Mudança de Planos - Brenda Rothert
Mudança de Planos - Brenda Rothert
Mudança de Planos - Brenda Rothert
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transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos,
fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram
declarados.
Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são
produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou
mortas, eventos ou estabelecimentos é mera coincidência.
R755m
Rother, Brenda
Mudança de planos [recurso eletrônico] / Brenda Rother, Kat Mizera ; tradução Raphael
Pellegrini. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Allbook, 2024.
Recurso digital (St. Louis Mavericks ; 1)
1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Mizera, Kat. II. Pellegrini, Raphael. III.
Título. IV. Série.
24-92292 CDD: 813
CDU: 82-31(73)
Í
CAPÍTULO 8
Hadley
CAPÍTULO 9
Wes
CAPÍTULO 10
Hadley
CAPÍTULO 11
Wes
CAPÍTULO 12
Hadley
CAPÍTULO 13
Wes
CAPÍTULO 14
Hadley
CAPÍTULO 15
Wes
CAPÍTULO 16
Hadley
CAPÍTULO 17
Wes
CAPÍTULO 18
Hadley
CAPÍTULO 19
Wes
CAPÍTULO 20
Hadley
CAPÍTULO 21
Wes
CAPÍTULO 22
Hadley
CAPÍTULO 23
Wes
CAPÍTULO 24
Hadley
CAPÍTULO 25
Wes
CAPÍTULO 26
Hadley
EPÍLOGO
Wes
AGRADECIMENTOS
NOTA DAS AUTORAS
ALLBOOK EDITORA
Hadley
Sete anos antes
— Você vai amar — disse minha melhor amiga, Lauren, toda empolgada.
— Sério, Hadley, o Wes é um partidão. É bonito, inteligente, engraçado e
jogador de hóquei pro ssional. Se o Ben não fosse o amor da minha vida,
eu iria atrás dele.
Eu a mirei com descon ança.
— Você sempre diz que os dois são diferentes.
Ela acenou com a mão.
— Não nas coisas importantes. Pare de ser difícil. Meu ponto é que ele é
ótimo, você está na seca e tem um quarto de hotel reservado só para você
esta noite.
Contive um suspiro. Lauren era minha melhor amiga desde que nos
conhecemos nas palestras de orientação no nosso primeiro ano na UCLA.
Ela era a manteiga de amendoim da minha geleia, e eu faria qualquer coisa
por ela.
Por isso que eu sorria enquanto ela me conduzia pelo gramado lotado
do quintal da casa dos pais dela em Naperville. Eles estavam dando uma
festa de noivado para Lauren e Ben, que iam se casar em dois meses. Depois
de um relacionamento de três anos, com ela estando em Los Angeles, e ele,
em Boston, os dois não queriam um noivado longo. Nós nos formamos há
algumas semanas, e Lauren estava imersa nos planos do casamento.
Estava tudo acontecendo muito rápido. Há alguns meses, nossas
maiores preocupações eram passar nas provas nais e encontrar promoções
do nosso vinho e pizza congelada favoritos. Agora, Lauren estava se casando
e se mudando para St. Louis com Ben, onde ele joga hóquei
pro ssionalmente, e eu havia acabado de começar meu novo emprego como
redatora para a Willow, uma revista de moda e estilo de vida em Nova York.
— Ah! Acho que o encontrei! — Com um gritinho, Lauren segurou
minha mão e me levou por entre os grupos de pessoas bebendo e comendo.
Meu estômago revirou de nervoso. Eu tinha ouvido Lauren falar sobre
Wes Kirby durante os três anos em que ela namorou o Ben. Eu sabia que ele
era bonito – tinha visto fotos – e Lauren me garantiu que ele era mais do
que apenas isso.
Ela estava certa sobre a seca. Já fazia quase um ano desde que eu tinha
feito sexo pela última vez, e sete meses desde que fui a um encontro. Eu
queria poder atribuir isso ao fato de estar ocupada demais com a faculdade e
a formatura, mas a verdade era que simplesmente não tinha conhecido
ninguém que eu gostasse muito. Eu estava esperando que Wes e eu
tivéssemos uma boa química. Ele seria o padrinho de casamento, e eu, a
madrinha. Nós nos veríamos muito naquele m de semana e no m de
semana do casamento, em agosto.
— Droga, Ben o levou para falar com alguém — disse Lauren,
gemendo. — Ele sabe que eu quero apresentar vocês dois.
— Vamos comer — sugeri. — Eu não comi nada o dia todo e estou
morrendo de fome.
— Ok. Só não suje a blusa. — Lauren me deu um olhar severo, muito
familiarizada com minha tendência de me sujar um pouquinho de vez em
quando.
— Eu sempre tento — disse, revirando os olhos. — Mas acontece.
— Você precisa de um babador.
Dei de ombros.
— Não é má ideia.
Ela apenas suspirou e passou o braço ao redor dos meus ombros
enquanto caminhávamos em direção à la da comida.
— Talvez essa possa ser sua primeira história para a nova revista. — Ela
estendeu a mão na nossa frente e traçou uma linha horizontal, imitando
uma manchete. — Acessórios essenciais para a mulher que está sempre
sujando a camisa. Você poderia incluir babadores fofos, lenços Tide e
sacolas grandes o su ciente para guardar camisas extras.
— Você é uma idiota — murmurei, rindo.
— Mas você me ama mesmo assim.
— Amo. — Suspirei e encontrei seu olhar. — O que vou fazer sem
você, Lo? Nós somos melhores amigas há quatro anos e colegas de quarto há
três.
Seus olhos azul-claros se arregalaram enquanto ela me olhava
seriamente.
— Nada vai impedir que a gente seja melhores amigas, Had. Nada.
Mesmo quando eu estiver tendo bebês e você for a editora-executiva da
Vogue, ainda conversaremos todos os dias e nos veremos o máximo que for
possível.
Lauren chegou à frente da la e pegou um prato, passando-o para mim
antes de pegar um para si.
— Estou tão feliz que o Ben goste tanto de churrasco quanto eu —
disse ela, sorrindo. — Não somos pessoas de costela prime e caviar. Me dá
um hambúrguer e um macarrão com queijo em pó, daqueles laranja da
Kraft, e está tudo bem. Nem preciso do tipo so sticado, com queijo de
verdade.
Eu ri e respondi:
— Lembra daquele dia em que estávamos estudando para as provas
nais e não tínhamos comido o dia todo, então zemos aquele panelão de
macarrão com queijo congelado e queimamos a boca na hora de comer?
— Ah, merda. — Ela riu. — Aquilo foi horrível. Eu seriamente pensei
que nunca mais recuperaria a sensibilidade de algumas partes da língua.
— No dia seguinte, assistimos a vários lmes românticos com uma
grande tigela de gelo, colocando cubos na língua depois que os antigos
derretiam.
Lauren encheu seu prato com salada de macarrão e um cheeseburger, e
eu fui pegar um cachorro-quente, macarrão com queijo e algumas frutas.
Ela era uma daquelas mulheres naturalmente magras – daquelas que vestem
P – que continuam esbeltas, não importa o que comam, enquanto eu tinha
que me exercitar todos os dias para continuar no M.
Lauren foi parada por uma tia e um tio que queriam parabenizá-la, e dez
minutos se passaram antes de nalmente nos sentarmos à mesa para comer.
Lauren é lha única, mas seus pais tinham vários irmãos, e a família inteira
era grande. Eles sempre me incluíam nos encontros em feriados, porque a
única família que eu tinha era meu irmão, um SEAL da Marinha que nunca
estava no mesmo lugar por muito tempo, e um tio na Flórida.
Eu estava tão faminta, que imediatamente en ei uma colher de
macarrão com queijo na boca, seguida pouco depois por uma mordida no
meu cachorro-quente. Se fôssemos chamadas para tirar fotos novamente, eu
queria pelo menos ter comido alguma coisa para não car com fome.
— Oi, querida — disse uma voz masculina profunda.
Eu me virei e vi Ben se aproximando de nós, Wes bem ao lado dele.
Merda.
Ele não poderia ter tido uma primeira impressão menos lisonjeira de
mim, com a boca bem aberta. Eu mastiguei o mais rápido que pude, limpei
a boca e sorri para Wes enquanto Lauren se levantava para abraçar Ben.
— Oi, Wes — disse Lauren, abraçando-o em seguida.
Eu passei nervosamente uma mão pelo rosto, rezando para ter tirado
todas as migalhas restantes. Meu coração martelava no peito enquanto eu
me levantava e encontrava os olhos muito azuis de Wes. Ele era alto, com
cabelos escuros, um rosto bonito e um sorriso vindo direto de um comercial
de pasta de dente – perfeito e branco como uma pérola.
Imagens de nós quatro saindo juntos passaram pela minha cabeça e,
obviamente, eu estaria sentada em seu colo nesses cenários.
— Oi, Hadley — ele disse, sorrindo. — Vejo que você gosta de colocar
salsichas na boca.
Meu coração afundou, e eu dei um olhar de lado para Lauren. Esse cara
tinha muito potencial até abrir a boca. Ele pegou uma batata chips do prato
e colocou na boca. Além de batata, seu prato estava carregado com um
hambúrguer, um cachorro-quente e pelo menos um recipiente com todos os
acompanhamentos servidos no bu et. Era um milagre que a montanha de
comida não estivesse caindo pelo chão.
— Parece que você também gosta — eu disse, dando a ele um sorriso
forçado enquanto apontava para o prato dele.
— É, sim.
— Ei, pessoal, precisamos conversar com algumas pessoas — disse
Lauren, dando a Ben um olhar conspiratório. — Apenas conversem um
pouco, que já voltamos.
Eu dei a ela um olhar de “você está de sacanagem comigo” de olhos
arregalados, mas Lauren me ignorou.
Wes se jogou na cadeira e me deu um sorriso malicioso.
— E aquela história do padrinho e a madrinha de casamento se pegarem
em casamentos? — ele perguntou.
— É novidade para mim — eu disse, me concentrando no meu prato e
compondo mentalmente o discurso que seria direcionado a Lauren mais
tarde por me deixar sozinha com ele.
— Quer sair para beber alguma coisa mais tarde, depois que nos
liberarem? — Wes perguntou.
Eu estreitei os olhos e dei a ele um olhar cético.
— Eu acho que já vamos sair para tomar alguma coisa depois do jantar.
— Sim, mas quero dizer depois disso… sabe, só você e eu.
Eu não suportava homens como ele. Wes não se importava com quem
eu era ou o que eu era, ele só queria transar.
— Acho que vou car bem cansada depois que todos nós sairmos juntos
— eu disse.
— Cansada? — Ele riu. — Acho que você precisa se soltar um pouco.
— Estou bem.
Ele balançou a cabeça como se não conseguisse entender por que eu o
rejeitei e suspirou fundo.
— Qual é, Hadley? Nós dois estamos solteiros, então vamos aproveitar
um pouco. Dê uma chance, você pode até acabar gostando de mim.
Eu ri, sem graça.
— Você nem me conhece.
— Eu sei o su ciente sobre você.
Revirei os olhos.
— Eu tenho muito respeito próprio para o seu gosto, con e em mim.
— O que isso quer dizer?
— Isso signi ca que eu não tenho interesse em fazer sexo com você.
Ele levantou as mãos, em um gesto de falsa rendição.
— Ei, eu não estava sugerindo isso. Nós todos vamos sair hoje à noite.
Eu só pensei que você e eu poderíamos passar um tempo juntos depois.
— Sim, já bêbados — eu disse sarcasticamente.
— Não há nada de errado em se divertir um pouco.
— Você parece o tipo de cara que gosta de se divertir com uma mulher
diferente todas as noites.
Ele deu de ombros e olhou para baixo, para sua mão esquerda; em
seguida, mirou meus olhos.
— Para mim, o dedo anelar parece vazio.
— Ah, você ainda mora em uma fraternidade?
— Eu moraria se pudesse.
— Vivendo na sujeira, festejando todas as noites e sendo irresponsável.
Aposto que você ama isso.
Ele sorriu.
— Você também amaria se relaxasse um pouco.
Fiquei ofendida.
— Relaxasse? Você está falando sério?
— Acho que vou gostar mais de você quando tiver uma salsicha na
boca, só isso.
— Como você e Ben podem ser amigos?
— Como você e Lauren podem ser amigas? Ela é uma das garotas mais
doces e legais que já conheci.
— Mulher, na verdade.
Wes se contorce.
— Tanto faz. Você é uma daquelas pessoas que corrigem a fala de todo
mundo, não é? E coloca em ordem alfabética as coisas. Seus temperos são
organizados em ordem alfabética?
Minhas bochechas aqueceram, porque, sim, meu armário de temperos
estava em ordem alfabética, mas eu não daria a ele a satisfação de admitir.
— Claramente não somos compatíveis — eu disse.
— Sim, claramente. — Ele arregalou os olhos e deu uma mordida no
hambúrguer.
— E aí, pessoal? Como vão as coisas? — Ben perguntou enquanto se
aproximava junto de Lauren.
— Fantásticas — Wes disse sarcasticamente e se levantou.
Lauren me deu um olhar de simpatia, e Ben limpou a garganta,
parecendo envergonhado.
— Bem, talvez vocês tenham começado com o pé esquerdo — ele disse
diplomaticamente. — Vamos tentar de novo hoje à noite.
— Passo — eu disse, balançando a cabeça e me levantando da cadeira.
— Wes pode ter mais sorte enganando calouras universitárias. Acho que sou
um pouco velha demais para ele, intelectualmente falando.
— Chata do caralho — Wes murmurou.
— Babaca — eu retruquei, me aproximando um passo dele.
— Por que você não vai colocar um rótulo em alguma coisa? Ou passar
suas roupas de trabalho?
— Vá se divertir com sua mão, garoto de fraternidade.
— Ok, pessoal. — Lauren deu um passo à frente e parou entre nós. —
Vamos seguir caminhos separados e não transformar a festa de noivado dos
nossos melhores amigos em uma cena de Jerry Springer, ok?
Eu assenti, imediatamente arrependida por agir como uma criança. Não
havia ninguém por perto, mas ainda assim. Aquele dia era de Lauren e Ben.
— Desculpa, pessoal — eu disse com a voz calma.
— Sim, desculpa — Wes também disse. — Vou… — Ele apontou para
o outro lado do quintal.
— Eu vou com você — Ben disse.
Lauren colocou um braço em volta de mim assim que eles saíram.
— Hadley, sinto muito. Nunca teria tentado juntar vocês se eu soubesse
que seria desse jeito.
— Eu sei. Eu só não consigo entender por que Ben é amigo dele. Ele é
insuportável.
— Por quê? O que aconteceu? Ele costuma ser um cara legal. — Seus
olhos estavam cheios de preocupação.
— Quer saber? — Eu forcei um sorriso. — Não importa. É a sua festa
de noivado e podemos falar sobre isso em outro momento.
— Sim, mas e quanto a esta noite? Você acha que talvez possa… ignorá-
lo?
— Absolutamente.
Ela parecia aliviada.
— Ótimo. Porque você é nossa madrinha e ele é nosso padrinho. Você
terá que encontrá-lo para as coisas do casamento. E depois também, talvez
durante feriados e chás de bebê e coisa e tal.
Eu dei um olhar sério para minha melhor amiga.
— Não se preocupe, Lo. Eu não planejo falar com o Wes novamente.
Ela mordeu o lábio e me deu um olhar incerto.
— O que foi? — eu perguntei a ela.
— Eu não queria dizer nada, mas… você derramou molho na camisa.
— O quê? — Eu olhei para baixo e vi uma mancha de molho de queijo
amarelo na minha camisa rosa-clara, um único macarrão ainda preso no
tecido. Perfeito. Wes devia estar rindo por dentro enquanto eu agia toda
indignada com ele tendo comida grudada na camisa. — Merda — sussurrei.
— Tudo bem — disse Lauren. — Eu tenho roupas extras em casa.
Vamos procurar algo para você vestir.
Eu a segui para a casa dos pais dela, mantendo meu olhar na sua nuca.
Não só eu não planejava falar com Wes novamente, como também
planejava sequer olhar para ele.
Que babaca.
Nada mudaria o que eu sentia por ele – não só naquela noite, mas
nunca.
Wes
Dias atuais
*
A essa hora da noite, levei apenas doze minutos para chegar ao
condomínio fechado e digitei o código do portão, que eu sabia já que era
um visitante bastante regular. Havia uma viatura estacionada na frente da
casa, e isso me assustou mais do que o telefonema de Britney. Saí do meu
SUV e corri para a porta da frente, batendo rapidamente.
Um o cial uniformizado abriu a porta e encontrou meu olhar
interrogativo.
— Senhor… Kirby?
— Sim. Eu sou Wes Kirby. O que está acontecendo?
Outro policial veio até a porta, e os dois olharam para mim.
Senti algo ruim se contorcendo em meu peito, um pressentimento, e eu
mirei seus olhos diretamente.
— O que está acontecendo? As crianças estão bem? Onde estão Ben e
Lauren?
— Houve um acidente de carro — o policial disse calmamente. — O
senhor Whitmer morreu na hora e a senhora Whitmer morreu a caminho
do hospital.
— O quê? — Eu os encarei. — Não. Deve ser um erro.
— Senhor Kirby? — Britney veio até a porta, seus olhos vermelhos e
inchados. — É verdade?
Vendo a garota de perto, lembrei de tê-la visto algumas vezes. Ela era
uma estudante do ensino médio que morava na esquina, e as crianças a
amavam. Ela ajudava Lauren às vezes quando estávamos na estrada, para
que ela pudesse ter um pouco de tempo para si mesma.
— Ainda não sei de nada, querida. — Passei a mão pelo cabelo. — As
crianças estão dormindo?
Ela assentiu.
— Você precisa ligar para seus pais?
— Eu já liguei.
Um momento depois, um lustroso Mercedes preto parou na garagem, e
um casal que parecia estar na casa dos quarenta saiu do carro. A mulher
correu na frente, seus olhos encontrando os meus, alarmados.
— O que aconteceu? Onde estão Ben e Lauren? O que está
acontecendo?
— Não sei. — Eu estava tentando respirar, tentando manter a calma,
porque não parecia real. Tinha de haver um engano.
— Senhores, o que está acontecendo aqui? — O pai de Britney estava
tentando bancar o durão com os policiais, como se isso fosse nos dar
alguma resposta.
— Onde eles estão? — eu interrompi.
— Eles estão no County General — respondeu o segundo o cial. —
Mas…
— Eu preciso ir até lá. — Eu me virei para a mãe de Britney. — Eu
odeio ter de pedir isso, mas você poderia car aqui com Britney e as
crianças para que eu possa descobrir o que diabos está acontecendo?
— Claro, vá. — Ela concordou com a cabeça e então apertou os olhos
um pouco. — Você é amigo de Ben. Wes, certo?
— Sim. — Eu encontrei seu olhar interrogativo.
— Lauren falava de você com frequência.
Eu não sabia o que dizer sobre isso, então simplesmente balancei a
cabeça, me virei e corri de volta para o meu SUV.
*
Liguei para o celular de Ben no caminho para o hospital, mas foi direto
para a caixa postal.
— Ei, aqui é o Ben. Deixe um recado. Se for você, Lauren, eu te amo.
MERDA.
Isso não poderia estar acontecendo. Não podia ser verdade. Eu me
recusei a acreditar até ver com meus próprios olhos.
Impulsivamente, tentei o número de Lauren em seguida, mas também
foi direto para o correio de voz.
— Ei, é Lauren. Você sabe o que fazer depois do bipe. Se for você, Ben,
não vou atender porque estou ocupada com seus lhos. Mas eu te amo
mesmo assim.
Deus, esses dois.
Meu coração estava praticamente na garganta, e eu estava com aquela
sensação ruim de novo. Não conseguia nem imaginar a ideia de que algo
tivesse acontecido com eles.
Num impulso, liguei para nosso amigo e companheiro de equipe, Nash
Reilly.
— Você tem dimensão que passa de uma hora da manhã e…
Eu o interrompi.
— Ben e Lauren sofreram um acidente de carro. Estou a caminho do
County General. Pode me encontrar lá?
— Jesus, eles estão bem?
— Eu acho que deu ruim, Riles.
— Estou a caminho. — Ele desligou, e meus dedos caram brancos
enquanto eu segurava o volante, virando para a entrada principal do
hospital. Estacionei em um local fora da área de emergência e entrei.
Havia uma enfermeira de aparência cansada na recepção, e eu a abordei
rapidamente.
— Com licença. Estou procurando por Ben e Lauren Whitmer.
A enfermeira franziu a testa.
— Acho que não temos ninguém com esse nome… — Sua voz foi
sumindo enquanto digitava algo no computador. Então sua expressão
mudou um pouco. — Oh. Me desculpe, como você se chama?
— Eu sou… um amigo da família. A polícia foi até a casa para nos dizer
que houve um acidente. — Encontrei seu olhar, perdendo a esperança a
cada segundo enquanto observava as emoções em seu rosto. — Você tem
alguma informação que possa me contar?
— Receio que só posso falar com a família ou…
— Está tudo bem, Jan. — Um dos policiais que estavam na casa
obviamente havia me seguido até o hospital. Ele colocou a mão no meu
ombro e me afastou alguns metros da área da recepção. — Senhor… Kirby,
seu amigo e a esposa não sobreviveram ao acidente. Eu sinto muito.
— Você não pode… — Minha voz falhou, e eu engoli em seco. Havia
algo causando ardência em meus olhos, e eu quei imóvel, congelado no
mesmo lugar. — Tem certeza? — eu nalmente sussurrei.
— Sentimos muito, sr. Kirby. Você sabe quem podemos chamar para
cuidar de tudo? Existe algum familiar? Teremos que chamar os assistentes
sociais para as crianças, a menos quê…
— Não, eu cuido, eu cuido… eu sou o padrinho deles. Eu vou voltar
para lá hoje à noite. Eu só… posso vê-los?
— Eu não tenho certeza se é possível. Vou descobrir.
O policial voltou para a recepção enquanto eu permanecia sem me
mover. Não era real. Não poderia ser. Eu não acreditei.
Não pude acreditar.
— Wes! — Nash entrou alguns segundos depois, e no instante em que
me viu, seu passo vacilou. — Wes?
— Eles partiram, Riles. — Eu não conseguia nem olhar para ele.
— Jesus, não. — Ele parou a uns trinta centímetros de distância de
mim. — Tem certeza?
— Eu, uh, sim, acho que sim. — Olhei para cima, quando o policial se
aproximou de mim.
— Você gostaria de ver seus amigos? A enfermeira Jan disse que
podemos deixar você entrar bem rápido.
— Eu… — Minha voz falhou. Eu nunca tinha visto um cadáver. Não
de perto, e de nitivamente não um que fosse o meu melhor amigo.
— Depois que eles os levarem para o necrotério, você não poderá ir até
lá — ele disse gentilmente.
— Sim. Eu sei.
Meus pés pareciam enormes blocos de concreto enquanto eu seguia a
enfermeira por um corredor inde nido. Passamos por todos os quartos
regulares e chegamos a um isolado nos fundos. A enfermeira abriu a porta, e
eu me preparei antes de entrar.
— Não. — Minha respiração escapou apressada, e eu caí contra a
parede. — Puta merda, não. — Fechei os olhos com força e lutei contra a
umidade acumulada, mas não adiantou.
Ben e Lauren se foram.
Ben. Meu melhor amigo. Meu irmão. Nosso capitão. O yin do meu
yang por quinze anos.
— NÃO!!! — a palavra saiu do meu peito com um rugido gutural, e eu
me agachei porque não tinha mais forças para car de pé. Eu abaixei a
cabeça, uma dor diferente de tudo que eu já senti parecia me rasgar no
meio.
Isso não poderia ser real. Não poderia estar acontecendo.
Mas estava. Ben e Lauren se foram, e eu não tinha uma porra de ideia de
como iria superar isso.
Hadley
*
— Você pode acelerar as coisas? — perguntou Susan Whitmer enquanto
segurava Benny nos braços e o embalava no meio da sala lotada. — Nós
temos uma longa viagem pela frente e quero que as crianças possam tirar
uma soneca no avião. Estou tentando manter a rotina de Benny normal.
O advogado de Ben e Lauren, Len Harris, olhou para Susan por cima da
armação escura dos óculos.
— O testamento deve ser lido na íntegra, sra. Whitmer — ele disse.
Revirando os olhos, ela respondeu:
— Ok, se você pudesse ler mais rápido, talvez. — Benny se mexeu e
soltou um chorinho.
— Quer que eu o pegue? — ofereci, me levantando da cadeira na
grande mesa de reunião.
— Não, obrigada, estou bem.
Eu só havia segurado Benny uma vez, e por cerca de vinte minutos, na
semana em que estava hospedada na casa de Ben e Lauren. Susan estava
monopolizando-o, e mesmo sabendo que isso estava ajudando-a a lidar com
a perda, quei um pouco incomodada, porque as pessoas que amavam o
Benny e não o veriam por um tempo não puderam ainda pegá-lo no colo,
dar comida ou conversar com ele.
Len Harris limpou a garganta e continuou a ler:
— Em relação aos cuidados de seus lhos menores, Annalise Hadley
Whitmer e Benjamin Weston Whitmer, a custódia será compartilhada por
Weston J. Kirby e Hadley P. Ellis. O sr. Kirby e a srta. Ellis podem decidir
entre si quem será o guardião permanente dos lhos. Sobre as nanças…
— O QUÊ? — Susan gritou, os olhos arregalados de horror.
Benny se assustou, e seu grito foi o único som na sala. Senti como se
alguém tivesse me dado um tapa. Fiquei sem ar e ligeiramente atordoada.
Encontrei o olhar de Wes do outro lado da mesa e vi que ele estava tão
perplexo quanto eu.
— Patrick, faça algo — suplicou Susan ao marido. — Nós vamos levar
nossos netos para casa hoje.
Len Harris franziu a testa e respondeu:
— Receio que não seja possível, sra. Whitmer. Ben e Lauren deixaram
uma carta para explicar as razões por trás da decisão. Eles também deixaram
cartas para cada um dos lhos e para o sr. Kirby e a srta. Ellis.
— Não me importa quais são as razões deles. Annalise e Benny são
nossa família. Eles são nossos netos. E lutaremos com tudo o que temos por
eles.
— Vocês podem fazer isso — disse Len Harris. — Mas enquanto isso,
Annalise e Benny carão com… — Ele olhou para o papel à sua frente. —
Weston Kirby e Hadley Ellis.
— As crianças nem os conhecem! — gritou Susan. — Isso é loucura! Eu
cuidei de Benny a cada segundo desde que cheguei aqui. — Len Harris
travou o olhar em Patrick Whitmer. Patrick assentiu, a expressão sombria.
Ele se aproximou da esposa e colocou a mão em seu ombro.
— Susan, não temos escolha a não ser cumprir por enquanto.
Ela balançou a cabeça, lágrimas escorrendo pelas bochechas. Eu fechei
os olhos, entendendo sua tristeza e tentando processar o que o advogado
acabara de ler no testamento de Ben e Lauren.
Eu estava esperando que ela tivesse me deixado sua blusa favorita da
UCLA. Talvez algumas fotos nossas ou um de seus vasos favoritos. Quando
me disseram que minha presença era necessária na leitura do testamento, eu
não tinha ideia de que Ben e Lauren estavam deixando os lhos para mim.
Eu travei meu olhar em Wes novamente. Ele parecia um pouco menos
atordoado do que alguns segundos antes.
— Susan, temos que entregá-los a eles — disse Patrick em um tom
persuasivo. — Isso não signi ca que nunca mais veremos Benny e Annalise.
Len Harris interveio.
— Há uma cláusula no testamento que estabelece que você terá as
crianças por duas semanas a cada verão e que poderá vê-las nos feriados.
— Eu não consigo fazer isso — disse Susan, chorando. — Eu não
consigo.
Patrick conseguiu pegar Benny dos braços dela e começou a levá-lo até
Wes.
— Espere! — Susan gritou. — Espera… só um segundo. E se eles não
quiserem? E se Wes e… seja lá qual for o nome dela não os quiserem?
Podemos car com eles então? Nós pagaremos se for preciso.
Len recostou na cadeira, parecendo nem ter considerado a possibilidade.
— Teríamos que revisitar a questão então. — Ele olhou novamente para
o testamento. — Sr. Kirby e srta. Ellis, vocês aceitam a custódia permanente
de Annalise e Benny Whitmer?
Eu aceitaria? Eu nunca tinha imaginado que aquilo fosse possível até
menos de cinco minutos antes. Eu morava em um apartamento pequeno
em Manhattan. Meu mundo inteiro mudaria se eu tivesse Annalise e Benny
comigo. Mas Ben e Lauren queriam que eu zesse isso. Bem, Wes e eu. Eu
olhei para Wes. Ainda não tinha certeza de como isso iria funcionar, mas
provavelmente ele me deixaria cuidar das crianças. Ele era um jogador de
hóquei pro ssional e não tinha tempo para criá-los.
Wes olhou para cima e encontrou meu olhar quando disse:
— Sim. Eu quero car com eles.
— Eu também — eu disse.
O lamento de derrota de Susan doeu.
— Nós vamos contestar essa decisão — ela disse em voz baixa. Ela
parecia exausta. Eu imaginei que com a perda do lho e com os cuidados
com Benny, ela estava esgotada de todas as formas possíveis.
— Nós não vamos excluí-los da vida deles — eu disse, as palavras saindo
automaticamente. — Vocês podem vir visitá-los, e não apenas nos feriados.
