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1191-Texto Do Artigo-4892-1-10-20130523

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SEXO

E SEXUALIDADE
NO MUNDO MODERNO

RODRIGO BARROS GEWEHR


TÂNIA MARIA HETKOWSKI

Aceito para publicação em outubro de 2001


RESUMO

Visa o presente ensaio a entender alguns deslocamentos de


sentido gerados pelo discurso social. Nosso enfoque partirá de
uma rápida visualização de como a linguagem contribui para
que tenhamos uma mudança na abordagem de determinados
temas. A partir deste ponto, trataremos de buscar entender a
distinção entre sexo e sexualidade e as particularidades exis-
tentes em cada um destes significantes. Nosso objetivo é en-
tender as vicissitudes da sexualidade no mundo contemporâ-
neo, os lucros e prejuízos do uso que se faz do corpo, do sexo
e da sexualidade.

Palavras-chave: sexualidade, linguagem, discurso social,


modernidade.

C o n t e x t o e E d u c a ç ã o - E d i t o r a U N I J U Í - A n o 1 6 - nº 6 4 - O u t . / D e z . 2 0 0 1 - P. 8 1 - 1 0 7
SEXO Y SEXUALIDAD EN EL MUNDO MODERNO

RESUMEN: El presente ensayo intenta entender algunos


desplazamientos de sentido generados por el discurso social.
Nuestro enfoque partirá de una rápida visualización de cómo
el lenguaje contribuye para que tengamos un cambio en el
abordaje de determinados temas. A partir de este punto, trata-
remos de buscar entender la distinción entre sexo y sexualidad
y las particularidades existentes en cada uno de estos
significantes. Nuestro objetivo es entender las vicisitudes de la
sexualidad en el mundo contemporáneo, los lucro y perjuicios
del uso que se hace del cuerpo, del sexo y de la sexualidad.

Palabras-clave: sexualidad, lenguaje, discurso social,


modernidad.

SEX AND SEXUALITY IN THE MODERN WORLD

ABSTRACT: It aims at the present essay to understand some


shifts of direction generated by the social speech. Our approach
will leave of a fast visualization of as the language contributes
so that let us have a change in the boarding of determined
subjects. From this point, we will treat to search to understand
the distinction between sex and sexuality and particularities in
each one of these sifnificant ones. Our objective is to understand
the vicissitudes of the sexuality in the contemporary world, the
profits and damages of the use that if makes of the body, the sex
and of the sexuality.

Keywords: sexuality, language, social speech, modernity.


SOCIEDADE DOS EUFEMISMOS

T rata-se de um momento de grandes contradições este em que


vivemos. Ao mesmo tempo que a “tela global” nos traz continua-
mente mensagens de um mundo caótico e desestruturado, mergu-
lhado em racismos, fundamentalismos, crises econômicas e sociais,
vive-se a era do grande progresso, das mais efetivas tentativas do
ser humano de dominar a natureza, grande fonte de sofrimento para
64 um homem demasiadamente frágil, como já alertara Freud (1996a).
O eufemismo é uma figura de linguagem que “...consiste na
substituição de uma palavra ou expressão com sentido desagradável
por outra, com a finalidade de amenizar seu significado” (Mesquita,
1996, p.542). O essencial no momento é compreendermos que esta
figura de linguagem gera dois movimentos no discurso: há um des-
locamento da mensagem original com a finalidade de diminuir o im-
pacto de uma mensagem dolorosa ou chocante. São dois movimen-
tos interligados – o deslocar1 e amenizar – que geram um novo pa-
norama de um assunto potencialmente perturbador.
Podemos transpor o campo lingüístico e observar quanto o
eufemismo está impregnado em nossa sociedade. Há vários deslo-
camentos fundamentais no discurso moderno, diversas tentativas
de se amenizar o mal-estar na civilização, de arrefecer a discussão
crítica do que se passa com o mundo e a humanidade, e com a
própria condição do homem perceber sua humanidade.
Hoje em dia não há mais “deficientes”, há “portadores de
necessidades especiais”. Paradoxo de uma sociedade que exclui pela
inclusão, que não suporta a diferença, a alteridade, e marca o indese-
jável que é o outro pela aceitação de nuanças cada vez mais variadas,
de comportamentos cada vez mais gritantes, os quais são tornados
parte da norma social vigente. E não há mais com que se ocupar,
pois tudo é parte dessa sociedade polimorfa, para não dizer mons-
ANO 16
truosa. Tudo é normatizado, categorizado, distribuído em “tribos”,
em bolsões culturais. O máximo que pode ocorrer é que uma tribo
OUT./DEZ.
entre em atrito com a outra, mas é tudo parte de um processo de
harmonização e de um futuro mundo sem fronteiras.
2001
Outro eufemismo mordaz de nossa sociedade é a propaganda
da diminuição das distâncias. “Acesse a Internet e tenha o mundo
83 em suas mãos”, “com a televisão se tem o mundo em casa em tem-
po real”. Novos mitos para uma nova era. Nesse sentido a humani-
dade caminha como sempre caminhou. Sempre se apegando a mitos
e suportes simbólicos, porém agora se trata da tecnologia, da
cientificidade. Para não incorrermos em grave erro, cabe lembrar as
palavras de Françoise Dolto:
“...a humanização jamais se faz a partir apenas do objeto parcial,
seja a voz ou o olhar. Por isso a gente pode perguntar o que será
das gerações que vão ter por ego ideal o computador ou o robô,
máquinas lógicas, desprovidas de sensibilidade. A cibernética 64
pode ser, é verdade, um modelo do simbólico, mas com a condição
de não ser desconectada de outra estrutura que é a da sensibilida-
de própria dos humanos” (Dolto, 1989, p.176).

Eis um discurso recalcado em nosso dia-a-dia. Não se fala


muito nas emissoras de televisão, em jornais e revistas, acerca das
conseqüências de um mundo cada vez mais tecnológico, de um
mundo onde as relações humanas arrefecem a largas vistas. É da
ordem do recalque chafurdar tais campos que poderiam levantar
suspeitas sobre a ordem vigente, sobre o plano político-econômico
de transformar o mundo em uma placa de silício, ou em seres clones.
É o próprio fantasma de narciso que ronda a condição humana des-
de sempre e irrompe na modernidade com força total.
Baudrillard (1992) afirma que:
“...a tecnologia psicobiológica, todas as próteses informáticas e
as redes eletrônicas de auto-regulação de que dispomos ofere-
cem-nos uma estranha espécie de espelho bioeletrônico no qual,
a partir de agora, qual um narciso digital, cada um de nós vai
deslizar no fio de uma pulsão de morte e precipitar-se numa ima-
gem. Narciso = narcose” (p.190).

