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Exemplo Resenha 1

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RESENHA DO LIVRO:

PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO
1
AVELAR, Maria Carmen Castanheira . Lorena, Instituto Santa Teresa, 2016.2
ISBN: 978-85-99189-54-2

Este trabalho tem por objetivo mostrar a contribuição da Psicologia na Educação.


Até a década de 50, a Psicologia ocupou um lugar privilegiado no cenário educacional
brasileiro. Contudo, a relação entre a Psicologia e a Pedagogia tem passado por sérios
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questionamentos. A Psicologia caiu em desprestígio, desde que se constatou o modo


reducionista de sua atuação na Educação e também a inadequação de algumas teorias
psicológicas tomadas como ponto de referência exclusivo para os educadores. Por isto,
surgiram diversas tentativas de melhoria do ensino no Brasil, alternando-se a predominância de
um ou de outro fator determinante do processo educativo.
A partir da década de 60, os condicionantes sociais da educação começaram a superar
os procedimentos psico-pedagógicos, na expectativa de serem conseguidas grandes
mudanças na escola brasileira. Não obstante o empenho de pedagogos, a substituição da
Psicologia da Educação por outros fatores ou campos do conhecimento não tem conseguido
equacionar os problemas educacionais do Brasil. A complexidade da prática educacional
requer a articulação transdisciplinar das diversas áreas do conhecimento que a constituem.
Em decorrência destas reflexões e tendo como ponto de partida a convicção de que a
Psicologia deve participar no processo educativo, de modo articulado com outros fatores, decidi
realizar este trabalho sobre a relação entre a Psicologia e a Educação, objetivando mostrar sua
contribuição para a melhoria do ensino sobretudo da la à 4a série do 1º grau.
Ο trabalho inicia-se com a análise da relação acontecida ao longo da história entre a
Psicologia e a Educação (Capítulo I), destacando tanto a perspectiva psicológica da obra de
grandes filósofos, teóricos e educadores de séculos passados, quanto a influência que as
correntes psicológicas mais recentes (século XX) passaram a exercer sobre a prática
educativa. A partir desta análise histórica, pode-se verificar em que consiste a contribuição da
Psicologia ā educação e quais as razões da crise surgida na relação entre as mesmas.
Partindo do pressuposto da necessidade de uma adequada compreensão do
conhecimento - parte nuclear dos processos de aprendizagem —, o Capitulo II descreve as
correntes tradicionais explicativas da construção do conhecimento (racionalismo e empirismo)
e apresenta um terceiro modelo alternativo que surgiu para corrigir as distorções e
inadequações dos modelos anteriores.

1
Professora da PUC-Rio e do ISE –Censa (Instituto Superior de Educação). Religiosa salesiana, doutorou-se em Teologia
Sistemático-Pastoral pela PUC-Rio. Mestre em Psicologia da Educação pela FGV-RJ. Especializou-se em Espiritualidade pela
Universidade Pontificia Salesiana (UP.S) de Roma. É autora de artigos em revistas e capítulos em livros. Tem ampla experiência
no setor educacional e pedagógico, como professora, coordenadora pedagógica e diretora. Atividades pastorais, grupos de
aprofundamento teológico e de pesquisa/publicação e também projetos sociais fazem parte do seu currículo.
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Interagindo com outras áreas, é decisiva a participação da Psicologia neste processo.
O Capítulo III apresenta os elementos principais da Epistemologia Genética de Jean
Piaget. A elaboração de um modelo de construção do conhecimento que supera o
reducionismo dos racionalistas e dos empiristas tem contribuído para resgatar o papel da
Psicologia no processo educativo. Por isto a teoria piagetiana tem fundamentado diversas
experiências surgidas no Brasil, a partir dos anos 80. A complementação oferecida ā
Psicogenética pela Psicologia histórico-crítica, liderada por Vygotsky e os recentes trabalhos de
neo-piagetianos são indicados como fatores que provocaram um significativo resgate do
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construtivismo-interacionista.
Ο capítulo IV relata os aspectos principais de uma bem sucedida experiência realizada
no Colégio Auxiliadora de Campos dos Goitacazes - RJ - onde se conseguiu uma significativa
mudança qualitativa dos procedimentos pedagógicos pela implantação da postura
construtivista nas primeiras séries do 1º grau.
A conclusão recolhe alguns depoimentos de membros da comunidade educativa da
Instituição pesquisada, comprovando o êxito da experiência. Destaco também algumas
considerações sobre o significado de uma relação harmônica entre Psicologia e Pedagogia, no
conjunto transdisciplinar que envolve diversas áreas do conhecimento que são decisivas na
dinâmica do processo educativo..
Na expectativa de que muitos e muitas se animem na leitura do livro, passo a fazer
algumas considerações sobre o conteúdo do mesmo. O objetivo é que esta leitura provoque
reflexões individuais e comunitárias que venham a contribuir com um compromisso efetivo com
atitudes educativas, pedagógicas transformadoras do processo educacional no Brasil.

