,
todas, sobre caças, cães e fuzis, o que até poderia ser divertido se
seus olhos fixos no candelabro no meio da mesa, ainda não
estivessem vendo o decote de Constance. Castidade, quando a
mulher que ele queria há anos estava literalmente ao alcance, não
era nenhum piquenique. Eventualmente ele perdeu a paciência.
― Vamos nos juntar às damas? ― interrompeu ele, em pé, sem se
importar se estava quebrando dez regras de etiqueta.
Sir Lorian deu-lhe uma leitura atenta.
― Ansioso para voltar para sua linda esposa?
― Ansioso para voltar a uma sala cheia de belezas. Espero que
isso não me torne único aqui.
― Dizem que é um esgrimista de ponta, Sr. Sterling ― disse Lorde
Hart, ao seu lado quando eles entraram na sala de estar.
― Dizem corretamente, milorde. ― Faça amizade com os nobres.
Torne-se um confidente íntimo. Aprenda os segredos do Duque do
Diabo. Resolva os sequestros e assassinato. Seja descartado por
uma esposa que não precisa mais da sua ajuda.
― Bem original. ― Sir Lorian encheu o copo de Saint. ― O filho de
um mercador colonial com habilidade no desporto de um cavalheiro.
Eu gostaria de ver isso.
― Ficarei feliz em demonstrá-lo, milorde.
Constance se moveu em direção a ele. ― Saint.
― Ah, a sua esposa deseja protegê-lo ― Sir Lorian falou
lentamente, seu olhar viajando sobre ela. ― Deliciosamente
sentimental.
― Meu marido é um espadachim especialista, Sir Lorian. Eu não
gostaria que ele o machucasse ― ela disse docemente. ― Ou ao
seu orgulho.
Saint olhou para seus lábios, definidos em um semi-sorriso, a mão
em seu antebraço ― sua mão forte e flexível que segurara uma
adaga perto de seu rosto antes que ela tivesse recebido prazer dele.
Com cílios ligeiramente abaixados, ela disse: ― Não deve insultar
o pobre Sir Lorian, querido.
Querido?
― Acredito que sou o insultado aqui. ― Ele olhou para seu
anfitrião. ― Teremos uma chance, Hughes?
― Eu raramente perco uma luta, Sr. Sterling.
― Então tentarei o meu melhor para estar entre os poucos. ― Ele
colocou seu copo vazio e, floreando com sua mão esquerda, disse:
― Ao seu serviço.
Ao lado dele, podia sentir a excitação de Constance, a sutil
mudança de energia quando Sir Lorian se levantou e gesticulou para
um lacaio.
― Traga minhas lâminas e almofadas de duelo, e limpe a sala
imediatamente.
― Excelente ideia ― disse Westin. ― Sempre desfrutei de um
pouco de desporto depois de uma refeição farta. Todos esses molhos
franceses fazem um homem se sentir francamente belicoso.
Todos seguiram Sir Lorian até uma câmara adjacente, onde servos
rolaram um sofá em direção a um canto e empurravam cadeiras e
mesas contra as paredes.
Constance agarrou o antebraço do marido.
― Deve vencer ― ela sussurrou. ― Acha que consegue?
Sua testa franzida em perplexidade cômica. Então seu olhar
mudou para sua boca.
Ele desabotoou o casaco e retirou-o. Ela o ajudou e sua
temperatura estava quente demais apenas com a visão de suas
mangas de camisa arregaçadas. Seu colete, uma fina peça de seda
brocada que ela não vira antes, ajustava-se ao peito
confortavelmente, enfatizando a largura de seus ombros e sua força.
Ela dobrou o casaco sobre o braço.
― Obrigado, madame. ― Ele ofereceu-lhe o meio sorriso que
sempre a virava do avesso.
Os outros levaram cadeiras para a beira da sala. Lorde Hart e um
criado com máscaras protetoras e casacos acolchoados juntaram-se
aos combatentes no centro do piso limpo. O lacaio ofereceu um
casaco e uma máscara a Saint.
Ele olhou para ele.
― Obrigado, não preciso disso.
Os lábios de Sir Lorian estavam apertados.
― Leve-os ― disse ele ao criado.
― Senhores ― disse Lorde Hart. ― Peço-lhes que reconsiderem.
Pelo menos use os capacetes.
― Se meu anfitrião quiser. ― Saint curvou-se.
― Esta é uma luta amigável, Miles ― disse Sir Lorian.
― Sem roupas de proteção ― disse Lady Hart ― eles não
poderiam ferir um ao outro?
― Contusões desagradáveis, é tudo ― respondeu Westin,
recostando-se na cadeira. ― Eles estão usando o point d'arrets.
Exceto, talvez, para o rosto. Mas Sterling já tem essa cicatriz, então
ele não se importaria, tenho certeza. ― Ele gargalhou.
Os olhos de Lady Hart permaneceram vazios.
― Point d'arret significa 'ponto de parada' ― disse Constance. ―
É ponteira de 3 lados presa à lâmina com barbante. Ela agarra o
tecido, de modo que a ponta vai toque, mas não penetre.
― Meu Deus ― disse Lady Hart. ― Como sabe tudo isso?
― Devo ter adquirido alguns pedaços de conhecimento aqui e ali.
― Nas lições cansativas que a deixaram dolorida, exausta e
completamente viva.
― Essas cadeiras marcam as linhas finais, senhores. ― Lorde
Hart apontou para um lado e outro da sala. ― Vou contar os toques.
Não há direito de passagem. Não haverá golpes abaixo da cintura, e
dada a sua recusa em usar máscara, sem golpes acima do pescoço,
se preferirem. Sem sangue, claro. Cerca de cinco toques. ― Ele
ofereceu uma espada para cada homem. ― De acordo?
Sir Lorian olhou seu oponente indolentemente debaixo de uma
poética queda de cachos.
― Concordo.
― Como desejar. ― Saint aceitou a arma em sua mão esquerda, e
andou vários metros de distância.
Em cada superfície do corpo de Constance, os minúsculos pelos
estavam em pé.
Os esgrimistas saudaram um ao outro, apontando as espadas
para cima deles antes de derrubarem as pontas no chão ― Sir
Lorian languidamente e Saint com a mesma graça suave com a qual
executava cada ação.
Lorde Hart chamou: ― Agora!
E começou.
Foi rápido. Lorde Michaels falara com frequência sobre as proezas
do primo. Ela sabia de sua força e velocidade, e o viu praticando com
o Sr. Viking. Mas nunca o tinha visto enfrentar outro homem em
competição.
Ele fez isso parecer tão fácil quanto passear pela rua. Enquanto
Sir Lorian avançava e se arrastava, Saint mal parecia se mover,
inclinando-se e parando com tanta facilidade, avançando e recuando
com passos tão limpos que ela parou de prender a respiração e, em
vez disso, permitiu-se o prazer de observá-lo sem inibição.
Ele estava esgrimindo com a mão esquerda.
Lorde Hart contou os pontos, os oponentes se soltaram
rapidamente após cada toque bem-sucedido e depois voltaram a se
envolver. Nenhum dos dois mostrou qualquer dor ao ser atingido e
ela supôs que nenhum deles devia estar atacando tão forte quanto
poderiam. A primeira luta terminou com a vantagem de Sir Lorian,
cinco toques para quatro.
― Bom jogo, senhores! Chocantemente bem combinado, eu diria
― disse Westin. ― Vamos exigir outro, Ladies?
― Oh, sim ― ronronou Lady Hughes. ― Como eu gosto de ver
homens em ação. Concorda, Constance?
O olhar de Saint veio a ela, enigmático. Ele era o melhor
esgrimista. Ele deve ter permitido que Sir Lorian vencesse.
― Outro seria delicioso ― disse ela.
Sir Lorian sorriu quando se estabeleceu em en garde.
― Fui condescendente contigo nessa primeira luta, Sterling. Desta
vez vou fazê-lo suar para isso.
― Eu aprecio o aviso ― disse Saint.
― Agora ― disse Lorde Hart.
Com o lábio preso entre os dentes, Constance observou que com
cinco avanços rápidos e precisos seu marido destruiu o anfitrião. No
último ataque rápido, Sir Lorian ofegou e sua espada caiu no chão.
Lorde Hart chamou:
― Sr. Sterling, abaixe sua arma.
― Por Deus ― gritou o Sr. Westin. ― Ele está cortado!
Logo acima do pulso de Sir Lorian em seu braço da espada, um
círculo carmesim encharcava o linho. Seu rosto se tornou quase do
mesmo tom.
― Olhem para isso ― disse Saint confuso, e olhou para a ponta
afiada de sua lâmina. ― Eu sinto muito, Hughes. Eu não faço ideia
de como isso aconteceu.
Constance olhou para o local no chão onde estava Point d'arret de
sua lâmina, ainda envolto em barbante.
― Eu inspecionei tanto ― disse Lorde Hart com uma careta. ―
Eles estavam seguros. Sr. Sterling, deveria saber quando sua lâmina
ficou desprotegida. Estou surpreso que um homem de sua
capacidade não tenha notado isso. Desconsiderou as regras desta
luta. Sir Lorian, deseja satisfação?
― Satisfação? ― Os olhos da Sra. Westin estavam arregalados.
― Quer dizer um duelo?
― Ele derramou sangue que não foi provocado ― disse Westin
enquanto se reunia em torno dos esgrimistas.
― É privilégio de Sir Lorian ― disse Lorde Hart, sombrio.
Todos os membros da festa pareciam paralisados, exceto aquele
que quebrara as regras de honra. Ele descansou a palma da mão
sobre a espada como se estivesse quase entediado.
― Sou medíocre em tiros, Hughes ― ele disse sem rancor. ― Se
escolher pistolas, provavelmente ganhará.
Os dedos de Sir Lorian apertaram seu antebraço.
― Caro Senhor. ― Constance virou-se para o anfitrião. ― Sou
recém-casada. Se despachar meu marido amanhã ao amanhecer, é
improvável que eu encontre um substituto a curto prazo. ― Ela
manteve um tom brincalhão. ― Veja, eu esperava... quando
conversamos no Assembly Rooms... isto é, eu gostaria de
permanecer casada por pelo menos um pouco mais. Perdoará esse
erro embaraçoso e apertarão as mãos?
― Sua esposa é persuasiva. ― Sir Lorian olhou para Saint, depois
brevemente para os outros homens. ― Está perdoado, Sterling ―
ele disse com firmeza. ― Mas darei meu melhor da próxima vez.
Saint reverenciou. Constance pegou o braço do anfitrião e o levou
embora em busca de um curativo.

― Poderia tê-lo atacado de forma justa.


Ele se sentou em frente a ela na carruagem, olhando através da
janela manchada de chuva para a rua brilhante iluminada por
lâmpadas. Não respondeu.
― Alguma vez perdeu? ― Ela perguntou.
― Não em muitos anos.
― Quantos?
Finalmente ele se virou para ela. ― Quinze. Perdi para o meu
mestre. Eu sempre fazia isso, então não era nada excepcional.
― Mas foi excepcional?
― Foi da última vez que me encontrei com ele. No dia seguinte,
eles o espancaram até a morte pelo caso que estava tendo com
minha mãe. ― Ele disse isso com extraordinária calma.
― Quem fez?
― O meu pai contratou homens. ― Ele voltou sua atenção para a
janela novamente. ― Ela estava grata a ele por me ensinar o que
meu pai não se interessava em fazer. Georges Banneret era o
administrador da plantação do pai de Dylan. Ele era francês, um
habitante da ilha e um grande amante da vida civilizada. Quando a
guerra chegou a Saint-Domingue, ele foi embora. Mas se
arrependeu. Eu acho que ele gostava mais de nos ensinar como nos
tornar cavalheiros do que de suas reais responsabilidades. Minha
mãe também era francesa. Ela o admirava. Mas, que eu saiba,
nunca traiu seus votos de casamento. Meu pai era um homem
ignorante e violento.
― Era?
― Ele morreu no ano passado.
― Sinto muito.
― Não sinta. Eu o odeio.
Ela não pôde responder. Mesmo agora, não odiava o próprio pai.
― Ele foi descoberto forçando uma moça contra sua vontade ―
disse ele. ― Uma escrava. Ele havia feito isso tantas vezes. O
homem que o encontrou com a moça disse-lhe para parar. Ele
escolheu não parar. ― Sua voz não registrava nenhum sentimento.
― O mundo está melhor sem ele. ― A luz que vinha da rua sobre
sua mandíbula, iluminou a cicatriz.
― Já matou um homem?
Ele colocou um cotovelo no peitoril da janela e acariciou seu
queixo bem barbeado com as pontas dos dedos.
― Passei seis anos na guerra, Constance. Porquê? ― Seu olhar
se voltou para ela. ― Tem alguém em mente? Além do Diabo, é
claro.
Olhando em seus olhos sobrenaturais, ela sentiu a distância entre
eles agudamente. ― Como pode brincar com uma coisa dessas?
― Não estou brincando.
― Pedi que me ensinasse a me defender, e não para estar pronta
para matar um homem.
Ele não disse nada.
Ela permitiu que seus olhos localizassem mão descansando em
seu joelho. ― Eu deveria ter gostado por ter cortado aquele sorriso
do rosto de Sir Lorian hoje à noite. Poderia tê-lo desarmado mais
rapidamente esgrimindo com sua mão direita.
― Eu poderia tê-lo desarmado imediatamente de qualquer
maneira. Achei melhor não derrotá-lo rápido demais.
― Mas o feriu.
― Ele me irritou. Sua habilidade é muito inferior à sua arrogância.
As palavras de Lorde Michaels cantarolavam em sua memória,
como seu primo dirigia sua agressão a sua espada, como ele de fato
tinha o desejo de ferir o outro.
― Assim diz o mestre ― ela murmurou.
Ele inclinou-lhe um olho aguçado. ― O dinheiro do seu pai foi bem
gasto, milady.
Ela estava excitada sob o olhar estudado dele. Finalmente ele
voltou sua atenção para a janela novamente. Dentro dela, tudo
estava entrelaçado, tenso e necessitando dele.
― Foi uma coisa boa não ter lutado com meu noivo há seis anos
― disse ela, observando-o. ― Ele gostava de caçar. Aves,
principalmente. Mas não era muito bom espadachim.
― Eu lutei com seu noivo. Ele se saiu bem com a espada.
As palavras a atingiram como um soco no estômago.
― Ele o desafiou?
― Sim.
― Mas... ― Ela lutou com as palavras. ― Ele me prometeu que
não iria.
― Ele quebrou essa promessa.
― O conheceu? Lutou com ele?
― Não estou certo se eu deveria ter ressentimento por estar
duvidando disso. ― Um silêncio horrível ecoou sobre a carruagem.
― Não perdeu ― ela disse com certeza.
Seus olhos brilhavam como um gato na escuridão. ― Eu me
retirei.
― O que isso significa?
― Isso significa que o seu noivo foi encurralado contra uma
árvore, sua espada no chão, sua garganta na ponta da minha lâmina,
e eu saí do campo.
Seus pensamentos se moviam lentamente agora. ― Ele mentiu
para mim.
― Talvez ele acreditasse que suas sensibilidades fossem ternas
demais para suportar a ansiedade que devia sentir por ele.
―Aquele dia... depois que ele nos descobriu... ele estava furioso
comigo. Se recusou a me ver. Foi embora, para a cabana de caça de
sua família. Não respondeu minhas cartas.
― Por mais notável que possa parecer para você, não estou
particularmente interessado nos detalhes.
― Nós deveríamos nos casar no mês seguinte. Mas então seu
irmão Arthur morreu no exterior. E então o incêndio... Eu nunca mais
vi Jack.
Mais silêncio, mas algo mudou, como o silêncio do luar.
Finalmente ele disse: ― Se culpou? Ou a mim?
― Nenhum dos dois. Ele não estaria no pavilhão de caça se não
fosse por sua raiva comigo. Ele estaria em Londres se preparando
para o nosso casamento. Mas depois que Arthur morreu, ele poderia
ter ido lá de qualquer maneira. Ele adorava Artur, e a cabana era seu
refúgio. ― Sua boca estava seca. ― Deve ter sentido muita
vergonha por ser derrotado.
― Ele não perdeu.
― O insultou ao se retirar quando estava ganhando.
― Eu não era ninguém. Não era um insulto profundo para um
homem de sua posição e fortuna não suportar.
Mas... não. ― Então seu primo, Dylan... ele deve ter sido seu
padrinho. E o de Jack teria sido Walker Styles.
― Nós concordamos fazê-lo sem padrinhos ― disse Saint.
O ar voltou para os pulmões dela.
― Para o bem da minha reputação ― disse ela.
Ele assentiu.
― Porque o poupou?
Ela viu na rigidez de sua mandíbula que não queria responder.
― Deve me dizer ― disse ela.
― Eu o poupei, como diz tão bem, porque pensei que talvez
desejasse casar com o herdeiro do marquês com quem estava noiva.
Eu não gostaria de saber que se lembraria de mim como o homem
que assassinou sua felicidade.
Ela queimou tudo, com vergonha tristeza e saudade arrastada do
passado e emaranhada de desejo.
― Eu pedi que não o desafiasse ― ela disse. ― Eu implorei. De
joelhos. Nunca tinha me ajoelhado diante de qualquer homem. E
nunca mais fiz isso desde então.
― Estava repleta de culpa?
― Eu não queria que o matasse.
― Seu desejo foi cumprido.
Ela olhou para o perfil dele. ― Eu o amava. Eu o conheci por toda
a minha vida. Ele era como um irmão para mim.
Ele encontrou seu olhar através do espaço listrado com a luz que
passava.
― Eu sinto muito pela sua perda ― ele disse, a raiva
desaparecendo de sua voz. ― Lamento que o fogo não tenha sido
tão misericordioso com ele quanto eu.
Seu coração batia forte. ― Lamenta?
Sua testa afundou.
As pontas dos dedos dela cravaram nas palmas. ― Nunca admiti
isso para ninguém antes. Mas suponho que, se eu admitir para
alguém, deve ser para você.
― O que está admitindo?
― Eu não queria me casar com Jack. Lamentei a morte do meu
amigo, mas não do meu noivo. Ele era um bom homem. Mas não
chorei quando soube do incêndio. Pela primeira vez na minha vida,
eu estava livre do destino indesejado que meu pai havia planejado
para mim desde o nascimento. Eu estava livre.
Ele parecia estar considerando.
― Sabia que eu era capaz de matar seu noivo num duelo, não
sabia?
― Sim.
― Não me permitiu saber o seu nome, mas descobriu isso sobre
mim?
― Eliza o fez. Ela queria que eu entendesse... o perigo.
― Entendo.
― Não fui encontrá-lo por causa do que ela descobriu.
― As circunstâncias conspiraram a seu favor. No entanto,
implorou-lhe que não me desafiasse.
― Eu temia que fosse enforcado por matá-lo.
― Se eu o tivesse matado, estaria livre do seu noivado.
― À custa de suas vidas ― disse ela, a euforia e o medo daqueles
dias pressionando seu peito novamente. O terror de que colocara
Saint em perigo a deixara de joelhos diante de Jack, desesperada,
pedindo perdão e jurando fidelidade. Quando ele deu sua palavra, o
alívio tinha sido quase tão grande quanto sua mágoa dela. Mas ele
mentira.
O olhar de Saint sobre ela era ilegível.
― Me acha uma coisa má, não é? ― Ela disse. ― Antes e agora.
― Não, antes ― ele disse. ― Não, agora.
― Uma manipuladora que usaria um homem para seus próprios
desejos, independentemente do custo que seria para ele?
― Acredita isso de si mesma?
Ela pensou nos planos de seu pai, como ele havia desafiado as
convenções e permitido sua autonomia para que ela crescesse forte.
― Uma mulher deve fazer o que puder com quaisquer recursos
que possua.
― Estou começando a ver isso. ― Ele cruzou os braços sobre o
peito e pareceu relaxar no banco. ― Jogou muito bem suas cartas
esta noite.
Sim. Deixe o passado para trás. Deixe haver apenas este
momento em que são aliados. Não adversários. Não estranhos
novamente.
― Você também. Sir Lorian estava tão bravo quanto uma vespa.
Ele vai querer vingança. ― Ela sorriu. ― Eu prevejo que um convite
para a sociedade secreta chegará em breve.
Seus olhos brilhavam. ― Esperemos que sim.
Suas costelas pareciam muito apertadas para manter os
sentimentos dentro dela. ― Eu gosto disso, como disse nossa mão.
― Solitária moça rica ― ele murmurou quase ternamente. ―
Nunca teve um parceiro no crime antes?
― Apenas uma vez.
Ele inclinou a cabeça.
Ela encolheu os ombros. ― Brevemente, e terminou
abruptamente. Eu não o vi novamente por anos. Seis anos.
Depois de um momento, ele agarrou o peitoril da janela e se
moveu para o assento ao lado dela.
― E o quê ― ele disse numa voz baixa, com a cabeça inclinada ―
pensou ao vê-lo novamente depois daqueles seis anos?
― Eu esperava que ele tivesse me perdoado, e que pudéssemos
ser amigos, ou pelo menos não inimigos. E queria
desesperadamente beijá-lo como quando o vi pela primeira vez.
― Então. ― Ele passou os nós dos dedos pelo seu rosto. ― Mais
do que um pensamento, parece.
― É verdade, muitas vezes minha mente é ativa demais.
― Sobre esse último pensamento... beijá-lo. ― Ele traçou o
comprimento de cada um dos seus dedos com a ponta do dele.
― Sim.
Ele sorriu. ― Sim, o quê?
― Eu ainda quero desesperadamente beijá-lo. Eu considerei
esperar que ele me beijasse novamente. Mas se ele não o fizer logo,
terei que resolver o assunto com minhas próprias mãos.
― Mãos bonitas. ― Ele acariciou sua pele. ― Continue. Beije-o.
Ela virou os lábios para ele. Eles se encontraram, e foi doce,
poderoso e certo, profundamente certo. Com a carícia de sua boca, a
palma de sua mão se curvou ao redor do rosto dela, puxando-a para
perto, colocando-a nele tão naturalmente como se ela pertencesse
às mãos dele. O sentia bem e cheirava bem e tinha um gosto certo,
seu calor, boca e corpo se adequando perfeitamente, como se os
céus o tivessem produzido expressamente para ela. A necessidade a
atravessou, uma sensação quente e poderosa, subindo em sua
garganta, entrelaçando-se com o pânico, lá, à espreita. Sufocando-a.
Ela recuou.
Ele respirou audivelmente, e sua mão raspou em seu rosto, em
seguida, caiu para agarrar a borda do assento.
― Tudo bem ― disse ele com o olhar no banco vazio em frente. ―
Claramente não é uma boa ideia.
Ela sentiu frio, ânsia.
Não podem vencer.
Engolindo em seco, estendeu a mão para ele, cruzou seu rosto
entre as mãos e tomou a boca dele sob a dela.
Isso, isso era tudo o que ela queria, seus lábios se separaram,
reivindicando os dela instantaneamente, a carícia de sua respiração,
seu sabor de desejo e luxuria. Não havia nada assim, nada como
tocá-lo. Ela o beijou, inspirou, provou e deixou-o alimentá-la. Quando
as mãos dele circularam sua cintura, ela se aproximou dele e enfiou
os dedos trêmulos em seus cabelos.
― Eu sinto muito. ― Ela beijou sua mandíbula, querendo o
arranhão de sua pele contra seus lábios, então sua boca novamente,
precisava sentir tudo dele de uma vez. ― Sinto muito.
― Nunca se desculpe enquanto estiver me beijando. ― Houve um
rouco prazer em sua voz. ― Nunca se desculpe por nada. ― Suas
mãos estavam firmes ao redor de sua cintura. Ele não se moveu
para tocá-la noutro lugar. Isso a fez querer chorar e beijá-lo até que
ela esquecesse o mundo.
― Perdoe-me.
― Por se jogar sobre mim? Não perdoarei.
Risos saíram através de seus beijos. Mas ela precisava que ele
entendesse.
― Perdoe-me por te machucar então. Poderá, alguma vez?
― Está esquecido.
― Me faz querer esquecer ― ela sussurrou.
― E me faz querer levá-la para o prado do qual uma vez me falou,
tecer flores através de seu cabelo, e vê-la dançar usando o vestido
branco mais indecente que puder encontrar.
― Sim. Amanhã.
Ela sentiu o sorriso dele contra seus lábios. ― No momento em
que o sol nascer ― ele disse.
Ela agarrou seus ombros e queria as mãos dele em cima dela.
Essa necessidade era honesta, emocionante e boa.
― Antes do sol nascer. ― Ela colocou as palmas das mãos
instavelmente contra o peito dele. ― Esta noite. Agora.
Ele olhou nos olhos dela. Então envolveu seus braços ao redor
dela e a beijou, mais profundo, fundindo suas bocas, suas línguas
fazendo amor como se ela precisasse de seus corpos. Despojada de
segredos, ela se sentia crua, nua e forte.
A carruagem parou. Ela se afastou dele. Mas ele agarrou sua mão
enquanto respirava profundamente. Então levantou sua mão e beijou
os nós dos dedos como se fosse a galanteria mais leve e não uma
flecha em seu coração.
O cocheiro abriu a porta. Saint a soltou e saiu. Mas não ofereceu a
mão a ela. As vozes dos homens soavam na rua e o barulho de
cascos de cavalos ricocheteando nas pedras.
― O que é isso? ― Ela o ouviu dizer enquanto colocava o pé no
degrau. Na garoa nebulosa iluminava a rua com uma confusão de
cores âmbar e laranja das tochas, dois homens ficaram de frente
para Saint, quatro mais estavam montados. Todos usavam os
sóbrios casacos pretos da polícia de Edimburgo.
― Boa noite, milady ― disse o oficial mais próximo de Saint.
― O que está acontecendo? ― Ela perguntou.
― Sr. Sterling, se vier pacificamente conosco, não precisaremos
usá-las. ― Ele apontou para as algemas nas mãos do policial ao
lado dele.
― Por que está me prendendo? ― ele disse calmamente, como se
estivesse acostumado a ser encontrado numa rua escura por oficiais
da lei.
― Pelo assassinato de Annie Favor de Duddingston.
― Não ― disse Constance. ― Isto é um erro. Ele...
Saint virou o rosto para ela. Nos olhos que momentos antes tinha
olhado dentro dela e a fizera querer voar, agora não havia nada. Sem
calor. Sem riso.
E nenhuma negação.
Capítulo 23

