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Cultura Do Cupuacu

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Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária

!'§)
O Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA
Centro de Pesquisa Agroflorestal da AmuOnla Oriental - CPATU

A u

Serviço de Produção de Informação - SPI


Brasília - DF
1995
Coleção Plantar, 24
Coordenação Editorial
Serviço de Produção de Informação - SPI

Editor Responsável
Carlos M. Andreotti , M. Sc., Sociologia
Produção Editorial
Textonovo Editora e Serviços Editoriais Ltda .
São Paulo, SP
Ilustração da capa: Alvaro Evandro X. Nunes

Tiragem : 5.000 exemplares

Reservados todos os direitos.


Fica expressamente proibido reproduzir esta obra, total
ou parcialmente, através de quaisquer meios, sem
autorização expressa da EMBRAPA-SPI.

CIP - Brasil. Catalogação-na-publicação .


Serviço de Produção de Informação (SPI) da EMBRAPA.
A cultura do cupuaçu I Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária , Centro de Pesquisa Agroflorestal da
Amazônia Oriental ; [Carlos Hans Müller. .. et aI.]
- Brasília : EMBRAPA-SPI, 1995.
61 p. ; 16 cm . - (Coleção plantar ; 24) .
ISBN : 85-85007-54-0

1. Cupuaçu - Cultivo. I. Müller, Carlos Hans . 11.


EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia
Oriental (Belém,PA) . 111 . Série .
CDD 634 .65
Copyright © 1995 - EMBRAPA-SPI
Autores
Carlos Hans Müller
Eng. Agr., M.Sc., Fitotecnia
Francisco José Câmara Figueirêdo
Eng. Agr., M.Sc ., Sementes
Walnice Maria Oliveira do Nascimento
Eng~ Agr~, Fitotecnia
Expedito Ubirajara Peixoto Galvão
Eng. Agr., M.Sc., Fitotecnia
Ruth Linda Benchimol Stein
Eng~ Agr~, M.Sc., Fitossanidade
Antonio de Brito Silva
Eng. Agr., Ph.D., Entomologia
João Elias Lopes Fernandes Rodrigues
Eng. Agr., Ph.D., Nutrição de Plantas
José Edmar Urano de Carvalho
Eng. Agr., M.Sc., Agronomia
A

Angela Maria Leite Nunes


Eng~ Agr~, M.Sc., Fitopatologia
Raimunda Fátima Ribeiro de Nazaré
Bioquímica, M.Sc., Tecnologia de Alimentos
Wilson Carvalho Barbosa
Químico Industrial, M.Sc., Tecnologia de Alimentos
APRESENTAÇÃO
o mercado informacional brasileiro carece de
informações. objetivas e didúticas. sobre a agricultura:
o que. como. quando e onde plantar. dificilmente
encontram re.\posta na livraria ou banca de jornal mais
. .
proxlma.
A Coleção Plantar veio para reduzir esta
carência. levando a pequenos produtores. sitiantes.
chacareiros. donas-de-casa. médios e grandes
produtores. inclusive. informações precisas sobre como
produzir hortaliças. frutas e grãos. seja num pedaço de
terra do sítio. numa área maior dafazenda. num canto
do quintal ou num espaço disponível do apartamento.
Em linguagem simples. compreensível até para
aqueles com pouco hábito de leitura. oferece
informações claras sobre todos os aspectos relacionados
com a cultura em foco: clima. principais variedades.
época de plantio. preparo do solo. calagem e adubação.
irrigação. controle de pragas e doenças. medidas
preventivas. uso correto de agroquímicos. cuidados pós-
colheita. comercialização e coeficientes técnicos.
O Serviço de Produção de Informação-SP I. da
EMBRAPA. deseja, honestamente, que a Coleção
Plantar seja o mensageiro e.sperado com as respostas
~

que voe e procurava.

Lúcio Brunale
Gerente-Geral do SPI
Sumário

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Clima e solo . ....... . .. . ... .. ... . ....... . ... 13
T'I pos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Propagação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Plantio ...... ... .... . .. . ... . . .. ....... . .. . ... 27
Tratos culturais . .... . ... ... ......... ... ..... 31
Adubação ...... . . . .... .. . . . . .. .. . . .. . . . .... 34
Controle de pragas e doenças . ............ . 36
Floração e frutificação ..... ......... . . .. . . 43
Colheita . ... . ... .. .. . . .. ... .. . ... . ...... . . .. 44
Beneficiamento . .. ... ... . . .... . .. .......... . 45
Consorciação .. ..... ..... . . ... . . .. ... . .. . . . . 46
Composição do fruto e da semente . . .. .. . . 50
Fabricação de cupulate ... . . .... ....... . . ... 51
Coeficientes de produção . ..... .. . . . . ...... 55
Introdução
O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflo-
rum) é uma das mais importantes fruteiras da
Amazônia. Em cultivos racionais, o porte do
cupuaçuzeiro varia de 4 a 8m de altura,
atingindo até 18m, quando encontrado
espontaneamente nas áreas de mata do sul e
nordeste da Amazônia Oriental e nordeste do
Maranhão. A espéc ie atualmente está
disseminada em toda a Bacia Amazônica
brasileira e dos países vizinhos.
O cupuaçuzeiro pertence à família
Sterculiaceae, a mesma do cacau. Suas semen-
tes podem ser aproveitadas na fabricação de
chocolate em pó e em tablete e, talvez por isso,
é confundida, por muitos, com aquela espécie.
São utilizadas, também, pela indústria de
cosméticos na fabricação de cremes para pele.
O fruto é do tipo drupáceo ou bacáceo (que
tem bagas), de forma alongada e com as
extremidades arredondadas (Figs. 1, 2 e 3). A
casca (epicarpo) é rígida e lenhosa, recoberta
9
de 9 a 62 unidades) por fruto, são superpostas
em cinco fileiras verticais e envolvidas por uma
polpa branco-amarelada, delicadamente fibrosa,
de sabor acidulado e d e cheiro agradável. Essas
sementes têm dimensões variáveis, com médias
de 2,6cm de comprimento, 2,3cm de largura e
O,9cm de espessura.

o cupuaçu é o maior dentre os frutos do


gênero Theobroma, e sua demanda é crescente,
graças ao sabor agradável de sua polpa,
consumida na forma de creme, doces diversos,
balas recheadas, iogurtes, compotas, licores,
sorvet~s etc.

