Artigo Labio Leporino
Artigo Labio Leporino
Artigo Labio Leporino
RESUMO
A fissura lábio palatina (FLP) é uma malformação congênita, decorrente da falta de fusão do
palato durante o período intra-uterino, sendo incluída entre as anomalias mais comuns. As FLP
ocorrem em aproximadamente 1/650 nascimentos no Brasil. Realizou-se pesquisa de revisão
bibliográfica online, bem como livros e periódicos, utilizando-se as palavras chaves fissuras
labiais e palatinas. Buscou-se na base de dados LILACS, MEDLINE e Scielo de artigos
publicados entre 1977 a 2010. Há uma considerável variação na proporção de casos com FLP
associados a anomalias congênitas e síndromes. A partir do diagnóstico a equipe
multidisciplinar pode atuar buscando além da correção das malformações e problemas
associados, a reintegração desse paciente à sociedade. Conclui-se que a assistência adequada a
ser prestada ao paciente fissurado demanda além de treinamento técnico, habilidade e
sensibilidade da equipe multidisciplinar, o que a torna capaz de perceber e intervir na dimensão
biopsicossocial e espiritual da criança e família.
ABSTRACT
The cleft palate is a congenital malformation, resulting from lack of fusion of the palate during
the intrauterine period, being are included among the most common anomalies. The cleft lip
and palate occur in approximately 1/650 births in Brazil. We conducted a literature review of
research online, as well as books and periodicals, using the words keys cleft lip and palate. We
tried to in database LILACS, MEDLINE and SCIELO articles published between 1977 to
2010. There is considerable variation in the proportion of cases with FLP associated congenital
anomalies and syndromes. Since the as diagnosis of a multidisciplinary team can act that
looking beyond the correction of malformations and associated problems, with the reintegration
to society of this patient. Concludes that the appropriate assistance to be delivered to patient
demand cracked beyond technical training, skill and sensitivity of the multidisciplinary team,
which makes it able to understand and intervene in the biopsychosocial and spiritual
dimensions of child and family.
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
(1977 a 2010) via online, banco de dados como Lilacs (Literatura Latino Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde), Medline (National Library of Medicine) e Scielo utilizando os
unitermos: fenda palatina, lábio leporino, assistência de enfermagem.
Segundo Cervo e Bervian (2002) estudos descritivos citam as características,
propriedades ou relações existentes no grupo ou da realidade em que foi realizada a pesquisa.
DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO
CLASSIFICAÇÃO
A fenda palatina provê da falta de fusão ou da fusão incompleta dos processos laterais
do palato (CARLSON, 1996), sendo nos casos de menor gravidade apenas o palato secundário
fendido, deixando óbvio ao exame a úvula bífida. Mas quando a fenda é maior
proporcionalmente, envolve também palato duro, e a fenda pode abranger a saliência alveolar,
no caso de existir o lábio leporino (STEVENS; LOWE, 2002).
A fissura do lábio é conhecida também como lábio leporino, que varia de um pequeno
entalhe na borda da mucosa labial até a divisão completa que se prolonga até o assoalho do
nariz, podendo ser uni ou bilateral (VANGHAN; McKAY, 1977). Entretanto, é normalmente
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INCIDÊNCIA
A incidência de nascidos vivos com lábio leporino, associado ou não à fissura palatina
é cerca de 1 em 800. Logo em fenda palatina isolada é de 1 em 2000 (WONG, 1999), porém
pode variar de acordo com a área geográfica e a situação socioeconômica (CUNHA et al.,
2004).
No Brasil especificamente, de acordo com a Organização Mundial de Saúde existe
cerca de 1 criança com fissura para cada 650 nascidas, totalizando aproximadamente 5800
novos casos todos ao anos. Entretanto, não se sabe quantas já receberam tratamento, devido à
grande demanda de crianças com fissura, o que torna alarmante a partir do momento em que o
Sistema de Saúde Público não consegue atender nem metade desses pacientes (OPERAÇÃO
SORRISO BRASIL, 2010).
No entanto, é mais comum a fenda palatina no sexo feminino por estar relacionada aos
processos laterais do palato que se fundem aproximadamente uma semana mais tarde do que no
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sexo masculino, visto que o lábio leporino, com ou sem fenda palatina é mais comum no sexo
masculino (BUNDUKI et al., 2001).
