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Mudança de Planos - Brenda Rothert

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© 2024 AllBook Editoria.

Todos os direitos reservados

Direção Editorial: Beatriz Soares


Assistente Editorial: Tathiana Martins
Tradução: Raphael Pellegrini
Preparação e Revisão: Clara Taveira e AllBook Editora
ISBN do impresso: 978-65-85953-08-5
ISBN do e-book: 978-65-85953-09-2
Projeto Gráfico, Diagramação e Produção digital: Saavedra Edições
Capa: Modesigner.ed
Imagem de Capa: Alswart | Adobe Stock

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte
deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos,
fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram
declarados.

Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são
produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou
mortas, eventos ou estabelecimentos é mera coincidência.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

R755m
Rother, Brenda
Mudança de planos [recurso eletrônico] / Brenda Rother, Kat Mizera ; tradução Raphael
Pellegrini. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Allbook, 2024.
Recurso digital (St. Louis Mavericks ; 1)

Modo de acesso: word wide web


ISBN 978-65-85953-09-2 (recurso eletrônico)

1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Mizera, Kat. II. Pellegrini, Raphael. III.
Título. IV. Série.
24-92292 CDD: 813
CDU: 82-31(73)

Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecária CRB-7/6643


1ª edição – 2024
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À ALLBOOK EDITORA
allbookeditora.com | contato@allbookeditora.com
SUMÁRIO
CAPA
FOLHA DE ROSTO
CRÉDITOS
PRÓLOGO
Hadley
CAPÍTULO 1
Wes
CAPÍTULO 2
Hadley
CAPÍTULO 3
Wes
CAPÍTULO 4
Hadley
CAPÍTULO 5
Wes
CAPÍTULO 6
Hadley
CAPÍTULO 7
Wes

Í
CAPÍTULO 8
Hadley
CAPÍTULO 9
Wes
CAPÍTULO 10
Hadley
CAPÍTULO 11
Wes
CAPÍTULO 12
Hadley
CAPÍTULO 13
Wes
CAPÍTULO 14
Hadley
CAPÍTULO 15
Wes
CAPÍTULO 16
Hadley
CAPÍTULO 17
Wes
CAPÍTULO 18
Hadley
CAPÍTULO 19
Wes
CAPÍTULO 20
Hadley
CAPÍTULO 21
Wes
CAPÍTULO 22
Hadley
CAPÍTULO 23
Wes
CAPÍTULO 24
Hadley
CAPÍTULO 25
Wes
CAPÍTULO 26
Hadley
EPÍLOGO
Wes
AGRADECIMENTOS
NOTA DAS AUTORAS
ALLBOOK EDITORA
Hadley
Sete anos antes

— Você vai amar — disse minha melhor amiga, Lauren, toda empolgada.
— Sério, Hadley, o Wes é um partidão. É bonito, inteligente, engraçado e
jogador de hóquei pro ssional. Se o Ben não fosse o amor da minha vida,
eu iria atrás dele.
Eu a mirei com descon ança.
— Você sempre diz que os dois são diferentes.
Ela acenou com a mão.
— Não nas coisas importantes. Pare de ser difícil. Meu ponto é que ele é
ótimo, você está na seca e tem um quarto de hotel reservado só para você
esta noite.
Contive um suspiro. Lauren era minha melhor amiga desde que nos
conhecemos nas palestras de orientação no nosso primeiro ano na UCLA.
Ela era a manteiga de amendoim da minha geleia, e eu faria qualquer coisa
por ela.
Por isso que eu sorria enquanto ela me conduzia pelo gramado lotado
do quintal da casa dos pais dela em Naperville. Eles estavam dando uma
festa de noivado para Lauren e Ben, que iam se casar em dois meses. Depois
de um relacionamento de três anos, com ela estando em Los Angeles, e ele,
em Boston, os dois não queriam um noivado longo. Nós nos formamos há
algumas semanas, e Lauren estava imersa nos planos do casamento.
Estava tudo acontecendo muito rápido. Há alguns meses, nossas
maiores preocupações eram passar nas provas nais e encontrar promoções
do nosso vinho e pizza congelada favoritos. Agora, Lauren estava se casando
e se mudando para St. Louis com Ben, onde ele joga hóquei
pro ssionalmente, e eu havia acabado de começar meu novo emprego como
redatora para a Willow, uma revista de moda e estilo de vida em Nova York.
— Ah! Acho que o encontrei! — Com um gritinho, Lauren segurou
minha mão e me levou por entre os grupos de pessoas bebendo e comendo.
Meu estômago revirou de nervoso. Eu tinha ouvido Lauren falar sobre
Wes Kirby durante os três anos em que ela namorou o Ben. Eu sabia que ele
era bonito – tinha visto fotos – e Lauren me garantiu que ele era mais do
que apenas isso.
Ela estava certa sobre a seca. Já fazia quase um ano desde que eu tinha
feito sexo pela última vez, e sete meses desde que fui a um encontro. Eu
queria poder atribuir isso ao fato de estar ocupada demais com a faculdade e
a formatura, mas a verdade era que simplesmente não tinha conhecido
ninguém que eu gostasse muito. Eu estava esperando que Wes e eu
tivéssemos uma boa química. Ele seria o padrinho de casamento, e eu, a
madrinha. Nós nos veríamos muito naquele m de semana e no m de
semana do casamento, em agosto.
— Droga, Ben o levou para falar com alguém — disse Lauren,
gemendo. — Ele sabe que eu quero apresentar vocês dois.
— Vamos comer — sugeri. — Eu não comi nada o dia todo e estou
morrendo de fome.
— Ok. Só não suje a blusa. — Lauren me deu um olhar severo, muito
familiarizada com minha tendência de me sujar um pouquinho de vez em
quando.
— Eu sempre tento — disse, revirando os olhos. — Mas acontece.
— Você precisa de um babador.
Dei de ombros.
— Não é má ideia.
Ela apenas suspirou e passou o braço ao redor dos meus ombros
enquanto caminhávamos em direção à la da comida.
— Talvez essa possa ser sua primeira história para a nova revista. — Ela
estendeu a mão na nossa frente e traçou uma linha horizontal, imitando
uma manchete. — Acessórios essenciais para a mulher que está sempre
sujando a camisa. Você poderia incluir babadores fofos, lenços Tide e
sacolas grandes o su ciente para guardar camisas extras.
— Você é uma idiota — murmurei, rindo.
— Mas você me ama mesmo assim.
— Amo. — Suspirei e encontrei seu olhar. — O que vou fazer sem
você, Lo? Nós somos melhores amigas há quatro anos e colegas de quarto há
três.
Seus olhos azul-claros se arregalaram enquanto ela me olhava
seriamente.
— Nada vai impedir que a gente seja melhores amigas, Had. Nada.
Mesmo quando eu estiver tendo bebês e você for a editora-executiva da
Vogue, ainda conversaremos todos os dias e nos veremos o máximo que for
possível.
Lauren chegou à frente da la e pegou um prato, passando-o para mim
antes de pegar um para si.
— Estou tão feliz que o Ben goste tanto de churrasco quanto eu —
disse ela, sorrindo. — Não somos pessoas de costela prime e caviar. Me dá
um hambúrguer e um macarrão com queijo em pó, daqueles laranja da
Kraft, e está tudo bem. Nem preciso do tipo so sticado, com queijo de
verdade.
Eu ri e respondi:
— Lembra daquele dia em que estávamos estudando para as provas
nais e não tínhamos comido o dia todo, então zemos aquele panelão de
macarrão com queijo congelado e queimamos a boca na hora de comer?
— Ah, merda. — Ela riu. — Aquilo foi horrível. Eu seriamente pensei
que nunca mais recuperaria a sensibilidade de algumas partes da língua.
— No dia seguinte, assistimos a vários lmes românticos com uma
grande tigela de gelo, colocando cubos na língua depois que os antigos
derretiam.
Lauren encheu seu prato com salada de macarrão e um cheeseburger, e
eu fui pegar um cachorro-quente, macarrão com queijo e algumas frutas.
Ela era uma daquelas mulheres naturalmente magras – daquelas que vestem
P – que continuam esbeltas, não importa o que comam, enquanto eu tinha
que me exercitar todos os dias para continuar no M.
Lauren foi parada por uma tia e um tio que queriam parabenizá-la, e dez
minutos se passaram antes de nalmente nos sentarmos à mesa para comer.
Lauren é lha única, mas seus pais tinham vários irmãos, e a família inteira
era grande. Eles sempre me incluíam nos encontros em feriados, porque a
única família que eu tinha era meu irmão, um SEAL da Marinha que nunca
estava no mesmo lugar por muito tempo, e um tio na Flórida.
Eu estava tão faminta, que imediatamente en ei uma colher de
macarrão com queijo na boca, seguida pouco depois por uma mordida no
meu cachorro-quente. Se fôssemos chamadas para tirar fotos novamente, eu
queria pelo menos ter comido alguma coisa para não car com fome.
— Oi, querida — disse uma voz masculina profunda.
Eu me virei e vi Ben se aproximando de nós, Wes bem ao lado dele.
Merda.
Ele não poderia ter tido uma primeira impressão menos lisonjeira de
mim, com a boca bem aberta. Eu mastiguei o mais rápido que pude, limpei
a boca e sorri para Wes enquanto Lauren se levantava para abraçar Ben.
— Oi, Wes — disse Lauren, abraçando-o em seguida.
Eu passei nervosamente uma mão pelo rosto, rezando para ter tirado
todas as migalhas restantes. Meu coração martelava no peito enquanto eu
me levantava e encontrava os olhos muito azuis de Wes. Ele era alto, com
cabelos escuros, um rosto bonito e um sorriso vindo direto de um comercial
de pasta de dente – perfeito e branco como uma pérola.
Imagens de nós quatro saindo juntos passaram pela minha cabeça e,
obviamente, eu estaria sentada em seu colo nesses cenários.
— Oi, Hadley — ele disse, sorrindo. — Vejo que você gosta de colocar
salsichas na boca.
Meu coração afundou, e eu dei um olhar de lado para Lauren. Esse cara
tinha muito potencial até abrir a boca. Ele pegou uma batata chips do prato
e colocou na boca. Além de batata, seu prato estava carregado com um
hambúrguer, um cachorro-quente e pelo menos um recipiente com todos os
acompanhamentos servidos no bu et. Era um milagre que a montanha de
comida não estivesse caindo pelo chão.
— Parece que você também gosta — eu disse, dando a ele um sorriso
forçado enquanto apontava para o prato dele.
— É, sim.
— Ei, pessoal, precisamos conversar com algumas pessoas — disse
Lauren, dando a Ben um olhar conspiratório. — Apenas conversem um
pouco, que já voltamos.
Eu dei a ela um olhar de “você está de sacanagem comigo” de olhos
arregalados, mas Lauren me ignorou.
Wes se jogou na cadeira e me deu um sorriso malicioso.
— E aquela história do padrinho e a madrinha de casamento se pegarem
em casamentos? — ele perguntou.
— É novidade para mim — eu disse, me concentrando no meu prato e
compondo mentalmente o discurso que seria direcionado a Lauren mais
tarde por me deixar sozinha com ele.
— Quer sair para beber alguma coisa mais tarde, depois que nos
liberarem? — Wes perguntou.
Eu estreitei os olhos e dei a ele um olhar cético.
— Eu acho que já vamos sair para tomar alguma coisa depois do jantar.
— Sim, mas quero dizer depois disso… sabe, só você e eu.
Eu não suportava homens como ele. Wes não se importava com quem
eu era ou o que eu era, ele só queria transar.
— Acho que vou car bem cansada depois que todos nós sairmos juntos
— eu disse.
— Cansada? — Ele riu. — Acho que você precisa se soltar um pouco.
— Estou bem.
Ele balançou a cabeça como se não conseguisse entender por que eu o
rejeitei e suspirou fundo.
— Qual é, Hadley? Nós dois estamos solteiros, então vamos aproveitar
um pouco. Dê uma chance, você pode até acabar gostando de mim.
Eu ri, sem graça.
— Você nem me conhece.
— Eu sei o su ciente sobre você.
Revirei os olhos.
— Eu tenho muito respeito próprio para o seu gosto, con e em mim.
— O que isso quer dizer?
— Isso signi ca que eu não tenho interesse em fazer sexo com você.
Ele levantou as mãos, em um gesto de falsa rendição.
— Ei, eu não estava sugerindo isso. Nós todos vamos sair hoje à noite.
Eu só pensei que você e eu poderíamos passar um tempo juntos depois.
— Sim, já bêbados — eu disse sarcasticamente.
— Não há nada de errado em se divertir um pouco.
— Você parece o tipo de cara que gosta de se divertir com uma mulher
diferente todas as noites.
Ele deu de ombros e olhou para baixo, para sua mão esquerda; em
seguida, mirou meus olhos.
— Para mim, o dedo anelar parece vazio.
— Ah, você ainda mora em uma fraternidade?
— Eu moraria se pudesse.
— Vivendo na sujeira, festejando todas as noites e sendo irresponsável.
Aposto que você ama isso.
Ele sorriu.
— Você também amaria se relaxasse um pouco.
Fiquei ofendida.
— Relaxasse? Você está falando sério?
— Acho que vou gostar mais de você quando tiver uma salsicha na
boca, só isso.
— Como você e Ben podem ser amigos?
— Como você e Lauren podem ser amigas? Ela é uma das garotas mais
doces e legais que já conheci.
— Mulher, na verdade.
Wes se contorce.
— Tanto faz. Você é uma daquelas pessoas que corrigem a fala de todo
mundo, não é? E coloca em ordem alfabética as coisas. Seus temperos são
organizados em ordem alfabética?
Minhas bochechas aqueceram, porque, sim, meu armário de temperos
estava em ordem alfabética, mas eu não daria a ele a satisfação de admitir.
— Claramente não somos compatíveis — eu disse.
— Sim, claramente. — Ele arregalou os olhos e deu uma mordida no
hambúrguer.
— E aí, pessoal? Como vão as coisas? — Ben perguntou enquanto se
aproximava junto de Lauren.
— Fantásticas — Wes disse sarcasticamente e se levantou.
Lauren me deu um olhar de simpatia, e Ben limpou a garganta,
parecendo envergonhado.
— Bem, talvez vocês tenham começado com o pé esquerdo — ele disse
diplomaticamente. — Vamos tentar de novo hoje à noite.
— Passo — eu disse, balançando a cabeça e me levantando da cadeira.
— Wes pode ter mais sorte enganando calouras universitárias. Acho que sou
um pouco velha demais para ele, intelectualmente falando.
— Chata do caralho — Wes murmurou.
— Babaca — eu retruquei, me aproximando um passo dele.
— Por que você não vai colocar um rótulo em alguma coisa? Ou passar
suas roupas de trabalho?
— Vá se divertir com sua mão, garoto de fraternidade.
— Ok, pessoal. — Lauren deu um passo à frente e parou entre nós. —
Vamos seguir caminhos separados e não transformar a festa de noivado dos
nossos melhores amigos em uma cena de Jerry Springer, ok?
Eu assenti, imediatamente arrependida por agir como uma criança. Não
havia ninguém por perto, mas ainda assim. Aquele dia era de Lauren e Ben.
— Desculpa, pessoal — eu disse com a voz calma.
— Sim, desculpa — Wes também disse. — Vou… — Ele apontou para
o outro lado do quintal.
— Eu vou com você — Ben disse.
Lauren colocou um braço em volta de mim assim que eles saíram.
— Hadley, sinto muito. Nunca teria tentado juntar vocês se eu soubesse
que seria desse jeito.
— Eu sei. Eu só não consigo entender por que Ben é amigo dele. Ele é
insuportável.
— Por quê? O que aconteceu? Ele costuma ser um cara legal. — Seus
olhos estavam cheios de preocupação.
— Quer saber? — Eu forcei um sorriso. — Não importa. É a sua festa
de noivado e podemos falar sobre isso em outro momento.
— Sim, mas e quanto a esta noite? Você acha que talvez possa… ignorá-
lo?
— Absolutamente.
Ela parecia aliviada.
— Ótimo. Porque você é nossa madrinha e ele é nosso padrinho. Você
terá que encontrá-lo para as coisas do casamento. E depois também, talvez
durante feriados e chás de bebê e coisa e tal.
Eu dei um olhar sério para minha melhor amiga.
— Não se preocupe, Lo. Eu não planejo falar com o Wes novamente.
Ela mordeu o lábio e me deu um olhar incerto.
— O que foi? — eu perguntei a ela.
— Eu não queria dizer nada, mas… você derramou molho na camisa.
— O quê? — Eu olhei para baixo e vi uma mancha de molho de queijo
amarelo na minha camisa rosa-clara, um único macarrão ainda preso no
tecido. Perfeito. Wes devia estar rindo por dentro enquanto eu agia toda
indignada com ele tendo comida grudada na camisa. — Merda — sussurrei.
— Tudo bem — disse Lauren. — Eu tenho roupas extras em casa.
Vamos procurar algo para você vestir.
Eu a segui para a casa dos pais dela, mantendo meu olhar na sua nuca.
Não só eu não planejava falar com Wes novamente, como também
planejava sequer olhar para ele.
Que babaca.
Nada mudaria o que eu sentia por ele – não só naquela noite, mas
nunca.
Wes
Dias atuais

— Wes… mais! — A morena alta, cujo nome eu não conseguia lembrar,


estava en ando a língua na minha boca enquanto eu deslizava minhas mãos
sob sua saia preta curta. Ela estava se esfregando no meu colo, seus longos
cabelos espalhados por todo o meu peito enquanto nos beijávamos. — Por
favor, Wes, eu preciso de você dentro de mim.
— Calma, boneca. Temos a noite toda.
Eu a beijei de novo, tentando lembrar se eu tinha uma camisinha na
carteira, porque deixei a carteira e o celular no aparador quando chegamos
na casa dela.
Então, em algum lugar ao longe, ouvi meu celular tocando We Are e
Champions, do Queen, e a gostosa em meu colo se afastou
momentaneamente.
— Você precisa atender?
— Não.
Quem diabos poderia estar me ligando à meia-noite de uma terça-feira?
Em algum lugar no fundo da minha mente, me ocorreu que poderia ser
importante – por que outra razão alguém me ligaria naquele horário?
As coisas estavam esquentando de novo quando meu telefone tocou pela
segunda vez, mas eu apenas puxei sua blusa, tirando-a sobre sua cabeça para
que pudéssemos continuar nos beijando. Ela tinha um corpo fantástico, um
que eu imaginei em ver nu por várias horas, e estava começando a me irritar
que o telefone continuasse tocando.
Então, quando ouvi o refrão de We Are e Champions pela terceira vez
em poucos minutos, soltei uma bufada de impaciência quando ela olhou
para mim com os olhos semicerrados.
— Talvez seja importante, não? — ela perguntou baixinho.
— Porra. — Eu gentilmente a empurrei do meu colo e me levantei,
atravessando a sala para pegar meu telefone. Não reconheci o número, mas
atendi mesmo assim.
— Sim, é o Wes.
— Sr. Kirby? — A voz feminina do outro lado parecia jovem.
— Sim, hm, quem está falando? — Bati o pé no chão com impaciência.
— M-meu n-nome é… Britney. Eu sou, hum… — Ela fungou. — Eu
sou, ahn, eu sou a b-babá do Ben e da Lauren.
A babá de Ben e Lauren estava chorando? E mais, por que ela estava me
ligando? Eu estava muito confuso.
— As crianças estão bem? Onde estão Ben e Lauren?
Ela se desfez em lágrimas.
— Não sei! Por favor, você pode vir aqui? A polícia está aqui e me
disseram para ligar para você se não conseguisse encontrá-los, e agora não
sei o que fazer e…
Ela chorava tanto, que eu mal conseguia entender o que estava dizendo.
— A polícia está aí? — Eu já estava fechando meu jeans e tateando em
busca das minhas chaves. — Ok, estou a caminho. Não faça nada até eu
chegar.
Desliguei e me virei para a linda mulher que abandonei no sofá.
— Sinto muito, não sei o que está acontecendo. A polícia está na casa
dos meus amigos, e a babá está enlouquecendo.
Ela parecia um pouco descon ada.
— Sabe, se você não gostou de mim, não precisava que um de seus
amigos ligasse desse jeito.
Eu z uma careta.
— Querida, se eu não tivesse gostado de você, não estaria aqui.
Desculpa, eu realmente tenho que ir.
Corri pelo corredor até as escadas da saída de emergência e desci até o
estacionamento. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas meu
melhor amigo, Ben, e sua esposa, Lauren, me tinham como contato de
emergência para eles e para os lhos. Algo estava errado.
Hoje era noite de encontro, de acordo com Ben. Ele e Lauren tentavam
passar uma noite longe de Annalise, de três anos, e Benny, de seis meses,
uma vez por mês. Supondo que o time de hóquei pro ssional em que
jogamos, o St. Louis Mavericks, estivesse na cidade e tivéssemos uma folga.
Não tivemos muitas delas durante a temporada, então foi por isso que ele se
esforçou para arranjar tempo para a esposa.
Eles eram provavelmente minhas duas pessoas favoritas no mundo. Ben
e eu jogamos pelos Mavericks, mas nossa amizade remonta ao hóquei
juvenil. Nós éramos amigos desde os quatorze anos, e quando ele se
apaixonou pela inteligente e atrevida Lauren, eu meio que me apaixonei por
ela também. Fui padrinho dos lhos deles e passamos muito tempo juntos,
no gelo e fora dele. Portanto, era impossível que eu não respondesse se eles
– ou a babá deles – ligassem.

*
A essa hora da noite, levei apenas doze minutos para chegar ao
condomínio fechado e digitei o código do portão, que eu sabia já que era
um visitante bastante regular. Havia uma viatura estacionada na frente da
casa, e isso me assustou mais do que o telefonema de Britney. Saí do meu
SUV e corri para a porta da frente, batendo rapidamente.
Um o cial uniformizado abriu a porta e encontrou meu olhar
interrogativo.
— Senhor… Kirby?
— Sim. Eu sou Wes Kirby. O que está acontecendo?
Outro policial veio até a porta, e os dois olharam para mim.
Senti algo ruim se contorcendo em meu peito, um pressentimento, e eu
mirei seus olhos diretamente.
— O que está acontecendo? As crianças estão bem? Onde estão Ben e
Lauren?
— Houve um acidente de carro — o policial disse calmamente. — O
senhor Whitmer morreu na hora e a senhora Whitmer morreu a caminho
do hospital.
— O quê? — Eu os encarei. — Não. Deve ser um erro.
— Senhor Kirby? — Britney veio até a porta, seus olhos vermelhos e
inchados. — É verdade?
Vendo a garota de perto, lembrei de tê-la visto algumas vezes. Ela era
uma estudante do ensino médio que morava na esquina, e as crianças a
amavam. Ela ajudava Lauren às vezes quando estávamos na estrada, para
que ela pudesse ter um pouco de tempo para si mesma.
— Ainda não sei de nada, querida. — Passei a mão pelo cabelo. — As
crianças estão dormindo?
Ela assentiu.
— Você precisa ligar para seus pais?
— Eu já liguei.
Um momento depois, um lustroso Mercedes preto parou na garagem, e
um casal que parecia estar na casa dos quarenta saiu do carro. A mulher
correu na frente, seus olhos encontrando os meus, alarmados.
— O que aconteceu? Onde estão Ben e Lauren? O que está
acontecendo?
— Não sei. — Eu estava tentando respirar, tentando manter a calma,
porque não parecia real. Tinha de haver um engano.
— Senhores, o que está acontecendo aqui? — O pai de Britney estava
tentando bancar o durão com os policiais, como se isso fosse nos dar
alguma resposta.
— Onde eles estão? — eu interrompi.
— Eles estão no County General — respondeu o segundo o cial. —
Mas…
— Eu preciso ir até lá. — Eu me virei para a mãe de Britney. — Eu
odeio ter de pedir isso, mas você poderia car aqui com Britney e as
crianças para que eu possa descobrir o que diabos está acontecendo?
— Claro, vá. — Ela concordou com a cabeça e então apertou os olhos
um pouco. — Você é amigo de Ben. Wes, certo?
— Sim. — Eu encontrei seu olhar interrogativo.
— Lauren falava de você com frequência.
Eu não sabia o que dizer sobre isso, então simplesmente balancei a
cabeça, me virei e corri de volta para o meu SUV.

*
Liguei para o celular de Ben no caminho para o hospital, mas foi direto
para a caixa postal.
— Ei, aqui é o Ben. Deixe um recado. Se for você, Lauren, eu te amo.
MERDA.
Isso não poderia estar acontecendo. Não podia ser verdade. Eu me
recusei a acreditar até ver com meus próprios olhos.
Impulsivamente, tentei o número de Lauren em seguida, mas também
foi direto para o correio de voz.
— Ei, é Lauren. Você sabe o que fazer depois do bipe. Se for você, Ben,
não vou atender porque estou ocupada com seus lhos. Mas eu te amo
mesmo assim.
Deus, esses dois.
Meu coração estava praticamente na garganta, e eu estava com aquela
sensação ruim de novo. Não conseguia nem imaginar a ideia de que algo
tivesse acontecido com eles.
Num impulso, liguei para nosso amigo e companheiro de equipe, Nash
Reilly.
— Você tem dimensão que passa de uma hora da manhã e…
Eu o interrompi.
— Ben e Lauren sofreram um acidente de carro. Estou a caminho do
County General. Pode me encontrar lá?
— Jesus, eles estão bem?
— Eu acho que deu ruim, Riles.
— Estou a caminho. — Ele desligou, e meus dedos caram brancos
enquanto eu segurava o volante, virando para a entrada principal do
hospital. Estacionei em um local fora da área de emergência e entrei.
Havia uma enfermeira de aparência cansada na recepção, e eu a abordei
rapidamente.
— Com licença. Estou procurando por Ben e Lauren Whitmer.
A enfermeira franziu a testa.
— Acho que não temos ninguém com esse nome… — Sua voz foi
sumindo enquanto digitava algo no computador. Então sua expressão
mudou um pouco. — Oh. Me desculpe, como você se chama?
— Eu sou… um amigo da família. A polícia foi até a casa para nos dizer
que houve um acidente. — Encontrei seu olhar, perdendo a esperança a
cada segundo enquanto observava as emoções em seu rosto. — Você tem
alguma informação que possa me contar?
— Receio que só posso falar com a família ou…
— Está tudo bem, Jan. — Um dos policiais que estavam na casa
obviamente havia me seguido até o hospital. Ele colocou a mão no meu
ombro e me afastou alguns metros da área da recepção. — Senhor… Kirby,
seu amigo e a esposa não sobreviveram ao acidente. Eu sinto muito.
— Você não pode… — Minha voz falhou, e eu engoli em seco. Havia
algo causando ardência em meus olhos, e eu quei imóvel, congelado no
mesmo lugar. — Tem certeza? — eu nalmente sussurrei.
— Sentimos muito, sr. Kirby. Você sabe quem podemos chamar para
cuidar de tudo? Existe algum familiar? Teremos que chamar os assistentes
sociais para as crianças, a menos quê…
— Não, eu cuido, eu cuido… eu sou o padrinho deles. Eu vou voltar
para lá hoje à noite. Eu só… posso vê-los?
— Eu não tenho certeza se é possível. Vou descobrir.
O policial voltou para a recepção enquanto eu permanecia sem me
mover. Não era real. Não poderia ser. Eu não acreditei.
Não pude acreditar.
— Wes! — Nash entrou alguns segundos depois, e no instante em que
me viu, seu passo vacilou. — Wes?
— Eles partiram, Riles. — Eu não conseguia nem olhar para ele.
— Jesus, não. — Ele parou a uns trinta centímetros de distância de
mim. — Tem certeza?
— Eu, uh, sim, acho que sim. — Olhei para cima, quando o policial se
aproximou de mim.
— Você gostaria de ver seus amigos? A enfermeira Jan disse que
podemos deixar você entrar bem rápido.
— Eu… — Minha voz falhou. Eu nunca tinha visto um cadáver. Não
de perto, e de nitivamente não um que fosse o meu melhor amigo.
— Depois que eles os levarem para o necrotério, você não poderá ir até
lá — ele disse gentilmente.
— Sim. Eu sei.
Meus pés pareciam enormes blocos de concreto enquanto eu seguia a
enfermeira por um corredor inde nido. Passamos por todos os quartos
regulares e chegamos a um isolado nos fundos. A enfermeira abriu a porta, e
eu me preparei antes de entrar.
— Não. — Minha respiração escapou apressada, e eu caí contra a
parede. — Puta merda, não. — Fechei os olhos com força e lutei contra a
umidade acumulada, mas não adiantou.
Ben e Lauren se foram.
Ben. Meu melhor amigo. Meu irmão. Nosso capitão. O yin do meu
yang por quinze anos.
— NÃO!!! — a palavra saiu do meu peito com um rugido gutural, e eu
me agachei porque não tinha mais forças para car de pé. Eu abaixei a
cabeça, uma dor diferente de tudo que eu já senti parecia me rasgar no
meio.
Isso não poderia ser real. Não poderia estar acontecendo.
Mas estava. Ben e Lauren se foram, e eu não tinha uma porra de ideia de
como iria superar isso.
Hadley

— Senhorita Carrie, minha mamãe e meu papai estão no céu — explicou


Annalise à mulher que acabara de chegar à frente da la de recepção no
velório.
— Oi, eu sou uma das professoras da pré-escola de Annalise — disse a
senhorita Carrie para mim antes de se ajoelhar para falar com Annalise, de
três anos.
— Sim, eles estão lá, querida — disse ela, com lágrimas nos olhos. —
Eles sempre cuidarão de você.
— É verdade, tia Hadley? — perguntou Annalise, olhando para mim
enquanto segurava minha mão.
— É, sim. O céu é um lugar onde não há dores ou tristezas, e sua mãe e
seu pai poderão cuidar de você de lá, sempre.
— Mas eles não podem voltar, né? Eu sinto falta deles.
A senhorita Carrie me olhou com empatia.
— Eu também sinto falta deles, amor — eu disse a Annalise, me
esforçando para não chorar. — Mas, não, eles não podem voltar.
Seu rosto redondo e doce se fechou com tristeza. A senhorita Carrie
perguntou se ela gostaria de um abraço, e ela disse que sim. Eu usei a pausa
momentânea para respirar fundo e me lembrar de que eu ia dar conta, sim,
de tudo aquilo.
Os últimos cinco dias tinham sido um inferno na terra. Eu mal havia
dormido desde que recebi a ligação logo cedo informando que minha
melhor amiga há onze anos havia morrido em um acidente de carro junto
com o marido.
Como? Essa foi a pergunta que eu continuava me fazendo. Como a vida
de um casal jovem, bonito e feliz, com uma lha de três anos e um lho de
seis meses, acaba assim, sem aviso prévio? É impensável.
Quando cheguei à casa deles, em St. Louis, mais tarde naquele dia, e a
encontrei cheia dos companheiros de time do Ben e outros amigos do casal,
fui para o banheiro e caí de joelhos, soluçando.
A vida como eu a conhecia acabou. Mesmo que eu morasse em Nova
York, e Lauren morasse em St. Louis, conversávamos várias vezes ao dia e
nos visitávamos com frequência. Eu era a madrinha de Annalise e de Benny.
Ver Annalise chorar pela mãe foi a parte mais difícil. Dormi com ela
todas as noites, na cama de Ben e Lauren, e disse que ela podia chorar o
quanto quisesse. Ela é tão pequena. Vai completar quatro anos em alguns
meses, e ainda não consegue compreender de fato o que está acontecendo.
E o pequeno Benny nunca conheceria os pais. A mãe e o pai de Ben,
Patrick e Susan Whitmer, haviam viajado para a casa deles em Malibu no
mesmo instante, e Susan havia assumido completamente o cuidado de
Benny. Ela estava embalando-o em seus braços na la da recepção, os olhos
inchados e vermelhos.
Seu lho havia partido, e ter o lho dele nos braços parecia consolá-la.
Os pais de Lauren vieram para o funeral, mas a mãe dela tinha esclerose
múltipla e o pai era seu cuidador. Eles não podiam assumir a criação dos
neto. Patrick e Susan fariam isso. Eu estava receosa com o momento em que
iria ver Annalise e Benny pela última vez antes de partirem para Malibu.
Eles eram minha única conexão com Lauren.
Limpei os cantos dos olhos, a cabeça baixa, e Annalise pegou minha
mão novamente.
Eu consigo fazer isso. Por Ben e Lauren, posso car rme e estar aqui por
Annalise. Vou desabar depois, quando estiver sozinha.
— Oi, Hadley — disse uma voz masculina profunda que eu conhecia.
Quando levantei a cabeça, encontrei os olhos azul-claros de Wes Kirby.
Tinha sido nojo à primeira vista quando nos conhecemos há sete anos, e
não tivemos depois disso nada além de encontros desagradáveis todas as
vezes em que nos vimos desde então. Natal. Chás de bebê. Batizados. Fins
de semana. Festas de aniversário de Annalise. Wes era o melhor amigo de
Ben e padrinho das crianças. Brinquei com Lauren em particular que Wes
era como uma diarreia crônica – desagradável e impossível de escapar. Eu
tinha visto Wes na casa de Ben e Lauren nos últimos dias, mas nenhum de
nós falou um com o outro. Mas, neste momento, quando vi suas olheiras, a
gravata um pouco solta, como se tivesse sido puxada, senti que Wes talvez
pudesse ser o único que realmente sabia o que eu estava sentindo.
— Oi — eu disse, praticamente me jogando em um abraço.
Ele congelou por um segundo, provavelmente em choque, mas então
seus braços longos e fortes se fecharam ao meu redor. Fechei os olhos com
força e pressionei o rosto em seu peito.
— Por que eles? — eu sussurrei, tão baixo, que apenas Wes poderia me
ouvir. — Eles eram as melhores pessoas que já conheci. — Wes descansou a
bochecha no topo da minha cabeça.
— Eu sei. Eu trocaria de lugar com ele em um segundo.
Eu me afastei e me recompus, respirando fundo mais uma vez.
— Patrick e Susan queriam que eu casse na la de recepção junto com
a família — disse Wes.
— Eu pensei em car aqui para poder ajudar com a Anna, se você
precisar de uma pausa.
Annalise riu e disse:
— Tio Wes, eu sou a Annalise.
— Anna Lisa? — perguntou ele a ela, com expressão séria.
Ela deu um sorriso mais aberto do que eu a tinha visto sorrir desde que
cheguei aqui, cinco dias atrás.
— Não, é Annalise, tio Wes.
— Ah, Anna Brisa. Entendi agora. — Ele se abaixou e a pegou no colo e
se juntou à la de recepção.
Annalise colocou a cabeça em seu ombro enquanto cumprimentávamos
as pessoas que passavam pela la. Havia centenas. A cerimônia iria durar
quatro horas, mas já estávamos há duas horas nela e ainda havia centenas de
pessoas esperando. Eu queria sair correndo e me esconder em algum lugar.
Tudo o que eu conseguia pensar era em car sozinha para poder chorar.
Mas eu caria ali pelo tempo que fosse necessário. E depois, vestiria
Annalise com o pequeno vestido preto e os sapatos, que alguém da
organização Mavericks tinha sido gentil o su ciente para enviar de uma
boutique local, e iríamos ao funeral de seus pais. De alguma forma, eu sabia
que não havia uma necessidade iminente de sofrer por Ben e Lauren,
porque a tristeza mais pesada estaria lá me esperando. E caria comigo por
muito, muito tempo. O luto é uma vagabunda paciente e potente que eu
conheceria extremamente bem nos dias e meses que estavam por vir.

*
— Você pode acelerar as coisas? — perguntou Susan Whitmer enquanto
segurava Benny nos braços e o embalava no meio da sala lotada. — Nós
temos uma longa viagem pela frente e quero que as crianças possam tirar
uma soneca no avião. Estou tentando manter a rotina de Benny normal.
O advogado de Ben e Lauren, Len Harris, olhou para Susan por cima da
armação escura dos óculos.
— O testamento deve ser lido na íntegra, sra. Whitmer — ele disse.
Revirando os olhos, ela respondeu:
— Ok, se você pudesse ler mais rápido, talvez. — Benny se mexeu e
soltou um chorinho.
— Quer que eu o pegue? — ofereci, me levantando da cadeira na
grande mesa de reunião.
— Não, obrigada, estou bem.
Eu só havia segurado Benny uma vez, e por cerca de vinte minutos, na
semana em que estava hospedada na casa de Ben e Lauren. Susan estava
monopolizando-o, e mesmo sabendo que isso estava ajudando-a a lidar com
a perda, quei um pouco incomodada, porque as pessoas que amavam o
Benny e não o veriam por um tempo não puderam ainda pegá-lo no colo,
dar comida ou conversar com ele.
Len Harris limpou a garganta e continuou a ler:
— Em relação aos cuidados de seus lhos menores, Annalise Hadley
Whitmer e Benjamin Weston Whitmer, a custódia será compartilhada por
Weston J. Kirby e Hadley P. Ellis. O sr. Kirby e a srta. Ellis podem decidir
entre si quem será o guardião permanente dos lhos. Sobre as nanças…
— O QUÊ? — Susan gritou, os olhos arregalados de horror.
Benny se assustou, e seu grito foi o único som na sala. Senti como se
alguém tivesse me dado um tapa. Fiquei sem ar e ligeiramente atordoada.
Encontrei o olhar de Wes do outro lado da mesa e vi que ele estava tão
perplexo quanto eu.
— Patrick, faça algo — suplicou Susan ao marido. — Nós vamos levar
nossos netos para casa hoje.
Len Harris franziu a testa e respondeu:
— Receio que não seja possível, sra. Whitmer. Ben e Lauren deixaram
uma carta para explicar as razões por trás da decisão. Eles também deixaram
cartas para cada um dos lhos e para o sr. Kirby e a srta. Ellis.
— Não me importa quais são as razões deles. Annalise e Benny são
nossa família. Eles são nossos netos. E lutaremos com tudo o que temos por
eles.
— Vocês podem fazer isso — disse Len Harris. — Mas enquanto isso,
Annalise e Benny carão com… — Ele olhou para o papel à sua frente. —
Weston Kirby e Hadley Ellis.
— As crianças nem os conhecem! — gritou Susan. — Isso é loucura! Eu
cuidei de Benny a cada segundo desde que cheguei aqui. — Len Harris
travou o olhar em Patrick Whitmer. Patrick assentiu, a expressão sombria.
Ele se aproximou da esposa e colocou a mão em seu ombro.
— Susan, não temos escolha a não ser cumprir por enquanto.
Ela balançou a cabeça, lágrimas escorrendo pelas bochechas. Eu fechei
os olhos, entendendo sua tristeza e tentando processar o que o advogado
acabara de ler no testamento de Ben e Lauren.
Eu estava esperando que ela tivesse me deixado sua blusa favorita da
UCLA. Talvez algumas fotos nossas ou um de seus vasos favoritos. Quando
me disseram que minha presença era necessária na leitura do testamento, eu
não tinha ideia de que Ben e Lauren estavam deixando os lhos para mim.
Eu travei meu olhar em Wes novamente. Ele parecia um pouco menos
atordoado do que alguns segundos antes.
— Susan, temos que entregá-los a eles — disse Patrick em um tom
persuasivo. — Isso não signi ca que nunca mais veremos Benny e Annalise.
Len Harris interveio.
— Há uma cláusula no testamento que estabelece que você terá as
crianças por duas semanas a cada verão e que poderá vê-las nos feriados.
— Eu não consigo fazer isso — disse Susan, chorando. — Eu não
consigo.
Patrick conseguiu pegar Benny dos braços dela e começou a levá-lo até
Wes.
— Espere! — Susan gritou. — Espera… só um segundo. E se eles não
quiserem? E se Wes e… seja lá qual for o nome dela não os quiserem?
Podemos car com eles então? Nós pagaremos se for preciso.
Len recostou na cadeira, parecendo nem ter considerado a possibilidade.
— Teríamos que revisitar a questão então. — Ele olhou novamente para
o testamento. — Sr. Kirby e srta. Ellis, vocês aceitam a custódia permanente
de Annalise e Benny Whitmer?
Eu aceitaria? Eu nunca tinha imaginado que aquilo fosse possível até
menos de cinco minutos antes. Eu morava em um apartamento pequeno
em Manhattan. Meu mundo inteiro mudaria se eu tivesse Annalise e Benny
comigo. Mas Ben e Lauren queriam que eu zesse isso. Bem, Wes e eu. Eu
olhei para Wes. Ainda não tinha certeza de como isso iria funcionar, mas
provavelmente ele me deixaria cuidar das crianças. Ele era um jogador de
hóquei pro ssional e não tinha tempo para criá-los.
Wes olhou para cima e encontrou meu olhar quando disse:
— Sim. Eu quero car com eles.
— Eu também — eu disse.
O lamento de derrota de Susan doeu.
— Nós vamos contestar essa decisão — ela disse em voz baixa. Ela
parecia exausta. Eu imaginei que com a perda do lho e com os cuidados
com Benny, ela estava esgotada de todas as formas possíveis.
— Nós não vamos excluí-los da vida deles — eu disse, as palavras saindo
automaticamente. — Vocês podem vir visitá-los, e não apenas nos feriados.
— Sim, queremos que vocês continuem na vida deles — disse Wes.
Ele cou de pé, enquanto Patrick entregava Benny para Wes. Wes fez
um trabalho surpreendentemente bom ao receber a criança, segurando
Benny de um jeito bem próximo do que eu sabia que ele gostava de ser
segurado.
— Devo terminar de ler o testamento agora? — Len perguntou.
Ninguém respondeu, mas ele pareceu entender isso como um sim. Wes
e eu descobrimos que a casa de Ben e Lauren estava paga e que ambos
tinham apólices de seguro de vida e economias consideráveis, tudo deixado
para que cuidássemos e passássemos depois para as crianças.
As crianças. Eu agora tinha crianças. Eu entrei nesta sala sem lhos há
uma hora, e agora tinha dois. Eu nunca seria a mãe deles, mas me tornara
responsável por eles de todas as maneiras. Pela criação deles.
Foi tão chocante quanto descobrir que meus amigos haviam partido. O
luto teria de esperar, porque eu estaria ocupada pelos próximos dezoito anos
ou mais.
Wes

Algumas coisas são senso comum. Certi car-se de segurar um bebê para
que ele não role da cama, não discutir quando uma criança de três anos
quer mergulhar o cachorro-quente no suco de maçã e colocar as crianças nas
cadeirinhas do carro. Essas coisas se aprende, não importa o quanto você
seja inexperiente. Por outro lado, ninguém te fala sobre vômitos de longo
alcance, quantos lenços umedecidos verdadeiramente são necessários para
limpar a bunda de um bebê depois de uma explosão de cocô ou em que
temperatura você deve esquentar o leite materno.
Agora eu estava coberto de vômito, xixi e leite materno, Benny estava
nu, e Annalise não parecia impressionada com minha primeira tentativa
solo de ser pai.
— Você está fedido — ela me disse, franzindo o nariz.
— Bem, eu e o grandão vamos tomar banho — disse a ela, pegando
Benny no colo.
— Posso ir junto?
Eu congelei. Tê-la no chuveiro comigo não seria apropriado, mas
também percebi que não poderia deixá-la sozinha. Ela era geralmente bem-
comportada, mas só tinha três anos, então precisava de supervisão.
Bem, adeus, banho.
Jesus, eu estava exausto, e a explosão de cocô de hoje tinha sido épica.
Como membro honorário da família, eu havia trocado as fraldas de Benny e
Annalise ocasionalmente, mas geralmente era apenas xixi, e certamente nada
comparado a essa magnitude. Esse caso havia sido algo completamente
diferente. Eu cometi o erro de abrir a fralda enquanto ele ainda estava
cagando, e então ele jorrou em mim, e eu não estava preparado para isso.
— Tio Wes, estou com fome. Já está na hora do almoço?
O treino da manhã, do jogo que haveria naquele dia, era opcional, então
eu quei em casa com as crianças esperando para tirar uma soneca quando
eles dormissem, mas isso não aconteceu. Era quase uma da tarde, e eu mal
tinha dado o café da manhã para os dois, muito menos o almoço, e eu
estava começando a car sobrecarregado. Não havia modo de conseguir tirar
uma soneca antes de sair para o jogo. Eu estava apenas me mantendo ativo.
Nesse momento, escutei uma batida rápida na porta e alguém me
chamou.
— Wes? — Eu reconheci a voz de Nash.
— Aqui dentro! — eu respondi.
Obrigado, alguém veio. Agora Nash poderia cuidar de Annalise enquanto
eu tomava banho com Benny.
— Oi. — Eu olhei para cima, agradecido.
— Tio Nash! — Annalise deu um sorriso brilhante antes de seus olhos
se arredondarem.
Vindo atrás dele estava o enforcer do time, um enorme sueco chamado
Lars Jansson. Com um metro e noventa e oito, cabelos loiros longos, ele era
um cara tímido e quieto que tendia a se manter sozinho quando estava fora
do gelo. Eu não achava que ele já tinha ido a qualquer uma das festas de
família do time, e Annalise provavelmente nunca o tinha visto pessoalmente
antes.
— É o or — ela sussurrou, os olhos arregalados.
Lars olhou de volta.
— Meu nome é Lars — ele respondeu em seu inglês rígido com
sotaque. — Qual é o seu nome?
— Eu me chamo Annalise. — Ela caminhou até ele, encarou seu rosto e
depois estendeu os braços, indicando que queria que ele a levantasse.
Houve uma breve pausa constrangedora quando Lars franziu a testa e
depois se virou para mim perguntando o que signi cava aquilo. Eu estava
com os braços ocupados com o bebê, então olhei para Nash, que
rapidamente pegou Annalise.
— Lars é um dos defensores dos Mavericks — disse a ela. — Ele está
com um machucado no braço, então não pode te pegar. Mas agora você
pode dizer oi estando na altura dele.
Annalise franzia a testa.
— Seu machucado está doendo? — ela perguntou a Lars.
— Eu não estou… — Lars começou.
— Muito acostumado com crianças — Nash terminou por ele, olhando
para ele. Lars pareceu confuso por um minuto, mas então concordou com a
cabeça.
— Sim, isso mesmo. — Ele se virou para Annalise. — É um prazer te
conhecer.
— Você quer pintar minhas unhas? O tio Wes disse que não sabe como
se faz.
— Er… — Lars hesitou, parecia estar pensando um pouco e depois
concordou. — Sim, eu posso fazer isso.
— Eba! — Annalise se remexeu para que a colocassem no chão e saiu
correndo do quarto.
— Vocês são uns salvadores de vidas! — eu disse a eles. — Vou tomar
banho com o Senhor dos Cagalhões enquanto vocês cuidam da Annalise.
Ok?
— Perfeito. — Nash arqueou as sobrancelhas. — E eu vou explicar para
o Lars que quando uma criança pequena levanta os braços, signi ca que ela
quer que você a pegue no colo.
Eu saí do quarto rindo. Lars tinha muitas peculiaridades por causa de
alguns transtornos com os quais ele precisava lidar. Nós estávamos
acostumados, mas seria difícil explicar para Annalise que ele não gostava de
ser tocado e às vezes era muito literal. Mas Lars concordou em pintar as
unhas dela, o que lhe renderia muitos pontos, já que eu havia dado um
monte de desculpas quando ela me pediu. Eu faria uma bagunça se tentasse,
e francamente, de onde tiraria tempo? Eu quei ocupado desde que o
Benny me acordou pouco antes das seis. Alimentar, trocar fralda, fazer café
da manhã para mim e para Annalise e nos vestir levaram três horas. Eu
estava tão distraído, que esqueci de levá-la para a escola.
Benny estava com a cabeça no meu peito enquanto eu entrava debaixo
da água quente do chuveiro. Deixei a água cair sobre nós, e ele pareceu
relaxar, então camos assim por um tempo, deixando a água fazer a maior
parte do trabalho de nos limpar. Ele era tão pequeno e inocente, e eu não
tinha ideia de por que diabos Ben tinha pensado em deixar seus lhos aos
meus cuidados. Como eu ia fazer isso? Mesmo com Hadley ajudando, eu
tinha sérias dúvidas sobre nossa capacidade de criar essas crianças. Talvez
devêssemos ter deixado Patrick e Susan levá-las. Os pais de Ben eram
pessoas boas. Eu os conhecia há anos, e até a leitura do testamento,
tínhamos um bom relacionamento.
Botei um pouco de sabonete líquido na minha mão e nos ensaboei o
melhor que pude, já que só tinha um braço livre, e nalmente saí do
chuveiro. Com Benny calminho, eu o sequei com a toalha, vesti um
moletom limpo e fui para o quarto dele colocar uma fralda antes de colocá-
lo para dormir.
— Como você está? — Nash tinha entrado no quarto do bebê atrás de
mim, e eu olhei por cima do ombro.
— Quer a verdade?
— Claro.
— Isso é a coisa mais difícil que já z na minha vida.
— Quando Hadley volta?
— Daqui a três dias — respondi.
— Quanto tempo ela precisa para fazer as malas? — ele perguntou.
— Bem, não é como se ela estivesse arrumando só uma mala. Ela tem
que empacotar todos os pertences, ligar para a empresa de mudança e
cuidar de praticamente tudo antes de se mudar para outro estado. Estou
surpreso que ela esteja fazendo isso tão rápido, até porque ela precisa voltar
antes que a gente vá viajar.
— Eu ainda não consigo acreditar que os pais do Ben não quiseram car
para ajudar nessa primeira semana — murmurou Nash. — Tipo, nós já
saímos com eles mais de uma vez e eles sempre foram tão legais.
— Eles estão de luto — eu disse em voz baixa, tentando segurar as
pernas de Benny enquanto ele chutava e se remexia, me impedindo de
colocar a fralda. Botei a mão em sua barriga enquanto olhava para Nash. —
Não podemos culpá-los por nada agora.
— Você acha que eles vão brigar pela guarda?
— Tenho certeza disso.
Nash parecia querer dizer mais alguma coisa.
— Fala logo — eu disse a ele.
— Você tem completa certeza de que quer seguir com isso? — Ele fez
um gesto amplo com a mão. — Quero dizer, isso é bastante coisa, cara.
— Mas é o que o Ben e a Lauren queriam — eu disse em voz baixa. —
Como eu posso não tentar? E mesmo que eu nunca tenha pensado em ser
pai deles, eu amo essas crianças.
— Eu sei. — Nash colocou uma mão no meu ombro. — E eu estou
aqui contigo. Qualquer coisa que você precisar, é só me ligar.
— As coisas vão ser mais fáceis quando a Hadley chegar.
— Você acha? — Ele xou os olhos nos meus, porque todo mundo
sabia que Hadley e eu éramos como água e óleo. Brigávamos
constantemente sempre que estávamos no mesmo ambiente.
— Não temos escolha — eu disse.
— É, acredito. Cara, cuidado!
Eu olhei para baixo no momento certo em que um jato de urina subia,
encharcando minhas calças limpas, meu braço, o trocador e o pijama que
tinha acabado de colocar na criança. Olhei para baixo a tempo de ver Benny
me dar um enorme sorriso sem dentes, como se estivesse espetacularmente
orgulhoso de si mesmo.
Ia ser uma tarde longa pra caramba.

*
Eu ia chegar atrasado para o casamento. Olhei para o mar de luzes
vermelhas dos freios e buzinei impacientemente, encarando com frustração o
engarrafamento de dez carros à minha frente. Lauren e Hadley iam me matar, e
tudo isso era culpa do Ben. Não que eu fosse prejudicar meu melhor amigo no
dia do casamento dele, mas como diabos essas coisas aconteciam conosco?
Na próxima saída, saí da rodovia e ziguezagueei por várias estradas
secundárias, acelerando em áreas escolares e nas áreas residenciais porque estava
cando sem tempo. Se tivessem que atrasar o casamento porque o padrinho não
tinha aparecido, eu ia ser lembrado disso o resto da vida. Pressionei mais o pedal
do acelerador.
Depois do que pareceu uma eternidade, derrapei no estacionamento da
igreja, desliguei o carro e corri para dentro.
— Onde você estava? — Nash questionou, me encontrando assim que passei
pela porta. — O Ben está prestes a ter um ataque cardíaco.
— Houve um acidente na rodovia. — Eu ofeguei enquanto alisava as
lapelas do meu terno e respirava fundo.
— Você trouxe as alianças?
— Sim. — Eu bati no meu bolso. — Puta merda, eu preciso de uma
garrafa de água. Estou morrendo aqui.
— Eu vou pegar uma para você. Acho que eles estão prestes a começar tudo.
Você chegou literalmente na hora certa.
— Obrigado, cara.
Eu havia acabado de voltar a respirar normalmente quando a ouvi. Ah,
sim, Hadley estava me esperando, então eu me preparei antes de me virar
lentamente.
— Até que en m. — Ela estava caminhando pelo corredor na minha
direção, gostosa pra cacete, com um vestido justo de dama de honra, mas foi a
expressão em seu rosto que me fez começar a suar novamente. Jesus, ela estava
irritada, e como eu não podia dizer a ela que foi Ben quem esqueceu as
alianças, eu teria de aguentar o tranco.
— Houve um acidente… — comecei.
— Nem vem. Essa é a desculpa mais esfarrapada do mundo, Kirby. Você
entende que é o dia do casamento deles, certo? E que o mundo não gira em torno
do seu umbigo.
— Eu sei disso! — eu exclamei. — Eu não posso controlar o trânsito,
senhorita. Dá um tempo, vai?
— Lauren estava em pânico, e é meu trabalho manter tudo correndo bem.
Você quase arruinou tudo sozinho!
— Bem, se você tem o poder de controlar o trânsito, deveria ter dado um
jeito!
Virei as costas para ela e segui em direção à sala onde Ben e o restante dos
padrinhos estavam esperando, mas ela não parava. Seus saltos faziam um toc-
toc-toc no chão enquanto ela me seguia.
— Ok, beleza — eu disse, aumentando a velocidade e esperando que ela
fosse embora. — Eu me atrasei, mas agora estou aqui e está tudo bem.
— Eu realmente não entendo como alguém tão con ável e gente boa como o
Ben tem você como melhor amigo.
— E eu não consigo entender como alguém tão doce e atenciosa como a
Lauren tem uma megera como melhor amiga. — Eu abri a porta do local onde
os outros caras estavam, entrei e então fechei a porta na cara dela. Isso
provavelmente a deixou ainda mais irritada, mas eu precisava me acalmar um
pouco antes de começarmos a cerimônia.
Ben encontrou meu olhar do outro lado da sala e gesticulou com a boca um
“obrigado”.
— Você me deve uma — respondi.
— Hadley acabou contigo?
— Ah, com certeza.
— Eu vou contar para ela o que aconteceu e…
— Esquece. Você é o noivo. Não precisa pensar em nada além daquela linda
mulher que está prestes a se casar com você. Eu posso assumir essa
responsabilidade e lidar com Hadley.
Nash riu enquanto me entregava uma garrafa de água gelada.
— Do meu ponto de vista, você não consegue lidar com ela de jeito
nenhum.
— Só o som da voz dela faz meu pau encolher — eu admiti.
— Vocês dois são de nitivamente como água e óleo — Ben disse,
balançando a cabeça. — Mas, sério, ela trabalhou demais para fazer este dia ser
perfeito para a Lauren e para mim, então pega leve com ela. Ela não sabe a
verdadeira razão pela qual você chegou atrasado, o que a faz pensar que você
não está levando o dia a sério.
Eu bebi toda a garrafa de água e a joguei no lixo de reciclagem.
— Olha, já passou. Vamos fazer o que precisa ser feito.
Ben levantou o punho e bateu no meu.
— Obrigado de novo — ele disse baixinho. — Você salvou minha pele.
— É para isso que servem os amigos, né?
— Você e eu até o m. — Ben me puxou para um abraço rápido, dando
tapinhas nas minhas costas.
— Com certeza.