Ultimamente a polpa tem sido comercia-


lizada, ainda que em pequena escala, nos
mercados nacional e internacional. A explora-
ção do cupuaçu ainda é semi -extrativa, mas há
grande interesse no cultivo racional dessa
espécie em virtude das boas perspectivas de
industrialização e comercialização.
12
Clima e solo
As condições climáticas favoráveis ao
desenvolvimento do cupuaçuzeiro são bastante
variáveis. Nas áreas onde é nativo, a temperatura
média anual varia de 21,6°C a 27,5°C, a
umidade relativa do ar fica entre 64% e 93% e
as precipitações anuais oscilam de 1.900 a
3.100mm. As experiências com cultivos
racionais indicam que a espécie tem tido bom
desempenho em regiões de clima subúmido ao
superúmido, com chuvas anuais superiores a
1.800 mm, bem distribuídas e com temperatura
média anual superior a 22°C.
Em regiões onde há escassez de água em
determinada época do ano, alguns cuidados
devem ser observados quando da implantação
de pomares de cupuaçuzeiro.
Nos cultivos solteiros (sem consor-
ciação), é de fundamental importância que, no
mês anterior ao início da época seca, seja feita
a cobertura morta no coroamento até a projeção
13
da copa da planta. Essa prática de cobrir o solo
com palha, capim cortado, folhas etc., em toda
a "sombra" da árvore, mantém a umidade em
torno da planta e impede o crescimento de
plantas invasoras, evitando a concorrência por
água e nutrientes.
Quando o plantio é consorciado, os
cuidados devem ser redobrados. Muitas plantas,
como as leguminosas (feijão e soja, entre
outras), são hábeis em absorver o pouco de água
disponível no período seco e deixam o
cupuaçuzeiro em desvantagem. Nesse caso,
além da cobertura morta, devem ser adotados
espaçamentos maiores, para reduzir a
". ,
concorrencla por agua.
No cupuaçuzeiro, as principais conse-
qüências do déficit de água no solo são a
paralisação do crescimento, a perda de folhas,
o secamento do broto terminal, maior
suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças
e, confonne a intensidade do déficit, até a morte
das plantas.
14
As plantas de cupuaçuzeiro desenvol-
vem-se bem tanto em áreas de terra firme como
em áreas de várzea alta (partes marginais da
floresta, temporariamente inundáveis por rios
de água barrenta do estuário do Amazonas). Na
implantação de cultivos comerciais deve-se dar
preferência aos solos de alta fertilidade e
elevado teor de argila. Nessas condições, a
produtividade tem sido mais elevada.
A cultura é perene e conhecem-se plantas
com mais de oitenta anos de idade, que ainda
apresentam boa produção.

Tipos
Em populações nativas de cupuaçuzeiros
podem ser encontrados diferentes tipos que são
agrupados em função do formato do fruto ou
da presença ou ausência de sementes. Os tipos
mais conhecidos são os seguintes:
. cupuaçuzeiro-de-fruto-redondo - é o
tipo mais comum da região. Os frutos têm o
15
formato extremamente arredondado, apre-
sentam casca de 6 a 7mm de espessura e peso
médio de 1,5kg;
. cupuaçuzeiro-mamorana - seus frutos
têm as extremidades alongàdas e a espessura
da casca varia de 7 a 9mm; esse tipo produz os
maiores frutos, cujo peso pode variar de 2,5 a
4,Okg; e

. cupuaçuzeiro-mamaú - é conhecido
como cupuaçuzeiro-sem-semente. O formato do
fruto é semelhante ao redondo e não possui
sementes envolvidas pela polpa. A espessura
da casca varia de 6 a 7mm e o peso médio é de
cerca de 1,5kg.

Propagação
Nos cultivos racionais, em pomares de
sítios e quintais, os tipos mais utilizados são os
que produzem sementes - redondo e
mamorana - , pois possibilitam a produção
mais rápida de mudas.
16
A propagação também pode ser feita por
enxertia, utilizando tanto o método de garfagem
como o de gema ou escudo, quando o objetivo
é propagar plantas que apresentam
características altamente valorizadas, como
tamanho de frutos e produtividade. A enxertia
é o único processo utilizado na produção de
mudas de cupuaçuzeiros do tipo sem sementes.
Propagação por sementes - tanto no
estado nativo quanto nos cultivos racionais, é
comum encontrarem-se plantas de cupuaçuzeiro
de alta a baixa produtividade. A prática mostra
que, para a produção de mudas, devem ser
utilizadas sementes provenientes de plantas com
boa produção, porte baixo, frutos grandes e
isentas de doenças.
Seleção das sementes - as sementes de
cupuaçu variam de tamanho, peso e forma. As
maior~s e as mais pesadas são as que
normalmente produzem mudas mais vigorosas,
devendo ser rejeitadas as pequenas e murchas.
Esse processo de seleção só deve ser realizado
17
após a retirada da polpa que envolve as
sementes.
Quando heneficiadas adequadamente e
colocadas para germinar em condições
f~lvoráveis, as sementes de cupuaçu apresentam
taxas de germinação de até 9R(Yo. As sementes
grandes c mais pesadas, emhora não garantam
maior percentagem de germinação, são
indicativos de bom crescimento em altura das
mudas. Assim, a separação das sementes em
diversas classes de peso ou tamanho é prática
importante no processo de propagação da
, . . .
especle. pOIS concorre para a maior
uni f(xmidade das Inudas no viveiro.
Preparo das sementes - preferen-
cialmente as sementes para a produção de mudas
de cupuaçuzeiro devem ser beneficiadas
manualmente, com o auxílio de uma tesoura,
pois desse modo é possível retirar
cuidadosamente a polpa que as envolve. A
máquina despolpadora tamhém pode ser
utilizada, apesar de provocar danos mecânicos
18
e deixar maior quantidade de resíduos de polpa
envolvendo as sementes. o .que pode provocar
a fermentação e. conseqUentemente, a morte do
emhrião.
O processo de heneficiamento cornpleta-
se com o esrregamento das sementes em areia
branca e, em seguida, a lavagem para remoção
dos restos de polpa. Essas sementes podem ser
submetidas a secagem superficial, em local bem
arejado, por período não superior a 24 horas ou
semeadas imediatamente em sementeiras
(canteiros) ou em sacos plásticos.
Conservação das sementes - após o
despolpamento, as sementes perdem o poder
germinativo rapidamente, mas, se conservadas
no fruto, sua viabilidade pode ser preservada
por períodos de dez a doze dias, com perda
mínima da capacidade de germinação.
As sementes despolpadas podem ser
conservadas entre camadas de serragem curtida,
ligeiramente umedecida, ou de pó de carvão
19
vegetal. Nessas condições, elas iniciam o
processo de germinação, e é comum o apare-
cimento da raiz, ou melhor, da radícula, em
aproximadamente seis a oito dias. Esse estágio
de evolução inicial da mudinha facilita a
semeadura, por permitir a correta colocação das
sementes no substrato.
Tipos de semeadura - a semeadura pode
ser feita de duas maneiras. Na primeira, as
sementes são colocadas para germinar em
sementeiras ou canteiros convencionais e, no
estágio de plântulas, transferidas para sacos
plásticos. Na outra, a semeadura é feita com
sementes pré-germinadas e consta de duas
etapas:

la) após a seleção, as sementes são


colocadas para germinar em substrato de
serragem curtida, cobertas com sacos de
aniagem e mantidas em local úmido e sombrea-
do, onde permanecem até que fique evidenciada
a emergência da radícula, caracterizada pelo
20
aparecimento de um ponto branco que,
geralmente, ocorre entre seis e oito dias;
2 a) ao surgir a radícula, as sementes pré-
germinadas são transferidas para sacos plásticos,
previamente preparados, e semeadas a 1cm
abaixo do substrato.
Recipiente e substrato - o recipiente mais
utilizado na produçao de mudas é o saco de
plástico preto, perfurado nas laterais e medindo
20 x 30cm. O substrato pode ser composto de
diversas misturas, sendo o mais comum o
constituído de terra da mata mais esterco de
curral ou composto bem curtido, na proporção
de 4: 1. Esses componentes devem ser
previamente peneirados e bem misturados.
,
E boa prática espalhar uma camada de 1cm
de espessura de serragem grossa ou de palha de
arroz para evitar o arraste do substrato, que pode
ser provocado pelo gotejamento ou regas
periódicas, e não expor as sementes ou as
radículas da futura muda.
21
Cuidados no viveiro - no viveiro, diversas
atividades devem ser realizadas até que as mu-
das estejam prontas para serem levadas ao local
definitivo. Os principais cuidados são o sombre-
amento, a arrumação, as mondas, a irrigação, a
adubação e o controle da vassoura-de-bruxa .

. Sombreamento - o viveiro deve ser


instalado em local com sombreamento parcial,
condição essa conseguida em sub-bosque ou
com cobertura de folhas de palmeiras, ripas ou
tela de sombrite com 500/0 de interceptação de
luz.

. Arrumação - no início, os canteiros


devem ter a largura correspondente a dez sacos
plásticos, para facilitar a manutenção. Quando
as folhas das mudas começarem a se encontrar
(isso ocorre um mês, aproximadamente, após a
germinação) , os sacos deverão estar dis-
tanciados de 40cm. Essa prática facilita a
aeração e evita que ocorra o estiolamento das
mudas.
22
· Monda - essa prática deve ser realizada
periodicamente e consiste em eliminar
manualmente as plantas daninhas que crescem
no substrato. Com isso, evita-se a competição
por luz, água e nutrientes.
· Irrigação - para que as mudas tenham
desenvolvimento normal, é necessário que o
substrato seja mantido com um nível de umidade
satisfatório, mas sem encharcamento. A
irrigação deve ser feita diariamente e, no período
de chuvas, sempre que houver necessidade.
· Adubação - consegue-se bom cresci-
mento das mudas de cupuaçuzeiro em viveiro
com a apl icação, após dois meses da
germinação, de 10g de adubo químico por
muda, contendo 6,0% de N, 20,00/0 de P205,
6,00/0 de K20, 2,00/0 de cálcio, 1,00/0 de
magnésio, 1,5%) de enxofre, 0,050/0 de zinco e
0,020/0 de boro. Essa aplicação deve ser repetida
a intervalos de dois meses.
· Combate à vassoura-de-bruxa - a
principal doença em viveiros de cupuaçuzeiro
23
é a vassoura-de-bruxa, cujo controle é feito pela
eliminação e queima das mudas atacadas. Pre-
ventivamente, o tratamento mais recomendado
consiste em pulverizações quinzenais, com fun-
gicidas à base de sulfato de cobre, na concen-
tração de 1% (lOgllitro de água) misturado a
cal hidratada a 1%; triadimefon a 0,10/0; óxido
cuproso a 0,3% ou oxicloreto de cobre a 0,30/0.
O viveiro nunca dever ser instalado
próximo a plantios de cupuaçuzeiros infestados
com a vassoura-de-bruxa.
Propagação Vegetativa - é uma técnica
que visa principalmente garantir a propagação
de plantas com boas características de produti-
vidade e de tamanho do fruto, além de induzir
precocidade de produção e porte baixo.
Os principais métodos de enxertia utiliza-
dos na propagação vegetativa do cupuaçuzeiro
são os enxertos de gema ou em escudo e a
enxertia por garfagem. Os porta-enxertos ou
"cavalos" a serem utilizados devem ter cerca
de 1cm de diâmetro.
24
A maioria das brotações dos enxertos de
cupuaçuzeiro é plagiotrópica, ou seja, tem
direção oblíqua. Assim, as mudas necessitam
de tutoramento (estacas fincadas ao lado da
planta para conduzir seu crescimento) e de
realização de poda do ponteiro terminal, para
formação da copa.

Enxertia de gema ou escudo - na


aplicação desse método, as folhas dos galhos
de onde serão retiradas as gemas (escudos)
devem ser eliminadas dez dias antes da
realização da enxertia. Essa prática permite que
o escudo seja retirado mais facilmente, além de
evitar que o pedaço da bainha da folha
permaneça aderido ao escudo, o que poderá
causar o apodrecimento da gema antes do
pegamento do enxerto.

