Capacidades Governamentais Municipais e
Capacidades Governamentais Municipais e
Capacidades Governamentais Municipais e
Rony Coelho
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP - Brasil
Felipe Guth
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Miguel Loureiro
Institute of Development Studies (IDS), Brighton - Reino Unido
Este trabalho tem por objetivo analisar a relação entre capacidades governamentais municipais e
desenvolvimento humano no Brasil. Para tal, construímos um quadro teórico-analítico que propõe
tipos de capacidades de gestão municipal e como mensurá-las. Em seguida, recorrendo a técnicas de
regressão logística, distribuição de frequências e análises geoespaciais, analisamos em que medida
essas capacidades estão associadas à variação no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) em
municípios com menos de 50 mil habitantes (85% do total). As avaliações tomam por base três
diferentes áreas de políticas públicas: saúde, educação e assistência social. Os resultados sugerem
que atividades de planejamento e de interação com outros atores possuem uma associação maior
com o IDH-M do que adoção de fundos ou estruturas administrativas. A quantidade de conselhos
participativos, de planos e consórcios tem efeito significativo e positivo.
Palavras-chave: capacidades estatais, gestão municipal, desenvolvimento humano
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Capacidades governamentais municipais e desenvolvimento humano local no Brasil
1 Introdução1
Essas são perguntas que podem ser colocadas de muitas formas correlatas, e
diversos caminhos podem ser tomados para respondê-las. Um deles, o que optamos por
explorar neste artigo, é buscar apoio nos recentes desdobramentos das discussões sobre
capacidades estatais. O que é capacidade estatal e como ela afeta o desenvolvimento
econômico e social são algumas das principais perguntas colocadas desde os estudos neo-
institucionalistas pioneiros sobre o papel do Estado (Cingolani, 2013). Não obstante, nos
últimos anos, o interesse pelo tema tem ressurgido nos debates acadêmicos internacionais
(Bersch; Praça; Taylor, 2013) e analistas têm buscado compreender como mensurar uma
“boa governança” (BERSCH; PRAÇA; TAYLOR, 2017; Fukuyama, 2013; Hanson; Sigman,
2013). Esse movimento tem influenciado a produção acadêmica brasileira (Gomide;
Pereira; Machado, 2017; Aguiar; Lima, 2019) que, capitaneada pelo Ipea (Pires; Gomide,
2016) e pela Enap (2018a, 2018b), tem tentado avaliar empiricamente a qualidade das
ações estatais no país. Grande parte dessa produção tem focado atenção no plano federal
e/ou buscado contribuir com o campo de estudos comparativos internacionais.
1
Resultados preliminares deste estudo foram apresentados em Seminário no Institute of Development Studies (IDS) em
outubro de 2019. Os autores agradecem ao IDS e à CAPES pela viabilização da pesquisa bem como à Alex Shankland (IDS)
pelos comentários críticos e ao seu cordial suporte junto à instituição inglesa. Agradecemos também os comentários dos
revisores anônimos desta Revista.
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construir variáveis empíricas que permitam mensurar esses componentes em três áreas
de políticas públicas: saúde, educação e assistência social.
2
O IDH-M foi desenvolvido através da parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
seccional do Brasil, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro (FJP). Ele adapta o IDH
da ONU, usado para mensurar o desenvolvimento humano de países, para ser aplicado à realidade brasileira no nível dos
municípios. O índice foi calculado com os dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) para três ciclos: 1991, 2000 e 2010. Mais informações: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
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Se o conceito é tão amplo, por que então utilizá-lo? Primeiro, porque insere o
estudo e suas reflexões em uma linha de pesquisa que tem oferecido interessantes
insights a respeito da organização do Estado ao investigar como ele exerce seu poder de
implementação de políticas públicas. Segundo, porque, ao situar esse debate no nível
local, o conceito e as atuais discussões sobre seus desdobramentos, em nossa leitura,
ajudam a compreender as gestões municipais, conectando-o com o conhecimento já
produzido sobre descentralização e políticas públicas, debate que aqui tangenciamos, mas
ainda permanece passível de aprofundamentos. A relevância desse exercício decorre do
fato de que “sabemos pouco sobre como a burocracia municipal é configurada, menos
ainda sobre sua capacidade de ação e quase nada dos seus efeitos nos serviços” (Sátyro;
Cunha; Campos, 2016, p. 287).