— Sim, queremos que vocês continuem na vida deles — disse Wes.
Ele cou de pé, enquanto Patrick entregava Benny para Wes. Wes fez
um trabalho surpreendentemente bom ao receber a criança, segurando
Benny de um jeito bem próximo do que eu sabia que ele gostava de ser
segurado.
— Devo terminar de ler o testamento agora? — Len perguntou.
Ninguém respondeu, mas ele pareceu entender isso como um sim. Wes
e eu descobrimos que a casa de Ben e Lauren estava paga e que ambos
tinham apólices de seguro de vida e economias consideráveis, tudo deixado
para que cuidássemos e passássemos depois para as crianças.
As crianças. Eu agora tinha crianças. Eu entrei nesta sala sem lhos há
uma hora, e agora tinha dois. Eu nunca seria a mãe deles, mas me tornara
responsável por eles de todas as maneiras. Pela criação deles.
Foi tão chocante quanto descobrir que meus amigos haviam partido. O
luto teria de esperar, porque eu estaria ocupada pelos próximos dezoito anos
ou mais.
Wes
Algumas coisas são senso comum. Certi car-se de segurar um bebê para
que ele não role da cama, não discutir quando uma criança de três anos
quer mergulhar o cachorro-quente no suco de maçã e colocar as crianças nas
cadeirinhas do carro. Essas coisas se aprende, não importa o quanto você
seja inexperiente. Por outro lado, ninguém te fala sobre vômitos de longo
alcance, quantos lenços umedecidos verdadeiramente são necessários para
limpar a bunda de um bebê depois de uma explosão de cocô ou em que
temperatura você deve esquentar o leite materno.
Agora eu estava coberto de vômito, xixi e leite materno, Benny estava
nu, e Annalise não parecia impressionada com minha primeira tentativa
solo de ser pai.
— Você está fedido — ela me disse, franzindo o nariz.
— Bem, eu e o grandão vamos tomar banho — disse a ela, pegando
Benny no colo.
— Posso ir junto?
Eu congelei. Tê-la no chuveiro comigo não seria apropriado, mas
também percebi que não poderia deixá-la sozinha. Ela era geralmente bem-
comportada, mas só tinha três anos, então precisava de supervisão.
Bem, adeus, banho.
Jesus, eu estava exausto, e a explosão de cocô de hoje tinha sido épica.
Como membro honorário da família, eu havia trocado as fraldas de Benny e
Annalise ocasionalmente, mas geralmente era apenas xixi, e certamente nada
comparado a essa magnitude. Esse caso havia sido algo completamente
diferente. Eu cometi o erro de abrir a fralda enquanto ele ainda estava
cagando, e então ele jorrou em mim, e eu não estava preparado para isso.
— Tio Wes, estou com fome. Já está na hora do almoço?
O treino da manhã, do jogo que haveria naquele dia, era opcional, então
eu quei em casa com as crianças esperando para tirar uma soneca quando
eles dormissem, mas isso não aconteceu. Era quase uma da tarde, e eu mal
tinha dado o café da manhã para os dois, muito menos o almoço, e eu
estava começando a car sobrecarregado. Não havia modo de conseguir tirar
uma soneca antes de sair para o jogo. Eu estava apenas me mantendo ativo.
Nesse momento, escutei uma batida rápida na porta e alguém me
chamou.
— Wes? — Eu reconheci a voz de Nash.
— Aqui dentro! — eu respondi.
Obrigado, alguém veio. Agora Nash poderia cuidar de Annalise enquanto
eu tomava banho com Benny.
— Oi. — Eu olhei para cima, agradecido.
— Tio Nash! — Annalise deu um sorriso brilhante antes de seus olhos
se arredondarem.
Vindo atrás dele estava o enforcer do time, um enorme sueco chamado
Lars Jansson. Com um metro e noventa e oito, cabelos loiros longos, ele era
um cara tímido e quieto que tendia a se manter sozinho quando estava fora
do gelo. Eu não achava que ele já tinha ido a qualquer uma das festas de
família do time, e Annalise provavelmente nunca o tinha visto pessoalmente
antes.
— É o or — ela sussurrou, os olhos arregalados.
Lars olhou de volta.
— Meu nome é Lars — ele respondeu em seu inglês rígido com
sotaque. — Qual é o seu nome?
— Eu me chamo Annalise. — Ela caminhou até ele, encarou seu rosto e
depois estendeu os braços, indicando que queria que ele a levantasse.
Houve uma breve pausa constrangedora quando Lars franziu a testa e
depois se virou para mim perguntando o que signi cava aquilo. Eu estava
com os braços ocupados com o bebê, então olhei para Nash, que
rapidamente pegou Annalise.
— Lars é um dos defensores dos Mavericks — disse a ela. — Ele está
com um machucado no braço, então não pode te pegar. Mas agora você
pode dizer oi estando na altura dele.
Annalise franzia a testa.
— Seu machucado está doendo? — ela perguntou a Lars.
— Eu não estou… — Lars começou.
— Muito acostumado com crianças — Nash terminou por ele, olhando
para ele. Lars pareceu confuso por um minuto, mas então concordou com a
cabeça.
— Sim, isso mesmo. — Ele se virou para Annalise. — É um prazer te
conhecer.
— Você quer pintar minhas unhas? O tio Wes disse que não sabe como
se faz.
— Er… — Lars hesitou, parecia estar pensando um pouco e depois
concordou. — Sim, eu posso fazer isso.
— Eba! — Annalise se remexeu para que a colocassem no chão e saiu
correndo do quarto.
— Vocês são uns salvadores de vidas! — eu disse a eles. — Vou tomar
banho com o Senhor dos Cagalhões enquanto vocês cuidam da Annalise.
Ok?
— Perfeito. — Nash arqueou as sobrancelhas. — E eu vou explicar para
o Lars que quando uma criança pequena levanta os braços, signi ca que ela
quer que você a pegue no colo.
Eu saí do quarto rindo. Lars tinha muitas peculiaridades por causa de
alguns transtornos com os quais ele precisava lidar. Nós estávamos
acostumados, mas seria difícil explicar para Annalise que ele não gostava de
ser tocado e às vezes era muito literal. Mas Lars concordou em pintar as
unhas dela, o que lhe renderia muitos pontos, já que eu havia dado um
monte de desculpas quando ela me pediu. Eu faria uma bagunça se tentasse,
e francamente, de onde tiraria tempo? Eu quei ocupado desde que o
Benny me acordou pouco antes das seis. Alimentar, trocar fralda, fazer café
da manhã para mim e para Annalise e nos vestir levaram três horas. Eu
estava tão distraído, que esqueci de levá-la para a escola.
Benny estava com a cabeça no meu peito enquanto eu entrava debaixo
da água quente do chuveiro. Deixei a água cair sobre nós, e ele pareceu
relaxar, então camos assim por um tempo, deixando a água fazer a maior
parte do trabalho de nos limpar. Ele era tão pequeno e inocente, e eu não
tinha ideia de por que diabos Ben tinha pensado em deixar seus lhos aos
meus cuidados. Como eu ia fazer isso? Mesmo com Hadley ajudando, eu
tinha sérias dúvidas sobre nossa capacidade de criar essas crianças. Talvez
devêssemos ter deixado Patrick e Susan levá-las. Os pais de Ben eram
pessoas boas. Eu os conhecia há anos, e até a leitura do testamento,
tínhamos um bom relacionamento.
Botei um pouco de sabonete líquido na minha mão e nos ensaboei o
melhor que pude, já que só tinha um braço livre, e nalmente saí do
chuveiro. Com Benny calminho, eu o sequei com a toalha, vesti um
moletom limpo e fui para o quarto dele colocar uma fralda antes de colocá-
lo para dormir.
— Como você está? — Nash tinha entrado no quarto do bebê atrás de
mim, e eu olhei por cima do ombro.
— Quer a verdade?
— Claro.
— Isso é a coisa mais difícil que já z na minha vida.
— Quando Hadley volta?
— Daqui a três dias — respondi.
— Quanto tempo ela precisa para fazer as malas? — ele perguntou.
— Bem, não é como se ela estivesse arrumando só uma mala. Ela tem
que empacotar todos os pertences, ligar para a empresa de mudança e
cuidar de praticamente tudo antes de se mudar para outro estado. Estou
surpreso que ela esteja fazendo isso tão rápido, até porque ela precisa voltar
antes que a gente vá viajar.
— Eu ainda não consigo acreditar que os pais do Ben não quiseram car
para ajudar nessa primeira semana — murmurou Nash. — Tipo, nós já
saímos com eles mais de uma vez e eles sempre foram tão legais.
— Eles estão de luto — eu disse em voz baixa, tentando segurar as
pernas de Benny enquanto ele chutava e se remexia, me impedindo de
colocar a fralda. Botei a mão em sua barriga enquanto olhava para Nash. —
Não podemos culpá-los por nada agora.
— Você acha que eles vão brigar pela guarda?
— Tenho certeza disso.
Nash parecia querer dizer mais alguma coisa.
— Fala logo — eu disse a ele.
— Você tem completa certeza de que quer seguir com isso? — Ele fez
um gesto amplo com a mão. — Quero dizer, isso é bastante coisa, cara.
— Mas é o que o Ben e a Lauren queriam — eu disse em voz baixa. —
Como eu posso não tentar? E mesmo que eu nunca tenha pensado em ser
pai deles, eu amo essas crianças.
— Eu sei. — Nash colocou uma mão no meu ombro. — E eu estou
aqui contigo. Qualquer coisa que você precisar, é só me ligar.
— As coisas vão ser mais fáceis quando a Hadley chegar.
— Você acha? — Ele xou os olhos nos meus, porque todo mundo
sabia que Hadley e eu éramos como água e óleo. Brigávamos
constantemente sempre que estávamos no mesmo ambiente.
— Não temos escolha — eu disse.
— É, acredito. Cara, cuidado!
Eu olhei para baixo no momento certo em que um jato de urina subia,
encharcando minhas calças limpas, meu braço, o trocador e o pijama que
tinha acabado de colocar na criança. Olhei para baixo a tempo de ver Benny
me dar um enorme sorriso sem dentes, como se estivesse espetacularmente
orgulhoso de si mesmo.
Ia ser uma tarde longa pra caramba.
*
Eu ia chegar atrasado para o casamento. Olhei para o mar de luzes
vermelhas dos freios e buzinei impacientemente, encarando com frustração o
engarrafamento de dez carros à minha frente. Lauren e Hadley iam me matar, e
tudo isso era culpa do Ben. Não que eu fosse prejudicar meu melhor amigo no
dia do casamento dele, mas como diabos essas coisas aconteciam conosco?
Na próxima saída, saí da rodovia e ziguezagueei por várias estradas
secundárias, acelerando em áreas escolares e nas áreas residenciais porque estava
cando sem tempo. Se tivessem que atrasar o casamento porque o padrinho não
tinha aparecido, eu ia ser lembrado disso o resto da vida. Pressionei mais o pedal
do acelerador.
Depois do que pareceu uma eternidade, derrapei no estacionamento da
igreja, desliguei o carro e corri para dentro.
— Onde você estava? — Nash questionou, me encontrando assim que passei
pela porta. — O Ben está prestes a ter um ataque cardíaco.
— Houve um acidente na rodovia. — Eu ofeguei enquanto alisava as
lapelas do meu terno e respirava fundo.
— Você trouxe as alianças?
— Sim. — Eu bati no meu bolso. — Puta merda, eu preciso de uma
garrafa de água. Estou morrendo aqui.
— Eu vou pegar uma para você. Acho que eles estão prestes a começar tudo.
Você chegou literalmente na hora certa.
— Obrigado, cara.
Eu havia acabado de voltar a respirar normalmente quando a ouvi. Ah,
sim, Hadley estava me esperando, então eu me preparei antes de me virar
lentamente.
— Até que en m. — Ela estava caminhando pelo corredor na minha
direção, gostosa pra cacete, com um vestido justo de dama de honra, mas foi a
expressão em seu rosto que me fez começar a suar novamente. Jesus, ela estava
irritada, e como eu não podia dizer a ela que foi Ben quem esqueceu as
alianças, eu teria de aguentar o tranco.
— Houve um acidente… — comecei.
— Nem vem. Essa é a desculpa mais esfarrapada do mundo, Kirby. Você
entende que é o dia do casamento deles, certo? E que o mundo não gira em torno
do seu umbigo.
— Eu sei disso! — eu exclamei. — Eu não posso controlar o trânsito,
senhorita. Dá um tempo, vai?
— Lauren estava em pânico, e é meu trabalho manter tudo correndo bem.
Você quase arruinou tudo sozinho!
— Bem, se você tem o poder de controlar o trânsito, deveria ter dado um
jeito!
Virei as costas para ela e segui em direção à sala onde Ben e o restante dos
padrinhos estavam esperando, mas ela não parava. Seus saltos faziam um toc-
toc-toc no chão enquanto ela me seguia.
— Ok, beleza — eu disse, aumentando a velocidade e esperando que ela
fosse embora. — Eu me atrasei, mas agora estou aqui e está tudo bem.
— Eu realmente não entendo como alguém tão con ável e gente boa como o
Ben tem você como melhor amigo.
— E eu não consigo entender como alguém tão doce e atenciosa como a
Lauren tem uma megera como melhor amiga. — Eu abri a porta do local onde
os outros caras estavam, entrei e então fechei a porta na cara dela. Isso
provavelmente a deixou ainda mais irritada, mas eu precisava me acalmar um
pouco antes de começarmos a cerimônia.
Ben encontrou meu olhar do outro lado da sala e gesticulou com a boca um
“obrigado”.
— Você me deve uma — respondi.
— Hadley acabou contigo?
— Ah, com certeza.
— Eu vou contar para ela o que aconteceu e…
— Esquece. Você é o noivo. Não precisa pensar em nada além daquela linda
mulher que está prestes a se casar com você. Eu posso assumir essa
responsabilidade e lidar com Hadley.
Nash riu enquanto me entregava uma garrafa de água gelada.
— Do meu ponto de vista, você não consegue lidar com ela de jeito
nenhum.
— Só o som da voz dela faz meu pau encolher — eu admiti.
— Vocês dois são de nitivamente como água e óleo — Ben disse,
balançando a cabeça. — Mas, sério, ela trabalhou demais para fazer este dia ser
perfeito para a Lauren e para mim, então pega leve com ela. Ela não sabe a
verdadeira razão pela qual você chegou atrasado, o que a faz pensar que você
não está levando o dia a sério.
Eu bebi toda a garrafa de água e a joguei no lixo de reciclagem.
— Olha, já passou. Vamos fazer o que precisa ser feito.
Ben levantou o punho e bateu no meu.
— Obrigado de novo — ele disse baixinho. — Você salvou minha pele.
— É para isso que servem os amigos, né?
— Você e eu até o m. — Ben me puxou para um abraço rápido, dando
tapinhas nas minhas costas.
— Com certeza.
*
O vestiário é um lugar sagrado. Como equipe, quando estamos nesse
espaço, de certa forma é ainda mais importante do que quando estamos no
gelo. É lá que conversamos, planejamos, bolamos estratégias, rimos,
choramos e nos unimos. A vibração é diferente de quando estamos no meio
do jogo, porque a interação um a um não é apenas relacionada ao hóquei;
hoje o vestiário estava quieto, a energia usual de antes do jogo estava
notavelmente ausente. Em vez de brincadeiras e discussões leves, a maioria
dos caras estava olhando para baixo ou encarando o nada. Parecia um
velório.
A liga havia adiado nosso último jogo por causa do funeral, e mesmo
que tivéssemos acabado de enterrar nosso capitão da equipe, o show, por
assim dizer, tinha de continuar. O diretor de relações públicas dos
Mavericks tinha barrado a imprensa antes do jogo de hoje à noite, para que
o público não pudesse ver como estávamos lidando com nosso luto, mas
isso não tornava as coisas mais fáceis.
Como capitão substituto, juntamente com Nash, muita da
responsabilidade de levantar o ânimo de todos cabia a mim, já que Nash
geralmente lidava com questões no gelo, como, por exemplo, reclamar com
os árbitros. O problema era que eu não tinha mais energia emocional. Eu
estava lutando contra uma onda de luto tão intensa, que às vezes era difícil
respirar, e depois de passar o dia inteiro apagando um incêndio após o outro
relacionados às crianças, estava sicamente e mentalmente exausto.
Não havia nada parecido com hóquei ali. Se lutava contra tudo – lesões,
luto, drama familiar, qualquer coisa que fosse. Não tínhamos a opção de
descansar em janeiro. Também estávamos tendo uma temporada incrível,
liderando a liga em vitórias, pontos e gols marcados. Se pudéssemos vencer
mais uma, quebraríamos o recorde de dezessete vitórias consecutivas de
Pittsburgh, mas eu não sabia como faríamos isso em uma noite como essa.
Droga, eu não sabia de nada. Eu não sabia como sobreviver sem meu
melhor amigo. Eu não sabia como diabos criaria aquelas duas crianças. E
realmente não sabia como iria para o gelo todas as noites tentando liderar
essa equipe como ele fazia – porque ninguém podia fazer isso. Ben era um
pacote completo. Inteligente, habilidoso e um líder em todos os sentidos da
palavra. Ele conseguia orientar os novatos, se conectar com os veteranos e
acalmar um cara em um período de baixo rendimento. Até os árbitros o
amavam.
Eu não tinha a paciência nem as habilidades sociais de Ben, então, se
por um lado eu era um líder por causa da minha capacidade de marcar gols
e da minha experiência, por outro não lidava tão bem com as conversas
sérias cara a cara com os colegas de equipe. Para ser honesto, provavelmente
conseguiria fazer isso, mas nunca estive em uma situação em que precisasse.
Até esse momento.
— Escutem, rapazes — Nosso treinador, Malcolm “Cinzento” Gizzard,
entrou e fechou a porta atrás de si. Ele coçou a barba longa e peluda que lhe
deu o apelido e olhou ao redor, soltando um longo suspiro. — Não tenho
um discurso motivacional para vocês esta noite. Não tenho dicas de jogadas
ou ameaças ou promessas. Basicamente, tudo o que tenho são fatos. Fato
um. Estamos em uma sequência de dezessete vitórias e vamos quebrar o
recorde de Pittsburgh se pudermos vencer esta noite. Fato dois. Estamos em
primeiro lugar geral na liga por um bom tempo, o que é promissor para
nossas chances de chegar aos playo s. Eu não sei como passar por este jogo,
o primeiro sem o Ben. Então tudo o que vou dizer é: joguem por Ben.
Joguem com intensidade. Joguem com inteligência. Vão com tudo. Não
deixem todo o ruído de fundo entrar em suas cabeças. Agora vamos.
Todos nós nos levantamos, mas havia um peso forte nos arrastando para
baixo. Eu podia ver na maneira como os caras se moviam, as expressões
desanimadas em seus rostos, até mesmo na linguagem corporal. Era um
re exo do meu próprio humor, então eu entendia, mas isso não era bom
para a moral da equipe. Tínhamos muito em jogo, tanto pessoal quanto
pro ssionalmente, e não podíamos apenas desistir assim fácil. Ben caria
puto.
— Ok, vamos dar um gás, pessoal! — eu chamei enquanto seguíamos
pelo túnel em direção ao gelo para o aquecimento. — Vamos lá!
Eu senti uma pequena faísca de excitação quando meus pés tocaram o
gelo, mas quando olhei em volta e percebi que Ben não estava mais, a onda
inesperada de tristeza me fez tropeçar.
Merda.
Isso não ia acabar nada bem.
E não acabou.
Não apenas perdemos, perdemos espetacularmente. 8-0. Nossa
sequência de vitórias havia acabado e estávamos todos desanimados quando
voltamos para o vestiário. A imprensa estava nos esperando, e mesmo que
fosse uma coisa merda de se fazer, eu fugi e fui tomar banho, deixando a
responsabilidade para Nash e para os outros. Eu me senti um covarde, então
fugi novamente quando terminei de me vestir e fui para casa. Talvez em
alguns dias eu pudesse lidar com tudo, mas a ideia de ser questionado sobre
Ben e explodir em lágrimas diante das câmeras era mais do que eu poderia
suportar.
Entrei pela garagem e fui procurar a esposa do meu companheiro de
equipe, Nina Laughlin. Ela tinha oferecido ajuda esta semana, até que
Hadley chegasse, e eu a encontrei lendo uma revista no sofá da sala. Ela
olhou para cima quando entrei e me deu um sorriso largo.
— Noite difícil, né?
— Sim. — Eu suspirei. — Como estão as crianças?
— Elas estão na cama. Eu precisei ler seis histórias de ninar para a
Annalise e deitar com ela até que pegasse no sono. O Benny já está
dormindo desde as oito, então provavelmente vai acordar de novo à meia-
noite.
— Sim. — Eu dei a ela um sorriso fraco, mas grato. — Obrigado
mesmo por cuidar das crianças esta noite.
— Lauren era minha melhor amiga aqui em St. Louis. Ela me mataria
se eu não estivesse aqui por você e pelas crianças.
— Bem, eu aprecio seu carinho.
— Ok, então temos algumas coisas para discutir. — Ela pausou. — Só
tem leite materno su ciente para mais ou menos dois dias. Lauren estava
planejando começar a desmamar Benny em breve, então ela não bombeou
muito.
— Sério? — Eu tinha estado tão focado em passar por essa semana, que
não tinha prestado atenção em quanto havia no congelador. — Isso é
ótimo. Então a única coisa que preciso fazer é criar seios em mim mesmo?
Ela riu, mas sem humor.
— Não, mas você vai ter que fazer a transição para a fórmula. Ele está
acostumado com a mamadeira, graças a Deus, então será apenas uma
questão de encontrar a fórmula certa que não o deixe com o estômago
irritado. Eu tenho sugestões, mas talvez você queira ligar para o pediatra…
— Jesus.
Eu sabia trocar fraldas, pentear o cabelo da Annalise e dar banho nas
duas crianças, mas não tinha ideia desse tipo de coisa. Fórmula, alimentação
e leite materno. Era um pesadelo.
— Eu sei que é difícil — ela disse com suavidade. — Mas Hadley estará
de volta em breve, e eu estou aqui. Nós te damos cobertura. Eu, Drew, o
time, as outras esposas. Tudo o que você precisa fazer é nos ligar. — Seu
marido, Drew, era nosso goleiro titular.
Eu estava grato por ela e pelos outros, mas não estava pronto para
abandonar a fantasia de que Ben e Lauren voltariam. Que aquilo tudo não
tinha sido nada além de um pesadelo.
Porque eu realmente, realmente, queria acordar.
Hadley
*
Nina Laughlin riu do outro lado da linha.
— Tem certeza disso? Fazer compras já é uma tarefa e tanto sem uma
criança de três anos e um bebê junto. Por que você não me deixa ir até aí
para cuidar deles para que você possa descansar? Bem, pelo menos o tanto
de descanso que você pode ter fazendo compras.
— Agradeço, de verdade, mas Benny e eu já estamos arrumados e a
caminho. Vamos buscar Annalise na pré-escola e depois comprar comida.
Nina me passou seu número de celular depois que a notícia de que Wes
e eu caríamos com a guarda das crianças se espalhou; ela me disse que eu
poderia ligar para ela a qualquer momento, dia ou noite, para qualquer
coisa. Ela me ligava diariamente para checar como estava tudo, e até aquele
momento, era a minha primeira conversa de adulto do dia.
Bem, sendo sincera, teve a conversa com Wes pela manhã, mas ele era
apenas cerca de três quartos de um adulto.
— Eles te disseram como funciona a la para pegar as crianças na pré-
escola? — ela perguntou. — Você não precisa entrar e assinar a saída.
Apenas que no carro e entre na la pela entrada circular, e eles vão levá-la
até você.
— Não, eu não sabia disso, mas obrigada. Isso vai ajudar, porque o
Benny está prestes a dormir.
Eu olhei no espelho retrovisor e vi suas bochechas redondas e o tufo de
cabelo escuro re etidos no espelho que Lauren havia colocado na
extremidade da cadeirinha virada para trás de Benny. Genial.
É
— É horrível carregar um bebê-conforto para dentro da escola só para
buscar outra criança, especialmente no frio — disse Nina.
Ela e o marido, Drew, tinham dois lhos, um de oito e outro de dez
anos. Era ótimo ter ajuda de uma mãe experiente e, ainda melhor, uma boa
amiga de Lauren por perto.
— Eu z isso esta manhã e foi péssimo — eu disse, rindo. — Annalise
levou o lanche da turma hoje, então eu comprei cupcakes chiques de uma
padaria. Eu estava preocupada que ela não conseguisse equilibrar a mochila
e os cupcakes, então carreguei tudo.
Nina soltou um pequeno gemido de preocupação.
— Droga, eu deveria ter te avisado que a escola não permite nenhum
alimento assado, a menos que seja certi cado como livre de nozes e
amendoim.
— Ah, caralho, sério? — Eu me encolhi ao perceber o que eu tinha dito
e me desculpei. — Desculpa o palavreado.
Ela riu.
— Não se preocupa. Meu marido fala como um estivador, e geralmente
eu também. Eu estava tentando controlar porque não sabia o que você
pensava a respeito disso.
Fiquei um pouco culpada. Tinha acabado de dar uma bronca em Wes
esta manhã por algo que eu mesma z. Mas eu de nitivamente assumiria
que era diferente xingar perto de um bebê, que não podia entender o que eu
estava dizendo. Pelo menos, eu esperava que fosse.
— Eu vou ter que aprender a controlar minha língua na frente das
crianças — eu disse a Nina.
— Bem, você está fazendo o seu melhor, então pega leve consigo
mesma. A escola costuma ter lanches extras caso alguém esqueça de trazer,
então não se preocupe com isso.
— Bom saber, mas Annalise estava animada com aqueles cupcakes do
Baby Yoda.
— Vocês podem levar os cupcakes para casa. O que acha de eu levar o
jantar e uma garrafa de vinho hoje à noite? Cupcakes e uma taça de vinho
de sobremesa. E se você precisar tomar um banho ou algo assim, eu posso
tomar conta das crianças.
Eu sorri.
— Seria bem legal, obrigada.
— Sem problemas. E você tem certeza de que quer levar as crianças para
o supermercado? Você pode deixá-las aqui se quiser.
— Não, eu me viro. Eu estou acostumada com supermercado. Quão
difícil pode ser levá-los comigo e deixá-los no carrinho?
*
Foi difícil. Realmente difícil pra cacete.
Não tinha imaginado que com o assento de Benny dentro do carrinho e
Annalise sentada na frente, eu não teria espaço para as compras. Tive de
fazer Annalise caminhar ao meu lado, e ela parava e perguntava sobre cada
coisa que via.
Benny vomitou em cima de si mesmo enquanto eu acrescentava itens de
maneira descuidada no carrinho.
— Essa porra é orgânica ou não? — eu disse baixinho, tentando ler a
letra miúda em uma caixa de biscoitos de bebê.
Foda-se. Benny estava sentado em seu próprio vômito, e eu precisava
levá-lo para casa e dar um banho nele. Eu joguei a caixa no carrinho e fui
para o caixa, onde descobri, depois que tudo tinha sido registrado, que eu
tinha deixado minha carteira no carro.
Eu levei as duas crianças comigo para pegá-la e voltei para pagar, suando
como se tivesse acabado de completar uma aula intensa de spinning. Eu
olhei para a caixa, que gentilmente teve pena de mim e me disse que eu
poderia puxar o carro até a entrada da loja, que eles carregariam as compras
para mim.
Quando cheguei em casa, dei uma rápida enxaguada em Benny e
troquei suas roupas, dei comida e o coloquei para dormir; eu estava exausta.
E ainda tinha de arrumar tempo para brincar com Annalise. Eu
praticamente saí correndo em direção à porta quando Nina chegou por
volta das cinco horas, trazendo comida de um restaurante italiano para
todos nós. Havia lasanha, espaguete, salada e pão de alho.
— É seu estômago? — ela perguntou, me dando um sorriso divertido
quando meu estômago roncou em resposta aos aromas divinos de alho e
molho à bolonhesa.
— Eu não comi nada o dia todo — admiti.
— Ah, querida. — Ela me deu um olhar de compaixão. — Sirva-se. Eu
dou comida para as crianças.
— Tem certeza?
— Tenho.
Ela passou a noite conosco, alimentando as duas crianças e dando banho
nelas; depois leu para Annalise e a colocou para dormir enquanto eu me
concentrava em Benny. Então conversamos enquanto bebíamos vinho e
comemos o que sobrou dos cupcakes do Baby Yoda.
Wes mandou mensagem depois do jogo para saber como as coisas
estavam, e eu me senti culpada quando respondi que tudo estava bem. Eu
tinha brigado com ele esta manhã por causa do Froot Loops e depois deixei
Annalise comer dois cupcakes e meio esta noite.
Como Lauren conseguia fazer tudo isso? Eu queria muito criar seus
lhos do jeito que ela fazia, com comida natural e atividades saudáveis, mas,
até aquele momento, atender às suas necessidades básicas estava me
consumindo por inteira.
Wes
Novo dia, nova derrota. Tínhamos perdido todos os jogos desde a morte do
Ben, e eu estava irritado pra caramba durante o caminho de casa. A boa
notícia era que esse tinha sido o último jogo antes da pausa do All-Star
Game, então eu teria um pouco de tempo para respirar. Talvez até mesmo
para lamentar. A má notícia era que isso signi cava estar com a Hadley
vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, algo pelo qual eu não
estava particularmente ansioso. Nós mal tínhamos nos visto desde que ela
havia se mudado, mas Hadley já estava sendo mandona e crítica o
su ciente, como se eu tivesse traumatizado as crianças para a vida toda ou
algo do tipo.
