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ISSN: 2525-8761
RESUMO
O presente artigo objetiva analisar em que medida o Plano Municipal de Saneamento
Básico - PMSB pode ser utilizado como um instrumento para a governança municipal e
promoção do saneamento básico. Este que, atualmente, mostra-se indispensável para a
qualidade de vida, desenvolvimento sustentável, além de implicações diretas em diversos
outros aspectos da vida humana e da cidade, como na saúde e no meio ambiente. Como
objeto, foi utilizado o Plano Municipal de Saneamento Básico do Município de Feira de
Santana, segunda maior cidade do Estado da Bahia em relevância econômica e população,
que foi instituído em 2015. A partir de dados disponibilizados no Sistema Nacional de
Informação sobre Saneamento e do próprio portal da transparência do município buscou-
se analisar os efeitos e impactos do PMSB na realidade local.
ABSTRACT
This article aims to analyze to what extent the Municipal Basic Sanitation Plan - PMSB
can be used as an instrument for municipal governance and promotion of basic sanitation.
This, which is currently indispensable for quality of life, sustainable development, and
direct implications in many other aspects of human life and the city, such as health and
the environment. The Municipal Sanitation Plan of the Municipality of Feira de Santana,
the second largest city in the State of Bahia in terms of economic relevance and
population, was instituted in 2015. Based on data provided in the National Information
System on Sanitation and of the municipality's own transparency portal sought to analyze
the effects and impacts of the PMSB in the local reality.
1 INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 realizou verdadeiro processo de descentralização
da administração pública no país, atribuindo especial importância aos Municípios,
conferindo competências relativas a temas de interesse local(art.30), autonomia
administrativa, política e financeira.
Entretanto, houve uma onda de emancipações na década de 90 com a criação de
muitos municípios, contudo, muitos destes não possuíam infraestrutura mínima, como
água encanada, escolas, postos de saúde e iluminação pública. Aliado ao crescimento não
planejado, as limitações financeiras e o aumento constante das demandas populacionais,
problemas de gestão acabam por prejudicar o desenvolvimento destas entidades, e a
efetividade das normas Constitucionais (LIMA, 2018).
Dentre muitas, uma das dificuldades observadas é a implantação e
desenvolvimento de sistemas eficientes de saneamento básico, haja vista que, segundo o
Sistema Nacional de Saneamento Básico – SNIS(2015), cerca de 30 milhões de
brasileiros não possuem acesso à água potável, quase metade da população nacional não
possui esgoto e apenas 30% dos municípios instituíram seus Planos Municipais de
Saneamento Básico.
Nesse cenário, apesar da ainda pouca adesão pelas municipalidades, os Planos
Municipais de Saneamento Básico - PMSB, mostravam-se ser bons instrumentos para
uma gestão racional do saneamento básico, planejamento das ações, assim como de
governança.
Assim, o presente artigo objetiva analisar o PMSB do Município de Feira de
Santana, especialmente em seus aspectos relacionados à governança municipal, como
cooperação, transparência e controle social, assim como utilizar os dados históricos
contidos no SNIS, para apresentar eventuais impactos do plano no saneamento básico do
município.
municipal, objetivando uma gestão eficiente. Nos termos desta Lei, os responsáveis pela
elaboração da Política e Plano Municipal são os gestores, entretanto a norma traz a
obrigatoriedade da participação popular (FUNASA, 2015).
Contudo, apesar de sua importância social e da promulgação da lei comentada, o
Brasil ainda apresenta graves déficits de saneamento básico, uma vez que, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em pesquisa realizada no ano de
2010, havia, no país, 1.915.292 domicílios sem abastecimento adequado de água e
7.218.079 domicílios sem sistema de depósito de resíduos urbanos.
Pode-se inferir que ainda há muitos problemas na implementação e na gestão
eficiente dos programas de saneamento básico, no qual ainda há uma parcela da
população se serviço adequado, seja pela falta de investimento, interesse e planejamento
do poder público (GUEDES E MACHADO, 2017).
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O percurso metodológico adotado para consecução desta pesquisa iniciou-se com
uma breve revisão da literatura acadêmica, a partir da leitura de livros, artigos científicos,
legislação pertinente e manuais, de modo a fundamentar a temática com uma reflexão
teórica. Nessa esteira, a presente pesquisa se processou através de uma abordagem
qualitativa utilizando-se o método da pesquisa bibliográfica e documental.
O objeto de estudo constituiu-se do Plano Municipal de Saneamento Básico do
município de Feira de Santana. Atualmente, Feira de Santana configura-se como a
segunda maior cidade do Estado da Bahia possuindo uma população estimada de 627.477
habitantes, segundo dados do IBGE (2017). Além disso, caracteriza-se por sua estratégica
localização geográfica, possuindo o maior entroncamento rodoviário do Nordeste e pela
concentração de atividades comerciais, industriais e oferta de serviços que atendem, não
somente ao município, mas também aos municípios vizinhos (LOPES, 2017).
A metodologia procede com a seleção das variáveis a serem analisadas e suas
respectivas fontes de dados. Primeiramente, buscou-se analisar individualmente o alcance
da prestação dos serviços que compõem o saneamento básico, quais são: abastecimento
de água, esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sólidos. Posteriormente, verificou-
se o montante de recursos alocados para consecução de tais serviços, tanto por parte da
empresa prestadora do serviço, quanto pelo município de Feira de Santana, de modo a
mensurar o porte dos serviços prestados.