*
O vestiário é um lugar sagrado. Como equipe, quando estamos nesse
espaço, de certa forma é ainda mais importante do que quando estamos no
gelo. É lá que conversamos, planejamos, bolamos estratégias, rimos,
choramos e nos unimos. A vibração é diferente de quando estamos no meio
do jogo, porque a interação um a um não é apenas relacionada ao hóquei;
hoje o vestiário estava quieto, a energia usual de antes do jogo estava
notavelmente ausente. Em vez de brincadeiras e discussões leves, a maioria
dos caras estava olhando para baixo ou encarando o nada. Parecia um
velório.
A liga havia adiado nosso último jogo por causa do funeral, e mesmo
que tivéssemos acabado de enterrar nosso capitão da equipe, o show, por
assim dizer, tinha de continuar. O diretor de relações públicas dos
Mavericks tinha barrado a imprensa antes do jogo de hoje à noite, para que
o público não pudesse ver como estávamos lidando com nosso luto, mas
isso não tornava as coisas mais fáceis.
Como capitão substituto, juntamente com Nash, muita da
responsabilidade de levantar o ânimo de todos cabia a mim, já que Nash
geralmente lidava com questões no gelo, como, por exemplo, reclamar com
os árbitros. O problema era que eu não tinha mais energia emocional. Eu
estava lutando contra uma onda de luto tão intensa, que às vezes era difícil
respirar, e depois de passar o dia inteiro apagando um incêndio após o outro
relacionados às crianças, estava sicamente e mentalmente exausto.
Não havia nada parecido com hóquei ali. Se lutava contra tudo – lesões,
luto, drama familiar, qualquer coisa que fosse. Não tínhamos a opção de
descansar em janeiro. Também estávamos tendo uma temporada incrível,
liderando a liga em vitórias, pontos e gols marcados. Se pudéssemos vencer
mais uma, quebraríamos o recorde de dezessete vitórias consecutivas de
Pittsburgh, mas eu não sabia como faríamos isso em uma noite como essa.
Droga, eu não sabia de nada. Eu não sabia como sobreviver sem meu
melhor amigo. Eu não sabia como diabos criaria aquelas duas crianças. E
realmente não sabia como iria para o gelo todas as noites tentando liderar
essa equipe como ele fazia – porque ninguém podia fazer isso. Ben era um
pacote completo. Inteligente, habilidoso e um líder em todos os sentidos da
palavra. Ele conseguia orientar os novatos, se conectar com os veteranos e
acalmar um cara em um período de baixo rendimento. Até os árbitros o
amavam.
Eu não tinha a paciência nem as habilidades sociais de Ben, então, se
por um lado eu era um líder por causa da minha capacidade de marcar gols
e da minha experiência, por outro não lidava tão bem com as conversas
sérias cara a cara com os colegas de equipe. Para ser honesto, provavelmente
conseguiria fazer isso, mas nunca estive em uma situação em que precisasse.
Até esse momento.
— Escutem, rapazes — Nosso treinador, Malcolm “Cinzento” Gizzard,
entrou e fechou a porta atrás de si. Ele coçou a barba longa e peluda que lhe
deu o apelido e olhou ao redor, soltando um longo suspiro. — Não tenho
um discurso motivacional para vocês esta noite. Não tenho dicas de jogadas
ou ameaças ou promessas. Basicamente, tudo o que tenho são fatos. Fato
um. Estamos em uma sequência de dezessete vitórias e vamos quebrar o
recorde de Pittsburgh se pudermos vencer esta noite. Fato dois. Estamos em
primeiro lugar geral na liga por um bom tempo, o que é promissor para
nossas chances de chegar aos playo s. Eu não sei como passar por este jogo,
o primeiro sem o Ben. Então tudo o que vou dizer é: joguem por Ben.
Joguem com intensidade. Joguem com inteligência. Vão com tudo. Não
deixem todo o ruído de fundo entrar em suas cabeças. Agora vamos.
Todos nós nos levantamos, mas havia um peso forte nos arrastando para
baixo. Eu podia ver na maneira como os caras se moviam, as expressões
desanimadas em seus rostos, até mesmo na linguagem corporal. Era um
re exo do meu próprio humor, então eu entendia, mas isso não era bom
para a moral da equipe. Tínhamos muito em jogo, tanto pessoal quanto
pro ssionalmente, e não podíamos apenas desistir assim fácil. Ben caria
puto.
— Ok, vamos dar um gás, pessoal! — eu chamei enquanto seguíamos
pelo túnel em direção ao gelo para o aquecimento. — Vamos lá!
Eu senti uma pequena faísca de excitação quando meus pés tocaram o
gelo, mas quando olhei em volta e percebi que Ben não estava mais, a onda
inesperada de tristeza me fez tropeçar.
Merda.
Isso não ia acabar nada bem.
E não acabou.
Não apenas perdemos, perdemos espetacularmente. 8-0. Nossa
sequência de vitórias havia acabado e estávamos todos desanimados quando
voltamos para o vestiário. A imprensa estava nos esperando, e mesmo que
fosse uma coisa merda de se fazer, eu fugi e fui tomar banho, deixando a
responsabilidade para Nash e para os outros. Eu me senti um covarde, então
fugi novamente quando terminei de me vestir e fui para casa. Talvez em
alguns dias eu pudesse lidar com tudo, mas a ideia de ser questionado sobre
Ben e explodir em lágrimas diante das câmeras era mais do que eu poderia
suportar.
Entrei pela garagem e fui procurar a esposa do meu companheiro de
equipe, Nina Laughlin. Ela tinha oferecido ajuda esta semana, até que
Hadley chegasse, e eu a encontrei lendo uma revista no sofá da sala. Ela
olhou para cima quando entrei e me deu um sorriso largo.
— Noite difícil, né?
— Sim. — Eu suspirei. — Como estão as crianças?
— Elas estão na cama. Eu precisei ler seis histórias de ninar para a
Annalise e deitar com ela até que pegasse no sono. O Benny já está
dormindo desde as oito, então provavelmente vai acordar de novo à meia-
noite.
— Sim. — Eu dei a ela um sorriso fraco, mas grato. — Obrigado
mesmo por cuidar das crianças esta noite.
— Lauren era minha melhor amiga aqui em St. Louis. Ela me mataria
se eu não estivesse aqui por você e pelas crianças.
— Bem, eu aprecio seu carinho.
— Ok, então temos algumas coisas para discutir. — Ela pausou. — Só
tem leite materno su ciente para mais ou menos dois dias. Lauren estava
planejando começar a desmamar Benny em breve, então ela não bombeou
muito.
— Sério? — Eu tinha estado tão focado em passar por essa semana, que
não tinha prestado atenção em quanto havia no congelador. — Isso é
ótimo. Então a única coisa que preciso fazer é criar seios em mim mesmo?
Ela riu, mas sem humor.
— Não, mas você vai ter que fazer a transição para a fórmula. Ele está
acostumado com a mamadeira, graças a Deus, então será apenas uma
questão de encontrar a fórmula certa que não o deixe com o estômago
irritado. Eu tenho sugestões, mas talvez você queira ligar para o pediatra…
— Jesus.
Eu sabia trocar fraldas, pentear o cabelo da Annalise e dar banho nas
duas crianças, mas não tinha ideia desse tipo de coisa. Fórmula, alimentação
e leite materno. Era um pesadelo.
— Eu sei que é difícil — ela disse com suavidade. — Mas Hadley estará
de volta em breve, e eu estou aqui. Nós te damos cobertura. Eu, Drew, o
time, as outras esposas. Tudo o que você precisa fazer é nos ligar. — Seu
marido, Drew, era nosso goleiro titular.
Eu estava grato por ela e pelos outros, mas não estava pronto para
abandonar a fantasia de que Ben e Lauren voltariam. Que aquilo tudo não
tinha sido nada além de um pesadelo.
Porque eu realmente, realmente, queria acordar.
Hadley

Café. Café melhoraria tudo.


Eu continuava me dizendo isso enquanto trocava Benny, tirando o
macacão molhado dele e colocando uma fralda seca e uma roupa limpa
antes de ir dar mamadeira, tudo enquanto respondia às perguntas
incessantes de Annalise sobre o que seus pais estavam fazendo no céu esta
manhã.
Eu havia voltado para St. Louis ontem à noite depois de encaixotar todo
o meu apartamento, cuidando de tudo dia e noite enquanto estava lá e
dormindo apenas algumas horas por dia. Eu vendi a maior parte dos meus
móveis, levei algumas coisas para a garagem de armazenamento de uma
pessoa amiga minha e depois viajei no Cadillac Escalade do Ben, que eu
tinha levado para Nova York para poder enchê-lo com minhas coisas.
Todos os dias desde que Ben e Lauren morreram haviam sido exaustivos
e repletos de emoção. Eu não estava apenas deixando meu apartamento
quando cheguei na garagem da casa suburbana chique deles ontem, mas
minha vida. Não passou um único dia desde a morte deles em que eu não
chorava e me perguntava se realmente conseguiria fazer aquilo tudo. Se eu
realmente poderia viver essa nova vida. Minha chefe havia concordado
relutantemente em me deixar trabalhar remotamente por enquanto, mas,
sério… trabalhar? Mesmo que eu pudesse encontrar tempo entre cuidar de
duas pessoas, como eu iria selecionar propostas de escritores sobre textos
relacionados a fazer suas próprias unhas ou simpli car sua vida? Eu não
tinha foco e estava exausta.
— Existe dança no céu? — Annalise me perguntou enquanto
entrávamos na cozinha e eu colocava Benny em sua cadeira alta, apertando
o cinto de segurança e colocando alguns brinquedos na bandeja.
— Com certeza. Lá se dança a hora que quiser, e canta também.
— A qualquer hora? — Annalise sorriu alegremente.
— A qualquer hora.
— Depois da hora de dormir?
— Sim. — Eu acariciei seus cachos escuros. — Você pode sair da cama
e dançar no céu se quiser, e pode aumentar a música o quanto quiser.
— Mamãe e papai estão dançando?
Eu fui até a cozinha pensando em como Ben e Lauren adoravam dançar.
Coloquei café moído em um ltro, fechei a tampa da cafeteira e apertei o
botão que salva vidas ao ser acionado.
— Com certeza. Sua mãe adorava dançar. — Uma onda de tristeza me
inundou enquanto as memórias passavam pela minha mente, mas eu não
deixei transparecer. — Me lembra de te mostrar o vídeo do casamento,
quando os dois dançaram juntos pela primeira vez depois que se casaram.
Foi muito romântico.
— O que é “lomântico”, tia Hadley?
Wes entrou na cozinha vestindo apenas uma cueca boxer preta, com o
cabelo apontando para todas as direções. Ele era todo grande e musculoso, e
embora eu não pudesse suportá-lo na maior parte do tempo, tive de me
forçar a desviar o olhar. Eu não podia ser pega babando em Wes. Ele nunca
deixaria isso passar.
— Bom dia — disse ele, coçando o traseiro enquanto abria a geladeira e
olhava lá dentro.
Fazendo uma careta, eu disse:
— É basicamente tudo que seja o oposto do tio Wes.
— Como é? — ele perguntou, o olhar passando de mim para Annalise.
— Nada — murmurei. — E você poderia por favor colocar uma roupa?
Ele olhou para baixo e depois de volta para mim.
— Eu estou de cueca. Só vou pegar algo rápido para o café da manhã
antes de tomar banho e sair para a minha viagem.
Sua viagem. Eu ainda estava irritada com isso. Não só por Wes car fora
pelas próximas quatro noites, mas também porque tinha insistido que seu
corpo precisava de uma boa noite de sono e se refugiado no quarto de
hóspedes na noite passada, me deixando sozinha para cuidar das duas
crianças quando eu mal conseguia manter os olhos abertos. Os dentes de
Benny estavam nascendo, o que o deixou irritadiço, então foi uma noite
longa.
— Eu quero Froot Woops, tio Wes! — Annalise gritou, correndo em
direção a Wes enquanto ele retirava uma grande caixa vermelha de um dos
armários da cozinha.
— Vou preparar — disse ele, entregando a caixa para ela. — Segura isso,
eu vou pegar tigelas e colheres para nós dois.
Levei um segundo para recuperar o fôlego e formar uma resposta
coerente diante do que estava vendo.
— Não há possibilidade de haver uma caixa de Froot Loops em um dos
armários da Lauren — disse, balançando a cabeça.
— Eu e a Annalise fomos às compras enquanto você estava fora —
respondeu ele, colocando um galão de leite na mesa e indo para outro
armário pegar as tigelas.
— Mas… a Lauren alimenta… — Fechei os olhos e me corrigi. — Ela
alimentava as crianças com uma dieta orgânica, sem açúcares
industrializados. Ela fazia purê e conservava a própria papinha para bebês.
Wes deu de ombros.
— Eu dei as bananas e ervilhas para o Benny como deveria, mas
Annalise e eu também precisávamos comer. Você queria que a gente passasse
fome ou começasse a comer papinha para bebês também?
— Isso é açúcar puro. Fora o corante, que vai acabar te matando.
— Matando? — Annalise me olhou em pânico. — Que nem mamãe e
papai?
Droga. Por que não pensei antes de falar isso?
— Não, querida — disse, me abaixando para car na altura dela. — Eu
quis dizer é que tem um negocinho nos Froot Loops que os deixa coloridos.
Annalise imediatamente se animou e disse:
— Eu gosto dos roxos!
Eu lancei um olhar culpado para Wes e disse:
— Agora eu viro a vilã se não a deixar comer isso.
— Então deixe ela comer — Ele me olhou, parecendo irritado.
— Quando você vai sair?
— Depois de comer e tomar um banho.
— Quando vocês foram fazer compras, trouxeram algo para Annalise
levar para o lanche da escola? O calendário da Lauren na despensa diz que
hoje é o dia dela levar um lanche para a turma, são doze crianças.
— Eu vou levar o lanche? — perguntou Annalise, parecendo satisfeita.
— Eu adoro levar o lanche.
— Eu nem olhei para o calendário — disse Wes, parecendo
despreocupado.
— É claro que não — murmurei entre dentes.
— Ei, Capitã Crítica, eu quei cuidando das crianças enquanto você
estava fora por quatro dias. As crianças comeram e brincamos e estão…
praticamente limpas.
— Eu tomei banho de maiô, tia Hadley! — disse Annalise, sorrindo. —
O tio Wes disse que não é aplopliado ele me ver nua.
— É apropriado, pequena — disse Wes, ajudando-a a servir Froot Loops
em sua tigela.
— Nem pense em deixar o Benny experimentar essas coisas — eu avisei
a Wes. — Eu vou fazer a aveia dele.
Benny estava choramingando um pouco, e eu esperava que tomar o café
da manhã ajudasse. Fui até a despensa, onde encontrei a papinha que tinha
visto Lauren dando a ele quando a visitei no Natal, e misturei com um
pouco do pouco leite materno que tínhamos na geladeira.
Pequenas coisas me abalavam, como car sem leite materno. A última
coisa que Lauren tinha conseguido fazer pelo lho nesta vida estava quase
acabando.
Misturei a papinha e aqueci no micro-ondas por cerca de quinze
segundos, aliviada por ter visto Lauren preparando para ele antes. Caso
contrário, não teria a menor ideia do que fazer. Estava levando até a mesa
para sentar ao lado da cadeirinha do Benny quando lembrei que tinha
esquecido de trazer um pano úmido para limpá-lo depois.
Voltei até a pia da cozinha para pegar um, e Annalise disse:
— Tia Hadley?
— O que foi, querida? — perguntei, me virando para olhá-la.
— Eu acho que Benny cagou nas calças. Ele está fedido.
Minha boca se abriu em choque, e meu olhar se concentrou em Wes.
— Você está brincando comigo? Você tem usado esse palavreado na
frente dela? Porque eu sei que Ben e Lauren nunca zeram isso.
Ele parecia um pouco envergonhado quando disse:
— É, com certeza é minha culpa. Estou me esforçando para melhorar
isso.
Eu estava furiosa por dentro, mas não queria perturbar as crianças,
então apertei os lábios e contei até dez. Quando Wes e eu pudéssemos ter
uma conversa privada, eu ia mostrar a ele quantas palavras feias eu conhecia.
Ele estava levando toda essa situação com seu estilo despreocupado de
jovem universitário. Sete anos, e nada havia mudado. Wes ia com a maré e
levava as crianças no modo como ele fazia as coisas, em vez de fazer as coisas
da maneira que Ben e Lauren teriam desejado. Daqui a pouco, ia acabar
ensinando as crianças a jogar pôquer e a abrir garrafas de cerveja.
Não era uma competição – mas eu deveria car com a guarda total de
Annalise e Benny. E, para manter meu emprego, eu precisaria levá-los para
Nova York. Eu não queria perturbar a rotina das crianças fazendo isso de
imediato, mas sabia que era o que o futuro reservava.
— Vou tomar banho — disse Wes, levantando-se da mesa e colocando
sua tigela de cereal no balcão da cozinha, com a colher ainda dentro.
Ótimo. Então eu deveria trocar a fralda de Benny. Wes poderia pelo
menos ter oferecido ajuda. Eu cuidaria de tudo das crianças sem objeção,
mas aquela tigela e colher ainda estariam no balcão quando Wes voltasse
dali a quatro dias. Não havia chance de eu limpar.

*
Nina Laughlin riu do outro lado da linha.
— Tem certeza disso? Fazer compras já é uma tarefa e tanto sem uma
criança de três anos e um bebê junto. Por que você não me deixa ir até aí
para cuidar deles para que você possa descansar? Bem, pelo menos o tanto
de descanso que você pode ter fazendo compras.
— Agradeço, de verdade, mas Benny e eu já estamos arrumados e a
caminho. Vamos buscar Annalise na pré-escola e depois comprar comida.
Nina me passou seu número de celular depois que a notícia de que Wes
e eu caríamos com a guarda das crianças se espalhou; ela me disse que eu
poderia ligar para ela a qualquer momento, dia ou noite, para qualquer
coisa. Ela me ligava diariamente para checar como estava tudo, e até aquele
momento, era a minha primeira conversa de adulto do dia.
Bem, sendo sincera, teve a conversa com Wes pela manhã, mas ele era
apenas cerca de três quartos de um adulto.
— Eles te disseram como funciona a la para pegar as crianças na pré-
escola? — ela perguntou. — Você não precisa entrar e assinar a saída.
Apenas que no carro e entre na la pela entrada circular, e eles vão levá-la
até você.
— Não, eu não sabia disso, mas obrigada. Isso vai ajudar, porque o
Benny está prestes a dormir.
Eu olhei no espelho retrovisor e vi suas bochechas redondas e o tufo de
cabelo escuro re etidos no espelho que Lauren havia colocado na
extremidade da cadeirinha virada para trás de Benny. Genial.

É
— É horrível carregar um bebê-conforto para dentro da escola só para
buscar outra criança, especialmente no frio — disse Nina.
Ela e o marido, Drew, tinham dois lhos, um de oito e outro de dez
anos. Era ótimo ter ajuda de uma mãe experiente e, ainda melhor, uma boa
amiga de Lauren por perto.
— Eu z isso esta manhã e foi péssimo — eu disse, rindo. — Annalise
levou o lanche da turma hoje, então eu comprei cupcakes chiques de uma
padaria. Eu estava preocupada que ela não conseguisse equilibrar a mochila
e os cupcakes, então carreguei tudo.
Nina soltou um pequeno gemido de preocupação.
— Droga, eu deveria ter te avisado que a escola não permite nenhum
alimento assado, a menos que seja certi cado como livre de nozes e
amendoim.
— Ah, caralho, sério? — Eu me encolhi ao perceber o que eu tinha dito
e me desculpei. — Desculpa o palavreado.
Ela riu.
— Não se preocupa. Meu marido fala como um estivador, e geralmente
eu também. Eu estava tentando controlar porque não sabia o que você
pensava a respeito disso.
Fiquei um pouco culpada. Tinha acabado de dar uma bronca em Wes
esta manhã por algo que eu mesma z. Mas eu de nitivamente assumiria
que era diferente xingar perto de um bebê, que não podia entender o que eu
estava dizendo. Pelo menos, eu esperava que fosse.
— Eu vou ter que aprender a controlar minha língua na frente das
crianças — eu disse a Nina.
— Bem, você está fazendo o seu melhor, então pega leve consigo
mesma. A escola costuma ter lanches extras caso alguém esqueça de trazer,
então não se preocupe com isso.
— Bom saber, mas Annalise estava animada com aqueles cupcakes do
Baby Yoda.
— Vocês podem levar os cupcakes para casa. O que acha de eu levar o
jantar e uma garrafa de vinho hoje à noite? Cupcakes e uma taça de vinho
de sobremesa. E se você precisar tomar um banho ou algo assim, eu posso
tomar conta das crianças.
Eu sorri.
— Seria bem legal, obrigada.
— Sem problemas. E você tem certeza de que quer levar as crianças para
o supermercado? Você pode deixá-las aqui se quiser.
— Não, eu me viro. Eu estou acostumada com supermercado. Quão
difícil pode ser levá-los comigo e deixá-los no carrinho?

*
Foi difícil. Realmente difícil pra cacete.
Não tinha imaginado que com o assento de Benny dentro do carrinho e
Annalise sentada na frente, eu não teria espaço para as compras. Tive de
fazer Annalise caminhar ao meu lado, e ela parava e perguntava sobre cada
coisa que via.
Benny vomitou em cima de si mesmo enquanto eu acrescentava itens de
maneira descuidada no carrinho.
— Essa porra é orgânica ou não? — eu disse baixinho, tentando ler a
letra miúda em uma caixa de biscoitos de bebê.
Foda-se. Benny estava sentado em seu próprio vômito, e eu precisava
levá-lo para casa e dar um banho nele. Eu joguei a caixa no carrinho e fui
para o caixa, onde descobri, depois que tudo tinha sido registrado, que eu
tinha deixado minha carteira no carro.
Eu levei as duas crianças comigo para pegá-la e voltei para pagar, suando
como se tivesse acabado de completar uma aula intensa de spinning. Eu
olhei para a caixa, que gentilmente teve pena de mim e me disse que eu
poderia puxar o carro até a entrada da loja, que eles carregariam as compras
para mim.
Quando cheguei em casa, dei uma rápida enxaguada em Benny e
troquei suas roupas, dei comida e o coloquei para dormir; eu estava exausta.
E ainda tinha de arrumar tempo para brincar com Annalise. Eu
praticamente saí correndo em direção à porta quando Nina chegou por
volta das cinco horas, trazendo comida de um restaurante italiano para
todos nós. Havia lasanha, espaguete, salada e pão de alho.
— É seu estômago? — ela perguntou, me dando um sorriso divertido
quando meu estômago roncou em resposta aos aromas divinos de alho e
molho à bolonhesa.
— Eu não comi nada o dia todo — admiti.
— Ah, querida. — Ela me deu um olhar de compaixão. — Sirva-se. Eu
dou comida para as crianças.
— Tem certeza?
— Tenho.
Ela passou a noite conosco, alimentando as duas crianças e dando banho
nelas; depois leu para Annalise e a colocou para dormir enquanto eu me
concentrava em Benny. Então conversamos enquanto bebíamos vinho e
comemos o que sobrou dos cupcakes do Baby Yoda.
Wes mandou mensagem depois do jogo para saber como as coisas
estavam, e eu me senti culpada quando respondi que tudo estava bem. Eu
tinha brigado com ele esta manhã por causa do Froot Loops e depois deixei
Annalise comer dois cupcakes e meio esta noite.
Como Lauren conseguia fazer tudo isso? Eu queria muito criar seus
lhos do jeito que ela fazia, com comida natural e atividades saudáveis, mas,
até aquele momento, atender às suas necessidades básicas estava me
consumindo por inteira.
Wes

Novo dia, nova derrota. Tínhamos perdido todos os jogos desde a morte do
Ben, e eu estava irritado pra caramba durante o caminho de casa. A boa
notícia era que esse tinha sido o último jogo antes da pausa do All-Star
Game, então eu teria um pouco de tempo para respirar. Talvez até mesmo
para lamentar. A má notícia era que isso signi cava estar com a Hadley
vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, algo pelo qual eu não
estava particularmente ansioso. Nós mal tínhamos nos visto desde que ela
havia se mudado, mas Hadley já estava sendo mandona e crítica o
su ciente, como se eu tivesse traumatizado as crianças para a vida toda ou
algo do tipo.
Eu precisava prestar atenção no meu modo de falar, mas, além disso, eu
achava que tinha feito um bom trabalho, considerando que não tinha ideia
do que estava fazendo. Claro, Hadley encontraria uma maneira de arruinar
tudo, não havia dúvida disso. Ela me encheu o saco desde a primeira vez
que nos vimos, e embora isso tenha me feito rir ao longo dos anos, agora era
diferente. Tínhamos de encontrar uma maneira de trabalhar juntos, morar
juntos e criar essas crianças juntos. Porque jamais deixaria que Hadley
casse sozinha com elas. Eu podia não saber todos os detalhes sobre como
criar crianças, mas sempre planejei ter uma família um dia e queria fazer
absolutamente tudo que pudesse pelas crianças do Ben.
Acordei um pouco depois das sete da manhã e ouvi barulho lá embaixo,
então imaginei que todo mundo já estaria acordado também. Senti uma
pontada de culpa por não ter colocado o despertador para tocar, e como
tinha fechado a porta do quarto de hóspedes, não tinha ouvido nada que
me acordasse. Hadley e eu precisávamos conversar sobre tudo isso.
Saí do quarto de hóspedes e encontrei Hadley na sala de estar, andando
de um lado para o outro, Benny choramingando em seus braços.
— O que houve? — eu perguntei a ela.
— Os dentinhos estão nascendo — ela disse, sem olhar para cima. —
Ele está incomodado desde ontem à noite. Eu estou com ele desde quatro
da manhã.
— Por que você não me acordou?
Ela deu de ombros.
— Você teve jogo e chegou ontem de viagem. Achei que precisava
dormir.
— Eu precisava mesmo. Obrigado. Eu vou car de plantão hoje à noite.
— Isso seria ótimo. Eu sinto como se não dormisse há semanas.
Benny começou a choramingar, e eu estendi a mão para acariciar sua
bochecha com o dedo.
— Não podemos dar a ele um Tylenol infantil ou algo assim?
Ela mordeu o lábio.
— Eu não quis fazer isso até poder conversar com o pediatra.
— Eu tenho certeza que eles zeram isso com a Annalise, porque eu
costumava rir das caras que ela fazia quando a Lauren colocava aquela coisa
na boca dela.
— Você sabe se temos em casa?
— No alto do armário no banheiro principal.
Ela pareceu surpresa que eu soubesse disso, mas entregou Benny para
mim e foi até lá. Benny se acomodou contra o meu peito, fungando um
pouco. Eu tinha esperança que o Tylenol o ajudaria a relaxar, assim nós
poderíamos ter algum tempo para preparar o café da manhã. Ele ainda não
dormia mais do que seis ou sete horas direto, então eu estava tentando
mantê-lo acordado até cerca de onze ou meia-noite. Dessa forma,
poderíamos dormir até por volta das seis, que era quando Annalise
costumava acordar, mas eu não tinha ideia do que Hadley fazia enquanto eu
estava fora.
— Você tem cado com ele acordado até um pouco mais tarde? — eu
perguntei a ela. — Isso realmente ajuda quando…
Hadley me encarou com um daqueles olhares que provavelmente faziam
os testículos da maioria dos homens encolherem e se esconderem tanto, que
nunca mais seriam vistos, mas depois ela encheu o pequeno recipiente que
se usa para colocar remédio na boca de um bebê.
— O horário de dormir dele é às sete — ela disse prontamente. Depois
me entregou o conta-gotas do medicamento.
Eu a olhei com exasperação.
— Certo. Então você começa o dia às duas da madrugada as porcarias
dos dias todos.
— O quê? — ela perguntou com impaciência, estreitando os olhos.
Benny aproveitou esse momento para virar a cabeça enquanto eu
tentava dar o remédio, o líquido rosa pegajoso escorreu pelo meu braço.
— Você pode segurar a cabeça dele? — eu perguntei. — Se ele não
tomar isso, ninguém vai dormir novamente até que ele tenha a dentição
completa.
Finalmente conseguimos colocar a quantidade adequada na boca dele, e
eu z o meu melhor para limpar o remédio que escapou.
— Se você o mantiver acordado até mais tarde, ele dormirá até mais
tarde. Ele dorme cerca de sete horas de cada vez, no máximo, então se você
o colocar para dormir às sete, ele acordará às duas.
— Mas Lauren disse que ele era um dorminhoco — Hadley disse, de
repente olhando para longe.
— Talvez ele esteja reagindo à nova rotina, novas pessoas, tudo novo —
eu disse gentilmente. — Vamos tentar do meu jeito e ver o que acontece,
ok?
— Eu não durmo direito desde que você viajou, então topo qualquer
coisa que funcione — ela murmurou.
— Precisamos considerar a possibilidade de contratar ajuda — eu disse
depois de um momento.
— Ajuda? — Hadley parecia horrorizada.
— Nós dois trabalhamos. Benny precisa de cuidados em tempo integral,
e Annalise só vai à escola três vezes por semana, por quatro horas. Lauren
cava em casa, então você não pode achar que vai conseguir fazer tudo o
que ela fazia.
Ela me encarou com raiva, e eu imaginei que estava se preparando para
uma boa discussão, justo quando Annalise entrou pulando na sala.
— Tio Wes! — Ela jogou os braços em volta das minhas pernas como se
não me visse há anos em vez de quatro dias.
— Oi, Princesa Ervilha. — Eu coloquei Benny em sua cadeira alta,
esperando que ele se acalmasse o su ciente para comermos.
— Você perdeu o jogo ontem à noite — ela anunciou, como se eu não
soubesse, e eu concordei.
— Não se pode vencer todas, guria.
Eu vasculhei o armário até encontrar a caixa de Froot Loops que
Annalise e eu tínhamos comido nos primeiros dias em que eu quei sozinho
com eles.
— Froot Woops! — Ela se remexeu, toda animada. — Eu amo Froot
Woops!
— Froot Loops — Hadley a corrigiu. — E você não vai comer essa
porcaria no café da manhã.
O rosto de Annalise murchou.
— Mas o Tio Wes disse que eu ia.
Hadley se virou para me dar um olhar mortal, e eu arqueei as
sobrancelhas para ela, quase desa ando-a a ser a vilã. Hadley era bem
adorável quando estava brava, então era divertido irritá-la. Bem, para ser
honesto, ela sempre era adorável, mas no momento em que ela abria a boca,
eu esquecia o nariz arrebitado, os lábios vermelhos e cheios ou os cílios
quilométricos. Mesmo sem maquiagem e com olheiras leves pelo pouco
sono, ela era verdadeiramente linda.
Pena que ela odiava até a porra do meu interior.
Mas tudo bem. Isso tudo era pelas crianças, e ela iria se decepcionar se
achava que eu ia desistir. Eu estava naquela jogada para sempre, e ela
poderia participar e ajudar ou eu daria um jeito sozinho. Não havia chance
de deixar Ben e a Lauren na mão, não importava o que a srta. Nariz
Empinado pensasse de mim.
— Nós deveríamos conversar — ela disse depois de um momento,
entregando uma mamadeira para Benny.
— Eu pensei em fazer o café da manhã e depois levar a Annalise para a
escola. Quando eu voltar, podemos sentar e ter uma conversa de adultos.
— Tudo bem. — Ela se virou para mim enquanto eu servia duas tigelas
de cereal, uma para a Annalise e outra para mim.
Eu tinha a sensação de que Hadley estaria de mau humor quando eu
voltasse, depois de deixar Annalise na escola, mas ela estava sentada no sofá
tomando uma caneca de café e assistindo Benny no balanço. O Tylenol
deve ter funcionado, porque ele estava babando alegremente em um
mordedor.
— Ele parece muito mais feliz — eu disse.
— De nitivamente.
Eu afundei na cadeira em frente a ela e encontrei seu olhar sobre a borda
da caneca.
— Então, quantos dias você cará em casa? — ela perguntou.
— Eu viajo na terça-feira de manhã, então os próximos cinco dias nos
darão algum tempo para descobrir o que vamos fazer.
— Bem, não há dúvida do que vamos fazer — ela disse
displicentemente. — Obviamente, você não pode cuidar das crianças com
sua agenda, então eu cuido.
— Por isso sugeri que contratássemos uma babá — eu disse
pacientemente.
Hadley franzia um pouco a testa.
— Eu odeio usar o dinheiro que Ben e Lauren nos deixaram para esse
tipo de coisa, mas talvez você esteja certo. Assim que vendermos a casa, eu
vou poder…
— Vender a casa? Que porra você está falando? Por que faríamos isso?
— Porque eu vou precisar do dinheiro para comprar algo em Nova
York.
— Não podemos nos mudar para Nova York. — Eu franzi a testa
quando ela revirou os olhos para mim.
— Nós não podemos, mas eu posso. Eu planejo voltar em algum
momento. Depois que eu pegar o jeito disso de ser mãe e…
— Ok, calma aí com essa porra. — Eu levantei uma mão.
— Olha a língua.
— Ele não vai repetir isso, Jesus. — Eu olhei para ela
interrogativamente. — Quando foi que decidimos que você ia criar as
crianças?
Ela riu, embora não tivesse graça alguma.
— Acho que isso é óbvio, Wes. Como você vai cuidar deles com sua
agenda de viagens, treinos e tudo o mais que envolve ser um atleta
pro ssional?
— Com você aqui.
— Meu trabalho é em Nova York, então mesmo que eu esteja
trabalhando remotamente por enquanto, eventualmente tenho que voltar
para minha vida. E daqui para frente, isso vai incluir Benny e Annalise.
Você e eu resolveremos tudo aqui e provavelmente, no verão, as crianças e
eu voltaremos para Nova York.
Suas palavras foram como um soco no estômago. Não havia chance
alguma de Hadley levar as crianças para longe de mim, e eu usaria todos os
recursos disponíveis para impedi-la.
— Só por cima do meu cadáver. — Cruzei os braços sobre o peito.
Ela me encarou com outro olhar gelado, mas desta vez não era adorável
nem atraente. Aquelas crianças haviam sido deixadas comigo tanto quanto
foram deixadas com ela, e eu não as entregaria.
— Você está brincando, não é? — ela disse por m.
— Nem um pouco. Eles queriam que nós os criássemos, não você ou eu
individualmente.
— Não, eles queriam que nós decidíssemos quem seria mais adequado
para criá-los, e francamente, sou eu.
— Por quê? Porque você tem seios e uma vagina?
Ela corou.
— Não, porque você trabalha em horários insanos e precisa sempre
viajar.
— Pelo que ouvi, você trabalha dezoito horas por dia durante a Semana
de Moda e em todos os outros grandes eventos, viaja pelo mundo fazendo
sessões de fotos e muitas outras coisas, e Lauren até disse uma vez que você
trabalha mais horas do que o Ben e que por isso se preocupava com você.
— Eu sou solteira e estou prestes a conquistar coisas grandes na carreira
— ela retrucou. — Então, sim, eu trabalho duro. Mas agora tenho uma
responsabilidade com essas crianças, então as coisas vão precisar mudar.
— Sim, você terá de encontrar uma maneira de se xar aqui em St.
Louis.
Hadley soltou um suspiro.
— Wes, como vamos fazer isso juntos?
— Eu não sei, mas temos que tentar, porque isso não é negociável. Eu
não vou entregá-los a você.
— Bem, eu também não. — Ela ergueu o queixo um pouco.
Seu peito subia e descia um pouco rápido demais, e eu não pude deixar
de notar que ela tinha peitos espetaculares. Ela sempre tinha sido um pé no
saco ao longo dos anos, então não me dava ao trabalho de olhar para ela na
maioria das vezes. Mas era difícil não ver agora, que estávamos morando
juntos na mesma casa. De certo modo, a aparência de Hadley era uma
recompensa agradável por toda a chateação que eu precisava aguentar dela.
— Wes, eu não tenho dormido mais do que três horas seguidas há cinco
dias. Estou cansada, estressada e ainda sofrendo com o luto. Talvez
devêssemos adiar essa conversa por um tempo. Simplesmente não tenho
energia para discutir com você agora.
— Certo. — Abri um sorrisinho para ela. — Eu não sou o vilão,
Hadley.
Ela se virou na minha direção, olhos castanho-claros sobre mim, algo
insondável espreitando por trás deles.
— Eu nunca imaginei que algo pudesse doer tanto.
E lá se foi todo o meu entusiasmo.
Assenti, passando distraído a mão pelo meu cabelo curto.
— Eu também não.
— Vamos tentar não brigar na frente das crianças, tá? Principalmente da
Annalise, porque ela ouve tudo.
— Combinado.
Ela parou, inclinando a cabeça um pouco para que a luz do sol que
entrava pela janela brilhasse em seu cabelo escuro, o que trouxe um brilho
castanho-avermelhado e me fez imaginar como seria passar os dedos por ele.
— Você acha que uma babá seria uma boa ideia?
— Acho que sim. Alguém que possa ajudar durante o dia e
ocasionalmente nos ns de semana, para que nós dois possamos trabalhar.
Eu tenho treinos, exercícios, reuniões de equipe e, claro, os jogos, e
dependendo de quantas horas você trabalhe, não poderá cumprir suas
tarefas e ainda lidar com todos os detalhes da casa também.
Hadley pareceu pensativa.
— Tem dinheiro para isso?
— Tem dinheiro de sobra. A casa está paga, e eu vou assumir as contas.
Assim, a maior parte do dinheiro vai para a conta das crianças.
Ela assentiu.
— Eu não ganho nem de perto o que você ganha, é claro, mas me viro
bem, então…
— Não, eu resolvo isso, Hadley. Você assume uma grande parte da
responsabilidade quando eu tenho que viajar, então me deixe lidar com as
contas. Incluindo a babá. Isso torna a vida de todos mais fácil, ok?
— Certo. — Ela assentiu lentamente. — Faz sentido. Que tal darmos
alguns meses para assentar essa nova situação e voltarmos a essa conversa
depois?
— Certo.
— Mas precisamos de nir algumas regras básicas.
Eu gemi.
— Sem quengas na casa. Nenhuma maria-patins, prostitutas, ou
qualquer coisa do tipo.
— Prostitutas?! — Eu estreitei os olhos para ela. — Jesus, que tipo de
imbecil você acha que eu sou? Em primeiro lugar, eu nunca tive que pagar
por sexo na minha vida, ok, muito obrigado. E segundo, eu amo essas
crianças! Você acha que eu traria alguém desse tipo para a casa onde todos
nós moramos? — Eu me levantei, olhando para Hadley com raiva. — Bem,
tenho uma notícia para você, senhorita, isso aí é uma grande babaquice.
Você não precisa gostar de mim, mas nunca me acuse de fazer algo que
possa afetar negativamente essas crianças! — Eu estava fervendo, e não de
um jeito bom.
— Wes, desculpa. Eu… — Hadley ainda estava falando, mas eu levantei
uma mão para detê-la enquanto saía da sala. Um minuto depois, bati a
porta da garagem. Precisava me acalmar antes de dizer algo que pudesse me
arrepender depois.
Ela ainda me irritava bastante, regularmente, e nunca tinha sido fácil
lidar com ela.
Fiquei parado na garagem, apoiando as mãos na bancada de trabalho
agora vazia que Ben usava para tocar pequenos projetos quando tinha
tempo. E foi quando o envelope chamou minha atenção. Eu havia guardado
a carta que Ben havia deixado para mim até que estivesse pronto para lê-la,
e se havia um momento certo para isso, era agora.
Pegando-a da mesa, rasguei o envelope e desdobrei o papel lentamente.
Ia doer, mas eu precisava fazer aquilo. Eu precisava do meu melhor amigo
mais do que nunca em minha vida, e essa era essencialmente a última vez
que eu falaria com ele. Mesmo sendo uma conversa unilateral.

Caro Wes,
Se você está lendo isto, eu morri, e a Lauren também. É difícil
pra caramba pensar nesse cenário, mas pelo menos ela e eu
estamos juntos.
Eu sei que nós te chocamos ao deixar a Annalise (e mais filhos,
se tivermos) com você e a Hadley. Lauren e eu ficamos indecisos
por um bom tempo sobre se deveríamos pedir a vocês dois ou
escolher apenas um, mas isso é a única coisa que parece certa
para nós.
Faça o seu melhor. Você acha que seu melhor não é suficiente,
mas é, sim. Eu sei que isso é pedir muito, e talvez você decida que
nossos filhos precisam ficar com a Hadley. Se você fizer isso, eu
sei que será a decisão certa. Apenas permaneça na vida deles para
sempre. Ajude-os, ou a Annalise, se for apenas ela, a saber quem
era o pai deles. Ensine-os a jogar hóquei e a dar um soco. Ajude-
os a serem felizes, se puder. Leve minha filha até o altar um dia.
Você é o irmão que eu nunca tive. Eu sei quem você realmente
é, e é por isso que eu sei que essa decisão é certa. Eu quero que
você tenha uma boa vida. Faça todas as coisas que eu não poderei.
Obrigado por ser meu parceiro. Eu te amo.
Ben

Pela primeira vez desde a noite do acidente, eu chorei


descontroladamente.
Hadley

Às vezes, eu sou um pouco exagerada. Vários homens com quem eu tive


relacionamentos disseram isso a meu respeito. Muito cética, muito direta e
muito descon ada. Se houvesse uma entrevista após o m do
relacionamento com Hadley Ellis, essas seriam as três principais razões que
os homens citariam para terminar comigo ou car pelo menos um pouco
aliviados quando eu terminasse com eles.
As qualidades que me tornavam uma namorada abaixo do ideal aos
olhos dos homens, no entanto, me ajudaram a subir rapidamente na vida
corporativa na Willow. Desde quando comecei como redatora de nível
básico, logo após a faculdade, há sete anos, recebi várias promoções, e agora
sou editora-associada.
Estou neste cargo há quase um ano, e a lista de responsabilidades
cresceu nesse tempo. Minha chefe, Liz Cromwell, não é muito receptiva à
palavra “não”. Ela também não deixa dúvidas quanto a sua opinião.
— Ouça, Hadley, eu preciso tanto de outra história sobre como
organizar a porra de um home o ce quanto preciso de uma terceira teta —
ela disse pelo alto-falante do telefone no escritório de Ben, onde levei meu
computador para poder trabalhar. — Me traga algo novo ou não me mande
nada.
— Eu entendo totalmente, Liz. Outra submissão que chegou pelo e-
mail foi para uma história sobre como fazer seus próprios sabonetes e
esfoliantes em casa. A proposta da matéria estava bem escrita e organizada.
— Ah, que se foda. Estou tentando vender os produtos dos nossos
anunciantes, não encorajar os leitores a economizarem dinheiro com DIY.
Próxima.
Eu fui descendo na minha lista de propostas para matérias, me
encolhendo cada vez mais enquanto ouvia Annalise gritando e correndo
pelo corredor bem em frente ao escritório e Wes fazendo o que eu achava
que deveriam ser ruídos de urso enquanto a perseguia.
— Melhores destinos para tirar férias sozinha — li um item de minha
lista, sem me preocupar em falar muito sobre o que seria. Liz aceitaria a
ideia com relutância ou dispensaria dramaticamente, como era seu estilo.
— Hmm… pode ser bom — ela disse.
— Poderíamos transformar isso em algo maior e incluir listas sobre o
que levar ao viajar sozinha, e talvez em uma coluna com conselhos sobre
como pedir folga ao seu chefe quando se precisa de uma pausa.
— Vou colocar no orçamento de maio.
— Ótimo.
— O que mais? Vamos fazer aquela grande sessão de fotos em Fiji para a
capa de julho, então preciso de algumas histórias que se encaixem na vibe.
— E a vibe é…? — eu perguntei. — Tropical e exótico?
— Isso mesmo, praticamente.
Considerei algumas ideias que achei que enfatizariam o tema.
— Que tal maneiras de trazer as ilhas tropicais para o conforto de casa?
Podemos fazer algumas receitas divertidas de drinques e petiscos, talvez um
artigo sobre transformar um pequeno quintal em um oásis com as plantas
certas, móveis e iluminação externa, e algumas recomendações de óculos de
sol, maiôs e bronzeadores.
— Ok — ela disse, suspirando pesadamente como se fosse a pior coisa
que já concordou em fazer. — Mas tem que ser algo novo, ok? Estou
cansada de ver conteúdo novo em tudo quanto é lugar enquanto
continuamos a reciclar a mesma merda de sempre.
— Eu entendo, e estou aberta a qualquer ideia que você tenha.
— Pensar em novas ideias é o seu trabalho, não o meu. Meu trabalho é
manter este lugar funcionando.
— Bem, algo em que estou trabalhando é aprender a fazer comida para
bebê. Eu poderia escrever sobre isso.
Seu murmúrio me fez pensar que ela estava prestes a dispensar a ideia,
mas ela me surpreendeu quando disse:
— Sim, gostei. Vou colocar isso no orçamento de junho.
A campainha da porta da frente tocou, e ouvi os passos pesados de
Annalise correndo em direção à porta. A babá que Nina recomendou
começaria naquele dia, quando Annalise não tinha pré-escola para tornar as
coisas um pouco mais fáceis.
— Eu preciso ir. Tenho uma reunião — eu disse a Liz.
— Ok. Me envie algumas propostas detalhadas de orçamento para as
coisas que discutimos quando tiver tempo hoje.
Ela desligou abruptamente, e eu apenas concordei com a cabeça. Eu não
tinha prestado muita atenção em como minha chefe era malvada, mas
depois de ter uma folga dela por mais de uma semana, percebi que não
sentia nem um pouco sua falta.
Até agora, as pessoas com quem eu estava convivendo em St. Louis
tinham sido simpáticas. Não apenas Nina, mas todos que tinham relação
com o time do Ben apareceram em casa e foram gentis e prestativos. Doeu
no coração ver o quanto os colegas de time sentiam a falta de Ben, mas foi
realmente bom receber tanto apoio de pessoas que amavam a ele e à sua
família. Eles seguiam trazendo refeições e perguntando se precisávamos de
ajuda com alguma coisa.
— Oi, eu sou o Wes. — Eu o ouvi dizendo para a nova babá enquanto
saía do escritório de Ben.
— Oi, eu me chamo Tori. É um grande prazer conhecê-lo.
— Sim, igualmente. Hadley deve chegar a qualquer…
— Oi — eu disse, sorrindo quando entrei no corredor de entrada. —
Você deve ser a Tori.
Seu sorriso largo era tão perfeito quanto o restante dela. Tori era alta e
loira, com olhos azuis brilhantes e apenas a quantidade certa de curvas. Eu
não podia culpá-la por sua aparência, mas estava esperando que ela fosse
mais comum, eu não queria que Wes pensasse que ela estava aqui para
entretê-lo.
Ela disse, apertando minha mão:
— É um prazer conhecê-la. E esse deve ser o Benny. — E se inclinou
para mais perto de Wes, que estava com Benny nos braços, as costas do
bebê contra seu peito, para que ele pudesse ver o que estava acontecendo ao
seu redor. Enquanto ela encostava suavemente a ponta do dedo no nariz de
Benny e lhe dava um sorriso de olhos arregalados e boca aberta, ele soltou
uma pequena risada.
— Ele é adorável — ela disse, olhando para mim. — Eu amo bebês.
— Por que não nos sentamos na sala de estar e conversamos? — sugeri.
— Posso lhe oferecer algo para beber, Tori?
— Eu adoraria um pouco de água, obrigada.
Enquanto caminhávamos em direção à sala de estar, Wes se aproximou
de mim e sussurrou:
— Uma dose de uísque para mim. Ah, e talvez uma bandeja com
petiscos e queijo. Estou meio com fome.
Revirei os olhos, sem humor para suas piadas, e disse:
— Você que pegue sua própria bebida.
Ele sorriu para mim, e Annalise gritou da outra sala:
— Tio Wes, olha isso!
Quando voltei para a sala de estar, Tori estava com Benny e Annalise no
colo.
— Você gosta de brincar de tomar chá? — perguntou Annalise a Tori.
— Ah, são as minhas brincadeiras favoritas.
— Mesmo? — Annalise deslizou do colo dela. — Nós poderíamos
brincar agora mesmo!
Tori se sentou no chão com as crianças, conseguindo fazer cócegas e
caretas para Benny enquanto bebia um chá imaginário com Annalise e
respondia nossas perguntas sobre sua experiência com crianças. Tudo isso ao
mesmo tempo.
— Você pode colocar um pouco mais de leite no meu? — perguntou ela
a Annalise, segurando sua xícara imaginária.
— Leite normal ou com chocolate? — perguntou Annalise com tom
sério.
— Chocolate, por favor — disse Tori. — E você gostaria de um desses
deliciosos biscoitos que eu z? — Ela segurou uma bandeja imaginária.
— Sim! — Annalise ngiu pegar um e mordiscar. — É delicioso!
Uma estudante de Pedagogia de uma faculdade na cidade, Tori era
exatamente o que precisávamos. Ela poderia trabalhar seis horas por dia às
segundas, quartas e sextas-feiras, e à noite e nos ns de semana conforme
fosse necessário. Além disso, as crianças já gostavam dela.
— Você já sofreu algum acidente de trânsito ou recebeu alguma multa?
— Wes perguntou a ela, provavelmente porque ela teria que dirigir para
pegar as crianças em algumas ocasiões.
— Não. E eu não bebo, fumo, nem nada do tipo.
— Ok, bom. — Wes encontrou meu olhar do outro lado da sala e disse:
— Ei, que tal irmos para a cozinha e pegarmos alguns cookies de verdade,
se tiver algum?
Eu o segui até a cozinha, e Wes apontou para o canto mais distante da
sala de estar. Quando estávamos lá, ele sussurrou:
— O que você achou?
— Eu gosto dela.
— Sim, acho que ela é realmente boa com as crianças. É su ciente para
você, já que ela não pode estar aqui às terças e quintas-feiras? Porque
podemos continuar procurando se você precisar de alguém em tempo
integral.
Balancei a cabeça.
— Ela disse que poderia trabalhar à noite às terças e quintas-feiras, e eu
poderia trabalhar nesses horários.
— Então você acha que devemos contratá-la?
— Acho que sim.
— Ótimo. — Ele deu um passo em direção à sala de estar, e eu coloquei
a mão em seu braço para detê-lo.
— Ei… — eu disse.
Wes arqueou as sobrancelhas e esperou que eu continuasse. Seu
antebraço era quente e musculoso, foi a primeira vez que eu tocava alguma
parte de um homem atraente em muito tempo, então isso me distraiu.
Era o Weston Kirby. O cara que fez um comentário idiota sobre eu
gostar de salsichas na primeira vez que nos conhecemos. Que levou uma
acompanhante usando uma regata justa e saltos de stripper para a primeira
festa de aniversário de Annalise. E quem me disse, alguns réveillons atrás,
enquanto estava bêbado, que seu maior desejo para o ano que se iniciava era
que eu transasse, para que o enorme pênis de gelo en ado na minha bunda
pudesse derreter um pouco.
Ele poderia ser bonito, ter o rosto esculpido e olhos azuis que o
colocavam nas capas de revista, mas ainda era Wes. De alguma forma, eu
precisava ignorar sua aparência e apenas expressar minha preocupação.
— Eu, uh… você não pode, hum… — Limpei a garganta. — Se
contratarmos a Tori, você não pode, sabe…?
Ele estreitou os olhos com uma expressão de completa irritação.
— Hadley, eu estou cando realmente cansado desses comentários sobre
eu tentar levar para cama qualquer mulher que vejo.
Eu tentei sussurrar, mas saiu mais alto do que eu queria:
— Ela não é qualquer mulher. Ela está prestes a se tornar nossa babá
muito atraente de dezenove anos. Existem sites inteiros dedicados a como
seduzir uma babá.
Wes franziu a testa e sussurrou de volta, embora de forma rude:
— Eu não sabia de nada disso, mas parece que alguém tem um certo
hábito de consumir pornô.
— Por que você é tão escroto? — eu perguntei, gemendo.
— Por que você é tão rabugenta?
— Só me dê sua palavra de que você não vai tocar nela. As crianças já
perderam muita coisa, e se elas se apegarem a ela…
Wes deu um passo em minha direção, e eu pude sentir o calor do seu
corpo.
— Tudo bem, mas você tem que me prometer que não vai tentar transar
com o jardineiro.
Eu zombei.
— Bob tem uns cinquenta anos, Wes.
— E daí? Ele tem um pênis, e quando uma mulher não faz nada há, no
seu caso, eu acho que anos, ela pode simplesmente pular no homem mais
próximo que encontrar.
— Você está sendo irracional.
— E você não está? Eu sou um homem de vinte e nove anos, Hadley. Já
faz cerca de uma década desde que tive algum tipo de interesse romântico
em uma adolescente. Pare de me insultar, porque você vem assumindo que
sou o pior tipo de homem que existe no planeta. Você não me conhece.
Coloquei as mãos nos quadris e respondi:
— Se tem certeza de que manterá o relacionamento totalmente
pro ssional, não vai ter nenhum problema em me dar sua palavra.
— Tudo bem — ele resmungou. — Eu te dou minha palavra. Agora me
dê a sua palavra sobre Bob.
Eu revirei os olhos.
— Tudo bem. Eu prometo manter as coisas no campo pro ssional com
Bob.
Houve um lampejo de algo nos olhos de Wes antes que ele completasse:
— E com meus companheiros de time.
Eu recuei.
— Seus companheiros de time? Você está falando sério? Você acha que
estou tentando car com um de seus companheiros de time? Eu nem sei o
nome deles. Eu mal consigo me manter sã tendo de lidar com as crianças,
meu trabalho e tentar tomar banho todos os dias, a última coisa que me
passa pela cabeça é transar com um dos seus companheiros de time.
Ele me deu um olhar satisfeito.
— Então talvez você saiba como eu me sinto, porque estou na mesma
situação, Hadley. Estou apenas tentando dar conta do hóquei e das crianças.
Eu suspirei relutantemente.
— Tudo bem, você tem razão.
Wes olhou para o relógio e disse:
— Vamos fazer uma oferta para Tori. Eu tenho que ir para o treino.
— Ei. — Eu suspirei pesadamente. — Desculpa. Eu sei o que você deve
estar pensando de mim.
— Não se preocupa com isso. Eu só quero fazer o melhor que pudermos
pelas crianças, ok? Isso é mais importante do que qualquer outra coisa
agora.
Eu concordei.
— Você tem razão.
— As coisas vão ser melhores agora que você terá mais ajuda.
Eu me senti ainda mais idiota. Tinha sido rabugenta com Wes, mas ele
ainda estava sendo legal comigo. Eu levantei os ombros e sorri.
— Sim, você tem razão. — Mas o sorriso desapareceu quando eu disse:
— Se eu pudesse apenas ligar para ela… Lauren, quero dizer. Eu penso
nisso muitas vezes todos os dias. Se eu pudesse apenas ouvir a voz dela por
alguns segundos, me dizendo que eu vou dar conta de fazer isso… —
Minha garganta apertou e eu desviei o olhar.
— Eu sei, Hadley — disse Wes suavemente. — Eu também.
Porém eu não teria Lauren, nunca mais a teria. Ainda doía como antes.
E não só eu precisava achar uma maneira de conseguir atravessar esse
turbilhão, como precisava ajudar os lhos de Lauren com isso também.
Wes

