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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
I – RELATÓRIO
1. Introdução
Luiz Curi e Márcia Sebastiani – 0018 e 0133 Documento assinado eletronicamente nos termos da legislação vigente
PROCESSOS Nos: 23001.000018/2006-09 e 23001.000133/2007-56
Profissional do Magistério da Educação Escolar Básica, que devem dialogar com este novo
momento da Educação Básica em nosso país.
O documento resultante do trabalho supracitado foi submetido a Consulta Pública,
conforme editais de chamamento, por meio do endereço eletrônico
http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/audiencias-e-consultas-publicas, no
período de 6 de dezembro de 2023 a 30 de janeiro de 2024, sendo prorrogado até 1º de março
de 2024 para contribuições.
2. Histórico
Desde a criação das licenciaturas no Brasil, nos anos de 1930, a institucionalização dos
cursos para a formação de professores foi mediada por aspectos políticos, econômicos e sociais.
A efetivação da Reforma, de acordo com Francisco Campos (1931), provocou as primeiras
alterações significativas nas condições de formação dos professores do ensino secundário, que
previa a exigência da formação específica, promovida pelas Faculdades de Filosofia, ou seja,
as licenciaturas. A origem desses cursos está associada à regulação da atividade docente que se
deu, dentre outros aspectos, pela exigência da licença para o exercício da docência, constituindo
um marco na política de formação de professores.
Na década de 1960, ocorreu outra alteração importante: a desvinculação das
licenciaturas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e a criação dos departamentos
específicos para cada área de conhecimento. Nessa configuração, as licenciaturas, que até então
estavam vinculadas à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, ganham outro desenho: a
existência de departamentos específicos de cada área do conhecimento, bem como de um
espaço de formação pedagógica. Foi criada a licenciatura curta para formar os professores que
atuariam no então denominado 1º grau e a licenciatura plena para o exercício da docência no 2º
grau (Saviani, 2009).
Historicamente, os problemas mais recorrentes nas práticas de formação desses cursos
dizem respeito à dicotomia entre disciplinas específicas e disciplinas pedagógicas; dicotomia
entre bacharelado e licenciatura e a desarticulação entre formação acadêmica e realidade prática
do trabalho docente nas redes de ensino. Há outras questões relevantes, objeto de
problematizações, como, por exemplo, o estágio supervisionado, o tempo de integralização
curricular e, mais recentemente, a formação dos formadores.
Essas dicotomias e desarticulações nos cursos de licenciatura tornaram-se objeto de
estudo e discussão, a partir da década de 1980, no contexto do movimento de reorganização da
sociedade brasileira, depois de um longo período de ditadura civil-militar. Nesse processo de
redemocratização do país, em 1988, foi promulgada uma nova Constituição Federal e, 8 (oito)
anos mais tarde, depois de ser intensa e longamente discutida, uma nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) foi redigida e votada no Congresso Nacional. Tanto a
Constituição Federal de 1988, quanto a LDB (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), traziam
como premissa e dever do Estado em relação à educação escolar, o direito à educação pública
de qualidade.
Até então, no que diz respeito às políticas de formação dos professores no país, não se
apresentaram rupturas ou fortes descontinuidades. Os cursos superiores ainda mantinham a
tradição iniciada no ano de 1934, quando da criação dos primeiros cursos superiores de
formação de professores, cuja estrutura ficou conhecida como modelo denominado de “3 + 1”,
que equivalia a cursos compostos por 3 (três) anos de conteúdos específicos da respectiva área
do conhecimento e 1 (um) ano das chamadas disciplinas pedagógicas. Foi especialmente com
o advento da LDB de 1996 que se redefiniu a discussão a respeito dos rumos das licenciaturas
e das políticas públicas de formação de professores.
É preciso dizer que as reformas que tiveram início no Brasil e em países da Europa e da
América Latina nos anos de 1990 foram influenciadas pelo movimento reformista na formação
de professores da Educação Básica iniciado pelos Estados Unidos da América e Canadá no final
dos anos 1980 (Tardif; Lessard; Gauthier, 2001). No cenário internacional, a preocupação com
a formação de professores entrou na pauta mundial, segundo Gatti (2008, p. 62), pela conjunção
de 2 (dois) movimentos:
A autora explica que a ideia que subsidiou muitos dos documentos publicados à época,
por organismos internacionais, era a de “preparar os professores para formar as novas gerações
para a “nova” economia mundial” e de que a escola e os seus professores não estavam
preparados para cumprir essa tarefa. É nesse contexto que ganha destaque a “ênfase nas
competências a serem desenvolvidas tanto em professores como nos alunos” (Gatti, 2008, p.
62).
Logo, é recorrente no discurso das reformas curriculares para a formação de professores
a ênfase na necessidade de a sociedade brasileira ajustar-se às transformações que vêm se
apresentando no mundo globalizado e na sociedade do conhecimento. Assim, a construção de
currículos por competências tem sido defendida como capaz de ajustar a educação às novas
exigências do mundo.
