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Resumo Abstract
Objetivos: Caracterizar as práticas alimentares de crianças entre 0 Objectives: To characterize the feeding practices of children aged
e 12 meses e o perfil das Unidades Básicas de Saúde (UBS) no between 0 and 12 months and the profile of the UBS regarding the
tocante à promoção do aleitamento materno (AM) e alimentação promotion of breastfeeding (BF) and complementary feeding (CF) in
complementar (AC) no município de Jacareí. Metodologia: Estudo the municipality of Jacareí. Methodology: Population-based descrip-
transversal descritivo de base populacional. Realizou-se um inquéri- tive cross-sectional study. A household survey was carried out with
to domiciliar com cuidadores de lactentes menores de 12 meses e caregivers of infants younger than 12 months and interviews with
entrevistas com supervisores de todas as UBS do município. Resul- supervisors from all UBS in the municipality. Results: 253 infants
tados: Participaram do estudo 253 lactentes menores de 6 meses e younger than six months and 287 between six and twelve months
287 entre 6 e 12 meses. A prevalência de aleitamento materno ex-
participated in the study. The prevalence of exclusive breastfeeding
clusivo (AME) foi de 34,3% e de aleitamento materno continuado, de
(EBF) was 34.3%, and continued breastfeeding was 55.1%. Signifi-
55,1%. Identificou-se associações significativas entre escolaridade
cant associations were identified between maternal schooling and
materna e trabalho materno fora do lar, e oferta de alimentos sau-
maternal work outside the home and offering healthy and unhealthy
dáveis e não saudáveis para crianças entre 6 e 12 meses. Quanto
foods to children aged between six and twelve months. As for the
ao perfil de trabalho das UBS, a promoção do AM e AC adequada em
work profile of the UBS, the promotion of adequate BF and AC in
ações de puericultura foi menor do que em grupos no pré-natal. A
prevalência de visita domiciliar pós-parto até sete dias foi de 27,8%. childcare actions was lower than in prenatal care groups. The preva-
Conclusão: Identificar o perfil alimentar e o processo de trabalho lence of postpartum home visits within seven days was 27.8%. Con-
das equipes de saúde permite apoiar o planejamento de políticas clusion: Identifying dietary profiles and the work process of health
públicas, em especial para promoção do AME, introdução alimentar teams support the planning of public policies, especially for the pro-
adequada, capacitação dos profissionais e implementação de pro- motion of EBF, adequate food introduction, training of professionals,
tocolos para pós-parto e puericultura. and implementation of postpartum and childcare protocols.
Palavras-chave: Aleitamento materno; Alimentação complementar; Keywords: Breastfeeding; Supplementary feeding; Primary Health
Atenção Primária à Saúde. Care.
III
III
I
Natália da Costa Selinger (ncs.111@gmail.com) é nutricionista na Prefeitura III
Sonia Isoyama Venancio (soniav@isaude.sp.gov.br) é médica pediatra, dou-
Municipal de Jacareí, Mestre em Saúde Coletiva pelo Programa de Mestrado tora em Saúde Pública, PqC VI do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado
Profissional em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde, Coordenadoria de Re- da Saúde de São Paulo; docente do Mestrado Profissional em Saúde Coletiva
cursos Humanos da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. da Coordenadoria de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Saúde
de São Paulo.
II
Mariana Tarricone Garcia (mariana.garcia@isaude.sp.gov.br) é nutricionis-
ta, doutora em Saúde Pública e PqC II no Instituto de Saúde da Secretaria
de Estado da Saúde de São Paulo; docente e coordenadora do Mestrado
Profissional em Saúde Coletiva da Coordenadoria de Recursos Humanos da
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
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sobre aleitamento materno da última Pesquisa Nacional no estado de São Paulo. A coleta de dados referentes
de Saúde, realizada em 2013, com prevalência de AME às crianças foi efetuada por meio de entrevista indi-
até o sexto mês de 36,6%.15 vidual realizada por Agentes Comunitários de Saúde
Levando-se em conta uma perda de 10%, a (ACS) treinados na semana que antecedeu o início da
amostra foi composta de 580 crianças, dividida em coleta de dados.
dois domínios de estudo: crianças menores de 6 meses Contatos realizados por três vezes sem sucesso,
(n=290) e crianças de 6 a 12 meses (n = 290). crianças não residentes nos locais cadastrados, crianças
Uma vez obtidos os dados municipais consolida- que não pertenciam à faixa etária de interesse no dia da
dos de cadastros completos de cada Unidade Básica entrevista e recusas foram consideradas como perdas.