Os dados utilizados foram coletados a partir do banco de dados do Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) considerado o maior e mais
importante sistema de informação do setor de saneamento no Brasil. Nele constam
informações e indicadores de caráter operacional, gerencial, financeiro e de qualidade
sobre a prestação de serviços de água e de esgotos, bem como de manejo de resíduos
sólidos urbanos (SNIS, 2015).
Utilizou-se, também, dados de relatórios de gestão fiscal encontrados no Portal de
Transparência Cidadã do município de Feira de Santana. Os dados utilizados foram
delimitados entre o período de 2013 e 2017, últimos cinco anos, visando a análise do
antes e depois da implantação do Plano Municipal de Saneamento Básico.
Por fim, foram utilizadas informações do Diagnóstico Participativo, documento
integrante do Relatório Preliminar do Plano Municipal de Saneamento Básico, publicado
em 2018 pela Fundação Escola Politécnica da Bahia, objetivando avaliar os serviços de
saneamento básico ofertados sob a percepção dos usuários.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir dos dados disponibilizados pelo SNIS verificou-se o formato de alocação
dos recursos investidos, bem como o alcance dos serviços de saneamento básico prestados
no município de Feira de Santana. Para uma melhor apresentação, os dados foram
organizados em tabela.
Em relação aos resíduos sólidos, infere-se que toda a população urbana é atendida
por esse serviço, e visto que o SNIS não apresentou informações acerca da população
rural, não é possível dimensionar o atendimento desse grupo. Nota-se que, comparando
os valores referente a 2014 e 2015, houve uma queda na prestação do serviço de um ano
para outro, o que gera uma inconsistência diante da perspectiva de melhora no alcance do
atendimento de um ano para o outro. Apesar dessa inconsistência, os dados ora
analisados, apontam um aumento de 26,66% em relação a 2015 e 2016.
A partir da análise do formato de alocação dos recursos investidos em saneamento
básico, é possível mensurar o porte dos serviços prestados a população. A tabela 3
apresenta o volume dos recursos investidos nos serviços de abastecimento de água e
esgotamento sanitário.
Nota-se que em 2013 o serviço de esgotamento sanitário obteve maior
representatividade na distribuição de recursos, atingindo 62,34% dos recursos totais. Já
em 2014, passa-se a atribuir maior relevância ao serviço de abastecimento de água o qual
recebeu um aumento significativo de 188,24% em relação ao ano anterior, sendo o ano
que obteve maior volume de recursos. A partir de 2015, verifica-se uma redução no
investimento de ambos serviços, porém apresenta uma composição mais equilibrada.
Tabela 3 – Recursos investidos nos serviços de água e esgoto pela prestadora de serviço no município.
Investimento com
Investimento com
Ano de referência abastecimento de Investimentos totais
esgotamento sanitário
água
2016 15.230.839,50 14.581.081,06 36.399.460,29
2015 18.329.612,41 13.697.228,61 41.850.704,01
2014 22.817.360,06 18.297.623,39 46.463.279,05
2013 7.915.898,09 16.735.893,76 26.842.496,28
Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Tabela 4 - Gastos orçamentários com saneamento efetuados pela Prefeitura de Feira de Santana.
Ano de referência Dotação inicial (R$) Despesa empenhada (R$)
2017 52.500,00 -
2016 110.000,00 -
2015 945.000,00 -
2014 602.650,00 -
2013 12.000,00 -
Fonte: Prefeitura Municipal de Feira de Santana
sugestões, mas realizando as supracitadas oficinas, nas quais os cidadãos podem expor
suas dúvidas e principais problemas enfrentados nos serviços de saneamento básico.
Entretanto, cabe asseverar que não foi possível verificar a existência de
mecanismos de decisão compartilhada ou outros que confiram maior capacidade decisória
aos cidadãos, mantendo-se um sistema Top Down na execução do Plano Municipal de
Saneamento Básico.
Nesse sentido, tanto o diagnóstico de participação popular e suas oficinas, assim
como as consultas públicas, são meios de emissão de opinião e levantamento de
problemas, inexistindo vinculação entre estas e a decisão final do governo, na execução
da política municipal.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve por objetivo analisar o Plano Municipal de Saneamento
Básico (PMSB) do município de Feira de Santana com base em aspectos relacionados à
governança municipal através de dados disponibilizados pelo SNIS e informações
contidas no Diagnóstico Participativo acerca do PMSB do município.
O referencial teórico abordou, em apertada síntese, os principais aspectos da
governança municipal e evidenciou o PMBS como instrumento propulsor da governança
no âmbito do saneamento básico. Para tanto, realizou-se um análise dos componentes
essenciais do saneamento básico.
Pois bem, constatou-se que nos anos analisados não houve alterações
significativas nos investimentos em saneamento básico pelo município, bem como pela
concessionária do serviço público. Por outro lado, houve uma abertura para participação
popular nas propostas dos planos e saneamento, além de trabalho educativo da
importância deste, contudo, ainda sem mudanças significativas na questão dos
investimentos.
Ademais, a abertura à participação popular, mesmo que não seja vinculante, traz
à baila elementos que caracterizam uma boa governança municipal, e potencializa a
expansão de outros, como uma tomada de decisões aberta e democrática e maior
possibilidade de controle social.
Por fim, como observado alhures, houve avanços no município em relação aos
procedimentos de construção do plano de saneamento básico, possibilidades de um plano
a longo prazo, independente da troca de gestão, contudo, ainda carente de efeitos práticos,
muitos destes dependentes de ampliação de investimentos, mas também de outros menos
dependentes de recursos, como melhoria da transparência e mecanismos de
accountability.
REFERÊNCIAS
LIMA, Diana Vaz de. Como promover a boa governança na gestão municipal – Brasília, DF:
CNM, 2018.