Entretanto, dada a polissemia em que a expressão “competência” é empregada, bem
como ao viés econômico e político expresso em sua definição, muitas são as críticas ao conceito
de competência no contexto das reformas para a formação de professores. Há, desde os anos de
1990, um movimento de denúncia e resistência aos pressupostos econômicos e ideológicos em
que as políticas estão sendo gestadas. As produções acadêmicas que analisam a temática das
competências e sua incorporação às políticas de formação, identificam basicamente 2 (dois)
grandes problemas: o currículo baseado em competências associado à ideia de avaliação,
desempenho e consequente regulação do trabalho docente e a ênfase na formação pragmática.
Autores como Macedo (2002, 2019), Dias e Lopes (2003) compreendem que nos
documentos das reformas educacionais brasileiras é feita uma recontextualização do conceito
de competência dos programas americanos e franceses para a formação docente, entendendo
que é por intermédio desse conceito que se articula a estreita relação entre educação e mercado.
Nesse processo, ocorre a apropriação de múltiplos discursos curriculares, nacionais e
internacionais, procedentes de conteúdos acadêmicos, tanto oficiais como das agências
multilaterais.
No sentido contrário a essa concepção, os movimentos sociais progressistas convergem
para a sólida formação teórica, da relação teoria-prática, da gestão democrática e da valorização
do profissional, buscando uma formação com uma qualidade socialmente referenciada.
Como cabe à escola promover oportunidades aos alunos de se apropriarem de
conhecimentos necessários para viver numa sociedade sofisticada e complexa, é preciso, como
explica Kuenzer (1999, p. 166), assumir a tarefa de:
[...] traduzir o novo processo pedagógico em curso, elucidar a quem ele serve,
explicar suas contradições e, com base nas condições concretas dadas, promover as
necessárias articulações para construir coletivamente alternativas que ponham a
educação a serviço do desenvolvimento de relações verdadeiramente democráticas.
A autora afirma que, com esse entendimento, é possível concluir que não “existe um
modelo de formação de professores a priori, mas modelos que se diferenciam dadas as
concepções de educação e de sociedade” (Kuenzer, 1999, p. 166).
Assim, a discussão acerca da profissão docente e sua formação, no atual cenário, exige
uma reflexão que considere diferentes posições, tensionamentos e desafios presentes e futuros.
A partir dessa natureza de análise, será apresentado um breve balanço das regulações
instituídas desde a aprovação da LDB de 1996 para normatizar a formação de professores para
a Educação Básica nos cursos de licenciatura. Desta maneira, o texto contemplará avanços,
tensões e contradições no campo político e pedagógico da formação docente, bem como
apresenta aportes para políticas futuras para a formação dos(as) profissionais da Educação
Básica.
Esses documentos serão tomados como referência para a discussão apresentada a seguir.
É importante ressaltar que, desde o Parecer CNE/CP nº 9, de 8 de maio de 2001, os
textos das políticas para a formação de professores apresentam-se coadunados com objetivos e
princípios que estão no âmbito das tendências internacionais. Nos últimos 50 (cinquenta) anos,
o campo da formação de professores desenvolveu-se significativamente dando origem a uma
produção científica de relevância (Nóvoa, 2017). Essas últimas décadas de produção na área,
manifestadas em diferentes fases, como bem descreve Cunha (2013, p. 622), marcaram as
tendências investigativas na formação do professor produzindo conceitos que exercem e sofrem
influências de políticas, legislações, práticas e culturas. Logo, eles não representam apenas
palavras, mas também as práticas e as políticas que sugerem (Gatti et al., 2019).
Foi no quadro de redefinição do papel e da prática do professor, no qual se reconhece o
espaço profissional como lócus de produção de conhecimento, e o educador, como sujeito
histórico capaz de produzir novos conhecimentos, que alguns consensos, subjacentes à
e que deveria ocorrer desde o início do curso. Portanto, tem-se como princípio a
indissociabilidade teoria-prática na preparação dos professores, o que implicou aumento
significativo da carga horária teórico-prática nas licenciaturas. E a prática, com essa
normatização, deveria ocorrer ao longo do curso de formação, desde o primeiro ano como uma
ação integrada e não apenas no Estágio Supervisionado; e
▪ O fortalecimento da importância de o professor tanto compreender, com razoável
profundidade, os conteúdos das áreas do conhecimento que irá ensinar quanto de saber eleger
as estratégias mais adequadas para a aprendizagem dos alunos, considerando sua diversidade e
as diferentes faixas etárias.
positivamente (André, 2018; Cardoso; Mendonça, 2019). Quanto ao terceiro, vale ressaltar a
necessidade de a Academia dispor de abertura suficiente para rever a maneira como,
historicamente, conduz os processos formativos de professores, dando destaque às teorias e
fundamentos da educação. Sem minimizar sua fundamental importância, em cursos de
formação de professores, tais fundamentos precisariam servir como aporte para o escrutínio das
práticas pedagógicas e seu constante aprimoramento.
Quanto ao caráter intersetorial que a formação docente poderia assumir, vale salientar
que o módulo de Prática como Componente Curricular trouxe desafios inéditos para as
instituições formadoras de professores.