Eu precisava prestar atenção no meu modo de falar, mas, além disso, eu
achava que tinha feito um bom trabalho, considerando que não tinha ideia
do que estava fazendo. Claro, Hadley encontraria uma maneira de arruinar
tudo, não havia dúvida disso. Ela me encheu o saco desde a primeira vez
que nos vimos, e embora isso tenha me feito rir ao longo dos anos, agora era
diferente. Tínhamos de encontrar uma maneira de trabalhar juntos, morar
juntos e criar essas crianças juntos. Porque jamais deixaria que Hadley
casse sozinha com elas. Eu podia não saber todos os detalhes sobre como
criar crianças, mas sempre planejei ter uma família um dia e queria fazer
absolutamente tudo que pudesse pelas crianças do Ben.
Acordei um pouco depois das sete da manhã e ouvi barulho lá embaixo,
então imaginei que todo mundo já estaria acordado também. Senti uma
pontada de culpa por não ter colocado o despertador para tocar, e como
tinha fechado a porta do quarto de hóspedes, não tinha ouvido nada que
me acordasse. Hadley e eu precisávamos conversar sobre tudo isso.
Saí do quarto de hóspedes e encontrei Hadley na sala de estar, andando
de um lado para o outro, Benny choramingando em seus braços.
— O que houve? — eu perguntei a ela.
— Os dentinhos estão nascendo — ela disse, sem olhar para cima. —
Ele está incomodado desde ontem à noite. Eu estou com ele desde quatro
da manhã.
— Por que você não me acordou?
Ela deu de ombros.
— Você teve jogo e chegou ontem de viagem. Achei que precisava
dormir.
— Eu precisava mesmo. Obrigado. Eu vou car de plantão hoje à noite.
— Isso seria ótimo. Eu sinto como se não dormisse há semanas.
Benny começou a choramingar, e eu estendi a mão para acariciar sua
bochecha com o dedo.
— Não podemos dar a ele um Tylenol infantil ou algo assim?
Ela mordeu o lábio.
— Eu não quis fazer isso até poder conversar com o pediatra.
— Eu tenho certeza que eles zeram isso com a Annalise, porque eu
costumava rir das caras que ela fazia quando a Lauren colocava aquela coisa
na boca dela.
— Você sabe se temos em casa?
— No alto do armário no banheiro principal.
Ela pareceu surpresa que eu soubesse disso, mas entregou Benny para
mim e foi até lá. Benny se acomodou contra o meu peito, fungando um
pouco. Eu tinha esperança que o Tylenol o ajudaria a relaxar, assim nós
poderíamos ter algum tempo para preparar o café da manhã. Ele ainda não
dormia mais do que seis ou sete horas direto, então eu estava tentando
mantê-lo acordado até cerca de onze ou meia-noite. Dessa forma,
poderíamos dormir até por volta das seis, que era quando Annalise
costumava acordar, mas eu não tinha ideia do que Hadley fazia enquanto eu
estava fora.
— Você tem cado com ele acordado até um pouco mais tarde? — eu
perguntei a ela. — Isso realmente ajuda quando…
Hadley me encarou com um daqueles olhares que provavelmente faziam
os testículos da maioria dos homens encolherem e se esconderem tanto, que
nunca mais seriam vistos, mas depois ela encheu o pequeno recipiente que
se usa para colocar remédio na boca de um bebê.
— O horário de dormir dele é às sete — ela disse prontamente. Depois
me entregou o conta-gotas do medicamento.
Eu a olhei com exasperação.
— Certo. Então você começa o dia às duas da madrugada as porcarias
dos dias todos.
— O quê? — ela perguntou com impaciência, estreitando os olhos.
Benny aproveitou esse momento para virar a cabeça enquanto eu
tentava dar o remédio, o líquido rosa pegajoso escorreu pelo meu braço.
— Você pode segurar a cabeça dele? — eu perguntei. — Se ele não
tomar isso, ninguém vai dormir novamente até que ele tenha a dentição
completa.
Finalmente conseguimos colocar a quantidade adequada na boca dele, e
eu z o meu melhor para limpar o remédio que escapou.
— Se você o mantiver acordado até mais tarde, ele dormirá até mais
tarde. Ele dorme cerca de sete horas de cada vez, no máximo, então se você
o colocar para dormir às sete, ele acordará às duas.
— Mas Lauren disse que ele era um dorminhoco — Hadley disse, de
repente olhando para longe.
— Talvez ele esteja reagindo à nova rotina, novas pessoas, tudo novo —
eu disse gentilmente. — Vamos tentar do meu jeito e ver o que acontece,
ok?
— Eu não durmo direito desde que você viajou, então topo qualquer
coisa que funcione — ela murmurou.
— Precisamos considerar a possibilidade de contratar ajuda — eu disse
depois de um momento.
— Ajuda? — Hadley parecia horrorizada.
— Nós dois trabalhamos. Benny precisa de cuidados em tempo integral,
e Annalise só vai à escola três vezes por semana, por quatro horas. Lauren
cava em casa, então você não pode achar que vai conseguir fazer tudo o
que ela fazia.
Ela me encarou com raiva, e eu imaginei que estava se preparando para
uma boa discussão, justo quando Annalise entrou pulando na sala.
— Tio Wes! — Ela jogou os braços em volta das minhas pernas como se
não me visse há anos em vez de quatro dias.
— Oi, Princesa Ervilha. — Eu coloquei Benny em sua cadeira alta,
esperando que ele se acalmasse o su ciente para comermos.
— Você perdeu o jogo ontem à noite — ela anunciou, como se eu não
soubesse, e eu concordei.
— Não se pode vencer todas, guria.
Eu vasculhei o armário até encontrar a caixa de Froot Loops que
Annalise e eu tínhamos comido nos primeiros dias em que eu quei sozinho
com eles.
— Froot Woops! — Ela se remexeu, toda animada. — Eu amo Froot
Woops!
— Froot Loops — Hadley a corrigiu. — E você não vai comer essa
porcaria no café da manhã.
O rosto de Annalise murchou.
— Mas o Tio Wes disse que eu ia.
Hadley se virou para me dar um olhar mortal, e eu arqueei as
sobrancelhas para ela, quase desa ando-a a ser a vilã. Hadley era bem
adorável quando estava brava, então era divertido irritá-la. Bem, para ser
honesto, ela sempre era adorável, mas no momento em que ela abria a boca,
eu esquecia o nariz arrebitado, os lábios vermelhos e cheios ou os cílios
quilométricos. Mesmo sem maquiagem e com olheiras leves pelo pouco
sono, ela era verdadeiramente linda.
Pena que ela odiava até a porra do meu interior.
Mas tudo bem. Isso tudo era pelas crianças, e ela iria se decepcionar se
achava que eu ia desistir. Eu estava naquela jogada para sempre, e ela
poderia participar e ajudar ou eu daria um jeito sozinho. Não havia chance
de deixar Ben e a Lauren na mão, não importava o que a srta. Nariz
Empinado pensasse de mim.
— Nós deveríamos conversar — ela disse depois de um momento,
entregando uma mamadeira para Benny.
— Eu pensei em fazer o café da manhã e depois levar a Annalise para a
escola. Quando eu voltar, podemos sentar e ter uma conversa de adultos.
— Tudo bem. — Ela se virou para mim enquanto eu servia duas tigelas
de cereal, uma para a Annalise e outra para mim.
Eu tinha a sensação de que Hadley estaria de mau humor quando eu
voltasse, depois de deixar Annalise na escola, mas ela estava sentada no sofá
tomando uma caneca de café e assistindo Benny no balanço. O Tylenol
deve ter funcionado, porque ele estava babando alegremente em um
mordedor.
— Ele parece muito mais feliz — eu disse.
— De nitivamente.
Eu afundei na cadeira em frente a ela e encontrei seu olhar sobre a borda
da caneca.
— Então, quantos dias você cará em casa? — ela perguntou.
— Eu viajo na terça-feira de manhã, então os próximos cinco dias nos
darão algum tempo para descobrir o que vamos fazer.
— Bem, não há dúvida do que vamos fazer — ela disse
displicentemente. — Obviamente, você não pode cuidar das crianças com
sua agenda, então eu cuido.
— Por isso sugeri que contratássemos uma babá — eu disse
pacientemente.
Hadley franzia um pouco a testa.
— Eu odeio usar o dinheiro que Ben e Lauren nos deixaram para esse
tipo de coisa, mas talvez você esteja certo. Assim que vendermos a casa, eu
vou poder…
— Vender a casa? Que porra você está falando? Por que faríamos isso?
— Porque eu vou precisar do dinheiro para comprar algo em Nova
York.
— Não podemos nos mudar para Nova York. — Eu franzi a testa
quando ela revirou os olhos para mim.
— Nós não podemos, mas eu posso. Eu planejo voltar em algum
momento. Depois que eu pegar o jeito disso de ser mãe e…
— Ok, calma aí com essa porra. — Eu levantei uma mão.
— Olha a língua.
— Ele não vai repetir isso, Jesus. — Eu olhei para ela
interrogativamente. — Quando foi que decidimos que você ia criar as
crianças?
Ela riu, embora não tivesse graça alguma.
— Acho que isso é óbvio, Wes. Como você vai cuidar deles com sua
agenda de viagens, treinos e tudo o mais que envolve ser um atleta
pro ssional?
— Com você aqui.
— Meu trabalho é em Nova York, então mesmo que eu esteja
trabalhando remotamente por enquanto, eventualmente tenho que voltar
para minha vida. E daqui para frente, isso vai incluir Benny e Annalise.
Você e eu resolveremos tudo aqui e provavelmente, no verão, as crianças e
eu voltaremos para Nova York.
Suas palavras foram como um soco no estômago. Não havia chance
alguma de Hadley levar as crianças para longe de mim, e eu usaria todos os
recursos disponíveis para impedi-la.
— Só por cima do meu cadáver. — Cruzei os braços sobre o peito.
Ela me encarou com outro olhar gelado, mas desta vez não era adorável
nem atraente. Aquelas crianças haviam sido deixadas comigo tanto quanto
foram deixadas com ela, e eu não as entregaria.
— Você está brincando, não é? — ela disse por m.
— Nem um pouco. Eles queriam que nós os criássemos, não você ou eu
individualmente.
— Não, eles queriam que nós decidíssemos quem seria mais adequado
para criá-los, e francamente, sou eu.
— Por quê? Porque você tem seios e uma vagina?
Ela corou.
— Não, porque você trabalha em horários insanos e precisa sempre
viajar.
— Pelo que ouvi, você trabalha dezoito horas por dia durante a Semana
de Moda e em todos os outros grandes eventos, viaja pelo mundo fazendo
sessões de fotos e muitas outras coisas, e Lauren até disse uma vez que você
trabalha mais horas do que o Ben e que por isso se preocupava com você.
— Eu sou solteira e estou prestes a conquistar coisas grandes na carreira
— ela retrucou. — Então, sim, eu trabalho duro. Mas agora tenho uma
responsabilidade com essas crianças, então as coisas vão precisar mudar.
— Sim, você terá de encontrar uma maneira de se xar aqui em St.
Louis.
Hadley soltou um suspiro.
— Wes, como vamos fazer isso juntos?
— Eu não sei, mas temos que tentar, porque isso não é negociável. Eu
não vou entregá-los a você.
— Bem, eu também não. — Ela ergueu o queixo um pouco.
Seu peito subia e descia um pouco rápido demais, e eu não pude deixar
de notar que ela tinha peitos espetaculares. Ela sempre tinha sido um pé no
saco ao longo dos anos, então não me dava ao trabalho de olhar para ela na
maioria das vezes. Mas era difícil não ver agora, que estávamos morando
juntos na mesma casa. De certo modo, a aparência de Hadley era uma
recompensa agradável por toda a chateação que eu precisava aguentar dela.
— Wes, eu não tenho dormido mais do que três horas seguidas há cinco
dias. Estou cansada, estressada e ainda sofrendo com o luto. Talvez
devêssemos adiar essa conversa por um tempo. Simplesmente não tenho
energia para discutir com você agora.
— Certo. — Abri um sorrisinho para ela. — Eu não sou o vilão,
Hadley.
Ela se virou na minha direção, olhos castanho-claros sobre mim, algo
insondável espreitando por trás deles.
— Eu nunca imaginei que algo pudesse doer tanto.
E lá se foi todo o meu entusiasmo.
Assenti, passando distraído a mão pelo meu cabelo curto.
— Eu também não.
— Vamos tentar não brigar na frente das crianças, tá? Principalmente da
Annalise, porque ela ouve tudo.
— Combinado.
Ela parou, inclinando a cabeça um pouco para que a luz do sol que
entrava pela janela brilhasse em seu cabelo escuro, o que trouxe um brilho
castanho-avermelhado e me fez imaginar como seria passar os dedos por ele.
— Você acha que uma babá seria uma boa ideia?
— Acho que sim. Alguém que possa ajudar durante o dia e
ocasionalmente nos ns de semana, para que nós dois possamos trabalhar.
Eu tenho treinos, exercícios, reuniões de equipe e, claro, os jogos, e
dependendo de quantas horas você trabalhe, não poderá cumprir suas
tarefas e ainda lidar com todos os detalhes da casa também.
Hadley pareceu pensativa.
— Tem dinheiro para isso?
— Tem dinheiro de sobra. A casa está paga, e eu vou assumir as contas.
Assim, a maior parte do dinheiro vai para a conta das crianças.
Ela assentiu.
— Eu não ganho nem de perto o que você ganha, é claro, mas me viro
bem, então…
— Não, eu resolvo isso, Hadley. Você assume uma grande parte da
responsabilidade quando eu tenho que viajar, então me deixe lidar com as
contas. Incluindo a babá. Isso torna a vida de todos mais fácil, ok?
— Certo. — Ela assentiu lentamente. — Faz sentido. Que tal darmos
alguns meses para assentar essa nova situação e voltarmos a essa conversa
depois?
— Certo.
— Mas precisamos de nir algumas regras básicas.
Eu gemi.
— Sem quengas na casa. Nenhuma maria-patins, prostitutas, ou
qualquer coisa do tipo.
— Prostitutas?! — Eu estreitei os olhos para ela. — Jesus, que tipo de
imbecil você acha que eu sou? Em primeiro lugar, eu nunca tive que pagar
por sexo na minha vida, ok, muito obrigado. E segundo, eu amo essas
crianças! Você acha que eu traria alguém desse tipo para a casa onde todos
nós moramos? — Eu me levantei, olhando para Hadley com raiva. — Bem,
tenho uma notícia para você, senhorita, isso aí é uma grande babaquice.
Você não precisa gostar de mim, mas nunca me acuse de fazer algo que
possa afetar negativamente essas crianças! — Eu estava fervendo, e não de
um jeito bom.
— Wes, desculpa. Eu… — Hadley ainda estava falando, mas eu levantei
uma mão para detê-la enquanto saía da sala. Um minuto depois, bati a
porta da garagem. Precisava me acalmar antes de dizer algo que pudesse me
arrepender depois.
Ela ainda me irritava bastante, regularmente, e nunca tinha sido fácil
lidar com ela.
Fiquei parado na garagem, apoiando as mãos na bancada de trabalho
agora vazia que Ben usava para tocar pequenos projetos quando tinha
tempo. E foi quando o envelope chamou minha atenção. Eu havia guardado
a carta que Ben havia deixado para mim até que estivesse pronto para lê-la,
e se havia um momento certo para isso, era agora.
Pegando-a da mesa, rasguei o envelope e desdobrei o papel lentamente.
Ia doer, mas eu precisava fazer aquilo. Eu precisava do meu melhor amigo
mais do que nunca em minha vida, e essa era essencialmente a última vez
que eu falaria com ele. Mesmo sendo uma conversa unilateral.
Caro Wes,
Se você está lendo isto, eu morri, e a Lauren também. É difícil
pra caramba pensar nesse cenário, mas pelo menos ela e eu
estamos juntos.
Eu sei que nós te chocamos ao deixar a Annalise (e mais filhos,
se tivermos) com você e a Hadley. Lauren e eu ficamos indecisos
por um bom tempo sobre se deveríamos pedir a vocês dois ou
escolher apenas um, mas isso é a única coisa que parece certa
para nós.
Faça o seu melhor. Você acha que seu melhor não é suficiente,
mas é, sim. Eu sei que isso é pedir muito, e talvez você decida que
nossos filhos precisam ficar com a Hadley. Se você fizer isso, eu
sei que será a decisão certa. Apenas permaneça na vida deles para
sempre. Ajude-os, ou a Annalise, se for apenas ela, a saber quem
era o pai deles. Ensine-os a jogar hóquei e a dar um soco. Ajude-
os a serem felizes, se puder. Leve minha filha até o altar um dia.
Você é o irmão que eu nunca tive. Eu sei quem você realmente
é, e é por isso que eu sei que essa decisão é certa. Eu quero que
você tenha uma boa vida. Faça todas as coisas que eu não poderei.
Obrigado por ser meu parceiro. Eu te amo.
Ben
*
Nós conseguimos outra vitória, então estávamos com o astral nas alturas
quando saímos do vestiário em direção ao lounge da família, onde esposas,
namoradas, crianças e convidados nos esperavam depois dos jogos. Eu não
conseguia explicar a agitação no meu estômago. Sabia que Hadley estava lá
com os outros, mas assim que entrei na sala, seus olhos encontraram os
meus.
Ela estava adorável, de jeans justo, uma camisa com o número de Ben e
os cabelos escuros cacheados caindo logo abaixo dos ombros. Quando ela
sorriu para mim, eu esqueci completamente do processo iminente da guarda
das crianças, de como Benny nunca dormia e como Hadley sempre me
provocava. Eu de fato queria era caminhar até ela, beijar seus lábios doces e
deixar todos os caras do time saberem que ela estava fora do alcance deles.
Porque mais de um estava de olho nela, especialmente os novatos que não a
conheciam.
Eu me contentei em caminhar até ela e beijá-la na bochecha.
— Oi.
— Vocês foram incríveis — ela disse. — Faz séculos desde a última vez
que fui a um jogo. Obrigada por me convidar.
— Você é sempre bem-vinda.
— Quem é você? — um dos meus colegas perguntou, vindo até nós e
estendendo a mão para Hadley. — Eu me chamo Michael Boone, mas meus
amigos me chamam de Boone.
— Prazer em conhecê-lo. — Hadley pareceu um pouco surpresa com o
interesse evidente de Boone. — Me chamo Hadley Ellis. Eu era a melhor
amiga da Lauren Whitmer.
— Ah… — Seus olhos se arregalaram. — Uau. Eu não sabia que era
você. Mas prazer em conhecê-la. Bem-vinda à família Mavericks.
— Obrigada? — Ela o assistiu se afastar apressadamente e depois olhar
para mim. — O que você disse a ele sobre mim que o fez fugir desse jeito?
— Nada. — Eu ri. — Juro. Acho que ele estava querendo se divertir e,
quando percebeu que isso não ia acontecer com a mulher com quem estou
criando os lhos do Ben, se mandou. Os jovens de hoje não têm
re namento.
Ela riu.
— Provavelmente não, mas foi uma boa sacada dele.
— Então, nós vamos para um restaurante italiano local que gostamos.
Conhecemos os donos e sempre arrumam espaço para a gente no salão dos
fundos, onde ninguém nos incomoda. Você vem com a gente?
— Com certeza. — Ela sorriu. — Annalise me chamou pelo menos
meia dúzia de vezes enquanto você dormia. E eu a levei de volta para a avó.
Quando eu saí, eles estavam mais do que um pouco estressados. Eu acho
que eles não lembravam de quanto trabalho uma criança de seis meses dá.
— Sem mencionar uma de quase quatro anos.
— Por falar nisso, tenho que começar a planejar a festa de aniversário
dela. Honestamente, não sei por onde começar.
— Ela não quer nada relacionado a Frozen?
Hadley assentiu.
— Ainda está muito frio para fazer algo em áreas externas, então
teremos que ser criativos.
— Você já perguntou para a Nina?
— Amanhã.
Nós sorrimos um para o outro.
— Tudo bem, você vai comigo ou com a Nina?
— Ah. — Ela hesitou. — Acho que vou com você. Não sei se a Nina e
o Drew vão. Eles iam ligar para a babá para ver se ela podia car mais
tempo.
— Ok. Então estou pronto para ir se você quiser.
*
Nós ocupamos o salão dos fundos do Giovanna’s Italian Bistrô, um
lugar pitoresco que tinha uma comida incrível, um ambiente legal e cuidava
bem dos Mavericks sempre que íamos lá. O dono, Vicenzo, havia nomeado
o lugar em homenagem à esposa Giovanna, ou Gia, como a gente a
chamava, e eles sempre nos cumprimentavam calorosamente quando
chegávamos.
— Ótimo jogo hoje! — Vicenzo sussurrou para mim. — A Gia, ela não
sabe que eu assisto pelo celular quando estou nos fundos.
Eu ri.
— Um dia desses, vamos ter que te levar para ver o jogo pra valer.
— Deus te ouça — ele disse, olhando para o teto.
— Eu quero que você conheça minha amiga, Hadley. Ela é madrinha
dos lhos do Ben e da Lauren.
— Aquela que você me falou. — Ele pegou na mão de Hadley e fechou
as duas em volta dela. — Sentimos muita falta do Ben e da Lauren. Mas
seja muito bem-vinda a St. Louis e ao nosso pequeno restaurante. Você está
com fome? O que posso te oferecer?
— Vou dar uma olhada no menu e te falo — respondeu Hadley,
sorrindo para ele.
Sentamos em uma grande mesa nos fundos, mais de uma dúzia de
gente, e isso me lembrou a como era antes do acidente. Esse era nosso lugar
favorito depois dos jogos. Às vezes, vínhamos para comer, outras vezes
apenas para a sobremesa, outras vezes apenas para beber alguma coisa e
socializar. Ben havia começado a tradição depois dos jogos em casa em
noites em que não teríamos que viajar ou ir para o gelo novamente no dia
seguinte. Isso geralmente acontecia cerca de uma vez por mês, um
momento para todos colocarmos o papo em dia, relaxarmos e passarmos
um tempo juntos. Embora toda a equipe e familiares fossem sempre
convidados, geralmente eram os mesmos doze ou treze que vinham.
Esta noite nós éramos um grupo agitado, mas descontraído; Drew e
Nina, Hadley e eu, outro veterano da equipe chamado Ross Camden e sua
esposa, Allie, Nash, Lars, Boone e nosso novo goleiro reserva russo,
Konstantin, com sua namorada, Svetlana. Ele tinha chegado à equipe há um
ano, e na maior parte do tempo mantinha-se reservado, mas comparecia a
nossos jantares mensais, como se estivesse tentando se encaixar e encontrar
seu lugar conosco. Alguns outros ainda estavam para chegar, então
começamos sem esperá-los.
— Como estão as coisas com as crianças? — Nash perguntou. — Me
sinto mal por não ter passado lá nos últimos tempos, mas parece que vocês
estão se virando bem.
— Bem, contratamos uma babá para nos ajudar, para que Hadley possa
trabalhar e eu possa descansar quando preciso. Isso fez uma grande
diferença — respondi.
— E aí os avós apareceram. — Hadley pegou sua taça de vinho e deu
um gole.
— Os pais de Ben ainda estão brigando com vocês pela guarda? —
Drew perguntou, com incredulidade no rosto. — Não consigo entender
isso.
— Eu também não — admiti. — Eu costumava ter um relacionamento
bastante sólido com eles. Eu os conheço desde criança, mas eles não
recuam. Não que eu esteja preocupado com isso. O advogado que contratei
vai acabar com o deles. Não há nada que faça um juiz anular o testamento e
aquilo que Ben e Lauren deixaram acertado, a menos que haja algum tipo
de abuso envolvido. O que, obviamente, não é o caso.
— Às vezes, juízes tomam decisões estranhas — disse Nina. —
Certi que-se de que tudo esteja em ordem, caso contrário…
— Estamos tentando. — Hadley olhou para mim, e pela primeira vez
talvez, seus olhos estavam cheios de… reconhecimento?
Eu deslizei minha mão por baixo da mesa, gentilmente descansando-a
em sua coxa, só que mais perto do joelho do que em qualquer outro lugar.
Eu estava tentando mostrar apoio, e não algum tipo de contato sexual, e
para minha surpresa, ela colocou a mão sobre a minha. Eu quase esperava
que ela a movesse para longe, mas Hadley apenas a apertou suavemente
enquanto tomava outro gole de vinho.
Jesus.
Nós estávamos praticamente de mãos dadas debaixo da mesa? Meu
coração estava batendo um pouco mais forte do que o normal e meu peito
apertava de excitação. Eu me sentia como um adolescente que acabara de
conquistar a líder de torcida bonita e que agora todos os amigos cariam
com ciúmes.
Eu não sabia o que diabos estava acontecendo comigo, mas em algum
lugar no fundo da minha mente, lembrei de uma conversa em que Ben
havia confessado que não entendia por que Hadley estava solteira.
— A cara dele! — Drew jogou a cabeça para trás em uma risada. — Ben
odiava quando a gente zoava com a cara dele.
— Mas era o primeiro a rir da gente quando nós éramos o alvo da
brincadeira — acrescentou Nash.
Houve um momento de silêncio na mesa no Giovanna’s. Embora
houvesse tristeza em muitos rostos, também havia sorrisos. Ouvir a história
sobre a vez em que Van colocou uma cobra em um cooler do vestiário e
esperou até Ben o abrir em busca de algo para beber me fez rir. Eu gostava
de descobrir algo que não sabia sobre ele – quase me fazia sentir como se ele
estivesse aqui conosco. Ou, pelo menos, seu espírito estivesse.
— Com aqueles calouros foi pior naquele ano — disse Wes, balançando
a cabeça. — Van colocou a cobra na cama com cada um deles, e nós
gravamos em vídeo.
— Puta merda, é verdade! — disse Drew. — Rory não mijou nas calças?
Rory olhou com raiva para o goleiro da equipe.
— Eu pensei que ia morrer, seu lho da puta. Vocês têm sorte de
ninguém ter problemas cardíacos.
Wes olhou para mim, e vi sua expressão relaxada e feliz. Eu estava
sentindo a mesma coisa, os dois já tendo tomado várias bebidas e se
entupido de pão e uma massa, ambos deliciosos, que nenhum de nós havia
cozinhado ou limpado depois.
— Acho que a pobre cobra estava mais assustada do que qualquer um
de vocês — disse ele, dando um pequeno aperto na minha mão.
— Eu a levei para a oresta atrás da casa dos meus pais depois — disse
Van. — Tenho certeza de que ela teve uma boa vida.
— Pessoal, eu odeio dizer isso, mas temos que ir — disse Drew, olhando
para Nina. — Nossos lhos acordam famintos e cheios de energia
impiedosamente às seis em ponto todas as manhãs.
— Ugh. — Rory fez careta. — Eu diria para eles pegarem uma barra de
proteína no armário e me deixarem dormir por mais uma hora.
— Hadley — disse Nina quando se levantou. — Posso passar amanhã à
tarde? Pensei em colocarmos a conversa em dia e sairmos com as crianças.
— Olha, agora tenho não só uma babá, como os pais de Ben ajudando,
então a gente pode almoçar fora se você quiser.
— Essa ideia me soa ótima. Combinamos por mensagem de manhã
sobre o horário e o lugar.
Wes inclinou o rosto para perto do meu e murmurou:
— Espero que não se importe, mas mandei uma mensagem para Tori e
disse a ela que pode tirar alguns dias de folga remunerada enquanto Patrick
e Susan estiverem aqui. Quero que eles tenham a experiência completa.
— Você é implacável — disse eu, rindo. — E eu amo isso.
Os outros começaram a se levantar, pegando casacos e bolsas. Eu olhei
para o relógio e vi, para minha surpresa, que já passava da meia-noite
Wes me ajudou a levantar da cadeira, e em seguida nos despedimos de
todos. Eu tinha visto Wes entregar um cartão de crédito para Vicenzo
algumas horas atrás, então antes de sairmos ele assinou a conta e pegou o
cartão de volta.
— Nós que agradecemos — disse Vicenzo, colocando uma mão no
ombro de Wes. — Sua equipe é sempre muito generosa conosco. Traga sua
linda senhorita novamente para um encontro e eu reservarei uma mesa no
canto para vocês.
Wes encontrou meu olhar por um segundo e disse:
— Farei isso. Nos encontramos na próxima vez. Obrigado por car
aberto até tarde para a gente.
— Disponha.
Saímos para o ar fresco da noite, e eu botei meu gorro roxo-escuro na
cabeça. Wes sorriu para mim.
— Foi gentil da sua parte pagar a conta — eu disse.
Ele deu de ombros.
— Trabalho do capitão da equipe. Ben sempre fazia isso, então agora eu
farei.
— Você é o novo capitão da equipe?
— Tecnicamente. Mas Ben continuará sendo nosso capitão o cial pelo
restante da temporada. Se não começarmos a vencer consistentemente, ele
pode me enviar uma mensagem do além me dizendo que precisamos dar
um gás.
— Não vamos nos preocupar com nada disso hoje à noite. É ótimo
poder tirar uma noite de folga desse lance de ganhar, perder, ter prazos
de nidos.
