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Experimentos Portáteis para o Aprendizagem Das Leis Da Óptica - ISLE

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Revista Brasileira de Ensino de Física, vol.

44, e20220084 (2022) Produtos e Materiais Didáticos para o Ensino de Física


www.scielo.br/rbef cb
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0084 Licença Creative Commons

Experimentos Portáteis para o Aprendizagem das Leis da


Óptica Geométrica com Metodologia ISLE
Portable Experiments for Learning about Laws of Geometric Optics with ISLE Methodology

A. Tavares1 , A. Silva2 , C. Chesman*2,3


1
Instituto Federal do Rio grande do Norte, Diretoria de Ciências, 59015-000, Campus Central, Tirol, Natal, RN, Brasil.
2
Fractal Experimentos, Capim Macio, 59078-400, Natal, RN, Brasil.
3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Física, 59078-970, Natal, RN, Brasil.

Recebido em 11 de março de 2022. Aceito em 19 de abril de 2022.


Neste trabalho socializar-se-ão a idealização e a construção de experimentos portáteis planejados para alargar a
aprendizagem no campo das Ciências da Natureza. Descrever-se-á detalhadamente uma sequência didática para a
aplicação do Experimento Portátil (ExP) sobre as leis da óptica geométrica, desenvolvida a partir de orientações
psicopedagógicas de Freire, Vygostky, Ausubel e Moreira. Os experimentos portáteis foram produzidos a partir de
pesquisa relacionada com os estudos da metodologia para o ensino de física recorrendo à metodologia ISLE. Tais
produtos podem ser montados e manuseados na sala de aula, em aulas presenciais ou online, se constituindo em
experimentos pedagógicos que podem auxiliar assertivamente professores de ciências e de matemática no contexto
do ensino remoto, motivado pela pandemia da COVID-19. Esta nova ferramenta se afirmou como uma solução
assertiva para o ensino de ciências e de matemática experimental no período da pandemia, contexto em que as aulas
remotas ou gravadas se constituíram na alternativa possível para mitigar aglomerações, principalmente, porque
a partir da mediação do produto pedagógico, sobre as leis da óptica geométrica, as aprendizagens se tornaram
potentes, mesmo que os estudantes se encontrassem distantes da infraestrutura laboratorial das instituições de
ensino que o adotaram no seu repertório metodológico.
Palavras-chave: Aprendizagem, experimento portátil, sequência didática, metodologia ISLE.

We will socialize the design and how to make of portable experiments to broaden learning in the field of Natural
Sciences. We will describe in detail the application of the Portable Experiment (ExP) on the laws of geometric
optics developed from psychopedagogical prescription of Freire, Vygostky, Ausubel and Moreira. The ExP were
created from research initially related to the studies of the methodology for teaching physics using the ISLE
(Investigative Science Learning Environment) methodology. Such products can be assembled and handled in the
classroom or in the context of student’s homes, in classroom or online classes, constituting pedagogical experiments
that can assertively help science and mathematics teachers in the context of remote education motivated by the
COVID pandemic-19. This new instrument asserted itself as an assertive solution for the teaching of science
and experimental mathematics in the period of the pandemic, where remote or recorded classes constituted
the possible alternative to mitigate crowding, mainly because from the mediation of the pedagogical product
the learning became powerful even though students were far from the laboratory infrastructure of educational
institutions that adopted it in their methodological repertoire.
Keywords: Learning, portable experiment, ISLE methodology.

1. Introdução e Fundamentação Teórica está prontos! Trata-se de uma teorização que valoriza a
atuação dos educadores para o desenvolvimento integral
O objetivo central da aprendizagem escolar no campo do ser humano. Os docentes são compreendidos como im-
das ciências e da matemática, dentre elas a física, pulsionadores da reconfiguração da estrutura cognitiva
deve ser demonstrar conceitos para que os estudantes do estudante, são mediadores para que a mente esteja
desenvolvam autonomia reflexiva para compreender e aberta para internalizações e amadurecimentos [1], esta
apreciar os fenômenos. A psicologia cognitiva é um intenção é mais importante do que a aquisição do
campo de produção do conhecimento que instrui sobre conhecimento pelas finalidades meramente instrutivas,
os processos mentais, tais como: percepção, criatividade, para o entretenimento ou para a diversão. O conteúdo
tomada de decisão, resolução de problemas, represen- presente nos repositórios internacionais, espaços virtuais
tação, raciocínio, atenção e atribuição de significado. que abrigam pesquisas realizadas nos principais centros
A teorização da psicologia cognitiva advoga que os de produção de conhecimento do campo da psicopedago-
alunos, para ativar a capacidade de aprender, precisam gia, tem demonstrado que, as metodologias de aprendi-
zagem a partir de experimentos, por demonstrações ou
* Endereço de correspondência: chesman@fisica.ufrn.br por realização de práticas específicas, podem ser uma