Uma vez feita a enxertia, amarra-se o local


do enxerto com fita plástica, que só deve ser
retirada, para a verificação do pegamento, 21 a
30 dias depois da realização da enxertia. Devem
25
ser eliminados os brotos que surgirem no porta-
enxerto.
Enxertia por garfagem - nesse tipo de
enxertia, devem ser utilizados ponteiros de
ramos de crescimento vertical, que apresentem
folhas completamente maduras. As folhas do
garfo, que será a nova copa, devem ser retiradas,
exceto as duas últimas da ponta do ramo, que
são parcialmente cortadas, na altura de Scm,
preservando parte da superfície foliar. Essas
folhas servirão como indicadores do pegamento
do enxerto: devem manter a coloração verde até
o décimo quinto dia após a enxertia. A câmara
úmida, feita com saquinho plástico para
envolver o garfo ou cavaleiro, só deve ser
retirada após a brotação das gemas.
As mudas de cupuaçuzeiro recém-
enxertadas pelo método de garfagem precisam,
obrigatoriamente, ser mantidas em local de
sombra densa.
As folhas localizadas abaixo do ponto de
inserção do enxerto não devem ser removidas,
26
mas os brotos que surgirem no porta-enxerto
precisam ser eliminados.
Muda pronta - as mudas de cupuaçuzeiro
são consideradas prontas ou aptas para serem
plantadas no campo, ao atingirem SOem de
altura. A programação da produção de mudas
deve provar a conclusão da última etapa com a
época de maior intensidade de chuvas,
considerada a mais adequada para o plantio no
local definitivo.

Plantio
Preparo da área - o cupuaçuzeiro requer
sombreamento na fase de planta jovem mas,
quando adulto, suporta sombreamento parcial,
que possibilita seu cultivo em áreas de sub-
bosque ou em consórcio com outras espécies
arbóreas.
O cultivo em sub-bosque permite reduzir
os custos com o preparo da área, aproveitando-
se as capoeiras abandonadas, com altura de mais
27
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.

ou menos 6m, ou as áreas antes ocupadas com


culturas anuais.
No preparo de áreas para plantio em sub-
bosque deve ser efetuada primeiramente, a
broca, isto é, a eliminação de plantas com
diâmetro inferior a 5cm e os cipós. Todo
material eliminado no sub-bosque deve ser
picado em pequenos pedaços e distribuído na
área (cobertura morta do solo). Em seguida,
marcam-se as linhas de plantio e eliminam-se
todos os tipos de arbustos e outras plantas nela
existentes, de modo a formarem faixas, com
aproximadamente um metro de cada lado da
linha de plantio.
Espaçamento e densidade - a densidade
de plantas por unidade de área está condicionada
à fertilidade do solo, à adubação e à forma de
condução das plantas. No entanto, em cultivos
racionais, basicamente têm sido recomendados
dois tipos de espaçamentos.
No primeiro tipo, o plantio é feito em
forma de triângulo eqüilátero com lados de 8m,
28
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o que permite a densidade de 179 plantas/ha.


Esse espaçamento é recomendado para os
plantios de mudas não-enxertadas ou de pé
franco, sem condução, isto é, plantas de
crescimento natural, sem poda de condução, em
solos ricos ou com a utilização de adubação
pesada. Nessas condições, as plantas alcançam
maior volume de copa.
No segundo tipo, o plantio também é feito
em forma de triângulo eqüilátero, mas com
lados de 6m, o que possibilita uma densidade
de 319 plantas/ha. É recomendado para plantios
de mudas enxertadas e, também, de pé franco,
conduzidas durante o desenvolvimento
vegetativo com podas periódicas nas brotações
de crescimento vertical, em solos de baixa
fertilidade ou ainda com baixo nível de
adubação.
Plantios em consórcios com outras
espécies perenes alteram o número de plantas
por hectare e requerem ligeiras modificações
no espaçamento.
29
Coveamento - o coveamento é etapa
muito importante na instalação de plantios de
cupuaçuzeiros, pois um bom preparo propor-
cionará um crescimento mais rápido das raízes
e, conseqüentemente, da parte aérea das plantas.
As covas mais recomendadas são as que têm
40cm nas três dimensões: altura, largura e
comprimento.
Na abertura das covas, deve-se separar a
terra escura, da superfície (rica em matéria
orgânica), da camada de cor amarelo-aver-
melhada, do fundo. A porção de terra da
superfície deve ser bem misturada com 10 litros
de esterco de curral ou 5 litros de cama de
aviário, bem curtidos, e mais lOOg de super-
fosfato triplo. Essas dosagens mínimas propor-
cionam bom crescimento das mudas.
A ~istura obtida é lançada no fundo da
cova e em tomo do torrão de sustentação da
muda. A parte de terra amarela deve ser usada
para completar o enchimento da cova ou ser
espalhada em tomo da muda após o plantio.
30
Posiciona-se a muda no centro da cova e
sobre a terra adubada, devendo antes ser retirado
o saco plástico, de modo a deixar o colo (ponto
de separação entre a raiz e o tronco) a 5cm acima
do nível do solo. Nesse ponto, a cova é
completada com o restante da terra adubada e
com a parte de terra amarela ou com a raspagem
superficial do solo próximo à muda.

Após o plantio, é aconselhável espalhar,


em forma de cobertura, capim seco em tomo
da muda. Essa prática permite conservar a
umidade do solo necessária ao desenvolvimento
da planta e controlar o crescimento de invasoras.

Tratos culturais

A aplicação de tratos culturais é fator de


grande importância para o desenvolvimento da
cultura e a boa produtividade de frutos. Dentre
eles, podem ser relacionados os seguintes:
roçagem, coroamento e podas.
31
Roçagem: deve ser realizada com perio-
dicidades diferentes, tanto nas linhas como nas
entrelinhas de plantio. Nas linhas de plantio,
limita-se ao coroamento, em tomo das plantas,
a cada três meses, tempo suficiente para mantê-
las limpas. Nas entrelinhas, a periodicidade
recomendada é de quatro a seis meses, depen-
dendo do crescimento de plantas invasoras na
,
area.
Coroamento: pode ser feito com a
aplicação de herbicidas ou com enxada,
cuidando para não se remover a terra em volta
da planta, de modo a evitar o empoçamento de
água na época das chuvas.
Podas: em cultivos racionais de cupua-
çuzeiros, as podas possibilitam a boa condução,
formação e limpeza das plantas.
As plantas submetidas à poda de condu-
ção apresentam porte mais baixo, o que facilita
a execução de outras práticas relacionadas com
a copa do cupuaçuzeiro. Assim, o cupuaçuzeiro
deve possuir no máximo duas trifurcações ou
32
eliminados periodicamente, evitando-se que as
plantas cresçam muito.
Os três ou seis ramos das trifurcações
devem ter suas pontas podadas aI, 70m do solo,
ao atingirem 2m de altura. Essa poda - de
formação - acelera a brotação dos ramos
laterais e dá um aspecto de taça à copa.
Já a poda de limpeza consiste na elimina-
ção dos ramos secos, dos afetados pela
vassoura-de-bruxa bem como, dos frutos
mumificados da safra anterior. E efetuada no
período mais chuvoso e após a safra. Todo o
material podado é queimado ou enterrado.

