Apostila de Enfermagem em Clínica Cirúrgica: Gonçalves Dias-Ma
Apostila de Enfermagem em Clínica Cirúrgica: Gonçalves Dias-Ma
Apostila de Enfermagem em Clínica Cirúrgica: Gonçalves Dias-Ma
ENFERMAGEM EM
CLÍNICA
CIRÚRGICA
GONÇALVES DIAS-MA
Unidade do centro cirúrgico
O Centro-cirúrgico (CC) pode ser considerado uma das unidades mais complexas do hospital devido
sua especificidade, presença de agente estressores devido às possibilidades de risco à saúde a que os
pacientes estão sujeitos ao serem submetidos à intervenção cirúrgica.
O CC é constituído de um conjunto de áreas e instalações que permite efetuar a cirurgia nas melhores
condições de segurança para o paciente, e de conforto e segurança para as equipes que o assiste.
Sendo um setor de circulação restrita, destacam-se, entre suas finalidades, a realização de
procedimentos cirúrgicos devolvendo os pacientes às suas unidades de origem nas melhores condições
possíveis de integridade; otimização de campo de estágio para a formação, treinamento e
desenvolvimento de recursos humanos; e o desenvolvimento científico para o aprimoramento de novas
técnicas cirúrgicas e afins.
Estrutura Física
O CC deve estar localizado em uma área do hospital que ofereça a segurança necessária às técnicas
assépticas, portanto distante de locais de grande circulação de pessoas, de ruído e de poeira.
Recomenda-se que seja próximo às unidades de internação, pronto-socorro e unidade de terapia
intensiva, de modo a contribuir com a intervenção imediata e melhor fluxo dos pacientes. De acordo
com a organização hospitalar, podem fazer parte do bloco cirúrgico a Recuperação Pós-Anestésica e a
Central de Materiais e Esterilização. As demais áreas são assim caracterizadas:
Vestiários (masculino e feminino): Localizados na entrada do CC, onde é realizado o controle de
entrada das pessoas autorizadas após vestirem a roupa privativa da unidade.
Área de conforto: Área destinada a lanches para que os mesmos não sejam realizados em locais
inadequados.
Sala dos cirurgiões e anestesiologistas: Destinada aos relatórios médicos
Sala de Enfermagem: Reservada ao controle administrativo do CC. Deve estar em local de fácil acesso
e com boa visão de todo o conjunto do setor.
Sala de recepção dos pacientes: Espaço para receber os pacientes. Aqui os pacientes são avaliados
clinicamente antes da cirurgia ou receber medicação pré-anestésica. Este ambiente deve ser o mais
calmo possível a fim de diminuir o estresse do período pré-operatório.
Sala de material de limpeza: Destinado à guarda dos materiais utilizados na limpeza do Centro-
cirúrgico.
Sala para guarda de equipamentos: Área para guarda e recebimento de equipamentos como:
microscópios, bisturis, monitores cardíacos, respiradores, entre outros. Em condições de uso e utilização
imediata.
Sala para armazenamento de material esterilizado (arsenal): Destinado ao armazenamento e
distribuição dos artigos estéreis, para uso nas salas de cirurgia.
Sala de gases medicinais: Destinada ao armazenamento de torpedos de gases medicinais como
oxigênio, ar comprimido, óxido nitroso e especialmente o nitrogênio para uso em aparelhos específicos
ou em casos de emergência.
Expurgo: Local para o desprezo de secreções das salas de cirurgia. Deve estar provida de um vaso
sanitário apropriado com descarga e uma pia para lavagem dos artigos utilizados nas cirurgias.
Apoio técnico e administrativo do Centro-cirúrgico: O Centro-cirúrgico conta com o apoio
imprescindível de alguns setores ligados direta ou indiretamente a ele e que deve estar prontamente
preparados para atendê-lo para seu funcionamento, tais como: banco de sangue, raios-X, laboratório e
anatomia patológica, serviço de engenharia clínica e de manutenção, farmácia, segurança e secretaria.
Sala de Operação (SO): Segundo a legislação brasileira, a capacidade do CC é estabelecida segundo a
proporção de leitos cirúrgicos e Salas de Operação. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)
n°307/2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde, determina
uma sala de operação para cada 50 leitos não especializados ou 15 leitos cirúrgicos.
Portas: As portas das salas de cirurgia devem ser largas o bastante para facilitar a passagem de macas
e equipamentos cirúrgicos. Devem possuir metal na altura da maca para evitar seu estrago, ser de
materiais laváveis e resistentes, de preferência revestidas de fórmica. É indicado o uso de portas do tipo
“vaivém” que impeçam o uso das mãos para abri-la. O ideal é que se tenha outra porta de acesso à sala
apenas para membros das equipes com visor de separação dos dois ambientes.