O primeiro deles diz respeito às fronteiras existentes entre a Prática como Componente
Curricular e o Estágio Supervisionado: no que se diferenciam e como se complementam,
suplementam e se integram? Quais são os modelos curriculares mais adequados para o trabalho
concreto com a Prática como Componente Curricular? Quais as vantagens e desvantagens de
trabalhar práticas pedagógicas como parte do currículo sem planejá-las e avaliá-las a partir de
um consenso, forjado a partir de um compromisso ético e político mais amplo? E, mais
recentemente, não contemplada nas 4 (quatro) formulações sobre formação para a docência,
está a extensão como prática curricular, contemplada na Resolução CNE/CES nº 7, de 18 de
dezembro de 2018, e que vem compor esses desafios.
Do ponto de vista das Prática como Componente Curricular nas licenciaturas, seria
necessário adotar abordagens que integrassem teoria e prática, oferecendo oportunidades reais
de envolvimento dos estudantes de licenciatura nas salas de aula, a partir de estratégias nítidas
que permitissem aos futuros professores vivenciarem de perto a realidade educacional, atuando
como observadores e, posteriormente, prevendo intervenções progressivas no contexto escolar,
a partir do rebatimento teórico e da prospecção de ações futuras.
Além disso, é fundamental que as escolas de Educação Básica fossem entendidas como
parte da formação profissional docente, como espaços e tempos de reflexão para que os(as)
licenciandos(as) pudessem analisar e discutir suas experiências, documentando-as e
transformando-as em um portfólio de desenvolvimento profissional, o que demandaria
conexões mais estáveis entre instituições formadoras de professores e redes escolares.
Essas perguntas e proposições não foram suficientemente debatidas e trabalhadas nos
últimos anos, em função do esgarçamento causado pela crise política que temos enfrentado
desde 2016, e que alterou o curso das políticas educacionais desde então. Mesmo em um
contexto controverso, foi revogada a Resolução CNE/CP nº 2/2015 e homologada a Resolução
CNE/CP nº 2/2019, que tinha uma concepção distinta à anterior e definiu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e
instituiu o que se denominou Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da
Educação Básica (BNC-Formação).
O foco do documento, organizado em competências, reacendeu o debate em torno da
redução do professor como um mero reprodutor técnico da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC). Ademais, a concepção de formação e educação presentes nas Diretrizes Curriculares
Nacionais de 2015 haviam sido debatidas e anuídas pelas entidades educacionais e científicas,
processo que não ocorreu com as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2019.
Por outro lado, não podemos desconsiderar o fato de que a Resolução CNE/CP nº 2/2019
foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em abril de 2020, um momento crítico e
sensível, em função da pandemia da Covid-19, quando as instituições educacionais de todos os
níveis discutiam como se adaptar ao ensino remoto emergencial, ficando de lado a discussão de
novas políticas que estavam em andamento.
Sendo assim, nos últimos 4 (quatro) anos a instabilidade política — que no caso da
educação envolveu constantes trocas de ministros e de equipes técnicas do MEC — se soma às
dificuldades impostas pelo cenário de pandemia da Covid-19. É nesse contexto que o país viveu
A análise até aqui tecida procurou retratar alguns dos avanços, tensões e contradições
no campo político e pedagógico da formação docente nas últimas décadas. Já o texto que segue,
tem a pretensão de expor algumas proposições para o aprimoramento das políticas de formação
tendo como referência as produções na área da formação de professores e dados de contexto da
Educação Básica e dos cursos de licenciatura. Optou-se por apresentar evidências relativas à
mudança de perfil dos(as) licenciandos(as) e à formação para uma educação inclusiva, para
então apresentar algumas recomendações para políticas públicas futuras.
O perfil do profissional que se pretende formar nos cursos de licenciatura compõe não
só os documentos de regulamentação para a formação de professores da Educação Básica,
como, também, consta das propostas pedagógicas das licenciaturas. Entretanto, pouca atenção
tem sido dada às características dos estudantes que ingressam nesses cursos.
Há, especialmente nas últimas décadas, tendência de mudanças no perfil do estudante
dos cursos de licenciatura retratadas em várias pesquisas (Marin; Giovanni, 2006, 2007; Gatti;
Barretto, 2009; Gatti et al. 2019; Locatelli; Diniz-Pereira, 2019). Algumas tendências foram
observadas, como seguem:
É fato que o perfil socioeconômico de quem escolhe o magistério tem se alterado nos
últimos anos. Os jovens da classe média têm se desinteressado pela carreira e os estudantes que
escolhem o magistério como profissão tendem a ser de classe socioeconômica desfavorecida.
A maioria, proveniente do ensino público, teve dificuldades de diferentes ordens para chegar
ao Ensino Superior. São jovens que, principalmente pelas restrições financeiras, tiveram poucos
recursos para investir em ações que lhes permitissem maior riqueza cultural e acesso à leitura,
cinema, teatro, eventos, exposições, viagens etc. Esses estudantes também dedicam pouco
tempo aos estudos em função não só do trabalho, como também dos horários alternativos e
reduzidos do curso (Tartuce; Nunes; Almeida, 2010; Locatelli; Diniz-Pereira, 2019). Essa
realidade pode ocasionar perdas significativas para o estudante em relação ao conhecimento
produzido na área e no que diz respeito à produção e análise crítica desse conhecimento: “um
prejuízo para o seu processo de formação, que o coloca em uma situação vulnerável diante dos
desafios da realidade e dos controles externos, diminuindo, assim, sua autonomia como docente
e como intelectual” (Locatelli; Diniz-Pereira, 2019, p. 241).