Para Wong (1999), o defeito aparece mais frequentemente em crianças orientais e em
certas tribos de americanos nativos do que em brancos e menos freqüentemente nos negros.
FATORES RELACIONADOS
As fendas labiais e palatinas devem ser investigadas, pois podem apresentar síndromes
associadas ou não, como por exemplo, a síndrome de Patau (trissomia 13), já que está presente
em metade dos casos (OTTO; OTTO; FROTA-PESSOA, 2004).
Podem surgir esses defeitos de fendas juntamente com outros defeitos de nascimento,
principalmente com anomalias cardíacas, já que as células da crista neural têm um papel
importante na morfogênese de todas essas estruturas (SADLER, 2007).
Outro fator que pode estar relacionado à fenda palatina é a doença da orelha média que
é caracterizada por persistência de pressão negativa ou por secreção, pois todo paciente com a
malformação apresenta a tuba auditiva funcionalmente obstruída, e corre o risco de desenvolver
otite média (PEREIRA; RAMOS, 1998).
Segundo Priscila Otto, Paulo Otto e Oswaldo Frota-Pessoa (2004) o lábio leporino
associado ou não ao palato fendido é condicionado por mecanismo multifatorial, ou seja,
depende de predisposição hereditária, de natureza poligênica, associada às influências
ambientais.
Em alguns casos, as fendas podem desenvolver-se devido à ação de teratógenos
químicos, como drogas anticonvulsionantes (CARLSON, 1996).
O uso de medicamentos parece ter grande importância como à exposição ao grupo dos
antibióticos, por exemplo, a penicilina, biossintéticas, ampicilinas e tetraciclinas; dos
antifúngicos principalmente nistatina; dos antiinflamatórios como diclofenacos de sódio e
potássico; e diferentes drogas broncodilatadoras como fenotenol e salbutamol, pois agem no
mecanismo de ação que intervém no desenvolvimento embrionário, resultando na falha parcial
de fusão dos processos nasais médios e outras anormalidades (LEITE; PAUMGARTTEN;
KOIFMAN, 2005).
Os fatores ambientais podem influenciar; os vírus, pesticidas, álcool, fumo, drogas
como antagonistas do ácido fólico, corticóides, ácido retinóico e hipoxia, porém ainda é
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necessária a realização de estudos mais específicos para que haja comprovação (RIBEIRO;
MOREIRA, 2005).
Contudo, a grande maioria dos casos de fenda palatina isolada ou com lábio leporino,
expõe uma base multifatorial de herança, onde fatores genéticos e ambientais atuam no sentido
de causar a fenda, desde que um resultado seja alcançado através de exames realizados pelo
geneticista (TAEUSCH; AVERY, 2003).
É importante que a gestante tome antes de engravidar a vacina contra rubéola, e evite
fazer uso de drogas ilícitas, bebidas alcoólicas, cigarro e medicamentos, somente o que for de
extrema necessidade (SANTOS; DIAS, 2005).
No entanto, estatísticas norte-americanas indicam que aproximadamente metade das
gestantes que tem uma gravidez não planejada expõe seus fetos ao efeito de medicamentos
(LEITE; PAUMGARTTEN; KOIFMAN, 2005).
ASPECTO PSICOLÓGICO
Muitas mães passam por preconceitos quando concebem um bebê com deficiência.
Para a maioria da população essa anomalia congênita é desconhecida e essas crianças passam a
ser ignoradas pela sociedade não apenas pela existência, mas também o tratamento e
repercussão que isso causa em sua vida. Portanto acabam sofrendo conseqüências não só
físicas, mas também moral e psicológicas devido às suposições criadas pelo preconceito,
envolvendo não só a criança, mas também os seus familiares (SILVEIRA; WEISE, 2008). Mas
se o tratamento for feito precocemente a criança não terá de enfrentar o preconceito da
sociedade, enquanto que um tratamento tardio torna muito provável que ela seja alvo de
estigmas e vista com olhares preconceituosos de pessoas totalmente leigas da situação. Neste
caso, é necessário ajuda para essas pessoas no modo de informar sobre o tratamento correto e
que deve ser realizado no tempo certo só assim se torna possível que essas crianças com
malformação não sejam acometidas por demasiado preconceito (FIGUEIREDO et al., 2010).