A Verdade

Constance vestiu-se cuidadosamente com uma roupa de um


cinza sóbreo, com luvas pretas de pelica e um chapéu preto com um
véu que cobria os olhos. Pegando a cesta de alimentos preparada
pela cozinheira, foi até a carruagem, sobre a qual dois lacaios e um
cocheiro empoleiravam-se com libré completa, inclusive perucas. Ela
chegaria à prisão em esplendor ducal e os amaldiçoaria se não se
acovardassem.
De construção recente e magnificamente austera no exterior,
Calton Jail era escura, assustadora e terrivelmente fria por dentro.
Um guarda permitiu a sua entrada e de Eliza e as acompanhou ao
longo de vários corredores que cheiravam ao pior da humanidade.
Atrás das portas feitas com barras de ferro, em celas com um pouco
mais de um metro de largura, homens usando roupas rasgadas
dormiam em catres de palha. De outra cela com uma pequena janela
fechada, veio um gemido bestial.
― Santo Deus! ― Eliza choramingou, erguendo um lenço para
cobrir o nariz.
Elas passaram por várias celas vazias com portas gradeadas,
depois o guarda parou ante a última cela.
― Ele está aqui ― ele disse com um gesto cansado.
Constance deu-lhe a cesta de comida.
― A torta e o assado são para você e os outros guardas. O Guiné
sob o assado é só para você.
― Obrigado, milady. ― Ele balançou a cabeça.
― Se eu prometer não me aproximar da porta, me permitirá falar
com meu marido em particular?
― Eu não...
― Considere: se ele for culpado desse crime, não tenho nenhum
desejo de estar ao seu alcance.
― Sim. Suponho que sim. ― Ele recuou pelo corredor com passos
pesados. Com uma carranca, Eliza o seguiu.
Constance foi até a porta gradeada. A cela estava vazia de tudo
menos um catre de palha e seu marido. Ele ficou de frente para ela,
a luz da manhã de uma janela gradeada pincelava-o em tons de
pérola e meia-noite.
― Bom dia, milady esposa ― disse ele. ― Como fica bonita em
cinza fúnebre.
― Não. ― Ela tirou o pequeno véu sobre os olhos. ― Esta
situação não é divertida.
― Prefiro a comédia à tragédia. ― Ele não se aproximou da porta.
Ela foi até as barras e colocou as mãos no ferro.
― Miranda Hughes visitou-me há uma hora atrás. Ela não sabia
disso, eu acho. Mas está preocupada contigo. Ela me disse que
Lorian jogou cartas duas noites atrás com o advogado-adjunto do
Procurador-Geral, bem como um membro do Conselho Municipal, e
que ele parecia alegre ontem à noite depois da festa, apesar de sua
luta.
― Ah. Sim. Seu nobre perseguidor. ― Ele olhou para o lado. ―
Acha que eu não iria saber.
― Saber?
― A última vez que me atrevi a flertar com uma dama da alta
sociedade, quase encontrei o meu fim também. ― Seu olhar se
voltou para ela. ― Quão descuidado sou por ter repetido o passo em
falso.
― Ele deve ter planejado isso antes de vencê-lo ontem.
― Mas, como bem sabe ― ele disse como se ela não tivesse
falado ― eu faria de novo. Especialmente se eu pudesse ter a
certeza de que teria aquele beijo na carruagem na noite passada. E
nosso agradável interlúdio nos salões de Assembly Rooms. E no
estábulo do castelo, por tudo, mas não estava preparado para isso.
As barras estavam frias sob as palmas das mãos. ― Zomba
soberbamente.
― Não estou zombando. Para tocá-la, acredito que arriscaria
qualquer punição que alguém pudesse inventar.
― Não pode estar sendo sincero.
― Claro que sou sincero. Vá dar uma olhada no espelho,
Constance. Já é hora de entender a verdade do seu fascínio. Eu sou
apenas um homem.
Sua garganta estava quase apertada demais para falar. ― Me
disse uma vez que queria estar comigo mesmo que não pudesse me
ver.
Finalmente ele quebrou sua imobilidade, mas apenas para passar
a mão atrás do pescoço. ― Se lembra disso, não é?
Ela se lembrava de tudo daquela quinzena em Fellsbourne, cada
palavra, olhar e momento de felicidade roubada.
― É como se estivesse tentando me afastar ― disse ela.
Lentamente, pareceu que ele respirou várias vezes. A elegância
do traje de noite que ele usava acentuava sua beleza masculina.
Nenhuma espada pendia de seu quadril agora. Ele estava barbado,
cabelo embaraçado, sem um lenço no pescoço, suas botas
arranhadas, e seus olhos revelaram o que seu discurso não fazia ―
prazer por vê-la apesar dessa situação horrível. Ele era perfeito e ela
queria se pressionar contra as barras frias de ferro, tocá-lo e falar as
palavras que quase haviam saído de sua boca na carruagem.
― Mandei chamar meu pai. Ele chegará amanhã, sem dúvida,
providenciará sua libertação. A polícia não tem provas para conectá-
lo à senhorita Favor, é claro.
― Eles têm.
O chão parecia se deslocar sob seus sapatos. ― Oh?
— Sim.
— Teve algo com ela?
― Tive. No interesse da precisão, devo acrescentar que foi um
breve conhecimento. ― Liberando as barras, ela deu um passo para
trás.
― Quão breve?
― Na taberna em Duddingston. Havia várias testemunhas no
momento em que a conheci, inclusive meu primo, embora nenhuma,
claro, para o tempo que passei com ela sozinho.
Seus pulmões não pareciam segurar o ar. ― Foi antes do nosso
casamento? Ou depois?
Ele caminhou até as barras e envolveu suas mãos ao redor delas.
― Antes de ir ao castelo do seu pai. Depois que Dylan e eu
chegamos em Edimburgo, ele me contou sobre a oferta de seu pai.
Eu estava com ela, uma primeira e única vez, antes dele me contar.
― Mas deve ter sabido que ela era a jovem encontrada perto da
casa do Duque naquela noite.
― Mais tarde, sim.
― E não me contou?
― Eu não tinha razão para isso. Os eventos eram desconectados.
― Sua espada e punhal estavam contigo no momento em que a
conheceu?
— Sempre, exceto agora, claro.
Seus membros pareciam peculiarmente entorpecidos. ― Eles te
contaram os detalhes?
― Os detalhes?
― Da morte da Srta. Favor.
― Eles não me disseram nada. Exceto pelo guarda que trouxe
água e não proferiu palavras inteligíveis, é a primeira pessoa com
quem falei desde que me trancaram aqui.
― Ela foi cortada com uma lâmina. O examinador disse que os
ferimentos não pareceram acidentalmente ou apressadamente
infligidos. Saint, onde estava no solstício de inverno e no equinócio
de outono no ano passado?
Por um instante ele pareceu confuso. Então a luz desapareceu de
seus olhos. Suas mãos caíram para os lados.
― Constance, não pode estar me perguntando isso.
― E, no entanto, parece que estou ― ela disse através de sua
garganta sufocada.
Ele olhou-a com olhos que ela nunca tinha visto antes ― incrédulo,
chocado. Devastado. Mas não se defendeu.
― Não pode mentir, pode? ― Ela disse, uma frágil esperança
dentro dela desmoronando. ― É incapaz disso.
Seu peito subiu e caiu bruscamente com respirações repentinas.
Por um minuto que pareceu uma eternidade, ele não fez nenhum
outro movimento.
― Quero que se vá. ― Sua voz estava rouca. ― Agora. Por favor,
vá.
Ela se aproximou da porta, mas não tocou nas barras que os
separavam.
― Agora, contarei uma história ― disse ela, cada sílaba batendo
na mesma nota, como se tocasse uma das teclas de um piano. ― É
sobre esse homem que te falei. O homem que me machucou.
Ele não disse nada.
― Eu fui atrás dele ― disse ela. ― Éramos conhecidos há anos e
eu acreditava que ele precisava apenas de encorajamento. Entenda,
eu estava vendo meus amigos mais queridos se casarem e terem
filhos, e eu estava... sozinha.
― Você? Sozinha?
― Eu não posso esperar que entenda. Já viu muito do mundo.
Mas quando me mudei para Londres, fiquei com medo. Eu não
conhecia ninguém. Eu tinha vivido tão solitária, com minha mãe que
não podia me acompanhar, e depois com Eliza. Em Londres, quando
estranhos procuraram minha atenção, eu não sabia como deveria me
comportar. Ben me acolheu. Ele me ensinou como seguir em frente.
Eu dependia dele, talvez muito, e também do meu primo Leam,
quando voltou do exterior. Para todos, eu era a filha do Duque. Mas
com eles eu era a moça que montava e escondia-se em corredores
secretos.
Ele apertou as mãos, mas não falou.
― Então Leam se casou e saiu de Londres ― disse ela. ― Em
outubro passado, quando Ben se encontrou com uma mulher que ele
conhecera antes, eu sabia que isso rapidamente aconteceria. Eu vi
em seus olhos o que eu havia sentido... anos atrás.
A garganta de Saint se contraiu visivelmente.
― Começou abruptamente ― disse ela. ― Meu conhecido e eu
éramos convidados numa festa no campo. Em Fellsbourne. ― Na
clareira em que ela se encontrava com Saint, todas as manhãs,
ainda estava cheia de videiras madressilvas. Onde a lápide de Jack
ainda parecia recém-escavada. Onde as lembranças eram tão
poderosas que não podia escapar delas. ― Quase todo mundo que
estava lá era casado, menos nós. Concordei em encontrar-me com
ele. Eu não sabia o que ele pretendia, mas me garantiu que eu iria
gostar. Me imaginei uma mulher do mundo, mas na verdade eu era
ingênua. Você... você fora o único homem que havia me tocado. E o
fez com tanto respeito. Quase reverência. Me lembro tão bem. Eu
realmente não percebia que poderia ser de outra forma.
― Constance...
― Não. Deixe-me terminar. Eu tenho de terminar. ― Ela respirou
fundo para firmar suas palavras. ― Quando ele me disse que o
corpo de uma mulher deveria ser domado para que um homem o
aproveitasse plenamente, eu disse que isso era tolice. Mas confiei
nele. Eu permiti que ele me convidasse. Na época, parecia um jogo
inofensivo. ― Ela olhou para as barras da cela. ― Não foi um jogo.
Senti muita dor e depois sangrei. ― As palavras vieram rapidamente
agora; ela estava desesperada para expulsá-las. ― Da próxima vez
que nos encontramos, eu disse-lhe que não permitiria que ele me
tocasse novamente. Foi então que ele disse que me amava e só
queria me dar prazer. Ele admitiu que minha beleza o inspirou a
buscar o maior êxtase da primeira vez, e me assegurou que a dor
poderia tornar o prazer mais doce. Mas ele prometeu ser mais
cuidadoso. Ele pegou uma espécie de ferramenta.
Saint fez um som.
― Ele me cortou ― ela disse antes que ele pudesse falar.
― Constance...
― Eu não percebi o que estava acontecendo até que já estivesse
feito. Eu confiava nele. Ele insistiu que se importava comigo. Ele
disse que eu era preciosa para ele e que não havia outra mulher com
quem quisesse estar, para tocar. Era como se ele soubesse
exatamente o que dizer para me enganar. Eu sempre desejei ser
tocada, afinal. Acredito que deve se lembrar. Mesmo aquelas
mulheres na festa de Jack e as liberdades que os homens tomavam
com elas não me repeliram. Em vez disso, quando os observei,
invejei-as.
Finalmente ela olhou novamente em seus olhos.
― Não lhe contei a verdade a noite passada. Quando meu luto
terminou, eu não queria vê-lo porque me sentia culpada. Uma culpa
esmagadora. Quando Jack morreu, achei que era o meu castigo por
tê-lo desejado. Eu nunca quis nada tanto quanto quis você. Mas
cometi um erro e as pessoas que eu amava sofreram por causa
disso, por minha causa. Por quase seis anos me neguei todo
sentimento de desejo, todo anseio, em penitência por traí-lo. Tentei
esquecer, e tentei satisfazer esse desejo com amizades. Mas nunca
foi o suficiente.
― Então procurou por ele.
― Terminou num baile. Ele me levou a uma câmara escura e me
forçou. Eu já havia lhe dito que nunca mais poderia me tocar, e eu
lutei. Foi tão doloroso que... ― Náusea subiu por ela como uma
onda. ― Foi terrível ― ela se ouviu sussurrar. ― Sua força. ― Ela se
arrastou para longe das lembranças. ― Eu o vi apenas uma vez
depois disso, num lugar público, e finalmente soube a verdade. Ele
me usou intencionalmente, com malícia, para ferir meus queridos
amigos a quem odiava. Mas eu não podia permitir que ganhasse:
nunca contei a eles como ele me machucou. Só minha criada sabe
das feridas. Só você sabe, agora, como eu as adquiri.
Ela voltou seu olhar para ele.
― Então como vê, sou inteiramente capaz de ficar cega para a
verdadeira natureza de um homem, mesmo em meu próprio prejuízo.
― Quem é ele?
Ela balançou a cabeça.
― Quem é? Quem é o homem que fez isso contigo?
― Por que deseja saber?
― Porque vou encontrá-lo e matá-lo. Diga-me o nome dele.
Seus olhos estavam cheios de uma fúria violenta que ela não
reconhecia. Enquanto falava, observara o horror crescer em seu
rosto e desgosto. Ela havia antecipado isso. Mas não essa raiva.
― Enviei Fingal ao castelo à primeira luz ― disse ela, virando-se.
― Meu pai deve chegar em breve para ter sua libertação.
― Minha libertação?
― Um cavalheiro não precisa ser encarcerado assim, não com
uma leve evidência. Sua prisão e a maneira como aconteceu apenas
provam que um homem de influência a projetou. Meu pai dará um
jeito. Como vê, há algumas vantagens para o casamento, mesmo
que não seja as que esperava. O juiz lhe permitirá liberdade até que
a investigação esteja completa. Não será condenado injustamente.
Ele não respondeu. Com a pele arrepiada pelo frio, ela partiu.
Constance não fechou as portas para as visitas. Lorde Michaels
não ia à sala e seus visitantes comentavam sobre sua ausência. Mas
se tinha aprendido alguma lição enquanto esmiuçava por
informações ocultas para seus amigos do Clube Falcão, era que as
aparências significavam tudo. Se ela tratasse isso como um pequeno
erro da polícia, outros viriam a acreditar nisso.
Seu pai chegou depois do jantar. Apenas parando para trocar de
roupa, e foi direto para a casa do Lorde Advogado. Um companheiro
de escola dele de anos atrás, seu pai dissera, certamente os
ajudaria.
A noite arrastou-se até à meia-noite. Certa de que não iria dormir,
Constance descansou a cabeça no divã da sala e acordou ao som
de uma carruagem. Correndo o sono dos seus olhos, ela foi até a
janela. Seu pai desceu da carruagem para a rua. E então Saint.
Ela os encontrou no hall.
― Bom dia, Constance ― disse seu pai, tirando o casaco e
entregando ao mordomo.
― Obrigada por ter vindo, pai.
― Esta é uma medida temporária, é claro. Mas suspeito que tudo
será resolvido em breve. Boa noite, Sterling. ― Ele acenou para
Saint e subiu as escadas.
Servos permaneciam no hall e espiavam por trás das portas.
― Sr. Aitken, prepare um banho quente para o Sr. Sterling,
imediatamente ― ela disse.
― Obrigado ― Saint disse, o som como as cerdas grossas de uma
vassoura no chão. ― Eu sabia que cheirava a cela de prisão, mas
não tão mal para merecer tanta pressa.
― Todos ― ela disse, olhando em volta para os servos que
pairavam no piso ― sigam-nos para garantir que ouçam todos os
detalhes. ― Ela subiu quando eles finalmente se dispersaram.
― Não seja dura com eles ― Saint disse. ― É uma coisa
maravilhosa ter um vilão fidedigno na própria casa. Espero que tenha
assegurado a todos que vou ser algemado desde o anoitecer até o
amanhecer. Não há necessidade de que alguém tenha medo de que
será atacado enquanto dormem.
― Está sendo muito engraçado. Deve ter colocado todos os seus
companheiros de cela em contorções de hilaridade.
Na porta do quarto, ele pegou a maçaneta.
― Saint...
― Eu gostaria de ficar sozinho ― disse ele. ― Não porque essa
foi uma experiência particularmente incomum para mim, a propósito.
Passei muitas noites em celas de prisão. Semanas, em algumas
ocasiões.
Ela não conseguiu esconder sua surpresa. ― Passou?
― Sim. Seu pai sabia quando me contratou. Ele e eu acabamos de
falar novamente dessa história. É provável que fique contra mim
quando este assunto chegar à corte. Desgraçado, mas assim é. Seja
como for, é melhor que ninguém se acostume a minha presença em
casa, ou vivo. Não durará muito tempo. ― Entrou no quarto e a porta
se fechou silenciosamente.
Constance colocou as pontas dos dedos no painel e ouviu a voz
dele dizendo casa como se fosse a primeira vez que ouvira a
palavra.
Capítulo 24

Um Convite

― A acusação provavelmente será descartada ― disse seu pai


enquanto cavalgavam subindo Arthur’s Seat pela lateral, na manhã
seguinte, no meio de uma névoa de chuva marcada pela luz do sol.
O Dr. Shaw e Libby seguiram a trilha atrás. Um arco-íris fez o seu
relutante caminho sobre a pequena montanha, aliada à chuva e ao
sol, mas sem qualquer entusiasmo.
― Falei com o Lorde Advogado longamente ― continuou ele. ―
Ele entrevistou Sterling, tanto na minha presença quanto em
particular. Nenhuma testemunha o viu com a Srta. Favor no dia de
seu desaparecimento à tarde, antes da festa na casa de Loch Irvine.
― Ele estivera fora a tarde toda e à noite naquele dia ― o dia em
que ela usara calções em sua aula de esgrima e, em seguida, o
deixou para conhecer o homem com quem deveria se casar. Ela
olhou para as alturas rochosas subindo na lateral, os passos de
Elfhame na pista estreita. ― Sozinho.
― Ele disse que entrou no campo. A única visita que fez parece ter
sido a uma loja de ferreiro. Infelizmente.
A loja em que a levou dois dias depois. ― Infelizmente, de fato.
― Acredita que ele é culpado, Constance?
― Não. E o senhor?
― Se eu acreditasse, não estaria fazendo esse esforço para tirá-lo
da suspeita.
A colina se elevava gradualmente de um lado, oferecendo uma
vista do palácio real e da cidade medieval subindo em direção ao
castelo. Mas no seu centro havia colinas íngremes e depressões
ocasionais. Em uma delas, uma igreja dos séculos passados estava
em ruínas. O lado mais distante do monte descia abruptamente até a
aldeia de Duddingston, onde Annie Favor morava.
― Obrigada por vir, pai. Eu não iria culpá-lo por jogar isso na
minha cara agora.
― Qualquer que seja o mal que acredita em mim, Constance, eu
só queria o melhor para você. ― No topo, eles olharam para a
cidade.
― Pai, criou o Clube Falcão antes ou depois de encontrar minha
mãe? ― Lentamente, ele se virou para ela.
― Eu sei há anos que mamãe fugiu ― disse ela. ― Eu sei que ela
não estava em casa, como me disse na época, mas que passou
meses procurando por ela. Sempre achei que tinha a ver com o pai
de Libby, que, na minha opinião, não pode ser o Dr. Shaw. Mas
agora não tenho certeza de nada que tenha me dito. Quando mamãe
desapareceu, por que não me contou a verdade?
― Não era uma verdade para uma moça jovem saber. Eu queria
fazê-la forte. O medo só a teria enfraquecido.
― Libby mostra sinais de doença da mamãe, mas não tenho medo
por ela. Ela tem uma mente forte e eu acredito que já aprendeu a
lutar contra isso, como mamãe nunca fez. Eu poderia ter também, se
tivesse fraquejado depois dela nisso. Não precisava ter mentido.
― Não pedirei desculpas, Constance. Se tornou a mulher que é
por causa das escolhas que fiz.
Quando voltaram para a casa, Saint e Lorde Michaels já haviam
saído. Constance aceitou os convidados. Todos ficaram muito felizes
ao saber que seu marido havia sido libertado de sua prisão injusta.
― Metade deles acham que ele é culpado ― disse Eliza. ― A
outra metade espera que ele encontre o verdadeiro vilão e o atinja
com sua espada.
Constance não tinha paciência para esperar que alguém
encontrasse o vilão. Na manhã seguinte, ela fez algumas visitas,
primeiro para Lady Hughes, depois para Sra. Westin, Lady
Easterberry, Lady Melville e todas as outras fofoqueiras da cidade.
Enquanto passeava pelo parque com Eliza mais tarde, encontrou Sir
Lorian e Lorde Hart. Ela sorriu e riu levemente e disse o quão
ansiosa estava pela revanche de esgrima. Naquela noite, o Lorde
Advogado enviou uma mensagem ao seu pai dizendo que ele era
necessário em Glasgow e que voltaria em breve para resolver a
questão da acusação de Saint. A falta de provas apontava para o
descarte das acusações, mas a polícia queria ser minuciosa.
Seu pai partiu para o castelo, levando o médico e Libby com ele.
Ele não precisava ficar em Edimburgo, ele dissera. O Lorde
Advogado lhe mandaria uma mensagem quando retornasse.
Na manhã seguinte, enquanto tomava o café da manhã sozinha, o
Sr. Viking apareceu.
― Milady, o Sr. Sterling solicita sua presença no salão de festas o
mais cedo possível.
O mais cedo possível? Não falava com ela há dias, mas agora
achava que poderia convocá-la?
No salão de baile, ele a esperava com a espada na mão.
Ela parou na porta. ― O que está fazendo?
― Preparando-a para lutar. ― Ele gesticulou para a espada na
prateleira.
― Não precisa fazer isso.
― Estou aqui expressamente para fazer isso.
― Não mais ― disse ela, fraca por dentro, maldito fosse ele. Era
assim que deveria ser então, essa distância novamente. ― Me
ensinou as habilidades. Eu as conheço.
― Nunca lutou com outra pessoa. Vai praticar agora.
― Contigo?
― Claro que não. Com Viking.
O valete entrou.
― Milady, isso é aceitável para a senhora?
― É ― Saint respondeu. Ele gesticulou para uma máscara e uma
jaqueta acolchoada. ― Vai usar isso. Hoje vai praticar com as duas
mãos.
Ela vestiu a roupa de proteção porque queria estar com ele,
mesmo que fosse assim, e porque queria aprender. De pé ao lado da
sala, ele a instruiu por comandos enquanto ela e Viking lutavam. Foi
difícil e frustrante e emocionante finalmente colocar suas lições à
prova. Era desajeitada com a adaga na mão esquerda, mas seu
sangue estava agitado e conseguiu dar vários golpes no peito e no
braço de Viking com seu florete.
Quando sua atenção correu para o marido, ele disse com uma voz
de aço que ela nunca deveria tirar a atenção de seu oponente, por
qualquer motivo. Na distração daquele momento, ele disse, ela se
tornou vulnerável.
Depois de algum tempo, ele lhes disse para guardarem as
espadas e pegarem seus punhais com a mão direita. Quando deu
por finalizado, pensou que iriam conversar sobre isso, rever seu
desempenho. Mas ele agradeceu ao valete e partiu. Não voltou para
o jantar. Na manhã seguinte, soube por Lorde Michaels que seu
primo havia passado a tarde anterior com Lady Hughes e a sra.
Westin e a noite com ele, fora.
Todas as manhãs, Saint supervisionava suas sessões de esgrima
com Viking, e depois deixava a casa, não voltava até tarde. Nas
ocasiões em que jantava em casa, falava pouco com ela, e nada que
não pudesse ser dito diante dos outros. Principalmente ficava em
silêncio. Quando o olhava, sempre encontrava seus olhos sobre ela,
mas não via nenhum prazer ali. O calor se fora.
Quando notou que suas mãos estavam com bolhas do treino, ele
ordenou-lhe que largasse suas armas e demonstrasse como atacar
um adversário com a mão, o cotovelo e pé. Ele a fez praticar,
primeiro no manequim de madeira e depois com seu valete. O Sr.
Viking vestiu almofadas grossas e aceitou os golpes com tolerância
firme.
Ele ensinou-a a lutar como se ele devesse completar a tarefa em
um tempo finito. Não podia deixar Edimburgo até que o processo
contra ele fosse a corte ou fosse descartado. Estava preso com a
mesma eficácia de antes, em todas as ocasiões do passado que
nunca pensara lhe mencionar.

Constance sentou-se em frente à penteadeira, prendendo um


brinco de pérolas e diamantes na sua orelha e olhando para o céu
noturno inundado pela luz brilhante da lua cheia, quando seu marido
bateu na porta. Vestido em trajes de noite, com um casaco azul
escuro, calções pretos e botas brilhantes, ele estava bonito, sem
sorriso e totalmente distante.
― Posso entrar? ― Ele não tinha entrado em seu quarto desde o
dia em que descobrira suas cicatrizes.
― Sim.
Ele estendeu uma folha de papel dobrada. ― Isso acabou de
chegar, através de um menino de rua que fugiu antes de Aitken
perguntar sobre o remetente.
Tomando com cuidado para não o tocar, ela pegou o papel.

Senhor e Lady

O Mestre pede a honra de suas presenças à meia-noite de


hoje no Santuário para encontro íntimo de amigos.
Desacompanhados de servos, dirijam sua carruagem até o
moinho de pimenta e usem o anexo. Sua carruagem e cavalos
serão cuidados.

Reeve

― Parece que nossos esforços finalmente deram frutos ― ele


disse, as mãos cruzadas nas costas.
― Até mesmo nomes em código. ― Ela mal sabia como se sentir.
Triunfante? Animada? E ainda assim uma raiva peculiar cobria tudo o
mais.
― Adequadamente medieval ― ele disse.
― O anexo?
Ele estendeu dois pedaços de tecido de cetim preto costurado
cuidadosamente.
― Máscaras? ― Ela perguntou.
― Vendas para os olhos. Provavelmente para que não saibamos
para onde seremos levados.
Ela não conseguia parar de olhar para as tiras de cetim. Na noite
em que se falaram pela primeira vez, que se tocaram, ele tirara sua
máscara no escuro. No dia seguinte, porém, ele a reconhecera à luz
do dia.
― Eu prometo não puxar o seu cabelo neste momento ― disse ele
com o primeiro sinal de calor desde a prisão.
Ela o olhou. ― Não quero mais lutar com o Viking. Quero lutar com
você.
― Não é boa o suficiente para lutar comigo.
― Demonstrarei que sou.
Seus olhos se afiaram. ― Tudo bem. Se insiste. Amanhã.
― Não. ― Ela se levantou. ― Agora.
― Tenho um compromisso agora. ― Seu olhar deslizou por seu
vestido de seda safira bordado com fios de prata cujo corpete era
cortado baixo sobre os seios. ― Parece que também tem.
― Então nos atrasaremos. ― Ela o rodeou e saiu do quarto.
Ele a seguiu até o salão de baile. Ela foi diretamente para a
prateleira de espadas, puxou o casaco acolchoado sobre os ombros
e prendeu-o rapidamente, depois pegou seu florete. Sem luva, o
cabo duro contra a palma da mão era bom. Limpo. A luz do dia
desaparecera por completo, e apenas o luar prateado e frio iluminava
o salão.
― Sei que escolherá não me bater ― ela disse ― então não me
preocuparei com uma máscara. Mas o acertarei em qualquer lugar
que puder. Deveria usar equipamentos de proteção.
Ele pegou sua arma.
― Não me acertará.
― Veremos sobre isso. ― Ela levantou a lâmina. ― En garde.
Capítulo 25

O Duelo

Em seu primeiro impulso, sua ponta pegou em sua lateral. Num


instante ele rebateu a lâmina dela para o lado, então ele fez uma
pausa, como se quisesse parar. Mas ela mergulhou de novo em
direção a ele, atacando quando ele recuou, dirigindo-se para a
frente. Ele defendeu facilmente.
Ela avançou novamente, e sua defesa desviou sua espada, mas
ele não contra-atacou. Novamente ela empurrou o braço para frente
e, novamente, redobrando e empurrando até que ele se defendesse
firmemente, sem parar ou permitir que parasse, as espadas clicando
e deslizando.
― O que está fazendo? ― Ele perguntou.
Com os lábios entre os dentes, ela se estendeu, avançou, apertou
o ataque até que ele recuou um passo, depois outro, e outro ainda,
desviando seus golpes com uma defesa fácil. O luar brilhava no aço,
e os sons de metal se chocando e suas próprias respirações
estavam em seus ouvidos.
― Avance ― ela disse. ― Ataque, maldito.
― Não.
― Quer atacar ― ela grunhiu e seu pulso tremeu quando sua
lâmina colidiu na dela. Sem a luva, a mão dela já doía. ― Eu sei que
está com raiva.
― Acho que milady deve examinar a trave no seu próprio olho ―
ele murmurou e defendeu outro avanço com um rápido clique de aço
contra aço.
― Admita ― ela disse, com os pulmões apertados.
― Quando aprenderá a confiar em mim? ― Sua voz era baixa.
Saltando de joelhos dobrados, com todo o seu poder, ela se
lançou. Ele aparou, desengatou, virou o ombro, e ela passou por ele,
suas pernas emaranhando-se em suas saias. Rapidamente, ela se
virou para ele e o atacou.
A impassibilidade tinha sumido de seu rosto. Seus olhos ardiam.
― Não sei como... ― Ele arrastou a mão livre pelo cabelo. ―
Preciso que confie em mim, Constance.
Ponta estendida, ela foi para ele.
Ele rebateu a lâmina dela com uma defesa que sacudiu seu ombro
com força e arrancou o cabo de seus dedos. Antes que ela pudesse
se recuperar, ele avançou.
Não foi um esforço para ele, ela sabia. O primeiro golpe em seu
ombro veio rapidamente, apenas um toque. O próximo ao seu braço
era o mesmo, leve, mas ardente, mesmo através da manga
acolchoada. Ele não parou a cada golpe, mas bloqueou os contra-
ataques e avançou novamente. A ponta do seu florete atingiu-a
apenas no casaco, apenas onde sua pele estava protegida. Mas a
cada golpe, ela sentia sua agressão contida pela habilidade. Isso não
era esporte. Era um duelo.
― É isso que quer? ― Ele perguntou, pressionando-a para trás,
sua voz grave. ― Esse é o jogo que quer fazer?
― Não é um jogo. ― Ela empurrou, desviou, sua mente girando,
pulmões gritando.
― Tem certeza? ― Ele a forçou a recuar, sua lâmina cintilando
friamente sob a lua cheia. ― Porque não posso fazer isso. Não
quero mais continuar.
― Por que ainda está me ensinando? ― Ela tentou passar através
de seu avanço, para recordar cada truque que ele lhe ensinou. Mas
ele antecipava seus movimentos, desviava seus contra-ataques. ―
Por que está insistindo que eu treine com Viking? ― ela exigiu saber,
jogando toda a força restante em seus braços e pernas, em cada
estocada e investida. ― Não pode suportar me tocar mesmo com
uma lâmina desde que eu te disse a verdade? É isso? É esse o
motivo?
Por um instante, ele parou e seu rosto ficou relaxou, e ela passou
por guarda. Ela bateu nele. Sua lâmina arqueou quando o ombro
dele recuou.
Os olhos dele brilharam. Sua espada cortou e com um solavanco
brutal o cabo saltou de sua mão. Ela gritou de dor e agarrou seu
pulso.
Sua espada caiu no chão quando ele veio até ela. Evolvendo suas
mãos ao redor de seus ombros, ele a arrastou para perto. ― Eu
insisti porque não quero que seja machucada. ― Seus olhos
estavam em chamas. ― Eu não suportaria se fosse machucada
novamente. Eu não aguentaria.
Um som de descrença escapou dela.
Ele trouxe sua boca até a dela. Seus punhos se afrouxaram,
espalharam-se, seus dedos afundaram em seus cabelos, puxando-o
para ela, e abriu os lábios para ele.
O beijo era salgado, caloroso e suado, uma conexão desesperada
que queria profundidade instantânea. As mãos dele cobriram suas
costas, prendendo-a a ele.
― Me acertou ― ele disse, com prazer em sua voz.
― Acertei!
― Isso machuca. ― Ele procurou seus lábios novamente e, em
seguida, sua língua, puxando-a para ele com as mãos, segurando-a
contra seu peito. ― Ainda dói, droga.
Risos saíram de sua garganta. Respirar era uma lembrança. Ele
estava esmagando-a contra ele e ela queria apenas isso, seus
braços prendendo-a, sua boca em seus lábios.
Ele beijou uma linha abaixo da sua orelha até a garganta. Ela se
apertou contra seu corpo e soltou um gemido. Suas mãos desceram
acariciando suas costas e ele a abraçou.
― Me quer, Constance? ― Ele perguntou contra sua pele. Seus
beijos em seu pescoço eram deliciosos e ela os sentia em todos os
lugares.
― Quero. Eu quero.
Ele olhou-a nos olhos. ― Então me tome.
― Tomá-lo? ― Ela sussurrou.
― Me tome. Eu estou aqui. Disposto. Totalmente pronto. Pegue o
que quiser.
Ele a surpreendeu. Ela nunca o antecipou. Não sabia como fazê-
lo. ― Mas...
― Não me negue isso. ― Suas mãos a seguraram com tanta
força.
― E se eu... não puder?
― Sem medo. Sem expectativas. Só nós. Você e eu. ― Havia
tanta vulnerabilidade em seus olhos, um desejo tão feroz.
Ela o aceitou. Arrancar a jaqueta acolchoada era perda de tempo,
mas tirar o casaco e o colete era como desembrulhar um presente.
Estendendo as mãos pelo seu peito, sentiu a força que ele nunca
usou contra ela. Como havia feito no Assembly Rooms, puxou a
camisa de seus calções e enfiou as mãos por baixo, sobre ele,
passando-as sobre a beleza de sua carne.
Ele estremeceu. ― Constance.
Ela permitiu que suas mãos aprendessem o formato do seu peito,
o calor e a umidade de sua pele. A camisa dificultava sua
exploração.
― Remova isso ― ela ordenou, e ele obedeceu, descartando o
lenço do pescoço e jogando a camisa no chão.
Tantas cicatrizes. Ela beijou todas elas, arrastando as palmas das
mãos sobre sua pele, uma e a seguinte e a outra, em seu ombro, seu
braço, sua clavícula e depois no longo corte em sua cintura.
Ela cobriu sua excitação com a mão.
― Agora. ― Ela levantou o rosto para ele. ― Agora.
Suas mãos envolveram seus quadris como se fosse puxá-la para
mais perto, mas então seus braços se fecharam e ele fez um som
em sua garganta. Com a mesma disciplina que demostrava em sua
luta, estava deixando-a controlar tudo.
Com dedos trêmulos, ela alcançou os fechos da abertura de seus
calções. Quando ela rodeou sua carne com a mão nua, ele ficou
totalmente imóvel. Seus olhos estavam fechados, os músculos de
sua mandíbula retesados.
― Saint ― ela sussurrou, incerta agora.
― Minha... ― ele proferiu, seu peito subindo e descendo com
força. ― Diga-me que não estou sonhando.
― Agora. Rápido por favor.
Ele abriu os olhos cheios de desejo. ― Venha ― ele disse, e
ajoelhou-se, juntando suas saias quando a puxou para o outro lado.
O primeiro contato íntimo de sua carne expulsou o ar de seus
pulmões. Com beijos lentos e dourados em seus lábios, ele colocou
as mãos em torno de seus quadris sob o vestido, forte e gentil ao
mesmo tempo. Então ele a moveu contra ele. Ele era quente e duro
e ela não sabia se devia esperar prazer no mero contato. Envolvendo
os braços sobre seus ombros e sentindo a pele e os músculos sob
as palmas das mãos, ela se inclinou para ele.
― Não quero parar de fazer isso ― ela sussurrou em seu ouvido
enquanto se movia sobre ele.
― Então não pare. ― Ele beijou seu pescoço, seu ombro, suas
mãos ajudando suas investidas. ― Faça-o como quiser. Apenas
como desejar.
― Eu quero senti-lo dentro de mim ― ela disse envolta em uma
montanha de prazer e apreensão. ― Se for possível.
― Tente, por que não faz isso? ― Ele murmurou sem urgência.
Mas o batimento cardíaco sob a palma da sua mão era trovejante.
Ela alisou as mãos nas costas dele e ergueu os quadris um pouco.
― Ajude-me.
Ele fez isso.
Doeu quando ela tentou descer sobre ele. Ela enterrou o rosto
contra seu pescoço. ― Saint.
Então ele a tocou com os dedos. Suavemente. Intencionalmente.
O prazer retornou. Buscando suas carícias, lentamente ela desceu
sobre ele, tomando mais dele, alongando-se e sentindo sua
extensão, mas sem dor, apenas a plenitude quente e dura.
Finalmente preenchida por ele, envolvendo-o, sentiu a umidade no
ombro dele, onde suas lágrimas haviam caído.
― Está tudo bem? ― ele perguntou, uma mão sobre a parte
inferior das suas costas, segurando-a contra ele. Sua voz estava
decididamente instável.
Ela passou os dedos pelo cabelo dele e o beijou. Novamente.
Outra vez e mais outra. Suspiros faziam cócegas em sua garganta,
remexeu seus quadris nos dele. Os dedos hábeis no centro de sua
necessidade e o seu comprimento duro dentro, a levaram a empurrar
mais forte, a se erguer, a subir e, em seguida, tomá-lo novamente o
mais fundo que podia, e mais rápido.
― Constance, se não conseguir encontrar satisfação como esta...
― Eu... ― ela engasgou, e gemeu num impulso. Ele a tocava no
fundo. Ela pressionou as palmas das mãos nos ombros dele. ― Não
deveria ser tão... ― Começou a dizê-lo, contraindo-se, serpenteando
e apertando numa pressão deliciosa. ― Difícil. ― Ela disse,
liberando-se sob seu membro enquanto se apertava mais contra ele.
Ambas as mãos dele foram para seus quadris, agarrando-a com
força, e puxou-a para ele, dando-lhe mais dele, fazendo-a durar em
suas convulsões que arrancavam gemidos dela. Ela se empurrou,
procurando-o. Seus dedos cravaram em seus quadris e
abruptamente ele a manteve imóvel, seus músculos endurecendo.
Gemendo, ele estremeceu.
Por vários momentos, apenas o luar falava. Então ele a beijou.
Com as mãos ao redor do seu rosto, ele usou a boca
completamente, indecente, e ela se agarrou a ele e começou a rir.
Ele recuou, beijando sua bochecha, sua testa, seus lábios
enquanto sorria.
― Eu presumo que isso significa que está bem ― ele disse.
― Sim. ― Ela queria rir para sempre. Isso era o que poderia ser.
Essa coisa linda, essa união. Até mesmo segurá-lo dentro dela
agora, seu corpo tremendo de satisfação, esse era o tal prazer. ―
Sim.
Ele acariciou uma mecha de cabelo grudado na bochecha dela e
enfiou-a atrás da sua orelha enquanto ela colocava as palmas das
mãos sobre o peito úmido.
― Exceto que acho que machuquei meus joelhos ― ela disse. ―
E talvez feri minhas coxas em suas calças.
― Ferimentos de batalha. ― Ele acariciou sua mandíbula, então
sua garganta, enviando tremores agudos e insuportáveis através
dela.
― Devo ir me trocar ― disse ela, afastando-se. Quando ela alisou
suas saias, observou-o apertar seus calções. ― Tenho um
compromisso para jantar.
Sua mão se curvou ao redor de seu quadril e ele a pegou em seus
braços.
― O que você está fazendo?
Ele andou em direção à porta. ― Levando-a para a cama.
― Mas, nossos planos anteriores...
― Não me lembro de ter planos anteriores. Você lembra?
Ela circulou seus braços em volta do pescoço dele. ― Não
podemos dormir. O encontro com o Mestre...
― Não vamos dormir.
Sem camisa, ele a levou para cima. Em seu quarto, seus olhos
pousaram na cama e seu pulso acelerou.
― Não.
Ele a colocou de pé, em seguida, puxou-a em seus braços.
― Diga-me ― ele disse perto de sua testa.
― Não nesta cama ― disse ela. ― Na minha.
― Seu desejo é ordem, milady. ― Ele a pegou pela mão e
caminhou através do closet que ligava seus quartos. Soltando-a, ele
foi para as duas portas e trancou-as. Então veio até onde ela ficara
paralisada e agarrou-a pela mão novamente.
― Acabamos de fazer amor no chão de um salão de baile depois
que quase me espetou com uma espada. E no seu próprio quarto
ainda parece estar aterrorizada. Sua mão está fria. O que deseja de
mim agora, esposa? Eu sou seu para comandar.
Ela ficou na ponta dos pés e beijou a boca dele, depois o pescoço,
depois a feroz marca vermelha logo abaixo do ombro que já estava
ficando roxa.
― Como é que a sua pele está bronzeada? ― Perguntou,
acariciando o hematoma e músculo com os lábios e sentindo uma
emoção ecoante de prazer dentro dela.
― Eu estive no lago.
Ela olhou para o rosto dele. ― Sem camisa?
― Quando o mergulho é necessário.
Ela se afastou. ― Mergulho? Hoje?
― Todas as tardes nos últimos dez dias.
― Eu pensei que estava fazendo visitas, incentivando convites
para cabalas secretas.
― Dylan e eu fomos para a água e aos campos circundantes.
― Está procurando a faca, não é?
― Por qualquer coisa. Qualquer pista que possa ajudar a localizar
Chloe Edwards.
― E provar que não teve nada a ver com a morte da Senhorita
Favor.
― É uma tarefa fútil, na verdade.
Ela passou os dedos levemente sobre a contusão que lhe dera,
depois atravessou a clavícula forte e o centro do peito.
― Então por que perseguir isso? ― Ela perguntou, tocando seus
lábios em seu ombro.
― Bem. ― Seu peito se expandiu. ― Aquele... aquele beijo bem
ali, pode ter algo a ver com isso.
― Porque isso me agradará? ― Ela espalmou as mãos sobre o
peito dele e sorriu um pouco. ― Eu não acredito inteiramente em
você.
Ele agarrou seus pulsos e afastou as mãos dele. ― Constance,
sempre direi a verdade. Sempre.
― Permita-me inspirar ainda mais suas investigações - ela disse e
passou a língua ao redor e sobre o mamilo. Anos atrás, ela se
embriagara apenas com o som e a visão dele. Agora liberalmente
bebia seu gosto e textura. Ele permanecia imóvel enquanto seus
lábios e a ponta de sua língua o exploravam, sua respiração
irregular, mas segurando-a frouxamente até que seus dedos
chegaram à cintura de seus calções. Então seu aperto aumentou.
Ela soltou o fecho das calças e as empurrou para baixo. Ele estava
totalmente ereto, seu membro feito para o sexo. Seu rosto estava
quente.
Ele segurou seu queixo na palma da mão. ― Minha esposa corada
― ele murmurou num sorriso.
― Não.
― A qual dessas três palavras se opõe?
― Esse rubor no meu rosto não nasce da inocência ou da
modéstia. Não tenho nenhuma.
― Então não tem nenhuma queixa com as palavras minha
esposa?
Ela se afastou de seu aperto. ― Não diz o que eu espero.
― Talvez porque espere que eu seja alguém que não sou.
― Preciso de ajuda para remover o meu vestido e anáguas. ―
Então, com as mãos, ela puxou seu rosto e sua boca para baixo e o
beijou.
Seus dedos estavam seguros nos fechos de seu vestido e nos
laços de sua anágua e ligas. Quando estava diante dele com apenas
um leve chemise, ela disse: ― Toque-me.
Ele se ajoelhou diante dela e suas mãos vieram ao redor de seus
joelhos. Dessa maneira, ele ergueu o tecido fino de seu chemise, as
mãos ao redor das coxas e movendo-se tão lentamente para cima
que cada meia polegada parecia uma vitória.
― É tão suave ― disse ele enquanto suas mãos se curvavam em
torno de seus quadris, expondo-a ao brilho do luar. Mas ele não
parou por ali. Suas mãos continuaram subindo, o tecido deslizando
com seu toque, descobrindo sua cintura e seios. Ela levantou os
braços e ele passou a roupa sobre sua cabeça.
Deslizou o olhar observando-a, dos pés à cabeça, demorando-se
sobre os seios e depois na boca.
― E ainda ― ele disse, erguendo os olhos ― há uma dureza por
dentro. Raiva temperada. Acredito que seria uma ótima guerreira.
― Beije-me ― ela disse.
Ele obedeceu. Sua boca se moveu para seu pescoço, suas mãos
para seus ombros, depois para suas costas.
― No momento, no entanto, é um banquete. ― Suas palmas
deslizaram sobre suas cicatrizes. ― E eu, um homem que tem
estado no mar há anos. ― Ele a beijou e as pontas dos dedos
tocaram os vergões listrados como um músico sobre uma lira. ― E
não se atreva a criticar minha metáfora, ou vou dizer outra ainda
mais banal.
Ela segurou firme em seus ombros. ― Chamas. A próxima
metáfora deve incluir chamas. Ou fogo de alguma ordem.
― Tenho certeza de que posso propor algo adequado. Deite-se. ―
Suas mãos marcavam cada pedaço de sua pele aquecida com
necessidade. Mas por baixo disso o frio estava crescendo.
― Eu não posso. ― Seus dedos cravaram em seus braços. ― Eu
não posso. ― Ela se separou dele. ― Eu não posso me deixar tomar
assim, mesmo sem a cabeceira da cama.
― Cabeceira?
― Cabeceira, ataduras, de bruços ― ela disse rápido. ― De modo
que eu não possa ver.
― Eu gostaria de te abraçar agora ― disse ele num tom nada
normal. ― Posso?
Seu pânico desmoronou, deixando-a apenas tremendo. Ela
assentiu. Ele a puxou para seus braços e segurou-a contra sua pele
quente, e ela enfiou o rosto em seu ombro.
― Por mais que eu esteja me sentindo inclinado a matar neste
momento ― disse ele ― estou me sentindo consideravelmente mais
inclinado a fazer amor contigo. ― Ele ergueu seu rosto com as
pontas dos dedos sob o queixo. ― Não preciso de uma cama,
Constance. Eu não preciso de uma cadeira. Eu nem preciso do chão.
Tudo que eu preciso é do seu corpo no meu.
Ela alisou a palma da mão sobre sua mandíbula e beijou-o. Ela
não parou de beijá-lo por muito tempo.
Eles foram para o chão, para pilhas de roupas de cama
espalhadas às pressas, com mãos impacientes para voltarem a
tocar. Ajoelhado diante dela, ele beijou seus seios com tanta atenção
que, eventualmente, foi obrigada a subir em seu colo para satisfazer
o desejo que crescia numa intensidade insuportável. A luz prateada
enchia o céu e as velas iluminavam sua pele em ouro quando,
corpos entrelaçados, encontraram prazer juntos.
Depois, ele segurou-a em silêncio e beijou com ternura suas
bochechas, testa e lábios. Quando finalmente ela se afastou dele,
seu rosto estava úmido embora soubesse que não chorara.
Ela convocou uma criada e ele deixou-a para se banhar sozinha e
foi se vestir para o seu compromisso.
Capítulo 26