Essa mudança de perfil não é recente. André et al. (2010), desenvolveram uma pesquisa
que tinha como foco o trabalho do professor formador que atuava nos cursos de licenciatura. A
pesquisa contemplou 4 (quatro) estudos de caso em universidades de diferentes regiões do país,
públicas e privadas. Foram entrevistados 53 (cinquenta e três) professores formadores e foram
analisados projetos pedagógicos.
Nos resultados, ficou explicitada a mudança de perfil dos estudantes que optam pelo
magistério. Na percepção dos formadores, os estudantes estariam mais pragmáticos e
utilitaristas, apresentando uma defasagem no domínio de conteúdos da Educação Básica e
dificuldades de leitura e produção de texto. Os professores também demonstraram preocupação
com o comportamento do aluno, especialmente em relação à docência, em como o estudante,
futuro professor, compreende a implicação do seu trabalho.
No caso das instituições particulares e municipais, os formadores igualmente se
queixaram das mudanças no perfil dos(as) licenciandos(as), com especial enfoque ao pouco
preparo dos estudantes, especialmente no que diz respeito à capacidade de leitura, de escrita e
à compreensão de textos, bem como o domínio dos conteúdos que serão objeto de ensino. No
Estudo de Caso da universidade pública, os formadores, diferentemente dos professores das
Um elemento que vem produzindo impacto mais direto nas características objetivas e
subjetivas do trabalho docente é a universalização do atendimento escolar de crianças,
adolescentes e jovens na escola pública obrigatória e gratuita, o que pressupõe ensino de
qualidade e o atendimento às diferenças de toda natureza.
As mudanças sociais, associadas às transformações no sistema educativo para atender
às expectativas das classes populares pela instituição escolar, têm consignado muitos desafios
à escola de modo geral e especialmente aos professores “que continuam a ser vistos como
agentes efetivos de mudança, deles dependendo, em grande parte, tanto as transformações que
urge imprimir na escola e no ensino, quanto o sucesso educativo dos estudantes e a sua
realização como pessoas” (Morgado, 2011, p. 439). Entretanto, é preciso ressaltar que não basta
os professores assumirem esse compromisso, é essencial, sobretudo, que estejam preparados
para isso, que possam contar com diferentes tipos de apoio do poder público.
Formar professores para e por uma educação inclusiva é um grande desafio, que exige,
não só a articulação entre teoria e prática, mas que se evite, sobretudo, a polarização entre a
formação política e a técnica, entre a formação teórica e prática, ainda presente nos contextos
formativos e nos debates do campo.
É importante esclarecer que a noção de inclusão aqui utilizada sublinha a necessidade
de se alcançar uma educação de qualidade para todos, centrada no respeito e valorização das
diferenças. Nessa perspectiva, os sistemas educativos têm o desafio de atender às características
e necessidades da diversidade dos estudantes. Logo, o desenvolvimento de escolas inclusivas
e, portanto, capazes de educar todas as crianças, não é “[...] unicamente uma forma de assegurar
o respeito aos direitos das crianças com deficiência de forma que tenham acesso a um ou outro
tipo de escola, senão que constitui uma estratégia essencial para garantir que uma ampla gama
de grupos tenha acesso a qualquer forma de escolaridade” (Dyson, 2001, 150).
Candau já advertia, nos anos de 1980, que “a dimensão técnica da prática pedagógica,
objeto próprio da Didática, tem de ser pensada à luz de um projeto ético e político-social que a
oriente” (Candau, 1988, p. 15), pois a reflexão didática tem um compromisso com a
transformação e justiça social. É esse comprometimento que, segundo Candau (1983), orienta
a busca por práticas pedagógicas que tornem o ensino de fato eficiente para todos os alunos.
Mas o que seria eficiente? Candau (1983, 1988) não só usa a expressão eficiente, como destaca
no texto que não se deve ter medo desta palavra e a busca pela eficiência não deve ser negada
pela didática. É preciso perguntar o que se entende por eficiência e a serviço do que e de quem
ela está.
No entanto, muitos ainda entendem a técnica nos limites do tecnicismo. O que é um
equívoco. Quando se luta por procedimentos escolares menos elitistas, menos reprodutores e
mais democráticos, o saber fazer técnico do professor deve ser entendido como uma condição
indispensável ao exercício da prática docente, bem como do seu papel político.
Assim, diante da necessidade de melhorar a qualidade da formação docente e promover
uma educação inclusiva, pergunta-se: qual o papel das práticas de ensino na preparação de
professores capazes de ensinar a grupos heterogêneos? Como preparar professores que saibam
criar ambientes de aprendizagem versáteis e que saibam elaborar estratégias e metodologias
adequadas às necessidades de aprendizagem dos alunos?
Essas perguntas provocam outros questionamentos: se e como os componentes
curriculares têm possibilitado aos professores não só o desenvolvimento de um conhecimento
crítico sobre contextos desfavorecidos e seus efeitos sobre os alunos, mas, também, têm
ensinado a ensinar para atender as diversidades no contexto da sala de aula e da escola. E, ainda,
dada a complexidade e responsabilidade inerente à educação inclusiva, se e como tem sido
favorecida a construção e consolidação de práticas baseadas na colaboração, uma vez que as
escolas inclusivas requerem uma comunidade de atores e uma dinâmica de relações sociais em
seu interior que viabilize o trabalho com as diversidades.
