Projeto GPDD
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Osmir Dombrowski
Toledo - 2015
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Ttulo: A construo do conceito moderno de democracia
1. Introduo
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2003) identificando seu contedo concreto e destacar o papel fundamental
que as classes subalternas sobretudo o movimento operrio europeu
(ROSENBERG, 1986) desempenharam na democratizao do liberalismo.
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de governo do povo ou pelo poder do povo (WOOD, 2003) traduza o ideal da
democracia, h quem defenda que esse significado deve ser abandonado por
ter se tornado anacrnico (SARTORI, 1994a).
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imprprios? Quais foram os testes que conduziram ao erro que resultaram em
fracassos quem ou quais foram os sujeitos que tiveram seus objetivos
fracassados, como e por qu? Em outras palavras, quais foram os aspectos da
democracia cuja primeira manifestao histrica e reflexo terica constituem
o modelo ateniense no puderam ser aplicados em larga escala e quais as
razes pelas quais sua aplicao no foi bem sucedida?
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por meio do processo de elevao do povo (demos) condio de cidadania;
por outro lado, a trajetria histrica do conceito moderno liberal iniciou-se
no feudalismo europeu e significou a ascenso das classes proprietrias, a
afirmao pelos prprios senhores de sua independncia em relao s
reivindicaes da monarquia, originando os princpios constitucionais
modernos e gerando o deslocamento das implicaes do governo pelo demos
como equilbrio de poder entre ricos e pobres como critrio central da
democracia (WOOD, 2003, p. 177).
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surgimento do Estado, como tambm uma justificativa para o Estado racional
(BOBBIO, 1994).
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Embora o destino fosse o mesmo, o caminho trilhado pelos ingleses no
foi o mesmo que percorreram os colonos da distante Nova Inglaterra ou os
franceses do outro lado do Canal da Mancha, ainda que aqui e acol se possa
observar alguma semelhana entre eles. E nesses caminhos sinuosos, os
quais ningum sabe com clareza onde levaro, muitas vezes se regride
tentando avanar e se avana tentando voltar para trs. Os homens se veem
compelidos a buscar no passado os exemplos e modelos que sero usados na
construo do futuro. Passado e futuro so idealizados e se confundem na
contraposio a um presente incerto e inseguro. Ideias e ideais antigos, s
vezes h muito relegados ao esquecimento, so resgatados e ressurgem como
novidades que, por sua vez, assimiladas por uma realidade hostil adquirem
nova conformao e significados.
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maior quantidade de interesses individuais pelo maior nmero de pessoas
possvel.
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Trata-se de um complexo arranjo que inclui a diviso e separao de poderes
entre executivo, judicirio e legislativo (bicameral), mas que tem sua pedra de
toque na organizao federativa da nao que aumenta a distncia entre o
cidado e o centro do poder e no princpio da representao em oposio
participao direta do cidado (WOOD, 2003, p. 189).
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seus caminhos se cruzassem, quando o encontro parece estar mais prximo
de acontecer, algo improvvel se encarregava de perpetuar a separao.
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instituies feudais. O imprio napolenico, entretanto, no logrou concretizar
uma nova pax romana. No correr da primeira metade do sculo XIX a Frana
experimentaria ainda a monarquia restaurada, outra repblica revolucionria
malograda e vislumbraria a reedio de um novo imprio dirigido por um
segundo Bonaparte. A estabilidade poltica se manteve precria com os mais
diferentes governos e tipos de Estados constantemente desafiados.
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Essa distino significativa. O proletariado francs comeou a definir
objetivos e interesses prprios, diferentes daqueles dos pequenos burgueses
que, embora ameaados permanentemente por um acelerado processo de
proletarizao, no conseguiram romper com os dogmas ideolgicos da grande
burguesia. Passado o refluxo que vigorou durante a dcada de 1850, quando
os movimentos operrios emergem por toda a Europa no apenas em aes
polticas, mas tambm naquelas estritamente econmicas eles sero
identificados por uma nova ideologia que os acompanha nessa erupo: o
socialismo. (HOBSBAWM, 1982; ELEY, 2005) Da para frente, a democracia
para o proletariado tende a adquirir, cada vez mais, um contedo social
concreto, mantendo o esprito revolucionrio em clara oposio ao monoplio
classista da propriedade, se define como um instrumento capaz de imputar
repblica um contedo diferente daquele imposto pela burguesia; um caminho
na direo de concretizar a utopia da repblica social.