Apesar da insanidade que estava acontecendo em casa, eu tinha feito o meu


melhor para parar de olhar para o meu próprio rabo quando estava no gelo.
E não era apenas eu. Toda a equipe estava de luto. Ben não era apenas nosso
capitão, ele era nosso amigo. Todo time tem um capitão, e eu já tinha
jogado em outros times com outros capitães, mas nenhum deles foi como
Benjamin Whitmer – inteligente, engraçado e empático. Essa última
característica não era uma palavra que a maioria dos atletas pro ssionais
usava muito, mas se aplicava a Ben em abundância. Era o que o fazia ser o
melhor amigo que um cara poderia ter, um ótimo marido e pai e o capitão
de equipe mais incrível com quem já joguei.
Sem sua presença no vestiário, estávamos desorientados. Quando se
tratava dos problemas no gelo, como falar com os árbitros e as babaquices
costumeiras que faziam parte do jogo, nós lidávamos bem. Nash e eu
podíamos dar conta disso. Porém o que não tínhamos era o amor e o
respeito de todos da equipe. Ok, talvez isso não fosse totalmente verdade –
havia muito amor e respeito entre a maioria de nós -, mas não inspirávamos
o mesmo respeito que Ben trazia para o time. E, de alguma forma, eu
precisava dar conta disso. Talvez não no mesmo nível, porque eu não estava
tentando substituí-lo, mas alguém tinha de cumprir o papel que ele
desempenhava. Ainda não tínhamos vencido um jogo, e se isso continuasse,
quebraríamos o recorde de derrotas consecutivas.
O jogo da noite era contra Washington, e eles estavam em alta, em uma
sequência incrível de vitórias, nos perseguindo rumo ao primeiro lugar na
liga. Estávamos muito à frente na pontuação quando Ben morreu. Ainda
estávamos em primeiro lugar, mas apenas dois pontos à frente. Uma derrota
para eles signi caria um empate na primeira colocação, e eu queria
desesperadamente evitar isso. Então, apesar da dor, eu tinha de assumir o
lugar de Ben como líder. Nash já tinha dito que não queria esse papel, então
eu ia fazê-lo, a menos que meus colegas decidissem o contrário.
— Escutem bem, rapazes. — Eu me levantei e olhei ao redor. O técnico
acabara de entrar, ele sabia que eu ia falar com o time, junto com o restante
da comissão técnica, e eles fecharam a porta em seguida. — Está na hora.
Eu não sei o quanto vocês vão ter que mergulhar fundo dentro de si, que
força interior vocês têm que encontrar, mas nossa sequência de derrotas
acaba hoje. Ben caria horrorizado. Se ele está olhando para nós, está
praguejando. Não podemos, quer dizer, não vamos continuar por este
caminho. Então me digam o que vocês precisam. Se não for para mim, tudo
bem. Vamos votar para escolher um novo capitão, porque não vamos mais
continuar desse jeito.
Houve silêncio enquanto a maioria dos caras se mexia, olhava para o
chão, fazia qualquer coisa, menos manter contato visual. Finalmente, Lars
falou.
— Não, tem que ser você. Ninguém mais. Ben iria querer isso.
— Ben se foi — eu disse suavemente. — E por mais que eu sinta falta
dele, ainda estamos aqui, então isso tem que ser sobre o que queremos.
Todos nós.
— Você — Nash se levantou. — Absolutamente você.
— Não precisamos decidir sobre um capitão hoje à noite — o técnico
disse calmamente. — Mas algo tem que mudar.
— Aposto tudo no Wes — Drew se levantou em seguida. — Precisamos
de um capitão, e ele é o cara.
Um por um, todos os caras da equipe se levantaram e basicamente
prometeram lealdade a mim. Se eu estivesse em qualquer outro lugar,
poderia ter cedido ao sentimento que ardia meus olhos, mas como não
podia, apenas assenti.
— Então, como equipe, decidimos nomear Weston Kirby como nosso
novo capitão. Vou informar ao relações públicas — Gizzard começou a sair
com os outros treinadores, mas eu o chamei.
— Espera, técnico. — Respirei fundo. — Aceito o voto de con ança e
assumirei o papel em todos os aspectos que importam, mas gostaria de
esperar até a próxima temporada para usar a letra C o cialmente. Preferiria
terminar a temporada com Ben ainda como nosso capitão honorário e
talvez votar novamente para escolher o substituto. Dessa forma, temos um
acordo nos bastidores, mas continuamos a honrá-lo publicamente pelo
restante da temporada.
Todos concordaram com a cabeça.
— Esta noite, jogaremos por Ben. De verdade. Não temos piedade; não
levamos desaforo para casa. Vamos lá e faremos o nosso jogo, aquele que
jogávamos antes da noite de quatorze de janeiro.
Entramos no gelo, e quando o jogo começou, foi como se alguém
tivesse ligado um interruptor. Nash estava a toda, passando e chutando,
criando oportunidades para marcar. Lars era um touro, não apenas
defendendo Drew, mas todos nós, como em todas as vezes que ele estava no
gelo. No nal do primeiro período, estávamos vencendo por 3 a 0 e parecia
que a magia tinha voltado – a mesma coisa que tínhamos antes de perdemos
Ben. Mas uma vantagem de três gols era bastante perigosa no hóquei, então
não podíamos relaxar.
Eu patinei até o círculo de face-o para começar o segundo período, e o
enforcer de Washington, Denby Harrowman, me deu um sorriso.
— Pronto para cair, Kirby?
Eu sorri de volta.
— Faz o seu melhor.
— Parece que você não consegue fazer nada sem o seu amigo Whitmer.
Meu aperto no bastão se tornou mais forte quando eu o olhei.
— Cuidado com o que fala.
— O que você vai fazer? Sem Whitmer, aposto que nem consegue
alguém para chupar teu pau. Pena que ele não morreu no início da
temporada.
Os minutos seguintes pareceram em câmera lenta, como se eu fosse
outra pessoa olhando de fora. Eu não lembro de ter tirado as luvas ou de ter
dado o primeiro soco, mas havia uma razão para Harrowman ser um
enforcer, porque ele veio direto para cima de mim. Eu estava alimentado
por luto e raiva, então toda vez que meu punho se conectava ao seu queixo,
sua cabeça balançava para trás. Com força. Ele conseguiu me acertar alguns
bons socos no olho, mas nalmente eu o derrubei no gelo, com meu joelho
em seu peito enquanto socava seu rosto repetidamente. Foi preciso Lars e
Nash para me tirar de cima dele, tudo o que eu vi parecia vermelho
enquanto o árbitro apontava para o túnel, indicando uma punição e quem
sabe mais o quê.
Quando sentei no vestiário estava respirando com di culdade, sangue
escorrendo pelo meu rosto, completamente alheio ao nosso treinador, que
precisou me suturar. Eu não me lembrava do que tinha dito quando ele me
perguntou o que diabos tinha acontecido, mas o que eu disse pareceu tê-lo
acalmado, porque ele resmungou baixinho, me deu uma batida no ombro e
seguiu em frente. Provavelmente eu seria obrigado a ter uma reunião com o
departamento de segurança dos jogadores, mas estava pouco me fodendo.
Ninguém fala sobre o Ben dessa maneira. Ainda mais com a morte sendo
tão recente.
Nós ganhamos. Apesar da penalidade de cinco minutos, nós
diminuímos o ritmo do jogo e marcamos mais dois gols, mesmo sem que eu
estivesse no gelo. O clima no vestiário foi o melhor dos últimos tempos. Eu
saí sorrateiramente novamente, mas pelo menos eu tinha subido o ânimo de
todos. Agora eu só precisava me acalmar, porque mesmo depois de bater
naquele lho da puta do Harrowman e colocar tudo para fora, eu ainda
estava com raiva. Eu queria gritar, berrar, beber e bater em coisas. O
comentário de Harrowman – mesmo sabendo que era apenas trash talk para
me tirar do jogo – pegou fundo, uma indicação do quanto a morte do Ben
me afetou profundamente.
Parte do problema é que eu não tinha realmente vivenciado o luto. Com
dois lhos em casa e um calendário de jogos pesado, não havia tempo para
respirar, muito menos para sucumbir à tristeza. O time ofereceu
aconselhamento psicológico, mas eu precisava ser realista, e a realidade era
que eu não me sentia confortável em falar com um estranho sobre o que o
Ben signi cava para mim e o quanto perdê-lo mudou minha vida. A única
pessoa com quem eu poderia falar, e teria falado se ela não fosse tão megera,
era Hadley. Eu tentei tanto ser legal com ela, mostrar que poderíamos nos
esforçar juntos para criar essas crianças, mas ela me rejeitou todas as vezes.
Nosso relacionamento era tão exaustivo quanto criar Benny e Annalise.
Eu tentei entrar em casa silenciosamente, esperando que ela e as crianças
estivessem dormindo, mas Hadley estava na cozinha. Ela se virou
imediatamente, com uma expressão que eu não consegui decifrar.
— Oi. — Eu parei para pegar uma garrafa de água na geladeira.
— Onde você estava com a cabeça? — ela exigiu, com as mãos na
cintura.
Eu virei, confuso.
— Como é?
— Você sabe o quanto a Annalise gosta de assistir os tios jogando
hóquei. Você sabe que ela assiste o máximo que consegue dos jogos até
dormir! Como você acha que ela reagiu ao ver vocês brigando desse jeito?
Merda. Eu nunca havia pensado na Annalise assistindo à briga.
— Não pude evitar — eu disse baixinho. — Vou conversar com ela
amanhã e explicar que faz parte do jogo.
— Foi violento e repulsivo! — ela sibilou. — O que você fez com
aquele pobre rapaz… Eu não consigo acreditar que você pense que está apto
a ser pai de qualquer criança, ainda mais dessas!
Eu me virei para ela, punhos cerrados ao lado do corpo.
— Você não tem a menor ideia do que está falando. Você não sabe
absolutamente nada sobre hóquei ou sobre mim, então por que não guarda
suas opiniões para si pelo menos uma vez?
— Eu não vou guardar. Esse tipo de comportamento mostra claramente
que você não está apto a ser o guardião deles. — Ela cruzou os braços sobre
o peito, batendo o pé como se estivesse vencendo algum tipo de debate.
Eu avancei um pouco mais agressivamente do que deveria, ainda estava
furioso, alimentado pela adrenalina e pela dor. Ela deu um passo para trás,
mas eu continuei, até que Hadley cou encurralada contra a parede.
— Deixa eu explicar uma coisa pra você — eu rosnava entre dentes,
olhando para os olhos claros e surpresos. — Brigas são uma longa história
no hóquei. É uma tradição. Fazem parte do esporte. Servem a um
propósito. Geralmente para deixar a outra equipe saber que não pode sair
impune em relação a algo que estava tentando fazer. Você consegue
entender isso?
Ela engoliu em seco, a mandíbula se apertando em irritação.
— Eu entendo tudo isso — ela disse entre dentes. — Mas o que você
fez hoje à noite foi diferente. Foi violento. Você foi um animal. Você…
— Eu bati no cara que disse que era uma pena o Ben não ter morrido
mais cedo na temporada. — Eu a encarei, meu coração batendo a mil por
hora.
Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu em um “o”, mas nenhum
som saiu. Então Hadley franziu a testa, tristeza em sua voz quando
sussurrou:
— Ele disse isso mesmo?
— Sim, ele disse. — Eu a tinha encurralado contra a parede, mas algo
havia mudado. Sua respiração agora vinha em pequenos e curtos sussurros,
seus peitos subindo e descendo. Seus olhos ardiam de dor? Raiva? Era difícil
dizer, mas quando ela lambeu os lábios, a umidade brilhando me atraiu
como um farol em uma tempestade.
— Desculpa. — Sua voz estava entrecortada, em um tom culpado. —
Eu não sabia…
— Só desta vez, você pode calar a boca, por favor? — eu murmurei. —
Porque eu vou te beijar. A menos que você diga não. Mas a janela para você
fazer isso se fecha em dois segundos.
Sua boca se abriu e, mais uma vez, nada saiu.
— Hadley… — Eu encontrei o olhar dela, e ela me deu um aceno
quase imperceptível, mas foi tudo o que eu precisava.
Eu esmaguei minha boca na dela, deslizando um braço ao redor de sua
cintura e a puxando contra mim. Seus lábios se abriram maravilhosamente,
sua língua encontrando a minha em cada movimento, e eu não parei. Eu
saqueei sua boca como um ladrão na madrugada, uma vez depois da outra
até que ela estivesse se esfregando contra a minha virilha, nossos corpos
pressionados um contra o outro. E o corpo dela foi feito para amar. Esbelto,
com curvas deliciosas, e, puta merda, com uns peitos que me deixavam
insano. Eu teria dado minha bola esquerda para chupá-los.
— Tia Hadley? Eu tive um pesadelo… Aonde você está? — A voz de
Annalise no corredor fez com que nos afastássemos, e Hadley alisou
apressadamente a blusa enquanto respirava fundo, sem me encarar.
— Estou indo, querida. — Com o olhar ainda distante, ela saiu
apressadamente sem olhar para trás.
Observei seu corpo se afastando com uma mistura de frustração e
arrependimento. Eu teria feito qualquer coisa para segui-la e beijá-la mais,
mas eu compreendia o que isso signi cava. Um beijo provavelmente não
mudaria como ela se sentia em relação a mim, e eu não era o tipo de cara
que se aproveitava de uma mulher que estava se sentindo vulnerável. O
problema era que eu também estava vulnerável.

— Lauren e eu queremos que você seja o padrinho do bebê — disse Ben, um


sorriso iluminando seu rosto enquanto me olhava. — Você topa?
— Por você e Lauren? Tudo. — Eu parei. — Espera, deixa eu adivinhar,
Hadley vai ser a madrinha.
Ben riu, uma risada que me fez querer derrubá-lo do banquinho em que
estava sentado.
— Lauren disse que Hadley teve exatamente a mesma reação quando
perguntou se ela queria ser a madrinha. Vocês dois são terríveis.
— Eu realmente nunca conheci alguém tão pé no saco quanto ela. — Eu
dei um gole na minha bebida.
— Eu acho que vocês dois se desejam, mas são teimosos demais para admitir.
— Eu transaria com ela? Claro. Mas não consigo conversar com ela por
mais de trinta segundos antes de querer me matar, então vou dizer que não, nós
não nos desejamos para além de talvez uma rapidinha na cama. Supondo que
ela realmente goste de sexo.
— Olha, ela e Lauren vão chegar a qualquer minuto. Você poderia pelo
menos tentar ser legal?
— Eu não sou o único que não vem sendo legal — retruquei. — E meio
que me irrita que você sempre a defenda.
Ben suspirou.
— Você acha que eu não te defendo quando a situação se inverte?
— Sei lá. Você defende? — Eu encontrei seu olhar com irritação. As coisas
não eram mais as mesmas desde que saímos da faculdade. Ainda éramos
próximos, é claro, mas comigo jogando em Nova York e ele, em St. Louis, era
difícil manter contato e acompanhar os detalhes do dia a dia, coisa que
tínhamos feito desde os catorze anos. Sem mencionar que ele agora tinha uma
esposa e um bebê a caminho. Enquanto isso, eu ainda estava livre para viajar e
jogar hóquei em uma das melhores equipes da liga.
— Qual é, você sabe que não é assim. Eu só estou te zoando, e embora eu
realmente queira que você e Hadley se deem bem, não tem clima ruim entre a
gente. Você é meu irmão, mesmo que não seja de sangue.
— Eu sei. — Eu desviei o olhar. — O que realmente está te incomodando?
Está tudo bem?
— Tem sido estranho jogar sem você. Eu amo o que estou fazendo, e o
hóquei aqui é incrível, mas não gosto muito da cidade, e meus companheiros de
equipe têm cado um pouco distantes. Acho que vou ser negociado.
As sobrancelhas de Ben se levantaram um pouco.
— Sério? Você tem alguma pista?
— Meu agente está cuidando disso, mas não tenho certeza de como andam
as coisas.
Ben parecia pensativo.
— Algum interesse em vir para St. Louis?
Fiquei surpreso.
— Você acha que isso seria possível?
— Eu não tenho certeza, mas poderíamos usar um ponta como você para
completar a segunda linha. Avise ao seu agente que você tem interesse.
— Eu vou fazer isso. Com certeza. — Eu estava prestes a agradecê-lo
quando vi Lauren e Hadley chegando ao restaurante e vindo em nossa direção.
Lauren parecia mais bonita do que nunca, exibindo sua pequena barriga com
uma blusa justa e leggings. Hadley parecia uma supermodelo, com maquiagem
completa, vestida toda de preto e usando os saltos mais altos que eu já tinha
visto.
— Oi, querida. — Ben se levantou para beijar a esposa e puxar a cadeira
dela, e eu relutantemente levantei para fazer o mesmo por Hadley.
— Oi, meninas. — Eu me inclinei para beijar Lauren na bochecha, e
Hadley aproveitou a distração momentânea para se sentar antes que eu pudesse
puxar a cadeira para ela.
— Oi, bonitão! — Lauren me abraçou antes de sentar.
— Oi, Ben. — Hadley sorriu brevemente para ele antes de pegar o celular e
digitar algo.
Meu Deus, ela me enlouquecia, mas estávamos prestes a nos tornar
padrinhos do bebê de Ben e Lauren, então eu tinha que aguentar e me
comportar bem. Graças a Deus eu só a encontrava uma ou duas vezes por ano.
— Então, Ben te contou a novidade? — Lauren perguntou, sorrindo.
— Sim. — Sorri de volta para ela, porque eu realmente amava a esposa do
meu melhor amigo quase tanto quanto ele. — E eu mal posso esperar. Eu não
sei o que um padrinho faz, mas eu estou dentro, independentemente do que for.
— Nós temos certeza disso — disse Ben. — Por isso que escolhemos você.
Hadley guardou o celular, e embora não fosse muito simpática comigo, nós
quatro mantivemos uma conversa agradável durante todo o jantar. Lauren, é
claro, não bebeu, mas Ben e eu já tínhamos tomado três ou quatro bourbons
quando o jantar acabou, e eu havia perdido a conta de quantos martinis
Hadley tinha pedido.
Ela cava meio bonitinha quando estava bêbada, rindo muito – até das
minhas piadas – e constantemente dizendo que amava Lauren. Era óbvio o
quanto as duas eram próximas, apesar da distância entre elas, já que Lauren
morava em St. Louis com Ben e Hadley trabalhava aqui em Manhattan.
Ironicamente, eu não tinha nenhum desejo de passar tempo com ela, apesar de
morarmos a apenas dez estações de metrô um do outro.
— Eu vou ao toalete. — Hadley se levantou e tropeçou de leve.
— Você quer que eu vá junto? — Lauren perguntou a ela.
— Eu estou bem! — Hadley acenou a mão, cambaleando com aqueles saltos
estúpidos enquanto se afastava.
Fiquei olhando porque ela tinha uma bunda divina e pernas longas, mas eu
não era o único que havia notado. Pelo menos meia dúzia de cabeças no
restaurante se viraram, especialmente a de um cara sentado no outro lado do
bar. Depois que terminamos o jantar e a sobremesa, fomos para o bar, para que
nosso garçom pudesse acomodar outras pessoas na mesa; havia vários caras
olhando para Hadley, já que era bastante óbvio que não estávamos juntos. Ela
estava completamente alheia a isso tudo, e eu não sabia se era porque estava
bêbada, não estava interessada ou simplesmente não tinha ideia do quanto
estava linda.
Um dos caras no nal do bar cutucou o amigo, que olhou para as costas em
movimento de Hadley e depois se levantou, seguindo na direção que ela tinha
ido.
Merda.
Eu deveria cuidar da minha vida ou ir atrás dela apenas para ter certeza de
que estava bem?
Eu murmurei algo sobre precisar mijar e fui até os banheiros. Hadley estava
encostada na parede, o cara que a seguira estava vagamente a cercando, com
uma mão na parede à sua direita e a outra se estendendo para ela. Hadley
afastou a mão dele, balançando a cabeça. O cara riu, abaixando a cabeça como
se fosse beijá-la, e Hadley empurrou o peito dele.
Isso foi tudo o que eu precisava ver até o alcançar, puxando o cara pelas
costas de sua camisa.
— Ei! — Ele se virou, pronto para brigar, mas no momento em que me viu,
recuou.
— Algum problema aqui? — eu perguntei, nivelando meu olhar com o
dele.
— Ah, oi, Kirby, desculpa, não percebi que ela estava contigo. — O cara
acenou para mim e saiu a passos rápidos.
— Que porra foi essa? — Hadley exigiu, olhando para mim.
— Eu pensei que ele estava te importunando — protestei. — Estava só
tentando ajudar.
— Eu posso cuidar de mim mesma — disse ela, estreitando os olhos. — Esta
não é a minha primeira noite na cidade grande. Os caras me assediam o tempo
todo.
— Bem, desculpe pela cagada de tentar ser legal.
— Há! — Ela revirou os olhos. — Não há nada de legal em você, Wes
Kirby. No futuro, cuide da sua vida!
— Absolutamente — eu disse, jogando minhas mãos para o alto. — Da
próxima vez, certi que-se de deixar o cara do bar te assediar. Não faz diferença
para mim. — Eu balancei a cabeça e saí do bar.
Ela era verdadeiramente a maior pé no saco do mundo.
Hadley

— Posso apertar o botão? — perguntou Annalise, os olhos bem abertos


de empolgação. Eu conferi duas vezes para garantir que a tampa do
processador de alimentos de Lauren estava travada, apontei para o botão
Iniciar e disse:
— Sim, é este aqui.
— Eu sei, mamãe sempre me deixa apertar o botão — respondeu ela.
Ela estava em cima de uma cadeira que havia arrastado até o balcão da
cozinha quando apertou o botão e o processador de alimentos começou a
zumbir, funcionando muito mais silenciosamente do que eu esperava.
Annalise observou os pedaços de abacate se transformando em um purê.
— Isso não é difícil — eu disse a ela. — Parece que vai ser algo bem
complicado, mas você só precisa se organizar primeiro e ir limpando tudo
enquanto cozinha.
Eu estava concentrada nessa tarefa desde que Wes saiu para treinar pela
manhã, levando Benny da cadeirinha pula-pula para o balanço, para o
mantê-lo feliz e, ocasionalmente, segurando-o contra o meu quadril e
fazendo-o experimentar as diferentes comidas para bebês que eu havia
preparado.
Vidros de purê de mirtilo, grão de bico, feijão verde, kiwi e bananas
enfeitavam a ilha de mármore da cozinha. Eu estava tirando fotos para o
meu artigo sobre como fazer comida caseira para bebês, não me sentindo
nem um pouco culpada por estar com o Disney Channel ligado na sala de
estar, para quando Annalise casse entediada e quisesse dar uma pausa.
Era terça-feira, então Tori não viria trabalhar hoje. As crianças e eu não
estávamos com pressa alguma para tirar os pijamas, e eu me sentia bem de
um jeito que nem lembrava mais como era.
Lá estava eu, realmente fazendo várias coisas ao mesmo tempo.
Cuidando das crianças, trabalhando e sentindo que realmente podia
encontrar uma maneira de dar conta de tudo isso. Com a ajuda do café, é
claro.
Eu poderia admitir para mim mesma que meu bom humor era
parcialmente devido ao beijo de Wes na noite anterior. Eu não conseguia
parar de pensar nisso. Foi muito mais do que apenas bom. Há muitas
palavras mais precisas para de ni-lo. Quente. Intenso. Arrebatador. O mundo
inteiro parou por aqueles poucos segundos, e tudo o que senti foi calor,
músculos e uma necessidade primitiva que não vinha apenas de Wes, mas
também de mim.
Meu mundo nunca tinha parado antes da noite passada. Nem uma vez.
Eu era do tipo de mulher que sempre estava mergulhada em muitos
pensamentos. Mesmo durante o sexo. Eu lutava para dormir à noite, não
importava o quanto estivesse cansada, porque minha mente estava sempre
ativa.
Na noite passada, porém, Wes Kirby havia interrompido tudo de uma
maneira inesperada e impressionante. Levei muito tempo para acalmar
todas as emoções diferentes que ele me fez sentir. E esta manhã, quando
acordei, aquele beijo foi a primeira coisa em que pensei.
Quando ele me olhou, com o corte inchado e suturado acima do olho,
vi muito mais dor emocional do que física. Seus olhos brilhavam em um
tom de azul-escuro, cheios de luto, raiva e tensão. Naquele momento, Wes
precisava de mim.
Enquanto eu escorria as batatas-doces que tinha descascado e cozido, eu
me perguntei o que poderia ter acontecido se Annalise não tivesse nos
interrompido na noite passada. Teríamos voltado à razão e interrompido
essa loucura, ou teríamos transado bem na ilha da cozinha onde agora eu
estava preparando comida para bebê?
Eu sorri ao pensar o quanto Lauren adoraria ouvir essa história. Ela
sempre jurou que Wes não era o cafajeste mulherengo que eu pensava que
ele era e que, se eu desse a ele outra chance, seríamos um casal incrível.
— Tia Hadley, posso pegar alguns Froot Woops? — perguntou
Annalise. — Em uma tigela, mas sem leite?
— E se você comer uma banana primeiro e depois alguns Froot Loops?
— Ok. Você sabia que minha mãe gosta de fazer biscoitos de banana?
Eu olhei para o rosto perfeito e inocente dela, com os cachos escuros e
me derreti por dentro. A morte de Lauren ainda doía muito, mas Annalise e
Benny me traziam conforto. Cada um tinha um pouco de Lauren dentro de
si, e doía um pouco menos lembrar que ela sempre viveria através deles.
— Eu não sabia — respondi a Annalise. — Dos biscoitos que sua mãe
fazia, esses eram os seus favoritos?
— Banana com gotas de chocolate é o meu favorito! — disse ela,
pronunciando “chocolate” como “chocoate”.
— Por que não procuramos a receita da sua mãe e fazemos uns biscoitos
hoje?
— Isso! Eu posso apertar os botões e mexer. Mamãe disse que eu sou
boa em mexer.
— Eu tenho certeza que você é.
— Posso te contar um segredo, Tia Hadley?
Ela me olhou solenemente, com os olhos arregalados. Eu me preparei
mentalmente para um comentário sobre Lauren que ameaçaria me
despedaçar, mas Annalise me surpreendeu.
— Claro que pode.
— Eu gosto de comer aquelas bananas que vem na comida de bebê.
Com as sobrancelhas arqueadas, olhei para ela, esperando o restante do
segredo.
— É só isso? — perguntei.
— Não conta para o Tio Wes. Eu não quero que ele pense que eu sou
bebê.
Rindo, eu coloquei minha colher de lado e a abracei.
— Ele nunca pensaria isso. E você sabe que você é um raiozinho de sol?
Benny começou a reclamar em seu balanço, então eu peguei uma
banana para Annalise, descasquei a parte de cima para ela e levei Benny para
o berçário, para trocar a fralda e dar um pouco de carinho a ele. Quando
voltamos para a cozinha, Annalise pediu seus Froot Loops, então eu lavei as
mãos e coloquei um pouco em uma tigela, torcendo para que Lauren fosse
compreensiva comigo.
Ajustei Benny na cadeira alta e dei a ele um anel de dentição, depois
limpei o processador de alimentos e coloquei os pedaços de batata-doce.
Aquela era a última leva de comida para bebê, então eu organizaria os potes
com tudo que z para algumas fotos do “depois”, limparia tudo, faria o
almoço para todos nós e veria se tinha todos os ingredientes para fazer
biscoitos de banana com chocolate.
Benny resmungou, e eu me virei, encontrando seu anel de dentição no
chão.
— Eu vou lavar, grandão — eu disse, sorrindo para ele e indo lavar na
torneira da cozinha.
Ele pegou de volta, sorrindo, e começou a babar tudo. Nesse ponto,
meu celular tocou, e eu fui atender, vendo o nome da minha chefe
estampado na tela.
— Ah… — Suspirei e atendi, ngindo entusiasmo. — Oi, Liz.
— Hadley. Onde estão as sugestões de pauta para a matéria de viagem
solo?
— Pensei que tivesse gostado das que eu sugeri pelo telefone, então
foram as únicas que incluí.
— Eu sempre quero várias sugestões de pauta.
Isso não era totalmente verdade. Quando Liz dizia que estava incluindo
algo no orçamento, signi cava que tinha sido escolhido do jeito que fora
sugerido. Mas eu sabia bem como tentar ganhar uma discussão com ela.
— Ok, posso te mandar mais tarde hoje à noite.
— Eu estava esperando algo na próxima hora.
Benny gritou, deixando o anel de dentição cair no chão novamente. Eu
peguei e lavei de novo, devolvendo para ele.
— Farei o meu melhor — disse a Liz. — Mas minha babá não está
disponível às terças-feiras, então estou cuidando das crianças hoje.
— Olha, tenho sido muito exível com essa situação toda — disse ela
com tom de irritação. — Mas hoje eu preciso de trabalho durante o horário
de trabalho.
Benny começou a choramingar, e eu me virei para ver seu rosto todo
retorcido, se preparando para um choro épico. Rapidamente retirei a
bandeja da cadeira e o desamarrei, pegando-o no colo na esperança de
acalmá-lo antes que ele começasse a gritar.
— E acho que consigo fazer isso — disse a Liz, embalando suavemente
Benny no meu quadril. — A hora da soneca é daqui a uma hora e meia.
Posso te mandar algo nas próximas duas horas?
Justo quando eu sentia que Liz estava cedendo, Benny soltou um grito
ensurdecedor, e eu me encolhi, andando para a sala de estar para ver se
talvez a tela da televisão chamasse sua atenção e o acalmasse um pouco.
— Sim, tudo bem — disse Liz abruptamente. — Acho que duas horas
terá que funcionar.
— Tudo bem, obrigada por entender.
Liz nem me ouviu, ela já havia encerrado a ligação. Alguém realmente
precisava informá-la sobre como era pouco pro ssional simplesmente
desligar na cara das pessoas.
Levei Benny até seu grande tapete de bebê e o coloquei para brincar. Eu
me ajoelhei no chão com ele e comecei a arrumar alguns blocos grandes
com letras na sua frente. Finalmente, ele começou a se acalmar um pouco
enquanto eu conversava com ele.
— Vamos brincar com esses blocos? — eu perguntei a ele, ainda
alinhando os blocos de letras ABC. — Ou talvez devêssemos ler uma
história?
— Tia Hadley! — Annalise gritou da cozinha.
Suspirei. Apenas mais um dia em uma casa com duas crianças.
Rapidamente, peguei Benny e corri de volta para a cozinha. Parei
abruptamente, minha boca caindo aberta ao ver uma meleca laranja
espalhada por todos os armários brancos, o balcão, o chão e até mesmo o
cabelo e o rosto de Annalise. Devia ser o purê de batata-doce.
— Desculpa — ela disse timidamente.
Eu não havia travado a tampa do processador de alimentos antes de
atender a ligação de Liz, e ela deve ter apertado o botão enquanto eu estava
na sala com Benny. Eu não sabia se ria ou chorava. A cozinha estava um
pesadelo absoluto. Pense em um lme de terror de assassinatos em série,
porém mais laranja e menos vermelha.
— Tudo bem, querida — eu disse. — Foi só um acidente. Vamos
limpar isso. Você se machucou?
Annalise negou com a cabeça, e eu prendi Benny novamente em sua
cadeira alta, mesmo que ele estivesse chorando de novo. Se eu tivesse duas
mãos para cada criança.
Lauren mantinha panos de limpeza empilhados e dobrados na
lavanderia. Eu peguei vários, assim como alguns produtos de limpeza
hardcore. A caminho da cozinha, a campainha tocou, e minha risada saiu
meio divertida, meio insana.
— É melhor ser a Mary Poppins vindo me ajudar — murmurei.
Benny havia parado de chorar e estava tentando en ar toda a mão na
boca agora. Pelo menos ele não estava mais incomodado pelos dentinhos.
Isso já era uma vitória.
— Tia Hadley! — Annalise gritou do corredor de entrada.
— Oi? — Eu larguei os panos de limpeza e fui em sua direção, rezando
para não ter outro desastre me esperando.
— Minha avó e meu avô estão aqui! — disse Annalise.
Ah, Deus. Nos poucos momentos que levei para chegar ao corredor, z
uma prece silenciosa a Deus para que não fossem Patrick e Susan
Whitmore.
Eram eles. Annalise estava sorrindo para mim nos braços do avô.
— Oi — eu disse fracamente, forçando um sorriso.
— Oi, Hadley. Espero que vocês tenham falado sério quando disseram
que poderíamos visitar a qualquer hora — disse Patrick. — Nós realmente
queríamos ver as crianças e talvez ajudar se vocês estiverem precisando de
algo.
— Obrigada — eu disse, tentando pensar em uma maneira de limpar a
cozinha antes que eles vissem.
— Você realmente não deveria deixar Annalise abrir a porta da frente
assim — disse Susan, franzindo a testa para mim. — Poderia ter sido
qualquer pessoa.
— Nós… ela não deveria abrir.
— Era minha avó e meu avô. Mamãe e papai disseram para sempre
abrir para a família — explicou Annalise.
— Onde está o Benny? — perguntou Susan.
— Ele está na cozinha.
— Sozinho?
— Ele está preso na cadeira alta — respondi, sem a menor vontade de
ouvir seus julgamentos. — Por que vocês não sobem para o quarto da
Annalise para que ela possa mostrar os brinquedinhos de chá e eu levo o
Benny para que vocês possam passar um tempo com os dois?
— Eu quero meus Froot Woops! — Annalise gritou, saindo dos braços
do avô e correndo para a cozinha.
Os avós a seguiram, mas esperei um momento, temendo a reação que o
massacre de batata-doce causaria.
— O que diabos é isso…?! — exclamou Susan com puro choque
quando entrei na cozinha.
— Estamos fazendo comida para bebê e Annalise esqueceu de colocar a
tampa no processador de alimentos — eu disse. — Mas todo mundo já fez
alguma besteira acidental e eu estou limpando tudo. Não é grande coisa.
— Quer um Froot Woop, vô? — ofereceu Annalise, estendendo sua
tigela.
— O que é essa porcaria processada? — exigiu Susan. — Lauren não
alimentava nossos netos dessa maneira.
A expressão feliz de Annalise desapareceu, e eu passei a odiar Susan um
pouco mais do que já a odiava.
— Acho que vocês deveriam passar algum tempo brincando com
Annalise — eu disse. — Preciso limpar a cozinha e fazer o almoço.
— Isso parece uma ótima ideia — disse Patrick. — Podemos levar o
Benny também?
Dei-lhe um sorriso em agradecimento.
— Seria ótimo, obrigada.
Annalise caminhou até o irmão e deu a ele um sorriso brilhante.
— Benny, a vovó e o vovô estão aqui! — Ela franziu o nariz. — Eca,
acho que ele cagou nas calças de novo, tia Hadley.
Eu precisava de uma taça enorme de vinho e uma pausa de cinco
minutos, exatamente nessa ordem. Infelizmente, nada disso ia rolar.
— Este é o palavreado que você está ensinando aos nossos netos? —
gritou Susan. — Patrick, precisamos acelerar o processo judicial. Não
podemos deixá-los perto dela.
— Na verdade — uma voz grave vinda da entrada da cozinha
interrompeu o desabafo de Susan. — Qualquer linguagem inadequada que
as crianças tenham ouvido veio de mim, e estou trabalhando nisso. Hadley é
um ótimo modelo e está se esforçando para cuidar das crianças.
Eu me virei, tão feliz em ver Wes, que eu poderia ter chorado. Meu
coração batia com excitação enquanto o observava, o cabelo molhado de
um banho após o treino. Ele estava com uma camiseta dos Mavericks e
calças de moletom cinza, com uma barba de um dia no rosto.
— Você precisa de ajuda para limpar a cozinha? — ele me perguntou
enquanto se aproximava.
— Sim… te agradeço.
Eu estava agradecendo a ele por ter me defendido ou por oferecer ajuda
para limpar? Decidi que era pelos dois, e muito mais. Se Wes não tivesse
entrado nesse momento, eu teria cado sozinha para lidar com os pais de
Ben, as crianças e o trabalho que eu precisava fazer nas próximas horas.
— Vocês vão trocar a fralda do Benny ou devo fazer isso? — Wes
perguntou.
— Eu troco — disse Susan, pegando o neto na cadeira alta e levando-o
para cima sem dizer mais nada.
Wes pegou um pano na ilha e começou a limpar os armários.
— Ei, cadê meu almoço? — ele perguntou.
Eu me virei para Wes, pronta para dizer onde ele poderia en ar seu
almoço, mas então o vi sorrindo maliciosamente. Nós dois explodimos em
risadas.
— Eu faço o almoço — ele disse. — E eu posso terminar de limpar se
você tiver coisas para fazer.
— Não, eu termino. Mas se você zer o almoço, vai ser ótimo. Eu disse
a Annalise que vou procurar uma das receitas de biscoito da Lauren e que
faríamos juntas à tarde.
— Eu te ajudo.
— Obrigada.
Ele se aproximou, e eu não conseguia nomear a emoção em seus olhos
enquanto me olhava.
— Você quer conversar sobre a noite passada?
O beijo. Meu corpo aqueceu apenas com a menção a isso. Eu balancei a
cabeça, porque sabia que se tentasse dizer algo sobre aquele beijo, me
envergonharia e diria algo estúpido como “foi incrível” ou “você é muito
gostoso”. Eu preferiria morrer a que deixar que isso acontecesse.
Não, eu manteria minha dignidade e minha tranquilidade não dizendo
uma palavra sobre aquele beijo. Não havia chance de que isso acontecesse
novamente enquanto Patrick e Susan estivessem aqui, mas depois…
Eu não sabia se Wes queria me beijar novamente, ou se talvez ele
quisesse mais, mas eu sabia que eu queria. Eu nunca fui do “time Wes”, mas
meu corpo decidiu se juntar ao seu fã-clube de uma maneira muito intensa.

Wes olhou para o rosto adormecido e pací co da recém-nascida Annalise e


depois para o meu, seus olhos arregalados de admiração.
— Ela é tão pequena.
— Mas não é perfeita? — Sorri para o embrulho macio em meus braços e
sussurrei porque Lauren e Ben nalmente estavam dormindo.
Foram trinta e seis longas horas, o trabalho de parto de Lauren tinha
progredido lentamente. Ben só saiu do lado dela uma vez porque precisava ir ao
banheiro, e eu senti a dor por ele durante os três minutos em que passei
segurando a mão de Lauren enquanto ele estava fora.
Era difícil ver alguém que você amava com tanta dor. Mesmo com a ajuda
de uma epidural, Lauren estava tendo um parto difícil e estava exausta.
Mas ninguém ligou para nada disso quando a lha dela fez sua estreia no
mundo. Minha melhor amiga estava apaixonada por sua lhinha, chorando de
alegria enquanto a segurava pela primeira vez, o sorriso mais radiante do que
nunca.
Ela tinha adormecido sentada na cama do hospital, e Ben estava roncando
em uma poltrona no canto. Os quatro avós de Annalise estavam na sala de
espera, ansiosos para vê-la e segurá-la, mas Wes e eu estávamos tendo essa
oportunidade primeiro.
Ele tinha cado junto do casal durante todo o parto, não entrou
completamente na sala, mas ocasionalmente colocando a cabeça para dentro e
perguntando como estava indo. Ele tinha perguntado a Lauren no meio de uma
contração difícil como ela estava se sentindo, e ela apenas gritou algo em sua
direção, o que o fez sumir.
— Ela se parece com o Ben — Wes sussurrou.
— Ela se parece com uma uva passa amassada — eu contrapus, rindo
baixinho. — Não dá para saber com quem ela se parece ainda.
— Nah, ela se parece muito com o pai. — Ele sorriu. — Posso segurá-la?
Franzi a testa.
— Ela é delicada, Wes. Você tem que ter muito cuidado.
— Eu não sou um completo idiota. Eu entendo de algumas coisas.
— Você já segurou um bebê antes?
Ele deu de ombros.
— Não tão pequeno, mas eu consigo.
— Hmm. Pensei que a essa altura do campeonato você já tivesse pelo menos
uma moça parindo seus lhos.
— Não seja tão cansativa, Hadley. Eu quero pegar minha a lhada no colo.
— Ok, ok. Estenda os braços — eu sussurrei.
Ele abriu os braços e eu passei o bebê quente e adormecido dos meus braços
para os dele.
— Certi que-se de apoiar a cabeça dela — eu avisei.
Annalise se mexeu e enrugou o rosto quando Wes a pegou, e ele me olhou
alarmado.
— Merda, ela vai chorar — ele disse. — Pega ela de volta.
— Apenas a abrace e a embale um pouco. Você consegue. — Ele a ajustou
mais nos braços, suas mãos eram tão grandes quanto a cabeça dela. Quando ele
olhou para mim, seus olhos pareciam um pouco marejados.
— Eu sou tio — sussurrou, sorrindo.
Foi difícil não gostar dele nesse momento. Wes estava encantado com a
pequena Annalise, e eu nunca admitiria em voz alta, mas ele estava sexy
segurando-a.
— Você é — eu disse, sorrindo de volta.
— Você pode pegar meu celular no meu bolso e tirar uma foto? — Ele virou
o quadril na minha direção. — Está no meu bolso esquerdo, e não tente dar
uma conferida enquanto estiver com a mão lá dentro.
E voltei a não gostar dele. Suspirei em desagrado enquanto pegava o telefone
dele.
— A senha é 696969.
Eu olhei para ele enquanto digitava os números.
— A , espero que não haja uma foto de alguém com as tetas de fora como
plano de fundo.
— Acho que é uma foto de xereca, na verdade. Uma peluda.
Eu o encarei, e ele piscou.
— Você é nojento — sussurrei.
Na verdade, a imagem de fundo de tela era uma imagem da Stanley Cup.
Cliquei no botão da câmera e segurei o telefone, enquadrando a imagem de Wes
e Annalise. Wes sorriu, parecendo feliz e orgulhoso como se fosse pai da criança.
— Quer que eu tire uma sua com ela? — ele perguntou.
— Sim, por favor.
Ele a entregou de volta para mim e tirou duas fotos – uma de mim sorrindo
enquanto a segurava e outra de mim beijando a testa de Annalise.
— Devemos apresentá-la aos avós? — eu perguntei, mas com relutância em
minha voz.
— Acho que sim.
Ben e Lauren nos pediram para apresentar sua lha aos avós enquanto eles
descansavam; ambos estavam muito exaustos para falar ou tirar fotos nesse
momento. Eles estavam em uma suíte para o parto que tinha uma sala de espera
anexa.
— Não consigo acreditar que Ben e Lauren têm um lho — disse Wes
enquanto caminhávamos em direção à porta que levava à sala de espera.
— Pois é. Eles são melhores nisso de ser adulto do que a gente.
Wes bufou.
— Sim, não pretendo sossegar que nem eles por um bom tempo. Tipo,
décadas.
Revirei os olhos porque sabia o que Wes provavelmente tinha em mente – ser
mulherengo até estar na casa dos quarenta e depois encontrar uma jovem de
vinte e poucos anos para ser parcialmente el e ter uma família.
E quando ele tivesse uma família, seria um daqueles pais que aparecem para
sessões de fotos, mas deixam a esposa fazer todo o trabalho pesado. Ele
provavelmente desmaiaria se tentasse trocar uma fralda suja.
Na verdade, não poderia culpá-lo por isso. Eu estava nas nuvens por ser tia
da pequena Annalise, e se precisasse, eu trocaria suas fraldas, mas não tinha
pressa alguma em ter meus próprios lhos. Eu tinha eventos a comparecer.
Lugares para viajar. Degraus corporativas para subir.
Assim como Wes, eu amava minha vida de solteira, minha vida
despreocupada. Embora essa fosse a única semelhança que nós dois tínhamos.
Wes

Chegar em casa e encontrar não apenas um desastre na cozinha, mas


também Patrick e Susan dando uma dura em Hadley me incomodou. Ela
me irritava de modos incalculáveis, dia e noite, mas estávamos nos
esforçando muito para cuidar dessas crianças, e ninguém que não estivesse
aqui conosco tinha o direito de criticar. Especialmente os dois. Eles
entraram com um processo judicial contestando o testamento, o acordo de
custódia, o dinheiro, tudo. Como se eu precisasse do dinheiro do Ben. Era
risível. O novo contrato que eu negociei no ano passado valia mais do que o
de Ben, e nós rimos juntos com o fato de que, pela primeira vez
pro ssionalmente, eu ganhava mais do que ele.
Não havia dúvida de que Hadley também estava estressada.
Especialmente porque ela contornou completamente minha pergunta sobre
o beijo incrivelmente quente que compartilhamos na noite passada. Eu
deixei isso para lá porque notei suas mãos tremendo um pouco enquanto
começávamos a limpar a cozinha, e eu não achava que era por causa da
minha pergunta.
— Você está bem? — perguntei a ela enquanto sentávamos para comer.
— Talvez? — O olhar que ela me deu foi de pura exasperação. —
Minha chefe está sendo exigente e irracional, ter Patrick e Susan aqui eleva
meu nível de estresse para dez, e de repente estou questionando todas as
escolhas de vida.
— Sim, tem sido muito assim ultimamente. Mas estamos fazendo isso
juntos, Hadley. Cozinha bagunçada e palavrões ocasionais à parte, estamos
cuidando dessas crianças e garantindo que elas tenham tudo aquilo que
precisarem.
— Patrick e Susan não acham isso.
— Patrick e Susan precisam voltar para a realidade — murmurei,
pensativo. — E quer saber? Tive uma ideia.
— Teve? — ela arqueou uma sobrancelha.
— Temos um jogo hoje à noite e provavelmente a equipe vai sair depois.
Por que não damos a eles a oportunidade de passar um tempo com as
crianças enquanto saímos para nos divertir um pouco? Quer dizer,
obviamente o jogo é trabalho para mim, mas depois poderia ser divertido.
Somos um grupo unido, e você não faz parte disso ainda.
— Eu não morava aqui — ela disse baixinho.
— Certo. Mas você mora agora, e acho que seria bom para nós dois se
você conhecesse mais pessoas do grupo. Somos como uma família, e você
não tem contato com ninguém além da Nina.
— Então, você acha que deveríamos sair durante toda a noite?
— Absolutamente. — Eu mexi as sobrancelhas. — Vamos ver como eles
se saem quando estiverem cem por cento no comando.
— Isso é meio que genial — admitiu. — Eu topo. Mas agora minha
chefe está sendo uma escrota de marca maior, então preciso mandar algum
trabalho antes que ela perca a cabeça.
— Vai lá. Vou conversar com Patrick e Susan e depois vou tirar minha
soneca pré-jogo. E não intervenha se Annalise precisar de você. Deixe que
eles entendam quanto trabalho isso tudo dá.
— Obrigada de novo, Wes. — Ela tocou em meu braço, pegou o prato
e saiu da cozinha.
Mais uma vez, observei sua imagem se afastar, quase com saudade.
Eu a desejava.
Não havia dúvidas sobre isso, mas eu não podia apenas pressioná-la
contra a parede e transar com ela do jeito que eu queria. Bem, eu poderia, e
se tivesse sorte, um dia faria isso, mas não agora. Não hoje. Provavelmente
Hadley precisava disso tanto quanto eu, e eu apostaria alto que ela estava há
mais tempo sem sexo do que eu. Eu não tinha cado com ninguém desde
antes de Ben e Lauren morrerem, nem mesmo durante as viagens, e minhas
bolas deviam estar assumindo umas belas tonalidades de azul. Mas isso não
vinha ao caso.
Não tínhamos conversado em detalhes, mas estávamos ambos decididos
a respeito do nosso desejo de manter a custódia das crianças. Patrick e Susan
eram velhos demais para trilhar novamente esse caminho com bebês, quer
admitissem isso ou não. Eles conseguiriam fazer isso? Provavelmente. Mas
por quê? Hadley e eu éramos mais jovens e tínhamos a energia e os recursos
para dar às crianças o tipo de vida que Ben e Lauren teriam desejado. Não
que Patrick e Susan não cuidassem delas, mas Patrick estaria na casa dos
sessenta quando Benny estivesse pronto para aprender a patinar no gelo,
jogar beisebol ou qualquer outra coisa. Era uma questão complicada, e
muitos avós assumiam a criação dos netos, mas isso não era o que Ben e
Lauren queriam, senão teriam deixado a guarda para eles.
Subi para o quarto de Annalise, onde Susan estava no chão brincando
de Barbie com ela enquanto Patrick estava na poltrona de balanço
segurando Benny, que estava se contorcendo e choramingando para ir para
o chão. Ele estava aprendendo a engatinhar e gostava de se arrastar de
bruços. Patrick não sabia disso, no entanto, e eu não ia contar para ele.
— Hadley e eu estávamos conversando — eu disse a eles, ngindo não
perceber o desconforto de Patrick. — Sabemos que vocês querem car
algum tempo com as crianças, então ela irá ao jogo de hoje à noite e depois
vamos sair para jantar com o pessoal do time. Vocês podem cuidar das
crianças?
— Claro que podemos. — Susan olhou para cima. — Eles vão morar
conosco em breve de qualquer maneira.
Eu escolhi não discutir e apenas sorri.
— Veremos. Mas, sim, será uma ótima oportunidade para vocês
passarem algum tempo com eles.
— Temos que assistir ao jogo na televisão, vovó — Annalise disse a ela.
— Assim como eu costumava fazer com a mamãe.
Susan cou surpresa, mas então concordou em tom seco.
— Você não pode car acordada até tarde. Tem que ir para a cama,
mocinha.
— Mas a mamãe sempre me deixa assistir o primeiro tempo! —
Annalise protestou.
Eu saí enquanto ela começava a chorar.