Copyright by Sociedade Brasileira de Física. Printed in Brazil.


e20220084-2 Experimentos Portáteis para o Aprendizagem das Leis da Óptica Geométrica com Metodologia ISLE

alternativa pedagógica segura para facilitar a aprendi- Todos os materiais para a realização da aula com
zagem de conteúdos psíquicos que requerem maior grau experimento portátil estão disponíveis em um caixote
de abstração por parte dos estudantes. elaborado nas mesmas dimensões de um livro didático
Porém, é fato que há inúmeras dificuldades para a para assegurar a mobilidade total da experiência. Desta
implantação de atividades práticas nas aulas de ciências forma, a portabilidade do experimento é um importante
e de matemática, dentre elas destacam-se: a aquisição e atributo para o professor e o aluno, pois se relaciona
o manuseio dos equipamentos, a falta de infraestrutura com o fácil transporte do experimento e a diversidade
laboratorial e o pouco treinamento dos professores em de locais em que pode se dar a vivência pedagógica. O
atividades experimentais. Estas dificuldades se fazem experimento sobre as Leis da Óptica Geométrica que
presentes em praticamente todos os contextos escolares aqui se ressalta pode ser transportado dentro da uma
do mundo e geralmente se relacionam com a falta de mochila e pode ser realizado na própria sala de aula,
equipamentos, de professores competentes na atividade ou ainda, se assim desejar, realizar a prática na própria
e de sala ambiente para laboratório. Os pesquisadores residência.
do campo concordam que o caminho da aprendizagem O ponto forte do experimento que aqui se defende
por experimentação deve ser mais amplamente usado, repousa na metodologia de aprendizagem ISLE (Inves-
principalmente, quando a mediação se fundamenta nos tigative Science Learning Environment), um caminho
grandes pensadores da educação [1–5]. pedagógico que proporciona ao executor observar e ex-
Pensando ainda no repertório de dificuldades, é impor- perimentar, para em seguida, teorizar e modelar sobre o
tante ressaltar a escassez de equipamentos pedagógicos tema em estudo. Essa perspectiva, ao enfatizar a prática
com roteiros e com metodologias assertivas para a experimental, colabora com a criação e concepção de
aprendizagem significativa em ensino de ciências e ma- subsunçores experimentais. Novamente, para ilustrar a
temática. De acordo com Moreira [6, 7], a aprendizagem argumentação, ressalta-se que não há na vida cotidiana
significativa se caracteriza pela interação entre novos de um cidadão comum o uso de ohmímetro, voltímetro
conhecimentos e o conhecimento prévio do aluno. Sendo ou amperímetro; daí, em uma atividade prática, haverá
que nessa interação, os novos conhecimentos adquirem o contato com estes instrumentos e consequentemente
significado para o sujeito e os conhecimentos prévios criam-se novos conhecimentos ditos subsunçores, para
adquirem novos significados, proporcionando maior es- se alcançar novos conteúdos.
tabilidade cognitiva. Dito de outra forma, a crítica Na sequência, apresentar-se-á inicialmente as expe-
é a seguinte: até existem equipamentos didáticos que rimentações, para só depois apresentar a modelagem
se destinam à aprendizagem das áreas referidas neste e a teorização das observações, seguindo a perspectiva
estudo, porém, na sua imensa maioria, os roteiros desses metodológica ISLE.
equipamentos se limitam a descrever sequências de
tarefas a serem observadas; faltam, nesses manuais, con- 2. ISLE
cepções e atividades pedagógicas que concorram para a
aprendizagem a partir da experimentação assertiva. Um Esta metodologia de aprendizagem foi criada pelo grupo
exemplo pertinente, uma dificuldade pouco abordada na da Graduate School of Education, Rutgers University
aplicação de experimentação é a falta de subsunçores dos dos Estados Unidos da América, liderado pela profes-
alunos e até dos professores sobre os equipamentos e seus sora Eugenia Etkina [8], tendo inclusive já recebido a
usos. Subsunçor é o termo utilizado na teoria da Apren- “medalha Robert A. Millikan” da Associação Americana
dizagem Significativa cunhada por David Ausubel [5] de Professores de Física [9]. Há inclusive um sítio na
para se referir à estrutura cognitiva existente, capaz de internet com vastas informações sobre esta metodologia,
favorecer novas aprendizagens. Um exemplo prático do https://www.islephysics.net/. Outra referência que
conceito seria: para uma prática sobre óptica é necessário apresenta essa metodologia mais recente e em língua
haver conhecimentos sobre componentes ópticos; sem portuguesa é G.G. de Oliveira et al. [10].
eles não há como se executar as medidas das grandezas De forma resumida o método ISLE é um jogo epistê-
e inferir sobre as leis observadas. mico, um jogo cognitivo que emula a metodologia pela
Neste contexto de dificuldades, acredita-se que a qual os cientistas criam o seu conhecimento. É possível
produção de material experimental didático perspec- acessar uma profícua entrevista sobre esta temática do
tivado na concepção cognitivista e na aprendizagem jogo pedagógico, concedida pela pesquisadora Adriana
significativa seja um caminho alternativo a ser guiado Araújo da Universidade do Minho em Portugal, por meio
e seguido. Neste artigo, apresentar-se-á uma sugestão do endereço: <https://www.potiguarnoticias.com.br/
de um experimento portátil circunstanciado no salto de noticias/46180/estamos-dentro-de-um-grande-jogo-vi
qualidade de pensamento do estudante para a aprendi- vendo-e-aprendendo-a-jogar>
zagem significativa do conteúdo escolar sobre as Leis da Neste contexto de ser um jogo, a chave para o jogo é
Óptica Geométrica, a partir de conteúdo de aplicação seguir com bom grau de engajamento e mediar a vivência
sobre o funcionamento de instrumentos ópticos, em do experimento com performance de investigação mis-
especial, o olho humano. teriosa. Os alunos constroem seus conceitos de ciência

Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220084, 2022 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0084
Tavares et al. e20220084-3

Figura 2: Fotografia de um livro e um ExP nas mãos de um


aluno; veja as dimensões semelhantes. Estes tamanho e formato
permitem fácil transporte e armazenamento pelo professor ou
Figura 1: Ciclo ou diagrama de bloco do ISLE. O início é a
aluno. Esses objetos podem ser tranquilamente guardados em
observação ou uma experimentação. Segue-se a construção de
estantes nos ambientes escolares e universitários. Fonte: Imagem
conceitos de física e desenvolve habilidades de aprendizagem
dos autores.
da ciência simulando os processos que os cientistas usam para
construir conhecimento e, por fim, chegam-se às aplicações
tecnológicas, conforme referência [10]. Fonte: referência [10].
que pode ser utilizado em todas as disciplinas, pois visi-
ona auxiliar o professor na organização do trabalho em
e desenvolvem habilidades de aprendizagem da ciência, sala de aula de forma gradual, partindo de habilidades
simulando os processos que os cientistas usam para que os alunos já dominam (subsunçor) para alcançar os
construir conhecimento, com ciclo que segue a Figura 1, níveis que eles ainda precisam dominar [6]. A metodo-
iniciando-se com uma observação prática, passando-se logia ISLE segue claramente em três momentos pedagó-
essencialmente pelo método científico e finalizando-se gicos e com uma abordagem problematizadora [1, 2], a
com aplicações tecnológicas. saber: Primeiro Momento Pedagógico (Problematização
Inicial), Segundo Momento Pedagógico (Organização do
Conhecimento) e Terceiro Momento Pedagógico (Apli-
3. Produção Didática Inovadora: Os cação do Conhecimento). Todas essas etapas concorrem
Experimentos Portáteis para uma vivência experimental direcionada para a
aprendizagem ativa, por meio da participação em um
Conforme já se pontuou, este artigo ressalta a descrição jogo epistêmico em que há proatividade coletiva, a
fundamentada da produção de experimentos portáteis partir da estimulação da curiosidade e da descoberta
que se organizam dentro de um caixote de madeira, na interação com o material didático. A metodologia
mais ou menos do tamanho de um livro, para que ativa se baseia em unidades de aprendizagem [6, 7]
possa ser transportado dentro de uma mochila. Veja sendo formulada a partir da incontestável necessidade
a Figura 2, uma fotografia deste caixote; é feito de da atuação do discente na construção do seu conhe-
madeira tipo MDF e foi cortado a laser, mede 21,0 cm cimento. Nessa perspectiva, as metodologias ativas de
de comprimento, 17,0 cm de largura e 7,0 cm de altura. ensino apresentam-se como um conjunto de estratégias
Os materiais escolhidos para compor cada ExP são que visam transformar os processos de ensino e de
de baixo custo e de fácil aquisição; usaram-se novas aprendizagem em um ato dinâmico, onde o principal
tecnologias de confecção (corte a laser e impressora ator deixa de ser o professor. Nesse cenário, o aluno
3D), e na medida do possível, se aproveitaram materiais assume um papel de construtor do próprio conhecimento
existentes no centro comercial, de fácil acesso nos centros e o professor, o provedor dos meios e procedimentos
urbanos. Sem a necessidade de manufaturar novas peças, adequados para que o aluno atinja seus objetivos [7].
este ponto foi crucial na produção do material, isto Neste ponto, é interessante que sejamos apresentados
é, usou-se a criatividade, visando cumprir os objetivos às metodologias ativas que basearam o desenvolvimento
iniciais de ser portátil, ter baixo custo e fácil aquisição. das Unidades de Aprendizagem Ativa: Peer-Instruction
Concomitamente ao uso da metodologia ISLE, é tam- (Instrução por Pares) e Flipped Classroom (Sala de
bém muito importante se criar a sequência didática Aula Invertida) [6, 7]. Com esta prática pedagógica,
para orientar a mediação didática do material. Sequência professores revelam depoimentos dos alunos relacionados
didática é um termo utilizado na área educacional que à aplicação das ideias em suas vidas cotidianas e isso
caracteriza o conjunto de atividades planejadas e interli- é um indicador de que a experiência corrobora para a
gadas para o ensino de um conteúdo. É um instrumento ampliação da memória em longo prazo, ambiente cog-
de gestão pedagógica da aula que consiste em um sistema nitivo onde se encontra as aprendizagens consolidadas.

DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0084 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220084, 2022
e20220084-4 Experimentos Portáteis para o Aprendizagem das Leis da Óptica Geométrica com Metodologia ISLE

