Capítulo 7 - Memória Da Cidade de Caconde
Capítulo 7 - Memória Da Cidade de Caconde
Capítulo 7 - Memória Da Cidade de Caconde
Adriano Campanhole
Crédito de digitalização: @basílicacaconde
Capítulo 7
Aos doze dias do mês de novembro de mil setecentos e setenta e um anos nesta vila de
São José de Mogi-Mirim em casa de morada do juiz ordinário José Rodrigues Pimentel e
presidente da Câmara donde foi vindo o vereador abaixo assinado e sendo aí com o
procurador Agostinho do Prado Vilas Boas deferiram o juramento dos Santos Evangelhos a
Lourenço Ferreira de Queiroz em um livro em que pôs sua mão direita sob o cargo do qual lhe
encarregaram que bem e verdadeiramente fizesse sua obrigação bem feita guardando o
segredo da Justiça e do Direito as partes tudo do serviço de Sua Magestade que Deus Guarde.
1
- De acordo com um quadro elaborado em 6 de julho de 1864, pelo vigário da Vara de Mogi-Mirim, rev. Luís
José de Brito, a Freguezia de N. S. da Conceição de Mogi Guaçu foi ereta em 6 de setembro de 1733 e a de
Mogi-Mirim em 9 de junho de 1747. Todavia, em uns autos de devassa existentes na Cúria Metropolitana de São
Paulo, pode observar-se que em 1732 Mogi Guaçu já era Freguezia, tendo sido criada pelo Bispo do Rio de
Janeiro, pois São Paulo ainda não tinha bispo. Mogi Guaçu foi elevada a Vila pela lei n.º 16, de 9 de abril de
1877, sendo que a sua primeira Câmara estava assim formada: Juízes – Salvador Jorge de Morais e cap. Manoel
Rodrigues de Araújo Belém. Vereadores – Antônio Luís de Morais Pizarro, José Pereira Tangerino, Domingos
Rodrigues Viana. Procurador do Conselho – Inácio José Machado. Mogi Mirim foi elevada a Vila por Ordem
Régia de 11-10-1769 e instalada a 22 do mesmo mês e ano. A ela Caconde foi incorporada, tendo sido
desmembrada pela lei n.º 15, de 20 de fevereiro de 1841, passando a pertencer à Vila de Casa Branca.
2
- Desembargador Odilon da Costa Manso – “O PRIMEIRO LIVRO DE ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL
DE MOGI MIRIM”.
3
- Em 1771 a Câmara de Mogi-Mirim estava assim constituída: Juízes ordinários – José Rodrigues Pimentel e
cap. João Leme da Barbosa. Vereadores – Antônio Luís de Morais Pizarro, Brás Machado de Lima e Lourenço
Ferreira de Queirós. Procurador – Agostinho do Prado Vilas Boas. Escrivão – João Correia Dias. Alcaides –
Antônio Rodrigues do Prado e Luís da Fonseca Silva. Capitão do mato – José Correia das Mercês.
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Deferido o juramento assim o prometeu fazer do que para constar fiz este termo que assino. E
logo pelos ditos oficiais tratando do bem comum do povo concordaram em irem para o
Descoberto do Rio Pardo por ordem do Ilmo. E Exmo. Sr. General e por ser longe e fazer-se
despesa alugando cavalos e camaradas as suas custas mandaram passar mandato para retirar
dos créditos da Câmara a quantia de dois mil réis cada um para ajuda de custo na forma das
Ordenações , livro 1.º, II, art. 66, § 16, e sem embargo de passar de quarenta mil réis do que
levarão somente a dita quantia cada um de que mandaram passar mandato e também
informaram uma petição do capitão João Leme Barbosa, juiz ordinário desta mesma Vila e
mais nada assinaram. Eu João Correia Dias Tabelião o escrevi. José Rodrigues Pimentel –
Agostinho do Prado Vilas Boas – Lourenço Ferreira de Queiroz. Mando para o procurador
despender a quantia supra. Pimentel”.
Aos trinta dias do mês de novembro de mil setecentos e setenta e um anos neste
Descoberto de Nossa Senhora da Conceição do Rio Pardo donde foi vindo o Juiz Presidente
da Câmara e os oficiais dela Lourenço Ferreira de Queiroz, e o tenente Domingos Rodrigues
Viana4 que serviu o ano passado por impedimento de Brás Machado de Lima por estar
enfermo e Antônio Luís de Morais, também enfermo, e estando presente o procurador
Agostinho do Prado Vilas Boas e sendo aí todos juntos pelos ditos oficiais da Câmara
tomaram posse, livre geral e atual........... e de toda ........... que em direito deve ser depois que
pelo alcaide mandaram apregoar com as palavras das leis dizendo que era posse que tomavam
os oficiais da Câmara da Vila de Mogi-Mirim deste Descoberto de Nossa Senhora da
Conceição do Rio Pardo e se há quem se oponha a ela aparecesse, e como o dito alcaide Luís
da Fonseca Silva desse a sua fé de que ninguém aparecia procederam na dita posse cavando
terra e cortando matos, e botando para o espaço na forma que............. o fizeram mandando
fazer este termo de vereança e posse em que assinaram mais algumas pessoas mais distantes
da paragem que se acham neste Descoberto e abaixo assinados. E eu João Correia Dias,
escrivão, que o escrevi.