O Mestre

Exceto pelo olhar que revelava seu cansaço, quando ele se


sentou em ao seu lado no curricle, ela não parecia uma mulher que
havia lutado um duelo com um homem e feito amor depois com ele,
duas vezes.
― Esposa, está deslumbrante ― ele disse enquanto colocava os
cavalos em movimento.
― Eu não sei o que se usa nas festas de adoração do diabo. ―
Ela colocou sua capa sobre o vestido de um tecido dourado
brilhante. ― Me decidi por um vestido adequado para o
entretenimento de uma noite normal. ― Ela puxou o capuz sobre os
cabelos, que estavam presos novamente num coque elegante. Uma
hora antes, diante do fogo, permitiu que ele os soltasse e os
espalhasse sobre os ombros e seios. Agora não pegaria em seu
braço ou o tocaria de qualquer maneira, nem mesmo em sua mão
para que pudesse ajudá-la a subir na carruagem.
― Está certa em definir a moda agora ― disse ele.
― Conte-me sobre suas novas amigas.
― E quem seriam essas?
― Patience Westin e Miranda Hughes. Seu primo me disse que as
viu todos os dias desde a sua estadia em Calton Jail. Deve ser
insensível como os ladrões agora.
― Eu era um ladrão, sabe.
Na luz da lanterna, seu rosto permaneceu sereno. ― Então, as
suas outras estadias foram por isso. O que roubava?
― Nada de valor duradouro, infelizmente. Pão, geralmente. Uma
vez roubei uma galinha viva. Difícil de esconder por baixo do casaco
por qualquer período de tempo, é claro, e depois tinha que ser
cozida. Nunca mais tentei isso de novo.
― Não poderia encontrar trabalho como instrutor? ― Sua voz era
fria como a névoa da meia-noite caindo.
― Não tinha coragem para isso. A guerra pode cansar um homem
de armas, o que é um enorme eufemismo, na verdade. ― Ele sentiu
a atenção dela sobre ele agora.
― Deixou de esgrimir?
― Durante algum tempo não consegui empunhar nem espada
nem arma de fogo. Minhas mãos tremiam violentamente ao fazê-lo.
Meus comandantes me permitiram uma licença. ― Durante esse
tempo, ele finalmente encontrou prazer na espada novamente,
ensinando habilidades de luta a um amigo cujo caráter era muito
superior ao que recebera da vida.
― Mas voltou para a guerra. Quando nos conhecemos, tinha
acabado de chegar em casa.
― Senti que era uma obrigação para com o país que me dera
consolo após a morte de minha mãe. Além disso ― ele sorriu ― eles
esperavam meu retorno. Eles eram... insistentes.
― Era o maior espadachim que a cavalaria já conhecera.
― Sem cavalaria. Eu nem sequer tinha um cavalo. Eu era um
mensageiro. Eu corria.
― Corria? De batalha a batalha?
― De general a general. Eu era muito rápido. E inteligente. Por
isso suas insistências. Mas eu ainda era um menino, na verdade.
― Isso deve ter sido extraordinariamente perigoso. ― Sua voz
estava subjugada.
― Tudo na guerra é perigoso.
― Porque não usou sua habilidade com uma espada quando
pôde?
― Porque, Constance, eu não queria matar ninguém.
― Mas era guerra. Tinha...
― Minha mãe era francesa. Meu mestre, também.
Alguns minutos depois, ela apontou para a frente.
― O moinho de pimenta. Desviou-se da minha pergunta.
― A Sra. Westin é sensata e um pouco tímida. Embora ela não
tenha falta de inteligência, Lady Hughes é quase o oposto. Elas são
um par interessante.
― Gostou de passar esse tempo com elas?
― Gostei. Se segurou quando lutou com o Viking?
Ela se virou para ele abruptamente. ― Não.
― E ainda assim me golpeou.
Um sorriso transformou seu rosto. ― Você me inspira.
― Vou ter uma contusão neste ombro por uma quinzena.
― Eu não queria feri-lo. Avisei que deveria ter vestido a proteção
estofada.
Ele riu. ― Claro que queria me ferir. Queria me ferir desde o dia
em que cheguei ao seu castelo.
A lua havia desaparecido e à frente, na escuridão, uma lanterna
muda brilhava.
― Lá ― ela sussurrou.
― No momento em que tiver motivos para preocupação, partimos
― ele disse, dirigindo a carruagem para atrás do prédio. ―
Entendeu?
― Não deve ser super protetor ― ela disse. ― Isso arruinaria
tudo.
― Confie em mim, tenho muito respeito por sua capacidade de se
defender.
― Ajude-me a descer. ― Agora ela permitiu que ele segurasse
sua mão e a ajudasse a sair da carruagem. Mas segurou-o apenas
brevemente.
Dois homens se adiantaram. Um subiu em sua carruagem e foi
embora. O outro, de altura e estrutura medianas, usava um capuz
que obscurecia seu rosto.
― Eu sou Reeve ― ele disse. ― A carruagem é esta. ― Eles o
seguiram até um veículo sem insígnias. Os cavalos pareciam bons o
suficiente. Reeve abriu a porta e Saint entregou Constance.
― As vendas nos olhos, se quiserem vir ― disse Reeve. Um
momento depois, a carruagem entrou em movimento.
Quando pararam, Reeve os instruiu a não removerem as vendas
até que entrassem no Santuário. Eles fizeram isso imediatamente,
quando Reeve fechou e trancou a porta atrás deles, e Saint
rapidamente observou o lugar. O rosto de Constance não
demostrava nenhuma indicação de que já tivesse visto antes essas
escadas ou carpete ou corrimão de madeira finamente esculpido. Ela
olhava curiosa como se não tivesse estado no patamar superior e
dizendo-lhe fervorosamente que a deixasse em paz. Era a casa do
Duque, assim como na noite de sua festa.
― Por este caminho. ― Lanterna na mão, Reeve começou a subir
as escadas. Ele abriu a primeira das quatro portas no corredor. Era
uma sala comprida, mal iluminada e aquecida pelas lareiras em
extremidades opostas. Como os cômodos da frente da casa, o
mobiliário era de um Duque: madeira fina, estofados ricos, sofás
elegantes. As pessoas dispostas sobre elas eram, no entanto, uma
paródia da sociedade educada. Os vestidos eram transparentes. As
posturas eram relaxadas. E mais do que algumas mãos estavam em
lugares que não deveriam estar, a não ser em bordéis. Mas nenhuma
das convidadas do Duque era prostituta. Saint tomara chá com todas
as mulheres tituladas e homens presentes. O Duque de Loch Irvine
não estava entre eles.
― Bem-vindo, queridos. ― Lady Hughes deslizou em direção a
eles. Seu sorriso, geralmente doce, era de lábios relaxados, seus
olhos pesados. Do outro lado da sala, Sir Lorian observava.
Constance aceitou uma taça de vinho de Lorde Hart, avaliando
seus olhos, estudando. Não por muito tempo. Não havia cheiro de
ópio no lugar, mas essas pessoas não estavam bêbadas; havia uma
letargia plácida sobre eles que falava de outra influência. Saint
observou-a saborear o vinho que deveria estar drogado e queria
arrancar o cristal de seus dedos.
Em vez disso, ele aceitou um copo e engoliu o conteúdo. Reeve
não pegou sua espada nem pediu para retirá-la. O Mestre ou Sir
Lorian, ou quem quer que tenha enviado o convite, deveria acreditar
que estavam ali ansiosamente. Se ele sentisse algum efeito da
bebida, poderia mover-se antes de superá-lo inteiramente, com a
vantagem da surpresa.
Constance desempenhava bem o papel. Ela sorriu e flertou
levemente, brilhando, seduzindo, e ele se perguntava como não tinha
visto isso claramente antes: a moça vulnerável sob essa máscara de
mulher sofisticada que ela usava para os outros. Agora ele via e isso
doía.
Logo seus olhos ficaram pesados e seus movimentos ficaram
lentos. Ele se sentou numa cadeira almofadada e observou.
Lady Hart chegou ao seu lado, sentou-se languidamente no sofá e
não disse nada de interesse.
Ele ficou entediado rapidamente. O vinho drogado em suas veias
suavizou as luzes já escuras, mas seu pulso permaneceu regular.
Então Reeve saiu do quarto através de outra porta e as conversas
silenciaram.
― O que está acontecendo? ― Ele perguntou a Lady Hart.
― O Mestre escolheu ― ela respondeu com os cílios baixos. Todo
mundo parecia ter bebido liberalmente do vinho. ― Num momento
estaremos livres para fazer o que quisermos. E eu gosto de você, Sr.
Sterling.
Reeve reapareceu e foi até lady Hughes. Levantando-se, ela foi
com ele.
― O que exatamente ele escolheu? ― Ele preparou seus
músculos para a ação.
― Como é engraçado, Sr. Sterling. ― Os olhos semicerrados de
Lady Hart o examinaram. ― Tem alguém em mente, ou vai aguardar
Miranda? Eu percebi que passaram um tempo juntos ultimamente.
Ele ouvira o suficiente. Miranda Hughes não estava prestes a ser
sacrificada num ritual violento, não se Lady Hart esperava que ela
voltasse em breve. Constance estava se aproximando dele, seus
passos super cuidadosos, seu olhar firme no dele e, apesar de sua
qualidade nebulosa, definitivamente indicando que ele não deveria
se mexer. Ele esperou que ela se colocasse na cadeira ao seu lado.
― Aqui está, querido ― disse ela. ― Está gostando dessa festa
iluminada? ― Sua língua tropeçava nas sílabas.
― Deliciosa. ― Pela vigésima vez, ele examinou a sala com
cuidado, avaliando o potencial de tirá-la da casa sem colocá-la em
perigo caso encontrassem resistência. ― Constance ― ele disse
baixinho. ― Onde escondeu minha faca?
― Na galeria. Abaixo da vitrine.
Logo, a porta do quarto do Mestre se abriu. À luz das velas surgiu
Lady Hughes. Ela usava uma túnica branca que caía no chão, o
capuz enrolado atrás.
Os olhos de Constance brilharam.
Com um passo lento e entrelaçado, lady Hughes atravessou a
sala. Enquanto ela caminhava, o roupão se abriu na frente para
revelar seu pequeno corpo arredondado e completamente nu.
Parando diante de Westin, ela afagou com dois dedos ao longo dos
ombros dele. Sem esperar por ele, ela juntou o roupão e saiu do
salão.
Saint olhou para Hughes. Seus olhos estavam em Constance.
Westin se levantou e se aproximou deles.
― Importa-se de vir junto, Sterling? Se for muito bom, vou deixá-lo
dar uma volta com ela.
― Eu irei. ― A Sra. Westin se moveu para o lado do marido.
― Isso mesmo ― disse Westin com um tapinha nas costas de sua
esposa. ― Minha boa e pequena Patience também quer vir. Mas só
porque eu estarei lá, querida. Conhece as regras.
― As regras? ― Constance disse, seus olhos vidrados seguindo-
os até a porta.
― Uma vez que o Mestre tenha escolhido, nós, Damas, somos
livres para escolher quem quisermos ― Lady Hart murmurou,
levantando os dedos para acariciar ao longo do braço de Saint ―
desde que pelo menos um homem e sua mulher estejam presentes
nos quartos.
― Para um homem que mantém seu clube em segredo ― ele
disse ― parece que o Mestre tem padrões razoavelmente
convencionais.
― Decepcionado? E eu tinha imaginado que fosse do tipo de uma
única mulher. Recém-casados. Em um acordo tão inesperado. Não
pode imaginar em como Hart e eu estamos surpresos em vê-lo esta
noite. ―Seu olhar embaçado observou sua boca. ― Vamos chamar
o meu marido, Sr. Sterling, e ver se gosta?
Ele retirou o braço. ― Talvez em outra noite. ― Ele pegou a mão
de Constance e a pôs de pé. ― É hora de partirmos.
― Espere ― sua esposa disse sussurrando, enquanto ele a levava
para a porta. ― No outro dia, Lady MacFarlane estava falando sobre
o marido infiel de sua irmã. Agora olhe para ela ali, olhando para
todos. Que hipócrita. Eu quero ver quem ela escolhe.
― Compreensível. Mas isso não está nos cartões esta noite,
senhora Sterling. ― Ou nunca.
Reeve os encontrou na porta. ― Já indo embora?
― Minha esposa não está bem.
Constance imediatamente caiu sobre o braço dele.
Reeve tirou o capuz e olhou para ela por cima de um nariz
quebrado mais de uma vez.
Saint estudou suas características não dignas de nota.
― Tem suas vendas?
― Querido ― disse Constance com uma risada que era
inteiramente encantadora e totalmente falsa ― Eu tenho medo que
não consiga amarrar a minha. Meus dedos estão dormentes.
Na carruagem, sentou-se à parte e não falou nada. Quando
chegaram ao moinho, ele tirou a venda e ela pegou na sua mão
apenas para descer. Mas seus passos vacilaram quando foram em
direção ao seu curricle.
― Deve colocar o braço em volta de mim ou cairei do banco ― ela
disse, seus olhos procurando algo em seu rosto, mas rolando para
longe. ― Eu espero não ficar doente. ― Ele tomou as rédeas numa
mão e envolveu seu outro braço num aperto ao redor dela, mas ela
agarrou o lado do assento, não a ele.
Quando entraram em casa, ela não disse nada, e quando ele
colocou a mão na parte inferior das suas costas para equilibrar sua
subida nas escadas, ela se afastou. Dentro do seu quarto, com a
porta fechada, ela estava sentada no meio do chão e se balançava.
Quando ele a despiu, seus olhos permaneceram fechados e seu
rosto mais relaxado. Ele a levou para a cama e cobriu-a com um
cobertor. Tinha visto muitos bêbados, homens e mulheres. Esta não
era Constance meramente bêbada ou mesmo drogada. Ela havia se
afastado dele novamente, como se a farsa não tivesse sido
necessária.
Ele se sentou na beira da cama, dobrou os cotovelos sobre os
joelhos, e cobriu o rosto com as mãos.
― É tudo incrivelmente desagradável ― ela murmurou, sem abrir
os olhos.
― É. ― Um criado deve ter fechado as cortinas e retirado a roupa
de cama do chão. Nada restava do que havia passado entre eles
antes, exceto uma dor feroz sob suas costelas.
― Ou simplesmente triste. Concorda?
Pensou nos olhos sérios de Patience Westin. ― Eu concordo.
― Bom ― ela disse num suspiro. ― Porque eu não quero
compartilhá-lo.
Então adormeceu. Ela não se lembraria disso. Mas ele saboreou a
satisfação momentânea de ouvi-la reivindicá-lo somente para si.
Depois entrou em seu quarto, tirou o traje de cavalheiro e dormiu por
muito menos horas do que desejava.
Capítulo 27

O Principal Benefício de Estar Casado

Lady justiça
Brittle & Sons, Tipografia
Querida Lady,

Compreendo. Não gosta de matrimônio. Nem eu. De qualquer


direção que se olhe para isso, é uma armadilha.

Mas, se quiser, considere o principal benefício do estado


conjugal, ao qual não posso dar um nome aqui (por deferência à
sua modéstia), mas que, ocorrem seguramente todas as noites,
deve ser uma vantagem para ambos, marido e mulher. Ao
rejeitar o casamento, estará disposta a renunciar a isso
também?

Em dúvida, mas sinceramente,


Peregrino,
Secretário do Clube Falcão

Para Peregrino, à solta:


Procura chocar-me ou talvez excitar-me. Não
conseguiu nenhum dos dois. Que antiquada noção
patriarcal da feminilidade lhe sugere que uma
mulher deve primeiro se unir em casamento para
desfrutar o benefício que está prontamente
disponível fora dele?

—Lady Justiça

Lady justiça
Brittle & Sons, Tipografia
Querida Lady,

Eu mal posso escrever. Minha mão treme de modo que a tinta


da minha pena respinga na página e me vejo obrigado a raspá-la
de novo e de novo.

Renovo-lhe agora o meu convite para nos encontrarmos. A


qualquer hora. Em qualquer lugar.

Com esperança
Peregrino
Secretário do Clube Falcão

Para Peregrino, à solta:

Em resposta ao convite de sua última carta,


ofereço apenas três palavras: Em seus sonhos.

—Lady Justiça
Capítulo 28

Um Banho

Constance acordou sozinha com uma leve dor de cabeça e


descobriu-se nua sob a roupa de cama. Era isso que se supunha,
quando o marido tirava sua roupa, um marido que todas as mulheres
do lugar tinham cobiçado na noite passada e vários pares de olhos
masculinos também.
Isso não a surpreendia. Ele era ao mesmo tempo bonito e uma
curiosidade, uma atração natural para as pessoas com excesso de
riqueza e muito pouco para ocupar suas imaginações. O péssimo
clube de Sir Lorian provou que a infelicidade levava as pessoas
carentes um caminho peculiar em busca de diversão. Mas ela
aprendera isso há meses.
No entanto, hoje sentia-se leve.
Ela pressionou o rosto no travesseiro e permitiu-se sentir a dor em
seu corpo por causa do ato de fazer amor. Não dor. Sensibilidade
dolorida.
Então saiu da cama e se vestiu. O dia estava bem adiantado e ela
estava atrasada para a aula de esgrima. Mas quando chegou no
salão de baile, encontrou-o vazio.
― Eles já se foram há muito ― disse Eliza. ― Quando fica na
cama a manhã toda, todos da casa irão precede-la.
― Ele foi com o Lorde Michaels? Onde?
― Perseguir a pobre Chloe Edwards, sem dúvida.
Tantas semanas se passaram, mas Lorde Michaels não
abandonava a esperança.
Constance foi até a escrivaninha e começou a fazer convites.
Quando o meio-dia virou tarde, Sir Lorian e Lady Hughes foram seus
primeiros visitantes.
― Querida Constance. ― Miranda apertou suas mãos. ― É a
criatura mais bonita, mesmo depois de uma noite de farra. Ela não é,
Lorian? ― Ela ria como o tilintar sinos.
― Se a devassidão forem copos de vinho em demasia ― ela
disse, puxando Lady Hughes para um sofá ― então sou realmente
devassa. ― Ela só tomara um único copo; e certamente tinha sido
drogada.
― Saiu tão cedo, não tive a oportunidade de cuidar da minha
responsabilidade. ― Ela segurou uma das mãos de Constance.
― Sua responsabilidade?
― Toda mulher que entra no Santuário deve conhecer as regras
do Mestre.
― Lady Hughes, admito-me confusa. Nós não tínhamos ideia, veja
só, que havia regras ou... ou...
― Um Mestre ― disse Saint da porta.
Sir Lorian murmurou: ― Sterling.
― Mas pensei que entendiam. ― O sorriso de Miranda era como
uma rosa desabrochando. ― O Santuário não é um tipo de festa
normal.
― Minha querida ― Sir Lorian disse ― tenho uma palavra ou duas
para dizer a Sterling sobre a esgrima, é claro. Por que não explica as
regras para lady Constance e acaba com isso? ― A mão de lady
Hughes ainda segurava firmemente a dela.
― Vai me chamar de Miranda? ― Ela disse com um sorriso bonito.
― Seu marido, afinal de contas me chama assim.
Ele chamava? ― Obrigada, Miranda. Agora, me diga, quem é esse
Mestre?
― Deve ser capaz de adivinhar ― ela respondeu com um sorriso
tímido.
― Eu realmente não sou.
― Nenhum de nós viu seu rosto. Mas todas as mulheres foram
convocadas por ele e...
― Todas? ― Isso parecia irreal.
― Claro, querida. ― Sua risada encantada derramou sobre elas.
― Perdoe-me, Miranda. ― Ela sorriu com esforço, a imagem do
Duque ranzinza de Loch Irvine e da açucarada lady Hughes
entrelaçando-se na paixão, roubando-lhe as palavras
momentaneamente. ― Temo que depois do vinho da noite passada
eu esteja muito lenta hoje. Essa festa era típica das reuniões do
Mestre?
― Oh sim. Nós nos reunimos à meia-noite e o Mestre faz sua
escolha dentro de uma hora. Depois disso, cada dama tem
permissão para escolher com quem deseja estar.
E, no entanto, Miranda escolhera Westin, o homem menos
atraente, menos influente e mais aborrecido do mundo.
― Os lordes não têm escolha sobre suas parceiras? Nenhuma?
― Não é tão mau? ― Ela ronronou. ― Lorian é bonito, mas
naturalmente eu não tinha nada a dizer se queria casar com ele ou
não. E você sabe, ele é um espécime muito pobre de homem. ― Ela
balançou seu dedo mindinho.
Constance mal sabia se devia rir. ― O Mestre não é, acredito?
― Bem... ― Lady Hughes juntou seus lindos lábios de rosa. Ela se
inclinou para a frente e sussurrou: ― Espero que o que estou prestes
a lhe dizer a convide a se juntar ao nosso pequeno clube. O que os
lordes não sabem... O que nenhum de nós jamais contou aos nossos
maridos...
― O que não disseram a eles?
― Ele nos pinta.
― Quem as pinta?
― O Mestre. ― Miranda deu de ombros lindamente. ― Ele não
nos toca. Ele usa uma máscara e um manto que o cobre
completamente, e ele nos pinta. Ele até usa uma luva para que não
possamos ver a mão dele segurando o pincel.
― Mas... ―Como isso era possível? ― Ele não faz...
― Não. ― Miranda riu. ― Ainda não, pelo menos. Não comigo ou
com qualquer outra mulher.
― Ele apenas as pinta?
― Nuas, claro. É tão sofisticado quanto qualquer estúdio
parisiense, eu diria. Mas ele nunca me tocou, nenhuma vez. Ele nem
permite que o Sr. Reeve nos veja sem roupa. Não é fantástico?
Totalmente fantástico. Dificilmente crível.
― Ele mostra as pinturas?
― Sim, mas apenas quando as termina. Muitas vezes ele requer
muitas sessões para completar uma pintura. E ele é um maravilhoso
retratista, Constance. Clarissa está tão encantada com a imagem
que fez dela que implorou para comprá-la.
― Ele a vendeu para ela?
― Ele não lhe deu a resposta. Ele não fala conosco, querida. Nem
uma única palavra. É realmente a coisa mais divertida que se pode
imaginar.
― E nenhuma de vocês disse aos seus maridos?
― É o nosso segredo. O nosso e o dele. E agora é seu também.
Não deve contar a ninguém, é claro. — Seu olhar correu para Saint.
― Mas... por que faz isso?
Pela primeira vez desde que ela entrou na sala, o brilho nos olhos
escuros de Miranda diminuiu.
― Constance querida, dada a sua escolha não convencional de
um marido perfeitamente delicioso, eu suspeito que não vai entender
completamente. Mas não lhe ocorreu que nem toda dama desfruta
da liberdade de escolher abertamente um parceiro que se adapte a
ela?
O lacaio anunciou novas visitas e, num quarto de hora, Sir Lorian e
Lady Hughes partiram, com uma garantia particular de que haveria
outro encontro em breve.
Mais tarde, depois da última visita, Saint fechou a porta atrás do
lacaio.
― Dylan e eu visitamos a casa de Loch Irvine esta manhã ― ele
disse sem preâmbulo.
― Sem mim? Porquê?
― O Duque não está na residência.
― Claro que sim.
― Não. Ele está ausente, Constance, como acredito que ele
estava no equinócio do outono e no solstício de inverno.
― Tem provas?
― Não, incontestavelmente. Ninguém nos abriu a porta esta
manhã, mas o estábulo está vazio. E nenhum dos lojistas reconhece
um homem com a descrição de Reeve.
― Edimburgo não é um lugar tão grande. Nós vamos encontrar
Reeve. E mesmo que o Mestre não seja o Duque, ele deve saber
que alguém está usando sua casa.
― Como meu irmão usou sua casa. Isso é o que está pensando.
― Não. Estou pensando que Miranda Hughes acredita que esteve
naquela sala com o Duque de Loch Irvine na noite passada. Talvez
Sir Lorian saiba a verdade disso. Quando nós...
― Não. Não vamos voltar lá.
― Precisamos. Saint.
― Não ― ele disse, seus olhos se movendo através de seus
traços com cuidado. ― Nada do que vimos na noite passada prova
que Loch Irvine ou qualquer outra pessoa é um assassino.
― Mas a qualidade ritual do joguinho do Mestre sugere que não
está além da razão investigar um pouco mais. Havia o manto branco,
como as vestes que Sir Lorian confidenciara usarem no moinho. E
hoje Miranda me contou algo extraordinário que você não vai...
A porta da sala de visitas se abriu.
― Eu descobri uma testemunha ― Lorde Michaels exclamou. ―
Falei com um homem que conhece um homem que a viu há três
semanas. Apenas três semanas! Ele está em Leith. Vou agora
mesmo localizá-lo. Eu gostaria da sua ajuda, Saint.
― Claro. ― Com um rápido e aguçado olhar para ela, Saint o
seguiu.