— Você tem razão — disse ele. — E está uma graça com esse gorro.
Meu coração acelerou, e eu encostei em meu gorro.
— Obrigada. Lauren fez para mim.
— Sério?
— Sim. Ela era naturalmente boa em fazer coisas, sabia? Se quisesse
aprender algo, ela simplesmente ia lá e… aprendia.
— Você também é boa em fazer coisas.
Eu ri levemente.
— Tipo humilhar as pessoas?
Wes suspirou suavemente enquanto caminhávamos na direção do seu
Range Rover.
— Sabe, Hadley, se eu pudesse fazer tudo de novo, eu não teria feito
aquela piada sem graça sobre você gostar de salsichas.
Eu virei a cabeça em surpresa.
— Você ainda se lembra disso?
— Claro que lembro. Em exatamente três segundos, seu rosto passou de
interessado para incrédulo e de incrédulo para desgostoso. Eu tinha acabado
de… tomar algumas cervejas e, para ser honesto, ainda precisava
amadurecer um pouco.
Sua humildade em relação ao nosso primeiro encontro me pegou de
surpresa. Chegamos ao carro dele, e antes que Wes pudesse abrir a porta
para mim, eu me aproximei e coloquei minha mão em seu peito.
— Minha reação foi exagerada — admiti. — Não deveria ter deixado
um comentário estúpido decidir se valia a pena te conhecer melhor.
— Posso confessar uma coisa?
Eu sorri e disse:
— Claro.
— Eu nunca tinha sido rejeitado antes. Eu quei meio atordoado
quando você me rejeitou, porque estava acostumado com mulheres se
jogando aos meus pés, sem que importasse muito qualquer coisa que eu
dissesse. Uma vez, depois de um jogo na faculdade, eu entrei em uma festa
completamente bêbado e disse a uma mulher que tinha acabado de pisar em
um cocô de cachorro. Ela riu e disse que eu era adorável. En m… — Ele
balançou a cabeça, desviou o olhar e depois encontrou meus olhos. — Eu te
achei sexy pra cacete. Um verdadeiro avião. E então, quando você me
rejeitou… eu gostei ainda mais de você.
Eu me aqueci da cabeça aos pés, feliz com os elogios, mas também
tentando entender o que estava ouvindo.
— Você gostava de mim?
— Sempre gostei. É que eu sabia que tinha estragado tudo.
Ele colocou a mão em meu rosto e me acariciou com o polegar, em
seguida fez um carinho nos meus lábios, criando uma sensação de excitação
no meu estômago. Um pequeno oco de neve caiu em sua barba escura
enquanto Wes deslizava a mão para a minha nuca e se inclinava para me
beijar.
Foi suave e carinhoso. Seus lábios acariciaram os meus lentamente antes
que eu agarrasse as laterais do seu casaco e pressionasse meu corpo contra o
dele, intensi cando nosso beijo. Suas palavras doces, o aroma amadeirado e
o corpo quente e forte me zeram esquecer de tudo. Eu não perdi tempo
analisando ou pensando demais no assunto – apenas vivi neste momento
perfeitamente romântico.
Wes gemeu e me empurrou contra o carro, sua língua roçando na minha
em um beijo tão apaixonado, que eu não conseguia pensar direito. Eu só
sabia que queria mais.
Quando a boca de Wes desceu para a minha mandíbula, eu arfei e fechei
os olhos, positivamente afetada pelo seu grande porte físico e sua óbvia
fome por mim.
— Vamos para um hotel — murmurou ele perto da minha orelha
enquanto seus lábios roçavam no meu pescoço.
— Eu topo.
— Você é sexy pra caralho, Hadley. Mal posso esperar para te mostrar o
que você faz comigo.
Mesmo por baixo dos casacos, eu senti sua rigidez pressionada contra
mim. Eu queria jogar a cautela para o espaço e morar neste momento,
transar com Wes até o último minuto que tivéssemos antes de precisar
voltar para casa de manhã.
Mas aquela vozinha estava de volta. Aquela pequena e irritante voz da
consciência estava me dizendo que era irresponsável car fora a noite toda e
voltar para casa pela manhã com a aparência de quem tinha bebido,
transado e voltado para casa com as mesmas roupas da noite anterior. Nem
sequer havíamos mencionado car fora a noite toda para Patrick e Susan.
— Eu quero muito — repeti. — Mas como Nina disse, temos que
manter tudo organizado. Não quero dar a Patrick e Susan munição para
fortalecer a ação judicial deles contra a gente. E eles não sabem como fazer
massagem na barriga do Benny quando ele tem gases à noite. E se Annalise
acordar de manhã e não estivermos lá…
Wes suspirou pesadamente.
— Eu entendo.
— Eu quero. — Eu puxei seu casaco e esperei até que seus olhos
encontrassem os meus. — Você sabe o quanto eu quero, não sabe?
Os cantos de seus lábios se curvaram em um sorriso.
— Sim, mas difícil é dizer isso para meu saco.
— Não tenho certeza se uma conversa entre mim e seu saco seria útil
nesse momento.
Com uma risada baixa, ele beijou minha testa e respondeu:
— Ok, não nesta noite. Mas em breve.
— Sim.
Ele me beijou mais uma vez antes de recuar, me puxando para que
pudesse abrir a porta do passageiro para mim.
Quando seria esse em breve, eu me perguntei enquanto Wes nos levava
para casa, sua mão na minha coxa me deixando tão excitada, que eu estava
me contorcendo no banco.
Com certeza não seria breve o su ciente.
*
— Então, obviamente, você e Wes mandaram ver.
Minhas bochechas aqueceram enquanto eu ria do comentário de Nina.
Estávamos sentadas em uma cabine em uma lanchonete no subúrbio,
conversando sobre sopas e sanduíches.
— Ainda não chegamos nesse ponto — eu confessei.
— Sério? — Ela me deu um olhar incrédulo. — Eu disse ao Drew
enquanto voltávamos para casa ontem à noite que, da maneira como vi
vocês se olhando, havia cem por cento de chance de rolar sexo.
— Bem, tivemos que voltar para casa por causa das crianças e dos pais
do Ben, então… não.
— É, eu entendo como isso pode ser um balde de água fria. Mas eu
estou amando que vocês dois estejam tão interessados um no outro. E eu sei
que a Lauren também amaria.
Eu olhei para baixo, sorrindo tristemente, e ergui o rosto para Nina.
— A Lauren e o Ben tentaram nos juntar há muito tempo… tipo, há
sete anos, eu acho. Mas não deu certo.
— As pessoas mudam. O Drew disse que parou com toda a farra bem
rápido quando se tornou pro ssional porque era muito mais intenso do que
ele imaginava.
— Mas quanto ao Wes e a mim… não sei se é uma boa ideia seguir por
esse caminho. Quer dizer, eu quero seguir por esse caminho?
Absolutamente. Mas ainda não sabemos quem cuidará das crianças.
— Ah, eu pensei que vocês fossem criar as crianças juntos. Não era esse
o caso?
Eu balancei a cabeça.
— Não sei como faremos. Minha chefe disse que posso trabalhar
remotamente por enquanto, mas ela não está feliz com o modo como as
coisas estão indo. Eu sou a primeira a admitir que não estou conseguindo
acompanhar tudo. Mesmo com a nova babá. Eu costumava trabalhar de dez
a doze horas por dia, mas não consigo fazer isso tendo as crianças.
— Você com certeza enxerga a situação melhor do que eu — disse Nina
—, mas parece fazer sentido você e Wes criarem as crianças juntos. Se você
as levar para Nova York, terá que contratar ajuda em tempo integral para
poder continuar trabalhando tanto.
— Eu sei. Eu me preocupo com essas coisas o tempo todo. E sinto que
Wes e eu nos envolvermos romanticamente só complicará tudo ainda mais.
Especialmente se não der certo.
Nina concordou.
— É inteligente pensar nisso, mesmo que seja difícil.
— Annalise e Benny já perderam os pais. Ben e Lauren eram o mundo
deles. E eu não quero que eles me percam ou percam o Wes porque
começamos a dormir juntos e as coisas deram errado. Não é certo.
— A vida é tão bagunçada às vezes, não é?
— Nem me fala. — Terminei meu sanduíche e afastei o prato, apoiando
os cotovelos na mesa. — Agora uma questão bem mais fácil: como faço para
organizar uma festa de aniversário para uma criança de quatro anos?
— Depende de quão elaborado você desejar que essa festa seja.
— Quero fazer como a Lauren faria. Ou o mais próximo possível disso.
— Perfeito. Eu sempre gostei da maneira como ela fazia as festas. Eram
divertidas, mas não exageradas.
— Estava pensando em talvez em Frozen como tema, o que acha? Um
pouco de patinação no gelo e um bolo decorado com ocos de neve em
tons diferentes de azul?
— Mas a Annalise não está na fase dos Vingadores agora?
— Está, ela ama isso, mas não sei como fazer uma festa dos Vingadores.
Quero fazer o bolo eu mesma, como a Lauren sempre fez, mas não sou
especialista em decorar bolos. Na verdade, estou longe de ser especialista.
Não consigo fazer nenhuma decoração elaborada.
— Eu posso te ajudar. Ah! E já sabemos que é a pessoa perfeita para se
fantasiar de or e fazer uma aparição na festa. Será ótimo, e ele pode
brincar com as crianças.
— Sabemos?
Nina sorriu.
— Lars.
— Ele vai querer fazer isso?
Ela riu.
— Pela lha do Ben, pode con ar. Provavelmente teremos a formação
completa dos Vingadores na festa. O time sempre amou essas crianças como
se fossem deles.
Sorri, grata por Benny e Annalise estarem amparados por uma bela rede
de apoio. Por dentro, porém, nunca estive no meio de tanto con ito. Levar
as crianças para Nova York já não parecia uma escolha muito acertada.
Nina estava certa – a vida era bagunçada às vezes. Não parecia haver
uma maneira de escapar disso sem que alguém saísse ferido. Mas o fato é
que as crianças não poderiam ser magoadas. Nem Wes nem eu
permitiríamos isso.
Wes
— Wes, você está bravo comigo? — perguntou Gina, seus lábios vermelhos
cheios franzidos em um bico. Ou era Jenna?
Merda, eu não conseguia lembrar. Tinha sido pura sorte a ter encontrado na
mercearia esta manhã enquanto comprava um cartão de aniversário para
Annalise. Meu namoro de seis meses havia terminado na noite anterior, e a
última coisa que eu queria era aparecer na festa de aniversário de um ano de
Annalise sem uma acompanhante. Hadley estava na cidade, o que signi cava
que ela iria me incomodar desde o momento em que eu chegasse. Então, em um
momento de insanidade temporária, eu convidei Gina – ou Jenna, Jeannie? –
para me acompanhar. Nós tínhamos saído algumas vezes no ano passado,
quando eu me mudei para St. Louis, mas aquilo tinha sido só sexo. Agora era
um encontro de verdade.
E eu nem conseguia me lembrar o nome dela.
Que inferno.
— Wes? — Agora ela parecia triste. Balancei a cabeça, distraído, e abria a
porta do passageiro do meu novo Mustang para ela.
— Desculpa, boneca. Não estou bravo. Você está linda. É só que, você
entende, você se arrumou para uma festa de adultos, mas nós viemos a uma festa
infantil.
Ela olhou para baixo, para sua minissaia rosa-choque e sapatos de salto de
quinze centímetros.
— Mas você adora essa saia.
— Sim. Adoro. É só que… esquece.
Era tarde demais, e não era culpa de Gina/Jenna que eu fosse um idiota.
— Não se preocupa, as crianças me adoram — disse ela, deslizando para o
banco do passageiro e ajeitando o cabelo.
Ela manteve uma conversa constante durante todo o caminho até a mansão
de Ben e Lauren no subúrbio, até eu en m estacionar no amplo e circular
caminho da entrada. Eu peguei o enorme presente brilhante de Annalise do
banco traseiro e caminhei até o quintal com Gina/Jenna me seguindo.
Nós seguimos o som de risadas, já que Ben e Lauren estavam fazendo um
churrasco. Inicialmente, a festa seria dentro de casa, mas como estava fora de
época, eles a levaram para o quintal. O que fazia os saltos absurdamente altos
de Gina/Jenna se destacarem ainda mais.
— Oi, bonitão! — Lauren chamou enquanto passava por mim carregando
uma bandeja de cupcakes e me mandando um beijo.
— Oi, linda.
Lauren colocou os cupcakes no chão e veio até a gente, um sorriso de
curiosidade no rosto, já que ninguém sabia que Sadie e eu tínhamos terminado.
— Quem é essa?
— É minha amiga… Ginnie… — eu disse o nome dela num sussurro tão
baixo, que Lauren não poderia ouvi-lo.
— Desculpa… — Lauren se virou para Gina/Jenna, estendendo a mão. —
Qual é o seu nome?
— Jeannie. — Jeannie sorriu e olhou em volta, os olhos arregalados. —
Nossa, este lugar é incrível. Espero poder morar numa casa assim um dia.
— Obrigada. — Lauren me lançou um olhar engraçado antes de apontar
para Ben. — O Ben começou a cozinhar, a Annalise ainda está dormindo e
alguns dos caras do Mavericks estão circulando.
— E aí, cara? — Ben levantou a mão, acenando para mim.
— E aí? — Comecei a caminhar em sua direção, mas Jeannie segurou meu
braço.
— Eu não sabia que seria ao ar livre — disse ela. — Meus sapatos estão
cando sujos.
— Então vamos lá para dentro — disse eu. — Você pode car sentada na
cozinha por um tempo.
— Sozinha? — Ela parecia triste de novo.
— Ehhh, não. Eu, hm, sento com você depois de cumprimentar todo
mundo.
Jesus. O que eu fui fazer?
Trazer Jeannie comigo tinha sido estúpido, mas eu estava chateado com o
término e realmente não queria aparecer sem uma acompanhante, sabendo que
Hadley viria. Por causa disso, só tinha piorado as coisas. Às vezes, eu não
conseguia me ajudar, e nada me deixava mais burro do que estar perto de
Hadley.
— E aí, Kirbs! — Nash se aproximou e apertou minha mão.
— E aí, cara? — Eu sorri para ele. — Tudo em cima?
— Ah, é aquilo, um pouco pra cima e para a esquerda.
Rimos juntos, e Jeannie deu uma risadinha.
— Isso é tão excitante.
Optei por ignorá-la e dei oi a alguns outros caras da equipe, pensando se
daria para apenas levar Jeannie para casa e encerrar a noite. Ben nunca me
perdoaria se eu fosse embora, mas eu já estava com uma sensação ruim, e
tínhamos acabado de chegar.
— Wes, você não vai me apresentar aos seus companheiros de time?
Na verdade, eu não queria, mas fui educado e circulei com ela, evitando o
local onde Hadley e Lauren estavam conversando com algumas das esposas dos
jogadores.
— Que tal uma cerveja, Jeannie? — Nash perguntou a ela.
Ela piscou.
— Eca. Que nojo. Eu não bebo cerveja. Tem vinho? Ou melhor ainda,
tequila?
— É uma festa de aniversário de criança — eu disse gentilmente. — Só
tem cerveja e vinho. Deixa que eu pego uma taça para você.
Eu a deixei com meus companheiros de time e entrei na casa para pegar
uma taça de vinho no mesmo momento em que Hadley também estava
entrando. Não, a sorte não estava do meu lado.
— Olá, Wes. — Ela me deu um aceno super cial.
— Oi, Hadley.
— Ouvi dizer que você tem uma nova namorada — ela disse, os olhos
inescrutáveis enquanto me olhava.
— Ouviu errado — respondi.
— Então a piriguete de salto dez e bunda quase de fora não é a nova
namorada?
— Ela é só uma amiga.
Ela riu.
— Sério? Quanto você paga por hora para sua amiga?
Eu suspirei.
— Você poderia ser menos escrota?
— Você poderia ter um pouco mais de classe? Você trouxe uma mulher que
parece uma prostituta para a festa de aniversário da sua a lhada. Na frente de
amigos, familiares e companheiros de time. Você realmente não tem um pingo
de decoro.
— Que bom que você julga um livro pela capa — eu retruquei. — Ela
pode não ser a pessoa mais inteligente do mundo, mas pelo menos é legal. Algo
que você poderia tentar ser pelo menos uma vez na vida. O que aconteceu com
as mulheres dando apoio umas às outras? — Eu dei meia-volta e saí da cozinha.
Hadley me irritava como ninguém jamais me irritou, e a vontade de
mandá-la para aquele lugar cava cada vez mais forte toda vez que eu a
encontrava.
— Tenho medo de perguntar onde Sadie foi parar — Ben disse, olhando
para cima da grelha quando me aproximei dele.
— Ela me dispensou — murmurei.
— Nossa, sinto muito. Eu pensei que as coisas estivessem indo bem.
— Ela não gosta do quanto eu viajo.
— Faz parte da vida. Se ela não consegue lidar com isso, é melhor
terminarem agora.
— Sim.
— Então, hum, você e Hadley já se estranharam? — Eu segui o olhar dele
até onde Hadley acabara de bater a porta da cozinha antes de voltar para perto
de Lauren.
— Eu não consigo dar uma dentro com ela, cara. Eu só disse oi, e ela já
chamou a Jeannie de piriguete.
— Bem, você trouxe uma garota que está de salto quinze e uma saia que
mal cobre a bunda para a festa de aniversário da família.
— Eu precisava de uma companhia! E não são quinze centímetros!
— Por quê? — Ben me olhou como se eu estivesse louco. — É o aniversário
da Annalise. Não há ninguém aqui além dos amigos mais próximos e dos
familiares. Quem se importa se você viria acompanhado ou não?
— Eu me importo! — respondi, irritado. — Você convida a Hadley para
tudo, e ela faz com que eu nem queira vir! Toda vez que estamos juntos, ela
sempre tem algo desagradável para dizer.
— Às vezes, você mesmo provoca isso, amigo. — Ben me deu o mesmo olhar
que de vez em quando dava aos caras no vestiário quando eles estavam sendo
idiotas. Mas agora era diferente.
— Como eu já disse uma dúzia de vezes, você sempre toma o partido dela.
— Se você apenas desse uma chance a ela…
Passei a mão na lateral do rosto antes de responder.
— Quer saber? Acho que vou embora. Não é como se Annalise fosse se
lembrar de quem esteve aqui hoje. — Eu me virei e comecei a caminhar em
direção a Jeannie.
— Ei. — Ben me alcançou e colocou a mão no meu ombro. — Me
desculpa. Você tem razão. Eu tomo partido dela, mas é só porque não enxergo as
coisas como você, e a única coisa que consigo ver é que vocês dois são perfeitos
um para o outro e que cam lutando contra isso com todas as forças.
Eu balancei a cabeça.
— Hadley e eu? Perfeitos um para o outro? Isso nunca vai rolar, parceiro.
Pode apostar.
— Tudo bem. Mas, por favor, não vá embora. Nós queremos você aqui, e eu
prometo mantê-lo longe de Hadley.
Eu suspirei.
— Beleza. Mas você vai pagar as bebidas na próxima viagem.
— Negócio fechado.
*
O dia da festa de aniversário da Annalise estava ensolarado e brilhante.
Ainda estava frio, com temperatura abaixo dos 10 graus e ventando
bastante, mas estava perfeito para o que tínhamos planejado. Bem, na
verdade, o que Hadley planejou, já que eu precisei viajar duas vezes nas
últimas semanas. Embora o plano original fosse fazer uma festa simples, o
tema dos Vingadores pegou e todos se envolveram. Conseguimos
representantes para quase todos os heróis – or, Homem de Ferro, Capitão
América, Viúva-Negra e até um Hulk.
Foi preciso um pouco de dedicação para convencer Lars a se vestir de
or, mas assim que ele aceitou, o restante da equipe se jogou na
oportunidade de vestir a fantasia dos super-heróis favoritos da Annalise.
Drew foi o Capitão América, Van, o Homem de Ferro, e para nossa
surpresa, Konstantin se ofereceu para ser o Hulk. Nina se voluntariou para
ser a Viúva-Negra para completar o grupo.
— Está tudo incrível — disse Greg Brandt. Greg era o pai da Lauren.
Ele e a mãe dela, Tasha, tinham vindo de avião para passar o nal de
semana com Annalise. Embora a esclerose múltipla da Tasha estivesse sob
controle, ela se cansava facilmente e nem sempre podia fazer as coisas que
desejava. Estávamos felizes pela vinda deles, porque os dois eram amorosos e
tranquilos. Ao contrário do Patrick e Susan, que tinham ido embora
irritados. Nós mostramos o quanto era difícil cuidar das crianças, e eles não
caram felizes com o pouco que zemos enquanto estiveram aqui.
Tudo foi planejado por mim, é claro, para dar a eles um gostinho do
que é ser pai com uma idade avançada. Eu não sabia se esse gesto tinha feito
mais estrago do que trazido algum benefício, mas estava ocupado demais
para me importar, e o advogado que contratei disse que eles não tinham
argumentos.
— Em que podemos ajudar? — Tasha perguntou, apoiando-se na
bengala enquanto olhava para a sala que havia sido transformada em um
laboratório de ciências. Hadley tinha decidido que, já que iríamos fazer
tudo, pelo menos podíamos preparar algo educativo, então havia estações
montadas com diferentes atividades cientí cas que estavam vagamente
relacionadas aos Vingadores – no fundo, era mais para manter as vinte e três
crianças de quatro anos ocupadas. Annalise queria que toda a turma do
jardim de infância fosse convidada, além de um punhado dos lhos dos
meus companheiros de time que ela conhecia. Logo, o aniversário seria uma
loucura. Graças a Deus poderíamos levar aquelas crianças para a varanda
telada para comer bolo e sorvete.
— Eu acho que estamos prontos — disse Hadley, colocando as mãos
nos quadris enquanto olhava ao redor. — Tori a levou para fazer as unhas
no salão de beleza, e elas estarão em casa em cerca de vinte minutos.
— Ela vai adorar — disse Tasha suavemente. — Vocês dois zeram um
ótimo trabalho.
— Obrigada. — Hadley sorriu. — Eu sei que é provavelmente mais do
que Lauren teria desejado, mas precisamos fazer com que este ano seja
especial, porque Annalise tem perguntado cada vez mais sobre quando a
mamãe e o papai vão voltar. Acho que ela ainda não entende
completamente o sentido da morte.
— Claro que não… — Tasha engoliu em seco, piscando para conter as
lágrimas. — Mas à medida que ela car um pouco mais velha, o Greg e eu
nos certi caremos de que ela e o Benny ouçam todas as histórias possíveis
sobre a mãe deles.
— Parece que chegaram — eu disse, indo até a porta para
cumprimentar Tori e Annalise.
— Já está na hora da minha festa? — Annalise questionou.
— Quase. — Ri, beliscando o nariz dela.
— Obrigada por me deixar fazer as unhas também — disse Tori,
piscando os olhos azuis brilhantes para mim. Ela estendeu as mãos e mexeu
os dedos. — Gostou?
— Er, sim. Estão bonitas — Argh. Tori estava praticamente colada em
mim, então dei um passo lento para trás. Na minha opinião, ela era uma
menina ainda, mesmo que tecnicamente fosse uma adulta, então eu nem
havia pensado nela por esse ângulo. Mas ela de nitivamente estava ertando
comigo, os olhos xos no meu rosto, um sorrisinho adorável nos lábios.
Merda. Eu tinha de acabar com isso o quanto antes e ser bastante
cuidadoso. Era exatamente esse tipo de coisa que poderia atrapalhar nossa
batalha pela guarda, e, francamente, mesmo que não houvesse uma questão
envolvendo a guarda das crianças, ela era jovem demais para mim. Eu nem
saía mais com mulheres da idade dela. Vinte e quatro era o limite. Não que
eu tivesse tempo para isso ultimamente. Ou desejo, já que a única mulher
em que eu pensava ultimamente era a Hadley.
— Por que você não vê se a Hadley está precisando de ajuda? — sugeri,
pegando Annalise no colo.
Caminhamos até a sala de estar, e Annalise gritou de alegria, pulando do
meu colo para correr e veri car cada estação, cada decoração, cada toque
doce e detalhado que Hadley havia planejado para que este fosse um
aniversário inesquecível para ela. A festa estava custando uma fortuna, e eu
z questão de pagar todas as despesas com um sorriso no rosto.
— Vovô, você viu meus balões? — perguntou Annalise.
— Eu vi!
Annalise rastejou para o colo dele, falando animadamente, e eu me
inclinei para Hadley, sussurrando:
— Quer dar uma escapada e ir para um quarto de hotel?
Ela riu.
— Sinceramente? Hoje, não. Talvez à noite, mas agora eu quero ver a
cara dela quando o pessoal chegar.
Eu sorri.
— Sim, eu também.
As crianças e seus pais começaram a chegar, e em trinta minutos, a casa
estava lotada. E não era uma casa pequena. Ben e Lauren estavam
planejando ter pelo menos mais um lho, senão dois, então eram quase
seiscentos metros quadrados de um luxo que eu nunca tinha nem
imaginado para o meu apartamento de dois quartos de alto-padrão.
Tínhamos combinado que os Vingadores chegassem cerca de trinta minutos
depois do início da festa, para dar tempo aos atrasados, e quei feliz por ter
convencido Hadley a contratar um fotógrafo pro ssional, porque mal
tivemos tempo para respirar, muito menos tirar fotos. Hadley havia dito
que faria isso, mas eu não vi acontecer.
Meu telefone vibrou, era uma mensagem de Drew perguntando se
estávamos prontos. Eu enviei uma rápida resposta a rmativa e z um sinal
para Hadley avisando que estava na hora. Ela iria se certi car de que as
crianças estivessem todas em um só lugar enquanto eu deixava os caras e a
Nina entrarem.
Uma onda de emoção me invadiu quando abri a porta. A turma havia se
superado. Eles tinham alugado fantasias realmente boas. Nina estava usando
uma peruca em um tom escuro de ruivo e maquiagem pesada, Lars
manuseava seu martelo como um pro ssional, e Konstantin havia pintado a
maior parte do corpo com tinta verde.
— Uau, pessoal, vocês estão incríveis — eu disse, acenando com a
cabeça.
— Vamos nessa! — Drew avançou, e eles essencialmente marcharam até
a sala principal.
Eu fui logo atrás deles e logo ouvi os gritos de alegria das crianças.
Especialmente de Annalise, que se lançou em cima do Lars.
— O or veio para o meu aniversário! or veio para o meu
aniversário! — ela disse repetidamente, agarrando a mão dele e puxando-o
pela sala.
Prendi a respiração, esperando ver como Lars reagiria a tanto toque, mas
aparentemente o seu desgosto por isso não se estendia a crianças. Ou pelo
menos ele tolerava quando vinha de crianças porque estava totalmente no
personagem, falando sem parar sobre trovão e martelos e coisas do tipo. As
crianças estavam adorando, e eu notei o olhar de Hadley do outro lado da
sala. Era isso o que estávamos esperando, a magia de completar quatro anos
junto ao amor que vinha da nossa família Mavericks. A maioria das crianças
não fazia parte da família Mavericks, já que não havia muitas da idade dela
e nenhuma estava na mesma sala de pré-escola que Ananalise, mas elas não
ligavam se havia jogadores pro ssionais de hóquei na festa de qualquer
forma.
— Se eu tiver lhos algum dia — Nash disse perto do meu ouvido —,
vou fazer exatamente isso para eles.
Eu sorri.
— É épico, não é?
— Quem é a loira gostosa? — ele perguntou, olhando para Tori.
— Essa é a nossa babá de dezenove anos — eu disse. — Então se
comporte.
— Dezenove é legalizado — ele protestou.
— Se você cagar no pau e ela largar o emprego, eu te mato enquanto
você estiver dormindo.
— Tá bom. — Ele seguiu na direção oposta. — Talvez haja uma mãe
solteira no grupo perto da lareira.
*
As crianças estavam se divertindo muito, e muito disso devíamos aos
meus colegas de time. Os Vingadores foram um sucesso, especialmente o
or e o Hulk. Konstantin falava um inglês hesitante e com forte sotaque,
então em vez de tentar se comunicar, ele grunhia e soltava frases
monossilábicas. Na maioria das vezes, ele rosnava para as crianças, as fazia
gritar e as perseguia até que estivessem rindo descontroladamente. Annalise
agora tinha um novo melhor amigo – or/Lars – e não saiu de perto dele
por um segundo. Ela e duas de suas amigas o seguiram como o Flautista de
Hamelin, e ele não parecia nada estressado por ser o objeto de tanta
atenção, o que foi um alívio para mim, porque Lars podia ser extremamente
rígido quando se tratava de suas rotinas e peculiaridades sociais.
— Acho que é hora do bolo — sussurrou Hadley para mim cerca de
duas horas depois.
— Acho que é hora de uma soneca — eu ri.
— Bolo primeiro. — Ela foi em direção à cozinha, e eu a segui,
acendendo as velas enquanto ela pegava tudo o que precisava para cortar e
servir as fatias.
— Pronto? — eu perguntei a ela, levantando o enorme bolo de dois
andares com tema dos Vingadores. Hadley cou sem tempo para fazer ela
mesma então acabou comprando, mas era absolutamente incrível, cheio de
detalhes intrincados, pequenos Vingadores em meio à batalha e um “Feliz
Aniversário, Annalise” impresso em uma faixa segurada pelo Capitão
América e o Pantera Negra. Era um bolo tão legal, que eu quase senti
inveja.