A memória em longo prazo é uma designação que se


relaciona com a capacidade de manter a informação
adquirida recentemente até décadas. É diferenciada es-
truturalmente e funcionalmente da memória de trabalho,
também chamada de memória em curto prazo, que
diferentemente armazena conteúdos por pequenos prazos
de tempo. Em psicopedagogia compreendemos memória
em longo prazo como um processo que está intimamente
relacionada com a aprendizagem assertivamente conso-
lidada [7].
Para exemplificar como é a criação e uso desses Expe-
rimentos Portáteis, se descreverá o ExP sobre as Leis
da Óptica Geométrica, centradamente na montagem,
nos materiais e na sequência didática para o uso desse Figura 3: Fotografia do caixote com todos os materiais do ExP
experimento portátil. Leis da Óptica Geométrica. Fonte: Imagem dos autores.
Os professores pesquisadores responsáveis pela pro-
dução do experimento em evidência neste artigo de- prisma, mesmo após corte a laser, precisam ser polidos.
senvolvem Experimentos Portáteis desde 2018, com o Os espelhos, também esféricos, são montados com papel
apoio Departamento de Física da Universidade Fede- adesivo na cor prateada, e as curvaturas são as mesmas
ral do Rio Grande do Norte (UFRN) e com aporte das lentes.
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Para observar algumas propriedades do desvio da luz
Tecnológico (CNPq). Conforme já pontuado, o objetivo dentro do olho, uma figura pictórica de um olho é fixada
central do material didático é facilitar a aprendizagem no quadro magnético, e os perfil-lentes fixados sobre
dos conceitos presentes nos currículos escolares por meio esta figura ilustram a trajetória dos feixes luminosos.
de experiência que integre conhecimento científico e Como fonte luminosa, usam-se 2 lasers de diodo na cor
experimental de forma desafiadora e contagiante a partir vermelha acoplados a uma lente cilíndrica, para tornar o
de experimento portátil. A criação autoral dos experi- feixe inicialmente pontual-circular em um traço vertical,
mentos fez nascer um grupo de pesquisa que é formado assim, a trajetória retilínea dos feixes de luz poderá
por professores pesquisadores da Física, Química, Bio- ser visualizada na superfície do quadro magnético, por
logia, Matemática, Pedagogia e Psicopedagogia, consti- ocasião da execução das diferentes experimentações.
tuindo uma comunidade científica interdisciplinar. Para Na Figura 3, há uma fotografia desse ExP e seus
o visionamento dos vários ExPs já produzidos pelo grupo materiais, dentro do caixote e em uso com os lasers
interdisciplinar Fractal, se orienta a conexão no endereço ligados e os perfis das lentes fixadas magneticamente no
virtual <www.fractal.ind.br>. No sítio que expressa quadro. Observa-se nitidamente a trajetória do feixe na
a larga produção didática dos pesquisadores, também placa magnética.
se disponibiliza uma revista online em formato PDF Os materiais que compõem o Experimento Portátil
informativa sobre os produtos e as experiências por meio mencionado são:
do link: <https://fractal.ind.br/pdfs/Fractal_Revista
.pdf>. – 01 Caixote de madeira MDF (0,3 cm de espessura)
com tampa (21,0 cm × 17,0 cm × 7,0 cm).
– 01 Placa magnética, anteparo (20,0 cm × 15,0 cm)
4. ExP Leis da Óptica Geométrica com base (20,0 cm × 5,0 cm).
– 01 Emissor de luz com 2 lasers de diodo com 2 spots
Este ExP foi montado com o objetivo de facilitar o retílineos (650 nm e < 1 mW), com cabo 40 cm de
manuseio e orientação dos componentes ópticos em um comprimento e 3,5 mm de diâmetro e conector USB
quadro magnético. Todos esses componente ópticos pos- na extremidade.
suem uma manta magnética, semelhante aos chamados – 01 Fonte AC/DC 220/110 volts (bivolt) para 5,0
ímãs de geladeira, fixada em uma de suas profundidades volts para alimentar os lasers.
laterais. Os componentes são perfis de lentes e são – 01 Prisma equilátero de acrílico com 1,0 cm de
todas cortados com raios esféricos e de material acrílico espessura e 3,0 cm de lado.
transparente, cortadas a laser. Com os ajustes do corte a – 01 Perfil-Espelho Plano-côncavo com −2,5 cm de
laser não será necessário fazer polimento nas superfícies foco, espessura de 1,0 cm.
das lentes para a realização experimental das práticas. – 01 Perfil-Espelho Plano-convexa com +2,5 cm de
A placa magnética é formada por uma placa zincada foco, espessura de 1,0 cm.
de 1,2 mm de espessura e dobrada para ficar com dimen- – 01 Perfil-Lente plana bicôncava, −5,0 cm de foco,
sões de 15 cm × 20 cm e base de 5 cm × 20 cm, nesta os espessura de 1,0 cm.
elementos ópticos (perfil de lentes e espelhos) são fixados – 01 Perfil-Lente plana biconvexa, +5,0 cm de foco,
por um pedaço de manta magnética. Os espelhos e o espessura de 1,0 cm.

Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220084, 2022 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0084
Tavares et al. e20220084-5

