Artigo Tipos de Democracia
Artigo Tipos de Democracia
Artigo Tipos de Democracia
Tipos de Democracia
Cacilda Vilela de Lima1
Mariana Riccitelli Annunciato2
DOI 10.20399
Resumo
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a polissemia concernente ao termo
democracia no sentido de o termo ser empregado como um conceito guarda-
chuva que abrange desde a reivindicação por liberdade até a demanda por
sociedades mais justas. A partir dessa reflexão apresentamos como a democracia
abrange as condições sociais, econômicas e culturais que permitem o exercício
livre e igual da autodeterminação política, descrevendo os diferentes tipos de
democracia que existem na contemporaneidade. Para essa descrição,
apresentamos alguns aspectos históricos sobre a democracia, mostrando como o
conceito foi se modificando ao longo do tempo e como a noção contemporânea
pode ser entendida como um palimpsesto de diferentes épocas, um amálgama de
significações históricas. Observamos que existem alguns elementos e
procedimentos mínimos comuns que se encontram nas diferentes democracias
contemporâneas, tais como um sistema de governo, um domínio público, a
existência da noção de cidadão e as relações de competição e colaboração entre os
representantes dos cidadãos, assim como as condições mínimas que permitem que
todos esses elementos possam coatuar de forma livre, porém com algum tipo de
controle por parte dos cidadãos e seus representantes, mas sem que haja nenhum
tipo de coerção. Introduzimos alguns parâmetros que são utilizados para a
tipificação das democracias, tais como o consenso, a amplitude de participação, o
tipo de representatividade, a soberania dos poderes, a configuração do sistema
partidário e os sistemas de controle. Discorremos mais detalhadamente sobre
alguns dos tipos de democracia mais comumente apresentados nas ciências
políticas, mostrando como, apesar de o regime democrático não ser
necessariamente a forma de governo mais eficiente, ele propicia um ambiente no
qual há a emergência de instituições políticas estáveis que podem competir para
influenciar as políticas de governo na redução de conflitos sociais e econômicos e
para dar à sociedade a possibilidade de tomar suas decisões de maneira mais
eficiente e abrangente, considerando diferentes perspectivas, inclusive, a
perspectiva de escolher outro tipo de regime como o mais adequado àquela
comunidade.
1
Bacharel em Administração de Empresas (FEA/USP); Doutora em
Administração de Empresas pela Université de Lausanne, Suíça; Bacharel em
Letras, habilitação Português/Inglês (FFLCH/USP); Doutora em Linguística
(FFLCH/USP).
2
Aluna do curso de Psicologia (UNICAP).
Ano 18 • n. 1 • jan./jun. 2018 45
ÁGORA FILOSÓFICA
Abstract
This article presents considerations on the polysemy concerning the term
democracy in the sense that the term is used as an umbrella-concept that ranges
from the claim for freedom to the demand for more just societies. From these
considerations we present how democracy encompasses the social, economic and
cultural conditions that allow the free and equal exercise of political self-
determination, describing the different types of democracy that exist in the
contemporary world. For this description, we present some historical aspects
about democracy, showing how the concept has been changing over time and
how the contemporary notion can be understood as a palimpsest of different
epochs, an amalgam of historical meanings. We observe that there are some
common elements and procedures that are found in the different contemporary
democracies, such as a system of government, a public domain, the existence of
the notion of citizen and the relations of competition and collaboration between
the representatives of the citizens, as well as the minimum conditions that allow
all these elements to co-act freely, but with some type of control by the citizens
and their representatives, but without any type of coercion. We introduce some
parameters that are used for the typology of democracies, such as consensus, the
degree of participation, the type of representativeness, the separation of powers,
the organization of the party system, and the control systems. We discuss in more
detail some of the most commonly presented types of democracy in Political
Science, showing how, while the democratic regime is not necessarily the most
efficient form of government, it provides an environment in which there are
stable political institutions that can compete to influence government policies in
reducing social and economic conflicts and to give society the possibility to make
its decisions in a more efficient and comprehensive ways, considering different
perspectives, including the perspective of choosing another type of regime as the
most appropriate to that community.
Introdução
Atualmente, observa-se que democracia é o termo que
sempre vem à mente das pessoas e nos seus discursos cada vez que
elas querem reivindicar liberdade e um modo de vida mais justo. No
campo político, o termo também é utilizado de maneira bastante
abrangente. Políticos das mais variadas convicções e ideologias tem
se apropriado do termo para justificar suas ações. Acadêmicos, por
outro lado, hesitam em empregar o termo sem acrescentar
qualificadores devido, sobretudo, à ambiguidade que permeia o
referido termo. Apesar de não existir consenso, portanto, sobre a
definição do termo democracia, uma conceitualização bastante
abrangente e difundida em diversos dicionários, sejam eles
genéricos sobre a língua, sejam específicos, como os dicionários
políticos, é a noção de que democracia é um regime político em que
todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente
46 • UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
ÁGORA FILOSÓFICA
ou através de representantes eleitos — na proposta, no
desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder de governo
através do sufrágio universal. A democracia abrange as condições
sociais, econômicas e culturais que permitem o exercício livre e
igual da autodeterminação política. Percebe-se que a igualdade, a
liberdade e o estado de direito são tomados como características
fundamentais da democracia.
