DUS e DPI Pauliane Vieira
DUS e DPI Pauliane Vieira
DUS e DPI Pauliane Vieira
2016;42(2):88-94
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37562015000000266 ARTIGO ORIGINAL
Tabela 1. Características dos voluntários saudáveis (controles) e dos pacientes com doença pulmonar intersticial.a
Característica Controles Pacientes p
(n = 16) (n = 40)
Idade, anos 55 ± 11 55 ± 15 0,81
Gênero masculino, n (%) 8 (50) 23 (57) 0,61
IMC, kg/m2 26,8 ± 3,6 25,6 ± 4,5 0,32
Tabagismo, n (%) 0,99
Nunca fumou 12 (75) 30 (75)
Ex-fumante 4 (25) 10 (25)
Fumante 0 0
CVF, l 3,26 ± 0,73 1,96 ± 0,71 < 0,01
CVF, % do previsto 88 ± 9 57 ± 16 < 0,01
VEF1, l 2,68 ± 0,63 1,67 ± 0,58 < 0,01
VEF1, % do previsto 90 ± 10 62 ± 19 < 0,01
Relação VEF1/CVF 0,82 ± 0,05 0,85 ± 0,06 0,04
CPT, % do previsto 61 ± 12
Uso de corticosteroides, n (%)
Nunca usou - 24 (60)
Usa atualmente - 16 (40)
Prednisona, < 20 mg/dia - 10 (62,5)
Prednisona, ≥ 20 mg/dia - 6 (37,5)
Pontuação na escala mMRC, n (%)
0 (sem dispneia) - 0 (0)
1 (dispneia leve) - 12 (30)
2 (dispneia moderada) - 16 (40)
3 (dispneia grave) - 10 (25)
4 (dispneia muito grave) - 2 (5)
a
Valores expressos em forma de média ± dp, exceto onde indicado. IMC: índice de massa corporal; CPT: capacidade
pulmonar total; e mMRC: modificada do Medical Research Council.
Nenhuma das variáveis de TFP correlacionou-se com desmame da ventilação mecânica.(12-14,17,28) Até onde
a espessura do diafragma em CRF, a espessura do sabemos, houve apenas um estudo anterior em que
diafragma em CPT, a FE ou a mobilidade diafragmática se usou a ultrassonografia para avaliar o diafragma de
durante a respiração tranquila (Tabela 3). No entanto, pacientes com DPI e que mostrou que pacientes com
a mobilidade diafragmática durante a respiração DPI e controles saudáveis apresentaram mobilidade
profunda correlacionou-se com todas as variáveis de diafragmática semelhante.(23) No entanto, a amostra
TFP (Tabela 3). As correlações foram ligeiramente do estudo foi pequena (18 pacientes) e composta
mais fortes quando se usou o ajuste exponencial exclusivamente por pacientes com fibrose pulmonar
do que quando se usou o ajuste linear (Figura 1), e idiopática. Além disso, os autores não avaliaram a
a correlação mais forte foi com a CVF%; pacientes espessura do diafragma.(29)
com menor CVF apresentaram menor mobilidade
diafragmática durante a respiração profunda. Após Existem várias possíveis causas de atrofia diafrag-
ajustes de fatores de confusão (idade, índice de mática em pacientes com DPI, tais como inflamação
massa corporal e VEF1%), a CVF% foi o único fator sistêmica, desuso, hipóxia, desnutrição e miopatia
que se relacionou com a diminuição da mobilidade respiratória secundária ao uso de corticosteroides.(6,7,10,11)
diafragmática durante a respiração profunda (p = Em contraste, a sobrecarga diafragmática resultante
0,01), como mostra a Tabela 4. do aumento da retração elástica pulmonar pode, em
O intervalo de confiança de 95% para a mobilidade virtude do efeito de treinamento, aumentar a massa
diafragmática durante a respiração profunda foi de muscular diafragmática.(30) Os efeitos dessas forças
4,80-10,44 cm, e, portanto, valores abaixo de 4,80 opostas dependem da extensão do envolvimento
cm durante a respiração profunda foram considerados
indicativos de redução da mobilidade diafragmática.