Eles retornaram pouco antes do amanhecer. Enrolada numa


cadeira perto da janela, Constance ouviu os cascos dos cavalos nas
pedras.
Ela os encontrou na escada e puxou ar pelo nariz.
― Meu Deus, estão com um cheiro miserável.
― Obrigado, minha esposa. É exatamente isso que um homem
deseja ouvir quando volta para casa no final de um longo dia.
― Criador de porcos ― murmurou Dylan, depois sorriu. ― Ele a
viu, sim. Saint lhe dirá. Comerei bacon no café da manhã todos os
dias a partir de hoje! ― Ele desapareceu para o seu quarto.
― Esta é uma notícia esperançosa.
― É. ― Ele se inclinou contra o marco da porta.
― Entre. ― Ela gesticulou. ― Mas não toque em nada, pelo amor
de Deus, nem se deite em nada. Vou pedir um banho. ― Agarrando
a lamparina, ela foi até a cozinha para tratar disso.
Quando voltou, encontrou-o deitado de costas no chão, onde o
tapete não cobria as ripas de madeira, dormindo. Apesar do odor, ela
sentiu calor e agitação ao vê-lo esticado assim. Se ajoelhou ao lado
dele e tocou nas costas da sua mão. Seus olhos abriram e olharam
diretamente para ela, para dentro dela, sob cada camada de pele e
desejo.
Ajudou-o com o casaco, o colete e as botas sujas, depositando-as
no corredor enquanto os criados levavam a primeira cuba de água
quente para a banheira de cobre no quarto de vestir. Quando a água
foi suficiente, ela dispensou os criados e acordou o marido
novamente.
― Boa noite, então ― ele disse, chegando a fechar a porta entre
eles. Ela o deteve.
― Vou banhá-lo. Para ter certeza de que lavará toda a sujeira de
porcos.
Ele olhou para ela com os olhos semicerrados e sorriu. ―
Estragará esse lindo vestido.
― Tenho outros. ― Ela pressionou a palma da mão contra o peito
dele e empurrou-o para a banheira.
Ela observou-o subir na banheira, cada músculo tonificado, e ela
mal podia pensar pela agitação em seu corpo.
Ela derramou água sobre a cabeça dele. Isso não ajudou. Ele
estava tão lindo molhado quanto seco.
― Sabonete, por favor? ― Ele estendeu a palma da mão.
― Disse que eu o faria.
Ele abriu um olho e olhou de soslaio para ela.
― Se isso for um fardo, não precisa fazê-lo. Não tive servos
cuidando de todos os meus caprichos durante toda a minha vida,
posso de fato, me dar banho.
― Não é um fardo, é claro. ― Ela tirou a capa e empurrou as
mangas de sua camisola até os ombros. Pegou o sabão. ― O
problema é que eu quero tocá-lo intimamente, e isso está me
fazendo saber que eu...
Ele a agarrou pela cintura e a puxou contra seu peito e cobriu os
lábios dela com os seus. Ela afundou as mãos ensaboadas no
cabelo dele e deixou os seus lábios comandarem os dela por um
momento enquanto a água encharcava seu traseiro. Então ela
deixou a boca livre.
―...que não posso controlar minha luxúria ― ela terminou. ― E
agora me deixou toda molhada afinal.
― Faça isso por mim ― ele disse sobre sua boca. ― Não tente
controlar sua luxúria comigo. ― Sua mão se curvou ao redor de seu
seio. ― Toda molhada, humm? ― Seu polegar circulou o mamilo,
escurecendo o tecido com água. Então, lentamente ele inclinou a
cabeça e rodeou-o com a boca. Ela se colou contra ele.
― Eu o sinto, em todos os lugares ― ela sussurrou.
― Essa é a ideia. ― Sua boca subiu para o pescoço e sua mão
mergulhou entre suas pernas. Ela se arrastou para longe dele.
― Banhe-se. Agora ― ela disse em uma respiração curta. ―
Cheira como o pior tipo de fazenda e eu quero saber o que descobriu
hoje.
Ele ergueu as mãos para agarrar as bordas da banheira e fechou
os olhos mais uma vez.
― Como quiser ― disse ele. ― Mas note que estou demonstrando
uma força de vontade heroica neste momento e espero que, em
algum momento, seja grandemente recompensado.
Ela tinha certeza de que seu coração não poderia bater mais
rápido.
― Notável ― ela disse e recolheu mais sabão e água para
espalhar por suas costas. ― Agora me diga.
Enquanto ela o lavava, memorizando cada músculo contornado e
cada osso esculpido sob suas mãos, ele contou como rastrearam o
fazendeiro até uma casa perto do porto. O fazendeiro disse que
conhecia bem a Srta. Edwards devido sua tia ter-lhe comprado uma
porca. Ele vira Chloe uma tarde. não muito longe da casa do Duque
de Loch Irvine. Ela estava com um homem, ele não vira o rosto do
sujeito e ela gritou-lhe em saudação. Não parecia em perigo. Mas
quando pressionado, o fazendeiro disse que ela gritou sua saudação
duas ou três vezes, o que, em retrospecto, parecia peculiar.
Constance escutou, traçando suas cicatrizes com as pontas dos
dedos e sentindo o calor da pele dele com as mãos, mesmo quando
a água esfriou. Finalmente ela contou o que Miranda Hughes havia
dito sobre o que acontecia na câmara do Mestre.
Seus olhos se arregalaram. ― Ele apenas as pinta?
― De acordo com Miranda, cujo rosto é tão maravilhosamente fácil
de ler, eu soube que ela não poderia estar inventando. Não é
curioso? Nenhum dos maridos sabe a verdade, e as esposas estão
há um bom tempo mantendo esse segredo deles.
― E ainda assim acaba de me dizer.
― Não seja bobo.
― Ele as pinta. ― Sua voz soou grossa novamente. ―
Extraordinário.
― Eu me pergunto o que ele faz com as pinturas? ― Ela correu as
mãos ensaboadas sobre seus ombros. ― Coleção particular, eu
diria.
― Mmmmm
― Agora deve concordar que devemos voltar.
― Não.
― Saint...
― Não ― ele murmurou.
Quando ela terminou, ele estava dormindo.
Ela o beijou. Ele acordou com um sobressalto, depois com a mão
ao redor do rosto dela, os lábios respondendo aos dela sem
hesitação.
Relutantemente, ela se afastou e ofereceu uma toalha. Com os
olhos encobertos, ele se secou, envolveu seus braços ao redor dela
e tomou sua boca sob a dele novamente.
― Está dormindo mesmo quando está de pé ― disse ela.
― Eu não preciso estar acordado para beijá-la. Eu a beijei tantas
vezes em meus sonhos que sou uma especialista nisso ― ele disse
sem abrir os olhos.
― Tenho de mudar meu vestido.
Suas mãos subiram pelos seus lados. ― Quem precisa de um
vestido? Quem precisa dormir?
Ela o puxou para a cama. ― Teremos uma festa esta noite. Com
muitos convidados.
― Eu preferiria ter uma festa agora, só nós dois.
Ela foi até o armário, descartou sua camisola encharcada e
colocou uma nova. Na cama, ele dormia como se tivesse caído ali.
Ela puxou as roupas até a cintura, foi para o outro lado do colchão e
escorregou por baixo das cobertas. Enrolando-se de lado, ela
colocou a bochecha na palma da mão e observou-o.
― Saint ― ela disse. Ele nem piscou. ― Frederick Evan Sterling.
― Seu peito subindo a cada respiração. ― Eu preciso de você ― ela
sussurrou enquanto a noite dava lugar ao sol pálido que enchia o
quarto. ― Preciso de sua bondade, força e gentileza. Não sabia que
havia homens assim. ― Ela acariciou com as pontas dos dedos a
colcha entre eles, mas não conseguiu tocá-lo. ― Eu te amo.
Capítulo 29

Uma Fina Camada de Gelo

Como certa vez fizera atrás de uma porta oculta num canto, agora
Constance espiava, sem ser vista, um salão de baile.
― Rapiers? ― Saint estava no meio da sala, com a testa franzida.
― E um o quê?
― Um gibão, é claro. ― Lorde Michaels brandiu sua espada com
um movimento dramático de seu braço. ― Traje shakespeariano,
não sabia? Mas eu me recuso a usar meia-calça com uma braguilha.
Tristemente desconfortáveis, aquelas, o quê?
Saint colocou a ponta da espada no chão. ― Uma braguilha. ―
Ele pareceu desconcertado.
― A Sra. Josephs insiste, moça atrevida. Mas defendi a minha
masculinidade. ― O Barão atacou dramaticamente uma Eliza
imaginária.
― É uma festa a fantasia, milorde ― disse Constance, finalmente
entrando no salão de baile, com os braços carregados de tecidos. ―
Não é uma competição.
― Tudo é uma competição, minha querida dama, quando a...
braguilha de um sujeito está em questão.
― Lembre-se, primo ― disse Saint, olhando para ela ― de
observar sua linguagem quando fala com minha esposa.
— Pura bobagem. ― O Barão estendeu sua espada e caminhou
até ela. Agarrando um chapéu de plumas do volume em seus braços,
fez uma reverência. ― Perdoe minha vulgaridade, madame.
Ela pegou o chapéu e o colocou na cabeça dele. ― Será um
cavalheiro arrojado, milorde. Agora vá, seja útil e diga aos lacaios
onde colocar as decorações.
― Sim, mãe. ― Com um sorriso alegre para Saint, ele saiu.
Eles se encontraram no meio do caminho.
― Eu trouxe sua fantasia para esta noite ― ela disse.
― Que não seja tudo isso, eu espero.
― A sua está no topo. O resto é meu vestido. Seu primo está de
tão bom humor. Ele ainda tem esperança.
― Não quer desapontá-lo, não é? ― Ele disse.
― Temos que ter sucesso.
― Porque fantasias, Constance?
― Vestindo fantasias, as pessoas se comportam como não
deveriam. ― Ela tinha se comportado assim uma vez, afinal de
contas. Com ele.
― Eles fazem isso no santuário também, parece.
― Mas não estamos voltando para lá.
Ele tirou as roupas de seus braços e as deixou cair no chão, e a
atraiu para ele pela primeira vez desde a noite anterior, quando fizera
isso sem usar nada.
― Estou aliviado por ter chegado a essa decisão. ― Suas mãos
se espalharam ao redor de sua cintura. ― Eu não teria permitido que
comparecesse a outra reunião. Mas estava tendo dificuldades em
criar uma forma de impedi-la de ir e que não envolvesse amarrá-la.
Ela virou o rosto. ― Acaba de me fazer ter vontade de vomitar.
― Oh! É tudo que um homem quer ouvir da mulher que está
abraçando.
― Por que é intencionalmente cruel?
― Se fugir de um inimigo, ele a perseguirá até que tropece e caia,
e isso a derrotará. Se levantar e lutar, tem o poder de derrotá-lo.
Ela levantou os olhos para ele.
― Participarei da festa vestido de viking! ― exclamou Lorde
Michaels ao entrar, seguido pelo Sr. Viking carregando uma caixa
pesada. ― Ele não me permitiria levantar um dedo para carregar
uma daquelas coisas empoeiradas. Em agradecimento, estou
negociando casacos com ele. Este custou-me uma fortuna. Viking,
dê-me essa coisa agora ou sofra a ira do meu florete.
― Milorde claramente esteve bebendo whiskey hoje, milady. Não
teremos um momento de paz até depois das festividades desta noite,
tenho certeza ― disse o sr. Viking, abrindo a caixa e retirando uma
pilha de tecidos acetinados quando duas criadas entraram no
ambiente.
― Eu deveria falar com Cook. ― Constance pegou sua fantasia e
saiu.

Saint olhou novamente para o endereço na nota que Patience


Westin enviou para ele, então dobrou o papel e enfiou-o no bolso do
colete. Ainda havia muitas horas antes da festa a fantasia. Lançando
a casa um último olhar, ele deu permissão a seu cavalo para ir em
frente.

Mais tarde, Constance encontrou o marido no salão privado. Não


seria usado durante a festa e estava livre de preparativos. Saint
reclinava-se numa cadeira de espaldar reto como se fosse um sofá
confortável, as pernas estendidas diante dele, os olhos fechados e a
mão sobre a lâmina de uma espada longa em seu colo. A luz do sol
da tarde refletia no aço e em seu cabelo como se fosse ouro.
Quando ela se sentou diante de sua escrivaninha, ele se mexeu.
― Sabe ― ele murmurou ― acho que gostava mais quando nos
encontrávamos por duas horas, todas as manhãs, às margens de
uma floresta.
Ela tirou uma folha de papel de uma gaveta. ― Oh?
― Então eu sabia onde encontrá-la. ― As pontas de seus dedos
tamborilaram lentamente na lâmina. ― E quando fazíamos, nós
estávamos sozinhos.
― O roto falando do rasgado. Estou surpresa por encontra-lo
nesta casa às cinco horas da tarde. ― Ela o olhou, depois se
arrependeu. Ela achava difícil olhar diretamente nos olhos dele. O
distanciamento suave era muito mais fácil do que enfrentá-lo assim.
Ela nunca teve essa familiaridade doméstica com nenhum homem.
E, apesar de tudo, desejava tocá-lo ainda mais, mais e mais, como
se prová-lo só aumentasse sua fome. ― Não deveria estar em algum
lugar matando dragões e resgatando donzelas ou algo assim?
― Acabei de vir disso, na verdade. Agora estou tomando um
momento para recuperar minhas forças. ― Ela podia ouvir o sorriso
em sua voz, exatamente como havia escutado na escuridão anos
atrás.
― Cento e sessenta e dois convidados aceitaram, incluindo todos
os que compareceram ao Santuário duas noites atrás. Sua
notoriedade é a nossa vantagem. Todo mundo quer se divertir com o
acusado.
― Quando decidiu que eu não tinha feito aquilo?
Ela se virou para encará-lo. ― Na prisão, quando disse iria matar
Walker Styles. Mas nunca acreditei que tivesse feito isso. Eu
estava... assustada. Momentaneamente. ― Ela esperou que ele a
repreendesse, dizendo que era uma tola por sua fraqueza.
― Walker Styles ― ele disse. ― Esse é o nome dele.
Ela inclinou a cabeça para o papel, os dedos apertados ao redor
da caneta. ― Devemos catalogar as informações que nós juntámos.
― Devo buscar Dylan?
― Ainda não. Precisamos falar livremente sobre o Santuário. Pelo
tanto que sou excessiva na minha luxúria, não quero discutir essa
festa com seu primo. Que espada é essa que tem aí?
― O suborno que um Duque me ofereceu quando me recusei a
ensinar uma herdeira a esgrimir. Eu estarei usando-a esta noite.
Agora falemos um pouco mais sobre sua luxúria, sim? Melhor ainda,
vamos colocar isso em ação.
― Há muito a fazer.
― Nada mais agradável.
Ela escondeu o sorriso. ― Fique longe de mim, Saint.
― Já ouvi isso antes. Mas depois me pediu para beijá-la.
― Estou listando o que sabemos das moças raptadas ao lado do
que sabemos agora do Santuário. Ao contrário de Maggie Poultney e
Cassandra Finn, as mulheres envolvidas no Santuário não são
donzelas. Como Annie Favor.
― De fato.
Ela olhou para ele. Com um pano ele estava polindo a lâmina
intrincada do florete. Ele olhou por cima de sua tarefa.
― Não fui o primeiro homem a saber isso, Constance.
Ela estudou as palavras que havia escrito. Elas se desfocaram. ―
Apenas casais casados são admitidos no Santuário, o que é uma
estipulação peculiar para a adesão a qualquer grupo, especialmente
aquele em que o objetivo principal de seu fundador parece ser pintar
nus femininos. Ele poderia contratar modelos.
― Talvez a pintura seja um disfarce para esconder seu propósito
primordial.
― Que é?
― Ter a visão de mulheres bonitas e ricas sem suas roupas.
― Que estranho isso seria.
― Não sei nada sobre isso. Achei extremamente agradável duas
noites atrás. ― O sorriso dele era maroto.
― Mas não me pintou, como ele faz ― ela disse, recebendo de
volta seu prazer. ― E eu não sou casada com outra pessoa.
― Não ― ele disse em voz baixa. ― Não é.
Ela queria atravessar a sala e subir em seu colo. O desejo que
sentia por ele era muito forte.
― Porque ele não as convida em particular?
― Talvez ele, eventualmente, espere pintar seus maridos também.
― E há outro detalhe peculiar disso. Os homens, que acreditam
que suas esposas estão servindo ao prazer do Mestre, não parecem
se opor a isso.
― Muito pelo contrário.
― Eles não têm orgulho?
Ele encolheu os ombros. ― O orgulho cai diante da orgia
desenfreada, suponho.
Seus lábios se contraíram. ― Eu não ligo para o jeito que me faz
rir no meio disso.
Ele sorriu. ― Quão preciosa é sua sensibilidade, milady.
Ela bateu a ponta da caneta no papel. ― Parece bobagem.
― O quê?
― Troca de casais sob o disfarce de ritual. Por que precisam do
Santuário para trocar de cama? Todos fazem isso o tempo todo de
qualquer maneira.
― Nem todos que eu conheço.
― Como é irremediavelmente sem sofisticação.
― É verdade. Minhas noções de casamento não têm aquela patina
aristocrática do laissez-faire. Nesta matéria sou tristemente burguês.
― Seu tom enviou arrepios por suas costas.
― Não se deve ter dinheiro para ser um membro da burguesia? —
Ela disse alegremente
― Eu tenho dinheiro.
Ela o olhou.
― Eu tenho seu dinheiro ― ele disse. ― Mas nós discordamos.
― O Santuário. Em troca das vantagens do acordo, esses líderes
da sociedade voluntariamente se permitem serem traídos. É
incompreensível para mim.
Ele parecia estar estudando-a pensativamente.
― Por que olha para mim assim?
― Alguns homens, Constance, gostam de saber que sua mulher é
desejada por outros homens.
― Desejada, eu entendo. De fato, permitir a outros homens a
intimidade com suas esposas parece o oposto de viril.
― Esses homens estão dando permissão e estão usando as
esposas de outros homens em troca. Isso faz com que eles se
sintam poderosos.
― Mas quem entre os homens naquele salão na outra noite
precisaria se sentir mais poderoso do que já são?
― O apetite de alguns homens pelo poder é insaciável. ― Ele
olhou para a lâmina em suas mãos.
― Sir Eustace tem um título antigo. Lorde Porter tem uma
propriedade insignificante, mas se alia aos lordes. Sir Lorian e Lorde
Hart têm uma riqueza confortável e propriedades excelentes. Eu me
pergunto: ― Os dedos dela acariciaram a caneta distraidamente. ―
Por que o Mestre insiste em pelo menos um homem e sua mulher
em cada quarto? Para confundir a paternidade dos filhos nascidos do
sindicato no Santuário?
― Poderia ser.
― Mas por que ele desejaria isso? É para que possa negar as
alegações de paternidade, já que de fato, nenhuma das crianças
poderia ser dele? Precisamos descobrir há quanto tempo esse clube
está se reunindo e com que frequência. E se seus descendentes não
tem nada a ver com isso? Há tantas perguntas sem resposta, e
agora que vimos a triste banalidade das reuniões, tudo isso poderia
estar desconectado do verdadeiro mistério. Então, teremos
desperdiçado nosso tempo inteiramente com essas pessoas.
― Pare de fazer isso.
Ela sacudiu a cabeça ao redor. — O quê?
― Com a pena. Está acariciando-a. Eu não posso pensar
enquanto faz isso. ― Seus olhos estavam brilhantes.
― Agora? ― Ela disse. ― No meio do dia? ― Olhou para o
relógio. ― Quando o sol está brilhando?
― Especialmente agora. ― Ele baixou a espada, levantou-se e
caminhou até ela. ― Pois nenhuma sombra obscurece seu rosto,
sua pele, cada fenda de sua beleza. O sol aquece sua carne...
― O sol escocês? Certamente brinca.
― Estou ficando eloquente nessas fantasias. Me acompanhe. ―
Ele se sentou na beira da mesa e acariciou o cabelo de sua testa. ―
O sol brilha no seu cabelo e me cega, de modo que os quatro
sentidos restantes se apressam para preencher o déficit. Toque... ―
Ele acariciou sua bochecha com as costas de seus dedos,
escorregando pela curva de seu pescoço. ― Aroma... ― Ele inclinou
cabeça da dela para o lado da. ― Som... ― A palma da mão dele
apertou seu seio e ela suspirou.
― Gosto ― ela disse, e virou os lábios para ele. Ela entrelaçou os
dedos em seu cabelo, ele puxou sua boca completamente para a
dele, e então ela estava em seus braços.
Em algum momento entre aceitar sua língua em sua boca e sua
mão entre suas coxas, ela largou a pena.
Seus dedos puxando para baixo o corpete, ele estava depositando
beijos em seus seios por acima do tecido, inclinando-se contra a
mesa e acariciando-a através de suas saias quando as palavras se
formaram novamente em seus lábios.
― Gostou dela?
― Quem? ― Ele acariciou-a perfeitamente.
Lutando por respirações, ela agarrou seus ombros.
― Miranda?
― Hmmm?
― No Santuário. Achou-a atraente? Seus seios? Seu corpo?
Todo movimento cessou. Todas as carícias. Todo o prazer. Ele
levantou a cabeça e olhou para ela. Suas mãos se afastaram dela e
abruptamente ele se virou e atravessou a sala.
Atordoada e dolorida, ela olhou para as costas dele. Finalmente
ele se virou para encará-la, mas não falou.
― Eu não sei o que dizer ― disse ela.
― Então estamos numa perda igual ― ele respondeu brevemente.
Um músculo flexionou em sua mandíbula.
― Isso é... Eu sei.
― Oh?
― Eu quero que volte aqui e continue me beijando. Eu... ― Sua
voz quebrou. Ele olhou para o chão e passou sua mão através de
seu cabelo. Ergueu os olhos sombrios para ela. ― Estou apavorada.
― Sobre o quê?
― Sobre nós ― ela disse sem ar. ― Do que está fazendo comigo.
De quanto eu o quero.
― Eu preciso que me queira ― o som veio de sua garganta como
papel amassado.
― Eu não sei como, eu não sei como estar contigo. Mas eu
preciso de você.
Ele foi até ela, enfiou as mãos nos cabelos dela e arrastou sua
boca para a dele. Ele a beijou profundamente, e ela correspondeu
inteiramente, precisando senti-lo, precisando tomá-lo para ela, sob
sua pele. O desejo nela era doloroso. Ela deixou-o levá-la contra a
parede e agarrar seus quadris com suas mãos fortes e fazer amor
com ela de pé, completamente vestida, à luz do dia que revelava
tudo.
― Eu sinto como se eu fosse gelo ― ela sussurrou. ― Uma fina
camada de gelo e estou rachando.
― Não ― ele rosnou contra o pescoço dela. ― Não ― ele disse
novamente. Ela correu as palmas das mãos pelo peito dele, e sua
boca em sua garganta e as mãos nos seus quadris forçaram seu
prazer. ― Sinta isso ― ele disse. ― Sinta-me.
Ela fechou os olhos e deixou o corpo dele incitar o dela ainda
mais.
― Eu diria que deveriam encontrar um quarto ― veio a voz de
Lorde Michaels. ― Mas já estão num. Sabe, há vários outros
quartos, com camas, virando o corredor. ― De pé na porta, vestindo
todo traje Shakespeariano, ele se inclinou para espiá-la por trás de
Saint, que se virou para encará-lo, bloqueando-a. ― Milady, peço
que perdoe a interrupção. Foi culpa do Viking.
― Não foi ― o Sr. Viking gritou por cima do seu ombro, de costas
para a porta. ― Eu simplesmente abri a porta. Milorde escolheu
entrar e fazer essa cena.
― Saiam daqui! Os dois ― Saint disse, segurando a parte de trás
do seu pescoço.
― Bem, eu gostaria, mas estou precisando desesperadamente de
pena e papel ― disse Lorde Michaels ― e Viking me assegurou que
este era o lugar para encontrá-los. Mas ainda bem que isto
aconteceu. Se não se prepararem logo, se atrasarão para sua festa.
Esta noite pretendo ser um dervixe rodopiante na coleta de
informações.
Alisando os cabelos, ela caminhou com calma para a porta, sem
confiar em si mesma enquanto se afastava, pensando que a ideia de
Saint de se encontrar ao amanhecer num bosque era realmente boa.

Com a ajuda de sua criada, Constance vestiu uma anágua de seda


com saias volumosas, um corpete que mal cobria seus mamilos e um
pesado vestido de mangas cortadas que estava amarrado com
cordões no centro, fazendo seus seios subirem por cima do decote
quadrado. Para completar o traje, Eliza colocou uma tiara de joias
incrustada em seu cabelo despenteado.
― Não deveria estar fazendo isso ― disse Eliza com um olhar de
desaprovação em seu decote. ― Marque minhas palavras, se
continuar desta maneira vai perdê-lo.
Deu um puxão na nuca da amiga e saiu para examinar os
preparativos pela última vez.
Os convidados chegaram com prontamente impacientes por
diversão. Os lacaios iam com bandejas de vinho e músicos tocando
baladas italianas enchiam a casa de música.
O rosto de Dylan estava preocupado quando examinou a multidão
animada.
― E se ele a levou para o campo? E se com tudo isso só
estivermos perdendo tempo enquanto deveríamos procurar noutro
lugar? Haiknayes, talvez.
Ela colocou a mão em volta do cotovelo dele. ― Se não
descobrirmos nada aqui esta noite, vamos voltar à nossa busca. Não
vamos parar até que ela seja encontrada. Agora venha, ajude-me a
cumprimentar nossos convidados.
Saint não estava presente. Ela deixou seus convidados com o
Barão e foi procurar seu marido.
Ele estava no meio do seu quarto, mexendo nos punhos
apertados. As mangas saíam de uma jaqueta de veludo índigo que
abraçava seu peito, e as calças estavam apertadas em suas pernas.
O florete antigo que ela havia comprado pensando nele, assim todas
as outras espadas durante anos, estava pendurado ao lado de um
longo cinto duplo de couro dourado.
― Está muito bonito ― ela disse.
― Por que acha que eles chamam aquilo de Santuário? ― Ele
disse sem olhar para cima, seus dedos graciosos mexendo nos
botões.
― Tem estado aqui pensando desde que nossa festa começou?
― E tentando fechar essas coisas malditas. Onde está aquele
condenado Viking quando eu realmente preciso dele? ― Ele
estendeu os pulsos para ela. ― Me ajudaria?
Ela foi em frente, esforçando-se para ignorar a sensação que
sentia dentro dela ao ver suas mãos, meramente suas mãos que se
estendiam diante dela.
― Não vai descer assim. ― Seus olhos estavam em seus seios.
― Eu já estive lá embaixo. ― Ela terminou sua tarefa e se virou
para a porta com um redemoinho de saias pesadas. ― Venha
comigo, Senhor cavaleiro. Seus convidados o aguardam.
Ao chegar ao patamar, foi até a balaustrada e olhou para baixo. As
luzes eram baixas, os trajes suntuosos e a brisa vinda pela porta da
frente aberta, inebriante com o cheiro de jasmim. A música subia até
eles, e risos e os sons das conversas.
― O solstício está a apenas um mês de distância ― ela sussurrou.
― Nós vamos encontrá-la ― ele disse logo atrás dela. ― Vamos
descobrir quem está fazendo isso e vou transpassar com aço seu
coração. E todos os outros homens lá em baixo.
― Todos?
― Se o vilão não for um desses, porque está dando uma festa
para eles? Eu sirvo ao prazer da minha dama, mas eu preferiria
passar meu tempo de lazer de outra forma. ― Sua mão se curvou ao
redor de seu quadril.
― Quais atividades de lazer prefere?
Ar varreu seus tornozelos. Ele estava levantando suas saias na
parte de trás.
― Eu diria que pode imaginar ― disse ele quando o ar frio tocou
suas panturrilhas. Ela não o deteve e, sob o tecido, a mão dele
cobriu suas nádegas. Ela mordeu os lábios.
― O que está fazendo? ― Ela respirou forte quando os dedos dele
a beliscaram.
― Minha esposa ― disse ele. ― Eu pensei que fosse óbvio.
Sua risada era rouca sob o murmúrio de vozes e música.
― Alguém vai ver.
― A luz está abaixa. ― Ele acariciou o vinco de suas coxas. ―
Estamos na escuridão.
Seus dedos apertaram o corrimão e ela lutou contra o desejo de
pedir mais. Ela queria as mãos dele nos seios dela. A boca dele.
― É muito pouco ― ela sussurrou.
― E ainda assim isso me dá prazer. Junto com a esperança de
que algum dia me permita colocar minha boca aqui. ― Ele arrastou
dois dedos sobre sua carne mais sensível.
― Sim.
― Sim?
Ela se moveu contra ele. ― Qualquer lugar. Em toda parte.
Ele a puxou da balaustrada e empurrou suas costas contra a
parede. Seus lábios pairaram sobre os dela, seus olhos
questionando e exultantes imediatamente.
― Qualquer coisa ― ela disse instável. ― Quão impura me faz
querer ser, Sr. Sterling.
Sua boca encontrou sua garganta, seu corpo o dela. Correndo as
mãos sobre seus ombros, ela se pressionou contra ele e a pressão
de sua excitação contra ela forçou um gemido de sua garganta.
― Devemos ir para a festa ― disse ela. ― Mas deveria ir reajustar
meu vestido primeiro.
― Se for a qualquer lugar perto de seu quarto neste momento, não
serei responsabilizado por sua ausência pelas próximas horas.
― Se nunca aparecêssemos para a nossa própria festa, as
pessoas falariam.
Ele a soltou, mas as pontas dos dedos se arrastaram ao longo de
seu braço como se relutassem em perder contato.
― Eles diriam que Lady Constance e seu homem comprado
estavam ocupados demais aproveitando a felicidade conjugal para
lhes mostrar a hospitalidade adequada. ― Ele se dirigiu para as
escadas.
― Não vai oferecer o seu braço para mim, senhor?
― Constance, estou tão duro quanto uma bigorna agora. Permitir
que me toque de novo não me ajudará a chegar ao piso térreo, e
esses calções são extremamente apertados. Se desejar, no entanto,
estou mais do que disposto a mostrar meu desejo por você a todos
que estão lá embaixo.
Ela passou por ele sorrindo. ― Parece que eu estava certa quando
o chamei de Fera.
― E você é minha Bela. ― Ele gesticulou para que ela o
precedesse descendo as escadas.
Minha Bela. Ela foi à frente dele e sentiu seu olhar sobre ela
enquanto desciam as escadas.
Capítulo 30

Ouro de Pirata

Ela se movia pela multidão de foliões fantasiados, conversando,


flertando, agitando seu leque sobre o decote indecente, como se a
atenção de todos os homens já não estivesse lá. Saint não se
aproximou dela. O objetivo deles naquela noite era mostrarem-se
ávidos com uma cotovia, seja lá o que isso pudesse ser. Ele passou
um tempo com as mulheres de duas noites atrás da casa de Loch
Irvine, e vários dos homens, mas não descobriram nada de valor,
exceto que a próxima reunião no Santuário celebraria o solstício de
verão. Suas teorias pareciam estarem certas.
Cada vez que seu olhar a encontrava na multidão de convidados,
seus olhos pareciam mais brilhantes. E a máscara de sociabilidade
de Dylan não conseguia esconder inteiramente sua ansiedade. O
tempo era curto. Amanhã deveriam montar uma ofensiva.
Quando o relógio começou a sua ascensão ao dia, Sir Lorian
Hughes caminhou até ele. Ele usava um longo gibão de ouro, calças
largas e um florete.
― Festa esplêndida que a dama da casa organizou, Sterling. —
Ele tocou o cabo de sua espada.
― Realmente.
Os olhos de Hughes estavam encobertos. ― Será enforcado pelo
assassinato de Annie Favor.
― Perdão?
― A petição de Read para que a acusação seja rejeitada não será
bem-sucedida. E sabe como sei disso?
― Esclareça-me.
― Eu tenho a prova de que a matou, a prova de que enterrou uma
lâmina em seu coração como se fosse manteiga e esculpiu uma
marca em seu rosto para combinar com o emblema de Loch Irvine.
― E que prova é essa?
― Eu tenho a faca que usou e o testemunho do homem que lhe
vendeu.
― Essa não é uma prova incontestável.
A boca de Hughes se torceu num sorriso. ― Dado o medo
presente em toda família com uma filha em Edimburgo, não preciso
de provas incontestáveis. Apenas colocá-lo no meio de uma multidão
em uma praça pública.
Então era isso. Agora sabia. ― E se considera um homem de
honra.
― Não seja ingênuo, Sterling.
― O que quer?
― Ela. ― Saint seguiu seu olhar para Constance. ― Eu tentei
fazer isso do jeito mais fácil, através de um convite para esse
pequeno encontro patético. Mas percebo pelo que os outros estão
dizendo esta noite, que recusarão o próximo convite.
― O Santuário não é para o nosso gosto.
― E ainda assim ela é para o meu gosto. Então agora chega de
ameaças.
Saint se virou em fúria para ele. ― Como pode ser tristemente
previsível? Sua própria esposa é linda, e ela já é sua.
― Não me diga que um homem do seu talento com uma espada
não compreende a emoção de uma vitória duramente conquistada?
Ela disse que lhe propus casamento?
Não. Junto com todos os outros segredos que ela mantinha. ―
Como é intrépido.
― Ela me recusou. Recusou todos os homens que se ofereceram
para ela. Preferiu insultar-nos a todos.
― Lastimo por todos, então.
― Ela é uma potra espirituosa. Mas talvez tenha mudado de
opinião. Se não mudou, será do seu interesse fazer com que ela
mude.
― Hughes, este não é um jogo que deveria fazer comigo. Se
arrependerá.
― Ela está muito além do seu toque, Sterling, e todo mundo sabe
disso, é o único que não entendeu. ― Ele se afastou.

A coluna de Constance ficou rígida enquanto Saint falava com Sir


Lorian. Quando se separaram, ele desapareceu noutra sala.
Ela mergulhou em fofoca novamente. Conforme as instruções, os
lacaios haviam reabastecido os copos com liberalidade. Mas a
conversa continuou exasperantemente aborrecida. A maioria de seus
convidados pareciam inconscientes do Santuário e alegremente
otimista em relação à acusação de assassinato pairando sobre a
cabeça de seu marido. Foi maravilhoso e incrível e ela queria rir com
ele sobre isso. Mas a alegria de Lorde Michaels era forçada e,
quando os convidados partiram às dúzias, seu rosto estava sombrio
quando ele se retirou.
Sir Lorian e lady Hughes foram os últimos a partirem,
permanecendo no foyer durante todo o tempo.
Quando finalmente estavam sozinhos, Saint segurou a mão dela e
a levou para cima sem palavras. Ele a levou para seu quarto, fechou
a porta e recostou-se contra ela.
― Dispa-se.
Ela colocou os dedos no corpete e, de cima, soltou o apertado
vestido. Ele ficou boquiaberto e tirou uma manga de cada vez. Fitas
desatadas, a anágua de seda ao chão. Suas peças intimas foram as
próximas. Quando tirou a combinação por cima da cabeça, ela usava
apenas meias. Estendeu a mão para soltar as ligas, puxou as meias
para baixo e as jogou no chão. Ficou nua diante dele e seus olhos
élficos a consumiram.
― Dê dois passos para trás e levante os braços. ― Ele tirou o
casaco e o lenço do pescoço.
Ela fez o que pediu, e viu quando ele pegou suas meias do chão e
veio até ela.
Estendendo a mão, ele agarrou seus pulsos e a seda deslizou ao
redor deles.
― Saint...
Ele abaixou sua bochecha para a dela e disse baixinho: ― Não
vou te machucar. Eu... ― Os dedos dele entrelaçaram os dela. ―
Deixe-me fazer amor contigo.
― Vai parar se eu disser?
― Imediatamente. ― Seus lábios tocaram o lugar macio abaixo de
sua orelha. Ele puxou a seda confortavelmente sobre o pulso dela.
― Sim?
A tensão estava se acumulando em seu peito, com partes iguais
de alarme e certeza. ― Sim.
Ele a amarrou na cabeceira da cama.
Quando suas mãos desceram, ele as colocou ao redor de sua
cintura.
― Puxe e poderá se libertar a qualquer momento.
Ela suava frio. ― Posso?
― Tente agora.
Ela respirou fundo. ― Não.
Suas mãos apertaram sua cintura. ― É magnífica.
― Estou esperando ― ela sussurrou.
Ele beijou seu pescoço, depois seus ombros enquanto segurava
seus seios em suas mãos e tomava cada ofego dela. Então beijou
seus seios, marcando uma jornada de provocante devoção lânguida
em sua pele. Quando a boca se fechou ao redor do mamilo, seus
dedos se fecharam ao redor da cabeceira da cama. O nó realmente
não era páreo para ela; os dentes roçaram o mamilo, ela se
contorceu e as meias se desamarraram. Mas permaneceu estendida
para ele, esperando, querendo. A dor era insuportável, a
necessidade de tê-lo tocando-a e de satisfazer o desejo era muito
grande.
Então ele fez, com a boca. Macia, quente, molhada, ele a beijou,
as mãos separando suas coxas para que ele pudesse aprofundar o
beijo. Ela não sabia disso. Ela não sabia que um homem poderia ser
tão terno. Agarrou-se à cabeceira, balançou os quadris para ele e
implorou que não parasse.
Ela estava tremendo quando a pegou nos braços na cama. Ele
tirou os sapatos e depois veio para o lado dela. Ela o observou com
os olhos semicerrados.
― É um pirata? ― Ela disse suavemente.
― Porquê? Encontrou o baú de joias e dobrões de ouro escondido
nos meus aposentos particulares?
― Onde aprendeu a amarrar esse tipo de nó?
― Eu deveria ser baleado.
― Porque roubou uma arca de joias e ouro? Então é um pirata
afinal.
Queria tocá-la, acariciar os fios de seda úmidos de sua bochecha e
traçar a curva de seu ombro.
― Está bem? ― Ele perguntou.
― Tudo bem. Fará isso de novo, em algum momento, mas sem as
meias?
― Neste momento, se quiser ― ele disse com menos firmeza do
que gostaria.
Ela sorriu, um sorriso doce em desacordo com seus olhos
desfocados. ― Eu acho que nunca poderia ter um desejo diferente
desse. ― Sua voz se acalmou. ― Mas não com os laços.
― Devo te pedir perdão?
― Não. ― Ela passou a mão pelo colchão e pelo colarinho dele.
Sob as pontas de seus dedos, o pulso dele estava acelerado. ―
Porque está vestido? Tem um encontro mais tarde, uma reunião para
traçar rituais diabólicos, talvez? Poderia ter sido tão bem sucedido
com nossas convidadas hoje à noite?
― Constance, me humilha.
Ela abriu os dedos, cinco pontos de prazer nobre em sua pele. ―
Foi cansativo fingir querer o marido de todo mundo hoje à noite. Não
sei como essas mulheres fazem isso o tempo todo.
― Elas não estão fingindo.
― Todo mundo finge. ― Ela acariciou dois dedos em seu peito. ―
Exceto você. ― Ela colocou a palma da mão sobre o coração dele.
― Gostaria de fingir que estamos casados e que deseja reivindicar
seus direitos conjugais sobre mim imediatamente. Aqui. Nesta cama.
Ele a virou de costas e a pegou em seus braços. ― Nenhum
fingimento é necessário.
Seus lábios eram acolhedores, seus braços apertados ao redor de
seus ombros e seu corpo aberto para ele. Devagar, dando-lhe prazer.
Quando ela choramingou seu nome, finalmente ele se permitiu a
liberação que precisava.
Ele acariciou uma mecha dourada de sua testa, observando-a cair
no sono.
― Obrigado por confiar em mim.
― Meu cavaleiro ― ela murmurou.