Adubação
Em cultivos racionais, o cupuaçuzeiro
requer três adubações anuais, todas realizadas
na época chuvosa. A primeira deve ser feita logo
no início do período chuvoso, a segunda no meio
dessa estação, e a terceira, antes do final das
chuvas.
34
Na fase de crescimento do cupuaçuzeiro,
recomenda-se adubar com a fonnulação NPK
(nitrogênio, fósforo e potássio) 12-12-12 mais
Mg (magnésio). A Tabela 1 apresenta as
dosagens a serem aplicadas.
Tabela 1 - Doses de NPK 12-12-12 + Mg a serem
aplicadas na fase de crescimento do cupuaçuzeiro.

Doses (grama/planta/ano)
Ano 18 28 38 Total
1° 30 30 40 100
2° 45 45 60 150
3° 60 60 80 200
4° 90 90 120 300

Na fase produtiva, recomenda-se aplicar


de 10 a 20 litros de esterco curtido de gado ou 5
a 6 litros de cama de aviário espalhados no
coroamento da planta ou em cova aberta à altura
da projeção da copa. Deve-se, também, aplicar
uma dose de 300 a 600g por planta/ano de NPK,
na fonnulação 15-15-23 + Mg, dividida em três
aplicações bimestrais, a partir do início do
período chuvoso.
35
No município de Tomé-Açu, PA, os
agricultores têm conseguido boa produtividade
e menor oscilação entre safras, pela admi-
nistração de 600g da formulação NPK 10-28-
20 por planta/ano, também dividida propor-
cionalmente, em três dosagens bimestrais, e pela
aplicação única de meio quilo de torta de
mamona e meio quilo de farinha de ossos, por
planta.

Controle de pragas e doenças


As mudas, no estágio inicial de cresci-
mento, podem ser atacadas por Costalimaita
ferruginea, um besouro de cor amarelo-
queimada, que perfura as folhas, reduzindo sua
área foliar. O controle pode ser efetuado por
meio de pulverizações periódicas com insetici-
das mais espalhante adesivo, principalmente na
época chuvosa.
Os insetos daninhos que mais freqüen-
temente atacam o cupuaçuzeiro são o pulgão-
36
preto (Toxoptera citricidus), o piolho-farinheiro
(Pseudococcus sp.), as moscas-brancas
(Aleurodicus cocois e Aleurotrachelus socialis),
a lagarta-verde (Macrosoma lipulata) e um tipo
de cigarrinha não identificada, de cor preta.
O controle desses insetos, quando neces-
sário, é feito, tomando por base as indicações
da Tabela 2.
Tabela 2 - Inseticidas e dosagens indicados para o
controle de pragas do cupuaçuzeiro.

Pragas Inseticidas Dosagem


Pulgões, lagartas Fosforados Recomendada
e cigarrinhas pelo fabricante .

Moscas-brancas Fosforados + 0,1% e 1,0%,


e piolho- óleos minerais respectivamente
farinheiro

As principais doenças do cupuaçuzeiro e


seu controle são descritos a seguir .
. Vassoura-de-bruxa (Crinipellis
perniciosa): caracteriza-se pelo aumento do
diâmetro e pelo superbrotamento e supercres-
37
cimento dos ramos afetados , que ficam
encurvados, secam e morrem, produzindo
basidiocarpos (cogumelos) no qual se desen-
volvem basidioporos (microorganismos), que
dão origem a novas infecções. Nas flores
observa-se processo semelhante, isto é ,
superbrotamento e supercrescimento. Os frutos
originados de flores infectadas são pequenos e
endurecidos. Naqueles em estágio de
maturação, freqüentemente os sintomas são
observados no interior, isto é, nas sementes e
na polpa. Tanto nas flores como nos frutos
OC0rre, também, a produção de basidiocarpos .

. O controle é feito com a eliminação das


vassouras florais e frutos atacados. A poda dos
ramos deve ser feita entre 15 e 20cm abaixo da
área infectada, pelo menos uma vez por ano.
Três a quatro meses depois, é preciso fazer nova
vistoria. Podem ser aplicados fungicidas
cúpricos (4g!litro de água), na época de maior
produção de basidiocarpos ( abril/junho).
38
· Mal-do-facão (Thielaviopsis paradoxa):
podridão interna dos frutos, com escurecimento
parcial ou total da polpa, em conseqüência de
ferimentos anteriores provocados por insetos.
Para controle dos insetos, pulveriza-se com
Endosulfam 350 CE Defensa, na concentração
de 1,5ml do produto por litro de água. Para
pulverizar um hectare, utiliza-se 1,51 do produto.

· Morte progressiva (Lasiodiplodia


theobromae, Botryodiplodia theobromae):
deformação e exposição do lenho, de dentro
para fora, secamento de ramos e morte da planta.
Controla-se com pulverizações de óxido de
cobre (4g1l de água).

· Antracnose (Colletotrichum gloespo-


rioides): manchas necrosadas (mortas) de
tamanho variável, com o secamento progres-
sivo das folhas atacadas. Deve-se proceder aos
tratos culturais recomendados e às aplicações
quinzenais com fungicidas cúpricos (3 gllitro de
água).
39
· Mancha de Phomopsis (Phomopsis sp.):
manchas circulares bem delimitadas provocam
o encarquilhamento dos tecidos das folhas, que
caem ou ficam presas por um único ponto.
Frutos e ramos também são atacados. Os
sintomas, podem estar associados à presença de
insetos. E indicada a pulverização com Benomyl
(lg/litro de água) + inseticidas fosforados (lg/
litro de água).
· Mancha de Cyllindrocladium (Cyllin-
droc/adium kyo tens is ): surgem manchas foliares
grandes e pardas. Começam pelas extremidades
das folhas, que amarelecem e caem. Aplicações
de fungicidas cúpricos apresentam eficiência no
controle dessa doença.
· Podridão de raízes (Rigidoporus
lignosus): a folhagem fica bronzeada e seca
rápida e completamente. Observa-se a presença
de rizomorfas (crescimento do fungo com
ramificações semelhantes a raízes) sobre e sob
a casca das raízes. Como controle, recomenda-
se remover tocos velhos da área, erradicar as
40
plantas atacadas e tratar as covas e as plantas
vizinhas com um litro de calda de PCNB (1 gI
litro de água) .