Piso: Deve ser de superfície lisa, não porosa, resistentes a agentes químicos comuns, sem fendas ou
fissuras, ter aspecto estético, realçar a sujeira, não refletir a luz, impermeável, resistente ao choque,
durável, de fácil limpeza, pouco sonoro e principalmente bom condutor de eletricidade estática para
evitar faíscas.
Paredes: Devem ser revestidas de material liso, resistente, lavável, anti acústico e não refletor de luz.
Pintadas de cores que evitam a fadiga visual, as tintas não devem possuir cheiro. Devem ser utilizados
cantos arredondados nas paredes, conforme o Manual de Controle de Infecção Hospitalar da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária.
Teto: Deve ser de material resistente, lavável, não deve conter ranhuras e não deve ser poroso, para
facilitar a limpeza e impedir a retenção de microrganismos.
Janelas: Necessárias apenas para a entrada de iluminação natural, não permitindo a entrada de poeira
e insetos. Devem ser dotadas de tela, não possuir parapeitos dentro ou fora da sala, não deve ainda,
possuir cortinas ou persianas.
Iluminação: Na sala de operação, o objetivo da iluminação é minimizar a tarefa visual das equipes
médicas e enfermagem e oferecer condições para que a operação se processe com precisão, rapidez e
segurança.
Iluminação de emergência: Devem existir sistemas interligados e automáticos, para acionarem
geradores reserva de imediato na eventualidade de uma interrupção do fornecimento de força para o
Centro cirúrgico.
Ventilação/ Ar condicionado: Prover o ambiente de aeração em condições adequadas de higiene e
saúde: 99,9% de eficiência na retenção de partículas de até 5 micra de diâmetro.
Remover partículas potencialmente contaminadas liberadas no interior das salas sem acarretar
turbulência aérea: recomenda-se de 20 a 25 renovações completas do ar da sala, no espaço de uma hora.
Proporcionar umidade relativa adequada e temperatura ambiente de conforto e segurança para o paciente
e para a equipe que o assiste: temperatura entre 22 e 23°C. A umidade deve permanecer entre 55 a 60%.
No entanto, não deve ultrapassar 70% para não se tornar ambiente propício ao desenvolvimento de
microrganismos.
Rede de gases: O sistema de abastecimento pode ser descentralizado (utilização de cilindros avulsos,
transportados até o local de utilização) ou centralizado (conduzido por tubulação central até os pontos
de utilização).
Lavabo: Constituído de uma pia em aço inoxidável provida de torneira de água quente e fria, escovas e
anticépticos para a escovação cirúrgica. É previsto um lavabo para cada duas salas de operação.
Recursos Materiais: Classificados em permanentes ou de consumo, o controle dos materiais utilizados
no centro cirúrgico são de competência da equipe de Enfermagem.
Os materiais permanentes podem ser fixos ou móveis. Os móveis são aqueles que podem ser deslocados
ou acrescidos à sala de operação de acordo com a necessidade no ato operatório, dentre os quais se
destacam:
- Aparelho de anestesia;
- Aspirador portátil estéril;
- Banco giratório;
- Balde para lixo;
- Balança para pesar compressas;
- Bisturi eletrônico;
- Carrinho abastecedor;
- Carrinho de medicamentos;
- Coxins;
- Escada com dois degraus;
- Estrados; - Foco auxiliar;
- Mesa de operação com os respectivos acessórios: arco de narcose, ombreiras, suportes laterais,
perneiras, colchonetes em espuma;
- Mesa auxiliar para acondicionar pacotes de aventais;
- Mesa de Mayo;
- Mesa para instrumental cirúrgico (simples e com traves ou suportes);
- Suporte de braço;
- Suporte de hamper;
- Suporte de soro;
- Artroscópio;
- Bomba de circulação extracorpórea;
- Cardioversor ou desfibrilador;
- Colchão de água para hiper ou hipotermia;
- Manta térmica;
- Monitor multiparamétrico;
Equipamentos fixos: adaptados à estrutura da sala de operação que são:
- Foco central;
- Negatoscópio;
- Torre retrátil ou painel de gases medicinais.
Paramentação cirúrgica
Historicamente, o objetivo primário das barreiras de proteção em sala operatória sempre se dirigiu para
a proteção dos pacientes à exposição de microrganismos presentes e liberados pelos trabalhadores.