Através de uma repetição incessante dos mesmos temas, re-


correndo-se constantemente ao repetido da mídia, o homem projeta
ANO 16 suas angústias e incertezas e as vê refletidas diariamente na tela da
TV ou em outros meios bastante difundidos como os jornais, revis-
OUT./DEZ. tas, rádios e, atualmente, os computadores. Dessa forma o espelho
de narciso não é mais o lago e sim a mídia, com o agravante de que
2001 este espelho não reproduz imagens apenas; cria outras tantas que se
aliam às esperanças, desejos e temores das pessoas, aguçando o
imaginário da população, tornando-se, assim, narcótico, entorpe-
cente. 84
Apesar de este discurso soar um tanto quanto apocalíptico,
ele se tece a partir da constatação de que o mundo não suporta suas
dores, não suporta ferir seu narcisismo a ponto de proceder a uma
introspecção séria sobre sua condição (Freud o fez, mas faz parte
do sintoma moderno rechaçá-lo e tornar suas descobertas exageros
interpretativos (Roudinesco, 2000) – mais um eufemismo dentre
tantos existentes). Huxley parece de fato atual. Qual será a fórmula
moderna do “soma”?
64 Já temos as “salas de fecundação”; na televisão, uma versão
moderna do “cinema sensível” e, com formas subversivas ou não,
diversas qualidades de “soma”: desde as drogas ilícitas até a nova
onda da felicidade pela via dos psicofármacos. É um “admirável
mundo novo” onde a estabilidade é o critério de felicidade, tal qual
previra Huxley.
“Atualmente – eis o progresso – os velhos trabalham, copulam,
não têm tempo, não lhes sobra tempo do prazer, nem um momento
para sentar e pensar – ou se acaso alguma oportunidade infeliz
lhes abrisse um tal abismo na substância sólida de suas distra-
ções, há sempre o recurso ao soma, o delicioso soma...” (Huxley,
1980, p.80).

Mesmo em se falando tanto no aumento do tempo para lazer,


realidade distante do contexto sul-americano, ao menos para a
maioria arrasadora da população, tal tempo está tão impregnado de
novidades, tecnologias, frivolidades eletrônicas, que se pode duvi-
dar da qualidade de tal lazer. Trata-se de um lazer movido pelos
símbolos da sociedade tecnológica e consumista.
Já observamos em trabalho anterior2 que os adolescentes pas-
sam grande parte do dia em frente à televisão, tornando esta um
meio de entretenimento e descanso para suas mentes fatigadas e
estressadas. Na atualidade até mesmo lazeres campestres, em meio ANO 16
à natureza, já são agenciados por empresas especializadas. A aven-
tura se torna calculada, quem pensa nos riscos são os guias e agen- OUT./DEZ.
tes de aventura. Cabe a cada um apenas pensar no risco que corre
sua própria pele e divulgar a aventura na qual se embrenhará. De- 2001
pendendo do quão engenhosa seja a aventura ou os contatos com a
mídia, pode-se, ainda, conseguir uma reportagem especial em al-
85 gum programa de televisão.
Outro símbolo máximo de nossa sociedade é a saúde, emba-
lada pelas práticas desportivas, suposta proteção contra as drogas, e
a boa alimentação. Novamente instala-se o contraste, a contradição.
A Olimpíada de Sydney, realizada no ano 2000, foi um marco histó-
rico para os jogos olímpicos, não pela beleza ou pelo brilhantismo
dos atletas, os quais, obviamente, mantêm seu valor, mas porque o
“o doping derrotou os jogos”, de acordo com a revista Veja, em
edição de outubro de 2000.
Nesta Olimpíada foi exorbitante o número de atletas pegos 64
em doping, a ponto de o jornal The New York Times propor o doping
como nova categoria olímpica. Mais um retrato da sociedade dos
contrastes e dos eufemismos. Por trás do discurso de uma vida
saudável, no evento de maior importância do esporte, supostamente
local de saúde, descobre-se toda uma série de estratégias químicas
para se vencer, para se conquistar a fama, o dinheiro e o reconheci-
mento mundiais. E a saúde? Esta se mantém nas propagandas, na
estética, na aparência.

Simulação versus originalidade


Notadamente, a sociedade que tem como bandeira a tecnologia,
o desenvolvimento e o progresso não é mais lugar para a originalida-
de. Esta aparece de forma muito escassa e sobretudo de forma a
buscar um afastamento do “status quo”, como, por exemplo, o
“mundo mix”. Todavia, nossa sociedade tem como característica
marcante “aceitar” o diferente, incluí-lo para não compreendê-lo.
Tudo é possível desde que a estrutura básica e fundamental não se
altere. Ou seja, permanecendo o poder e o domínio econômico, po-
lítico, social e cultural onde então tudo é aceitável, tudo pode ser
assimilado.
ANO 16 Os adolescentes sentem esse drama na pele, como se usa
dizer, haja visto que seus comportamentos contestatórios, hoje ex-
OUT./DEZ. tremamente arrefecidos e identificados com os ideais da era do con-
sumo, são rapidamente assimilados por essa sociedade. Trata-se de
2001 um problema complexo, pois os adolescentes constroem suas atitu-
des de contestação e demarcação da diferença a partir do que a socie-
dade fornece, como sempre se fez. Acontece que nossa sociedade
pouco faz para dar suporte simbólico ao que oferece. Tudo vale pelo 86
simples fato de estar aí. E não há o que contestar pois as bandeiras
erigidas pelo adolescente são assumidas e louvadas pela sociedade,
restando aos adolescentes o mal-estar de se ver desamparado e mis-
turado ao mundo adulto, sem de fato poder usufruir deste.
Segue, então, um movimento de eleger novas atitudes, que
hoje em dia se multiplicam com a mesma velocidade com que são
furtadas pelos adultos. É uma espécie de autofagia narcísica: a socie-
dade produz os modelos para os adolescentes e depois que os ado-
64 lescentes os assumem, os adultos passam a utilizá-los, talvez para se
identificarem com a juventude, inexoravelmente perdida (e desespe-
radamente procurada. Nunca esteve tão na moda a busca da fonte
da juventude, hoje tecnologicamente forjada pelos bisturis dos cirur-
giões plásticos, nas sessões com esteticistas, nos fármacos para
emagrecimento, nas academias, nas práticas alternativas, entre tan-
tas outras).
Calligaris (2000) afirma que
“Em todas as suas tentativas de desafiar e provocar, o adolescen-
te encontra uma dificuldade: por mais que encontre maneiras de
se enfeitar, de se distanciar do cânone estético e comportamental
dos adultos, a cada vez, rapidamente, a cultura parece encontrar
jeitos de idealizar essas maneiras, de transformá-las em comporta-
mentos aceitos, até desejáveis e invejáveis. Ou seja, o adolescen-
te descobre que sua rebeldia não pára de alimentar os ideais
sociais dos adultos” (p.53).

