Milton Santos - Da Sociedade A Paisagem
Milton Santos - Da Sociedade A Paisagem
Milton Santos - Da Sociedade A Paisagem
Uma região produtora de algodão, de café ou de trigo. Uma paisagem urbana ou uma cidade de tipo europeu
ou de tipo americano. Um centro urbano de negócios e as diferentes periferias urbanas. Tudo isto são
paisagens, formas mais ou menos duráveis. O seu traço comum é ser a combinação de objetos naturais e de
objetos fabricados, isto é, objetos sociais e ser o resultado da acumulação da atividade de muitas gerações.
Em realidade, a paisagem compreende dois elementos:
1. Os objetos naturais, que não são obra do homem' nem jamais foram tocados por ele.
2. Os objetos sociais, testemunhas do trabalho humano no passado, como no presente.
A paisagem não tem nada de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa por um processo de
mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades variados. A
mesma coisa acontece em relação ao espaço e a paisagem que se transforma para se adaptar às novas
necessidades da sociedade.
As alterações por que passa a paisagem são apenas parciais. De um lado alguns dos seus elementos não
mudam - ao menos em aparência - enquanto a sociedade evolui. São as testemunhas do passado. Por outro
lado, muitas mudanças sociais não provocam necessariamente ou automaticamente modificações na
paisagem.
Considerada em um ponto determinado no tempo, uma paisagem representa diferentes momentos do
desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos. Para cada
lugar, cada porção do espaço, essa acumulação é diferente: os objetos não mudam no mesmo lapso de
tempo, na mesma velocidade ou na mesma direção.
A paisagem, assim como o espaço, altera-se continuamente para poder acompanhar as transformações da
sociedade. A forma é alterada, renovada, suprimida para dar lugar a uma outra forma que atenda às
necessidades novas da estrutura social. "A história é um processo sem fim; mas os objetos mudam e dão
uma geografia diferente a cada momento da história" dizia Kant, o filósofo e geógrafo (1802).