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Maconhistas Imaturos Artigo Drauzio Varella

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Coronavírus Drauzio Doenças e sintomas

MACONHISTAS
IMATUROS | ARTIGO
A repressão às drogas dificulta o acesso à
informação sobre os efeitos da maconha
entre adolescentes, e não ajuda a diminuir
seu consumo.

por Drauzio Varella

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Publicado em: 11 de julho de 2019


Revisado em: 11 de agosto de 2020

O uso frequente de maconha pode


causar alterações neuropsicológicas
em adolescentes. A repressão à droga
prejudica o acesso à informação sobre
os efeitos da maconha e não ajuda a
diminuir o consumo.

Chamar de maconheiros os usuários é


considerado depreciativo:
maconhistas, preferem eles.

Com a Produtora Uzumaki, fizemos


uma série sobre a maconha com o
título de “Drauzio dichava”, que já teve
4,5 milhões de acessos no YouTube,
em dois meses.

Fiquei surpreso com a repercussão e


com a falta de informação dos
entrevistados sobre o mecanismo de
ação e os efeitos colaterais da droga.
A maioria acha que se trata de uma
erva natural, que traz relaxamento,
sensação de paz e percepção aguda da
realidade, sem causar danos.

Veja também: Efeitos benéficos da


maconha e Efeitos adversos da
maconha

Alguns não sabem que o THC, o


componente ativo, é absorvido nos
alvéolos pulmonares e cai na
circulação. A dependência química é
desconhecida ou negada mesmo por
gente que faz uso diário, há décadas. A
perda de memória ao fumar é
menosprezada até pela jovem que
esquece uma ponta no cinzeiro da sala
dos pais. E, pior, ninguém ouviu falar
que o consumo na adolescência pode
ter consequências nocivas e
duradouras.

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Diversos estudos, no entanto,


mostraram que o impacto repetitivo
da maconha no cérebro ainda
adolescente, é deletério: interfere com
a memória, a atenção, a velocidade de
processamento das informações e a
capacidade de concentração.

A explicação está na vulnerabilidade


do tecido cerebral na infância e
adolescência. O córtex pré-frontal,
responsável por funções superiores
como julgamento, tomada de decisões
e controle da impulsividade, só
completa a fase de amadurecimento
ao redor dos 25 anos de idade, muito
mais tarde do que as áreas
encarregadas do processamento das
emoções.

A maconha faz parte do universo dos


jovens de qualquer classe social;
mesmo os abstêmios têm amigos que
fumam. Em certas fases da juventude,
o risco de uma filha ou filho
experimentá-la, é alto. Condená-los
por ter curiosidade, necessidade de
aceitação no grupo ou por cair em
tentação vai ajudá-los?

O THC distorce a troca de informações


entre os neurônios. A exposição
frequente a ele pode modificar, de
forma persistente, a arquitetura das
redes neuronais que coordenam a
cognição, nelas incluído o
aprendizado, a atenção e a resposta
aos estímulos emocionais. Em alguns
adolescentes predispostos, essas
alterações levam à compulsão que
está na base da dependência química.

Evidências sugerem que o uso diário


ou semanal por adolescentes, durante
anos consecutivos, pode causar
alterações neuropsicológicas que
persistem além do período de
intoxicação aguda. Vários estudos
revelaram, de forma consistente, que
os usuários crônicos têm resultados
piores nos testes neuropsicológicos.
Em alguns deles, a deficiência foi
detectada mesmo depois de anos de
abstinência.

A magnitude do déficit cognitivo será


maior quanto maiores forem as
quantidades consumidas, a frequência
e a duração do consumo e a
precocidade da iniciação. Fumar
maconha aos 30 anos é bem menos
problemático do que fazê-lo aos 15.

Para agravar, a maconha


comercializada nas ruas tem
concentração de THC quatro a cinco
vezes mais alta do que a dos anos
1990. A diferença seria comparável à
dos efeitos do álcool contido num
copo de cerveja ou num copo de saquê.

A ignorância em relação a esses fatos


é uma das consequências da
clandestinidade. Que ajuda podemos
prestar às crianças que começam a
fumar, se elas o fazem às escondidas?
Como lidar com o ímpeto de desafiar a
proibição que lhes é imposta?

Veja o que aconteceu com o cigarro.


Nos anos 1960, cerca de 60% dos
brasileiros com mais de 15 anos
fumavam. Entre outras medidas, anos
de informações transmitidas pelos
meios de comunicação de massa e
educação nas escolas fizeram as
crianças entender que fumar está
ligado às piores doenças. Hoje, a
prevalência entre nós caiu para cerca
de 10%. Fosse mantido no silêncio da
ilegalidade teríamos conseguido
resultados tão contundentes?

A maconha faz parte do universo dos


jovens de qualquer classe social;
mesmo os abstêmios têm amigos que
fumam. Em certas fases da juventude,
o risco de uma filha ou filho
experimentá-la, é alto. Condená-los
por ter curiosidade, necessidade de
aceitação no grupo ou por cair em
tentação vai ajudá-los?

Eles precisam de ensinamentos claros


para entender que compostos
psicoativos como o THC provocam
efeitos colaterais, alterações
neurobiológicas e podem causar
dependência química.

Se ainda assim decidirem fumar, não


é a repressão que os impedirá nem
será uma tragédia familiar. A maioria
dos que experimentam na
adolescência abandona o uso por
conta própria, ou fuma com intervalos
de semanas ou meses. Maconha não é
droga compulsiva como cigarro ou
cocaína.

Desesperar-se porque a filha ou o filho


“caiu no mundo das drogas”, só por
fumar maconha ocasionalmente, é
criar drama de novela mexicana.

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