Pesa sobre as políticas públicas e sobre os cursos de formação inicial a construção de
propostas mais orgânicas e com potencial para transpor essas dificuldades. Nesse sentido, o
lugar da dimensão técnica na formação docente, tendo em vista a educação inclusiva, que inclui,
dentre outros aspectos, conhecimentos e habilidades para um ensino eficaz no contexto da
diversidade, não pode mais ser confundido com “tecnicismo”.
Desse modo, é essencial equilibrar, no desenho curricular dos cursos de licenciatura, a
formação política e pedagógica tendo em vista a educação inclusiva e a redução das
desigualdades na sala de aula, especialmente em contextos desfavorecidos. Para tanto, é
importante fortalecer as didáticas e/ou metodologias específicas de modo que elas não sejam
tratadas só como disciplinas estanques, mas como espaços, em que seja possível um tratamento
multi ou interdisciplinar e se fortaleça a relação teoria e prática.
A promoção de práticas equitativas pressupõe o entendimento sobre a natureza
específica do direito à educação numa concepção humana. Gatti et al. (2019) explicam que o
movimento pelos direitos humanos e os compromissos internacionais do Brasil, nos anos de
1990, impulsionou a elaboração de um Programa Nacional de Direitos Humanos e a aprovação
das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH) que propõe atuações
para as redes escolares, com orientação de seus órgãos gestores, quanto a essa formação (Brasil,
2012).
As DNEDH atribuem aos Conselhos de Educação, no artigo 6º, a definição de
estratégias de acompanhamento das ações de educação em direitos humanos e dispõe, no artigo
8º, que a educação em direitos humanos deverá orientar a formação inicial e continuada de
Algumas recomendações
A análise e os dados discutidos nas seções anteriores permitem afirmar que alguns dos
principais problemas associados às diretrizes curriculares examinadas ao longo deste texto
dizem respeito à necessidade de formar professores que consigam enfrentar as demandas e
desafios da educação contemporânea. Para tanto, é preciso que os currículos estejam
atualizados, não sejam tão dispersos e díspares entre si, equilibrando aspectos mais gerais e
respeito aos contextos regionais, para que reflitam as necessidades formativas dos docentes e
os avanços nas diferentes áreas de conhecimento.
Assim, é preciso superar uma abordagem fragmentada do conhecimento, o que requer
estimular a integração e o diálogo constante entre as disciplinas, para facilitar a compreensão
dos futuros professores quanto às conexões entre diferentes áreas de conhecimento, pois é a
única saída para que os professores desenvolvam a capacidade de lidar com situações
complexas.
Nessa direção, uma transformação séria da formação inicial precisa irromper a
mumificada discussão acerca da dicotomia teoria e prática. Esgotaram-se todas as
possibilidades de explicar como essa polarização de concepções tem sido danosa para a
educação brasileira. A formação inicial deve ocorrer a partir de uma relação orgânica entre
teoria e prática, a partir do esbatimento da segunda, com base na primeira, que fornece
ferramentas essenciais para o planejamento de práticas futuras.
Aliado a isso, é preciso ter atenção aos significados e sentidos que temos atribuído à
formação docente em cursos de primeira e segunda formação, bem como os programas
especiais de formação pedagógica, que carecem de encaminhamentos e regulação mais
específicos, pois isso pode contribuir para que o desenvolvimento profissional docente ganhe
em qualidade, uma vez que provocaria, também, a melhoria dos processos de formação
continuada centrados nas escolas e em seus contextos.
Considerando as disputas históricas que envolvem a formação inicial de professores no
país, como cidadãos e cidadãs temos o compromisso ético de superá-las. Para tanto, faz-se
necessário rememorar alguns fatores que evidenciam a dificuldade em construir um consenso
em torno da formação de professores no Brasil, que pode ser atribuída a vários fatores
complexos e interconectados, dentre os quais destacamos:
Não se pode deixar de mencionar, ainda, que a qualidade da educação no Brasil enfrenta
desafios complexos, como desigualdades raciais, de gênero, de renda, falta de infraestrutura
adequada em muitas escolas, dificuldade de acesso a recursos, convivência, entre tantos outros,
que dificultam a construção de consenso em relação à melhor maneira de formar professores
capazes de lidar com essas demandas e promover uma educação de qualidade social para todos.
Superar esses obstáculos requer um esforço conjunto e comprometimento de diversos
atores, como governos, instituições de ensino, professores, pesquisadores, entidades da
sociedade civil e organismos internacionais. O diálogo, a troca de experiências e a busca por
consensos baseados em evidências podem ajudar a superar as dificuldades e promover uma
formação de professores mais alinhada com as necessidades da educação brasileira.
Desta forma, é sumário estabelecermos um acordo mínimo em torno da profissão
docente, por várias razões. Um consenso nacional sobre a profissão docente permite um
direcionamento das expectativas e conhecimentos em torno de uma educação socialmente
referenciada. Mas, para tanto, é preciso estabelecer referenciais profissionais compartilhados
de docência, para que consigamos formar uma geração mais preparada para os desafios da
docência nos tempos de hoje.