. Requeima das mudas (Phytophthora


sp.): surgem manchas escuras e pequenas nas
folhas e nos ramos novos. Aconselha-se fazer
duas a três aplicações, com intervalo de uma
semana entre elas, de fungicidas à base de
metalaxyl (Ridomil + Mancozeb), na proporção
de 2g!litro de água. Fazer, também, pulveri-
zações preventivas com calda bordalesa na
proporção de 1Og/litro de água ou com fungicida
à b~se de cobre (3 gllitro de água) .

. Podridão do pé (Phytophthora sp.):


ocorre apodrecimento das raízes e do colo. Os
tecidos sob a casca adquirem tonalidade
pardacenta. Como sintoma reflexo, as folhas
murcham. Deve-se erradicar as plantas atacadas
logo que os sintomas forem detectados e aplicar
Ridomil com Mancozeb (2g1litro de água) ou
com Fosetil de alumínio (Aliette - 2g1litro de
41

água) nas plantas sadías vizinhas, como medida


preventiva .
. Mancha parda (Cercospora Bertholle-
tia): aparecem pontuações amareladas nas duas
faces das folhas, que evoluem para o pardo-
avermelhado e pardo-escuro, envolvidas por um
halo amarelo e geralmente delimitadas pelas
nervuras. O controle está na adubação racional
e na aplicação de fungicidas à base de cobre
(3 g/litro de água) .
. Requeima (Phytophthora heveae):
aparecem lesões escuras e queima do tecido do
enxerto, no início de seu desenvolvimento, em
condições de campo. Podem provocar anela-
mento (morte da, casca em forma de anel) e
morte da planta. E indicada a pulverização com
fungicidas à base de cobre (3g/litro de água),
calda bordalesa (lOg/litro de água) ou metalaxyl
(Ridomil + Mancozeb - 2g/litro de água).
Deve-se enxertar na época mais seca e proteger
a base do caule do porta-enxerto com cobertura
morta.
42
· Podridão das amêndoas (Colletotri-
chum gloesporioides, Cephalosporium bertho-
lletianum, Phomopsis bertholletianum, Diplo-
dia natalensis, Fusarium sp., Pellionella
macrospora): as amêndoas apodrecem e ficam
com o aspecto preto-pardacento ou cobertas por
micélio branco-cotonoso; no caso da podridão
seca, as amêndoas aderem à casca, que adquire
aspecto estriado. Deve-se melhorar as condições
de armazenagem, evitar baixa ventilação e
excesso de umidade.

Floração e frutificação
A floração e a frutificação do
cupuaçuzeiro podem ocorrer simultaneamente
entre os meses de novembro e março. O período
de floração, que coincide com o de menor
incidência dê chuvas, inicia-se em junho e pode
estender-se até o mês de março, com pico entre
novembro e janeiro. A frutificação ocorre entre

43
novembro e junho, atingindo o máximo entre
fevereiro e março, mas a presença de fruto
temporão pode ocorrer até julho.

As plantas provenientes de sementes


normalmente florescem a partir do quarto ano,
havendo casos excepcionais em que esse
fenômeno pode ser registrado aos dois anos. As
enxertadas quase sempre florescem aos dois
anos, havendo casos de presença de flores
poucos meses após a brotação do enxerto,
conforme o material selecionado para enxertia.
Recomenda-se eliminar essas flores, a fim de
não prejudicar o desenvolvimento vegetativo da
planta.

Colheita
Os frutos atingem o ponto ótimo de
colheita (coletam-se os frutos que caem
naturalmente no solo) entre quatro e quatro
meses e meio após o início da floração. A
maturação do fruto é facilmente reconhecida
44
pelo cheiro agradável e forte que exala,
característico do cupuaçu.
A partir da primeira frutificação, desde que
tenham sido executadas todas as práticas
agrícolas recomendadas, ocorrem aumentos
gradativos da produção de frutos, que se
estabiliza a partir do décimo ano.
A produção de frutos por planta é bastante
variável e pode chegar até quarenta unidades.
A produção média estimada é de cerca de doze
frutos por planta, em cultivos implantados em
solos de baixa fertilidade.

Beneficiamento
o beneficiamento dos frutos do cupua-
çuzeiro consiste na extração da polpa que
envolve as sementes. Esse processo pode ser
feito manual ou mecanicamente.
Geralmente os frutos são beneficiados
manualmente, por indústrias caseiras e sor-
veterias. Para a execução dessa operação,
utilizam-se tesouras domésticas comuns. Os
45
frutos são quebrados e são eliminadas,
inicialmente, a casca e a placenta. Em seguida,
com a tesoura, é feita a extração da polpa que
envolve as sementes.
No processo mecanizado, os frutos são
lavados e quebrados manualmente para a
remoção das sementes com a polpa que, em
seguida, são colocadas em máquinas despol-
padoras, para a separação desses dois com-
ponentes do cupuaçu.
O mercado prefere a polpa beneficiada
manualmente, de consistência mucilaginosa
(viscosa), já que a extraída por processo
mecanizado normalmente é liquefeita, o que a
toma inadequada para a fabricação de certos
tipos de doces.
Consorciação
O cupuaçuzeiro pode ser cultivado a pleno
sol, mas o ideal é o sombreamento provisório,
nos dois primeiros anos após o plantio definitivo
no campo. As plantas assim cultivadas
46
'~,- ..
..:1.· I"
,
·-'·"~···'.....:)-'
"/'

estabilizam a produção ao atingirem a idade de


dez anos e chegam a produzir mais de 200%
acima das mantidas em consórcio permanente.

Na fase inicial de desenvolvimento ve-


getativo, após o plantio no campo, as plantas
podem ser sombreadas, provisoriamente, com
as espécies relacionadas na Tabela 3.

Os consórcios com culturas perenes


representam os arranjos mais utilizados nos
sistemas de cultivos racionais do cupuaçuzeiro.
Na Tabela 4, estão relacionadas algumas das
espécies que fazem parte de consórcios
estabelecidos em propriedades agrícolas no
estado do Pará.

47
g; Tabela 3 - Espécies recomendadas para sombreamento provisório do
cupuaçuzeiro.