de Saúde (UBS) e a definição do tamanho da amostra, Quanto à caracterização do perfil das UBS, a
distribuiu-se o número de crianças proporcionalmente ao coleta dos dados aconteceu por meio de entrevistas
total de cadastros completos de cada UBS, definindo-se, individuais realizadas por estagiários de nutrição pre-
assim, o número de crianças elegíveis por UBS e divididas viamente treinados, com todas as supervisoras res-
segundo os grupos etários de interesse. A partir daí, foi ponsáveis pelas atividades administrativas das UBS.
realizado o sorteio aleatório das crianças que tiveram
seus cuidadores convidados a participar da pesquisa. Análise dos dados
Foram considerados como critérios de exclusão relacio- Os dados do inquérito foram digitados no progra-
nados à criança: anomalias congênitas que impeçam a ma Microsoft Excel e o banco de dados foi posterior-
alimentação via oral sem a adaptação de consistência, o mente transportado para o software Stata para análise
uso de sonda nasogástrica ou gastrostomia, crianças em estatística, por meio da descrição das frequências
que a mãe recebeu contraindicação ao aleitamento mater- absolutas (n) e relativas (%) e os respectivos intervalos
no por apresentar algum fator de risco à mãe ou à criança. de confiança de 95%.
Para a realização das entrevistas referentes ao Para as análises, as crianças foram estratifica-
perfil de trabalho das unidades direcionadas às super- das em dois grupos principais: crianças menores de 6
visoras administrativas de UBS, todos os supervisores meses e entre 6 e 12 meses. As práticas de amamen-
foram convidados a participar. tação e alimentação complementar foram analisadas
segundo os indicadores propostos pelo MS17, e para
Instrumento de coleta de dados as análises de associação entre a prevalência dos
A coleta de dados foi realizada por meio de desfechos e as variáveis relacionadas à mãe, o rece-
questionário baseado no formulário “Marcadores de bimento de orientação alimentar e o acesso à creche,
Consumo Alimentar”16, composto por perguntas fe- foi utilizado o teste de qui-quadrado, considerando o
chadas, direcionado ao consumo de alimentos no dia nível de significância de p<0,05.
anterior à entrevista.
O instrumento para coleta de dados quanto ao
perfil das UBS consistiu em um formulário baseado na Resultados e discussão
proposta da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil Foram entrevistados cuidadores de 540 crianças,
(EAAB) e nas recomendações da OMS/Fundo das Na- sendo 253 menores de 6 meses (180 dias) e 287 entre 6
ções Unidades para a infância (Unicef)/MS17, composto e 12 meses (180 dias e 365 dias). Obteve-se um número
por questões fechadas. de crianças menor do que o calculado devido a recusas,
endereços desatualizados e crianças que estavam em
Coleta de dados idade fora da faixa de interesse no dia da entrevista.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de A Tabela 1 refere-se às características sociode-
agosto e dezembro de 2019 no município de Jacareí, mográficas da amostra.
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Verificou-se que 76,9% das mães tinham entre 19 de crianças menores de 12 meses de acordo com o
e 35 anos. Com relação à escolaridade e ao emprego, tipo de aleitamento, indicadores da AC e consumo de
74,5% haviam concluído o Ensino Médio, 67,8% não alimentos ultraprocessados. Verificou-se que a preva-
trabalhavam fora de casa e 22% eram beneficiárias do lência de AM em menores de 180 dias foi de 81,8%
Programa Bolsa Família. Os dados relativos às crian- e de AME foi de 34,4%, indicando menor tendência
ças, também apresentados na Tabela 1, apontaram
à prática no município de Jacareí do que a tendência
que 52,9% nasceram de parto cesárea, 71,1% não
nacional de aumento, considerando os resultados
possuíam convênio médico e 92% não frequentavam
do Estudo Nacional de Nutrição e Alimentação Infan-
a creche. Quanto à atenção à saúde, verificou-se que
til (ENANI-2019), que apontou prevalência AME de
42,6% dos cuidadores informaram ter recebido orien-
tações sobre alimentação infantil pelo menos uma vez 45,8% em menores de 6 meses 14 . Com relação
nos 12 meses anteriores às entrevistas. à prevalência da prática do AM em menores de
12 meses, o resultado de 67,6% apontou tendência
O aleitamento materno aproximada aos resultados no âmbito nacional, veri-
A Tabela 2 apresenta dados sobre a distribuição ficados em 2013.12
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Consumiu pelo menos um dos alimentos ultraprocessados 164 57,1 (51,2 – 62,9)
Fonte: Elaboração própria, 2020.