Do ponto de vista das políticas públicas, um consenso facilita a ação coordenada entre
os diferentes níveis e atores do sistema educacional, evitando abordagens fragmentadas e
inconsistências nas políticas educacionais, permitindo uma implementação mais consistente e
efetiva de medidas para enfrentar problemas concretos e melhorar a educação.
O estabelecimento de um consenso nacional em torno da profissão docente contribui,
ainda, para a valorização e o reconhecimento social dos professores, que é o que fomenta o
entendimento e a apreciação da importância do trabalho dos professores, bem como a promoção
de condições adequadas de trabalho, remuneração justa e desenvolvimento profissional
contínuo.
A partir desses princípios, é possível definir diretrizes para uma formação inicial menos
dispersa, menos difusa, e com ancoragens teóricas e epistemológicas mais profundas, além de
assegurar que os futuros e atuais docentes adquiram e aprofundem conhecimentos profissionais
para atender às demandas educacionais e, para tanto, é preciso uma formação mais coerente,
contextualizada, situada e com mais tempo, o que implica, no mínimo, na oferta de cursos de 4
(quatro) anos.
Sem o estabelecimento de um consenso, torna-se praticamente impossível superar a
visão estereotipada da docência como “missão” ou “vocação” e fortalecê-la como uma profissão
respeitada e essencial para o desenvolvimento nacional.
Logo, é urgente que, a partir de um consenso nacional em torno da formação inicial,
algumas ações básicas se efetivem, a partir de implementação de:
É essencial que os programas de formação inicial promovam uma conexão sólida entre
teoria e prática. Os estudantes devem ser incentivados a refletir sobre suas práticas e a aplicar
os conhecimentos teóricos em contextos reais de ensino, o que pode ocorrer por meio de diários
reflexivos, registros de aulas, análises de casos de ensino e outras estratégias que promovam a
autorreflexão e a tomada de consciência do próprio percurso formativo do(a) licenciando(a).
5. Estudos sobre o trabalho do(a) professor(a) que atua nos cursos de licenciatura
e iniciativas em que as práticas de ensino desenvolvidas pelos formadores sejam
discutidas, registradas e compartilhadas
II – VOTO DA COMISSÃO
REFERÊNCIAS
da União, Brasília, DF, 9 de abril de 2002, Seção 1, p. 31. Republicada por ter saído com
incorreção do original no Diário Oficial da União, de 4 de março de 2002, Seção 1, p. 8.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP nº 2,
de 19 de fevereiro de 2002. Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de
graduação plena, de formação de Professores da Educação Básica em nível superior. Diário
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CONSELHO PLENO
PROJETO DE RESOLUÇÃO
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
CAPÍTULO II
FORMAÇÃO DOS(AS) PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
ESCOLAR BÁSICA:
DOS FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS
CAPÍTULO III
BASE COMUM NACIONAL E PERFIL DO(A) EGRESSO(A) DA FORMAÇÃO
INICIAL
valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua
diversidade étnica.
§ 2º A formação inicial de profissionais do magistério para a educação escolar básica,
da Educação Escolar do Campo e da Educação Escolar Quilombola, nos termos desta
Resolução, deverá considerar a diversidade étnico-cultural de cada comunidade.
Art. 9º Nos cursos presenciais ou a distância destinados à formação inicial dos(as)
profissionais do magistério da Educação Básica, as IES deverão garantir o atendimento aos
critérios e orientações expressos na legislação e nas regulamentações em vigor:
I – no planejamento, oferta, desenvolvimento e avaliação das atividades, cursos e
programas;
II – na estruturação das matrizes curriculares e da progressão dos conhecimentos
específicos de cada campo disciplinar, dos conhecimentos de natureza interdisciplinar, dos
conhecimentos pedagógicos e dos fundamentos epistemológicos que subsidiam a compreensão
mais ampla dos fenômenos educativos; e
III – na estruturação e articulação dos saberes específicos concernentes à didática e às
práticas de ensino, às vivências pedagógicas e às vivências culturais.