A escola de 1º grau no Brasil –(podemos estender esta reflexão aos diferentes níveis
educacionais do Brasil)- tem passado por sucessivos períodos de crise, constituindo verdadeiro
desafio aos pedagogos e professores. Mais recentemente, agravou-se a situação porque a
escola elitista, que fundamentava seu trabalho em modelos estrangeiros, tornou-se cada vez
mais inadequada a um novo tipo de clientela que, devido à pressão de classes trabalhadoras,
conseguiu ocupar os bancos escolares. Houve mudança qualitativa e quantitativa no alunado
que emergiu de um controvertido processo de democratização do ensino que desafia a
escolarização.
De fato, nas últimas décadas constata-se que, por um lado, a crença generalizada na
ascensão social pela escola (Cf. Paschoal Leme, l983) motivou a procura da escolarização e
fez crescer a oferta de oportunidades educacionais. De outra parte, porém, sabe-se que
milhões de crianças, adolescentes e jovens brasileiros não conseguem acesso ao espaço
escolar. E os que ingressam na Escola nem sempre conseguem completar os estudos. Tudo
isto porque a estrutura educacional brasileira não sofreu mudanças expressivas que garantam

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a melhoria do ensino. A escola não se preparou para receber e educar a nova clientela de lº
grau que a deixou perplexa.
A situação de crise em que se encontra o ensino no Brasil não é recente. Já em 1934,
Lourenço Filho, apresentando os resultados obtidos no primeiro levantamento estatístico global
da situação do ensino, depois da revolução de 30, dizia:

O que mais impressiona não é só a taxa de crianças em idade escolar, fora das
escolas. Para oito milhões de crianças nestas condições, não foi surpresa saber-
se que pouco mais de 2 milhões estão arroladas nas escolas. Mas, a frequência
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não chega a 70%. E sobre frequência assim reduzida, a deserção é sintoma


impressionante. Mesmo para o ensino fundamental comum, a taxa dos alunos
que chegam a terminar ○ curso não atinge a 61%. O rendimento efetivo real do
ensino primário no Brasil é, pois, dos mais pobres em todo o mundo, à vista da
deserção ( Cf. Lourenço Filho, 1934).

As condições educacionais ainda não mudaram muito porque, além da insuficiência de


