Exemplo Resenha 1
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PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO
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AVELAR, Maria Carmen Castanheira . Lorena, Instituto Santa Teresa, 2016.2
ISBN: 978-85-99189-54-2
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Professora da PUC-Rio e do ISE –Censa (Instituto Superior de Educação). Religiosa salesiana, doutorou-se em Teologia
Sistemático-Pastoral pela PUC-Rio. Mestre em Psicologia da Educação pela FGV-RJ. Especializou-se em Espiritualidade pela
Universidade Pontificia Salesiana (UP.S) de Roma. É autora de artigos em revistas e capítulos em livros. Tem ampla experiência
no setor educacional e pedagógico, como professora, coordenadora pedagógica e diretora. Atividades pastorais, grupos de
aprofundamento teológico e de pesquisa/publicação e também projetos sociais fazem parte do seu currículo.
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Interagindo com outras áreas, é decisiva a participação da Psicologia neste processo.
O Capítulo III apresenta os elementos principais da Epistemologia Genética de Jean
Piaget. A elaboração de um modelo de construção do conhecimento que supera o
reducionismo dos racionalistas e dos empiristas tem contribuído para resgatar o papel da
Psicologia no processo educativo. Por isto a teoria piagetiana tem fundamentado diversas
experiências surgidas no Brasil, a partir dos anos 80. A complementação oferecida ā
Psicogenética pela Psicologia histórico-crítica, liderada por Vygotsky e os recentes trabalhos de
neo-piagetianos são indicados como fatores que provocaram um significativo resgate do
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construtivismo-interacionista.
Ο capítulo IV relata os aspectos principais de uma bem sucedida experiência realizada
no Colégio Auxiliadora de Campos dos Goitacazes - RJ - onde se conseguiu uma significativa
mudança qualitativa dos procedimentos pedagógicos pela implantação da postura
construtivista nas primeiras séries do 1º grau.
A conclusão recolhe alguns depoimentos de membros da comunidade educativa da
Instituição pesquisada, comprovando o êxito da experiência. Destaco também algumas
considerações sobre o significado de uma relação harmônica entre Psicologia e Pedagogia, no
conjunto transdisciplinar que envolve diversas áreas do conhecimento que são decisivas na
dinâmica do processo educativo..
Na expectativa de que muitos e muitas se animem na leitura do livro, passo a fazer
algumas considerações sobre o conteúdo do mesmo. O objetivo é que esta leitura provoque
reflexões individuais e comunitárias que venham a contribuir com um compromisso efetivo com
atitudes educativas, pedagógicas transformadoras do processo educacional no Brasil.
A escola de 1º grau no Brasil –(podemos estender esta reflexão aos diferentes níveis
educacionais do Brasil)- tem passado por sucessivos períodos de crise, constituindo verdadeiro
desafio aos pedagogos e professores. Mais recentemente, agravou-se a situação porque a
escola elitista, que fundamentava seu trabalho em modelos estrangeiros, tornou-se cada vez
mais inadequada a um novo tipo de clientela que, devido à pressão de classes trabalhadoras,
conseguiu ocupar os bancos escolares. Houve mudança qualitativa e quantitativa no alunado
que emergiu de um controvertido processo de democratização do ensino que desafia a
escolarização.
De fato, nas últimas décadas constata-se que, por um lado, a crença generalizada na
ascensão social pela escola (Cf. Paschoal Leme, l983) motivou a procura da escolarização e
fez crescer a oferta de oportunidades educacionais. De outra parte, porém, sabe-se que
milhões de crianças, adolescentes e jovens brasileiros não conseguem acesso ao espaço
escolar. E os que ingressam na Escola nem sempre conseguem completar os estudos. Tudo
isto porque a estrutura educacional brasileira não sofreu mudanças expressivas que garantam
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a melhoria do ensino. A escola não se preparou para receber e educar a nova clientela de lº
grau que a deixou perplexa.