Hadley começou a cantar “Parabéns para Você”, e todos se juntaram,
terminando comigo colocando o bolo em uma mesa que havia sido
preparada só para isso.
— or, você pode me ajudar a apagar as velas? — Annalise perguntou
a Lars, que concordou amigavelmente. Ele se ajoelhou, um de seus braços
enormes em torno do torso minúsculo dela, enquanto Annalise fechava os
olhos e sussurrava: — Eu desejo que a mamãe e o papai voltem logo. — E
depois ela apagou as velas.
Enquanto as crianças comiam, bebiam e riam, os adultos na sala
lidavam com uma in nidade de emoções, eu inclusive; observei Hadley e
Nina enxugando os olhos, enquanto alguns dos caras se afastavam,
provavelmente constrangidos demais para mostrar qualquer emoção que
estivessem sentindo, já que todos ouviram o que Annalise havia desejado.
— Podemos brincar lá fora? — Annalise perguntou assim que todos
tinham se empanturrado de bolo e sorvete.
Hadley olhou para mim e eu assenti.
— Claro. Vou ajudar a controlá-los.
— Eu tô dentro — acrescentou Nash.
Antes que percebêssemos, todas as crianças estavam lá fora, assim como
a maioria dos pais, brincando de pega-pega e qualquer outra coisa que
crianças de quatro anos brincassem. Hadley e eu camos um pouco
afastados, observando e bebendo vinho em copos de plástico.
— Acho que ela teve um ótimo dia — disse a ela. — E tudo por sua
causa.
Hadley balançou a cabeça.
— Não seja ridículo. Você convenceu os caras a fazerem a coisa dos
Vingadores. Se não fosse por isso, essa festa teria sido um fracasso.
— Duvido, mas só mostra o quanto formamos uma boa equipe.
Fizemos isso juntos.
Seus olhos encontraram os meus, e ela sorriu levemente.
— Você tá tornando difícil a tarefa de não gostar de você, Wes.
— Esse era o objetivo? — Eu ri. — Não gostar de mim?
— Temos que colocar o que essas crianças precisam antes de nossas
próprias necessidades.
— Foi o que zemos, não foi?
— Na maioria das vezes. Mas a química sexual que está rolando
ultimamente tem potencial de explodir na nossa cara, e as principais pessoas
que vão se machucar com isso são essas crianças. Temos que ser amigos e ter
um bom relacionamento, porque se começarmos algo e isso não der certo,
como vamos ser pais juntos?
Eu suspirei. Em parte porque estava frustrado, mas também porque
Hadley estava certa. E eu odiava isso. Mas não havia tempo para responder,
porque o fotógrafo que tínhamos contratado se aproximou de nós com um
sorriso.
— Tirei um monte de fotos espontâneas e algumas ótimas com as duas
crianças e os avós, mas pouquíssimas com vocês dois juntos. Pensei que
poderíamos fazer algumas fotos posadas com os quatro e talvez cada um de
vocês com ambas as crianças, que tal? Acho que vai ser bom ter uma
variedade para escolher.
— Com certeza — eu concordei. — Vou pegar a Annalise.
Eu me afastei porque era mais fácil do que tentar continuar uma
conversa sem saída no meio de todo esse caos. Embora eu concordasse em
grande parte com Hadley, via as coisas por uma perspectiva diferente. Nós
éramos adultos. Não havia motivo para não seguir adiante com esse lance
entre a gente e manter uma amizade depois se não funcionasse ou se fosse
apenas sexo. Por que tudo tinha de ser tão preto no branco com ela?
*
Depois que os convidados foram embora e nós limpamos Benny e
Annalise e os colocamos para dormir, Hadley e eu desabamos no sofá da
sala. Eram apenas oito horas da noite, mas Annalise estava completamente
exausta e tinha adormecido na banheira. Benny provavelmente estaria
acordado novamente à meia-noite, mas pelo menos tínhamos algum tempo
de tranquilidade.
— Sem ofensa, mas essas fatias minúsculas de pizza e o bolo mais legal
do mundo não enchem a barriga de um cara do meu tamanho — eu disse.
— Ou a gente pede alguma coisa para comer ou eu talvez tenha que
começar a mastigar o seu braço.
— Eu posso cozinhar alguma coisa… — ela começou, se levantando.
— Ah, para com isso e senta aí — eu disse, balançando a cabeça. —
Você trabalhou muito hoje. Não vai cozinhar nada.
Hadley sorriu.
— Ok. Que tal pedir comida chinesa?
— Pode ser. — Peguei meu celular. — E eu tenho o lugar certo para
isso. O que você gosta?
Fiz o pedido e permanecemos sentados. Tinha sido um ótimo dia, um
pouco agridoce. Caramba, eu estava cansado. E eu tinha um treino pela
manhã e um jogo depois. Eu precisava dormir, mas estava faminto e car
assim com Hadley era agradável. Na verdade, era muito agradável. Pena que
ela deixou claro que as coisas precisavam esfriar entre a gente. Meu pau
de nitivamente estava irritado com essa nova perspectiva.
— Você acha que o Ben e a Lauren teriam gostado da festa? — ela
sussurrou.
— Acho que a Lauren teria reclamado do dinheiro que gastamos, mas
eles teriam adorado ver os caras fantasiados para a Annalise e para as outras
crianças. Eles amavam a nossa família estendida dos Mavericks.
— Deus, quando esse sentimento vai acabar? Eu continuo pensando
que está melhorando, e então vem um dia como hoje, em que dói tanto,
que mal consigo respirar. Ainda pego meu telefone todo santo dia para ligar
para ela…
— Eu entendo. — Deslizei um braço ao redor de seus ombros e a puxei
para perto. Hadley cou tensa por uma fração de segundo, mas então foi
como se toda a resistência tivesse a abandonado, de modo que desabou
contra meu ombro, enterrando a lateral do rosto no meu peito.
— Eu nunca consigo saber se você está sofrendo — ela disse depois de
um momento. — Eu me sinto tão fraca, porque quero chorar todos os dias,
e você está seguindo em frente.
— Acredite em mim, a dor está sempre logo abaixo da superfície. Eu
não estou seguindo em frente, nem sei que palavra eu deveria usar para o
que estou fazendo. Eu simplesmente não tenho o luxo de car de luto por
muito tempo. Tenho um trabalho que requer uma tonelada de energia e
dois lhos em casa que me tomam o restante. Não importa o quanto eu
sofra por dentro, tenho que continuar em pé por eles, pelo time e por você.
— Estou tão feliz de estarmos aqui um para o outro. Eu sei que não
parece, mas você foi meu porto seguro nesse processo todo.
Eu queria dizer a Hadley que ela também foi o meu porto seguro, mas
mais alguns minutos de carinho e conversa íntima, e eu nunca seria capaz
de respeitar seu desejo de manter as coisas platônicas.
— Acho que acabei de ouvir o Benny — menti, saindo de seu abraço.
— É melhor eu veri car como ele está.
Vi a surpresa em seu rosto, mas que escolha eu tinha? Quanto mais nos
aproximávamos, mais eu a desejava, mas se Hadley não estava na mesma
vibe, eu tinha de me proteger para além das crianças. Perder Ben e Lauren
tinha sido todo o sofrimento que eu conseguiria suportar; qualquer outra
coisa poderia me arrasar de vez.
Hadley
*
— Estou me arrependendo das pistolas de glitter — eu disse para Lauren,
virando meu rosto de um lado para o outro para ver meu re exo no espelho do
banheiro da boate.
Eu estava coberta de glitter dourado; levaria uma eternidade para tirar cada
pontinho da pele.
— Ainda estamos bêbadas, o que signi ca que você não pode acabar com
meu barato ainda. — Ela sorriu para mim do lavatório ao lado do meu.
— Não precisa de muito para te deixar bêbada atualmente — eu disse
rindo. — Você está muito mais bêbada do que eu.
— Eu quase nunca saio! É véspera de Ano-Novo e eu estou em Nova York! A
Grande Maçã.
— Ninguém mais fala isso — eu disse, rindo alto.
— Vocês podem se apressar? — uma voz feminina irritada reclamou atrás
de nós.
Eu me virei e olhei feio.
— Você está ótima. Passa um álcool em gel nas mãos e volte para a festa.
— Vamos — Lauren disse, pegando meu braço e me levando. — Quero
encontrar meu marido sexy para beijá-lo quando a bola descer. — Ela riu alto.
— Eu disse bola.
Ben e Lauren tinham vindo para a cidade para comemorar a véspera de
Ano Novo em uma nova boate descolada. Eu havia conseguido nos colocar na
lista de convidados. Annalise estava em um hotel com uma babá que Ben e
Lauren haviam trazido com eles. Eles estavam pagando uma fortuna para que
pudessem sair, mas sem se afastarem muito da lha. E, é claro, eles pediram
para que Wes saísse conosco também. Ele estava deixando Ben bebaço de uísque,
os dois rindo despreocupadamente quando duas mulheres se aproximaram deles.
— Ah, não fode — Lauren resmungou enquanto nos aproximávamos.
As mulheres conseguiram fazer com que Ben e Wes se virassem para olhá-las
quando chegamos perto deles.
— Ele é comprometido — Lauren disse com rmeza, deslizando para o colo
do marido.
— Ah, desculpe — disse a loira, virando-se para Wes em seguida. — E
você?
A amiga olhou para mim, provavelmente esperando para ver se eu iria
mostrar minhas garras, como Lauren acabara de fazer.
— Ele é todo seu — eu disse, levantando minhas mãos.
— Podemos dividi-lo? — perguntou a mulher de cabelos escuros, dando a
Wes um olhar sedutor.
— Uh, eu gostaria. — Ele sorriu. — Me sinto lisonjeado, senhoras, mas
vim com meus amigos e só quero passar um tempo com eles.
— Ai, mas quem você vai beijar quando a bola descer? — a loira
perguntou, fazendo um bico falso.
— Uh… — Wes olhou para mim.
— Não — eu disse rmemente.
— Relaxa, nem estava pensando nisso.
— Será em dez minutos! — disse a loira, colocando uma mão na coxa de
Wes. — Vamos pegar bebidas para estarmos prontas para brindar!
— Vocês duas, caiam fora — disse Lauren, acenando com a mão. — Eu
beijo ele se precisar, mas vocês não vão car.
— Você não vai beijá-lo — disse Ben, franzindo a testa enquanto as duas
mulheres reviravam os olhos e saíam.
— Eu não quis dizer tipo com língua — disse Lauren.
— Então você quer que eu beije a Hadley? — perguntou Ben.
A expressão de Lauren mudou de irritada para descrente.
— Gente, ninguém vai beijar, só vocês dois, ok? Vamos brindar com shots.
Uma garçonete chegou então com uma bandeja de shots, e Wes os distribuiu.
Nós nos reunimos em volta da nossa mesa e assistimos à grande tela do bar onde
a descida da bola na Times Square estava sendo transmitida. Era uma
caminhada de quinze minutos de onde estávamos, mas o clima estava
congelante e nenhum de nós queria passar a noite lá fora no frio.
— Aos grandes amigos — disse Ben enquanto as pessoas no bar faziam a
contagem regressiva para o grande momento.
— Aos amigos! — ecoou Wes, e todos brindamos.
A música tocou e o confete voou enquanto tomávamos os shots, minha
garganta queimando quando o álcool bateu. Quando eu coloquei meu copo na
mesa, Lauren tinha as palmas das mãos nas bochechas de Ben, e eles estavam se
beijando. Wes se aproximou de mim, seus passos desiguais, os olhos vermelhos.
Ele estava bêbado.
— Não pense nem por um segundo em me beijar — eu o avisei, tonta pelo
shot, mas ainda muito consciente de não baixar a guarda.
Eu tinha passado por uma dolorosa separação algumas semanas antes e
estava me sentindo vulnerável. Não podia deixar que muito álcool e um coração
partido me zessem tomar uma decisão tenebrosa em relação a Wes.
Wes se inclinou, e eu virei o rosto para ter certeza de que ele não poderia me
beijar.
— Vai por mim, eu não estou pensando nisso — ele disse no meu ouvido.
— Eu só queria dizer que espero que este seja o seu ano, Hadley. Espero que o
enorme plug de gelo en ado na sua bunda tenha a chance de descongelar este
ano e talvez você nalmente consiga se dar bem.
Bufei, mas meu coração batia ansiosamente enquanto suas palavras me
atingiam.
— Eu me dou bem o su ciente, obrigada — eu disse com rmeza.
— Claro, óbvio. Aposto que tá cheio de cara procurando uma mulher capaz
de reclamar de cada movimento deles. — Wes riu, e eu o odiei um pouco mais
do que antes.
Talvez aquele fosse o ano em que ele pare de ser tão babaca. Eu duvidava
seriamente. Wes Kirby nunca mudaria.
Wes
Perder três dos seis jogos fora de casa foi brutal. Tentei todos os truques
existentes para motivar e incentivar meus companheiros de time, mas
estávamos em uma espiral de derrotas, e eu estava muito frustrado. Caímos
para o quarto lugar geral, e o terceiro da nossa divisão, então mesmo que
ainda estivéssemos a caminho dos playo s, não haveria como salvar esta
temporada se não começássemos a vencer. Foram dez dias que pareceram
dez anos, e quando entrei em casa às dez e meia da noite, estava de mau
humor.
Hadley estava na cozinha limpando o processador de alimentos e se
livrando do que parecia ser outro desastre de comida de bebê, e eu desejei
ter disposição para sorrir. Ela estava com calças de ioga que iam até a
panturrilha e que moldavam seu traseiro como uma luva, uma camiseta
larga e, meu Deus, sem sutiã. O cabelo estava preso em um meio rabo de
cavalo bagunçado, com mechas que haviam escapado e agora emolduravam
seu rosto, e coberto por algo azul-arroxeado.
— Papinha de mirtilo? — eu perguntei, colocando minha bolsa no
chão.
— Sim. — Ela se virou e abriu um sorriso. — Como você está?
— Como você acha? Foi uma viagem dos infernos. — Eu revirei a
geladeira procurando algo para comer, mas tudo o que vi foi queijo em
pedaços, frutas e comida de bebê. — Jesus, há algo para comer nesta casa
que não seja para criança?
Hadley pausou o que estava fazendo e estreitou os olhos.
— Sim, mas só se você pedir com educação.
— Desculpa. — Não era culpa dela que estávamos indo mal no gelo,
mas eu não tinha mais ninguém para descontar.
— Há frios, se você quiser que eu faça um sanduíche para você ou…
— Deixa pra lá. Não estou com fome. — Eu bati a porta da geladeira e
peguei minha bolsa.
— Wes. — Ela colocou uma mão gentil em meu braço. — O que
houve?
— Você não vai entender.
— Tenta me explicar. — Seus olhos eram suaves e compreensivos, como
se Hadley realmente entendesse, mesmo que eu não tivesse dito nada.
— É difícil explicar. É coisa de hóquei, e embora eu aprecie sua ajuda,
você não vai entender como a dinâmica do vestiário está errada. Não
estamos nos encaixando como antes, ou como deveríamos, e eu não sei
como consertar isso.
— O que eu posso fazer para você se sentir melhor?
Eu resmunguei.
— Posso pensar em pelo menos uma coisa.
Não era a maneira como eu havia planejado seduzi-la se e quando a
oportunidade aparecesse, mas em vez de me dizer que eu era nojento,
Hadley me surpreendeu apenas inclinando a cabeça.
— Isso realmente ajudaria?
— Há quanto tempo você não faz sexo, Hadley?
Ela fez uma careta.
— Hmm, faz bastante tempo. Quase, hm, acho que quase um ano.
Jesus, era muito tempo.
— E você está tranquila com isso?
— Bem… não, acho que não, mas posso cuidar das minhas
necessidades sozinha. — Suas bochechas arderam de vergonha.
— Você prefere se masturbar a me deixar te comer? — Eu a segurei
contra a bancada, pairando sobre ela, Hadley não parecendo nem um pouco
intimidada.
— Claro que não, mas, por causa das crianças, eu pre ro não fazer algo
que possa mexer com sentimentos ou deixar tudo bagunçado. Já
conversamos sobre isso.
— Querida, ninguém falou sobre sentimento. É só sexo. Somos adultos
bem resolvidos que passaram tempo demais sem sexo. Eu posso fazer a coisa
ser tão indecente, que você não vai pensar em mais nada além de quantas
vezes eu te z gozar. — Coloquei a mão em sua nuca e senti a pele dela se
arrepiar.
Hadley prendeu a respiração enquanto olhava para mim.
— Wes…
— Diga que sim, Hadley. — Eu estava com um pau duro imenso.
— Mas e se…?
— Jesus, mulher, sim ou não.
Eu já a estava empurrando de volta para a ilha, e em vez de responder,
ela levantou, agarrou minha cabeça e a trouxe para junto dela. Hadley me
beijou desta vez, e porra, que tesão. Ela não escondeu nada ao gemer
suavemente enquanto as línguas se enroscavam, sua respiração quente, o
peito dela pressionado contra o meu. A mulher que estava lavando pratos há
alguns segundos não estava mais lá. Isso não era apenas para me distrair da
minha espiral de fracasso pro ssional. Ela também precisava disso.
Eu a coloquei sentada na bancada, e ela passou as pernas em volta da
minha cintura, nossas bocas ainda coladas. Sua língua duelava com a
minha, girando e roçando, nossos lábios em um emaranhado de desejo. Eu
deslizei minhas mãos por baixo da sua bunda, apertando as nádegas rmes e
puxando o corpo de Hadley contra minha virilha. Ela gemeu quando eu
soltei seu rabo de cavalo, eu precisava da Hadley livre e excitada, não da
Hadley executiva e contida. E, porra, ela estava linda com os lábios
inchados pelo beijo, o cabelo caindo desordenadamente em torno do rosto e
os olhos vidrados de desejo.
Havia um toque de indecisão, no entanto, antes que ela pudesse mudar
de ideia, eu tirei sua blusa e, caramba, o que me aguardava ia além de todas
as fantasias que eu já havia tido. Seus peitos eram tão perfeitos quanto eu
poderia sonhar. Firmes e redondos, com mamilos de um rosa pálido que já
estavam duros para mim.
— 34-D, certo? — eu murmurei, abaixando a cabeça para sentir o gosto
deles pela primeira vez.
— Você é um especialista em mais do que apenas o tamanho? — Sua
observação rapidamente se transformou em um gemido, seus dedos
afundando no meu cabelo e me puxando para mais perto.
Eu apenas ri, lambendo e instigando seu mamilo até que suas unhas se
tornassem pequenas agulhas contra o meu couro cabeludo.
— Incline-se para trás — eu disse, cando de joelhos.
— O quê? — Ela pareceu assustada enquanto eu puxava suas calças de
yoga.
— Tira.
— Wes, as crianças…
— Annalise sempre chama a gente primeiro, então estamos seguros.
Eu rapidamente tirei suas calças e calcinha; ver Hadley nua sobre a ilha
da cozinha, com as pernas abertas e a boceta molhada de excitação fez
minha ereção doer. Mas o primeiro orgasmo seria dela. Depois, eu a
comeria até o meio da próxima semana.
Usei os dedos para separar seus lábios delicados e a língua para sentir o
gosto. Caramba, ela era como um prato de sabor marcante e uma sobremesa
deliciosa, tudo em um só. O clitóris já era um pequeno ponto duro contra
meus lábios, e eu me diverti o chupando para ter ideia do que ela mais
gostava. De forma gentil parecia não ser su ciente para ela, então aumentei
a pressão até que Hadley gritasse. Encaixei meus ombros sob suas coxas,
para ter fácil acesso à boceta, e ela ofegou, braços se movendo enquanto
tentava manter o equilíbrio. Ouvi algo deslizando pelo balcão, mas não dei
a mínima, porque agora estava chupando sua boceta, e ela estava cavalgando
na minha cara como uma vaqueira.
— Wes! Ai, meu Deus, Wes!
Ela estava tão molhada, que meu rosto estava encharcado, e eu estava
adorando. Ter a mulher certinha e formal com quem eu tinha brigado
tantas vezes se desfazendo para mim ia além dos meus sonhos mais loucos.
Eu en ei um dedo dentro dela, e Hadley começou a ofegar, sussurrando
meu nome repetidamente. Quando adicionei um segundo dedo, chupando
seu clitóris ao mesmo tempo, seus sussurros se transformaram em gemidos.
— Pronta para gozar para mim? — eu perguntei, levemente abrindo
meus dedos dentro dela.
— Sim, Deus, sim!
Dois dedos e a roçar dos meus dentes em seu clitóris foi tudo o que
precisei fazer. Ela gritou meu nome enquanto convulsionava ao redor dos
meus dedos e da minha cara, se contorcendo loucamente e mandando uma
tigela grande com alguma coisa dentro pelos ares enquanto se esticava na
ilha. Nós dois não tínhamos a menor ideia da bagunça que estávamos
fazendo. Vê-la gozar foi glorioso, e ouvir meu nome em seus lábios foi
emocionante.
Hadley mal tinha terminado de gozar quando eu a peguei no colo e subi
as escadas.
— Para onde estamos indo? — ela sussurrou, se afundando nos meus
braços.
— Para aquela cama king-size onde vou poder te comer como você
deseja.
— Mas Annalise está lá.
— Vou colocar aquela menina na cama dela esta noite.
Coloquei Hadley gentilmente no chão para não acordar Annalise e
então corri para lavar minhas mãos antes de pegá-la e levá-la para sua
própria cama. Ela não se mexeu, felizmente, e eu a cobri e beijei sua testa.
Certi quei-me de ligar o monitor do bebê e fechei a porta silenciosamente.
Então tirei minhas roupas enquanto caminhava de volta para o quarto
principal.
Hadley estava onde eu a tinha deixado, uma deusa nua banhada pela
fraca luz da única lâmpada no quarto; eu estava tão feliz por ainda ter um
preservativo na carteira. Eu peguei, joguei na cama e então engatinhei até
ela no colchão.
— Como você quer, Had?
— Eu não sei — ela disse suavemente. — Eu sinto que você é muito
mais experiente do que eu. Então faça o que quiser.
— Ah, querida, não é assim que funciona. — Eu passei um momento
observando seu lindo rosto. — Seus amantes não se dedicaram a descobrir o
que te faz vibrar na cama?
— Hm, não até agora.
— Bem, isso vai mudar agora. — Eu parei e perguntei: — Você
consegue gozar com papai-mamãe?
Ela balançou a cabeça.
— Acho que não. Bem, nunca tentei. Normalmente só gozo quando
estou por cima. Mas isso leva muito tempo.
— Perfeito. Eu tenho toda a resistência que você precisar. O que mais
você gosta?
— Eu gosto do que você acabou de fazer.
— E vamos fazer isso de novo, mas eu preciso desesperadamente entrar
em você.
— Eu quero isso também.
— Que tal cavalgada invertida? Já tentou?
Ela balançou a cabeça.
— Vem cá.
Eu a puxei da cama e a coloquei no sofá perto da janela. Vesti a
camisinha e sentei com os pés no chão, os joelhos dobrados. Então eu a
puxei para o meu colo, virada de costas para mim, movendo suas pernas
para que suas coxas cassem por fora das minhas, com as pernas abertas.
— Se inclina para trás e me deixe fazer todo o trabalho — sussurrei.
Ela descansou a nuca contra o meu peito, e eu a toquei, usando uma
mão para acariciar seu seio e a outra para continuar estimulando seu clitóris.
Hadley era muito responsiva, seu corpo reagindo instantaneamente quando
eu a tocava. Seu mamilo endureceu contra meus dedos, e logo ela estava
molhada novamente.
Droga, fala se ela não foi feita para mim?
Agora era apenas uma questão de a fazer relaxar. Embora seu corpo
estivesse pronto para gozar novamente, eu senti um toque de insegurança.
Hadley de nitivamente não era tão experiente quanto eu. Na verdade, eu
apostaria que ela não tinha nenhuma experiência. Não com um homem de
verdade que mandasse bem e tivesse atenção às necessidades dela antes das
próprias.
— Senta um pouco, baby. — Eu a empurrei para frente e me posicionei
na sua entrada. — Agora deslize para baixo em meu pau… ah, sim, assim
mesmo.
Puta merda.
Ela estava mais apertada e mais molhada do que qualquer outra pessoa
com quem já estive, me envolvendo e recebendo cada centímetro até o m.
O desejo de me mexer veio do nada, e eu tive de segurá-la no lugar para
impedi-la de se mover até que eu pudesse retomar o controle. Jesus. Isso
nunca aconteceu comigo, quase me perder tão rapidamente, mas Hadley era
espetacular, e estar dentro dela era indescritível.
Eu fechei os olhos e beijei suavemente seu ombro, sentindo o doce
perfume do seu cabelo. Neste momento, ela pertencia a mim de todas as
maneiras possíveis, e eu queria que nunca acabasse.
— Wes, por favor… — Ela estava se movendo contra minhas mãos,
ansiosa para ter mais de mim, mas eu precisava ter certeza de que ela estava
pronta.
— Vou te foder com força e de maneira indecente, como você me
pediu, então quero que relaxe e me deixe mandar ver.
— Por favor, vai logo.
Eu soltei uma risada.
— Pés no chão, linda. E segure-se rme.
Eu me afundei com força su ciente para fazê-la gritar. Então eu retirei
até a cabeça e apenas quei assim, esperando por sua reação. Seria ela quem
realmente ditaria nosso ritmo, mas ela ainda não tinha tanta con ança em si
mesma, então eu a deixaria pensar que estava no controle. Eu não tinha
dúvida, porém, que uma vez que ela começasse, seria intenso.
Eu empurrei para cima, parei e saí novamente. Fiz isso repetidas vezes,
até que ela começou a se mover comigo, seu corpo encontrando o ritmo
que a levaria aonde desejava ir.
— Toque-se, Hadley. Brinque com o clitóris enquanto eu te como.
Ela fez um som estrangulado, mas pôs a mão lá embaixo, e embora eu
não pudesse ver, sabia que ela estava se tocando por causa da forma como
começou a se contrair ao meu redor.
— Isso. — Comecei a me mover mais rápido, e ela também, sua bela
bunda pulando no meu colo até que ela perdeu o controle. Eu a deixei
experienciar o orgasmo antes de gozar dentro dela, meus dedos apertando
seus quadris enquanto eu me deleitava.
— Puta merda… foi incrível. — Passei meus braços em volta de sua
cintura quando ela caiu de volta contra meu peito.
Hadley cou quieta por um longo tempo, por um momento até me
preocupei que a tivesse machucado, mas sabia que não era o caso. Ela tinha
gozado rápido e forte, do jeito que nós dois precisávamos, e agora sua
mente empreendedora provavelmente estava a mil por hora.
— Vamos limpar tudo — eu disse suavemente, empurrando-a
gentilmente para se levantar.
As pernas dela estavam um pouco trêmulas, e eu a segurei, puxando-a
contra mim enquanto caminhávamos para o banheiro.
Droga, Hadley estava linda depois de ser completamente fodida. Seu
cabelo estava selvagem, seus olhos semicerrados, sua pele corada.
— Você é linda pra caralho — eu disse a ela enquanto descartava a
camisinha. — E isso foi incrível.
— Hm, sim. Foi.
— Você está bem?
— Bem. Sim. — Ela estava parada me olhando, como se estivesse
confusa. — Wes, eu… — ela começou.
Eu coloquei um dedo sobre seus lábios, esperando que isso não fosse
seguir pelo caminho que eu tinha imaginado.
— A menos que as próximas palavras que saiam da sua boca sejam “me
come de novo, Wes”, eu não quero ouvir.
Ela lambeu os lábios, seus olhos ardendo nos meus.
— Me come de novo, Wes.
Hadley
*
Naquela noite, eu estava sentada na cama, acordada de um sono
profundo por causa do movimento de Annalise saindo da cama e correndo
para fora do quarto.
Atordoada, eu saí da cama para segui-la. O quarto de Ben e Lauren
tinha um banheiro, então eu sabia que não era para lá que ela estava indo.
Eu estava muito cansada. Wes e eu tínhamos escolhido sexo em vez de
sono na noite anterior, e o dia tinha sido cheio de tarefas: lavanderia,
supermercado e brincadeiras com as crianças. Quando eu caí na cama, mal
conseguia manter os olhos abertos. Wes estava cuidando de Benny à noite, e
eu estava planejando nove horas de sono ininterruptas e felizes.
Quando encontrei Annalise na sala de estar escura, ela estava
balançando os braços e se contorcendo em um círculo. Eu semicerrei os
olhos, tentando vê-la melhor.
Será que era sonambulismo? Dança da chuva enquanto dorme?
— Ei, o que está acontecendo? — Wes sussurrou, entrando na sala. —
Eu ouvi você descer as escadas e pensei que algo tivesse acontecido.
— Não tenho ideia. Eu a segui até aqui embaixo.
Wes acionou um interruptor de luz e Annalise sorriu para a gente, ainda
balançando o corpo e agitando os braços. Ela estava muito acordada.
— O que você está fazendo? — perguntei a ela enquanto bocejava.
— Você disse que mamãe e papai podem sair da cama sempre que
quiserem e dançar no céu. Eu acho que eles estão dançando agora, e eu
queria dançar com eles.
Meu coração se encheu de emoção quando olhei para Wes. Eu estava
muito cansada e só queria voltar para a cama desesperadamente. Mas eu não
podia fazer Annalise parar de dançar. Eu estava prestes a dizer a Wes que ele
poderia voltar para a cama e que eu dançaria com Annalise quando ele
disse:
— Se vamos ter uma festa de dança, precisamos de música.