escolas para o atendimento da demanda populacional, constata-se que a escola de lª à 4ª série
é deficiente e inadequada tanto no que se refere à ótica cultural, quanto à ótica social e psico-
pedagógica. Não exageramos, ao afirmarmos que a escola brasileira tem produzido mais
fracasso do que sucesso porque marginaliza a maioria do ensino de boa qualidade, porque não
leva em conta interesses, problemas, dificuldades, possibilidades da criança brasileira
concreta, porque valoriza sobretudo os conteúdos que estão nos livros, trabalhando-os de
modo ineficaz, em detrimento das experiências dos alunos que vão se distanciando daquilo
que a escola ensina e se tornando incapazes de aprender aquilo que lhes é imposto.
Desconhecendo quem são seus alunos, os professores exigem disciplina, obediência,
esforço de atenção na reprodução do que lhes é apresentado. Esquecem sua independência,
sua capacidade criadora e prática de resolver problemas e, quase sempre, não os desafiam
para a construção consciente, crítica e científica do saber, deixando-os permanecer
acomodados, sem possibilidades (ou condições) de assumir um processo de transformação e
de desenvolvimento pessoal e grupal.
O quadro realmente dramático das condições de ensino de lª à 4ª série, no Brasil é
agravado pelo tipo de formação que o professor recebe, uma vez que se apresenta alienado
quanto ao conhecimento da criança, quanto ao conhecimento de sua sociedade, de seus
valores culturais, quanto aos requisitos científicos, técnicos, psico-pedagógicos indispensáveis
e uma efetiva e eficiente inserção profissional.
Neste contexto, de ineficácia da Escola de 1º grau, no Brasil, têm surgido muitas
discussões em torno da questão: qualidade do ensino. São vários os pontos de vista, as
interpretações e as teorias sobre a culpabilidade da inadequação do ensino de lº grau no Brasil.
Alguns educadores chegam a projetar a culpa do fracasso educacional brasileiro nos próprios
alunos, rotulando-os de incompetentes, especiais, excepcionais, carentes, deficientes,

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incapazes, privados de cultura (quando de condição social inferior) e de irresponsáveis e
acomodados (quando de camadas privilegiadas). Mas, de modo geral, é sobre o professor que
recai, mais frequentemente, a culpa pelo fracasso escolar. Sem direito, às vezes, de selecionar
o que deve ensinar, trabalhando em situações precárias, sem a devida preparação técnico-
profissional, o professor de lª à 4ª série é pago para executar currículos preparados em nível de
gabinete.
Naturalmente, existem gravíssimos problemas de ordem conjuntural e estrutural,
problemas sociais, econômicos e políticos que também são causas do fracasso do ensino de lª
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à 4ª série e do mau desempenho dos professores. Um dos graves desafios advindos desta
situação é o da construção de uma nova escola, que compreenda e se adapte à realidade do
aluno e responda às exigências de qualidade e eficácia do processo de ensino-
aprendizagem.18
Nesta difícil trajetória da educação no Brasil, têm surgido também muitas
tentativas de solução, alternando-se a predominância de um ou de outro fator determinante do
processo educativo. A partir da década de 60, diversas propostas educacionais movimentaram
o cenário brasileiro, na expectativa de transformações profundas.
Em alguns momentos, emergiram, então, os condicionantes sociais da educação,
provocando maior realce às questões sociais e à função social e política da escola. Neste
contexto, os aspectos psicológicos passaram a ser pouco ou quase nada valorizados, uma vez
que as realidades sociais passaram a predominar. O grande problema de fortalecimento da
escola pública tornou-se bandeira de luta de todos os educadores conscientes e engajados nas
questões de interesse nacional. A qualidade dos procedimentos pedagógicos foi relegada ao
segundo plano, enquanto crescia a demanda pela gratuidade do ensino, por melhores
condições salariais do professor e pela educação democrática. Um dos papeis principais do
educador passou a ser a contribuição para a eliminação de desigualdades sociais e o empenho
pela mudança das estruturas sociais. O compromisso de participação no projeto educacional
brasileiro incluía, de um lado, a rejeição de modelos teóricos elaborados em países mais
desenvolvidos e, de outra parte, reforçava a responsabilidade pela organização política das
classes populares, pela transformação das relações sociais e pela preparação de cidadãos
críticos e engajados nas questões sociais.
Apesar do empenho de inúmeros educadores, as diversas alternativas de solução
propostas não têm encontrado o êxito esperado e desejado. Exercendo há mais de trinta anos
a missão-profissão de educadora, não posso ficar alheia aos sucessivos períodos de crise
pelos quais tem passado a escola de 1º grau no Brasil. Desde que venho me interessando pela
busca de um caminho educacional mais adequado à realidade brasileira, como professora de
Fundamentos da Educação, preocupo-me com a maneira como são conduzidos os cursos de
Formação de Professores e com a qualidade do trabalho docente das primeiras séries do 1º
grau.
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Além de outras lacunas, constato certa tendência a abandonar, a rejeitar e até mesmo a
excluir a Psicologia da tarefa educacional pelo fato de, em diversos momentos de sua
trajetória, o sistema educacional brasileiro, perpassado de psicologismo e de maléficos
resíduos dessa tendência, não ter encontrado a maneira mais adequada para trabalhar
pedagogicamente com a criança e com os jovens brasileiros.
Parece-me ser este um grande equívoco, se considerarmos a complexidade da prática
educacional que deve ser trabalhada em sua totalidade através do diálogo e da articulação
transdisciplinar das diversas áreas do conhecimento que a constituem.
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De acordo com a experiência adquirida enquanto professora de Fundamentos da