*
Nós conseguimos outra vitória, então estávamos com o astral nas alturas
quando saímos do vestiário em direção ao lounge da família, onde esposas,
namoradas, crianças e convidados nos esperavam depois dos jogos. Eu não
conseguia explicar a agitação no meu estômago. Sabia que Hadley estava lá
com os outros, mas assim que entrei na sala, seus olhos encontraram os
meus.
Ela estava adorável, de jeans justo, uma camisa com o número de Ben e
os cabelos escuros cacheados caindo logo abaixo dos ombros. Quando ela
sorriu para mim, eu esqueci completamente do processo iminente da guarda
das crianças, de como Benny nunca dormia e como Hadley sempre me
provocava. Eu de fato queria era caminhar até ela, beijar seus lábios doces e
deixar todos os caras do time saberem que ela estava fora do alcance deles.
Porque mais de um estava de olho nela, especialmente os novatos que não a
conheciam.
Eu me contentei em caminhar até ela e beijá-la na bochecha.
— Oi.
— Vocês foram incríveis — ela disse. — Faz séculos desde a última vez
que fui a um jogo. Obrigada por me convidar.
— Você é sempre bem-vinda.
— Quem é você? — um dos meus colegas perguntou, vindo até nós e
estendendo a mão para Hadley. — Eu me chamo Michael Boone, mas meus
amigos me chamam de Boone.
— Prazer em conhecê-lo. — Hadley pareceu um pouco surpresa com o
interesse evidente de Boone. — Me chamo Hadley Ellis. Eu era a melhor
amiga da Lauren Whitmer.
— Ah… — Seus olhos se arregalaram. — Uau. Eu não sabia que era
você. Mas prazer em conhecê-la. Bem-vinda à família Mavericks.
— Obrigada? — Ela o assistiu se afastar apressadamente e depois olhar
para mim. — O que você disse a ele sobre mim que o fez fugir desse jeito?
— Nada. — Eu ri. — Juro. Acho que ele estava querendo se divertir e,
quando percebeu que isso não ia acontecer com a mulher com quem estou
criando os lhos do Ben, se mandou. Os jovens de hoje não têm
re namento.
Ela riu.
— Provavelmente não, mas foi uma boa sacada dele.
— Então, nós vamos para um restaurante italiano local que gostamos.
Conhecemos os donos e sempre arrumam espaço para a gente no salão dos
fundos, onde ninguém nos incomoda. Você vem com a gente?
— Com certeza. — Ela sorriu. — Annalise me chamou pelo menos
meia dúzia de vezes enquanto você dormia. E eu a levei de volta para a avó.
Quando eu saí, eles estavam mais do que um pouco estressados. Eu acho
que eles não lembravam de quanto trabalho uma criança de seis meses dá.
— Sem mencionar uma de quase quatro anos.
— Por falar nisso, tenho que começar a planejar a festa de aniversário
dela. Honestamente, não sei por onde começar.
— Ela não quer nada relacionado a Frozen?
Hadley assentiu.
— Ainda está muito frio para fazer algo em áreas externas, então
teremos que ser criativos.
— Você já perguntou para a Nina?
— Amanhã.
Nós sorrimos um para o outro.
— Tudo bem, você vai comigo ou com a Nina?
— Ah. — Ela hesitou. — Acho que vou com você. Não sei se a Nina e
o Drew vão. Eles iam ligar para a babá para ver se ela podia car mais
tempo.
— Ok. Então estou pronto para ir se você quiser.

*
Nós ocupamos o salão dos fundos do Giovanna’s Italian Bistrô, um
lugar pitoresco que tinha uma comida incrível, um ambiente legal e cuidava
bem dos Mavericks sempre que íamos lá. O dono, Vicenzo, havia nomeado
o lugar em homenagem à esposa Giovanna, ou Gia, como a gente a
chamava, e eles sempre nos cumprimentavam calorosamente quando
chegávamos.
— Ótimo jogo hoje! — Vicenzo sussurrou para mim. — A Gia, ela não
sabe que eu assisto pelo celular quando estou nos fundos.
Eu ri.
— Um dia desses, vamos ter que te levar para ver o jogo pra valer.
— Deus te ouça — ele disse, olhando para o teto.
— Eu quero que você conheça minha amiga, Hadley. Ela é madrinha
dos lhos do Ben e da Lauren.
— Aquela que você me falou. — Ele pegou na mão de Hadley e fechou
as duas em volta dela. — Sentimos muita falta do Ben e da Lauren. Mas
seja muito bem-vinda a St. Louis e ao nosso pequeno restaurante. Você está
com fome? O que posso te oferecer?
— Vou dar uma olhada no menu e te falo — respondeu Hadley,
sorrindo para ele.
Sentamos em uma grande mesa nos fundos, mais de uma dúzia de
gente, e isso me lembrou a como era antes do acidente. Esse era nosso lugar
favorito depois dos jogos. Às vezes, vínhamos para comer, outras vezes
apenas para a sobremesa, outras vezes apenas para beber alguma coisa e
socializar. Ben havia começado a tradição depois dos jogos em casa em
noites em que não teríamos que viajar ou ir para o gelo novamente no dia
seguinte. Isso geralmente acontecia cerca de uma vez por mês, um
momento para todos colocarmos o papo em dia, relaxarmos e passarmos
um tempo juntos. Embora toda a equipe e familiares fossem sempre
convidados, geralmente eram os mesmos doze ou treze que vinham.
Esta noite nós éramos um grupo agitado, mas descontraído; Drew e
Nina, Hadley e eu, outro veterano da equipe chamado Ross Camden e sua
esposa, Allie, Nash, Lars, Boone e nosso novo goleiro reserva russo,
Konstantin, com sua namorada, Svetlana. Ele tinha chegado à equipe há um
ano, e na maior parte do tempo mantinha-se reservado, mas comparecia a
nossos jantares mensais, como se estivesse tentando se encaixar e encontrar
seu lugar conosco. Alguns outros ainda estavam para chegar, então
começamos sem esperá-los.
— Como estão as coisas com as crianças? — Nash perguntou. — Me
sinto mal por não ter passado lá nos últimos tempos, mas parece que vocês
estão se virando bem.
— Bem, contratamos uma babá para nos ajudar, para que Hadley possa
trabalhar e eu possa descansar quando preciso. Isso fez uma grande
diferença — respondi.
— E aí os avós apareceram. — Hadley pegou sua taça de vinho e deu
um gole.
— Os pais de Ben ainda estão brigando com vocês pela guarda? —
Drew perguntou, com incredulidade no rosto. — Não consigo entender
isso.
— Eu também não — admiti. — Eu costumava ter um relacionamento
bastante sólido com eles. Eu os conheço desde criança, mas eles não
recuam. Não que eu esteja preocupado com isso. O advogado que contratei
vai acabar com o deles. Não há nada que faça um juiz anular o testamento e
aquilo que Ben e Lauren deixaram acertado, a menos que haja algum tipo
de abuso envolvido. O que, obviamente, não é o caso.
— Às vezes, juízes tomam decisões estranhas — disse Nina. —
Certi que-se de que tudo esteja em ordem, caso contrário…
— Estamos tentando. — Hadley olhou para mim, e pela primeira vez
talvez, seus olhos estavam cheios de… reconhecimento?
Eu deslizei minha mão por baixo da mesa, gentilmente descansando-a
em sua coxa, só que mais perto do joelho do que em qualquer outro lugar.
Eu estava tentando mostrar apoio, e não algum tipo de contato sexual, e
para minha surpresa, ela colocou a mão sobre a minha. Eu quase esperava
que ela a movesse para longe, mas Hadley apenas a apertou suavemente
enquanto tomava outro gole de vinho.
Jesus.
Nós estávamos praticamente de mãos dadas debaixo da mesa? Meu
coração estava batendo um pouco mais forte do que o normal e meu peito
apertava de excitação. Eu me sentia como um adolescente que acabara de
conquistar a líder de torcida bonita e que agora todos os amigos cariam
com ciúmes.
Eu não sabia o que diabos estava acontecendo comigo, mas em algum
lugar no fundo da minha mente, lembrei de uma conversa em que Ben
havia confessado que não entendia por que Hadley estava solteira.

— Ela é linda — ele me disse. — Inteligente, independente e tem um


coração enorme. O que esses caras têm na cabeça para não quererem car com
ela?
— Bem… — eu disse. — Se ela for um pé no saco tão grande com os caras
como é comigo, quem vai dar conta disso?
— Já parou para pensar que talvez ela goste de você, mas você é galinha
demais para que ela se permita se aproximar desse jeito?
Eu revirei os olhos.
— É, claro. Se você diz. Na real, ela é gostosa, mas não faz o meu tipo.
— Acho que ela é exatamente o seu tipo. Você só precisa crescer para
reconhecer isso.

Sim, Ben havia percebido o potencial muito antes de nós. Como


sempre. Teria Lauren tido conversas semelhantes com Hadley? Eu gostaria
de poder perguntar a ela, mas estamos andando por territórios
desconhecidos, e eu não queria assustá-la.
— Ei, pessoal. — Van Lukather, um jovem defensor da equipe, entrou
no recinto. Ele puxou a cadeira ao lado de Hadley, virou-a com o encosto
para frente e sentou-se de pernas abertas. Ele provavelmente era o cara mais
engraçado da equipe, sempre nos fazia rir, mas era totalmente sério no gelo.
Ele também sabia dar uns bons socos, o que às vezes vinha a calhar.
Logo atrás dele estava Rory Beauchamp e uma jovem bonita que eu
nunca tinha visto antes. Rory era meio imprevisível. Ele era jovem, mas não
um novato; talentoso, mas sem muita disciplina; e um festeiro incansável. O
treinador tinha conversado com ele há alguns meses, passado um sermão
sobre tudo isso, e agora ele parecia ter arranjado uma namorada. Quem sabe
não estivéssemos todos amadurecendo?
— Oi, eu sou o Van. — Van estendeu a mão para Hadley. — Eu não
sabia que o Wes tinha uma namorada.
— Ah, nós não… — ela começou, tirando a mão da minha.
— Ela não é… — eu disse ao mesmo tempo.
— Ei, tudo bem. Não é da minha conta. — Ele acenou para o garçom e
pediu uma cerveja.
Hadley olhou para mim, e eu olhei de volta para ela. Querendo ou não,
tínhamos de conversar sobre aquele beijo. Eu esperava estar lendo seus
sinais corretamente, de que ela queria mais do que apenas outro beijo tanto
quanto eu queria.
Hadley

— A cara dele! — Drew jogou a cabeça para trás em uma risada. — Ben
odiava quando a gente zoava com a cara dele.
— Mas era o primeiro a rir da gente quando nós éramos o alvo da
brincadeira — acrescentou Nash.
Houve um momento de silêncio na mesa no Giovanna’s. Embora
houvesse tristeza em muitos rostos, também havia sorrisos. Ouvir a história
sobre a vez em que Van colocou uma cobra em um cooler do vestiário e
esperou até Ben o abrir em busca de algo para beber me fez rir. Eu gostava
de descobrir algo que não sabia sobre ele – quase me fazia sentir como se ele
estivesse aqui conosco. Ou, pelo menos, seu espírito estivesse.
— Com aqueles calouros foi pior naquele ano — disse Wes, balançando
a cabeça. — Van colocou a cobra na cama com cada um deles, e nós
gravamos em vídeo.
— Puta merda, é verdade! — disse Drew. — Rory não mijou nas calças?
Rory olhou com raiva para o goleiro da equipe.
— Eu pensei que ia morrer, seu lho da puta. Vocês têm sorte de
ninguém ter problemas cardíacos.
Wes olhou para mim, e vi sua expressão relaxada e feliz. Eu estava
sentindo a mesma coisa, os dois já tendo tomado várias bebidas e se
entupido de pão e uma massa, ambos deliciosos, que nenhum de nós havia
cozinhado ou limpado depois.
— Acho que a pobre cobra estava mais assustada do que qualquer um
de vocês — disse ele, dando um pequeno aperto na minha mão.
— Eu a levei para a oresta atrás da casa dos meus pais depois — disse
Van. — Tenho certeza de que ela teve uma boa vida.
— Pessoal, eu odeio dizer isso, mas temos que ir — disse Drew, olhando
para Nina. — Nossos lhos acordam famintos e cheios de energia
impiedosamente às seis em ponto todas as manhãs.
— Ugh. — Rory fez careta. — Eu diria para eles pegarem uma barra de
proteína no armário e me deixarem dormir por mais uma hora.
— Hadley — disse Nina quando se levantou. — Posso passar amanhã à
tarde? Pensei em colocarmos a conversa em dia e sairmos com as crianças.
— Olha, agora tenho não só uma babá, como os pais de Ben ajudando,
então a gente pode almoçar fora se você quiser.
— Essa ideia me soa ótima. Combinamos por mensagem de manhã
sobre o horário e o lugar.
Wes inclinou o rosto para perto do meu e murmurou:
— Espero que não se importe, mas mandei uma mensagem para Tori e
disse a ela que pode tirar alguns dias de folga remunerada enquanto Patrick
e Susan estiverem aqui. Quero que eles tenham a experiência completa.
— Você é implacável — disse eu, rindo. — E eu amo isso.
Os outros começaram a se levantar, pegando casacos e bolsas. Eu olhei
para o relógio e vi, para minha surpresa, que já passava da meia-noite
Wes me ajudou a levantar da cadeira, e em seguida nos despedimos de
todos. Eu tinha visto Wes entregar um cartão de crédito para Vicenzo
algumas horas atrás, então antes de sairmos ele assinou a conta e pegou o
cartão de volta.
— Nós que agradecemos — disse Vicenzo, colocando uma mão no
ombro de Wes. — Sua equipe é sempre muito generosa conosco. Traga sua
linda senhorita novamente para um encontro e eu reservarei uma mesa no
canto para vocês.
Wes encontrou meu olhar por um segundo e disse:
— Farei isso. Nos encontramos na próxima vez. Obrigado por car
aberto até tarde para a gente.
— Disponha.
Saímos para o ar fresco da noite, e eu botei meu gorro roxo-escuro na
cabeça. Wes sorriu para mim.
— Foi gentil da sua parte pagar a conta — eu disse.
Ele deu de ombros.
— Trabalho do capitão da equipe. Ben sempre fazia isso, então agora eu
farei.
— Você é o novo capitão da equipe?
— Tecnicamente. Mas Ben continuará sendo nosso capitão o cial pelo
restante da temporada. Se não começarmos a vencer consistentemente, ele
pode me enviar uma mensagem do além me dizendo que precisamos dar
um gás.
— Não vamos nos preocupar com nada disso hoje à noite. É ótimo
poder tirar uma noite de folga desse lance de ganhar, perder, ter prazos
de nidos.
— Você tem razão — disse ele. — E está uma graça com esse gorro.
Meu coração acelerou, e eu encostei em meu gorro.
— Obrigada. Lauren fez para mim.
— Sério?
— Sim. Ela era naturalmente boa em fazer coisas, sabia? Se quisesse
aprender algo, ela simplesmente ia lá e… aprendia.
— Você também é boa em fazer coisas.
Eu ri levemente.
— Tipo humilhar as pessoas?
Wes suspirou suavemente enquanto caminhávamos na direção do seu
Range Rover.
— Sabe, Hadley, se eu pudesse fazer tudo de novo, eu não teria feito
aquela piada sem graça sobre você gostar de salsichas.
Eu virei a cabeça em surpresa.
— Você ainda se lembra disso?
— Claro que lembro. Em exatamente três segundos, seu rosto passou de
interessado para incrédulo e de incrédulo para desgostoso. Eu tinha acabado
de… tomar algumas cervejas e, para ser honesto, ainda precisava
amadurecer um pouco.
Sua humildade em relação ao nosso primeiro encontro me pegou de
surpresa. Chegamos ao carro dele, e antes que Wes pudesse abrir a porta
para mim, eu me aproximei e coloquei minha mão em seu peito.
— Minha reação foi exagerada — admiti. — Não deveria ter deixado
um comentário estúpido decidir se valia a pena te conhecer melhor.
— Posso confessar uma coisa?
Eu sorri e disse:
— Claro.
— Eu nunca tinha sido rejeitado antes. Eu quei meio atordoado
quando você me rejeitou, porque estava acostumado com mulheres se
jogando aos meus pés, sem que importasse muito qualquer coisa que eu
dissesse. Uma vez, depois de um jogo na faculdade, eu entrei em uma festa
completamente bêbado e disse a uma mulher que tinha acabado de pisar em
um cocô de cachorro. Ela riu e disse que eu era adorável. En m… — Ele
balançou a cabeça, desviou o olhar e depois encontrou meus olhos. — Eu te
achei sexy pra cacete. Um verdadeiro avião. E então, quando você me
rejeitou… eu gostei ainda mais de você.
Eu me aqueci da cabeça aos pés, feliz com os elogios, mas também
tentando entender o que estava ouvindo.
— Você gostava de mim?
— Sempre gostei. É que eu sabia que tinha estragado tudo.
Ele colocou a mão em meu rosto e me acariciou com o polegar, em
seguida fez um carinho nos meus lábios, criando uma sensação de excitação
no meu estômago. Um pequeno oco de neve caiu em sua barba escura
enquanto Wes deslizava a mão para a minha nuca e se inclinava para me
beijar.
Foi suave e carinhoso. Seus lábios acariciaram os meus lentamente antes
que eu agarrasse as laterais do seu casaco e pressionasse meu corpo contra o
dele, intensi cando nosso beijo. Suas palavras doces, o aroma amadeirado e
o corpo quente e forte me zeram esquecer de tudo. Eu não perdi tempo
analisando ou pensando demais no assunto – apenas vivi neste momento
perfeitamente romântico.
Wes gemeu e me empurrou contra o carro, sua língua roçando na minha
em um beijo tão apaixonado, que eu não conseguia pensar direito. Eu só
sabia que queria mais.
Quando a boca de Wes desceu para a minha mandíbula, eu arfei e fechei
os olhos, positivamente afetada pelo seu grande porte físico e sua óbvia
fome por mim.
— Vamos para um hotel — murmurou ele perto da minha orelha
enquanto seus lábios roçavam no meu pescoço.
— Eu topo.
— Você é sexy pra caralho, Hadley. Mal posso esperar para te mostrar o
que você faz comigo.
Mesmo por baixo dos casacos, eu senti sua rigidez pressionada contra
mim. Eu queria jogar a cautela para o espaço e morar neste momento,
transar com Wes até o último minuto que tivéssemos antes de precisar
voltar para casa de manhã.
Mas aquela vozinha estava de volta. Aquela pequena e irritante voz da
consciência estava me dizendo que era irresponsável car fora a noite toda e
voltar para casa pela manhã com a aparência de quem tinha bebido,
transado e voltado para casa com as mesmas roupas da noite anterior. Nem
sequer havíamos mencionado car fora a noite toda para Patrick e Susan.
— Eu quero muito — repeti. — Mas como Nina disse, temos que
manter tudo organizado. Não quero dar a Patrick e Susan munição para
fortalecer a ação judicial deles contra a gente. E eles não sabem como fazer
massagem na barriga do Benny quando ele tem gases à noite. E se Annalise
acordar de manhã e não estivermos lá…
Wes suspirou pesadamente.
— Eu entendo.
— Eu quero. — Eu puxei seu casaco e esperei até que seus olhos
encontrassem os meus. — Você sabe o quanto eu quero, não sabe?
Os cantos de seus lábios se curvaram em um sorriso.
— Sim, mas difícil é dizer isso para meu saco.
— Não tenho certeza se uma conversa entre mim e seu saco seria útil
nesse momento.
Com uma risada baixa, ele beijou minha testa e respondeu:
— Ok, não nesta noite. Mas em breve.
— Sim.
Ele me beijou mais uma vez antes de recuar, me puxando para que
pudesse abrir a porta do passageiro para mim.
Quando seria esse em breve, eu me perguntei enquanto Wes nos levava
para casa, sua mão na minha coxa me deixando tão excitada, que eu estava
me contorcendo no banco.
Com certeza não seria breve o su ciente.

*
— Então, obviamente, você e Wes mandaram ver.
Minhas bochechas aqueceram enquanto eu ria do comentário de Nina.
Estávamos sentadas em uma cabine em uma lanchonete no subúrbio,
conversando sobre sopas e sanduíches.
— Ainda não chegamos nesse ponto — eu confessei.
— Sério? — Ela me deu um olhar incrédulo. — Eu disse ao Drew
enquanto voltávamos para casa ontem à noite que, da maneira como vi
vocês se olhando, havia cem por cento de chance de rolar sexo.
— Bem, tivemos que voltar para casa por causa das crianças e dos pais
do Ben, então… não.
— É, eu entendo como isso pode ser um balde de água fria. Mas eu
estou amando que vocês dois estejam tão interessados um no outro. E eu sei
que a Lauren também amaria.
Eu olhei para baixo, sorrindo tristemente, e ergui o rosto para Nina.
— A Lauren e o Ben tentaram nos juntar há muito tempo… tipo, há
sete anos, eu acho. Mas não deu certo.
— As pessoas mudam. O Drew disse que parou com toda a farra bem
rápido quando se tornou pro ssional porque era muito mais intenso do que
ele imaginava.
— Mas quanto ao Wes e a mim… não sei se é uma boa ideia seguir por
esse caminho. Quer dizer, eu quero seguir por esse caminho?
Absolutamente. Mas ainda não sabemos quem cuidará das crianças.
— Ah, eu pensei que vocês fossem criar as crianças juntos. Não era esse
o caso?
Eu balancei a cabeça.
— Não sei como faremos. Minha chefe disse que posso trabalhar
remotamente por enquanto, mas ela não está feliz com o modo como as
coisas estão indo. Eu sou a primeira a admitir que não estou conseguindo
acompanhar tudo. Mesmo com a nova babá. Eu costumava trabalhar de dez
a doze horas por dia, mas não consigo fazer isso tendo as crianças.
— Você com certeza enxerga a situação melhor do que eu — disse Nina
—, mas parece fazer sentido você e Wes criarem as crianças juntos. Se você
as levar para Nova York, terá que contratar ajuda em tempo integral para
poder continuar trabalhando tanto.
— Eu sei. Eu me preocupo com essas coisas o tempo todo. E sinto que
Wes e eu nos envolvermos romanticamente só complicará tudo ainda mais.
Especialmente se não der certo.
Nina concordou.
— É inteligente pensar nisso, mesmo que seja difícil.
— Annalise e Benny já perderam os pais. Ben e Lauren eram o mundo
deles. E eu não quero que eles me percam ou percam o Wes porque
começamos a dormir juntos e as coisas deram errado. Não é certo.
— A vida é tão bagunçada às vezes, não é?
— Nem me fala. — Terminei meu sanduíche e afastei o prato, apoiando
os cotovelos na mesa. — Agora uma questão bem mais fácil: como faço para
organizar uma festa de aniversário para uma criança de quatro anos?
— Depende de quão elaborado você desejar que essa festa seja.
— Quero fazer como a Lauren faria. Ou o mais próximo possível disso.
— Perfeito. Eu sempre gostei da maneira como ela fazia as festas. Eram
divertidas, mas não exageradas.
— Estava pensando em talvez em Frozen como tema, o que acha? Um
pouco de patinação no gelo e um bolo decorado com ocos de neve em
tons diferentes de azul?
— Mas a Annalise não está na fase dos Vingadores agora?
— Está, ela ama isso, mas não sei como fazer uma festa dos Vingadores.
Quero fazer o bolo eu mesma, como a Lauren sempre fez, mas não sou
especialista em decorar bolos. Na verdade, estou longe de ser especialista.
Não consigo fazer nenhuma decoração elaborada.
— Eu posso te ajudar. Ah! E já sabemos que é a pessoa perfeita para se
fantasiar de or e fazer uma aparição na festa. Será ótimo, e ele pode
brincar com as crianças.
— Sabemos?
Nina sorriu.
— Lars.
— Ele vai querer fazer isso?
Ela riu.
— Pela lha do Ben, pode con ar. Provavelmente teremos a formação
completa dos Vingadores na festa. O time sempre amou essas crianças como
se fossem deles.
Sorri, grata por Benny e Annalise estarem amparados por uma bela rede
de apoio. Por dentro, porém, nunca estive no meio de tanto con ito. Levar
as crianças para Nova York já não parecia uma escolha muito acertada.
Nina estava certa – a vida era bagunçada às vezes. Não parecia haver
uma maneira de escapar disso sem que alguém saísse ferido. Mas o fato é
que as crianças não poderiam ser magoadas. Nem Wes nem eu
permitiríamos isso.
Wes

— Wes, você está bravo comigo? — perguntou Gina, seus lábios vermelhos
cheios franzidos em um bico. Ou era Jenna?
Merda, eu não conseguia lembrar. Tinha sido pura sorte a ter encontrado na
mercearia esta manhã enquanto comprava um cartão de aniversário para
Annalise. Meu namoro de seis meses havia terminado na noite anterior, e a
última coisa que eu queria era aparecer na festa de aniversário de um ano de
Annalise sem uma acompanhante. Hadley estava na cidade, o que signi cava
que ela iria me incomodar desde o momento em que eu chegasse. Então, em um
momento de insanidade temporária, eu convidei Gina – ou Jenna, Jeannie? –
para me acompanhar. Nós tínhamos saído algumas vezes no ano passado,
quando eu me mudei para St. Louis, mas aquilo tinha sido só sexo. Agora era
um encontro de verdade.
E eu nem conseguia me lembrar o nome dela.
Que inferno.
— Wes? — Agora ela parecia triste. Balancei a cabeça, distraído, e abria a
porta do passageiro do meu novo Mustang para ela.
— Desculpa, boneca. Não estou bravo. Você está linda. É só que, você
entende, você se arrumou para uma festa de adultos, mas nós viemos a uma festa
infantil.
Ela olhou para baixo, para sua minissaia rosa-choque e sapatos de salto de
quinze centímetros.
— Mas você adora essa saia.
— Sim. Adoro. É só que… esquece.
Era tarde demais, e não era culpa de Gina/Jenna que eu fosse um idiota.
— Não se preocupa, as crianças me adoram — disse ela, deslizando para o
banco do passageiro e ajeitando o cabelo.
Ela manteve uma conversa constante durante todo o caminho até a mansão
de Ben e Lauren no subúrbio, até eu en m estacionar no amplo e circular
caminho da entrada. Eu peguei o enorme presente brilhante de Annalise do
banco traseiro e caminhei até o quintal com Gina/Jenna me seguindo.
Nós seguimos o som de risadas, já que Ben e Lauren estavam fazendo um
churrasco. Inicialmente, a festa seria dentro de casa, mas como estava fora de
época, eles a levaram para o quintal. O que fazia os saltos absurdamente altos
de Gina/Jenna se destacarem ainda mais.
— Oi, bonitão! — Lauren chamou enquanto passava por mim carregando
uma bandeja de cupcakes e me mandando um beijo.
— Oi, linda.
Lauren colocou os cupcakes no chão e veio até a gente, um sorriso de
curiosidade no rosto, já que ninguém sabia que Sadie e eu tínhamos terminado.
— Quem é essa?
— É minha amiga… Ginnie… — eu disse o nome dela num sussurro tão
baixo, que Lauren não poderia ouvi-lo.
— Desculpa… — Lauren se virou para Gina/Jenna, estendendo a mão. —
Qual é o seu nome?
— Jeannie. — Jeannie sorriu e olhou em volta, os olhos arregalados. —
Nossa, este lugar é incrível. Espero poder morar numa casa assim um dia.
— Obrigada. — Lauren me lançou um olhar engraçado antes de apontar
para Ben. — O Ben começou a cozinhar, a Annalise ainda está dormindo e
alguns dos caras do Mavericks estão circulando.
— E aí, cara? — Ben levantou a mão, acenando para mim.
— E aí? — Comecei a caminhar em sua direção, mas Jeannie segurou meu
braço.
— Eu não sabia que seria ao ar livre — disse ela. — Meus sapatos estão
cando sujos.
— Então vamos lá para dentro — disse eu. — Você pode car sentada na
cozinha por um tempo.
— Sozinha? — Ela parecia triste de novo.
— Ehhh, não. Eu, hm, sento com você depois de cumprimentar todo
mundo.
Jesus. O que eu fui fazer?
Trazer Jeannie comigo tinha sido estúpido, mas eu estava chateado com o
término e realmente não queria aparecer sem uma acompanhante, sabendo que
Hadley viria. Por causa disso, só tinha piorado as coisas. Às vezes, eu não
conseguia me ajudar, e nada me deixava mais burro do que estar perto de
Hadley.
— E aí, Kirbs! — Nash se aproximou e apertou minha mão.
— E aí, cara? — Eu sorri para ele. — Tudo em cima?
— Ah, é aquilo, um pouco pra cima e para a esquerda.
Rimos juntos, e Jeannie deu uma risadinha.
— Isso é tão excitante.
Optei por ignorá-la e dei oi a alguns outros caras da equipe, pensando se
daria para apenas levar Jeannie para casa e encerrar a noite. Ben nunca me
perdoaria se eu fosse embora, mas eu já estava com uma sensação ruim, e
tínhamos acabado de chegar.
— Wes, você não vai me apresentar aos seus companheiros de time?
Na verdade, eu não queria, mas fui educado e circulei com ela, evitando o
local onde Hadley e Lauren estavam conversando com algumas das esposas dos
jogadores.
— Que tal uma cerveja, Jeannie? — Nash perguntou a ela.
Ela piscou.
— Eca. Que nojo. Eu não bebo cerveja. Tem vinho? Ou melhor ainda,
tequila?
— É uma festa de aniversário de criança — eu disse gentilmente. — Só
tem cerveja e vinho. Deixa que eu pego uma taça para você.
Eu a deixei com meus companheiros de time e entrei na casa para pegar
uma taça de vinho no mesmo momento em que Hadley também estava
entrando. Não, a sorte não estava do meu lado.
— Olá, Wes. — Ela me deu um aceno super cial.
— Oi, Hadley.
— Ouvi dizer que você tem uma nova namorada — ela disse, os olhos
inescrutáveis enquanto me olhava.
— Ouviu errado — respondi.
— Então a piriguete de salto dez e bunda quase de fora não é a nova
namorada?
— Ela é só uma amiga.
Ela riu.
— Sério? Quanto você paga por hora para sua amiga?
Eu suspirei.
— Você poderia ser menos escrota?
— Você poderia ter um pouco mais de classe? Você trouxe uma mulher que
parece uma prostituta para a festa de aniversário da sua a lhada. Na frente de
amigos, familiares e companheiros de time. Você realmente não tem um pingo
de decoro.
— Que bom que você julga um livro pela capa — eu retruquei. — Ela
pode não ser a pessoa mais inteligente do mundo, mas pelo menos é legal. Algo
que você poderia tentar ser pelo menos uma vez na vida. O que aconteceu com
as mulheres dando apoio umas às outras? — Eu dei meia-volta e saí da cozinha.
Hadley me irritava como ninguém jamais me irritou, e a vontade de
mandá-la para aquele lugar cava cada vez mais forte toda vez que eu a
encontrava.
— Tenho medo de perguntar onde Sadie foi parar — Ben disse, olhando
para cima da grelha quando me aproximei dele.
— Ela me dispensou — murmurei.
— Nossa, sinto muito. Eu pensei que as coisas estivessem indo bem.
— Ela não gosta do quanto eu viajo.
— Faz parte da vida. Se ela não consegue lidar com isso, é melhor
terminarem agora.
— Sim.
— Então, hum, você e Hadley já se estranharam? — Eu segui o olhar dele
até onde Hadley acabara de bater a porta da cozinha antes de voltar para perto
de Lauren.
— Eu não consigo dar uma dentro com ela, cara. Eu só disse oi, e ela já
chamou a Jeannie de piriguete.
— Bem, você trouxe uma garota que está de salto quinze e uma saia que
mal cobre a bunda para a festa de aniversário da família.
— Eu precisava de uma companhia! E não são quinze centímetros!
— Por quê? — Ben me olhou como se eu estivesse louco. — É o aniversário
da Annalise. Não há ninguém aqui além dos amigos mais próximos e dos
familiares. Quem se importa se você viria acompanhado ou não?
— Eu me importo! — respondi, irritado. — Você convida a Hadley para
tudo, e ela faz com que eu nem queira vir! Toda vez que estamos juntos, ela
sempre tem algo desagradável para dizer.
— Às vezes, você mesmo provoca isso, amigo. — Ben me deu o mesmo olhar
que de vez em quando dava aos caras no vestiário quando eles estavam sendo
idiotas. Mas agora era diferente.
— Como eu já disse uma dúzia de vezes, você sempre toma o partido dela.
— Se você apenas desse uma chance a ela…
Passei a mão na lateral do rosto antes de responder.
— Quer saber? Acho que vou embora. Não é como se Annalise fosse se
lembrar de quem esteve aqui hoje. — Eu me virei e comecei a caminhar em
direção a Jeannie.
— Ei. — Ben me alcançou e colocou a mão no meu ombro. — Me
desculpa. Você tem razão. Eu tomo partido dela, mas é só porque não enxergo as
coisas como você, e a única coisa que consigo ver é que vocês dois são perfeitos
um para o outro e que cam lutando contra isso com todas as forças.
Eu balancei a cabeça.
— Hadley e eu? Perfeitos um para o outro? Isso nunca vai rolar, parceiro.
Pode apostar.
— Tudo bem. Mas, por favor, não vá embora. Nós queremos você aqui, e eu
prometo mantê-lo longe de Hadley.
Eu suspirei.
— Beleza. Mas você vai pagar as bebidas na próxima viagem.
— Negócio fechado.

*
O dia da festa de aniversário da Annalise estava ensolarado e brilhante.
Ainda estava frio, com temperatura abaixo dos 10 graus e ventando
bastante, mas estava perfeito para o que tínhamos planejado. Bem, na
verdade, o que Hadley planejou, já que eu precisei viajar duas vezes nas
últimas semanas. Embora o plano original fosse fazer uma festa simples, o
tema dos Vingadores pegou e todos se envolveram. Conseguimos
representantes para quase todos os heróis – or, Homem de Ferro, Capitão
América, Viúva-Negra e até um Hulk.
Foi preciso um pouco de dedicação para convencer Lars a se vestir de
or, mas assim que ele aceitou, o restante da equipe se jogou na
oportunidade de vestir a fantasia dos super-heróis favoritos da Annalise.
Drew foi o Capitão América, Van, o Homem de Ferro, e para nossa
surpresa, Konstantin se ofereceu para ser o Hulk. Nina se voluntariou para
ser a Viúva-Negra para completar o grupo.
— Está tudo incrível — disse Greg Brandt. Greg era o pai da Lauren.
Ele e a mãe dela, Tasha, tinham vindo de avião para passar o nal de
semana com Annalise. Embora a esclerose múltipla da Tasha estivesse sob
controle, ela se cansava facilmente e nem sempre podia fazer as coisas que
desejava. Estávamos felizes pela vinda deles, porque os dois eram amorosos e
tranquilos. Ao contrário do Patrick e Susan, que tinham ido embora
irritados. Nós mostramos o quanto era difícil cuidar das crianças, e eles não
caram felizes com o pouco que zemos enquanto estiveram aqui.
Tudo foi planejado por mim, é claro, para dar a eles um gostinho do
que é ser pai com uma idade avançada. Eu não sabia se esse gesto tinha feito
mais estrago do que trazido algum benefício, mas estava ocupado demais
para me importar, e o advogado que contratei disse que eles não tinham
argumentos.
— Em que podemos ajudar? — Tasha perguntou, apoiando-se na
bengala enquanto olhava para a sala que havia sido transformada em um
laboratório de ciências. Hadley tinha decidido que, já que iríamos fazer
tudo, pelo menos podíamos preparar algo educativo, então havia estações
montadas com diferentes atividades cientí cas que estavam vagamente
relacionadas aos Vingadores – no fundo, era mais para manter as vinte e três
crianças de quatro anos ocupadas. Annalise queria que toda a turma do
jardim de infância fosse convidada, além de um punhado dos lhos dos
meus companheiros de time que ela conhecia. Logo, o aniversário seria uma
loucura. Graças a Deus poderíamos levar aquelas crianças para a varanda
telada para comer bolo e sorvete.
— Eu acho que estamos prontos — disse Hadley, colocando as mãos
nos quadris enquanto olhava ao redor. — Tori a levou para fazer as unhas
no salão de beleza, e elas estarão em casa em cerca de vinte minutos.
— Ela vai adorar — disse Tasha suavemente. — Vocês dois zeram um
ótimo trabalho.
— Obrigada. — Hadley sorriu. — Eu sei que é provavelmente mais do
que Lauren teria desejado, mas precisamos fazer com que este ano seja
especial, porque Annalise tem perguntado cada vez mais sobre quando a
mamãe e o papai vão voltar. Acho que ela ainda não entende
completamente o sentido da morte.
— Claro que não… — Tasha engoliu em seco, piscando para conter as
lágrimas. — Mas à medida que ela car um pouco mais velha, o Greg e eu
nos certi caremos de que ela e o Benny ouçam todas as histórias possíveis
sobre a mãe deles.
— Parece que chegaram — eu disse, indo até a porta para
cumprimentar Tori e Annalise.
— Já está na hora da minha festa? — Annalise questionou.
— Quase. — Ri, beliscando o nariz dela.
— Obrigada por me deixar fazer as unhas também — disse Tori,
piscando os olhos azuis brilhantes para mim. Ela estendeu as mãos e mexeu
os dedos. — Gostou?
— Er, sim. Estão bonitas — Argh. Tori estava praticamente colada em
mim, então dei um passo lento para trás. Na minha opinião, ela era uma
menina ainda, mesmo que tecnicamente fosse uma adulta, então eu nem
havia pensado nela por esse ângulo. Mas ela de nitivamente estava ertando
comigo, os olhos xos no meu rosto, um sorrisinho adorável nos lábios.
Merda. Eu tinha de acabar com isso o quanto antes e ser bastante
cuidadoso. Era exatamente esse tipo de coisa que poderia atrapalhar nossa
batalha pela guarda, e, francamente, mesmo que não houvesse uma questão
envolvendo a guarda das crianças, ela era jovem demais para mim. Eu nem
saía mais com mulheres da idade dela. Vinte e quatro era o limite. Não que
eu tivesse tempo para isso ultimamente. Ou desejo, já que a única mulher
em que eu pensava ultimamente era a Hadley.
— Por que você não vê se a Hadley está precisando de ajuda? — sugeri,
pegando Annalise no colo.
Caminhamos até a sala de estar, e Annalise gritou de alegria, pulando do
meu colo para correr e veri car cada estação, cada decoração, cada toque
doce e detalhado que Hadley havia planejado para que este fosse um
aniversário inesquecível para ela. A festa estava custando uma fortuna, e eu
z questão de pagar todas as despesas com um sorriso no rosto.
— Vovô, você viu meus balões? — perguntou Annalise.
— Eu vi!
Annalise rastejou para o colo dele, falando animadamente, e eu me
inclinei para Hadley, sussurrando:
— Quer dar uma escapada e ir para um quarto de hotel?
Ela riu.
— Sinceramente? Hoje, não. Talvez à noite, mas agora eu quero ver a
cara dela quando o pessoal chegar.
Eu sorri.
— Sim, eu também.
As crianças e seus pais começaram a chegar, e em trinta minutos, a casa
estava lotada. E não era uma casa pequena. Ben e Lauren estavam
planejando ter pelo menos mais um lho, senão dois, então eram quase
seiscentos metros quadrados de um luxo que eu nunca tinha nem
imaginado para o meu apartamento de dois quartos de alto-padrão.
Tínhamos combinado que os Vingadores chegassem cerca de trinta minutos
depois do início da festa, para dar tempo aos atrasados, e quei feliz por ter
convencido Hadley a contratar um fotógrafo pro ssional, porque mal
tivemos tempo para respirar, muito menos tirar fotos. Hadley havia dito
que faria isso, mas eu não vi acontecer.
Meu telefone vibrou, era uma mensagem de Drew perguntando se
estávamos prontos. Eu enviei uma rápida resposta a rmativa e z um sinal
para Hadley avisando que estava na hora. Ela iria se certi car de que as
crianças estivessem todas em um só lugar enquanto eu deixava os caras e a
Nina entrarem.
Uma onda de emoção me invadiu quando abri a porta. A turma havia se
superado. Eles tinham alugado fantasias realmente boas. Nina estava usando
uma peruca em um tom escuro de ruivo e maquiagem pesada, Lars
manuseava seu martelo como um pro ssional, e Konstantin havia pintado a
maior parte do corpo com tinta verde.
— Uau, pessoal, vocês estão incríveis — eu disse, acenando com a
cabeça.
— Vamos nessa! — Drew avançou, e eles essencialmente marcharam até
a sala principal.
Eu fui logo atrás deles e logo ouvi os gritos de alegria das crianças.
Especialmente de Annalise, que se lançou em cima do Lars.
— O or veio para o meu aniversário! or veio para o meu
aniversário! — ela disse repetidamente, agarrando a mão dele e puxando-o
pela sala.
Prendi a respiração, esperando ver como Lars reagiria a tanto toque, mas
aparentemente o seu desgosto por isso não se estendia a crianças. Ou pelo
menos ele tolerava quando vinha de crianças porque estava totalmente no
personagem, falando sem parar sobre trovão e martelos e coisas do tipo. As
crianças estavam adorando, e eu notei o olhar de Hadley do outro lado da
sala. Era isso o que estávamos esperando, a magia de completar quatro anos
junto ao amor que vinha da nossa família Mavericks. A maioria das crianças
não fazia parte da família Mavericks, já que não havia muitas da idade dela
e nenhuma estava na mesma sala de pré-escola que Ananalise, mas elas não
ligavam se havia jogadores pro ssionais de hóquei na festa de qualquer
forma.
— Se eu tiver lhos algum dia — Nash disse perto do meu ouvido —,
vou fazer exatamente isso para eles.
Eu sorri.
— É épico, não é?
— Quem é a loira gostosa? — ele perguntou, olhando para Tori.
— Essa é a nossa babá de dezenove anos — eu disse. — Então se
comporte.
— Dezenove é legalizado — ele protestou.
— Se você cagar no pau e ela largar o emprego, eu te mato enquanto
você estiver dormindo.
— Tá bom. — Ele seguiu na direção oposta. — Talvez haja uma mãe
solteira no grupo perto da lareira.

*
As crianças estavam se divertindo muito, e muito disso devíamos aos
meus colegas de time. Os Vingadores foram um sucesso, especialmente o
or e o Hulk. Konstantin falava um inglês hesitante e com forte sotaque,
então em vez de tentar se comunicar, ele grunhia e soltava frases
monossilábicas. Na maioria das vezes, ele rosnava para as crianças, as fazia
gritar e as perseguia até que estivessem rindo descontroladamente. Annalise
agora tinha um novo melhor amigo – or/Lars – e não saiu de perto dele
por um segundo. Ela e duas de suas amigas o seguiram como o Flautista de
Hamelin, e ele não parecia nada estressado por ser o objeto de tanta
atenção, o que foi um alívio para mim, porque Lars podia ser extremamente
rígido quando se tratava de suas rotinas e peculiaridades sociais.
— Acho que é hora do bolo — sussurrou Hadley para mim cerca de
duas horas depois.
— Acho que é hora de uma soneca — eu ri.
— Bolo primeiro. — Ela foi em direção à cozinha, e eu a segui,
acendendo as velas enquanto ela pegava tudo o que precisava para cortar e
servir as fatias.
— Pronto? — eu perguntei a ela, levantando o enorme bolo de dois
andares com tema dos Vingadores. Hadley cou sem tempo para fazer ela
mesma então acabou comprando, mas era absolutamente incrível, cheio de
detalhes intrincados, pequenos Vingadores em meio à batalha e um “Feliz
Aniversário, Annalise” impresso em uma faixa segurada pelo Capitão
América e o Pantera Negra. Era um bolo tão legal, que eu quase senti
inveja.
Hadley começou a cantar “Parabéns para Você”, e todos se juntaram,
terminando comigo colocando o bolo em uma mesa que havia sido
preparada só para isso.
— or, você pode me ajudar a apagar as velas? — Annalise perguntou
a Lars, que concordou amigavelmente. Ele se ajoelhou, um de seus braços
enormes em torno do torso minúsculo dela, enquanto Annalise fechava os
olhos e sussurrava: — Eu desejo que a mamãe e o papai voltem logo. — E
depois ela apagou as velas.
Enquanto as crianças comiam, bebiam e riam, os adultos na sala
lidavam com uma in nidade de emoções, eu inclusive; observei Hadley e
Nina enxugando os olhos, enquanto alguns dos caras se afastavam,
provavelmente constrangidos demais para mostrar qualquer emoção que
estivessem sentindo, já que todos ouviram o que Annalise havia desejado.
— Podemos brincar lá fora? — Annalise perguntou assim que todos
tinham se empanturrado de bolo e sorvete.
Hadley olhou para mim e eu assenti.
— Claro. Vou ajudar a controlá-los.
— Eu tô dentro — acrescentou Nash.
Antes que percebêssemos, todas as crianças estavam lá fora, assim como
a maioria dos pais, brincando de pega-pega e qualquer outra coisa que
crianças de quatro anos brincassem. Hadley e eu camos um pouco
afastados, observando e bebendo vinho em copos de plástico.
— Acho que ela teve um ótimo dia — disse a ela. — E tudo por sua
causa.
Hadley balançou a cabeça.
— Não seja ridículo. Você convenceu os caras a fazerem a coisa dos
Vingadores. Se não fosse por isso, essa festa teria sido um fracasso.
— Duvido, mas só mostra o quanto formamos uma boa equipe.
Fizemos isso juntos.
Seus olhos encontraram os meus, e ela sorriu levemente.
— Você tá tornando difícil a tarefa de não gostar de você, Wes.
— Esse era o objetivo? — Eu ri. — Não gostar de mim?
— Temos que colocar o que essas crianças precisam antes de nossas
próprias necessidades.
— Foi o que zemos, não foi?
— Na maioria das vezes. Mas a química sexual que está rolando
ultimamente tem potencial de explodir na nossa cara, e as principais pessoas
que vão se machucar com isso são essas crianças. Temos que ser amigos e ter
um bom relacionamento, porque se começarmos algo e isso não der certo,
como vamos ser pais juntos?
Eu suspirei. Em parte porque estava frustrado, mas também porque
Hadley estava certa. E eu odiava isso. Mas não havia tempo para responder,
porque o fotógrafo que tínhamos contratado se aproximou de nós com um
sorriso.
— Tirei um monte de fotos espontâneas e algumas ótimas com as duas
crianças e os avós, mas pouquíssimas com vocês dois juntos. Pensei que
poderíamos fazer algumas fotos posadas com os quatro e talvez cada um de
vocês com ambas as crianças, que tal? Acho que vai ser bom ter uma
variedade para escolher.
— Com certeza — eu concordei. — Vou pegar a Annalise.
Eu me afastei porque era mais fácil do que tentar continuar uma
conversa sem saída no meio de todo esse caos. Embora eu concordasse em
grande parte com Hadley, via as coisas por uma perspectiva diferente. Nós
éramos adultos. Não havia motivo para não seguir adiante com esse lance
entre a gente e manter uma amizade depois se não funcionasse ou se fosse
apenas sexo. Por que tudo tinha de ser tão preto no branco com ela?

*
Depois que os convidados foram embora e nós limpamos Benny e
Annalise e os colocamos para dormir, Hadley e eu desabamos no sofá da
sala. Eram apenas oito horas da noite, mas Annalise estava completamente
exausta e tinha adormecido na banheira. Benny provavelmente estaria
acordado novamente à meia-noite, mas pelo menos tínhamos algum tempo
de tranquilidade.
— Sem ofensa, mas essas fatias minúsculas de pizza e o bolo mais legal
do mundo não enchem a barriga de um cara do meu tamanho — eu disse.
— Ou a gente pede alguma coisa para comer ou eu talvez tenha que
começar a mastigar o seu braço.
— Eu posso cozinhar alguma coisa… — ela começou, se levantando.
— Ah, para com isso e senta aí — eu disse, balançando a cabeça. —
Você trabalhou muito hoje. Não vai cozinhar nada.
Hadley sorriu.
— Ok. Que tal pedir comida chinesa?
— Pode ser. — Peguei meu celular. — E eu tenho o lugar certo para
isso. O que você gosta?
Fiz o pedido e permanecemos sentados. Tinha sido um ótimo dia, um
pouco agridoce. Caramba, eu estava cansado. E eu tinha um treino pela
manhã e um jogo depois. Eu precisava dormir, mas estava faminto e car
assim com Hadley era agradável. Na verdade, era muito agradável. Pena que
ela deixou claro que as coisas precisavam esfriar entre a gente. Meu pau
de nitivamente estava irritado com essa nova perspectiva.
— Você acha que o Ben e a Lauren teriam gostado da festa? — ela
sussurrou.
— Acho que a Lauren teria reclamado do dinheiro que gastamos, mas
eles teriam adorado ver os caras fantasiados para a Annalise e para as outras
crianças. Eles amavam a nossa família estendida dos Mavericks.
— Deus, quando esse sentimento vai acabar? Eu continuo pensando
que está melhorando, e então vem um dia como hoje, em que dói tanto,
que mal consigo respirar. Ainda pego meu telefone todo santo dia para ligar
para ela…
— Eu entendo. — Deslizei um braço ao redor de seus ombros e a puxei
para perto. Hadley cou tensa por uma fração de segundo, mas então foi
como se toda a resistência tivesse a abandonado, de modo que desabou
contra meu ombro, enterrando a lateral do rosto no meu peito.
— Eu nunca consigo saber se você está sofrendo — ela disse depois de
um momento. — Eu me sinto tão fraca, porque quero chorar todos os dias,
e você está seguindo em frente.
— Acredite em mim, a dor está sempre logo abaixo da superfície. Eu
não estou seguindo em frente, nem sei que palavra eu deveria usar para o
que estou fazendo. Eu simplesmente não tenho o luxo de car de luto por
muito tempo. Tenho um trabalho que requer uma tonelada de energia e
dois lhos em casa que me tomam o restante. Não importa o quanto eu
sofra por dentro, tenho que continuar em pé por eles, pelo time e por você.
— Estou tão feliz de estarmos aqui um para o outro. Eu sei que não
parece, mas você foi meu porto seguro nesse processo todo.
Eu queria dizer a Hadley que ela também foi o meu porto seguro, mas
mais alguns minutos de carinho e conversa íntima, e eu nunca seria capaz
de respeitar seu desejo de manter as coisas platônicas.
— Acho que acabei de ouvir o Benny — menti, saindo de seu abraço.
— É melhor eu veri car como ele está.
Vi a surpresa em seu rosto, mas que escolha eu tinha? Quanto mais nos
aproximávamos, mais eu a desejava, mas se Hadley não estava na mesma
vibe, eu tinha de me proteger para além das crianças. Perder Ben e Lauren
tinha sido todo o sofrimento que eu conseguiria suportar; qualquer outra
coisa poderia me arrasar de vez.
Hadley

— E… foi. Reclama agora, Liz.