3
Inicialmente, esses autores desenvolveram a citada abordagem em dois capítulos do livro Capacidades estatais e
democracia: arranjos institucionais de políticas públicas (Pires; Gomide, 2014; Gomide; Pires, 2014). Posteriormente,
aprofundaram-na em outras oportunidades em conjunto com outros colaboradores (Pires; Gomide, 2016; Gomide; Pereira;
Machado, 2017).
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Eficiência e eficácia
Recursos humanos
Recursos financeiros
Capacidades técnico -
administrativas
Instrumentos de
planejamento e
gestão
Estruturas de gestão
Capacidades
municipais
Arranjos -
interfederativos e/ou
inter e intramunicipais
Mecanismos de
interação da burocracia
do Executivo com atores
do sistema político
Capacidades político - representativo
relacionais
Canais institucionais
de participação
Mecanismos de
controle interno e
externo
Legitimidade e
inovação
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4
Uma das principais críticas direcionadas às Munics é a de que o seu informante principal é a própria prefeitura através
dos seus diversos órgãos e setores. Isso significa que as informações coletadas são respondidas por diferentes pessoas
de dentro da administração, responsáveis e/ou detentoras de maior conhecimento em cada área. Segundo os críticos,
essa metodologia tende a distorcer os dados de forma a melhorar a imagem da gestão. Mas, como demonstra Jannuzzi
(2017), essas pesquisas têm sido fundamentais para compreender melhor aspectos da gestão pública brasileira e vêm sendo
amplamente utilizadas no meio acadêmico.
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dados, adotamos as seguintes proxies para cada um dos indicadores do esquema acima:
i) recursos humanos: percentagem de funcionários concursados com ensino superior
na administração direta; ii) recursos financeiros: adoção de fundos; iii) instrumentos de
planejamento e gestão: adoção de planos municipais de políticas públicas; iv) estruturas
de gestão: adoção de secretarias municipais exclusivas; v) arranjos: adoção de consórcios;
vi) canais de participação: adoção de conselhos. Uma melhor descrição dessas variáveis
empíricas é fornecida na seção metodológica a seguir.
Por fim, vale indicar que, ao invés de tomar como base uma única área específica,
procuramos generalizar as estratégias tomadas pelos autores supracitados e abranger um
arco intersetorial. Analisamos esses diferentes elementos apontados para três diferentes
áreas de políticas públicas: saúde, educação e assistência social. Isso porque, como
sugerem Sposati et al. (1996) e Sposati e Toledo (2001), embora a lógica do Estado seja o
do oferecimento setorizado das políticas governamentais, a lógica dos cidadãos e cidadãs
é buscar o fornecimento de bens e serviços públicos e o atendimento de suas necessidades
básicas em sua integralidade a partir de sua base territorial de referência, de seu local de
moradia na cidade. É dessa perspectiva que procuramos analisar as possíveis correlações
entre capacidades de gestão e desenvolvimento humano locais.
3 Metodologia e Variáveis
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da população vive nesses municípios, o que limita o alcance da análise e requer cautela
na interpretação dos resultados. As regressões e tabulações foram aplicadas tanto para o
total da amostra, o conjunto dos entes federados locais analisados (Brasil), quanto para
cada macrorregião distinta (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul).
Variável dependente
5
Pela classificação do Atlas Brasil, dentre os 4.916 municípios analisados, apenas 30 se enquadram na classificação “muito
baixo” e 5, na “muito alto”. Isso gera alta concentração nas categorias intermediárias (“baixo” = 1.316; “médio”= 2.054 e
“alto” = 1.511). Ao adotar a classificação por quintis, aproximadamente 25% dos valores ficam classificados em cada uma
das categoriais, o que representa uma distribuição mais homogênea entre as categorias e permite a melhor aplicação do
modelo logístico de regressão.