Ela acordou para luz prateada brilhando através da janela do


quarto. Ele estava lá, sentado ao pé da cama, sua pele e todos os
contornos dos músculos gloriosamente iluminados, e pensou que
devia estar sonhando.
― É de manhã?
― Não por várias horas ainda. Dormiu apenas por pouco tempo.
― O luar está brilhante, então. Não dormiu?
Ofereceu a ela um meio sorriso que se curvou dentro dela.
― Parece que não posso ― disse ele.
Ela empurrou o cabelo emaranhado dos olhos e virou de lado. ―
Lady Hughes não queria sair ontem à noite ― ela disse, observando
seu rosto.
― Eu não quero falar sobre ela. Não quero falar sobre nada disso.
― Acho que ela esperava que a convidasse para ficar ― ela disse,
porque o olhar dele era tão peculiar, ao mesmo tempo ansioso e
distante.
― Se a tivesse convidado para ficar, ela teria ficado ainda mais
feliz.
Num momento de clareza, a verdade ocorreu sobre ela. Ela se
inclinou sobre o cotovelo. ― Acha que ela e Patience Westin...
― Sim.
― Mas no Santuário, Miranda escolheu o Sr. Westin.
― A escolha é uma coisa peculiar, não é?
― Como é enigmático. Miranda também disse algo para mim
ontem sobre a escolha. Ela é paqueradora, com certeza. Mas
Patience é tão tímida. ― Ela olhou nos olhos dele e sua garganta
abruptamente se apertou. ― Saint. No Santuário, Miranda escolheu
Westin para que Patience não fosse forçada a ficar com outro
homem.
― Eu imagino que ela fez isso.
Lágrimas saltaram por trás de seus olhos. ― Ela estava
protegendo-a.
― Sim.
― Santuário... ― Ele sabia de Patience e Miranda, ou suspeitava,
mas não havia contado a ela. ― Vai compartilhar comigo sua
conversa com Sir Lorian na noite passada?
― Ele acredita que o menosprezado ― ele disse.
― Ele lhe disse isso?
― Ele está determinado a tê-la, Constance. Deve tomar cuidado
com ele.
Uma onda de pânico a invadiu. Ela lutou para se sentar, puxando
os lençóis para se cobrir. ― Diz isso como se não fosse estar aqui
para me ajudar.
― Se eu não estiver, é mais do que capaz de se defender.
― Isso não é uma resposta.
― Não fez nenhuma pergunta. ― Ele veio até ela, e sabia que
seus olhos estavam arregalados, mas não tinha vontade de
dissimular. ― Minha esposa ― ele disse, ajoelhando-se diante dela e
curvando as mãos em volta do rosto. ― Deixe-nos pelo menos uma
vez sem falar destas coisas. Deixe-nos esquecê-los completamente
por uma hora pelo menos. Pode ser? ― Ele acariciou seus lábios
suavemente com o polegar.
― Voltar para a margem da floresta ao amanhecer? ― Ela
sussurrou, e sentiu que de alguma forma ele estava dizendo adeus.
Ele a beijou.
Ela colocou os braços ao redor dele e o aproximou.
Capítulo 31

Tempo

Quando o céu começou a clarear, Saint vestiu-se, procurou


comida na cozinha, onde a cozinheira e a copeira ainda estavam
tirando o sono dos olhos e foi para as cavalariças. John Shaw estava
andando no estábulo como um homem que não dormia há dias, com
a bolsa de médico na mão.
― Bom dia, Sr. Sterling.
― Bom dia, doutor. Acabou de voltar a cidade?
― Ontem. O Lorde Advogado me mandou rever as anotações do
cirurgião da polícia que examinou o corpo da senhorita Favor.
― O senhor?
― Para uma segunda opinião sobre o assunto. E como cortesia,
acredito, para o Duque.
― Entendo.
Ele esfregou a mão sobre a testa. ― Lamento dizer que a
evidência é inconclusiva.
― De que maneira?
― Eu não posso compartilhar os detalhes contigo, é claro. Fiz o
meu melhor para dar sentido a isso, e espero que seja a sua
vantagem.
― Obrigado.
― Preciso de um café da manhã agora ou vou adormecer. Está
entrando ou saindo?
― Saindo. Mas... posso lhe fazer uma pergunta?
― Claro.
― Tem mais alguém que não seja o senhor que leia o relatório do
cirurgião?
― Não que eu saiba com certeza. Os policiais que recolheram o
corpo e os homens que a encontraram no lago devem ter visto algo
de suas feridas. Isso tudo deve ser incluído no relatório do
investigador sobre o incidente, que eu não li.
― Eu entendo. Obrigado, Dr. Shaw.
― Bom dia, Sterling. ― O médico continuou em direção à casa.
Sir Lorian Hughes poderia ter tido acesso aos relatórios das feridas
de Annie. Ou ele poderia saber delas em primeira mão.
Saint foi até à loja onde ele havia se encontrado com Constance
para a compra de um punhal e bainha para o tornozelo ― o
tornozelo ao qual agora conhecia a forma e a textura em sua boca, e
o resto do corpo dela. A loja estava fechada. Uma placa postada na
porta indicava que Ian MacMillan estaria ausente por algumas
semanas.
Hughes deve ter chegado até ele. Havia poucos ferreiros na
cidade e Saint conhecia todos eles. Não seria necessário muito ouro
para convencer um deles a mentir.
Restava-lhe pouco tempo. Ele encontraria Reeve. Iria de
carruagem até Haiknayes e enfrentaria Loch Irvine. Encurralaria
Lorian Hughes e cortaria sua garganta, se necessário, e então assim
seria realmente enforcado. Mas ela estaria segura.

Constance encontrou Dr. Shaw no café da manhã na sala de jantar


e seu coração disparou.
― Não sabia que havia voltado para a cidade. Meu pai veio
também? Ele tem notícias?
― Não. Só eu fui chamado. ― Ele contou-lhe sobre seu propósito
em Edimburgo. ― Constance, não sei qual conclusão tirar disso.
Mas acho que deveria saber, as feridas de faca no corpo da
senhorita Favor não coincidem com qualquer coisa que sabemos das
jovens que desapareceram no ano passado, exceto uma em
particular. Ela foi esfaqueada de maneira peculiar, mas de tal forma
que a lâmina cortou a artéria que leva ao coração. Mas a bochecha
dela também tinha uma marca. Assemelha-se muito a um dos três
detalhes do símbolo da estrela desenhado com giz no casaco da
senhorita Favor e no manto da senhorita Poultney.
― Que detalhe?
― A língua do fogo.
― O Lorde Advogado acredita que a morte da Srta. Favor está
ligada aos sequestros?
― Ele ainda não voltou para Edimburgo. Vou enviar-lhe as minhas
observações amanhã. ― Ele pegou uma das mãos dela entre as
suas. ― Constance, não acredito que o Sr. Sterling seja capaz de tal
ato. Se perguntado, apoiarei qualquer teoria que lance fora dele a
culpa por este terrível ato.
Ela apertou a mão dele. ― Libby veio com o senhor?
― Não. Ela está muito perto da idade das vítimas. Permanecerá
no castelo até que esse mistério seja resolvido. ― Deixando-o,
Constance foi procurar Eliza.
― Levarei um lacaio ― ela disse quando sua acompanhante se
opôs ao seu destino. ― Preciso falar com ela.
― Seria melhor falar com Loch Irvine.
― Até que ele retorne, ou até que eu vá para Haiknayes, não
posso fazer isso. ― Ela deveria tê-lo confrontado semanas atrás,
depois de sua festa. Mas não sabia como. Nada em sua vida lhe
demostrara que o confronto direto resolvia qualquer coisa, nada até
que o homem com quem se casara lhe demostrara isso.
Na casa dos Hughes, ela e Eliza foram acomodadas numa sala
vazia. Sir Lorian apareceu, sorrindo quando seus olhos a
examinaram.
― Estou muito feliz em vê-la, milady.
― Lady Hughes está?
― Não está, mas suspeito que ficará feliz em conversar comigo,
quando souber quais notícias tenho para compartilhar.
― Notícias?
― Somente para seus ouvidos, milady.
― Eliza ― ela disse ― por favor, vá ao foyer.
― Deixarei a porta aberta. ― Eliza partiu.
― Venha ― disse ele, movendo-se para um sofá. ― Nós
estaremos muito mais confortáveis aqui. ― A porta permaneceu
aberta. Ela sentou-se e ele ao lado dela.
― O que quer me dizer, Sir? ― Ela não flertaria mais para
alcançar seus objetivos.
O sorriso de Sir Lorian chegou apenas até a boca. ― Falei com
seu marido ontem à noite. Fico feliz em dizer que ele não atrapalhará
nosso caso. ― Ele passou a ponta do dedo pelo pulso dela.
Ela afastou o braço. ― Nós não estamos tendo um caso.
― Então duvida de sua aprovação.
― Eu não duvido disso. Eu simplesmente não acredito nem um
pouco nisso.
― Garanto-lhe que o interesse dele está noutro lugar. Sabe que
ele comprou uma casa não muito longe de Tantallon?
Ela se levantou, mas ele segurou seu pulso. ― É uma pequena
casa numa aldeia remota ― ele disse. ― Ideal para evitar ser
descoberto.
Ela se afastou para longe. ― Sir Lorian, flertei com o senhor no
passado porque queria entrar na sociedade secreta. Foi um erro ter
feito isso, e me arrependo. Bom dia.
Constance foi em direção à porta.
― Querida Lady, sua certeza na fidelidade do seu marido me
decepciona ― disse preguiçosamente. ― Eu pensei que fosse mais
inteligente. Mas se não acreditar na verdade que lhe contei, acredite:
tenho provas de que ele empunhou a faca que pôs fim à vida de
Annie Favor.
― O senhor não tem.
― Eu tenho a faca sim. E testemunhas da sua ação. ― Ele se
sentou de pernas cruzadas, o braço esticado sobre as costas do
sofá.
― Inventaria isso e condenaria um inocente à morte para que eu
me deitasse com o senhor?
― Não inventei a culpa do seu marido. ― Seus dedos acariciaram
a moldura de madeira esculpida do sofá. ― Eu simplesmente
descobri isso.
― Eu não acredito no senhor.
― Milady ― disse Eliza no limiar. ― Venha agora.
― Se acredita em mim ou não, isso é irrelevante agora, não é? ―
Ele disse. ― Gostaria de ver a faca? Falar com as testemunhas?
Antes de eu levá-las para a polícia, é isso?
Eliza se adiantou. ― Constance...
― O que quer? ― Ela disse. ― Diga-me exatamente.
― Uma noite.
― Uma noite?
― Uma única noite. E sua total conformidade.
― Onde está Chloe Edwards?
Suas sobrancelhas se levantaram. ― Quem?
― A conhece. Vi o senhor falando com ela na festa do Duque de
Loch Irvine.
― Minha querida ― disse ele, levantando-se e movendo-se em
direção a ela. ― Não consigo lembrar do nome de todas as mulheres
com quem falo em festas.
― Sabe onde ela está. Sabe quem matou a senhorita Favor, eu
sei. No entanto, ataca meu marido. Por que está fazendo isso?
Ele sorriu. ― Eu preciso de você.
Ela se afastou e saiu.
No caminho para casa, Eliza juntou os braços dela, abraçou-a e
sussurrou maldições misturadas com palavras destinadas a acalmar.
Mas era tarde demais para ambos.

Haiknayes Castle Rose de era uma enorme torre de pedra rosa


escura do lado de uma colina a pouco mais de trinta quilômetros ao
sul de Edimburgo. Saint chegou quando o sol mergulhava abaixo das
montanhas, para saber que o Lorde de Haiknayes estava ausente, a
fortaleza fechada. Inexpugnável. O único pastor que encontrou não
sabia nada sobre quaisquer visitas recentes ao ducado: pensava que
o Duque estava na cidade.
Saint não o havia encontrado em Leith no início do dia, e ninguém
na aldeia perto de sua casa na cidade tinha algo de útil para
compartilhar. Uma jovem disse ter visto um homem bem vestido, com
um capuz sobre a cabeça, entrar na casa do Duque na semana
anterior. Mas quando Saint lhe pediu detalhes, sua mãe exigiu saber
seu nome, então ela afastou a filha com medo em seus olhos.
A ameaça de Sir Lorian não era vazia. Os jornais estavam cheios
de especulação há semanas e estampavam seu nome. O povo de
Edimburgo temia por suas filhas. Nenhum outro homem fora
acusado. Eles precisavam de um vilão para enforcar.
Ele cavalgou rápido e voltou para a cidade com o brilho da lua
minguante. Depois de acomodar seu cavalo, entrou numa casa
silenciosamente iluminada apenas por duas lamparinas, uma no
vestíbulo traseiro, onde deixara as botas sujas de viagem, e outra na
mesa ao lado da porta do seu quarto. Dentro do quarto, um fogo
crepitava. Pelo brilho, viu Constance se erguer da cama e se
aproximar, vestida com uma camisola de tom fantasmagórico. Sem
palavras, ela passou os braços pelo seu pescoço e ergueu os lábios
para os dele.
Ele a abraçou, saboreando o calor e a doçura dela, respirando-a.
Ela pressionou seu corpo contra o dele e deslizou a mão pelo seu
peito até a cintura. Seus dedos abriram rapidamente os botões do
casaco, depois o colete, e a mão dela deslizou por baixo da camisa.
― Tocá-lo assim, me desperta. ― Sua palma esculpiu um caminho
de necessidades através de sua carne. ― Estou com fome de ti. ―
Ele tirou o lenço do seu pescoço, sua camisa e a tomou em seus
braços.
― Cheira vagamente a cavalo ― ela disse contra seu ombro
enquanto suas mãos se esparramavam sobre ele.
― Insistirá em me dar banho de novo? ― Ele abaixou a cabeça e
pegou o pescoço dela com a boca.
Seus dedos se contorceram em seu músculo.
― Não. Não há tempo para isso. ― Ela se afastou e foi para a
cama. Virando-se de costas para ele, puxou a roupa sobre a cabeça,
largou-a no chão e olhou por cima do ombro. ― Venha agora ― ela
disse.
A paralisia tomou conta dele e só pôde olhá-la. Ela era dele. Essa
mulher com os quadris arredondados e braços fortes e delgados,
cabelos dourados caindo na cintura. A jovem apaixonada, destemida
e tenaz com a qual sonhou durante anos, de pé ao lado de sua
cama, acenando para ele.
Então ela subiu no colchão de quatro e se abaixou até o
estômago.
― Tome-me assim ― ela disse tão baixinho que ele mal ouviu.
Enrolando os braços dobrados sob a cabeça, ela colocou o queixo
para baixo, tocando o colchão. Preparando-se. Protegendo a si
mesma. As cicatrizes brilhavam escuras em sua pele e seu corpo
estava dobrado como um arco do qual ela era tão destra.
Ele lutou contra a onda de sentimento que se agarrou em seu peito
e subiu para sua garganta. Movendo-se para a cama, ele soltou suas
calças.
― Vire-se, Constance.
Ela olhou para ele.
― Mas eu...
― Eu não a quero assim. Não essa noite ― disse ele. ― Esta
noite quero suas mãos em mim. Suas pernas ao redor da minha
cintura. Seus lábios nos meus. Seu nariz sensível enterrado no meu
pescoço. Seus olhos cheios de luz quando encontrar seu prazer.
Esta noite eu quero tudo de você.
Ela se virou e subiu em cima dele. Suas mãos eram urgentes,
empurrando suas calças o suficiente para que ela pudesse se guiar
em seu pênis. Ele a deitou de costas e se afundou nela. Segurando-
o com força, ela empurrou os quadris, empurrando-o mais fundo, e
ela era toda uma beleza luxuriosa, necessitada e apertada.
E então, abruptamente, ela se acalmou. Com os olhos bem
fechados, os dedos cravaram-se nos braços dele.
― Saint ― ela sussurrou.
Seu coração se torceu. Ele queria tudo dela, de uma vez e para
sempre.
― Está preocupada com o atrito minha roupa de novo, não é? ―
Ele murmurou.
Seus olhos se abriram.
― Bem, se vai ter o hábito de me arrebatar antes de estar
completamente despido ― ela disse, forçando um sorriso aos lábios.
― Eu receio que terá que se acostumar com queimadura de lã.
Risos se derramavam dela, ricos e livres. Suas mãos alisaram
sobre seus ombros. ― Ferimentos de batalha que suportarei feliz. ―
Seus olhos brilhavam na escuridão.
Depois disso, ele descobriu que não podia falar. Nenhum deles
falou. Havia muito poucas horas até o amanhecer e muitas palavras
a serem ditas.
Capítulo 32

Dia de Corajoso

L
― evante-se!
Constance se virou, empurrou o cabelo do rosto e fechou os olhos
novamente.
― Só uma vez eu gostaria de acordar com meu marido ainda na
minha cama. ― Ela suspirou, sorrindo.
― Há um homem aqui insistindo em vê-la ou a seu pai
imediatamente. ― Eliza correu as cobertas e jogou um olhar para
ela. ― E eu particularmente não quero ouvir os detalhes de suas
intimidades de casada.
Os vestígios de suas intimidades sentidas eram deliciosamente
perversos em sua pele. Mas sem sangue. Nunca sangue.
― Há uma mordida de amor em seu peito!
― Uma o quê? ― Ela olhou para baixo.
― E outra no seu pescoço. Cubra-as neste instante. ― Eliza
marchou para o quarto de vestir. ― Com sua seda azul, com a gola
alta.
Constance se banhou, se vestiu e desceu até seu interlocutor. Ele
estava longe das janelas, segurando o chapéu diante dele
desconfortavelmente.
― Milady. ― Ele olhou além do ombro dela. ― Sua graça não está
recebendo?
― Meu pai está no campo. Como posso ajudá-lo?
― Meu nome é Ferguson. Eu sou um funcionário do Lorde
Advogado. Tenho notícias que ele deseja compartilhar com o Duque
antes que se torne público.
― Por favor, compartilhe comigo, Sr. Ferguson ― ela disse, como
se o mundo inteiro não estivesse girando sobre ela agora ― farei
com que meu pai saiba imediatamente.
Seus braços caíram para os lados. ― Uma forte evidência foi
levantada contra o Sr. Sterling que o coloca no local do
desaparecimento de Annie Favor. Além disso, uma arma foi
descoberta no lago onde o corpo foi encontrado. Foi comprada pelo
seu marido no dia do assassinato. O Lorde Advogado me pediu que
expressasse à Sua Graça e a senhora que ele gostaria que fosse de
outra forma, mas que amanhã, quando retornar a Edimburgo, será
obrigado a indiciar o Sr. Sterling pelo assassinato da Srta. Favor,
com um julgamento público a ser feito. Realizado assim que um juiz
possa ser determinado.
― Obrigada, Sr. Ferguson. Trasmitirei essa informação ao meu
pai. Somos gratos pela consideração do Lorde Advogado de nos
informar primeiro. ― Permitindo a tempo que o genro do Duque
desaparecesse. ― Bom dia. ― Ela o viu sair.
Lorde Michaels estava na base da escada, com o rosto austero.
― Bom Deus ― disse ele trêmulo. ― Ele não fez isso, Constance.
Deve saber que ele não fez.
― Claro que ele não fez. Ele vai, não é? Vai fugir?
― Não. Meu Deus, não. Ele vai ser julgado e insistir em sua
inocência até o momento em que eles puxem o banquinho debaixo
de seus pés. ― Ele foi até a porta. ― Vou encontrá-lo, falar com ele,
dizer para pegar aquele pacote de dinheiro que Tor deixou e comprar
uma passagem rápida para algum lugar seguro até que o verdadeiro
vilão possa ser encontrado.
― Pacote de dinheiro?
Ele se virou para ela. ― Ele não lhe contou?
Ela balançou a cabeça. ― Encontre-o rapidamente. Implore para
ele partir. Não tem muito tempo.
Ele saiu e ela foi até o salão privado. Sentando-se à escrivaninha,
ela colocou uma folha de papel diante dela e pegou o canivete. A
ponta do dedo dela traçou a lâmina. Depois, encostou-a na pena de
ganso e cortou uma ponta perfeita.
Saint passou a manhã em busca na cidade antiga, tentando
rastrear a partida de Ian MacMillan de Edimburgo, sem sucesso. Por
fim, contratou um cavaleiro, colocou uma carta em sua mão com um
guiné e instruiu-o a ir depressa ao Castelo Read, prometendo outra
moeda de ouro no seu retorno.
Ele voltou para a casa quando Aitken estava colocando dois
envelopes numa bandeja de prata.
― Senhor, estes acabaram de chegar, separadamente ― disse o
mordomo, se referindo às notas, uma que tinha apenas seu nome. ―
Devo levar este para seu quarto?
― Lerei os dois.
O primeiro era um convite para o Santuário do Mestre esta noite.
Se eles respondessem com uma aceitação ao menino que viria em
busca de sua resposta ao entardecer, seriam encontrados
novamente no moinho de pimenta.
O outro era de Miranda Hughes, escrito sem cautela. Implorava a
companhia dele para um passeio no parque o mais cedo possível.
― O pajem de Lady Hughes está lá fora, senhor, esperando por
uma resposta ― Aitken proferiu.
Saint encontrou o menino sentado na varanda. Ela não o instruiu a
guardar segredo ou mesmo sutileza. O rapaz saltou.
― Diga à sua dama que eu a esperarei no parque. ― O menino
saiu correndo. Saint olhou para as janelas acima. Então se virou e se
dirigiu ao parque.

Lady Hughes veio até ele rapidamente ao longo do caminho. O


céu estava nublado e as cores nos canteiros de flores de ambos os
lados eram sombras de brilho.
― Caro Sr. Sterling ― ela disse, segurando as mãos dele. ― É
bom demais por me encontrar rapidamente.
Ele colou a mão dela em seu braço. Fofocas sobre eles já
abundavam. Mas o aperto desesperado de seus dedos enluvados
lhe disse que precisava de segurança.
― Como posso ajudá-la, Miranda?
Ela apertou o braço dele. ― Sabe, ele não me chama pelo meu
nome. Ele nunca fez isso. Sob aquele sorriso encantador, ele é
cruelmente frio, mesmo quando ele... ― Sua voz mergulhou. ―
Sabe... Eu estou engordando. Espero que não seja o filho dele que
eu espero. Eu quero amá-lo.
― Estará livre dele em breve. E amará o seu filho. ― Como a mãe
dele, apesar do homem que tinha sido o pai de seus filhos.
― É muito gentil comigo. ― Ela baixou a cabeça. ― Eu não
mereço isso.
― Todo mundo merece gentileza. Agora, me diga a razão pela
qual desejou me ver.
― Acho que sei onde está a Srta. Edwards.
Ele parou. ― Sabe que eu tenho procurado por ela?
― Lorde Michaels me visitou semanas atrás sugerindo que Lorian
poderia saber algo sobre o paradeiro dela. Ele os viu falando numa
festa. Lorian negou. Mas na noite do último encontro no Santuário,
quando me dirigia para o quarto que eu sempre vou depois que o
Mestre me solta, a porta estava trancada. Nunca havia sido trancada
antes, nem numa dúzia de reuniões. Eu mencionei isso para Lorian e
ele disse que Loch Irvine deveria ter outro uso para o quarto. Mas ele
sorriu, como se soubesse.
― Acredita que a Srta. Edwards está sendo mantida nesse
quarto?
― Lorian não é um bom homem, mas nunca pensei que fosse um
monstro. Uma reunião do Santuário foi convocada para esta noite e
talvez... Eu sei que não deseja comparecer novamente, mas deve
fazer uma exceção hoje à noite. Depois que o Mestre escolher, vou
levá-lo para o quarto com a porta trancada.
Ele assentiu.
― Constance vai se importar?
― Ela não vai estar lá.
― Ela deve comparecer. O Sr. Reeve não vai admitir que vá
sozinho.
― Não importa. Sei que o Santuário se encontra na casa de Loch
Irvine.
― Quão inteligente é.
― Eu não preciso esperar pelo Reeve hoje à noite. Eu irei assim
que a noite cair.
― Então chegarei cedo também, e se o Sr. Reeve estiver lá, vou
tentar distraí-lo. ― Seus lábios rosados lhe ofereceram um sorriso.
― Estou com ciúme da sua esposa. Se não fosse pela minha
Patience, acho que odiaria Constance pelo que ela tem.

Quando Saint voltou para casa, Constance já havia recebido a


resposta de Sir Lorian.
Dylan saltou da cadeira. ― Droga, onde esteve? O tenho
procurado por toda a cidade.
― Parece-me que está descansando no chá com uma bela
mulher, na verdade. Boa tarde, esposa ― ele disse, pousando a mão
no peito e fingindo endireitar a lapela do casaco que não precisava
ser endireitado.
― Lady Easterberry acabou de me visitar. Ela o viu no parque com
Lady Hughes e estava ansiosa para me informar. Como está Miranda
hoje?
― Bem o suficiente. ― Seus olhos estavam quentes. Como o
ladino que era antes de se casarem, e não se barbeara hoje, e ela
queria passar a ponta dos dedos por sua mandíbula e sentir tudo o
que ele sempre a fazia sentir. ― E você? ― Ele disse.
Ela soltou o casaco e foi se sentar diante da mesa de chá.
Distância era melhor. Novamente.
― O Lorde Advogado disse que será indiciado amanhã. Dylan e
eu achamos que deveria sair da Escócia. Idealmente, fora da Grã-
Bretanha. Chá?
― Entendo. ― Ele se sentou ao lado dela, mas não aceitou a
xicara que ela ofereceu.
Lorde Michaels sentou-se na beira de uma cadeira e agarrou as
mãos.
― Tem que fugir, Saint ― ele disse. ― Passeie. Veleje. O que
precisar. Apenas se esconda. Talvez na França. Fala francês assim
como sua mãe e Banneret. Ou talvez atravessar o mar. Martinica, eu
diria. Ou alguma ilha espanhola, se quiser. Ninguém pensará em
procurá-lo por lá. Então, quando tudo isso acabar, avisaremos.
― Não vou embora ― ele disse.
― Sabia que diria isso. Então eu inventei um suborno. Se sair
agora, quando voltar, vou lhe dar Harwood.
Saint riu. ― Eu não quero a sua casa, Dylan.
― É somente um contrato, é claro, eu não posso realmente lhe dar
a casa. Mas poderá usá-la indefinidamente. Disse tantas vezes que
gostava dela. Eu sei que tem aquela mansão em Devon agora, mas
todo esse carvão. ― Ele franziu o cenho. ― O castelo de Read é
mais impressionante, verdade, mas Harwood está em Kent, mais na
moda. De qualquer forma, o castelo será um dia de Blackwood...
― Constance, eu escrevi para seu pai e pedi-lhe para voltar para a
cidade. Contei-lhe sobre o Santuário e nossa pretensão com Hughes
e os outros. Espero que me perdoe por fazer isso sem a sua
aprovação. Eu senti que a pressa era essencial.
― Enviei uma carta para ele há uma hora atrás. Parece que
estamos de acordo. Neste assunto. Não quer ir, por favor?
― Há uma reunião hoje à noite em que eu poderia conseguir saber
a localização da Srta. Edwards.
― Bom Deus! ― Dylan exclamou. ― Então não deve ir ainda! Não
até depois da reunião, na qual o acompanharei, claro.
Constance encolheu seu pânico. ― Sim, leve seu primo contigo.
― E deixe-a sozinha para encontrar Sir Lorian sem detecção.
― Não há certezas.
Saint a olhou com cuidado. Então pegou a mão dela.
― Dylan, permita-nos um momento a sós, sim? ― Ele disse.
O Barão olhou com para Saint e depois para ela. ― Certo! Claro.
― Ele assentiu e saiu.
― Se a reunião desta noite não der fruto ― Saint disse, com os
dedos em seu redor ― peço-lhe que volte ao castelo. Shaw está lá e
seu arsenal de arco e flechas e espadas ― ele disse com um leve
sorriso. ― Ou vá até seu primo em Alvamoor. Embora eu ficasse feliz
em me esconder até que o assassino seja descoberto, não sairei de
Edimburgo enquanto a ameaça persistir aqui.
― Não estou sob ameaça. As vítimas foram...
― Eu não confio em Hughes e ele deixou seus desejos claros. Por
favor, Constance. Você vai?
― Sim. Mas só contigo. Neste exato momento.
― Eu não posso. Mesmo se eu quisesse, eles iriam por mim até
lá.
― Está correto, claro. Deve ir à sua reunião hoje à noite e
encontrá-la. ― Ela retirou a mão. ― Amanhã, após a acusação,
deixarei Edimburgo.
Depois de um momento de silêncio, ele disse: ― Está mentindo
para mim.
Ela levantou. ― Não preciso te contar a verdade. Por que não me
contou sobre o legado de seu irmão? Por que me escondeu o
segredo de Miranda e Patience? Depois de amanhã terá ido embora.
Eu não preciso compartilhar nada contigo, se não me convier. ― Sua
garganta estava despida. Ela foi para a porta.
― Constance, pare.
Ela virou a cabeça e ele estava de pé onde ela o havia deixado.
― Não faça isso ― ele disse, sua voz áspera. ― Eu não posso...
— Ele cobriu o rosto com a mão e respirou com dificuldade. Ele
deixou cair o braço. ― Não. Eu lhe imploro. Confie em mim, mesmo
que seja só por hoje à noite.
Seus dedos se fecharam na moldura da porta. ― Qual é o seu
motivo na reunião?
― Fomos convidados ao Santuário. Lady Hughes acredita que
Chloe Edwards está na casa de Loch Irvine.
― Na casa?
― Quando a noite cair, Dylan e eu iremos para lá.
― Não vai esperar pela meia-noite. Isso é sensato. Mas como
espera entrar sem o consentimento do Sr. Reeve? Talvez deva
carregar um dos meus grampos de cabelo. ― Ela forçou um sorriso,
mas ele não o devolveu.
― Não está insistindo em nos acompanhar. ― Suas mãos se
fecharam ao lado do corpo. ― O que planejou?
― Eu não posso te dizer. Não vai...
Ele cruzou a sala em três passos rápidos até ela, agarrou seus
ombros e tomou sua boca embaixo da dele. Então seus braços
estavam envolvendo-a, seus dedos afundando em seu cabelo, seus
lábios reivindicando os dela de novo e de novo. Ela colocou os
braços ao redor dele.
Sua mão se curvou ao redor de seu rosto quando ele levantou os
lábios dos dela.
― Se eu pudesse, ficaria aqui beijando-a até que esta noite
terminasse, eu não posso ― disse ele duramente. ― Não faça isso
comigo, Constance. Por favor.
― Eu prometi-lhe uma noite.
Seu peito arfava, seus olhos brilhantes procurando os dela. ―
Uma noite?
― Em troca de sua segurança.
Agora ele parecia não respirar.
― Ele prometeu me dar a faca e uma carta como prova de sua
inocência ― disse ela. ― Eu gostaria que fosse diferente. Claro que
eu queria. Mas...
― Me contou. Acabou de me contar seu plano.
― Não é meu plano. É dele. É o único jeito de... ― Ela se afastou
dele. ― Por que sorri? Diverte-o que eu...
― Sorrir? Eu poderia cantar. ― Suas duas mãos vieram ao redor
do rosto dela e ele proferiu sobre seus lábios: ― Você me disse.
― Eu acho que é o único de nós que é louco depois de tudo ―
disse ela, abraçando sua cintura. ― Eu não sei porque estou
tentando salvá-lo.
― Porque eu sou charmoso, sem dúvida. ― Ele a beijou. ―
Esposa. ― Ele a beijou novamente. ― Nós faremos isso juntos. ― E
novamente. ― De acordo?
― Sim. ― Suas mãos sobre ele tremiam, mas ela não podia fazer
nada quanto a isso. Ele estava beijando seu pescoço agora, suas
mãos descendo pelas costas para atraí-la para ele. ― Eu já lhe disse
que me encontrarei com ele.
― Eu suponho que não mencionou a adaga que estará usando ou
a sombrinha que estará carregando ― disse ele contra sua clavícula.
― Não. ― Ela se esticou para permitir que ele fizesse um rastro
de beijos ao longo de sua garganta.
― Nem que pretende usá-las nele.
― Não que seja preciso, naturalmente. ― Ela enfiou os dedos em
seu cabelo. ― Fiquei terrivelmente aliviada quando vi as nuvens de
chuva se formando esta tarde. Realmente não é comum carregar
uma sombrinha à noite, mas a chuva me permitirá isso.
― Meu Deus, como eu a quero.
― Porque prometi uma noite com outro homem ou porque
pretendo mutilá-lo? ― Ela riu, mas os olhos dele ficaram sérios.
Gentilmente ele acariciou a ponta do polegar sobre a bochecha
dela. ― Não está com medo.
― Meu mestre me ensinou bem. Estou pronta para esta batalha.
― Ela pensou que ele deveria ser capaz de ver o terror sob sua pele
pressionando para sair. Mas ele apenas levou suas mãos aos lábios
e beijou-as suavemente.
― Precisamos trazer seu primo para planejarmos ― ela disse e se
afastou para chamar Lorde Michaels.
Capítulo 33

Afundado na Noite Hedionda

Constance foi obrigada a convencer o marido de que, se ele


matasse imediatamente Sir Lorian Hughes em sua sala de visita, não
apenas convenceria a todos que este não havia eliminado Annie
Favor, mas também seria enforcado pelo assassinato de um homem.
― Nós vamos eliminá-lo mais tarde, primo, depois que estiver livre
desta armadilha ― Lorde Michaels disse, pulando na ponta dos pés.
― Isso vai ensiná-lo a não bater de frente com homens como nós.
Todos concordaram que ela não deveria acompanhá-los ao
Santuário. Se Lorian soubesse disso, poderia cancelar seu encontro.
Em vez disso, ao retornarem, iriam espreitar seu encontro com
Lorian e, uma vez que ele tivesse dado a ela o que procuravam, eles
o confrontariam. E no caso dela precisar de ajuda, estariam por
perto. Não era um plano ideal, mas tinha a vantagem da
simplicidade.
Na porta, Saint pegou sua mão, mas não disse nada, e ela o
soltou. Através da janela, ela os viu entrar na escuridão encobertos
pela chuva.
Uma hora se passou e outra, durante a qual seu coração pulava
ao som de cada batida de pé na rua. Os minutos se estenderam.
Eles estavam fora há muito tempo.
Ela escreveu cartas ao investigador da polícia e ao Lorde
Advogado e as entregou a Aitken com a instrução de que, se não
voltasse para casa, ele as entregasse na manhã seguinte. Então
escreveu uma breve mensagem para seu pai. Quando o relógio na
sala bateu a hora, ela pediu seu cavalo. Vestindo o manto, puxou o
capuz sobre o cabelo, pegou a sombrinha e saiu para a noite.
Dylan se escondeu no estábulo do outro lado da casa de Loch
Irvine, enquanto Saint passava pela chuva até a porta dos fundos.
Quando ele se aproximou, Miranda a abriu.
― Ah, chegou! ― Ela exclamou com um suspiro de alívio. ― Eu o
vi da janela. ― Ela o conduziu ao foyer que estava escuro e fechou a
porta. ― Sr. Reeve está no andar de cima. Nós temos de ser
rápidos...
― Nunca se espera que sejam os de boa aparência ― disse
Westin atrás dele.
A mão de Saint foi para sua espada. Ele atacou e Westin gritou.
Miranda gritou. Reeve apareceu das sombras e a lâmina de Saint
novamente se conectou com algo.
Então o mundo se despedaçou.