É o vestuário especifico de acordo com os procedimentos realizado no Centro Cirúrgico.
Tradicionalmente, inclui o uniforme privativo (calça e blusa), propé ou sapato privativo, gorro, máscara,
avental cirúrgico e luva cirúrgica. Ressalta que a utilização do uniforme privativo deve ser restrita ao
ambiente do Centro Cirúrgico, com o objetivo de proteção dos profissionais envolvidos no cuidado ao
paciente em tal unidade critica. As roupas da rua nunca devem ser usadas em áreas semi-restritas ou
restritas do centro cirúrgico. Deve haver um ponto de demarcação entre as áreas de circulação sem
restrição e semi-restritas que ninguém pode ir, a menos que esteja adequadamente paramentado, sendo
que este deve incluir gorro ou capuz, propés e máscara facial.
Área não restrita: Vestiários; Área de transferência; Expurgo.
Área semi-restrita: Secretaria; Conforto médico; Sala de recepção do paciente; de recuperação
anestésica; de acondicionamento de material; de esterilização; centro de material; sala de serviços
auxiliares; e de equipamentos.
Área restrita: Corredor de acesso; Lavabo; Sala de operação.
Anestesiologia
A anestesia é caracterizada pela perda da sensibilidade dolorosa, com perda de consciência e certo grau
de amnésia, ao passo que a analgesia é a perda da sensibilidade dolorosa com preservação do estado de
consciência. Pode ser causada por: estados patológicos diversos ou provocada artificialmente, por
agentes anestésicos.
Os objetivos do ato anestésico são:
Suprir a sensibilidade dolorosa durante a cirurgia com manutenção ou não da consciência;
Relaxamento muscular;
Proporcionar condições ideais para a ação da equipe cirúrgica.
Medicação pré-anestésica
Consiste na administração de uma ou mais diferentes drogas antes do ato anestésico com o objetivo de
produzir amnésia e sedação, diminuir a dor, potencializar os agentes anestésicos, diminuir secreções de
vias aéreas e o metabolismo, reduzir volume do conteúdo gástrico e aumentar o seu pH, reduzindo as
necessidades de anestésicos.
Reduz a ansiedade, pois o estresse pré-operatório pode provocar inquietação, insônia, arritmias,
hipertensão arterial e crise de angina. Portanto, a medicação pré-anestésica deve proporcionar a redução
da ansiedade, de modo que a indução e manutenção da anestesia sejam mais fáceis, pois o estresse pré-
operatório pode provocar inquietação, insônia, arritmias, hipertensão arterial e crise de angina. A
medicação deve ser prescrita de acordo com as necessidades individuais do paciente.
Tipos de anestesia
Os diferentes tipos de anestesias se dividem em dois grandes grupos: a anestesia de consciência (geral)
e as de partes do corpo (sendo as loco regional: local, tissular, plexular, troncular, epidural e
raquianestésica). Uma classificação freqüentemente usada para a assistência anestésica é a seguinte:
✓ Anestesia geral
A anestesia geral pode ser entendida como um estado reversível de ausência de percepção dolorosa,
relaxamento muscular, depressão neurovegetativa e inconsciência, resultante da ação de uma ou mais
drogas no sistema nervoso.
São administrados por vias endovenosas e inalatória preferencialmente devida a relação efeito-doze e
o tempo de curso de efeito são mais previsíveis. Outras vias podem ser usadas, como a anestesia geral
retal.
✓ Anestesia geral por inalação
Os anestésicos líquidos podem ser administrados pela mistura de vapores com oxigênio ou óxido
nitroso-oxigênio e, então, fazer o paciente inalar a mistura. O vapor é administrado ao paciente por meio
de um tubo ou máscara.
A técnica endotraqueal para administração de anestésico consiste na introdução de um tubo
endotraqueal ou da máscara laríngea de borracha macia ou plástico, dentro da traquéia (tubo) ou laringe
(máscara laríngea), com a ajuda de um endoscópio óptico de fibra flexível, ou também pela exposição
da laringe com um laringoscópio ou pela introdução do tubo cegamente. O tubo pode ser inserido tanto
pelo nariz quanto pela boca (a ML somente pela boca). Quanto o tubo encontra-se no local, o mesmo
isola os pulmões do esôfago de forma que, se o paciente vomita, nenhum conteúdo do estômago entra
nos pulmões.
