410 Matias 19
410 Matias 19
410 Matias 19
AUTOR:
Jimmy Matias Nunes1
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Mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail:
jimmymnunes@gmail.com
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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
[...] ‘uma verdadeira democracia jamais existiu nem existirá’, pois exige,
acima de tudo, um Estado muito pequeno, ‘no qual seja fácil ao povo se
reunir’; em segundo lugar, ‘uma grande simplicidade de costumes’; além do
mais, ‘uma grande igualdade de condições e fortunas’; por fim ‘pouco ou nada
de luxo’ (ROUSSEAU apud BOBBIO, 2000, p. 33).
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A referida ideia da desvinculação do mandato se contrapõe à teoria econômica da democracia proposta por
Anthony Downs (1999), segundo a qual o objetivo principal de um governo é a reeleição e que o meio para ele
atingir esse objetivo é o voto. Sendo assim, interessado no voto do cidadão, o governo se vê obrigado a considerar
os interesses daquele, de modo que, de acordo com tal pensamento, não seria possível que os representantes
eleitos se desvinculem totalmente do mandato atribuído pelos cidadãos.
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[...] o método democrático requer que todos, em princípio, sejam livres para
competir pela liderança política. Para que este requisito seja satisfeito, devem
(sic) haver um “considerável volume de liberdade de discussão para todos e
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nas mãos das elites, haja vista a existência de uma pluralidade de centros de
poder (facções/grupos de interesse/grupos de pressão).
Os grupos de interesse são uma decorrência natural da liberdade de
associação e representam interesses comuns de indivíduos inseridos em um sistema
industrial fragmentado e de grande diversidade de demandas sociais (HELD, 1987).
Cada grupo, em conformidade com os recursos que lhes são disponíveis, são capazes
de pressionar o governo, principalmente o executivo, a satisfazer os seus interesses
e demandas. Logo, os “[...] resultados políticos advêm da tentativa do governo e, em
última instância, do executivo, de tentar mediar e adjudicar entre as demandas de
grupos concorrentes” (HELD, 1987, p. 172). O próprio governo constitui um desses
grupos que luta pela satisfação de seus próprios interesses.
Em um regime democrático, de acordo com a tese clássica do pluralismo, as
decisões políticas serão resultado de um processo de barganha e troca entre grupos,
os quais não poderão ter seus interesses integralmente realizados, haja vista o poder
estar disperso em uma pluralidade de pontos de pressão. É justamente essa
diversidade que impediria o domínio político de apenas um grupo de interesse e
geraria, portanto, uma estabilidade democrática:
denominar de poliarquias. Vale salientar que em nenhum momento de sua obra ele
apresenta uma definição do que seria uma democracia plena.
De acordo com Dahl, o grau de democratização de um regime se revela através
de duas dimensões: o nível de contestação pública (exercício da oposição ao governo)
e o grau de participação da população em eleições e cargos públicos. Tais dimensões
variam de acordo com o gozo de alguns direitos pela população, tais como: liberdade
de formar e aderir a organizações, liberdade de expressão, direito de voto, direito de
líderes políticos disputarem apoio, acesso a fontes alternativas de informação,
elegibilidade para cargos políticos etc.
A poliarquia, portanto, é o regime no qual se atingiu altos níveis naquelas duas
dimensões, isto é, onde há um alto nível de tolerância quanto à oposição ao governo
(substancialmente liberalizado) e onde grande parcela da população possui direito
ao sufrágio (inclusivo). Note-se que ambos os níveis variam de forma independente.
Em consequência, a variação e a relação entre os níveis de contestação pública e de
participação podem gerar quatro espécies de regime, as quais são delineadas no
GRÁFICO 1:
7 DA READEQUAÇÃO DA TEORIA
[...] Em muitas novas democracias, mesmo que, por sua própria definição, se
realizem eleições competitivas, e tanto estas quanto a aposta universalista
estejam institucionalizadas, os direitos civis têm escassa vigência em todo
seu território e nas classes e setores sociais. Além disso, quando se adotou
nesses países a aposta includentes, muitas salvaguardas liberais não
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8 DA DEMOCRACIA DELIBERATIVA
a) Local cedido pelo Estado, no qual tanto a maioria quanto as minorias podem
participar e expor seus distintos interesses;
b) Constituem espaços nos quais os atores expõem e tornam públicas as
informações necessárias à tomada de decisão política. Sendo assim, “os
arranjos deliberativos pressupõem que as informações ou soluções mais
adequadas não são a priori detidas pro nenhum dos atores e necessitam serem
construídas coletivamente” (AVRITZER, 2000, p. 44); e
c) Possibilidade de testar múltiplas experiências, isto é, de experimentar e
partilhar diversos resultados.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
visão mais ampla e realista da democracia, haja vista a concepção clássica ser
considerada por muitos teóricos como ideológica e fundada em bases não empíricas.