Uma carruagem com uma única lamparina parou diante da entrada


dos jardins reais. Vazio da realeza no momento, o palácio estava
fechado, mas os jardins estavam cheios de flores de verão. Nuvens
obscureciam a lua e as estrelas, e a chuva caía de leve agora
enquanto Constance observava Sir Lorian descer do veículo. Ele
usava um manto preto até os tornozelos e o lenço do pescoço
também era preto.
Ela desmontou, amarrou Elfhame sob o abrigo de uma treliça que
a abrigasse.
― Milady ― disse ele, avançando ― quão rápida foi. Eu esperava
que renegasse, ou pelo menos trouxesse uma acompanhante. ― Ele
sorriu como se tivesse dito algo divertido.
― Me dê a faca e as cartas. Agora. Ou não entrarei na carruagem.
― Está sozinha. ― Seus olhos estavam preguiçosos. ― Se eu
quiser que entre na minha carruagem, entrará. Mas eu tenho suas
cartas. ― Ele tirou dois envelopes. ― Deseja lê-las agora?
Enfiando a sombrinha debaixo do braço, ela abriu as cartas. A
primeira, escrita pela mesma mão do convite para as reuniões do
Mestre, declarava que ele, Lorian Hughes, por engano fez uma
acusação contra Frederick Evan Sterling em relação ao assassinato
de Annie Favor, e que agora retirava a acusação sem qualquer
prejuízo. A segunda carta, escrita com a mão rude e cuidadosa,
afirmava que o ferreiro Ian MacMillan não havia vendido nem
emprestado nenhuma lâmina ao Sr. Sterling, exceto a venda de um
único punhal com alça de marfim e bainha de couro, e a data em que
ele fizera isso e acreditava que o Sr. Sterling era um homem honesto
e temente a Deus. A carta não dizia nada do cabo da espada da
sombrinha, e ela só podia deduzir que o Sr. MacMillan não tivesse
contado a Sir Lorian sobre isso. Talvez Lorian o tivesse chantageado.
Talvez a omissão na carta fosse como a espada em si, uma arma
escondida que o ferreiro havia dado a Saint como um pedido de
desculpas por traí-lo.
Ambas as cartas estavam assinadas e datadas.
Dobrando os papéis, ela se virou e entrou no jardim. Quando ela
se voltou para a entrada, Sir Lorian estava sorrindo.
― Realmente não confia em mim ― disse ele. ― É definitivamente
deliciosa.
― Procure o tempo que quiser por aquelas cartas. Não as
encontrará.
Ele chegou perto.
― Escondeu as cartas nesses jardins, milady? E aqui eu estive a
imaginando tão... ― Ele passou a ponta do dedo sobre o seio dela.
― Bem.
― Dê-me a faca.
Sua testa arenosa se elevou. ― Ainda não. Tenho planos para
essa faca hoje à noite. ― Ele se moveu em direção à carruagem. ―
Mas eu mantenho minhas promessas. A terá pela manhã.
Seus pés eram blocos de pedra no caminho.
― Você matou Annie Favor.
Ele olhou para ela. ― Claro que não. Ela mudou de ideia no último
momento. Eu estava instruindo-a quando ela tropeçou e
acidentalmente caiu na lâmina. Agora não tenha medo. Se fizer
exatamente como eu instruir, só sentirá uma pequena picada. ― Ele
gesticulou para dentro da carruagem. ― Agora venha.
A chuva caia sobre eles e ela estava sozinha. Em seu bilhete para
o pai lhe dissera onde encontrar as cartas. Mas Saint sabia onde ela
estava agora. Quanto mais tempo ela demorasse aqui, melhor.
― No último momento? ― Ela disse.
Ele sorriu pacientemente. ― Antes do ritual.
― Que ritual?
― O ritual do equinócio, é claro.
― Está louco?
― Não. Eu sou um homem de fé, e seu marido e Lorde Michaels
não virão agora. ― Seus dedos deslizaram para o cabo da
sombrinha.
― Minha esposa é uma coisa bonita ― continuou ele ― mas é
surpreendentemente transparente. Ao contrário de você. ― Ele se
voltou para ela e olhou fixamente em seus olhos. ― Azul. Tão azul,
como o mar, mesmo nesta chuva miserável. No momento em que vi
seus olhos, percebi que a providência a tinha colocado no meu
caminho. Eu a estava procurando, sabe. E então apareceu em
Edimburgo com seus olhos azuis. Perfeitos. ― Ele colocou um dedo
enluvado sob o queixo dela. ― Agora veio aqui por sua própria
vontade, suspeitando de mim com todos os tipos de maldade. E
ainda assim veio. Realmente, é mais notável do que os créditos que
Styles lhe deu. Mas ele é um amador, afinal de contas.
― Um amador em quê?
― Acabaram-se as perguntas. A hora avança e não devemos nos
atrasar. ― Voltou-se novamente para a carruagem. A lâmina se
soltou do cabo da sombrinha e cortou seu pulso com uma velocidade
silenciosa.
Ele gritou e girou, arrancando uma faca do cinto.
― Essa faca deve permanecer purificada até o ritual ― ele disse
furiosamente. ― Mas vou usá-la agora, se não deixar isso cair.
Ela agarrou o cabo familiar, mediu a distância entre eles, sua
postura, o terreno e sorriu.
― Faça-o.
Saint acordou com uma dor pulsante na cabeça e uma mulher
gritando.
― Prometeu que não iria machucá-lo! ― A voz de Patience Westin
atravessou seu crânio.
― Por que se importa? ― O murmúrio de Westin era fraco.
― Ele é um homem inocente, Robert.
― Não é o que Hughes diz. Deus, droga, o filho do diabo quase
cortou minha mão. Reeve, traga-me um torniquete.
― Meu marido é um mentiroso ― Miranda se aproximou.
Saint abriu os olhos para Miranda ajoelhada nas sombras da
escuridão, o rosto manchado de lágrimas.
― Oh, o céu é misericordioso! Eu temia que nunca mais
acordasse. Sinto muito. Eu sinto muitíssimo. Eu não fazia ideia que
eles estavam ali.
Ele flexionou os ombros apertados e a corda presa nos seus
pulsos. Ele estava sentado contra uma parede, com os pulsos e os
tornozelos amarrados com tiras de couro.
― Não se mova, Sterling. ― Westin se inclinou. ― Eu tenho sua
espada. Reeve é um tolo estúpido, deixando-o entrar com ela, pelo
amor de Deus. Se eu estivesse preparado para isso...
― Teria se molhado mesmo assim? ― Perguntou Patience.
― Fique quieta.
― Se prometer não lutar contra eles ― disse Miranda, estendendo
a mão para o pulso de Saint ― eu posso desamarrá-lo... ― O punho
de Westin girou num soco. Ela caiu de lado.
Patience saltou sobre ele.
― Não toque nela! ― Ele soltou os braços para os lados.
― Olha o que fez, Sterling. Despertou a gata. ― Ele olhou para
Miranda deitada imóvel. ― Bem, vou pagar por isso. Lorian não vai
gostar de uma contusão no seu rosto.
O corpo de Patience relaxou enquanto olhava para Miranda.
― Eu sinto muito, Sr. Sterling ― disse ela. ― Era bom demais
para ser verdade, não era? Mas sinto muito por envolve-lo nisso.
Não vai machucá-lo, vai, Robert?
― Bem, o que imagina que eu faria, sua idiota? Eu não sou Lorian
para fazer um ritual de noite inteira, sou? Reeve ficará com ele, de
qualquer maneira, depois que enfaixar aquele olho. Fez mal, Sterling,
assassinando aquela jovem.
― Onde está Hughes? ― Saint disse através do pântano de
nuvens e dor em sua cabeça.
― No ritual, é claro.
Saint piscou com dificuldade. Tentou focar. ― Ritual?
― O ritual do solstício. Ela não te contou?
― Não é solstício ainda.
Westin riu. ― Lorian se apressou. Com o seu julgamento a
qualquer momento agora, eu imagino que ele queria a garantia que
sua esposa ainda estivesse na cidade. Está de olho nela há
semanas, embora eu ache que ele imaginou que ela ficaria mais
entusiasmada com isso. Agora se acalme, Patience. Eu preciso de
uma bebida.
― Não. ― Ela lutou contra ele. ― Deixe-me vê-la.
― Droga, maldita felina. Quer que eu te nocauteie também?
Ela torceu a cabeça e mordeu-o no queixo.
― Maldita seja! ― Ele a empurrou para longe e agarrou seu rosto.
― Tirou um pedaço de mim, gata?
― Farei muito pior se não me ajudar com ela.
Juntos, eles içaram a forma inerte de Miranda do chão.
― Reeve vai entrar em breve ― disse Westin. ― Boa sorte com
seu julgamento. E não se preocupe com o ritual. Lorian não vai
deixar muitas marcas nela, exceto uma única.
Patience o olhou angustiada, e então eles sairam.
Saint rapidamente estudou a sala. Ele estava num quarto,
presumivelmente ainda na casa de Loch Irvine, mobiliado de forma
simples e iluminado apenas com uma única lamparina, o brilho do
pavio crepitante lançando sombras incertas. As cordas ao redor de
seus pulsos estavam amarradas a ferros presos às paredes. Outros
objetos adornavam o espaço: chicotes de carruagem, um porrete,
mais cordas e tiras de couro com fivelas. Aparentemente, os
convidados do Mestre não estavam apenas interessados em
negociar cônjuges.
Ele deslizou seus pés para a esquerda e enfiou o cano da bota
contra o aro da parede que prendia na sua mão. Ela se manteve
firme. Ele tentou de novo, depois se virou para o outro aro. Ele
provou ser igualmente sólido.
Com os olhos enevoados e a cabeça doendo pela pancada que
Westin lhe dera com algo muito duro, ele estudou o chão, a mobília,
as paredes, o teto e tentou focar sua mente, arrastá-la para longe
onde ela queria ir, para que permanecesse no momento em que seu
primeiro objetivo seria ganhar a liberdade.
A porta se abriu e Patience entrou.
― Eu já tentei as cordas ― ela sussurrou. ― Reeve as amarrou
com muita força. Eu não posso afrouxá-las com meus dedos.
― Solte meus tornozelos, mas deixe a aparência de que eles
ainda estão amarrados. ― Ela se ajoelhou e fez isso. ― É capaz de
alcançar a porta invisível no patamar abaixo? ― Ele disse.
― Eu acho que sim. Robert entrou no salão do santuário para um
copo de vinho. Miranda ainda está inconsciente.
― Além dessa porta há uma galeria. Abaixo da vitrine, encontrará
uma adaga. Vá rapidamente agora.
Ela correu para a porta e saiu. Ele rezou para que ninguém tivesse
trancado a galeria desde que Constance tinha aberto a fechadura
semanas atrás. E rezou para que, onde quer que ela estivesse
agora, sua esposa mostrasse a Lorian Hughes exatamente o que
pensava dele.

― Vê aquele menino no pônei ali? ― Sir Lorian soprou, sua


respiração ofegante fazendo nuvens de névoa fria na garoa. Sangue
escorria de uma ferida no queixo e o braço esquerdo pendia a seu
lado. Ele era muito mais fácil de lutar do que Sr. Viking; ela estava
absolutamente animada.
― Não ― disse ela, o cabo de espada posicionado diante dela, a
sombrinha fechada em sua mão esquerda. Nunca retire sua atenção
do seu oponente. ― Conte-me sobre ele, porque não o faz?
― Ele está preparado, ao meu comando, para realizar uma missão
para mim. ― Seus olhos brilharam na escuridão.
― Que missão é essa?
― Seu marido está neste momento atado como um animal aos
cuidados do Sr. Reeve. Com uma única palavra, posso mandar o
menino cavalgar rapidamente para dar permissão ao Sr. Reeve para
colocar uma faca no coração do Sr. Sterling.
― Prove.
― Garoto! ― Ele gritou.
Além do ombro de Lorian, das sombras da parede do palácio, uma
figura montada apareceu.
― Agora, apostará a vida dele contra a minha palavra?
Constance abaixou a mão esquerda, mas manteve a ponta da
espada apontada para o rosto dele. ― O que fará comigo?
― Mulher sábia. ― Ele sorriu. ― Agora a espada.
Com o punhal queimando contra o tornozelo, ela colocou o cabo
de espada e a sombrinha no chão e se afastou delas. Com a faca
ainda levantada, ele veio até ela e a pegou pelo braço.
― Eu gostaria dos detalhes ― ela disse e permitiu que a
conduzisse para a carruagem, onde a voz dele, se ele gritasse, seria
abafada para a audição do garoto.
― Verá em breve. Prometo, porém, caso se comporte, terá um
delicioso encontro com seu marido amanhã. Se ele ainda estiver
vivo. Ossos quebrados podem se fragmentar e causar infecção, é
claro. Sabe, tudo isso teria sido muito mais fácil se não fosse tão
virtuosa?
O riso da histeria borbulhava nela.
― E espirituosa ― disse ele com aprovação. ― Venha agora, para
a carruagem. ― No momento em que a porta se fechou, ela pegou a
adaga.
Ela sabia que ele esperaria que ela resistisse, mas ele foi rápido
ao agarrá-la. No entanto, ela não esperou que ele tapasse seu nariz,
para forçar seus lábios a se separarem e encher sua boca de vinho.
Lorian tinha sido sempre tão óbvio; ela não tinha previsto a culpa
dele.
Seu pai, se ele soubesse, ficaria desapontado.
Mas Saint, ela pensou em seu último momento lúcido, iria
entender.
A porta abriu e Reeve entrou, um pano amarrado em volta da
cabeça, o olho ensanguentado. Ele carregava o sabre de Saint como
um homem que nunca tivera uma espada na mão antes.
― Gosta da sua obra, Sr. Sterling? ― Ele grunhiu, apontando para
o olho. ― Eu não estou muito feliz com isso.
― Me atacou desavisadamente.
― Mas estará recebendo o troco.
― Onde será o ritual do solstício?
Ele sorriu e seu nariz torto se inclinou para o lado. ― Desculpe,
não está convidado.
― Eu tenho uma fortuna num banco em Londres. Liberte-me e é
seu.
― Sir Lorian disse-me que me ofereceria dinheiro. ― Ele balançou
o sabre de um lado para o outro como se fosse um brinquedo. ― Ele
disse que me daria o dobro de sua oferta. ― Ele coçou os bigodes.
― Quanto?
― Quarenta mil libras. Isso é mais do que jamais verá em sua
vida. Confie em mim, eu tenho sido um ladrão. Eu sei. Embora eu
nunca tenha sido um ladrão tão estúpido. Sabe que eles vão traí-lo.
Assim que eles precisarem de um homem para arcar com a culpa.
Westin. Hughes. O mestre.
A testa de Reeve ficou franzida. ― O Mestre está acima de tudo ―
disse ele com olhos redondos. ― E eu gosto da outra escolha que
Sir Lorian está te dando de qualquer maneira.
― Que escolha?
Ele jogou o sabre de lado com um barulho e ergueu o porrete. ―
Uma barganha: a sua liberdade pela sua mão. ― Saint puxou o ar
pelo nariz.
― Liberdade imediata?
― Sim
― Como posso confiar?
Atrás de Reeve, Patience entrou silenciosamente no quarto.
Reeve balançou o porrete contra sua bota.
― Eu poderia esmagar as suas mãos e deixa-lo aqui essa noite,
se eu quisesse. Mas ele me disse que eu deveria lhe dar uma
escolha e prometi-lhe isso.
Hughes queria que ele fosse espancado, mutilado, impotente; um
prelúdio vergonhoso para o seu enforcamento.
― Tudo bem ― disse ele.
Reeve sorriu.
― Estenda a mão agora.
Ele abriu a mão direita contra a parede, seu estômago se
apertando.
O lábio de Reeve se curvou.
― Sir Lorian disse que tentaria isso. Vai abrir a outra mão, senhor.
― Sr. Reeve. ― Patience veio para a frente. ― Meu marido deseja
que eu diga umas palavras ao Sr. Sterling. ― Ela parou diante de
suas botas. ― Nunca alcançará Arthur's Seat até a meia-noite. Não
aceite qualquer barganha que o Sr. Reeve faça pela sua liberdade
agora. ― Ela se virou. ― Sr. Reeve, isto é uma barbárie. ― Em sua
mão oculta pelas dobras de sua saia, sua faca cintilou. ― O que quer
que Sir Lorian tenha lhe dito, o Mestre não aprovaria.
― Como sabe o que o Mestre aprova ou não?
― Eu falei com ele sobre esses assuntos. Ele não aprova a
violência desnecessária. Se duvida de mim, vá falar com meu
marido. Ele está no Santuário. Eu prometo que não desatarei o Sr.
Sterling enquanto estiver fora. Meu marido dirá que já tentei isso e
meus dedos não são fortes o suficiente. Fez um nó formidável.
Ele resmungou. Mas se foi deixando a porta aberta.
Ela se jogou de joelhos e tentou cortar o nó no punho dele com a
faca.
― É muito grosso ― ela choramingou. ― Não há tempo.
― É uma faca muito afiada ― disse ele, mantendo a voz calma
sobre o tamborilar de seu pulso. ― Já está na metade do caminho.
Reeve apareceu na porta.
― Patience, vá ― disse Saint.
Ela largou a faca e saltou para o lado quando Reeve se lançou e
levantou o porrete acima de sua mão esquerda ainda atada à
parede. Puxando os fios de corda semicortada da outra mão, Saint
agarrou a faca.
O porrete caiu sobre a mão esquerda. Rapidamente. Duas vezes.
O mundo se transformou numa explosão de dor.
Ele enfiou a faca no braço erguido de Reeve. Reeve gritou e o
porrete voou novamente. A realidade desapareceu em agonia. A
escuridão desceu.
Ele lutou contra isso.
― Pare! ― A voz da Patience, gritando. ― Pare!
Uma porta batendo. Passos pesados.
― Sr. Sterling, deve se levantar. Agora.
Então ela se foi, e ele estava se levantando do chão frio,
agarrando a faca, cortando a corda em torno de seu pulso, cego de
dor, sons ao seu redor ― uma mulher soluçando, um homem
gritando. Sua mão esmagada bateu no chão e ele se dobrou em dor.
Um punho socou sua testa. ― Não está tão confiante agora, não
é? ― A voz de Reeve era forte.
Saint cambaleou em direção a um ponto de luz, encontrou seu
equilíbrio e estendeu a mão para a luz. Seus dedos apertaram o
cabo da lamparina. Ele lançou-a.
Reeve caiu no chão. O óleo se espalhou num círculo rápido da
lamparina virada. O fogo explodiu, atravessou a poça e pegou na
roupa de Reeve.
No corredor, Patience pairava sobre Miranda. ― Ela está viva, mas
não se move.
― Vamos carregá-la.
― Sua mão...
― Retire meu lenço de pescoço e amarre-a. Tão firme quanto
você puder.
Ela fez isso sem comentar e a dor dobrara seus joelhos.
Constance teria falado, provocado, tentado distraí-lo. Ele precisava
ouvir a voz dela novamente. Sua risada. A fumaça subia dentro do
quarto, o fogo se espalhando, consumindo roupas de cama, voando
em fúria quando encontrou as cortinas.
Quando a mão foi amarrada, ele levantou Miranda por cima do
ombro e segurou-a com um braço. Dentro do quarto, Reeve lutava
para ficar de pé, gemendo, as chamas devorando seu casaco.
― Senhorita Edwards ― resmungou Miranda. ― Aquela porta.
Ele agarrou a maçaneta. Estava trancada. Atrás deles, Reeve saiu
do quarto correndo para as escadas. Chamas lambiam no limiar do
quarto.
― Vá ― ele ordenou, virando-se para as escadas. ― Rápido.
— Mas...
― Vá. Eu cuidarei dela.
O foyer abaixo estava afundado na escuridão. Ele colocou Miranda
em pé e Patience passou os braços em volta dela.
― Vão, agora.
― Mas, Senhor. Sterling, não pode...
Ele voltou a subir as escadas e entrou no corredor que era uma
fornalha de calor e fumaça. Cobrindo a boca e o nariz foi até a porta
trancada.
Como o grampo de cabelo de Constance, a faca fez seu trabalho
facilmente na fechadura. Ele empurrou o painel aberto. O ar lá dentro
estava limpo e ele engoliu em seco. Uma jovem olhava para ele de
uma cadeira do outro lado da sala, uma mordaça amarrada na boca,
os olhos arregalados de terror.
― Saint! Droga, Saint! ― O grito de Dylan veio além das chamas.
Seus olhos se arregalaram e se encheram de lágrimas.
Ele cortou as cordas que estavam ao redor de seus pulsos e
tornozelos e puxou-a da cadeira. Ela rasgou a mordaça, mas ele a
deteve, passando-a rapidamente pela boca e nariz em proteção
contra a fumaça. Apertando o braço ao redor dela, ele a tirou do
quarto quando o fogo irrompeu no corredor. Nas escadas, ela caiu
em cima de Dylan com soluços sufocados.
Lá fora, a chuva esmurrava o estábulo na escuridão, iluminado
agora pelas chamas. Suas portas estavam abertas.
Dylan abraçou a Srta. Edwards na chuva. Ele levantou o rosto dos
cabelos dela para encontrar o olhar de Saint.
― O homem veio na minha direção com uma tocha ― ele gritou
através da chuva. ― Os animais fugiram.
Patience se ajoelhou acima de Miranda esparramada no chão.
― Ela está bem? ― Saint mal reconheceu sua voz.
― Sim. Ela está respirando.
― Ficará bem. ― Ele procurou na escuridão lavada pela chuva por
seu cavalo, qualquer cavalo, dor e desespero rasgando-o. ― Lorde
Michaels irá ajudá-la.
Uma janela se espatifou na casa, chamas se arrastando para
combater a chuva. Seu sabre estava lá dentro. E a faca caíra quando
ele agarrou a Srta. Edwards.
― Sua espada! ― Ele gritou para seu primo.
Dylan tirou uma pistola do bolso, encharcando-a com a chuva,
estragando a pólvora. Sem cavalo. Nenhuma arma.
Ele correu. Não eram duas milhas até a montanha. Ele havia
corrido pelos campos de batalha repletos de balas e fogo de
canhões, com uma bala na coxa. Ele nunca havia corrido com
apenas um braço. Presa apertada em seu colete, sua mão estava
além da dor no inferno. Depois de meia milha, ele desistiu e a soltou,
e quase perdeu o equilíbrio, cada osso quebrado gritando. Puxou o
ar saturado de chuva, apertou o lenço com mais força na palma da
mão e nos dedos e caiu de joelhos quando a escuridão o envolveu.
Sua mão encontrou um poste. Ele agarrou-o e se arrastou até
seus pés. Distante, um cavalo relinchou sobre a chuva.
Perseguir um cavalo solto por alguns minutos? Ou correr?
Ele correu. Chamuscado pela fumaça do fogo, seus pulmões
ardiam.
Cascos soaram atrás dele, então ao seu lado. Ele desacelerou,
estendeu a mão e agarrou a bainha de sua outra espada amarrada à
sela. Seu cavalo parou abruptamente. Silenciosamente abençoando
o homem que tinha treinado o animal, ele enfiou o pé no estribo e,
antes de estar totalmente na sela, instou-o pelo campo em direção a
Arthur's Seat.
Através da chuva, ele viu as tochas, no alto da montanha, nas
ruínas da antiga igreja. Ele enfiou os calcanhares nos lados de Paid
e o animal voou.
O caminho se inclinou para o Oeste em uma ascensão gradual do
outro lado da montanha antes de recuar. Muito longe. Muito devagar.
Na torre da igreja em Duddingston, ao longe, o enorme sino
badalou o primeiro toque da meia-noite, ecoando através da chuva
sobre a montanha. Puxando a cabeça de Paid e apontando-o para o
alto da colina, Saint pegou sua espada da bainha e jogou seu peso
para frente. Juntos eles subiram velozes.
Capítulo 34

O Sacrifício

Ela contou.
Um... dois... três...
Suas bochechas estavam molhadas onde Sir Lorian puxava o
capuz de cetim grosso de seu rosto. Seus lábios também. Seus
pulsos estavam amarrados, as palmas pressionando a pedra fria do
altar antigo.
Impotente, distante de si mesma, se perguntou o que ele fizera
com seu vestido, anágua e espartilho.
Quatro... cinco...
Ela não se importava. Mas Eliza gostava particularmente desse
vestido.
Delirante. Certamente estava delirante.
Seis... Sete...
Ele as tinha removido na carruagem. Todas as suas roupas, exceto
sua combinação. E vestiu-a com um manto. Mas ele não a tocou de
outra forma. Homem estranho. Homens. Ela nunca entenderia
completamente a raça.
Oito...
E então as tochas. E a dor.
Nove... dez...
Novamente.
Um...
A umidade em sua bochecha escoava entre seus lábios com a
chuva que batia por todo o lado, enchendo seus ouvidos com som.
Alguém estava cantando. Palavras peculiares.
A chuva tinha gosto de sal.
Dois... três... quatro...
Ela devia continuar contando. O canto estava ficando mais alto.
As nuvens de seus pensamentos escorregaram, se assentaram,
depois escorregaram de novo. Uma lufada de ar frio e encharcado de
chuva invadiu sua boca, fazendo cócegas em suas narinas.
Alguém estava atrás dela. Tocando-a. Ela voltava a ter sensação
nos lábios. Na língua. A sentir a chuva gelada. A pele gelada.
Ela abriu os olhos.
A luz da tocha dançava no altar sobre o qual ela estava deitada,
lavada pela chuva. As figuras estavam próximas, longas vestes
brancas e chuva obscurecendo-as.
― Os mortos renascem ― Sir Lorian disse atrás dela e ela o ouviu
claramente.
As luzes das tochas murmuraram em resposta.
― A terra produz novos frutos ― ele entoou quando os batimentos
cardíacos dela apunhalaram o altar sob seus seios. Os fantasmas
encapuzados responderam novamente com resmungos.
― Oferecemos graças ― declarou ele. ― Oferecemos sacrifício.
A carícia de metal frio em sua panturrilha exposta expulsou o ar
dela. Ela lutou contra o pânico.
Ele estava falando de novo, suas palavras borradas dentro de
seus ouvidos. Sua boca aberta, olhos fechados, mãos cerradas,
corpo tenso.
Cinco... seis... Sete...
Algo estava diferente de antes, diferente de quando um homem
também a havia cortado. Alguma coisa...
Seus tornozelos estavam soltos.
Ela chutou com força. Seus pés encontraram ossos.
Ela chutou de novo. Carne.
Um homem estava gemendo. Outro, gritando. A luz da tocha
vacilou e uma figura encapuzada saltou para trás. Cascos com
ferraduras bateram na terra tinindo sobre pedras.
Levantou os joelhos, torceu, empurrou um deles em direção a mão
e ouviu um estalo no ombro e o grito saindo de sua garganta. Seus
dedos estavam escorregadios no pequeno cabo de marfim que
puxara com os pés, a chuva fazendo com que se atrapalhasse. Ela o
agarrou.
Uma tocha caiu no chão.
Um metal caiu na pedra ao seu lado e sua mão estava livre da
corda, apanhando a adaga. Ela puxou o braço para trás, girando ao
redor, deferiu o golpe, longe do barulho do outro lado do altar. A luz
da tocha se movia descontroladamente pela chuva. Sir Lorian estava
dobrado na base do altar, seu rosto oval estava pálido contra a
escuridão.
Ela saltou para ele. Ele estendeu o braço e empurrou-a para longe.
Conduzindo sua força sob a defesa, ela atacou novamente. A lâmina
encontrou um alvo, desequilibrando-a. Ela ouviu um grito. Seus pés
descalços escorregaram na pedra, jogando-a sobre a borda do altar,
e ela caiu. Ela lutou, desembaraçando-se de sua túnica encharcada,
empurrando-a para longe. Ela se libertou e cambaleou para trás. Seu
cabelo era uma cortina molhada pela chuva.
No chão diante dela, Sir Lorian estava dobrado, contorcendo-se
em gritos. Quando a luz das tochas se afastou com o som dos
cascos, se perdendo na escuridão.
Braços fortes se uniram sobre ela. Ela sacudiu o pulso e
mergulhou a adaga para trás.
― Constance ― Saint rosnou, pressionando sua bochecha na
dela. ― Sou eu. Acabou. Acabou.
Ela ouviu o barulho da chuva ao seu redor e um sino de igreja
tocando muito longe.
Capítulo 35