✓ Anestesia geral endovenosa
Pode ser produzida pela injeção intravenosa de várias drogas. Tem a vantagem de não ser explosiva,
agradável para o paciente, ação rápida, fácil de dosar, não requer aparelhagem e é muito fácil de
administrar, porém, não há meio de removê-la organismo (tiopental sódico, etomidato, acetamina,
diazepínicos, propofol e methoexital sódico).
✓ Anestesia local
Caracteriza-se pela administração de anestésico local nas imediações dos axônios. Sua ação é de
estabilizar a membrana do axônio impedindo a despolarização e conseqüente propagação do impulso
elétrico. Pode ser classificada em: local propriamente dita regional e espinhal. Anestesia local pode ser
tópica (mucosa do nariz, boca, árvore traqueobrônquica, esôfago e trato geniturinário) ou por infiltração
(injeção de anestésico nos tecidos nos quais deve passar a incisão).
✓ Anestesia regional
O agente anestésico é injetado nos nervos ou ao redor deles, de modo a anestesiar a área por eles
inervada. As áreas mais comumente utilizadas são: bloqueio do plexo (plexo branquial); anestesia
paravertebral (parede abdominal e vísceras); bloqueio transacral (períneo e baixo abdômen);
✓ Anestesia espinhal
Epidural ou peridural - injeção de anestésico no canal medular no espaço ao redor da duramáter.
Raquianestesia – é obtida pela punção lombar e, no mesmo ato, injeta-se a solução de anestésico no
líquido cefalorraquidiano, no espaço subaracnóideo.
Outras medicações são utilizadas como coadjuvantes no ato anestésico. É o caso do miorrelaxantes
utilizados para facilitar a intubação e oferecer condições cirúrgicas.
Esterilização
O processo de esterilização pelo vapor saturado sob pressão é o método mais utilizado e o que maior
segurança oferece ao meio hospitalar.
A produção do vapor utilizado na esterilização requer alguns cuidados como a água utilizada para a
produção do vapor, esta deve estar livre de contaminantes em concentração que possa interferir no
processo de esterilização, danificar o aparelho ou os produtos a serem esterilizados.
Os equipamentos utilizados para este método de esterilização são as autoclaves. Estas se constituem
basicamente de uma câmara em aço inox, com uma ou duas portas, possui válvula de segurança,
manômetros de pressão e um indicador de temperatura.
Artigos de superfície como bandejas, bacias e instrumentais não devem ser esterilizados com artigos de
espessura como campo cirúrgicos, compressas e outros, nas autoclaves gravitacionais. O volume de
material dentro da autoclave não deve exceder 80% da sua capacidade. Os pacotes devem ser colocados
de maneira que haja um espaçamento de 25 a 50m entre eles, e de forma que o vapor possa circular por
todos os itens da câmara. Os pacotes maiores devem ser colocados na parte inferior e os menores na
parte superior da câmara.
Esterilização Química
Glutaraldeído
Pode ser utilizado para a esterilização de artigos termo - sensíveis que não possam sofrer esterilização
pelos processos físicos como: enxertos de acrílico, cateteres, drenos e tubos de poliestireno.
Óxido de Etileno
O óxido de etileno C2H4O é um gás incolor à temperatura ambiente, é altamente inflamável. A
utilização do óxido de etileno na esterilização é hoje principalmente empregada em produtos médico-
hospitalares que não podem ser expostos ao calor ou a agentes esterilizantes líquidos: instrumentos de
uso intravenoso e de uso cardiopulmonar em anestesiologia, aparelhos de monitorização invasiva,
instrumentos telescópios (citoscópios, broncoscópios, etc.), materiais elétricos (eletrodos, fios elétricos),
máquinas (marcapassos, etc.), motores e bombas, e muitos outros.
Peróxido de hidrogênio
Peróxido de hidrogênio ou água oxigenada é um agente oxidante e a uma concentração de 3 a 6% tem
poder desinfetante e esterilizante, porém pode ser corrosivo para instrumentais. Pode ser utilizado como
opção para esterilização de materiais termo - sensíveis. É usado na desinfecção e esterilização de
superfícies planas e sólidas, na esterilização de capilares hemodializadores.
Plasma de peróxido de hidrogênio
Este método de esterilização é utilizado como alternativa para artigos sensíveis a altas temperaturas e à
umidade e vem sendo estudada sua característica ecologicamente viável, pois é um sistema de
esterilização atóxico, com processo ambiental saudável. Este processo pode ser aplicado em materiais
como alumínio, bronze, látex, cloreto de polivinila (PVC), silicone, aço inoxidável, teflon, borracha,
fibras ópticas, materiais elétricos e outros. Não é oxidante.