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Monitoramento de Polinizadores

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MONITORAMENTO DE POLINIZADORES

Rafael Dias Evangelista 1 *.


1
Universidade Católica de Brasília- Campus I- QS. 07 Lotes 01- EPCT- CEP. 71.966-
700 Águas Claras, Taguatinga-DF. *Centro de Pesquisa e Conservação da
Biodiversidade do Cerrado e Caatinga- CECAT/ICMBio- EQSW 103/104 Bl.C-
Complexo Administrativo- Setor Sudoeste- CEP. 70.670-350 Brasília-DF.

RESUMO

Este trabalho mostra a avaliação e o monitoramento de polinizadores, utilizando o


método pitfall para descobrir a diferença de atração das cores das flores para os
polinizadores e comparar diferentes locais de coleta.
Os polinizadores em questão são os Apoidea (Abelhas), Lepidoptera (borboletas) e
Diptera (moscas).
Nesse processo, foram utilizados copos descartáveis pequenos pintados com tinta Spray
branco, amarelo e violeta, contendo água e detergente. Foram feitas sete coletas com
essa amostragem, três delas sendo no campus do IBAMA, entre os dias 3 de julho ao
dia 21 de agosto de 2009 ,no município de lago oeste em uma plantação de café
orgânico, entre os dias 11 de setembro de 2009 ao dia 16 de outubro de 2009 onde não
e no Jardim Botânico de Brasília nos dias 10 de fevereiro de 2010 ao dia 22 de abril de
2010.
Concluiu-se que os copos de coloração amarela são os mais atrativos para Apoidea e
Lepidoptera, e para exclui as outras cores é preciso uma análise mais aprofundada
sobre, qual espécie foi atraída pelo copo de coloração amarela e qual não foi.

INTRODUÇÃO

A polinização é o transporte de grãos de pólen de uma flor para outra, ou para o


seu próprio estigma. É através deste processo que as flores se reproduzem (Morellato &
Leitão et al. 1995).
A transferência de pólen entre flores diferentes pode ocorrer de duas maneiras:
através do auxílio de seres vivos (abelhas, borboletas, mariposas, besouros, morcegos,
aves, etc.) que transportam o pólen de uma flor para outra, chamados polinizadores ou
por fatores ambientais (através do vento ou da água).
Os polinizadores são atraídos pelas flores através do néctar, pólen e pelo cheiro
que é uma característica importante, especialmente à noite, para animais que possuem
pouco estímulo visual. As flores polinizadas por morcegos ou mariposas, que atuam
durante a noite, possuem geralmente forte aroma. As abelhas também respondem
fortemente ao estímulo do aroma, e coletam o néctar, pólen e óleo das flores. Outros
polinizadores importantes são as moscas, os beija-flores e vespas.
A polinização feita por abelhas é denominada Melitofilia, que inclui também a
polinização de outros Hymenópteros (vespas e formigas).
As flores melitófilas são de coloração brilhante ou refletem luz ultravioleta,
apresentando guias de néctar, e possuem também um formato que facilita o pouso das
abelhas. O tamanho das flores é relacionado também à espécie de abelha associada que
é capaz de fazer a polinização, definindo então a Síndrome da Melitofilia.
Essa síndrome possui algumas características como, as flores abrem
normalmente, durante o dia (devido a atividade diurna das abelhas), possuem uma
coloração clara (creme, azul, lilás, amarelo), apresentam áreas de pouso, possui odor
agradável, variação no tamanho e oferecem um tipo de “recompensa”, como o néctar e
pólen. Destacando então, as abelhas que se desenvolveram estruturalmente para a
extração dessas “recompensas”.
Algumas dessas estruturas que se desenvolveram nas abelhas são as pernas
dianteiras que podem apresentar pentes ou cerdas, as pernas traseiras podem ter pêlos,
câmaras ou bolsas, o aparelho bucal pode apresentar mandíbulas, a probóscide que era
curta passou a ser longa.