6
O uso de log das chances em vez da probabilidade é comum por causa da dificuldade de se modelar uma variável que
varie entre 0 e 1. Para entender o que o log das chances significa, tomemos o exemplo de um evento com probabilidade
de sucesso de 0,8. Então a probabilidade de falha é 1 - 0,8 = 0,2. As chances de sucesso são a razão entre a probabilidade
de sucesso e a probabilidade de falha. No nosso exemplo, 0,8 / 0,2 = 4, ou seja, as chances de sucesso são de 4 para 1. Se
a probabilidade de sucesso for de 0,5 (50% para sucesso e 50% para fracasso), então as chances de sucesso são de 1 para
1. As chances variam de 0 a infinito positivo. Com log das chances, os resultados variam de menos infinito a mais infinito.
À medida que a probabilidade aumenta, aumentam as chances e também o log das chances (https://stats.idre.ucla.edu/
other/mult-pkg/faq/general/faq-how-do-i-interpret-odds-ratios-in-logistic-regression/).
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classificado acima de certa faixa de IDH-M. Os dados são os do último cálculo realizado
para todos os municípios (2013, com base no Censo Demográfico de 2010, cf. nota 2).
Variáveis de controle
Adotamos o PIB per capita municipal como variável de controle, pois, como seria
de se esperar, e testes estatísticos previamente realizados endossaram, ele apresenta
forte associação positiva com a variável dependente. Ou seja, quanto maior o PIB per
capita, maior o nível de IDH-M. O PIB per capita é estaticamente significante e, como
esperado, possui forte relação positiva com o índice de desenvolvimento. Isso tanto
para o Brasil como para cada região específica (Tabela 1). Os dados, do ano de 2012, são
disponibilizados pelo IBGE.
Variáveis independentes
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Recursos humanos
Recursos financeiros
Uma vez que o PIB per capita consta nos modelos como variável de controle em
vez de independente, e que recursos orçamentários possuem alta correlação com o PIB
per capita, a proxy de recursos financeiros utilizada foi a presença de fundo municipal nas
três áreas. Apesar de serem distintas as finalidades dos fundos de um setor de política
pública para outro, em geral, eles são criados para abrigar receitas vinculadas à realização
de determinados objetivos ou serviços específicos. Assim, os fundos setoriais pretendem
proteger o gasto nas políticas sociais da disputa por recursos com outras áreas de
políticas. Procuram assegurar que “as transferências federais contem com garantias críveis
de que os recursos serão efetivamente empregados para as políticas a que se destinam”
(Arretche, 2012, p. 18). Vale dizer que a criação de fundos (tal qual a de conselhos e
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A existência de fundo em cada uma das áreas recebeu valor 1 e a não existência
recebeu valor 0. Eles foram somados e recodificados, criando-se a variável categórica
ordenada: “não possui”, “possui 1”, “possui 2” ou “possui 3”, conforme a respectiva
quantidade. Esse mesmo procedimento foi aplicado para todas as demais variáveis
independentes categóricas do modelo (instrumentos de planejamento; estruturas de
gestão e canais de participação).
Estruturas de gestão
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1 ao passo que as demais variações8 receberam nota 0. Elas foram recodificadas seguindo
o procedimento descrito anteriormente.
Arranjos institucionais
Canais de participação
8
Tais variações são as seguintes: Secretaria municipal em conjunto com outras políticas setoriais;
Fundação pública; Setor subordinado a outra secretaria; Setor subordinado diretamente à chefia
do Executivo; Não possui estrutura.
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In ( ) = 0 + 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7
1−
Onde,
4 Análise
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criação dos fundos ou não, sem eles ficam inviabilizados os repasses de recursos federais
para as áreas.
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0.98263*
Fundos 0.42293
-5456 on -379 on 1409 1208 on 4112 -406 on 1485 -1601 on 5497 -1102 on 4205
Log-
18089 degrees degrees of degrees of degrees of degrees of degrees of
likelihood of freedom freedom freedom freedom freedom freedom
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do IDH-M. Esse componente da capacidade estatal municipal é o que mais explica, entre
as variáveis independentes, a variação na probabilidade de classificação do município
em cada quintil do IDH-M e mostra-se o mais relevante do modelo. Isto é, quanto mais
conselhos, maior a probabilidade de um município estar nos estratos superiores de IDH-M.