52,6
50,0
44,0
2,6 2,6 4
0 0 0
0 a 180 dias (n=253) 0 a 60 dias (n=53) 61 a 90 dias (n=38) 91 a 120 dias (n=50) 121 - < 180 dias (n=112)
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et al.18 correlacionaram a melhor condição social ao encontrados relatos sobre tal achado na literatura,
maior acesso a alimentos in natura e minimamente embora mães que trabalham fora podem se basear
processados, que possuem maior custo e menor na ideia de que seria necessário disponibilizar maior
durabilidade. Contudo, os AUP foram amplamente tempo diário para preparações culinárias, podendo
consumidos, independentemente da escolaridade assim, dar preferência às preparações prontas e
materna. O resultado dialoga com o estudo de aná- ultraprocessadas como discutida no Guia Alimentar
lise da tendência temporal do consumo alimentar para a População Brasileira.26
em domicílios brasileiros entre os anos de 1987 e Também se identificou associação significa-
2009, realizado por Martins et al.25, que apontou para tiva entre frequentar creche e a maior adequação
o maior consumo de AUP por todos os extratos de à frequência e consistência alimentar. Não foram
renda, embora tenha apresentado tendência a ser encontrados na literatura dados sobre esse achado,
maior entre os domicílios de menor renda. embora Pedraza et al.27, em uma revisão sistemática,
Ainda na Tabela 3, foram encontradas associa- tenham apontado a escassez e limitações de estudos
ções significativas entre a condição materna de traba- voltados para a investigação do consumo alimentar
lho fora do lar e o consumo de embutidos. Não foram de crianças em creches.
% Bebidas % Frequên-
% Leite %
% Fórmula % Grupo ultrapro- % cia e con-
Variáveis não % Fruta Biscoitos
infantil hortaliças cessadas Embutidos sistência
materno e doces
adoçadasc adequadas
Escolaridade
p=0,256 p=0,017* p=0,001* p=0,003* p=0,001* p=0,003* p=0,525 p=0,684
maternaa
≤ Ensino
56,8 28,6 64,9 64,9 45,9 37,8 13,5 70,3
fundamental
≥ Ensino médio 67,5 58,0 88,7 86,6 18,4 15,5 10,8 74,4
Situação materna
p=0,244 p=0,043* p=1,000 p=1,000 p=0,225 p=1,000 p=0,005* p=0,525
de trabalho
Trabalhando fora 66,1 68,3 16,1 74,2 48,4 12,3 17,7 43,8
Não trabalhando
74,1 49,1 16,6 75,0 57,9 13,7 4,8 49,7
forab
Acesso à creche p=0,013* p=1,000 ** p=1,000 p=0,864 p=1,000 p=0,180 p=0,025*
Frequenta creche 86,8 57,6 7,7 74,2 59,0 17,9 17,9 84,6
Não frequenta
66,8 57,6 16,1 75,0 57,3 18,1 10,5 66,1
creche
a
Foram excluídos da amostra entrevistados fora do público de interesse – mãe de lactentes da amostra.
b
Soma das mães que estavam desempregadas e das mães que estavam em licença-maternidade.
c
Para a variável “Bebidas ultraprocessadas adoçadas” foi considerado o consumo de refrigerante e/ou suco de caixinha e/ou suco em pó e/ou xarope
de groselha e/ou água de coco de caixinha.
* Variável estatisticamente significante.