José Rodrigues Pimentel – Lourenço Ferreira de Queiroz – Domingos Rodrigues Viana
– Agostinho Rodrigues Vilas Boas – Francisco Pinto do Rego – Luís da Fonseca – Antônio
Francisco – João da Cunha Franco – Aleixo Garcez da Cunha – Manoel Cavalheiro Leite –
Pedro Rocha Souza – Felix de Almeida Lima – Antônio Bueno da Silveira5 – André Correia
de Lacerda6 – Alexandre Barreto de Lima Morais – Francisco Leme de Brito – Manoel
Gomes Bueno – João Duarte do Rego – Manoel Rodrigues de Araújo Belém – Leonardo
4
- Tenente Domingos Rodrigues Viana – Em 5-11-1766, elevado ao posto de tenente de Auxiliares de pé do
Corpo da Freguezia de Mogi Guaçu, de que é capitão Baltazar Lemos Bueno. (Arquivo, livro 17, fl. 45, caixa 8,
ordem 366).
5
- Antônio Bueno da Silveira foi, depois, guarda mor do Descoberto do Rio Pardo.
6
- André Correia de Lacerda – Foi juiz ordinário de Mogi-Mirim em 1794, 1795 e 1801.
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Rodrigues Camargo – João dos Santos Faria – Baltazar de Lemos Tavares Ferreira –
Francisco Xavier de Oliveira - ... (ilegível) ... 7.
“O juiz de presidente da Câmara José Rodrigues Pimentel e mais vereadores abaixo
assinados que servimos este presente ano na forma das leis a bem das ordenanças de Sua
Magestade que Deus Guarde.
“Mandamos ao Procurador da Câmara Agostinho do Prado Vilas Boas logo satisfaça
pelos .... do Conselho a cada oficial da Câmara dois mil réis para ajuda de custo na diligência
do Descoberto do Rio Pardo assim o cumpra e al não faça. Dada nesta Vila de Mogi-Mirim ....
Eu João Correia Dias o escrevi – José Rodrigues Pimentel – Lourenço Ferreira de Queiroz”8.
NOVO DESCOBERTO
Em 1771 registrou-se novo descoberto de ouro no Sertão do Rio Pardo, feito pelos
irmãos de Inácio Cabral no ribeirão chamado de Amador Bueno, que desce das mesmas
vertentes do da Conceição a desaguar no Rio Pardo, o qual foi impedido por Inácio da Silva
Costa9.
Atualmente ninguém sabe onde fica o Ribeirão de Amador Bueno. O córrego da
Conceição pertence ao município de Caconde e aparece no seu mapa contemporâneo.
RECLAMAÇÕES AO GOVERNO DE LISBOA
7
- Livro de Atas n.º 1, de Mogi-Mirim, fls. 28, 28v., e 29.
8
- Idem, pág. 27 v..
9
- Docs. Ints., XI, pág. 919.
10
- Marques de Lavradio – D. Luis de Almeida Portugal Soares Eça Melo Silva e Mascarenhas, 5.º Conde de
Avintes e 2.º Marques do Lavradio. Governador da Bahia, foi nomeado vice-rei por carta de 8 de abril de 1769
(Arquivo Nacional, códice 64, livro 17, fl. 2 v. – Seção de Documentação Histórica). Tomou posse do cargo na
Catedral do Rio de Janeiro na presença do Senado da Câmara no dia 4 de novembro de 1769 (Autos de Posse dos
Vice-Reis do Estado do Brasil, 1763-1806, códice 774, fls. 4 e 5 – Arquivo Nacional). Era primo do Conde de
Valadares e sobrinho do Conde de Azambuja. O Conde de Povolino, que ficou a governar a Bahia, em seu lugar,
era seu primo. Antônio Rolim de Moura, que foi o primeiro capitão-general de Mato Grosso, tornou-se depois
Conde de Azambuja e vice-rei do Brasil. Nessa época a Capitania de São Paulo não mais existia, anexada que
estava, desde 1748, à do Rio de Janeiro. Daí o ter sido Rolim de Moura governador de São Paulo. Ao vice-rei se
dirige o rei de Portugal, pedindo auxilio dos paulistas, para a reconstrução de Lisboa, arrazada por um terremoto
em 1775. A Câmara se reúne e cria um imposto, por dez anos, sobre o comércio de cavalos, tropas de mulas,
boiadas, carne de vaca, aguardente do reino e da terra, fumo e gêneros alimentícios.
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pertencerem, e mandarem restituir as Reais ordens atendendo a ser esta resolução do Exmo.
Snr. Conde da Cunha até a decisão da conta que deu a S. Magestade sobre esta matéria”11.
A esta carta o Marques de Lavradio respondeu em 29 de outubro de 1772, informando,
inclusive ao governador de Minas, que qualquer decisão devia emanar de El Rei. No post
scriptum dessa missiva está o mais importante, pois o Conde do Lavradio comunicava a
promulgação do assento de 12 de outubro, mandado fazer pelo Conde da Cunha12.