– 01 Perfil-Lente plano-côncava, −10,0 cm de foco, pode-se instigar e perguntar o que acontece com a
espessura de 1,0 cm. associação de lentes e espelhos (em série, em paralelo
– 01 Perfil-Lente plano-convexa, +10,0 cm de foco, ou mista). Qual seria a trajetória dos feixes? Escutam-
espessura de 1,0 cm. se as respostas e suas justificativas e logo em seguida
– 01 Perfil-Lente plana-plana com espessura de realiza-se a experimentação. Para instigá-los mais ainda
1,0 cm. vem à clássica pergunta: por que ocorrem esses desvios?
– 01 Figura pictórica do olho humano com manta Qual é o fenômeno científico que o explica?
magnética, 8 cm × 13 cm. Ainda no segundo momento pedagógico, se iniciará
a observação das leis da óptica geométrica, da lei da
reflexão e da lei da refração. Para a lei de reflexão, usam-
5. As Sequências Didáticas Para o ExP
se os espelhos, inicialmente o espelho plano. Examinam-
Leis da Óptica Geométrica se os feixes incidentes e refletidos no espelho plano, faz-se
girar o espelho e investigar, por exemplo, o triângulo
A sequência didática se divide basicamente em três eta- formado entre os feixes incidentes e refletidos e que
pas de realizações experimentais, alinhadas com apren- padrão se apresenta. Sempre se formará um triângulo
dizagens sobre leis básicas da óptica geométrica, lei da com dois lados iguais, um triângulo isósceles. Ou, de
reflexão, lei da refração e a aplicação sobre óculos e olho outra maneira, pode-se dizer que o ângulo de incidência
humano. é igual ao ângulo refletido. Apresenta-se a equação (1):
No primeiro momento pedagógico, o professor apre-
senta aos estudantes os materiais e o seu uso. Como θincidente = θrefletido (1)
ligar os dois feixes de lasers, como visualizá-los na
Para examinar a lei da refração usa-se inicialmente
placa magnética, como posicionar os perfil-lentes, perfil-
a perfil-lente plana, o paralelograma de acrílico. Neste
espelhos e prisma na placa magnética e, se for para
caso, usa-se um estudo quantitativo para se observar a
estudo quantitativo, como colocar um papel e marcar
lei da refração. Observa-se o triângulo formado entre
os traços das trajetórias dos feixes. Com esses diálogos,
a trajetória dos feixes e a superfície plana desse Pefil-
o passo inicial da problematização inicial foi executado.
ente, no caso é um triângulo retângulo. Assim, mede-se a
Para se atingir o segundo momento pedagógico quali-
projeção do feixe ao longo do comprimento da superfície
tativamente, é apresentada a trajetória dos feixes. Após
da lente plana, isto é, a projeção das hipotenusas, C1 e
a apresentação de cada elemento óptico (lentes, espelhos
C2. Faz-se umas 5 medidas, e comparando-se o resultado
e prisma) pergunta-se aos estudantes qual deve ser
da divisão C1/C2, arredondado para uma casa após a
a trajetória da luz após passar por cada um destes
vírgula, encontra-se sempre o mesmo valor, 1,5.
elementos, para, em seguida, colocá-los no caminho dos
Como explicar este número constante mágico? De
feixes. É momento de aguçar a observação experimental.
onde ele surgiu?
Da observação, solicita-se que seja feita uma classifi-
Nesta etapa, o professor deve deixar os alunos pensa-
cação ou caracterização dos padrões das observações do
rem e escutar todas as respostas. Pode sugerir que isso
comportamento dos feixes após passar por de cada perfil-
ocorre talvez seja devido a alguma propriedade do mate-
lente, de cada espelho e do prisma. Depois, pergunta-
rial que forma a lente, dando a possibilidade de consultar
se o que há de comum nesses elementos ópticos. Uma
tabelas de índice de refração. Se isso ocorrer, encontrar-
possível resposta inicial: todos desviam o feixe luminoso,
se-á o número 1,5, o índice de refração do acrílico.
cada um de uma forma diferente. Mas será que todos
Aqui o jogo da investigação pode tomar um novo rumo
desviam? Percebe-se-á que uns aproximam os feixes.
com as consultas em livros e revistas científicas, assim
Assim, algumas respostas seriam “atraem” os feixes para
mesmo, como faz um cientista, procurar referências de
um ponto e outros “repelem” os feixes. Neste momento,
outros autores sobre o assunto investigado. Um adendo
pode-se introduzir o conceito de foco, ponto onde os
interessante é perguntar ou responder, se o feixe de laser
feixes se encontram, que pode ser visto diretamente
fosse de outra cor, o valor encontrado seria exatamente
quando os dois feixes se unem em um ponto geométrico,
1,5? Pode-se lembrar que Isaac Newton verificou que
isto quando um perfil de lente dito convergente for
com uma luz branca passando pelo prisma, surge um
colocado na frente dos dois feixes de laser paralelos, ou
arco-íris de cores, isto é, a decomposição das cores do
ainda pode ser desenhado no prolongamento dos feixes
feixe original, este fenômeno observado é o advento da
de um perfil de lente dita divergente, define-se um foco
espectroscopia óptica [11].
positivo e um foco negativo, respectivamente. Observe
Na atualidade, o uso das informações na internet é o
que a definição do que é foco, partiu da observação
caminho mais rápido, isto é, uma consulta bibliográfica
experimental.
pode ser sugerida aos alunos. Ou ainda, consultar os
Nesse momento, pode-se também explorar os padrões
livros da Beatriz Alverenga ou Alberto Gaspar referentes
entre os perfis das lentes e dos espelhos, por exemplo;
as leis da óptica geométrica [12, 13]. A equipe encontrará
ambos apresentam foco, já o prisma não apresenta o
a equação (2):
foco, os feixes continuam paralelos depois da passagem
por ele, entretanto, ocorre um desvio. Em seguida, n1 senθ1 = n2 senθ2 . (2)

DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0084 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220084, 2022
e20220084-6 Experimentos Portáteis para o Aprendizagem das Leis da Óptica Geométrica com Metodologia ISLE

Esta é a lei da refração, onde n1 é o índice de refração etapas práticas e experimentais do uso desse material,
do meio 1 (aqui é o ar), θ1 é o ângulo de incidência com orienta-se acessar o link e vide o roteiro (sequência
relação a normal da superfície da lente plana, n2 é o didática):
índice de refração do meio 2 (aqui o acrílico) e θ2 é o
<https://fractal.ind.br/pdfs/ExP_F13_Leis_da_Opt
ângulo do feixe refratado dentro do acrílico, com relação
ica_Geometrica.pdf>
a normal, a superfície do perfil-lente plana. O valor
encontrado nas experimentações foram C1/C2 = 1,5
(valor aproximado das medidas experimentais), ou de 6. Conclusões e Perspectivas
acordo com a lei da refração, por indução, se levará à
seguinte conclusão: Apresentou-se aqui uma nova ferramenta de aprendi-
zagem, nomeada de Experimento Portátil, que facilita
C1 senθ1 a operação de experimentação pelo professor e aluno,
= 1, 5 = → 1, 0senθ1 = 1, 5senθ2
C2 senθ2 torna-o protagonista, pois permite que o próprio aluno
∴ n1 senθ1 = n2 senθ2 (3) controle toda a sua experimentação. Não há necessidade
de infraestrutura laboratorial para a realização da prá-
Com as leis básicas da óptica geométrica encontradas, tica, inclusive, pode ser realizada na própria sala de aula
pode-se passar para o terceiro momento pedagógico, que ou nos lares dos aprendizes.
é aplicação deste conhecimento. A pergunta chave é: No artigo, apresentaram-se em detalhes a idealização,
que instrumentos podem-se construir com esses conheci- a implementação de um ExP sobre Leis da Óptica
mentos? Ouvem-se as respostas, que podem ser: lupas, Geométrica e suas sequências didáticas. Este trabalho
óculos, lunetas e microscópios. Tratando-se dos óculos, foi iniciado nas atividades laboratoriais de ensino de
este é o objeto que será, provavelmente, mais fácil de física. A montagem dos primeiros protótipos contou
ser encontrado em sala de aula, pois deve ter ao menos com recursos aprovados pelo CNPq, enquanto agência
alguém que use óculos no ambiente. Inicialmente, coloca- de fomento à pesquisa do Brasil, uma bolsa de tipo
se uma das lentes na frente dos feixes da luz laser do Desenvolvimento Tecnológico (DT). Mais adiante, foi
material, e observa-se a trajetória numa certa distância, criada uma microempresa, Fractal Experimentos, que
como o traço do feixe se comportou depois da lente dos hoje fabrica e comercializa os Experimentos Portáteis.
óculos. Será uma lente que converge ou diverge os feixes? No caso do ExP Leis da Óptica Geométrica, já foram
Para continuidade sobre a óptica do olho, o professor- fabricados e comercializados cerca de 200 unidades,