Isso se torna gradativamente mais intrigante e gerador de es-


téticas no mínimo perturbadoras. Chega-se ao cúmulo de marcar na
própria carne a diferença, como o fazem os adeptos do “Body
Modification” (modificação do corpo), incluindo modalidades como
a tatuagem, velha conhecida e já bem difundida entre adultos e
crianças, Piercing, Branding, que consiste em marcar a pele com
ferro quente, e o Cutting, no qual a pessoa recebe cortes com o
objetivo de formar cicatrizes. Tais técnicas, direcionadas ao real do ANO 16
corpo, demostram o quanto está sobrecarregada a corporeidade em
nossa sociedade. OUT./DEZ.
Além do já exposto, tentativa de demarcar a diferença, tais
utilizações do corpo denunciam o avesso de toda a pregação moder- 2001
na rumo a um corpo perfeito. Este movimento intensifica-se na medida
em que o corpo assume cada vez mais o papel central em nossa
87 sociedade.
Interessante ressaltar que a cultura procura assimilar todos
esses movimentos tornando-os despojados do conteúdo simbólico
contestatório que teriam. A revista Veja, na reportagem “A vida é
uma fantasia”, de 6 de setembro de 2000, afirma, a respeito de um
movimento dos adolescentes japoneses, que eles não são rebeldes
nem têm causa, com o que não podemos concordar. Diz a revista:
“...cabelos loiros, pele bronzeada, unhas enormes, colar de bú-
zios, piercings, cabelos punk, grifes francesas. Diferente é a atitu-
de. Os punks não são agressivos, os clubbers não caem no emba- 64
lo, os rasgados não protestam contra nada. A idéia é simplesmen-
te curtir o figurino.” (Oyama, 2000, p.82-83)

É exatamente pela inserção de suas atitudes e comportamen-


tos na cultura que se produz essa mudança na atitude, que corresponde
a uma perda no aporte simbólico de tais práticas. Não é que os
adolescentes não sejam rebeldes ou não tenham causa. Acontece
que, na linha de raciocínio exposta por Calligaris (op.cit., p.58), a
adolescência passou a ser ideal cultural, a juventude procurada a
qualquer preço, o que torna os movimentos do adolescente
desinvestidos de poder demarcatório, de poder de ruptura. É difícil
para o adolescente crescer, é uma árdua batalha encontrar uma mar-
ca que o distinga de um mundo adulto devorador. Talvez o sem
sentido de suas práticas seja a resposta ao sem sentido fornecido
pelo mundo adulto: você deve crescer mas eu quero rejuvenescer
(Calligaris, op.cit., p.74), nem que isso me custe a saúde e a vida,
nem que para isso eu assuma uma postura adolescente.
São várias as apologias à adolescência, mostradas reitera-
damente na mídia, enaltecendo o modo de vida adolescente e reti-
rando do discurso o caráter transitório e conflitivo do processo.
Tudo é absorvido pela imagem, pela publicidade de um estilo de vida
“teen”. Todos os modelos são admitidos, haja vista que são mode-
los, moldes, aparência, “objetos a serem reproduzidos por imita-
ANO 16
ção”, que se tornam mais cristalizados na medida em que são apre-
sentados como a realidade última, paralisando o questionamento acer-
OUT./DEZ.
ca do que a aparência esconde. Ou seja, a aparência tornou-se sinô-
nimo de transparência, algo já elaborado por Baudrillard (1992) no
que se refere à sedução.
2001
Do singelo ao grotesco tudo é show na sociedade do espetá-
culo, cujo modelo mundial é a sociedade norte-americana, confor-
me Baudrillard (1986): 88
“Tudo é retomado pela simulação. As paisagens pela fotografia,
as mulheres pelo roteiro sexual, os pensamentos pela escrita, o
terrorismo pela moda e pela mídia, os acontecimentos pela televi-
são. As coisas só parecem existir por esse estranho destino. Pode-
se perguntar até se o próprio mundo existirá apenas em função da
publicidade que pode ser feita dele num outro mundo” (p.29).

Com isso, através das idéias deste eminente sociólogo fran-


cês, podemos notar como o tecnológico permeia a vida e a significa-
64 ção dos acontecimentos na sociedade atual. E, além disso, promove
um deslocamento do fato em si para o que dele é mostrado, o que
dele é suscetível de virar espetáculo na mídia. Por isso “tudo é reto-
mado pela simulação”. Cada evento possui um potencial para retornar
ao público através da mídia, o que torna esta o grande valor de base
para qualquer ato ou atividade. Assim, o valor em si de algum acon-
tecimento torna-se irrelevante, pois o mais importante é, agora, a
possibilidade ou não de aumentar os pontos no IBOPE.
Outro fator aliado à esta dinâmica é que entre o fato e sua
imagem na mídia cria-se uma distância extremamente grande, a qual
é mascarada pela propaganda de que a televisão transmite os fatos
em tempo real. Nesse ínterim, nessa brecha no espaço-tempo dos
acontecimentos, tudo pode ser reformulado, refeito, rarefeito. Tudo
pode ser tornado diferente simplesmente pela forma como é apre-
sentado, por isso, novamente, a simulação de que fala Baudrillard
(1986).
Vejamos um exemplo típico da simulação do real apresentada
pela mídia. Quando da morte do rei Hussein da Jordânia, em feverei-
ro de 1999, dois jornais de nível nacional apresentaram a notícia de
forma substancialmente diferentes, dando margem a compreensões
distintas do fato ocorrido. A Rede Bandeirantes afirmou que no en-
terro do referido rei havia apenas um líder ocidental, o então presi-
ANO 16
dente da França, Jaques Chirac. Já a Rede Globo, noticiou que na
morte do rei Hussein estiveram presentes vários líderes entre eles OUT./DEZ.
Jaques Chirac. Há aqui uma sutil, mas relevante diferença. Sem en-
trar no mérito das causas de tal encobrimento, o que se pode de 2001
imediato inferir é que na notícia veiculada pela Rede Globo o mundo
inteiro está incluído na participação às exéquias do rei Hussein, for-
89 necendo, através do não-dito, um panorama de integração mundial.
Por sua vez, a Rede Bandeirantes deixa claro que o Ocidente pouco
participou naquela cerimônia fúnebre, que teve participação dos prin-
cipais líderes do Oriente e de apenas um líder Ocidental.
Assim, mais um eufemismo de nossa sociedade é “ver os
fatos em tempo real”, porém, o que não se diz é que os fatos vistos
são sempre distantes, filtrados pela lente da mídia, traduzidos pelas
falas dos repórteres e selecionados pelas mesas de edição. Vai aí
uma grande distância até os fatos. Outro não-dito de grande signifi-
cado é que os fatos são selecionados a partir da ótica vigente em 64
nossa sociedade. Isso, por si só, não traz grandes esclarecimentos,
pois tudo é possível de ser noticiado, até mesmo o que aparente-
mente seria contrário ao sistema, pois televisão é entretenimento
acima de tudo, apesar de ser socializadora nas entrelinhas de sua
diversão e informação.
Sodré (1984) fala do quanto os media podem incluir pontos
de vista diferentes sem, no entanto, irem de encontro à estrutura que
os sustêm, a qual, de acordo com seu argumento, é par com o
Estado no qual está inserido o meio de comunicação:
“...os meios de informação (os media) constituem em conjunto um
aparelho que realiza ideologicamente o poder de estado. Essa
realização é sempre contraditória, uma vez que no interior do apa-
relho podem chocar-se forças políticas conservadoras e transfor-
madoras ou correntes ideológicas retrógradas e inovadoras – (...).
em qualquer dos casos, porém, o aparelho informativo se articula
ideologicamente com a classe que controla o Estado e se investe
de sua estrutura, isto é, assume a forma geral do poder de Estado”
(p.21).

