Aula Plinio
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BRASIL CONTEMPORÂNEO
Plínio de Arruda Sampaio JR
I. Introdução
2 .O padrão de reciclagem da dívida externa foi armado para viabilizar a gradativa diminuição da carteira dos bancos privados nos países devedores, a diversificação do risco de
suas aplicações e o fortalecimento de sua base de capital. A propósito ver, Devlin, R., La deuda externa vs. el desarrollo económico: America Latina en la encrucijada", Santiago,
Estudios CIEPLAN 17:69-100, septiembre, 1985;.Sampaio Jr., P.S.A., “Auge e declínio da estratégia cooperativa de reciclagem da dívida externa”, São Paulo, Novos Estudos
Cebrap, No. 25, 1989.
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3 . A hipótese aqui desenvolvida é a de que foi a ação do Estado que evitou que a fuga generalizada para a liquidez provocasse uma violenta crise de liquidação de ativos
produtivos. Na primeira metade dos anos oitenta, tal estratégia se traduziu em medidas que procuravam compatibilizar a geração de megasuperávits comerciais com a preservação
de um patamar de demanda efetiva suficiente para evitar crises abertas de liquidação. Para tanto, foram tomadas medidas destinadas a contrabalançar os efeitos da contração do
mercado interno sobre a contabilidade das empresas, tais como estímulos às exportações, estatização da dívida externa e defesa artificial da rentabilidade corrente do grande
capital industrial. Na segunda metade da década, o crescente risco de que os grandes detentores de riqueza financeira fugissem concentradamente para ativos reais e moeda
estrangeira colocou a política econômica integralmente a reboque dos movimentos especulativos do mercado financeiro e dos grandes grupos exportadores. Conciliar os
compromissos assumidos com os credores internacionais com a preservação da confiança na moeda nacional tornaram-se, assim, os dois principais desafios das autoridades
econômicas. A impossibilidade de alcançar simultaneamente essas duas metas levou à adoção de um padrão de gestão econômica que combinava a suspensão temporária dos
pagamentos aos credores internacionais com a administração ad hoc da tendência à aceleração inflacionaria. Sem raio de manobra para arbitrar o nível das taxas de juros e as
condições de liquidez dos ativos financeiros, a política antiinflacionária ganhou um caráter paradoxal, assumindo a forma ora de uma estratégia de "choques" - destinados a
controlar diretamente os preços e desindexar a economias, quando o processo inflacionário ameaçava fugir completamente de qualquer controle -, ora de uma política de
"coordenação" dos aumentos de preços e reindexação da economia, quando, após a liberação dos preços, a aceleração inflacionaria voltava a ganhar ímpeto. Cardoso de Mello,
J.M. e Belluzzo, L.G.M. (org.), FMI x Brasil - A armadilha da recessão, São Paulo, Gazeta Mercantil, 1984. Ler também, Sampaio Jr., P.S.A., Padrão de reciclagem da dívida
externa e política econômica no Brasil em 1983 e 1984, Campinas, mimeo, Tese de mestrado, 1988, capítulos 3 a 7; CEBRAP/FUNDAP, "Ajustamento e estabilização no Brasil
nos anos oitenta", São Paulo, mimeo, Relatório de Pesquisa FUNDAP, 1990.
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4 . Simboliza de maneira emblemática a nova escala de prioridades das classes dominantes brasileiras a consigna do candidato Collor de Mello: "o carro brasileiro é um carroça".
Florestan Fernandes fez a crônica do processo político que desembocou na liberalização da economia em artigos publicados na imprensa, sobretudo na Folha de São de Paulo.
Alguns desses artigos foram reunidos nos livros Democracia e Desenvolvimento, São Paulo, Hucitec, 1994; e Em busca do Socialismo, São Paulo, Xamã, 1995
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5 . Tal processo se consubstanciava em um padrão de absorção de mão-de-obra, de acordo com o qual os trabalhadores expulsos do campo tendiam a ser empregados em
atividades de baixa produtividade nas cidades à espera de sua eventual absorção nas atividades industriais de elevada produtividade. A propósito ver, Rodríguez, O. “Agricultura,
subempleo e distribución del ingresso”, São Paulo, mimeo Cebrap, 1983.
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6 . A propósito ver, Furtado, C., “ Brasil: A Construção Interrompida”, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1992
7 . Florestan, F., “Nem Federação nem democracia”, São Paulo, Revista São Paulo em Perspectiva, Vol. 4, No. 1, 1990.
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8 . Esta síntese deve ser vista como contraposição tanto à idéia de que dependência e desenvolvimento poderiam
marchar em paralelo - formulação que alimentava as ilusões desenvolvimentistas das classes dominantes brasileiras
desde Juscelino Kubitschek - quanto à idéia de que “o Brasil não é um país subdesenvolvido mas um país injusto” -
proposição que orienta a visão das atuais autoridades brasileiras.
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RESUMO:
Palavras-chave:
crise brasileira, Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff,
programa democrático-popular, revolução brasileira.
ABSTRACT:
Key words:
Brazilian crisis, Workers Party, Dilma Rousseff, popular-
democratic program, Brazilian revolution.
Texto 3
A Exaustão da Nova República