Mobilidade diafragmática durante a respiração profunda (cm)
DISCUSSÃO 6,0
Tabela 3. Variáveis de teste de função pulmonar correlacionadas com a mobilidade diafragmática durante a respiração
profunda e com a fração de espessamento (espessamento proporcional do diafragma da capacidade residual funcional
à capacidade pulmonar total).
Variável Mobilidade Fração de Mobilidade Fração de
diafragmática espessamento diafragmática espessamento
durante a durante a
respiração respiração
profunda profunda
Ajuste
Ajuste linear
exponencial
r p r p r p r p
CVF (% do previsto)a 0,72 < 0,01 0,22 0,17 0,73 < 0,01 0,24 0,14
VEF1 (% do previsto)a 0,68 < 0,01 0,23 0,14 0,70 < 0,01 0,22 0,18
CI (% do previsto)b 0,38 0,05 0,17 0,41 0,42 0,03 0,09 0,69
CPT (% do previsto)c 0,50 < 0,01 0,20 0,27 0,53 < 0,01 0,27 0,14
CI: capacidade inspiratória; e CPT: capacidade pulmonar total. an = 40. bn = 25. cn = 31.
Tabela 4. Comparação dos pacientes com doença pulmonar intersticial com e sem disfunção diafragmática.
Variável Disfunção p Disfunção p
diafragmática diafragmática
Não Sim
(n = 16) (n = 24) OR (IC95%)
Idade, anos 61 ± 10 52 ± 17 0,04 −0,003 (−0,01 a 0,006) 0,82
Sexo masculino, n (%) 11 (48) 12 (52) 0,32
IMC, kg/m2 27,4 ± 3,4 24,5 ± 4,9 0,04 −0,01 (−0,04 a 0,01) 0,30
CVF, % do previsto 70 ± 12 49 ± 13 < 0,01 −0,03 (−0,06 a −0,01) 0,04
VEF1, % do previsto 76 ± 14 53 ± 16 < 0,01 0,12 (−0,01 a 0,37) 0,34
Uso de corticosteroides, n (%) 6 (37) 11 (46) 0,75
a
Valores expressos em média ± dp, exceto onde indicado.
da mobilidade diafragmática em pacientes com DPI e diafragmática.(40) Além disso, como nossos resultados
CVF < 60% do valor previsto. mostram não só mobilidade diafragmática reduzida, mas
O presente estudo mostrou que há relação entre a também FE reduzida, podemos concluir que a disfunção
ultrassonografia do diafragma e variáveis de TFP e que diafragmática é comum em pacientes com DPI. Outra
as tendências dos TFP constituem um dos principais limitação é que, embora nosso estudo tenha um poder
determinantes do prognóstico da DPI. Portanto, acre- de 100% para estimar o coeficiente de correlação entre
ditamos que a ultrassonografia possa ser adicionada TFP e mobilidade diafragmática, tem um poder de apenas
ao arsenal de métodos para o acompanhamento cerca de 40% para estimar o coeficiente de correlação
de pacientes com DPI.(20) Além do curso crônico da entre TFP e espessamento diafragmático.
DPI, a identificação de disfunção diafragmática pode Em comparação com controles saudáveis, pacientes
alertar os médicos da necessidade de evitar ou alterar com DPI apresentam mobilidade diafragmática
o uso de drogas que induzem miopatia, tais como reduzida e menor FE. Além disso, o ponto de corte
corticosteroides. de CVF < 60% do valor previsto apresentou alta
A principal limitação de nosso estudo foi não termos precisão e sensibilidade para identificar uma redução
medido a força do diafragma. No entanto, Ueki et al.(27) da mobilidade diafragmática, além de ter apresentado
observaram uma forte correlação entre uma taxa de relação significativa com prejuízo da função pulmonar.
espessamento mais elevada e a força inspiratória em O uso dos resultados da ultrassonografia do diafragma
indivíduos saudáveis. Outro estudo também mostrou como parâmetro de acompanhamento e sua relação
uma forte correlação entre a pressão inspiratória máxima com a força muscular respiratória ainda precisam ser
e a FE em pacientes que se recuperavam de paralisia investigados.
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