Polinização do café

Existem culturas que dependem ou se beneficiam com a polinização cruzada


para a produção de frutos e sementes e que são pouco visitadas pelas abelhas.
Nesses casos, foi utilizada a aplicação de substâncias atrativas. As abelhas
Apis mellifera possuem uma glândula chamada Nasanov, a qual emite um feromônio
que comunica fontes de alimento e água para as outras abelhas da mesma espécie. Essa
glândula possui sete componentes ativos, sendo que o básico é o geraniol, usado tanto
para enxame quanto para forrageamento.
Foram feitos estudos para aumentar a visitação e a polinização em café, usando
feromônios sintéticos semelhantes aos produzidos pela glândula de Nasanov
(WALLER, 1970). Os feromônios Citral e Geraniol emitem fontes de alimento e água
para abelhas da mesma espécie. Foi observado um aumento no número de abelhas
(OHE & PRAAGH,1983).
Na cultura do café foi obtido um aumento de 13% e 39% na produção de grão e
em arbustos descobertos comparados a arbustos cobertos (AMARAL, 1952-1960).
O presente ensaio teve como objetivos estudar a polinização em café (Coffea
arábica, var Mundo Novo) com a utilização de uma substância atrativa para as abelhas.
OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é propor à avaliação e o monitoramento a presença de


abelhas nativas em tipos variados de cerrado de Brasília, permitindo conhecer o estado
de conservação do cultivo através da avaliação da apifauna ocorrente (riqueza,
abundância e diversidade), conhecer os visitantes florais da cultura de interesse, avaliar
seu papel como polinizador e detectar tendências de declínio da fauna (histórico de uso
da terra).
Para atingir este objetivo, é proposto o método Pitfall, que é a utilização de
pratos, bandejas ou copos coloridos, contendo uma solução (água e detergente).
Este método foi considerado restrito, pois a amostragem é seletiva (Cane et al.
2001). Segundo Le Buhn et al. (2009-apresentação oral em Belém, PA) um bom
programa de monitoramento precisa ser passível de repetições; ter pouca variação; ter
baixo custo e medidas precisas de mudanças nas comunidades de polinizadores. E a
armadilha de pratos tem custo baixo e é de fácil utilização, permitindo a padronização e
análises comparativas entre amostras.

MATERIAIS E MÉTODOS

As armadilhas foram colocadas em um cerrado antropizado (árvores retorcidas,


plantas características do cerrado e pouca umidade).

• Copos descartáveis branco de 50 ml.


• Água com detergente.
• Sprays para pintar os copinhos (amarelo UV e violeta UV).
• Pincéis.
• Pinças.
• Vidros ou saquinhos para coleta.
• Álcool líquido 70%.
• Etiquetas (papel cortado) e caneta nanquim.
• Lupa estereoscópica.
• Máquina fotográfica.
• GPS.

Foi utilizada como teste a metodologia descrita por Le Buhn et al. (2003), que é
a utilização de pratos/bandejas coloridas como armadilha, contendo uma solução (água
e detergente). Estas armadilhas foram posicionadas ao longo da plantação (a cada 5
metros e alternando as cores) num período de 24 horas ou de 9 horas da manhã às 17
horas da tarde, do mesmo dia. Este método deve ser feito em um dia ensolarado para
que as amostras não sejam comprometidas, devido à chuva.
Utilizamos no lugar dessas armadilhas, copos descartáveis nas cores branca,
amarelo UV e violeta UV (20 de cada), com o espaço de 5 metros a cada conjunto de
armadilha (três copos, um de cada cor), o local onde foram dispostas, foi marcado com
GPS e deixado por 24 horas.

Os insetos capturados nas armadilhas foram retirados com a ajuda de pincéis


(para preservar as amostras), transferidos para vidros de 70 ml (cada vidro identificado
com uma etiqueta), para depois passarem pela fase de triagem (caso a triagem
demorasse a ser feita, adicionamos algumas gotas de formaldeído PA).
Nessa fase, os insetos coletados foram separados de acordo com as ordens
Hymenoptera (abelha, vespas e formigas), Lepidoptera (Borboletas e mariposas),
Diptera (moscas, mosquitos) e Outros;
E posteriormente as amostras foram transferidas para um banco de dados, onde
será feita a contagem desses insetos. Após a triagem, os insetos são montados,
guardados em um local seguro e enviados para os Centros de Triagem e Identificação
(para identificação das espécies).
Foram feitas três baterias com essa armadilha dentro das dependências da sede
do IBAMA no Distrito Federal (neste local à presença de árvores nativas do cerrado), na
plantação de café organico do lago oeste e no Jardim Botanico de Brasilia.
No Jardim Botanico de Brasilia as amostragens foram feitas simultaneamente
em um local com cerrado denso e outro local com cerrado aberto.
RESULTADOS