ALEITAMENTO MATERNO
flexibilidade, pois essa criança poderá demorar uns dias para que ela se adapte a uma melhor
posição para desenvolver a sucção (LANG, 1999).
Mas segundo Amstalden–Mendes e Gil–Da–Silva Lopes (2006) para crianças com
fissura lábio palatinas o aleitamento se torna mais complicado devido à ausência do palato, a
fenda palatina tornará mais difícil o posicionamento correto do bico e da aréola na boca da
criança impedindo a extração do leite. Pini e Peres (2001) ressaltam que crianças com fissura
não exclui o método de aleitamento materno.
Para obter um bom resultado referente ao aleitamento é preciso que haja um estímulo
na criança e uma boa condição física da mãe, ela deverá estar saudável para que possa ser
assistida por um profissional da área da saúde (AMSTALDEN–MENDES; GILDA–DA–
SILVA LOPES, 2006).
A alimentação recomendada a dar a essa criança, certamente, é o leite materno devido
ao seu valor nutritivo e qualidade antibacteriana, o que ajuda no combate a infecções (SILVA;
FÚRIA; DI NINNO, 2005).
As crianças que são amamentadas apresentam menor número infecções e apresentam
mais facilidade para a correção cirúrgica, sendo que o aleitamento materno ajuda no melhor
encaminhamento das estruturas da boca, melhorando a posição correta da musculatura orofacial
(GOUVÊA, 2008).
Obstáculos referentes à alimentação resultante da má formação lábio palatal ou
incapacidades de ingerir nutrientes durante os primeiros meses de vida geram processos
infecciosos em vias aéreas superiores, incluindo ouvido médio e causa ainda deficiência no
crescimento (MONTAGNOLI et al., 2005).
Existem recursos alimentares disponíveis para a criança com fissura de diferentes
tipos, podendo ser utilizados antes da correção cirúrgica com o propósito de reduzir
complicações conseqüentes do baixo ganho de peso. E a alimentação deve ser adequada ao seu
valor nutricional para ajudar na absorção de calorias eficientes para o crescimento e
desenvolvimento do bebê (AMSTALDEN–MENDES; GIL–DA–SILVA–LOPES, 2006).
Bebês com fissura lábio palatina deverão ser alimentados na mamadeira ou na colher
com o leite extraído da própria mãe (PRYOR, 1981).
Para o lactente sugar, o leite é extraído por massagem feita pela mãe e não por sucção,
neste caso estima–se que, possivelmente, o aleitamento materno ocorra com esses bebês. Para
que aconteça com sucesso o ato de sugar a mãe pode ajudar na amamentação fazendo pressão
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por trás da aréola durante a sucção do recém–nascido, facilitando uma boa mamada e fazendo o
esgotamento total da mama (VALDÉS; SANCHEZ; LABBOK, 1996).
O recém–nato deve ser ajudado a fazer a pega correta em uma posição em que o tecido
mamário possa vedar a fenda impedindo o escape de ar e de leite (AMSTALDEN–MENDES;
GIL–DA–SILVA LOPES, 2006).
Crianças com estas alterações congênitas enfrentam obstáculos em relação à pega e a
ordenha do leite no seio materno. Por esse motivo o bebê deve ser mantido em posição vertical
ou semi–vertical para conseguir engolir o leite sem o risco de um refluxo do leite pelas narinas.
E, após cada mamada a mãe deve fazer a higiene oro–nasal devido ao acúmulo de secreção. As
crianças que são amamentadas sofrem menos de otites e dislalia (CASTRO; ARAÚJO, 2004).
A pega no bico da mama é muito importante até a criança conseguir abocanhar a
aréola, o mesmo serve de tampão dos lábios o qual faz a compressão com a língua contra o
palato, com esse movimento se consegue evitar as fissuras nas mamas. E essas fissuras muitas
vezes conseguem amedrontar as mães desencorajando–as a amamentar o bebê no peito. Mas é
preciso orientá–la que essa decisão só trará prejuízos ao neném, já que o leite materno é
recomendado para o crescimento e desenvolvimento do lactente (DEODATO, 2005).