Espécie sombreadora Utilidade Modo de Espaçamento (m)


1
propagação Sombreadora Cupuaçu

Bananeira (Musa spp.) Fruto Rizoma 3x3 6x6


Feijão-guandu (Cajanus indieius) Cereal Semente 2x2 6x6
Mamoeiro (Cariea papaya)
Mamona (Rieinus vulgaris)
Fruto
Óleo
Semente
Semente
3x3
6x6
6x6
6x6
:C)
Mandioca (Manihot utilissima) Farinha Maniva 2x2 6x6
Maracujazeiro (Passiflora edulis) Fruto Semente 6x6 6x6
Urucueiro (Bixa orellana) Condimento Semente 6x6 6x6

FONTE: VENTURIERI, G.A . Cupuaçu: a espécie, sua cultura, usos e processos. 1993 .
108p.
I Sugestão da EMBRAPAICPATU para cultivos com cerca de 319 plantas enxertadas.
Tabela 4-Culturas perenes utilizadas para consorciação com
cupuaçuzeiro no Pará.

Utilidade Modo de Espaçamento Número de


Espicies sombreadoras propagaçAo da espécie pés de
sombreadora (m) cupuaçu-
zeiro l
8iribá (Ro/linea mucosa) Fruto Semente 18 x 18 + 140
Coqueiro (Cocus nucifera) Fruto, óleo Semente 18 x 18 ± 140
Dendezeiro (Elaeis guineensis)
Pupunheira (Baclris gasipaes)
Óleo
Fruto, óleo,
Semente
Semente
18 x 18
12 x 12
± 140
± 158
é)
palmito
Ingazeira (lnga edulis) Fruto, látex Semente 18 x 18 ± 140
Ingazeira-açu (/nga cinammonea) Fruto, látex Semente 18 x 18 + 140
Leucena (Leucena glauca) Forragem Estaca 18 x 18 + 140
Seringueira (Hevea spp.) Látex Semente 18 x 18 + 140
Taperebazeiro (Spondia IUlea) Fruto, látex Estaca 24 x 24 ± 79

FONTE: VENTURIERI, G.A. Cupuaçu: a espécie, sua cultura, usos e processos. 1993 .
~ 108p. I Calculo da EMBRAPA/CPATU para plantas enxertadas.
<O
Composição do fruto
e da semente
Na Tabela 5, mostra-se a composição
centesimal média do cupuaçu.
Tabela 5 - Composição centesimal do fruto do
cupuaçuzeiro (%) I
Método 2 Polpa Semente Casca Placenta
Manual 40,61 17,44 40,58 1,37
Mecânico 35 ,51 16,72 47,02 0,75
Média 38,06 17,08 43,80 1,06
I Médias calculadas com base nos dados de diversos autores

divulgados por VENTURIERl, G. A. Cupuaçu: a espécie,


sua cu Itura, usos e processamento, 108p. 1993.
2 Métodos de despolpamento.
A composição centesimal média de se-
mentes de cupuaçu é apresentada na Tabela 6:
Tabela 6 - Composição centesimal da semente do
cupuaçu (%) I.
Umidade Proteína Gordura Carboid. Fibra Cinza
23,34%PF 17,24% PF 57,22%PF 20,07%PS S,77%PS 3,8S%PS

IMédias calculadas com base nos dados de diversos autores


divulgados por VENTURIERI, G. A. Cupuaçu: a espécie, sua
cultura, usos e processamento, 108p. 1993 .
PF = peso fresco PS = peso seco
50
Fabricação de cupulate
O cupulate é um produto semelhante ao
chocolate, obtido das sementes de cupuaçu. Para
sua produção, as sementes despolpadas passam
basicamente pelos processos de fermentação,
secagem, torração, descascamento, prensagem
e moagem. Nessa fase obtêm-se o cupulate em
pó e a manteiga. Os dois produtos constituem a
matéria-prima com a qual são feitos os tabletes
de cupulate. As etapas básicas são as seguintes:
. fermentação - acondicionam-se imedia-
tamente as sementes despolpadas, sem incor-
poração de água, em caixas de madeira, com
capacidade para 80kg, onde é iniciado o
processo de fermentação, em temperatura
ambiente e em local abrigado da chuva.
Decorridas 24 horas, adiciona-se solução de
açúcar a 30%, com temperatura de 38°C, na
proporção de 1% em relação ao peso das
sementes. Após 48 horas, mistura-se nova
solução de açúcar ao material em fermentação,
nas mesmas condições de concentração,
51
proporção e temperatura da anterior. A massa
de sementes em processo de fermentação deve
ser revolvida pelo menos duas vezes ao dia. O
processo é concluído entre o quinto e o sétimo
dia',
· secagem - ao ser concluída a fermen-
tação, as sementes são lavadas em água corrente
e secas ao sol, até que percam 54,5% de seu
peso inicial. O rendimento de semente seca
corresponde a 45,50/0 do peso inicial;
· torração - em seguida, as sementes secas
são colocadas para torrar em estufa regulada a
150°C, até que seja registrada a perda de
aproximadamente 6% de umidade, quando o
peso das sementes torradas deve equivaler a
cerca de 42% do peso inicial total;
· descascamento - consiste em separar as
amêndoas da casca. As cascas correspondem a
aproximadamente 27% do peso total de
sementes torradas e as amêndoas representam,
em média, 300/0 do peso inicial de sementes
frescas;
52
· prensagem e moagem - as amêndoas
obtidas são prensadas e, em seguida, moídas. O
produto obtido pode ser destinado à fabricação
de pó ou de tablete de cupulate.
O esquema da Figura 6 representa o
fluxograma do processamento de sementes de
cupuaçuzeiro para a obtenção de pó de cupulate
e manteiga de cupuaçu.
A partir das amêndoas de cupuaçu, podem
ser obtidos, além do cupulate em pó e da
manteiga, o cupulate dos tipos meio-amargo,
com leite e branco, em tabletes.
Em resumo, I.OOOkg de sementes frescas
de cupuaçuzeiro, adicionados os componentes
necessários, produz 160kg de pó e 135kg de
manteiga de cupuaçu; ou 348kg de cupulate
meio-amargo e 65kg de pó; ou 389kg de
cupulate com leite e 90kg de pó ou, finalmente,
320kg de cupulate branco e 160kg de pó.
Assim, em termos percentuais, o
rendimento aproximado de 1 tonelada de
sementes frescas corresponde a 18% de cupulate
53
(' ..