Cliquei no botão Enviar e o cialmente mandei minha matéria para a
revista sobre como planejar uma festa de aniversário infantil com qualquer
orçamento. Já fazia uma semana desde a festa da Annalise, e eu me inspirei a
escrever uma matéria bem completa, com receitas de bolo, ideias de
brincadeiras e uma história complementar sobre inclusão de crianças com
especi cidades diferentes em festas.
Tínhamos conversado em nosso último encontro semestral sobre
atender ao crescente número de mães que assinavam a Willow, mas eu
nunca imaginei que, apenas alguns meses depois, teria condições de escrever
matérias como a que acabara de entregar.
Uma mensagem de con rmação apareceu imediatamente na minha
caixa de entrada. Liz recebera o e-mail que eu tinha acabado de enviar.
Bufando, olhei para o relógio na parede do escritório do Ben; já eram nove
e quinze, e o sol havia se posto há algumas horas. Eu brincava com alguns
funcionários da revista que Liz não tinha uma casa de verdade; que ela
apenas se enrolava embaixo da mesa todas as noites para digerir quem ela
tinha devorado durante o dia antes de sair algumas horas depois para fazer
tudo de novo.
Eu invejava sua ética e compromisso com o trabalho. Mas agora
percebia que era muito mais fácil trabalhar doze horas por dia quando não
se tem outras responsabilidades.
Fechei rapidamente meu computador para não ver mais mensagens da
minha chefe até o dia seguinte. Estava exausta. Foi um longo dia de lavar
roupa, cuidar das crianças e trabalhar. Tinha entrado no escritório do Ben
por volta das três da tarde, deixando as crianças aos cuidados de Wes.
Meu plano de fechar a porta e focar totalmente no trabalho naquela
noite tinha funcionado na maior parte do tempo. Não resisti à tentação de
ligar os monitores de bebê conectados aos quartos das crianças quando Wes
as colocou para dormir.
Ele contou histórias sobre o Ben enquanto dava a Benny sua
mamadeira, incumbindo Annalise de organizar as gavetas do armário de
Benny como uma forma de mantê-la ocupada. Era agridoce, lágrimas se
formando em meus olhos enquanto sorria ao ouvir Wes contar sobre as
recordações de Ben quando comprou seu primeiro carro, o primeiro jogo da
NHL em que foram adversários e a vez em que tentaram pular de
paraquedas.
— Eu fui um cagão — Wes disse às crianças. — Tive que pedir para seu
pai me empurrar do avião. Ele estava sorrindo e dando gargalhadas o tempo
todo enquanto descíamos, enquanto eu estava de cu tão trancado, que não
parei de gritar. Desculpa, de bumbum preso.
— Papai também disse cu, tio Wes — Annalise disse. — Quando
mamãe não estava por perto, ele dizia merda, cu e porra. Principalmente
quando assistíamos hóquei.
Wes riu disso, e eu também, enxugando as lágrimas do rosto. Mesmo
depois de quase dois meses, perder Ben e Lauren ainda doía bastante. Toda
vez que uma das crianças fazia algo fofo, eu ansiava para que Lauren
estivesse aqui para ver.
Havia uma foto de Ben e Lauren na grande mesa de cedro de Ben, eu a
peguei para dar uma olhada mais de perto. Era uma fotogra a dos dois em
lua de mel no Havaí, sorrindo felizes enquanto tiravam uma sel e na frente
de uma cachoeira.
Eles nem imaginavam o que viria. Era reconfortante saber que tinham
encontrado o amor um no outro e que esse sentimento tinha gerado dois
lhos. Mas eles tinham sido tirados deste mundo cedo demais. Wes tinha
recebido uma ligação do escritório do procurador-geral estadual local alguns
dias atrás nos informando que todos os resultados toxicológicos estavam
prontos e a revisão do caso estava completa. Acusações de direção sob efeito
de álcool estavam sendo apresentadas contra o motorista que matou Ben e
Lauren.
Wes permaneceu estoico enquanto me contava, mas eu sabia que tinha
mexido com suas emoções também, mesmo que ele não estivesse mostrando
isso.
Foi um soco no estômago. A decisão estúpida de uma pessoa de dirigir
embriagada trouxe um custo alto para os dois belos lhos do casal. Wes e eu
apoiamos a decisão do procurador-geral do estado de acusar o motorista,
mas não havia punição que se aproximasse de me trazer conforto. O mundo
era um lugar melhor com Ben e Lauren nele.
Respirando profundamente, peguei meu celular e levantei da cadeira do
escritório de Ben, abrindo meu e-mail pessoal. Dei um pequeno gritinho de
empolgação quando vi uma mensagem da pessoa que eu tinha contratado
para fotografar a festa da Annalise. As fotos estavam prontas.
Fui para a cozinha procurar algo para comer. Havia uma pizza que Wes
tinha pedido para o jantar. Coloquei algumas fatias em um prato e o botei
no micro-ondas, apertando os botões.
— Ei, tem pizza na geladeira — Wes avisou da sala de estar. — E eu já
servi seu vinho, está esperando por você.
Sorri enquanto retirava meu prato do micro-ondas, pegava um
guardanapo e caminhava para a sala de estar. Wes estava sentado no sofá
assistindo ao SportsCenter, com os pés apoiados na mesa de centro.
— Eu co pensando… — eu disse enquanto me sentava ao lado dele.
— Você acha que quando as pessoas sabem que você quer uma taça de
vinho antes mesmo de você dizer alguma coisa, isso pode ser tipo “Top dez
sinais de que você tem algum problema com álcool”?
Wes deu de ombros.
— Eu acho que o vinho não é o seu problema, mas a solução.
Eu ri.
— Você também é candidato para os Top Dez.
— Você conseguiu terminar seu trabalho?
— Sim. Mas a víbora vai arrumar uma lista de afazeres totalmente nova
para mim amanhã.
— Ela parece uma chefe muito ruim.
Eu revirei os olhos e dei um gole do vinho tinto que Wes tinha me
servido.
— Sabe, é irônico. Eu sempre quis ser igual a ela. Eu via a Liz como
alguém que não leva desaforo para casa, trabalha mais do que todo mundo e
toma decisões difíceis. Você sabia que quando ela entrevista uma mulher
para um emprego, ela pergunta se ela tem lhos ou se pretende ter, e é
menos provável que as contrate se pensar que alguém precisará de licença-
maternidade ou usará todos os seus dias de férias?
— Que escroto.
— É mesmo. Mas eu era tão burra. Achava que fazia sentido. Agora que
estou do outro lado, entendo. As mulheres não deveriam ter que escolher
entre a carreira e a família.
Eu tomei outro gole de vinho enquanto Wes dizia:
— Completamente de acordo.
— Você sabe que está perdendo os destaques do hóquei, né? —
perguntei, com o olhar na tela da televisão.
— Eu sei, e isso tá acabando comigo. Mas estou tentando ser todo
sensível e o cacete e escutar você.
Revirando os olhos, eu disse:
— Assista aos seus destaques enquanto eu como. Podemos conversar
depois.
Cinco minutos depois, quando já não estava faminta, eu servi uma
segunda taça de vinho, e a atenção de Wes voltou para mim.
— Sua mãe trabalhava fora? — eu perguntei a ele. — Você nunca fala
da sua família.
— Sim, ela trabalhava. Meus pais eram advogados, eram especialistas
em negligência médica. Eles trabalharam muito, ganharam uma tonelada de
dinheiro e se aposentaram quando meu pai tinha cinquenta e cinco anos e
minha mãe, cinquenta e três. Eles vivem fazendo bate e volta entre Londres
e Miami.
— Sério? Você já visitou eles?
Ele deu de ombros.
— Uma vez por ano vou vê-los e uma vez por ano eles vêm aqui.
— Parece que vocês não são muito próximos.
— Não somos. Mas eles me dariam apoio se eu precisasse de alguma
coisa. Eles têm orgulho de mim e tudo mais, só estão cuidando da vida
deles. — Wes olhou para mim intensamente, um silêncio carregado nos
cercando, me fazendo pensar se ele ia me beijar ou continuar falando. — E
você? Você também nunca falou da sua família.
Eu suspirei suavemente.
— Não há muito o que mencionar. Meu pai deixou minha mãe quando
eu tinha dois anos e nunca mais o vimos. Minha mãe não era a melhor mãe
do mundo, mas também não era a pior. Meu irmão e eu mantivemos o foco
nos estudos e tiramos boas notas porque queríamos sair da pequena cidade
onde nascemos, em Iowa. Nossa mãe morreu de câncer quando ele tinha
vinte e eu, dezoito.
— Sinto muito, Hadley.
— Obrigada. Faz bastante tempo.
— Você ainda mantém contato com seu irmão?
— Sim, quando dá. Ele é um SEAL da Marinha, então precisa se afastar
muito, eu nunca sei realmente onde ele está. Mas eu sou insanamente
orgulhosa dele.
— Qual é o nome dele?
— Gri . Abreviação de Gri n.
— Ele sabe sobre o Ben e a Lauren? E sobre a gente car com as
crianças?
Eu assenti.
— Nós trocamos e-mails com frequência. Funciona melhor assim, já
que ele está cada dia em um país e seus horários são diferentes dos meus.
— Espero poder conhecê-lo algum dia.
— Tenho certeza que você vai. Eu disse a ele que vou enviar algumas
fotos da festa. — Nesse momento, peguei meu celular do sofá. — Aliás,
lembrei que o fotógrafo enviou as fotos.
Abri o e-mail e me aproximei de Wes para que pudéssemos olhar juntos.
Ele colocou o braço em volta de mim, e eu me aconcheguei, meu coração
acelerando pela intimidade. Já fazia muito tempo desde que eu tinha me
aconchegado com um homem. Anos. Os homens com quem eu dormia no
passado eram do tipo “trepa-tchau”, e sinceramente, eu já estava pronta para
cair fora antes mesmo de terminarmos a metelança.
— Que incrível — disse Wes quando abri a primeira foto.
Era Annalise posando com todos os jogadores do Mavericks que se
fantasiaram de heróis da Marvel para a festa. Ela estava radiante, e eles
também.
Passei para as outras fotos, Wes e eu murmurando, admirando e rindo
da maioria delas. Então cheguei à primeira foto de nós dois com Benny e
Annalise. Eu estava segurando Benny, e Wes estava com o braço em volta de
Annalise enquanto ela sorria, o bolo de aniversário logo ao lado.
Ficamos em silêncio enquanto observávamos a foto. Nesse momento,
fui bombardeada por emoções. Era para ser Ben e a Lauren nessa foto com
seus bebês. Nós quatro parecíamos uma família, e mesmo que vivêssemos
como uma todos os dias, era outra coisa nos ver posando como uma para
uma foto.
— Caramba — sussurrou Wes.
Soltei o ar e coloquei meu celular de lado.
— Não esperava me sentir tão… não sei, triste, talvez.
— É difícil. O Ben era um pai tão bom. Já eu me sinto um puta
impostor. E ver essa foto, é só…
— Eu sei. — Eu abracei o peito dele. — Nós só precisamos levar um
dia de cada vez.
— Você quer assistir alguma coisa ou algo do tipo? Para deixar as coisas
um pouco mais leves?
— Sim, é uma boa ideia.
— Ou poderíamos continuar nosso último beijo — disse ele, me
segurando perto. — Penso em fazer isso umas doze vezes por dia.
Eu estava exausta, com hálito de pepperoni e não tinha tomado banho
naquele dia, mas ainda assim considerei a ideia. Ambos queríamos mais do
que um beijo, e de alguma forma eu sabia que se Wes e eu dormíssemos
juntos, todas as outras emoções e preocupações seriam jogadas por terra por
quanto tempo isso durasse. Tipo quando nos beijamos, mas ampliado
muitas vezes.
O monitor do bebê chiou, e não era Benny fazendo o barulho como de
costume, mas Annalise.
— Tia Hadley? — ela disse com voz sonolenta.
Ela estava acostumada a deitar comigo à noite. Se ela adormecesse na
sala de estar, Wes a levaria para a cama, mas nunca a fazíamos ir para a cama
sozinha. Provavelmente era um hábito ruim, mas queríamos dar a ela todo o
conforto que pudéssemos.
Instintivamente, eu pulei do sofá. Wes suspirou profundamente e pegou
o controle remoto.
— Me avise se precisar de ajuda — ele disse.
— Obrigada.
Na verdade, eu recebi essa interrupção de bom grado, porque estava
perto de dizer sim para Wes. Eu queria esquecer todos os sentimentos que
surgiram quando vimos aquela foto nossa com as crianças. E por mais que
eu queira, não resolveria nada. Esses sentimentos não sumiriam, e se eu
dormisse com Wes, tinha certeza de que teria ainda mais sentimentos para
lidar.
Eu simplesmente não tinha capacidade emocional para mais nada.
Cuidar das crianças, trabalhar e vivenciar o luto já tomavam tudo o que eu
tinha e mais um pouco. A última coisa que Wes e eu precisávamos era
complicar ainda mais as coisas.

*
— Estou me arrependendo das pistolas de glitter — eu disse para Lauren,
virando meu rosto de um lado para o outro para ver meu re exo no espelho do
banheiro da boate.
Eu estava coberta de glitter dourado; levaria uma eternidade para tirar cada
pontinho da pele.
— Ainda estamos bêbadas, o que signi ca que você não pode acabar com
meu barato ainda. — Ela sorriu para mim do lavatório ao lado do meu.
— Não precisa de muito para te deixar bêbada atualmente — eu disse
rindo. — Você está muito mais bêbada do que eu.
— Eu quase nunca saio! É véspera de Ano-Novo e eu estou em Nova York! A
Grande Maçã.
— Ninguém mais fala isso — eu disse, rindo alto.
— Vocês podem se apressar? — uma voz feminina irritada reclamou atrás
de nós.
Eu me virei e olhei feio.
— Você está ótima. Passa um álcool em gel nas mãos e volte para a festa.
— Vamos — Lauren disse, pegando meu braço e me levando. — Quero
encontrar meu marido sexy para beijá-lo quando a bola descer. — Ela riu alto.
— Eu disse bola.
Ben e Lauren tinham vindo para a cidade para comemorar a véspera de
Ano Novo em uma nova boate descolada. Eu havia conseguido nos colocar na
lista de convidados. Annalise estava em um hotel com uma babá que Ben e
Lauren haviam trazido com eles. Eles estavam pagando uma fortuna para que
pudessem sair, mas sem se afastarem muito da lha. E, é claro, eles pediram
para que Wes saísse conosco também. Ele estava deixando Ben bebaço de uísque,
os dois rindo despreocupadamente quando duas mulheres se aproximaram deles.
— Ah, não fode — Lauren resmungou enquanto nos aproximávamos.
As mulheres conseguiram fazer com que Ben e Wes se virassem para olhá-las
quando chegamos perto deles.
— Ele é comprometido — Lauren disse com rmeza, deslizando para o colo
do marido.
— Ah, desculpe — disse a loira, virando-se para Wes em seguida. — E
você?
A amiga olhou para mim, provavelmente esperando para ver se eu iria
mostrar minhas garras, como Lauren acabara de fazer.
— Ele é todo seu — eu disse, levantando minhas mãos.
— Podemos dividi-lo? — perguntou a mulher de cabelos escuros, dando a
Wes um olhar sedutor.
— Uh, eu gostaria. — Ele sorriu. — Me sinto lisonjeado, senhoras, mas
vim com meus amigos e só quero passar um tempo com eles.
— Ai, mas quem você vai beijar quando a bola descer? — a loira
perguntou, fazendo um bico falso.
— Uh… — Wes olhou para mim.
— Não — eu disse rmemente.
— Relaxa, nem estava pensando nisso.
— Será em dez minutos! — disse a loira, colocando uma mão na coxa de
Wes. — Vamos pegar bebidas para estarmos prontas para brindar!
— Vocês duas, caiam fora — disse Lauren, acenando com a mão. — Eu
beijo ele se precisar, mas vocês não vão car.
— Você não vai beijá-lo — disse Ben, franzindo a testa enquanto as duas
mulheres reviravam os olhos e saíam.
— Eu não quis dizer tipo com língua — disse Lauren.
— Então você quer que eu beije a Hadley? — perguntou Ben.
A expressão de Lauren mudou de irritada para descrente.
— Gente, ninguém vai beijar, só vocês dois, ok? Vamos brindar com shots.
Uma garçonete chegou então com uma bandeja de shots, e Wes os distribuiu.
Nós nos reunimos em volta da nossa mesa e assistimos à grande tela do bar onde
a descida da bola na Times Square estava sendo transmitida. Era uma
caminhada de quinze minutos de onde estávamos, mas o clima estava
congelante e nenhum de nós queria passar a noite lá fora no frio.
— Aos grandes amigos — disse Ben enquanto as pessoas no bar faziam a
contagem regressiva para o grande momento.
— Aos amigos! — ecoou Wes, e todos brindamos.
A música tocou e o confete voou enquanto tomávamos os shots, minha
garganta queimando quando o álcool bateu. Quando eu coloquei meu copo na
mesa, Lauren tinha as palmas das mãos nas bochechas de Ben, e eles estavam se
beijando. Wes se aproximou de mim, seus passos desiguais, os olhos vermelhos.
Ele estava bêbado.
— Não pense nem por um segundo em me beijar — eu o avisei, tonta pelo
shot, mas ainda muito consciente de não baixar a guarda.
Eu tinha passado por uma dolorosa separação algumas semanas antes e
estava me sentindo vulnerável. Não podia deixar que muito álcool e um coração
partido me zessem tomar uma decisão tenebrosa em relação a Wes.
Wes se inclinou, e eu virei o rosto para ter certeza de que ele não poderia me
beijar.
— Vai por mim, eu não estou pensando nisso — ele disse no meu ouvido.
— Eu só queria dizer que espero que este seja o seu ano, Hadley. Espero que o
enorme plug de gelo en ado na sua bunda tenha a chance de descongelar este
ano e talvez você nalmente consiga se dar bem.
Bufei, mas meu coração batia ansiosamente enquanto suas palavras me
atingiam.
— Eu me dou bem o su ciente, obrigada — eu disse com rmeza.
— Claro, óbvio. Aposto que tá cheio de cara procurando uma mulher capaz
de reclamar de cada movimento deles. — Wes riu, e eu o odiei um pouco mais
do que antes.
Talvez aquele fosse o ano em que ele pare de ser tão babaca. Eu duvidava
seriamente. Wes Kirby nunca mudaria.
Wes

Perder três dos seis jogos fora de casa foi brutal. Tentei todos os truques
existentes para motivar e incentivar meus companheiros de time, mas
estávamos em uma espiral de derrotas, e eu estava muito frustrado. Caímos
para o quarto lugar geral, e o terceiro da nossa divisão, então mesmo que
ainda estivéssemos a caminho dos playo s, não haveria como salvar esta
temporada se não começássemos a vencer. Foram dez dias que pareceram
dez anos, e quando entrei em casa às dez e meia da noite, estava de mau
humor.
Hadley estava na cozinha limpando o processador de alimentos e se
livrando do que parecia ser outro desastre de comida de bebê, e eu desejei
ter disposição para sorrir. Ela estava com calças de ioga que iam até a
panturrilha e que moldavam seu traseiro como uma luva, uma camiseta
larga e, meu Deus, sem sutiã. O cabelo estava preso em um meio rabo de
cavalo bagunçado, com mechas que haviam escapado e agora emolduravam
seu rosto, e coberto por algo azul-arroxeado.
— Papinha de mirtilo? — eu perguntei, colocando minha bolsa no
chão.
— Sim. — Ela se virou e abriu um sorriso. — Como você está?
— Como você acha? Foi uma viagem dos infernos. — Eu revirei a
geladeira procurando algo para comer, mas tudo o que vi foi queijo em
pedaços, frutas e comida de bebê. — Jesus, há algo para comer nesta casa
que não seja para criança?
Hadley pausou o que estava fazendo e estreitou os olhos.
— Sim, mas só se você pedir com educação.
— Desculpa. — Não era culpa dela que estávamos indo mal no gelo,
mas eu não tinha mais ninguém para descontar.
— Há frios, se você quiser que eu faça um sanduíche para você ou…
— Deixa pra lá. Não estou com fome. — Eu bati a porta da geladeira e
peguei minha bolsa.
— Wes. — Ela colocou uma mão gentil em meu braço. — O que
houve?
— Você não vai entender.
— Tenta me explicar. — Seus olhos eram suaves e compreensivos, como
se Hadley realmente entendesse, mesmo que eu não tivesse dito nada.
— É difícil explicar. É coisa de hóquei, e embora eu aprecie sua ajuda,
você não vai entender como a dinâmica do vestiário está errada. Não
estamos nos encaixando como antes, ou como deveríamos, e eu não sei
como consertar isso.
— O que eu posso fazer para você se sentir melhor?
Eu resmunguei.
— Posso pensar em pelo menos uma coisa.
Não era a maneira como eu havia planejado seduzi-la se e quando a
oportunidade aparecesse, mas em vez de me dizer que eu era nojento,
Hadley me surpreendeu apenas inclinando a cabeça.
— Isso realmente ajudaria?
— Há quanto tempo você não faz sexo, Hadley?
Ela fez uma careta.
— Hmm, faz bastante tempo. Quase, hm, acho que quase um ano.
Jesus, era muito tempo.
— E você está tranquila com isso?
— Bem… não, acho que não, mas posso cuidar das minhas
necessidades sozinha. — Suas bochechas arderam de vergonha.
— Você prefere se masturbar a me deixar te comer? — Eu a segurei
contra a bancada, pairando sobre ela, Hadley não parecendo nem um pouco
intimidada.
— Claro que não, mas, por causa das crianças, eu pre ro não fazer algo
que possa mexer com sentimentos ou deixar tudo bagunçado. Já
conversamos sobre isso.
— Querida, ninguém falou sobre sentimento. É só sexo. Somos adultos
bem resolvidos que passaram tempo demais sem sexo. Eu posso fazer a coisa
ser tão indecente, que você não vai pensar em mais nada além de quantas
vezes eu te z gozar. — Coloquei a mão em sua nuca e senti a pele dela se
arrepiar.
Hadley prendeu a respiração enquanto olhava para mim.
— Wes…
— Diga que sim, Hadley. — Eu estava com um pau duro imenso.
— Mas e se…?
— Jesus, mulher, sim ou não.
Eu já a estava empurrando de volta para a ilha, e em vez de responder,
ela levantou, agarrou minha cabeça e a trouxe para junto dela. Hadley me
beijou desta vez, e porra, que tesão. Ela não escondeu nada ao gemer
suavemente enquanto as línguas se enroscavam, sua respiração quente, o
peito dela pressionado contra o meu. A mulher que estava lavando pratos há
alguns segundos não estava mais lá. Isso não era apenas para me distrair da
minha espiral de fracasso pro ssional. Ela também precisava disso.
Eu a coloquei sentada na bancada, e ela passou as pernas em volta da
minha cintura, nossas bocas ainda coladas. Sua língua duelava com a
minha, girando e roçando, nossos lábios em um emaranhado de desejo. Eu
deslizei minhas mãos por baixo da sua bunda, apertando as nádegas rmes e
puxando o corpo de Hadley contra minha virilha. Ela gemeu quando eu
soltei seu rabo de cavalo, eu precisava da Hadley livre e excitada, não da
Hadley executiva e contida. E, porra, ela estava linda com os lábios
inchados pelo beijo, o cabelo caindo desordenadamente em torno do rosto e
os olhos vidrados de desejo.
Havia um toque de indecisão, no entanto, antes que ela pudesse mudar
de ideia, eu tirei sua blusa e, caramba, o que me aguardava ia além de todas
as fantasias que eu já havia tido. Seus peitos eram tão perfeitos quanto eu
poderia sonhar. Firmes e redondos, com mamilos de um rosa pálido que já
estavam duros para mim.
— 34-D, certo? — eu murmurei, abaixando a cabeça para sentir o gosto
deles pela primeira vez.
— Você é um especialista em mais do que apenas o tamanho? — Sua
observação rapidamente se transformou em um gemido, seus dedos
afundando no meu cabelo e me puxando para mais perto.
Eu apenas ri, lambendo e instigando seu mamilo até que suas unhas se
tornassem pequenas agulhas contra o meu couro cabeludo.
— Incline-se para trás — eu disse, cando de joelhos.
— O quê? — Ela pareceu assustada enquanto eu puxava suas calças de
yoga.
— Tira.
— Wes, as crianças…
— Annalise sempre chama a gente primeiro, então estamos seguros.
Eu rapidamente tirei suas calças e calcinha; ver Hadley nua sobre a ilha
da cozinha, com as pernas abertas e a boceta molhada de excitação fez
minha ereção doer. Mas o primeiro orgasmo seria dela. Depois, eu a
comeria até o meio da próxima semana.
Usei os dedos para separar seus lábios delicados e a língua para sentir o
gosto. Caramba, ela era como um prato de sabor marcante e uma sobremesa
deliciosa, tudo em um só. O clitóris já era um pequeno ponto duro contra
meus lábios, e eu me diverti o chupando para ter ideia do que ela mais
gostava. De forma gentil parecia não ser su ciente para ela, então aumentei
a pressão até que Hadley gritasse. Encaixei meus ombros sob suas coxas,
para ter fácil acesso à boceta, e ela ofegou, braços se movendo enquanto
tentava manter o equilíbrio. Ouvi algo deslizando pelo balcão, mas não dei
a mínima, porque agora estava chupando sua boceta, e ela estava cavalgando
na minha cara como uma vaqueira.
— Wes! Ai, meu Deus, Wes!
Ela estava tão molhada, que meu rosto estava encharcado, e eu estava
adorando. Ter a mulher certinha e formal com quem eu tinha brigado
tantas vezes se desfazendo para mim ia além dos meus sonhos mais loucos.
Eu en ei um dedo dentro dela, e Hadley começou a ofegar, sussurrando
meu nome repetidamente. Quando adicionei um segundo dedo, chupando
seu clitóris ao mesmo tempo, seus sussurros se transformaram em gemidos.
— Pronta para gozar para mim? — eu perguntei, levemente abrindo
meus dedos dentro dela.
— Sim, Deus, sim!
Dois dedos e a roçar dos meus dentes em seu clitóris foi tudo o que
precisei fazer. Ela gritou meu nome enquanto convulsionava ao redor dos
meus dedos e da minha cara, se contorcendo loucamente e mandando uma
tigela grande com alguma coisa dentro pelos ares enquanto se esticava na
ilha. Nós dois não tínhamos a menor ideia da bagunça que estávamos
fazendo. Vê-la gozar foi glorioso, e ouvir meu nome em seus lábios foi
emocionante.
Hadley mal tinha terminado de gozar quando eu a peguei no colo e subi
as escadas.
— Para onde estamos indo? — ela sussurrou, se afundando nos meus
braços.
— Para aquela cama king-size onde vou poder te comer como você
deseja.
— Mas Annalise está lá.
— Vou colocar aquela menina na cama dela esta noite.
Coloquei Hadley gentilmente no chão para não acordar Annalise e
então corri para lavar minhas mãos antes de pegá-la e levá-la para sua
própria cama. Ela não se mexeu, felizmente, e eu a cobri e beijei sua testa.
Certi quei-me de ligar o monitor do bebê e fechei a porta silenciosamente.
Então tirei minhas roupas enquanto caminhava de volta para o quarto
principal.
Hadley estava onde eu a tinha deixado, uma deusa nua banhada pela
fraca luz da única lâmpada no quarto; eu estava tão feliz por ainda ter um
preservativo na carteira. Eu peguei, joguei na cama e então engatinhei até
ela no colchão.
— Como você quer, Had?
— Eu não sei — ela disse suavemente. — Eu sinto que você é muito
mais experiente do que eu. Então faça o que quiser.
— Ah, querida, não é assim que funciona. — Eu passei um momento
observando seu lindo rosto. — Seus amantes não se dedicaram a descobrir o
que te faz vibrar na cama?
— Hm, não até agora.
— Bem, isso vai mudar agora. — Eu parei e perguntei: — Você
consegue gozar com papai-mamãe?
Ela balançou a cabeça.
— Acho que não. Bem, nunca tentei. Normalmente só gozo quando
estou por cima. Mas isso leva muito tempo.
— Perfeito. Eu tenho toda a resistência que você precisar. O que mais
você gosta?
— Eu gosto do que você acabou de fazer.
— E vamos fazer isso de novo, mas eu preciso desesperadamente entrar
em você.
— Eu quero isso também.
— Que tal cavalgada invertida? Já tentou?
Ela balançou a cabeça.
— Vem cá.
Eu a puxei da cama e a coloquei no sofá perto da janela. Vesti a
camisinha e sentei com os pés no chão, os joelhos dobrados. Então eu a
puxei para o meu colo, virada de costas para mim, movendo suas pernas
para que suas coxas cassem por fora das minhas, com as pernas abertas.
— Se inclina para trás e me deixe fazer todo o trabalho — sussurrei.
Ela descansou a nuca contra o meu peito, e eu a toquei, usando uma
mão para acariciar seu seio e a outra para continuar estimulando seu clitóris.
Hadley era muito responsiva, seu corpo reagindo instantaneamente quando
eu a tocava. Seu mamilo endureceu contra meus dedos, e logo ela estava
molhada novamente.
Droga, fala se ela não foi feita para mim?
Agora era apenas uma questão de a fazer relaxar. Embora seu corpo
estivesse pronto para gozar novamente, eu senti um toque de insegurança.
Hadley de nitivamente não era tão experiente quanto eu. Na verdade, eu
apostaria que ela não tinha nenhuma experiência. Não com um homem de
verdade que mandasse bem e tivesse atenção às necessidades dela antes das
próprias.
— Senta um pouco, baby. — Eu a empurrei para frente e me posicionei
na sua entrada. — Agora deslize para baixo em meu pau… ah, sim, assim
mesmo.
Puta merda.
Ela estava mais apertada e mais molhada do que qualquer outra pessoa
com quem já estive, me envolvendo e recebendo cada centímetro até o m.
O desejo de me mexer veio do nada, e eu tive de segurá-la no lugar para
impedi-la de se mover até que eu pudesse retomar o controle. Jesus. Isso
nunca aconteceu comigo, quase me perder tão rapidamente, mas Hadley era
espetacular, e estar dentro dela era indescritível.
Eu fechei os olhos e beijei suavemente seu ombro, sentindo o doce
perfume do seu cabelo. Neste momento, ela pertencia a mim de todas as
maneiras possíveis, e eu queria que nunca acabasse.
— Wes, por favor… — Ela estava se movendo contra minhas mãos,
ansiosa para ter mais de mim, mas eu precisava ter certeza de que ela estava
pronta.
— Vou te foder com força e de maneira indecente, como você me
pediu, então quero que relaxe e me deixe mandar ver.
— Por favor, vai logo.
Eu soltei uma risada.
— Pés no chão, linda. E segure-se rme.
Eu me afundei com força su ciente para fazê-la gritar. Então eu retirei
até a cabeça e apenas quei assim, esperando por sua reação. Seria ela quem
realmente ditaria nosso ritmo, mas ela ainda não tinha tanta con ança em si
mesma, então eu a deixaria pensar que estava no controle. Eu não tinha
dúvida, porém, que uma vez que ela começasse, seria intenso.
Eu empurrei para cima, parei e saí novamente. Fiz isso repetidas vezes,
até que ela começou a se mover comigo, seu corpo encontrando o ritmo
que a levaria aonde desejava ir.
— Toque-se, Hadley. Brinque com o clitóris enquanto eu te como.
Ela fez um som estrangulado, mas pôs a mão lá embaixo, e embora eu
não pudesse ver, sabia que ela estava se tocando por causa da forma como
começou a se contrair ao meu redor.
— Isso. — Comecei a me mover mais rápido, e ela também, sua bela
bunda pulando no meu colo até que ela perdeu o controle. Eu a deixei
experienciar o orgasmo antes de gozar dentro dela, meus dedos apertando
seus quadris enquanto eu me deleitava.
— Puta merda… foi incrível. — Passei meus braços em volta de sua
cintura quando ela caiu de volta contra meu peito.
Hadley cou quieta por um longo tempo, por um momento até me
preocupei que a tivesse machucado, mas sabia que não era o caso. Ela tinha
gozado rápido e forte, do jeito que nós dois precisávamos, e agora sua
mente empreendedora provavelmente estava a mil por hora.
— Vamos limpar tudo — eu disse suavemente, empurrando-a
gentilmente para se levantar.
As pernas dela estavam um pouco trêmulas, e eu a segurei, puxando-a
contra mim enquanto caminhávamos para o banheiro.
Droga, Hadley estava linda depois de ser completamente fodida. Seu
cabelo estava selvagem, seus olhos semicerrados, sua pele corada.
— Você é linda pra caralho — eu disse a ela enquanto descartava a
camisinha. — E isso foi incrível.
— Hm, sim. Foi.
— Você está bem?
— Bem. Sim. — Ela estava parada me olhando, como se estivesse
confusa. — Wes, eu… — ela começou.
Eu coloquei um dedo sobre seus lábios, esperando que isso não fosse
seguir pelo caminho que eu tinha imaginado.
— A menos que as próximas palavras que saiam da sua boca sejam “me
come de novo, Wes”, eu não quero ouvir.
Ela lambeu os lábios, seus olhos ardendo nos meus.
— Me come de novo, Wes.
Hadley

— Tia Hadley, vamos fazer uma festa do chá. — Annalise sentou-se à


pequena mesa de brinquedo com cadeirinhas no canto da sala de estar,
pegando sua garrafa térmica de plástico e olhando para mim cheia de
esperança.
Caramba. Eu não podia dizer a ela que toda a região pélvica da tia
Hadley estava tão dolorida, que doía até mesmo para me mexer, quanto
mais sentar em uma cadeira de madeira minúscula. O que tinha sido o
paraíso na noite passada agora parecia um inferno que me fazia querer nada
além de um Advil, gelo e uma soneca esta manhã.
Wes tinha me comido como se estivéssemos estrelando um lme pornô
ontem à noite, me mostrando posições que eu nem imaginaria. Eu tive mais
orgasmos com ele do que em relacionamentos que duraram alguns meses
com outros homens. Eu sabia que provavelmente deveria me arrepender e
me preocupar com o quanto isso poderia complicar tudo, mas
simplesmente não conseguia pensar nessas coisas. Tinha sido incrível
demais. Eu estava mais relaxada do que estive em muito tempo. Wes tinha
despertado a mulher que havia em mim e fez com que eu me sentisse mais
sexy do que jamais me senti.
Ele estava na cozinha, dando a Benny sua aveia matinal e falando com o
bebê sobre o próximo jogo dos Mavericks.
— Lars tem assistido a gravações e calculando nossas chances, ele acha
que McCoy é o que tem o melhor controle no time deles — disse ele. —
Ele não é tão exibido quanto os outros, mas tem uma porcentagem de
pontuação mais alta. Então o tio Wes tem que manter o disco longe dele,
amigão. E ele é um lho da puta rápido. Quer dizer… sei lá, não consigo
nem pensar em uma palavra apropriada para você. O cara é um lho da
puta rápido, e é isso. Teremos que explicar isso à tia Hadley mais tarde.
Agora, vamos limpar o seu queixo, meu garotão.
Eu sorri, dei um gole no meu café e olhei para Annalise.
— Eu tenho uma ótima ideia — eu disse. — Vamos fazer uma grande
festa do chá. Na mesa grande da cozinha. Eu vou fazer uma sobremesa
chamada crepe.
Seus olhos se arregalaram, e ela pulou da mesa de brinquedo.
— Posso ajudar?
— Com certeza. E o tio Wes está livre hoje, então ele também pode vir
à nossa festa do chá.
— E o Benny! — ela gritou, correndo para a cozinha. — Tio Wes e
Benny, vocês querem vir à nossa grande festa do chá?
Eu entrei na cozinha e coloquei minha caneca de café na ilha,
encontrando brevemente o olhar de Wes. Havia algo novo em sua expressão
– pura luxúria. Eu sabia que ele sentia uma certa atração por mim antes,
mas agora que tínhamos feito a coisa várias vezes, ele parecia querer mais do
que nunca. Eu também o queria. Eu não achava que sicamente poderia
realmente fazer isso novamente esta noite porque estava bem dolorida, mas
eu o queria. Eu me inclinei para pegar os biscoitos Gold sh, que tinha
jogado pelos ares por acidente na noite passada quando Wes tinha me feito
perder a cabeça na ilha da cozinha, gemendo de dor nos quadris e nas coxas.
— Você está bem, tia Hadley? — perguntou Annalise, vindo até mim.
— Estou bem, querida. Só um pouco dolorida por causa de alguns
exercícios novos que eu z.
Não pude evitar dar uma olhada para Wes. Ele estava sorrindo de canto
para mim.
— Tia Hadley precisa fazer mais desses exercícios, só assim não vai mais
car dolorida — disse ele.
Sorri para mim mesma enquanto reunia os ingredientes para os crepes.
Wes terminou de dar comida a Benny e depois terminou a louça que eu
estava lavando quando ele chegou em casa na noite passada.
— Sua mãe e eu sempre fazíamos crepes quando estávamos na faculdade
— disse a Annalise.
— Eu quero que ela volte — disse ela, com os olhos arregalados e os
lábios curvados para baixo.
Meu coração doeu, e parei o que estava fazendo e a abracei.
— Eu sei, querida. E se houvesse alguma maneira de ela voltar, ela
voltaria.
— Ela sente saudades de mim e do Benny?
— Eu tenho certeza que seus pais sentem saudades de vocês com todo o
coração. Vocês eram tudo para eles.
— Mas eles não vão poder voltar nunca, né? — disse ela com uma voz
triste.
— Não, eles não podem.
— A gente pode ir no céu e visitar eles?
— Eu ia adorar se a gente pudesse, mas não podemos.
Eu troquei olhares com Wes, e ele parecia tão arrasado quanto eu. Eu
teria feito qualquer coisa para confortar Annalise, mas não sabia o que
poderia ajudar. Ela se afastou do abraço.
— Quer mexer e despejar os ingredientes dos nossos crepes?
Ela não respondeu, e quando eu afastei os cachos escuros do seu rosto,
vi que ela estava chorando. Sua tristeza fez minha garganta dar um nó
enquanto lágrimas enchiam meus olhos.
— Está tudo bem chorar — eu disse a ela, minha voz se partindo.
— Chorar é coisa de bebês — disse ela, enxugando as bochechas.
— Quem te disse isso? — Ela deu de ombros.
— Meu pai costumava dizer que os jogadores de beisebol eram chorões.
Wes se aproximou e sentou ao lado de Annalise.
— Aqueles caras choram por causa de uma distensão muscular, e isso é
algo totalmente diferente do que você está sentindo. Quando você sente
emoções fortes em relação a sua mãe e seu pai, está tudo bem chorar — eu
disse. — Eu choro e não sou um bebê — eu disse.
— Eu também — acrescentou Wes.
— Eu quero minha mãe e meu pai — disse Annalise, com lágrimas não
derramadas nos olhos. — Eu quero que eles voltem para casa.
Minhas lágrimas transbordaram enquanto eu dizia:
— Eu queria que eles pudessem voltar, querida.
— A gente ainda pode fazer a festa do chá? — ela perguntou.
— Claro.
Wes puxou uma cadeira da cozinha para o balcão e Annalise subiu nela
para me ajudar a preparar os crepes. Não mencionei Lauren novamente,
porque senti que tinha sido eu que havia desencadeado sua tristeza ao
mencionar sua mãe. Eu queria manter as lembranças de Ben e Lauren vivas
para Annalise, mas não queria a fazer lembrar da sua perda. Era tão difícil
saber o que dizer, encontrar o equilíbrio perfeito.
Wes se aproximou para nos observar trabalhar, passando a palma da
mão pelas minhas costas num movimento circular reconfortante. Senti sua
mensagem não-verbal de que estávamos fazendo o nosso melhor e que isso
era tudo o que poderíamos fazer.
— Annalise, depois da nossa festa de chá, eu quero te mostrar uma coisa
— eu disse. — Uma coisa que você vai adorar.
— O que é?
— Fotos da sua festa de aniversário. Tem uma sua com todos os
Vingadores que vieram.
— O or está nela?
— Está, e tenho algumas só de você com o or também.
Ela sorriu.
— Ele é meu melhor amigo. Pedi a ele se poderíamos ser melhores
amigos e ele disse que sim.
— Uau — disse Wes, arqueando as sobrancelhas. — Você é a criança
mais legal que conheço. Queria que o or fosse meu melhor amigo.
Terminamos os crepes, recheados com morangos e chantili, e nos
sentamos à mesa para comê-los. Tirei algumas peças da louça de casamento
de Lauren da cristaleira, o que deixou Annalise feliz porque era uma festa do
chá “de verdade”. Wes e eu bebemos café – muito café para compensar
apenas algumas horas de sono –, e Annalise bebeu suco. Benny tentou
comer as mãos.
Eu não poderia apagar a tristeza de Annalise, não importava o quanto eu
quisesse. Era difícil explicar a ela que os pais haviam partido para sempre
quando esse era um conceito difícil para sua mente jovem entender. Tudo o
que eu podia fazer era o mesmo que Lauren e eu zemos uma pela outra
quando uma de nós sofria por um coração partido. Estar presente.
Enquanto estávamos os quatro sentados à mesa naquela manhã, pensei
na foto polida e pro ssional da festa que nos fazia parecer uma família. Mas
era essa a foto que realmente nos retratava como uma família, a foto de um
momento como este, em que estávamos rindo, chorando e apenas vivendo
juntos.

*
Naquela noite, eu estava sentada na cama, acordada de um sono
profundo por causa do movimento de Annalise saindo da cama e correndo
para fora do quarto.
Atordoada, eu saí da cama para segui-la. O quarto de Ben e Lauren
tinha um banheiro, então eu sabia que não era para lá que ela estava indo.
Eu estava muito cansada. Wes e eu tínhamos escolhido sexo em vez de
sono na noite anterior, e o dia tinha sido cheio de tarefas: lavanderia,
supermercado e brincadeiras com as crianças. Quando eu caí na cama, mal
conseguia manter os olhos abertos. Wes estava cuidando de Benny à noite, e
eu estava planejando nove horas de sono ininterruptas e felizes.
Quando encontrei Annalise na sala de estar escura, ela estava
balançando os braços e se contorcendo em um círculo. Eu semicerrei os
olhos, tentando vê-la melhor.
Será que era sonambulismo? Dança da chuva enquanto dorme?
— Ei, o que está acontecendo? — Wes sussurrou, entrando na sala. —
Eu ouvi você descer as escadas e pensei que algo tivesse acontecido.
— Não tenho ideia. Eu a segui até aqui embaixo.
Wes acionou um interruptor de luz e Annalise sorriu para a gente, ainda
balançando o corpo e agitando os braços. Ela estava muito acordada.
— O que você está fazendo? — perguntei a ela enquanto bocejava.
— Você disse que mamãe e papai podem sair da cama sempre que
quiserem e dançar no céu. Eu acho que eles estão dançando agora, e eu
queria dançar com eles.
Meu coração se encheu de emoção quando olhei para Wes. Eu estava
muito cansada e só queria voltar para a cama desesperadamente. Mas eu não
podia fazer Annalise parar de dançar. Eu estava prestes a dizer a Wes que ele
poderia voltar para a cama e que eu dançaria com Annalise quando ele
disse:
— Se vamos ter uma festa de dança, precisamos de música.
Ele foi até o painel de controle digital do sistema de som de Ben e
Lauren e apertou alguns botões. Eu esperava rock ou alternativo, mas ele me
surpreendeu.
Build Me Up Buttercup, de e Foundations, começou, e Wes foi
dançando até Annalise.
— Me concede essa dança?
Ela riu e concordou com a cabeça, e ele segurou as duas mãos dela, e eles
se balançaram juntos. Depois, ele a girou, e eu tive certeza que Ben tinha
dançado com a lha quando estava vivo. Ela sabia exatamente o que fazer.
Eu me juntei a eles, embora não fosse muito boa dançarina. Wes, por
outro lado, sabia se mexer. Seu ritmo era perfeito, e ele estava se divertindo.
Ele mexia os quadris e mantinha seus passos no ritmo da música enquanto
dançava em minha direção, e eu ri. Com uma camiseta branca e cueca boxer
e com Annalise olhando para ele de um jeito adorável, Wes era irresistível.
e Way You Look Tonight, de Frank Sinatra, começou, e Wes colocou
um braço em volta da minha cintura e segurou minha mão, levando nossos
dedos entrelaçados para o seu peito. Seus olhos se prenderam aos meus
enquanto dançávamos ao lado do sofá. Algo nesse momento era mais
íntimo do que o sexo da noite anterior. Era emocionante e aterrorizante ao
mesmo tempo.
— Tio Wes, dança comigo assim! — Annalise gritou.
Ele piscou para mim antes de se curvar para mostrar a Annalise como
dançar uma valsa. Seus olhos brilhavam de felicidade enquanto dançava e
gritava:
— Olha pra gente, mamãe e papai! Nós também estamos dançando!
Eu limpei minhas lágrimas rapidamente, não querendo que ela pensasse
que eu estava triste. Porque embora fosse um momento agridoce, havia
muito mais doçura do que amargura.
A música acabou e Let Love In, do Goo Goo Dolls – a favorita de
Lauren –, começou a tocar. Fizemos uma roda de dança, o sorriso de
Annalise sempre no rosto. Ela estava se divertindo muito.
Música após música, dançamos por quase uma hora antes de Annalise
anunciar que estava cansada e que queria voltar para a cama. Todos nós
bebemos um pouco de água e subimos as escadas, Wes segurando minha
mão do lado de fora do quarto de Ben e Lauren depois que Annalise entrou.
Ele me deu um beijo casto e apertou minha mão, sem dizer uma
palavra.
Ignorei os sentimentos que cresciam dentro do meu peito enquanto me
aconchegava de volta na cama. Eu não ia desperdiçar a chance preciosa de
dormir passando horas analisando tudo que havia acontecido. O sono era
um bem muito precioso nesta casa.
Wes

O m da temporada regular estava a apenas algumas semanas à frente


quando pegamos a estrada no nal de março, e o clima no vestiário estava
sombrio. Tínhamos perdido metade dos jogos, tanto em casa quanto fora, e
nada parecia funcionar. Eu vinha fazendo o meu melhor, mas estava
cansado. Eu tinha que ajudar em casa, não importando o quanto eu
quisesse descansar, e embora Tori fosse de grande ajuda, ela ainda estava na
faculdade e não podia trabalhar tantas horas quanto desejávamos. A solução
seria procurar uma agência e contratar outra pessoa que pudesse trabalhar
em tempo integral, mas um outro estudante universitário estava mais
próximo do que gostaríamos, assim também não precisaríamos lidar com
regras e exigências da agência.
Benny estava dormindo melhor, graças a Deus, mas ainda apenas por
cerca de sete ou oito horas seguidas, o que signi cava que cávamos sempre
acordados até tarde e acordávamos cedo. Tentamos alternar as noites para
que cada um pudesse dormir um pouco mais, mas nem sempre funcionava,
porque Annalise se recusava a dormir em sua própria cama, o que também
estava afetando nossa vida sexual. Tínhamos feito sexo apenas algumas vezes
desde aquela primeira noite, e agora eu estava indo viajar novamente.
Quanto ao hóquei, havíamos perdido novamente, então estávamos
taciturnos quando saímos do ônibus de volta para o hotel. Hoje foi Detroit,
amanhã seria Chicago e depois teríamos um dia de folga para viajarmos de
avião até Minnesota. Jogaríamos contra Minnesota, Winnipeg e Calgary
antes de voltarmos para os jogos nais da temporada em casa. A temporada
regular que havia começado tão forte havia fracassado com a morte de Ben.
Isso me irritou e partiu meu coração ao mesmo tempo. Éramos uma
equipe forte e sólida, com toneladas de talento e potencial para chegar até as
nais, mas nossos corações não estavam mais nisso. Eu poderia fazer muitas
coisas no gelo e no vestiário, mas acelerar o processo de luto não era uma
delas.
Eu estava quase chegando ao elevador quando ouvi vozes elevadas atrás
de mim; eu me virei, franzindo a testa para Konstantin e um dos veteranos
da equipe, Keegan Miller. Keegan era um cabeça-quente que havia entrado
no time no último ano, negociado conosco vindo da Filadél a. Ele era meio
babaca, embora cumprisse suas obrigações no gelo, que era tudo o que me
importava. No entanto, ele tinha acabado de empurrar Konstantin, e
embora este não fosse de briga ou um cara durão, ele parecia irritado.
— Yob tvoyú mať! — Konstantin gritou, empurrando Keegan para trás,
um “vai se foder!” em sua língua natal.
Merda. Eu não falava russo, mas tinha cado perto o su ciente dos
jogadores para saber o que isso signi cava, então me apressei em direção a
eles, assim que Keegan agarrou Konstantin pela cintura e o jogou contra a
parede.
— Ei! — Eu agarrei Keegan pela cintura e Nash puxou Konstantin para
trás.
— Vai se foder você, seu comuna de merda! — Keegan estava gritando e
tentando se soltar da minha imobilização. — Você e sua piranha russa
deveriam voltar para a Rússia.
Desta vez foi Konstantin quem avançou, e Lars o segurou antes que seu
punho pudesse se conectar à mandíbula de Keegan.
— Olha como você fala, porra! — eu disse para Keegan. Então me virei
para Konstantin. — Qual é, cara, você não é disso.
Ele apontou para Keegan e disse algo em russo que nenhum de nós
entendeu, seus olhos fuzilando o rosto de Keegan.
— O que está rolando? — eu exigi.
— Não é da porra da sua conta — disse Keegan, pegando sua bolsa.
— Você tornou isso da minha conta quando começou algo no saguão
do nosso hotel. — Botei as mãos nos quadris.
— Sabe de uma coisa? — Keegan me olhou com desdém. — Você não
manda nada aqui. Eu sei que você acha que pode substituir o Ben, mas não
pode. Você não tem a classe ou a presença dele no vestiário. Pergunte para
os outros. Você não conquistou o respeito de ninguém e de nitivamente
não está conseguindo conquistar o meu. Então, em vez de tentar se fazer de
capitão, por que não se concentra em jogar hóquei e nos deixa em paz no
restante do tempo? — disse e saiu na direção contrária.
— Keegan, que porra é essa, cara? — eu gritei para as suas costas, mas
ele não se virou.
Eu olhei em volta para os caras que tinha se reunido e estreitei os olhos.
— Isso é verdade? Vocês querem que eu deixe de ser capitão? Porque eu
não pedi para assumir isso.
Alguns caras desviaram o olhar, e meu coração se partiu.
— Acho que este não é o melhor momento para discutir esse assunto —
disse Lars em voz baixa, o que me surpreendeu, já que ele raramente falava
assim.
— Você está bem? — Eu olhei para Konstantin, mas seu rosto estava
vermelho, ele parecia realmente furioso.
— Isto não está bem! — Ele apontou na direção em que Keegan havia
ido. Então ele falou em russo novamente.
Esperei ele terminar antes de dizer:
— Preciso que você me conte o que aconteceu.
— Ele e Svetlana… — Sua voz sumiu. — Não dá para car. Preciso ir.
— As portas do elevador se abriram, e ele entrou, levantando a mão para
impedir que outro cara se juntasse a ele. Então as portas se fecharam, e
todos se olharam desconfortavelmente.
Que porra acabou de acontecer?
Eu subi para o quarto e joguei minha bolsa no chão antes de arrancar o
terno e ir ao banheiro com passos duros. Eu estava igualmente furioso e
envergonhado, meu coração batendo dolorosamente no peito. Será que os
caras estavam ressentidos comigo? Será que de alguma forma era culpa
minha que não conseguíssemos vencer nem mesmo em partidas decisivas?
A carta que Ben havia me deixado abordava assuntos importantes, mas
nem sequer mencionava hóquei, porque essa não era uma área da minha
vida em que eu imaginava passar algum perrengue. Ele deixou conselhos
sobre as crianças, a vida, até mesmo sobre Hadley, mas em nenhum lugar
ele tinha deixado algumas palavras de sabedoria sobre como agir do jeito
dele com o Mavericks.
Sem respostas prontamente disponíveis, me estiquei na cama e peguei o
celular no bolso da calça. Eu ansiava ouvir a voz de Hadley, ouvir sobre as
crianças ou sobre uma nova receita de comida para bebês, ou qualquer coisa
que não fosse hóquei. Porque hóquei era um assunto sacal nesse momento.
— Oi. — Ela atendeu no primeiro toque.
— Oi. — Eu suspirei. — As crianças estão dormindo?
— Sim. E Annalise está na cama dela.
— Mesmo?
— Eu a subornei com um passeio à loja da Disney, mas ela precisa
começar a voltar a dormir no próprio quarto. E eu também estou
precisando de um pouco de privacidade.
— Ah, é mesmo? — Minha voz cou grave. — Por que você precisa de
privacidade?
— Não conte a ninguém, mas tem um jogador de hóquei muito bonito
que se esgueira para o meu quarto à noite. Eu continuo tendo que recusá-lo
por causa de Annalise. Mas agora talvez eu deixe ele car.
— Uau. Cara sortudo.
Nós rimos.
— Então, outra noite difícil — ela disse depois de um momento.
— Sim. Ainda pior do que você imagina.
— Como assim?
Eu contei a ela o que havia acontecido no saguão do hotel, e Hadley
ouviu em silêncio.
— Você acha que eles estão ressentidos comigo? — eu perguntei quando
terminei.
— Não. Eu não os conheço da mesma maneira que você, lógico, mas
passamos alguns momentos com muitos deles e não senti isso de forma
alguma. Todos eles te admiram e te respeitam. Talvez haja um ou dois que
não, mas isso é esperado, e eu acho que não vi Keegan em nenhum dos
eventos que fomos com a equipe.
— Ele de fato é solitário, e eu não sei o que está acontecendo em relação
a Svetlana.
— Ah… — Hadley tossiu. — Eu, hm, talvez possa ajudar com isso.
Não deveria dizer nada porque é só um boato, mas dizem por aí que a
Svetlana está traindo o Konstantin com o Keegan. Aparentemente, Keegan
jogou na KHL por uma temporada depois da cirurgia no joelho e Svetlana e
ele tinham algo. Eles terminaram quando ele voltou para os EUA, e ela
começou a namorar o Konstantin. Agora algo está acontecendo.
— Como você sabe disso? — eu exigi.
— Rede de fofocas das esposas e namoradas dos jogadores.
A rede de fofocas das esposas e namoradas era conhecida por ser o
espaço em que se sabe de tudo, então essa notícia era a última coisa que
precisávamos.
— No futuro, me contar essas coisas pode ajudar — eu disse
calmamente. — Se eu soubesse, talvez pudesse ter evitado o incidente de
hoje à noite.
— Nina disse que fofocas que não são levadas adiante, especialmente
quando são assuntos pessoais, não devem ser compartilhadas com vocês
porque distrações não são boas para o jogo. Especialmente com a
temporada que vocês estão tendo.
— Isso pode ser verdade para outros caras, mas agora eu sou o capitão, e
como capitão preciso saber desse tipo de coisa.
— Desculpa.
É
— Não é sua culpa. Você só está nesse mundo há alguns meses. É difícil
trafegar por todos os diferentes canais de informação.
— Vou car mais atenta e não vou guardar nenhum grande segredo
como esse de você.
— Obrigado.
— Sinto muito que isso tenha acontecido. Queria poder fazer algo.
— Da última vez que perguntou o que poderia fazer, acabei fazendo
sexo oral em você na bancada.
Hadley riu.
— Infelizmente, essa não é uma opção hoje.
— Não, mas sexo por telefone é.
— É mesmo?
— Uh-huh. Tira as roupas, baby.