Podemos constatar diariamente a verdade de tal argumenta-


ção. Nossa sociedade capitalista vê seus meios de comunicação pro-
fundamente impregnados de campanhas e discursos que corrobo-
rem o sistema: Capitalismo, Consumismo, Globalização. Cânones
ANO 16
do nosso mundo contemporâneo, bandeiras que admitem até mes-
mo seus opositores, dada a força com que propagam seus ideais.
OUT./DEZ. Assim, não há porque impedir que o Brizola vá constante-
mente à televisão para atacar o Governo Federal. Trata-se apenas de
2001 um jogo que se repete sem cessar e desloca, mais uma vez, o dis-
curso. Essas querelas servem como atrativos, “bois de piranha” para
que as discussões de relevância cheguem aos nossos ouvidos após
terem sido decididas. 90
Trata-se de uma ficção. A tal ponto se credita valor em ilu-
sões como, por exemplo, a opinião pública, que em janeiro, quando
da convocação extraordinária da Câmara de Deputados e do Senado
Federal, para a votação de Medidas Provisórias; um deputado rela-
tou em rede nacional que a pressão da opinião pública os fez agilizarem
o processo de votação. O que, na ocasião, foi omitido pelo senhor
deputado é que a dita agilização só ocorreu após ter sido pago o
valor extra pela convocação fora de hora. Dessa forma funciona o
meio de comunicação, criando mitos que façam parecer real o que é
64 apenas uma invenção da própria estrutura social vigente.
Há que se considerar, ainda, que o mundo em tempo real é
uma forma de entorpecimento, pois o real não pode ser assimilado
com tanta facilidade quanto se apregoa, e sob a égide desse constan-
te contato com o real do mundo, apaga-se a realidade do dia-a-dia,
de nossas pequenas misérias diárias, de nossa realidade social local e
também pessoal. É a linguagem da sedução que impera, linguagem
essa que desloca a atenção para locais outros que não nosso
microcosmo orgânico, subjetivo e social.
A simulação impera se comparada à originalidade. Seria, tal-
vez, a própria era da sedução que se instala? Haja vista que podemos
pensá-la, a partir de Baudrillard (1992), como simulação, como jogo
que opera um deslocamento de sentido?

SEXO E SEXUALIDADE
Da sedução pode-se reter que se trata de um jogo cujo objeti-
vo é a conquista. Arma sobretudo feminina de acordo com Kehl
(1998), exige estratégia e véu. Sempre se encobre a intenção que se
mostra apenas no ato da conquista. Cabe lembrar que, de acordo
com Baudrillard (1992), a sedução no campo feminino vem perden-
do terreno na medida em que o sexo torna-se mais e mais evidente e
ANO 16
que a mesma sedução deslocou-se para a mídia que a utiliza sobre-
maneira para transmitir seus conceitos e ideologia.
OUT./DEZ.
Que lugar ocupa, então, a mulher na atualidade? Tamanho
apelo ao sexo, usual no mundo contemporâneo tem dado poder à 2001
mulher, ou, por outro lado, trata-se de mais uma adequação a um
discurso masculino que se mostra novamente superior e dominador,
91 como aconteceu nos séculos XVIII e XIX de forma tão evidente?
Para que possamos ir mais além neste tema, faz-se necessá-
rio que entendamos uma diferenciação bastante tênue, mas que, em
nosso entendimento, pode ser importante instrumento para enten-
dermos de que forma sutil a sexualidade continua sendo um assunto
de difícil acesso, entendimento e transformação, apesar da aparente
facilidade com que temos acesso à ela em nossa sociedade.
É comum vermos cenas de sexo na televisão, referências mais
ou menos explícitas não ao romance, isso já não vende mais produto
algum, mas sim ao ato sexual, ao corpo, aos ícones contemporâneos 64
de beleza: corpo magro, seios fartos, nádegas grandes e firmes, au-
sência de barriga (para as mulheres); corpo forte, músculos bem
delineados, novamente ausência de barriga (para os homens), entre
outras características.
Uma estatística relativa aos Estados Unidos, elaborada em uma
pesquisa realizada no ano de 1988 afirma que:
“Na televisão, a cada ano, as crianças e adolescentes norte-ame-
ricanos vêem quase 14.000 referências, sugestões e comporta-
mentos sexuais, poucos dos quais envolvendo o uso de con-
traceptivos, autocontrole, abstinência ou responsabilidade.”
(Strasburger, 1999, p.53)

Desconsiderando a forte tendência norte-americana a com-


preender que basta moralizar para resolver, que em se diminuindo o
número de sugestões ao sexo a sexualidade seria melhorada, trata-se
de uma estatística denunciadora de quanto o sexo vende produtos e
de quanto o sexo é chamariz, ou seja, capta a atenção dos
telespectadores. Por quê? Cabe perguntar.
Será porque sexo é bom e todos gostam de ver (alguns tam-
bém de fazer)? Ou podemos estar diante de um mecanismo
metonímico que revela a dificuldade de se trabalhar com a sexuali-
dade, tanto real quanto simbolicamente?
ANO 16
Dificuldade real, pois que a relação com o outro é e sempre
OUT./DEZ. será um complicador da vida humana; e complicação simbólica, pois
o discurso contemporâneo faz uso de uma superexposição do sexo,
2001 sem, no entanto, fornecer soluções às angústias inerentes a esse
tema. Antes, o que se faz é vincular seu poder de ação e paralisação
a objetos que amenizam ilusoriamente a tensão gerada pela sexuali-
dade no dia-a-dia concreto de cada um. 92
A publicidade conhece bem o efeito que o apelo ao sexo tem,
tanto que faz uso de sugestões ao sexo reiteradamente. “O sexo (as
redes comerciais parecem dizer-nos) é bom para vender-se tudo,
desde xampu, máquinas de escritório, quartos em hotéis e cerveja,
durante séries em horário nobre e filmes feitos para a TV...” (Idem,
p.55).
Porém, não devemos condenar a sociedade e a mídia. Aquela
por não dar conta do seu próprio sintoma e esta por ter de utilizá-lo
64 para se manter ativa. Cabe pensarmos nos deslocamentos e dificul-
dades relacionadas ao sexo e à sexualidade para, então, entendermos
nosso sintoma.