,' I'"
em pó e 140/0 de manteiga; ou 35% de cupulate
em tabletes do tipo meio-amargo; ou 380/0 de
cupulate em tabletes com leite ou 32% de
cupulate em tabletes do tipo branco.
Semente. de cupuaçu
rec'm-de.polpodol
( l.000kg)

FermentoçOo
(+ lOIuçOo de açúcOf)

I
- - - --'--
Secagem
(perde + 60'11. de Ogua
395kg de lemente
I
Oe.coscomento
(Perde 9,5")

Amendoo
(3OOkg) J
I'Ienaogem
(3OOkg)

I I
Torta
(Rendimento 10,5") Manteiga de cupuoçu
1000g (Rendimento 13,6")
I
Moagem
(I05kg) .
Flg. 5. Fluxograma do
PO de cupuoçu processo de fabricação do
(I05kg) + 1""
deQÇúcar cupulate em pó, com
I
Chocolate em pO perdas e rendimento final.
(tl8Okg)

Fonte: EMBRAPA/CPATU
54
Coeficientes de produção
Na Tabela 7, são apresentados alguns
coeficientes técnicos para a implantação de lha
de cupuaçuzeiro.
Tabela 7 - Coeficientes técnicos para a implan-
tação de I ha de cupuaçuzeiro.

ões
Número de sementes semeadas para mudai:
Para espaçamento de 8 x 8m triangular 250
Para espaçamento de 6 x 6m triangular 450
Para espaçamento de 8 x 8m convencional 240
Para espaçamento de 6 x 6m convencional 405
Para espaçamento de 24 x 24m consorciado 110
Para espaçamento de 18 x 18m consorciado 200
Para espaçamento de 12 x 12m consorciado 220
Quantidade de mudas):

Cultivo no espaçamento 8 x 8m em triângulo 215
Cultivo no espaçamento 6 x 6m em triângulo 380
Cultivo no espaçamento 8 x 8m convencional 200
Cultivo no espaçamento 6 x 6m convencional 350
Cultivo consorciado no espaçamento 24 x 24m 95
Cultivo consorciado no espaçamento 18 x 18m 168
Cultivo consorciado no espaçamento 12 x 12m 190

(Continua)
55
Tabela 5. Continuação
Operações Quantidade
Preparo da área
Broca ou roçagem(d/h) 10
Derrubada (d/h) 8
Queimada (d/h) 2
Coivaramento (d/h) 7
Limpeza de área antes ocupada com cultura 14
anual (d/h)
Marcação das covas (d/h) 2
Abertura das covas (d/h) 6
Adubação das covas (d/h) 3
Preparo das sementes (d/h) I
Semeadura (d/h) 0,5
Manutenção da sementeira ~lI~~II~~~tJtlj~f~jj~~~~jjr~it~~!
Preparo de sombreamento (d/h) 2
Irrigação (d/h) I
Preparo das mudas
Preparo do su bstrato (d/h) I
Preparo dos sacos com substrato (d/h) 2
Preparo do sombreamento (d/h) I
Repicagem das plântulas (d/h) I
Arrumação das mudas (d/h) I
Monda (d/h) 10
Irrigação (d/h) 6
Adubação (d/h) I
Controle de pragas e doenças (d/h) 4
(Continua)
56
Tabela 5. Continuação
Operações Quantidade
Propagação vegetativa
Preparo dos porta-enxertos (d/h) 2
Corte dos ponteiros selecionados (d/h) I
Enxertia (d/h) 2
Preparo dos sacos com substrato par 2
transplantio (d/h)
Plantio (d/h) 2
Preparo do sombreamento (d/h) 4
Coroamento (d/h) 10
Roçagem (h/t) 6
Cobertura morta (d/h) 10
Poda (d/h) 27
Aplicação de herbicida (dlh) 8
Adubação (d/h) 14
Irrigação (d/h) lO
Controle de pragas e doenças (d/h) 16
Desbaste de frutificação (d/h) 18
Colheita (dlh) I
Seleção dos frutos para comercialização (dlh) I
Insumos'
Frutos (unidade) 15
Sacos plásticos de 17 x 28cm (unidade) 400
Esterco de curral (litro) até o 50 ano 30.000
Cama de aviário (litro) até o 50 ano (alternativa) 9.400
Superfosfato triplo (kg) 40
(Continua)
57
Tabela 7. Continuação
Operações Quantidade
NPK (12-12-12) até o 4° ano (kg) 2250
NPK (15-15-23+Mg) no 5° ano (kg) 200
Torta de mamona do 2° ao 5° ano (kg) 650
Farinha de ossos do 2° ao 5° ano (kg) 650
NPK (10-28-20) 2° ao 5° ano (kg) 800
Sulfato de amônia para viveiro (kg)
Superfosfato triplo para viveiro (kg) I
Cloreto de potássio para viveiro (kg) I
Calcário para viveiro (kg) I
Magnésio para viveiro (kg) I
Enxofre para viveiro (kg) I
Zinco para viveiro (kg) I
Boro para viveiro (kg) I
Inseticidas até o 5° ano (I itro) 5
Fungicidas até o 5° ano (litro) 15
Fita plástica para enxertia (rolo) I
Combustível para trator e equipamentos (litro) 15
I Total estimado para 60% de emergência e sobrevivência na
sementeira.
2 Total acrescido de 50%, com estimativa de sobrevivência no viveiro e
replantio no campo.
J Para maior densidade de plantio por hectare .

58
,
Endereços Uteis

CPATU - Centro de Pesquisa


Agroflorestal da Amazônia Oriental
Travessa Dr. Eneas Pinheiro, s/no
Belém, PA.
Caixa Postal 48
CEP 66095-100
Tel: (091) 226-6622 /226-6615
FAX (091) 226-9845 / Telex: 911210

SPI - Serviço de Produção


de Informação
SAIN - Parque Rural,-W3 Norte - Final.
Caixa Postal 040315
Tel. (061) 348-4236
FAX (061) 272-4168
CEP 70770-901 Brasília, DF
59
Coleção Plantar
Títulos Lançados

A cultura do alho
As culturas da ervilha e da lentilha
A cultura da mandioquinha-salsa
O cultivo de hortaliças
A cultura do tomateiro (para mesa)
A cultura do pêssego
A cultura do morango
A cultura do aspargo
A cultura da amexeira
A cultura da manga
Propagação do abacaxizeiro
A cultura da abacaxi
A cultura do maracujá
A cultura do chuchu
Produção de mudas de manga
A cultura da banana
A cultura do limão Tahiti
A cultura da maçã
A cultura do mamão
A cultura do urucum
A cultura da pimenta-do-reino
A cultura da acerola
A cultura da castanha-do-brasil
60
Coleção Plantar

Próximos lançamentos

A cultura da pupunha
A cultura do açaí
A cultura da goiaba
A cultura do mangostão
A cultura do guaraná
A cultura do dendê
A cultura da batata-doce
A cultura da graviola

61
Impressão: EMBRAPA-SPI

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