*
Na manhã seguinte, no café da manhã, sentei com Nash, Lars e Drew.
Keegan estava com alguns caras em outra mesa, e Konstantin ainda não
tinha descido, o que me preocupou. O café da manhã não era opcional.
Fazíamos as refeições juntos quando estávamos na estrada, especialmente o
café da manhã e o jantar, e não aparecer geralmente signi cava algumas
voltas a mais no próximo treino.
— Bati na porta dele antes de descer — disse Drew. — Mas ele não
respondeu.
— Eu soube de alguns boatos — disse eu, repetindo o que Hadley me
contou, embora não tenha dito que a informação veio dela.
— Jesus. — Nash balançou a cabeça. — Isso não é bacana. Você acha
que é verdade?
— Faria sentido — respondi, olhando para eles. — Escutem, eu preciso
ter alguma ideia do que está acontecendo. Vocês concordam que eu não sou
o cara certo para ser o capitão?
Drew balançou a cabeça.
— Esquece essa porra. Ele só falou merda.
— Ninguém o contradisse — apontei. — Quero dizer, não estou
falando de vocês, mas Ayres e Sully sequer olharam nos meus olhos.
— Ayres está no meio de um divórcio fodido — disse Nash. — Ele está
com ódio de todo mundo. Sully é novato, e se eu não o conhecesse bem,
acharia que ele está apaixonado pelo Keegan. Ele ca seguindo o cara como
um cachorrinho abandonado. Você não pode usar esses dois como
parâmetro.
— Mas são exatamente com quem eu devo me preocupar — disse eu.
— São eles que eu tenho que alcançar. Se não consigo, então não mereço
usar a braçadeira com o C estampado.
— Nem todos podem ser ajudados — Lars falou pela primeira vez. —
Às vezes, eles precisam encontrar o próprio caminho. Esse não é o seu
trabalho.
— Obrigado. — Sorri para ele. — Aliás, soube que você vai sair com a
minha a lhada.
As orelhas de Lars caram vermelhas, mas ele sorriu.
— Sim. Vamos tomar sorvete e… — Ele fez careta. — Construir
ursinhos?
Houve um momento de confusão, e então Drew explodiu em risadas.
— Ela vai te levar para a loja que cria ursinhos? Ah, cara, você tem
alguns cartões de crédito, não é?
Lars parecia completamente confuso.
— Cartões de crédito? Sim. Eu tenho muitos. Por quê?
Rimos enquanto Drew tentava explicar que tipo de loja era, então o
clima cou consideravelmente mais leve. Eu ainda me sentia um bosta, mas
pelo menos havia um grupo central de jogadores que me dava apoio. E não
só a mim, mas também a Hadley e às crianças.
Konstantin entrou no refeitório cerca de dez minutos antes de sairmos,
pegando uma xícara de café e um bagel no bu et, mas sentando sozinho no
canto. Keegan lançou alguns olhares na direção dele, mas parecia contente
em permanecer do outro lado do restaurante.
Aquela era minha chance de conversar com Konstantin. Eu não sabia o
que estava acontecendo, se os rumores sobre Svetlana eram de fato
verdadeiros, então eu precisava tentar entender.
— Ei, cara. — Afundei na cadeira em frente a ele.
Ele olhou para cima, seu rosto sem emoção.
— Bom dia.
— Escuta, eu sinto muito pelo que aconteceu ontem à noite. Foi difícil
te ajudar com você falando em russo… — Deixei minha voz sumir,
esperando que ele dissesse algo.
Ele concordou com a cabeça, mas cou quieto por um tempo.
— Está tudo bem. Eu estava com raiva.
— Se você precisar conversar, se algo estiver acontecendo, pode
conversar comigo.
— Pedi para ser negociado — disse ele abruptamente. — Não posso
car.
— Então é verdade. — Limpei a garganta e encontrei seu olhar
diretamente. — Sobre Keegan e Svetlana?
Sua boca se apertou com irritação enquanto ele balançava a cabeça.
— Sim. Ela diz que não pode escolher. Ela ama os dois igualmente.
Fiz uma careta.
— Sinto muito, cara.
Ele murmurou algo em russo em voz baixa.
— Você falou com o técnico sobre isso?
Ele balançou a cabeça negando.
— Depois. Por enquanto, preciso controlar meu gênio. Ficar calmo.
— Farei o meu melhor para mantê-los separados.
— Sinto muito por estar sendo difícil. O que ele disse a seu respeito não
é verdade. Você é respeitado. Só Keegan não te respeita.
— Agradeço por você dizer isso. E espere antes de falar com outras
equipes, ok? Eu pre ro que troquemos ele em vez de você.
— Nada vai acontecer até o verão, mas meu agente sabe que quero sair.
— Porra, cara, me dê um tempo para resolver as coisas, ok? Como você
disse, nada vai acontecer até o nal da temporada de qualquer maneira.
Ele hesitou, mas depois concordou.
— Meu agente vai procurar, mas não assinarei nada até conversarmos.
Filho da mãe. Isso era a última coisa que eu queria. Eu precisava
conversar com o técnico mais cedo ou mais tarde. Perder Konstantin seria
devastador para a equipe. Ele era incrivelmente talentoso. Precisávamos do
estilo dele no gelo e da atitude descontraída no vestiário. Precisava fazer algo
antes que as coisas piorassem.
Hadley

Meu coração acelerou quando ouvi o som da porta da frente sendo fechada
e o bipe do sistema de segurança residencial enquanto Wes desarmava o
alarme. Ele andou até a cozinha, provavelmente para beber água, e então
ouvi seus passos nas escadas.
Barulhos suaves e abafados soaram no monitor de Benny enquanto Wes
entrava no quarto para veri car se ele estava bem; em seguida, o mesmo
som no monitor de Annalise.
Conforme ele se aproximava do quarto principal, me arrependi de ter
escolhido um conjunto de sutiã e calcinha vermelhos e rendados para
dormir. Eu estava exposta, não apenas sicamente, mas emocionalmente. Se
Wes estivesse de mau humor, o que era provável depois da maneira como a
equipe tinha atuado no jogo fora de casa e da tensão que ele vinha lidando
entre os jogadores, eu não poderia ngir que estava dormindo.
Essa lingerie enviava uma mensagem clara: eu quero transar. E se ele não
quisesse, eu me sentiria rejeitada.
Wes entrou no quarto e colocou as malas no chão, depois caminhou até
a cama.
— Ei, você está acordada? — ele sussurrou, sentando-se na beira da
cama e se inclinando para ver meu rosto.
Eu estava com as cobertas puxadas até o queixo, então ele não poderia
ver a armadilha sexual que eu tinha tentado preparar.
— Sim, estou acordada. Pode acender a luz.
Ele acendeu o abajur ao lado da cama, e eu percebi pela expressão em
seu rosto que ele não estava de bom humor.
Merda. Por que eu tinha depilado, raspado, passado hidratante no corpo
e vestido uma lingerie novinha em folha? Era possível mudar o humor dele,
mas saber que Wes estava irritado me deixou vulnerável, e eu não gostei
disso.
Wes suspirou pesadamente e disse:
— Eu preciso ser honesto com você sobre uma coisa.
Ah, merda. Merda, merda, merda. Ele estava prestes a me dizer que
tinha dormido com outra mulher durante a viagem. Eu senti no fundo. E lá
estava eu, de lingerie. Fiquei petri cada.
— Ok — eu disse rme. — A gente não tem nada mesmo.
Ele franziu a testa.
— Eu queria te dizer que é difícil para mim morar na casa do Ben e da
Lauren.
Ah. Isso não era nem próximo do que eu estava imaginando.
— É? — perguntei.
Ele assentiu, parecendo um tanto cansado e culpado.
— Estou tentando muito dar conta da equipe e lidar com toda a
agressividade que estamos recebendo. Eu não sou o Ben, nunca serei. Venho
sentindo o peso de tentar ocupar o lugar dele, mesmo que seja impossível. E
aí ter que vir cozinhar na churrasqueira dele, passar pelo escritório dele
todos os dias… dormir na cama dele. Eu amava o Ben, mas morar aqui,
criar seus lhos e assumir o posto de capitão do time… está fazendo com
que eu sinta como se estivesse tentando ser o Ben. E tudo o que sinto é
inadequação. Sinto falta da minha cama. Sinto falta da porcaria do meu
sofá. E me sinto um idiota por sentir isso tudo.
Eu me sentei, esquecendo as cobertas.

É
— Você não é um idiota. Mas fala mais sobre isso? É só sobre a casa ou
também sobre as crianças?
— É a casa. Eu amo as crianças. Foi uma decisão acertada mudar para
cá logo depois que eles morreram, e talvez ainda não seja o momento certo,
mas…
— Você quer vender a casa — eu terminei.
— Sim. Estamos usando as louças e as toalhas de banho deles, e… acho
que uma casa nova pode ser a melhor coisa para todos nós. Podemos car
no bairro da escola que Ben e Lauren queriam matricular as crianças, mas
comprar algo que seja nosso e não deles.
Seu olhar caminhou para os meus seios enquanto eu respondia:
— Você quer dizer você poderia comprar? Porque eu não estou em
posição de pagar metade.
Ele acenou com a mão.
— Dinheiro não é um problema para a gente. Eu tenho bastante, e
teremos o valor da venda desta casa. Mas eu queria perguntar se você acha
que é uma decisão correta em relação às crianças.
Considerei os prós e contras, assim como a dimensão de permanência
que vem ao se comprar uma casa.
— É difícil dizer. Acho que haverá coisas difíceis para todos nós, não
importa o momento em que as zermos. Mas eu entendo como você se
sente por viver aqui.
— Você também se sente assim?
Eu balancei a cabeça.
— É meio o oposto para mim. Quando estou usando a batedeira de
mão da Lauren e escrevendo coisas em seu calendário, eu me lembro dela.
Mas eu te entendo, Wes. É um pouco mórbido que a gente viva aqui com
todas as coisas deles. Eu preferiria ter meu próprio escritório em vez de
trabalhar no do Ben para sempre.
Seu olhar voltou para os meus seios.
— Você está incrível nesse sutiã, baby.
— Obrigada.
Ele levantou a mão e passou o polegar sobre o tecido que cobria um dos
meus mamilos, enviando um arrepio da ponta da minha espinha até a base.
— Não precisamos fazer nada imediatamente com a casa — ele disse.
— Mas essa ereção que você me deu por usar esse sutiã é muito urgente.
Meu corpo aqueceu em resposta ao seu olhar faminto enquanto Wes se
levantava e tirava a camisa social e a camiseta básica que estava por baixo.
Eu não estava apenas querendo transar com Wes quando ele chegou em casa
hoje à noite, eu estava necessitada. Tinha passado mais de uma hora
contando historinhas para fazer Annalise dormir em sua cama esta noite.
Nesse momento, conseguia recitar de cor cada palavra do livro Chicka
Chicka Boom Boom.
Valeu a pena, pensei enquanto Wes abaixava as calças e a cueca, sua
ereção se projetando à frente. Ele realmente tinha um corpo impecável, com
ângulos e músculos de nidos.
Ele puxou as cobertas e examinou meu corpo coberto pela lingerie. Ele
riu suavemente, passando o olhar de cima a baixo.
— Caramba, baby. Pronta para abrir essas pernas?
Eu sorri.
— Estou se você recebeu os resultados do exame de DST. Eu recebi os
meus e estou saudável e forte como um touro.
— Sim, eu recebi os meus também, tudo certo por aqui. O médico do
time me deu um atestado para provar isso.
Rindo, eu disse:
— Você não precisa me mostrar, Wes. Eu con o em você.
Como eu estava tomando pílula, não precisávamos mais usar camisinha.
Eu nunca diria em voz alta, mas, Deus, eu estava ansiosa para que Wes
gozasse dentro de mim.
Enquanto se acariciava, Wes me olhou e disse:
— Tenho fantasiado constantemente com você, baby.
— Sério? Fale mais.
— Eu penso na forma como você ca e geme quando goza. — Ele
colocou um joelho na cama e se aproximou, sua mão deslizando da minha
panturrilha até minha coxa. — Penso na imagem de você com uma
camiseta que não cobre toda a sua bunda, eu adoro ver essa bunda
arrebitada. E tenho imaginado como você caria de joelhos, com meu pau
em sua linda boca.
A excitação em meu ventre se misturou com preocupação, deve ter
chegado ao meu rosto.
— O que foi? — perguntou Wes.
— O quê? — devolvi.
— Você acabou de fazer uma careta. Se você não gosta de fazer sexo
oral, tudo bem. Há muitas outras coisas que eu gosto.
Eu lambi os lábios, nervosa, enquanto tentava pensar em como
responder.
— Não é que eu não goste… é que não sou boa nisso.
Wes arqueou as sobrancelhas.
— Não é boa nisso?
— Então, meio que já me disseram isso.
Minhas bochechas queimaram de vergonha. Eu estava esperando que
Wes estivesse me comendo agora, não pedindo mais detalhes sobre minhas
habilidades orais um tanto inadequadas.
— Pelo jeito você já foi pra cama com uns caras bem babacas — disse
ele.
— Quer dizer, sim, mas…
— Vem aqui — disse ele, levantando-se da cama.
Eu o segui, e quando estávamos ambos de pé, ele colocou as mãos na
minha cintura e me beijou. Foi suave e sensual, me colocando no clima e
me fazendo esquecer essas caraminholas.
Recuando ligeiramente, ele perguntou:
— Você quer que eu te ensine?
— Ensinar o quê? Você vai chupar um pau para mim, Wes?
Ele riu e me beijou novamente.
— Venha aqui, espertinha.
Quando ele pegou minha mão e me conduziu até a cadeira estofada
com um veludo verde-escuro que cava no canto, eu sorri.
— Você está planejando sentar lá? — perguntei.
— Sim.
— Vou pegar uma toalha. Eu ajudei a Lauren a escolher essa cadeira e
levamos meses na tarefa. Foi estupidamente cara e não quero manchas de
bunda nela.
— Meu Deus, Hadley, minha bunda está limpa.
— Sim, mas quando você senta e as coisas uem… deixa eu pegar uma
toalha.
Ele sorriu e olhou para o teto, as mãos nos quadris.
— Vá correndo para eu poder ver seus peitos e bunda balançando.
Eu concedi seu desejo e peguei uma toalha de banho no armário do
banheiro; em seguida a desdobrei e a coloquei sobre a cadeira. Wes sentou,
um sorriso brincando em seus lábios, os olhos escuros de desejo enquanto
dizia:
— Ajoelha.
Isso estava começando bem mais sensual do que minhas experiências
orais anteriores. Em vez de forçar minha cabeça para baixo em direção ao
seu pau, Wes estava me dizendo o que queria, e isso era surpreendentemente
sexy.
Quando eu estava de joelhos na sua frente, ele colocou uma mão no
meu cabelo, as pontas dos dedos massageando meu couro cabeludo.
— Brinque comigo — disse ele em um tom baixo. — Me provoque.
Hesitei por um momento antes de me inclinar para frente e lamber a
cabeça do seu pau, envolvendo-o com a língua gentilmente. Wes gemeu em
resposta, as pontas dos dedos ainda passeando pelo meu cabelo.
— Isso é bom, baby. Mantenha seus lábios sobre os dentes e deixe as
coisas molhadas. Se você zer isso, é difícil que qualquer coisa… ah, puta
merda, isso.
Eu o deixei bem molhado e, em seguida, z movimentos para cima e
para baixo com a mão. Tentei novamente, usando tanto a boca quanto a
mão. Pelo som de sua respiração ofegante, dava para notar que ele estava
gostando.
— Um pouco mais devagar — ele disse em um tom persuasivo. — Ah,
isso é perfeito. Continua assim.
Não eram tanto suas palavras, mas seus gemidos e a forma como sua
mão apertava meu cabelo que me diziam quando eu estava fazendo algo que
ele gostava. E uma vez que eu fui capaz de colocar quase tudo em minha
boca e aumentar o ritmo, ele começou a levantar os quadris ligeiramente e
gemer mais alto.
— Não para, porra… Ah, caralho… use a mão se você não quiser que
eu goze na sua boca, baby.
Não havia nada que eu quisesse mais do que ele gozando na minha
boca. Ele fez com que eu me sentisse poderosa e sexy, e eu tinha a sensação
de que estava gostando disso quase tanto quanto ele. Continuei, e logo fui
recompensada com o sabor do seu orgasmo inundando minha boca.
Wes exalou forte, e seu corpo cou lânguido.
— Os outros caras eram uns puta mentirosos — ele disse, sorrindo. —
Isso foi incrível.
— Você me ajudou a fazer isso ser bom — eu disse, ainda sentindo uma
onda de orgulho.
— Nah. Todo mundo deveria dizer ao seu parceiro aquilo que gosta. É
o que adultos fazem. E eu amei isso.
Ele pegou meu rosto em suas mãos e me beijou. Talvez ele estivesse
certo, e eu simplesmente não havia estado com um homem de verdade
antes. Eu de nitivamente nunca estive com alguém que me zesse sentir
como Wes fazia.
— Agora deite e se prepare para receber a retribuição como uma boa
garota — ele disse enquanto se levantava.
Caramba. Eu me considerava uma mulher forte e independente, mas
quando ele me comandava no quarto, eu sempre queria obedecer. Era bom
não estar no controle o tempo todo.
Wes desceu minha calcinha, jogando-a no chão antes de fazer uma trilha
de beijos até as minhas coxas.
Meu Deus, o homem sabia o que estava fazendo. Ele lambeu, e sugou, e
acariciou, até que eu estivesse à beira do orgasmo, mas parou antes de me
deixar gozar. Em vez disso, ele abriu minhas pernas e en ou o pau em mim,
ambos gemendo de prazer.
Eu elevei meus quadris em direção a ele, meu corpo desesperado pelo
prazer que sabia que estava por vir. Eu tinha pensado nesse momento todas
as noites em que ele estava na estrada.
Eu gozei rapidamente, afundando meu rosto em seu ombro para abafar
os gemidos e não acordar as crianças. Ele foi logo em seguida, seu rosto
congelando em uma expressão de completo êxtase enquanto gozava dentro
de mim.
— É só comigo ou isso só está cando cada vez melhor? — ele
perguntou, exalando forte e deitando de lado.
— Não, você está certo.
— Pense em todo o ótimo sexo que você perdeu por me recusar todos
aqueles anos — ele disse com um olhar de cumplicidade.
— Mas aí eu não teria o benefício da sua extensa experiência — eu
disse, sorrindo.
— Ahan — ele disse, com um pequeno sorriso no rosto. — Quer tomar
um banho?
— Claro.
Ele saiu da cama e foi até a cadeira no canto para pegar a toalha.
— Vou usar minha toalha suja para economizar na lavanderia — ele
disse enquanto caminhava para o banheiro.
Prático e sexy.
Minha opinião sobre Wes estava realmente começando a mudar.
Wes

Apesar de as coisas estarem indo bem em casa, com a equipe estava um


verdadeiro show de horrores. Keegan e Konstantin brigavam
constantemente, perdíamos mais do que ganhávamos, e embora eu tivesse
pedido ao treinador para conversarmos, ele estava me evitando. No entanto,
ele me surpreendeu depois do treino de hoje, dizendo que queria me ver em
seu escritório.
Ele sentou assim que fechei a porta e disse:
— Que merda está acontecendo no vestiário, Kirby?
— Há muita coisa acontecendo, treinador.
— Como capitão interino, é seu trabalho resolver isso.
— Eu não posso forçá-los a superar tudo mais rápido, e essa merda entre
Miller e Kon está se intensi cando. É disso que eu precisava falar com você.
O treinador estreitou os olhos.
— Você está me dizendo que não consegue lidar com um pequeno
desentendimento entre alguns garotos?
— É mais do que um desentendimento. Aparentemente, Keegan está
dormindo com a namorada de Kon.
O treinador parecia menos impressionado.

É
— É isso que você tinha para me dizer? Jesus Cristo, Kirby, o que você
quer que eu faça? Quando Ben vinha falar comigo, era tudo sobre hóquei.
— Isso é sobre hóquei — eu disse calmamente. — Kon está tentando
ser negociado neste verão, e francamente, eu não vejo como isso seria bom
para a equipe. Precisamos de Kon muito mais do que precisamos de Miller.
Se o perdermos, a primeira linha perde todo o ímpeto.
— Vamos deixar algo claro, Wes: nesse momento, esta equipe não tem
ímpeto. Nem a primeira linha, nem a décima linha. E para ser honesto com
você, não vejo você se esforçando para mudar as coisas.
— Estou tentando. Estamos muito fora de sintonia e cando sem
tempo.
— Ben não teria deixado isso acontecer. Ben foi capaz de motivar esses
caras a fazerem o melhor, e ele teria lidado com essa situação entre Kon e
Miller.
— Eu não sou Ben — eu disse baixinho. — Se eu vou ser o capitão,
tenho que fazer as coisas do meu jeito, e meu jeito foi vir até você, contar a
situação e te avisar que vamos perder Kon se não zermos algo a respeito de
Keegan. Eles não vão simplesmente se acertar. Svetlana está morando com
Kon e dormindo com Keegan. Eu não tenho o poder de mudar isso; você e
Levoie têm. — Mitch Levoie era nosso gerente-geral.
O treinador olhou para o teto por alguns segundos antes de me tar
com um de seus olhares de aço.
— Eu preciso que você encontre uma maneira de se comunicar com
eles, lho. Caso contrário, vamos perder mais do que Kon neste verão.
Caramba, ele estava ameaçando meu lugar na equipe?
— Só resta uma semana na temporada. Eu não sei o que posso fazer
nesse tempo tão curto.
— Eu entendo. — O treinador de repente parecia um pouco derrotado.
— Estávamos tendo uma temporada muito boa. Eu nunca perdi um
jogador antes. Já vi lesões que acabaram com a carreira, mas não morte, não
assim. Eu não sei como diabos seguimos em frente.
— Talvez seja porque nunca nos despedimos — eu disse lentamente. —
Quero dizer, falamos sobre ele no vestiário e tivemos um momento de
silêncio antes daquele primeiro jogo após o funeral, mas nunca nos
despedimos. O funeral foi curto e depois, foi só a família. Talvez a gente
precise fazer algo signi cativo. Um jantar, só os caras, uma homenagem a
Ben. Contar nossas histórias favoritas, falar sobre quem ele era, dar aos caras
a chance de se despedirem. Eu sei que estou assombrado pela imagem do
Ben ao viver em sua casa, usar suas coisas, sentar em seu sofá… — Limpei a
garganta. — Posso organizar isso.
— No dia anterior ao último jogo da temporada — disse o treinador
em voz baixa. — Em vez de um treino matinal, teremos um jantar da
equipe na noite anterior. Talvez no Giovanna’s?
— E vamos convidar a equipe toda, sabe? Treinadores, todos os
técnicos, gerentes de equipamentos. Precisamos de algo assim.
— Certamente não vai fazer mal. Faça os arranjos, e eu vou conseguir a
equipe a bordo.
— Vou te enviar os detalhes assim que Vicenzo me disser se a área dos
fundos está disponível.
O treinador assentiu, e eu fui dispensado.
Agora eu só precisava descobrir como fazer os caras se unirem,
mantendo Keegan e Konstantin separados, para quem sabe terminar a
temporada regular em alta. Eu estava tão perdido nesses pensamentos, que
quase perdi as risadas no vestiário, onde a maioria dos caras estava trocando
de roupa. Eu olhei em volta e vi Lars apoiado em seu armário, com uma
expressão de irritação no rosto.
— Eu deveria ter dito não é? — ele exigiu. — Ela tem apenas quatro
anos.
Keegan estava rindo tanto, que segurava a barriga, e havia um sorriso
fraco nos lábios de Drew. Todos pareciam focados em algo no chão, e
quando olhei para baixo, quase ri também. As unhas dos pés de Lars
estavam pintadas de vermelho vivo, como um carro de bombeiros. E era
absolutamente ridículo. Exceto que Annalise não havia falado sobre outra
coisa senão seu “encontro” com or por dois dias. Ela estava mais feliz do
que em qualquer outro dia desde seu aniversário, os olhos brilhando toda
vez que pegava o urso de pelúcia de um jogador de hóquei que Lars havia
comprado para ela na Build-A-Bear Workshop. Eu tinha me oferecido para
pagar, mas ele recusou o dinheiro, dizendo que era um prazer passar algum
tempo com Annalise.
Aparentemente, apesar da constante necessidade de segurar sua mão, ela
não o irritava.
— Você poderia perfeitamente ter negado — eu disse em voz alta, quase
desa ando alguém a me contradizer. — Mas você não disse porque é um
puta de um tio incrível — Eu bati em seu ombro. — Obrigado por ser tão
bom para a lha do Ben.
— Ela é minha amiga.
— Você está parecendo uma bichinha! — Keegan ainda estava rindo, e
Drew deu um tapa na nuca dele.
— Não fode. Se minha lha me pedisse para pintar minhas unhas dos
pés, eu nem hesitaria.
— É, bem, eu não. É por isso que a mãe dela existe.
— Gostei. — Lars deu de ombros e se virou para vestir sua calça jeans.
Com seus quase dois metros, e ombros tão largos quanto a maioria das
portas, ninguém jamais o confundiria com uma bichinha, nem mesmo fora
do diminutivo, e embora eu não pudesse ter certeza, já que ele era um cara
bastante reservado, meu instinto me dizia que ele não tinha dúvidas sobre
sua sexualidade.
— Eu também — eu disse a ele. — E, sim, se ela me pedisse, eu
também faria.
— Eu aposto que foi um encontro épico — Nash disse para Lars. —
Quanto você gastou naquela loja de ursinhos?
Lars nem sequer se virou.
— Duzentos e cinquenta e sete dólares e trinta e oito centavos.
Eu z uma careta, desejando poder pagar a ele, mas mesmo que ele
aceitasse, eu nunca ofereceria assim na frente dos caras. Todos estavam
boquiabertos com a resposta dele.
— Por um urso de pelúcia? — Nash reclamou, surpreso.
— Você pode personalizar o urso — Drew disse. — E você pode
comprar acessórios, como chapéus e coisas assim.
— Eu nunca vou ter lhos — Van disse, balançando a cabeça.
— E de nitivamente não meninas — Keegan murmurou.
— Tenho quase certeza que você não tem muita escolha — Drew riu.
— Não é verdade que se você faz de quatro é sempre um menino?
— Acho que isso é uma lenda urbana — Drew disse —, mas não tenho
certeza. Nina e eu não nos importamos se teríamos meninos ou meninas.
Felizmente, a conversa mudou das unhas dos pés de Lars para posições
sexuais e outras coisas que não tinham nada a ver com o que estava
acontecendo com o time. Embora Lars não estivesse ciente ou simplesmente
não se importasse quando os caras pegavam no pé dele, isso me
incomodava. Era uma das muitas coisas que eu queria encontrar uma
maneira de abordar se eu fosse o capitão no próximo ano. E agora essa
possibilidade parecia bastante incerta.
Meu telefone tocou quando eu estava dirigindo para casa após o treino,
e quei surpreso ao ver “Pai” aparecer na tela. Eu só falava com meus pais
algumas vezes por ano, geralmente nos feriados, meu aniversário ou se eles
estivessem em algum lugar perto de onde eu estava jogando e quisessem me
ver. Caso contrário, eu geralmente acompanhava o que eles estavam fazendo
e onde estavam por meio das redes sociais.
— Oi, pai — eu atendi a ligação pelo alto-falante do carro.
— Como vai, lho?
— Foram meses difíceis, como você pode imaginar.
— Você ainda está sendo pai substituto dos lhos do Ben?
— Bem, sim. Mas não estou apenas sendo um pai substituto, ele deixou
a guarda deles para mim.
— Pensei que ele tivesse deixado a guarda para você e para a amiga da
Lauren e que vocês precisariam decidir quem caria com a guarda
de nitiva.
— Não vou permitir que eles quem longe de mim, pai. Eles fazem
parte da minha vida agora. Não sei como explicar esse sentimento de outra
forma.
— Ben era seu melhor amigo. Ele entenderia que você precisa seguir em
frente com sua própria vida. Como você vai conhecer alguém e ter uma
família com os pestinhas te segurando?
— Eles não são uns pestinhas e não estão me segurando.
— Que mulher vai querer se casar com você quando descobrir que você
já tem dois lhos de relacionamentos passados que ela vai precisar cuidar
porque você está sempre distante jogando hóquei?
— Não sei, pai, mas muitas pessoas se casam com gente que já tem
lhos de relacionamentos anteriores.
— Eles nem são seus lhos.
— Pai, chega disso. Eu amo a Annalise e o Benny. E eles precisam de
mim.
— Deixe a amiga da Lauren car com eles. Mulheres são mais aptas
para esse tipo de coisa.
— Tem como você ser mais machista?
— Sou realista, e o machismo é uma realidade.
— Podemos acabar com essa conversa? As coisas estão caminhando
direito, exceto pelo time, que não está jogando bem, e pelos pais do Ben,
que estão nos processando pela guarda.
— Jesus, você não tem saída disso, mas age como se fosse só um
incômodo.
— Não quero ou preciso de uma saída. Estou feliz.
Houve um momento de silêncio antes de meu pai dizer:
— Ah, puta merda, você está transando com ela? Por favor, me diga que
está se protegendo.
— O nome dela é Hadley — eu disse entre dentes, apertando as mãos
no volante.
— Tanto faz. Ela sabe quem é sua família e quanto dinheiro você tem?
— Nós nunca falamos sobre isso, mas tenho certeza de que ela sabe, já
que Lauren e ela eram melhores amigas. Ela não está atrás do meu dinheiro,
pai.
— Como você sabe disso?
— Sabendo. Ben e Lauren não deixariam a guarda dos lhos a alguém
assim.
— Ela pode ser uma ótima mãe substituta, mas isso não signi ca que ela
não seja uma interesseira. Você costumava ser mais cuidadoso que isso,
lho.
— Pai, está tudo bem. Hadley é uma ótima mulher. Você iria gostar
dela.
— Gostar dela não é o ponto, o seu futuro é. É hora de você pensar em
se estabelecer, e isso não acontecer com alguma aspirante a jornalista de
Nova York.
— Pai, ela é editora de uma das maiores revistas de estilo do país. Ela
não é aspirante a nada.
— Aspirante a esposa de um Kirby.
— Você não tem como saber isso, e, francamente, isso é um pouco
ofensivo tanto para mim quanto para ela. Eu não sou idiota e consegui
evitar casar com uma interesseira nesses últimos vinte e nove anos, então
acho que sei lidar com isso.
Meu pai resmungou.
— O fato de você estar considerando a ideia de criar essas crianças me
faz duvidar de tudo o que você está dizendo. Por que você faria isso consigo
mesmo? Sério, ter uma mulher conveniente na sua cama não é…
— Ok, chega. Não é isso que está acontecendo e eu nunca disse que
estava dormindo com ela.
— Mas você está, e nós dois sabemos disso. Estou tentando cuidar de
você, lho, já que você obviamente não está conseguindo pensar com
clareza nesse momento.
— Estou bem, pai.
— De certa forma, duvido disso. En m, sua mãe quer dizer oi. Não
mencione nada disso para ela, ok? Isso a deixaria chateada.
Eu resisti à vontade de revirar os olhos, já que de qualquer maneira
ninguém iria ver.
Hadley

— Esse é o favorito da mamãe — disse Annalise enquanto eu pegava um


vidro de perfume na penteadeira do banheiro de Lauren.
Miss Dior. Ela me enviou um frasco desse perfume alguns anos atrás, e
eu pensava nela sempre que o via na minha bancada do banheiro ou
quando borrifava um pouco.
— Passa um pouco em você — disse Annalise.
Enquanto colocava o perfume de Lauren, percebi que Wes estava certo.
Morar aqui e deixar tudo como estava havia sido a melhor decisão para
Annalise logo após a morte de Ben e Lauren. Mas não poderíamos fazer isso
para sempre.
Algumas semanas atrás, Nina me disse que ela e Drew poderiam vir
empacotar as roupas e itens pessoais de Lauren e Ben quando estivéssemos
prontos, e eu pensei que nunca estaria pronta. As coisas que Lauren tinha
deixado me confortavam. Eu nunca poderia ser como ela ou criar seus lhos
tão bem quanto ela, mas eu poderia usar sua receita de mu n de blueberry.
Eu poderia assar aqueles mu ns em suas forminhas e arrumá-los em sua
travessa favorita de cerâmica.
Mas eu ainda faria isso daqui a seis meses? Um ano contando a partir de
agora? Wes e eu ainda não tivemos uma conversa de nitiva sobre o futuro.
No testamento, Ben e Lauren nos pediram para decidir quem criaria as
crianças, mas essa era uma decisão impossível. Wes e eu amávamos os dois
muito.
O que tinha começado como uma brincadeira sem consequências –
dormir com Wes – estava se tornando algo a mais para mim. Teríamos um
encontro esta noite. Nash e Lars viriam cuidar das crianças.
Havia decisões difíceis que precisariam ser tomadas – eventualmente.
Naquele momento, eu estava me arrumando para o meu encontro e
passando algum tempo com Annalise.
— Eu estou bonita — ela disse, admirando-se no espelho.
Eu olhei para ela e ri. Enquanto eu estava concentrada em colar meus
cílios postiços, ela abriu uma das minhas paletas de sombras e esfregou uma
sombra verde-escura em suas pálpebras.
— Você sempre está bonita — eu disse. — Com ou sem maquiagem.
— O or vai gostar? — perguntou ela.
Eu balancei a cabeça e ri de novo. Annalise estava desenvolvendo uma
paixonite por Lars. Ela pintou as unhas de turquesa para o “encontro” deles
e dormia todas as noites com seu novo ursinho de pelúcia.
— Acho que o or prefere o seu visual natural, amor — eu disse,
colocando removedor de maquiagem em um disco de algodão e removendo
a sombra dos olhos dela.
— Você deveria usar um vestido — ela disse enquanto eu terminava de
me maquiar. — A mamãe usava vestidos quando ia num encontros com o
papai.
— Talvez eu use. Eu tenho que experimentar ainda três roupas, e uma
delas é um vestido. Vou usar a que você gostar mais.
— Eu te amo, tia Hadley.
Meu coração derreteu. Era a primeira vez que ela dizia isso, e isso me
emocionou tanto, que lágrimas encheram meus olhos.
— Também te amo, meu amor.
Seus lábios se curvaram, assim como as sobrancelhas se uniram.
— O que houve? — perguntei.
Ela desviou o olhar, sem dizer nada. Eu me ajoelhei para car na altura
dela e perguntei novamente.
— E se você e o tio Wes não voltarem? O or vai cuidar de mim e do
Benny?
Isso me atingiu como um soco. Noite de encontro. Ben e Lauren
estavam em um encontro quando um motorista bêbado bateu em seu carro.
Eu fechei os olhos, me sentindo uma idiota.
— Vamos voltar, Annalise — eu disse, mantendo meu olhar no dela. —
Nós vamos. Vamos sair para jantar e depois voltamos para casa
imediatamente.
— Mamãe e papai não voltaram — ela disse suavemente.
— Aquilo foi um acidente terrível e… — Minha voz falhou, e eu limpei
a garganta. — E é compreensível que você se preocupe que a mesma coisa
possa acontecer comigo e com o tio Wes. Mas você pode nos ligar enquanto
estivermos fora, quantas vezes quiser, para ter certeza de que estamos bem.
Ela concordou, e eu a abracei. Meu primeiro instinto foi cancelar o
encontro. Deitar na cama com Annalise e assistir ao Disney Channel, para
que ela pudesse me ver e saber que tudo estava bem.
Mas eu não podia car com ela o tempo todo. Era brutalmente injusto
uma criança de quatro anos se preocupar em perder as pessoas que ama,
mas essa era a realidade de Annalise.
— Por que você não me deixa arrumar seu cabelo antes de sairmos?
Vamos fazer algo bem elegante — eu sugeri. — Posso colocar algumas
presilhas brilhantes.
— Sim!
Ela estava animada quando sentou no banquinho em frente à
penteadeira de Lauren para me assistir trabalhar no seu cabelo. Eu prendi
seus cachos e nalizei o penteado com um pouco de spray xador. Depois,
experimentei cada roupa que tinha pensado em usar para esta noite, e ela
experimentou três vestidos e veio mostrar para mim.
Descemos de mãos dadas. Ela estava usando uma réplica do vestido que
Anna usou em Frozen, e eu estava usando um vestidinho preto que Annalise
escolheu. Eu estava meia hora atrasada, mas quando encontrei o olhar dele,
vi que Wes estava sorrindo.
— Minhas garotas estão espetaculares — ele murmurou, beijando
minha bochecha.
— Desculpa o atraso — eu disse ao pé de seu ouvido. — Ela precisava
de um tempo comigo.
— Tudo bem — ele disse. — Nash está participando de uma corrida de
engatinhar com Benny, e Lars foi buscar pizza.
Eu arqueei as sobrancelhas em dúvida.
— Uma corrida de engatinhar?
— Sim, e conhecendo-o, ele vai passar em primeiro na linha de chegada
e provocar o Benny por ser tão lento.
Benny agora já engatinhava por toda parte da casa. Tínhamos de deixá-
lo em seu jumper ou no cercadinho sempre que virávamos as costas por um
minuto. Todos os dias ele crescia um pouco mais e cava mais fofo,
exibindo os dois dentinhos de baixo quando sorria. Quando eu penteava
seu cabelo escuro para o lado, ele parecia um homenzinho feito, e eu só
queria era abraçá-lo. Mas agora que ele estava engatinhando, já não gostava
de car muito tempo no colo.
— Olha lá a sua girafa! — ouvi Nash dizer da sala de jantar. — Vou
pegar, Benny! Essa girafa vai ser minha se você não pegar, meu chapa.
Eu ri, meio envergonhada, assim que ouvi Annalise se juntando à
conversa da outra sala.
— Não é justo competir com ele, tio Nash. Ele é um bebê!
Wes beijou minha testa.
— Vamos nessa enquanto ainda podemos. Talvez seja melhor deixar
Annalise no comando.

*
— Eu nem pensei nisso — disse Wes uma hora depois, enquanto
tomava um drinque em uma churrascaria no centro de St. Louis. —
Tadinha, preocupada em nos perder assim como perdeu os pais.
— Partiu meu coração. Eu z o meu melhor para deixá-la mais calma.
Ele estendeu a mão sobre a pequena mesa e pegou a minha.
— Tenho certeza de que você se saiu muito bem. Você é boa.
Wes estava usando uma calça social cinza-escuro e uma camisa social
azul-claro que fazia seus olhos parecerem ainda mais azuis do que o normal.
Lembrei da primeira vez em que havíamos jantado juntos em um
restaurante chique – uma jantar com Ben e Lauren em Nova York há cinco
anos. Naquela época, eu o considerava um playboy irreparável, um cara
simplesmente sem profundidade e que nunca amadureceria.
Tudo era diferente agora. Eu fui obrigada a ver o verdadeiro Wes – o
homem por trás da fachada. Ele era tudo o que Lauren sempre me disse –
trabalhador, generoso e leal.
— Nós mudamos? — perguntei a ele.
— Como assim?
— Nós costumávamos ser como água e óleo. Eu achava que você era…
bem, você sabe o que eu pensava.
Ele sorriu.
— Sim, você nunca foi acanhada na hora de me dar sua opinião.
— Eu estava… errada?
Ele riu e apertou minha mão.
— Você estava certa e errada. Eu fui um idiota com você na primeira
vez que nos conhecemos. Como eu disse a você, eu tinha bebido demais e
estava acostumado a ouvir sim das mulheres. Eu era um jovem atleta
pro ssional e aproveitava ao máximo todos os benefícios que isso me trazia.
Mas nunca fui uma pessoa ruim. Eu precisava amadurecer, caramba,
provavelmente ainda preciso. Mas não vou deixar você e as crianças na mão.
Nunca vou fazer isso.
Eu ajeitei meu cabelo atrás da orelha e dei um gole no meu vinho.
— Você acha que se Ben e Lauren não… tivessem morrido… ainda
brigaríamos toda vez que nos víssemos?
— Ah, sim. Você me chamaria de garoto de fraternidade na festa de
casamento da Annalise.
— E você estaria me perguntando se as ondas de calor causadas pelo
aquecimento global estavam derretendo o iceberg en ado no meu rabo.
Ele abaixou a cabeça.
— Não foi meu melhor momento, Hadley. Desculpe por ter dito isso.
Eu dei de ombros.
— Eu disse coisas piores sobre você. Nós sempre trazíamos o pior do
outro à tona.
Wes soltou minha mão para dar um gole em seu uísque. Estava sorrindo
quando colocou o copo de volta.
— Posso te contar algo que acho que vamos rir bastante agora que está
tudo no passado?
— O quê?
— Lembra quando eu me atrasei para o casamento do Ben e da Lauren,
e você… desaprovou a minha existência?
— Lembro, sim. — Entrelacei minhas mãos e apoiei o queixo nelas. —
Eu te devo desculpas por aquilo.
Ele levantou as duas mãos.
— Não, de forma alguma. Se atrasar quando se é o padrinho é uma
sacanagem. Mas a verdade é que eu fui o primeiro a chegar na igreja
naquela manhã.
— Como é? — Franzi a testa. — Você chegou dez minutos depois que a
cerimônia deveria ter começado, eu estava te esperando.
— Com uma recepção calorosa, como me lembro — disse com um
piscar de olhos.
Eu me encolhi com a lembrança.
— Eu cheguei na igreja pela manhã, mas tive que sair porque o Ben
esqueceu as alianças no hotel. Ele estava muito chateado. Nunca o vi tão
aborrecido com alguma coisa. Então eu fui lá buscar.
Fiquei completamente sem palavras enquanto processava essa nova
informação.
— Por que você não me contou? — nalmente perguntei. — Eu não
teria te chamado de todos aqueles nomes feios ou nem teria considerado
tirar um dos saltos para bater em você.
Ele deu de ombros.
— Eu não ia deixar o Ben levar a culpa. Tenho ombros largos o
su ciente para aguentar umas bordoadas de uma dama de honra.
Cobri meu rosto com as mãos e ri.
— Meu Deus, Wes, eu fui tenebrosa.
— Não se preocupa. Eu não te contei isso para te fazer se sentir culpada.
Eu acho até engraçado, na verdade. E você estava certa em muitas das vezes
que me criticou. É por isso que eu me incomodava tanto. Eu nunca deveria
ter levado aquela mulher para a festa de um ano da Annalise.
Eu ri com a lembrança.
— Ah, é verdade! Qual era o nome dela?
Ele me olhou envergonhado.
— Não faço ideia.
— Você também estava certo sobre mim — admiti. — Sobre eu ser
muito certinha e não ter uma vida própria. E sobre eu não ser nada parecida
com a Lauren.
O rosto de Wes se fechou, sua expressão passando de descontraída para
séria.
— Não, eu estava errado sobre isso, Hadley. Você é muito parecida com
a Lauren.
— Não sou. Lauren era doce e engraçada, e fazia tudo parecer fácil. Ela
sempre fazia as pessoas se sentirem bem quando estava com elas.
— Você faz eu me sentir muito bem quando estou com você — disse
Wes, seu olhar carregado de signi cados.
— Acho que a maioria das mulheres tem esse efeito em você na cama —
brinquei.
— Não, não é isso que eu quero dizer. Estou falando de quando você
dobra minha roupa e não diz nada sobre eu não ter feito isso. Quando volto
de uma viagem e descubro que você deixou um prato com o jantar na
geladeira para mim. Quando tudo com o time parece uma merda e você é a
única pessoa com quem quero conversar. Quando te escuto contando
histórias para as crianças, histórias de quando elas nasceram, e quando você
cuida tão bem delas, mesmo estando cansada e estressada com seu próprio
trabalho. Você é muito parecida com a Lauren.
Meu coração acelerou, e meus olhos permaneceram xos nos de Wes.
Eu sabia que éramos compatíveis na cama e que tínhamos aprendido a
conviver, mas o que ele acabara de me dizer parecia… mais. E isso fazia com
que eu me sentisse bem. Fazia com que eu me sentisse muito bem. Outros
homens já tinham me dito que eu era muito durona, muito honesta, muito
independente. Wes foi o primeiro homem a ver a mulher atenciosa e
amorosa que existia lá no fundo.
— Obrigada — eu disse, desviando o olhar para que ele não visse as
lágrimas ameaçando cair.
Wes sorriu para a tela do celular e a virou para mim. Havia uma foto
que Nash havia enviado em que ele, Lars, Benny e Annalise se divertiam na
brinquedoteca. Nash estava usando uma peruca vermelho-escura e Lars,
com uma expressão séria, estava tendo o cabelo penteado por Annalise. Ela
parecia estar se divertindo muito.
— Ah. — Eu sorri e coloquei a mão no peito. — Eu precisava muito
dessa noite fora, mas ainda sinto falta deles.
— Vamos jantar e depois podemos comprar os ingredientes para fazer
sundae em casa.
— Sério?
Wes assentiu.
— Eu adoraria passar a noite toda com você no hotel mais próximo,
mas com Annalise preocupada de que talvez não voltemos para casa, acho
que precisamos manter nosso tempo fora de casa limitado.
Meus ombros relaxaram em alívio, porque eu sentia o mesmo.
— Com licença, Wes Kirby? — um homem disse ao lado da nossa
mesa. Wes olhou para ele, e o homem continuou. — Desculpe incomodar,
mas meu pai é um grande fã dos Mavericks. Ele tem oitenta e três anos e
está prestes a ir para uma casa de repouso. Será que você poderia escrever
um bilhete para ele?
Wes sorriu e disse:
— Claro, sem problema. Pena que eu não tenho um disco de hóquei
comigo ou no meu carro, ou poderia autografar.
— Tudo bem. Apenas um bilhete autografado vai signi car muito para
ele.
Wes pegou a caneta e o papel que o homem lhe entregou e começou a
escrever. Eu percebi mais uma vez o quanto eu tinha pensado mal desse
homem. E então senti uma pontada, porque sabia que este era seria o
momento em que Lauren diria que ela tinha me avisado.
Wes

O último jogo da temporada regular foi em casa, contra Detroit. Nós


tínhamos vencido facilmente no outro confronto da temporada, mas hoje
parecíamos um time de beisebol infantil jogando seu primeiro jogo de
hóquei pro ssional. Talvez isso tenha sido um leve exagero, mas, puta
merda, estávamos péssimos no gelo.
O jantar de confraternização da noite anterior foi um desastre.
Começou bem, mas na metade do jantar, Svetlana apareceu. Ela estava
bêbada, chorando e fora de controle. Konstantin tentou acalmá-la e fazê-la
pegar um táxi para casa, mas ela resistiu e fez um enorme escândalo. Então
Keegan se envolveu. E as coisas pioraram mais rápido do que qualquer um
de nós poderia ter previsto. Até o treinador tentou acalmar a situação, mas
foi sem sucesso. Keegan deu um soco, Kon revidou, e Svetlana pulou no
meio. Se não tivéssemos no Giovanna’s, a polícia provavelmente teria sido
chamada.
Felizmente, Vicenzo nos deixou resolver a situação, então nos juntamos,
separamos Kon e Keegan, colocamos Svetlana em um táxi e acalmamos
todo mundo. No entanto, Keegan seguiu logo atrás de Svetlana.
Mantivemos Kon no restaurante, preocupados com o que poderia acontecer
se ele e Keegan se encontrassem novamente tão cedo.
A única coisa boa sobre o incidente foi que o treinador nalmente
entendeu o quanto a situação entre Kon e Keegan estava séria e me chamou
para me dizer que conversaria com a gerência sobre negociar Keegan neste
verão. Não havia como manter os dois depois daquilo, e a essa altura do
campeonato, o treinador estava cansado. Para ser honesto, o time inteiro
estava cansado disso, todos já tinham tentado intervir sem tomar partido.
O resultado foi um nal horrível para uma temporada trágica, possíveis
negociações no horizonte para o pós-temporada e minha própria situação
na equipe em suspensão também. O treinador não estava feliz com a forma
como eu atuei como capitão, e eu não poderia culpá-lo. Mesmo assim, isso
me assustou. Eu não sabia o que faria se fosse negociado. Já estávamos
falando em colocar a casa à venda e comprar algo novo, onde todos
pudéssemos recomeçar, mas eu não planejava fazer isso em outra cidade.
Ou, Deus me livre, em outro país.
Eu toquei no assunto naquela noite na cama com Hadley. Tínhamos
feito amor algumas vezes, e ela estava calma, quentinha e saciada,
aconchegada contra mim enquanto conversávamos.
— Você acha que pode ser negociado? — ela perguntou, surpresa.
— O treinador está puto com tudo. A temporada, o clima no vestiário,
minhas habilidades como capitão e, é claro, com Kon e Keegan.
— Keegan é um cuzão — ela disse. — Mesmo que ele esteja
completamente apaixonado por Svetlana, eles deveriam ter lidado com essa
situação de um jeito melhor. Ele poderia ter pedido para ser negociado ou
eles poderiam ter mantido isso em segredo até o nal da temporada. E por
que Kon simplesmente não a bota pra fora?
Eu dei de ombros.
— Sinceramente, não sei. Acho que ele prometeu ao pai dela que
cuidaria dela ou algo do tipo antes de trazê-la para os Estados Unidos.
— Acho que essa promessa deveria ter sido anulada assim que ela o
traiu.
— Concordo.
— Então… o que signi ca para a gente você ser negociado? — ela
perguntou depois de um momento.
Apertei meus braços em volta dela.
— Não sei, baby. Quer dizer, já estamos falando em vender a casa, então
seria fechar esse ciclo para todos nós, mas se isso acontecesse, não sei para
onde teríamos de ir. — Eu pausei. — E isso inclui o Canadá.
— Canadá? — Ela cou um pouco tensa. — Eu não posso me mudar
para o Canadá, Wes. Quer dizer… minha chefe já está surtando comigo em
St. Louis. Ela caria insana se eu me mudasse para outro país.
— Mas vamos ter que conversar sobre essa possibilidade. Não podemos
apenas ngir que isso não existe, porque se isso de fato acontecer, vai ser
nesse verão.
— Falta muito para o verão.
— Seis semanas, baby.
— Ugh. — Ela se acomodou mais em meu peito. — Não quero falar
sobre isso. Tivemos um ano estressante o su ciente e estamos construindo
uma rotina.
— Sim, mas a temporada acabou para o time, o que signi ca que temos
que começar a conversar sobre todas as coisas estressantes.
— Hoje à noite? — ela perguntou, levantando a cabeça e me dando um
sorriso malicioso enquanto colocava a mão entre minhas pernas e envolvia
meu pau. Instantaneamente, ele cou ereto, e eu me aproximei de seu rosto,
beijando sua boca com movimentos profundos e sensuais em sua língua, até
que ela subiu em cima de mim.
— De nitivamente não precisamos mais falar disso hoje à noite —
sussurrei contra a boca enquanto apalpava sua bunda.
— O que devemos fazer, então? — ela me provocou, passando as mãos
sobre os seios enquanto observava meu rosto.
— Você deveria me deixar te comer até você não conseguir andar e sua
boceta pedir misericórdia.
Ela lambeu os lábios.
— Olha, isso parece algo que eu gostaria de conversar. — Ela abaixou a
cabeça para me beijar novamente. — Se eu quisesse conversar.
— Arran. — Eu a levantei pelos quadris e a abaixei em cima do meu
pau, entrando profundamente nela. — O que você estava dizendo?
— Pooorra…

*
Os dias subsequentes foram agradáveis. Limpar meu armário e me
despedir dos caras foi meio chato, mas eu sabia que veria a maioria deles
durante as férias, então foi um alívio não ter de me preocupar com o
Mavericks por algum tempo. As crianças nos mantiveram ocupados, Hadley
e eu estávamos grudados um no outro à noite e estávamos funcionando
como uma máquina bem lubri cada durante o dia; parecia que era a
primeira vez que eu conseguia respirar desde aquela noite horrível em
janeiro, quando perdemos Ben e Lauren.
Hadley e eu concordamos em adiar qualquer conversa séria sobre o
futuro até eu ter a chance de conversar com meu agente e descobrir que tipo
de interesse o mundo do hóquei tinha por mim. Eu tinha certeza de que
muitas equipes adorariam contar comigo, mas precisava ser a combinação
certa, tanto para as minhas habilidades e personalidade quanto para minha
vida pessoal. Com Hadley e as crianças na jogada, eu não podia
simplesmente ir para qualquer lugar. Às vezes, acontecia isso, mas eu tinha
in uência su ciente no meio para ter pelo menos um pouco de escolha
sobre para onde iria, a não ser que a equipe planejasse me descartar para o
primeiro que aparecesse. Mas eu não achava que seria o caso. Se havia algo
acontecendo, seria o movimento de se livrarem de Keegan o mais rápido e
silenciosamente possível. Minha maior esperança era que, quando tudo se
resolvesse, o núcleo da equipe permanecesse intacto. Isso me incluía.
— Tio Wes, a tia Hadley está no telefone com a chefe piranha e o
Benny estava chorando. — Annalise entrou na cozinha com as mãos nos
quadris.
— Você sabe que não pode usar essa palavra — eu disse a ela, franzindo
mentalmente a testa enquanto secava as mãos. A chefe da Hadley andava
furiosa ultimamente, e provavelmente tínhamos usado a palavra “piranha”
mais do que apenas algumas vezes, então eu tinha de cortar isso pela raiz,
não importava o quanto fosse engraçado ouvir essa palavra saindo da boca
da Annalise.
— Desculpa. — Ela abaixou a cabeça, e eu me abaixei para beliscar o
seu nariz.
— Tudo bem, Annalise. Mas não deixa a tia Hadley ouvir você usar essa
palavra, ela provavelmente vai te colocar no cantinho da re exão.
Os lábios dela se curvaram para baixo.
— Eu não gosto do cantinho.
— Eu sei que não gosta, então não diga essa palavra.
— Ok.
Subi as escadas rapidamente para pegar o Benny. Eu havia acabado de
colocar a louça do almoço na máquina enquanto Hadley fazia uma
conferência com a equipe editorial da revista; eu não queria que o choro do
Benny chegasse até ela lá embaixo, no escritório do Ben.
— Ei, grandão. — Eu o levantei e o segurei contra meu peito até ele se
acalmar. — Tirou uma boa soneca?
Ele se aconchegou na cavidade do meu ombro, e eu o coloquei na mesa
trocadora, pegando uma fralda nova. Eu tinha feito isso muitas vezes nos
últimos meses, então agora era algo natural. Foi nesse momento que me
ocorreu que eu tinha me tornado pai dessas crianças com muito mais
facilidade do que eu imaginava. Eu não pensava mais no que tinha que
fazer, simplesmente fazia. Era muito mais simples agora que eu não tinha de
correr para o trabalho todos os dias, embora eu esperasse que Hadley não
precisasse trabalhar até meia-noite de novo, como fez na noite anterior.
A chefe estava no pé dela ultimamente, e embora Hadley tentasse
esconder isso de mim, eu podia ver que isso a estava abalando. Por isso eu
tinha dito a ela para fazer o que precisava fazer esta tarde e que eu cuidaria
das crianças. Tori estava de folga, então éramos só Annalise, Benny e eu.
— Quando o or vai vir aqui? — Annalise me perguntou enquanto
descíamos para o andar de baixo.
— Eu não sei — eu disse. — Talvez possamos ligar para ele mais tarde.
— Ele disse que poderíamos ir para o parque.
Sorri para mim mesmo, imaginando se Lars realmente gostava da
companhia dela ou se estava apenas indo na onda porque não sabia dizer
não. Em algum momento, eu teria de perguntar a ele, porque não queria
que ele casse ressentido por eu o ter colocado nessa situação em que uma
criança de quatro anos exigia muito do seu tempo. Ele era jovem e solteiro,
então estar à disposição de Annalise provavelmente estava limitando muito
o seu estilo de vida. Embora fosse difícil saber de fato sobre a vida de Lars,
já que ele mantinha sua rotina muito privada.
— Posso assistir Doutora Brinquedos? — Annalise perguntou.
— Claro. — Peguei o controle remoto e liguei no programa favorito
dela, exatamente quando meu telefone começou a tocar. Eu estava
segurando Benny quando tirei o celular do bolso para ver quem era.
Merda.
O advogado.
Eu atendi e fui para a cozinha, para que Annalise não ouvisse minha
conversa, já que ela era muito intrometida e não perdia nada.
— Alô?
— E aí, Wes, Timothy Sutton aqui.
— Ei, Tim. O que está acontecendo?
— Os pais do Ben entraram com um pedido de custódia temporária de
emergência e a juíza concordou em ouvir. A audiência será na segunda-feira.
— Meu Deus. O que você acha? Estamos em apuros?
— Acho que você precisa sentar.
— Pensei que você tivesse dito que o testamento era inquestionável,
não? — Meu coração afundou.
— É, mas o problema é que você e a Hadley tiveram três meses para
decidir quem vai criar as crianças e até agora não decidiram, deixando o
futuro das crianças em suspenso. Os avós argumentaram que as crianças
deveriam se mudar para a casa deles para dar alguma estabilidade enquanto
vocês dois resolvem isso. Eu não conheço essa juíza, mas ouvi dizer que ela é
uma grande defensora das crianças, então pode ir para qualquer lado. — Ele
pausou. — Vocês já decidiram quem vai criar as crianças?
Eu engoli em seco.
— Não. Nós… bem, temos uma rotina muito boa e decidimos não
mexer com isso por enquanto. Eu não achei que Patrick e a Susan fariam
algo assim. Eles estão realmente começando a me irritar.
— Concordo, e com isso em mente, acho que devemos nos encontrar.
Você e a Hadley estão disponíveis amanhã?
— Eu estou, e vou ver o que a Hadley pode fazer com a agenda dela.
Nossa babá vem amanhã, então deve rolar numa boa.
— Poderíamos fazer o encontro por vídeo se precisar, é só me avisar.
— Beleza. Obrigado.
Eu desliguei e me encostei na bancada, fazendo cócegas no pescoço do
Benny até ele rir.
Não havia chance de deixar essas crianças irem embora depois dos
últimos três meses, mas minha intuição me dizia que não seria fácil criá-las
sem a Hadley. O problema era que eu também não queria car sem ela, e
não tinha ideia do que ela sentiria sobre isso. Que inferno, eu nem sabia
como me sentia a respeito disso.
De nitivamente tínhamos de arranjar algum tempo para conversar.
Hadley