Art. 10. Ao final do curso de formação inicial em nível superior o(a) egresso(a) deverá
estar apto(a) a:
I – demonstrar conhecimento e compreensão da organização epistemológica dos
conceitos, das ideias-chave, da estrutura da(s) área(s) e componentes curriculares para os quais
está sendo habilitado(a) para o exercício da docência;
II – compreender criticamente os marcos normativos que fundamentam a organização
curricular de cada uma das etapas e modalidades da Educação Básica e, em particular, das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e da Base Nacional Comum
Curricular;
III – atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa,
equânime, igualitária e de relações democráticas na escola;
IV – reconhecer os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos das escolas em
que atua e, também os contextos de vidas dos(as) estudantes, propiciando assim, aprendizagens
efetivas;
V – identificar questões e problemas socioculturais e educacionais, com postura
investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, a fim de contribuir,
por meio do acesso ao conhecimento, para a superação de exclusões sociais, étnico-raciais,
econômicas, culturais, religiosas, políticas, de gênero, sexuais e outras;
VI – compreender como as ideias filosóficas e as realidades e contextos históricos
influenciam a organização dos sistemas de ensino, das instituições de Educação Básica e das
práticas educacionais;
VII – demonstrar conhecimento sobre o uso da linguagem e do pensamento lógico-
matemático no desenvolvimento do conteúdo específico de ensino;
VIII – demonstrar conhecimento sobre diferentes formas de apresentar os conteúdos dos
componentes e das áreas curriculares para os quais está habilitado(a) à docência, utilizando esse
conhecimento para selecionar recursos de ensino adequados que contemplem o acesso ao
conhecimento para um grupo diverso de estudantes;
IX – aplicar estratégias de ensino e atividades didáticas diferenciadas que promovam a
aprendizagem dos(as) estudantes, incluindo aqueles que compõem a população atendida pela
Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, e levando em conta seus diversos
contextos culturais, socioeconômicos e linguísticos;
X – estruturar ações pedagógicas e ambientes educativos que promovam a
aprendizagem dos(as) estudantes a respeito:
CAPÍTULO IV
DA FORMAÇÃO INICIAL DO MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR BÁSICA
EM NÍVEL SUPERIOR: ESTRUTURA E CURRÍCULO
Art. 11. Os cursos de formação inicial para os(as) profissionais do magistério para a
educação escolar básica, em nível superior, compreendem:
I – cursos de graduação de licenciatura;
II – cursos de formação pedagógica para bacharéis e tecnólogos; e
III – cursos de segunda licenciatura.
§ 1º A instituição formadora definirá no seu projeto institucional as formas de
desenvolvimento da formação inicial dos(as) profissionais do magistério da educação escolar
básica articuladas às políticas de valorização desses profissionais e à base comum nacional
explicitada no Capítulo III desta Resolução.
§ 2º A formação inicial para o magistério e para a gestão na Educação Básica, implica
a formação em nível superior adequada aos conhecimentos atinentes à sua área de atuação e às
etapas correspondentes da Educação Básica.
§ 3º A formação inicial de profissionais do magistério da educação escolar básica será
ofertada, preferencialmente, de forma presencial.
§ 4º As etapas e modalidades da Educação Básica em que os(as) licenciados(as) das
diversas áreas do conhecimento poderão atuar são determinadas pelas respectivas diretrizes
específicas, articuladas às políticas de valorização desses profissionais, à base comum nacional
explicitada no Capítulo III desta Resolução, e à base nacional comum para a Educação Básica
conforme dispõe o artigo 26 da Lei nº 9.394, de 1996 – LDB.
Art. 12. A formação inicial destina-se àqueles que pretendem exercer o magistério da
educação escolar básica em suas etapas e modalidades de educação e em outras situações nas
quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, teóricos e práticos.
Parágrafo único. As atividades do magistério também compreendem a atuação e
participação na organização e gestão de sistemas de Educação Básica e suas instituições de
ensino, englobando:
I – planejamento, desenvolvimento, coordenação, acompanhamento e avaliação de
projetos, do ensino, das dinâmicas pedagógicas e experiências educativas;
II – produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico das áreas para as quais
recebeu formação e as do campo educacional.
Art. 13. Os cursos de formação inicial, respeitadas a diversidade nacional e a autonomia
pedagógica das instituições, constituir-se-ão dos seguintes núcleos:
I – Núcleo I – Estudos de Formação Geral (EFG): composto pelos conhecimentos
científicos, educacionais e pedagógicos que fundamentam a compreensão do fenômeno
educativo e da educação escolar e formam a base comum para todas as licenciaturas,
articulando:
a) princípios e fundamentos sociológicos, filosóficos, históricos e epistemológicos da
educação;
b) princípios, valores e atitudes comprometidos com a justiça social, reconhecimento,
respeito e apreço à diversidade, promoção da participação, da equidade e da inclusão e gestão
democrática;
estudada, devem ter carga horária total de 1.600 (mil e seiscentas) horas, com duração de, no
mínimo, 2 (dois) anos.
§ 1º Os cursos de formação pedagógica para graduados não licenciados(as) não se
destinam à formação de pedagogos, mas à formação de professores para atuarem nas disciplinas
que integram os quatro anos finais do ensino fundamental, o Ensino Médio e a educação
profissional em nível médio.
§ 2º No prazo máximo de 5 (cinco) anos, o MEC, em articulação com os sistemas de
ensino procederá à avaliação do desenvolvimento dos cursos de formação pedagógica para
graduados não licenciados(as), buscando seu aperfeiçoamento contínuo.
§ 3º A carga horária de 1.600 (mil e seiscentas) horas deve respeitar a seguinte
distribuição:
I – 400 (quatrocentas) horas dedicadas às atividades de formação geral, de acordo com
o Núcleo I, definido no inciso I do artigo 13 desta Resolução, conforme o PPC da instituição
formadora;
II – 740 (setecentas e quarenta) horas dedicadas ao estudo de aprofundamento de
conhecimentos específicos, na área de formação e atuação na educação, de acordo com o
Núcleo II definido no inciso II do artigo 13 desta Resolução e conforme o PPC da instituição
formadora;
III – 160 (cento e sessenta) horas de atividades acadêmicas de extensão conforme
Núcleo III definido no inciso III do artigo 13 desta Resolução, desenvolvidas nas instituições
de Educação Básica, lugar privilegiado para as atividades dos cursos de licenciatura; essa carga
horária, vinculada aos componentes curriculares desde o início do curso, deve estar
discriminada no PPC da instituição formadora; e
IV – 300 (trezentas) horas dedicadas ao estágio curricular supervisionado, conforme
Núcleo IV definido no inciso IV do artigo 13 desta Resolução, distribuídas ao longo do curso,
desde o seu início, na área de formação e atuação na Educação Básica, realizadas em instituições
de Educação Básica, segundo o PPC da instituição formadora.