Ele foi até o painel de controle digital do sistema de som de Ben e
Lauren e apertou alguns botões. Eu esperava rock ou alternativo, mas ele me
surpreendeu.
Build Me Up Buttercup, de e Foundations, começou, e Wes foi
dançando até Annalise.
— Me concede essa dança?
Ela riu e concordou com a cabeça, e ele segurou as duas mãos dela, e eles
se balançaram juntos. Depois, ele a girou, e eu tive certeza que Ben tinha
dançado com a lha quando estava vivo. Ela sabia exatamente o que fazer.
Eu me juntei a eles, embora não fosse muito boa dançarina. Wes, por
outro lado, sabia se mexer. Seu ritmo era perfeito, e ele estava se divertindo.
Ele mexia os quadris e mantinha seus passos no ritmo da música enquanto
dançava em minha direção, e eu ri. Com uma camiseta branca e cueca boxer
e com Annalise olhando para ele de um jeito adorável, Wes era irresistível.
e Way You Look Tonight, de Frank Sinatra, começou, e Wes colocou
um braço em volta da minha cintura e segurou minha mão, levando nossos
dedos entrelaçados para o seu peito. Seus olhos se prenderam aos meus
enquanto dançávamos ao lado do sofá. Algo nesse momento era mais
íntimo do que o sexo da noite anterior. Era emocionante e aterrorizante ao
mesmo tempo.
— Tio Wes, dança comigo assim! — Annalise gritou.
Ele piscou para mim antes de se curvar para mostrar a Annalise como
dançar uma valsa. Seus olhos brilhavam de felicidade enquanto dançava e
gritava:
— Olha pra gente, mamãe e papai! Nós também estamos dançando!
Eu limpei minhas lágrimas rapidamente, não querendo que ela pensasse
que eu estava triste. Porque embora fosse um momento agridoce, havia
muito mais doçura do que amargura.
A música acabou e Let Love In, do Goo Goo Dolls – a favorita de
Lauren –, começou a tocar. Fizemos uma roda de dança, o sorriso de
Annalise sempre no rosto. Ela estava se divertindo muito.
Música após música, dançamos por quase uma hora antes de Annalise
anunciar que estava cansada e que queria voltar para a cama. Todos nós
bebemos um pouco de água e subimos as escadas, Wes segurando minha
mão do lado de fora do quarto de Ben e Lauren depois que Annalise entrou.
Ele me deu um beijo casto e apertou minha mão, sem dizer uma
palavra.
Ignorei os sentimentos que cresciam dentro do meu peito enquanto me
aconchegava de volta na cama. Eu não ia desperdiçar a chance preciosa de
dormir passando horas analisando tudo que havia acontecido. O sono era
um bem muito precioso nesta casa.
Wes
*
Na manhã seguinte, no café da manhã, sentei com Nash, Lars e Drew.
Keegan estava com alguns caras em outra mesa, e Konstantin ainda não
tinha descido, o que me preocupou. O café da manhã não era opcional.
Fazíamos as refeições juntos quando estávamos na estrada, especialmente o
café da manhã e o jantar, e não aparecer geralmente signi cava algumas
voltas a mais no próximo treino.
— Bati na porta dele antes de descer — disse Drew. — Mas ele não
respondeu.
— Eu soube de alguns boatos — disse eu, repetindo o que Hadley me
contou, embora não tenha dito que a informação veio dela.
— Jesus. — Nash balançou a cabeça. — Isso não é bacana. Você acha
que é verdade?
— Faria sentido — respondi, olhando para eles. — Escutem, eu preciso
ter alguma ideia do que está acontecendo. Vocês concordam que eu não sou
o cara certo para ser o capitão?
Drew balançou a cabeça.
— Esquece essa porra. Ele só falou merda.
— Ninguém o contradisse — apontei. — Quero dizer, não estou
falando de vocês, mas Ayres e Sully sequer olharam nos meus olhos.
— Ayres está no meio de um divórcio fodido — disse Nash. — Ele está
com ódio de todo mundo. Sully é novato, e se eu não o conhecesse bem,
acharia que ele está apaixonado pelo Keegan. Ele ca seguindo o cara como
um cachorrinho abandonado. Você não pode usar esses dois como
parâmetro.
— Mas são exatamente com quem eu devo me preocupar — disse eu.
— São eles que eu tenho que alcançar. Se não consigo, então não mereço
usar a braçadeira com o C estampado.
— Nem todos podem ser ajudados — Lars falou pela primeira vez. —
Às vezes, eles precisam encontrar o próprio caminho. Esse não é o seu
trabalho.
— Obrigado. — Sorri para ele. — Aliás, soube que você vai sair com a
minha a lhada.
As orelhas de Lars caram vermelhas, mas ele sorriu.
— Sim. Vamos tomar sorvete e… — Ele fez careta. — Construir
ursinhos?
Houve um momento de confusão, e então Drew explodiu em risadas.
— Ela vai te levar para a loja que cria ursinhos? Ah, cara, você tem
alguns cartões de crédito, não é?
Lars parecia completamente confuso.
— Cartões de crédito? Sim. Eu tenho muitos. Por quê?
Rimos enquanto Drew tentava explicar que tipo de loja era, então o
clima cou consideravelmente mais leve. Eu ainda me sentia um bosta, mas
pelo menos havia um grupo central de jogadores que me dava apoio. E não
só a mim, mas também a Hadley e às crianças.
Konstantin entrou no refeitório cerca de dez minutos antes de sairmos,
pegando uma xícara de café e um bagel no bu et, mas sentando sozinho no
canto. Keegan lançou alguns olhares na direção dele, mas parecia contente
em permanecer do outro lado do restaurante.
Aquela era minha chance de conversar com Konstantin. Eu não sabia o
que estava acontecendo, se os rumores sobre Svetlana eram de fato
verdadeiros, então eu precisava tentar entender.
— Ei, cara. — Afundei na cadeira em frente a ele.
Ele olhou para cima, seu rosto sem emoção.
— Bom dia.
— Escuta, eu sinto muito pelo que aconteceu ontem à noite. Foi difícil
te ajudar com você falando em russo… — Deixei minha voz sumir,
esperando que ele dissesse algo.
Ele concordou com a cabeça, mas cou quieto por um tempo.
— Está tudo bem. Eu estava com raiva.
— Se você precisar conversar, se algo estiver acontecendo, pode
conversar comigo.
— Pedi para ser negociado — disse ele abruptamente. — Não posso
car.
— Então é verdade. — Limpei a garganta e encontrei seu olhar
diretamente. — Sobre Keegan e Svetlana?
Sua boca se apertou com irritação enquanto ele balançava a cabeça.
— Sim. Ela diz que não pode escolher. Ela ama os dois igualmente.
Fiz uma careta.
— Sinto muito, cara.
Ele murmurou algo em russo em voz baixa.
— Você falou com o técnico sobre isso?
Ele balançou a cabeça negando.
— Depois. Por enquanto, preciso controlar meu gênio. Ficar calmo.
— Farei o meu melhor para mantê-los separados.
— Sinto muito por estar sendo difícil. O que ele disse a seu respeito não
é verdade. Você é respeitado. Só Keegan não te respeita.
— Agradeço por você dizer isso. E espere antes de falar com outras
equipes, ok? Eu pre ro que troquemos ele em vez de você.
— Nada vai acontecer até o verão, mas meu agente sabe que quero sair.
— Porra, cara, me dê um tempo para resolver as coisas, ok? Como você
disse, nada vai acontecer até o nal da temporada de qualquer maneira.
Ele hesitou, mas depois concordou.
— Meu agente vai procurar, mas não assinarei nada até conversarmos.
Filho da mãe. Isso era a última coisa que eu queria. Eu precisava
conversar com o técnico mais cedo ou mais tarde. Perder Konstantin seria
devastador para a equipe. Ele era incrivelmente talentoso. Precisávamos do
estilo dele no gelo e da atitude descontraída no vestiário. Precisava fazer algo
antes que as coisas piorassem.
Hadley
Meu coração acelerou quando ouvi o som da porta da frente sendo fechada
e o bipe do sistema de segurança residencial enquanto Wes desarmava o
alarme. Ele andou até a cozinha, provavelmente para beber água, e então
ouvi seus passos nas escadas.
Barulhos suaves e abafados soaram no monitor de Benny enquanto Wes
entrava no quarto para veri car se ele estava bem; em seguida, o mesmo
som no monitor de Annalise.
Conforme ele se aproximava do quarto principal, me arrependi de ter
escolhido um conjunto de sutiã e calcinha vermelhos e rendados para
dormir. Eu estava exposta, não apenas sicamente, mas emocionalmente. Se
Wes estivesse de mau humor, o que era provável depois da maneira como a
equipe tinha atuado no jogo fora de casa e da tensão que ele vinha lidando
entre os jogadores, eu não poderia ngir que estava dormindo.
Essa lingerie enviava uma mensagem clara: eu quero transar. E se ele não
quisesse, eu me sentiria rejeitada.
Wes entrou no quarto e colocou as malas no chão, depois caminhou até
a cama.
— Ei, você está acordada? — ele sussurrou, sentando-se na beira da
cama e se inclinando para ver meu rosto.
Eu estava com as cobertas puxadas até o queixo, então ele não poderia
ver a armadilha sexual que eu tinha tentado preparar.
— Sim, estou acordada. Pode acender a luz.
Ele acendeu o abajur ao lado da cama, e eu percebi pela expressão em
seu rosto que ele não estava de bom humor.
Merda. Por que eu tinha depilado, raspado, passado hidratante no corpo
e vestido uma lingerie novinha em folha? Era possível mudar o humor dele,
mas saber que Wes estava irritado me deixou vulnerável, e eu não gostei
disso.
Wes suspirou pesadamente e disse:
— Eu preciso ser honesto com você sobre uma coisa.
Ah, merda. Merda, merda, merda. Ele estava prestes a me dizer que
tinha dormido com outra mulher durante a viagem. Eu senti no fundo. E lá
estava eu, de lingerie. Fiquei petri cada.
— Ok — eu disse rme. — A gente não tem nada mesmo.
Ele franziu a testa.
— Eu queria te dizer que é difícil para mim morar na casa do Ben e da
Lauren.
Ah. Isso não era nem próximo do que eu estava imaginando.
— É? — perguntei.
Ele assentiu, parecendo um tanto cansado e culpado.
— Estou tentando muito dar conta da equipe e lidar com toda a
agressividade que estamos recebendo. Eu não sou o Ben, nunca serei. Venho
sentindo o peso de tentar ocupar o lugar dele, mesmo que seja impossível. E
aí ter que vir cozinhar na churrasqueira dele, passar pelo escritório dele
todos os dias… dormir na cama dele. Eu amava o Ben, mas morar aqui,
criar seus lhos e assumir o posto de capitão do time… está fazendo com
que eu sinta como se estivesse tentando ser o Ben. E tudo o que sinto é
inadequação. Sinto falta da minha cama. Sinto falta da porcaria do meu
sofá. E me sinto um idiota por sentir isso tudo.
Eu me sentei, esquecendo as cobertas.
É
— Você não é um idiota. Mas fala mais sobre isso? É só sobre a casa ou
também sobre as crianças?
— É a casa. Eu amo as crianças. Foi uma decisão acertada mudar para
cá logo depois que eles morreram, e talvez ainda não seja o momento certo,
mas…
— Você quer vender a casa — eu terminei.
— Sim. Estamos usando as louças e as toalhas de banho deles, e… acho
que uma casa nova pode ser a melhor coisa para todos nós. Podemos car
no bairro da escola que Ben e Lauren queriam matricular as crianças, mas
comprar algo que seja nosso e não deles.
Seu olhar caminhou para os meus seios enquanto eu respondia:
— Você quer dizer você poderia comprar? Porque eu não estou em
posição de pagar metade.
Ele acenou com a mão.
— Dinheiro não é um problema para a gente. Eu tenho bastante, e
teremos o valor da venda desta casa. Mas eu queria perguntar se você acha
que é uma decisão correta em relação às crianças.
Considerei os prós e contras, assim como a dimensão de permanência
que vem ao se comprar uma casa.
— É difícil dizer. Acho que haverá coisas difíceis para todos nós, não
importa o momento em que as zermos. Mas eu entendo como você se
sente por viver aqui.
— Você também se sente assim?
Eu balancei a cabeça.
— É meio o oposto para mim. Quando estou usando a batedeira de
mão da Lauren e escrevendo coisas em seu calendário, eu me lembro dela.
Mas eu te entendo, Wes. É um pouco mórbido que a gente viva aqui com
todas as coisas deles. Eu preferiria ter meu próprio escritório em vez de
trabalhar no do Ben para sempre.
Seu olhar voltou para os meus seios.
— Você está incrível nesse sutiã, baby.
— Obrigada.
Ele levantou a mão e passou o polegar sobre o tecido que cobria um dos
meus mamilos, enviando um arrepio da ponta da minha espinha até a base.
— Não precisamos fazer nada imediatamente com a casa — ele disse.
— Mas essa ereção que você me deu por usar esse sutiã é muito urgente.
Meu corpo aqueceu em resposta ao seu olhar faminto enquanto Wes se
levantava e tirava a camisa social e a camiseta básica que estava por baixo.
Eu não estava apenas querendo transar com Wes quando ele chegou em casa
hoje à noite, eu estava necessitada. Tinha passado mais de uma hora
contando historinhas para fazer Annalise dormir em sua cama esta noite.
Nesse momento, conseguia recitar de cor cada palavra do livro Chicka
Chicka Boom Boom.
Valeu a pena, pensei enquanto Wes abaixava as calças e a cueca, sua
ereção se projetando à frente. Ele realmente tinha um corpo impecável, com
ângulos e músculos de nidos.
Ele puxou as cobertas e examinou meu corpo coberto pela lingerie. Ele
riu suavemente, passando o olhar de cima a baixo.
— Caramba, baby. Pronta para abrir essas pernas?
Eu sorri.
— Estou se você recebeu os resultados do exame de DST. Eu recebi os
meus e estou saudável e forte como um touro.
— Sim, eu recebi os meus também, tudo certo por aqui. O médico do
time me deu um atestado para provar isso.
Rindo, eu disse:
— Você não precisa me mostrar, Wes. Eu con o em você.
Como eu estava tomando pílula, não precisávamos mais usar camisinha.
Eu nunca diria em voz alta, mas, Deus, eu estava ansiosa para que Wes
gozasse dentro de mim.
Enquanto se acariciava, Wes me olhou e disse:
— Tenho fantasiado constantemente com você, baby.
— Sério? Fale mais.
— Eu penso na forma como você ca e geme quando goza. — Ele
colocou um joelho na cama e se aproximou, sua mão deslizando da minha
panturrilha até minha coxa. — Penso na imagem de você com uma
camiseta que não cobre toda a sua bunda, eu adoro ver essa bunda
arrebitada. E tenho imaginado como você caria de joelhos, com meu pau
em sua linda boca.
A excitação em meu ventre se misturou com preocupação, deve ter
chegado ao meu rosto.
— O que foi? — perguntou Wes.
— O quê? — devolvi.
— Você acabou de fazer uma careta. Se você não gosta de fazer sexo
oral, tudo bem. Há muitas outras coisas que eu gosto.
Eu lambi os lábios, nervosa, enquanto tentava pensar em como
responder.
— Não é que eu não goste… é que não sou boa nisso.
Wes arqueou as sobrancelhas.
— Não é boa nisso?
— Então, meio que já me disseram isso.
Minhas bochechas queimaram de vergonha. Eu estava esperando que
Wes estivesse me comendo agora, não pedindo mais detalhes sobre minhas
habilidades orais um tanto inadequadas.
— Pelo jeito você já foi pra cama com uns caras bem babacas — disse
ele.
— Quer dizer, sim, mas…
— Vem aqui — disse ele, levantando-se da cama.
Eu o segui, e quando estávamos ambos de pé, ele colocou as mãos na
minha cintura e me beijou. Foi suave e sensual, me colocando no clima e
me fazendo esquecer essas caraminholas.
Recuando ligeiramente, ele perguntou:
— Você quer que eu te ensine?
— Ensinar o quê? Você vai chupar um pau para mim, Wes?
Ele riu e me beijou novamente.
— Venha aqui, espertinha.
Quando ele pegou minha mão e me conduziu até a cadeira estofada
com um veludo verde-escuro que cava no canto, eu sorri.
— Você está planejando sentar lá? — perguntei.
— Sim.
— Vou pegar uma toalha. Eu ajudei a Lauren a escolher essa cadeira e
levamos meses na tarefa. Foi estupidamente cara e não quero manchas de
bunda nela.
— Meu Deus, Hadley, minha bunda está limpa.
— Sim, mas quando você senta e as coisas uem… deixa eu pegar uma
toalha.
Ele sorriu e olhou para o teto, as mãos nos quadris.
— Vá correndo para eu poder ver seus peitos e bunda balançando.
Eu concedi seu desejo e peguei uma toalha de banho no armário do
banheiro; em seguida a desdobrei e a coloquei sobre a cadeira. Wes sentou,
um sorriso brincando em seus lábios, os olhos escuros de desejo enquanto
dizia:
— Ajoelha.
Isso estava começando bem mais sensual do que minhas experiências
orais anteriores. Em vez de forçar minha cabeça para baixo em direção ao
seu pau, Wes estava me dizendo o que queria, e isso era surpreendentemente
sexy.
Quando eu estava de joelhos na sua frente, ele colocou uma mão no
meu cabelo, as pontas dos dedos massageando meu couro cabeludo.
— Brinque comigo — disse ele em um tom baixo. — Me provoque.
Hesitei por um momento antes de me inclinar para frente e lamber a
cabeça do seu pau, envolvendo-o com a língua gentilmente. Wes gemeu em
resposta, as pontas dos dedos ainda passeando pelo meu cabelo.
— Isso é bom, baby. Mantenha seus lábios sobre os dentes e deixe as
coisas molhadas. Se você zer isso, é difícil que qualquer coisa… ah, puta
merda, isso.
Eu o deixei bem molhado e, em seguida, z movimentos para cima e
para baixo com a mão. Tentei novamente, usando tanto a boca quanto a
mão. Pelo som de sua respiração ofegante, dava para notar que ele estava
gostando.
— Um pouco mais devagar — ele disse em um tom persuasivo. — Ah,
isso é perfeito. Continua assim.
Não eram tanto suas palavras, mas seus gemidos e a forma como sua
mão apertava meu cabelo que me diziam quando eu estava fazendo algo que
ele gostava. E uma vez que eu fui capaz de colocar quase tudo em minha
boca e aumentar o ritmo, ele começou a levantar os quadris ligeiramente e
gemer mais alto.
— Não para, porra… Ah, caralho… use a mão se você não quiser que
eu goze na sua boca, baby.
Não havia nada que eu quisesse mais do que ele gozando na minha
boca. Ele fez com que eu me sentisse poderosa e sexy, e eu tinha a sensação
de que estava gostando disso quase tanto quanto ele. Continuei, e logo fui
recompensada com o sabor do seu orgasmo inundando minha boca.
Wes exalou forte, e seu corpo cou lânguido.
— Os outros caras eram uns puta mentirosos — ele disse, sorrindo. —
Isso foi incrível.
— Você me ajudou a fazer isso ser bom — eu disse, ainda sentindo uma
onda de orgulho.
— Nah. Todo mundo deveria dizer ao seu parceiro aquilo que gosta. É
o que adultos fazem. E eu amei isso.
Ele pegou meu rosto em suas mãos e me beijou. Talvez ele estivesse
certo, e eu simplesmente não havia estado com um homem de verdade
antes. Eu de nitivamente nunca estive com alguém que me zesse sentir
como Wes fazia.
— Agora deite e se prepare para receber a retribuição como uma boa
garota — ele disse enquanto se levantava.
Caramba. Eu me considerava uma mulher forte e independente, mas
quando ele me comandava no quarto, eu sempre queria obedecer. Era bom
não estar no controle o tempo todo.
Wes desceu minha calcinha, jogando-a no chão antes de fazer uma trilha
de beijos até as minhas coxas.
Meu Deus, o homem sabia o que estava fazendo. Ele lambeu, e sugou, e
acariciou, até que eu estivesse à beira do orgasmo, mas parou antes de me
deixar gozar. Em vez disso, ele abriu minhas pernas e en ou o pau em mim,
ambos gemendo de prazer.
Eu elevei meus quadris em direção a ele, meu corpo desesperado pelo
prazer que sabia que estava por vir. Eu tinha pensado nesse momento todas
as noites em que ele estava na estrada.
Eu gozei rapidamente, afundando meu rosto em seu ombro para abafar
os gemidos e não acordar as crianças. Ele foi logo em seguida, seu rosto
congelando em uma expressão de completo êxtase enquanto gozava dentro
de mim.
— É só comigo ou isso só está cando cada vez melhor? — ele
perguntou, exalando forte e deitando de lado.
— Não, você está certo.
— Pense em todo o ótimo sexo que você perdeu por me recusar todos
aqueles anos — ele disse com um olhar de cumplicidade.
— Mas aí eu não teria o benefício da sua extensa experiência — eu
disse, sorrindo.
— Ahan — ele disse, com um pequeno sorriso no rosto. — Quer tomar
um banho?
— Claro.
Ele saiu da cama e foi até a cadeira no canto para pegar a toalha.
— Vou usar minha toalha suja para economizar na lavanderia — ele
disse enquanto caminhava para o banheiro.
Prático e sexy.
Minha opinião sobre Wes estava realmente começando a mudar.
Wes
É
— É isso que você tinha para me dizer? Jesus Cristo, Kirby, o que você
quer que eu faça? Quando Ben vinha falar comigo, era tudo sobre hóquei.
— Isso é sobre hóquei — eu disse calmamente. — Kon está tentando
ser negociado neste verão, e francamente, eu não vejo como isso seria bom
para a equipe. Precisamos de Kon muito mais do que precisamos de Miller.
Se o perdermos, a primeira linha perde todo o ímpeto.
— Vamos deixar algo claro, Wes: nesse momento, esta equipe não tem
ímpeto. Nem a primeira linha, nem a décima linha. E para ser honesto com
você, não vejo você se esforçando para mudar as coisas.
— Estou tentando. Estamos muito fora de sintonia e cando sem
tempo.
— Ben não teria deixado isso acontecer. Ben foi capaz de motivar esses
caras a fazerem o melhor, e ele teria lidado com essa situação entre Kon e
Miller.
— Eu não sou Ben — eu disse baixinho. — Se eu vou ser o capitão,
tenho que fazer as coisas do meu jeito, e meu jeito foi vir até você, contar a
situação e te avisar que vamos perder Kon se não zermos algo a respeito de
Keegan. Eles não vão simplesmente se acertar. Svetlana está morando com
Kon e dormindo com Keegan. Eu não tenho o poder de mudar isso; você e
Levoie têm. — Mitch Levoie era nosso gerente-geral.
O treinador olhou para o teto por alguns segundos antes de me tar
com um de seus olhares de aço.
— Eu preciso que você encontre uma maneira de se comunicar com
eles, lho. Caso contrário, vamos perder mais do que Kon neste verão.
Caramba, ele estava ameaçando meu lugar na equipe?
— Só resta uma semana na temporada. Eu não sei o que posso fazer
nesse tempo tão curto.
— Eu entendo. — O treinador de repente parecia um pouco derrotado.
— Estávamos tendo uma temporada muito boa. Eu nunca perdi um
jogador antes. Já vi lesões que acabaram com a carreira, mas não morte, não
assim. Eu não sei como diabos seguimos em frente.
— Talvez seja porque nunca nos despedimos — eu disse lentamente. —
Quero dizer, falamos sobre ele no vestiário e tivemos um momento de
silêncio antes daquele primeiro jogo após o funeral, mas nunca nos
despedimos. O funeral foi curto e depois, foi só a família. Talvez a gente
precise fazer algo signi cativo. Um jantar, só os caras, uma homenagem a
Ben. Contar nossas histórias favoritas, falar sobre quem ele era, dar aos caras
a chance de se despedirem. Eu sei que estou assombrado pela imagem do
Ben ao viver em sua casa, usar suas coisas, sentar em seu sofá… — Limpei a
garganta. — Posso organizar isso.
— No dia anterior ao último jogo da temporada — disse o treinador
em voz baixa. — Em vez de um treino matinal, teremos um jantar da
equipe na noite anterior. Talvez no Giovanna’s?
— E vamos convidar a equipe toda, sabe? Treinadores, todos os
técnicos, gerentes de equipamentos. Precisamos de algo assim.
— Certamente não vai fazer mal. Faça os arranjos, e eu vou conseguir a
equipe a bordo.
— Vou te enviar os detalhes assim que Vicenzo me disser se a área dos
fundos está disponível.
O treinador assentiu, e eu fui dispensado.
Agora eu só precisava descobrir como fazer os caras se unirem,
mantendo Keegan e Konstantin separados, para quem sabe terminar a
temporada regular em alta. Eu estava tão perdido nesses pensamentos, que
quase perdi as risadas no vestiário, onde a maioria dos caras estava trocando
de roupa. Eu olhei em volta e vi Lars apoiado em seu armário, com uma
expressão de irritação no rosto.
— Eu deveria ter dito não é? — ele exigiu. — Ela tem apenas quatro
anos.
Keegan estava rindo tanto, que segurava a barriga, e havia um sorriso
fraco nos lábios de Drew. Todos pareciam focados em algo no chão, e
quando olhei para baixo, quase ri também. As unhas dos pés de Lars
estavam pintadas de vermelho vivo, como um carro de bombeiros. E era
absolutamente ridículo. Exceto que Annalise não havia falado sobre outra
coisa senão seu “encontro” com or por dois dias. Ela estava mais feliz do
que em qualquer outro dia desde seu aniversário, os olhos brilhando toda
vez que pegava o urso de pelúcia de um jogador de hóquei que Lars havia
comprado para ela na Build-A-Bear Workshop. Eu tinha me oferecido para
pagar, mas ele recusou o dinheiro, dizendo que era um prazer passar algum
tempo com Annalise.
Aparentemente, apesar da constante necessidade de segurar sua mão, ela
não o irritava.
— Você poderia perfeitamente ter negado — eu disse em voz alta, quase
desa ando alguém a me contradizer. — Mas você não disse porque é um
puta de um tio incrível — Eu bati em seu ombro. — Obrigado por ser tão
bom para a lha do Ben.
— Ela é minha amiga.
— Você está parecendo uma bichinha! — Keegan ainda estava rindo, e
Drew deu um tapa na nuca dele.
— Não fode. Se minha lha me pedisse para pintar minhas unhas dos
pés, eu nem hesitaria.
— É, bem, eu não. É por isso que a mãe dela existe.
— Gostei. — Lars deu de ombros e se virou para vestir sua calça jeans.
Com seus quase dois metros, e ombros tão largos quanto a maioria das
portas, ninguém jamais o confundiria com uma bichinha, nem mesmo fora
do diminutivo, e embora eu não pudesse ter certeza, já que ele era um cara
bastante reservado, meu instinto me dizia que ele não tinha dúvidas sobre
sua sexualidade.
— Eu também — eu disse a ele. — E, sim, se ela me pedisse, eu
também faria.
— Eu aposto que foi um encontro épico — Nash disse para Lars. —
Quanto você gastou naquela loja de ursinhos?
Lars nem sequer se virou.
— Duzentos e cinquenta e sete dólares e trinta e oito centavos.
Eu z uma careta, desejando poder pagar a ele, mas mesmo que ele
aceitasse, eu nunca ofereceria assim na frente dos caras. Todos estavam
boquiabertos com a resposta dele.
— Por um urso de pelúcia? — Nash reclamou, surpreso.
— Você pode personalizar o urso — Drew disse. — E você pode
comprar acessórios, como chapéus e coisas assim.
— Eu nunca vou ter lhos — Van disse, balançando a cabeça.
— E de nitivamente não meninas — Keegan murmurou.
— Tenho quase certeza que você não tem muita escolha — Drew riu.
— Não é verdade que se você faz de quatro é sempre um menino?
— Acho que isso é uma lenda urbana — Drew disse —, mas não tenho
certeza. Nina e eu não nos importamos se teríamos meninos ou meninas.
Felizmente, a conversa mudou das unhas dos pés de Lars para posições
sexuais e outras coisas que não tinham nada a ver com o que estava
acontecendo com o time. Embora Lars não estivesse ciente ou simplesmente
não se importasse quando os caras pegavam no pé dele, isso me
incomodava. Era uma das muitas coisas que eu queria encontrar uma
maneira de abordar se eu fosse o capitão no próximo ano. E agora essa
possibilidade parecia bastante incerta.
Meu telefone tocou quando eu estava dirigindo para casa após o treino,
e quei surpreso ao ver “Pai” aparecer na tela. Eu só falava com meus pais
algumas vezes por ano, geralmente nos feriados, meu aniversário ou se eles
estivessem em algum lugar perto de onde eu estava jogando e quisessem me
ver. Caso contrário, eu geralmente acompanhava o que eles estavam fazendo
e onde estavam por meio das redes sociais.
— Oi, pai — eu atendi a ligação pelo alto-falante do carro.
— Como vai, lho?
— Foram meses difíceis, como você pode imaginar.
— Você ainda está sendo pai substituto dos lhos do Ben?