A diferença entre sexo e sexualidade


Não podemos cair na cilada representada pela tendência em
tornar sinônimos estes dois significantes: sexo e sexualidade. Tra-
ta-se de dois signos diferentes e que não podem ser reduzidos um ao
outro, sob pena de perdermos a precisão e alcance dos termos, por
um lado, e cairmos em enganos interpretativos, por outro.
A primeira diferenciação que devemos fazer refere-se ao fato
de o termo “sexo”, proveniente do latim sexus, ser um substantivo
primitivo, ou seja, a partir desse termo formaram-se outros como
sexual, sexualismo, sexualidade. Etimologicamente, a palavra sexo
indica a “conformação particular que distingue o macho da fêmea,
nos animais e nos vegetais” (Da Cunha, 1997, p.719).
O dicionário Michaelis (1998) traz algumas acepções próxi-
mas do significado etimológico, original, da palavra, como: (2) “con-
junto das pessoas que têm a mesma organização anátomo-fisiológi-
ca no que se refere à geração: sexo masculino, sexo feminino. (5) Os
ANO 16
órgãos sexuais” (p.1933).
Contudo, ocorrem também alguns significados que ultrapas- OUT./DEZ.
sam o significado etimológico, o qual, como pudemos observar, re-
laciona-se com o orgânico, com o anatômico. Vejamos: (3) “Instinto 2001
genésico, atração sexual ou sua manifestação na vida e na conduta:
Problemas do sexo. (4) Conjunto de qualidades físicas que desper-
93 tam o apetite sexual” (p.1933). Essas duas significações (3 e 4)
extrapolam o puramente orgânico e passam a fazer fronteira com
aspectos da sexualidade ligados ao psiquismo. Quando se diz que
sexo é “...atração sexual e sua manifestação na vida e na conduta”
está-se, de fato, fugindo ao sentido etimológico da palavra e
adentrando propriamente no que consideramos a sexualidade, en-
tendendo que no âmbito da sexualidade há uma imbricação entre
aspectos físicos e psíquicos relacionados ao sexual.
Sabemos desde Freud (1996d) que a constituição sexual de-
pende de três fatores que se inter-relacionam. São eles: (1) os 64
caracteres sexuais físicos; (2) caracteres sexuais mentais e o (3)
tipo de escolha de objeto. Podemos inferir que (1) corresponde à
parte anatômica e orgânica, (2) a uma espécie de fronteira entre o
biológico e o psíquico, como explicita o autor em uma nota de rodapé
no capítulo III de “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”:
“Essa observação mostra que, no que concerne ao ser humano, a
masculinidade ou a feminilidade puras não são encontradas nem
no sentido psicológico nem no biológico. Cada pessoa exibe, ao
contrário, uma mescla de seus caracteres sexuais biológicos com
os traços biológicos do sexo oposto, e ainda uma conjugação de
atividade e passividade, tanto no caso de esses traços psíquicos
de caráter dependerem dos biológicos quanto no caso de
independerem deles” (Freud, 1996e,). (grifo nosso)

Não se pode dizer que atividade é masculina e que passividade


é feminina. Também não podemos afirmar que masculino e femini-
no são dados por si só, pela natureza. Como afirma Julien (2000),
tais traços são de ordem simbólica e têm por efeito a formação de
uma imagem do Eu. Dessa forma, os caracteres sexuais mentais
trabalham num limite muito tênue entre o instintivo e o pulsional.
Podemos mesmo pensar que a partir do real da diferença orgânica
forma-se gradativamente uma imagem psíquica através do discurso
social, está será a base dos caracteres sexuais mentais.
ANO 16
Já o terceiro elemento da constituição sexual (3) é resultado
OUT./DEZ. de conteúdos puramente históricos do sujeito. Ou seja, o modo como
um sujeito empreenderá sua escolha de objeto dependerá de como
2001 sua história foi sendo construída, de como ele teve acesso às dife-
renças dos caracteres sexuais físicos, da posição que ocupava na
rede de relações familiares, enfim, de todo o processo de constitui-
ção do sujeito, atravessado pelas tarefas pertinentes ao drama edípico. 94
O termo “sexualidade” é um derivado, cujo sufixo (-dade)
indica que se trata de um substantivo derivado de um adjetivo. Disso
podemos entender que o significante em questão procede de um
termo qualificativo e indica qualidade, propriedade, estado ou modo
de ser. Diferentemente do termo anterior, sexo, que designava ca-
racterísticas inerentes ao organismo de qualquer espécie, animal ou
vegetal; este termo trata de características que tem de ser conquis-
tadas. Entende-se que não nascem com os sujeitos pois derivam de
64 elementos já existentes. Esta conquista pode ser tanto no nível bioló-
gico, como a aquisição dos caracteres sexuais secundários, como
de nível psíquico, podendo servir de exemplo o próprio direcionamento
sexual pelo qual se optará (heterossexualidade, homossexualidade,
bissexualidade).
Vemos novamente no dicionário Michaelis (1998) que os sig-
nificados desse termo também variam desde o enfoque no orgânico,
quando diz que sexualidade é o “(2) conjunto de todos os caracteres
morfológicos e fisiológicos, externos ou internos, que os indivíduos
apresentam, conforme o sexo a que pertencem” (p.1933); até traços
que sugerem o trabalho psíquico, como: “(4) Exaltação ou recru-
descimento do instinto sexual. (5) Expressão do instinto sexual: ati-
vidade sexual” (p.1933).
Desde que não consideremos o humano um puro animal, não
é mais válido falarmos apenas de instinto sexual, cabe ressaltarmos,
também, o aspecto pulsional, o quanto de desejo está envolvido na
sexualidade humana. A atividade sexual humana não é mera expres-
são de instinto sexual, haja vista que não se faz sexo apenas quando
as fêmeas estão no cio, com finalidades meramente reprodutivas.
Freud (1996f) afirma que “novas perspectivas se nos oferecem ao
considerarmos que no homem o instinto sexual não serve original-
mente aos propósitos da reprodução, mas à obtenção de determina-
dos tipos de prazer” (p.194).
ANO 16
Essa é a grande via de diferenciação dos homens para os ani-
mais, no que tange à sexualidade. Podemos, então, inferir que ho- OUT./DEZ.
mens e animais possuem sexos semelhantes, porém a sexualidade é
fundamentalmente distinta, já que nos humanos há a busca de pra- 2001
zer; tarefa que enriquece a sexualidade e a torna também difícil de
ser compreendida, já que estão envolvidos, também, aspectos de
95 ordem psíquica.
Apenas por um exagero interpretativo pode-se tornar sexo e
sexualidade sinônimos. Sob esta perspectiva, é possível entender-
mos que se pode fazer sexo, utilizar os aparelhos sexuais em uma
conjunção física, com vistas ao prazer puramente, à reprodução, ou
aos dois combinados. É também possível que na busca do prazer
encontre-se o desprazer, e a incompreensão acerca do que é real-
mente prazer.
Pode, sim, haver uma dicotomia bem acentuada entre os dois
usos do sexual. Todavia, corre-se mais um risco se consideramos 64
que sexo é somente aquele operado pelo orgânico, com objetivos
reprodutivos, e sexualidade como exclusiva busca de prazer. Não é
este o sentido que queremos enfatizar ao dizermos que há uma dife-
rença no uso desses dois termos e que a sociedade atual opera sob
uma certa confusão e mistura de sentidos.
Fala-se muito nos meios de comunicação de sexo: sexo segu-
ro, sexo frágil, problemas do sexo, diferenças entre os sexos. Colo-
ca-se tudo no pólo do sexo e apaga-se a função do termo sexualida-
de. Há aqui um deslocamento de sentido que pode ser pensado como
uma “naturalização” de todas as atividades ligadas à sexualidade,
pois se coloca todo discurso relacionado ao sexual no significante
cuja raiz remete ao puramente orgânico, natural da espécie.
No entanto, sabe-se que grande parte da atividade sexual hu-
mana é fruto de uma construção social. Em outras palavras, “a se-
xualidade do humano é função dos efeitos de linguagem, mais que
do encontro dos corpos”, de acordo com Mannoni (1999, p.51). E
não o oposto, como freqüentemente dá-se a entender pelo que se
observa nos meios de comunicação (referimo-nos aqui principal-
mente à televisão, foco principal de nosso estudo, no que concerne
à mídia).
A obsessão pelo corpo que se pode observar na atualidade só
ANO 16 tenuamente liga-se a ideais de saúde. Há também este aspecto, no
entanto, utiliza-se esse ideal como pretexto para muitas atividades
OUT./DEZ. que se referem mais a uma sociedade narcísica do que propriamente
saudável. Não raro se vê notícias de prejuízos causados por ideais
2001 de saúde. Nota-se que inúmeras vezes busca-se um ideal de beleza e
não de saúde: o excesso de anabolizantes, de regimes, de acade-
mia... e assim por diante. Seria infinito os exemplos contraditórios
possíveis de enxergar. 96
O corpo colocado em evidência, mostrando o máximo possí-
vel os atributos do sexo. Linguagem conotativa que remete a sexua-
lidade ao visível, ao palpável; elidindo, assim, os conteúdos simbóli-
cos, a influência do discurso social nas posições masculinas e femi-
ninas e nos usos dessas duas posições.
Kehl (1998) traz a distinção entre mulher, posição feminina e
feminilidade, ressaltando que a feminilidade é um discurso social-
mente construído. Veremos a seguir algumas da modificações nesse
64 discurso da feminilidade, partindo do século XVIII, e as transfor-
mações na atitude das mulheres ocorridas desde então. Cabe salien-
tar, no momento, que “...‘homem’ ou ‘mulher’ são realmente
significantes dos quais somos dependentes...” (Mannoni, op.cit.,
p.51). Porém, com a mesma relevância, é necessário que perceba-
mos quanto os papéis para homens e mulheres são frutos da história
e não da natureza.