Atualmente, 86,7% dos municípios contam com conselhos para as três áreas avaliadas.
Porém, tomando por base os quintis superior e inferior, tem-se que, dentre os municípios
classificados no último quintil, 94% dos municípios possuem os 3 conselhos, 5% possuem
2 e apenas 0,1% possui 1 conselho somente. No quintil inferior, esses valores são de
79,4% e 20,6%, respectivamente, para 3 e 2 conselhos. Considerando a existência dos três
conselhos, a diferença entre o primeiro e último quintil é de aproximadamente 15%.
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alto; 87,5% dos municípios de IDH-M “muito baixo” apresentam IPPC abaixo de “médio”.
Não obstante, nos níveis intermediários (alto-médio-baixo) essa relação é um pouco mais
diluída, mas ainda assim positiva.
Embora os casos citados na literatura sejam diferentes dos aqui tratados (em termos
empíricos, teóricos e metodológicos), eles apontam na mesma direção. Os resultados
sugerem que, em suma, esse fator da dimensão político-relacional das capacidades
estatais municipais tem associação significativa e positiva com os maiores níveis do
indicador de desenvolvimento humano local. É possível que municípios com níveis de
IDH-M mais elevados proporcionem mais oportunidades para a participação. No entanto,
uma explicação que corrobora a literatura está associada à seguinte lógica: conselhos
controlam os recursos públicos e desempenham importante papel nos processos de
monitoramento e inovação ao incluir novos atores conhecedores das realidades locais.
De modo geral, a participação por meio de conselhos constitui um importante mecanismo
de accountability social que auxilia na produção de políticas mais inclusivas e efetivas
(Touchton; Sugiyama; Wampler, 2017).
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Secretarias Planos
Possui 3 Possui 3
Possui 2 Possui 2
Possui 1 Possui 1
Fundos Conselhos
Fundos Conselhos
Possui 3 Possui 3
Possui 2 Possui 2
Possui 1 Possui 1
9
Embora a autora estivesse tratando exclusivamente de secretarias municipais de habitação, não há motivos para acreditar
que os mesmos fatores não influenciem a existência de secretarias de outras áreas.
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5. Considerações Finais
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tem desdobramentos no plano local. Um efeito cascata em pelo menos duas direções:
desincentivos à mobilização por parte dos atores sociais e à manutenção dos espaços por
parte dos agentes públicos. Em um contexto refratário e hostil, aumentam-se os custos da
participação e, indiretamente, diminuem-se as capacidades governamentais locais.
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Rony Coelho
https://orcid.org/0000-0002-3312-4021
Rony é cientista político e possui doutorado e mestrado na área pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Realizou estágio pós-doutoral pelo projeto "Procad - Participação política" (UFSC/UNESP/UEM), onde coordenou o
desenvolvimento dos bancos de dados Munics-IPs e Estadics-IPs, e atuou como Visiting Research Fellow no Institute of
Development Studies (IDS), Reino Unido (CAPES, processo: 88881.170110/2018-01). Atualmente trabalha como consultor
independente.
E-mail: coelhorgs@yahoo.com.br
Felipe Guth
https://orcid.org/0000-0002-0932-1797
Felipe é consultor em políticas públicas na Technopolis. Anteriormente, trabalhou por vários anos como gerente de
projetos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele possui mestrado em Governança,
Desenvolvimento e Políticas Públicas pelo Institute of Development Studies (IDS) da Universidade de Sussex e mestrado
em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
E-mail: feguth@gmail.com
Miguel Loureiro
https://orcid.org/0000-0001-6793-0649
Miguel Loureiro é pesquisador e diretor do mestrado em Governança, Desenvolvimento e Políticas Públicas do
Institute of Development Studies (IDS) no Reino Unido. Como cientista social interdisciplinar, sua pesquisa se concentra
principalmente na interação entre atores estatais e não estatais e na capacidade de resposta estatal.
E-mail: M.Loureiro@ids.ac.uk
Revista do Serviço Público (RSP), Brasília 71 (4) 778-808 out/dez 2020 | 808