— Desculpa pelo atraso — eu disse, olhando para o relógio enquanto me


sentava à mesa do escritório do Ben e iniciava uma reunião pelo Zoom com
Liz. — Benny vomitou na roupa antes da babá chegar.
Eram exatamente quatro minutos depois das nove da manhã, e nossa
reunião estava marcada para às nove em ponto. Não deveria ser um grande
problema, mas com Liz não havia negociação.
— Jesus, Hadley, sua aparência está uma merda.
Ela fez uma careta ao analisar como eu estava, e eu inconscientemente
passei a mão no cabelo, numa tentativa de parecer mais arrumada. Só deu
tempo de lavar o rosto, passar um hidratante enquanto escovava os dentes,
passar uma escova no cabelo e prendê-lo em um rabo de cavalo. Os dias em
que eu arrumava o cabelo, passava uma maquiagem completa e pensava no
que vestir para ir ao trabalho caram no passado. Calça de yoga e uma
camiseta havia se tornado meu uniforme de trabalho.
— Sim, mas essa é a única videoconferência que tenho hoje — eu disse
a Liz. — Então escolhi um visual natural.
Ela suspirou suavemente e disse:
— A beleza ainda faz parte da sua vida?
Meus lábios se abriram em surpresa.
— Como assim?
— Willow é uma revista de estilo, Hadley. Uma grande parte do nosso
foco é a beleza. Você costumava vir animada, chegava cedo toda segunda-
feira de manhã falando sobre a nova máscara facial ou chapinha que havia
testado no m de semana.
Eu queria rir, embora não estivesse nem um pouco divertido. Quando
trabalhava no escritório, sentava em frente à mesa da minha chefe enquanto
ela reclamava sobre mulheres “que se perdiam” depois de terem lhos.
Concordava com ela às vezes, mas agora o destino estava me mostrando
como era estar do outro lado dessa futilidade.
— Liz, você estava usando um boné de beisebol em nossa reunião pelo
Zoom duas sextas-feiras atrás. Qual é a importância se meu cabelo está
arrumado quando estamos apenas nós duas aqui?
— Eu ia para um jogo dos Mets naquela tarde, e eu estava maquiada.
— Ok — disse eu, respirando fundo. — Você recebeu a lista de
sugestões que enviei por e-mail? Acho que há vários candidatos fortes para
matérias de capa.
Liz franzia as sobrancelhas.
— Não estou pronta para começar a reunião ainda. Precisamos discutir
primeiro o fato de você ter se atrasado.
Eu queria fechar a tela do notebook e passar um bom tempo longe da
Liz, mas trabalhei duro nos últimos sete anos na Willow, recebendo
promoções em tempo recorde. Eu era a editora associada mais jovem que a
revista já teve e não ia deixar a falta de habilidades sociais da Liz arruinar
todo esse esforço.
— Eu estava quatro minutos atrasada, sim — disse eu. — E sinto muito
por isso.
— Não seja sarcástica comigo. Tenho me esforçado ao máximo para
ajudá-la desde que sua amiga morreu, mas isso não está funcionando,
Hadley. Você me perguntou se poderia trabalhar remotamente enquanto
resolvia a mudança dos lhos da sua amiga para Nova York. Já se passaram
três meses. Você mal está conseguindo gerenciar sua carga de trabalho. Você
é uma das nossas melhores editoras, e eu não quero te demitir, mas algo
precisa mudar. Quando posso contar com você de novo no escritório?
Eu caí contra a cadeira confortável de Ben, chocada demais para
respirar.
— Me demitir? Você está falando em me demitir?
— Não quero que chegue a isso. Mas eu preciso que você volte ao
escritório em tempo integral.
Em tempo integral. Eu queria rir, mas isso realmente não era engraçado.
Antes de Lauren morrer, eu chegava no escritório às sete da manhã todos os
dias e nunca saía antes das seis. Em muitas noites, eu simplesmente comia
na minha mesa de trabalho e permanecia trabalhando até precisar ir para
casa para tomar um banho e dormir. Então eu fazia tudo de novo no dia
seguinte. Meus ns de semana sempre foram meus, mas eu trabalhava no
mínimo sessenta horas por semana de segunda a sexta. Como eu poderia
fazer isso agora? Eu nunca estaria com Annalise e Benny.
Havia também a questão da mudança para Nova York. Eu não queria
tirar as crianças de Wes. Esse tinha sido meu primeiro plano, mas os três
meses em que estivemos juntos me mostraram o quanto eu estava errada. As
crianças adoravam Wes, e ele as amava mais do que qualquer outra coisa.
Eu precisava que Wes fosse transferido para Nova York. Essa era a única
maneira de manter meu emprego e criarmos as crianças juntos. Nunca
seríamos um casal o cial, loucos um pelo outro ou algo do tipo, mas o que
tínhamos construído era su ciente para mim.
Quer dizer, provavelmente era. Mas isso era a menor das minhas
preocupações nesse momento.
— Tenho uma audiência judicial esta tarde sobre as crianças — eu disse
a Liz. — Saberei mais sobre minha situação amanhã. Podemos conversar
sobre isso depois?
— Claro. — Sua expressão suavizou. — Quero que isso dê certo,
Hadley. Você é um verdadeiro trunfo, mas eu preciso receber muito mais de
você do que você está me oferecendo agora.
Eu tinha visto Liz usar essa abordagem com outras mulheres na Willow.
Ela era tanto a boa quanto a má policial, dependendo de seu humor e do
que lhe convinha. Eu a tinha visto demitir funcionárias porque elas
precisavam de tempo para processar a morte de um dos pais ou porque
estavam lutando contra a depressão após um divórcio.
Se elas não conseguem acompanhar o ritmo, ninguém pode culpá-la por se
livrar delas, eu pensava na época.
Mas agora a situação era comigo. Eu queria voltar no tempo e pedir
desculpas a todas as mulheres pelas quais não havia me posicionado e sido
mais solidária, mas não podia fazer isso agora. Eu estava afundada nos meus
próprios problemas.
Wes e eu estávamos correndo o risco de perder a guarda das crianças. E
isso era tudo em que eu conseguia pensar desde a nossa reunião com o
advogado. E embora eu estivesse sobrecarregada e completamente fora da
minha zona de conforto quando comecei a cuidar delas, tudo havia
mudado.
Eu as amava. Não como antes, como uma tia ou madrinha que enviava
grandes presentes e brincava com elas durante as visitas, mas de uma
maneira mais profunda e autêntica que eu não sabia que era possível. Eu
sabia qual dos choros de Benny signi cava cansaço, fome ou dor por causa
do nascimento dos dentes. Eu sabia de cor as histórias favoritas de Annalise.
Eu sempre sentiria falta de Lauren, mas seus lhos preencheram o vazio que
sua perda produziu no meu coração.
Eu não podia perdê-los.
— É um caos naquela casa — disse Susan tristemente do banco das
testemunhas. — Sempre tão barulhento e sem refeições feitas em casa. Wes
e Hadley trabalham o tempo todo. Meu marido e eu temos tempo para
cuidar dos nossos netos. Eles são da nossa família.
Eu apertei rmemente a mão de Wes, sem deixar meus sentimentos
aparecerem no rosto. Por dentro, porém, eu estava furiosa. Susan Whitmer
era sem vergonha e estava fazendo uma representação patética na tentativa
de anular o testamento de seu próprio lho e nora.
— Então é a falta de estabilidade que preocupa você? — O advogado de
Patrick e Susan estava fazendo todas as perguntas certas para pintar Wes e
eu de forma negativa. Eu queria socá-lo.
— Sim, exatamente. Wes e Hadley estão apenas vivendo na casa de Ben
e Lauren, sem um plano de quem vai criar as crianças. Patrick e eu não
sabemos quem vai levar as crianças, ou para onde as levarão, ou quando
farão isso. Achamos que as crianças precisam se estabelecer em uma nova
rotina o mais rápido possível.
Eu queria jogar algo nela, e pelo aperto rme da mandíbula de Wes, eu
tinha quase certeza de que ele sentia o mesmo desejo. Ela estava sendo
completamente injusta. Três meses não são tanto tempo quando se está de
luto, trabalhando e cuidando de crianças.
— E se lhe for concedida a guarda temporária hoje, você levará as
crianças de volta para sua casa na Califórnia? — perguntou o advogado de
Susan a ela.
— Não, caremos em St. Louis por enquanto, de preferência na casa de
Ben e Lauren. Queremos manter Annalise na pré-escola atual dela.
Toda a audiência foi um pesadelo absoluto. O esforço que Wes e eu
zemos para criar estabilidade para as crianças foi pintado como egoísmo
pelo advogado dos Whitmer, sugerindo que a razão pela qual não tínhamos
decidido quem criaria as crianças era porque nenhum dos dois queria
assumir a responsabilidade. Ele mostrou ao juiz a agenda de viagens de Wes,
dizendo que ele nunca poderia ser um pai em tempo integral. Nosso
advogado foi pego de surpresa e despreparado, e não soube rebater nenhum
dos argumentos jogados sobre mim e Wes. Ele apenas continuou dizendo
que o testamento de Ben e Lauren deveria ser cumprido.
— Esta é uma situação difícil — disse a juíza após os argumentos nais.
— Meu coração se aperta por todos vocês, pela perda de seus entes queridos
e sua preocupação mútua por essas crianças. E embora essa não seja uma
decisão fácil, vou conceder o pedido dos autores da ação de guarda
temporária. Sr. Kirby e srta. Ellis, seus amigos deixaram vocês com uma
escolha muito difícil. Vocês terão que fazê-la, porém. Quero me reunir
daqui a duas semanas e ver a decisão de vocês. Ambos, por favor, usem esse
tempo longe das crianças e um do outro para re etir sobre o que seria
realmente melhor para elas.
Eu me virei para Wes, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu estava
arrasada e chocada. A expressão presunçosa no rosto de Susan Whitmer fez
meu interior ferver em nome de Ben e Lauren.
Wes segurou minha mão enquanto saíamos da sala com nosso
advogado.
— Estaremos prontos em duas semanas — disse nosso advogado,
parecendo levar a decisão com tranquilidade. — Vocês decidem qual de
vocês será o guardião das crianças e as terão de volta.
— Mas… duas semanas — en m consegui dizer. — As crianças não
caram longe de nós por mais do que algumas horas desde que os pais
morreram.
— Os avós passarão esse tempo com eles. Ouça, usem essas duas
semanas para tomarem essa decisão. Tudo vai dar certo.
Wes falou, seus olhos escuros e sua voz rme.
— Sim, vamos trazer pelo menos mais um advogado para este caso, e
espero sua total cooperação com qualquer outra pessoa que eu contratar.
— Sr. Kirby, tenho ampla experiência nesses casos…
— Sua ampla experiência não fez porra nenhuma pela gente agora há
pouco, fez? Não vou correr nenhum risco com a próxima audiência. Vou
contratar uma dúzia de advogados se for necessário, e é melhor você
oferecer ajuda a eles em tempo integral.
Wes passou a mão pelo queixo e puxou gentilmente minha mão.
— Vamos embora, não consigo nem olhar para Patrick e Susan agora.
Saímos do tribunal em silêncio, eu estava anestesiada com tudo ao
redor. Nem me lembrava onde Wes tinha estacionado. Apenas o deixei me
guiar enquanto pensava nas palavras da juíza. Duas semanas longe das
crianças. E Wes e eu tínhamos que escolher quem caria com elas.
— O que vamos fazer? — eu perguntei a ele, meu coração batendo
descontroladamente.
Ele apenas suspirou profundamente, balançou a cabeça e não disse nada.
Parecia que estava se sentindo como eu – encurralado, com uma contagem
regressiva para a situação mais angustiante que a vida já me apresentou.
Wes

Eu trouxe uma leva das nossas coisas para o meu condomínio, mas agora
que não havia muito mais para tirar da casa do Ben e de Lauren, a realidade
estava me atingindo com força. Hadley parecia completamente arrasada, os
olhos inchados de tanto chorar, e toda vez que eu dava uma olhada em
Susan, sentia um novo nível de nojo. Eu conhecia aquela mulher por mais
da metade da minha vida, mas neste momento, eu a odiava pra caralho. E
eu sabia com cada bra do meu ser que Ben estaria furioso com a mãe dele
agora. Hadley e eu estávamos tentando dar o benefício da dúvida aos pais
de Ben porque eles deviam estar de luto, mas aquilo foi uma sacanagem, e o
fato de a juíza ter caído naquele papo me deixou muito puto.
Não tínhamos tido tempo para fazer nada além de empacotar nossos
pertences e tentar manter Annalise calma, então eu não tinha ideia do que
poderíamos fazer; a única coisa que eu sabia com certeza era que eu usaria
todos os recursos que tinha para vencê-los quando voltássemos ao tribunal.
Eu raramente pedia ajuda ao meu pai para qualquer coisa, porque eu era
um homem adulto com muito dinheiro e visibilidade, mas agora era
diferente. Meu pai era um daqueles homens que muitas vezes jogavam sujo
nos negócios, uma das muitas razões pelas quais eu me afastei dele
pro ssionalmente. Mas com isso? Essa história estava bem próxima da
especialidade dele, e eu não me importava com o que precisasse fazer para
garantir que Annalise e Benny cassem comigo. E Hadley.
— Eu não quero que você vá! — Annalise bateu o pé pela décima
segunda vez hoje desde que dissemos a ela que caríamos longe por duas
semanas. Tínhamos dito que era para que ela pudesse passar tempo com avó
e avô, mas ela não estava comprando a história e não estava nem um pouco
feliz.
— Vovó e vovô planejaram muitas coisas divertidas pra você — eu disse
a ela, me agachando para car na altura de seus olhos.
— Eu não gosto deles. — Ela fez beicinho, e as lágrimas encheram seus
olhos.
Jesus. Eu não sabia o que dizer ou fazer.
— Não seja boba, querida. — Susan se aproximou, tentando alcançá-la,
mas Annalise balançou a cabeça com veemência enquanto se afastava da avó
e se aproximava de mim.
— Você não é legal — disse ela, franzindo a testa. — Você sempre grita.
Eu quero o tio Wes e a tia Hadley.
— Sinto muito por ter gritado com você — disse Susan lentamente,
soltando um suspiro. — Mas você tem que aprender a se comportar como
uma mocinha. Vamos trabalhar nisso agora que você cará conosco.
— Não! — Annalise jogou a sua xícara com canudo do outro lado da
sala e saiu correndo da cozinha.
— É isso que você ensinou a ela a fazer? — Susan perguntou, cruzando
os braços. — Comportamentos como esse são exatamente a razão pela qual
precisamos ter a guarda das crianças.
— Não é a gente que ca gritando o tempo todo — eu disse, pegando
meu shake de proteína na despensa.
— Claro que não. Provavelmente você não sabe nada sobre disciplina.
Eu abri a boca para responder, mas Hadley se antecipou.
— Há outras maneiras de disciplinar uma criança, além de gritar —
disse ela, olhando para a outra mulher. — Annalise sabe que ao se
comportar assim conosco, ela irá direto para o cantinho da re exão.
— Cantinho da re exão. — Susan soltou o ar com desdém. — Isso é
coisa dessa paternidade moderna que criou uma geração de crianças
mimadas.
— Eles não são… — Hadley começou.
— Deixa pra lá. — Eu apertei o braço de Hadley enquanto a
interrompia, porque essa discussão iria crescer rapidamente se deixássemos,
e não queríamos fazer isso na frente de Annalise. — Vamos só cair fora, ok?
Hadley pegou a sacola de compras que tinha enchido com alguns dos
seus próprios utensílios de cozinha, já que ela não queria deixá-los com
Patrick e Susan, e pegou sua bolsa.
— É melhor assim — Susan falou em seguida. — Você vai ver que
estamos fazendo um favor a vocês.
— Vai para o inferno — eu murmurei enquanto fechava a porta da
frente.
Fomos até o meu apartamento em dois carros — eu no meu SUV, e
Hadley, no Escalade do Ben –, e mal me lembro de ter chegado lá. Minha
mente era um completo borrão de imagens, alternando entre a ordem da
juíza, a cara convencida da Susan e o choro da Annalise esta manhã, quando
demos a notícia a ela. Deus, eu nunca tinha ansiado tanto pelo conselho do
Ben como agora. O que ele me aconselharia a fazer se ainda estivesse aqui?
Eu não tinha a menor ideia, e é claro que nada disso estaria acontecendo
se ele ainda estivesse aqui.
— Ei, depois eu desço e pego o restante das suas coisas — eu chamei
Hadley enquanto ela estacionava na minha segunda vaga. — Vamos só levar
isso aqui lá para cima por enquanto.
Ela hesitou, mas então assentiu. Parecia tão anestesiada quanto eu, mas
não houve tempo para conversar. Annalise tinha se agarrado à perna dela a
maior parte da manhã, e embora Benny obviamente não soubesse o que
estava acontecendo, seus pequenos braços estavam estendidos, seu rosto
franzido em um chorinho enquanto eu beijava o sua cabeça antes de ele ir
para a hora da soneca.
Isso me matava só de pensar.
— Quer pedir comida? — eu perguntei a Hadley quando trouxe a
última das suas coisas para dentro.
— Claro. Ok. — Ela assentiu, olhando em volta por um momento e
depois afundando no sofá.
— Vai car tudo bem — eu disse a ela. Eu vou descobrir como fazer
isso.
— Wes, eu não sei o que fazer.
— Eu sei. — Eu me sentei ao lado dela e a puxei para o meu peito. Ela
resistiu por um segundo, mas depois relaxou, seu corpo cando mole,
embora os dedos de uma mão segurassem rmemente minha camisa. Eu
acariciei seu cabelo, e nós apenas camos assim, como se de repente não
tivéssemos mais propósito na vida. Sem lhos, sem hóquei, sem nada além
do silêncio do meu apartamento muito tranquilo e vazio.
Era sempre assim?
Não. Eu amava minha casa até que tudo isso aconteceu. Que droga, eu
nem tinha colocado à venda porque não tinha certeza do que estávamos
fazendo e eu não queria morar em outro lugar se não fosse car com Hadley
e as crianças. Só que agora tudo havia mudado. Eu queria viver em uma
casa grande com Hadley e as crianças. Eu queria comprar algo novo que ela
e eu pudéssemos transformar em um lar, tanto para a gente quanto para
eles.
Merda.
Quando comecei a pensar nessas coisas?
— Estou meio que com fome — eu disse depois de um tempo. —
Deixa eu só pedir algo, volto já.
— Ok.
Hadley parecia bastante perdida; e eu teria feito qualquer coisa para
resolver isso. Para fazê-la sorrir novamente.
Em vez disso, pedi comida chinesa do nosso restaurante favorito e
depois afundei de volta no sofá ao lado dela. Estendi a mão, e ela
lentamente colocou a dela na minha.
— Você está bem? — eu perguntei.
— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Ainda vejo o rosto da Annalise, a
imagem dela chorando e me chamando. Sinto como se eu fosse a pior
pessoa do planeta nesse momento.
— Estou bem puto também.
Ela não respondeu de imediato, e quando nalmente virou a cabeça,
lágrimas se acumularam em seus olhos, ameaçando transbordar a qualquer
momento.
Estendi a mão para afastá-las com meus polegares.
— O que há de errado, baby?
— Tudo.
— Vamos dar um jeito. Vou ligar para o meu pai, e se eu o envolver
nessa batalha pela guarda, os Whitmers não vão nem saber o que os atingiu.
Eu não queria trazer os mandachuvas para o meio disso porque aqueles dois
estão de luto pelo lho, mas agora que estão jogando sujo, vou dobrar
nossos esforços também.
— Você não entende. — Ela esfregou os olhos e fungou.
— Então me fale.
— Não há nós. É tudo com você agora. Você não vê? Eu tenho que
voltar para Nova York ou vou perder meu emprego. E uma vez que eu
voltar, vou ter de trabalhar dezesseis horas por dia novamente, sem uma
rede de suporte para as crianças. A escolha mais inteligente, para as crianças,
é que você que com a guarda. Você tem dinheiro para garantir que eles
quem bem e tem sua família, os Mavericks, para ajudá-lo. Eu não tenho
ninguém além de algumas amigas solteiras e viciadas em trabalho que
sabem menos sobre crianças do que eu e que provavelmente têm ainda
menos tempo livre do que eu.
— Mas… — Eu comecei a protestar, mas Hadley colocou um dedo
gentilmente em meus lábios.
— Isto é sobre as crianças. Eu as quero, eu amo aquelas duas crianças, e
vou passar cada momento das férias sendo a tia Hadley, vindo vê-las,
falando com elas ao telefone… mas no dia a dia, você é a melhor escolha,
Wes. É claro como o dia.
Eu a encarei, tentando entender o que ela estava dizendo, mesmo que
meu estômago se revirasse, repleto de descrença e frustração. Parte de mim
concordava, porque eu tinha mais tempo do que ela, mesmo com todas as
viagens. Mas éramos uma equipe, droga, e essa coisa entre a gente era mais
do que sexo, não importava muito como tinha começado.
— Hadley. — Eu coloquei uma das minhas mãos na lateral do seu
rosto, fazendo com que ela me encarasse. — E a gente?
Ela piscou, e desta vez uma única lágrima escorreu pelo outro lado do
seu rosto.
— Eu não tenho tempo para haver um nós. Não com o meu trabalho. A
menos que você seja transferido para Nova York… — Sua voz foi se
apagando.
As chances disso acontecer eram mínimas, e ambos sabíamos disso.
— Você não precisa trabalhar — eu disse depois de um momento. —
Eu ganho milhões de dólares por ano e também temos tudo o que Ben e
Lauren deixaram para as crianças. Poderíamos fazer isso funcionar, e seria…
— Você quer que eu desista do trabalho? — ela soltou, seus olhos se
estreitando ligeiramente.
— Eu não quero que você desista. Só estou dizendo que você tem uma
opção.
— E eu faria o quê? Ficaria em casa e seria a babá em tempo integral das
crianças?
Ela parecia irritada, e eu não entendia por que estava tão brava.
— Você poderia arranjar um trabalho que fosse menos exigente, com
uma chefe mais compreensiva, alguém que…
— Eu ajudei a construir o que a Willow é hoje! — ela explodiu. — Eu
tenho ações da empresa. Isso é como eu te falar que não faz diferença em
que time você joga, desde que esteja jogando hóquei.
— Foi apenas uma sugestão, Hadley. Eu achei que você e eu… — Eu
não terminei o raciocínio e balancei a cabeça quando a campainha soou,
avisando que nosso jantar tinha chegado. Eu me levantei, paguei a conta e
peguei a sacola de comida. Eu a coloquei no balcão antes de voltar para a
sala.
Hadley se levantou e caminhou na minha direção, com uma expressão
no rosto que eu nunca tinha visto antes.
— Acho que é melhor eu voltar para Nova York amanhã de manhã.
— Você vai simplesmente deixar tudo assim e fugir? — eu exigi uma
resposta, encarando-a.
— Eu não estou fugindo. Estou apenas fazendo o melhor para todos. O
acordo era que íamos descobrir quem era mais adequado para car com a
guarda e obviamente é você. Você tem dinheiro e uma família extensa para
ajudar, e eu não tenho nada disso. Mesmo se eu tivesse o dinheiro de Ben e
Lauren, eu gastaria tudo comprando uma casa que fosse algo equivalente
em Nova York, pagando escolas particulares, babás em tempo integral e
assim por diante. E mal os veria. Pelo menos você está por perto quando
não está na estrada, e ca fora de três a cinco meses no verão, dependendo
se você chegar aos playo s. Então essa é a decisão madura e responsável.
Pelas crianças.
— E quanto ao que é certo para nós? — eu perguntei.
Ela balançou a cabeça.
— Não há um nós. Esse nós era apenas uma fantasia conveniente
enquanto estávamos brincando de casinha. Nós nos conectamos por causa
das crianças, mas nunca gostamos um do outro. Nada realmente mudou.
Isso doeu profundamente, e eu não consegui acreditar que ela havia dito
isso.
— Como você pode dizer isso?
— Mesmo depois de tudo pelo que passamos, você não tem respeito
pelo que sou pro ssionalmente ou o que me tornei como uma mulher
independente. As primeiras palavras que saíram da sua boca foram que eu
desistisse, como se eu precisasse de um homem na minha vida que pudesse
cuidar de mim, e isso mostra que essa coisa entre nós nunca funcionaria.
Ah, lá estava ela. A Hadley do passado. Aquela que era um pé no saco
pra tudo, mesmo que estivesse cheia de problemas. Porque essa coisa entre
nós não era apenas boa, era muito boa, e ela estava jogando isso – e eu junto
– fora como se não signi casse nada para ela.
Sinto muito, Ben, pensei enquanto a observava virar as costas e caminhar
em direção à cozinha. Eu tentei fazer isso funcionar. Eu realmente tentei,
amigão.
Dessa vez, eu não estava assumindo a culpa pelo que aconteceu entre a
gente. Dessa vez, era tudo culpa dela. E isso me destruiu completamente.
Hadley

Finalmente estava de volta ao escritório da Willow, que cava em um


prédio comercial no quarto andar de um arranha-céu no centro. Meus
lábios se curvaram em um pequeno sorriso enquanto caminhava pelo
corredor em direção à sala de descanso e via meu re exo em um espelho
pendurado na parede.
Sem maquiagem. Coque desarrumado. Foda-se, Liz.
Era meu primeiro dia de retorno ao trabalho e aquele era o último lugar
em que eu queria estar. Desde que deixei St. Louis para voltar para casa,
tudo parecia pesado e silencioso. Como precisei cancelar o contrato de
aluguel do meu pequeno apartamento quando me mudei para St. Louis,
estava hospedada em um hotel, o que me fazia mergulhar no silêncio o
tempo todo. Sem risadinhas de bebê ou gargalhadas de crianças. Sem
perguntas bobas da Annalise e sem choros do Benny no meio da noite.
E sem o Wes para me abraçar quando eu chorava por causa de tudo isso.
Dos dias em que eu deveria ter escolhido usar maquiagem, esse era um
deles. Havia olheiras ao redor dos meus olhos inchados, e eu estava pálida.
Eu estava emocionalmente esgotada, e não ia passar batom ou rímel e me
arrumar para dar a impressão para a Liz de que ela havia vencido.
— Hadley! — disse minha colega Rona West quando entrei na sala de
descanso dos funcionários. — É tão bom te ver.
Eu a abracei, fechando os olhos e tentando imaginar que era Wes. No
entanto, ela era muito menor do que ele, e Wes não usava perfume cítrico.
— Como estão as crianças? — ela me perguntou.
— Estão bem.
Usei meu tom de voz e minha falta de contato visual para enviar a
mensagem de que eu não estava em um bom momento para falar sobre as
crianças. Tinha certeza de que perderia a cabeça e choraria se o zesse.
— Bem, se houver algo que eu possa fazer para ajudar, é só me avisar —
disse ela suavemente. — Sério, Hadley. Minha esposa está viajando a
trabalho esta semana e a casa está muito silenciosa, então vou trabalhar
muito. Se precisar tirar algo da sua lista de tarefas, é só me passar.
— Obrigada, eu te agradeço muito.
— Hadley!
Mais duas pessoas entraram na sala, uma delas carregando duas caixas
cheias dos meus donuts favoritos para comemorar meu retorno. Quando
abri e o aroma açucarado escapou, sorri abertamente pela primeira vez
desde que deixei as crianças.
— Ah, essas coisas são tão cheias de açúcar — disse Liz ao entrar na sala
de descanso.
Peguei um donut e dei uma mordida enorme.
— Delicioso — eu disse, olhando diretamente para minha chefe.
Ela manteve o olhar por alguns segundos antes de dizer:
— Bem-vinda de volta, Hadley. Seu escritório agora é o que ca em
frente ao meu. E você pode ir à sala de brindes pegar maquiagem se quiser
car um pouco mais apresentável.
O escritório em frente ao dela era menor do que o que eu conquistara
dois anos atrás, mas esse não era o motivo pelo qual era o menos desejado
por todos os editores. Ficar em frente a Liz signi cava estar em sua linha de
visão direta, e toda vez que ela cava irritada, o que era frequente, quem
estava nesse escritório era quem mais sofria com sua ira.
— Acho que é melhor eu começar a levar minhas coisas — eu disse.
— Ah, isso já foi feito. Sierra mudou para o seu antigo escritório no mês
passado.
Eu franzi os lábios, imaginando o homem da manutenção revirando as
gavetas cheias dos meus pertences pessoais em caixas. E Liz nem sequer
havia mencionado isso até esse momento.
Antes, eu caria irritada com algo desse tipo por semanas. Eu teria ido
direto para o meu escritório para marcar drinques com meus colegas de
trabalho esta noite para desabafar sobre nossa chefe.
Mas agora não tinha muita importância. Minhas preocupações com
Annalise e Benny eram bem maiores. Wes e eu tínhamos dito a ela que
caríamos fora apenas por duas semanas. Ela não sabia que quando eu
voltasse para a próxima audiência, teria de partir novamente logo em
seguida. Permanentemente.
Pelo menos eles cariam com Wes em vez de Susan e Patrick, mas nem
isso servia muito de consolo. As crianças tinham começado a se sentir parte
de um núcleo familiar e Wes e eu tínhamos nos tornado uma equipe. Eu
passei tantos anos o odiando sem realmente conhecê-lo, que eu queria
compensar meus erros.
Eu estava enfrentando o antigo dilema de tantas outras mulheres — não
havia o su ciente de mim para dar conta de tudo. Queria estar em St. Louis
com Wes e as crianças, mas também queria estar em Nova York mantendo o
emprego pelo qual eu havia trabalhado tanto para conquistar. Liz não seria a
editora-executiva para sempre. Eu planejava assumir o cargo dela quando
ela saísse, e de nitivamente eu seria uma chefe muito diferente.
Por enquanto, eu só precisava sobreviver. Entrei em meu novo escritório
sem janelas e sentei à mesa.
Jogando os pensamentos sobre as crianças para longe, peguei meu
laptop e abri meu e-mail, esperando me afundar no trabalho. O primeiro
dia seria o mais difícil.
Acabou sendo mais do que eu pensava. Eu não conseguia parar de
pensar em como seria ver as crianças por tão pouco tempo quando voltasse
para St. Louis para a audiência. Eu não suportava a ideia de ter de me
despedir delas repetidamente toda vez que as visitasse e precisasse, depois,
voltar para Nova York.
Eu queria falar com Wes. Ninguém mais poderia entender como eu me
sentia. No entanto, fui eu quem o deixou. Eu o deixei em um momento em
que não era apenas eu quem estava sofrendo, mas ele também. A juíza
estava certa. O que estávamos fazendo não funcionaria para sempre.
Tudo isso era muito fodido. Horrível. Meu peito doía, e lágrimas
surgiam em meus olhos enquanto eu desejava conversar com Lauren sobre
essas coisas. Mas eu não podia. Eu tinha questão de dias para tomar a maior
decisão da minha vida – se eu deveria ou não largar meu emprego para
voltar para St. Louis para car com as crianças e tentar a sorte, acreditando
que Wes não esmagaria meu coração eventualmente –, e eu estava
completamente sozinha nesse momento.
Mais tarde naquela noite, entrei em meu quarto de hotel vazio, com um
saco de papel na mão com o meu jantar. Eu olhei fotos no meu celular
enquanto comia um pastrami de pão de centeio.
Havia fotos de Annalise e eu em um museu em St. Louis, de Benny
sorrindo para Wes enquanto ele fazia uma cara engraçada, de nós quatro
brincando juntos e das crianças com seus pijamas logo após o banho. Se eu
pudesse apenas tocá-los pelas fotos e abraçá-los…
Pela primeira vez desde que Ben e Lauren morreram, continuei rolando
as fotos até encontrar algumas em que eles apareciam. Lágrimas se
acumularam em meus olhos quando vi uma foto de todos nós no último
Natal, uma de mim, Lauren, Ben e Wes usando suéteres feios. Estávamos
todos tão despreocupados naquele dia, sem saber o que estava prestes a
acontecer… Havia uma foto de Annalise abrindo a caixa da Barbie Jeep que
o tio Wes havia dado a ela, seus olhos brilhando e a boca aberta de surpresa.
Eu continuei rolando, deixando as lágrimas caírem. Havia uma foto de
Lauren segurando Benny logo após o nascimento, sorrindo alegremente, e
ele embrulhado em uma manta com apenas seu rostinho visível. Eu soltei
um pequeno soluço quando vi uma foto que ela me mandou, de Ben
sentado com Annalise na mesa de brinquedo dela para um chá. Ela escreveu
que o ver sentado assim, com os joelhos mais altos que o tampo da mesa, a
fez querer pular em cima dele e fazer mais bebês naquele mesmo instante.
Eu queria conversar com ela desesperadamente, mesmo que fosse só por
alguns minutos. Abraçá-la e perguntar o que eu deveria fazer. No entanto,
eu nunca mais poderia receber conselhos da minha melhor amiga. Tudo o
que eu tinha era um monte de memórias.
Memórias e a carta que o advogado me deu na leitura do testamento,
que eu ainda não tinha conseguido abrir.
Meu coração batia forte enquanto me levantava e ia até uma das minhas
malas, onde a carta estava guardada em um bolso lateral. Por mais que
doesse saber que as últimas palavras que Lauren me diria estavam dentro do
envelope branco que eu segurava em minhas mãos trêmulas, eu precisava de
Lauren mais do que nunca nesse momento.
Eu respirei fundo, soltando o ar lentamente, e abri o envelope, retirando
a carta e sentando na beirada da cama para lê-la.
Querida Hadley,
Espero que você nunca precise ler isso. Espero que um dia,
quando estivermos com noventa anos e vivendo a vida juntas em
um asilo, eu possa contar sobre esta carta para você, para que,
juntas, a gente ria disso. Tomando margaritas, é claro, porque
ainda estaremos vivendo intensamente.
Isso é tão difícil. Eu venho adiando escrever isso há tanto
tempo, porque só de pensar eu choro. Mas eu preciso fazer, então
não ligue para as manchas de lágrimas nas páginas.
Se você está lendo essa carta, Ben e eu estamos mortos. Eu
costumo lidar com conversas difíceis por meio do sarcasmo, mas,
desta vez, não tenho de onde tirar isso. Antes de Annalise nascer,
eu faria muitas piadas para te contar. Mas agora a ideia de a
minha filha estar sozinha neste mundo sem os pais é dolorosa
demais. É inimaginável.
Ben e eu queremos que você e Wes criem nossa filha e
quaisquer outros filhos que possamos ter. Eu sei que é um choque
ler isso, e sinto muito. Nós discutimos muito a respeito disso, se
deveríamos perguntar anteriormente se vocês realmente poderiam
fazer isso, mas sempre chegamos à mesma decisão: tem que ser
vocês. Não podemos arriscar que vocês tentem nos dissuadir,
porque a próxima opção são os pais de Ben, e não queremos isso.
Se nossos bebês não puderem ter a mim e a Ben, queremos que
eles tenham vocês. Eu sei que você e Wes não se dão bem, e que
você provavelmente está atordoada ao ler isso, se perguntando
como isso poderia funcionar. Mas vai dar certo, Hadley. Vai, sim.
Ben e eu conhecemos vocês dois melhor do que ninguém.
Você é muito parecida com Ben. Prática e organizada. Dedicada,
cuidadosa e trabalhadora. Você também é uma pessoa que cuida
dos outros, mesmo que não perceba. Eu sou assim também, mas,
principalmente, sou como Wes. Deixo passar as coisas pequenas.
Amo rir e não levo as coisas muito a sério, a menos que seja
necessário. Eu tomo decisões arriscadas. Como Ben e eu, você e
Wes se equilibram.
Talvez um de vocês esteja casado agora. Talvez ambos estejam.
Talvez tenham seus próprios filhos. Eu adoraria que meus filhos
pudessem crescer com outras crianças. Ben e eu queríamos dar a
vocês espaço para decidirem quem seria o melhor para nossos
filhos, se for esse o caso. Mas, por mais louco que pareça, meu
instinto me diz que vocês dois podem encontrar um jeito de fazer
isso juntos. É algo enorme para pedir a vocês dois. Mas eu faria
isso por você, num piscar de olhos, e Ben faria isso por Wes.
Amamos vocês dois, e vocês são nossa família.
Não se sinta obrigada a tentar me substituir. Eu quero que você
crie meus filhos do seu jeito, não do meu. Ame-os à sua maneira.
Não desista do seu emprego e comece a cultivar orgânicos, a
menos que você realmente queira. Você é um modelo maravilhoso
de mulher exatamente como é. Não seja muito dura com Wes. Ele
é um ótimo cara, e espero que você tenha a chance de ver por que
Ben e eu o amamos tanto.
Leia para meus filhos. Há uma caixa no porão com todos os
meus livros favoritos da infância. Por favor, leia todos eles para os
meus bebês e conte a eles o quanto esses livros significavam para
a mamãe deles. Abrace-os com frequência. Torça por eles e
lembre-os de que todos cometemos erros. Apenas ame-os e tente
ajudá-los a saber quem foram seus pais e o quanto nós os
amamos.
Não consigo continuar escrevendo, estou chorando tanto, que dei
a mim mesma de presente uma dor de cabeça. Apenas saiba que
amo você e Wes muito profundamente, e sei que nossa filha e
quaisquer outros filhos que possamos ter estarão nas melhores
mãos.
Lauren

Li a carta três vezes antes de dobrá-la e colocá-la de volta no envelope.


Caminhei até o banheiro para lavar as lágrimas das minhas bochechas, e ao
olhar meu re exo no espelho, olhos inchados e cabelos escapando do rabo
de cavalo, me senti mais perdida do que nunca. Eu havia decepcionado
Lauren. Seus bebês precisavam de mim, e quando as coisas caram difíceis,
eu havia fugido de volta para Nova York, convencendo a mim mesma de
que não havia outra opção.
Eu não poderia ter tudo. Tinha que fazer uma escolha: minha carreira
na Willow ou as crianças e a possibilidade de um relacionamento com Wes.
E eu precisava fazer essa escolha agora.
Wes

South Beach foi um puta show de horrores. Mesmo sendo uma segunda-
feira no início de maio, as ruas, restaurantes e hotéis estavam lotados. Meus
pais tinham vindo de avião para passar algumas semanas na casa deles na
cidade, e como eu não tinha nada para fazer em St. Louis, decidi me juntar
a eles. Eu não os via há mais de um ano desde que eles foram passar umas
férias na Europa no ano passado, e foi legal, no começo, colocar a conversa
em dia.
Mas agora eu estava cansado. Minha mãe estava fazendo de tudo para
arranjar uma esposa para mim, ligando para praticamente todas as pessoas
que ela conhecia que tivessem uma lha que pudesse despertar meu
interesse. Era como uma porta giratória de debutantes des lando diante da
minha espreguiçadeira de frente para a piscina, surgindo à nossa mesa de
jantar nos restaurantes e até aparecendo sem avisar no condomínio dos
meus pais. No começo, eu não tinha percebido o que estava acontecendo, já
que meus pais tinham muitos amigos na cidade, mas nalmente entendi, o
que me deixou irritado e resignado.
— Será que dá para parar, mãe? — pedi a ela depois que mais uma
potencial futura sra. Kirby apareceu na nossa mesa no almoço.
— Sério? Nem mesmo a Rosalie? — ela perguntou, desapontada,
enxugando delicadamente os lábios com o guardanapo. — Ela se formou
em Yale, tem um diploma em engenharia e vai estar em três capas de revista
europeias no próximo mês. O que mais você poderia querer? Ela tem
inteligência, dinheiro e beleza.
Eu suspirei.
— A última coisa que quero agora é uma mulher.
Meu pai arqueou as sobrancelhas.
— Tem alguma coisa que você precisa nos contar?
Hesitei por um segundo, mas então entendi o que ele queria dizer e ri.
— Não, pai. Eu ainda sou heterossexual. O que eu quis dizer foi que
tenho sentimentos por outra pessoa, então outra mulher não vai fazer com
que esses sentimentos desapareçam. Pelo menos não tão cedo.
— Hadley. — Minha mãe me olhou xamente. — Tudo bem, parece
que não estamos a par de muitos detalhes dos últimos meses. Por que você
não nos atualiza sobre exatamente o que aconteceu desde que perdemos Ben
e Lauren? — Meus pais conheciam Ben quase tão bem quanto os pais dele
me conheciam.
— No início foi tudo triste, avassalador e difícil pra caralho — eu disse,
olhando para a rua movimentada. — Viramos uma família, com duas
pessoas que amam aquelas crianças e potencialmente se amam mutuamente.
Aí, a porra do Patrick e da Susan entraram no jogo tentando nos prejudicar,
conseguiram a porra da guarda temporária das crianças e arruinaram com a
porra toda.
— É muita porra para tão poucas frases — disse minha mãe, rindo. —
Então você está chateado por ter perdido as crianças. Você realmente quer
voltar a ter essa responsabilidade? Me parece que isso é uma saída dessa
situação difícil.
— Eu não quero nem preciso de uma saída — eu rosnava. — Eu amo
essas crianças e estou me apaixonando perdidamente por Hadley. Eu preciso
delas e elas precisam de mim.
— Você tem certeza? — Meu pai me olhou com rmeza.
— Tenho! — Eu joguei as mãos para o alto. — O que você quer que eu
faça para provar isso, sacri car uma virgem para os deuses?
Papai sorriu.
— Não é necessário. Mas se é isso que você quer, eu não entendo o que
você está fazendo aqui na Flórida.
— O que você quer dizer com isso? O juiz deu a eles a guarda
temporária e…
— O que eu quero dizer é que você é um Kirby. Meu lho. Você tem o
dinheiro do seu trabalho e dinheiro em um fundo de investimentos nosso.
Por que não está usando seus recursos para colocar essas pessoas em seus
devidos lugares?
— Contratei um advogado com uma reputação fantástica, mas ele não
fez porra nenhuma — protestei. — Não sei como isso foi acontecer.
— Tecnicamente, você e Hadley deveriam ter decidido quem caria
com as crianças — lembrou-me minha mãe. — Acho que a juíza quis dar
um chute no rabo de vocês, para que tomem logo uma decisão.
— Ela decidiu voltar para Nova York — admiti em voz baixa. — E eu a
deixei ir porque a carreira é importante para ela.
— No que ela trabalha? — perguntou minha mãe.
— Ela é editora da Willow.
— Willow?! — exclamou minha mãe. — Essa é uma das minhas revistas
favoritas! Eu não sabia que ela fazia parte.
— Sim, e ela se esforçou muito para chegar a esse cargo, mas não
poderia continuar trabalhando remotamente de St. Louis. Ela teve que fazer
uma escolha, e acho que a juíza tomou a decisão por ela.
— Pensei que vocês dois eram um casal, não? — perguntou meu pai,
confuso. — Ou foi apenas por conveniência?
Cocei o queixo.
— É complicado. Eu pensei que estávamos progredindo. Tínhamos
acabado de chegar a um ponto em que as coisas pareciam… sérias. Depois,
a merda bateu no ventilador. E eu não soube o que fazer a partir daí.
— Você disse a ela como se sente? — perguntou meu pai com ênfase.
— Bem, não, mas…
— Você realmente esperava que uma jovem bem-sucedida como ela
desistisse de tudo sem algum tipo de promessa, de garantia? Uma declaração
de amor, uma aliança, algo que a provasse que você está falando sério? —
Meu pai parecia que estava igualmente se divertindo e se irritando comigo.
Eu dei a ele um olhar ríspido.
— Da última vez que conversamos, você me disse para esquecer a
jornalista interesseira e cair fora.
— Bem, eu ainda não tinha a investigado naquele momento.
Eu o encarei, pasmo.
— Você fez uma investigação dos antecedentes da Hadley?
— Claro. Assim que percebi que você estava falando sério sobre toda
essa situação, precisava ter certeza de que ela estava de acordo com o que
você pensava que ela era.
— E? — perguntei secamente. Não havia motivo para car irritado, o
que estava feito estava feito.
— Não houve bandeiras vermelhas. Ela não tem antecedentes criminais,
não faliu, não tem envolvimento com nenhum caso público ou confuso, sua
conta bancária é modesta, mas respeitável e…
— Ah. Para. — Levantei uma mão. — Obrigado. Eu sei por que você
fez isso, mas não quero saber mais nada. Parece errado.
— Esse é o seu problema, lho. Você não sabe a diferença entre errado e
importante. Eu não z nada para a magoar. Apenas me certi quei de que
ela não estava escondendo nada que pudesse prejudicá-lo. E agora você
precisa crescer e enfrentar os Whitmers do jeito que Ben e eu gostaríamos
que você enfrentasse. Você não está tentando feri-los, mas precisa conseguir
as crianças. Quer que eu dê o pontapé inicial?
Olhei diretamente nos olhos dele sem hesitação.
— Sim.
Ele sorriu.
— Assista e aprenda, lho. Assista e aprenda. — Ele pegou o telefone e
enviou uma mensagem para alguém. — Teremos a situação sob controle até
o jantar.
Era quase cômico ver meu pai em ação. Não é que eu não pudesse lidar
com o que estava acontecendo na batalha pela guarda, mas simplesmente eu
não funcionava tão bem no mundo dos negócios implacáveis como ele.
Meu pai engolia corporações inteiras e as cuspia antes do café da manhã na
maioria dos dias, e eu simplesmente não era assim, então tendia a fazer as
coisas do meu jeito. No entanto, por Annalise e Benny, eu estava mais do
que disposto a deixá-lo fazer parte do trabalho pesado.
— E enquanto seu pai está cuidando da situação da guarda — minha
mãe disse para mim —, você vai ter que descobrir o que deseja com Hadley.
— Eu quero a guarda das crianças — respondi automaticamente. —
Depois de cuidar disso, vou trabalhar para recuperar a Hadley.
— Multitarefa, lho — riu meu pai. — É uma habilidade que você
precisa nos negócios e na vida.
— Wesley! — Uma morena alta e esbelta com lábios vermelho-escuros e
unhas vermelhas compridas veio correndo em minha direção.
Meeerda. Eu tinha cado com ela há alguns anos quando estava
visitando meus pais, mas agora nem me lembrava do nome da garota.
— Oi… — Estendi a mão para tentar afastá-la, mas ela não se fez de
rogada, jogando os braços em volta do meu pescoço e beijando a lateral do
meu rosto.
— Dolores. — Minha mãe deu a ela um sorriso frio. — É bom te ver,
querida, mas estamos no meio do almoço.
— Wesley, você está na cidade e não me ligou. — Ela ainda estava
agarrada ao meu pescoço.
— É Weston — disse, dando a minha mãe um olhar suplicante.
— Dolores, acho que você está sufocando ele — disse minha mãe. —
Agora volte para a sua mesa para que possamos comer, você e Wes podem
conversar mais tarde.
— Eu te ligo daqui a uma hora! — disse Dolores, pressionando seus
lábios nos meus, embora eu tenha virado a cabeça no último minuto, então
ela acertou apenas o canto da minha boca.
— Essa garota — minha mãe balançou a cabeça. — Vou falar com a
mãe dela. Dolores é uma mulher adulta, mas age como uma adolescente.
— Isso é culpa sua — resmunguei. — Você espalhou por aí que eu
estava solteiro.
— Bem, como eu ia saber que você tinha se apaixonado por essa amiga
da Lauren? Você precisa me contar essas coisas, Weston.
Tecnicamente, eu não precisava, mas não ia apontar esse detalhe.
No dia seguinte, falei com dois advogados diferentes. Um era o
advogado pessoal do meu pai, que lidava com tudo que ele fazia fora dos
negócios, e depois com uma mulher que ele escolheu para cuidar do caso
para mim. Seu nome era Regina Rittenhouse, e quando a pesquisei na
internet, vi que ela parecia ser durona. Passamos várias horas ao telefone
para eu a colocar a par do caso e depois pedi a Tim para enviar por e-mail
para ela cópias de tudo, desde o testamento até o acordo de guarda
temporária.
— Isso não deveria ser um grande problema — disse Regina depois que
ela revisou tudo. — Eu não vejo nenhuma razão para a juíza ir contra o
desejo dos pais, mas você precisa deixar claro que está assumindo a guarda e
que Hadley está a bordo.
— Vou ligar para ela hoje — eu disse, embora a ideia me zesse tremer
um pouco. Não tínhamos conversado desde que ela voltou para Nova York
para além de uma mensagem de texto em que Hadley avisava que havia
chegado bem e depois outra com um meme engraçado e maldoso
direcionado a Liz. Aquela tinha sido a última vez, e depois eu viajei para
Miami; e eu também não tinha nenhuma novidade de qualquer maneira.
— Acho importante que Hadley venha para a próxima audiência, para
que a juíza entenda que tudo está correto e que você não está tentando dar
um golpe para recuperar a guarda.
— Será na segunda-feira, certo? — perguntei, abrindo o programa de
calendário no meu telefone, já que ela estava no viva-voz.
— Sim. Eu vou para Chicago pela manhã e podemos nos encontrar no
escritório do sr. Sutton, já que estamos trabalhando juntos nisso.
— Tecnicamente, você é a responsável.
— Ele sabe disso — disse ela. — Não se preocupe, deixe tudo comigo.
— Sem ofensas, sra. Rittenhouse, mas eu deixei tudo com o Tim Sutton
e foi assim que acabei aqui.
— Sim, mas o sr. Sutton não sou eu, e acredite em mim, quando você
receber minha conta, entenderá por que ela é tão alta.
Eu ri.
— Estou até animado para isso.
— Excelente. Nos vemos na segunda-feira. Se houver algum problema e
Hadley não puder estar lá, me avise imediatamente, porque isso muda a
minha estratégia.
— Vou ligar para ela agora. — Eu desliguei e passei para a tela dos
contatos “favoritos”, onde as pessoas que eu mais ligava estavam listadas,
mas meu telefone me alertou que havia outra chamada em segundo plano.
Susan Whitmer.
Merda.
Eu respirei fundo antes de atender, esperando que minha voz não
re etisse minha irritação.
— Olá, Susan.
— Wes! — Ela estava em pânico. — Onde está Annalise? Você está com
ela?!
— Do que você está falando? — Eu retorqui. — Claro que não estou
com ela. Estou de férias em Miami.
— Você jura? — Ela parecia prestes a cair no choro. — Se você estiver
com ela, me diga, porque estou à beira de um ataque cardíaco.
— Susan, estou em Miami com meus pais. Annalise deveria estar em St.
Louis com você. O que diabos está acontecendo?!
— Ela sumiu, Wes! Nós achamos que ela estava brincando de esconde-
esconde ou algo do tipo, e agora já se passaram horas, e nós procuramos em
todos os lugares e tudo o que consegui pensar foi que você a tivesse
levado…
— Não, eu não a levei, porra. — Minha frequência cardíaca tinha
acabado de acelerar para a velocidade máxima. — Me conta exatamente o
que aconteceu.
— Ela tem sido… difícil de lidar. — Susan respirou fundo. — Tem
perguntado por você e Hadley constantemente, o dia todo, todos os dias.
Ela não faz nada que eu peça, não come o que eu preparo, tem sido um
desa o. Esta manhã ela jogou a tigela de mingau pela sala, então eu… a
coloquei no cantinho do pensamento. — Ela respirou tremulamente. — Eu
disse a ela que seriam quinze minutos. Foi o que eu li online para a idade
dela. Eu pesquisei depois que você e Hadley…
— Susan! — Eu respirei fundo. — Foco.
— Eu… me desculpa. Patrick foi ao mercado para mim e eu subi para
pegar Benny, e quando desci, ela tinha sumido. Eu achei que ela estava
apenas sendo desobediente, então não fui atrás dela imediatamente. Eu
imaginei que ela estava no quarto brincando e talvez isso nos desse tempo
para nos acalmarmos. Demorou provavelmente meia hora antes de eu
procurar por ela. Patrick e eu íamos sentar com ela, conversar, mas não
conseguimos mais encontrá-la.
— Há quanto tempo ela está desaparecida? — eu exigi.
— Quatro horas.
— Você ligou para a polícia?!
— N-não… Eu realmente pensei que ela tinha ligado para você e que
você tinha vindo buscá-la, só para nos assustar ou nos deixar com raiva ou
algo assim. Você realmente não está com ela?
— Você quer conferir com a minha mãe? — eu gritei. — Jesus Cristo,
não, eu não estou com ela! — Eu estava falando tão alto, que minha mãe
veio correndo até o quarto, olhando para mim, preocupada.
Foi nesse momento que Susan começou a chorar.
Os minutos seguintes foram caóticos. Desliguei e imediatamente entrei
em contato com Nash, para botar os caras que estavam na cidade na tarefa
de vasculhar o bairro atrás de Annalise, assim como Britney, já que era
provável que Annalise procurasse por ela se estivesse perdida ou assustada.
Eu liguei para Hadley a caminho do aeroporto.
— Wes. — Ela parecia surpresa e exausta.
— Annalise está desaparecida — eu disse abruptamente.
— O quê?
Eu contei o que havia acontecido.
— Você está brincando comigo? Eles perderam ela? — Hadley parecia
tão furiosa quanto eu.
— Estou a caminho do aeroporto. Consegui um assento de última hora
em um voo, mas ainda vai demorar um tempo até chegar em casa.
— Eu te encontro lá.
— Chego no aeroporto em alguns minutos — eu disse. — É mais fácil
para mim reservar um voo para você pessoalmente com um funcionário, já
que eles verão as vagas disponíveis nesse momento.
— Estou indo para o aeroporto agora.
— Eu já te ligo.
Eu desliguei e quei olhando para a cidade, mas não via nada. Tudo o
que ouvia era a voz de Ben na minha cabeça.
Encontre Annalise, Wes. Encontre a minha garotinha.
Hadley

Suspirei aliviada quando o avião aterrissou, sacudindo levemente.