O objetivo dessa reflexão é apresentar os diferentes tipos de
democracia que existem na contemporaneidade. Para tanto, faz-se
necessário que possamos entender e definir minimamente o termo.
Começamos então por apresentar alguns aspectos históricos sobre a
democracia, mostrando como o conceito foi se modificando ao
longo do tempo e como a noção contemporânea pode ser entendida
como um palimpsesto de diferentes épocas, um amálgama de
significações históricas. A seguir, apresentamos alguns elementos e
procedimentos mínimos comuns que se encontram nas diferentes
democracias da sociedade contemporânea. Depois, introduzimos
alguns parâmetros que são utilizados para a tipificação das
democracias e discorremos mais detalhadamente sobre alguns dos
tipos de democracia mais comumente apresentados nas ciências
políticas do mundo contemporâneo. Por fim, apresentamos algumas
considerações finais, enfatizando as razões pelas quais acreditamos
que o regime democrático é o mais vantajoso para a organização das
sociedades contemporâneas.
Considerações finais
Nesse trabalho vimos que há vários tipos de democracia e
que essa tipificação depende de parâmetros distintos que são
priorizados em detrimento de outros. Observamos também que os
teóricos das ciências políticas mostram uma propensão em esperar
demasiado dos regimes democráticos, imaginando que todos os
países que conquistam ou adotam o regime democrático terão uma
sociedade mais justa com todos os seus problemas políticos, sociais,
econômicos, administrativos e culturais resolvidos. Infelizmente
essa expectativa não nos parece verdadeira por uma série de fatores.
Primeiro, o regime democrático não necessariamente é a forma mais
eficiente economicamente quando comparada a outras formas de
governo. Segundo, a democracia não necessariamente é o regime
mais eficiente em termos administrativos. Terceiro, democracias
não necessariamente são mais organizadas, consensuais, estáveis ou
mais governáveis. A democratização não necessariamente levará ao
crescimento econômico, à paz social, à eficiência administrativa, à
harmonia política, à liberdade de mercado ou ao fim das ideologias.
Por que, então, na contemporaneidade, defendemos a democracia
como a forma de governo mais almejada?
Uma resposta que nos parece adequada a essa questão é o
ambiente que o regime democrático propicia. O que se espera desse
tipo de regime é a emergência de instituições políticas estáveis que
devem competir livre e pacificamente para influenciar as políticas
de governo que podem reduzir os conflitos sociais e econômicos por
meio de processos regulares e que estejam suficientemente ligados à
sociedade civil para representar seus interesses e liderá-la para
cursos de ações coletivas. A democracia, ao propiciar esse
ambiente, dará à sociedade a possibilidade de tomar suas decisões
de maneira mais eficiente e abrangente, considerando diferentes
perspectivas, inclusive, a perspectiva de escolher um outro tipo de
regime como o mais adequado àquela comunidade. A importância
da democratização é fornecer as possibilidades de escolhas aos
indivíduos dentro em um ambiente no qual se respeitem tanto os
64 • UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
ÁGORA FILOSÓFICA
direitos individuais quanto os coletivos.
Entendemos que a vantagem dos sistemas democráticos é
que, ao contrário dos regimes autoritários, eles possuem a
capacidade de modificar suas regras e instituições consensualmente
de tal maneira que possam responder às mudanças circunstanciais
de forma mais efetiva. A democracia pode não responder
imediatamente a todos as vantagens esperadas, e que foram
mencionadas acima, mas com certeza é o tipo de regime que melhor
promove uma eventual forma de o fazer em comparação com outros
regimes.
Referências
ALMOND, Gabriel; VERBA, Sidney. The civic culture revisited.
Newbury Park: Sage Publications, 2010
BENEVIDES, Maria Victoria M. A cidadania activa: Referendo,
Plebiscito e iniciativa popular. São Paulo: Ática, 1991.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
Gianfranco. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2009.
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. São Paulo: Malheiros,
2003.
DAHL, Robert A. A preface to democratic theory. Chicago:
Chicago University Press, 1966.
DAHL, Robert A. Democracy and its critics. New Haven : Yale
University Press, 1989.
Press.
LEHMBRUCH, Gerhard.Consociational democracy in the
international system. European
Journal of Political Research, vol. 3, n. 3, 1975, p. 377–391.
LIJPHART, Arend. Patterns of democracy: Government forms
and performance in thirty-six countries. New Haven: Yale
University Press, 2012
SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São
Paulo: Ática, 1994.
SCHMIT, Manfred. Political performance and types of democracy:
findings from comparative studies. European Journal of Political
Research, vol. 42, 2001, p. 147-163
SCHMITTER, Phillippe C.; KARL, Terry Lynn. What democracy
is… and is not. Journal of Democracy, vol. 2, n. 3, 1991, p. 7.
Ano 18 • n. 1 • jan./jun. 2018 65
ÁGORA FILOSÓFICA