Educação, julgo igualmente grave tanto a desconsideração dos problemas de ordem
conjuntural e estrutural (sociais, econômicos, culturais e políticos) quanto a exclusão da
psicologia da dinâmica do processo educativo.
Em decorrência das reflexões desenvolvidas anteriormente sobre a dramática situação
educacional brasileira e tendo como ponto de partida a convicção de que a Psicologia é um
entre outros fatores determinantes do ato educativo, decidi realizar este trabalho sobre: A
Psicologia e a Educação, objetivando mostrar que a Psicologia deve incluir-se no processo
educativo e pode contribuir para a melhoria do ensino nas escolas do Brasil.
Não obstante reconhecer a importância da Psicologia, não defendo apenas sua
predominância nas questões educacionais, porque reconheço a relevância dos diversos outros
fatores (sociais, econômicos, políticos, culturais, antropológicos). Somente numa interação
equilibrada e harmônica poderão as diversas áreas do conhecimento contribuir com a
Pedagogia, no encaminhamento do processo educativo, considerado tanto no seu mais amplo
sentido como também no que se refere ao processo de ensino-aprendizagem.
Apresentando as contribuições da Psicologia ao processo educativo, indico também
alguns inconvenientes de teorias psicológicas, tanto por se apresentarem inadequadas à
realidade, quanto por serem instrumentalizadas por ideologias que distorcem os objetivos
educacionais.
Dando, pois, realce ao fator psicológico da educação, não elimino o significado de
outras áreas do conhecimento igualmente importantes. O êxito na educação depende de uma
consistente transdisciplinaridade que garanta uma abordagem completa do fenômeno
educativo, na sua totalidade.
O recorte que faço neste trabalho destacando as contribuições da Psicologia à
Educação se prende ao fato de ainda não ter sido superado totalmente o desprestígio em que
esta ciência caiu devido à maneira reducionista, descontextualizada, acrítica e improvisada
pela qual foi utilizada nos ambientes educacionais. A solução para esta questão parece
encontrar-se na inclusão e não na exclusão da Psicologia da globalidade do processo
educativo. Associada às outras ciências, a Psicologia poderá exercer, de modo eficaz, sua
função de sustentadora do ato educativo.
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Apesar de apresentar a influência de diversas correntes psicológicas sobre a Educação,
destaquei o construtivismo interacionista que, a partir da década de 80 tem fundamentado
numerosas experiências que intentam melhorar a qualidade do ensino fundamental no Brasil.
Entre estas experiências, situa-se a que e descrita no capítulo IV do trabalho: implantação da
postura construtivista nas primeiras séries do fundamental do Colégio Auxiliadora de Campos,
em 1991 e da qual participei como assessora.
Acredito que o livro em pauta possa contribuir para o despertar de interesse para
maiores aprofundamentos nas mais atuais teorias psicológicas que contribuem para a eficácia
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de procedimentos pedagógicos e educacionais.

Rio de Janeiro, julho de 2017


Maria Carmen Castanheira Avelar

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