ÉTER
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Éter: sua importância histórica na ciência e abordagem no livro didático do ensino médio
Abstract. This article aims, conduct a brief rereading as the importance of the ether, from its earliest conception to the
present within a historical context to the current scientific knowledge development, focusing on authors who have written
on this topic. We believe that for a better learning science a historical approach is necessary to the subject studied,
based on this thinking, we aim to reinterpret a textbook used in high school in physics classes, in order to see how the
ether is approached in the same.
Keywords: ether, textbook, science education, history, modern, antique.
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algumas de suas primeiras especulações ainda natureza tem horror ao vácuo, e que apenas
romantizadas dentro da mitologia até suas Deus poderia – por causa de sua onipotência
abordagens mais atuais. O que existe hoje é uma – criar um espaço vazio. (¹MARTINS, 2006, p.
base histórica que mostra o tamanho de sua 2)
importância na construção da física atual.
Acreditamos que mesmo não havendo nada Porém como toda a ciência evolui a partir da
que o comprove ou o refute, levando em conta sua quebra de paradigmas e testes de novos conceitos
importância histórica, o mesmo deveria ser melhor no século 16, os textos dos antigos filósofos
explorado no ensino de física. Nossa proposta é atomistas gregos voltam a ser lidos, permitindo o
além de uma abordagem conceitual e histórica da debate com as teorias as quais defendiam na
evolução conceitual do mesmo, realizar uma breve época.
analise da abordagem feita nos livros didáticos para
esse tema, já que acreditamos que o mesmo é No século seguinte, Galileu adotou uma teoria
muito pouco explorado. atomista da matéria e aceitou a existência de
vazios minúsculos entre essas partículas.
O éter da antiguidade e na modernidade Seriam eles que produziriam a coesão dos
Atualmente ao abordamos o assunto do líquidos. Além disso, Galileu defendeu a idéia
surgimento do universo, na sala de aula nos de que os corpos celestes não são
pautamos em uma leitura da teoria cosmológica constituídos de éter, tendo a mesma natureza
atual, a Teoria do Big Bang, que remete ao que os terrestres – uma hipótese essencial
surgimento do universo através de uma grande para todos os que, como ele, defendia a
explosão, e assim culminando na ideia de expansão teoria de Copérnico. (MARTINS, 2006, p. 3)
continua do universo, confirmado em descobertas a
partir de 1998, por observações feitas no telescópio Mas, a grande reviravolta sobre o conceito
Hubble, que mostra ainda a continua expansão do de éter ocorre século 19 com o conceito de éter no
universo. Mas como ele continua expandindo,ao eletromagnetismo, o debate entre a natureza de a
invés de estar em um processo de desaceleração luz ser ondulatória ou corpuscular, como a teoria
ocasionado pela força gravitacional? Então surgiu a ondulatória começou a ganhar força, e como as
ideia de uma energia misteriosa que permearia todo ondas conhecidas necessitavam de um meio
o espaço não sendo totalmente comprovada material para se propagar, acreditavam que com a
experimentalmente, denominada energia escura. A luz era a mesma coisa, sendo assim propuseram a
explicação para essa força seria: ideia de um éter lunimifero.
[...] uma pressão negativa que induziria à As teorias de ação à distância e a teoria do
necessária força gravitacional repulsiva. Ela éter de Maxwell coexistiram durante algum
seria muito pequena para ser detectada em tempo, sem que fosse possível fazer uma
curtas distâncias, mas eficiente em larga escolha científica entre elas. Seus estilos
escala. Como consequência, a expansão do eram muito diferentes, mas levavam
Universo, que supúnhamos ser retardada praticamente às mesmas previsões
pela atração gravitacional induzida pela experimentais. Surgiu uma possibilidade de
matéria, estaria, na verdade, sendo acelerado diferenciá-las, no entanto, quando Maxwell
pela repulsão causada pelo vácuo. (MATSAS; previu a possibilidade de produção de ondas
VANZELLA, 2003, p. 37). eletromagnéticas no espaço “vazio”.
(¹MARTINS, 2006, p. 4)
Já há muito tempo os homens se perguntam
o que há no vazio do céu? Buscar por respostas nos Com a Teoria eletromagnética unida com a
remete aos antigos gregos, e suas especulações ótica por Maxwell e os experimentos de ondas
filosóficas sobre o mundo e sua constituição do que eletromagnéticas transportadas por meios materiais.
somos feitos, se remete dessa época o primeiro “Em 1887, Heinrich Hertz (1857-1894) conseguiu
conceito de átomo, porém outra escola filosófica produzir ondas eletromagnéticas, medir sua
acreditava que tudo era formado por quatro velocidade, analisar suas propriedades e confirmar
elementos, a água, o ar, o fogo e a terra proposta a previsão de Maxwell. Esse resultado foi decisivo
por Parmênides, e mais tarde foi acrescentado o para a aceitação da teoria do éter. ”(MARTINS,
frio, o quente, o unido e o seco por Aristóteles. Logo 2006, p. 4).