— Bem, sim. Mas não estou apenas sendo um pai substituto, ele deixou
a guarda deles para mim.
— Pensei que ele tivesse deixado a guarda para você e para a amiga da
Lauren e que vocês precisariam decidir quem caria com a guarda
de nitiva.
— Não vou permitir que eles quem longe de mim, pai. Eles fazem
parte da minha vida agora. Não sei como explicar esse sentimento de outra
forma.
— Ben era seu melhor amigo. Ele entenderia que você precisa seguir em
frente com sua própria vida. Como você vai conhecer alguém e ter uma
família com os pestinhas te segurando?
— Eles não são uns pestinhas e não estão me segurando.
— Que mulher vai querer se casar com você quando descobrir que você
já tem dois lhos de relacionamentos passados que ela vai precisar cuidar
porque você está sempre distante jogando hóquei?
— Não sei, pai, mas muitas pessoas se casam com gente que já tem
lhos de relacionamentos anteriores.
— Eles nem são seus lhos.
— Pai, chega disso. Eu amo a Annalise e o Benny. E eles precisam de
mim.
— Deixe a amiga da Lauren car com eles. Mulheres são mais aptas
para esse tipo de coisa.
— Tem como você ser mais machista?
— Sou realista, e o machismo é uma realidade.
— Podemos acabar com essa conversa? As coisas estão caminhando
direito, exceto pelo time, que não está jogando bem, e pelos pais do Ben,
que estão nos processando pela guarda.
— Jesus, você não tem saída disso, mas age como se fosse só um
incômodo.
— Não quero ou preciso de uma saída. Estou feliz.
Houve um momento de silêncio antes de meu pai dizer:
— Ah, puta merda, você está transando com ela? Por favor, me diga que
está se protegendo.
— O nome dela é Hadley — eu disse entre dentes, apertando as mãos
no volante.
— Tanto faz. Ela sabe quem é sua família e quanto dinheiro você tem?
— Nós nunca falamos sobre isso, mas tenho certeza de que ela sabe, já
que Lauren e ela eram melhores amigas. Ela não está atrás do meu dinheiro,
pai.
— Como você sabe disso?
— Sabendo. Ben e Lauren não deixariam a guarda dos lhos a alguém
assim.
— Ela pode ser uma ótima mãe substituta, mas isso não signi ca que ela
não seja uma interesseira. Você costumava ser mais cuidadoso que isso,
lho.
— Pai, está tudo bem. Hadley é uma ótima mulher. Você iria gostar
dela.
— Gostar dela não é o ponto, o seu futuro é. É hora de você pensar em
se estabelecer, e isso não acontecer com alguma aspirante a jornalista de
Nova York.
— Pai, ela é editora de uma das maiores revistas de estilo do país. Ela
não é aspirante a nada.
— Aspirante a esposa de um Kirby.
— Você não tem como saber isso, e, francamente, isso é um pouco
ofensivo tanto para mim quanto para ela. Eu não sou idiota e consegui
evitar casar com uma interesseira nesses últimos vinte e nove anos, então
acho que sei lidar com isso.
Meu pai resmungou.
— O fato de você estar considerando a ideia de criar essas crianças me
faz duvidar de tudo o que você está dizendo. Por que você faria isso consigo
mesmo? Sério, ter uma mulher conveniente na sua cama não é…
— Ok, chega. Não é isso que está acontecendo e eu nunca disse que
estava dormindo com ela.
— Mas você está, e nós dois sabemos disso. Estou tentando cuidar de
você, lho, já que você obviamente não está conseguindo pensar com
clareza nesse momento.
— Estou bem, pai.
— De certa forma, duvido disso. En m, sua mãe quer dizer oi. Não
mencione nada disso para ela, ok? Isso a deixaria chateada.
Eu resisti à vontade de revirar os olhos, já que de qualquer maneira
ninguém iria ver.
Hadley
*
— Eu nem pensei nisso — disse Wes uma hora depois, enquanto
tomava um drinque em uma churrascaria no centro de St. Louis. —
Tadinha, preocupada em nos perder assim como perdeu os pais.
— Partiu meu coração. Eu z o meu melhor para deixá-la mais calma.
Ele estendeu a mão sobre a pequena mesa e pegou a minha.
— Tenho certeza de que você se saiu muito bem. Você é boa.
Wes estava usando uma calça social cinza-escuro e uma camisa social
azul-claro que fazia seus olhos parecerem ainda mais azuis do que o normal.
Lembrei da primeira vez em que havíamos jantado juntos em um
restaurante chique – uma jantar com Ben e Lauren em Nova York há cinco
anos. Naquela época, eu o considerava um playboy irreparável, um cara
simplesmente sem profundidade e que nunca amadureceria.
Tudo era diferente agora. Eu fui obrigada a ver o verdadeiro Wes – o
homem por trás da fachada. Ele era tudo o que Lauren sempre me disse –
trabalhador, generoso e leal.
— Nós mudamos? — perguntei a ele.
— Como assim?
— Nós costumávamos ser como água e óleo. Eu achava que você era…
bem, você sabe o que eu pensava.
Ele sorriu.
— Sim, você nunca foi acanhada na hora de me dar sua opinião.
— Eu estava… errada?
Ele riu e apertou minha mão.
— Você estava certa e errada. Eu fui um idiota com você na primeira
vez que nos conhecemos. Como eu disse a você, eu tinha bebido demais e
estava acostumado a ouvir sim das mulheres. Eu era um jovem atleta
pro ssional e aproveitava ao máximo todos os benefícios que isso me trazia.
Mas nunca fui uma pessoa ruim. Eu precisava amadurecer, caramba,
provavelmente ainda preciso. Mas não vou deixar você e as crianças na mão.
Nunca vou fazer isso.
Eu ajeitei meu cabelo atrás da orelha e dei um gole no meu vinho.
— Você acha que se Ben e Lauren não… tivessem morrido… ainda
brigaríamos toda vez que nos víssemos?
— Ah, sim. Você me chamaria de garoto de fraternidade na festa de
casamento da Annalise.
— E você estaria me perguntando se as ondas de calor causadas pelo
aquecimento global estavam derretendo o iceberg en ado no meu rabo.
Ele abaixou a cabeça.
— Não foi meu melhor momento, Hadley. Desculpe por ter dito isso.
Eu dei de ombros.
— Eu disse coisas piores sobre você. Nós sempre trazíamos o pior do
outro à tona.
Wes soltou minha mão para dar um gole em seu uísque. Estava sorrindo
quando colocou o copo de volta.
— Posso te contar algo que acho que vamos rir bastante agora que está
tudo no passado?
— O quê?
— Lembra quando eu me atrasei para o casamento do Ben e da Lauren,
e você… desaprovou a minha existência?
— Lembro, sim. — Entrelacei minhas mãos e apoiei o queixo nelas. —
Eu te devo desculpas por aquilo.
Ele levantou as duas mãos.
— Não, de forma alguma. Se atrasar quando se é o padrinho é uma
sacanagem. Mas a verdade é que eu fui o primeiro a chegar na igreja
naquela manhã.
— Como é? — Franzi a testa. — Você chegou dez minutos depois que a
cerimônia deveria ter começado, eu estava te esperando.
— Com uma recepção calorosa, como me lembro — disse com um
piscar de olhos.
Eu me encolhi com a lembrança.
— Eu cheguei na igreja pela manhã, mas tive que sair porque o Ben
esqueceu as alianças no hotel. Ele estava muito chateado. Nunca o vi tão
aborrecido com alguma coisa. Então eu fui lá buscar.
Fiquei completamente sem palavras enquanto processava essa nova
informação.
— Por que você não me contou? — nalmente perguntei. — Eu não
teria te chamado de todos aqueles nomes feios ou nem teria considerado
tirar um dos saltos para bater em você.
Ele deu de ombros.
— Eu não ia deixar o Ben levar a culpa. Tenho ombros largos o
su ciente para aguentar umas bordoadas de uma dama de honra.
Cobri meu rosto com as mãos e ri.
— Meu Deus, Wes, eu fui tenebrosa.
— Não se preocupa. Eu não te contei isso para te fazer se sentir culpada.
Eu acho até engraçado, na verdade. E você estava certa em muitas das vezes
que me criticou. É por isso que eu me incomodava tanto. Eu nunca deveria
ter levado aquela mulher para a festa de um ano da Annalise.
Eu ri com a lembrança.
— Ah, é verdade! Qual era o nome dela?
Ele me olhou envergonhado.
— Não faço ideia.
— Você também estava certo sobre mim — admiti. — Sobre eu ser
muito certinha e não ter uma vida própria. E sobre eu não ser nada parecida
com a Lauren.
O rosto de Wes se fechou, sua expressão passando de descontraída para
séria.
— Não, eu estava errado sobre isso, Hadley. Você é muito parecida com
a Lauren.
— Não sou. Lauren era doce e engraçada, e fazia tudo parecer fácil. Ela
sempre fazia as pessoas se sentirem bem quando estava com elas.
— Você faz eu me sentir muito bem quando estou com você — disse
Wes, seu olhar carregado de signi cados.
— Acho que a maioria das mulheres tem esse efeito em você na cama —
brinquei.
— Não, não é isso que eu quero dizer. Estou falando de quando você
dobra minha roupa e não diz nada sobre eu não ter feito isso. Quando volto
de uma viagem e descubro que você deixou um prato com o jantar na
geladeira para mim. Quando tudo com o time parece uma merda e você é a
única pessoa com quem quero conversar. Quando te escuto contando
histórias para as crianças, histórias de quando elas nasceram, e quando você
cuida tão bem delas, mesmo estando cansada e estressada com seu próprio
trabalho. Você é muito parecida com a Lauren.
Meu coração acelerou, e meus olhos permaneceram xos nos de Wes.
Eu sabia que éramos compatíveis na cama e que tínhamos aprendido a
conviver, mas o que ele acabara de me dizer parecia… mais. E isso fazia com
que eu me sentisse bem. Fazia com que eu me sentisse muito bem. Outros
homens já tinham me dito que eu era muito durona, muito honesta, muito
independente. Wes foi o primeiro homem a ver a mulher atenciosa e
amorosa que existia lá no fundo.
— Obrigada — eu disse, desviando o olhar para que ele não visse as
lágrimas ameaçando cair.
Wes sorriu para a tela do celular e a virou para mim. Havia uma foto
que Nash havia enviado em que ele, Lars, Benny e Annalise se divertiam na
brinquedoteca. Nash estava usando uma peruca vermelho-escura e Lars,
com uma expressão séria, estava tendo o cabelo penteado por Annalise. Ela
parecia estar se divertindo muito.
— Ah. — Eu sorri e coloquei a mão no peito. — Eu precisava muito
dessa noite fora, mas ainda sinto falta deles.
— Vamos jantar e depois podemos comprar os ingredientes para fazer
sundae em casa.
— Sério?
Wes assentiu.
— Eu adoraria passar a noite toda com você no hotel mais próximo,
mas com Annalise preocupada de que talvez não voltemos para casa, acho
que precisamos manter nosso tempo fora de casa limitado.
Meus ombros relaxaram em alívio, porque eu sentia o mesmo.
— Com licença, Wes Kirby? — um homem disse ao lado da nossa
mesa. Wes olhou para ele, e o homem continuou. — Desculpe incomodar,
mas meu pai é um grande fã dos Mavericks. Ele tem oitenta e três anos e
está prestes a ir para uma casa de repouso. Será que você poderia escrever
um bilhete para ele?
Wes sorriu e disse:
— Claro, sem problema. Pena que eu não tenho um disco de hóquei
comigo ou no meu carro, ou poderia autografar.
— Tudo bem. Apenas um bilhete autografado vai signi car muito para
ele.
Wes pegou a caneta e o papel que o homem lhe entregou e começou a
escrever. Eu percebi mais uma vez o quanto eu tinha pensado mal desse
homem. E então senti uma pontada, porque sabia que este era seria o
momento em que Lauren diria que ela tinha me avisado.
Wes
*
Os dias subsequentes foram agradáveis. Limpar meu armário e me
despedir dos caras foi meio chato, mas eu sabia que veria a maioria deles
durante as férias, então foi um alívio não ter de me preocupar com o
Mavericks por algum tempo. As crianças nos mantiveram ocupados, Hadley
e eu estávamos grudados um no outro à noite e estávamos funcionando
como uma máquina bem lubri cada durante o dia; parecia que era a
primeira vez que eu conseguia respirar desde aquela noite horrível em
janeiro, quando perdemos Ben e Lauren.
Hadley e eu concordamos em adiar qualquer conversa séria sobre o
futuro até eu ter a chance de conversar com meu agente e descobrir que tipo
de interesse o mundo do hóquei tinha por mim. Eu tinha certeza de que
muitas equipes adorariam contar comigo, mas precisava ser a combinação
certa, tanto para as minhas habilidades e personalidade quanto para minha
vida pessoal. Com Hadley e as crianças na jogada, eu não podia
simplesmente ir para qualquer lugar. Às vezes, acontecia isso, mas eu tinha
in uência su ciente no meio para ter pelo menos um pouco de escolha
sobre para onde iria, a não ser que a equipe planejasse me descartar para o
primeiro que aparecesse. Mas eu não achava que seria o caso. Se havia algo
acontecendo, seria o movimento de se livrarem de Keegan o mais rápido e
silenciosamente possível. Minha maior esperança era que, quando tudo se
resolvesse, o núcleo da equipe permanecesse intacto. Isso me incluía.
— Tio Wes, a tia Hadley está no telefone com a chefe piranha e o
Benny estava chorando. — Annalise entrou na cozinha com as mãos nos
quadris.
— Você sabe que não pode usar essa palavra — eu disse a ela, franzindo
mentalmente a testa enquanto secava as mãos. A chefe da Hadley andava
furiosa ultimamente, e provavelmente tínhamos usado a palavra “piranha”
mais do que apenas algumas vezes, então eu tinha de cortar isso pela raiz,
não importava o quanto fosse engraçado ouvir essa palavra saindo da boca
da Annalise.
— Desculpa. — Ela abaixou a cabeça, e eu me abaixei para beliscar o
seu nariz.
— Tudo bem, Annalise. Mas não deixa a tia Hadley ouvir você usar essa
palavra, ela provavelmente vai te colocar no cantinho da re exão.
Os lábios dela se curvaram para baixo.
— Eu não gosto do cantinho.
— Eu sei que não gosta, então não diga essa palavra.
— Ok.
Subi as escadas rapidamente para pegar o Benny. Eu havia acabado de
colocar a louça do almoço na máquina enquanto Hadley fazia uma
conferência com a equipe editorial da revista; eu não queria que o choro do
Benny chegasse até ela lá embaixo, no escritório do Ben.
— Ei, grandão. — Eu o levantei e o segurei contra meu peito até ele se
acalmar. — Tirou uma boa soneca?
Ele se aconchegou na cavidade do meu ombro, e eu o coloquei na mesa
trocadora, pegando uma fralda nova. Eu tinha feito isso muitas vezes nos
últimos meses, então agora era algo natural. Foi nesse momento que me
ocorreu que eu tinha me tornado pai dessas crianças com muito mais
facilidade do que eu imaginava. Eu não pensava mais no que tinha que
fazer, simplesmente fazia. Era muito mais simples agora que eu não tinha de
correr para o trabalho todos os dias, embora eu esperasse que Hadley não
precisasse trabalhar até meia-noite de novo, como fez na noite anterior.
A chefe estava no pé dela ultimamente, e embora Hadley tentasse
esconder isso de mim, eu podia ver que isso a estava abalando. Por isso eu
tinha dito a ela para fazer o que precisava fazer esta tarde e que eu cuidaria
das crianças. Tori estava de folga, então éramos só Annalise, Benny e eu.
— Quando o or vai vir aqui? — Annalise me perguntou enquanto
descíamos para o andar de baixo.
— Eu não sei — eu disse. — Talvez possamos ligar para ele mais tarde.
— Ele disse que poderíamos ir para o parque.
Sorri para mim mesmo, imaginando se Lars realmente gostava da
companhia dela ou se estava apenas indo na onda porque não sabia dizer
não. Em algum momento, eu teria de perguntar a ele, porque não queria
que ele casse ressentido por eu o ter colocado nessa situação em que uma
criança de quatro anos exigia muito do seu tempo. Ele era jovem e solteiro,
então estar à disposição de Annalise provavelmente estava limitando muito
o seu estilo de vida. Embora fosse difícil saber de fato sobre a vida de Lars,
já que ele mantinha sua rotina muito privada.
— Posso assistir Doutora Brinquedos? — Annalise perguntou.
— Claro. — Peguei o controle remoto e liguei no programa favorito
dela, exatamente quando meu telefone começou a tocar. Eu estava
segurando Benny quando tirei o celular do bolso para ver quem era.
Merda.
O advogado.
Eu atendi e fui para a cozinha, para que Annalise não ouvisse minha
conversa, já que ela era muito intrometida e não perdia nada.
— Alô?
— E aí, Wes, Timothy Sutton aqui.
— Ei, Tim. O que está acontecendo?
— Os pais do Ben entraram com um pedido de custódia temporária de
emergência e a juíza concordou em ouvir. A audiência será na segunda-feira.
— Meu Deus. O que você acha? Estamos em apuros?
— Acho que você precisa sentar.
— Pensei que você tivesse dito que o testamento era inquestionável,
não? — Meu coração afundou.
— É, mas o problema é que você e a Hadley tiveram três meses para
decidir quem vai criar as crianças e até agora não decidiram, deixando o
futuro das crianças em suspenso. Os avós argumentaram que as crianças
deveriam se mudar para a casa deles para dar alguma estabilidade enquanto
vocês dois resolvem isso. Eu não conheço essa juíza, mas ouvi dizer que ela é
uma grande defensora das crianças, então pode ir para qualquer lado. — Ele
pausou. — Vocês já decidiram quem vai criar as crianças?
Eu engoli em seco.
— Não. Nós… bem, temos uma rotina muito boa e decidimos não
mexer com isso por enquanto. Eu não achei que Patrick e a Susan fariam
algo assim. Eles estão realmente começando a me irritar.
— Concordo, e com isso em mente, acho que devemos nos encontrar.
Você e a Hadley estão disponíveis amanhã?
— Eu estou, e vou ver o que a Hadley pode fazer com a agenda dela.
Nossa babá vem amanhã, então deve rolar numa boa.
— Poderíamos fazer o encontro por vídeo se precisar, é só me avisar.
— Beleza. Obrigado.
Eu desliguei e me encostei na bancada, fazendo cócegas no pescoço do
Benny até ele rir.
Não havia chance de deixar essas crianças irem embora depois dos
últimos três meses, mas minha intuição me dizia que não seria fácil criá-las
sem a Hadley. O problema era que eu também não queria car sem ela, e
não tinha ideia do que ela sentiria sobre isso. Que inferno, eu nem sabia
como me sentia a respeito disso.
De nitivamente tínhamos de arranjar algum tempo para conversar.
Hadley
Eu trouxe uma leva das nossas coisas para o meu condomínio, mas agora
que não havia muito mais para tirar da casa do Ben e de Lauren, a realidade
estava me atingindo com força. Hadley parecia completamente arrasada, os
olhos inchados de tanto chorar, e toda vez que eu dava uma olhada em
Susan, sentia um novo nível de nojo. Eu conhecia aquela mulher por mais
da metade da minha vida, mas neste momento, eu a odiava pra caralho. E
eu sabia com cada bra do meu ser que Ben estaria furioso com a mãe dele
agora. Hadley e eu estávamos tentando dar o benefício da dúvida aos pais
de Ben porque eles deviam estar de luto, mas aquilo foi uma sacanagem, e o
fato de a juíza ter caído naquele papo me deixou muito puto.
Não tínhamos tido tempo para fazer nada além de empacotar nossos
pertences e tentar manter Annalise calma, então eu não tinha ideia do que
poderíamos fazer; a única coisa que eu sabia com certeza era que eu usaria
todos os recursos que tinha para vencê-los quando voltássemos ao tribunal.
Eu raramente pedia ajuda ao meu pai para qualquer coisa, porque eu era
um homem adulto com muito dinheiro e visibilidade, mas agora era
diferente. Meu pai era um daqueles homens que muitas vezes jogavam sujo
nos negócios, uma das muitas razões pelas quais eu me afastei dele
pro ssionalmente. Mas com isso? Essa história estava bem próxima da
especialidade dele, e eu não me importava com o que precisasse fazer para
garantir que Annalise e Benny cassem comigo. E Hadley.
— Eu não quero que você vá! — Annalise bateu o pé pela décima
segunda vez hoje desde que dissemos a ela que caríamos longe por duas
semanas. Tínhamos dito que era para que ela pudesse passar tempo com avó
e avô, mas ela não estava comprando a história e não estava nem um pouco
feliz.
— Vovó e vovô planejaram muitas coisas divertidas pra você — eu disse
a ela, me agachando para car na altura de seus olhos.
— Eu não gosto deles. — Ela fez beicinho, e as lágrimas encheram seus
olhos.
Jesus. Eu não sabia o que dizer ou fazer.
— Não seja boba, querida. — Susan se aproximou, tentando alcançá-la,
mas Annalise balançou a cabeça com veemência enquanto se afastava da avó
e se aproximava de mim.
— Você não é legal — disse ela, franzindo a testa. — Você sempre grita.
Eu quero o tio Wes e a tia Hadley.
— Sinto muito por ter gritado com você — disse Susan lentamente,
soltando um suspiro. — Mas você tem que aprender a se comportar como
uma mocinha. Vamos trabalhar nisso agora que você cará conosco.
— Não! — Annalise jogou a sua xícara com canudo do outro lado da
sala e saiu correndo da cozinha.
— É isso que você ensinou a ela a fazer? — Susan perguntou, cruzando
os braços. — Comportamentos como esse são exatamente a razão pela qual
precisamos ter a guarda das crianças.
— Não é a gente que ca gritando o tempo todo — eu disse, pegando
meu shake de proteína na despensa.
— Claro que não. Provavelmente você não sabe nada sobre disciplina.
Eu abri a boca para responder, mas Hadley se antecipou.
— Há outras maneiras de disciplinar uma criança, além de gritar —
disse ela, olhando para a outra mulher. — Annalise sabe que ao se
comportar assim conosco, ela irá direto para o cantinho da re exão.
— Cantinho da re exão. — Susan soltou o ar com desdém. — Isso é
coisa dessa paternidade moderna que criou uma geração de crianças
mimadas.
— Eles não são… — Hadley começou.
— Deixa pra lá. — Eu apertei o braço de Hadley enquanto a
interrompia, porque essa discussão iria crescer rapidamente se deixássemos,
e não queríamos fazer isso na frente de Annalise. — Vamos só cair fora, ok?
Hadley pegou a sacola de compras que tinha enchido com alguns dos
seus próprios utensílios de cozinha, já que ela não queria deixá-los com
Patrick e Susan, e pegou sua bolsa.
— É melhor assim — Susan falou em seguida. — Você vai ver que
estamos fazendo um favor a vocês.
— Vai para o inferno — eu murmurei enquanto fechava a porta da
frente.
Fomos até o meu apartamento em dois carros — eu no meu SUV, e
Hadley, no Escalade do Ben –, e mal me lembro de ter chegado lá. Minha
mente era um completo borrão de imagens, alternando entre a ordem da
juíza, a cara convencida da Susan e o choro da Annalise esta manhã, quando
demos a notícia a ela. Deus, eu nunca tinha ansiado tanto pelo conselho do
Ben como agora. O que ele me aconselharia a fazer se ainda estivesse aqui?
Eu não tinha a menor ideia, e é claro que nada disso estaria acontecendo
se ele ainda estivesse aqui.
— Ei, depois eu desço e pego o restante das suas coisas — eu chamei
Hadley enquanto ela estacionava na minha segunda vaga. — Vamos só levar
isso aqui lá para cima por enquanto.
Ela hesitou, mas então assentiu. Parecia tão anestesiada quanto eu, mas
não houve tempo para conversar. Annalise tinha se agarrado à perna dela a
maior parte da manhã, e embora Benny obviamente não soubesse o que
estava acontecendo, seus pequenos braços estavam estendidos, seu rosto
franzido em um chorinho enquanto eu beijava o sua cabeça antes de ele ir
para a hora da soneca.
Isso me matava só de pensar.
— Quer pedir comida? — eu perguntei a Hadley quando trouxe a
última das suas coisas para dentro.
— Claro. Ok. — Ela assentiu, olhando em volta por um momento e
depois afundando no sofá.
— Vai car tudo bem — eu disse a ela. Eu vou descobrir como fazer
isso.
— Wes, eu não sei o que fazer.
— Eu sei. — Eu me sentei ao lado dela e a puxei para o meu peito. Ela
resistiu por um segundo, mas depois relaxou, seu corpo cando mole,
embora os dedos de uma mão segurassem rmemente minha camisa. Eu
acariciei seu cabelo, e nós apenas camos assim, como se de repente não
tivéssemos mais propósito na vida. Sem lhos, sem hóquei, sem nada além
do silêncio do meu apartamento muito tranquilo e vazio.
Era sempre assim?
Não. Eu amava minha casa até que tudo isso aconteceu. Que droga, eu
nem tinha colocado à venda porque não tinha certeza do que estávamos
fazendo e eu não queria morar em outro lugar se não fosse car com Hadley
e as crianças. Só que agora tudo havia mudado. Eu queria viver em uma
casa grande com Hadley e as crianças. Eu queria comprar algo novo que ela
e eu pudéssemos transformar em um lar, tanto para a gente quanto para
eles.
Merda.
Quando comecei a pensar nessas coisas?
— Estou meio que com fome — eu disse depois de um tempo. —
Deixa eu só pedir algo, volto já.
— Ok.
Hadley parecia bastante perdida; e eu teria feito qualquer coisa para
resolver isso. Para fazê-la sorrir novamente.
Em vez disso, pedi comida chinesa do nosso restaurante favorito e
depois afundei de volta no sofá ao lado dela. Estendi a mão, e ela
lentamente colocou a dela na minha.
— Você está bem? — eu perguntei.
— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Ainda vejo o rosto da Annalise, a
imagem dela chorando e me chamando. Sinto como se eu fosse a pior
pessoa do planeta nesse momento.
— Estou bem puto também.
Ela não respondeu de imediato, e quando nalmente virou a cabeça,
lágrimas se acumularam em seus olhos, ameaçando transbordar a qualquer
momento.
Estendi a mão para afastá-las com meus polegares.
— O que há de errado, baby?
— Tudo.
— Vamos dar um jeito. Vou ligar para o meu pai, e se eu o envolver
nessa batalha pela guarda, os Whitmers não vão nem saber o que os atingiu.
Eu não queria trazer os mandachuvas para o meio disso porque aqueles dois
estão de luto pelo lho, mas agora que estão jogando sujo, vou dobrar
nossos esforços também.
— Você não entende. — Ela esfregou os olhos e fungou.
— Então me fale.
— Não há nós. É tudo com você agora. Você não vê? Eu tenho que
voltar para Nova York ou vou perder meu emprego. E uma vez que eu
voltar, vou ter de trabalhar dezesseis horas por dia novamente, sem uma
rede de suporte para as crianças. A escolha mais inteligente, para as crianças,
é que você que com a guarda. Você tem dinheiro para garantir que eles
quem bem e tem sua família, os Mavericks, para ajudá-lo. Eu não tenho
ninguém além de algumas amigas solteiras e viciadas em trabalho que
sabem menos sobre crianças do que eu e que provavelmente têm ainda
menos tempo livre do que eu.
— Mas… — Eu comecei a protestar, mas Hadley colocou um dedo
gentilmente em meus lábios.
— Isto é sobre as crianças. Eu as quero, eu amo aquelas duas crianças, e
vou passar cada momento das férias sendo a tia Hadley, vindo vê-las,
falando com elas ao telefone… mas no dia a dia, você é a melhor escolha,
Wes. É claro como o dia.
Eu a encarei, tentando entender o que ela estava dizendo, mesmo que
meu estômago se revirasse, repleto de descrença e frustração. Parte de mim
concordava, porque eu tinha mais tempo do que ela, mesmo com todas as
viagens. Mas éramos uma equipe, droga, e essa coisa entre a gente era mais
do que sexo, não importava muito como tinha começado.
— Hadley. — Eu coloquei uma das minhas mãos na lateral do seu
rosto, fazendo com que ela me encarasse. — E a gente?
Ela piscou, e desta vez uma única lágrima escorreu pelo outro lado do
seu rosto.
— Eu não tenho tempo para haver um nós. Não com o meu trabalho. A
menos que você seja transferido para Nova York… — Sua voz foi se
apagando.
As chances disso acontecer eram mínimas, e ambos sabíamos disso.
— Você não precisa trabalhar — eu disse depois de um momento. —
Eu ganho milhões de dólares por ano e também temos tudo o que Ben e
Lauren deixaram para as crianças. Poderíamos fazer isso funcionar, e seria…
— Você quer que eu desista do trabalho? — ela soltou, seus olhos se
estreitando ligeiramente.
— Eu não quero que você desista. Só estou dizendo que você tem uma
opção.
— E eu faria o quê? Ficaria em casa e seria a babá em tempo integral das
crianças?
Ela parecia irritada, e eu não entendia por que estava tão brava.
— Você poderia arranjar um trabalho que fosse menos exigente, com
uma chefe mais compreensiva, alguém que…
— Eu ajudei a construir o que a Willow é hoje! — ela explodiu. — Eu
tenho ações da empresa. Isso é como eu te falar que não faz diferença em
que time você joga, desde que esteja jogando hóquei.