Na tabelas 1é demonstrada a diferença da captura dos táxons em diferentes


colorações de copos no campus do IBAMA. Verificamos que táxon Lepidoptera teve
maior quantidade em copos amarelos (ANOVA de fator único F2,177= 19,65, P<0,001),
o táxon Diptera em copos brancos (ANOVA de fator único F2,177= 20,31, P<0,001) e
táxon Apoidea em copos amarelos (ANOVA de fator único F2,177= 39,53, P< 0,001).Na
tabela 2 é demonstrada a diferença da captura dos táxons , e foi observado que houve
uma diferença do campus do IBAMA. Na plantação de café o táxon Lepidoptera teve
maior quantidade nos copos brancos (ANOVA de fator único F2,177=63, P>0,001), o
táxon Diptera em copos amarelos (ANOVA de fator único F2,177= 524,83, P<0,001) ,
Apoidea teve maior quantidade nos copos de coloração amarela (ANOVA de fator
único F2,177=76,88, P>0,001). Nas tabelas 3 e 4 são demonstradas a diferença de
captura de diferentes táxons em diferentes densidades de cerrado, sendo que nas
amostras do cerrado menos denso o táxon lepidóptera foi mais capturado nos copos de
coloração amarela (ANOVA de fator único F2,177=1,03, P>0,001), o táxon Diptera em
copos amarela (ANOVA de fator único F2,177= 5,34, P>0,05) e táxon Apoidea obteve
maior quantidade em copos amarelos (ANOVA de fator único F2,177= 1, P>0,001)
amostras do cerrado mais denso, o táxon lepidóptera obteve igualdade nos copos das
colorações amarelas e brancas (ANOVA de fator único F2,177=1,47, P>0,001), o táxon
Diptera em copos amarela (ANOVA de fator único F2,177= 2,64, P>0,001) e táxon
Apoidea obteve maior captura nos copos de coloração branca (ANOVA de fator único
F2,177= 1, P>0,001), concluído-se que a coloração do copo tem relação direta com a
captura de possíveis e o táxon polinizadores.
O copo de coloração amarela foi mais atrativo para os táxons Apoidea e
Lepidoptera, e o segundo mais atrativo para Diptera. A cor violeta foi a menos atrativa
para Diptera e Apoidea. No entanto, esta coloração foi a segunda mais atrativa para o
táxon Lepidoptera. A coloração branca foi a que mais atraiu Diptera apesar de a
coloração amarela ter tido um grande sucesso de captura para este táxon.
Os táxons encontrados nas amostragens foram espécies de borboletas, espécies
de abelhas e inúmeras espécies de moscas, dentre os potenciais polinizadores. Outros
táxons de Hymenoptera e demais ordens de insetos forma desprezadas durante a
triagem, devido à ausência ou escassez de polinizadores entre estes. Assim, com
exceção dos Diptera, para os quais não fomos capazes de detalhar a taxonomia em
níveis inferiores, foi possível iniciar a identificação das espécies de potenciais
polinizadores de Hymenoptera e Lepidoptera conforme Tabela 5.

Tabela 1: Médias, desvios padrões e porcentagem do número de insetos dos táxons


Lepidoptera, Diptera e Hymenoptera: Apoidea, capturados em armadilhas de copinhos
coloridos (branco, amarelo e violeta) no campus do IBAMA em Brasília-DF nas datas
09/07/2009, 24/07/2009 e 21/08/2009.

Cor do copo/ Branco Amarelo Violeta


Táxons (n=60) (n=60) (n=60)

0,05 ± 0,219 0,583 ± 0,765 0,116 ± 0,372


Lepidoptera***
(6,7%) (77,8%) (15,6%)

1,316 ± 1,200 1,05 ± 0,964 0,25 ± 0,600


Diptera***
(50,3%) (40,1%) (9,6%)
0,73 ± 0,899 2,41 ± 2,40 0,066 ± 0,311
Apoidea***
(22,8%) (75,1%) (2,1%)
*P < 0,05 **P < 0,01 ***P < 0,001
Tabela 2: Médias, desvios padrões e porcentagem do número de insetos dos táxons
Lepidoptera, Diptera e Hymenoptera: Apoidea, capturados em armadilhas de copinhos
coloridos (branco, amarelo e violeta) na Plantação de café organico do lago oeste nas
datas 11/09/2009 e 16/10/09.