Uma Espada Devolvida

― E u disse há semanas que se der uma arma a uma mulher, ela


a usará contra o senhor. Mas se recusou a me ouvir, é claro. ―
Viking pegou uma atadura nova de uma pilha de lençóis imaculados,
colocou-a sobre o ferimento coberto com unguento e começou a
amarrá-la no lugar.
Saint empurrou suas mãos para o lado. Com apenas uma mão,
amarrou o tecido em volta da sua coxa, puxou as ceroulas e as
calças para cima e prendeu-as. A tarefa simples exigira muitos
minutos. Viking observou, o rosto comprimido com superioridade.
― Tem grande prazer nos meus ferimentos ― resmungou Saint.
― Sabe, eu fiquei muito bem sem valete por trinta e um anos. Tenho
certeza de que posso me sair perfeitamente bem sem um, pelos
próximos trinta e um.
― Arrivista colonial.
― Bufou como um porco?
― Eu não bufo, senhor. Isso foi um 'humph'. Aprendi com a Sra.
Josephs. ― Com o nariz empinado, pegou seus medicamentos e
saiu do quarto.
Saint acomodou-se numa cadeira e fechou os olhos,
contemplando sua dor e a certeza de que, se começasse a beber
whiskey agora e continuasse no dia seguinte, ainda não se
embebedaria o suficiente para fingir que não era uma agonia se
mexer. Mas ele desfrutou apenas um momento dessa contemplação
antes que uma batida firme soasse na porta e o Duque de Read
entrasse.
― Perdoe-me se eu não ficar de pé.
― Posso? ― Read gesticulou para a cadeira oposta.
Ele sentou-se para a frente, ignorando as infinitas pontadas de dor.
― Ela acordou?
― Ainda está dormindo. O Dr. Shaw acredita que seu corpo está
se permitindo um tempo para se curar da grande quantidade da
droga que ingeriu. Ele continua confiante de que ela acordará hoje.
Ele pediu que eu o lembrasse que a mesma filosofia de cura se
aplica ao seu caso.
― Não é incomum que um Duque haja como mensageiro?
― Não há nada mais incomum do que um mestre de esgrima se
casar com uma nobre herdeira. Sr. Sterling, quando o convidei para o
Castelo Read, eu sabia que já se conheciam.
Saint se sentou.
― Jack Doreé me disse há seis anos ― disse Read. ― Ele me
escreveu sobre o que Constance lhe dissera, que se comportou com
decência com ela em Fellsbourne, apesar de sua impropriedade, e
que se comportou de maneira honrosa no duelo pelo qual lutou por
sua honra. Ele me escreveu porque não sabia o que fazer. Ele se
importava com ela, e conhecia bem o caráter dela para entender que
não era um flerte momentâneo. Ele queria que ela fosse feliz. Eu o
aconselhei a casar com ela. Eu tinha planos para ela que ele não
conhecia. Como marquesa, ela teria a influência e a autoridade que
eu precisava.
― Planos?
― Mudar a lei deste reino dramaticamente. Para inaugurar uma
nova era para a Grã-Bretanha. Depois da morte de Jack eu esperava
que ela se casasse com seu irmão. Quando ficou claro que ela não
casaria, que continuaria a permanecer solteira, mas em reclusão,
longe de Londres, eu o trouxe aqui.
― Não para ensiná-la a esgrimir, eu entendo.
― Para... atiçar as brasas, por assim dizer. Eu esperava que ela
finalmente fosse inspirada a se casar. Não se casar contigo, é claro.
Ela forçou minha decisão nesse assunto.
Saint mordeu seus molares.
O Duque franziu a testa. ― Eu sabia do seu serviço exemplar
durante a guerra. Mas seu comportamento em minha casa, sua
determinação em ajudar Lorde Michaels e minha filha, e sua carta
ontem, a instrução que me deu a respeito de sua fortuna, de que
seria inteiramente de minha filha depois de sua morte... Foi uma
surpresa para mim.
― Surpresa?
― Mesmo neste momento, quando eu acredito que gostaria de me
estrangular, mantém o seu sangue-frio.
― Eu garanto-lhe, meu sangue-frio neste momento é totalmente
superficial. ― Ele se levantou da cadeira. Tirando a antigo rapier do
seu estojo, ele colocou nas mãos do Duque. ― Isso não é meu.
― Eu lhe dei.
― Não era seu para dá-lo.
As narinas do Duque se alargaram. Ele entendeu.
Saint quase sorriu.
Read permaneceu firme. ― Obrigado por salvar minha filha, Sr.
Sterling. ― Pegando o estojo de rapier, ele saiu do quarto.
Algum tempo depois, Dylan o acordou.
― Eles se foram embora! Malditos, cada um deles.
Saint começou a levantar a mão, encolheu-se e levantou a outra
para esfregar os olhos.
― Dê-me aquela garrafa. Quem foi embora?
Dylan abriu o whiskey. ― Os membros do Santuário. Todos eles
deixaram Edimburgo.
Apenas seis pessoas estavam nas ruínas no topo de Arthur's Seat
com Hughes, todos encapuzadas. Ele não tinha visto seus rostos.
Ele não viu nada além de Constance estendida naquela pedra.
O whiskey escaldou sua garganta.
― Parece que Hughes era a única maçã verdadeiramente ruim no
alqueire ― Dylan disse.
― Westin me bateu na cabeça com um porrete. ― Ele engoliu
outro bocado ardente. ― Eu diria que isso é ruim, se não totalmente
podre.
― Eu digo boa viagem a todos eles.
― Está de bom humor. A senhorita Edwards deve estar bem.
A testa de Dylan enrugou-se. ― Ela está com a família dela. Ela
disse que Reeve a tratou de maneira extraordinária. Deu-lhe muitos
livros e boa comida, e garantiu que ela não seria prejudicada. Ele só
a amarrou algumas vezes, disse que era para a proteção dela, e
pediu desculpas quando voltou para desamarrá-la. Eu acho que o
medo foi o pior para ela. ― Sua boca se transformou em um sorriso.
― Mas ela disse que me ama, e Edwards prometeu que poderemos
nos casar.
― Estou feliz por você, Dylan.
― Agora, tudo o que temos a fazer é aguardar o despertar de
Constance, e tudo será exatamente como deveria ser.
O sorriso de Saint durou até que Dylan partiu. Sozinho novamente,
desenterrou o pacote de documentos que o advogado de seu irmão
lhe dera em Londres e, finalmente, leu. Eles não revelaram nada de
novo. No fundo do pacote, ele encontrou uma nota endereçada a ele
com o rabisco corajoso de Tor.

Saint,

Você já terá descoberto que uma parte da minha fortuna está


ligada ao Duque de Loch Irvine por meio de vários
empreendimentos. Se não precisa dos fundos na conta de
Edimburgo, deixe-os. Como sempre, irmão, confio em você.

TS

A luz do dia desapareceu da sala. Saint se forçou a sair da


poltrona, acendeu uma lamparina e, pela primeira vez desde que a
levou para a casa e a deitou em sua cama, entrou no quarto de sua
esposa.
Cochilando numa cadeira no canto da sala, a Sra. Josephs
acordou com um sobressalto.
― Ela não se mexeu. Vá descansar, Sr. Sterling. O avisarei de
qualquer mudança.
Ele olhou para o cabelo dourado de sua esposa, bem trançado,
para suas mãos fortes e capazes agora imóveis na colcha, para a
suave subida e descida de seu peito. E então, finalmente, na
bandagem que se estendia por seu rosto bonito.
Arrastando o olhar para longe, ele retornou ao seu quarto e à
garrafa de whiskey.
Às onze e meia da manhã do dia seguinte, Viking apareceu na
porta do salão de baile e disse: ― Ela está acordada, senhor.
Saint subiu três degraus de cada vez e quase colidiu com a Sra.
Josephs.
― Os lacaios a levaram para a sala de estar ― ela disse.
― Agora mesmo?
― Vinte minutos atrás. ― Ela olhou para a mão enfaixada. ―
Quando ela acordou.
― Porque... ― Ele interrompeu suas palavras. Vinte minutos atrás.
Antes que eles lhe contassem, ela acordara. Então ele não tentaria
ajudá-la.
Eles estavam seis anos atrasados.
O sol lançava raios suaves sobre a mulher deitada no divã, com o
rosto voltado para a janela, cobertores cobrindo-a como névoa sobre
um espectro. Seus passos soaram no chão, mas ela não se virou
para ele. Sua respiração era regular e lenta, seu corpo relaxado.
Adormecida novamente, parecia.
Ele se abaixou na cadeira ao lado dela, cruzou a mão quebrada na
outra e inclinou a cabeça.
― Constance ― ele disse. ― Eu não fui honesto contigo. Uma vez
eu lhe disse que um coração impenetrável torna um homem
invencível. Isso não é verdade. Quanto mais você se afunda no meu
coração, mais forte eu me torno. Preenchido por você, eu poderia
lutar contra os exércitos do inferno e vencer.
Pareceu ter passado uma hora, talvez, antes que ela se mexesse.
Sua mão agarrou o cobertor.
― Estou aqui ― ele disse.
Seu corpo permaneceu imóvel, como se ela segurasse a
respiração. Ele esperou, mas ela não disse nada. Momentaneamente
relaxou novamente.
Quando o anoitecer caiu, ele foi para o quarto para trocar os
curativos dos ferimentos e, depois de alguns minutos, ouviu um
movimento além do armário. No quarto dela, ele encontrou o Dr.
Shaw deitando-a em sua cama. Seus olhos estavam fechados e seu
rosto virado para o lado.
Ele seguiu o médico até o corredor. ― O que ela lhe disse?
― Ela não disse nada para ninguém.
Dylan apareceu nos degraus.
― Como está a senhorita Edwards hoje? ― Perguntou o médico.
― Ela está bem, apesar de tudo. ― Seu peito se expandiu. ― Os
proclamas devem ser lidos neste domingo.
Saint bateu no ombro dele. O médico sorriu.
― Uma bebida então, para brindar a minha felicidade? ― Dylan
disse. ― Então, primo, nós podemos aproveitar a oportunidade e
convencer Shaw a amarrar o nó algum dia também. Não sabe o que
está perdendo, doutor, o que foi?
O Dr. Shaw riu. ― Ainda não sabe o que eu também estou
perdendo. Mas vou brindarei contigo. Se não se importa, Sterling.
― Claro que não. ― Ele queria voltar para o lado dela e
permanecer lá até que ela falasse. Até que ela olhasse em seus
olhos e sorrisse novamente.
― Mas há uma questão, Saint ― Dylan disse mais sombrio agora.
― Chloe disse que tem algo para contar a você e a Constance.
Depois que a polícia foi embora, ela me disse que não contou tudo a
eles. Pelo que eu lhe disse sobre Hughes e sua prisão, ela não
gostou da ideia de compartilhar tudo com eles. Mas está ansiosa
para contar a você e a Constance. Se Constance for capaz de falar
com ela.

Na manhã seguinte, ela estava pronta para falar com Chloe.


Sentada na sala de estar, envolta em um xale volumoso, a atadura
austera no rosto, ela não olhava para ninguém além de Chloe
Edwards, enquanto contava a notícia que havia recebido do
investigador da polícia.
― Na véspera de sua chegada, Sr. Sterling ― ela disse com os
olhos arregalados ― uma dama entrou na sala.
― Uma dama? — perguntou Dylan. ― Lady Hughes? Sra. Westin?
Alguma do grupo do Santuário?
― Não. Eu nunca vi nenhuma dessas pessoas. Eu nem sabia que
eles estavam lá até que me contou. Esta dama não me disse o nome
dela, mas falou que era uma amiga e que se asseguraria de que eu
fosse libertada em breve.
― Por que ela não a libertou? ― Dylan exclamou.
― Oh, ela queria! Mas acho que não esperava me encontrar lá.
Ela disse que se fosse pega na casa, tudo estaria arruinado.
― Qual era a aparência dela? ― Perguntou Saint.
― Ela tinha o lindo cabelo vermelho como o fogo amarrado para
trás, embora muito apressadamente, assim parecia, e olhos verdes
brilhantes, como a primavera. Ela era jovem e muito bonita.
Nenhum membro do Santuário que ele tinha visto era assim.
― E ela usava um manto velho ― Chloe continuou ― com o
símbolo que todo mundo estivera falando durante todo o inverno,
desenhado nele, o símbolo do Castelo de Haiknayes. Devo ter
chorado quando a vi porque ela disse que eu não deveria me
preocupar, que ambas estão vivas e bem.
― Quem? ― A voz de Constance era uma mera raspagem.
― Cassandra Finn e Maggie Poultney.
― Bom Deus! ― Dylan exclamou. ― Vivas e bem, afinal de
contas!
― Ela disse mais alguma coisa? ― Perguntou Saint.
― Ouvimos um barulho e ela saiu em linha reta e não retornou. Foi
naquela mesma noite em que me encontrou. ― Ela sorriu docemente
para ele.
Dylan puxou sua mão possessivamente para a dele.
Segurando seu sorriso, Saint desviou o olhar para sua esposa.
Seus olhos estavam sobre ele, seus belos lábios curvados em um
pequeno sorriso.

Na manhã seguinte, numa leve garoa Miranda Hughes desceu de


uma carruagem diante da casa. Envolta num vestido cor de rosa
brilhante, uma mancha pálida de um hematoma em sua testa, ela
não se moveu para cumprimentá-lo.
― Nunca me perdoar por ser tão tola?
― Por sua causa, a senhorita Edwards está com a família. ― Ele
caminhou até ela. ― Está bem?
― Estou maravilhosa! Eu o odiava, sabe. E agora ele está
apodrecendo na prisão, e é claro ― sua voz baixou ― incapacitado
da maneira mais adequada. Quão inteligente a querida Constance foi
para saber precisamente onde um homem menos deseja ser atingido
por uma adaga. ― Ela segurou a mão boa dele. ― Eu não sabia
sobre esses horríveis rituais. Ele nunca me contou. Acredita em
mim?
― Eu acredito. Como está a Lady Westin?
― Ela está na nossa querida e pequena casinha. Algum dia nós
lhe pagaremos, eu prometo. Westin não vai ― ela disse com uma
torção de seus lábios. ― Ele disse a Patience que está indo para
Paris, onde ninguém conhece sua esposa antinatural. Ele pretende
conseguir uma amante francesa escandalosa para impressionar a
todos. Pobre homem. Acho que ele tem medo dela. Da minha doce
Patience! Ele definitivamente é um covarde. ― Ela ficou na ponta
dos pés e o beijou na bochecha. ― Obrigada ― ela sussurrou. ―
Sabe, Patience quer dar ao meu bebê o nome de Frederick. Eu
disse-lhe que prefiro Evan. Talvez nós usemos ambos. Tens uma
assustadora quantidade de nomes, querido. ― Ela beijou as pontas
dos dedos e soprou sobre elas. ― Dê a Constance, meu amor.

Várias horas depois, Saint entrou no quarto de sua esposa para


encontrar Eliza Josephs sozinha. Ela acordou com seu piscar de
olhos habitual.
― Ela está na sala de visitas? ― Ele perguntou.
― Pensei que ela estava contigo.
― Comigo? ― Sua garganta se apertou. ― Não.
Constance não estava na sala de estar da família. Também não
estava no salão privado, ou na sala de visitas formal, no salão de
baile ou em qualquer outro lugar. Ele ficou no vestíbulo enquanto
todos na casa corriam para lá e para lá e seu coração batia forte.
Fingal apareceu, tirando o chapéu da cabeça.
― Senhor, eu notei que o cavalo de milady não está no estábulo. E
fico imaginando...
Saint correu para as cavalariças. Elfhame se fora. Paid estava na
baia em que ele o havia deixado depois de quase o levar à morte na
montanha, com as orelhas levantadas em curiosidade.
― Fingal! ― Ele gritou, sua voz rochosa. ― Venha selar este
cavalo para mim.
Apenas dois lugares a atrairiam agora. Através da garoa que se
tornou uma chuva constante enquanto ele cavalgava, ele foi para o
mais próximo.
Ela estava em pé na chuva, entre as cinzas da casa do Duque de
Loch Irvine. Seu manto carmesim esvoaçava atrás dela; era uma
rosa brilhante brotando da fuligem, e seu cavalo, branco como leite,
parado na beira das fundações, o guardião da rosa.
Desmontou e caminhou até ela através das ruínas encharcadas.
Seus olhos estavam lúcidos, a bandagem amarrada em sua
bochecha, totalmente branca contra sua pele.
― Constance... ― A palavra não encontrou ressonância em sua
língua.
― Está mancando. Sinto muito por tê-lo machucado.
― Sofri coisas piores. Muito piores.
― Patience me escreveu sobre o que aconteceu. O que fez. Será
capaz de segurar uma espada novamente? ― Ele flexionou toda a
mão direita.
― A qualquer momento se milady me requisitar.
Ela levantou o olhar para ele. ― Saint.
― Não sei ― ele disse. ― Possivelmente.
― Ele acreditava que era canhoto, não é? Trezentos e cinquenta e
um dias desperdiçados ― ela disse, seus olhos se tornando piscinas
agora. ― Mas melhor do que a vida inteira, é claro.
― Constance, não deve...
― Naquela pedra contei até dez. Imaginei o posicionamento da
minha guarda, o ângulo dos meus pés e cada movimento, cada
desvio e ataque. Eu os contei de um a dez, e quando terminei contei
novamente. Ouvi sua voz me dizendo para contar e pensei: Dez não
é muito. Eu posso chegar a dez. E quando eu chegava a dez
começava novamente. Então você apareceu. ― Finalmente as
lágrimas se derramaram em suas bochechas. ― Obrigada por me
resgatar.
Seus olhos ardiam, mas não conseguia desviar do olhar dela.
― Não precisava de mim para salvá-la. Fez isso sozinha.
― Eu queria que ele morresse.
― Agiu em legítima defesa.
― Walker Syles. Por semanas eu desejei que estivesse morto.
Meses.
Por alguns instantes, houve apenas o suave sopro de chuva nas
ruínas.
― Claro que sim ― ele finalmente conseguiu dizer.
― Eu sempre quis ser suficiente ― ela disse. ― Ser linda por
dentro. Eu queria que alguém olhasse em meu coração e me visse,
não o que pensam que sou, mas eu, a moça imperfeita que sou, no
entanto, digna de afeto. ― Ela ergueu os ombros quando respirou
fundo. ― Eu não o perdoo. Ainda não. Mas não o odeio mais ― ela
disse como se isso a surpreendesse.
O orgulho pressionou suas costelas. ― É uma guerreira, minha
Bela. Guerreiros consertam-se.
― Minha amável e bela Fera ― ela disse, pegando a mão dele.
Capítulo 36

Uma Conversa com Espadas Presentes

Voltaram para casa em silêncio, ela com uma melancolia a qual


ele procurou não perturbar, e ele sem palavras de qualquer forma ―
de novo.
Por ordens do médico, ela se retirou imediatamente e jantou com a
Sra. Josephs em seu quarto. Na sala de jantar, o Duque informou
que a ausência de Loch Irvine da Escócia durante o mês anterior fora
confirmada. Desde que partira de Edimburgo depois de visitar o
museu, ele fora visto em Londres, em Westminster, depois em
Portsmouth. Não estivera em Edimburgo na data em que Constance
e Saint compareceram ao Santuário ou na noite do ritual de solstício
antecipado de Sir Lorian. Ele não era o mestre.
No entanto, o rumor em Edimburgo sobre o Duque do Diabo não
se acalmou. Acreditavam que Sir Lorian pretendia que Chloe
Edwards participasse de outro ritual. O prisioneiro não dizia nada e,
nos jornais e nas mesas de chá, pupulavam teorias sobre o uso dos
símbolos da estrela de Haiknayes.
Reeve não pôde ser encontrado. Supunha-se que ele fugira de
Edimburgo, junto com os outros membros do Santuário.
― Serão vigiados ― disse o Duque.
Mas Saint terminara com isso. De acordo com a misteriosa
visitante de Chloe, as jovens desaparecidas estavam a salvo. A
missão de Constance fora cumprida.
Desculpando-se pela saída da mesa, ele foi ao quarto dela.
A Sra. Josephs o enxotou. ― Esse passeio a esgotou!
Mas ele conhecia sua esposa. Ela não ficaria assim por muito
tempo.
Provou isso na manhã seguinte, quando apareceu no salão de
baile, onde ele estava gastando tempo com uma espada até que ela
acordasse. Usava um vestido de tonalidade vibrante, que despertava
sua pele para um brilho quente e sem curativo no rosto. Ela veio em
sua direção, mas parou no suporte de espadas.
― Bom dia ― ela disse, remexendo no cabo de uma espada.
― Bom dia. ― Os nervos dispararam em torno de seu estômago.
Ela mordeu o lábio inferior. Ele bateu a ponta da espada contra o
chão. Um silêncio estranho e incerto rastejou entre eles, através dos
grãos de luz do sol.
Ela agarrou o cabo da espada e brandiu a arma.
― O que acha? ― Ela disse, olhando para ele.
― Da espada? Eu já disse meses atrás, isso...
― Da minha cicatriz. ― Ela virou o rosto para que ele pudesse ver
os cortes escarlate em sua bochecha: três linhas onduladas,
entrecruzadas como o fio do cirurgião. ― Ainda é uma ferida, claro.
Mas logo será uma cicatriz. Isso me faz parecer misteriosa?
― Sim. ― Sua garganta obstruída era uma bagunça. ― Muito
misteriosa.
― Bom. ― Ela cortou um semicírculo no ar com a ponta de sua
lâmina. ― Porque gosto de mistérios. Já disse isso uma vez.
― Disse. Estava tentando me seduzir com uma demonstração de
sua habilidade marcial.
― Eu nunca tentei seduzi-lo. Sempre me achou irresistível.
Ele levantou uma sobrancelha. ― Isso é verdade.
A espada parou. ― Eu não estava pronta.
― Pronta?
― Antes de ontem. Para que visse isso.
― Não precisa se preocupar. Nunca pensei que fosse perfeita.
Por um momento ela apenas olhou para ele, seus olhos brilhando.
― Por que não me contou sobre a fortuna do seu irmão? Ou
melhor, sua fortuna.
― Eu queria que me aceitasse pelo o que eu sou. Por quem eu
sempre fui. Não por causa de uma pilha de ouro que alguém me deu.
Isso não importa para mim, e eu não queria que isso importasse para
você.
Com um dedo fino, ela traçou as asas douradas na lâmina da
espada.
― Comprou uma pequena casa para Patience e Miranda.
― Eu comprei.
― Em algum lugar calmo e seguro, onde não se pensará em nada
além de que são duas damas ligeiramente excêntricas em seu lazer,
espero?
― Numa aldeia na costa. E Westin está agora a caminho da
França, aparentemente, fugindo da falta de tranquilidade doméstica.
― Também quer ir para França? Para fundar um salão de esgrima
em Paris? Dylan me disse que esse era o seu sonho. ― Sua voz não
era natural. Desconfortável. ― Ou prefere as Índias Ocidentais agora
que é um homem rico e pode fazer o que quiser?
Por muitas semanas ele temeu esse momento. Agora que havia
chegado, descobriu que não conseguia respirar corretamente.
― Temporariamente, talvez, para ter uma propriedade lá. ― Ele
olhou para a espada em sua mão que tinha cortado as cordas que a
amarravam na pedra.
Ele a colocou de lado. ― Constance, não posso fazer isso.
Uma onda de pânico passou por ela. Durante quatro dias ficou
deitada na cama esperando, rezando contra isso. Pensou que
poderia não ser assim ― não agora, nem nunca. No entanto, seus
ombros estavam rígidos, os músculos de sua mandíbula apertados.
E seus belos olhos estavam resolutos.
Obrigou-se a falar. ― Não pode fazer o quê?
― Não posso fazer o que deseja.
― Oh! ― Ela disse, estável externamente, mas por dentro
desmoronando.
― Fiz o melhor que pude para ajudá-la, para atendê-la nos últimos
meses, como precisava, e como prometi. Para ajudá-la em sua
missão. Mas não importa o quão bem eu interprete o papel de
cavalheiro, eu não sou do mundo que habita. Eu nunca serei. Não
posso deixá-la ir. Eu não vou deixá-la.
― Não... não vai?
― Não desta vez. Nem nunca mais.
O ar disparou de seus pulmões comprimidos. ― Mas...
― Eu não me importo com os padrões de normas de apatia e falta
de fé do laissez-faire para os casamentos aristocráticos. Eles não
são meus. Você é. É minha. E não a deixarei ir.
― Saint, eu...
― Constance, eu te amo. Eu sempre te amei. Só você. E você me
ama. Eu sei que me ama, mesmo que seja muito orgulhosa e tenha
medo de admitir isso. Não há nada nesta terra que...
Sua espada caiu no chão quando ela se jogou sobre ele. Seus
braços vieram ao redor dela, sua mão afastando seu cabelo para
abraçá-la, e ela pressionou a bochecha contra o peito dele colocando
os braços ao seu redor. Risos e lágrimas a sacudiram
imediatamente. Ele beijou o topo de sua cabeça, acomodou-a mais
confortavelmente em seu abraço, e sua voz veio abafada contra seu
cabelo.
― Nenhuma anulação, então. Isso é ―- ele respirou fundo ― uma
boa notícia.
Ela riu de novo e ouviu o coração dele batendo forte e firme sob
sua orelha, sentiu-o e abraçou-o com mais força. Gentilmente ele
afastou seus cabelos da bochecha ferida e beijou sua testa.
― Milady ― ele murmurou. ― Você está dentro de mim. Você é
tudo.
Ela virou o rosto para cima. Ele baixou os lábios sobre os dela.
Honesto e terno, seu beijo repetiu suas palavras numa carícia.
― Diga que me ama ― ele sussurrou.
― Eu te amo. ― Ela cercou o rosto dele com as mãos e encontrou
seus lábios. ― Claro que eu te amo.
Ela se retirou de seu próximo beijo sem fôlego para dizer
novamente:
― Eu te amo ― ao que ele respondeu com tal aprovação que por
algum tempo ela se perdeu em tudo, exceto na perfeição de sua
boca e na força de seus braços segurando-a junto a ele.
Finalmente, afastando-se, ela colocou as palmas das mãos contra
o peito dele.
― Como pôde acreditar que eu queria me separar? ― Ela exigiu
saber.
― Me disse que não queria se casar ― ele disse perfeitamente
racional. ― Me implorou para deixá-la. Várias vezes.
― Eu estava fazendo um sacrifício nobre.
― Fez um trabalho muito ruim. Acho que, quando acabarmos com
as adagas, talvez seja útil que tenha instruções sobre sacrifícios
nobres eficazes, do tipo em que não arranca o coração de seu
amante no processo.
Ela riu, mas suas mãos apertavam a camisa dele. ― Eu estava
com medo.
Seus olhos ficaram sérios. ― Eu sei.
Ela passou as pontas dos dedos ao longo da cicatriz no rosto dele.
― Me ensinou a ser corajosa.
― Eu simplesmente a ensinei como empunhar uma espada. O
resto foi você.
Sua palma cobriu seu coração. ― Não estou me referindo a esse
tipo de coragem.
Um meio sorriso moldou seus lábios. ― Há apenas um tipo.
― Foi Monsieur Banneret quem te ensinou isso?
― Você me ensinou isso. Seis anos atrás.
― Como eu te amo ― ela disse maravilhada. ― Eu não sabia que
poderia ser tão feliz.
Ele colocou os lábios sobre sua testa e respirou fundo.
― Saint, devo lhe contar meu último segredo.
― Último?
― Conhece todos os outros.
― Eu duvido disso. ― Seu sorriso era irônico. ― Mas continue.
― Seis anos atrás eu me juntei a uma agência governamental
secreta para obter acesso a informações que me permitissem saber
onde você estava. Leam estava envolvido e me convidou a participar
antes mesmo que eu me mudasse para Londres. Ele achou que eu
estava muito infeliz no meu luto. Ansiosamente aceitei. Eu queria
ajudar as pessoas, claro. Mas também estava desesperada para
saber onde você estava. Então aceitei. Eu soube quando se mudou
para Plymouth, e quando viajou para as Índias Ocidentais, e o dia em
que voltou para a Inglaterra. Eu não tinha permissão para estar
contigo, mas não podia te esquecer. Eu não queria te esquecer.
Ele olhou para ela, seus olhos muito brilhantes. ― Isso é... um
verdadeiro segredo.
Ela pressionou as pontas dos dedos no peito dele. ― E?
― Eu admito, eu não esperava isso. Está me dizendo que é uma
espiã?
― Não uma espiã. ― Ela alisou o linho da camisa sob sua mão. ―
Recolhi informações sobre pessoas desaparecidas para que meus
amigos pudessem ajudá-las. Um pouco com o que fizemos aqui,
exceto, claro, as partes sobre se casar e sacrifícios nobres. ― Ela
sorriu. ― Eu salvei todas aquelas pessoas por você.
Ele riu. — Você é louca, afinal.
― Louca por você. Quando veio ao castelo, pensei que estava
sonhando. Eu sabia que deveria ser um sonho porque em todos
esses anos eu só queria você. Então, apesar de tudo, apesar do meu
pai e da sua própria raiva, sorriu para mim e eu soube. Eu sabia que
não poderia te perder de novo. Então é isso, a verdade sem verniz.
Vai preparar o sótão para mim agora?
― Sim. ― Sua voz era rude. ― E me trancar lá dentro contigo.
Ela ficou na ponta dos pés quando ele puxou sua boca para a
dele. Eram beijos de amor reconhecido, amor falado e eram
diferentes, cheios de confiança, fome e alegria irrestrita. Colocou os
braços ao redor de seus ombros e ele a puxou contra si e ela sentiu
a tensão de seu corpo, sua paixão tão poderosamente confirmada.
― Esperarei que esteja pronta de novo ― ele disse. ― Contanto
que queira. Semanas, meses, anos, se for necessário. Eu vou...
― Anos?
― Para sempre. Meu Deus, Constance, eu te amo.
― Mas eu não quero esperar. Eu quero fazer amor agora.
― Agora?
― Sou sua esposa. ― Ela arrastou as pontas dos dedos em seu
peito. ― E é meu marido, para fazer o que eu quero. E eu o quero
agora.
Ele pegou-a em seus braços. ― Sua mão!
― Seu desejo, milady, é sempre uma ordem. ― Ele a carregou do
salão de baile, subiu as escadas e entrou em seu quarto. Em sua
cama, ele a pegou nos braços e a segurou. Então ela empurrou os
ombros dele contra o colchão e colocou o joelho sobre o quadril dele.
― Agora ― disse ela, levantando-se sobre ele com um sorriso
glorioso. ― Será meu. ― Com a mão no cabelo dela, ele a puxou
para baixo e a beijou.
― Agora ― ele disse com voz rouca ― eu sou seu.
Epílogo

O Pedido

Prezado senhor,

Como já sabe, Pardal se demitiu formalmente do clube. Na


ausência de projetos atuais e à luz do declínio da saúde de meu
pai, ofereço-lhe agora minha renúncia também. Foi uma honra e
privilégio servir ao Reino.

Atenciosamente,
Peregrino

Lady Justiça
Brittle & Sons, Tipografia
Querida Lady Justiça,

Com tristeza, lhe escrevo uma última vez. O Clube Falcão não
existe mais. Eu imploro, não chore por essa perda muito
amargamente. Tem outras pobres almas para atormentar e
outras causas indignas a seguir para o entretenimento de seus
leitores. Saiba, no entanto, que meus dias serão mais sombrios,
minhas noites sem sentido, sem sua correspondência para me
sustentar. Apenas, querida Lady, não me esqueça. Pois
certamente não a esquecerei.
Com admiração eterna,
Peregrino
Peregrino ex-secretário, do Clube Falcão

Peregrino
Clube Falcão14 ½ Dover Street

Prezado senhor,

Escrevo-lhe com relutância, mas por uma terrível


necessidade. Não desista de sua missão ainda. No
momento, não posso dizer mais nada para me
explicar, exceto as palavras mais difíceis: preciso
da sua ajuda.

