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BUMBA MEU BOI DO MARANHÃO Historia e Tradição

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O bumba-meu-boi no Maranhão é mais do que uma celebração; é uma das

expressões culturais populares mais conhecidas no Brasil. Para os


maranhenses, o bumba-meu-boi não é apenas uma forma de lazer, mas um
encontro com sua identidade e memória. A origem desta brincadeira é
difícil de precisar devido à sua base na oralidade, com influências
africanas, indígenas e europeias, e seu cenário nas fazendas de gado no
meio rural. Relatos históricos indicam que o primeiro registro publicado no
Maranhão data de 1829, embora haja registros de sua presença em outras
regiões do Brasil nos séculos XVII e XVIII, durante a época colonial, o
período de escravidão e o Ciclo do Gado.
Desde o início bumba-meu-boi tem enfrentado grandes desafios para
manter sua tradição viva. Entre esses desafios estão a proibição, a
perseguição, o preconceito e, atualmente, a necessidade de conciliar
tradição com inovação em um contexto midiático e exibicionista, sem
perder sua essência popular, memória e identidade. Ao longo dos mais de
dois séculos de existência, o bumba-meu-boi passou por inúmeras
transformações para se adaptar aos contextos históricos e manter sua
resistência, preservando sua memória e referências culturais.
Mudanças significativas foram observadas desde que o desenvolvimento
turístico no Maranhão ganhou força, especialmente nas ultimas décadas,
coincidindo com o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil.
Entre os grupos que mais se destacam nas transformações, ultrapassando a
linha tênue da diversidade e avançando para a problemática, estão os
grupos de sotaque de orquestra. Este é o último dos cinco estilos (sotaques)
a chegar a São Luís e é o estilo de boi que mais cresce atualmente,
predominando na programação dos arraiais juninos da cidade.
Recentemente, observa-se que os grupos de orquestra têm sido os mais
suscetíveis a mudanças. São exemplares as seleções das índias, as
inovações dos arranjos da cabeça e a estética das vestes. As índias, por
exemplo, são escolhidas de acordo com critérios de estatura, cor de pele e
atributos corporais. A presença recente de homens vestidos de índios vem
atraindo o público, sobretudo o feminino.
Pesquisadora: Isaurina Nunes
"Pelo o que percebemos, os mais suscetíveis às transformações são os
grupos de orquestra, talvez em função do grande apelo visual e musical. A
sonoridade é muito atraente. É o sotaque que mais tem crescido, não só em
São Luís, como também no interior. Aqui em São Luís este sotaque vem
sendo apropriado pela classe média e pela elite, que têm outra ideia de
valor, diferente das classes populares."

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”Essa descaracterização pode ser vista como uma tentativa de
apropriação de um bem simbólico para atender interesses político-
econômicos, estimulando a espetacularização de uma tradição secular. Por
outro lado, há uma parcela da população carente de políticas públicas e
estímulos aos valores culturais, que segue o que é difundido na mídia como
referencial de “bom gosto” e de “atualidade.” É a cultura popular sendo
reinventada em uma espécie de negociação entre o local e o global,
mediada e validada com o consentimento das comunidades sociais.”

Durante uma visita mediada na Casa do Maranhão, pude observar que


algumas características não apenas do bumba-meu-boi, mas de outras
manifestações da cultura popular, já sofreram modificações. A tentativa de
tornar as apresentações de bumba-meu-boi em espetáculo, promovida pelos
meios midiáticos, pode influenciar a descaracterização ou mesmo ameaçar
o destino de uma tradição, apropriando-se de um bem simbólico das classes
populares. No entanto, ações comunitárias e um maior envolvimento da
comunidade na preparação da brincadeira mostram uma resistência e uma
tentativa de manter os laços identitários e os vínculos à tradição do bumba-
meu-boi.

Como complemento do tema discutido em sala de aula, a professora


Carolina Martins nos levou para uma imersão na sede do Bumba-
meu-boi de Pindaré. Foram algumas horas de incomparável riqueza
de informações através dos mestres, diretores, miolos, bordadeiras,
cazumbas e brincantes. Nas falas de alguns dirigentes presentes,
pude perceber de perto as diferenças e dificuldades entre os grupos
de boi em seus vários sotaques, bem como certas transformações que
esses grupos sofreram para se adaptar às exigências do mercado. O
convívio permitiu perceber que são grandes o interesse e os esforços,
por parte dos donos dos grupos, comumente chamados de amos, para
que seu boi possa brincar nos circuitos oficiais da capital e, se
possível, em outros estados do Brasil. O trabalho desse grupo para a
organização, produção e manutenção do boi é complexo. As
mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais das últimas
décadas fizeram com que os grupos dependessem muito do poder
público, e os amos dos bois precisam pôr em prática uma série de
estratégias políticas internas e externas para garantir suas
apresentações. Este processo implica uma logística completa e um
conjunto de ações contínuas.