Considerado como um divisor de águas da teoria democrática, Schumpeter
criticou fervorosamente os supracitados ideais da teoria clássica e concebeu a
democracia não como um meio popular de tomada de decisão pública, mas como um
método/procedimento de escolha de um governo. De forma mais pragmática, aquele
autor, assim como Dahl e Downs, defendeu a ideia de que aos cidadãos, incapazes
de se posicionar racionalmente acerca de decisões políticas, cabe tão somente a
função de escolher um governo, o qual, após eleito, é o único ente ao qual é atribuído
o papel de tomar decisões políticas em um regime democrático.
Se a passividade e a emotividade dos cidadãos comuns os tornam
incapacitados de tomar decisões políticas, a quem caberia exercer esta
responsabilidade em um regime democrático? Para responder tal questionamento,
autores como Schumpeter e David Held exaltaram o papel das lideranças políticas
(elites políticas), que se destacam no meio social por serem dotadas de maior
capacidade de deliberar sobre questões públicas e por direcionarem os seus esforços
para a administração do poder político.
Destarte, o elitismo competitivo desemboca no próprio conceito de democracia
concorrencial, que pode ser compreendida como um método através do qual as
lideranças dos diversos partidos competem pela obtenção dos votos dos cidadãos, a
fim de obter o poder de decisão sobre todas as questões políticas. Assim, a política
deve ser entendida como uma verdadeira carreira formada por líderes experientes e
competentes, de modo que a democracia seria o processo de eleições periódicas de
tais lideranças políticas concorrentes.
Vale salientar que elites existem em todo e qualquer ramo de atividade, seja
ela política ou não. Isto posto, é imperativa a desconstrução da visão negativa que o
senso comum possui das elites, pois, de acordo com Luis Felipe Miguel (2002), a
sociedade é naturalmente desigual e em qualquer ramo de atividade haverá grupos
que se destacam no exercício de suas capacidades, fato que não ocorre apenas no
âmbito político. A preocupação, portanto, não deve recair sobre a existência de elites
na política, pois isso é inevitável, mas sobre a forma como tais elites exercem o poder
em um dado regime.
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Conclui-se, do exposto, que o comportamento das elites tem papel decisivo nas
transformações de regimes democráticos, tanto no que se refere a sua consolidação,
quanto no tocante a sua retração para um regime autoritário.
Outra importante constatação foi a de que a democracia deve se amparar em
direitos/liberdades individuais e políticas. Assim, para que haja uma competição livre
e justa, a coletividade, antes de tudo, deve gozar de certos direitos fundamentais,
pois subsiste uma íntima relação entre esses direitos e a democracia.
Também se infere, neste trabalho, que aspectos além dos propostos por
Schumpeter devem ser considerados na compreensão do regime democrático.
Destarte, outros atores políticos, como os grupos de interesse (facções) estudados no
pluralismo, também exercem forte influência no funcionamento da democracia, assim
como o eleitor e as lideranças políticas preconizadas por Schumpeter. É inegável que
cada grupo de pressão, em conformidade com os recursos que lhes são disponíveis,
são capazes de pressionar o governo, principalmente o executivo, a satisfazer os seus
interesses e demandas. O próprio governo constitui um desses grupos que luta pela
satisfação de seus próprios interesses.
Ademais, Robert Dahl, embora também adepto à visão processualista da
democracia, abordou outro aspecto inerente ao regime democrático, qual seja a
responsividade do governo, isto é, a viabilização de um maior accountability vertical
oriundo dos altos níveis de contestação pública e de inclusividade (participação)
existentes. Cumpre ressaltar que, para Dahl, a democracia constitui um ideal que
ainda não foi atingido por nenhum país, motivo pelo qual denomina de Poliarquia o
regime que mais se aproxima daquele ideal.
Também são essenciais ao estudo da democracia os papeis exercidos pelo
Estado e as suas instituições formais. A partir de tal assertiva, O’Donnell minudenciou
a concepção de democracia que já havia sido proposta por teóricos como Schumpeter
e Dahl, e realocou o foco de análise para a própria figura do Estado. Desse modo,
para aquele teórico, o Estado é o ente que estabelece um sistema institucional em
dado território, através do qual impõe a obrigatoriedade de liberdades civis e políticas
que dão ensejo à aposta democrática. É o Estado, portanto, que dá sustentação à
democracia, através de um sistema jurídico cujas normas devem ser obedecidas não
apenas por seus cidadãos, mas também por todos os poderes e instituições formais
do próprio ente estatal.
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REFERÊNCIAS