se propôs o quinto elemento o éter. Como diz Apesar de todos esses avanços no final do
Martins em seu trabalho, O éter ou o nada: século 19 e início do século 20, os debates sobre a
teoria da Relatividade:
A teoria do universo de Aristóteles tornou-se
predominante, durante séculos. No período Henri Poincaré (1854-1912) interpretou a
medieval ela foi aceita pelos pensadores situação afirmando, em 1895: “É impossível
islâmicos e, a partir do século XII, foi medir o movimento absoluto da matéria, ou
redescoberta pelos europeus, que também a melhor, o movimento relativo da matériaem
adotaram. Popularizou-se a ideia de que a relação ao éter. Só se pode evidenciar o
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“O éter passou por várias mortes e ressurreições. quiséssemos refutar a possibilidade da existência
Em algumas épocas os pesquisadores tinham do éter, ainda não podemos. Ele continua presente,
certeza de que ele existia, em outros momentos mesmo que não conseguimos provar sua existência
tinham certeza de que ele não existia [...]”. “Se com a tecnologia que temos, mas de fato sempre
Einstein estava correto em 1905, ele estava errado será importante em nossas vidas para que
em 1920, e vice-versa”. (¹MARTINS, 2006, p. 10). possamos entender os fenômenos da natureza e
principalmente para os estudantes do ensino médio
A questão final é saber se, hoje em dia, que precisam de um contexto a mais que os
estamos corretos ou não. Podemos dizer que, auxiliem no aprendizado.
atualmente, há pelos menos dois tipos de éter Com essa pequena abordagem do conceito
bastante confiáveis, o da relatividade geral e de éter pode-se perceber o quanto ele nos auxiliou
o vácuo quântico. Essas teorias, como outras, para evolução da física e ajudou os cientistas a se
são provisórias. Sabemos, em particular, que aprofundarem nas investigações dos fenômenos.
não se encontrou ainda uma unificação total Mesmo que o éter não exista, ele continua sendo
entre a relatividade e a mecânica quântica e importante, pois faz parte da história que fez evoluir
isso sugere que nenhuma delas pode ser a ciência.
definitiva. Não sabemos como será a física no
ano 2100 ou nos séculos seguintes. Pode ser
que esses ou algum outro éter perdure por O éter nos livros didáticos
muito tempo. Mas ignoramos se eles não Na atual configuração da grade curricular do
serão futuramente rejeitados por cientistas ensino médio, as aulas de física perderam muito
que, novamente, terão certeza de que o éter espaço e consequentemente tempo hábil para que o
não existe. (¹MARTINS, 2006, p. 10). professor possa ensinar de forma plena os
conceitos físicos, isso faz com que as questões
Segundo Martins (1993, p. 17): “[...] Para o históricas por traz dos conceitos atualmente aceitos
físico moderno, o “espaço vazio" e um espaço no sejam muitas vezes deixadas de lado, esse
qual não existe matéria sólida, liquida ou gasosa. procedimento é criticado no PNLD, este traz uma
Mas a algo capaz de assumir propriedades. O concepção de como as aulas de física devem ser:
“espaço vazio” dos físicos atuais e muito
semelhante ao éter de Fresnel e de Lorentz, mas A Física escolar deve contemplar, portanto, a
tem outro nome [...]”. A questão é, que, ainda que escolha cuidadosa dos elementos principais
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O éter que se estuda na química atual é o Recapitulando, podemos dizer que, de acordo
composto orgânico que apresenta um com a teoria da relatividade geral, o espaço
oxigênio entre dois radicais orgânicos, como tem qualidades físicas; neste sentido,
no caso do metoximetano (ou éter dietílico, portanto, existe um éter. De acordo com a
CH3 – O – CH3), porem essa mesma palavra relatividade geral, um espaço sem éter é
já foi empregada de forma diferente ao longo impensável [Gemäβ der allgemeinen
da historia da ciência. Na antiguidade, para Relativitätstheorie ist ein Raum ohne Äther
Aristóteles e seus seguidores, o éter era o undenkbar]; porque em tal espaço não
quinto elemento que preencheria todo o haveria propagação da luz, nem possibilidade
espaço celeste (...) no século XIX, a teoria de padrões de espaço e de tempo (regras de
medida e relógios), nem intervalos de espaço
1 tempo, no sentido físico. (Einstein, 1920,p.
Deste ponto em diante, referenciaremos o termo livro
didático como LD. 32. Aput, Martins, 2005)
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Referências
MATSAS, GEORGE E. A.; VANZELLA, DANIEL A.
T. O Vácuo Quântico Cheio de Surpresas -
Instituto de Física Teórica. Scientific American
Brasil, p. 37, 2003. Disponível em: <www.ift.
unesp.br/users/matsas/sab.pdf>. Acesso em 23 de
mai. De 2015.
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