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Fundada em 1612 e colonizada por europeus, a cidade de São Luís, é
carinhosamente chamada de “Atenas Brasileira”, “Cidade dos
Azulejos” e “Ilha do Amor”.
Cercada de praias e ornada por uma valiosa arquitetura de casarios e
sobrados coloniais portugueses, no início da sua ocupação a região
abrigava apenas ocas de madeira e palha, onde os índios tupinambás
viviam da agricultura de subsistência.
Se os franceses fundaram a cidade e os portugueses deixaram fortes
marcas arquitetônicas, deve-se aos africanos e índios a herança do
artesanato, música, dança e folclore da capital maranhense, fazendo de São
Luís um dos maiores pólos culturais do país e a terceira maior comunidade
negra brasileira, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro e Salvador.
As manifestações culturais e religiosas são as maiores riquezas,
concentradas no Centro Histórico.
O “tambor de crioula” é um dos rituais mais populares da cultura afro do
Maranhão, uma celebração que homenageia São Benedito, reverenciado
fervorosamente pelos brincantes, com um belíssimo ritual de música e
dança.
Quem visita São Luís, também não pode deixar de conhecer a festa do
Divino Espírito Santo, uma tradição que chegou ao Brasil através dos
açorianos no século XVI e representa, hoje, uma das manifestações
folclóricas mais importantes do Maranhão. Marcada pelo sincretismo
religioso, a festa do Divino recebeu influências da cultura indígena e está
associada também a outros santos católicos e de casas de cultos afro-
maranhenses.
Mas a festa do bumba-meu-boi é a mais conhecida festa folclórica de São
Luís. O “Boi” é uma tradição que se mantém viva desde o século XVIII e
arrasta maranhenses e turistas pelas ruas do centro e da periferia nos meses
de maio, junho e julho, quando é comemorado. Existem atualmente cerca
de 300 grupos de bumbas em todo o Estado, subdivididos em vários
“sotaques” com características próprias que se destacam nas roupas,
instrumentos, músicas e coreografia.
A arquitetura de São Luís encanta pela beleza do seu conjunto que forma o
Centro Histórico. Em 1995, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional tombou a acervo arquitetônico de São Luís, composto por mais de
três mil construções em estilo neoclássico europeu dos séculos XVII e
XIX, que ocupam a área de 250 hectares. Em 1997, foi a vez da UNESCO

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conceder a São Luís o título de Patrimônio Cultural da Humanidade,
reconhecendo a importância de um dos centros históricos mais bonitos do
mundo.

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São Luís também deixou marcas positivas na literatura brasileira, sendo
berço de nomes importantes como o poeta Gonçalves Dias, Aluísio de
Azevedo, Humberto de Campos e também Sousândrade, o poeta da visão
literária que previu no século passado vários acontecimentos que marcaram
e marcarão a atualidade.
Construídos pelos senhores portugueses responsáveis pela
comercialização e produção de algodão na região, solares e sobrados
coloniais revestidos de azulejos são a marca do apogeu econômico da
capital. O bairro da Praia Grande é o mais antigo e tradicional da cidade.
Os azulejos que enfeitam a arquitetura da cidade foram trazidos da
metrópole e de países europeus para ajudar na manutenção da temperatura
no interior das casas, devido ao clima tropical e úmido.

TEXTO 1
O Bumba-meu-boi é a mais expressiva manifestação cultural do Estado e
mais reconhecida dos festejos juninos maranhenses.
É um auto que conta a estória da negra Catirina, que grávida desejou comer
a língua do boi predileto de seu amo e patrão, induzindo o seu companheiro
Pai Francisco ou Nego Chico, a matar o boi para satisfação do seu desejo.
Atualmente os grupos suprimiram a dramatização nas apresentações ao
público durante os festejos juninos, devido a grande demanda de
apresentações, mas preservaram nas toadas, a seqüência da apresentação
que compreende: o guarnicê, quando o amo do boi chama o grupo para
começar a apresentação; o lá vai, aviso de que a brincadeira está dirigindo-
se ao local de apresentação; a licença, que é o pedido de permissão para
que o grupo se apresente ao público naquele local; a saudação, quando são
cantadas toadas de louvação ao dono da casa, ao boi e ao público; o urrou,
momento que celebra a alegria de todos pelo restabelecimento do boi
depois de sido sacrificado; e a despedida, quando a brincadeira é encerrada;
há ainda toadas de meio, pedidos de favoritas, toadas de pique e
recordações, etc.
A brincadeira do bumba-meu-boi apresenta um conjunto de personagens
que podem variar segundo o sotaque em que os grupos pertencem. O

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sotaque também determina a variação na indumentária dos grupos e na
música.
Invariavelmente, os grupos dos cinco sotaques mais conhecidos têm como
personagem: o boi, figura central da brincadeira, confeccionado de buriti
(árvore frutífera denominada como buritizeiro). Esta armação é trabalhada
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artesanalmente depois de pronta é coberta o com “o couro” do boi cujo


couro é de tecido veludo quase sempre na cor preta ou azul marinho
bordado minuciosamente com desenhos de vários temas (religiosos,
históricos, etc.) são bordados com miçangas, canutilhos, vidrilhos, paetês e
pedras, até tomar a belíssima forma, com cores e intenso brilho feito com
muita arte que encanta a todos que presenciam. De baixo do boi fica o
“miolo” nome dado a uma pessoa que carrega nas costas a armação do boi,
tradicionalmente o miolo é um homem que conduz ficando escondido dos
olhos daqueles que o contemplam, ocultando debaixo de sua estrutura

O amo, que personifica o dono da fazenda, podendo acumular a função de


cantador; os vaqueiros, grupo que forma o cordão, exceto nos sotaques de
orquestra e zabumba, onde o boi, se posiciona no centro do cordão; e as
índias, meninas adolescentes que trajam indumentárias confeccionadas com
penas e cocares, à exceção do sotaque de zabumba, cuja indumentária é
confeccionada com fios de saco de nylon.

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