Alguns cuidados devem ser tomados para evitar problemas durante a alimentação do
lactente fissurado, como por exemplo, lavar sempre as mãos, a cada mamada fazer higiene oro–
nasal com cotonete e água fervida podendo evitar resíduos alimentares na cavidade oral e nasal
juntamente evitando infecções de vias aéreas superiores e ouvido médio. A melhor posição para
estar deixando essa criança é a posição de semi–sentada durante a alimentação, contribuindo,
dessa forma para a não bronco aspiração. A mãe deve ter muita paciência e dedicação, pois
cada mamada dessa criança poderá demorar cerca de 30 a 40 minutos, necessariamente
administrando essa dieta pausadamente, não evitando o lado afetado pela fissura para que
durante a mamada possa exercitar os músculos através do bico da mama ou da mamadeira com
o lado fissurado (ARARUNA; VENDRÚSCULO, 2000).
É importante que a mãe experimente várias posições para oferecer conforto ao seu
bebê, dificilmente a criança fissurada conseguirá ser amamentada de maneira tradicional, e o
posicionamento do lactente é fundamental para o sucesso de uma boa pega ao seio materno.
Uma boa posição que a mãe pode tentar fazer é colocar o neném em posição sentada em seu
colo com as pernas voltadas para o dorso da mãe semelhante ao posicionamento tradicional que
é apoiado no braço (LANG, 1999). Os profissionais devem observar as mamadas dos lactentes
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e ajudar a mãe escolher as melhores posições que ela desempenhou junto ao seu bebê
(GOUVÊA, 2008).
Mas o uso inadequado desses bicos deixa os lábios formarem uma posição invertida,
podendo causar o enfraquecimento do músculo da mandíbula fazendo com que a criança force
a língua a se movimentar para frente mais do que para trás como deve ser o correto durante a
sucção, podendo prejudicar o desenvolvimento facial e a parte dentária da criança
(ARARUNA; VENDRÚSCULO, 2000).
Alguns profissionais defendem o uso de placas palatinas obstrutoras. Essa placa serve
como um palato artificial e como apoio para que a criança possa pressionar o bico com a língua
durante a mamada (SILVA; FÚRIA; DI NINNO, 2005).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Crianças com fissura lábio palatais ao nascerem passam por dificuldades devido à má
formação congênita, sendo seu primeiro desafio a aceitação dos pais e o convívio entre a
sociedade.
Com a aceitação dos pais fica mais fácil o encorajamento de ajudar a mãe a executar a
prática do aleitamento materno já que é essencial para o desenvolvimento do recém – nascido, e
tem grande importância devido a proteínas existentes no alimento. Portanto as crianças que são
amamentadas sofrem menos internações por conta de otites, pneumonias e infecções de vias
aéreas superiores.
Mas para obtermos sucesso no tratamento das crianças fissuradas é necessária uma
equipe de profissionais multidisciplinares que façam com que o tratamento aconteça de forma
sincronizada permitindo que o tratamento chegue até o final.
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O apoio aos pais nessa fase de tratamento se torna primordial para uma boa
recuperação após a cirurgia que será realizada assim que a criança alcançar o aporte nutricional
necessário para a realização do procedimento.
Cabe a equipe de enfermagem o esclarecimento de dúvidas aos pais durante a
permanência da criança hospitalizada, proporcionando os cuidados necessários à criança após a
alta hospitalar.
REFERÊNCIAS
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2002.
CUNHA, E. C. M.; FONTANA, R.; FONTANA, T.; SILVA, W. R.; MOREIRA, Q. V. P.;
GARCIAS, G. L.; ROTH, M. G. M. Antropometria e fatores de risco em recém-nascidos com
fendas faciais. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 7, n. 4, dez. 2004.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v7n4/05.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2010.
DEODATO, V. Amamentação - o melhor início para a vida. São Paulo: Santos, 2005.
OTTO, P. G.; OTTO, P. A.; FROTA-PESSOA, O. Genética humana e clínica. 2. ed. São
Paulo: Roca, 2004.
PEREIRA, M. B. R.; RAMOS, B. D. Otite média aguda e secretora. Jornal da Pediatria, Rio
de Janeiro, v. 74, supl. 1, 1998. Disponível em: <http://www.jped.com.br/conteudo/98-74-
S21/port.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2010.
SEIDEL, H. M.; BALL, J. W.; DAINS, J. E.; BENEDICT, G. W. Mosby - guia de exame
físico. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.