A mulher no discurso social


A partir do século XVIII inicia-se um movimento gradativo
das mulheres que culminará, no século XX, na emancipação femini-
na, em relação ao uso de seu corpo e à possibilidade de ocupar uma
outra posição social que não a de esposa, mãe ou dona de casa. A
liberdade sexual acabou por ganhar maior ênfase e mesmo que teó-
rica e legalmente as mulheres tivessem os mesmos direitos dos ho-
mens, até hoje ouve-se falar de casos de segregação, das diferenças
de salários para os mesmos cargos, da dupla jornada de trabalho.
Mannoni (1999) afirma que “se a presença das mulheres no
mercado de trabalho se afirmou, sua remuneração é de 30% a 40%
inferior à dos homens. (...). Às mulheres, em contrapartida, cabem
“naturalmente” os trabalhos de tipos domésticos e os empregos de
ANO 16
escritório” (p.99).
Todavia, já se consegue observar atualmente casos de mulhe- OUT./DEZ.
res muito bem sucedidas nas mais diversas áreas, desde executivas
de grandes multinacionais até comandantes de aviões, de empresá- 2001
rias bem sucedidas a grandes pensadoras e literatas; mas, trata-se
ainda de exceções e muitas vezes, tais mulheres têm de se privar de
97 outras atividades como o matrimônio e filhos para atenderem suas
responsabilidades profissionais (não estamos estabelecendo nenhu-
ma regra, existem muitas mulheres que conciliam trabalho e família,
umas pelo imperativo social, outras por desejo; da mesma forma há
mulheres que não conciliam essas duas atividades, umas por desejo,
outras por impossibilidade).
A sociedade ocidental sempre deixou à mulher um papel se-
cundário na vida social. A partir das idéias de Kehl (1998), podemos
pensar que a primeira e mais fundamental segregação da mulher está
no nível do discurso. A mulher sempre foi considerada “objeto do
64
discurso” masculino, predominante, enquanto o homem ocupa a
posição de “sujeito do discurso”. Por essa diferença perceptível já
no âmbito da linguagem é que se identifica o feminino à passividade
e o masculino à atividade.
Além dessa ruptura fundamental, podemos ver nos mais varia-
dos períodos históricos inúmeros exemplos da posição passiva ocu-
pada pela mulher. Nem mesmo a Revolução Francesa (1789), pre-
gando a igualdade de direitos, reservou melhor destino às mulheres.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) não pode,
contudo, ser chamada de mentirosa, mesmo afirmando no seu arti-
go primeiro: “Os homens nascem e são livres e iguais em direitos.
As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.3”
Se entendermos que a Declaração fala do “homem”, não como
universal, mas como gênero, e que a mulher só muito recentemente
passou a ser uma cidadã, podemos ver que não há contradição entre
o texto da Declaração e a atitude dos homens oitocentistas em rela-
ção à mulher. Dominique Godineau lembra que “a 23 de maio de
1795”, 6 anos após a Revolução Francesa, “os deputados proibirão
as mulheres de se juntarem em número superior a cinco, sob pena
de prisão” (Apud Kehl, Op.cit., p.62/63).