A situação de crise em que se encontra o ensino no Brasil não é recente. Já em 1934,
Lourenço Filho, apresentando os resultados obtidos no primeiro levantamento estatístico global
da situação do ensino, depois da revolução de 30, dizia:
O que mais impressiona não é só a taxa de crianças em idade escolar, fora das
escolas. Para oito milhões de crianças nestas condições, não foi surpresa saber-
se que pouco mais de 2 milhões estão arroladas nas escolas. Mas, a frequência
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incapazes, privados de cultura (quando de condição social inferior) e de irresponsáveis e
acomodados (quando de camadas privilegiadas). Mas, de modo geral, é sobre o professor que
recai, mais frequentemente, a culpa pelo fracasso escolar. Sem direito, às vezes, de selecionar
o que deve ensinar, trabalhando em situações precárias, sem a devida preparação técnico-
profissional, o professor de lª à 4ª série é pago para executar currículos preparados em nível de
gabinete.
Naturalmente, existem gravíssimos problemas de ordem conjuntural e estrutural,
problemas sociais, econômicos e políticos que também são causas do fracasso do ensino de lª
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à 4ª série e do mau desempenho dos professores. Um dos graves desafios advindos desta
situação é o da construção de uma nova escola, que compreenda e se adapte à realidade do
aluno e responda às exigências de qualidade e eficácia do processo de ensino-
aprendizagem.18
Nesta difícil trajetória da educação no Brasil, têm surgido também muitas
tentativas de solução, alternando-se a predominância de um ou de outro fator determinante do
processo educativo. A partir da década de 60, diversas propostas educacionais movimentaram
o cenário brasileiro, na expectativa de transformações profundas.
Em alguns momentos, emergiram, então, os condicionantes sociais da educação,
provocando maior realce às questões sociais e à função social e política da escola. Neste
contexto, os aspectos psicológicos passaram a ser pouco ou quase nada valorizados, uma vez
que as realidades sociais passaram a predominar. O grande problema de fortalecimento da
escola pública tornou-se bandeira de luta de todos os educadores conscientes e engajados nas
questões de interesse nacional. A qualidade dos procedimentos pedagógicos foi relegada ao
segundo plano, enquanto crescia a demanda pela gratuidade do ensino, por melhores
condições salariais do professor e pela educação democrática. Um dos papeis principais do
educador passou a ser a contribuição para a eliminação de desigualdades sociais e o empenho
pela mudança das estruturas sociais. O compromisso de participação no projeto educacional
brasileiro incluía, de um lado, a rejeição de modelos teóricos elaborados em países mais
desenvolvidos e, de outra parte, reforçava a responsabilidade pela organização política das
classes populares, pela transformação das relações sociais e pela preparação de cidadãos
críticos e engajados nas questões sociais.
Apesar do empenho de inúmeros educadores, as diversas alternativas de solução
propostas não têm encontrado o êxito esperado e desejado. Exercendo há mais de trinta anos
a missão-profissão de educadora, não posso ficar alheia aos sucessivos períodos de crise
pelos quais tem passado a escola de 1º grau no Brasil. Desde que venho me interessando pela
busca de um caminho educacional mais adequado à realidade brasileira, como professora de
Fundamentos da Educação, preocupo-me com a maneira como são conduzidos os cursos de
Formação de Professores e com a qualidade do trabalho docente das primeiras séries do 1º
grau.
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Além de outras lacunas, constato certa tendência a abandonar, a rejeitar e até mesmo a
excluir a Psicologia da tarefa educacional pelo fato de, em diversos momentos de sua
trajetória, o sistema educacional brasileiro, perpassado de psicologismo e de maléficos
resíduos dessa tendência, não ter encontrado a maneira mais adequada para trabalhar
pedagogicamente com a criança e com os jovens brasileiros.
Parece-me ser este um grande equívoco, se considerarmos a complexidade da prática
educacional que deve ser trabalhada em sua totalidade através do diálogo e da articulação
transdisciplinar das diversas áreas do conhecimento que a constituem.
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