** O número de casos não permitiu a realização dos testes de associação qui-quadrado.
Fonte: elaboração própria, 2020
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O perfil das Unidades Básicas de Saúde no Todas as UBS investigadas realizavam visitas domici-
município de Jacareí liares (VD) pós-parto; entretanto, apenas 27,8% afirmaram
A partir do relato das supervisoras administrati- que a visita domiciliar ocorre antes dos primeiros sete dias
vas locais, a Tabela 4 evidencia os dados referentes pós-parto. A VD pós-parto é uma estratégia importante
à caracterização das UBS do município de Jacareí. para apoio do AME, pois propicia fortalecimento de vínculo
Verificou-se que em 2019, 88,9% das 18 UBS atuavam entre equipe de saúde e família e é oportuna para a pro-
no modelo Estratégia de Saúde da Família (ESF). moção do cuidado do lactente, segundo Baratieri & Natal.30
Em relação às atividades prestadas para promo- O MS 31 recomenda que para uma assistência
ção, apoio e manutenção do AM e AC nas UBS, 77,8% efetiva à puérpera e ao bebê, deve-se buscar garan-
realizavam grupos sobre cuidados na gestação e 61,1% tir a VD na primeira semana pós-parto. No geral, foi
orientavam para cuidados em puericultura. Segundo a identificado que todas as UBS realizam VD pós-parto;
revisão sistemática de Silva et al.28 e os resultados descri- no entanto, a prática mostrou-se frágil. Considerando a
tos na revisão rápida realizada por Venancio et al.29, ações revisão rápida realizada por Venâncio et al.29, o modelo
combinadas no pré e pós-natal aumentaram as taxas de de VD pós-parto é efetiva quando ocorre entre um e três
AM a médio e longo prazo, enquanto ações educativas dias após o parto e é feita a manutenção das visitas no
apenas no pré-natal têm efeito na taxa de AM a curto primeiro mês. Sendo assim, a investigação das causas
prazo. Desta forma, tais resultados sugerem possibili- da menor proporção de VD dentro dos sete primeiros
dades de intervenção no modo de trabalho das equipes. dias pós-parto e posterior adequação se faz necessária.
Tabela 4 – Caracterização das Unidades Básicas de Saúde segundo o modelo de Atenção à Saúde,
das atividades voltadas para promoção do aleitamento materno e da alimentação complementar
adequada, ofertadas nas UBS no município de Jacareí, São Paulo, 2019.
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positivamente na adequação da AC.20 Nesse sentido, 3. World Health Organization - WHO. The optimal dura-
considerando a realidade local apresentada, referente à tion of exclusive breastfeeding: a systematic review.
proporção de equipes que não receberam capacitações Geneva: WHO; 2001.
formais sobre alimentação infantil, a manutenção das 4. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde.
equipes NASF-AP pode ser uma estratégia importante Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para crianças
menores de dois anos. Brasília (DF); 2019.
para o fortalecimento da rede de cuidados.
Quanto à disponibilidade de fluxos e protocolos 5. Vitolo MR. Nutrição, da gestação ao envelhecimento. 2. ed.
Rio de Janeiro: Editora Rúbio; 2014.
para o acompanhamento e cuidados sobre alimenta-
ção, 27,8% afirmaram disponibilizar protocolos para 6. Victora CG, Barros AJD, França GVA, Bahl R, Rollins NC,
Horton S, Krasevec J, Murch S, Sankar MJ, Walker N. Amamen-
atendimento sobre AM e 16,7% afirmaram ter pro-
tação no século 21: epidemiologia, mecanismos, e efeitos ao
tocolos sobre AC.
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Conclusão br/pdf/ess/v25n1/Amamentacao1.pdf
A pesquisa realizada permitiu que se pudesse 7. Venâncio SI, Rios G. Associação entre o grau de implantação
caracterizar o perfil alimentar de crianças menores da Rede Amamenta Brasil e indicadores de amamentação.
de 12 meses, compreendendo no âmbito municipal a Cad. saúde pública. 2016;32(3): e00010315
prevalência do AME, a evolução da introdução alimentar 8. Vieira GO, Silva LR, Vieira TO, Almeida JAG, Cabral VA. Hábi-
quanto à temporalidade e escolha dos alimentos a tos alimentares de crianças menores de 1 ano amamentadas
serem ofertados ao longo dos meses e a influência de e não-amamentadas. J. Pediatr. 2004;80(5):411-416.
variáveis de interesse. Também foi possível caracterizar 9. Broilo MC, Louzada MLC, Drachler ML, Stenzel ML, Vitolo
as práticas de trabalho das equipes da APS realiza- MR. Percepção e atitudes maternas em relação às orientações
de profissionais de saúde referentes a práticas alimentares no
das no pré-natal e pós-parto, no que tange ao apoio
primeiro ano de vida. J. Pediatr. 2013;89(5):485-491
e promoção do AM e AC adequados e oportunos. Foi
10. Mais LA, Domene SMA, Barbosa MB, Taddei JAAC. Diag-
possível identificar que existem importantes desafios
nóstico das práticas de alimentação complementar para o
locais a serem enfrentados quanto ao início e prolon- matriciamento das ações na Atenção Básica. Ciênc. saúde
gamento do AME, baixa proporção de adequação dos colet. 2014;19(1):93-104
indicadores da alimentação complementar, capacitação
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