Contudo, o novo governador de Minas, Antônio Carlos Furtado de Mendonça, a quem o
Conde de Valadares entregou o governo a 22 de maio de 1773, negou-se a cumprir o referido
assento sem ordem expressa do Governador Central, o que foi considerado perfeitamente
justificável pelo historiador Orville Derby. Manteve, contudo, o statu quo atual.
Em longa missiva a Martinho de Melo e Castro, datada de 12 de janeiro de 1773, o
capitão-general de São Paulo repete o que já tinha dito em outras oportunidades:
“Quando vim para este Governo foi S. Magestade servido mandar restituir esta
Capitania ao seu antigo estado e divisão e descobrindo-se as Minas do Rio Pardo nos Sertões
desta Capitania houve logo tantas e tão grandes controvérsias sobre estes que tem durado todo
o tempo do meu Governo até o presente como a V. Exa. tenho informado, e ultimamente em
cartas de 27 e 28 de fevereiro do ano pretérito de 1771 a que juntei uma carta corográfica
circunstanciada do país sobre que pende a conta. Os povos desta Capitania sentem o ter-se-
lhe tirado todo o seu Sertão por que sendo eles os que fizeram estes Descobrimentos se vêm
hoje pobres por não ter donde fazer comércio nem se poderem utilizar desse ouro e além disso
perderia a Real fazenda por que a quantia que lhe compete se confunde em Minas Gerais com
a Cota de cem arrobas que nas quatro Comarcas13 se devem pagar separadas. Além disso
como esta Capitania tem de fazer tantos serviços é grandíssimo inconveniente ter tão pouca
extensão de terras como se vê no Mapa em distância que vai desde o Porto do Mar até o
Morro do Lopo e nem se pode utilizar a Real fazenda dos Direitos porque agora novamente se
lhe mandaram tirar pela Capitania de Minas Gerais, e ficou perdendo mais esse rendimento,
nem tem donde tirar com abundância para acudir as fronteiras, por que aquelas terras pela
vizinhança em que estão de S. Paulo e pela distância em que ficam as justiças de Minas
servem de retiro seguro de criminosos, desertores e ladrões que retirando-se com fazendas
alheias para aqueles arraiais nunca mais pagam e fazem quebrar os mercadores que são tantos
os exemplos que eu podia juntar que faria um processo infinito sobre este assunto.
“Representando estas cousas ao Exmo. Vice-rei do Estado ele achou na sua secretaria
um termo de Divisão que por ordem de S. Magestade se fez naquela Capital em 12 de outubro
do ano de 1765 o qual não sei por que motivo ficou oculto ao meu conhecimento, com cujo
termo fica em parte remediada esta falta pois ainda que não é todo o Certão que pertence a
esta Capitania que devia ser pela antiga demarcação conhecida pelo Rio Grande, e ao depois
Morro de Cachumbi também não é esta moderna, e última que usurpe todo o Certão desta
Capitania, e põem o Marco ao pé desta Cidade no Morro do Lopo. Além disto é o Rio Sapucaí
adonde estabelece a demarcação o dito termo um rio profundo capaz de evitar nele os
11
- Docs. Ints., XI, págs. 261/3.
12
- Docs. Ints., XI, LVII e 263.
13
- Em 1710 o governador D. Antônio de Albuquerque Coelho Carvalho criou o Distrito das Minas e, no ano
seguinte, as Comarcas de Vila Rica, Vila Real e Rio das Mortes, independentes da Comarca de São Paulo. Os
procuradores dessas Vilas, reunidos em 1714 por D. Brás Baltazar da Silveira, governador das duas capitanias
reunidas, decidiram estipular, em lugar dos quintos, uma quantia fixa de 30 arrobas anuais de ouro, para que
contribuíram igualmente as referidas comarcas. Em 1750 a contribuição foi elevada para 10 (cem arrobas).
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extravios, e uma divisão clara, a sua corrente não dá lugar a menor dúvida, pois em quanto a
divisão se fizer por Serras e Morros como por toda a parte há montes em toda a parte se
poderá dizer que ali corre o cume da serra, e nunca haverá demarcação certa que possa fazer
cessar a controvérsia.
“Com este termo peço ao Exmo. Conde de Valadares que me mande largar as ditas
terras pois tanto pelas ordens de S. Magestade com que vim para este Governo, e mandam
restituir esta Capitania ao seu antigo estado como pelos outras antigas que antecedentemente
se tinham expedido também pela declaração do dito termo que na conformidade da Resolução
de S. Magestade de 4 de fevereiro do dito ano de 1765 foi feito na capital do Rio de Janeiro e
na presença do Exmo. Sr. Vice-Rei Conde da Cunha com assistência do chanceler da relação
e Ministros dela, e pessoas mais práticas e inteligentes que tinham visto, examinando as ditas
terras e assentaram ser aquela a melhor divisão. Por todos estes títulos pertence a esta
Capitania clarissimamente o dito sertão até o Rio Sapucaí que lhe deve servir de divisão”14.
14
- Docs. Ints., XI, pág. 247.
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