ANO 16
De acordo com Kehl (1998) as mulheres tiveram importante
papel na Revolução Francesa, participando de momentos decisivos
OUT./DEZ.
e mesmo encabeçando episódios importantes como o ataque à
Versalhes. A participação ativa das mulheres fundamenta-se, de acor-
2001 do com a autora, nos ideais de emancipação feminina surgidos no
Antigo Regime e fundamentados nas idéias do Iluminismo. Assim,
desde o período monárquico as mulheres buscavam emancipar-se;
aproveitaram, então, os movimentos de Revolução que rondavam o 98
século XVIII, mas causaram espanto ao se mostrarem decididas e
dispostas até mesmo a largar seus afazeres domésticos e maternos
em prol de um movimento social.
Tal sede de liberdade e direitos gera um novo discurso social
que visa a ligar a mulher, sob o disfarce de uma pretensa tendência
“natural”, à virtude, ao matrimônio, à maternagem.
“A cultura européia dos séculos XVIII e XIX produziu uma quan-
tidade inédita de discursos cujo sentido geral era promover uma
64 perfeita adequação entre as mulheres e o conjunto de atributos,
funções, predicados e restrições denominado feminilidade. A
idéia de que as mulheres seriam um conjunto de sujeitos defini-
dos a partir de sua natureza, ou seja, do corpo e suas vicissitudes,
aparece nesses discursos em aparente contradição com outra idéia,
bastante corrente, de que a “natureza feminina” precisaria ser
domada pela sociedade e pela educação para que as mulheres
pudessem cumprir o destino a que estariam naturalmente desig-
nadas. A feminilidade aparece aqui como o conjunto dos atribu-
tos próprios a todas as mulheres, em função da particularidade
dos seus corpos e de sua capacidade procriadora; partindo daí,
atribui-se às mulheres um pendor definido para ocupar um único
lugar social – a família e o espaço doméstico –, a partir do qual se
traça um único destino para todas: a maternidade. A fim de melhor
corresponder ao que se espera delas (que é, ao mesmo tempo, sua
única vocação natural!), pede-se que ostentem as virtudes pró-
prias da feminilidade: o recato, a docilidade, uma receptividade
passiva em relação aos desejos e necessidades dos homens e, a
seguir, dos filhos” (Kehl, Op.cit., p.58/59).

Em oposição a uma tendência crescente no espírito das mu-


lheres. Em outras palavras, diante do crescente desajuste entre a
mulher e o discurso social da feminilidade, o discurso social cria
novas barreiras à emancipação das mulheres, sob o pretexto de que
uma mudança na posição social das mulheres poderia fazer ruir a
sociedade. ANO 16

“As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade


comum”, como previra a Declaração dos Direitos do Homem e do OUT./DEZ.
Cidadão. Mais uma vez se cumpre o estabelecido. Pois todas as
sanções impostas, que não são meramente hipócritas, como vere- 2001
mos adiante, mas cumprem também uma necessidade social do con-
texto da época, são elaboradas por que tinha o “direito” de fazê-las,
99 ou seja, pelos sujeitos do discurso social: os homens.
Assim seguem as restrições impostas às mulheres, as quais,
com base em Kehl (1998) podem ser resumidas em duas: a alienação
política, que faz parte do conteúdo objetivo ao qual a mulher foi
privada, pois não havia de forma alguma igualdade de direitos, ou
mesmo escolha; e a alienação social, subjetiva, através da qual a
mulher foi impedida de tomar parte de grandes decisões históricas e
feitos culturais (pode-se objetar essa afirmação com o fato de que as
mulheres participaram ativamente da Revolução Francesa. A isso se
pode responder dizendo que a participação das mulheres, mesmo 64
sendo ativa, foi relegada ao segundo plano por não estar ligada às
camadas decisórias).
Na esteira de toda a restrição social, aliada à frustração amo-
rosa, à impossibilidade de exercer seu desejo, surge no século XIX
a literatura de romance direcionada para as mulheres, cujas através
deste tipo de literatura podiam compensar, não de todo, suas ânsias
por aventuras amorosas e ascensão social. No final do século XIX e
início do século XX, Freud passa a escutar mulheres que sofrem de
uma doença denominada neurose, a qual consistia uma denúncia
ininteligível para a sociedade da época da contradição profunda em
que as mulheres tinham submergido:
“...entre as aspirações inculcadas por uma educação “acima de
suas condições” e as decepções de um casamento que não tem a
lhe oferecer mais do que a continuidade de sua vida comum, as
Bovarys4 do século XIX continuam a ser tomadas como objetos
do que os homens tinham a lhes oferecer ou lhes demandar” (Kehl,
Op.cit., p.172).

A crescente demanda moderna de “escrever sua história com


as próprias mãos” entra em contradição com a liberdade dada às
mulheres e isso gera perturbações que as faz sucumbirem à neurose.
Voltando à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
ANO 16 lemos no artigo seis: “Todos os cidadãos são iguais a seus olhos (da
lei) e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empre-
OUT./DEZ. gos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que
não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.” Mais uma vez
2001 podemos cuidar que a lei manteve-se sempre do lado do cidadão
masculino, o que chega a ser uma redundância, pois “...a mulher
que não é mãe praticamente não existe como entidade civil, princi-
palmente na primeira metade do século XIX” (Kehl, Op.cit., p.83). 100
Desta feita, não se pode considerar que a igualdade de direitos
algum dia tenha existido, e a mulher conquistou seu espaço público
primeiramente como dona de seu corpo do que como cidadã. Em
relação ao direito de votar, Mannoni (1999) escreve que “na França,
só em 1944 esse direito foi obtido, a despeito dos princípios de
igualdade inscritos na Declaração dos Direitos Humanos de 1789”
(p.96). Apesar do grande valor desse fato transposto pela autora, há
que se considerar que sua fala inclui um certo tom de “fomos enga-
64 nadas”. É muito diferente pensarmos o tema a partir da “Declaração
dos Direitos Humanos”, do que partindo da “Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão”, nome original do documento. Tra-
ta-se de um pequeno desvio semântico, mas de implicações muito
grandes, haja vista que, se partirmos do nome original, não há con-
tradição nem engano ou embuste, apenas uma construção histórica
que se vem atualizando a cada dia.
Não queremos com isso, dizer que consideramos correta a
desigualdade de direitos; todavia, pensamos na igualdade não como
emparelhamento, mas como possibilidade de que cada gênero atinja
seu potencial de ação sem uma mistura que não permita reconhecer-
mos as diferenças. É antes pelo respeito à diferença do que pelo
emparelhar-se que se atinge relações mais equilibradas.
Retornando à fala de Mannoni, comenta a autora:
“O verdadeiro poder conquistado pelas mulheres entre os anos
1960 e 1980 foi o da livre disposição dos seus corpos (direito à
interrupção voluntária da gravidez, reconhecimento do estupro
como atentado à pessoa). Poder que continua muito relativo, no
mundo” (Idem, p.96).