—Lady Justiça
Uma nota sobre disfarces, ladinos e
espadas
Aqui está algo que eu acho realmente sexy: um homem que é
bom, gentil e emocionalmente forte, e que quer, acima de tudo, a
segurança e a felicidade de uma mulher. Coloque esse homem em
calções apertados, num cavalo, e dê-lhe uma espada, e ele é
praticamente ideal.
Desde que comecei a pensar no livro de Constance, anos atrás,
percebi que ela precisava desse tipo de herói. Então, enquanto
estava escrevendo I Loved a Rogue – Me rendi a um ladino,
descobri como Saint ajudou o herói desse livro, Taliesin, quando eles
eram jovens. (Isso aconteceu da maneira que os personagens
costumam dizer a um escritor o que escrever sobre eles e, se for
sábio, o escritor obedece.) Naquele momento, a história de amor de
Constance e Saint ficou clara para mim. Eu sabia que ele não a
salvaria matando os bandidos, ou mesmo ensinando-a a matá-los,
mas mostrando-lhe como é o amor honesto, generoso e verdadeiro.
Se quiser de ler a cena em que eu passei a conceber Saint, pode
encontrar uma cena bônus de I Loved a Rogue no meu site
www.KatharineAshe.com, como Two Rogues. Nele, Saint é um
homem muito jovem e cheio de energia, e marca o momento durante
seu hiato da guerra, quando ele volta a pegar em uma espada.
Como muitos dos meus livros, a história Constance tem um tipo de
identidade secreta. Debaixo de sua beleza, riqueza e posição está
uma jovem que só quer ser amada. As aparências muitas vezes
enganam, não é? Nunca se sabe realmente o que está por trás do
rosto que uma pessoa mostra ao mundo. No próximo livro da série
Duque do Diabo, tanto o herói quanto a heroína estão disfarçados, o
que faz algumas travessuras muito loucas (e muito sexys). O
CONDE, que será lançado em breve pela Leabhar, é estrelado por
Peregrino e sua nêmese Lady Justiça.
Sobre a palavra “rogue” (ladino): No início do século XIX, ela
carregava o significado de vagabundo com a forte implicação de um
canalha ocioso e encrenqueiro. A ordem social era extremamente
importante para os britânicos dessa época. O império estava se
expandindo rapidamente, e a enorme riqueza industrial e mercantil
acumulada pelos plebeus estava subvertendo a tradicional hierarquia
de poder que garantia que uma aristocracia hereditária
permanecesse no comando de todos os outros. Foi um tempo
tumultuado e incerto para a elite. Além disso, nos anos pós-
napoleônico, os veteranos (muitos que foram seriamente
prejudicados pela guerra) perambulavam pelo campo em busca de
serviço como trabalhadores comuns. Esses sem-teto, juntamente
com os ciganos, eram chamados de ladinos e os parlamentares
viam-nos como forças do caos numa sociedade em rápida mutação,
que tentavam desesperadamente controlar, e não gostavam deles.
Pendurado na cozinha da minha mãe durante toda a minha
infância, havia um mostrador bordado que dizia: ― Casa é onde está
o coração. ― Eu usei a palavra rogue nos títulos de meus livros que
mostram heróis que são andarilhos de um tipo ou de outro ― pirata,
espião, cigano e espadachim ― até que o ladino encontra sua casa
com a mulher que ele ama. Na tradução ficou decidido que se
colocaria Espadachim, no caso de Saint.
No que diz respeito a espadas, esgrima e esgrimista: enquanto a
maioria dos cavalheiros desta época aprendeu a esgrima em sua
juventude, esta foi relegada ao campo de batalha e ao esporte. No
início do século XIX, os cavalheiros não usavam mais espadas como
parte de suas roupas normais, e o duelo não era apenas ilegal na
Inglaterra; muitos o consideravam imoral. Se os homens fossem
apanhados duelando, as penalidades incluíam multas pesadas,
prisão e execução se um duelista matasse seu oponente. Mas as
origens do duelo veem de antes mesmo da Idade Média, e os lordes
tiveram dificuldade em abandonar esse método de resolver disputas
de honra. Como a morte por duelo não podia ser facilmente
escondida das autoridades, no entanto, a maioria dos duelos entre
cavalheiros nessa época era travada apenas como “quem primeiro
derramar sangue.” No entanto, homens de alta posição ou cargo
continuaram a matar seus oponentes em duelos, talvez porque
muitos não sofressem punição por isso, especialmente quando o
homem assassinado era de menor status social do que o vencedor.
Julgados por seus pares na Câmara dos Lordes, eles eram
perdoados pelo ato assassino como o infeliz subproduto de um
necessário ato de honra.
As leis que dificultavam significativamente a prática do duelo só
entraram em vigor na metade do século, mas então, tantos homens
da classe mercantil praticavam esgrima que os cavalheiros
aristocráticos reclamavam da democratização do duelo. Enquanto
isso, as melhorias nas armas de fogo tornavam as espadas menos
populares no campo de batalha. A esgrima desfrutou de um surto de
popularidade na Inglaterra, no final do século XIX, com os
nostálgicos especialistas encorajando os cavalheiros a manter a
esgrima em seus arsenais de poder contra homens socialmente
inferiores. Mas a grande época da espada tinha chegado ao fim.
Um fato divertido: nos séculos de esgrima pública, os esgrimistas
que lutavam por prêmios, bem como os duelistas, muitas vezes
lutavam com o peito nu. Isso era para provar que não usavam
cobertura protetora sobre seus órgãos vitais, o que lhes permitiria
lutar de forma mais agressiva, já que não temiam ferimento mortal.
Essencialmente, lutar com o peito nu provava a bravura e a
honestidade de um homem em combates um-contra-um. É nesta
tradição que Saint esgrima: de peito nu.
Eu modelei o professor de Saint, Georges Banneret, em mestres
de esgrima da época, incluindo o Chevalier Joseph de Saint-
Georges, crioulo da ilha francesa de Guadalupe que se tornou
famoso na Inglaterra e na França por sua habilidade extraordinária
com uma espada. Sem mencionar seu charme e sofisticação
cultivada. Sua história é maravilhosa, e eu a recomendo para
qualquer pessoa intrigada com esta emocionante era da revolução
(particularmente sua biografia de Alain Guédé).
As palavras de Saint sobre ― calma, vigor e julgamento ― no
Capítulo 8, e o título desse capítulo, vêm de uma publicação curta do
século XVII, The Swordsman’s Vade-mecum, de Sir William Hope.
Uma lista concisa de oito regras para esgrimistas, começa com: ―
Regra I. Faça o que fizer, sempre (se possível) faça-o com calma,
sem paixão e precipitação, mas ainda com todo vigor e rapidez
imagináveis e seu julgamento não deixará de direcionar, ordenar e
governá-lo. ― Todas as oito regras deste tratado incluem as palavras
― com calma, vigor e julgamento. ― Acho que esse é um ótimo
conselho para a vida em geral, e não resisti em incluí-los nas lições
de Saint para Constance.
Nunca consigo resistir de pedir emprestado a William Shakespeare
quando é adequado. Os fãs do Bardo reconhecerão que os títulos
dos Capítulos 32 e 33 - o dia corajoso afundado na noite
hedionda - vêm do seu décimo segundo soneto.
Uma palavra sobre a Escócia e seus castelos: inumeráveis. Eles
cobrem a paisagem magnífica. Enquanto a mansão principal do
Duque de Loch Irvine fica a muitas milhas a Noroeste de Edimburgo,
o Castelo Haiknayes fica a poucos passos do Castelo Read, o que,
na minha experiência de viajar pela Escócia, é inteiramente possível.
Modelei livremente o Castelo Read em concordância com o Castelo
Fraser, incluindo os jardins. Outros detalhes do castelo do Duque de
Read foram extraídos de Abbotsford, a casa construída com amor e
grandes custos, pelo popular romancista Sir Walter Scott. Scott era
um entusiasta das armas antigas, e o armamento e sua exibição no
Castelo Read, foram quase inteiramente inspirados pela coleção em
Abbotsford. Sou grata aos guias voluntários de ambas as
propriedades por compartilharem generosamente seu vasto
conhecimento com essa humilde romancista, fazendo com que fosse
possível criar ficção através de fato.
O moinho, o lago, as ruínas da igreja em Arthur's Seat, e muitos
outros marcos de Edimburgo neste romance, podem ser encontrados
nos mapas da época. Alguns ainda estão lá até hoje. Um deles é o
Heid Inn em Duddingston, onde passei uma tarde deliciosa bebendo
cerveja, conversando com pessoas amigáveis e planejando o triste
destino de Annie Favor.
Com cada livro que escrevo, meu mundo da Grã-Bretanha do
início do século XIX se expande. Constance aparece em When a
Scot Loves a Lady, How to Be a Proper Lady, How a Lady Weds
a Rogue e Nos braços de um marquês (futuro lançamento desta
editora); Saint e Taliesin aparecem em I Loved a Rogue; o jovem
Dylan faz uma aparição em Varrido por um beijo (outro futuro
lançamento da editora), e os amigos do Clube Falcão de Constance
também podem ser encontrados nos outros livros dessa série.

Obrigada,
Katherine Ashe
Próximo Lançamento da série
Livro 2 de Duque do Diabo
O Conde

Prólogo

O Menino Silencioso

Outubro 1801
Maryport Court,
Cumbria, Inglaterra

Com a coluna rígida e ombros enquadrados, o menino sentou-se


na cadeira perto da janela com as palmas das mãos nos joelhos e as
solas dos pés pressionadas contra o chão. Ele não se mexeu. Nem
mesmo sua respiração superficial agitara sua estrutura ossuda como
a de um asceta, nem seu rosto sem expressão, como se um artista
tivesse desenhado as feições em repouso, mas se esquecido de
investir a humanidade nelas.
— Deve permitir que o veja — sua mãe disse do outro lado da
porta com uma voz que fez o interior do menino se revolver.
A maçaneta da porta sacudiu. Mas o painel era sólido, feito
séculos atrás, de alguma árvore antiga que havia crescido na
Floresta de Gray. No passado, com seus punhos inadequados de
menino tinha golpeado a porta. Ainda exibia as marcas de um
soldado de brinquedo que ele havia recrutado para abrir uma brecha
naquela fortaleza, sem sucesso. Ele era muito fraco na época
Agora deveria ser forte. Os soluços dela torceram em sua barriga,
mas ele permaneceu imóvel, olhando pela janela para o parque.
Além dos galhos nus do carvalho que arranhavam as vidraças como
unhas na ardósia, ao longo do caminho para o mar, duas mudas
lutavam contra o vento frio, aconchegadas em um canto da colina. O
jardineiro havia dito que foram plantadas de maneira imprudente,
que, quando crescessem, se amontoariam e uma ou ambas
morreriam. Mas sua mãe havia insistido.
Ele mal se lembrava; tinha apenas cinco anos na época. Mas ela
gostava de contar a história, e ele gostava de ouvi-la.
Agora, folhas de um vermelho vibrante se agarravam aos galhos
finos de uma das mudas, as folhas douradas da outra pinoteavam
por perto. No mundo empolgado do início do inverno, seus olhos se
fixavam nelas avidamente.
— Vá embora agora, Amelia — disse o conde do outro lado da
porta, não com desdém, mas o enrolar de sua língua irlandesa, era
especialmente pronunciado.
— Eu não vou. — O trinco foi puxado novamente. — Deve permitir
que eu fale com ele, Eirnin. Por um momento apenas. Eu imploro.
— Não beneficiará a nenhum dos dois.
— Beneficiará! Eu sei o que ele quer dizer. Eu o entendo. Você
não. Eu...
Que uma mão firme em uma bochecha macia pudesse estalar de
maneira tão limpa e ordenada era estranho e doloroso e fez o
menino sentir que poderia desonrar a si mesmo agora.
O suspiro de sua mãe borbulhava em soluços mais fortes.
— Não me contrarie — disse o Conde com firmeza. — E não
implore. Não é digno da minha esposa.
— Eirnin — ela sussurrou. Agora suas palavras eram abafadas. —
Eu lhe imploro.
— O menino vai falar por si mesmo, ou não falará nada.
— Deve lhe dar tempo. Pelo amor de Deus, ele é apenas uma
criança.
— Ele é meu herdeiro. Ele será um homem mais cedo do que
qualquer um de nós espera.
— Ele será um bom homem — ela insistiu. — E será um grande
lorde, mesmo se falar uma palavra ou não.
O pulso do menino disparava em sua garganta. Ele abriu bem a
boca. Umedeceu seus lábios com uma língua grossa. Mas nada
apareceu. Nada nunca saiu.
— Já tive o suficiente. — A voz do Conde era mais grave agora. —
Tornou-o dependente, Amélia. Não queria que chegasse a isto outra
vez, mas...
— Não, Eirnin. Não pode. — Medo e descrença se entrelaçaram
através de seu sussurro. — Não deve.
— Colin. — O Conde falou através da porta semifechada. — Sua
mãe está indo embora. Se quiser falar, faça-o agora e eu permitirei
que ela permaneça.
Seu corpo estava rígido. Uma névoa difusa invadiu sua cabeça,
quente, sombria e sufocante. Podia sentir suas narinas se dilatando,
seus olhos formigando, seu peito se soltando do aperto congelado e
empurrando enquanto o ar entrava e saía de seus pulmões.
Nenhum som saiu de sua boca.
— Assim seja — disse o Conde.
— Colin! — Sua mãe chorou, um som emudecido como se seus
lábios estivessem pressionados contra o painel. — Eu voltarei. Não
fique ansioso. Nos veremos novamente em breve, prometo. — Havia
lágrimas em sua voz. — Seja um bom menino. Faça o que seu pai
lhe pedir e ouça sempre o Sr. Gunter. Não, Einin! Não, por favor. —
Ela estava mais longe de repente. — Colin, — ela chamou, —
lembre-se do que eu te disse. Você é perfeito como é. Perfeito, meu
filho querido.
E, em seguida, eles foram embora, seus passos ecoando para
baixo da escada, seus soluços desaparecendo.
Ficou sentado por um longo tempo, na sala com apenas uma
cadeira, tanto que a luz do dia desapareceu e não podia mais ver as
mudas na colina. Sem vela, finalmente ficou na escuridão e o frio se
apropriou dele. Mas ele permaneceu imóvel, apesar de um rangido
em algum lugar que o fez estremecer e o vento do mar que batia na
vidraça parecendo fantasmas. O Conde admirava a coragem e a
força.
De manhã, quando a governanta viesse e abrisse a porta, ele faria
suas lições com o Sr. Gunter, que diria ao conde como ele era
disciplinado, e quão inteligente era, apesar de sua incapacidade de
falar. Então, satisfeito, o Conde permitiria que ela voltasse para casa,
como fizera em tempos anteriores.
E talvez desta vez, quando ela voltasse, talvez se ele tentasse
muito, falaria com ela.
Ele poderia fazer isso. Ele faria. Desta vez ele diria: — Bem-vinda
ao lar, mamãe.
Então ela o envolveria em seus braços e juntos ririam com alegria.
Sobre a Autora
Katharine é professora de história e cultura popular, ministra
cursos sobre a história da ficção romântica, religião em filmes e
ficção e escrita criativa na Duke University. Ela co-fundou e dirige a
UNSUITABLE Speakers Series (Série Oradores Inadequados) na
Duke University sobre mulheres, história e ficção popular. Escreve
publicamente e ensina em workshops sobre história das mulheres,
feminismo, romance e escrita. Ela também é a organizadora e
moderadora do Feminist Romance Book Club (Clube literário de
romance feminista) do Facebook.

Katharine vive no sudeste maravilhosamente quente com seu


marido, filho e um jardim que ela gosta de chamar de romântico, em
vez de desleixado. Ela adora conhecer os leitores pessoalmente e se
conectar com os leitores por carta, e-mail e também nas redes
sociais!
Próximo lançamento

Rhonda Forrest
9786599110603
Adquira aqui

Uma mistura intrigante de romance histórico, amadurecimento,


amor e suas complicações no cenário da Segunda Guerra Mundial.
Um romance que oferece uma ligação entre o presente e o
passado, mostrando a beleza natural de uma fatia espetacular da
Austrália.
Uma cabana de pesca isolada em uma bela baía em Whitsundays
oferece a Luke um retiro onde ele pode encontrar paz e solidão. No
entanto, a descoberta de relíquias de família da guerra e um
relacionamento em desenvolvimento com a bela Lily, conectam
histórias de linhagem e revelam um fato que ameaça destruir sua
chance real de felicidade.Os segredos da guerra serão o ponto de
ruptura para um belo romance? Ou duas famílias podem deixar para
trás os feitos do passado?
Romântico e puramente australiano, o The Shack by the Bay captura
a beleza intocada das Whitsundays e as memórias de guerra dos
australianos mais velhos, ao mesmo tempo em que introduz uma
mistura eclética de amigos e familiares.

Adquira aqui
Conheça outros Títulos

Jess Michaels
9786599019869
Adquira aqui

Um romance histórico HOT da autora Best-seller do USA TODAY,


Jess Michaels

Annabelle Flynn é a irmã dos dois maiores libertinos de Londres, e


sua reação a isso, foi tornar-se a imagem da pureza. Mas não
perdeu a natureza sensual de sua família e é perturbada por
impulsos que não ousa seguir.
Ela ignora as demandas de seu corpo e, em vez disso, se lança
em duas atividades diferentes: Buscar um casamento adequado na
Sociedade e tentar salvar seu irmão libertino, seguindo-o até Donville
Masquerade, um chocante inferninho e casa de jogos dirigido pelo
misterioso Marcus Rivers.
Durante o dia, Annabelle é uma elegante dama e procura um
marido sério para combater a reputação selvagem de seus irmãos. À
noite, ela se infiltra nos negócios de Marcus... e, eventualmente, se
vê seduzida na cama dele.
Mas uma dama não muito adequada e um canalha totalmente
inadequado podem encontrar algo em comum fora do quarto? E
Annabelle estará disposta a trocar paixão por "perfeição" fria e
calculada?
Duração: Romance completo
Nível de sensualidade: HOT e erótico

Este livro pode ser lido como um romance independente, mas faz
parte de uma série (The Notorious Flynns).

Adquira aqui

Emma V. Leech
9786599019845
Adquira aqui

Dentro de cada erudita pulsa o coração de uma leoa, um indivíduo


apaixonado disposto a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens
esquecidas fazem um pacto para mudar suas vidas, tudo pode
acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a
arriscar tudo?
Desafiando um Duque
Sonhos de amor verdadeiro e felizes para sempre.
Sonhos de amor são todos muito bons, mas tudo o que Prunella
Chuffington-Smythe quer é publicar seu romance. O casamento a
custo de sua independência é algo que ela não considerará.
Experimentou o sucesso escrevendo sob um nome falso na revista
semanal The Ladies, onde seu álter ego está alcançando
notoriedade e fama, a qual Prue gosta bastante.
Um dever que tem que ser suportado...
Robert Adolphus, o duque de Bedwin, não tem pressa em se
casar, ele já fez isso uma vez e repetir esse desastre é a última coisa
que deseja. No entanto, um herdeiro é um mal necessário para um
duque e não pode se esquivar disso. Uma reputação sombria o
precede, visto que sua primeira esposa pode ter morrido jovem, mas
os escândalos que a bela, vivaz e rancorosa criatura forneceu à
sociedade não a acompanharam. Devia encontrar uma esposa. Uma
esposa que não seria nem bonita nem vivaz, mas doce e sem graça,
e que com certeza ficasse longe de problemas.
Desafia a fazer algo drástico
O súbito interesse de um certo duque desprezível é tão
desconcertante quanto indesejável. Ela não vai jogar suas ambições
de lado para se casar com um canalha assim como seus planos de
autossuficiência e liberdade estão se concretizando. Se mostrar
claramente ao homem que ela não é a florzinha que ele procura,
será suficiente para dar fim às suas intenções? Quando Prue é
desafiada por suas amigas a fazer algo drástico, isso parece ser a
oportunidade perfeita para matar dois pássaros.
No entanto, Prue não pode deixar de ficar intrigada com o ladino
que inspirou muitos de seus romances. Normalmente, ele
desempenhava o papel de bonito libertino, destinado a destruir sua
corajosa heroína. Mas será realmente o vilão da trama desta vez, ou
poderia ser o herói?
Descobrir será perigoso, mas poderá inspirar sua melhor história
até o hoje.
**** Atenção: Este livro contém uma seleção cuidadosa de
determinação silenciosa, boca firmemente fechada e níveis (quase)
intransponíveis de tensão. Embora acoplado à presença de
encontros sexuais ocasionalmente descritivos, temos o prazer de
destacar que este livro - e série - não está de modo algum próximo
da erótica. ****

Adquira aqui

Caroline Mickelson
9786599019883
Adquira aqui

Londres - 1940

Enquanto as bombas alemãs caem sobre a cidade de Londres,


Emma Bradley arruma apressadamente uma mala, embala o filho
recém-nascido nos braços e embarca em um trem com duas
crianças refugiadas que concordou acompanhar em troca de um
emprego no sul de Londres, Inglaterra. Embora ela seja apenas uma
das milhares que deixam a cidade, Emma está fugindo de mais do
que os horrores da guerra. Seu maior medo é que o pai de seu filho
a encontre e se vingue pelo que roubou dele.

O renomado pianista holandês Andrej Van der Hoosen é um


homem que preza sua privacidade acima de tudo. Sua riqueza e
privilégio lhe deram o luxo de evitar estar perto de crianças por causa
de uma dolorosa perda em seu próprio passado. Então, quando ele
conhece a mulher e as crianças com quem vai morar durante a
guerra, fica instantaneamente em guarda. As crianças são
barulhentas e cheias de vida, a casa de campo em que foi designada
para viverem é pequena, e ele acaba intrigado com o segredo que
Emma está claramente tentando esconder.

Apesar da relutância em confiar um no outro, Emma e Andrej logo


se vêem unidos em um mundo dilacerado pela guerra.

Adquira aqui

Emmanuele de Maupassant
9786599019814
Adquira aqui

Capturada. Seduzida. Desejada.


À mercê de um bando de vikings selvagens, liderado por um
formidável guerreiro. Mantida em cativeiro contra sua vontade.
Pela primeira vez, a força de vontade de um homem corresponde
à de Elswyth.
Sob o domínio de seu cruel captor, Elswyth descobre que o desejo
de um viking não deve ser negado.
Ela será forte o suficiente para estabelecer seus próprios termos
com o homem que deseja dominá-la, ou estará destinada a entregar
tudo, inclusive o coração?
Descubra o desejo ardente e a paixão brutal, em um mundo
ameaçado por ambição, ciúme e vingança.

Nível de calor: vulcânico

Viking Trovão é o prequel da série dark Guerreiros Vikings.

Adquira aqui

Victoria Howard
9786599019838
Adquira aqui

Quando o contador inglês Daniel Elliott morre em um acidente de


carro em uma noite chuvosa, sua viúva, Grace, é tomada de tristeza
... e pânico. Daniel era controlador e o casamento deles sem amor,
mas sempre cuidou da proteção de Grace.
Ou assim ela pensava.
Ela logo descobre que Daniel guardava segredos: um pseudônimo,
laços com a máfia, uma lista de números, uma misteriosa casa de
praia na Flórida ... e uma namorada que se parece com Grace.
Engolindo seu medo, ela voa para Miami para reivindicar a casa
que Daniel deixou. Mas o preço de sua curiosidade é perigoso.
Figuras do submundo a perseguem. A outra mulher deixa um rastro
condenável de evidências apontando para ela. E bonito e
problemático agente do FBI, Jack West, já se cruzou com Grace
antes. Ele poderia ser seu salvador ou sua condenação. Tudo o que
ela sabe com certeza é que deseja estar em seus braços.
Com pouco para continuar e correndo perigo a todo momento,
Grace deve depender de Jack para ajudá-la a percorrer o mundo
criminoso do sul da Flórida e encontrar a verdade por trás do Anel de
Mentiras.

Adquira aqui

Elizabeth Johns
9786580754090
Adquira aqui

Rhys Godfrey, Lorde Vernon, e Lady Beatrice Chalcroft, filha do


Duque de Loring, haviam sido prometidos desde a infância em um
acordo feito por seus pais.
Ao contrário da maioria dos casamentos arranjados, Vernon amara
Beatrice desde a primeira vez que a viu. Na temporada em que
deveriam se casar, o relacionamento foi rompido por ciúme e
orgulho.
Beatrice foi enviada para longe de casa com intuito de que
reformasse seu comportamento maldoso, e Vernon, magoado,
resolveu abandonar o amor.
Lorde Vernon decide seguir em frente com um casamento de
conveniência e sem emoção.
Lady Beatrice se vê reduzida da filha de um duque a uma vida de
serviço na Escócia, tendo que aprender os caminhos dos menos
privilegiados.
Os dois irão se reencontrar? Ou Vernon escolherá outra noiva
antes disso? Beatrice será capaz de se humilhar e parar de ser
rabugenta e mimada?

Adquira aqui

Maggi Andersen
9786580754083
Adquira aqui

Um romance gótico vitoriano


Uma nuvem escura paira sobre Wolfram, a antiga abadia que
Laura chama de seu novo lar. Ela poderia confiar no homem
misterioso com quem se casou?
Depois de um namoro relâmpago, Laura Parr se casa com um
Barão, lorde Nathaniel Lanyon, que a leva para morar em sua antiga
casa no sul da Inglaterra. Laura chega à Cornualha animada para
começar a vida com o homem ardente com quem se casou. Mas
segredos espreitam nas sombras. A morte da primeira esposa de
Nathaniel nunca foi resolvida e alguns moradores acreditam que ele
foi o responsável. Lutando para entender seu novo marido, Laura
tenta descobrir a verdade. A cada nova descoberta, ela se aproxima
do perigo.
Lorde Nathaniel Lanyon decidiu nunca mais se casar. Mas, quando
conhece a Srta. Laura Parr, filha de Sir Edmund Parr, numa tarde
chuvosa, percebe quase imediatamente que tem que tê-la em sua
vida. E a única maneira de poder fazer isso, era se casando com ela.
Nathaniel acredita que seu passado conturbado ficara para trás e
que poderá oferecer uma boa vida a Laura em Wolfram, mesmo que
ele nunca possa lhe oferecer seu coração. Mas assim que passam a
morar na antiga abadia, o passado volta a assombrá-lo, revelando
segredos que pensava terem sido enterrados para sempre. Enquanto
tenta lutar contra as forças que o ameaçam, percebe que Laura,
determinada, exigirá mais do que ele pode dar a ela.

“Um romance gótico no estilo clássico, a autora é uma mestra em


criar uma atmosfera sinistra e personagens multifacetados.” Coffee
Time Romance e muito mais.

“O enredo é interessante e o mistério adicionado me manteve


fascinado. O romance me fez pensar até o fim.” The Romance
Studios.

“Foi difícil largar a história, pois o mistério permaneceu fora de


alcance, atraindo o leitor para além do enredo. [Isso] me manteve
acordado até tarde da noite, seguindo o quebra-cabeça da Abadia de
Wolfram. Estou ansioso para ver mais de Maggi Andersen.” Sirene
Book Reviews.
Adquira aqui

Phillippa Nefri Clark


9786580754076
Adquira aqui

Thomas e Martha acreditavam que seu amor era invencível até


que uma série devastadora de eventos os separou. Para seu
encontro final, eles prometeram se reunir no cais onde se
conheceram.
Cinquenta anos depois, Christie Ryan herda uma casa de
campo em ruínas em uma cidade litorânea da qual nunca ouviu falar.
Com a descoberta de um mistério comovente, se torna obcecada
para desvendar velhos segredos de família.
O artista recluso Martin Blake cresceu com seu avô depois de
perder os pais. A chegada em sua cidade de uma garota da
metrópole com uma conexão para o passado desafia tudo o que ele
sabe sobre si mesmo.
Em lados opostos de um mistério, dois estranhos têm algo em
comum e correm o risco de ver seus mundos seguros destruídos.
Cinquenta anos de segredos estão prestes a ruir.
Uma história fascinante de amor perdido, coragem e redenção, e
de como as consequências da manipulação de uma mulher se
espalha por três gerações.

Adquira aqui

AnneMarie Brear
9786580754069
Adquira Aqui

1864

De repente, Kitty McKenzie é deixada como chefe da família e


deverá encontrar sua força interior para mantê-la unida contra todas
as probabilidades.
Despejada, após a morte de seus pais, de sua resplandecente
residência na parte elegante de York, Kitty precisará combater o
legado da falência e da falta de moradia para garantir um lar para ela
e seus irmãos
Com determinação e pura força de vontade, ela se agarra às
oportunidades, desde trabalhar com roupas e barracas no mercado
até abrir uma loja de chá para os ricos.
Seu caminho para a felicidade é repleto de obstáculos,
dificuldades e desespero, mas Kitty se recusa a deixar morrer seu
sonho de uma vida melhor para sua família.
Ela logo descobre que amor e lealdade trazem sua própria
recompensa.

Adquira Aqui

Jess Michaels
9786580754038
Adquira Aqui

Durante anos, Serafina McPhee está comprometida a se casar o


duque de Hartholm e, por quase o mesmo tempo, ela luta para
encontrar uma maneira de sair desse noivado. Quando ele morre
repentinamente, ela não chora, mas se emociona com a ideia de que
estará livre. Infelizmente, os melhores planos dão errado quando o
próximo na fila para o título, o primo do duque, Raphael "Rafe" Flynn,
é forçado a assumir o compromisso. Mas Serafina conhece a
reputação de Rafe como libertino e também não quer nada com ele,
mesmo ele sendo devastadoramente bonito.
Ela lhe propõe um acordo: ela concorda com o casamento e
fornece a Rafe seu herdeiro e um sobressalente. Depois que cumprir
seu dever, ele a deixará ir.
Rafe está intrigado tanto por sua beleza quanto por seu total
desgosto com a ideia de ser sua noiva. As mulheres normalmente
caem aos seus pés, não o temem.
Como o casamento arranjado não é algo do qual Raphael "Rafe"
Flynn possa escapar, ele concorda com os termos de Serafina
McFhee.
Mas quando, na noite de núpcias, descobre a verdade sobre a
tortura que ela sofreu nas mãos de seu antecessor, se vê impelido a
não apenas cumprir sua barganha com sua nova esposa, mas a
apresentá-la ao desejo. Enquanto eles se aproximam, se rendendo a
prazeres perversos, emoções perigosas podem violar todos os
acordos que fizeram.

Adquira Aqui

Mirella Sichirollo Patzer


9786580754021
Adquira Aqui

Uma mulher prestes a fazer seus votos religiosos.


Uma fuga desesperada de um massacre assassino.
Um homem vem em seu socorro.
Outro se torna seu inimigo e captor.
E uma busca mortal para se reunir com seu único amor verdadeiro.

No século X em Nápoles, os sarracenos correm desenfreados,


aniquilando aldeias, assassinando mulheres e crianças. Morte e
desespero estão por toda parte. Sozinha no mundo, Sara é uma
jovem noviça atormentada com dúvidas sobre os votos finais para se
tornar freira. Quando seu convento é atacado, ela foge para salvar
sua vida caindo direto nos braços de um grupo de sarracenos que a
deixam para morrer sozinha na floresta.
Um Cavaleiro honorável chamado Nicolo vem em seu socorro e
se oferece para levá-la em segurança para Nápoles. Enquanto
viajam juntos, são irresistivelmente atraídos um pelo outro.
Acreditando que Sara é freira, o honorável Nicolo está dividido entre
o amor e o dever de respeitar seus votos. Desolado, ele faz o que a
honra exige e a liberta antes que ela possa lhe dizer a verdade, de
que ela não é freira.

Em sua busca de se reunir com Nicolo, ela encontra Umberto,


um homem sombrio e perigoso que tem obsessão por possuí-la.
Com seu intelecto afiado e seu coração, Sara deve confiar em sua
própria coragem e força para escapar de seu agressor e encontrar o
único homem que ela amará.

Uma história que brilha com intensidade, intriga e paixão.

Da autora do romance Órfã da Oliveira, grande sucesso


internacional e nosso futuro lançamento

Adquira Aqui
Katharine Ashe
9786580754014
Adquira aqui

A tentação de seus lábios...

Libby Shaw se recusa a aceitar os ditames da sociedade.


Ela está determinada a se tornar um membro do Royal College
de Cirurgiões – uma Academia exclusivamente masculina de
Edimburgo.
Disfarçando-se de homem, ela frequenta a sala de cirurgia e
engana a todos - exceto o homem que nunca esqueceu a forma de
seus lábios deliciosamente sensuais.

...fará um príncipe dizer sim a todos os seus desejos.

Forçado a deixar sua casa quando menino, o famoso retratista


Ziyaeddin é secretamente o príncipe exilado de um reino distante.
Desde que conheceu Libby, memorizou todos os detalhes de
seu rosto e desenhou-a. Mas seus lábios perfeitos deram trabalho a
ele - aqueles mesmos lábios que agora deseja beijar.
Quando Libby pede sua ajuda para esconder sua identidade
feminina do mundo, Ziyaeddin concorda com uma condição: Deveria
posar para que ele a pintasse - como uma mulher.
Mas esse esquema ousado poderia fazer com que ambos
fossem arremessados ao perigo... e a um amor inigualável.

Adquira aqui

Kathleen McGurl
9876580754007
Adquira aqui

1829

O belo e bem-sucedido Henry Cavell, acaba de retornar à


Inglaterra depois de servir ao exército na Índia, se instala na cidade
de Worthing, em frente ao mar. Ele está de posse de um grande
diamante, dado a ele na Índia, que promete dar à mulher que ama -
quando encontrá-la.

Jemima Brown, uma jovem de dezesseis anos e de bom


coração, passa a trabalhar para ele como criada de serviços gerais.
Quando o Sr. Cavell a defende das atenções indesejadas de alguns
trabalhadores que prestavam serviços em sua casa, percebe
imediatamente o quanto ele é íntegro e respeitável.
Mas foi Caroline Simpson, filha de um desses trabalhadores de
Henry, quem chamou a atenção dele. Podia ser socialmente inferior,
mas era bonita, sabia flertar e como usar seus encantos. Ela
manipula Henry para que se case com ela, e apenas a fiel Jemima
sabe que ele fora enganado.

Como Jemima poderia lutar contra seus sentimentos crescentes


pelo Sr. Cavell, manter sua moral e permanecer no emprego, apesar
do comportamento cada vez mais errático de sua patroa?

Adquira aqui
Título Infantil

Berni Pajdak e Silver Rios


9786580754052
Adquira aqui

Toni, o protagonista de O Grande Circo Iris é um garoto tímido,


apaixonado e muito talentoso. Sua irmã Sara o apoia dia após dia e
o encoraja em um momento oportuno, para que Toni realize um de
seus grandes sonhos e possa se tornar o protagonista de uma
performance de circo. O Grande Circo Iris é uma história infantil que
exala humor, sensibilidade e respeito que aborda sutilmente o
problema da deficiência infantil. É um livro dedicado a crianças com
diversidade funcional, a seus irmãos, que os apoiam dia após dia e a
seus pais, que às vezes não têm em casa as ferramentas
necessárias para trabalhar com seus filhos, emocional e fisicamente
frágeis.

Adquira aqui
Thaig Books

Gilberto Nascimento
B085B9F38W
Adquira Aqui

Em 23 de maio de 1848, uma carta anônima é enviada ao


Delegado com a informação de uma mulher mantida presa por 15
anos por sua mãe, em um sótão sórdido, entre o lixo e vermes.
Mariana tinha sua vida planejada, se casar, escrever um livro e ter
uma família. Até que um homem inesperado muda o rumo de todo
seu destino.
Miguel, um jovem de classe média se apaixona perdidamente por
Mariana, mas a mãe da jovem, que é conhecida em toda cidade,
proíbe esse romance, que ao ver a desobediência de sua filha
descarrega sua ira sobre ela, lhe causando muitas dores, lágrimas,
perdas e medos constantes.
Após uma breve fuga, Mariana é forçada renunciar ao seu amor.
Sem medir esforços, Constância chegará ao extremo para manter
seu nome e seus méritos na sociedade. Até mesmo retirar seu neto
das entranhas da filha.
A jovem antes cheia de vida e sonhos só podia desejar a morte,
sem conseguir sobreviver ao caos que seus dias se transformaram
após ser trancafiada no sótão pela própria mãe, desejava paz para
seus dias solitários e sem esperança... Durante 15 anos.

Adquira Aqui
Informaçoes Leabhar Books®

Quer receber marcador do livro gratuitamente? Envie o print


da compra para o E-mail Leabhar Books®

Você também pode gostar