instrutor apresenta a figura de um olho humano com seus sendo os principais consumidores os próprios professores
constituintes, principalmente, a retina e lente do olho. de ciências e de matemática no Brasil.
É necessário que o professor explique aos aprendizes que A equipe de pesquisadores fez doação de 10 (dez) ExPs
esta figura é um modelo bem simplificado para o olho para o laboratório de óptica do Departamento de Física
humano, isto é, aqui será representado unicamente por da UFRN. A aceitação desta inovadora ferramenta tam-
um perfil de uma lente convergente, pois na verdade, bém vem sendo testada agora no período da pandemia
tanto a córnea, quanto o cristalino, e também o humor na disciplina experimental de eletricidade e magnetismo
vítreo (líquido que preenche o globo ocular) desviam a da Universidade; os alunos recebem os ExPs (Leis da
luz. Eletrônica), baixam a sequência didática pela internet
Depois, vem outra pergunta: o que deve acontecer e realizam o experimento em sua casa com o apoio da
com o feixe luminoso ao entrar no olho? Que tipo de internet, inclusive, no formato síncrono, com o professor
lente deve ser a lente do nosso olho para focar a luz na fazendo acompanhamento em tempo real.
retina? A resposta pode ser obtida experimentalmente, Vale ressaltar que, no caso da utilização institucional,
colocando-se os perfis de lentes disponíveis na posição cada ExP deve ser higienizado, antes e depois do uso, na
da figura do olho, onde está o desenho da lente do entrada e saída da sala de aula ou do laboratório, com
olho humano. A resposta é o perfil-Lente convergente radiação ultravioleta.
de foco igual a +5,0 cm. Os Experimentos Portáteis são uma alternativa as-
Assim se demonstrará, de forma simplificada e do sertiva de aprendizagem significativa. Ressalta-se que
ponto de vista da óptica, como funciona o olho humano. se farão necessárias mais avaliações, principalmente, de
Tem-se uma lente que converge os raios luminosos na metodologias avaliativas na área da psicopedagogia, para
retina e o cérebro reconhece este sinal e transforma aferir com mais precisão os limites dessa nova ferramenta
em imagem. Pode-se ainda trabalhar os dois principais de aprendizagem.
defeitos da visão humana, a miopia e hipermetropia e Sobre a afirmação da colaboração da dinâmica pe-
suas correções com o uso dos óculos. Como tarefa dagógica dos ExP integrados à metodologia ISLE no
adicional, pós-atividade prática, pode-se fazer consulta contexto das investigações em nível stricto sensu, sugere-
ao princípio de funcionamento dos instrumentos ópticos se navegar no link, https://www.editoraf amen.com
luneta, telescópio e microscópio, ou ainda como funciona .br/dissertacoes/sequencia- didatica- de- magnetism
o microscópio eletrônico e o microscópio de tunelamento. o-uma-proposta-para-o-ensino-de-alunos-com-tda/.
Para mais informações de como se executar todas essas que socializa uma dissertação desenvolvida no Mestrado

Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220084, 2022 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0084
Tavares et al. e20220084-7

Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF),


polo da UFRN, em que os citados experimentos ocupam
centralidade na investigação em educação. As imagens
dos apêndices da dissertação revelam fotografias de
estudantes em situação de aprendizagem de física ma-
nuseando experimentos portáteis na direção das argu-
mentações apresentadas neste artigo.
Os professores usuários informam também sobre o
ganho psicopedagógico a partir da condição da portabi-
lidade, da usabilidade do experimento, da promoção do
interesse, autonomia, pertencimento e competência dos
discentes; necessidades psicológicas básicas que devem
ser alimentadas a fim de impulsionar o desenvolvimento
holístico dos estudantes.

Referências
[1] L.S. Vygotsky, Mind in society: the development
of higher psychological processes (Harvard University
Press, Londres, 1978).
[2] P. Freire, Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à
prática educativa (Paz e Terra, São Paulo, 1996), 25. ed.
[3] P. Freire, Professora sim, tia não: cartas a quem ousa
ensinar (Olho D’Água, São Paulo, 1997).
[4] L.S. Vygotsky, Thought and Language (The MIT Press,
Massachusetts, 1978).
[5] D.P. Ausubel, J.D. Novak e H. Hanesian, Education
Phychology (Interamericana, Rio de Janeiro, 1980).
[6] M.A. Moreira, Mapas conceituais e aprendizagem signi-
ficativa, disponível em: https://www.if.ufrgs.br/~morei
ra/mapasport.pdf
[7] M.A. Moreira, Aprendizagem significativa: a teoria e
textos complementares (Livraria da Física, São Paulo,
2011).
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Learning Environment – A Science Process Approach to
Learning Physics, disponível em: http://per-central.or
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[10] G.G. Oliveira, A.H. Vasconcelos, L.C.N. Sousa, J.S.
Costa, A.P. Lima e C. Chesman, Rev. Bras. Ens. Fis.
44, e20210388 (2022).
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2006), v. 2, 3 ed.
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DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0084 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 44, e20220084, 2022

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