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social em seus pases. O historiador Eric Hobsbawm (1982, p. 126) soube
perceber o papel dos conservadores no processo de extenso de direitos
polticos e sociais aos trabalhadores: (...) eles sentiram que s vezes podiam
segurar os liberais mediante a ameaa de aumentar as franquias.
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governo incapaz de resolver grande parte dos problemas concretos vividos
pela maior parte da populao, uma vez que suas interferncias nas relaes
sociais so sempre recebidas como ameaas liberdade e, enquanto tal,
rechaadas, razo pela qual, sobre ela pesa constantemente o estigma da
inutilidade.
2. Referencial Terico
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Esta necessidade ainda mais premente no nosso caso, j que lidamos
especificamente com o subcampo ou domnio da Cincia Poltica designado
como teoria poltica. O subcampo de estudos da teoria poltica, como o
prprio nome indica, ocupa-se no da anlise direta de fenmenos polticos
empricos, mas das reflexes construdas a partir de sua investigao ao longo
da histria. Ou seja, o objeto de estudo da teoria poltica o seleto conjunto
de obras referendado como clssicas pelo cnone ocidental.
Aqui cabe uma primeira diferenciao. Existe uma distino clara entre
pensamento poltico e teoria poltica. Como bem destaca Ellen Wood (2011,
p. 1) o pensamento poltico uma reflexo contingencial sobre o fenmeno
do poder, sendo comum a todas as sociedades complexas, tanto do Oriente
quanto do Ocidente. Deste modo, seja na forma de poesia, sistemas filosficos
ou sabedorias de vida, todas as sociedades civilizadas desenvolveram
variaes em torno do pensamento poltico, interrogando-se sobre a diviso
entre dirigentes e dirigidos, o fundamento da autoridade, etc. Mas sem a
preocupao da construo rigorosa de um discurso logicamente articulado,
capaz de legitimar cientificamente a reflexo. Enquanto a teoria poltica situa-
se num patamar diferenciado, pois supe um discurso lgico e argumentativo,
calcado no uso de conceitos bem definidos, para investigar a legitimidade e a
racionalidade da ordem poltica preconizada como a mais adequada para a
convivncia humana (WOOD, 2011. p. 1-4).
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Contudo, as ambiguidades no se encerram aqui. Distinguir entre pensamento
poltico e teoria poltica apenas o primeiro passo. Para avanarmos,
precisamos definir a linha ou corrente terica a qual nossa pesquisa se vincula.
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deles comea por estabelecer o estatuto da prpria esfera da poltica no
conjunto da vida social humana. A poltica no pode ser vista de modo idealista,
como uma atividade distante de nossos interesses imediatos, como aparece
para o senso comum. Alis, a caracterstica essencial da esfera da poltica a
sua vinculao direta s necessidades prticas da vida cotidiana e aos
interesses materiais dos diversos grupos/classes sociais. atravs da poltica,
legitimados pela atuao em nome dos interesses pblicos, que os indivduos,
os grupos e as classes sociais buscam tambm os seus interesses
particulares. Ento, a atividade poltica despida de sua aparncia abstrata e
estabelecida firmemente no cho da vida cotidiana dos indivduos concretos.
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pressuposto expressa exatamente isso. Todo texto de teoria poltica clssica ,
dentre outras coisas, um retrato mais ou menos acurado de uma determinada
conformao histrica de uma sociedade particular. Assim, atravs da anlise
dos textos de teoria poltica clssica podemos aprender muito sobre a
organizao social, a estruturao do poder, os antagonismos entre grupos,
etc. da sociedade da qual proveio.
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realidade efetiva, da investigao da realidade do ser (do Estado em suas
diferentes manifestaes histricas), eles acabam inevitavelmente resvalando
para preocupaes prescritivas, pertencentes ao plano do dever ser. Ainda
assim, exatamente esta complexa dialtica entre os planos da descrio e da
prescrio ou do normativo o elemento distintivo do texto de teoria poltica
clssica.