— Foi apenas uma sugestão, Hadley. Eu achei que você e eu… — Eu
não terminei o raciocínio e balancei a cabeça quando a campainha soou,
avisando que nosso jantar tinha chegado. Eu me levantei, paguei a conta e
peguei a sacola de comida. Eu a coloquei no balcão antes de voltar para a
sala.
Hadley se levantou e caminhou na minha direção, com uma expressão
no rosto que eu nunca tinha visto antes.
— Acho que é melhor eu voltar para Nova York amanhã de manhã.
— Você vai simplesmente deixar tudo assim e fugir? — eu exigi uma
resposta, encarando-a.
— Eu não estou fugindo. Estou apenas fazendo o melhor para todos. O
acordo era que íamos descobrir quem era mais adequado para car com a
guarda e obviamente é você. Você tem dinheiro e uma família extensa para
ajudar, e eu não tenho nada disso. Mesmo se eu tivesse o dinheiro de Ben e
Lauren, eu gastaria tudo comprando uma casa que fosse algo equivalente
em Nova York, pagando escolas particulares, babás em tempo integral e
assim por diante. E mal os veria. Pelo menos você está por perto quando
não está na estrada, e ca fora de três a cinco meses no verão, dependendo
se você chegar aos playo s. Então essa é a decisão madura e responsável.
Pelas crianças.
— E quanto ao que é certo para nós? — eu perguntei.
Ela balançou a cabeça.
— Não há um nós. Esse nós era apenas uma fantasia conveniente
enquanto estávamos brincando de casinha. Nós nos conectamos por causa
das crianças, mas nunca gostamos um do outro. Nada realmente mudou.
Isso doeu profundamente, e eu não consegui acreditar que ela havia dito
isso.
— Como você pode dizer isso?
— Mesmo depois de tudo pelo que passamos, você não tem respeito
pelo que sou pro ssionalmente ou o que me tornei como uma mulher
independente. As primeiras palavras que saíram da sua boca foram que eu
desistisse, como se eu precisasse de um homem na minha vida que pudesse
cuidar de mim, e isso mostra que essa coisa entre nós nunca funcionaria.
Ah, lá estava ela. A Hadley do passado. Aquela que era um pé no saco
pra tudo, mesmo que estivesse cheia de problemas. Porque essa coisa entre
nós não era apenas boa, era muito boa, e ela estava jogando isso – e eu junto
– fora como se não signi casse nada para ela.
Sinto muito, Ben, pensei enquanto a observava virar as costas e caminhar
em direção à cozinha. Eu tentei fazer isso funcionar. Eu realmente tentei,
amigão.
Dessa vez, eu não estava assumindo a culpa pelo que aconteceu entre a
gente. Dessa vez, era tudo culpa dela. E isso me destruiu completamente.
Hadley
South Beach foi um puta show de horrores. Mesmo sendo uma segunda-
feira no início de maio, as ruas, restaurantes e hotéis estavam lotados. Meus
pais tinham vindo de avião para passar algumas semanas na casa deles na
cidade, e como eu não tinha nada para fazer em St. Louis, decidi me juntar
a eles. Eu não os via há mais de um ano desde que eles foram passar umas
férias na Europa no ano passado, e foi legal, no começo, colocar a conversa
em dia.
Mas agora eu estava cansado. Minha mãe estava fazendo de tudo para
arranjar uma esposa para mim, ligando para praticamente todas as pessoas
que ela conhecia que tivessem uma lha que pudesse despertar meu
interesse. Era como uma porta giratória de debutantes des lando diante da
minha espreguiçadeira de frente para a piscina, surgindo à nossa mesa de
jantar nos restaurantes e até aparecendo sem avisar no condomínio dos
meus pais. No começo, eu não tinha percebido o que estava acontecendo, já
que meus pais tinham muitos amigos na cidade, mas nalmente entendi, o
que me deixou irritado e resignado.
— Será que dá para parar, mãe? — pedi a ela depois que mais uma
potencial futura sra. Kirby apareceu na nossa mesa no almoço.
— Sério? Nem mesmo a Rosalie? — ela perguntou, desapontada,
enxugando delicadamente os lábios com o guardanapo. — Ela se formou
em Yale, tem um diploma em engenharia e vai estar em três capas de revista
europeias no próximo mês. O que mais você poderia querer? Ela tem
inteligência, dinheiro e beleza.
Eu suspirei.
— A última coisa que quero agora é uma mulher.
Meu pai arqueou as sobrancelhas.
— Tem alguma coisa que você precisa nos contar?
Hesitei por um segundo, mas então entendi o que ele queria dizer e ri.
— Não, pai. Eu ainda sou heterossexual. O que eu quis dizer foi que
tenho sentimentos por outra pessoa, então outra mulher não vai fazer com
que esses sentimentos desapareçam. Pelo menos não tão cedo.
— Hadley. — Minha mãe me olhou xamente. — Tudo bem, parece
que não estamos a par de muitos detalhes dos últimos meses. Por que você
não nos atualiza sobre exatamente o que aconteceu desde que perdemos Ben
e Lauren? — Meus pais conheciam Ben quase tão bem quanto os pais dele
me conheciam.
— No início foi tudo triste, avassalador e difícil pra caralho — eu disse,
olhando para a rua movimentada. — Viramos uma família, com duas
pessoas que amam aquelas crianças e potencialmente se amam mutuamente.
Aí, a porra do Patrick e da Susan entraram no jogo tentando nos prejudicar,
conseguiram a porra da guarda temporária das crianças e arruinaram com a
porra toda.
— É muita porra para tão poucas frases — disse minha mãe, rindo. —
Então você está chateado por ter perdido as crianças. Você realmente quer
voltar a ter essa responsabilidade? Me parece que isso é uma saída dessa
situação difícil.
— Eu não quero nem preciso de uma saída — eu rosnava. — Eu amo
essas crianças e estou me apaixonando perdidamente por Hadley. Eu preciso
delas e elas precisam de mim.
— Você tem certeza? — Meu pai me olhou com rmeza.
— Tenho! — Eu joguei as mãos para o alto. — O que você quer que eu
faça para provar isso, sacri car uma virgem para os deuses?
Papai sorriu.
— Não é necessário. Mas se é isso que você quer, eu não entendo o que
você está fazendo aqui na Flórida.
— O que você quer dizer com isso? O juiz deu a eles a guarda
temporária e…
— O que eu quero dizer é que você é um Kirby. Meu lho. Você tem o
dinheiro do seu trabalho e dinheiro em um fundo de investimentos nosso.
Por que não está usando seus recursos para colocar essas pessoas em seus
devidos lugares?
— Contratei um advogado com uma reputação fantástica, mas ele não
fez porra nenhuma — protestei. — Não sei como isso foi acontecer.
— Tecnicamente, você e Hadley deveriam ter decidido quem caria
com as crianças — lembrou-me minha mãe. — Acho que a juíza quis dar
um chute no rabo de vocês, para que tomem logo uma decisão.
— Ela decidiu voltar para Nova York — admiti em voz baixa. — E eu a
deixei ir porque a carreira é importante para ela.
— No que ela trabalha? — perguntou minha mãe.
— Ela é editora da Willow.
— Willow?! — exclamou minha mãe. — Essa é uma das minhas revistas
favoritas! Eu não sabia que ela fazia parte.
— Sim, e ela se esforçou muito para chegar a esse cargo, mas não
poderia continuar trabalhando remotamente de St. Louis. Ela teve que fazer
uma escolha, e acho que a juíza tomou a decisão por ela.
— Pensei que vocês dois eram um casal, não? — perguntou meu pai,
confuso. — Ou foi apenas por conveniência?
Cocei o queixo.
— É complicado. Eu pensei que estávamos progredindo. Tínhamos
acabado de chegar a um ponto em que as coisas pareciam… sérias. Depois,
a merda bateu no ventilador. E eu não soube o que fazer a partir daí.
— Você disse a ela como se sente? — perguntou meu pai com ênfase.
— Bem, não, mas…
— Você realmente esperava que uma jovem bem-sucedida como ela
desistisse de tudo sem algum tipo de promessa, de garantia? Uma declaração
de amor, uma aliança, algo que a provasse que você está falando sério? —
Meu pai parecia que estava igualmente se divertindo e se irritando comigo.
Eu dei a ele um olhar ríspido.
— Da última vez que conversamos, você me disse para esquecer a
jornalista interesseira e cair fora.
— Bem, eu ainda não tinha a investigado naquele momento.
Eu o encarei, pasmo.
— Você fez uma investigação dos antecedentes da Hadley?
— Claro. Assim que percebi que você estava falando sério sobre toda
essa situação, precisava ter certeza de que ela estava de acordo com o que
você pensava que ela era.
— E? — perguntei secamente. Não havia motivo para car irritado, o
que estava feito estava feito.
— Não houve bandeiras vermelhas. Ela não tem antecedentes criminais,
não faliu, não tem envolvimento com nenhum caso público ou confuso, sua
conta bancária é modesta, mas respeitável e…
— Ah. Para. — Levantei uma mão. — Obrigado. Eu sei por que você
fez isso, mas não quero saber mais nada. Parece errado.
— Esse é o seu problema, lho. Você não sabe a diferença entre errado e
importante. Eu não z nada para a magoar. Apenas me certi quei de que
ela não estava escondendo nada que pudesse prejudicá-lo. E agora você
precisa crescer e enfrentar os Whitmers do jeito que Ben e eu gostaríamos
que você enfrentasse. Você não está tentando feri-los, mas precisa conseguir
as crianças. Quer que eu dê o pontapé inicial?
Olhei diretamente nos olhos dele sem hesitação.
— Sim.
Ele sorriu.
— Assista e aprenda, lho. Assista e aprenda. — Ele pegou o telefone e
enviou uma mensagem para alguém. — Teremos a situação sob controle até
o jantar.
Era quase cômico ver meu pai em ação. Não é que eu não pudesse lidar
com o que estava acontecendo na batalha pela guarda, mas simplesmente eu
não funcionava tão bem no mundo dos negócios implacáveis como ele.
Meu pai engolia corporações inteiras e as cuspia antes do café da manhã na
maioria dos dias, e eu simplesmente não era assim, então tendia a fazer as
coisas do meu jeito. No entanto, por Annalise e Benny, eu estava mais do
que disposto a deixá-lo fazer parte do trabalho pesado.
— E enquanto seu pai está cuidando da situação da guarda — minha
mãe disse para mim —, você vai ter que descobrir o que deseja com Hadley.
— Eu quero a guarda das crianças — respondi automaticamente. —
Depois de cuidar disso, vou trabalhar para recuperar a Hadley.
— Multitarefa, lho — riu meu pai. — É uma habilidade que você
precisa nos negócios e na vida.
— Wesley! — Uma morena alta e esbelta com lábios vermelho-escuros e
unhas vermelhas compridas veio correndo em minha direção.
Meeerda. Eu tinha cado com ela há alguns anos quando estava
visitando meus pais, mas agora nem me lembrava do nome da garota.
— Oi… — Estendi a mão para tentar afastá-la, mas ela não se fez de
rogada, jogando os braços em volta do meu pescoço e beijando a lateral do
meu rosto.
— Dolores. — Minha mãe deu a ela um sorriso frio. — É bom te ver,
querida, mas estamos no meio do almoço.
— Wesley, você está na cidade e não me ligou. — Ela ainda estava
agarrada ao meu pescoço.
— É Weston — disse, dando a minha mãe um olhar suplicante.
— Dolores, acho que você está sufocando ele — disse minha mãe. —
Agora volte para a sua mesa para que possamos comer, você e Wes podem
conversar mais tarde.
— Eu te ligo daqui a uma hora! — disse Dolores, pressionando seus
lábios nos meus, embora eu tenha virado a cabeça no último minuto, então
ela acertou apenas o canto da minha boca.
— Essa garota — minha mãe balançou a cabeça. — Vou falar com a
mãe dela. Dolores é uma mulher adulta, mas age como uma adolescente.
— Isso é culpa sua — resmunguei. — Você espalhou por aí que eu
estava solteiro.
— Bem, como eu ia saber que você tinha se apaixonado por essa amiga
da Lauren? Você precisa me contar essas coisas, Weston.
Tecnicamente, eu não precisava, mas não ia apontar esse detalhe.
No dia seguinte, falei com dois advogados diferentes. Um era o
advogado pessoal do meu pai, que lidava com tudo que ele fazia fora dos
negócios, e depois com uma mulher que ele escolheu para cuidar do caso
para mim. Seu nome era Regina Rittenhouse, e quando a pesquisei na
internet, vi que ela parecia ser durona. Passamos várias horas ao telefone
para eu a colocar a par do caso e depois pedi a Tim para enviar por e-mail
para ela cópias de tudo, desde o testamento até o acordo de guarda
temporária.
— Isso não deveria ser um grande problema — disse Regina depois que
ela revisou tudo. — Eu não vejo nenhuma razão para a juíza ir contra o
desejo dos pais, mas você precisa deixar claro que está assumindo a guarda e
que Hadley está a bordo.
— Vou ligar para ela hoje — eu disse, embora a ideia me zesse tremer
um pouco. Não tínhamos conversado desde que ela voltou para Nova York
para além de uma mensagem de texto em que Hadley avisava que havia
chegado bem e depois outra com um meme engraçado e maldoso
direcionado a Liz. Aquela tinha sido a última vez, e depois eu viajei para
Miami; e eu também não tinha nenhuma novidade de qualquer maneira.
— Acho importante que Hadley venha para a próxima audiência, para
que a juíza entenda que tudo está correto e que você não está tentando dar
um golpe para recuperar a guarda.
— Será na segunda-feira, certo? — perguntei, abrindo o programa de
calendário no meu telefone, já que ela estava no viva-voz.
— Sim. Eu vou para Chicago pela manhã e podemos nos encontrar no
escritório do sr. Sutton, já que estamos trabalhando juntos nisso.
— Tecnicamente, você é a responsável.
— Ele sabe disso — disse ela. — Não se preocupe, deixe tudo comigo.
— Sem ofensas, sra. Rittenhouse, mas eu deixei tudo com o Tim Sutton
e foi assim que acabei aqui.
— Sim, mas o sr. Sutton não sou eu, e acredite em mim, quando você
receber minha conta, entenderá por que ela é tão alta.
Eu ri.
— Estou até animado para isso.
— Excelente. Nos vemos na segunda-feira. Se houver algum problema e
Hadley não puder estar lá, me avise imediatamente, porque isso muda a
minha estratégia.
— Vou ligar para ela agora. — Eu desliguei e passei para a tela dos
contatos “favoritos”, onde as pessoas que eu mais ligava estavam listadas,
mas meu telefone me alertou que havia outra chamada em segundo plano.
Susan Whitmer.
Merda.
Eu respirei fundo antes de atender, esperando que minha voz não
re etisse minha irritação.
— Olá, Susan.
— Wes! — Ela estava em pânico. — Onde está Annalise? Você está com
ela?!
— Do que você está falando? — Eu retorqui. — Claro que não estou
com ela. Estou de férias em Miami.
— Você jura? — Ela parecia prestes a cair no choro. — Se você estiver
com ela, me diga, porque estou à beira de um ataque cardíaco.
— Susan, estou em Miami com meus pais. Annalise deveria estar em St.
Louis com você. O que diabos está acontecendo?!
— Ela sumiu, Wes! Nós achamos que ela estava brincando de esconde-
esconde ou algo do tipo, e agora já se passaram horas, e nós procuramos em
todos os lugares e tudo o que consegui pensar foi que você a tivesse
levado…
— Não, eu não a levei, porra. — Minha frequência cardíaca tinha
acabado de acelerar para a velocidade máxima. — Me conta exatamente o
que aconteceu.
— Ela tem sido… difícil de lidar. — Susan respirou fundo. — Tem
perguntado por você e Hadley constantemente, o dia todo, todos os dias.
Ela não faz nada que eu peça, não come o que eu preparo, tem sido um
desa o. Esta manhã ela jogou a tigela de mingau pela sala, então eu… a
coloquei no cantinho do pensamento. — Ela respirou tremulamente. — Eu
disse a ela que seriam quinze minutos. Foi o que eu li online para a idade
dela. Eu pesquisei depois que você e Hadley…
— Susan! — Eu respirei fundo. — Foco.
— Eu… me desculpa. Patrick foi ao mercado para mim e eu subi para
pegar Benny, e quando desci, ela tinha sumido. Eu achei que ela estava
apenas sendo desobediente, então não fui atrás dela imediatamente. Eu
imaginei que ela estava no quarto brincando e talvez isso nos desse tempo
para nos acalmarmos. Demorou provavelmente meia hora antes de eu
procurar por ela. Patrick e eu íamos sentar com ela, conversar, mas não
conseguimos mais encontrá-la.
— Há quanto tempo ela está desaparecida? — eu exigi.
— Quatro horas.
— Você ligou para a polícia?!
— N-não… Eu realmente pensei que ela tinha ligado para você e que
você tinha vindo buscá-la, só para nos assustar ou nos deixar com raiva ou
algo assim. Você realmente não está com ela?
— Você quer conferir com a minha mãe? — eu gritei. — Jesus Cristo,
não, eu não estou com ela! — Eu estava falando tão alto, que minha mãe
veio correndo até o quarto, olhando para mim, preocupada.
Foi nesse momento que Susan começou a chorar.
Os minutos seguintes foram caóticos. Desliguei e imediatamente entrei
em contato com Nash, para botar os caras que estavam na cidade na tarefa
de vasculhar o bairro atrás de Annalise, assim como Britney, já que era
provável que Annalise procurasse por ela se estivesse perdida ou assustada.
Eu liguei para Hadley a caminho do aeroporto.
— Wes. — Ela parecia surpresa e exausta.
— Annalise está desaparecida — eu disse abruptamente.
— O quê?
Eu contei o que havia acontecido.
— Você está brincando comigo? Eles perderam ela? — Hadley parecia
tão furiosa quanto eu.
— Estou a caminho do aeroporto. Consegui um assento de última hora
em um voo, mas ainda vai demorar um tempo até chegar em casa.
— Eu te encontro lá.
— Chego no aeroporto em alguns minutos — eu disse. — É mais fácil
para mim reservar um voo para você pessoalmente com um funcionário, já
que eles verão as vagas disponíveis nesse momento.
— Estou indo para o aeroporto agora.
— Eu já te ligo.
Eu desliguei e quei olhando para a cidade, mas não via nada. Tudo o
que ouvia era a voz de Ben na minha cabeça.
Encontre Annalise, Wes. Encontre a minha garotinha.
Hadley
*
— Bem, sra. Kirby — eu disse, segurando minha esposa em meus
braços enquanto dançávamos nossa primeira dança. — Como se sente?
— Incrível — ela sussurrou. — Conseguimos.
— Conseguimos. — Ela olhou para mim. — Ben e Lauren estão rindo
muito da gente agora.
— Com certeza. — Eu sacudi a cabeça. — Eu posso literalmente ouvir
a voz dele na minha cabeça, me dizendo o quanto eu fui um idiota e quanto
tempo eu perdi.
— O mesmo por aqui. Só que na voz de Lauren.
Rimos juntos enquanto eu a puxava para mais perto.
— Eu te amo, Hadley.
— Eu também te amo. Mesmo que doa um pouco dizer isso. — Ela
estava brincando. Nós sempre brincávamos sobre o que sentíamos um pelo
outro até recentemente, e isso sempre nos fazia sorrir.
— Pronta para uma semana sozinhos em St. Lucia?
— Deus, sim. — Ela franziu a testa por um momento. — Embora eu
odeie car longe das crianças.
— Precisamos de tempo só para a gente. Eles carão bem. Tasha e Greg
vão cuidar bem delas. Além disso, eles precisam de tempo com os netos.
Apesar da esclerose múltipla de Tasha, ela e Greg tinham se oferecido
para cuidar das crianças enquanto Hadley e eu íamos para a lua de mel. Tori
caria com eles para ajudar durante a noite, embora Benny não acordasse
mas muitas vezes, e Drew e Nina cariam de plantão para qualquer
emergência. Tasha estava bem na maioria dos dias, e Greg estaria junto, por
isso não estávamos preocupados. Na verdade, nos sentíamos bem por saber
que as crianças teriam a oportunidade de passar um tempo com os pais
biológicos de Lauren, já que achávamos que eles eram os únicos avós
biológicos que seriam de fato presentes. Não tínhamos ouvido falar de
Patrick e Susan desde que o juiz nos concedeu a guarda, e embora não
quiséssemos impedi-los de ver as crianças, também não iríamos procurá-los.
Se eles quisessem ver as crianças, teriam de dar o primeiro passo. Isso
poderia mudar quando as crianças crescessem, mas eu não daria bobeira
com os lhos de Ben.
Meus lhos.
Nossos lhos.
Droga, pareceu tão natural dizer isso.
— Eu quero mais bebês — Hadley sussurrou enquanto nos movíamos.
— O quê? — Eu voltei para o presente e baixei meu olhar para o rosto
bonito dela.
— Agora não — ela disse rapidamente. — Mas eu gostaria de ter mais
um ou dois.
— Fico feliz que você tenha dito isso, porque eu estava pensando a
mesma coisa. — Eu olhei para onde Annalise estava falando sem parar no
ouvido de Lars. — Embora provavelmente a gente deva esperar até Annalise
ir para o jardim de infância e tivermos apenas uma criança em casa.
Hadley riu.
— Concordo.
— Com licença, Sr. Kirby. — Um homem grande e forte se aproximou
de nós quando nossa dança chegou ao m.
— O que houve, Cal? — Tivemos que contratar segurança para o
casamento simplesmente porque eu era uma celebridade local – assim como
meus colegas de equipe –, e o público às vezes podia ser insensível e
excessivamente carinhoso.
— Tem alguém aqui que deseja vê-lo chamado Len Harris; ele diz que é
advogado, mas não está na lista.
— Ah, Deus. — Hadley cou um pouco pálida. — Você acha que
Patrick e Susan… — Sua voz foi interrompida.
— Deixa que eu vejo.
— Eu também vou. — Ela deslizou seus dedos pelos meus e nós
corremos para dentro da casa.
— Wes. Hadley. — Len estava em pé perto da porta da frente. — Sinto
muito por incomodar, mas eu tinha instruções estritas de Ben e Lauren.
— Ben e Lauren? — ela sussurrou, claramente assustada.
Ele sorriu.
— Aparentemente, aqueles dois eram leitores de mentes ou algo do tipo,
porque deixaram uma carta que deveria ser dada a vocês no dia do
casamento ou o mais breve possível depois disso.
— Ai, meu Deus. — Hadley se encolheu um pouco, mas eu passei o
braço em volta de sua cintura e a puxei para perto.
— De qualquer forma, não quis causar um tumulto. Só queria cumprir
o desejo deles. — Ele me entregou um envelope. — Parabéns. E desculpe
novamente por incomodar.
— Muito obrigado por trazer isso — eu disse, apertando sua mão. —
Você pode car se quiser.
— Não, obrigado. Meu neto tem um jogo de T-ball em uma hora, e se
eu perder, minha esposa e minha lha vão me matar.
Eu ri.
— Tudo bem. Obrigado.
Len foi embora, e eu olhei para Hadley.
— O que você acha que tem aí dentro?
Ela balançou a cabeça.
— Não consigo imaginar.
Eu sorri e entreguei a ela.
— Quer fazer as honras?
— Vamos ler juntos.
Ela lentamente levantou o selo e puxou uma folha de papel.
— Você pode ler — eu disse gentilmente.
Sr. e Sra. Kirby,
SABÍAMOS!! Quando decidimos deixar a guarda de nossos filhos
para vocês dois, sabíamos que se algo acontecesse conosco e vocês
fossem forçados a se conhecerem melhor, se apaixonariam e se
casariam.
Caramba, vocês têm amigos espertos. Todos esses anos, vocês
pensavam que se odiavam, mas na verdade era apenas tensão
sexual. Nós ríamos disso toda vez que vocês estavam juntos.
Nunca percam a paixão que despertam um no outro. Vejam as
forças um do outro em vez das fraquezas. Sejam os melhores
amigos um do outro. Mostrem aos nossos filhos o que é um
verdadeiro amor. É altruísta. Alegre. Bagunçado. Difícil. Bonito.
Se ao menos pudéssemos estar aí com vocês no dia do
casamento… Vocês dois são muito queridos para nós. Queríamos
passar a vida juntos criando nossa família, mas se não podemos
estar aí, é reconfortante saber que vocês estarão. Desejamos a
vocês uma vida inteira de amor, mais filhos para amar e amigos
maravilhosos para celebrar.
Escrever cartas “em caso de nossa morte” é brutal. Esta é a
única em que sorrimos ao escrever.
Obrigado, vocês dois. Por cada momento. Cada risada. Cada
memória. Criem mais disso tudo a cada dia e nunca desistam um
do outro.
Com todo nosso amor,
Ben e Lauren
FIM.
AGRADECIMENTOS
Nossos horizontes se expandiram muito enquanto escrevíamos este livro.
Todos, individual ou coletivamente, se uniram e trabalharam duro para
tornar este livro um sucesso, e somos gratas a isso! Realmente não podemos
listar todos que nos ajudam diariamente, porque isso levaria páginas e mais
páginas, e ainda assim provavelmente esqueceríamos alguém. Mas saiba que
se você é um blogueiro que está lendo a ARC para este livro, uma amiga
autora de uma ou de nós duas, uma leitora que nunca perde um dos nossos
livros sobre hóquei ou um jogador de hóquei realmente atraente,
agradecemos muito a você.
Agradecemos especialmente à Renita McKinney, que nos encaixou na
agenda para falar sobre a publicação enquanto ela estava viajando. Renita,
seu encorajamento e seus conselhos sólidos nos deram tudo o que
precisávamos para terminar este livro da maneira que queríamos. Nossas
divulgadoras, Heather Roberts, Jessica Estep e Jenn Ga ney, são nosso
Dream Team das vendas. Obrigada, pessoal, por lidarem com tanto do
trabalho não relacionado à escrita para que possamos car perdidas no
mundo dos St. Louis Mavericks. À nossa preparadora Taylor Bellitto, que
poliu este livro até que ele brilhasse, e nós a amamos muito. Rosa Sharon é
nossa revisora a ada e incrivelmente talentosa, que nos ajuda a descansar
tranquilamente e não sentir que precisamos ler o livro várias vezes quando
nossos olhos já estão cansados. Nossa foto de capa é da Rafa Catala, e ela
capturou perfeitamente nosso Wes. Lori Jackson deu os toques perfeitos
com seu trabalho de design, e a capa foi uma grande parte da nossa
inspiração enquanto escrevíamos.
Foi bastante divertido, pessoal! Talvez devêssemos fazer de novo... em
breve?
NOTA DAS AUTORAS
Escrever livros é uma experiência adorável, frustrante, exaustiva e
estimulante para mim. Depois de terminar meu primeiro livro, quei
viciada. Eu criava histórias, tanto na minha cabeça quanto no papel, desde
criança. Essa carreira é um sonho, mas pode ser solitária às vezes. A
oportunidade de escrever este livro com a Kat veio em um momento em
que eu estava passando por alguns problemas pessoais que me deixaram
incapaz de me concentrar em qualquer outra coisa. Mas então Kat e eu
começamos a conversar sobre essa ideia, e nosso entusiasmo aumentou a
cada dia. Não apenas amamos esses personagens e essa história, como nós os
sentimos profundamente. Enquanto eu escrevia, escapava das minhas
preocupações por algumas horas. Eu tinha uma felicidade incomparável
toda vez que um novo capítulo da Kat aparecia na minha caixa de entrada.
Escrever com a Kat aconteceu para mim quando eu mais precisava, e ela se
tornou uma amiga querida nesse processo.
Mudança de Planos é mais do que um livro. Quando eu olhar para trás,
vou lembrar da amizade que se iniciou e oresceu a partir dele. Vou lembrar
que quando me sentia perdida, este livro estava lá para me lembrar que eu
tinha um lugar para onde podia ir, para uma pequena pausa: o mundo dos
Mavericks.
Minha maior esperança é que este livro possa ser para os leitores o que
foi para mim: um momento de afastamento do estresse e das preocupações
da vida real, e que depois desse tempo longe, os leitores se sintam um pouco
mais recarregados e prontos para enfrentarem o mundo novamente. Mesmo
que nunca nos encontremos pessoalmente, ter essa conexão com um leitor é
um presente precioso pelo qual sou eternamente grata.
Brenda
Quando comecei a publicar minhas histórias há cinco anos, nunca imaginei
que iria querer compartilhar meus personagens e ideias com mais ninguém.
As histórias que criamos são tão incrivelmente pessoais, que é difícil
convidar alguém para participar desse processo. E, no entanto, desde a
nossa primeira conversa por telefone, Brenda e eu descobrimos que temos
espíritos de escrita semelhantes. A trama de Mudança de Planos cresceu
rapidamente, e começamos a colocar palavras no papel poucos dias depois
de conversar sobre o projeto. Ter alguém para trocar ideias e desenvolver
esses personagens juntos tornou o processo tanto indolor quanto
inesquecível. Normalmente, co extasiada quando termino um livro, mas
senti uma quantidade igual de tristeza com este livro, porque não queria
que terminasse. Espero que vocês, os maravilhosos leitores que estão por aí,
sintam a mesma coisa.
É uma honra e um privilégio saber que vocês estão lendo minhas
palavras, e eu agradeço a cada um de vocês.
Kat
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