Finalmente eu havia chegado a St. Louis.
— Boa sorte, Hadley — disse a mulher sentada ao meu lado enquanto
apertava minha mão.
Seu nome era Netta, e ela era uma mãe muito gentil de cinco lhos e
avó de doze netos. Quando ela percebeu que eu estava chorando quando o
voo decolou, me perguntou o que havia de errado.
Passei a hora seguinte contando tudo a ela, começando por como
conheci Wes sete anos atrás, na festa de noivado de Ben e Lauren, e
terminando com meu retorno a Nova York há pouco mais de uma semana.
Netta ouviu cada palavra, me observando intensamente por cima das lentes
de seus óculos.
— Espera, espera, Susan disse o quê? — ela gritou quando eu lhe contei
sobre a audiência no tribunal. — Nananinanão. Isso não está legal.
Esperar o piloto taxiar lentamente até nosso portão e parar
completamente foi doloroso. Eu queria pular da poltrona e correr para a
porta. Tudo que eu conseguia pensar era em Annalise. Ela estaria em
segurança? Alguém a machucou? Só o pensamento fazia meu peito apertar e
meu estômago revirar.
Eu nunca mais caria longe das crianças. Eu me mudaria para St. Louis
para car com elas. Talvez eu acabasse me ferindo, já que qualquer coisa que
Wes e eu tínhamos construído antes de eu partir para Nova York poderia
não dar certo, mas eu arriscaria. Já sabia, antes de receber o telefonema
desesperado de Wes, que nunca mais seria feliz em Nova York. Ele e as
crianças eram meu mundo agora.
O que eu não havia conseguido entender ainda era se poderia sacri car a
carreira pela qual trabalhei tão duro. Mas no instante em que soube que
Annalise estava desaparecida, minha decisão havia sido tomada. Eu queria
estar com as crianças e com Wes, não importava o custo disso, porque
nenhum emprego valia o tempo que eu poderia viver com eles.
— Com licença! — Netta chamou uma aeromoça quando todos
começaram a desa velar os cintos de segurança. — Temos uma emergência
aqui. Essa jovem precisa ser a primeira pessoa a sair deste avião, a lha dela
está desaparecida.
A aeromoça me olhou e franziu a testa com empatia, então gesticulou
para que eu levantasse imediatamente.
— Muito obrigada — eu disse à aeromoça antes de olhar por cima do
ombro para Netta.
— Você me manda uma mensagem no Facebook e me avisa quando
tiver encontrado sua menininha — disse ela. — Vou rezar por ela.
Eu assenti e agradeci:
— Obrigada, Netta, por tudo.
A aeromoça me levou à porta do avião, e assim que pôde abri-la, eu
corri pelo nger e cheguei à área de desembarque. Eu não estava com nada
além da minha bolsa – tinha ido direto para o aeroporto depois de receber o
telefonema de Wes.
Wes conseguiu que o funcionário da companhia reservasse um assento
para mim do aeroporto JFK para O’Hare e, em seguida, uma conexão,
quase duas horas depois, de O’Hare para St. Louis. Wes me enviou uma
mensagem de texto dizendo que os pais dele conseguiram um voo direto
para ele em um avião particular de amigos. Ele já tinha chegado na casa de
Ben e Lauren e estava conversando com a polícia.
Enquanto caminhava para a saída do aeroporto, abri meus aplicativos e
pedi um Uber. O motorista chegou rapidamente e chegamos na casa em
menos de vinte minutos. Gritei um agradecimento enquanto saía correndo
do carro.
Entrei pela porta da frente e imediatamente procurei por Wes na
entrada e na sala de estar. Alguns de seus companheiros de time estavam lá,
além de várias pessoas que não reconheci. Nina estava segurando Benny.
No momento em que meus olhos encontraram os de Wes, voei pela sala
e mergulhei em seus braços. Seu abraço era exatamente o que eu precisava.
Ele me abraçou apertado enquanto falava no meu ouvido.
— Há muitas pessoas procurando por ela. Patrick e Susan estão
procurando, e um monte de gente do time. Muitos vizinhos também.
Lágrimas se acumularam em meus olhos quando me afastei e olhei para
ele, segurando seus pulsos.
— Já passou muito tempo. Ela é tão pequena. Não consigo parar de
pensar em…
— Eu sei. — Wes beijou minha testa. — Mas temos que nos concentrar
em procurar por ela. Mantenha o foco nisso.
— Quero sair para procurar também.
Ele assentiu.
— Vamos juntos. Vou só terminar de falar com o policial aqui.
Hesitei por um segundo antes de dizer:
— Eu não deveria ter ido embora, Wes.
Sua expressão suavizou.
— O que aconteceu não tem relação com você estar ou não aqui. Tudo
isso é culpa de Susan e Patrick, eles deveriam manter as crianças em
segurança.
— Sim, eu entendo. O que quero dizer é… não por causa do que está
acontecendo, mas… eu gostaria de não ter ido embora.
Ele sustentou meu olhar, tentando entender se eu realmente queria dizer
isso ou não.
— Está tudo bem, Hadley. Vai dar tudo certo.
Assenti, incapaz de falar com o nó na garganta que havia se formado. Eu
queria muito que cássemos bem, mas isso não aconteceria até Annalise
estar em segurança em casa conosco novamente. Como pude pensar que
qualquer emprego era mais importante do que estar com ela e com Benny?
— Vamos — disse Wes, pegando minha mão e me levando através da
sala.
Ele nos levou para fora da casa até o carro alugado que ele havia
conseguido no aeroporto – uma minivan estacionada na calçada. Eu me
voltei para ele com um olhar confuso.
— Era tudo o que eles tinham, então eu aceitei — disse ele.
Entramos e dirigimos até um bairro que cava alguns poucos
quilômetros de distância que outros amigos ainda não tinham ido, minhas
mãos se agarrando no meu colo por todo o caminho todo.
— Preciso que ela esteja bem — disse em voz baixa. — Ela precisa estar
bem.
Wes estacionou o carro e nos separamos, ele foi para um lado da rua, eu,
para o outro. Tentei não pensar no quanto o horário do pôr do sol se
aproximava enquanto gritava o nome de Annalise e caminhava pelas
entradas das casas para olhar nos quintais dos fundos.
Fiz uma oração pedindo que Annalise estivesse segura. Tudo o que já
havia considerado na minha vida como um problema parecia in nitesimal
em comparação a isso. Por que fui tão burra? Estávamos felizes, Wes e eu.
Estávamos indo bem com as crianças. Se tivéssemos dito à juíza quem iria
criar as crianças, estaríamos fazendo tudo do nosso jeito. Precisávamos
apenas de uma chance.
— Hadley!
Eu me virei quando ouvi a voz de Wes chamando meu nome, meu
coração batendo descompassado pela esperançosa expectativa. Ele não
gritaria comigo de uma maneira tão urgente a menos que…
— Você a encontrou? — eu gritei enquanto corria em sua direção.
Ele afastou o telefone da orelha.
— Eu, não. Mas Nash, sim. — Caí de joelhos na calçada, chorando de
alívio enquanto Wes voltava à ligação. — Sim, me manda o endereço por
mensagem e liga para aquele policial. Fique com ela. Muito obrigado, cara.
Wes me ajudou a levantar e corremos para a van.
— Ela está bem? — perguntei a ele enquanto Wes saía com o carro.
— Sim, ela está bem. Nash a encontrou em um parque a cerca de cinco
quilômetros de casa. Ela estava sentada em um banco ao lado de um senhor
mais velho, acariciando o cachorro dele.
— Meu Deus… — Balancei a cabeça. — Cinco quilômetros? Como ela
conseguiu chegar tão longe? Nunca mais deixarei as crianças com Patrick e
Susan, Wes. Nunca mais. Eles podem mandar me prender se quiserem.
Ele bateu no meu joelho.
— Vamos primeiro buscar Annalise. Resolveremos com eles depois.
Chegamos ao parque, e Wes me deixou perto da área dos brinquedos
onde Nash disse que ele e Annalise estariam esperando. Eu os vi sentados
em uma mesa de piquenique, comendo uma raspadinha, e corri em sua
direção.
— Tia Hadley! — Annalise gritou quando me aproximei.
Ela passou sua raspadinha para Nash e se levantou, correndo para me
cumprimentar. Eu a peguei nos braços e a abracei apertado, chorando de
alívio.
— Eu me perdi — disse ela com uma vozinha baixa. — Estou
encrencada?
— Não, querida. — Eu me afastei um pouco e segurei seu rosto em
minhas mãos. — Você não está, não. Só estou muito feliz que você esteja
segura. Isso é tudo o que importa.
— Tio Wes! — ela gritou, olhando por cima do meu ombro.
Wes se aproximou e a agarrou, erguendo Annelise em um abraço
apertado.
— Graças a Deus — disse ele.
O policial que estava na casa chegou em uma viatura. Patrick e Susan
saíram do banco traseiro do carro e correram até a gente.
Eu olhei feio para eles, silenciosamente desa ando Susan a dizer uma
única palavra para Annalise sobre isso ser culpa dela. Estava cansada de ser
legal com Susan. Só de pensar nas coisas horríveis que poderiam ter
acontecido com Annalise por negligência deles, eu cava furiosa.
— Wes e eu caremos na casa até a próxima audiência — eu disse
friamente.
Susan estreitou os olhos para mim.
— Nunca quis que isso acontecesse. Amamos nossos netos.
Wes se aproximou e colocou um braço em meus ombros, dirigindo-se a
Patrick e Susan.
— Não sairemos até que o caso seja resolvido.
Patrick assentiu, silenciando a esposa com um olhar.
— Vocês são bem-vindos na casa, é claro.
— Tia Hadley, estou com fome — disse Annalise a alguns metros de
distância. — Podemos ir no lugar dos frangos?
— Chick- l-A? — perguntei a ela.
Ela sorriu.
— Sim, eu gosto desse frango.
— Claro que podemos, querida. — Olhei para Susan. — Por que não a
levamos para comer algo e depois encontramos com vocês na casa?
— Está bem, nos vemos lá. Darei comida a Benny se ele estiver com
fome.
Ela não estava rosnando nem parecia reativa agora, mas eu sabia que ela
não desistiria de obter a guarda das crianças. Ter perdido Annalise iria
prejudicar muito o caso deles. Eu lamentava o que havia acontecido, mas
esperava que isso levasse a juíza a fazer a coisa certa e devolver a guarda das
crianças a Wes e a mim.
Annalise pediu para car nos ombros de Wes, e quando ele a ergueu,
disse:
— Já foram duas semanas, né? Vocês vão voltar para casa agora?
Eu sorri para ela.
— Isso mesmo.
— Uhul! — Ela jogou os braços para o alto e comemorou.
Wes a colocou no chão para pegar as chaves do bolso quando chegamos
à minivan.
— O tio Wes está com um carro novo — disse Annalise, batendo
palmas. — É lindo!
Wes me deu uma olhada, balançando a cabeça.
— Nunca vou comprar uma minivan — disse ele em voz baixa.
— Com certeza vai — disse eu, rindo. — Vai comprar inclusive meias
brancas de cano alto e tênis brancos também.
— Merda — disse ele suavemente, olhando para mim. — Não tem
cadeirinha no carro que aluguei.
— Podemos pedir para um dos caras da casa trazer o carro do Ben? —
perguntei.
— Sim, vou pedir para o Lars — disse ele, tirando o telefone do bolso.
— O nome dele é or — disse Annalise, dando a Wes um olhar de
advertência.
Eu me abaixei e a abracei novamente, então beijei suas bochechas várias
vezes. Lauren me disse muitas vezes que amava tanto seus lhos, que às
vezes achava que ia explodir – que era um amor como nenhum outro.
E agora eu entendi o que ela queria dizer. Eu também sentia isso. E
nunca mais voltaria para uma vida sem esse amor.
Wes

Caos. As horas seguintes foram um completo caos. As mulheres, de Hadley,


Susan a Tori, começaram a chorar assim que entramos na casa com
Annalise. Assim que começaram a chorar, Benny parecia achar que era sua
missão se juntar a elas, e ele fez isso num tom mais alto e vigorosamente do
que qualquer outra pessoa. Quando nalmente conseguimos acalmá-lo,
todos já tinham ouvido a história de como Nash encontrou Annalise e a
polícia nalmente já tinha ido embora. Eu estava exausto. No entanto, pedi
pizza para todos, como forma de agradecer aos meus colegas de equipe e
vários vizinhos que se juntaram à busca.
Annalise adormeceu com uma fatia de pizza na mão, e Hadley se
levantou para levá-la para cima antes que Susan pudesse fazer isso. Eu não
tinha certeza se ela ia dar banho ou apenas colocá-la para dormir, mas
Hadley e eu não tínhamos planos de ir a lugar nenhum hoje à noite. Depois
de avisarmos Patrick e Susan que dormiríamos no quarto de hóspedes até a
audiência da próxima semana, eles se desculparam silenciosamente e foram
para a cama. Provavelmente era melhor assim, já que eu tinha muito a dizer
a eles, mas não o faria na frente dos nossos amigos e vizinhos. Eu também
não diria nada na frente de Annalise.
No entanto, eu precisava saber o que havia acontecido. Como, por que,
o que de fato houve, todos os detalhes. Não apenas porque eles zeram
besteira, mas também porque eu precisaria das informações para me
certi car de que isso não aconteceria novamente. Annalise era inteligente e
teimosa, então esse tipo de comportamento não necessariamente me
surpreendia, mas era um risco que não poderíamos correr no futuro. Ela
não poderia simplesmente sair de casa quando estava sendo punida por
algo, e quanto mais eu entendesse por que isso aconteceu, melhor seria para
tentar prevenir. Pelo menos era o que eu dizia a mim mesmo. Talvez eu
realmente só quisesse fazer Patrick e Susan admitirem que eram uns idiotas
que não conseguiam cuidar de nossos lhos.
Nossos lhos.
Meus e de Hadley.
Nossos.
Nós.
— Vamos nessa — disse Drew, me assustando e me trazendo de volta ao
presente quando ele e Nina se levantaram.
Eu apertei sua mão.
— Obrigado novamente — disse a ele. — Nós realmente agradecemos
vocês terem reunido todo mundo para ajudar.
— Amigo é pra isso. — Ele acenou com a cabeça e deu a mão a Nina
enquanto saíam.
Os outros caras seguiram o exemplo, e em menos de quinze minutos, a
casa estava silenciosa, exceto por Benny fazendo sons em sua cadeira alta.
Eu o coloquei lá enquanto limpava a cozinha e o peguei no colo antes de
subir as escadas. Eu ouvi Hadley lendo uma história para Annalise em seu
quarto e optei por não interromper, porque se eu levasse Benny para lá,
demoraria uma eternidade para acalmá-los novamente. Annalise
provavelmente acordou na banheira e agora estava tendo di culdade para
pegar no sono. Benny provavelmente estava cansado e animado demais ao
mesmo tempo, mas depois de uma semana longe dele, eu o levei para o
quarto de hóspedes comigo para poder passar um tempo só com ele.
Eu me estiquei na cama e coloquei Benny de bruços no meu peito. Ele
ngiu que estava engatinhando, levantando a bunda no ar e a balançando.
Então ele me deu um sorriso quase sem dentes, e eu ri. Ele tinha o cabelo
escuro de Ben e os olhos claros de Lauren, o que me deixava igualmente
nostálgico e triste. Eu veria Ben e Lauren nos rostos de seus lhos para
sempre; apesar de estar feliz por sua memória seguir viva, era angustiante
pensar que as crianças não se lembrariam dos pais da mesma forma.
— Você está cansado, amigão? — eu perguntei a ele, puxando-o para
sentar no meu abdômen, já que eu estava estirado na cama.
— Pa, pa — ele disse a palavra de modo hesitante e depois fez um som
com os lábios, soprando.
Puta merda. Ele tinha acabado de me chamar de papai. Ele não poderia
ter mais contato algum com Ben. E como o homem que o criava, era
inevitável que ele me chamasse de pai. Papai. Eu fechei os olhos e respirei
fundo algumas vezes. Às vezes, o luto me dominava com tanta ferocidade,
que era como estar naquela sala do hospital de novo. Aquela sensação dos
olhos marejados era muito familiar agora, mas desta vez estava misturada
com alegria.
Pa, pa.
— Pa, pa, pa, pa, pa! — Benny estava animado, e eu abri os olhos de
novo, me recusando a perder um momento tão importante, por mais difícil
que fosse. Eu não substituiria Ben, mas ocuparia o seu lugar e responderia
pelas suas expectativas, mesmo que fossem enormes.
— E a mamãe? — eu perguntei a ele.
Ele franziu a testa para mim.
— Pa, pa, pa!
— Ok, vamos trabalhar com “mamãe” amanhã, ok? — Eu beijei sua
cabeça, seu cabelo sedoso fazendo cócegas na pele. Eu não tinha percebido o
quanto amava essas crianças até car longe delas por uma semana.
— Oi. — Hadley entrou no quarto, sorrindo para Benny.
— Annalise nalmente dormiu?
— Ela pegou no sono durante o jantar, mas estava suja e dei um banho,
o que a acordou imediatamente. Ela precisou me contar todos os detalhes
da aventura de hoje, duas vezes, e depois disse que eu tinha que ler todas as
suas histórias favoritas, porque a vovó não leu pra ela.
Franzi a testa.
— Mal posso esperar para resolver isso na audiência. Eu ia ligar para
você para contar sobre a nossa nova advogada, mas aí aconteceu isso tudo e
eu meio que esqueci.
— Ah, é? — Ela sentou na cama de pernas cruzadas, uma mão
descansando nas costas de Benny enquanto ele se aninhava em meu ombro.
Contei a ela sobre Regina Rittenhouse e como tinha envolvido meu pai
na história.
— Ele é um gurão — disse a ela. — Eu geralmente não recorro a ele
para coisas assim porque ele é muito exagerado, mas chegou o momento de
acabar com essa questão da guarda. De uma forma ou de outra.
Ela estava fazendo cócegas nos dedos dos pés de Benny e ele estava
rindo, o pé se afastando e voltando para mais.
— Quero que você saiba de uma coisa — disse ela depois de um
momento. — Eu não vou desistir dessas crianças. Independentemente do
que tivermos que fazer para obter a guarda na audiência, eu não vou me
afastar delas.
— Eu nunca achei que fosse — disse lentamente, observando-a. Hadley
não me olhava nos olhos, então eu não tinha certeza do que estava
acontecendo, mas a conhecia o su ciente para sentir que ela precisava de
um pouco de tempo para formular seus pensamentos.
— O que eu quero dizer é… — Ela limpou a garganta e pegou Benny,
puxando-o para perto do seu corpo. — Eu amo essas crianças e a vida que
começamos a construir. Então, mesmo que coloquemos seu nome em
algum documento que dê a você a guarda, não pense que quando você
estiver cansado de mim – da gente – eu vou simplesmente desaparecer
silenciosamente. Eu vou vender tudo o que tenho para lutar pela guarda
compartilhada se você tentar me excluir da vida deles.
— É assim que você me vê? — perguntei, surpreso, me sentando um
pouco enquanto encontrava seu olhar. — Que eu faria algo do tipo?
— Eu sei como tudo funciona e estou bem com isso. O que temos agora
é bom. É divertido e apaixonante e realmente nos tornamos amigos ao
lidarmos com tudo isso, mas sei que não sou o amor da sua vida ou algo
assim, então…
— Ok, espera, acho que perdi alguma coisa. — Eu inclinei a cabeça. —
Da última vez que conversamos, você estava preocupada com o seu
trabalho, sua carreira, sua vida em Nova York… e foi por isso que você
voltou para lá. Alguma coisa mudou? — Eu sabia o que desejava que ela
dissesse, mas, de alguma forma, sentia que não seria tão fácil. Nada entre
nós era fácil.
— Eu te disse, eu amo as crianças e a vida que construímos aqui. — Ela
ninou Benny quando ele começou a se mexer. — E depois do que
aconteceu com Annalise, é bastante óbvio que somos as pessoas certas para
criar as crianças. Não Patrick e Susan.
— Então você vai se mudar de Nova York? — A animação me inundou
com a perspectiva de ter Hadley novamente comigo. Com a possibilidade
de haver algo entre nós.
Ela assentiu.
— Eu ainda não decidi exatamente o que vou fazer, mas as crianças
precisam de mim.
Respirei devagar, tentando ler nas entrelinhas. Ela achava que as crianças
precisavam dela, mas não havia dito nada sobre mim. Ela não sabia o
quanto eu precisava dela também? Hadley tinha sentimentos por mim ou
tudo isso era apenas sobre a batalha pela guarda?
Nunca fui inseguro quando se trata de mulheres, mas nunca houve uma
mulher em minha vida como Hadley. Caramba, nunca houve ninguém na
minha vida que me afetasse como Hadley afeta.
— Me prometa, Wes.
— O quê? — Olhei confuso. — Prometer o quê?
— Que independentemente de qual seja o acordo judicial a respeito da
guarda, você não vai me mandar embora quando essa coisa entre nós se
esgotar ou você se apaixonar por outra pessoa ou o que quer que aconteça.
— Ela levantou o queixo, como se me desa asse a decepcioná-la.
— Baby, achei que isso era óbvio. — Eu passei a mão pelo cabelo e
resisti a um bocejo. — Mas eu acho… — Tive que parar de falar quando o
bocejo venceu, o estresse do dia aparentemente me pegando.
— Wes? — Ela se inclinou e pressionou levemente os lábios nos meus.
— Sim? — Deus, eu precisava tocá-la, então deslizei a mão em torno de
sua cintura, puxando ela e Benny contra o meu peito.
— Estou sicamente exausta e mentalmente esgotada também.
Podemos apenas colocar o Benny para dormir e ir dormir em seguida? Não
consigo pensar em mais nada. Mal consigo manter os olhos abertos. Para ser
honesta, adoraria simplesmente me enroscar em seus braços e dormir.
— Isso parece a melhor coisa que eu ouvi em uma semana — eu disse.
— Eu vou só descer e aquecer uma mamadeira para ele, e assim que ele
estiver na cama, podemos fazer exatamente isso.
Ela sorriu.
— Obrigada.
Eu desci as escadas até a cozinha, meus pensamentos girando enquanto
eu procurava por uma mamadeira limpa e a fórmula do Benny. Parecia que
Susan havia mudado tudo na cozinha, então levei alguns minutos para
encontrar o que eu precisava, mas misturei a fórmula com a água mineral e
depois coloquei no micro-ondas. Enquanto os segundos passavam, meus
pensamentos voltaram para Hadley.
Provavelmente estava tão exausto quanto ela, mas não estava cansado
demais para perceber que Hadley não fazia ideia de que eu estava
apaixonado por ela. Eu não sabia com certeza se ela sentia o mesmo, mas
estava contando com isso, porque tínhamos passado por muita coisa juntos
nos últimos meses para desistirmos dessa pequena família que estávamos
construindo. Não tinha começado bem, e mesmo que eu desse tudo o que
tinha para ter Ben e Lauren de volta, isso não ia acontecer. Em vez disso, eu
ganhei os lhos lindos deles. Tudo o que eu queria na vida era criá-los com
a mulher intensa, apaixonada, inteligente e sexy que os amava tanto quanto
eu.
Criá-los, porém, parecia ser a parte fácil.
A parte difícil seria convencer Hadley não apenas de que eu a amava,
mas de que éramos as pessoas certas um para o outro. De como caríamos
bem juntos.
Isso de nitivamente seria um desa o, porque eu, obviamente, tinha
deixado a desejar até esse momento. Mas eu estava à altura da tarefa. De um
jeito ou de outro.
Hadley

Eu saboreei a pausa do outro lado do telefone, sorrindo enquanto Liz


processava o aviso-prévio de duas semanas que eu acabara de dar.
— Eu estou disposta a manter você na empresa — ela nalmente disse.
— Com um salário mais baixo, é claro, mas podemos negociar algo para
que você possa trabalhar remotamente em de nitivo.
— Eu agradeço seu gesto, mas meu coração simplesmente não está mais
aqui. Eu quero ir em busca de algo novo.
— Algo novo?
— Sim, vinha sentindo que não havia outras possibilidades pro ssionais
há bastante tempo, mas estava vendo as coisas de maneira errada. Tenho
opções ilimitadas e estou animada com meu futuro.
A esta altura do campeonato, eu estava jogando algo na cara dela? Um
pouco. Mas se alguém merecia isso, era Liz.
— Só queria lembrá-la da cláusula de não-concorrência em seu contrato
— ela disse com rmeza.
— Ah, eu sei. Mas é de apenas um ano, e eu demoraria esse tempo
inteiro para preparar tudo se decidir lançar algo novo.
Uma pausa.
— Lançar? Você vai começar sua própria revista?
Provavelmente. Mas eu não diria isso a Liz. Eu queria que ela perdesse
algum tempo procurando a lista de funcionários de outras revistas pelos
próximos anos, se questionando o que eu estava fazendo, sem saber ao certo
o que era.
— Não sei — eu disse, com um sorriso na voz. — De qualquer forma,
com o escritório menor, quase não tenho mais nada lá, então, se vocês
puderem apenas empacotar meus itens pessoais, eu peço para alguém buscá-
los.
— Claro. E não se preocupe em trabalhar nas próximas duas semanas.
Vou mandar cortar o seu último pagamento.
Olha essa piranha. Se eu quisesse roubar ideias de matérias futuras da
Willow, teria feito isso antes de dar o aviso-prévio. E não é como se eu
pudesse ter acesso a alguma informação enquanto trabalhava em casa. Assim
que ela desligasse, Liz enviaria um e-mail para toda a empresa informando
que eu não estava mais no quadro de funcionários da Willow e que qualquer
pessoa que falasse comigo sobre qualquer coisa em andamento correria o
risco de ser demitida. Ela gostava de fazer parecer que estava demitindo
pessoas mesmo quando não estava.
Ela seria motivo de chacota se zesse isso. Eu já havia dito a todos os
meus amigos na Willow que ia pedir demissão no dia anterior.
— É tão gentil da sua parte, obrigada — eu disse. — Boa sorte, Liz.
— O mesmo para você.
Liz desligou o telefone na minha cara pela última vez, e eu soltei um
pequeno grito. Imediatamente me senti mais leve. Por que eu tinha pensado
que car na Willow era minha única opção pro ssional?
Planejei não trabalhar pelos próximos meses. Eu ia começar a empacotar
algumas coisas de Ben e Lauren para dar aos lhos deles um dia e vender
algumas peças da mobília.
Esse cenário não parecia mais triste. Eu ia deixar Annalise me ajudar a
empacotar algumas das queridas panelas e utensílios de cozinha de sua mãe,
sabendo que um dia ela teria uma cozinha própria para usá-las. Wes e eu
íamos trabalhar juntos com o material de Ben, embalando cuidadosamente
os itens de hóquei para ambos os lhos poderem acessar quando fossem
maiores. Já tínhamos alugado um guarda-móveis à prova de fogo e com
controle de clima para a maioria das coisas, além de um cofre em um banco
local para guardar alguns documentos importantes para as crianças.
Havia chegado a hora. Wes e eu ganhamos o caso na justiça, e Patrick e
Susan deixaram a cidade imediatamente após. Wes era o guardião legal e
permanente das crianças, e tínhamos também feito um testamento que
deixava a guarda completa para mim no caso de sua morte. Eu odiava
pensar nisso, mas sabíamos muito bem que a vida poderia mudar em um
piscar de olhos. A morte de Ben e Lauren nos deixou atordoados, mas as
nuvens estavam se dissipando e estávamos encontrando um novo caminho
juntos.
E como eu tinha dito a Wes, não havia qualquer problema que eu não
fosse o amor da vida dele. Sempre seríamos muito importantes um para o
outro por causa do que passamos juntos, e eu esperava que nossa família
não convencional funcionasse por muito tempo.
A única promessa que tínhamos feito um ao outro era que sempre
faríamos o melhor pelas crianças. Não era a promessa que eu esperava
receber de um homem por quem estava apaixonada, mas já era alguma
coisa.
— Tia Hadley, eu preciso da sua ajuda! — Annalise gritou, correndo
para o banheiro principal enquanto eu secava meu cabelo após o banho.
— O que foi? — perguntei a ela.
— É, ahn… tem um monstro grande e enorme no nosso quintal! É
muito grande! Vem ver!
Franzi a testa, sentindo o cheiro da mentira.
— Como assim? Como pode haver um animal tão grande no quintal
quando temos cerca na casa?
Seus olhos se arregalaram e ela falou solenemente.
— Ele quebrou a cerca. É tão malvado e grande, eu acho que pode até
comer o Benny! Vem logo, tia Hadley!
Eu entrei apressadamente no closet e fechei a porta, pendurando minha
toalha e conversando com Annalise enquanto me vestia.
— Onde está o Wes? O Benny está de fato sozinho no quintal agora? Eu
disse ao Wes que estava tomando banho e ele disse que cuidaria de vocês
dois.
— O tio Wes precisa da sua ajuda com o grande bicho enorme! —
Annalise gritou. — É verdade! Tudo isso é verdade!
Ela era a pior mentirosa do mundo, assim como a mãe. Eu sorri.
— Estou meio assustada — disse. — Como é que esse bicho apareceu?
— É grande! Com cabelo e pelo marrons e dentes e garras a adas. É
melhor você vir rápido. Vai comer o Benny!
— Ok, estou a caminho.
Eu fui até o banheiro e passei uma escova no cabelo molhado e depois
segui Annalise até o andar de baixo.
— Rápido! — Ela correu para a cozinha e saiu pela porta dos fundos.
Eu olhei para as portas francesas pelas quais ela havia passado e vi
pontos de cor. A primavera tinha feito brotar tulipas, jacintos e outras
plantas que Lauren havia plantado no quintal. Saber que suas mãos haviam
tocado aqueles bulbos me lembrou que partes de Lauren ainda estavam aqui
comigo. Eu planejava desenterrar os bulbos depois que terminassem seus
ciclos de oração e levá-los conosco quando nos mudássemos. Plantaríamos
em nosso novo quintal e teríamos uma pequena parte de Lauren viva
conosco.
Quando coloquei minha mão na maçaneta para abrir a porta, franzi a
testa ao ver Drew e Nina. Tinha algo de nitivamente acontecendo, e não
tinha nada a ver com um monstro grande e peludo. Olhando para a minha
bermuda e minha camiseta cinza da UCLA, dei de ombros e decidi que
conhecia Drew e Nina o su ciente para usar roupas confortáveis na frente
deles.
Mas quando saí, vi que não era apenas Drew e Nina que estavam aqui.
Quando me virei, vi vários jogadores do Mavericks. Annalise estava nos
ombros de Lars, radiante.
— Não tem monstro — ela disse alegremente.
— Dá para ver — eu disse, arqueando uma sobrancelha para ela.
Eu me virei, procurando Wes, para perguntar o que estava acontecendo.
Eu o encontrei atrás de mim, de joelhos. O ar escapou dos meus pulmões
em um sopro quando o vi sorrindo um tanto nervoso.
— Venha um pouco mais para perto, baby — ele disse, estendendo uma
mão para mim.
Meu coração e meus pensamentos não pareciam acompanhar o que eu
estava vendo. Era de fato que eu achava que era?
Quando me aproximei, Wes levou uma das minhas mãos até as dele. Eu
ainda não tinha conseguido fechar a boca, ainda chocada com a visão dele
de joelhos. De. Joelhos.
— Hadley Ellis, nunca conheci ninguém como você — disse Wes, seus
olhos brilhando com afeto. — Você me faz querer ser melhor em todos os
sentidos. É inteligente e forte, mas também tem um coração enorme. Não
dá mole para minhas rabugices. Você me dá apoio quando mais preciso.
Você, eu, Annalise e Benny nos tornamos uma família, e nossa família
signi ca… — Ele parou para limpar a garganta, havia lágrimas em seus
olhos. — Nossa família signi ca tudo para mim. Você signi ca tudo para
mim. Eu deveria ter dito isso antes. Se você me permitir, vou dizer isso
todos os dias pelo restante de nossas vidas. Eu te amo, Hadley. Você quer se
casar comigo?
Um único som de riso atônito escapou da minha garganta, e lágrimas
embaçaram minha vista. Eu não conseguia acreditar que isso poderia ser
real. Wes me amava. Ele estava olhando para mim com olhos esperançosos
enquanto tirava uma pequena caixa azul do bolso e abria a tampa.
— Hadley? — ele perguntou suavemente.
Um sorriso se abriu em meu rosto enquanto eu chorava.
— Sim! Sim, claro que sim!
Ele levantou e me envolveu em seus braços, me girando no ar enquanto
todos aplaudiam.
— Não tinha nenhum monstro grande, tia Hadley! — disse Annalise de
cima dos ombros de Lars. — Eu inventei isso para te fazer vir aqui!
— Você me assustou por um minuto — eu disse, brincando.
— Deixa eu colocar isto em você — disse Wes, pegando o anel da caixa.
Era um solitário simples e redondo de platina, e era enorme. Sorri,
lágrimas descendo novamente enquanto Wes deslizava o anel pelo meu
dedo.
— Eu medi seu dedo enquanto você dormia na outra noite — ele
comentou. — Foi bastante estressante. Eu estava bem preocupado que você
acordasse.
— Nós vamos nos casar? — Senti que tinha saído como uma pergunta,
porque eu ainda não podia acreditar que fosse real.
— Sim, vamos. Eu estava pensando que poderia ser neste verão.
— Neste verão?
— Não vou esperar até o próximo — ele disse, franzindo a testa.
— Mas tem muita coisa para fazer. E se não conseguirmos reservar um
local? E eu tenho que arranjar um vestido.
— Eu pensei que poderíamos fazer aqui mesmo, no quintal de Ben e
Lauren. É o mais próximo que podemos de os ter com a gente. Uma última
grande lembrança antes de comprarmos uma nova casa para a gente.
Eu adorei que Wes tivesse pensado nisso.
— Adoro essa ideia — disse, limpando as lágrimas que caíam pelas
minhas bochechas. — E posso encontrar um vestido vintage se não
conseguir um novo a tempo.
— A vendedora da Ti any disse que podemos conseguir uma aliança de
casamento vintage que combine com o anel de noivado também. Eu pensei
que você gostaria de escolher as alianças.
Coloquei minhas mãos em suas bochechas e me inclinei para beijá-lo.
— Olha só você sendo todo atencioso.
Wes me beijou de volta, uma risada ressoando em seu peito.
— Se Ben e Lauren pudessem nos ver agora.
De nitivamente não era o desfecho que eu esperava. Eu estava tão
errada sobre Weston Kirby. Ele era, na verdade, um partidão. E ele era todo
meu.
Annalise deu um puxão na calça de Wes, pedindo para que ele a
carregasse nas costas. Nosso momento a sós havia acabado, mas nós
compensaríamos isso à noite.
— Bem-vinda à família, Hadley — disse Nina, me abraçando.
— Obrigada.
Todos os outros jogadores dos Mavericks me abraçaram também, exceto
Lars. No entanto, me deu parabéns calorosos de longe.
Wes se inclinou e sussurrou perto do meu ouvido.
— Você vai ser a minha patroa. Consegue acreditar?
Eu o encarei e respondi:
— Me chame de “sua patroa” de novo e vai ter de encontrar outra
pessoa para usar este anel.
Ele riu e me beijou de leve.
— Aí está o fogo que eu amo tanto. Nunca mude.
Enquanto eu olhava ao redor do quintal e pensava neste lugar, nesta
nova vida que começava, sentia Ben e Lauren conosco.
A vida nos levou por caminhos que nunca imaginamos. Os dois
partiram, mas ainda estariam conosco de muitas maneiras. Eu perdi minha
melhor amiga e encontrei um novo melhor amigo em Wes.
Ela teria rido tanto se pudesse nos ver agora. Até as lágrimas descerem
pelo rosto. Lauren teria amado absolutamente tudo a respeito de Wes e eu
juntos. E pensar nisso me deixou um pouco mais feliz do que eu já estava.
Wes

Eu usei terno em todas as vezes que participei de uma partida de hóquei


pro ssionalmente, mas algo sobre usar um no quintal da nossa casa
enquanto esperava Hadley caminhar até o altar para se tornar minha esposa
era diferente. A gola coçava; parecia que os botões do paletó de dois botões
estavam muito apertados, e meus pés suavam dentro dos sapatos de couro.
Eu me balancei de um pé para o outro, tentando respirar no ar quente e
úmido de verão. Tínhamos colocado ventiladores e o altar onde a cerimônia
aconteceria havia sido montado embaixo de um toldo para nos proteger do
sol de julho; mesmo assim eu estava suando. O que me fez pensar que isso
não tinha muito a ver com o clima.
— Relaxa — Nash sussurrou. — Você parece estar a ponto de sair
correndo.
— Nem. — Eu sorri para ele. Eu estava lutando com muitas emoções,
mas nenhuma delas incluía querer fugir. O quintal da nossa casa – a casa de
Ben e Lauren – estava lotado com as pessoas que mais amávamos e nos
importávamos no mundo. Meus companheiros de equipe, treinadores e
assistentes, meus pais, os pais de Lauren e um punhado de amigos e
vizinhos. Cerca de setenta e cinco pessoas, então parecia incrivelmente
íntimo. Exatamente como tínhamos imaginado.
Não queríamos que fosse um megaevento. Era uma última celebração
antes de nos mudarmos para a nova casa que compramos e onde
começaríamos o próximo Capítulo de nossas vidas juntos. Agora como
marido e mulher. Mamãe e papai de Benny e Annalise. Benny já havia feito
a transição, balbuciando todo tipo de palavras, mas Papa e Mama eram
reservados especi camente para mim e Hadley. Annalise ainda estava
indecisa, mas explicamos o melhor que pudemos que ela poderia nos
chamar como preferisse. Tínhamos percebido que em particular ela se sentia
à vontade para usar mais mamãe e papai, enquanto na frente dos outros
ainda usava tia Hadley e tio Wes.
Qualquer coisa que ela quisesse fazer estava bom para a gente; só
queríamos que as crianças estivessem felizes.
Eles estavam bastante animados com o casamento. Bem, Annalise estava
animada, e Benny estava animado porque todos nós estávamos. Casar com
Hadley foi a cereja do bolo na minha vida. Eu odiava que fosse necessário
perder Ben e Lauren para nos encontrar, mas foi assim que aconteceu, e
fazê-la minha esposa era tudo em que eu tinha pensado desde a última
viagem a Miami.
— E lá vamos nós. Pronto? — Nash sorriu para mim, e eu me virei.
O jazz suave que estava tocando parou e a Marcha Nupcial começou.
Eu poderia ter respondido alguma coisa a Nash, mas não deu, porque no
momento em que avistei Hadley, não consegui pensar direito. Eu estava
completamente hipnotizado.
Como seus pais haviam falecido, e ela era extremamente próxima de
Lauren e seus pais, o pai de Lauren, Greg, a trouxe até o altar.
Hadley estava estonteante toda de branco. Embora não fosse um vestido
de casamento tradicional, estava totalmente de acordo com quem Hadley é.
Branco e rendado, com o que parecia ser um tecido sedoso, mas eu não
tinha ideia de como se chamavam todas essas coisas. Tudo o que eu sabia
era o quanto ela estava linda. O vestido chegava na altura da panturrilha,
apropriado para um casamento ao ar livre no quintal, uma peça tão veranil
quanto elegante. Ele se ajustava às suas curvas nos lugares certos, com
decote tomara-que-caia, então mostrava seus ombros esguios e a elegante
curva do seu pescoço.
Deus, Hadley era linda. Como eu nunca havia percebido isso até tão pouco
tempo?
Então, os olhos dela encontraram os meus, e ela sorriu. De repente, meu
terno pareceu perfeito, eu não estava suando e aquela sensação estranha no
estômago desapareceu. Ela veio caminhando. Em minha direção. Em
direção à nossa nova vida juntos. Eu dei uma olhada para Annalise, que
estava jogando pétalas de rosa à frente de Hadley, e ela sorriu para mim,
feliz.
— Oi, papai! — ela gritou, alheia às regras e tradições das cerimônias de
casamento.
Notei que o passo de Hadley vacilou por um segundo, seus olhos
encontrando os meus, mas eu pisquei para Annalise antes de murmurar
para Hadley:
— Não chore.
Seus lábios se curvaram em um sorriso trêmulo, e então, quando me dei
conta, ela estava ao meu lado.
— Queridos amigos — falou o pastor não-denominacional que
havíamos contratado. — Estamos reunidos aqui hoje…

*
— Bem, sra. Kirby — eu disse, segurando minha esposa em meus
braços enquanto dançávamos nossa primeira dança. — Como se sente?
— Incrível — ela sussurrou. — Conseguimos.
— Conseguimos. — Ela olhou para mim. — Ben e Lauren estão rindo
muito da gente agora.
— Com certeza. — Eu sacudi a cabeça. — Eu posso literalmente ouvir
a voz dele na minha cabeça, me dizendo o quanto eu fui um idiota e quanto
tempo eu perdi.
— O mesmo por aqui. Só que na voz de Lauren.
Rimos juntos enquanto eu a puxava para mais perto.
— Eu te amo, Hadley.
— Eu também te amo. Mesmo que doa um pouco dizer isso. — Ela
estava brincando. Nós sempre brincávamos sobre o que sentíamos um pelo
outro até recentemente, e isso sempre nos fazia sorrir.
— Pronta para uma semana sozinhos em St. Lucia?
— Deus, sim. — Ela franziu a testa por um momento. — Embora eu
odeie car longe das crianças.
— Precisamos de tempo só para a gente. Eles carão bem. Tasha e Greg
vão cuidar bem delas. Além disso, eles precisam de tempo com os netos.
Apesar da esclerose múltipla de Tasha, ela e Greg tinham se oferecido
para cuidar das crianças enquanto Hadley e eu íamos para a lua de mel. Tori
caria com eles para ajudar durante a noite, embora Benny não acordasse
mas muitas vezes, e Drew e Nina cariam de plantão para qualquer
emergência. Tasha estava bem na maioria dos dias, e Greg estaria junto, por
isso não estávamos preocupados. Na verdade, nos sentíamos bem por saber
que as crianças teriam a oportunidade de passar um tempo com os pais
biológicos de Lauren, já que achávamos que eles eram os únicos avós
biológicos que seriam de fato presentes. Não tínhamos ouvido falar de
Patrick e Susan desde que o juiz nos concedeu a guarda, e embora não
quiséssemos impedi-los de ver as crianças, também não iríamos procurá-los.
Se eles quisessem ver as crianças, teriam de dar o primeiro passo. Isso
poderia mudar quando as crianças crescessem, mas eu não daria bobeira
com os lhos de Ben.
Meus lhos.
Nossos lhos.
Droga, pareceu tão natural dizer isso.
— Eu quero mais bebês — Hadley sussurrou enquanto nos movíamos.
— O quê? — Eu voltei para o presente e baixei meu olhar para o rosto
bonito dela.
— Agora não — ela disse rapidamente. — Mas eu gostaria de ter mais
um ou dois.
— Fico feliz que você tenha dito isso, porque eu estava pensando a
mesma coisa. — Eu olhei para onde Annalise estava falando sem parar no
ouvido de Lars. — Embora provavelmente a gente deva esperar até Annalise
ir para o jardim de infância e tivermos apenas uma criança em casa.
Hadley riu.
— Concordo.
— Com licença, Sr. Kirby. — Um homem grande e forte se aproximou
de nós quando nossa dança chegou ao m.
— O que houve, Cal? — Tivemos que contratar segurança para o
casamento simplesmente porque eu era uma celebridade local – assim como
meus colegas de equipe –, e o público às vezes podia ser insensível e
excessivamente carinhoso.
— Tem alguém aqui que deseja vê-lo chamado Len Harris; ele diz que é
advogado, mas não está na lista.
— Ah, Deus. — Hadley cou um pouco pálida. — Você acha que
Patrick e Susan… — Sua voz foi interrompida.
— Deixa que eu vejo.
— Eu também vou. — Ela deslizou seus dedos pelos meus e nós
corremos para dentro da casa.
— Wes. Hadley. — Len estava em pé perto da porta da frente. — Sinto
muito por incomodar, mas eu tinha instruções estritas de Ben e Lauren.
— Ben e Lauren? — ela sussurrou, claramente assustada.
Ele sorriu.
— Aparentemente, aqueles dois eram leitores de mentes ou algo do tipo,
porque deixaram uma carta que deveria ser dada a vocês no dia do
casamento ou o mais breve possível depois disso.
— Ai, meu Deus. — Hadley se encolheu um pouco, mas eu passei o
braço em volta de sua cintura e a puxei para perto.
— De qualquer forma, não quis causar um tumulto. Só queria cumprir
o desejo deles. — Ele me entregou um envelope. — Parabéns. E desculpe
novamente por incomodar.
— Muito obrigado por trazer isso — eu disse, apertando sua mão. —
Você pode car se quiser.
— Não, obrigado. Meu neto tem um jogo de T-ball em uma hora, e se
eu perder, minha esposa e minha lha vão me matar.
Eu ri.
— Tudo bem. Obrigado.
Len foi embora, e eu olhei para Hadley.
— O que você acha que tem aí dentro?
Ela balançou a cabeça.
— Não consigo imaginar.
Eu sorri e entreguei a ela.
— Quer fazer as honras?
— Vamos ler juntos.
Ela lentamente levantou o selo e puxou uma folha de papel.
— Você pode ler — eu disse gentilmente.
Sr. e Sra. Kirby,
SABÍAMOS!! Quando decidimos deixar a guarda de nossos filhos
para vocês dois, sabíamos que se algo acontecesse conosco e vocês
fossem forçados a se conhecerem melhor, se apaixonariam e se
casariam.
Caramba, vocês têm amigos espertos. Todos esses anos, vocês
pensavam que se odiavam, mas na verdade era apenas tensão
sexual. Nós ríamos disso toda vez que vocês estavam juntos.
Nunca percam a paixão que despertam um no outro. Vejam as
forças um do outro em vez das fraquezas. Sejam os melhores
amigos um do outro. Mostrem aos nossos filhos o que é um
verdadeiro amor. É altruísta. Alegre. Bagunçado. Difícil. Bonito.
Se ao menos pudéssemos estar aí com vocês no dia do
casamento… Vocês dois são muito queridos para nós. Queríamos
passar a vida juntos criando nossa família, mas se não podemos
estar aí, é reconfortante saber que vocês estarão. Desejamos a
vocês uma vida inteira de amor, mais filhos para amar e amigos
maravilhosos para celebrar.
Escrever cartas “em caso de nossa morte” é brutal. Esta é a
única em que sorrimos ao escrever.
Obrigado, vocês dois. Por cada momento. Cada risada. Cada
memória. Criem mais disso tudo a cada dia e nunca desistam um
do outro.
Com todo nosso amor,
Ben e Lauren

Eu usei o polegar para limpar uma lágrima solitária da bochecha de


Hadley, mas ela estava sorrindo.
— Eu sinto muita falta deles.
— Mas eles estão aqui — eu disse, batendo o punho sobre o meu peito.
— E aparentemente aqui… — Eu acenei com o pedaço de papel.
— Eles nos conheciam muito bem.
— É verdade.
— Mamãe! Papai! O que vocês estão fazendo? — Annalise correu até a
gente, indignada, com as mãos na cintura. — Venham ver eu e or dançar.
Hadley se virou para ela com um sorriso.
— Você fez o or dançar?
— Ainda não. — Annalise nos deu um sorriso desajeitado. — Mas eu
vou lá pedir agora.
— Ok, então vamos. — Hadley entrelaçou seus dedos nos meus
novamente, inclinando-se para sussurrar: — Nós de nitivamente vamos
esperar até que ela esteja na escola para ter mais lhos.
Voltamos para a recepção, e então parei para olhar para o céu quando
saímos. O céu estava azul e sem nuvens, um dia absolutamente perfeito para
um casamento.
— Obrigado — eu sussurrei silenciosamente. — Por sua amizade, por
Hadley e por con ar em mim para criar sua família. Sinto falta de vocês.
Uma brisa suave tocou minha pele em resposta.
— Você está bem? — Hadley perguntou, encontrando meu olhar.
— Perfeito. — Eu me inclinei para beijar a ponta do seu nariz. — Nós
resgatamos o Lars ou deixamos a Annalise fazer o que quiser com ele?
Nós dois caímos na risada.
— Acho que é hora de começar a festa — eu disse a ela.
— A festa começou na primeira vez que te conheci — ela disse, seus
olhos brilhando. — Eu só me atrasei um pouco.
— Então temos muito tempo para compensar. — Eu puxei a mão dela e
a levei de volta para a pista de dança, girando-a. — Pronta, sra. Kirby?
— Mais que pronta.
Eu a z jogar o corpo para trás, quase até o chão, antes de puxá-la de
volta e pressionar meus lábios nos dela.

FIM.
AGRADECIMENTOS
Nossos horizontes se expandiram muito enquanto escrevíamos este livro.
Todos, individual ou coletivamente, se uniram e trabalharam duro para
tornar este livro um sucesso, e somos gratas a isso! Realmente não podemos
listar todos que nos ajudam diariamente, porque isso levaria páginas e mais
páginas, e ainda assim provavelmente esqueceríamos alguém. Mas saiba que
se você é um blogueiro que está lendo a ARC para este livro, uma amiga
autora de uma ou de nós duas, uma leitora que nunca perde um dos nossos
livros sobre hóquei ou um jogador de hóquei realmente atraente,
agradecemos muito a você.
Agradecemos especialmente à Renita McKinney, que nos encaixou na
agenda para falar sobre a publicação enquanto ela estava viajando. Renita,
seu encorajamento e seus conselhos sólidos nos deram tudo o que
precisávamos para terminar este livro da maneira que queríamos. Nossas
divulgadoras, Heather Roberts, Jessica Estep e Jenn Ga ney, são nosso
Dream Team das vendas. Obrigada, pessoal, por lidarem com tanto do
trabalho não relacionado à escrita para que possamos car perdidas no
mundo dos St. Louis Mavericks. À nossa preparadora Taylor Bellitto, que
poliu este livro até que ele brilhasse, e nós a amamos muito. Rosa Sharon é
nossa revisora a ada e incrivelmente talentosa, que nos ajuda a descansar
tranquilamente e não sentir que precisamos ler o livro várias vezes quando
nossos olhos já estão cansados. Nossa foto de capa é da Rafa Catala, e ela
capturou perfeitamente nosso Wes. Lori Jackson deu os toques perfeitos
com seu trabalho de design, e a capa foi uma grande parte da nossa
inspiração enquanto escrevíamos.
Foi bastante divertido, pessoal! Talvez devêssemos fazer de novo... em
breve?
NOTA DAS AUTORAS
Escrever livros é uma experiência adorável, frustrante, exaustiva e
estimulante para mim. Depois de terminar meu primeiro livro, quei
viciada. Eu criava histórias, tanto na minha cabeça quanto no papel, desde
criança. Essa carreira é um sonho, mas pode ser solitária às vezes. A
oportunidade de escrever este livro com a Kat veio em um momento em
que eu estava passando por alguns problemas pessoais que me deixaram
incapaz de me concentrar em qualquer outra coisa. Mas então Kat e eu
começamos a conversar sobre essa ideia, e nosso entusiasmo aumentou a
cada dia. Não apenas amamos esses personagens e essa história, como nós os
sentimos profundamente. Enquanto eu escrevia, escapava das minhas
preocupações por algumas horas. Eu tinha uma felicidade incomparável
toda vez que um novo capítulo da Kat aparecia na minha caixa de entrada.
Escrever com a Kat aconteceu para mim quando eu mais precisava, e ela se
tornou uma amiga querida nesse processo.
Mudança de Planos é mais do que um livro. Quando eu olhar para trás,
vou lembrar da amizade que se iniciou e oresceu a partir dele. Vou lembrar
que quando me sentia perdida, este livro estava lá para me lembrar que eu
tinha um lugar para onde podia ir, para uma pequena pausa: o mundo dos
Mavericks.
Minha maior esperança é que este livro possa ser para os leitores o que
foi para mim: um momento de afastamento do estresse e das preocupações
da vida real, e que depois desse tempo longe, os leitores se sintam um pouco
mais recarregados e prontos para enfrentarem o mundo novamente. Mesmo
que nunca nos encontremos pessoalmente, ter essa conexão com um leitor é
um presente precioso pelo qual sou eternamente grata.
Brenda
Quando comecei a publicar minhas histórias há cinco anos, nunca imaginei
que iria querer compartilhar meus personagens e ideias com mais ninguém.
As histórias que criamos são tão incrivelmente pessoais, que é difícil
convidar alguém para participar desse processo. E, no entanto, desde a
nossa primeira conversa por telefone, Brenda e eu descobrimos que temos
espíritos de escrita semelhantes. A trama de Mudança de Planos cresceu
rapidamente, e começamos a colocar palavras no papel poucos dias depois
de conversar sobre o projeto. Ter alguém para trocar ideias e desenvolver
esses personagens juntos tornou o processo tanto indolor quanto
inesquecível. Normalmente, co extasiada quando termino um livro, mas
senti uma quantidade igual de tristeza com este livro, porque não queria
que terminasse. Espero que vocês, os maravilhosos leitores que estão por aí,
sintam a mesma coisa.
É uma honra e um privilégio saber que vocês estão lendo minhas
palavras, e eu agradeço a cada um de vocês.
Kat
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