A autora esclarece que a noção de igualdade não é aceita em


muitos Estados, principalmente Muçulmanos e que o acesso da mulher
ao poder político é ainda muito reduzido. A diferença de tratamento
social do homem para a mulher estende-se, também, à Educação. ANO 16
“O direito à educação e à instrução só se abriu para as mulheres no
fim do século XIX, e só em 1924 os programas escolares se torna- OUT./DEZ.
ram comuns aos dois sexos” (Ibidem, p.98). Antes do século XIX,
somente algumas mulheres da Aristocracia e de famílias abastadas 2001
tinham o privilégio de estudar. Foram elas que começaram os movi-
mentos literários femininos que povoaram o imaginário das mulhe-
101 res nos séculos XVIII e XIX.
Quanto ao poder atribuído pelo livre uso do corpo, algumas
considerações precisam ser feitas. A partir de meados do século XX
a mulher ganha autonomia sobre seu corpo, e sobre o sexo, devido
também à popularização da pílula anticoncepcional, de acordo com
Gordon (1997). Antes disso, o corpo da mulher sempre foi utilizado
como objeto, ou para o prazer, ou para a geração de filhos, o que
dava azo para inúmeras formas de abuso. Sem dúvida houve um
aumento na qualidade de vida das mulheres com essas transforma-
ções sociais, contudo, questionamos se algumas das conquistas não 64
trazem também prejuízos, ou se são realmente conquistas.
Kehl (1998), ao analisar a personagem Emma Bovary, de
Gustave Flaubert, faz desta protagonista o “paradigma da mulher
freudiana”. Trata-se de uma mulher frustrada e que não consegue
vencer a prisão simbólica a que está relegada, transgredindo normas
sociais sem nunca chegar a conquistar o que buscava, haja vista que
suas pequenas satisfações não davam conta de torná-la alguém so-
cialmente portador de uma voz. Emma encontra-se
“...alienada nas malhas de um discurso em que seus anseios la-
tentes não encontram lugar ou palavra, e que ela é (ainda) incapaz
de dominar ou modificar a seu favor, isto é: inscrever nele um
significante que a represente enquanto sujeito. A resposta a esta
forma específica de “mais-alienação” e à impossibilidade de levar
mais adiante o recalcamento como solução para os impasses en-
tre os ideais da feminilidade e as demais perspectivas abertas para
as mulheres pela modernidade foi a histeria, esta confusa deman-
da dirigida ao homem para que se faça mestre do desejo da mulher.
Uma demanda que nenhum homem pode atender...” (p.136/137).

Bem, agora que foi aberto espaço para que as mulheres no-
meiem-se, para que insiram seu significante demarcador; agora que
o discurso social liberou a mulher das restrições sexuais vividas ou-
ANO 16
trora, cabe perguntar: está a mulher menos alienada? Com que fun-
ção a exposição excessiva do sexo entra na dinâmica social contem-
OUT./DEZ. porânea e o que isso significa para a mulher? A mulher exerce real-
mente poder através dessa erotização do seu corpo, ou está mais
2001 uma vez respondendo a anseios e demandas masculinos? Há liberta-
ção da mulher nesse mostrar-se constante, ou o que está ocorrendo
é mais um deslocamento da relação mulher-feminilidade? Quais
anseios da mulher não estão sendo ouvidos na atualidade? 102
PARA NÃO CONCLUIR...
Por ora permanecem as perguntas, as quais buscaremos re-
solver na seqüência de nossa investigação, no tempo apropriado e
no devido lugar. Há que se investigar as vicissitudes a que estão
sujeitos os diferentes papéis sexuais na atualidade. Enquanto no sé-
culo XIX e início do século XX as mulheres responderam à dinâmi-
ca social – a qual, como vimos, restringia o uso da sexualidade pelas
64 mulheres e coibia suas tentativas de ascensão social – com os sinto-
mas histéricos, elucidados, em parte (Kehl, 1998), por Freud; as
mulheres de hoje apresentam demandas diferentes, já que houve trans-
formações em relação ao uso do corpo e à possibilidade de entrar no
mercado de trabalho.
Por isso, entendemos ser de relevância buscar compreender
as novas formas de sofrimento, tanto femininas quanto masculinas,
advindas do uso dos prazeres na atualidade. Sempre há os não-ditos
e as demandas não ouvidas, e o discurso social, ainda que pregando
a transparência, não foge à regra básica de possuir um limite
constitutivo, como qualquer discurso. Isso nos abre o espaço ne-
cessário para que possamos entender o que se esconde por detrás
da transparência, da trans-aparência contemporânea.
Como afirmou um aluno de 2º grau, o que chama a atenção
atualmente é a embalagem, é ela que cativa nosso olhar e nos faz
pensar o sexo e a sexualidade. Ainda se busca ser outro/outra que
não se é, como na época de Emma Bovary, apenas com objetivos e
formas diferentes de se conseguir ou fantasiar o que se almeja. Po-
rém, há o importante acréscimo da virtualidade das imagens, a dar
impulso contínuo à miragem da perfeição física, da urgência, do
predomínio do corpo, entre outros ícones contemporâneos.
E não se pode entender a dinâmica social da atualidade sem
procurarmos compreender também o sofrimento masculino, as trans-
formações que o discurso masculino sofreu a partir da emancipação ANO 16
das mulheres. A inserção gradativa do discurso feminino no meio
social lança o homem numa posição diferente das que estava acostu- OUT./DEZ.
mado a ocupar: senhor e provedor da alegria, prazer, desejo e neces-
sidades práticas das mulheres.
2001
Isso modifica também o uso que o homem faz do seu corpo,
do seu sexo e de sua sexualidade. A imbricação destes campos,
103 masculino e feminino, formam a dinâmica atual da sociedade, no
que tange à sexualidade. Bem, poder-se-ia dizer que desde sempre
houve esta imbricação, porém, é necessário notar que o uso do cor-
po ganhou uma dimensão diferente das de outras épocas e socieda-
des, como lembra Baudrillard (1992). Tal mudança tem suas impli-
cações no terreno do sexo e da sexualidade.
À guisa de não concluir, cabe a indagação do poeta: “Amarei
mesmo Fulana? ou é só ilusão de sexo?” Não traremos conclusões,
abrimos, outrossim, espaço para que possamos investigar mais a 64
sexualidade contemporânea. Contribuímos com um grande ponto
de interrogação, o qual buscaremos transformar cada vez mais em
exclamações, reticências, e novas interrogações.

NOTAS
1
Há que se notar que o deslocamento operado pelo eufemismo não
transfere um determinado assunto para outro campo, não desvia a
discussão; faz-se apenas uma “correção de curso” para que o impacto
de tal assunto diminua. Obviamente, isso gera conseqüências na pró-
pria discussão do assunto, pois o impacto é parte essencial de nossas
impressões sobre determinado caso.
2
Relatório de pesquisa: “Do grupo ao indivíduo: a tirania da mídia
televisiva no mundo adolescente”. Trabalho realizado entre agosto de
1999 e julho de 2000, financiado pelo PIBIC/CNPq.
3
As citações da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que
aparecem neste trabalho foram retiradas do site: <http://
w w w. d i r e i t o s h u m a n o s . u s p . b r / d o c u m e n t o s / h i s t o r i c o s /
declaracao_de_direitos_do_homem_cidadao.html> e correspondem a
uma tradução direta do texto original em Francês.
4
A autora, no capítulo II do livro “Deslocamentos do Feminino”, traz um
ANO 16 estudo aprofundado da obra “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert,
no qual fala da personagem central, Emma Bovary, como um paradigma
OUT./DEZ. da mulher oitocentista, dividida entre seus desejos e a impossibilidade
de realizá-los pela via do social, ou seja, de forma autorizada. Mais
2001 abaixo veremos maiores detalhes a crise de Emma.

104
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ANO 16

OUT./DEZ.

2001

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