§ 4º O estágio curricular supervisionado deve ser realizado integralmente, de forma
presencial, tanto nos cursos presenciais quanto nos cursos ofertados na modalidade a distância.
§ 5º As 160 (cento e sessenta) horas de atividades acadêmicas de extensão devem ser
realizadas, integralmente, de forma presencial tanto nos cursos presenciais quanto nos cursos
ofertados na modalidade a distância.
§ 6º Nos cursos de formação pedagógica para graduados não licenciados(as) ofertados
na modalidade a distância, pelo menos 340 (trezentas e quarenta) horas da carga horária do
Núcleo II definido no inciso II do artigo 13 desta Resolução, devem ser realizadas de forma
presencial.
§ 7º Cabe à IES ofertante do curso verificar, antes do aceite da matrícula, a
compatibilidade entre a formação do(a) candidato(a) e a habilitação pretendida e para isso as
IES deverão no ato da matrícula, descrever os critérios e requisitos curriculares que utilizaram
para a aceitação à habilitação pretendida, encartando-os em documento próprio.
§ 8º A oferta dos cursos de formação pedagógica para graduados não licenciados(as)
poderá ser realizada por IES, preferencialmente universidades, que ofertem curso de
licenciatura na habilitação pretendida reconhecido pelo MEC e com CPC de pelo menos 4
(quatro), sendo dispensada a emissão de novos atos autorizativos.
§ 9º Os cursos de formação pedagógica para graduados deverão ser avaliados quando
dos processos de avaliação do curso de licenciatura mencionado no parágrafo anterior.
§ 10. Os cursos de formação pedagógica para graduados não licenciados(as) são
equivalentes a cursos de licenciatura na área cursada e a comprovação dos estudos realizados
pelos seus egressos se dará por meio de diploma que deverá observar o disposto na legislação
pertinente.
integralmente realizadas de forma presencial, tanto nos cursos presenciais quanto nos cursos
ofertados na modalidade a distância.
§ 6º Nos cursos de segunda licenciatura, pertencentes à mesma área do curso de origem
– pelo menos, 280 (duzentas e oitenta) horas da carga horária do Núcleo II, definido no inciso
II do artigo 13 desta Resolução, devem ser realizadas de forma presencial tanto nos cursos
presenciais quanto nos cursos ofertados na modalidade a distância.
§ 7º Nos cursos de segunda licenciatura – pertencentes à área diferente do curso de
origem – pelo menos 520 (quinhentas e vinte horas) da carga horária do Núcleo II, definido no
inciso II do artigo 13 desta Resolução, devem ser realizadas de forma presencial tanto nos
cursos presenciais quanto nos cursos ofertados na modalidade a distância.
§ 8º Os cursos descritos no caput poderão ser ofertados a portadores de diplomas de
cursos de graduação em licenciatura, independentemente da área de formação, com exceção da
licenciatura em Pedagogia.
§ 9º Cabe à IES ofertante do curso verificar a compatibilidade entre a formação do
candidato e a habilitação pretendida, de acordo com as tabelas constantes do anexo desta
Resolução.
§ 10. A oferta dos cursos de segunda licenciatura poderá ser realizada por IES que oferte
curso de licenciatura na habilitação pretendida, reconhecido pelo MEC, com CPC de pelo
menos 4 (quatro), sendo dispensada a emissão de novos atos autorizativos.
§ 11. A oferta de cursos de segunda licenciatura deverá ser considerada quando dos
processos de avaliação do curso de licenciatura mencionado no parágrafo anterior.
§ 12. Os cursos de segunda licenciatura para professores em exercício na Educação
Básica pública, coordenados pelo MEC em regime de colaboração com os sistemas de ensino
e realizados por instituições públicas e comunitárias de Educação Superior, obedecerão às
diretrizes estabelecidas na presente Resolução.
§ 13. Os egressos dos cursos de segunda licenciatura deverão participar do Enade.
CAPÍTULO V
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 24. Esta Resolução entra em vigor na data de xx, de xx, de xxxx.
ANEXO I
QUADROS DE ORGANIZAÇÃO DE ÁREAS EQUIVALENTES ENTRE A FORMAÇÃO
ORIGINAL E A SEGUNDA LICENCIATURA:
ÁREAS CURSOS
História
Geografia
Sociologia
Ciências Humanas Antropologia
Filosofia
Ciência da Religião
Outras formações análogas
ÁREAS CURSOS
Língua Portuguesa
Língua Estrangeira Moderna
Linguagens
Artes
Outras formações análogas
ÁREAS CURSOS
Biologia
Ciências
Ciências da Natureza
Educação Física
Outras formações análogas
ÁREAS CURSOS
Matemática
Física
Ciências Exatas
Química
Outras formações análogas