Cor do copo/ Branco Amarelo Violeta


Táxons (n=60) (n=60) (n=60)

4,5± 0,70 0±0


Lepidoptera** 3± 0 (40%)
(60%) (0%)

110± 0 321,5± 16,26 25± 1,41


Diptera***
(24,1%) (70,4%) (7,7%)
24,5 ± 0,70 27 ± 0 3,5± 3,53
Apoidea**
(44,5%) (49,1%) (6,4%)
*P < 0,05 **P < 0,01 ***P < 0,001

Tabela 3: Médias, desvios padrões e porcentagem do número de insetos dos táxons


Lepidoptera, Diptera e Hymenoptera: Apoidea, capturados em armadilhas de copinhos
coloridos (branco, amarelo e violeta) no Jardim Botanico de Brasilia em cerrado aberto
nas datas 10/02/10 e 22/04/10.

Cor do copo/ Branco Amarelo Violeta


Táxons (n=45) (n=45) (n=45)

1±0 16,5 ± 21,9 0,5 ± 0,70


Lepidoptera**
(5,5%) (91,6%) (2,7%)

10,5 ± 2,12 34,5 ± 17,67 2 ± 1,41


Diptera
(22,3%) (73,4%) (4,2%)
3 ± 2,82 0,5 ± 0,70
Apoidea** 1 ± 1,41 (22,2%)
(66,6%) (11,1%)
*P < 0,05 **P < 0,01 ***P < 0,001
Tabela 4: Médias, desvios padrões e porcentagem do número de insetos dos táxons
Lepidoptera, Diptera e Hymenoptera: Apoidea, capturados em armadilhas de copinhos
coloridos (branco, amarelo e violeta) no Jardim Botanico de Brasilia em cerrado denso
nas datas 10/02/10 e 22/04/10.

Cor do copo/ Branco Amarelo Violeta


Táxons (n=45) (n=45) (n=45)

3 ± 2,82 0,5 ± 0,70


Lepidoptera** 3 ± 0 (46,1%)
(46,15%) (7,9%)

21 ± 12,7 3,5 ± 3,53


Diptera** 6,5 ± 4,94 (20,9%)
(67,7%) (11,3%)
0,5 ± 0,70 0±0 0±0
Apoidea**
(100%) (0%) (0%)
*P < 0,05 **P < 0,01 ***P < 0,001

Tabela 5: Exemplos de espécies coletadas (Ordem, família e gênero/espécie)

Ordem Família Gênero/espécie


Hymeroptera Halictidae Pseudoaugochlora sp.
Augochloropsis sp.

Ceratidae Crewella sp.

Lepidoptera Lycenidae Eurema sp.

Hesperidae Vários

Pieridae Identificação
em andamento
DISCURSSÃO E CONCLUSÃO

Neste trabalho foi observado que os copos de coloração amarela obtiveram


maior quantidade de Apoidea. Esses resultados corroboram com o estudo de Le Buhn
et al., confirmando que a coloração amarela é mais atrativa.
A coloração amarela é de estrema importância nos possíveis polinizadores tanto
Apoidea quanto Lepidoptera, sendo a cor que poderia ser utilizada sozinha nas
amostragens. Não descartando a coloração violeta, no caso das Lepidoptera, pois a
mesma é de suma importância para sua captura. Para serem descartados os copos de
coloração violeta, é preciso uma análise mais aprofundada, como por exemplo, tipo de
espécie que foi capturada pelo copo amarelo e não foi pelo violeta ou capturados pelo
copo violeta e não pelo amarelo.
O tamanho dos copos não influencia no resultado, devido à mesma obtenção de
dados pela captura dos indivíduos. Pois os copos pequenos se assemelham a flores
pequenas e grandes, facilitando assim o estudo.
BIBLIOGRAFIA

MORELLATO, Patrícia C.; LEITÃO FILHO, Hermógenes F. Ecologia e preservação


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UNICAMP, 1995. P.42-47.
BORROR, Donald J. ; DELONG Dwight M. Introdução ao estudo dos insetos. São
Paulo, SP: Ed. Edgard Blücher Ltda., 1988.
LEBUHN, Gretchen; DROEGE, Sam; CARBONI, Marta. Monitoring methods for
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MALERBO, Darclet T.; NOGUEIRA, Regina; ALENCAR, Wagner. Abelhas visitantes
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AMARAL, E. Ação dos insetos na polinização do cafeeiro Caturran. Ver. Agric.,
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WALLER, C. D. Attracting honey bees to alfafa with citral, geraniol and anise. J. Apic.
Res., v- 9, p. 9-12, 1970.

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