3. Justificativa
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Esta necessidade de retornar ao conceito clssico de democracia, tal
como elaborado pela prxis histrica do cidado-campons da Atenas do
Sculo V a.C., decorre do fato de que o processo histrico que resultou na
construo da democracia moderna diverge radicalmente daquele que produziu
a democracia clssica ateniense, gerando dois modelos profundamente
divergentes: o primeiro modelo (...) eleva o demos condio de cidadania;
enquanto o segundo resulta da (...) afirmao pelos prprios senhores de sua
independncia em relao s reivindicaes da monarquia (WOOD, 2011, p.
177). Deste modo, a abrangncia do projeto se ampliou, exigindo uma
investigao comparativa entre os conceitos de democracia clssica e
democracia moderna, entendendo essa ltima como sendo constituda pelo
modelo liberal e pelo modelo socialista. O contraste entre a democracia
clssica e a democracia moderna permitir produzir um conceito operacional
de democracia muito mais rigoroso do que as definies estipulativas e lxicas
existentes atualmente, servindo ainda para qualificar as diversas experincias
concretas de democracia existentes no mundo contemporneo.
4. Problema de Pesquisa
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Qual o conceito operacional de democracia socialista? Qual a sua
vinculao com o conceito clssico de democracia (democracia ateniense)?
5. Objetivos
6. Hipteses
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H2. O deslocamento do sentido original do conceito de democracia, entendido
como governo pelo demo para governo pelos proprietrios, decorre da
especificidade do processo histrico e das foras sociais envolvidas na
construo da democracia liberal.
7. Procedimentos de pesquisa
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histrico especfico no qual se forjou o conceito moderno de democracia. A
transio do Antigo Regime para a modernidade capitalista madura foi marcada
pela crise e pela turbulncia, propiciando uma aproximao significativa entre
teoria e prtica, permitindo que as ideias fossem utilizadas pelos diversos
grupos e classes sociais como armas de combate poltico na delimitao do
conceito de democracia.
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1978, P. 353). O primeiro tipo, ou constructo de primeira ordem, uma
criao puramente mental expressa pelo ideal humano subjacente
elaborao terica em questo:
Ou seja, a teoria poltica de cada autor especfico pode ser vista como
uma contribuio formal designada para resolver o problema de como a
participao popular nas decises deveria ser limitada, de como as instituies
polticas deveriam ser organizadas e, finalmente, de que modo o significado
original/etimolgico de democracia deveria ser ressignificado para se adequar
nova configurao de foras presente na sociedade moderna. A anlise atenta
das obras selecionadas deve procurar responder a um conjunto de questes
nucleadas em torno da realizao do ideal humano proposto por cada autor: i)
quem deve governar?, ii) quem deve ser governado?, iii) quem o povo?, iiii)
como o governo de classe pode ser mantido ou revertido? etc.
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de eloquncia ou expressividade utilizados pelos tericos para persuadir os
leitores da veracidade e legitimidade das ideias defendidas em suas obras.
Incluem o recurso cincia, religio, teologia, metafsica, psicologia, tica,
lgica etc. Se a apreenso do ideal humano defendido por cada autor nos
permitir identificar o ponto de vista social a partir do qual ele intervm na
conformao do conceito moderno de democracia, o acesso aos recursos
expressivos utilizados por ele nos ajudar a entender por que o modelo de
democracia hoje em vigor adquiriu plausibilidade e se tornou hegemnico.
8. Cronograma
Referncias Bibliogrficas:
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FOUCAULT, Michel. Histria da Sexualidade 1. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
FOUCAULT, Michel. Do governo dos vivos. So Paulo/Rio de Janeiro:
Achiam, 2010.
TULLY, J. (Ed.). Meaning and contexto: Quentin Skinner and his critics.
Princeton: Princeton University Press, 1988.
WOOD, Ellen Meiksins. The social history of political theory. In: Citizens to
Lords: a social history of western political thought from Antiquity to the late
Middle Ages. London: Verso, 2011.
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WOOD, Neal. The social history of political theory. Political Theory, v. 6, n. 3,
p. 345-67, 1978.
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Roteiro sugerido para o texto que ser debatido pelos professores nos
encontros (enviar com antecedncia para fundamentar o
debate/discusso):
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3. Descrio sucinta do processo da luta de classes (identificao da classe
dominante, das classes subalternas, dos diversos partidos, do jogo poltico,
das reformas e contrarreformas, etc.).
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